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- i Relatório de Caso prático “Gestão e prevenção de riscos que afectam a qualidade das águas costeiras em relação com a aquicultura. Caso prático das Rias Baixas: aplicação de análise em SIG” Realizado em Vigo, Galicia (Spain) por CETMAR Dezembro 2011 Dr. RAQUEL DIEZ (CETMAR) Dr. JAVIER CÉSAR ALDARIZ (GIS Consultant) Dr. MARISA FERNÁNDEZ (CETMAR)

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Relatório de Caso prá tico

“Gestão e prevenção de riscos que afectam a qualida de das águas costeiras em relação com a aquicultura.

Caso prático das Rias Baixas: aplicação de análise em SIG”

Realizado em Vigo, Galicia (Spain)

por CETMAR

Dezembro 2011

Dr. RAQUEL DIEZ (CETMAR) Dr. JAVIER CÉSAR ALDARIZ (GIS Consultant)

Dr. MARISA FERNÁNDEZ (CETMAR)

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ÍNDICE

Secção 1: Gestão e prevenção de riscos que afectam a qualidade das águas costeiras em relação com a aquicultura. Caso prático das Rias Baixas: aplicação de análise em SIG................ .............................................. 1

1.1. Introdução: justificação e objectivo do estudo ................................... 1

1.2. Área de estudo................................ ....................................................... 1

1.3. Metodologia................................... ......................................................... 2

1.4. Resultados .................................... ......................................................... 4

1.4.1. Integração de variáveis ambientais ............................................................. 5

1.5. Conclusões .................................... ........................................................ 5

1.6. Agradecimentos................................ ..................................................... 5

1.7. Referências ................................... ......................................................... 5

Secção 2: Transferibilidade da ferramenta para outr as regiões costeiras . 7

Secção 3 – Estruturas da governação e comunidade ci entífica .................. 9

3.1. Gestão e competências nas Rias Baixas galegas . ............................. 9

Qualidade da água e actividades costeiras ......................................................... 10

Competências ambientais, áreas protegidas e conservação dos recursos naturais

............................................................................................................................ 11

Colaboração e cooperação entre a administração regional e a comunidade

científica para o desenvolvimento de instrumentos de planeamento................... 12

3.2. Contributo do estudo de caso para as relações entre os decisores e a comunidade científica ............................ ................................................. 12

3.3. Referências ................................... ....................................................... 14

Secção 4: Resumo ................................... ...................................................... 15

4.1 Justificação e objetivos do estudo de caso ..... .................................. 15

4.2 Transposição da ferramenta para outras regiões costeiras ............. 16

4.3 Contributo do estudo de caso para as relações e ntre os decisores e a comunidade científica ............................ ................................................. 17

1

Secção 1: Gestão e prevenção de riscos que afectam a qualidade das águas costeiras em relação com a aquicultura. Caso prático das Rias Baixas: aplicaçã o de análise em SIG. 1.1. Introdução: justificação e objectivo do estudo A selecção dos lugares adequados para a localização das instalações aquícolas em águas

costeiras é um factor chave que determina o êxito, sustentabilidade ou fracasso dos cultivos

marinhos (Kutty, 1987). Contudo, a selecção das zonas de cultivos marinhos depende não só

dos factores físicos do meio, mas também de uma série de factores chave que devem ser tidos

em conta (considerações legais, factores climáticos, características do ambiente costeiro, tipos

de cultivo, factores socioeconómicos, actividades e usos costeiros, etc.).

O objectivo deste estudo é mostrar a utilidade das análises a partir de Sistemas de Informação

Geográfica (SIG) para avaliar a adequação da localização das zonas aquícolas e demonstrar o

seu enorme potencial como ferramenta de apoio na gestão costeira. O estudo foi realizado na

Ria de Vigo, a mais meridional das Rias Baixas, tendo em conta a influência de factores de tipo

socioeconómico e, em particular, o efeito da sobreposição de actividades e usos na zona

costeira. Além disso, foram tidos em conta os factores relativos ao tipo de ambiente costeiro no

qual têm lugar os cultivos, as características do meio e, em especial, aqueles parâmetros que

fazem referência à qualidade das águas costeiras. Para conseguir este objectivo, foi

desenvolvida uma ferramenta baseada na análise multicritério e análise de SIG.

1.2. Área de estudo Dentro do grupo das Rias Baixas, a Ria de Vigo ocupa a posição mais meridional, com uma

orientação do seu eixo maior N45ºE e forma de funil em planta. Ocupa uma extensão de 175

km2, com um comprimento do seu eixo principal de 33 km e uma largura de embocadura, na

parte externa, de 10 km (figura 1). A sua costa é recortada e apresenta numerosas baías e

enseadas (Vilas et al., 1995).

Tanto pela sua grande riqueza natural (paisagística, faunística e ecológica), como pelo seu

património cultural, a Ria de Vigo pode considerar-se um enclave singular onde os seus

recursos são aproveitados desde a antiguidade. Nas margens litorais da Ria desenvolvem-se

actividades pesqueiras, marisqueiras e de aquicultura, que têm uma grande importância

socioeconómica e uma elevada tradição cultural. Nas águas costeiras da Ria existem

actualmente 13 polígonos de cultivo divididos em quadrículas, onde se distribuem 478

2

plataformas flutuantes. O principal cultivo que se leva a cabo nas plataformas é o do mexilhão

(Mytilus galloprovincialis), tanto para a obtenção de semente como para a engorda de

organismos adultos. Além do mexilhão cultivam-se outras espécies de moluscos tais como a

ostra plana (Ostrea edulis), ameijoa (Ruditapes decussatus), vieira (Aequipecten opercularis),

etc.

Paralelamente a estes usos do litoral, na zona costeira da ria localizam-se 8 municípios com

uma população de 400.000 habitantes (Guerra et al., 2008) e uma importante actividade

agrícola e industrial. O elevado tráfego marítimo, a indústria naval, conserveira e congeladora,

e as actividades relacionadas com o turismo e o recreio que fazem uso da zona costeira, dão

lugar a uma sobreposição de actividades que tornam a gestão do litoral mais complexa.

Figura 1. Mapa de localização da área de estudo: A Ria de Vigo.

1.3. Metodologia

A metodologia do trabalho dividiu-se em várias fases. Em primeiro lugar foi feita uma

compilação de informação geográfica georreferenciada disponível para a Ria de Vigo, no que

respeita à descrição do ambiente da ria (tipo de fundos, correntes, zonas protegidas, etc.), e às

actividades económicas que se realizam no litoral e nas suas águas costeiras. A partir da

informação obtida seleccionaram-se as variáveis de maior interesse para o estudo da

sobreposição de usos costeiros (figura 2), deste modo as variáveis seleccionadas foram:

3

resíduos (urbanos e industriais, representando a importância da concentração de núcleos

urbanos e industriais na Ria de Vigo), distância a portos (tanto comerciais como de recreio),

distância a praias (no que respeita ao impacte que pode produzir a flutuação populacional e a

presença de um maior número de embarcações recreativas), distância a rotas de transporte

marítimo (comerciais e de passageiros) e a intensidade de correntes marítimas superficiais

(tendo em conta a sua importância na dispersão de possíveis contaminantes). Numa segunda

análise integraram-se no modelo duas variáveis ambientais: temperatura e salinidade da

massa de água costeira superficial (0-5 m).

Figura 2. Variáveis seleccionadas para o estudo.

Como as variáveis apresentavam distintas escalas e amplitudes de variação, foi efectuada uma

normalização de cada uma delas obtendo-se valore entre 0-1 para cada variável. A partir dos

valores obtidos calcularam-se as superfícies raster correspondentes a cada variável. Para isso,

a superfície marinha da Ria dividiu-se em uma grid ou grelha constituída por células com uma

malha de 100 metros de lado, e calculou-se o valor que toma cada variável em cada célula.

Empregaram-se duas técnicas espaciais em função do parâmetro que se estivesse avaliando:

a interpolação espacial por meio de uma técnica determinística denominada spline e o cálculo

dos valores em função da distância euclidiana a determinadas variáveis consideradas. Os

resultados obtidos foram integrados num algoritmo polinomial a que se atribuíram pesos

relativos a cada uma das variáveis.

4

Para o cálculo dos pesos relativos atribuídos a cada variável seguiu-se o método denominado

de hierarquias analíticas (em inglês Analytic Hierarchy Process, AHP proposto por Saaty,

1980). Este procedimento consiste em estabelecer uma matriz de pares de variáveis que

permite comparar a importância de cada uma das variáveis em relação com as demais,

determinando-se, assim, o seu peso relativo e estimando-se além disso uma medida

quantitativa da consistência dos juízos de valor entre pares de variáveis.

1.4. Resultados

A combinação linear das variáveis multiplicadas pelos seus pesos dá como resultado um valor

de adequação para cada uma das células em que está dividida a superfície marinha da Ria,

obtendo-se assim uma superfície contínua que representa a variação da adequação para a

localização de instalações aquícolas.

A importância relativa que se atribui a cada variável dependerá do julgamento do gestor da

zona costeira e, dependendo dos pesos atribuídos, obter-se-ão distintos resultados para o

mapa de adequação (exemplo: figura 3). O mapa de adequação resultante constitui, portanto,

uma ferramenta interactiva na qual o gestor pode avaliar a importância que deseja atribuir às

variáveis e usos socioeconómicos do litoral e calcular o impacte que teria sobre a adequação

na localização actual dos polígonos de cultivo.

Ports Effluents Beaches Routes Currents Wj Ports 1,000 0,333 3,000 1,000 5,000 1,00 Effluents 3,000 1,000 5,000 3,000 7,000 1,40 Beaches 0,333 0,200 1,000 0,333 3,000 0,60 Routes 1,000 0,333 3,000 1,000 3,000 0,60

Currents 0,200 0,143 0,333 0,333 1,000 0,20

∑ 5,533 2,009 12,333 5,666 19,000

Figura 3. Exemplo de mapa de adequação (maior adequação em cor verde) calculado a partir do vector de pesos que se mostra na tabela sobre o mapa. Neste caso foi atribuída a maior importância à variável ”resíduos”.

5

1.4.1. Integração de variáveis ambientais Para além do cálculo de adequação em função da sobreposição de usos costeiros, integraram-

se no modelo duas variáveis ambientais: salinidade e temperatura. As superfícies preditivas

para cada variável foram obtidas de forma sazonal (para primavera, verão, outono e inverno) a

partir da interpolação dos valores de temperatura superficial da água (de 0 a 5 metros),

extraídos de uma série temporal de 3 anos (Pazos et al., 2006; Doval González et al. 2007;

Moroño Mariño et al. 2008) publicados pelo Instituto de Control do Medio Mariño – INTECMAR.

Tendo em conta estes valores resultantes e integrando as variáveis temperatura e salinidade

no modelo, podemos calcular o mapa de adequação para determinadas espécies com

interesse, tendo em conta as suas amplitudes óptimas de temperatura e salinidade para o seu

cultivo.

1.5. Conclusões

A análise hierarquizada a partir de um Sistema de Informação Geográfica permitiu calcular a

adequação do cultivo de determinadas espécies com interesse nas águas costeiras da Ria de

Vigo, tendo em conta a sobreposição de usos costeiros e a consideração de duas variáveis

indicadoras da qualidade das águas, a salinidade e a temperatura. O mapa de adequação

resultante constitui uma ferramenta interactiva com a qual o gestor da zona costeira pode

avaliar a importância que deseja atribuir às variáveis e usos socioeconómicos do litoral.

O modelo obtido é uma ferramenta dinâmica que permite a introdução ou eliminação de

variáveis de entrada e o cálculo da adequação a partir dos dados interessantes para o estudo

de uma determinada espécie, tipo de cultivo ou zona aquícola.

A ferramenta interactiva desenvolvida está disponível na internet no link

http://ancorim.xeogalicia.net.

1.6. Agradecimentos O trabalho foi realizado no quadro do projecto ANCORIM, cofinanciado pelo Programa Espaço

Atlântico da União Europeia. Queremos expressar o nosso agradecimento à INTECMAR pela

sua colaboração e pelos dados fornecidos para a compilação de informação na primeira fase

do projecto e a Jose Manuel Parada Encisa pela sua contribuição para a abordagem do

trabalho e o tratamento da informação geográfica.

1.7. Referências Doval Gonzálex, M. D., Moroño Mariño, A., Pazos González, Y. (2007) Anuario oceanográfico de Galicia 2007.

Vilagarcía de Arousa (Pontevedra): Instituto Tecnolóxico para o Control do Medio Mariño de Galicia,

INTECMAR, DL 2009. 431 p. ISBN 978-84-613-0959-7.

6

Guerra, A., Lens, S. & Rocha, F. (2008) Impacto del hombre sobre el ecosistema de la Ría de Vigo: hacia una gestión

integrada. In: Eds González-Garcés, A. Vilas, F, Álvarez-Salgado, X.A. La Ría de Vigo. Una aproximación

integral al ecosistema marino de la Ría de Vigo. Instituto de Estudios Vigueses. 417 pp.

Kutty, M.N. (1987) Site selection for aquaculture. UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME NIGERIAN

INSTITUTE FOR OCEANOGRAPHY AND MARINE RESEARCH. PROJECT RAF/82/009

(http://www.fao.org/docrep/field/003/AC170E/AC170E00.htm)

Moroño Mariño, A., Pazos González, Y. & Doval Gonzálex, M. D. (2008) Anuario oceanográfico de Galicia 2008.

Vilagarcía de Arousa (Pontevedra): Instituto Tecnolóxico para o Control do Medio Mariño de Galicia,

INTECMAR, DL 2009. 432 p. ISBN 978-84-613-3100-0

Parada, J.M. (2007) Detailed seabed information in integrated coastal zone planning and management – AQUAREG

Pilot Study. Report from the project “Coastal Zone Management – A Common Framework for Sustainable

Aquaculture” funded by INTERREG IIIC.

Pazos González, Y., Moroño Mariño, A. & Doval Gonzálex, M. D. (2006) Anuario oceanográfico de Galicia 2006.

Vilagarcía de Arousa (Pontevedra): Instituto Tecnolóxico para o Control do Medio Mariño de Galicia,

INTECMAR, DL 2009. 431 p. ISBN 978-84-612-9809-9

Saaty, T. L. (1980) The Analytic Hierarchy Process. McGraw Hill. New York and London. 287 pp.

Vilas, F., Nombela, M. A., García-Gil, E., García-Gil, S., Alejo, I., Rubio, B. & Pazos, O. (1995). Cartografía de

sedimentos submarinos: Ría de Vigo. Xunta de Galicia, Consellería de Pesca, Marisqueo e Acuicultura, 40 p.

7

Secção 2: Transferibilidade da ferramenta para outr as regiões costeiras O desenvolvimento sustentável das actividades aquícolas depende em grande medida da

selecção de lugares adequados para o progresso dos cultivos (GESAMP 1996). A elevada

procura e competição pelo espaço nas zonas costeiras, assim como a sobreposição de

múltiplas actividades de tipo socioeconómico que têm lugar no litoral, torna necessário um

estudo de pormenor que assegure a sustentabilidade das instalações aquícolas. Este estudo

deve ser encaminhado no sentido de satisfazer as necessidades do sector em termos de infra-

estruturas, materiais, vias de transporte e comercialização, assim como de identificar os

lugares mais adequados do ponto de vista do meio físico, tendo em conta o seu possível

impacte no ambiente, assim como o impacte a que estão sujeitas devido ao desenvolvimento

de outras actividades costeiras. Portanto, a aquicultura costeira deveria desenvolver-se de

acordo com um esquema de Gestão Integrada de Zonas Costeiras (ICZM), já que os planos ou

a regulação dos cultivos aquícolas deveriam integrar um sistema que determine a adequação

da localização dos cultivos (GESAMP 1991, 1996). Tal sistema deveria ter em conta todos os

factores de tipo económico, social e ambiental para que os sistemas aquícolas tenham o maior

sucesso possível.

O caso prático que nos ocupa, centra-se na identificação dos lugares mais adequados para a

localização de estruturas flutuantes de cultivo nas águas da ria, atendendo ao possível impacte

potencial que poderiam ter outras actividades económicas costeiras. Foram tidas em conta as

actividades de maior interesse na zona de estudo, as quais foram quantificadas e avaliadas em

função da importância relativa de cada uma delas.

A metodologia que propõe este caso prático pode ser transferida para outras zonas de estudo

onde exista uma competição pelo espaço nas zonas costeiras e seja necessária a identificação

dos lugares mais adequados para reduzir o impacte produzido pela sobreposição de

actividades. Para a implementação da ferramenta em outras regiões, seria necessária uma

revisão e identificação daquelas actividades socioeconómicas que têm lugar na costa, assim

como a compilação da informação geográfica necessária. Dada a variedade de unidades e

escalas de medida de cada variável, a análise de decisão multicritério requer que os valores

sejam transformados em escalas e unidades comparáveis, realizando uma normalização de

cada variável e estabelecendo uma amplitude de variação de valores contínuos entre zero e

um. Finalmente, incorporam-se no modelo as preferências dos decisores, atribuindo a cada

variável um peso ou importância relativa ao resto, que variará em cada zona de estudo

dependendo das variáveis a ter em conta, e à importância das mesmas a nível regional. O

cálculo dos pesos de cada variável baseia-se na importância atribuída a cada variável e será

um valor subjectivo de acordo com o critério dos gestores do litoral e dos decisores. O valor do

peso calcula-se a partir do método de comparação por pares desenvolvido por Saaty (1994).

8

As variáveis tidas em conta, e a importância relativa de cada uma delas, combinam-se usando

a avaliação multicritério (MCE) a partir da combinação hierarquizada ou ponderada da soma de

variáveis ponderadas pelo seu peso (ver a metodologia exposta na Secção 1 do relatório para

mais detalhes).

A ferramenta pode ser útil para aquelas administrações ou gestores do litoral que tenham

necessidade de realizar análises espaciais, em determinadas zonas costeiras, para a avaliação

ou acompanhamento de possíveis impactes a que estão sujeitas as zonas actuais onde se

realizam actividades aquícolas, ou na emissão de licenças para novas zonas de cultivo.

A ferramenta de GIS desenvolvida neste caso prático, assim como a metodologia empregada e

os dados utilizados, foram mostrados na visita do caso prático e no seminário que teve lugar no

CETMAR em 23 de Junho de 2011. Nesta primeira apresentação do caso prático, mostraram-

se os principais aspectos tidos em conta, e os principais resultados obtidos. Foi feita, também,

uma apresentação da ferramenta durante a visita organizada por Marennes-Oléron, para

mostrar os resultados obtidos à administração regional e local, assim como aos profissionais do

sector pesqueiro e marisqueiro da zona.

Por outro lado, e com o objectivo de dar aplicabilidade e utilidade à ferramenta, esta foi incluída

num visor interactivo alojado no domínio http://ancorim.xeogalicia.net/, com o fim de a pôr à

disposição da administração e dos gestores das zonas litorais.

9

Secção 3 – Estruturas da governação e comunidade científica

3.1. Gestão e competências nas Rias Baixas galegas

O documento normativo que rege as zonas costeiras espanholas é a Lei da Costa 22/1988 de

23 de Julho (BOE 19/07/1988), que incorpora as recomendações europeias quanto à proteção

das zonas costeiras. Na Galiza, as competências relacionadas com a gestão do litoral e com o

ordenamento são partilhadas pelos governos central e regional. O governo espanhol, através

da Direção Geral para a Sustentabilidade da Costa e do Mar (Dirección General de

Sostenibilidad de la Costa y del Mar), pertencente ao Ministério do Ambiente e do Meio Rural e

Marinho (Ministerio de Medio Ambiente y Medio Rural y Marino), é responsável pela gestão do

Domínio Público Marítimo-Terrestre e pela concessão ou recusa de autorizações no que

concerne à Servidão de Passagem e Acesso ao mar e ao domínio público marítimo-terrestre

declarado pelo Estado, com exceção das competências assumidas pelas regiões. O governo

central é responsável pela proteção e conservação dos elementos pertencentes ao domínio

público marítimo e terrestre e, em especial, pela adaptação sustentada das praias, dunas e

zonas húmidas costeiras, bem como pela elaboração, implementação, acompanhamento,

controlo e inspeção dos estudos, projetos e trabalhos relacionados com a defesa da costa.

Ao abrigo da Lei 9/2002 relativa ao ordenamento urbano e à proteção ambiental rural da

Galiza, alterada pela Lei 2/2010 relativa a medidas urgentes e regulamentos locais do

ordenamento urbano, a região autónoma da Galiza tem jurisdição sobre as autorizações dos

usos no que respeita à proteção de Servidões (por transferência da administração). O referido

quadro normativo fixa os mecanismos de coordenação das administrações que partilham entre

si as competências do planeamento das intervenções nas zonas costeiras da região. Mais

concretamente, o Ministério Regional para o Ambiente, Território e Infraestruturas (Consellería

de Medio Ambiente, Territorio e Infraestruturas) desempenha um papel específico na gestão da

costa galega, já que esta é diretamente afetada por muitas das suas atribuições (Real Decreto

316/2009). No que se refere, especificamente, ao ordenamento e à gestão das zonas costeiras,

dos recursos hídricos e da paisagem, a Secretaria Geral do Ordenamento do Território e do

Urbanismo (Secretaría Xeral de Ordenación do Territorio e Urbanismo) desenvolveu

instrumentos de planeamento tais como o Plano de Ordenamento do Litoral, cujo processo de

aprovação deverá respeitar o Artigo 5bis e 15 da Lei 10/1995 de 23 de novembro.

A gestão das zonas costeiras a nível local é partilhada com as autarquias. Os 74 municípios do

litoral da Galiza são regidos pela lei 5/1997 de 2 de Julho, do Governo Local da Galiza. A

responsabilidade pelas questões urbanas dentro da Área de Influência é das autarquias, às

quais cabe também a responsabilidade pela disponibilização de áreas de estacionamento e de

10

acesso adequado ao mar (exceto em áreas de proteção especial). É ainda competência das

autarquias assegurar o controlo e manutenção das zonas balneares e da qualidade das águas.

Qualidade da água e actividades costeiras Na Galiza a administração dos recursos hídricos é regulamentada pela Lei das Águas da

Galiza – Lei 9/2010 de 4 de novembro –, que determina que esta Comunidade Autónoma tem

sob sua responsabilidade e competência as questões da água e dos equipamentos hídricos da

região. No específico âmbito do Ministério Regional do Ambiente, Território, e Infraestruturas

(Consellería de Medio Ambiente, Infraestruturas e Territorio), as competências em matéria de

qualidade das águas costeiras, continentais e de transição na área de Captação da Galiza

pertencem à entidade autónoma "Augas de Galicia "(Decretos 316/2009 e 108/1996). Das

principais atividades das "Augas de Galicia" constam a aplicação da Directiva-Quadro sobre a

Água e o desenvolvimento do Plano Hidrológico da Costa da Galiza (Plano Hidrológico de

Galicia-Costa), aprovado pelo Real Decreto 103/2003. Este deverá dar lugar ao novo Plano

Hidrológico a desenvolver de acordo com os mandatos da Directiva-Quadro sobre a Água,

recentemente submetida a discussão pública e divulgação.

Parte integrante do Ministério Regional para o Ambiente, Território e Infraestruturas, a

Secretaria Geral da Qualidade e Avaliação Ambiental criou a Rede de Observação Ambiental

(Red de Observación Ambiental, ROAGA), uma rede de acompanhamento do estado ecológico

das águas da Galiza através da recolha e do processamento de informações relativas ao

ambiente.

Quanto aos recursos marinhos, o Ministério Regional do Mar (Consellería do Mar) possui

competência exclusiva na gestão da pesca (tanto profissional como desportiva) em águas

interiores, da pesca do marisco e da aquicultura (Decreto 312/2009), tendo desenvolvido

instrumentos jurídicos para essa mesma gestão: a Lei 11/2008, chamada Lei de Pesca da

Galiza; o Plano galego de Aquicultura (plano de Acuicultura Gallego), publicado na Resolução

de 12 de Setembro de 2008; e o Plano Geral para a Exploração da Pesca do Marisco (plano

Geral de Explotación Marisquera), criado em 1992.

É de referir o papel das associações de pescadores (confrarias de pescadores), que na Galiza

assumem uma grande importância em termos de tradição e de história. Segundo a Lei 9/1993,

de 8 de julho, as confrarias definem-se como pessoas colectivas de direito público, dotadas de

personalidade jurídica própria e dotadas de capacidade para exercer as respectivas funções.

Elas próprias elaboram o seu Plano Anual de Exploração com vista à gestão dos recursos

marinhos abrangidos pela respectiva área de competência, o qual é submetido à análise e

aprovação da Dirección Xeral de Recursos Marinos (Ministério Regional do Mar).

11

As competências do Ministério Regional do Mar são delegadas pelo governo central, nelas se

incluindo a luta contra a poluição marinha e o desenvolvimento do Plano Territorial de

Contingência em Caso de Poluição Marinha da Galiza, aprovado pela Resolução de 23 de abril

de 2007 em conformidade com o Ordem de 23 de fevereiro de 2001. O referido plano territorial

foi elaborado pela Subdirectoria Geral da Guarda Costeira da Galiza (Subdirección Xeral de

Gardacostas de Galicia), também responsável pela fiscalização, prevenção e aplicação de

medidas de correção relativas às pescas, à pesca do marisco e à aquicultura. Esta entidade

possui igualmente competências em ações de salvamento marítimo em caso de emergência e

executa as funções necessárias em caso de combate à poluição marinha acidental, através da

prevenção, detecção e eliminação de derrames no mar.

Enquanto parte integrante do Ministério Regional do Mar, o Instituto Tecnológico para Controlo

do Meio Marinho (Instituto Tecnolóxico par o Controle do Medio Mariño, INTECMAR) está

encarregado do acompanhamento, controlo e estudo da qualidade ambiental das águas

costeiras da Galiza com vista à prossecução de actividades de aquicultura. O Instituto também

leva a cabo iniciativas no campo da oceanografia operacional e no combate à poluição marinha

acidental, encontrando-se integrada no Plano Territorial de Contingência em Caso de Poluição

Marinha da Galiza, através da Unidade de Documentação e Apoio Científico e da Unidade de

Observação Próxima.

A análise das competências no que respeita ao ordenamento e às actividades do litoral deve,

finalmente, ter em conta as infraestruturas portuárias, dada a sua grande importância sócio-

económica e o relevante significado de que se revestem nas zonas costeiras. Existem na costa

da Galiza 128 portos, 6 dos quais (de maiores dimensões e considerados “de interesse geral")

geridos por autoridades portuárias pertencentes ao organismo oficial Portos do Estado, por sua

vez dependente do Ministério do Desenvolvimento do governo espanhol (Lei 27/1992 de 24 de

novembro, chamada dos Portos do Estado e da Marinha Mercante, e Lei 33/2010, de 5 de

agosto, que veio alterar a Lei 48/2003 de 26 de novembro sobre o regime económico e a

prestação de serviços nos portos de interesse geral). Os restantes 122 são geridos diretamente

pelo governo galego através do organismo público "Portos da Galiza", que tem competências

sobre os portos no que diz respeito ao respetivo planeamento, construção, exploração,

conservação e desenvolvimento.

Competências ambientais, áreas protegidas e conserv ação dos recursos naturais

As competências em matéria de proteção ambiental são partilhadas pela Consellería do Meio

Ambiente, Território e Infraestruturas, em conformidade com o Decreto 316/2009, e pela

12

Consellería do Meio Rural, ao abrigo do Decreto 318/2009. A Secretaria Geral da Qualidade e

Avaliação Ambiental, organismo dependente da Consellería do Meio Ambiente, Território e

Infraestruturas, possui competências em matéria de protecção ambiental e de promoção do

desenvolvimento sustentável na região da Galiza, além de ser responsável pela proteção,

ordenamento e gestão da paisagem (Decreto 316/2009). Esta Secretaria Geral desenvolveu o

Programa-Quadro Galego sobre as Mudanças Climáticas 2010-2020, que visa ajudar a atingir

os objectivos da União Europeia e da Galiza para efeito do cumprimento do Protocolo de

Quioto.

Compete à Direcção Geral da Conservação da Natureza, pertencente à Consellería do Meio

Rural, exercer as competências e funções quanto à conservação, proteção, uso sustentável,

melhoria e recuperação do património natural e da biodiversidade da Galiza e da respetiva

componente etnográfica, e nomeadamente quanto à conservação das áreas naturais incluídas

na Rede Galega de Áreas Protegidas e na Rede Natura 2000 da Galiza, bem como de outras

áreas consideradas de elevado valor ambiental (Decreto 318/2009). Na Galiza, as áreas

naturais protegidas são geridas em conformidade com a Lei 97/2001 de Conservação da

Natureza, de 21 de agosto.

Colaboração e cooperação entre a administração regi onal e a comunidade científica para o desenvolvimento de ins trumentos de planeamento

A preparação de instrumentos de planeamento como sejam o Plano de Ordenamento do Litoral

exige, muitas vezes, na fase da sua elaboração e definição, o parecer da comunidade

científica. As administrações regionais e locais solicitam então a cooperação de grupos de

investigação das instituições de investigação galegas, que de um modo geral têm dado a sua

colaboração na definição dos necessários instrumentos jurídicos, contudo não existe um

quadro legal em que se encontrem estabelecidos critérios e mecanismos de cooperação.

Muitos instrumentos jurídicos, como o Plano Territorial de Contingência em Caso de Poluição

Marinha da Galiza ou o Plano Territorial de Emergência, prevêem a criação de um conselho

consultivo que deve ser ouvido em caso de emergência. Assim, e por exemplo, o Plano

Territorial de Emergência determina a criação de uma Unidade de Apoio Técnico, que poderá

integrar não só representantes de instituições de natureza técnica – tais como o INTECMAR,

Portos da Galiza, MeteoGalicia, Augas da Galiza, etc. –, mas também outros assessores

técnicos e cientistas ligados às Universidades ou a Organizações de Investigação Públicas.

3.2. Contributo do estudo de caso para as relações entre os decisores e a comunidade científica

13

Tem vindo a aumentar consideravelmente a utilização de Sistemas de Informação Geográfica

enquanto ferramenta de integração e de homogeneização, em bancos de dados

georreferenciados, de grandes quantidades de informação proveniente das mais diversas

fontes. Essas bases de dados conseguem incorporar e correlacionar informações de cariz

geográfico, científico e sócio-económico com interesse para o planeamento e apoio aos

processos de tomada de decisão. A análise cruzada da informação permite o acesso fácil aos

dados e aos resultados, bem como a criação de mapas temáticos e o desenvolvimento da

análise geoestatística.

Nas zonas costeiras, o potencial contributo dos sistemas de informação geográfica para a

gestão do litoral é muito elevado. O presente estudo de caso baseia-se na utilização de um

sistema de informação geográfica que permitiu a incorporação, conversão, tratamento e

armazenamento de uma quantidade significativa de informações relevantes sobre a zona

costeira e as actividades da Ria de Vigo. A informação incluída no estudo, recolhida a partir de

fontes diversas, é objeto de tradução e interpretação a fim de facilitar a respetiva visualização e

utilização. O estudo de caso propõe-se servir de ponte entre os gestores e os cientistas,

porquanto recolhe e traduz informação obtida de fontes científicas e disponibiliza-a para os

gestores da costa sob a forma de mapas que congregam toda a informação tratada.

Os dados científicos georreferenciados refletidos nos mapas constantes do estudo de caso

permitem uma visualização rápida da informação, que por sua vez pode ser atualizada ou

mostrada no formato mais adequado ou pretendido. O estudo de caso reúne informação obtida

na zona litoral e nas águas costeiras da ria e relacionada com os usos do solo e com as

diversas atividades sócio-económicas desenvolvidas ao longo da costa (localização das áreas

urbanas, praias, vias de transporte marítimo, etc.), bem como com a batimetria, correntes, etc.

A informação assim facultada funciona não apenas como inventário visual de todo o ambiente

costeiro, mas também como suporte para a manipulação da informação disponível. De todo o

volume de informação compilada e atualizada, apenas se selecionou e se teve em

consideração para inclusão no estudo aquela que se afigurou relevante para destacar as fontes

potenciais de risco suscetíveis de acarretar efeitos sobre a aquicultura.

As variáveis selecionadas para o estudo das fontes potenciais de risco foram ponderadas de

acordo com a importância inicialmente atribuída a cada um dos níveis utilizados na análise. O

peso das diferentes variáveis pode ser alterado segundo os critérios dos decisores, obtendo-se

resultados diferentes consoante a importância conferida a cada variável. O sistema permite

ainda introduzir outras variáveis por forma a avaliar o respetivo efeito sobre o sistema.

Não obstante a existência de muitas aplicações SIG para apoio à decisão espacial no que se

refere à gestão do litoral, ainda é muito baixa a sua utilização entre os decisores e outras

partes interessadas na questão das regiões costeiras. É objetivo do presente estudo de caso

14

demonstrar o elevado potencial da utilização de Sistemas de Informação Geográfica na gestão

da informação sobre o litoral obtida a partir de fontes diferentes e diversas (informação

científica, informação respeitante ao uso do solo , informação sócio-económica, etc) e traduzida

e interpretada de maneira a tornar mais fácil o processo de tomada de decisão e a tornar

possível a criação de diferentes cenários na busca de soluções.

3.3. Referências

Sanz Larruga, F.J. (2003) Bases doctrinales y jurídicas para un modelo de gestión integrada

sostenible. Colección Técnica de Medio Ambiente. Ed. Consellería de Medio Ambiente,

Xunta de Galicia. 277 pp.

15

Secção 4: Resumo

4.1 Justificação e objetivos do estudo de caso

Devido à elevada produtividade biológica, decorrente das suas condições hidrográficas e

oceanográficas e da presença de fenómenos de afloramento costeiro, a Galiza, e

nomeadamente o conjunto das Rias Baixas, situado na costa noroeste daquela região, possui

condições especialmente adequadas à aquicultura. Essa elevada produção primária favorece o

cultivo de organismos marinhos nas águas daquele litoral, fazendo com que a aquicultura seja

uma atividade sócio-económica com grande importância na Galiza. A particular geomorfologia

e as condições oceanográficas das Rias permitiram a instalação de jangadas de cultivo

flutuantes, em que a produção de mexilhão vem sendo praticada desde 1946. De acordo com o

Decreto 197/1996, de 12 de junho, as jangadas de mexilhão localizam-se em áreas de cultivo

ou polígonos situados no interior das Rias, tendo cada jangada a área máxima de 550m2 e um

limite de 500 cordas com 12 metros de comprimento máximo. Existem na Ria de Vigo 478

jangadas distribuídas por 13 polígonos de cultivo, sendo aquelas na sua maior parte utilizadas

na produção de mexilhão e, em menor número, no cultivo de outros moluscos, tais como

ostras, amêijoas, etc.

Além da aquicultura, concentra-se na zona costeira da Ria de Vigo um elevado número de

atividades socio-económicas: atividades portuárias, a apanha de crustáceos (em zonas

intermareais e submareais), a pesca, a indústria de transformação do pescado e do marisco, os

transportes marítimos, o turismo, os desportos de recreio, o ordenamento urbano, estações de

depuração e recolha de resíduos (urbanos e industriais), etc. Em consequência de toda esta

intensa acumulação de actividades costeiras, a gestão do litoral apresenta-se como uma tarefa

altamente complexa.

O objetivo do presente estudo de caso consiste em identificar potenciais fontes de risco

suscetíveis de afetar os equipamentos aquícolas flutuantes da Ría de Vigo e em calcular

índices de adequação para a sua atual localização.

Assim, proceder-se-á aqui à análise dessa acumulação de atividades e à identificação das

fontes potenciais de risco para as áreas de cultivo. Com vista a analisar a compatibilidade das

diferentes actividades, aplicou-se, para efeitos de análise de adequabilidade, um modelo

hierárquico ponderado em que se conferem diferentes ponderações consoante as diferentes

fontes de risco consideradas. A ferramenta em causa, baseada na análise SIG e na avaliação

multicritério (MCE), considera a distância que vai dos locais em que é praticada a aquicultura

até às outras atividades económicas que utilizam as zonas costeiras – vias de transporte

marítimo, áreas urbanas, atividades portuárias, desportos de recreio, turismo, recolha de

resíduos, etc. –, indicando quais as áreas mais adequadas para os locais de cultivo

16

predefinidos da Ria (sendo que os resultados da análise foram aplicados às áreas onde

actualmente são permitidas as explorações flutuantes). O estudo leva também em linha de

conta outras variáveis, como sejam a temperatura e a salinidade das águas costeiras,

oferecendo cenários distintos para cada época do ano.

O presente estudo de caso constitui um exercício de avaliação da importância das fontes

potenciais de risco para a aquicultura passível de ser transposto para outros ambientes

costeiros e aí utilizado. Foi apresentado no âmbito do seminário temático "Riscos para a

qualidade das águas costeiras e seus efeitos nas atividades económicas da costa da Galiza",

realizado no CETMAR em 23 de junho de 2011 (atas e comunicações disponíveis em

http://ancorim.aquitaine.fr).

4.2 Transposição da ferramenta para outras regiões costeiras

O desenvolvimento sustentável da aquicultura depende, em grande medida, da escolha de

locais adequados para o cultivo (GESAMP 1996). A escolha de locais adequados deve ter em

atenção fatores sócio-económicos – como as carências em infra-estruturas, os materiais, as

vias de transporte, a distância em relação aos mercados, etc. –, fatores ambientais – como as

condições de temperatura e salinidade, as correntes, as marés, a profundidade, etc. – e ainda

o potencial impacto sobre o meio ambiente. Além destes factores, a escolha dos locais

adequados tem de ter em atenção a procura elevada e a disputa de espaços nas zonas

costeiras, bem como a acumulação significativa das múltiplas atividades sócio-económicas

normalmente desenvolvidas nas zonas de litoral. A aquicultura costeira deve ser gerida

segundo um esquema de Gestão Integrada da Zona Costeira (GIZC), de acordo com o qual

todos os projectos ou medidas relacionados com a aquicultura marinha que venham a ser

propostos devem inserir-se num sistema de localização adequado (GESAMP 1991, 1996).

Para garantir o êxito das culturas marinhas, tal sistema deve ter em consideração todo o

conjunto de factores de natureza económica, social e ambiental.

Este estudo visa identificar os locais mais adequados para a instalação das estruturas de

cultura flutuantes (jangadas) no interior da Ria, tomando em linha de conta a distância existente

relativamente a outras atividades económicas desenvolvidas no litoral. Na área em estudo,

apenas foram levadas em consideração e avaliadas as atividades económicas costeiras com

potencial impacto na aquicultura.

A metodologia proposta é passível de transposição para outras áreas em que se verifique a

necessidade de identificar os locais mais adequados para cultivo, atendendo ao impacto

potencial causado por outras atividades costeiras. A ferramenta desenvolvida pode revelar-se

útil às autoridades costeiras e aos gestores confrontados com a necessidade de realizar

análises espaciais em determinadas zonas do litoral, seja para avaliação e monitorização dos

17

impactos sobre as áreas de cultivo já existentes, seja para emissão de novas licenças de

aquicultura.

A aplicação da ferramenta noutras regiões exigirá a análise pormenorizada e a identificação

das atividades sócio-económicas específicas levadas a cabo na área em causa, bem como a

compilação de informação geográfica relacionada com tais atividades. Dada a variedade de

unidades e de escalas de medida para cada uma das variáveis ou atividades, a análise de

decisão multicritério exige que os valores sejam transpostos para escalas e unidades

comparáveis através da normalização das variáveis e da fixação de uma faixa de variação de

valores contínuos entre zero e um. Finalmente, as preferências dos decisores de cada região

serão incorporadas no modelo por via da atribuição de um peso relativo a cada uma das

variáveis, o qual por sua vez irá ser diverso em cada área de estudo, consoante as variáveis

consideradas e a respetiva importância relativa a nível regional. O cálculo da ponderação de

cada uma das variáveis baseia-se na importância conferida a cada uma delas e corresponderá

a um valor subjectivo ditado pelo critério dos gestores e decisores costeiros. O valor dessa

ponderação será calculado pelo método de comparação par a par desenvolvido por Saaty

(1994). As variáveis consideradas e a respetiva importância relativa são combinadas de acordo

com a avaliação multicritério (MCE), com base na combinação linear da soma das variáveis

ponderadas em análise (para uma descrição mais pormenorizada, ver a secção respeitante à

metodologia).

4.3 Contributo do estudo de caso para as relações e ntre os decisores e a comunidade científica

Tem vindo a aumentar consideravelmente a utilização de Sistemas de Informação Geográfica

enquanto ferramenta de integração e de homogeneização, em bancos de dados

georreferenciados, de grandes quantidades de informação proveniente das mais diversas

fontes. Essas bases de dados conseguem incorporar e correlacionar informações de cariz

geográfico, científico e sócio-económico com interesse para o planeamento e apoio aos

processos de tomada de decisão. A análise cruzada da informação permite o acesso fácil aos

dados e aos resultados, bem como a criação de mapas temáticos e o desenvolvimento da

análise geoestatística.

Nas zonas costeiras, o potencial contributo dos sistemas de informação geográfica para a

gestão do litoral é muito elevado. O presente estudo de caso baseia-se na utilização de um

sistema de informação geográfica que permitiu a incorporação, conversão, tratamento e

armazenamento de uma quantidade significativa de informações relevantes sobre a zona

costeira e as actividades da Ria de Vigo. A informação incluída no estudo, recolhida a partir de

fontes diversas, é objeto de tradução e interpretação a fim de facilitar a respetiva visualização e

utilização. O estudo de caso propõe-se servir de ponte entre os gestores e os cientistas,

18

porquanto recolhe e traduz informação obtida de fontes científicas e disponibiliza-a para os

gestores da costa sob a forma de mapas que congregam toda a informação tratada.

Os dados científicos georreferenciados refletidos nos mapas constantes do estudo de caso

permitem uma visualização rápida da informação, que por sua vez pode ser atualizada ou

mostrada no formato mais adequado ou pretendido. O estudo de caso reúne informação obtida

na zona litoral e nas águas costeiras da ria e relacionada com os usos do solo e com as

diversas atividades sócio-económicas desenvolvidas ao longo da costa (localização das áreas

urbanas, praias, vias de transporte marítimo, etc.), bem como com a batimetria, correntes, etc.

A informação assim facultada funciona não apenas como inventário visual de todo o ambiente

costeiro, mas também como suporte para a manipulação da informação disponível. De todo o

volume de informação compilada e atualizada, apenas se selecionou e se teve em

consideração para inclusão no estudo aquela que se afigurou relevante para destacar as fontes

potenciais de risco suscetíveis de acarretar efeitos sobre a aquicultura.

As variáveis selecionadas para o estudo das fontes potenciais de risco foram ponderadas de

acordo com a importância inicialmente atribuída a cada um dos níveis utilizados na análise. O

peso das diferentes variáveis pode ser alterado segundo os critérios dos decisores, obtendo-se

resultados diferentes consoante a importância conferida a cada variável. O sistema permite

ainda introduzir outras variáveis por forma a avaliar o respetivo efeito sobre o sistema.

Não obstante a existência de muitas aplicações SIG para apoio à decisão espacial no que se

refere à gestão do litoral, ainda é muito baixa a sua utilização entre os decisores e outras

partes interessadas na questão das regiões costeiras. É objetivo do presente estudo de caso

demonstrar o elevado potencial da utilização de Sistemas de Informação Geográfica na gestão

da informação sobre o litoral obtida a partir de fontes diferentes e diversas (informação

científica, informação respeitante ao uso da terra, informação sócio-económica, etc) e traduzida

e interpretada de maneira a tornar mais fácil o processo de tomada de decisão e a tornar

possível a criação de diferentes cenários na busca de soluções.