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Relatório das 2 primeiras épocas Programa NOCTUA Portugal 2009/10 – 2010/11 GTAN Grupo de Trabalho sobre Aves Nocturnas Lisboa, Fevereiro, 2012

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Relatório das 2 primeiras épocas Programa NOCTUA Portugal

2009/10 – 2010/11

GTAN Grupo de Trabalho sobre Aves Nocturnas Lisboa, Fevereiro, 2012

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Relatório das 2 primeiras épocas

(2009/10 – 2010/11)

Programa NOCTUA Portugal

Monitorização de aves nocturnas

Lisboa, Fevereiro, 2012

GTAN

Grupo de Trabalho sobre Aves Nocturnas

1_Relatório NOCTUA Portugal (2009/10 – 2010/11)

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Trabalhar para o estudo e conservação das aves e seus habitats, promovendo um desenvolvimento que garanta a viabilidade do património natural para usufruto das gerações futuras.

A SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves é uma organização não governamental de ambiente que trabalha para a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal. Como associação sem fins lucrativos, depende do apoio dos sócios e de diversas entidades para concretizar as suas acções. Faz parte de uma rede mundial de organizações de ambiente, a BirdLife International, que actua em mais de 100 países e tem como objectivo a preservação da diversidade biológica através da conservação das aves, dos seus habitats e da promoção do uso sustentável dos recursos naturais. www.spea.pt

www.facebook.com/spea.Birdlife https://twitter.com/spea_birdlife

Relatório das 2 primeiras épocas do Programa NOCTUA Portugal GTAN Grupo de Trabalho sobre Aves NocturnasSociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, 2012

Direcção Nacional: Maria Clara de Lemos Casanova Ferreira, José Manuel Monteiro, Michael Armelin, Adelino Gouveia, José Paulo Oliveira Monteiro, Jaime Ramos

Direcção Executiva: Luís Costa

Coordenação do projecto: Rui Lourenço, Inês Roque, Ricardo Tomé

Citação: GTAN-SPEA, 2012. Relatório das 2 primeiras épocas (2009/10 e 2010/11) do

Programa NOCTUA Portugal. Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Lisboa

(relatório não publicado).

2_Relatório NOCTUA Portugal (2009/10 – 2010/11)

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1. ENQUADRAMENTO DO NOCTUA PORTUGAL

O NOCTUA Portugal – Programa de Monitorização de Aves Nocturnas em Portugal – surgiu

no âmbito do GTAN – Grupo de Trabalho sobre Aves Nocturnas da SPEA – e tem como principal

objectivo assegurar o desenvolvimento de censos de aves nocturnas em Portugal, de forma a

assegurar o estudo (1) da frequência de ocorrência das diferentes espécies no nosso país (presença

e número de territórios); (2) da variação espacial da sua distribuição; (3) das tendências

populacionais das suas populações; e (4) da relação destas tendências com alterações do habitat.

Pretende-se, em última instância, avaliar a utilidade das aves nocturnas como indicadoras do estado

de conservação dos habitats em Portugal.

A primeira fase dos censos (2009/2010) consistiu inicialmente num ensaio, inserido nos

trabalhos preparatórios para um programa de monitorização a longo prazo, com o objectivo de

avaliar a adesão de voluntários, a necessidade de ajustes metodológicos e a necessidade de

metodologias complementares. Após avaliação dos resultados, verificou-se que a metodologia era

adequada, pelo que não foram feitas alterações. Desta forma, considerou-se 2009/2010 como a

primeira época do NOCTUA Portugal. Na época seguinte (2010/11), procurou-se consolidar o

programa de monitorização atraindo mais colaboradores por forma a garantir a cobertura de um

maior número de quadrículas.

A metodologia proposta foi apresentada e discutida durante o VI Congresso de Ornitologia da

SPEA (Elvas, 2009), e teve por base os seguintes critérios: (1) um período de permanência curto em

cada ponto e em cada noite, (2) a utilização exclusiva de escutas passivas (ausência do potencial

efeito inibidor de “playback” sobre algumas espécies e de forma a garantir uma uniformidade

metodológica), (3) uma abrangência temporal que conciliasse os melhores períodos de censo para

as diversas espécies, (4) a acessibilidade dos locais de amostragem e (5) a possibilidade de

comparação com o Programa Noctua (Espanha) e a futura análise conjunta dos dados ibéricos.

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2. METODOLOGIA

A amostragem compreende três períodos: de 1 Dezembro a 31 Janeiro, de 1 Março a 30

Abril e de 1 Maio a 15 Junho (Tabela 1), incidindo nas seguintes espécies: Coruja-das-torres Tyto

alba, Mocho-d'orelhas Otus scops, Bufo-real Bubo bubo, Mocho-galego Athene noctua, Coruja-do-

mato Strix aluco, Bufo-pequeno Asio otus, Coruja-do-nabal Asio flammeus, Noitibó-cinzento

Caprimulgus europaeus, Noitibó-de-nuca-vermelha Caprimulgus ruficollis, Alcaravão Burhinus

oedicnemus.

Em cada quadrícula são definidos cinco pontos de amostragem, tendo em conta a

representatividade dos habitats, critérios de acessibilidade e de audibilidade (i.e. locais de acesso

público com acesso rápido em viatura, evitando locais com muito ruído como estradas principais e

ribeiras com bastante caudal). Os pontos devem distar entre si pelo menos 1,5 km e ser amostrados

sempre que possível nas três visitas, e sempre pela mesma ordem.

Cada ponto de censo consiste em 10 minutos de escuta passiva, durante a qual são

registados todos os indivíduos escutados ou observados. Em cada ponto, o objectivo é determinar

quantos indivíduos de cada espécie estarão presentes, identificando sempre que possível o sexo

dos mesmos (ex.: Figura 1). Devem ser também considerados os movimentos efectuados pelos

indivíduos durante o período de escuta, de forma a não duplicar registos. As escutas devem ser

realizadas, preferencialmente, no período compreendido entre os 15 minutos e as 2 horas após o

ocaso. As visitas devem ser realizadas em noites com condições meteorológicas favoráveis, sem

chuva ou vento moderado ou forte. Em cada ponto é registado a hora, fase da lua, luminosidade,

nebulosidade e intensidade do vento.

Tabela 1. Períodos de realização das três visitas do NOCTUA-Portugal, tendo em conta a latitude.

1ª visita 2ª visita 3ª visitaNorte de Portugal 15 Dez – 31 Jan 15 Mar – 30 Abr 15 Mai – 15 JunSul de Portugal 1 Dez – 15 Jan 1 Mar – 15 Abr 1 Mai – 31 Mai

Figura 1. Exemplo de esboço de campo ilustrativo da representação dos indivíduos detectados.

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3. RESULTADOS DAS 2 PRIMEIRAS ÉPOCAS (2009/10 – 2010/11)

3.1. INFORMAÇÃO GERAL SOBRE A AMOSTRAGEM

Entre os dois anos de amostragem, houve um incremento de 53% no número de quadrículas

atribuídas a colaboradores, que se traduziu num aumento de 25% no número de visitas efectuadas.

Os resultados do presente relatório baseiam-se em informação sobre 39 quadrículas diferentes,

sendo que o número de quadrículas em relação às quais foi enviada informação pelos

colaboradores em 2010/2011 aumentou em 22% relativamente ao primeiro ano (Tabela 2, Figura 2).

Das quadrículas cujos resultados foram recebidos até à data, 14 foram amostradas em ambas as

épocas 2009/10 e 2010/11, nove foram amostradas apenas em 2009/10, e 16 amostradas apenas

em 2010/11 (Figura 3). A Tabela 2 resume alguma informação geral relativa aos resultados obtidos

nestas duas épocas de amostragem do NOCTUA Portugal.

Tabela 2. Informação geral relativa às 2 épocas de amostragem do NOCTUA Portugal.

2009/10 2010/11Nº de quadrículas atribuídas a colaboradores 43 66Nº de quadrículas cujos resultados foram recebidos 23 28Nº de quadrículas com 3 visitas 16 20Nº de quadrículas com 2 visitas 6 7Nº de quadrículas com 1 visita 1 2Nº total de visitas 61 76Nº médio de espécies por visita (± desvio-padrão) 1,6 ± 1,0 1,7 ± 1,2Nº médio de indivíduos por visita (± desvio-padrão) 3,7 ± 3,2 4,0 ± 3,8Nº médio de indivíduos de Coruja-das-torres por visita (± desvio-padrão) 0,5 ± 0,9 0,4 ± 0,7Nº médio de indivíduos de Mocho-galego por visita (± desvio-padrão) 1,8 ± 2,3 1,9 ± 2,7Nº médio de indivíduos de Coruja-do-mato por visita (± desvio-padrão) 0,9 ± 1,3 0,9 ± 1,3Número total de indivíduos de Coruja-das-torres 29 28Número total de indivíduos de Mocho-d'orelhas 13 15Número total de indivíduos de Bufo-real 0 6Número total de indivíduos de Mocho-galego 110 134Número total de indivíduos de Coruja-do-mato 58 79Número total de indivíduos de Bufo-pequeno 2 7Número total de indivíduos de Coruja-do-nabal 0 0Número total de indivíduos de Noitibó-cinzento 3 8Número total de indivíduos de Noitibó-de-nuca-vermelha 4 1Número total de indivíduos de Alcaravão 15 26Número total de indivíduos de aves nocturnas 234 304

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Figura 2. Cobertura do território continental pelas quadrículas atribuídas a observadores nas épocas

de 2009/10 (esquerda; 43 quadrículas) e 2010/11 (direita; 66 quadrículas).

Figura 3. Localização das quadrículas amostradas nas 2 épocas de censo (2009/10 – 2010/11).

6_Relatório NOCTUA Portugal (2009/10 – 2010/11)

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3.2. ANÁLISE METODOLÓGICA

A análise metodológica foi realizada com o intuito de avaliar a adequabilidade da metodologia

definida para o NOCTUA Portugal. É importante chamar a atenção para que estas análises são

sobretudo de carácter indicador, uma vez que a dimensão amostral reduzida e um elevado número

de pontos de escuta sem registos (zeros) podem limitar a obtenção de resultados conclusivos com

base em análises estatísticas robustas. As análises baseiam-se em 47 visitas, que correspondem a

675 pontos de escuta, realizados nas duas épocas.

3.2.1. Análise do número de registos face à duração dos pontos de escuta (10 minutos)

Esta análise permitiu verificar que durante os 10 minutos de duração de cada ponto de

escuta não existe uma estabilização do número de indivíduos detectados (Figura 4). Este resultado

sugere que uma maior duração poderia permitir detectar novos indivíduos. Indica também que a

redução do tempo de escuta para, por exemplo, 5 minutos resultaria numa perda de

aproximadamente 36% dos indivíduos presentes na envolvência do ponto de escuta.

Consequentemente, considera-se que a actual duração de 10 minutos dos pontos de escuta representa um compromisso razoável entre o número de indivíduos detectados e o tempo

dispendido em cada ponto, e consequentemente em cada visita, que consiste na realização de 5

pontos de escuta.

Figura 4. Proporção do número de indivíduos detectados ao longo de um ponto de escuta de 10

minutos.

7_Relatório NOCTUA Portugal (2009/10 – 2010/11)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 100

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

% total% cumulativa

minutos de escuta

% d

e in

diví

duos

det

ecta

dos

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3.2.2. Variação das respostas ao longo da noite

Para esta análise comparou-se número de indivíduos detectados por ponto de escuta com

base na sua sequência ao longo da noite, utilizando o teste de Kruskal-Wallis. Foi registada uma

diferença significativa no número de indivíduos detectados entre os diferentes pontos, registando-se

um maior número de respostas no 2º ponto de escuta da noite (Figura 5; qui-quadrado = 13,78, df =

4, p = 0,008). Este resultado está de acordo com a bibliografia existente (Ganey 1990, Clark &

Anderson 1997, Penteriani et al. 2002, Delgado & Penteriani 2007, Hardouin et al. 2008), que aponta

o anoitecer como um dos momentos de maior actividade vocal em aves nocturnas. Mostra também a importância da realização dos cinco pontos de escuta nas primeiras duas horas após o ocaso.

Figura 5. Variação do número de indivíduos de todas as espécies de aves nocturnas detectado por

ponto de escuta tendo em consideração a sua ordem de realização ao longo da noite, do 1º ao 5º.

Caixas com bigodes representado a mediana, quartis inferior e superior, extremos e “outliers”.

3.2.3 Efeito do vento no número de aves nocturnas registadas

Para esta análise comparou-se o número de indivíduos detectados por ponto de escuta tendo

em consideração as condições de vento, utilizando o teste de Kruskal-Wallis. Tal como previsto, foi

observado um maior número de registos de indivíduos de aves nocturnas em condições de vento

mais fraco (Figura 6; qui-quadrado = 12,18, df = 2, p = 0,002). Este resultado mostra a importância

de evitar realizar as visitas em noites com vento forte, em que a actividade vocal das aves

nocturnas e a sua probabilidade de detecção pelos observadores podem ser menores.

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Figura 6. Variação do número de indivíduos de todas as espécies de aves nocturnas detectado por

ponto de escuta tendo em consideração a intensidade do vento, medida em 3 classes (1 = sem

vento ou vento fraco, 2 = vento moderado; 3 = vento forte). Caixas com bigodes representado a

mediana, quartis inferior e superior, extremos e “outliers”.

3.2.4. Efeito da nebulosidade no número de aves nocturnas registadas

Para esta análise comparou-se número de indivíduos detectados por ponto de escuta tendo

em consideração a nebulosidade, utilizando o teste de Kruskal-Wallis. Não foi detectado qualquer

efeito da nebulosidade no número indivíduos de aves nocturnas registadas em cada ponto de escuta

(Figura 7; qui-quadrado = 5,19, df = 2, p = 0,07).

Figura 7. Variação do número de indivíduos de todas as espécies de aves nocturnas detectado por

ponto de escuta tendo em consideração a nebulosidade, medida em 3 classes (1 = 0-33%, 2 = 34-

66% 3 = 67-100% de cobertura do céu por nuvens). Caixas com bigodes representado a mediana,

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quartis inferior e superior, extremos e “outliers”.

3.2.5. Efeito da luminosidade da lua no número de aves nocturnas registadas

Para esta análise comparou-se o número de indivíduos detectados por ponto de escuta tendo

em consideração o efeito da lua, utilizando o teste de Kruskal-Wallis. Neste caso foi tido em

consideração: (a) a lua estar visível ou não; (b) a fase da lua; (c) a fase da lua tendo em

consideração estar visível ou não, designada como “luminosidade da lua”. O facto da lua estar oculta

parece resultar num menor número de indivíduos detectados em comparação com a lua estar visível

(Figura 8; qui-quadrado = 27,07, df = 1, p < 0,001). A fase da lua sem ter em conta o facto de se

encontrar visível ou oculta não teve aparentemente qualquer efeito sobre o número de indivíduos de

aves nocturnas detectadas nos pontos de escuta (Figura 8, qui-quadrado = 4,63, df = 4, p = 0.33).

Tendo em consideração a luminosidade da lua, com base na fase e no facto de se encontrar visível

ou oculta, verificou-se que com maior luminosidade são registadas mais aves nocturnas nos pontos de escuta (Figura 9; qui-quadrado = 32,42, df = 5, p < 0,001).

Figura 8. Esquerda: Variação do número de indivíduos de todas as espécies de aves nocturnas

detectados por ponto de escuta tendo em consideração a lua estar oculta (0) ou visível (1). Direita:

Variação do número de indivíduos de todas as espécies de aves nocturnas detectado por ponto de

escuta, tendo em consideração a fase da lua (1 = Lua nova, 2 = ¼ de lua visível, em fase crescente

ou minguante, 3 = meia lua, 4 = ¾ de lua visível, em fase crescente ou minguante, 5 = lua cheia).

Caixas com bigodes representado a mediana, quartis inferior e superior, extremos e “outliers”.

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Figura 9. Variação do número de indivíduos de todas as espécies de aves nocturnas detectado por

ponto de escuta tendo em consideração a luminosidade da lua (0 = lua não visível em qualquer fase;

1, 2, 3, 4, 5 = lua visível nas respectivas fases; 1 = Lua nova, 2 = ¼ de lua visível, em fase crescente

ou minguante, 3 = meia lua, 4 = ¾ de lua visível, em fase crescente ou minguante, 5 = lua cheia).

Caixas com bigodes representado a mediana, quartis inferior e superior, extremos e “outliers”.

3.2.6. Efeito da época do ano

Para analisar o efeito da época do ano comparou-se (a) o número de espécies detectadas

por visita (ver Tabela 1), (b) o número acumulado de espécies detectadas ao longo das três visitas

(visita 1, visita 1+2, visita 1+2+3) e (c) o número de indivíduos detectados por visita, utilizando o

teste de Kruskal-Wallis. Não foram encontradas diferenças significativas entre o número médio de

espécies detectadas entre visitas (Figura 10; qui-quadrado = 0,31, df = 2, p = 0,86). Relativamente

ao número cumulativo de espécies obtido ao longo das visitas verifica-se, conforme esperado, um

aumento significativo do número cumulativo de espécies detectadas na quadrícula consoante se vão

somando visitas. (Figura 10; qui-quadrado = 10,67, df = 2, p = 0,005). Relativamente ao número de

indivíduos obtido em cada visita, não existiram diferenças significativas entre visitas (Figura 11; qui-

quadrado = 0.83, df = 2, p = 0.66). Estes resultados realçam a importância da realização das 3 visitas ao longo da época por forma a obter uma amostragem representativa da riqueza de aves nocturnas existente em cada quadrícula.

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Figura 10. Esquerda: Variação do número de espécies detectadas por visita (5 pontos). Direita:

Variação do número cumulativo de espécies detectadas ao longo das 3 visitas (1 = visita 1, 2 = visita

1+2, 3 = visita 1+2+3). Caixas com bigodes representado a mediana, quartis inferior e superior,

extremos e “outliers”.

Figura 11. Variação do número de indivíduos detectados por visita (5 pontos de escuta) em cada um

dos 3 períodos de amostragem. Caixas com bigodes representado a mediana, quartis inferior e

superior, extremos e “outliers”.

Em relação ao Mocho-galego e à Coruja-do-mato, as duas espécies mais frequentes nos

censos realizados, comparou-se o número médio de indivíduos registados em cada visita, utilizando

o teste de Kruskal-Wallis. Não existem diferenças significativas no número de indivíduos detectados

de Mocho-galego (Figura 12; qui-quadrado = 2,92, df = 2, p = 0,23), ou de Coruja-do-mato (Figura

12; qui-quadrado = 1,47, df = 2, p = 0,48) nas 3 visitas ao longo da época.

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Figura 12. Esquerda: Variação do número de indivíduos de Mocho-galego obtido em cada visita.

Direita: Variação do número de indivíduos de Coruja-do-mato obtido em cada visita. Caixas com

bigodes representado a mediana, quartis inferior e superior, extremos e “outliers”.

13_Relatório NOCTUA Portugal (2009/10 – 2010/11)

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3.3. VARIAÇÕES INTER-ANUAIS

Apesar de ainda só existirem dados para duas épocas, foi realizada uma análise simples

para averiguar potenciais variações inter-anuais. Por uma questão de simplificação, designa-se

como 2010 a época 2009/10 e como 2011 a época 2010/11. As comparações são feitas com base no

teste de Kruskal-Wallis. Não se encontraram diferenças significativas no número de espécies obtido

por visita entre as duas épocas (Figura 13; qui-quadrado = 0,11, df = 1, p = 0,75), nem no número de

espécies por quadrícula (com 3 visitas de 5 pontos) entre as duas épocas (Figura 13; qui-quadrado =

0,05, df = 1, p = 0,82).

Figura 13. Esquerda: Variação do número de espécies obtido por visita entre épocas. Direita:

Variação do número de espécies obtido por quadrícula com 3 visitas entre épocas. Caixas com

bigodes representado a mediana, quartis inferior e superior, extremos e “outliers”.

Relativamente ao número de indivíduos obtido por visita, não se encontraram diferenças

significativas entre épocas (Figura 14; qui-quadrado = 0,004, df = 1, p = 0,95). O mesmo resultado

foi obtido considerando o número de indivíduos por quadrícula (com 3 visitas de 5 pontos), não se

registando diferenças significativas entre épocas (Figura 14; qui-quadrado = 0,13, df = 1, p = 0,72).

14_Relatório NOCTUA Portugal (2009/10 – 2010/11)

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Figura 14. Esquerda: Variação do número de indivíduos obtido por visita em cada época. Direita:

Variação do número de indivíduos obtido por quadrícula com 3 visitas realizadas em cada época.

Caixas com bigodes representado a mediana, quartis inferior e superior, extremos e “outliers”.

Considerando por fim o número de indivíduos de Mocho-galego e de Coruja-do-mato obtido

por visita, também não se registaram diferenças significativas entre épocas (Figura 15; Mocho-

galego: qui-quadrado = 0,02, df = 1, p = 0,89); Coruja-do-mato: qui-quadrado = 0,006, df = 1, p =

0,94).

Figura 15. Variação do número de indivíduos de Mocho-galego (esquerda) e de Coruja-do-mato

(direita) obtidos por visita nas duas épocas. Caixas com bigodes representado a mediana, quartis

inferior e superior, extremos e “outliers”.

15_Relatório NOCTUA Portugal (2009/10 – 2010/11)

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3.4. INFORMAÇÃO GERAL SOBRE OBSERVAÇÕES ADICIONAIS

As observações adicionais recebidas no âmbito do NOCTUA Portugal são particularmente

importantes para obter uma ideia mais precisa da distribuição das espécies de aves nocturnas e

eventualmente detectar alterações a longo termo da sua área de ocorrência. Esta compilação foi

efectuada considerando apenas informação recolhida a partir de 2005 (inclusive), uma vez que o

Atlas das Aves Nidificantes em Portugal (Equipa Atlas 2008) representa uma imagem bastante fiel da

distribuição para o período 1999-2005. Consequentemente, foram reunidos 1317 registos de aves

nocturnas para o período entre 2005 e 2011 (Figura 16). Embora a cobertura em Portugal continental

seja bastante razoável, subsistem algumas áreas sem qualquer informação sobre aves nocturnas,

caso do extremo norte e algumas áreas na região centro (Beira-baixa).

Figura 16. Variação espacial do número de espécies obtido em cada quadrícula através

exclusivamente de registos adicionais.

16_Relatório NOCTUA Portugal (2009/10 – 2010/11)

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3.5. MAPAS DE DISTRIBUIÇÃO DAS AVES NOCTURNAS

Os mapas de distribuição foram desenhados tendo em consideração a informação obtida de

forma sistemática através dos censos realizados durante as épocas 2009/10 e 2010/11

(representada a laranja), bem como a informação obtida não sistematicamente – registos adicionais

entre 2005 e 2011 (representada a cinzento).

3.5.1. Coruja-das-torres Tyto alba

17_Relatório NOCTUA Portugal (2009/10 – 2010/11)

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3.5.2. Mocho-d'orelhas Otus scops

3.5.3 Bufo-real Bubo bubo

18_Relatório NOCTUA Portugal (2009/10 – 2010/11)

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3.5.4. Mocho-galego Athene noctua

3.5.5. Coruja-do-mato Strix aluco

19_Relatório NOCTUA Portugal (2009/10 – 2010/11)

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3.5.6. Bufo-pequeno Asio otus

3.5.7. Coruja-do-nabal Asio flammeus

20_Relatório NOCTUA Portugal (2009/10 – 2010/11)

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3.5.8. Noitibó-cinzento Caprimulgus europaeus

3.5.9. Noitibó-de-nuca-vermelha Caprimulgus ruficollis

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3.5.10. Alcaravão Burhinus oedicnemus

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4. CONCLUSÕES

As opções metodológicas utilizadas no programa NOCTUA Portugal são, no geral,

adequadas:

(1) A duração dos pontos de escuta (10 minutos) parece garantir um compromisso

equilibrado entre a obtenção de resultados e a permanência do observador no local;

(2) As primeiras duas horas após o ocaso abrangem um período de maior actividade vocal

das aves nocturnas, maximizando assim o número de registos;

(3) A realização das três visitas ao longo da época permite detectar um maior número de

espécies, garantindo uma melhor amostragem de cada quadrícula;

(4) As condições de vento forte podem diminuir o número de registos que se obtêm nos

pontos de escuta;

(5) A luminosidade da lua está associada a uma maior actividade vocal nas aves nocturnas

(Morrell et al. 1991, Clark & Anderson 1997, Takats & Holroyd 1997, Kissling et al. 2010, Penteriani

et al. 2010). Não sendo este um facto crucial a ter em conta na escolha dos dias de amostragem,

poderá contudo ser tido em conta na análise de dados.

Numa abordagem meramente exploratória não foram encontradas variações nos resultados

obtidos entre as duas épocas. A continuação do programa NOCTUA Portugal, com a consequente

monitorização das mesmas quadrículas ao longo de vários anos, permitirá no futuro uma

comparação mais robusta dos dados e uma determinação das tendências populacionais das aves

nocturnas.

Sendo as aves nocturnas, no geral, caracterizadas por uma baixa detectabilidade, a

informação adicional revela-se crucial para o conhecimento da sua distribuição.

Os mapas de distribuição em Portugal Continental obtidos para as aves nocturnas são

bastante concordantes com os mapas publicados no Atlas das Aves Nidificantes (Equipa Atlas 2008).

A amostragem parece ser mais eficiente para as espécies mais comuns ou conspícuas, como

é o caso da Coruja-das-torres, Mocho-d'orelhas, Mocho-galego, Coruja-do-mato e Alcaravão. No

entanto, a metodologia empregue garantiu também a detecção de espécies menos comuns como o

Bufo-real, o Bufo-pequeno ou os noitibós, em alguns locais das suas áreas potenciais de ocorrência.

A Coruja-do-nabal, devido à sua ocorrência apenas durante o período não reprodutor e actividade

vocal muito reduzida, é a espécie para a qual a metodologia não se revela adequada.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Clark KA, Anderson SH 1997. Temporal, climatic and lunar factors affecting owl vocalizations of

Western Wyoming. Journal of Raptor Research 31:358-363.

Delgado MM, Penteriani V 2007. Vocal behaviour and neighbour spatial arrangement during vocal

displays in eagle owls (Bubo bubo). Journal of Zoology 271:3-10.

Equipa Atlas 2008. Atlas das Aves Nidificantes em Portugal (1999-2005). Assírio & Alvim, Lisboa

Ganey JL 1990. Calling behavior of spotted owls in Northern Arizona. Condor. 92:485-490.

Hardouin LA, Robert D, Bretagnolle V 2008. A dusk chorus effect in a nocturnal bird: support for mate

and rival assessment functions. Behavioral Ecology and Sociobiology 62:1909-1918.

Kissling ML, Lewis SB, Pendleton G 2010. Factors influencing the detectability of forest owls in

Southeastern Alaska. Condor. 112:539-548.

Morrell TE, Yahner RH, Harkness WL 1991. Factors affecting detection of great horned owls by using

broadcast vocalizations. Wildlife Society Bulletin 19:481-488.

Penteriani V, Gallardo M, Cazassus H 2002. Conspecific density biases passive auditory surveys.

Journal of Field Ornithol. 73:387-391.

Penteriani V, Delgado MM, Campioni L, Lourenço R 2010. Moonlight makes owls more chatty. PLoS

ONE. 5:e8696.

Takats DL, Holroyd GL 1997. Owl broadcast surveys in the Foothills Model forest, Alberta, Canada.

In: Nero RW, Clark RJ, Knapton RJ, Hamre RH, (eds.). Biology and conservation of northern

forest owls. USDA Forest Service, General Technical Report RM-142. p. 421-431.

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6. AGRADECIMENTOS

MUITO OBRIGADO A TODOS OS COLABORADORES DO NOCTUA PORTUGAL E DO GTAN

QUE VOLUNTARIAMENTE REALIZARAM QUADRÍCULAS E/OU ENVIARAM REGISTOS ADICIONAIS:

Adriana Silva, Agostinho Tomás, Alexandra Fonseca, Alexandre H. Leitão, Ana Cordeiro, Ana Jones,

Ana Laborda, Ana Marques, Ana Meirinho, Ana Teresa Marques, André Aguiar, Andreia Dias, Carlos

Godinho, Carlos Pacheco, Célia Gomes, CERVAS/ALDEIA, Clara Silva, Cláudio Luzio Dias, David

Rodrigues, Domingos Francisco, Dyana Reto, Edgar Gomes, Eduardo Realinho, Fábia Azevedo,

Fernando Pereira, Filipa Machado, Filipe Canário, Filipe Gomes, Francisco Morinha, Gil Costa, Hany

Alonso, Helena Batalha, Hélia Gonçalves, Hugo Laborda Sampaio, Hélder Soares, Hugo Zina, Inês

Henriques, Inês Roque, Irina Oliveira, Joana Andrade, Joana Domingues, Joana Figueiredo, João

Quadrado, João Rabaça, João Tiago Marques, João Tiago Tavares, Jorge Henriques, José Carlos

Morais, Julieta Costa, Lígia Batalha, Lourenço Marques, Lúcia Lopes, Luís Novo, Luís Rosa, Luís

Rui Custódia, Luís Venâncio, Luísa Catarino, Manuel Matos, Marco Mirinha, Mariana Marques, Mário

Carmo, Mário Estevens, Marisa Arosa, Michal Puchir, Nadine Pires, Nélia Penteado, Nuno Barros,

Nuno Faria, Nuno Oliveira, Paulo Alves, Paulo Cardoso, Paulo Catry, Pedro Salgueiro, Pedro Costa,

Pedro Moreira, Pedro Pereira, RIAS, Ricardo Brandão, Ricardo Ceia, Ricardo Monteiro, Ricardo

Nabais, Ricardo Tomé, Rita Ferreira, Rui Lourenço, Sara Araújo, Sérgio Correia, Susana Costa, Thijs

Valkenburg, Tiago Rodrigues, Vanessa Oliveira, Vítor Nascimento.

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