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1 RELATÓRIO DE ATIVIDADES DAS ASM - Áreas de Soltura e Monitoramento de Animais Silvestres - 2006

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RELATÓRIO DE ATIVIDADES DAS ASM - Áreas de Soltura e Monitoramento de Animais Silvestres - 2006

Prefácio

DANDO ASAS AO DESEJO

De todas as atividades, iniciativas e projetos, realizados pelo IBAMA - SP, nenhuma parece motivar tantoservidores, funcionários e parceiros externos quanto aquelas ligadas à repatriação, reintrodução e soltura de animaissilvestres.

Mais do que tarefa ou atribuição deste órgão federal, a devolução à natureza dos animais apreendidos é umdesejo de todos os que aqui trabalham, um desejo que é também consoante as aspirações da própria sociedade.Afinal de contas, por que não restituir aos seus hábitats os animais retirados ilegalmente? Por que esses bichosdeveriam apenas ser mudados de cativeiro, condenados ao encarceramento perpétuo, em vez de serem postos emliberdade para que pudessem cumprir seu papel ecológico?

A resposta nos parecia óbvia, mas sabíamos que não dependia de uma decisão pura e simples como abriras gaiolas. Tínhamos de dar resposta também aos que se preocupavam, com boa dose de razão, com os riscosda soltura indiscriminada, os quais envolviam a sobrevivência dos animais soltos e também das populaçõesselvagens.

Mas tais preocupações não inviabilizariam o propósito maior das solturas. Tínhamos apenas de realizar solturascom critérios e com acompanhamento. Foram estabelecidos, então, protocolos para esses procedimentos. O mesmose deu para o cadastramento de áreas de soltura, locais seguros com potencial para abrigar e alimentar os animaissoltos. E, por fim, encontrar parceiros sólidos e imbuídos do mesmo desejo expresso acima, o de retornar à vidalivre os animais que tivessem condições físicas e sanitárias adequadas para serem soltos.

Estabelecidas essas diretrizes, bastou só dar vazão a esse desejo coletivo. Hoje, passados três anos de trabalhosintensos, caminhamos a passos rápidos para repatriar a milésima ave, o que muito nos encoraja. E emociona,também, já que vários avistamentos nas áreas de soltura comprovam o sucesso dessa empreitada: aves reintroduzidasestão acasalando-se e gerando novos descendentes.

Sabemos que tudo isso ainda é pouco. Temos consciência de que esse nosso trabalho é na verdade um teste demetodologia para recomposição de fauna, cujo objetivo maior é o aumento da diversidade. Mas já temos fortesevidências de que está dando certo e poderá ser repetido. Há métodos e procedimentos, há pessoal capacitadopara o trabalho e bons parceiros envolvidos. E temos certeza de que o desejo, aquele que motiva a todos nós, vaicontinuar intenso. Basta que continuemos insistindo em dar asas a ele.

Um bom encontro e uma boa leitura a todos!

Analice de Novais PereiraSuperintendente Estadual

IBAMA - SP

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Índice

Momento oportunopara aprimorar os

trabalhos

Área de recuperação e soltura de avifaunaAntonio Carlos Canto Porto Neto -Sítio N. Sra Auxiliadora - Mogi-Mirim - SP

Repatriação, revigoramento emonitoramento de aves silvestres

em área de soltura - Tremedal - BA

Centro de reabilitação deanimais - CRAS

Resultados de soltura deaves silvestres em fazendas

no Mato Grosso do Sul

Solturas e estudos preliminares demonitoramento da avifauna naregião metropolitana de São Pauloe outras regiões

Resultados obtidos nareabilitação de aves no

primeiro ano de trabalho daAssociação Bichos da Mata -

Itanhaém - SP

Resultados de solturas e demonitoramentos da fauna no

Condomínio Terras de São José -Itu - SP

Resumo de atividadesdesenvolvidas na ASMFazenda Acaraú -Bertioga - SP

Área de soltura “Associaçãodos Amigos de Guaratuba” -

Bertioga - SP

ASM Barragem Ponte Nova -Salesópolis - SPCentro de Recuperação deAnimais Silvestres do ParqueEcológico do Tietê - DAEE

Área de soltura emonitoramento deanimais silvestres comoparte do “Plano deManejo do Papagaio-de-peito-roxo –Amazona vinacea” -Jacupiranga - SP

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Dado nosso entendimento sobre a importância dosmonitoramentos, foi incluído o termo na nomenclaturadas Áreas de Soltura, passando de ASAS – Áreas deSoltura de Animais Silvestres – para ASM – Área deSoltura e Monitoramento – , comunicado através deOfício Circular nº 05/06, de 4/7/06.

Cremos que a realização do 1º Encontro de Áreasde Soltura e Monitoramento de Animais Silvestres noEstado de São Paulo vem ao encontro da necessidadede compilação e divulgação dos resultados das solturas.

Como órgão público, o IBAMA depara-se comlimitações de recursos materiais, estruturais e humanos.Entretanto, através do empenho de diversos parceiros,podemos concretizar esse singelo porém essencialevento, e esperamos contribuir não só para a divulgação,mas para o aprimoramento dos trabalhos.

Apesar de incipientes, pode-se constatar resultadospositivos para o efetivo estabelecimento de populaçõesem vida livre, para o fomento à pesquisa e participaçãode universidades, e para o envolvimento de áreasprivadas na proteção da fauna e flora. Tais resultadosvisam possibilitar a constante análise e avaliação dosprocedimentos e das solturas, e a finalidade de con-servação da biodiversidade, em reiteração à missão doIBAMA.

A perda de hábitat é certamente a principal ameaçaà fauna silvestre. Entretanto, outros fatores como aintrodução de espécies exóticas, a caça e a capturatambém exercem fortes pressões sobre as populaçõesnativas, mesmo com a presença de ambientes disponíveis.

Em 2005, apenas no Estado de São Paulo, os animaissilvestres irregulares apreendidos chegaram aoimpressionante número de aproximadamente 30 milespécimes. Certamente uma pequena parcela domontante traficado.

Vincent Kurt LoDivisão de Fauna – IBAMA - SP

Introdução

Em suma, deparamos com o seguinte contexto:1) altos índices de caça e captura de animais silvestres2) indicativos de redução das populações na

natureza, ameaça de extinção local e global, “florestasvazias” (Redford, 1992)

3) demanda de proprietários de áreas particularesinteressados em recomposição de fauna e flora

4) priorização de retorno dos animais à natureza pelaprópria legislação, como preconiza o Decreto Federalnº 3.179/99, artigo 2º, parágrafo 6º:

“II - os animais apreendidos terão a seguintedestinação:

a) libertados em seu hábitat natural, após verificaçãoda sua adaptação às condições de vida silvestre;

b) entregues a jardins zoológicos, fundações ambien-talistas ou entidades assemelhadas, desde que fiquemsob a responsabilidade de técnicos habilitados; ou

c) na impossibilidade de atendimento imediato dascondições previstas nas alíneas anteriores, o órgãoambiental autuante poderá confiar os animais a fieldepositário na forma dos arts. 1.265 a 1.282 da Lei no

3.071, de 1o de janeiro de 1916, até a implementaçãodos termos antes mencionados.”

Considera-se, portanto, o retorno desses animais ànatureza, apesar de um processo às vezes complexo,com os devidos cuidados, possível e desejável.

Em face do cuidado com solturas de maneira aleatóriae descriteriosa, e a ausência de uma legislação específica,houve a necessidade de elaboração de protocolos paranormatização das solturas e das áreas de soltura pelaDivisão de Fauna da Superintendência do IBAMA - SP,através dos documentos Requerimentos para Cadastrode Área de Soltura e Protocolo de Orientações para aSoltura, adaptados das recomendações da IUCN (1995),disponível no site: www.ibama.gov.br/sp.

Momento oportuno paraaprimorar os trabalhos

[email protected]

1º encontro de ASM - Áreas de Soltura e Monitoramento de animaissilvestres - Estado de São Paulo

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Áreas de soltura e monitoramentoRequerimentos para cadastro de Área de Soltura e

Monitoramento:1. A propriedade não pode possuir nenhuma pen-

dência judicial/fundiária.2. A localização da propriedade em área de

interesse, considerando aspectos faunístico-florísticos,e características geomorfológicas, hídricas e antrópicas,ressaltando-se a restrição em UC (Unidade de Con-servação).

3. Requerimento de cadastro junto ao IBAMA maispróximo, com a apresentação dos seguintes docu-mentos:

a) Informações básicas do proponente (nome, RG,CPF, endereço da propriedade, endereço para corres-pondência, telefone, e-mail etc.) e elaboração sucintade texto com proposta para a área (objetivos, justifica-tivas e metodologia)

b) Apresentação do documento de posse da pro-priedade e croqui de acesso

c) Localização da propriedade e vizinhanças em ma-pa, ou imagem de satélite, ou foto aérea de 1:25.000,com a cobertura da vegetação e caracterização qualitativae quantitativa do uso do solo

d) Levantamento faunístico dos vertebrados in loco(listagem das espécies que ocorrem na localidade portrabalho de campo, não apenas de literatura e dependen-do das espécies, estudo populacional)

e) Levantamento florístico, englobando listagem dasespécies vegetais e caracterização fisionômica (tipos depaisagem e porcentagem de área) e, se possível, fitosso-ciológica, visando, se necessário, a revegetação e o en-riquecimento florístico

f) Programa de divulgação e educação ambiental doprojeto junto à população local dos arredores e auto-ridades ambientais correlatas

g) Viveiros/ recintos de isolamento (“quarentena”) eambientação pré-soltura in loco (no caso em que há pré-ambientação/ reabilitação anteriormente realizada, o localde soltura pode prescindir de viveiros)

h) Protocolo sanitário de recepção, isolamento, exa-mes e tratamento

i) Apresentar programa de marcação individual (nocaso de aves, preferencialmente anilhas do CEMAVE)e monitoramento pós-soltura

j) Descrição clara da fonte de recursos e do períodode financiamento

k) Anotação de Responsabilidade Técnica ART dotécnico responsável

4. Após a apresentação de todos documentos, serárealizada a análise dos mesmos e agendada uma vistoriaao local. Após a aprovação final, a área será consideraraoficialmente uma área cadastrada junto ao Ibama

5. A emissão de guias de transporte para Áreas deSoltura está condicionada ao cadastro regularizado dasmesmas junto ao Ibama

6. As Áreas de Soltura devem encaminhar ao Ibamarelatório anual (formulários no site www.ibama.gov.br/sp <http://www.ibama.gov.br/sp>;) referente aos animaissoltos na localidade, com informações das espécies,marcação, sexo, etc. e manter o órgão informado detoda alteração documental ou ambiental da área.

Protocolo de Orientações para soltura deanimais silvestres

Considerações:O termo “soltura” é genérico. Primeiramente se mos-

tra necessária a compreensão do que está sendo realizado(adapt. da IUCN, 1995):

Reintrodução (Restabelecimento) tentativa de se esta-belecer uma espécie em área da qual anteriormente faziaparte de seu histórico, mas da qual foi extirpado ou setornou extinto

Relocação (ou Translocação) – movimentodeliberado ou mediado, de indivíduos selvagens ou depopulações de sua área de atuação para outra área emque ela também ocorre

Recolocação (ou Devolução) – devolução doindivíduo/grupo na mesma localidade de origem num curtoespaço de tempo

Revigoramento (ou Reforço/Suplementação) – sol-tura de indivíduos de uma espécie com a intenção deaumentar o número de indivíduos de uma população emseu hábitat e distribuição geográfica originais

Introdução de Conservação (ou Benigna) – tentativade se estabelecer uma espécie, para o propósito deconservação fora de sua área de ocorrência, mas dentrode um hábitat apropriado. É uma ferramenta de con-servação excepcional, quando não houver área rema-nescente dentro do histórico de atuação da espécie

Orientações:• Identificação correta do animal por espécie (ou

subespécie quando houver)• Para espécies ameaçadas consultar existência de

comitês ou grupos de trabalho• Avaliar origem e histórico do animal• A localidade deve ser de ocorrência natural da

espécie/subespécie no local (pelo menos historicamente)e preferencialmente não ser borda de ocorrência

• Considerar animais com estrutura social eterritorialidade

• Avaliar domesticabilidade e condições fisiológicas(vôo, vocalização, ato de fuga, alimentação...)

• Escolher indivíduos competentes para reabilitaçãoe soltura, considerando itens anteriores

Introdução

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• Avaliar época do ano mais apropriada para solturadas espécies, considerando disponibilidade de alimento(floração, frutificação, insetos), horário do dia, migraçãoda espécie etc.

• Evitar socialização com homem (imprinting) deanimais destinados à soltura

• Avaliar tamanho e qualidade do hábitat• Avaliar, se necessário, população da localidade

(densidade do táxon)• Seguir protocolo sanitário: quarentena e exames• Avaliar, se possível, capacidade de suporte do local• Avaliar pressões sobre a espécie no local (caça,

predadores, ação antrópica etc.)• Avaliar necessidade de fatores de suplementação:

alimentação (comedouros artificiais), abrigo (caixas/ninhos artificiais)

• Incentivar a restauração e ampliação de hábitat nolocal (sugestão: Resolução SMA nº 47, de 26/11/2003)

• Incentivo ao envolvimento da vizinhança naconscientização e proteção

• Avaliar, se possível, genética dos animais a seremsoltos e da população da localidade

• Realização de marcação individual• Tomada de medidas biométricas (peso, com-

primento etc.)• Viveiros/recintos pré-soltura no local para ambien-

tação e soft release (procedimentos de suplementação)• Monitoramento pós-soltura• Avaliar recursos financeiros necessários• Incentivo à participação dos setores privados e de

pesquisa

• As solturas de animais devem estar acompanhadaspor representante de órgão ambiental competente(IBAMA/Polícia Ambiental), ou técnico autorizadoacompanhado por duas testemunhas, registradas emdocumento próprio.

ObjetivosComo objetivos das solturas e formação das áreas

de soltura, podemos listar:1) Recolocação de espécimes e estabelecimento de

populações na natureza2) Retorno de processos ecológicos (polinização,

dispersão...)3) Geração de experiências, informações e conhe-

cimento4) Estabelecimento de parcerias, integração de

órgãos governamentais e privados5) Incentivo à pesquisa com fauna e flora (levanta-

mentos, monitoramentos, enriquecimento florístico...)6) Incentivo à conscientização da população e à

proteção de áreasA criação de áreas de soltura é, portanto, uma

ferramenta para a realização de solturas mais criteriosas,utilizando-se o soft release, cuidados pré e pós-soltura,e o monitoramento. Além disso, a contribuição não serestringe à fauna silvestre, mas abrange uma conservaçãomais global, pelo fomento às pesquisas, à proteção deáreas e à educação ambiental.

Nesse contexto, o IBAMA - SP prioriza a devoluçãoresponsável da fauna silvestre apreendida aos ambientesde ocorrência natural, através de procedimentoscriteriosos e da criação de áreas de soltura.

BIBLIOGRAFIA

IUCN 1995. Guidelines for Reintroductions. Aprovadas no 41º Encontro, Gland, Suíça.

REDFORD, K. H. 1992. The Empty Forest. Bioscience vol. 42

Introdução

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Área de recuperação e soltura deavifauna Antonio Carlos Canto Porto Neto- Sítio N. Sra Auxiliadora - Mogi-Mirim - SP

Características da ÁreaSítio Nossa Senhora Auxiliadora, município de Mogi-

Mirim, na região sudeste do Estado de São Paulo. Situa-se na latitude 22º25´55´´ S e longitude 46º57´28´´ W. Omunicípio possui área de 500,4 mil metros quadrados elocaliza-se a uma altitude de 632 metros (IBGE). Possuiáreas de cerrado e de mata ciliar e represas, onde é en-contrada uma grande variedade de espécies. Também hááreas de cerrado baixo e mata semidecídua, além de pas-tagens com vegetação em diferentes graus de recuperação.Toda a região sofreu com a redução de áreas naturais,ocasionando um grande processo de fragmentação.

A área estudada constituiu-se, sobretudo, por matasde galeria, cerrado alterado, áreas alagadas, áreas decultivo e edificadas, e represamentos. Em levantamentoqualitativo preliminar, foram identificadas 88 espécies deanimais e 41 de vegetais nativos significativos, porém dianteda diversidade de ambientes na área, é esperada umariqueza específica maior. O registro das espécies da faunafoi efetuado por meio de binóculos, entrevistas, rastros econtatos auditivos. O local constitui-se em importanterefúgio para a fauna regional, pois o entorno é quasetotalmente modificado por atividades agrícolas epecuárias. Em áreas próximas existem alguns fragmentosflorestais semelhantes, porém com fraca conexão. Afragmentação da cobertura vegetal provoca alteraçõesna abundância ou mesmo a eliminação de algumasespécies (Whitmore & Sayer, 1992). Esse processotem sido acelerado no interior do Estado de São Paulodevido à ocupação das áreas naturais e à substituiçãodessas por culturas, principalmente atividades agro-pecuárias. Observa-se que muitas espécies de animais,antes amplamente distribuídas no Estado, hoje têm setornado restritas às áreas naturais fragmentadas re-manescentes. Na tentativa de reduzir o isolamento dasáreas, está se realizando plantio de mudas nativas parao adensamento e aumento da variedade dos fragmentos

e para a conexão dos mesmos através de "corredores",dentro da propriedade e para as vizinhas, facilitando ofluxo biológico.

Metodologia de SolturaA característica principal do trabalho desenvolvido é

realizar a tarefa final do processo de triagem, identificação,reabilitação e liberação, onde se modelou o projeto parareabilitar e soltar aves, principalmente passeriformes, quejá passaram em locais habilitados pelos processosanteriores, ou seja, a área realizada num processo lentode readaptação e soltura controlada.

a) Características físicas: Foram construídos no local,próximo à área de preservação permanente, uma sala derecepção e medicação preventiva com 16 metros qua-drados, telas nas portas, janelas e telhado, e uma bateriade três viveiros em alvenaria e tela de seis metros qua-drados cada, totalizando 18 metros quadrados de área;as portas de acesso aos viveiros são protegidas por umacâmara de fuga toda telada. Cada viveiro dispõe de umalocal para banho, espojamento com terra e areia, local deabrigo contra chuva e um alçapão na parte frontal de ummetro quadrado para a liberação. Como os fragmentosflorestais ainda estão em recuperação e a existência deninhos naturais é pequena, colocaram-se dezenas de"caixas-ninho" para as espécies que utilizam este tipo delocal para nidificar.

b) Metodologia de recepção: As aves ao chegaremao local, através de autorização do IBAMA, jáanteriormente triadas e liberadas no que diz respeito àparte sanitária, não divididas em gaiolas dentro da sala derecepção, onde são vistoriadas, verifica-se se são anilhadasou têm alguma outra marcação para acompanhamento,anilhadas quando necessário (anilha metálica coloridaSNSA000/06), recebem um vermífugo oral preventivo ereforço alimentar, e permanecem sob observação poralguns dias. Após esses procedimentos, são transferidas

Área de recuperação e soltura de avifauna Antonio Carlos Canto Porto Neto - Sítio N. Sra Auxiliadora - Mogi-Mirim - SP

Fernando Magnani e Francisco Rogério PascoalMP Fauna - Assessoria Ambiental Ltda.

[email protected]

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para viveiros de readaptação para treino de vôo, recupe-ração das penas e fortalecimento de musculatura.

c) Metodologia de liberação: As aves são obser-vadas diariamente, começam a receber algum alimentonatural, quando possível, nos dias mais frios uma cortinaplástica é colocada para reduzir o vento e conseqüentesperdas. Quando apresentam comportamento e plu-magem adequados, são liberadas sob observaçãodurante todo o dia, espécimes que não respondemimediata e corretamente são recapturados, voltando aoponto inicial.

Monitoramento pós-solturaComo fase inicial de implantação da área de soltura,

foi realizado um levantamento faunístico qualitativo queserve como base ao trabalho de monitoramento eavistamento de espécimes liberados. Esse levantamentoinicial é revisado constantemente, mas sem periodicidadecerta. À medida que novas espécies são avistadas noscomedouros implantados no local e regularmenteabastecidos por mistura de sementes e frutas da época,com este processo é possível a observação diária daavifauna, e pode-se, com a ajuda de binóculos, reconhe-cer algumas anilhas pela cor. Levantamentos completosserão realizados anualmente, o que ainda não ocorreudevido à interrupção dos trabalhos por motivo de furtosde aves.

ResultadosEm relação ao objetivo específico de recolocar no

local espécies que haviam desaparecido por motivosdiversos, pode-se afirmar que o resultado foi positivo,inclusive com algumas espécies fechando totalmente o ciclode reprodução no local como Sicalis, Turdus, Gnori-mopsar, Passerina brisonii e Saltator similis. De início,a densidade de espécimes permanece alta, diluindo namedida dos meses pós-soltura, o que pode indicar umacolonização de áreas próximas como foi relatado eobservado diversas vezes por proprietários próximos queaderiram à prática da conservação. Foram liberados,durante o ano de 2005, 908 exemplares de aves, resul-tando na perda de 57 exemplares registrados. É importantedestacar que a maioria das mortes ocorreu já dentro dosviveiros de treino e próximo à data de liberação, onde sepode suspeitar que as aves já estavam demonstrandocomportamento territorial, em resultado de uma queda noestresse.

Como resultado negativo, ressalta-se a atração daatenção para o local de pessoas interessadas em espéciesda avifauna para captura e venda ilegal, o que pode terocasionado algumas capturas, não confirmadas, eproblemas de furto noturno de aves no local, o queocasionou a interrupção dos trabalhos por alguns meses e

uma mudança de técnica solicitada pelo proprietário dolocal. Para tentar diminuir este problema colocaram-sediversas placas nos principais acessos ao local com avisosobre a Lei Federal de Crimes contra o Meio Ambiente,instalou-se um sistema de alarme e alerta contra furtoscom sirenes, holofotes, cerca eletrificada e sensores. Enas proximidades dos viveiros foi alojado um cachorropara alarme e defesa.

ConclusãoA prática bem direcionada, auxiliada por técnicas

controladas, pode reinserir no hábitat natural espécies queforam suprimidas por força de captura ou destruição, casoeste ambiente esteja em condições favoráveis. É certoque sempre existirão perdas de exemplares e dúvidasquanto à origem de alguns espécimes, causando discussõessobre hibridação de populações de espécies com umadistribuição muito ampla, mas os textos técnicos e registroscientíficos podem diminuir esse problema e refinar omanejo. Os comedouros e cevas serviram de apoio àsaves e de ponto de observação, inclusive atraindo espéciesnaturais que passaram e ser observadas com maisfreqüência. É necessário um grande trabalho de educaçãoambiental das áreas vizinhas e um apoio mais consistentedos órgãos fiscalizadores, pois como se pode apurar, esseslocais atraem a atenção de caçadores.

Outra conclusão é a de que essas áreas devem terum bom esquema de segurança inicial, inclusive nãooptando por distanciar os viveiros da proximidade daadministração do local, pois a distância influencia de formanegativa na segurança das aves e não modifica em nadaa técnica de soltura.

Construção dos viveiros de readaptação esoltura (detalhe do alçapão superior)

Área de recuperação e soltura de avifauna Antonio Carlos Canto Porto Neto - Sítio N. Sra Auxiliadora - Mogi-Mirim - SP

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Ninho de canário-da-terra

Comedouro

Placa de aviso

Porta arrombada da sala de recepção

Sistema de alarme instalado

Área de recuperação e soltura de avifauna Antonio Carlos Canto Porto Neto - sítio N. Sra Auxiliadora - Mogi-Mirim - SP

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IntroduçãoO Estado de Mato Grosso do Sul, por ser formado

por vários biomas diferentes (Pantanal, Cerrado, Matassecas e semideciduais), possui também alta diversidadebiológica e, principalmente, alta densidade faunística. OEstado também faz fronteira com outros países e com 5estados brasileiros. Essas características tornam o MatoGrosso do Sul um estado preferencial para o tráfico, sendoinclusive rota para o tráfico internacional de animais silvestres.

O combate dessa prática ilegal é feito por ações dosórgãos governamentais, que tentam coibir os crimes contraa fauna, apreendendo animais comercializados ou criadosilegalmente. A legislação brasileira determina que essesanimais, ao serem apreendidos, sejam identificados,tratados e destinados adequadamente.

Visando atuar de forma mais efetiva para aconservação da fauna nativa em seu ambiente natural eatender à demanda de cuidados aos animais contraban-deados em Mato Grosso do Sul, o Instituto de Meio Am-biente Pantanal (Imap), vinculado à Secretaria de Estadode Meio Ambiente (Sema - MS), criou em julho de 1988o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS),inserido na Gerência de Conservação da Biodiversidade.Tem como atribuições a recepção, triagem, reabilitação edestinação de animais nativos, apreendidos durante açõesde fiscalização, atropelados ou doados pela população,bem como propor e executar ações que visem à conserva-ção da fauna nativa no seu hábitat natural, em todo o Es-tado de Mato Grosso do Sul. Desde então, já foram re-cepcionados e destinados cerca de 20 mil espécimes, comuma média de 1.100 animais anualmente (para zoológicos,criadouros, soltura na natureza). Essas atividades levamem conta fatores relacionados à sanidade animal e à dis-tribuição natural dessas espécies, buscando atentar paraas recomendações da IUCN (1987) quanto à destinaçãode animais confiscados, para que a soltura de animaisapreendidos não provoque desequilíbrios relacionados à

Elson Borges dos Santos e Vinicius Andrade LopesCRAS - Campo Grande - MS

Centro de reabilitação deanimais - CRASResultados de soltura de aves silvestresem fazendas no Mato Grosso do Sul

introdução de espécies e/ou doenças exóticas a umadeterminada região. Sendo assim, qualquer tipo detrabalho voltado para a destinação de animais apreendidossegue critérios bastante rigorosos, para que não ocorramconseqüências negativas à fauna local.

ATIVIDADES DE REABILITAÇÃO E DESTINA-ÇÃO DOS ANIMAIS

RecepçãoOs animais encaminhados ao centro geralmente são

oriundos de apreensões realizadas pela Polícia MilitarAmbiental, pelo IBAMA - MS ou doações por parti-culares. Na recepção o animal recebe um número de regis-tro e suas informações são armazenadas em um banco dedados específico. No ato da entrega do animal é preen-chido um documento denominado “Termo de Depósito eGuarda”, oficializando sua entrada no Centro. As infor-mações coletadas no ato da apreensão do animal são fun-damentais na definição do manejo e destino do mesmo,portanto, deverão ser as mais completas e reais possíveis(identificação, procedência, idade, sexo, alimentação etc.).

Quarentena e acondicionamentoA quarentena consiste no isolamento do animal para

observações mais detalhadas, visando evitar qualquercontaminação nos recintos. O período de quarentena évariado, não devendo ser inferior a 7 dias. Nesse períodoo animal é marcado, sexado e vermifugado. Em caso deanimais doentes ou acidentados, recebem todo oatendimento veterinário necessário.

Acompanhamento nutricional, sanitário e com-portamental

Após a quarentena o animal é alojado em recintosindividuais ou coletivos, de acordo com suas característicasbiológicas. Durante o período de permanência no Centro,os animais são acompanhados individualmente quanto aosaspectos sanitários, nutricionais e comportamentais. Cadaanimal é analisado de acordo com sua origem, tempo de

Centro de reabilitação de animais - CRAS Resultados de soltura de aves silvestres em fazendas no Mato Grosso do Sul

[email protected]

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cativeiro, estados de mansidão e físico, idade, sexo eoutros. Nesse período recebem uma dieta específica, deacordo com seus hábitos alimentares e exigências nutri-cionais, incluindo o fornecimento de presas vivas aoscarnívoros, o que proporciona o exercício da caça.

DestinaçãoAs destinações devem seguir princípios básicos

preestabelecidos, em consenso da equipe técnica, con-siderando-se as condições do animal em questão, eseguem recomendações e legislação do IBAMA e deórgãos internacionais de combate ao tráfico de animaissilvestres. Essas destinações podem ser classificadas como:(a) Soltura direta - devolução ao ambiente natural apóstriagem (soltura em local onde a espécie está presente);(b) Soltura monitorada - soltura após curto período decativeiro; (c) atendimento a projetos de conservação daespécie (após consulta ao comitê) e (e) encaminhamentoa instituições de pesquisa ou zoológicos. Quando um animalvier a óbito, é diagnosticada a causa da morte através denecropsia e exames complementares. A carcaça do animalé destinada para atividades de pesquisa e educação, emuniversidades e centros de pesquisa, entre outros.

Programa de educação ambiental (visitação)Tendo em vista que a origem dos animais recebidos

pelo CRAS está fortemente relacionada ao tráfico e àcriação em cativeiro de animais silvestres, considera-sefundamental uma atuação mais concreta junto à população.Neste sentido, iniciou-se, em 22 maio de 2002, inseridono Programa de Uso Público do Parque Estadual do Prosa,um subprograma de visita ao CRAS, incluída nos subpro-gramas de interpretação ambiental e educação ambiental.No CRAS, a visitação ocorre todas as terças, quintas esábados, no período matutino (das 8 ao meio-dia) e ves-pertino (das 13 às 17 horas), para grupos de até 15 pes-

soas. É cobrada uma taxa que varia de acordo com afaixa etária (inteira ou meia), mas alunos de escolas públicastêm isenção da cobrança da taxa. As visitas são moni-toradas por um guia treinado, que deve expor aos visitantesas conseqüências negativas do tráfico e da manutençãoem cativeiro de animais nativos oriundos da natureza, bemcomo o trabalho desenvolvido pelo CRAS quanto àreabilitação e destinação dos animais confiscados.

Áreas de solturas de animais na naturezaTodos os animais, antes de saírem do Centro, estarão

marcados (anilhas, tatuagem, transponders e furos nacarapaça), para que seja possível seu acompanhamentoindividual e seu monitoramento. As informações referentesaos animais utilizados para repovoamentos são extre-mamente importantes, tendo em vista os escassos dadossobre o assunto. A soltura e o monitoramento dos animaissão realizados por meio de projetos de pesquisa e com aajuda dos proprietários das fazendas onde ocorrem assolturas. Esses projetos são executados pela equipe doCRAS e pesquisadores de universidades conveniadas. Osprojetos são oportunidade de material de pesquisa paramonografias, dissertações e teses.

As solturas dos animais são realizadas em áreaspreviamente cadastradas e vistoriadas quanto à presençada espécie no local (repovoamento) e quanto à ausência depressão de caça e qualidade ambiental, entre outros fatores.O CRAS possui mais de cem áreas cadastradas em todo oestado de Mato Grosso do Sul, nas bacias dos rios Paranáe Paraguai, principalmente nesta última (Pantanal). A inclusãode uma área no cadastro do CRAS ocorre de forma espon-tânea, partindo dos donos das propriedades.

A partir de 2005, o CRAS está atuando principalmenteem propriedades que têm atividades de ecoturismo e umcompromisso com a conservação ambiental. Os pro-prietários passam a atuar como parceiros no programasde solturas dos animais reabilitados, auxiliando nomonitoramento dos animais. Em troca, os animais silvestressoltos pelo CRAS tornam-se um atrativo turístico im-portante nesses locais. Nas fazendas, são construídos(pelos proprietários) recintos de aclimatação, onde osanimais (principalmente psitacídeos e ranfastídeos)permanecem por no mínimo 2 dias, variando de acordocom a espécie e o estado de amansamento do animal.Após este período, as portas do recinto são abertas e osanimais vão, aos poucos, tomando a liberdade. Essesrecintos mostraram-se muito eficientes na soltura dosanimais, sendo considerados hoje fundamentais para otrabalho. Neles os animais podem descansar da viagematé a propriedade antes da soltura, receberem água ealimentação adequada. O tempo e o número de animaisque permanecem na propriedade foram muito ampliadoscom a utilização desses recintos.

Placa na sede do CRAS

Centro de reabilitação de animais - CRAS Resultados de soltura de aves silvestres em fazendas no Mato Grosso do Sul

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O monitoramento dos animais é realizado pelostécnicos do CRAS durante os primeiros 4 dias, no mínimoapós a soltura. Findo este período, o monitoramento érealizado através de informações (em questionáriospróprios) fornecidas pelos técnicos que trabalham naspróprias fazendas. Regularmente, são realizadas novasvisitas pelos técnicos do CRAS, para o monitoramentodos animais.

Resultados das Solturas – Estudos de CasosFazenda Pantanal Park Hotel – Corumbá, MS1. Caracterização da área: Trata-se de uma área

com caracteres típicos do Pantanal, no qual predomina avegetação de mata ciliar do Rio Paraguai, na área do hotel,e campos alagáveis no fundo da fazenda.

2. Metodologia de soltura: Foram realizadas duasviagens de solturas nesta fazenda, uma em outubro de2005 e outra em maio de 2006. As espécies soltas foramAmazona aestiva, Amazona amazonica, Ara ararauna,Ara chloropthera, Brotogeris versicolurus chiriri, Ara-tinga leucophthalmus, Nandayus nenday, Myopsitamonachus e Ramphastos toco. Os animais reabilitadospelo CRAS e aptos para soltura em vida livre forammantidos em recinto de aclimatação construído próximoao hotel em área previamente indicada por nossa equipe.Apenas os psitacídeos ficaram em recinto de aclimatação.Permaneceram fechados neste recinto por 48 horas,sendo alimentados artificialmente. Após este período asportas foram abertas.

3. Metodologia de monitoramento: As aves forammonitoradas visualmente por biólogos do CRAS, comauxílio de técnicos da fazenda, durante 5 dias após cadasoltura, incluindo tempo de aclimatação em recinto. Apóseste período, nos meses subseqüentes foram obtidasinformações dos animais através dos funcionários dapropriedade, selecionados para tal atividade e soborientação técnica do CRAS. Para isso foi utilizadoquestionário-padrão, elaborado especialmente para omonitoramento.

4. Resultados: Após o período de aclimatação, asaves foram saindo pouco a pouco do recinto, ficando emvegetação próxima. Depois de 2 dias, ainda havia animaisque não saíram do recinto. Alguns indivíduos que saíramdurante o dia retornavam no fim da tarde, fato que ocorreaté hoje. Outros, repousam em árvores no entorno dohotel e em abrigos encontrados nos prédios. Da data dasoltura até o dia de hoje, já foram encontrados animaispareados com aves selvagens no hotel. Outras, foramencontradas em fazendas vizinhas a mais de 20 qui-lômetros de distância da área de soltura. O número deóbitos registrados foi muito reduzido (cerca de 10%) atéo momento. A maior causa dos óbitos ocorreu devido acomportamento agonístico entre os animais soltos.

Fazenda Meia Lua - Miranda, MS1. Caracterização da área: Fazenda em região de

morrarias e chapadas, na borda da Serra da Bodoquenae do Pantanal. Vegetação típica de cerrado e cerradão,com matas de galeria nas várzeas.

2. Metodologia de soltura: Foram realizadas trêsviagens de soltura nesta fazenda, em janeiro, março e maiode 2006. As espécies foram Amazona aestiva, Amazonaamazonica, Ara ararauna e Ramphastos toco. O recintode aclimatação foi construído a partir da adaptação de

Recinto de aclimatação para psitacídeos.Fazenda Pantanal Park Hotel – Corumbá, MS

Araras em recinto de aclimatação. FazendaPantanal Park Hotel – Corumbá, MS

Centro de reabilitação de animais - CRAS Resultados de soltura de aves silvestres em fazendas no Mato Grosso do Sul

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um antigo galinheiro, localizado no pomar da fazenda. Aporta do recinto foi confeccionada em forma de alçapãopara facilitar a saída e garantir maior segurança aosanimais.

3. Metodologia de monitoramento: Monitoramentopelos biólogos do CRAS e funcionários da fazendadurante os 5 primeiros dias de cada viagem de soltura.Após esse período, as aves estão sendo monitoradasatravés das observações diretas dos funcionários do local.

4. Resultados: O mesmo comportamento das avesfoi notado nessa fazenda. Alguns permaneceram no recinto(mesmo aberto) por vários dias enquanto outros iamdurante o dia e voltavam para repouso ao fim da tarde.Um casal de A. ararauna está se aninhando no recinto eexpulsando outras aves que tentam se aproximar. Ostucanos soltos não permaneceram na fazenda, comexceção de um indivíduo, que agora acasala com outroanimal da fazenda. Houve uma mortandade de papagaios(dez animais) causados por ataques das araras, quandoaqueles voltavam ao recinto para repouso.

Recinto de aclimatação – Fazenda Meia Lua– Miranda, MS

Vista parcial da área de soltura. Fazenda MeiaLua – Miranda, MS

ConclusãoDe acordo com informações obtidas nos questionários,

podemos notar que os animais se tornaram um atrativomuito importante para o turismo nas duas fazendas. Osdanos causados ao patrimônio pelos animais, sãoconsiderados insignificantes ante os benefícios trazidos àspropriedades. A manutenção das aves em recinto deaclimatação para pré-soltura aumentou muito o sucessoda reintrodução no ambiente natural. Permitiu, também,que animais muito amansados pudessem retornar ànatureza, já que podiam, pouco a pouco, ir descobrindoo novo ambiente. A principal causa de morte dos animaisé sempre o comportamento agressivo entre eles. Foramrelatados poucos ataques por predadores selvagens naspropriedades.

Apesar de os animais estarem se integrando bem aoambiente natural, apresentam comportamento diverso dosanimais, que nunca tiveram contato direto com o serhumano. Os primeiros sempre apresentam certo grau dedependência ao homem, procurando alimentação, abrigoe/ou companhia nas proximidades de suas habitações. Istomostra a importância do envolvimento de todos osproprietários e funcionários dessas fazendas, utilizadascomo áreas de soltura de animais silvestres.

Centro de reabilitação de animais - CRAS Resultados de soltura de aves silvestres em fazendas no Mato Grosso do Sul

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Solturas e estudos preliminares demonitoramento da avifauna na regiãometropolitana de São Paulo e outras regiõesMaria Amélia Santos de Carvalho¹ e Sumiko Namba²Divisão Técnica de Medicina Veterinária e Manejo da Fauna SilvestreDepave - São Paulo - SP

¹ [email protected]² [email protected]

IntroduçãoA Divisão Técnica de Medicina Veterinária e Manejo

da Fauna (Depave – 3) da Secretaria Municipal do Verdee Meio Ambiente de São Paulo, tem como atribuição orecebimento de animais silvestres, tratamento clínico,reabilitação e destinação, com a finalidade de proteção,conservação e preservação da fauna.

A Divisão também realiza o levantamento da faunasilvestre presente em parques municipais de São Paulo eáreas verdes significativas através de observações, regis-tros de vocalizações e abertura de redes ornitológicas,como forma de subsidiar as recolocações e translocaçõesrealizadas e diagnosticar áreas de interesse para preser-vação localizadas no município e arredores. Fornece comisso conhecimentos que propiciam a elaboração de pro-postas conjuntas com instituições que desenvolvem pro-jetos voltados à biodiversidade do município de São Paulo.

A partir de 1998 teve início o programa de marcaçãode aves com anilhas Cemave, onde foi possível aprimoraro monitoramento das solturas realizadas por esta Divisão.Com as recuperações podemos obter dados de sobre-vivência e avaliar o índice de êxito nas recolocações dessasaves no ambiente do qual foram resgatadas.

MetodologiaA grande maioria das aves retidas provém de

apreensões da Polícia Ambiental e do IBAMA. Outras,em menor número, chegam através de munícipes.

Para cada espécime retido é atribuído um número decadastro que é registrado em seu prontuário, onde seráutilizado para sua identificação no recinto e em todos osprocedimentos de manejo.

A ave é acompanhada por uma ficha clínica e deobservação diária. Após avaliações e vermifugação, estassão encaminhadas para reabilitação e/ou destinação, ondeocorrem observações do comportamento, grau de

mansidão que é baseado nos parâmetros comportamentaisapresentados, segundo normas da Divisão, e noconhecimento do seu histórico registrado nas fichas deacompanhamento diário.

A destinação à vida livre só ocorre na ausência deproblemas físicos, comportamentais ou sanitários, apósidentificação, sexagem e marcação.

Entre outubro de 1998 e maio de 2005 foram utilizadasanilhas Cemave, e a partir desta data usam-se anilhas demetal, com os mesmos procedimentos inseridos no manualde anilhamento de Aves Silvestres, com anotações PMSPe telefone, para as aves destinadas pelo Cetas desta Divi-são. As anilhas Cemave são utilizadas no momento, duran-te o monitoramento e inventariamento com redes ornitológicas.

Aves com procedência conhecida são recolocadas nolocal ou próximo de onde foram resgatadas, com moni-toramento passivo por meio das anilhas. Outras provenientesde apreensão, capacitadas à vida livre, que não apresen-tam procedência, são soltas em áreas de ocorrência naturalda espécie, segundo as listas de inventário da fauna domunicípio (São Paulo, 2000), listas do IBAMA, levan-tamento de outras instituições e consultas bibliográficas.

A marcação das aves é realizada de preferência nomomento da soltura e no caso de grandes lotes com 24horas de antecedência, observando sempre os critériosdo Manual de Anilhamento de Aves Silvestres (Brasília,1994). Dados biométricos são recolhidos com obser-vações quanto à plumagem com desgastes ou mudas, eplacas de choco. Após todo o procedimento, as aves sãocolocadas em caixas de transporte ou gaiolas, de acordocom o tamanho da espécie e levadas à área de solturapreferencialmente no período da manhã, exceto aves dehábito conhecidamente noturno, que são soltas aoentardecer.

Para espécies ameaçadas, segue-se uma programaçãoespecial, após soltura, onde estas são monitoradas

Solturas e estudos preliminares de monitoramento da avifauna na região metropolitana de São Paulo e outras regiões

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ativamente com aberturas de redes de neblina, observa-ções e playback. A área, além de ser de ocorrência doanimal, é cadastrada junto ao IBAMA, pré-selecionada,apresentando viveiros para uma pré-adaptação e con-dições de suporte pós-soltura.

O primeiro local escolhido para tal monitoramentolocaliza-se no município de Juquitiba, SP, sob coordenadas23º 50’ S 47º 00’ W, com 64,4 hectares, sendo 80% decobertura vegetal natural constituída por Floresta Om-brófila Densa Montana. É nascente de um córrego afluentedo Rio Juquiá à jusante da Barragem e Usina Hidrelétricada Cachoeira da França. Apresenta topografia montanhosacom altitude máxima de 726 metros e mínima de 555 me-tros, com desnível de 171 metros, segundo Laudo Técni-co, de 1º/4/1981, elaborado pelo engenheiro agrônomoErwin Woerle, da Divisão Regional Agrícola de Campinas,da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati)Secretaria da Agricultura.

Foram soltos nesta área 70 exemplares de Sporophilafrontalis em julho de 1995 e 58 exemplares em fevereirode 2006, e desde então são monitorados com redes eobservações. Euphonia violacea, Sporophilacaerulescens, Saltator similis, Molothrus bonariensis,Tachyphonus coronata, Ramphastos dicolorus, Sicalisflaveola, Platycichla flavipes e Thraupis ornata tam-bém soltas, estão sendo acompanhadas.

São utilizadas para monitorar cinco redes tipo mist-net, medindo 3 metros de largura por 7 metros de com-primento, sendo duas colocadas em área aberta, duas emmata fechada, e uma próxima ao recinto de soltura comatrativo (comedouro), onde alguns exemplares permane-cem em média 10 dias antes da soltura. Os Sporophilafrontalis na sua grande maioria foram soltos de imediatosem permanecerem no recinto de pré-adaptação.

As expedições são mensais, de dois dias conse-cutivos, perfazendo um total de 12 horas de rede abertapara cada expedição.

Em paralelo ocorrem observações com anotações domorador da área e técnicos da Divisão, que retornam aolocal para novas solturas. A técnica de playback tambémé utilizada como atrativo.

Outras áreas e parques municipais, previamenteinventariados, estão sendo usados para solturas, todaselas cadastradas junto ao IBAMA, mas no momentoapenas monitoradas passivamente através das anilhascolocadas.

Resultados e DiscussãoA Divisão realiza recolocações e translocações de aves

silvestres desde 1992. A partir de 1998 passou a utilizar amarcação com o uso de anilhas Cemave. Este fato permitiuo acompanhamento de todas as recolocações etranslocações realizadas.

Entre outubro de 1998 e maio de 2005 foramanilhadas e soltas 3.854 aves. A taxa de recuperação foide 2,2%, das quais 52,4% foram rapinantes. Destas,54,5% foram Strigidae, seguido de Falconidae (27,3%)e Accipitridae (18,2%). Outros 47,6% pertencem àsordens: Passeriformes (29,3%), Anseriformes (22%),Psitassiformes (19,5%), Ciconiformes, Caprimul-giformes, Coraciformes e Piciformes, cada (4,9%), eGruiformes Columbiformes, Cuculiformes, Apodifor-mes (2,4%).

Das recuperações, 34,3% ocorreram após um ano,sendo um caso de Rupornis magnirostris encontrado trêsanos e quatro meses na mesma região onde foi recolocado,ao contrário de um exemplar de Athene cuniculariarecolocada na região norte do município de São Paulo (23º30’S 46º 23’W), e recuperada após um ano na cidadepaulista de Cubatão (23º 53’S 46º 23’W), mostrando umdeslocamento de cerca de 80 quilômetros.

Outro caso foi de uma Megascops choliba,procedente no bairro de Campo Limpo, município de SãoPaulo, com hifema no globo ocular, tratada, reabilitada esolta no bairro paulistano do Ibirapuera, para melhor moni-toramento, e recuperada após um ano e quatro meses nomesmo bairro de resgate.

Outros 65,7% foram recuperados com menos de umano, 30,4% destes após seis meses como um caso dePseudocops clamator recolocada na mesma área deprocedência (APA do Carmo) e recuperada após 265dias na cidade de Tapiraí (23º 50’S 47º 30’W) a 79quilômetros distante do local de soltura.

Alguns exemplares são recuperados com menos deseis meses, soltos novamente após um tempo e re-capturados, demonstrando uma falta de adaptação à vidalivre, mesmo sendo reabilitados com antecedência. Estesentão são destinados a criadouros registrados junto aoIBAMA ou instituições credenciadas.

Cabe ressaltar que enquanto as aves recebiam anilhasCemave, os retornos eram maiores do que com as anilhasPMSP atualmente utilizadas.

Quanto ao monitoramento ativo de aves ameaçadas,não houve até então a recuperação em rede de nenhumindivíduo de Sporophila frontalis, mas estes foramobservados com freqüência após soltura, sendo menosavistados com o passar dos meses.

Dois espécimes de Saltator similis e um deZonotrichia capensis foram recuperados em rede apósseis meses de soltura. Muitos exemplares soltos têm sidofreqüentemente avistados, demonstrando adaptação àvida livre e com formação de casais.

Os resultados desse trabalho, ainda preliminares, mostramque as recolocações e translocações realizadas com critériostécnicos são ações que não podem ser desprezadas nasatividades de proteção e preservação da fauna.

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Redes de Neblina Juquitiba, Sítio Veravinha

Referências

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Determinaa Lista das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas deExtinção, Instrução Normativa nº 3, de 27 de maio de2003. Lex: Diário Oficial da União, seção 1, págs. 88 a97, 28 de maio 2003.

BRASÍLIA (cidade). Ministério do Meio Ambientee da Amazônia Legal e Instituto Brasileiro do MeioAmbiente e aos Recursos Naturais Renováveis. Manualde Anilhamento de Aves Silvestres. Brasília: IBAMA;1994.

SÃO PAULO. Decreto nº 42.838, de 4 de fevereirode 1998. Declara as Espécies da Fauna SilvestreAmeaçadas de Extinção no Estado de São Paulo e dáprovidências correlatas. Lex: Diário Oficial do Estadode São Paulo, v. 108. nº 25, 1º/set/1998. Poder Executivo– Seção I.

SÃO PAULO. Secretaria Municipal do Verde e doMeio Ambiente. Inventário da Fauna do Município deSão Paulo: resultados preliminares. Diário Oficial doMunicípio de São Paulo, v. 45, nº 53, págs. 42 a 60, 21/mar/2000.

SICK, H. Ornitologia Brasileira. 4ª ed., Rio deJaneiro: Nova Fronteira, 1997. 912 págs.Rupornis magnirostris

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HistóricoTendo suas atividades iniciadas informalmente em

2001, com o projeto de construção de um criadouro con-servacionista, a Associação Bichos da Mata só foiconstituída oficialmente em 2005. O incremento das ati-vidades do criadouro e o início do processo de reintrodu-ção das aves em seu hábitat natural fizeram surgir anecessidade de uma instituição privada, sem fins lucrativos,situada em Itanhaém, litoral sul de São Paulo, a 100 quilô-metros da capital paulista, região rica em biodiversidade ecom grandes desafios socioambientais.

Desde o início dos trabalhos, a entidade tem focadoos seus trabalhos na reabilitação de psitacídeos e passe-riformes. Apóia também projetos ligados à educação am-biental e outras iniciativas que visam à conservação deespécies silvestres.

O presente trabalho apresenta uma breve descrição domanejo das aves ao longo do processo de reabilitação etem o seu foco nas várias espécies das ordens Psitaciforme,Passeriforme e Piciforme recepcionadas pelo criadouro.

Caracterização da área do criadouroO criadouro está localizado em um área de 10 mil

metros quadrados, dos quais ocupa aproximadamente

2.500 metros quadrados, tendo em sua concepção amanutenção de um espaço o mais natural possível,possibilitando a redução do estresse ao mínimo eaceleração, desta maneira a reabilitação. A divisão doespaço também tem sido fator importante, já que háum isolamento das alas e melhor distribuição dasespécies.

Dentro desse conceito, as instalações são basicamenteconstituídas de:

• área central de mil metros quadrados, exclusivapara psitacídeos, composta de 50 recintos, com medidaaproximada de 2 m x 3 m x 2,70 m (altura);

• área de quarentena, para recepção e permanênciadas aves, por um período mínimo de 15 dias, antes de suaintegração a um grupo específico. A área total é deaproximadamente 100 metros quadrados;

• área de recuperação de passeriformes, compostade 50 pequenos viveiros suspensos para acomodação deaves individualmente;

• área com 6 viveiros tipo “voadeira”, para treino devôo para aves de pequeno porte clinicamente liberadaspara soltura;

• área com 24 recintos de 5 m x 2 m x 3 m para casaisreprodutivos;

Resultados obtidos na reabilitação deaves no primeiro ano de trabalho daAssociação Bichos da Mata -Itanhaém - SP

(1) Estimativa para o fim do ano

Resultados obtidos na reabilitação de aves no primeiro ano de trabalho da Associação Bichos da Mata - Itanhaém - SP

Associação Bichos da Mata

Evolução do Plantel - Associação Bichos da Mata

www.bichosdamata.org.br

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• 2 recintos de aproximadamente 60 metros quadra-dos cada para treino de vôo de psitacídeos;

• Cozinha e 2 áreas de serviço separadas, uma parapasseriformes e outra para Psitaciformes;

A estrutura física do aviário é capaz de comportarum plantel de até 400 psitacídeos e 200 passeriformes,conforme pode ser observado no quadro evolutivo napágina anterior:

Manejo da aves - Processo de reabilitaçãoToda ave que ingressa no aviário é prioritariamente

destinada à re-introdução e, portanto, deve ser preparadadesde a sua chegada. Aves que não possam ser re-introduzidas são destinadas à reprodução e podem serencaminhadas a criadouros que tenham manejo voltado àreprodução. Aves que não possam se reproduzir devem,preferencialmente, ser encaminhadas a criadouros ouentidades com foco na educação ambiental.

Sendo os psitacídeos e ranfastídeos os que têm umciclo de reabilitação mais longo, resumiremos as etapasenvolvidas no processo de reabilitação desse grupo nasseguintes etapas:

Recepção e quarentena1. Verificação do estado geral da ave e realização da

coleta de material para exames. Caso necessário, a ave élevada à USP para tratamento.

2. Readequação alimentar – inserção de raçãobalanceada e outros alimentos para que possa se adaptarà alimentação do aviário.

3. Extração de algumas penas danificadas a fim depossibilitar melhoria na locomoção.

Pós-quarentena1. Transferência para recinto de 6 metros quadrados

aproximadamente ou viveiro suspenso, caso necessário.Formação de grupos de 5 a 8 aves.

2. Inserção de alimentos variados, de acordo com aoferta da época. Produtos de fácil acesso, tais comobanana, goiaba, manga e milho verde são oferecidos aolongo de todo ano todo.

3. Poleiros em número suficiente para repouso e emdistância para que o animal seja forçado a treinar vôo.

4. Ração balanceada para recomposição das penase fortalecimento da musculatura peitoral.

5. Vegetação dentro dos recintos possibilitam diversãoe fibras naturais às aves, que passam longas horasexplorando o recinto.

Seleção para soltura1. Seleção das aves de acordo com o seu estado

clínico e capacidade de voar. Transferência para viveirosmaiores. Grupos de até 14 aves. Preferência ao agrupa-mento de machos e fêmeas na mesma proporção.

2. Coleta de exames. Aves permanecerão no viveiroaté que todos os resultados sejam obtidos.

3. Exame das asas e extração de penas cortadas oudanificadas.

4. Caso haja resultado não negativo, serão tratadas eos exames, repetidos.

Pré-soltura1. Transferência para recintos de 60 metros quadra-

dos. Grupo de até 40 aves.2. Inserção de frutas inteiras e outros itens disponíveis,

tais como coquinhos e maracujá.3. Poleiros colocados no alto, distantes da tela, obri-

gando acesso por vôo.4. Área coberta somente em cima dos poleiros.

Exposição maior às condições climáticas.Disponibilização para soltura1. Contato com a área de soltura para verificação de

disponibilidade e área de ocorrência.2. Autorização do IBAMA.3. Transferência das aves.

Critérios de soltura e monitoramentoDurante as várias etapas do processo, a observação e

o monitoramento são fundamentais para se determinar ogrupo que será transferido para a área de soltura, esperando-se sempre um decréscimo no número inicialmente estimado,conforme verificado no quadro abaixo:

A cada etapa do processo existe a necessidade de umaavaliação de cada indivíduo e mesmo quando clinicamenteaptos, com plena capacidade de vôo, a ave pode não serativa o bastante para ser liberada para a vida livre. Devem,por isso, permanecer no criadouro para reavaliação.

É importante também conceituar o termo “reabili-tação”, que deve ser utilizado entendendo-se que a ave:

1. Ingere alimentos in natura e passa a preferi-los.Alimentos anteriormente fornecidos – como girassol e co-mida caseira – tornam-se indiferentes ou mesmo rejeitados.

2. Tem tolerância ao ser humano e até interage comele, mas privilegia o seu grupo e, em especial, seucompanheiro.

3. Perdeu grande parte do seu vocabulário humano esua vocalização é típica da espécie. Algumas palavras aindasão vocalizadas e aprende palavras dos recém-chegados.

4. Tem bom empenamento e prefere voar a escalar.

Resultados obtidos na reabilitação de aves no primeiro ano de trabalho da Associação Bichos da Mata - Itanhaém - SP

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5. Interage plenamente com o seu grupo e possui“companheiros” de brincadeira com os quais sempre estájunto. As brincadeiras podem ser bastante lúdicas, masnão há agressões que levem a ferimentos.

6. Tem idade superior a um ano e será inserida emgrupo de adultos, admitindo-se idade inferior caso sejareintroduzida juntamente com os pais.

7. Não tem defeito físico que a impeça de desviar-sede obstáculos.

8. Passou por avaliação veterinária e resultado dosexames confirmam aptidão clínica à reintrodução.

Adicionalmente aos requisitos acima, existe anecessidade de se avaliar a área na qual serão soltasas aves. A Associação faz avaliação das áreas de solturacadastradas no sentido de adequar o histórico do grupocom as condições oferecidas pela área de soltura ecom a disponibilidade de alimentos no local. No casoespecífico de psitacídeos, o método mais recomendadoé o de soft release, que permitirá aos indivíduos quese ambientem e completem a reabilitação. O suportealimentar é de fundamental importância para quemantenham a massa corpórea adquirida no processo epossam cobrir distâncias a cada dia maiores. A inserçãode alimentos do local e o não favorecimento do imprintingsão indispensáveis para a finalização do processo. Epor fim, pode-se dizer que há privilégio na seleção decasais formados, uma vez que há uma diminuição dedependência humana nesses casos.

Observamos, finalmente, que a metodologia acimadescrita mostrou-se de melhor eficácia, com um maioraproveitamento de aves, já que no primeiro grupo deAmazona aestiva foram testados clinicamente 43indivíduos e somente 16 puderam regressar ao seuhábitat natural.

ResultadosOs resultados (quadro à pág. 24) referem-se à dis-

ponibilização de aves para reintrodução no período demarço a agosto de 2006, correspondentes a 20% dototal de aves recebidas desde 2003, sendo este númerosuperior ao total de aves recebidas durante os anos de2003 e 2004.

Contribuíram significativamente para a obtenção desseresultado:

• Experiência da equipe de veterinários, que além dotratamento clínico firmaram parcerias estratégicas comlaboratórios de análises clínicas;

• Apoio decisivo do IBAMA, que possibilitou: a) aformação de parcerias com as diversas áreas de solturascadastradas, dentro e fora do Estado; b) agilidade naexpedição de documentação necessária à transferênciadas aves; c) monitoramento de atividades e orientaçãotécnica em relação às áreas de ocorrência e manejo;

• Apoio das várias áreas de soltura e especialmentedo Cetas/BA e CRAS/MS;

• Ambiente de controle como facilitador de um planode ação voltado à reabilitação;

Considerando-se a meta pretendida para este ano,80% do plantel existente em 2006, há ainda uma margemde 49%, que deverá ser cumprida até dezembro de 2006,ou seja, a reabilitação de mais 169 aves.

Nesse sentido, alguns desafios ainda precisam servencidos para o alcance das metas bastante agressivaspara este ano e os próximos, podendo-se listar algumasbastante relevantes:

• Automação das rotinas de controle de entrada e saídade aves e outros procedimentos administrativos, capazde auxiliar no manejo das aves;

• Estabelecimento de uma cultura de controle que sejarefletida em todas as atitudes, consciência e ações de todasas pessoas envolvidas no processo, possibilitando umaeficácia gerencial;

• Ampliação do número de parceiros nos váriosestados brasileiros e áreas de soltura no sistema softrelease, uma vez que algumas aves não foram soltas porfalta destas parcerias;

• Sistematização das atividades diárias e treinamentode pessoal capacitado;

• Melhoria das instalações – construção de biotério,ambulatório, quarentenário e reforma dos viveiros;

• Criação de uma logística de transporte de materiaise aves capaz de suportar os volumes pretendidos;

• Solução de questões jurídicas envolvendo os animaisapreendidos recebidos da Polícia Ambiental.

ConclusãoA falta de dados precisos quanto à procedência das

aves e seu histórico dificulta a análise dos comportamentosapresentados pelas aves durante o seu processo dereabilitação. No entanto, algumas conclusões podem serassumidas:

• Passeriformes têm um ciclo menor do que os dosPsitaciformes e apresentam o mesmo comportamentoquando colocados nas “voadeiras”, independentementedo tempo de permanência em cativeiro;

• Psitacídeos, por sua vez, necessitam de umprocesso de reabilitação maior. Pode-se dizer que esseciclo varia entre 3 meses e 2 anos. Nossa experiênciaprática possibilitou a reabilitação de indivíduos re-cebidos em março deste ano e indivíduos recebidos há2 anos;

• Psitacídeos apresentam reações comportamentaisdiversas e precisam ser tratados individualmente. Assim,mesmo aves que compartilhavam a mesma gaiola, quandotrazidas para o criadouro não necessariamente demandarãoo mesmo tratamento;

Resultados obtidos na reabilitação de aves no primeiro ano de trabalho da Associação Bichos da Mata - Itanhaém - SP

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RELATÓRIO DE ATIVIDADES DAS ASM - Áreas de Soltura e Monitoramento de Animais Silvestres - 2006

• As aves não apresentaram imprinting como fatorimpeditivo de reabilitação. Nota-se que em quase 90%dos casos, a perda do imprinting é acelerada pela simplesinserção das aves no plantel. O fator clínico mostrou-seum obstáculo maior, uma vez que aves que não voam ouque sofreram severos maus-tratos tiveram maior difi-culdade de adaptação à vida grupal;

• A reabilitação varia em razão das espécies e massacorpórea. Periquitos e papagaios apresentam maiorpropensão à independência e necessitam de menor tempode “treino de vôo” do que araras. Em alguns casos, mesmopermanecendo por 3 meses em recintos apropriados, 3araras de um grupo de 19 não apresentavam condiçõesfísicas à soltura;

• Ara ararauna dispende grande parte do seu tempoem cuidados com o ninho, adotando uma vida sedentáriaem relação às outras espécies. Têm dificuldade de começara voar nos recintos maiores em virtude dos hábitoscomportamentais desenvolvidos. Casais de Amazonaaestiva com reprodução anual também tendem a dedicargrande parte do tempo com os cuidados da prole e comonão necessitam buscar alimentos, tornam-se igualmentesedentários;

• Indivíduos de Amazona aestiva com alto grau deagressividade mostraram-se líderes naturais quandocolocados nos recintos de treino para soltura. Passarama vigiar e liderar o grupo, protegendo-o todas as vezesque pessoas se aproximavam dos recintos. Essa ex-periência foi comprovada nos 3 grupos transferidos paraos viveiros.

Swab cloacal em Ara ararauna

Colheita de sangue em Ara ararauna

Amazona rhodocorita no criadouro

Resultados obtidos na reabilitação de aves no primeiro ano de trabalho da Associação Bichos da Mata - Itanhaém - SP

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Coleta de Material Biológico e Interpretação deResultados

1) Pesquisa de Hemoparasitas e AvaliaçãoMorfológica em Esfregaços Sanguíneos de Passeriformes

Participantes: Vanessa Vertematti Duarte, LucianaLangrafe, Douglas Anderson de Freitas, Juliana AnayaSinhorini e Marta Brito Guimarães

Os hemoparasitas, parasitas intracelularesobrigatórios, são responsáveis por causar doenças emaves. Um dos maiores problemas no controle dessasdoenças é o seu diagnóstico pela identificação do agenteetiológico. A pesquisa de hemoparasitas em esfregaçosanguíneo é um método diagnóstico simples e rápido.Foram realizados esfregaços sanguíneos através do corteda unha (1° ou 3° dígito). A primeira amostra foi coletadadia 6/11/2005 e a última em 29/06/2006, finalizando osresultados semestrais e totalizando 85 amostras. Todasas amostras coletadas foram negativas para pesquisa dehemoparasitas, porém observaram-se alterações comopolicromasia, linfócitos reativos e presença de microfilárias.Do total de amostras, 15 apresentaram linfócitos reativos+ (uma cruz) (17,6%), e uma amostra apresentou linfó-citos reativos ++ (duas cruzes) (1%); quatro amostrasapresentaram presença de microfilarias (4,7%) e duasamostras apresentaram policromasia (2,3%). Empequenos animais, com metabolismo mais acelerado, secomparado com animais de grande porte, a meia-vidadas células sanguíneas é menor na maioria das vezes, sendocomum a presença de eritrócitos jovens, ou seja,policromáticos, na circulação de indivíduos não anêmicos.Esta maior policromasia é mais evidente em animais jovens.Os eritrócitos policromáticos são achados freqüentes emamostras de sangue periférico de aves normais. O graude policromasia é um bom indicador da resposta rege-nerativa eritrocitária no caso de animais anêmicos. Oslinfócitos reativos sugerem a presença de antígenossistêmicos e podem estar presentes em pequenaquantidade em indivíduos sadios. As microfilárias, formaslarvais de nematóides, tem sido relatadas em aves, inclusivepasseriformes de cativeiro e vida livre. Conclui-se pelosresultados obtidos que as alterações observadas emesfregaço sanguíneo, associadas com histórico e exameclínico, podem auxiliar na avaliação do estado de saúdedas aves. Dessa forma, os indivíduos estudados não apre-sentaram nenhum sinal clínico ou alteração morfológicanas células avaliadas que indicasse doença sistêmica.

2) Identificação de Mycoplasma spp em PasseriformesParticipantes: VanessaVertematti Duarte, Juliana Anaya

Sinhorini, Luciana Allegretti, Vera Cecília Annes Ferreira,Alice Akimi Ikuno, Marta Brito Guimarães

O gênero Mycoplasma, que apresenta uma grandediversidade na relação parasita-hospedeiro e em sua maioriade origem animal, é um dos menores procariontes de vidalivre, abrangendo mais de 80 espécies. Essa bactéria é umagente causador de doenças endêmicas, principalmente emcondições de superpopulação. A infecção causada porMycoplasma spp. pode ser claramente perceptível, porémna maioria das vezes, ela ocorre de forma assintomática.Quando ela ocorre em combinação com outros agentespatogênicos, os pássaros podem desenvolver enfermidadesrespiratórias crônicas, articulares ou oculares. O Myco-plasma spp tem sido relatado em aves de cativeiro e vidalivre, sendo uma doença muito comum em galinhas, e foidiagnosticada pela primeira vez em um Carpodacusmexicanus (house finch) no ano de 1994. Conjuntivitecrônica e sinusite têm sido descritas em psitacídeos, sendonecessário diagnóstico diferencial para Psitacose ouinfecções bacterianas. Foram coletadas amostras depasseriformes pertencentes ao criadouro de forma aleatória.O material foi obtido através de swab traqueal ou decavidade oral e refrigerados até serem encaminhados aolaboratório. A primeira amostra foi coletada em 3/4/2006 ea última no dia 29/6/2006 para finalizar os resultados doprimeiro semestre, totalizando 24 amostras. Dessasamostras, sete foram positivas para Mycoplasma spp,representando 29%. Entre as espécies positivas encontram-se dois Saltator similis (picharro), dois Passerinabrissonii (azulão), dois Sicalis flaveola (canário-da-terra) e um Zonotrichia capensis (tico-tico). As avesestudadas não apresentavam sinais clínicos de mico-plasmose, pois algumas infecções podem ser clinica-mente assintomáticas. Cultura e PCR são os meios dediagnóstico para Mycoplasma. A sorologia é utilizadasomente para aves industriais, não sendo aplicada atual-mente para diagnóstico em aves silvestres e ornamentais.O conhecimento da epidemiologia de doenças transmis-síveis é de fundamental importância para fins de deli-neamento de programas de saúde animal. Esse trabalhomostra através de seus resultados que a prevalência deMycoplasma spp. em pássaros silvestres oriundos detráfico é relevante e, portanto, torna-se fundamental arealização de exames específicos para diagnóstico dessaenfermidade em locais de recepção desses animais.

3) Freqüência de Infecções Parasitárias em PasseriformesParticipantes: Vanessa Vertematti Duarte, Juliana Anaya

Sinhorini, Luciana Allegretti, Marta Brito Guimarães,Roberta Mascolli, Patrícia Moura da Cunha, TiagoCardoso de Sá, Estéfani Segato Fujita

As aves silvestres, tanto em vida livre como emcativeiro, podem ser reservatórios de parasitas. De todosos parasitismos que ocorrem nesses animais, o

Resultados obtidos na reabilitação de aves no primeiro ano de trabalho da Associação Bichos da Mata - Itanhaém - SP

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gastrointestinal é considerado o mais freqüente. O estudoparasitológico em aves reveste-se de extrema importânciadevido aos hábitos característicos das espécies, que namaioria das vezes agem como disseminadoras. Foramcoletadas fezes frescas de 85 passeriformes de diferentesespécies mantidos em gaiolas individuais. As amostrasforam obtidas em pools, coletadas de folhas de papelcolocadas no chão dos viveiros, divididas de acordo comas espécies encaminhadas ao criadouro. As técnicasdiagnósticas empregadas foram o coproparasitológicodireto e o Método de Willis. A primeira amostra foicoletada no dia 6/11/2005 e a última em 16/6/2006,totalizando 85 amostras. Os resultados dos examesapresentaram 30% de positividade, onde 24 amostras(92%) foram positivas para coccidia e duas amostras (8%)positivas para cestóides. Os resultados são compatíveiscom a literatura que refere a coccidiose como uma dasprincipais infecções causadas por protozoários empasseriformes de cativeiro. Os cestóides, que são consi-derados comuns em passeriformes, foram observados emdois galos-da-campina (Paroaria dominicana). Entre asnove espécies positivas para coccidia encontram-se 11Sicalis flaveola (canário-da-terra), cinco Saltator similis(picharro), dois Paroaria dominicana (galo-da-campina), dois Gnorimopsar chopi (pássaro-preto), doisParoaria coronata (cardeal), dois Passerina briisoni(azulão), dois Sporophila frontalis (pichochó), umSaltator atricollis (bico-de-pimenta) e um Zonotrichiacapensis (tico-tico). Como pode ser observado pelosresultados obtidos, o monitoramento periódico das avesatravés de exame coproparasitólogico é fundamental paradiagnosticar o processo parasitário e realizar o controlesanitário do plantel.

4) Detecção de Paramixovírus Tipo 1 e Influenza tipo Aem Passeriformes e Psitaciformes

Participantes: André B. S. Saidenberg, Juliana AnayaSinhorini, Vanessa Vertematti Duarte, Marta BritoGuimarães, Antônio José Piantino

Dentre as doenças aviárias de importância econômicae em saúde pública destacam-se a Doença de Newcastle(paramixovírus tipo 1) e Influenza Aviária. O ProgramaNacional de Sanidade Avícola (PNSA) conseqüentementeestabelece a necessidade de vigilância epidemiológica,monitoria e notificação destas doenças tanto em avesdomésticas quanto exóticas/silvestres mantidas em cativeiro.Existem poucas pesquisas em âmbito nacional relacionandoa presença desses agentes em aves silvestres mantidas emcativeiro, sendo a verificação de possíveis portadores desuma importância, causando grande impacto tanto no as-pecto de conservação quanto na questão econômica, com orisco às exportações da avicultura comercial. Utilizaram-se

amostras de diferentes espécies de passeriformes epsitaciformes, compreendendo 58 pools de amostras fecaiscongeladas para os testes moleculares, empregando-se atécnica de RT-PCR e utilizando como controles positivos acepa vacinal LaSota (Schering-Plough®) para a pesquisade paramixovírus tipo 1, e suspensões de cultivos celularesdo vírus Influenza eqüina para a detecção do vírus daInfluenza tipo A. O produto amplificado foi em seguidasubmetido à eletroforese em gel de agarose a 1,5% e coradoem brometo de etídio, verificando-se a presença de bandascom transiluminador de luz ultravioleta. Para as amostrasfecais de psitacídeos e de passeriformes testadas não houveamplificação de material genético para o paramixovírus tipo1 e vírus Influenza tipo A. Os resultados dessa pesquisademonstram que as aves testadas não estavam eliminandoos agentes no momento da coleta, contudo, testes diagnós-ticos sorológicos poderiam demonstrar a exposição préviaaos agentes. Testes diagnósticos que identifiquem animaisportadores, quando em período de quarentena, contribuemdefinitivamente para que as aves em cativeiro possam teruma maior expectativa de vida e contribuir para programasde reprodução de espécies ameaçadas, assim como navigilância de patógenos que poderim ser disseminados poresses animais.

5) Detecção de Chlamydophila psittaci empsitaciformes

Participantes: Marta Brito Guimarães, Juliana AnayaSinhorini, Vanessa Vertematti Duarte, Luciana Allegretti,Laboratório Unigen

A Chlamydophila psittaci é um parasita bacterianointracelular obrigatório que contém DNA e RNA. O mi-croorganismo pode sobreviver por períodos longos em fezese secreções secas. A transmissão ocorre pela dispersão decorpos elementares presentes na “poeira” das penas,secreções orais, nasais e fezes. Os papagaios e as ararasparecem ser mais sensíveis do que os psitacídeos asiáticose australianos. Já em Passeriformes essa doença nãoapresenta importância significaticva. Como sinais clínicos,podemos encontrar penas arrepiadas, tremores, letargia,conjuntivite, dispnéia, coriza e sinusite. Emaciação,desidratação, fezes amarelo-esverdeadas sugerindocomprometimento hepático, ou acinzentadas com grandequantidade de líquidos também podem ocorrer. Psita-ciformes desenvolvem ocasionalmente sinais neurológicos,convulsões, tremores, opistótono e paralisia. A ave podeainda ser um portador assintomático desse agente. Aclamidiose é considerada uma doença zoonótica, podendocausar quadros respiratórios crônicos em seres humanos.Foram coletadas amostras de fezes em pool do fundodas gaiolas revestidas com papel, dos Psitacídeos docriadouro. As amostras foram enviadas para o laboratório,

Resultados obtidos na reabilitação de aves no primeiro ano de trabalho da Associação Bichos da Mata - Itanhaém - SP

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que utilizou a técnica de PCR para a detecção do agente.Foram encontradas amostras positivas em Aratinga aurea,Amazona aestiva e Amazona rhodocoryta. As avesforam mantidas no criadouro em viveiros separados dasoutras aves e tratadas com Doxiciclina nas concentraçõesde 25 mg /kg durante 45 dias. Duas semanas, no mínimo,após o término do tratamento foram coletadas novasamostras com ausência de positividade do agente. Dentreo total de animais coletados com resultados prontos até omomento, a freqüência de positividade encontrada foi de17% em Amazona rhodocorita. Nas espécies Amazonaaestiva e Aratinga aurea ainda não temos a freqüênciadeterminada, uma vez que não temos todos os resultadosprontos até o presente momento.

6) Detecção de Salmonella sp em Passeriformes ePsitaciformes

Participantes: André B. S. Saidenberg, Juliana AnayaSinhorini, Vanessa Vertematti Duarte, Marta BritoGuimarães, Antônio José Piantino

Salmonella é um gênero de bactérias, pertencentes àfamília Enterobacteriaceae, sendo conhecidas há maisde um século. As salmonelas estão amplamente difundidasna natureza, estes organismos podem infectar uma grandevariedade de hospedeiros, inclusive o homem, podendoapresentar sinais clínicos ou ser apenas reservatóriosassintomáticos. As aves são consideradas o veículo maiscomum para salmoneloses humanas. Essa enfermidade temimportância econômica mundial e pode apresentar-seclinicamente sob diferentes síndromes. O primeiro relatode salmonelose em aves foi no século passado em umsurto de enterite em pombos. A prevalência de sorotiposde salmonelas de aves muda de ano para ano, mas váriossorotipos são constantemente encontrados com altaincidência, tais como S. Heldelberg, S. Enteritidis e S.Typhimurium. Há relação entre a contaminação doambiente com salmonelas e a incidência em pássarossilvestres anteriormente demonstrada. Foram coletadasamostras em pool de fezes de viveiros de Passeriformes ePsitaciformes do criadouro. Essas amostras foramtransportadas em meio Stuart e o teste diagnóstico em-pregado foi o PCR. Todos os animais testados até o pre-sente momento tiveram resultados negativos para Sal-monella. Os resultados dessa pesquisa demonstram queas aves testadas não estavam eliminando os agentes nomomento da coleta. A realização de testes diagnósticosde rotina são importantes para a detecção de possíveispatógenos nos animais, evitando sua eliminação para oambiente, melhorando a condição de saúde desses ani-mais, uma vez que se apresentam, na maioria das vezes,sob intenso estresse, e podem ser portadores assintomá-ticos da bactéria.

Psitacídeos por espécie recebidos para reabilitação

(*) Estimativa até 31/12/2006

Resultados obtidos na reabilitação de aves no primeiro ano de trabalho da Associação Bichos da Mata - Itanhaém - SP

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Características da áreaCriado em 1975, o Condomínio Terras de São José

foi o primeiro loteamento residencial urbano fechado doBrasil, dentro da histórica cidade de Itu.

Itu - Situada a 92 quilômetros da capital paulista, possuium atraente passeio pelas lendas, sabores e história política,cultural, artística e religiosa do Brasil.

Seu marco de fundação é uma pequena capela erguidaem 1610 por Domingos Fernandes, em louvor a NossaSenhora da Candelária, padroeira de Itu.

O município mantém diversos casarões e igrejasconstruídas de forma artística, que guardam muitos anosde História. Muitos deles tombados pelo PatrimônioHistórico Nacional.

Além da beleza e riqueza histórica, a cidade ofereceenorme infra-estrutura de lazer, com diversos parques,campings, praças e inúmeros atrativos aos visitantes.

Localizado a apenas 50 minutos de São Paulo, comárea de 4.173.290 metros quadrados, possui acessos,tanto pela Rodovia Castelo Branco como pela Rodoviados Bandeirantes, é servido por privilegiada malha viáriade pista dupla, situando-se dentro do progressista triângulocomposto por Campinas, Sorocaba e Jundiaí, a regiãoque mais se desenvolve no Brasil.

Esse empreendimento caracterizou-se, então, comoum comprovado conceito de bem-viver, no melhor estilode vida. Dotado da mais completa infra-estrutura urbana,o projeto provou ser possível morar junto à natureza, comconforto e segurança.

Durante os mais de 30 anos de sua implantação, oTerras de São José tem sido o exemplo de um investimentosólido e de valor, uma das características dos empreen-dimentos da Senpar.

Hoje, mais da metade das 600 casas já construídassão utilizadas como moradia definitiva. Um abrangenteestatuto social regula com equilíbrio as relações dos con-dôminos entre si e com a administração, proporcionandouma convivência segura e feliz.

Resultados de solturas e demonitoramentos da fauna no CondomínioTerras de São José - Itu - SP

Para acrescentar o desejo de morar próximo à naturezae saber respeitá-la, o Condomínio Terras de São José,dotado de áreas verdes, abraçou a idéia de reabilitaçãoda avifauna nativa e soltura. Hoje há comedourosespalhados por muitos lotes, as crianças primam poreducação ambiental. E conseguimos reunir mais de cempessoas em cada palestra de educação ambiental, ondepodemos auxiliar os moradores em questões relevantes àsoltura de pássaros e a aquisição legal de animais comnota fiscal.

A segurança do condomínio executa rondas periódicaspós-soltura, além de que não sai uma ave pelas portariassem apresentação de documentação comprobatória. Apolícia ambiental de Sorocaba tem nos auxiliado tambémcom rondas dentro e fora do Condomínio, para que pos-samos manter uma pressão no sentido de fiscalização.

Recebemos também crianças de colégios dasproximidades para desenvolvimento de um cidadãoconsciente dos problemas gerados pelo tráfico e maus-trata, para que no futuro as nossas palestras marquemcada coração em prol da nossa tão sofrida fauna.

Crianças e a educação ambiental

Resultados de solturas e de monitoramentos da fauna no Condomínio Terras de São José - Itu - SP

Fernanda Batistella Passos Nunes

[email protected]

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Metodologia de solturaDividimos esta metodologia de soltura em quatro itens:a) Área de recebimentoPossuímos um viveiro de recebimento de gaiolas com

ganchos para pendurá-las, que se encontram na área dequarentena.

Ao recebermos as aves, primeiramente as acomo-damos da melhor forma possível, realizamos a inspeçãodas gaiolas onde os pássaros se encontram. Observaçãode fezes, urina, vivacidade da ave, alimentação fornecida,coloração das banheiras ou bebedouros e poleiros emgeral. Após anotar nas fichas das aves dados sobre essainspeção, transferimos as aves para recintos móveis epassamos a fornecer Hidrovit.

Nesse mesmo item realizamos as coletas das fezes dolote com marcação nas gaiolas numeradas, além do examelaboratorial, chamado de mix soltura, realizado pelolaboratório Unigen e coproparasitológico pelo CVDI –Sorocaba. Realizamos três coletas por lote, objetivandoa negatividade do exame.

tina diluída via oral, evitando o surgimento ou a presençade ácaros de traquéia, entre outros parasitas.

Após ambientá-los em lotes, em viveiros móveissuspensos, mantemos o complexo vitamínico e osambientamos à nova dieta, num prazo de 15 a 21 dias, elevamos as aves para o viveiro de reabilitação e soltura.

Crianças efetuam a soltura de um gavião

Mesmo que o resultado do exame coproparasitológicoseja negativo, utilizamos o tratamento com Febendazole eIvomec para evitarmos qualquer risco de um resultadofalso negativo nos exames realizados.

Após essa fase de terapias e exames, iniciamos mar-cação dos animais e transferência para recintos suspensosmóveis com área aproximada de 4 metros quadrados,possuindo o diâmetro de malha correto para cada espécie.

Nessa etapa, realizamos a inspeção e o exame físicode cada ave individualmente, puxamos as penas, que porventura se encontrarem cortadas, para diminuir o períododessas aves em cativeiro, até entrarem em muda. UtilizamosBolfo em pó para evitar qualquer ectoparasita e ivermec-

b) Viveiro de reabilitaçãoO viveiro para esta fase, contém espaço mais do que

suficiente para vôo e exercício, além de galhos de todosos tamanhos e diâmetros, vegetação arbustiva para queas aves aprendam a se camuflar e se esconderem depredadores e das temperaturas frias durante o períodonoturno.

Escondemos a alimentação de larvas de tenébreo ehá uma fonte para que as aves possam tomar seu banho ebeber água fresca.

Antes de soltarmos as aves nesse viveiro, realizamosmais uma inspeção e exame físico de cada ave, conferindoa marcação, aplicando mais uma dose de Ivomec diluídovia oral e Bolfo (antiparasitário tópico).

As aves permanecem de 15 a 20 dias nesse viveiro.Quando aptas, agendamos a soltura.

c) SolturaNa data da soltura, realizamos uma palestra de

educação ambiental, para conscientização ecológica eprevenção contra eventuais capturas e apanha de animaissilvestres que foram soltos.

Nessa data, após a palestra com apresentação deslides, entrega de material, panfletos educativos,abordamos assuntos pertinentes à legislação, aquisiçãode animais silvestres legais, tráfico, multas e processoscriminais, além de apresentarmos os índices de mortalidadee maus-tratos cometidos contra esses animais.

Filhotes de tucano em viveiro de reabilitação

Resultados de solturas e de monitoramentos da fauna no Condomínio Terras de São José - Itu - SP

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Após esse procedimento as pessoas nos acompanhampara os viveiros de soltura, permanecem atrás de umcordão de isolamento, e as crianças tem puxado uma cordaque abre o alçapão do recinto e as aves tendem a sairvoluntariamente e aos poucos.

Esse recinto permanece aberto durante 20 diasconsecutivos para ambientar as aves a se alimentaremdentro e fora do recinto.

Possuímos ninhos de diferentes formas e materiais,comedouros e até bebedouros para as aves soltas.

Também há viveiros suspensos com diâmetro de telaque permite a entrada e saída de aves sem manter nenhuma

Azulão em monitoramento pós-soltura

porta aberta, assim auxiliando a essas aves a se refugiaremdos predadores naturais.

d) Pós-soltura – monitoramentoO monitoramento é realizado através do uso de

binóculos, registro em fotos, a observação ao redor daárea de soltura, em comedouros e ninhos.

Além de entrevistas com a população local e ao redordo condomínio e registramos as entrevistas.

e) Ambulatório e sala de internaçãoPossuímos um ambulatório e sala de internação, onde

realizamos os atendimentos de aves portadoras de qualquermoléstia infecciosa ou não. E as mesmas permanecem nainternação até alta clínica.

Após esses procedimentos, as aves são enca-minhadas para o quarentenário e formação de novosgrupos.

Metodologia de monitoramento (periodicidade,técnica, materiais)

A periodicidade de monitoramento das aves que foramsoltas é semanal.

A técnica utilizada é a observação através de binóculosnos comedouros dispostos ao longo da área.

ResultadosNa tabela da página seguinte, descrevemos a origem

dos depósitos das aves na área de soltura, classificando-as pelo nome científico e vulgar, e quantidade total de-positada; quantidade de óbitos ocorridos; quantidade deaves reabilitadas e soltas e de aves que não obtiveramcondições de soltura.

ConclusãoConcluímos que o índice de óbitos ocorridos no

período de fevereiro a julho de 2006, e o de aves quenão apresentaram condições de soltura também foi baixo.Porém nesse item, enquadram-se aves que apresentama plumagem incompleta, muito jovens; domesticadas ouque não são endêmicas da localização da área de soltura.

Gaiolas e aves apreendidas em Sorocaba

Resultados de solturas e de monitoramentos da fauna no Condomínio Terras de São José - Itu - SP

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RELATÓRIO DE ATIVIDADES DAS ASM - Áreas de Soltura e Monitoramento de Animais Silvestres - 2006

Resultados de solturas e de monitoramentos da fauna no Condomínio Terras de São José - Itu - SP

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A Fazenda Acaraú, de propriedade particular, localiza-da em área de domínio de Mata Atlântica no município deBertioga, com aproximadamente 1.600 hectares, inseridaem zona de transição da restinga à floresta ombrófila densamontana, desenvolve trabalhos de levantamento de faunae flora que vêm sendo desenvolvidos no local desde 1999,em parceria com a Gaia Consultoria Ambiental.

A partir de 2005, após processo-padrão junto aoIBAMA, a Fazenda Acaraú foi reconhecida como Áreade Soltura de Animais Silvestres (Asas), contando comum Centro de Manejo com recintos para cada grupo,galpão de manejo de fauna (com almoxarifado e biotério),e núcleo de apoio com escritório, sala de veterinária,banheiros e cozinha direcionada unicamente ao preparode alimentação para os animais. Todas as estruturascontam com sistema de biodigestores e são interligadaspor trilha suspensa com trilho para carrinho de transportede materiais.

O corpo técnico é formado por 4 biólogos, 1 médicaveterinária e 14 auxiliares de campo, que desenvolvem asatividades de levantamento, identificação, manejo,monitoramento e fiscalização de área.

Resumo de atividades desenvolvidas naASM Fazenda Acaraú - Bertioga - SP

A Fazenda Acaraú recebe preferencialmente animaisnativos da região, não sendo uma área de introdução deespécimes oriundos de outros ecossistemas. Há casos,porém, onde animais que necessitam de cuidados especiaissão destinados para abrigo/tratamento/acompanhamentoe encaminhados de volta ao IBAMA para soltura em áreasapropriadas. Estes são encaminhados por instituiçõespúblicas ou sob sua anuência. São elas: IBAMA, InstitutoFlorestal do Estado de São Paulo e Polícia MilitarAmbiental do Estado de São Paulo.

Construção dos viveiros de readaptação esoltura (detalhe do alçapão superior)

Resumo de atividades desenvolvidas na ASM Fazenda Acarau - Bertioga - SP

Gaia Consultoria Ambiental

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Todos os animais recebem avaliação veterinária,biometria, identificação quanto à sua nomenclaturacientífica, marcação individual (quando inexistente deorigem) com microchips ou anilhas, e têm seus dadostranscritos em fichas específicas e lançados em Banco deDados para sistematização e especialização dos dados.Alguns espécimes de interesse recebem aparelhostransmissores de sinais USB (radiocolar, brinco ou rádiode penas).

Após o manejo, são acomodados em recintosapropriados, onde permanecem em observação e,constatadas suas boas condições biológicas e sanitárias,são soltos em pontos preestabelecidos, e passam a sermonitorados em vida livre, de três formas principais:visualização direta, acompanhamento dos animais porrecaptura e radiotelemetria.

A lista com as principais espécies de ocorrênciadurante as atividades de manejo e monitoramento de faunana Área de Soltura da Fazenda Acaraú se apresenta aseguir:

O monitoramento dos animais soltos na FazendaAcaraú demonstra a importância do manejo e dasacomodações como pontos importantes para recuperaçãoe adaptação dos exemplares. Por diversas vezes, animaisforam acomodados com más condições físicas enutricionais e, após recuperação e soltura, adaptaram-sede forma satisfatória inclusive nidificando-se e ocupandoáreas de ocupação distantes ao local de soltura.

As aves soltas da subfamília Emberezinae, pre-dominantemente granívoros, são os animais com adaptaçãomais acelerada. Com a alta concentração de gramíneasexistentes nos arredores do local de soltura, esses animaisdispersam-se rapidamente, onde constantemente sãoavistados alimentando-se nos comedouros instaladospróximos às estruturas da Fazenda Acaraú, os quaisofertam sementes que servem como suporte para osanimais soltos.

Os animais da família Phasianidae apresentaramresultados bastante animadores quanto à sua soltura.Permanecendo próximos, porém em meio à mata, essesanimais eram constantemente reconhecidos ao final datarde devido à sua vocalização. Durante o período emque permaneceram nos recintos, outros exemplares dessamesma família aproximavam-se, fato este que ocorreu comos Cracidae.

Os Psittacidae, em sua maioria, evadiram-se do localde soltura rapidamente. Casos isolados de animais comalto grau de domesticação que permaneceram nos poleirosartificiais em torno dos recintos tornando-se presas fáceispara predadores. Os Rhamphastidae, apesar de algunsexemplares estarem domesticados no momento de suachegada, adaptaram-se de forma satisfatória ao novoambiente.

A maioria dos mamíferos migrou rapidamente para ointerior da mata, porém, ocorreram casos onde os animaissoltos, provenientes de zoológicos e pertencentes a gruposcom hábitos de bando, permaneceram próximos do contatohumano, necessitando de soltura em pontos distantes, emmeio à mata, em recintos confeccionados especialmentepara tal finalidade. Contudo, animais nascidos em cativeirose soltos na Fazenda Acaraú adentraram de imediato para amata fechada e, após a soltura, seu monitoramento ocorregraças a seus vestígios, como fezes, pegadas e fotografia,além de visualização direta, quando possível.

Perfil de recintos para abrigo dos animaisencaminhados para soltura

Primata alimentando-se em árvore localimediatamente pós-soltura

Resumo de atividades desenvolvidas na ASM Fazenda Acarau - Bertioga - SP

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Ungulado com marcação paramonitoramento

Ave anilhada avistada após soltura emcoleta de material para nidificação

Ilustração de soltura de aves

Resumo de atividades desenvolvidas na ASM Fazenda Acarau - Bertioga - SP

Os répteis soltos no local dispersaram-se na matarapidamente, com um único representante sendorecapturado. O monitoramento deste grupo ocorre pormeio de busca ativa por tempo.

O grupo dos anfíbios apresenta maiores dificuldadesquanto à sua marcação, pois as metodologias dispo-níveis requerem a mutilação dos animias, prática nãoadotada no interior desta ASM. Desta forma, seu mo-nitoramento se dá pela avaliação quantitativa de seuspredadores.

Dos aproximadamente 400 animais encaminhadospelas instituições citadas, ocorreram 19 óbitos, o queimplica um índice inferior a 5% de mortalidade. Essa taxa,associada aos dados de monitoramento pelos diferentesmétodos, indica o sucesso nesta forma de manejo da faunasilvestre de ocorrência no local.

A continuidade dessas ações deverá levar a uma gamade dados que poderá fomentar estudos significativos sobrea biologia e o comportamento animal, bem como na buscade estratégias de conservação eficazes.

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Caracterização da áreaO Condomínio Guaratuba II está localizado na

Rodovia Manoel Hypólito Rêgo, Km 203, município deBertioga, Estado de São Paulo, distante da capitalaproximadamente 115 quilômetros, com altitude médiade 3 metros e temperatura em torno dos 20 graus.

O empreendimento Guaratuba II abrange uma áreade 142,88 hectares, com uma relevância importante aoaspecto ecológico, uma vez que aproximadamente 55%da área de Mata Atlântica ficará preservada, e se mantéma estabilidade deste ecossistema, com medidas compen-satórias e mitigatórias.

Nesse local destacamos a Área de Soltura eMonitoramento de Animais Silvestres, que foi implantadacom todo o conhecimento técnico e propostas de diretrizespara que a reintrodução de animais da Fauna SilvestreBrasileira, endêmica, não tivesse efeitos adversos de muitoimpacto.

Nesse sentido, técnicos com formação profissionalnas áreas de Engenharia Florestal, Veterinária e Biológicauniram os trabalhos e efetuaram, preliminarmente, umaavaliação de campo com o inventário de fauna e flora dasespécies endêmicas de ocorrência na região. Nesse inven-tário procurou-se detectar as árvores frutificantes nessabiota da Mata Atlântica, que é bastante rica de espécies.

Além do trabalho de campo, efetuou-se concomitan-temente uma conceituação ecológica junto às populaçõesda área e áreas circunvizinhas, onde se estabeleceu umaeducação ambiental, com o objetivo de se combaterprincipalmente a caça predatória pelo fato de os animaisque serão soltos serem bastante dóceis e de fácilaprisionamento. A área é serpenteada por vários córregose pequenos rios, bastante abundantes, sem o mínimo depoluição, próprios para o consumo dos animais.

Quanto ao cenário regional, de uma maneira gene-ralizada, é circundada por uma exuberante floresta tropicale apresenta ao fundo o cenário da Serra do Mar, mantendoa estabilidade ecológica. As pressões degradadoras nãosão significativas na região, com exceção de alguns lotea-

Área de soltura “Associação dos Amigosde Guaratuba” - Bertioga - SP

Área de Soltura “Associação dos Amigos de Guaratuba” - Bertioga - SP

mentos no interior da Mata Atlântica, que não chegam acomprometer de uma maneira generalizada o ecossistemada região. Verificada a estabilidade da biota, principal-mente quanto às árvores frutificantes (que apresentamgrande potencial nutricional) e endemismo das espéciesanimais, notadamente os passeriformes, optamos para acriação da Área de Soltura e Monitoramento de AnimaisSilvestres, pois acreditávamos que a mesma teria o su-cesso desejado.

Metodologia da solturaApós a caracterização da área e seu entorno, iniciamos

a metodologia para implementar a soltura dos animais daFauna Silvestre Brasileira, sem causar efeitos adversosde grande impacto no ambiente local.

Inicialmente, procurou-se um espaço adequado para aconstrução da quarentena que, após concluída, se constituiuem uma sala com prateleiras para alojar as gaiolas, janelatelada para evitar a entrada de insetos e outros animais,telhado em Brasilit revestido de manta térmica, tela de aramepara evitar entrada de predadores e um alarme na portapara combater possíveis arrombamentos.

Todo o local possui ampla aeração e recebe insolaçãodesejável, sendo a parte voltada ao sul rodeada de vege-tação. Com isso, evitam-se mudanças bruscas de tempe-ratura no interior do ambiente. Caso haja necessidade, oespaço possui aquecimento elétrico específico. Ao lado,foi construído um viveiro de aproximadamente 16 metrosquadrados totalmente arborizado, com plantas frutíferasde ocorrência no condomínio e com abertura na partesuperior para liberação gradual das aves durante o dia. Omesmo fica fechado à noite e volta a ser aberto no diaseguinte até que todas as espécies tenham sido liberadas.É bom lembrar que as aves só vão a esse viveiro quandoestiverem aptas a ser soltas, não levando consigo nenhumtipo de parasita para o meio externo.

A administração local está providenciando a segundaconstrução do viveiro ao lado, a fim de soltarmospsitacídeos e outros animais silvestres endêmicos do local.

José Luiz Galimberti V. Araújo

[email protected]

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Área de Soltura “Associação dos Amigos de Guaratuba” - Bertioga - SP

Essa base de área de soltura é o primeiro contato dosanimais com o caminho da liberdade. As espécies sãoprovenientes dos Órgãos Estaduais e Federais. Do ÓrgãoEstadual são originários de apreensões da PolíciaAmbiental e do Órgão Federal de criadouros conser-vacionistas, comerciais e também de apreensões. Osanimais provenientes para soltura são, inicialmente,acondicionados em gaiolas por grupos de espécies,impedindo-se, desta forma, possíveis agressões por meiode brigas. Depois de separadas, as aves são anilhadas deacordo com as normas do IBAMA para anilhamento deaves silvestres. Nesse procedimento são utilizados anéisna cor vermelha, com sigla GUA 2, que contêm o númeroda mesma.

Aves provenientes do Parque Ecológico do Tietê jáchegam anilhadas. Seu anel é em alumínio, na cor prateada,com a sigla PET e o número do animal.

Posteriormente, a ave é examinada e recebe os medi-camentos para sua rápida recuperação. Para facilitar omanejo utilizamos cochos automáticos para sementes ebebedouros âmbar da marca Kotori, muito utilizado emcriadouros comerciais.

As gaiolas, de arame galvanizado, possuem acimada bandeja de fundo uma grade esmaltada em resinaepóxi para facilitar a higienização e evitar a proliferaçãode doenças.

Dessa forma, conseguimos isolar e tratar convenien-temente doenças como coccidiose e colibacilose, entreoutras. Os exames são feitos em laboratórios veteriná-rios, como por exemplo o da USP.

Os indivíduos marcados recebem um número, sendocontrolados por fichas a fim de receberem um acom-panhamento técnico. Abrigamos também animais que nãosão da região, os quais são prontamente identificados.Depois de recuperados, são transferidos para criadourosou para outras Áreas de Soltura e Monitoramento, comsua devida guia, após liberação do IBAMA.

Com um monitoramento da claridade interna da sala,através do controle de fotoperiodismo, podemos aceleraro processo de muda de pena de algumas aves, principal-mente daquelas provenientes de algumas regiões doNordeste do País.

Conseguimos com menos estresse e vitaminas ade-quadas uma rápida recuperação, com um tempo muito maiscurto do que ocorreria. Com exame parasitológico nega-tivado e boas condições físicas, as aves são liberadas parao viveiro no qual permanecerão por um curto período.

Ao se estabelecer uma população viável e tendo cadaindivíduo apresentado características satisfatórias para ascondições de soltura, a porta do teto do viveiro é, então,aberta para proporcionar uma soltura natural e, assim,evitar qualquer estresse ao animal. Nesse conjunto daquarentena foram construídos comedouros para

alimentação nutricional, essenciais no início da soltura,evitando-se dessa forma a alimentação natural.

Todo o procedimento inicial da soltura é muito cuida-doso, lento e complexo e necessita de um monitoramentoseqüencial, para evitar que algum animal tenha dificuldadede adaptação.

Metodologia de monitoramentoA fauna brasileira está sendo afetada por problemas

graves, que devem ser resolvidos o mais breve possível,pois caso contrário, haverá perda de patrimônio aindadesconhecido e de valor imensurável. Assim, a rein-trodução de espécies, através das diretrizes políticas etécnicas específicas para auxiliar as áreas de soltura,somadas a um monitoramento técnico aprimorado, seráo sucesso para a sobrevivência de várias espécies.

A periodicidade do monitoramento é anual, tanto doacompanhamento do grupo técnico como dos funcioná-rios do empreendimento, específicos para o trabalho decampo, inclusive atuando na segurança, evitando possíveiscaçadores.

Todo o perímetro da área é monitorado diariamente,e qualquer antropismo será comunicado ao grupo deapoio técnico.

As planilhas de campo para os registros necessários,assim como máquina fotográfica para registro dos aspectosmais significativos, são alguns dos materiais utilizados. Éimportante ressaltar o envolvimento e a participação dacomunidade, que atua no monitoramento da área de formaostensiva, no programa da conservação dos recursos naturais.

Entre as atividades específicas do monitoramento pós-soltura, salientamos:

• Os estudos dos processos de adaptação ao longodo tempo dos indivíduos e da população, inclusive oincremento reprodutivo.

• Coleta e investigação de mortalidade.• Comportamento dos grupos, principalmente no

tocante à migração.• Intervenções alimentares com suplemento diário nos

comedouros.• Proteção da biota, incrementando quando neces-

sário.• Palestras ministradas pelos Técnicos Responsáveis

pela Área de Soltura e Monitoramento de Animais Sil-vestres, incluindo relações públicas da comunidade eeducação ambiental, principalmente voltados paraadolescentes e funcionários do condomínio.

• Avaliação do sucesso de técnicas de reintrodução.

ResultadosÉ imperativo citar que somente animais silvestres

passeriformes foram soltos, porém a Área de Soltura eMonitoramento de Animais Silvestres apresenta todas as

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Área de Soltura “Associação dos Amigos de Guaratuba” - Bertioga - SP

condições de proporcionar solturas de outras espéciesde animais da Fauna Silvestre Brasileira.

Os passeriformes soltos apresentaram uma evoluçãodemográfica além das expectativas, principalmente aespécie Sicalis flaveola, pela disponibilidade de recursosnaturais como nutrientes, abrigos, endemismo, biota, água,acompanhamento técnico com um monitoramentosistemático, apoio da comunidade local e dos órgãosmunicipais, estaduais e federais.

No caso específico, tivemos o privilégio de implantara Área de Soltura e Monitoramento de Animais Silvestresno município de Bertioga (SP), no qual contamos com oapoio da Diretoria dos Amigos de Guaratuba e da Pre-feitura de Bertioga e, principalmente, da Secretaria doMeio Ambiente, através do Secretário, Nelo José Fernan-des, que foi um grande incentivador da implantação daprimeira Área de Soltura e Monitoramento de Animais daFauna Silvestre Brasileira na Baixada Santista.

Atualmente incentivados pelo sucesso dos resultadosobtidos pela Primeira Área de Monitoramento e Solturade Animais Silvestres na Baixada Santista, foram criadasoutras áreas, proporcionando, assim, a constituição mais

importante do patrimônio faunístico para retornar ànatureza.

ConclusãoHá 18 anos, originou-se a primeira Área de Soltura de

Animais da Fauna Silvestre Brasileira, mas não obteve aevolução esperada de um dos atos mais importantes para aecologia. Entretanto, passados tantos governos, não háainda amparo legal. Tal desinteresse, talvez, se justifique emrazão da falta de retorno financeiro da atividade.

Além dessa omissão legal, faz-se necessário aler-tarmos as autoridades estaduais da inviabilidade desolturas de animais “subjudice”, o que acarreta umaespera dos animais na quarentena até a decisão final dojuiz do processo.

Diante do que foi exposto de complexidade bio-eco-lógica dos ecossistemas de Mata Atlântica, concluímosque a soltura de animais da fauna silvestre, manejada, é aúnica solução aceitável e racional para que possamosreintegrar os animais em liberdade, devidamente acompa-nhados por técnicos especializados, evitando assim a dila-pidação de um patrimônio que pertence, por lei, ao Estado.

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Área de Soltura “Associação dos Amigos de Guaratuba” - Bertioga - SP

Área de Soltura com Cocho de Alimentaçãoe Serra do Mar ao Fundo

Riacho de Água Potável dentro do Condomínio

Quarentena

Anilhamento

Animais Liberados para Viveiro de Soltura

Viveiro Destinado à Soltura de FormaGradual com Abertura na Parte Superior

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ASM Barragem Ponte Nova - Salesópolis - SP - Centro de Recuperação de Animais Silvestres do Parque Ecológico do Tietê - DAEE

Como centro de triagem de animais silvestres, o CRASrecebe na sua maioria animais oriundos do tráfico ilegalde animais silvestres em quantidades crescentes ao longodos 20 anos de funcionamento, indicando uma maior açãopor meio dos órgãos fiscalizadores, bem como um reflexodo aumento da captura dos animais no meio ambiente.Para minimizar o impacto causado pela retirada crescentedesses animais o Centro licenciou junto ao IBAMA a áreade soltura descrita a seguir.

Caracterização das áreas de soltura e monito-ramento

Área de soltura e monitoramento de animais silvestres– Barragem de Ponte Nova do departamento de águase energia elétrica (DAEE)

A Barragem de Ponte Nova localizada no municípiode Salesópolis reúne condições favoráveis para realizaçãode soltura de animais silvestres, principalmente aves, devidoà abundância de vegetação e água, por ser um local pro-tegido de captura ilegal e pela facilidade de já ser admi-nistrado pelo DAEE, que gerencia também o PET, localprovedor dos animais para soltura.

A utilização da Barragem de Ponte Nova como áreade Soltura de Animais Silvestres do CRAS-PET é de gran-de importância para a recuperação da diversidade da avifau-na local, para a recolocação dos animais apreendidos porórgãos competentes, bem como para estudo de projetosde enriquecimento faunistico e de reforço populacional.

Originalmente a caracterização desta área é florestaombrófila densa, caracterizando por formação submon-tanha. O dissecamento do relevo montanhoso e dos pla-naltos com solos medianamente profundos é ocupado poruma formação florestal que apresenta fanerófitos comaltura aproximadamente uniforme. A submata é integradapor plântulas de regeneração natural, poucos nanofa-

ASM Barragem Ponte Nova -Salesópolis - SPCentro de Recuperação de Animais Silvestresdo Parque Ecológico do Tietê - DAEE

nerófitos e caméfitos, além da presença de palmeiras depequeno porte e lianas herbáceas em maior quantidade,atualmente com formação florestal fragmentada comomostram as figuras abaixo, pela maior atividade antrópicae a alteração da paisagem ocasionada pela barragem.

Fotos da Barragem Ponte Nova - DAEE

Liliane MilaneloCRAS/PET/DAEE

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ASM Barragem Ponte Nova - Salesópolis - SP - Centro de Recuperação de Animais Silvestres do Parque Ecológico do Tietê - DAEE

Métodos

Inventário de fauna localPara o inventário de fauna foi realizada a observação

direta, utilização de play-back, gravação de canto para aavifauna e registros fotográficos com câmera digital Fuji FinePix S5100, e ainda serão utilizadas redes de neblina para arecaptura e coleta de materiais para exames, a fim de mon-tarmos protocolos e pesquisas com a fauna da região.

Seleção dos animaisDentre os diversos grupos de animais recebidos pelo

Centro foram escolhidos os passeriformes, devido àabundancia no número, à maior capacidade de adaptaçãoao ambiente em questão e à facilidade no monitoramento.

As aves encaminhadas à AMS são aquelas liberadasno protocolo clínico e biológico, ou seja, livre de enfer-midades que comprometam a sua vida ou a dos indivíduosdo ambiente e com boa capacidade de vôo, habilidade naalimentação natural e baixo grau de mansidão.

MarcaçãoTodas as aves possuem anilhas de metal com inscrição

PET seguida de números.

Protocolo sanitárioSão realizados exames de fezes, diferencial de células

do leucograma, micoplasmose, doença de New Castle,Influenza, Clamidophyla psitacci e Salmonelose, e as avesdevem ter esses diagnósticos negativos ou negativadoscom terapêutica medicamentosa.

Viveiros suspensos no local de solturaOs animais permanecem aproximadamente 10 dias

no local antes da soltura para adaptação, sendo oferecidaa alimentação habitual acrescida de vegetação local.

Após esse período a porta é aberta e as aves saemvoluntariamente, permanecendo aberta por mais umasemana até que os animais não voltem mais.

Cochos externos para a adaptação dos animais aoambiente

Nesses cochos é fornecida alimentação tanto parasuprir necessidades alimentares das aves como parafacilidade do monitoramento pós-soltura.

Acompanhamento dos animais recolocadosO acompanhamento é realizado diariamente por

funcionários da Barragem, e semanalmente pelos técnicos(biólogo e veterinários) do Cras. É preenchida uma fichade campo que categoriza o processo de adaptação e aatividade do animal solto no ambiente: Forrageando – FO;Alimentação oferecida (Comendo nos Comedouros) –

AO; Alimentação Natural – AN; Pareado com animaissem marcação – PS; Pareado com animais tambémmarcados – PM; Bando Misto – BM; Bando Único –BU; Copulando – CO; Nidificando – NI; Voando – VO;Sem Atividade – SA; Óbito – O; Animal Prostrado – AP.

Resultados

Foram encaminhadas para a Área de Soltura e Mo-nitoramento de Animais Silvestres, Barragem Ponte Nova,208 aves num período de 3 meses (quadro à pág. 38).

Conclusão

A maioria das aves soltas continua no local, nenhumaave foi encontrada morta, e houve um aumento significativode aproximação da fauna local, gerado provavelmente pelofornecimento de alimentação em cochos como pela atraçãocausada pelos indivíduos soltos no local.

O processo de nidificação iniciado agora no fim deagosto de 2006, pelos canários-da-terra anilhados, 3meses após o início das solturas demonstra o sucesso doprocesso até o momento, indicando que a soltura dos ani-mais apreendidos do tráfico pode ser um método eficientede preservação das espécies.

Saltator similis e Sicalis flaveola próximos asgaiolas de adaptação

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ASM Barragem Ponte Nova - Salesópolis - SP - Centro de Recuperação de Animais Silvestres do Parque Ecológico do Tietê - DAEE

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Local de desenvolvimento do projeto ParqueEstadual de Jacupiranga – Vale do Ribeira, São Paulo

Resumo do ProjetoO Projeto de Implantação “Plano de Manejo do

papagaio-de-peito-roxo – Amazona vinacea” foielaborado em atendimento ao edital 01/2003, do FundoNacional do Meio Ambiente (FNMA), e tem comoprincipais linhas de atuação o manejo da espécie nanatureza e o trabalho de educação ambiental, aliandoconservação e conscientização junto às comunidadesmoradoras do entorno do Parque Estadual de Jacupiranga,Vale do Ribeira (SP).

Atualmente, a população desse papagaio encontra-se bastante reduzida, principalmente devido à destruiçãodo hábitat e ao tráfico de animais silvestres para o comércioinformal. Consta como espécie vulnerável, na ListaNacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada deExtinção (MMA, 2003).

O Parque Estadual de Jacupiranga é uma das maisimportantes regiões para a conservação dessa espécie.O local está inserido no Bioma Mata Atlântica, classi-ficado como hotspot por sua rica diversidade e nível deendemismo. O alto grau de interferência humana naregião do Parque, somado à carência de informaçõesdisponíveis sobre o Amazona vinacea, indicam a neces-sidade de ações urgentes para garantir a sobrevivênciadesse papagaio.

O Projeto tem como principal objetivo a conservaçãoda espécie, com a implementação do seu Plano de Manejoproposto. É composto por programa de manejo daespécie, onde estão sendo realizados censos populacionais,definição das áreas de uso, identificação e manejo deninhos e filhotes, monitoramento por radiotelemetria eprograma de educação ambiental para os moradores evisitantes do Parque e implantação de Área de Soltura emonitoramento de Animais Silvestres.

Área de soltura e monitoramento deanimais silvestres como parte do“Plano de Manejo do Papagaio-de-peito-roxo– Amazona vinacea” - Jacupiranga - SPRicardo Wendel de MagalhãesECO – Associação para Estudos do Ambiente

Descrição da espécieO Amazona vinacea mede aproximadamente 35

centímetros, com peso médio de 370 gramas. Como namaioria das espécies de papagaio, sua coloração pre-dominante é o verde, mas tem como principal característicao peito arroxeado-vináceo. A fronte, a base do bico, a bordadas asas e as retrizes externas são vermelhas. Possui tarsocurto, com dedo externo deslocado para trás junto ao hálux(primeiro dedo). Outra característica marcante é que, emcertos momentos, arrepia uma gola de penas alongadas, decoloração predominantemente azul, formando um lequeatrás da cabeça.

Área de distribuição original e status atualVive nas matas secas interioranas, pinheirais, orla

de capões de mata entre campos; ainda relativamentecomum em Santa Catarina e Minas Gerais. Ocorre dosul da Bahia ao Rio Grande do Sul, Paraguai e norteda Argentina (Sick, Helmut, 1984).

Habita porções isoladas da Mata Atlântica, em geral,ligadas às áreas de floresta com Araucária, e sua distri-buição acompanha um gradiente altitudinal que começa apartir dos 400 metros na Região Sul e vai de 600 a 1.600metros, nas regiões Sudeste e Nordeste do Brasil.

Na região do Parque do Jacupiranga, em um cálculopor extrapolação ao número de ninhos avistados ecatalogados no período de um ano em que o projeto temmonitorado a região, estima-se que a população seja,aproximadamente, de 200 indivíduos, número semelhanteao citado por Snyder em 2000, que foi de 180 indivíduos.

Descrição do hábitatA ocorrência da espécie está restrita ao bioma Mata

Atlântica, em geral ligada às regiões de transição onde seencontra a Floresta de Araucária, ou próxima a ela. (…)em pontos isolados da serra do Mar e da Mantiqueira(acima de 1.600 metros de altitude), ainda existem

ASM de animais silvestres como parte do “Plano de Manejo do Papagaio-de-peito-roxo - Amazona vinacea” - Jacupiranga - SP

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pinheirais remanescentes de um passado maispróspero. (Rizzini e Coimbra Fº, 1988).

A Floresta Ombrófila Mista, também chamada deFloresta Subcaducifólia Tropical com Araucária, ouPinheiral, ocupa geralmente superfícies elevadas ondeaparece sob a forma de manchas. Sua ocorrência estáligada a climas amenos e solos ricos e profundos, sendo aprincipal característica física dos planaltos do Sul. Aindahoje é encontrada sob a forma de prados e bosques noParaná (arredores de Curitiba e Lages), em São Paulo eMinas Gerais (Campos do Jordão, Monte Verde, maciçoda Bocaina e Barbacena).

Estruturalmente, compõe-se de um estrato superiordominado pela Araucaria angustifolia, o pinheiro-do-paraná, sob o qual se desenvolve outro estrato arbóreocom predominância de lauráceas, mirtáceas e leguminosas,muitos arbustos, herbáceas e epífitas. Essa riqueza florísticaé representada por mais de 350 espécies já identificadas,muitas delas endêmicas (cerca de 13%) ou comocorrência preferencial neste ecossistema (mais de 45%).

É grande fornecedora de alimento para muitos animaisque em seus frutos, sementes, brotos e folhas, encontramuma considerável variedade. Durante os meses de invernoas araucárias liberam enorme quantidade de sementes, ospinhões, garantindo a sobrevivência de muitos tipos deaves e mamíferos.

Área de estudoO Parque Estadual de Jacupiranga localiza-se na

porção sul do Estado de São Paulo e compreende partedos municípios de Jacupiranga, Iporanga, Cajati, EldoradoPaulista, Barra do Turvo e Cananéia. É o segundo maiorem extensão no estado com área aproximada de 150 milhectares. Faz limite com APAs estaduais e federais, sendo:a Serra do Mar ao norte, Cananéia – Iguape – Peruíbe asudeste, ambas estaduais, e Guaraqueçaba a sul / sudoeste,federal.

A fisionomia geral é representada por pequenasplanícies, vales fluviais e um grande conjunto de serras (doGigante, do Cadeado, Guarau etc.), com muitas cavernase rios encachoeirados devido à declividades acentuadas ealtitudes acima de 1.300 metros. No Parque encontram-seum dos pontos do litoral paulista e também uma das maioresextensões de Mata Atlântica do estado. Ali estão presentesflorestas de planície litorâneas, de encosta, nebulosa ecampos de altitude, onde vivem espécies raras de animais,pouco estudadas e ameaçadas de extinção. As florestasmontanas abrigam a maior população atualmente conhecidade papagaio-de-peito-roxo. Em área do Parque,pertencente ao município de Eldorado, foi implantado oNúcleo Caverna do Diabo, com infra-estrutura turística,aberto à visitação e, em área de Barra do Turvo, foiconstruído o Núcleo Cedro, voltado à implantação do plano

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de manejo do Parque e ao desenvolvimento de projetos depesquisa e conservação ambiental.

Entre os principais problemas ambientais na área estãoa ocupação humana ilegal, o plantio, a criação de espéciesdomésticas e a retirada de animais e vegetais silvestrespara o tráfico e comercialização clandestina. O Parquetem sofrido desmatamento acentuado especialmente emsuas bordas e áreas cortadas pela Rodovia BR 116(Rodovia Régis Bittencourt), sujeita a um fluxo intenso econtínuo de veículos.

Comportamento – alimentação, reprodução,aspectos sociais

O papagaio-de-peito-roxo é extremamente ariscoquando percebe que está sendo observado. No entanto,freqüentemente se aproxima de casas e outras instalaçõesrurais, especialmente à procura de alimento.

Voa sempre aos pares que se agrupam em pequenosbandos de 4 a 12 indivíduos. Quando pousam, para sealimentar ou descansar, um deles sempre fica em pontomais alto mantendo a guarda.

As atividades de alimentação são iniciadas por voltadas 7, 8 horas da manhã; durante o período mais quentedo dia o bando se mantém em descanso, voltando a seapresentar mais ativo das 16 horas até o anoitecer, ocasiãoem que a vocalização se torna maior, especialmente quandohá ameaça de chuva próxima.

A dieta do papagaio-de-peito-roxo é constituídaprincipalmente por frutos, flores e folhas novas, destacando-se as sementes do pinheiro-do-Paraná, o pinheiro-bravo,Podocarpus sp, e frutos do cabo-de-lança, Achatocarpussp. Já foram observados indivíduos consumindo duasespécies exóticas cultivadas, o eucalipto, Eucaliptus spp.e a laranja, Citrus spp (Forshaw, 1977, Sick, 1997). NoParque Estadual de Jacupiranga observou-se que frutos deMatayba elaegnoides (Sapindaceae), Maytenus sp.(Celastraceae) e Hovenia dulcis (Rhamnaceae), tambémfazem parte da sua alimentação.

Dados da literatura indicam que a época reprodutivase estende de setembro a março, sendo, geralmente, colo-cados três ovos, mas apenas um ou, no máximo, doisfilhotes sobrevivem. A reprodução ocorre preferencial-mente em cavidades naturais do pinheiro-do-paraná, Arau-cária angustifolia, e da canela, Cedrelaodorata (Sick,1997). No entanto, com base em observações de campoe em informações obtidas de moradores locais, foi cons-tatado que na região do Parque de Jacupiranga, comumentese encontram ninhos com três filhotes prontos para voar,tendo também sido relatada a existência de quatro e atémesmo de cinco indivíduos em um mesmo ninho.

Com relação ao período de reprodução, no Parquefoi verificado que a maioria dos filhotes sai do ninho dofiml de novembro até meados de dezembro, ou seja, ainda

nos primeiros meses da estação, não tendo sido en-contrado nenhum filhote nos ninhos monitorados a partirde janeiro. Isso parece demonstrar um envelhecimentoda população, na qual somente os indivíduos maisexperientes estão se reproduzindo. Provavelmente devidoà intensa retirada de filhotes que ali ocorre, não há anecessária reposição de animais adultos jovens que, sema experiência dos mais velhos em corte, acasalamento eencontro de ninhos, poderiam estender a estação dereprodução até meados de março.

Para a postura, os casais visitam diferentes cavidades,experimentam durante vários dias, até finalmente sedecidirem por uma. Na mata, as árvores escolhidas sãoas mais altas, que permitem um raio de visão bem amplo.No Parque, as canelas são as que apresentam condiçõesmais favoráveis à construção dos ninhos. Em áreas abertasforam observados ninhos em palmeiras como o jerivá(Syagrus spp). Quando não encontram condiçõesadequadas, instalam os ninhos em bordas de fragmentosflorestais e nas proximidades de construções rurais,tornando-se mais vulneráveis às influências externas efacilitando a captura pelo homem. Durante o períodoreprodutivo os cuidados são redobrados: observamatentamente o entorno e se utilizam de estratégias paraenganar possíveis predadores; fazem barulho em árvoresum pouco distantes do local já previamente escolhido e,só então deslocam-se em vôo silencioso, que termina emum verdadeiro mergulho para o ninho.

Metodologia• Identificação de áreas de usoAté o presente, na área de estudo do Parque, foram

identificados alguns locais de alimentação utilizados porgrupos formados por 15 a 30 indivíduos. Em determinadaocasião esse número chegou a 80. Foram tambémidentificadas algumas das espécies vegetais mais con-sumidas pelo Amazona vinacea na região. Locais dedormitório ainda não foram confirmados. Nos fins de tarde,os bandos têm se deslocado em direção ao Paraná, masa equipe técnica ainda não identificou exatamente paraonde vão. É possível que se acomodem em áreas aindapertencentes a São Paulo ou mais longe, ocupando ospinheirais do Parque das Lauráceas (PR) e de outrasreservas florestais, próximas à divisa dos dois estados.

Para a área para a realização de soltura, estão sendoconsideradas duas possibilidades:

1. Núcleo Cedro – local onde estão as instalaçõesoperacionais da administração do Parque: escritório,alojamento de guardas-parque, oficinas, garagem, casade pesquisadores, Centro de Interpretação Ambiental eviveiro de mudas.

No núcleo foram instalados os viveiros pararecebimento e monitoramento de animais apreendidos e

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doados, na primeira fase do projeto. Posteriormente,foram adaptados com uma janela tipo alçapão no tetopara permitir a saída e o retorno dos animais quando osviveiros forem transportados para o interior da mata, ondese desenvolverá o procedimento de soltura. A escolhadesse local foi devida, não só ao fato de ali sempre serpossível contar com a presença de guardas-parque ecomponentes da equipe do projeto, como por fazer parteda rota diária de deslocamento dos papagaios, verificadadurante o seu período de monitoramento.

2. Serra do Aleixo – Na altura do Km 518 da RodoviaRégis Bittencourt (BR116), do lado direito da pista, nosentido São Paulo/Paraná, encontra-se a entrada para aSerra do Aleixo, localizada dentro do Parque Estadual doJacupiranga. Nela localizam-se as instalações de antenasde transmissão da Embratel em área com diversosaspectos favoráveis à implementação de uma propostade instalação de Área de Monitoramento e Soltura deAnimais Silvestres. A topografia acidentada dificulta oacesso de estranhos, que só pode ser feito por uma únicavia, o que facilita medidas de segurança. As instalações,já disponibilizadas pela Embratel, encontram-se em localonde a espécie ocorre naturalmente, com presença demuitos ninhos, sítios de alimentação e dormitórios. Oambiente é extremamente favorável, com matas em bomestado de preservação. Por se tratar de um conjunto degrandes elevações, dali se tem uma excelente visãopanorâmica, o que torna o local ideal para a instalação deuma torre para observação de bandos e de equipamentospara a adaptação de animais à vida livre. O ambiente épropício ao plantio de araucárias, importante fonte dealimento para espécie estudada.

• Realização de censo populacionalOs censos foram realizados ao amanhecer e ao

entardecer, com a contagem dos indivíduos sendo feitaquando os bandos se dirigem para as áreas de alimentaçãoe repouso. Por coincidência, como já citado, uma dasprincipais rotas de deslocamento dos papagaios passaexatamente sobre o Núcleo Cedro, onde ficam alojadosos pesquisadores. Outros locais também foram utilizadospara realização de contagens: a antiga pedreira desativadano bairro do Rio Vermelho, a estrada velha da Barra doTurvo, os bairros Conchas/Faxinal e Pneu/Bela Vista e aregião das serras do Cadeado e Aleixo. Até o presente, apopulação estimada pela equipe técnica foi de, aproxi-madamente, 200 indivíduos.

• Identificação e manejo de ninhosPara a identificação dos ninhos foi percorrida a maior

área possível dentro do Parque, a pé, a cavalo ou de carro,seguindo indicação de moradores e guardas-parque. Os

ninhos encontrados foram fichados e marcados paramonitoramento posterior, realizado durante o períodoreprodutivo, com o objetivo de verificar se estão ativos.As informações coletadas, tais como coordenadasgeográficas, DAP da árvore, altura do ninho, tamanho eposição da abertura, croquis e fotos, foram reunidas paraa formação de um banco de dados. Durante o processode identificação, monitoramento e manejo dos ninhosforam utilizados equipamentos e técnicas de ascensãovertical. Na maioria das vezes o acesso aos ninhos semostrou difícil devido às distâncias a serem percorridas,relevo acidentado, condições climáticas extremas commuito calor e vários dias seguidos de chuva no verão, oufrio intenso e garoa freqüente durante não só o inverno,como na primavera e no outono. Grande parte dos ninhosfica em árvores muito altas (25 a 30 metros), não raro emencostas íngremes, beira de charcos ou na mata fechada,o que dificulta a instalação e o uso dos equipamentos deascensão. Epífitas resistentes e espinhosas crescendo sobretroncos e galhos das árvores altas oferecem condiçõespara a vida de formigas, vespas e outros invertebrados,que também dificultam o trabalho dos técnicos.

Tipos diferentes de animais competem na utilizaçãodas cavidades onde o Amazona vinacea nidifica. Aves,pequenos mamíferos e insetos disputam os mesmosocos para a reprodução; predadores como tucanos,araçaris, gaviões e cobras procuram ovos e filhotespara a sua alimentação.

• Manejo e monitoramentoTodos os filhotes encontrados na natureza e os

recebidos pela equipe técnica tiveram seus dadosbiométricos anotados. Foram marcados com anilhas deaço, numeradas de 001 a 100, com as inscrições ECOFNMA PEJ. As medidas corpóreas foram tomadas coma utilização de paquímetro de precisão e o peso aferido

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por meio de balança Pesola com capacidade de 1 quilo eintervalo de 5 g. Tiveram sangue, fezes e ectoparasitascoletados para análise em laboratório.

• Centro de Apoio e RecepçãoNo Núcleo Cedro foi instalado um Centro de Apoio e

Recepção para triagem e alojamento de espécimes oriundosde apreensões por autoridades atuantes na região ou deentregas voluntárias efetuadas pela população local. Acolaboração dos moradores ao projeto vem sendodemonstrada, não só por meio dessas doações como pelaparticipação efetiva na indicação de locais de alimentaçãoe nidificação dos papagaios. São fatos que evidenciam suaconfiança no trabalho dos pesquisadores e podem serconsiderados como resultados positivos das ações deconscientização que vêm sendo desenvolvidas. Após umperíodo de recuperação e manutenção, quando sãosubmetidas a tratamento veterinário e alimentação compostapor frutos diversos, grãos e ração balanceada, as avesapreendidas ou doadas são encaminhadas a um criadourocredenciado pelo IBAMA para readaptação às condiçõesnaturais e formação de bandos. Retornam então ao Centrode Apoio e Recepção para soltura e monitoramento.

Os trabalhos de monitoramento estão sendo reali-zados em parceria com empresa nacional especializada,que desenvolve, com auxílio de pesquisadores da USPe verbas da Fapesp, um aprimoramento de radiote-lemetria terrestre, com a introdução de processos decodificação digital.

A introdução do envio de um código digital único paracada transmissor permite que todos os radiocolaresoperem na mesma freqüência, fazendo com que não sejamais necessária a sintonia manual para detectar se osanimais estão ou não no raio de ação do receptor. Bastaapontar a antena para uma determinada direção que oscódigos dos animais ali presentes irão aparecer no display.Permite também a utilização de receptores autônomos queregistram, permanentemente, a data e a hora em que osanimais entram em seu raio de ação e possibilitam aobtenção de dados da sua localização, 24 horas por dia,7 dias por semana, sem a necessidade da presença físicado pesquisador na área monitorada.

• Tabela de biometria de filhotes monitorados

O projeto hoje já se encontra na fase de testes decampo e tem dois objetivos: introduzir essa tecnologiadigital na rádio telemetria terrestre, ainda não existente nomundo e viabilizar a produção dos transmissores ereceptores no Brasil.

Manejo da Espécie na Natureza – ninhos visitados,papagaio avistados, apreendidos e vistos em cativeiro

Dados relativos aos trabalhos de campo:• número de ninhos marcados: durante os 11 meses

de trabalho (abril de 2005 a março de 2006) forammarcados 43 ninhos com características e históricos denidificações anteriores, muitos deles só identificados apóso final do período reprodutivo, quando foi possível contarcom informações fornecidas por mateiros acostumados acoletar filhotes. Em apenas três os filhotes foram maneja-dos. Esse pequeno número foi devido ao fato de muitosninhos marcados e monitorados terem sido saqueados porpredadores e traficantes. Em alguns casos foram encon-tradas as escadas utilizadas para a retirada de filhotes e,em outros, constatada a presença de predadores como otucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus);

• número de indivíduos: por meio de contagensrealizadas ao longo do período de trabalho de campo ede estimativas feitas em razção do número de ninhos ativosencontrados e relatados por colaboradores, chegou-seao número aproximado de 200 indivíduos na área deestudo. Nos ninhos monitorados foram encontrados seisfilhotes, três no número 11, um no 12 e dois no ninhoborracharia. Um dos filhotes do ninho 11 voou antes deser manuseado;

• número de animais recebidos: até o momento, oCentro de Apoio e Recepção recebeu seis animaisoriundos de entrega voluntária. Desses, dois já adultos,não se apresentavam em boas condições de saúde devidoà alimentação inadequada. Por outro lado, os demais, aindafilhotes, encontravam-se em boas condições, e rapida-mente se adaptaram às instalações e à alimentaçãofornecida no Centro. Para a sua reabilitação, após esseprimeiro período passado em nosso Centro, foi provi-denciada a remoção para a Associação Bichos da Mata

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que os abrigou em suas instalações, realizou exames paraavaliação das condições de saúde e forneceu alimentaçãoconstituída por frutos silvestres e demais ingredientesencontrados na natureza. Ali os animais foram submetidosa condições o mais próximo possível das que iriam pos-teriormente encontrar, ao serem devolvidos ao ambientenatural, entre as quais a falta de contato humano, anecessidade de encontrar alimento e de se adaptar a umadieta diferente da que estavam submetidos enquanto viviamem cativeiro. Colocados em recintos adequados ao for-talecimento da musculatura, tornaram-se aptos a retomaras atividades de vôo, essenciais ao retorno à vida livre.Após essa adaptação, as aves serão devolvidas ao ParqueEstadual de Jacupiranga, onde ocorrerá o procedimentode soltura definitiva.

Parcerias e patrocíniosPara o desenvolvimento das atividades relativas à

Implantação do Plano de Manejo do Amazona vinacea,a ECO – Associação para Estudos do Ambiente contoucom o aporte financeiro do Fundo Nacional do MeioAmbiente (FNMA) e contrapartida própria, no âmbito doconvênio nº 060/2004, firmado entre as duas instituições eapoio incondicional do Instituto Florestal da SecretariaEstadual de Meio Ambiente de São Paulo (IF/SMA), pormeio da diretoria do Parque Estadual de Jacupiranga.

Para a readaptação dos animais apreendidos,estabeleceu-se parceria com a Associação Bichos da Matae para o monitoramento dos animais com a Empresa Gua-puruvu, de radiotelemetria terrestre.

Equipe de Coordenação e Administração: Ricardo Wendel de Magalhães, Marcelo Camargo Nonato,Nicia Wendel de Magalhães, Daniela Rocha Nogueira e Carola Alice Reimann

Equipe de Manejo: Fernando De Gaspari, Roque De Gaspari, Talitha Pires, Leo Ramos Malagoli,Tyrone Takahasi, Samuel Betkowsky, Clayton Serrano e Rodrigo Aguiar

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Repatriação, revigoramento e monitoramento de aves silvestres em área de soltura - Tremedal - BA

Repatriação e RevigoramentoDefinição utilizada: retorno à área de ocorrência natural

da espécie.Constituiu num projeto-piloto de encaminhamento de

animais mais aptos à soltura, reabilitados em São Paulo,destinados à área de soltura na Bahia, seguido de incursãopara apoio à ambientação e monitoramento, procurandoseguir cuidados pré-soltura, com viveiros de ambientação,soft release, suplementação, marcação, monitoramento,conscientização da população etc.

Considera-se um revigoramento populacional, deacordo com a IUCN (1995):

“Soltura de indivíduos de uma espécie com a intençãode aumentar o número de indivíduos de uma populaçãoem seu hábitat e distribuição geográfica originais.” Masserá utilizado genericamente o termo “soltura”.

Objetivos• Recomposição de populações de aves sob forte

pressão de retirada• Retorno de processos ecológicos como dispersão,

polinização, controle de insetos etc.• Geração de conhecimento e experiência• Incentivo à pesquisa com fauna e flora• Estabelecimento de parcerias: (instituições públicas,

órgãos de pesquisa, empresas privadas, propriedadesparticulares etc.)

• Auxílio na conscientização da população local• Proteção de áreas

Repatriação, revigoramento emonitoramento de aves silvestres em áreade soltura - Tremedal - BA

Equipe executora:• IBAMA ([email protected]): Carlos Yamashita, Jury Patrícia M. Seino, Otacílio Batista Almeida, Vincent Kurt Lo

• ASSOCIAÇÃO BICHOS DA MATA (www.bichosdamata.org.br): Juliana Anaya Sinhorini, Luciana Alegretti, Marta Brito Guimarães,

Soraya Lysenko, Valdomyro Lysenko e Vanessa Vertematti

• Cetas - Vitória da Conquista: Rosana F. Ladeia

Área de SolturaFazenda RealezaMunicípio: Tremedal-BA, a cerca de 90 km de Vitória

da Conquista.Proprietário: Sr. Armindo Ferraz de BritoÁrea: c. 800 ha. Altitude: 680 a 690 mPontos: 15º00’44.8" S 41º29’13.8" WÁrea de soltura cadastrada junto ao IBAMA - ER.

Vitória da Conquista.Vegetação predominante: aproximadamente 75% (600

ha) de cobertura florestal de mata decidual, domínio dobioma da caatinga, com início de transição de mataestacional semidecidual (mata de cipó) nas proximidades.

Vista da Fazenda Realeza, cercada de morrosde mata de caatinga arbórea, verde pela épocade chuva

Vincent Kurt LoDivisão de Fauna – IBAMA - SP

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Os proprietários têm visão conservacionista, protegemcontra caça e captura de animais há algumas gerações.Possuem áreas de recomposição de vegetação, e menosde 25% da propriedade é utilizada para a criação extensivade gado, com vegetação arbórea nos pastos, e pequenocultivo de milho, palma, mandioca e pomar de frutas, comomanga, mamão e goiaba, além de espécies nativas, comoumbu, serigüela e baraúna.

Exemplo de caso 1 – Repatriação de 243 aves emoutubro de 2005

147 Galos-da-campina – Paroaria dominicana 02 Corrupião – Icterus icterus jamacaii 31 Periquito-da-caatinga – Aratinga cactorum 41 Brejal – Sporophila albogularis 01 Pintassilgo-baiano – Carduelis yarrellii 07 Coleirinho-baiano – Sporophila nigricollis 14 Pássaro-preto – Gnorimopsar chopi

Carduelis yarrellii foi transferido para outra área emrazão da constatação da não ocorrência da espécie nalocalidade.

MetodologiaA) Pré-soltura1) Seleção de espécies – ocorrência, condição dos

animais2) Contatos e parcerias – instituição receptora, empre-

sa transportadora, colaboradores para materiais3) Logística e materiais – equipamentos, caixas,

alimentação4) Cuidados técnico-operacionais – época do ano ade-

quada – primavera-verão – época de frutificação, tempode viagem, acondicionamento, oferta de água e alimento

5) Animais quarentenados, exames e atestado sanitário+ GTA. Após transporte, foram quarentenados mais 60dias em Vitória da Conquista

6) Escolha de propriedade adequada – ocorrênciadas espécies, proteção, envolvimento do proprietário

7) Envolvimento da comunidade – palestra, visita àsfazendas

8) Marcação com anilha de alumínio e, nos passeri-formes, anilha colorida importada L&M à prova de UV,e nas A. cactorum, pintura de faixa vermelha na regiãopeitoral

9) Todos os animais foram pesados com pesola suíça,escala de 2 g. Realizou-se a coleta de sangue para avaliaçãode hemoparasitas (esfregaço sanguíneo) de uma amostra-gem de 10%

10) Ambientação de 7 dias em viveiros suspensos naárea de soltura e recintação com galhos e folhas

11) Observação dos animais nos viveiros

Marcação de S. albogularis com anilha colorida

12) Inserção de itens alimentares da localidade,espiguilhas de gramíneas, frutas inteiras com casca,troncos, insetos, minhocas

13) Troca diária de água, alimentação e limpeza dosrecintos/comedouros

14) Suplementação - instalação de comedouros ecaixas-ninho nos arredores

Marcação externa (pintura) em Aratinga cactorum

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15) Avaliação da população local: espécies presentes,interação, ninhos

16) Captura de indivíduos da população local –avaliação biométrica e sanitária

17) Palestra na Associação de Produtores Rurais daregião

B) Soltura1) Soltura branda soft release na manhã do dia

12/12/20052) Abertura das portas e manutenção da oferta de

alimento e água

C) Pós-soltura1) Manutenção da alimentação e água nos viveiros e

comedouros externos2) Monitoramento ativo ao longo de no mínimo 1 ano,

intensivo de 6 dias seguidos à soltura, e 30, 90, 180, 270e 360 dias após, e monitoramento passivo constante peloretorno das informações pelo proprietário e pela comu-nidade local

3) Divisão das equipes para mapeamento estratégico4) Contagem nos viveiros e comedouros e em círculos

de raios de distância dos mesmos5) Visitas a fazendas vizinhas6) Utilização de registro visual por binóculos,

fotográfico, redes e fichas de monitoramento7) Recaptura – pesagem e avaliaçãoHorários de monitoramento intensivoManhã = 6 às 10hTarde = 14 às 18hLocais1) Proximidades (viveiros, comedouros e ninhos).

Raio de 100 metros2) Arredores. Raio de 100 a 500 metros dos viveiros3) Vizinhança. Raio de 300 a 1000 metros dos viveiros

V = ViveirosN = Ninhos (4)

C = Comedouros (8)P = Proximidades (0-100 m dos viveiros) + C = Comedouros (2)A = Arredores (100-500 m dos viveiros)

Z = Vizinhança (500 a 1.000 m dos viveiros)

Viveiros suspensos de ambientação

Soft release com saída gradativa (acima) e A.cactorum visitando comedouros

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FICHA DE MONITORAMENTO

Data:___/___/___ Horário: _____:_____ Município: _____________________

Local:________________________________ (Nome da Fazenda, do Sítio, km da rodovia etc.)

Detalhamento da localidade: Pontos de referência. Ex. próx. Sede da fazenda, curral, lago etc. Pontuarno mapa: ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Pontos do GPS: -________ ________ _______

Condições climáticas: aberto semi-aberto encoberto chuva

Observador(es): ___________________________________________________________________

Espécie:

Nome popular: _____________________________________________________________________

Nome científico: ____________________________________________________________________

Detecção: Observação ou Captura

Atividade: alimentação vôo exploração descanso indefinida ______________

Número de animais: Solitário Pareado Grupo de: _____________________________

Marcação:Anilha: Cor: ____________ Pata: direita ou esquerda Numeração: _______________

Outra: Pintura Picote nas penas Tatuagem qual?: ____________________________

Medidas biométricas:Comprimento total: ______ mm Peso: _____ g

Score peitoral (massa peitoral): boa regular ruim caquético (peito seco)

Coleta de sangue: jugular asa unha etiqueta número: __________

Observações: ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Redes1) Foram abertas novamente duas redes de neblina

no dia 17/12 (sexto dia após a abertura dos viveiros),próximas aos viveiros e comedouros.

2) A checagem das redes foi a cada 5 minutos3) Realizou-se a pesagem de todos os indivíduos4) No caso de indivíduos da população local, foi

realizada a coleta de sangue.

Resultados

Horas de monitoramento a campo12/12 - 6 horas13/12 – Manhã = 4+4+4 Tarde = 4+4+414/12 - Manhã = 2+3+2 Tarde = 4+3+315/12 – Manhã = 4+5+5 Tarde = 4+416/12 – Manhã = 5+4 Tarde = 3+417/12 – Manhã = 3+4 Tarde = 2+3Total = 97 horas

Captura nas redes• vida livre (população local): 17 animaisAnimais pesados, avaliados quanto ao score muscular

peitoral, coletado sangue e anilhados.2 - Paroaria dominicana2 - Scardafella squammata7 - Molothrus badius2 - Thraupis sayaca2 - Sporophila nigricollis2 - Columbina picui• recaptura (dos animais soltos): 23 animaisOs animais foram pesados e avaliados quanto ao score

muscular peitoral22 P. dominicana1 S. albogularis

PesagemParoaria dominicana:137 animais pesados. Média = 35,06 g

Recaptura:

2 Paroaria dominicana de vida livre da populaçãolocal: 31 g e 31 g

PET 3665 – 33 g (5/12/05) 36 g (12/1/06)

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Sporophila nigricollis:4 animais pesados: Média = 12 g

Sporophila albogularis:40 animais pesados. Média = 11,50 g + ou – desvio-

padrão (calcular)Recaptura:

2 indivíduos de S. nigricollis de vida livre da populaçãolocal: 10 g e 10 g

Outras espécies de vida livre:1Columbina picui – 40 g2 Thraupis sayaca – 31 g e 37 g

Óbitos ou fugas (desde repatriação):Período de repatriação e quarentena no Cetas: 13

(5,35%)Período de ambientação e soltura: 5 (2,05%)

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14/12 – Paroaria dominicana e Sporophila albogularis capturando insetos em vôo no fim da tarde

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Detecção de espécimes de solturas anteriores:• um Paroaria dominicana com anilha prateada na

pata esquerda pareado com um sem anilha, em atividadereprodutiva, na própria Fazenda Realeza. Data da soltura:22 de agosto de 2004.

De acordo com o proprietário, é o segundo evento re-produtivo do casal. No ano anterior geraram dois filhotes.

• um Paroaria dominicana com anilha lilás na patadireita, alimentando-se em uma fazenda vizinha (sr. Júlio),a cerca de 1.200 metros do local da soltura, observadoem 14/12/05 (soltura: 6 de dezembro de 2004)

• 12/01/06 - casal de P. dominicana ambos comanilha prateada (soltura de 22/8/04), com ninho e doisfilhotes

Levantamento de aves: total = 125 espéciesDurante o período, pelo menos 125 espécies de

aves silvestres de vida livre foram identificadas naFazenda Realeza, sendo uma listagem acumulativa,demonstrando uma importante riqueza faunística dapropriedade e arredores, com várias outras espéciesendêmicas da Região Nordeste (ex. Picumnus pygmaeus,Sericossypha loricata, Nothura boraquira, Furnariusfigulus, Penelope jacucaca), e algumas na lista nacionalde espécies ameaçadas (Crypturellus noctivagus ePenelope jacucaca).

Observação durante monitoramento de varredura

Ninho de P. dominicana de casal da soltura,com filhotão, em umbuzeiro

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DiscussãoExamesComo aprimoramento da avaliação sanitária dos

animais destinados à soltura ou repatriação, atualmenteos exames estão sendo feitos pela Associação Bichos daMata, sendo: diagnóstico por PCR (polimerase chainreaction) para: Chlamydophila (pool), Mycoplasma(indivíduo), Influenza (pool), Paramixovírus Tipo 1 -Newcastle (pool). Cultura de Salmonella de fezes (pool),esfregaço sanguíneo (indivíduo), Coproparasitológico(métodos direto, flutuação e sedimentação) e pesquisa deGiardia e Cryptosporidium (pool).

PesagensApesar de ser uma amostragem baixa, os animais de

vida livre da população local capturados indicam queaparentemente os animais de cativeiro apresentavam pesocerca de 12% a 13% maior que os da natureza, podendo-se dever à facilidade de alimento, índice de gorduras dassementes oleaginosas e menor atividade de exercícios nocativeiro.

Dos 22 P. dominicana pesados após 12 dias daprimeira pesagem (6º dia da soltura), 8 não apresentaramvariação de peso, 5 apresentavam peso inferior e 9 pesosuperior, não havendo portanto tendência de ganho ouperda, tanto que o cômputo final foi de apenas 2 g a mais.Entendemos que mesmo naqueles em que houve perdade peso (ex. S. albogularis), há ainda, em geral, a reservade 12% a 13% de massa excedente em relação aos devida livre, conforme citado acima, garantindo portanto umamargem de segurança para os animais.

Ressalta-se que dos animais de vida livre, os doisSporophila nigricollis tiveram mesmo peso (10 g), mas

os dois Thraupis sayaca pesaram 31g e 37g,correspondendo a uma diferença de quase 20%. Percebe-se a necessidade de uma amostragem alta paraestabelecimento de padrões, além de se considerar fatorescomo idade, sexo, época do ano etc.

A utilização de balanças eletrônicas de precisão, oupesolas com escala de 0,1 g, traria precisão ainda maiorpara os dados.

Caixas-ninhoAs A. cactorum não ocuparam nem quando estiveram

no período de ambientação em cativeiro. Nãoreconheceram as caixas como abrigos. Além daquantidade de animais, ainda devem ser imaturossexualmente (c. 3 anos de idade) e desacostumados àscaixas nos Cetas.

MonitoramentoDetecção nas proximidades: pelos dados das contagens

percebe-se que inicialmente, nos primeiros dias, cerca de30% dos animais soltos permaneceram nas proximidadesdos viveiros e comedouros. Ao longo dos dias, essa taxafoi diminuindo para 20% a 30%, e no 5º a 6º dia após asoltura, essa porcentagem caiu para 15% a 20%.

Logo no primeiro dia foram registrados animais emfazendas vizinhas, a mais de mil metros de distância dosviveiros. A dispersão imediata pode ser menor se o tempode ambientação for maior.

A utilização de comedouros nas proximidades dosviveiros mostra-se importante no processo de adaptaçãodos animais soltos ao local para essa porcentagem de 20%a 30% que se mantiveram nas proximidades.

Vários animais voltavam durante o dia para os viveiros,descansando e alimentando-se nos comedouros. Percebe-se que no processo de ambientação, os viveiros serviramcomo referência de abrigo e alimentação para o 1/3 a 1/5que ficou nas proximidades, até a exploração e maiordispersão. Uma pequena porcentagem voltava para dormirnos viveiros ou sobre estes.

A instalação dos viveiros próximo a casas, com curralde gado, chiqueiro de porcos, pomar de frutas, mostra-setambém facilitador no processo de alimentação dos animaisantes da dispersão, bem como para o monitoramento.

Alguns animais foram observados, se não integrados,pelo menos convivendo junto a grupos da população local,a exemplo de um S. albogularis anilhado observado noquarto dia após a soltura junto com outro macho e maisduas fêmeas em uma fazenda vizinha a cerca de 1.200metros do local da soltura. Outro exemplo é um P. domi-nicana anilhado observado no sexto dia após a solturajunto a um grupo de cerca de quarenta indivíduos não-anilhados (população local) a três fazendas depois daquelaonde foram soltos (mais de 2 mil metros de distância).

Palestra sobre tráfico e o trabalho derepatriação, soltura e monitoramento nareunião de associação de produtores rurais

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Tais observações indicam que alguns indivíduos já estavampossivelmente se integrando a grupos locais.

Alguns indivíduos de espécies nativas foramconstatados nas proximidades dos viveiros (ex: P.dominicana, G. chopi e I. Icterus). Houve alguns casosde disputas com os animais soltos e alguns casos deintegração e pareamento.

As Aratinga cactorum levaram mais tempo paraadaptação à alimentação da localidade (umbu, feijão-andu,ou mesmo frutas). A estratégia de oferecer primeiro frutosda região, e só depois ração e por fim sementes de girassolcontribuiu para a adaptação. O processo pode ser facilitadose houver um trabalho intensivo antes da repatriação.

Pela tabela de contagens, nota-se que a partir dosegundo dia da soltura, apenas 20% a 25% das A. cactorumpermaneceram nas proximidades dos viveiros ecomedouros. Alguns indivíduos foram localizadospróximos à casa do proprietário, do outro lado de ummorro, a mais de 500 metros dos viveiros. Vierampróximos da residência, e se alimentaram em umcomedouro instalado ali. Nesse período, pelo menos paraessa minoria, a suplementação contribui significativamente.

Cremos que se os 75% a 80% das A. cactorum nãoavistadas nas proximidades tivessem maiores dificuldadesde alimentação ou adaptação, teriam voltado à área dosviveiros e comedouros, como aconteceu com algunsindivíduos do grupo de 5 a 8 que permaneceram nasproximidades nos primeiros meses ou, após alguns diasou após uma forte chuva, voltaram aos viveiros. Por-tanto, parece que vários indivíduos apresentaram umarápida dispersão.

Algumas semanas após a soltura, os proprietáriospresenciaram um gavião, pela descrição talvez um Rupornismagnirostris, que voou em bote e capturou um indivíduo

de A. cactorum que estava com outros dois, todos sealimentando em uma mangueira. Mostra-se necessário umtreinamento prévio de identificação de predadores.

Em 12/1/06 3 P. dominicana e 2 A. cactorummarcados vindo aos comedouros. Uma A. cactorumdormindo dentro do viveiro. Cinco A. cactorum visitandoo comedouro mais afastado, a 500 metros dos viveiros.

As repercussões são que a caça e captura de animaisna região praticamente acabou. As pessoas estão avisandosobre animais anilhados observados, e estão proibindocaçadores nas suas propriedades. Fomos informados quehá relatos de observação de animais anilhados um mêsapós a soltura em fazendas vizinhas e outros vilarejos,tendo-se como exemplo o povoado de Alegria, depoisdo povoado São João, onde se observou 1 P. domi-nicana e 2 S. albogularis anilhados, a quase 10quilômetros do local de soltura.

20 a 22/3/06 – 1 P. dominicana a mil metros. Poucosnos comedouros e viveiros – época de chuva e de grandefrutificação de gramíneas. Alguns P. dominicana registradospróximos a Maetinga, a cerca de 40 quilômetros do localda soltura.

29 e 30/6/06 – Quatro G. chopi anilhados visitandocomedouros. Treze A. cactorum vindo aos comedouroscom certa freqüência. Um grupo de seis indivíduos. Umcasal de Paroaria dominicana anilhado, com dois filhotes(cabeça parda que acompanhavam e eram alimentados)em segunda atividade reprodutiva registrada, a cerca de300 metros dos viveiros, com outros bandos de P.dominicana. Sporophila e Sicalis. 2 P. dominicana e 2A. cactorum anilhados a 1.200 metros (fazenda vizinha)e 2 A. cactorum a cerca de 2.500 metros (duas fazendasapós). Época de seca, comedouros se tornam maisatrativos.

A. cactorum anilhada (círculo), arisca,flagrada em uma de suas aproximações aosviveiros

G. chopi anilhado (dir.), agrupado com outrosindivíduos da população local, em 30/8/06

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Em 31/8/06 foram observados visitando os comedou-ros: um G. chopi anilhado, junto com outros sem anilha, umcasal de P. dominicana anilhado com dois jovens (cabeçaparda) acompanhando, mais três P. dominicana anilhadose cinco indivíduos de Aratinga cactorum, sendo três destesanilhados. As A. cactorum estavam divididos em doisgrupos, sendo um grupo de dois (um anilhado) e outro detrês indivíduos (dois anilhados). Além da reprodução de P.dominicana, houve, portanto, o pareamento de pelo menosdois casais de A. cactorum soltos com animais da natureza.Coimbra-Filho (1998) relata a importância da existênciade outros grupos no local da soltura de pequenos psita-cídeos, servindo como guia, e que a inserção de indivíduosauxilia na quebra da consaguinidade de uma população,ampliando sua variabilidade genética.

Divulgação na comunidadeHouve o envolvimento de voluntários da localidade,

com treinamento e trabalhos de campo conjunto, bemcomo do proprietário da fazenda e de seus filhos. O tra-balho teve repercussão muito positiva na comunidade local.A palestra na associação foi muito bem recebida, commuita participação, e várias pessoas se demonstraramenvolvidas na conservação e no combate à apanha dafauna silvestre, e afirmaram que caso avistem animaisanilhados, irão informar o sr. Ivar (Fazenda Realeza).Alguns proprietários solicitaram informações de comopoderiam também cadastrar suas propriedades como áreasde soltura.

O noticiário na TV teve boa repercussão na cidade,que se sentiu muito valorizada. O comentário era de queem Tremedal não se falava de outra coisa! Certamente houveuma grande inibição das atividades de caça e apanha naregião, e envolvimento de novos proprietários na proteção.

ConclusãoAlgumas ferramentas se mostraram importantes: 1)

instalação de viveiros de ambientação; 2) suplementaçãoalimentar por comedouros; 3) marcação externa visível adistância, e 4) monitoramento intensivo pós-soltura.

Os resultados, apesar de preliminares, indicam a fixaçãode alguns indivíduos, e uma dispersão gradativa, mas efetiva,e o estabelecimento de grupos, pelas reproduções e pelospareamentos com animais da população local.

Estamos em busca de parcerias para, se possível, aavaliação genética dos animais destinados à soltura e aquelesda área escolhida, e também exames sanitários prévios napopulação local, como citado por Godoy (2006).

Concluímos que a repatriação, a soltura e o monitora-mento, apesar de requererem diversos cuidados, sãoinstrumentos possíveis, visando não só à recolocação defauna apreendida, como também uma conservação maisglobal, que envolve proteção de áreas, envolvimento da

comunidade e gerando conhecimento metodológico paraposteriores solturas, além da articulação participativa entreórgãos governamentais, não-governamentais e proprie-tários particulares.

EXEMPLO DE CASO – Repatriação de 33 papa-gaios-verdadeiros Amazona aestiva:

Recentemente, realizou-se um piloto de repatriação erevigoramento de 33 papagaios-verdadeiros Amazonaaestiva para a Fazenda Realeza, utilizando-se basicamentea mesma metodologia pré-soltura apresentada no trabalhoanterior. Além do aprimoramento nos exames sanitários,realizando-se aqueles acima mencionados no itemDiscussão, a Associação Bichos da Mata também sexouos animais e utilizou grandes viveiros de agrupamento evôo, nos quais os animais ficaram alguns meses emtrabalhos de desenvolvimento físico, afastamento depessoas e adaptação de alimentação.

O transporte dos animais foi realizado em 15/8/06.Os animais foram ambientados durante duas semanas na

Os especialistas Luís Fábio Silveira (acima)e Carlos Yamashita (abaixo) manejandoanimais e avaliando fenótipos

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área de soltura. A soltura foi em 30/8/06. Nova palestrafoi ministrada em 1º/9/06, desta vez reunindo outrasassociações. O monitoramento está sendo realizadoatravés de um intensivo de oito dias subseqüentes à soltura,e posteriores 30, 60, 90, 120, 180, 270 e 360 dias. Osresultados do monitoramento intensivo indicam que, pelomenos nas primeiras semanas, a maioria dos animais (20a 25) está se mantendo nas proximidades dos viveiros, ealguns visitam os comedouros, mas mantêm-se em copasaltas, e sua área de uso vem se ampliando gradativamente,realizando grandes vôos, e com exploração e uso de ali-mento do ambiente.

Parcerias, apoio e agradecimentos

• TAM companhia aérea - transporte dos animais.• IBAMA - BA, Gerex Eunápolis e E.R. Vitória da

Conquista.• Bióloga Giselle Goes Filadelfo pelo apoio voluntário

nos trabalhos.• Airton Grande pelo apoio na filmagem a campo.• Dr. Luís Fábio Silveira – Depto. de Zoologia/USP -

Auxílio técnico e avaliação de fenótipos de A. aestiva.• Criadouros Neidyr Cury Filho e Antonio Belo Soares

– doação de telas e confecção de caixas de transporte.

Marcação externa (pintura) visível adistância

Soft release e saída gradativa dos animais

Exploração alimentar de itens da localidade

Vôos eficientes e gradativa ampliação da áreade exploração

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