relatório - caps ad.docx
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE – CCBS
GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
DISCIPLINA: DROGAS E CULTURA
DOCENTE: LUCIENE DE MELO PAZ
STALLONE PEREIRA ABRANTES
RELTÓRIO DE VISITA AO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS (CAPS-AD) EM CAMPINA GRANDE-PB
CAMPINA GRANDE
2013
A Política Nacional de Saúde Mental Brasileira apresenta a Reforma Psiquiátrica
como um complexo processo político e social, composto por todas as esferas do Estado,
incidente nos mais diversos territórios onde houver indivíduos acometidos por algum
sofrimento de cunho subjetivo, compreendendo esse processo de reforma como
transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais, marcado por tensões,
conflitos e desafios (BRASIL 2006). No contexto da proposta de desinstitucionalização
apresentada nos anos 90, apoiados pelo Projeto de Lei Paulo Delgado, conseguiu-se que
a implantação de uma rede de serviços substitutivos, a exemplo dos Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS) atrelados a uma rede integrada de cuidados. A Reforma
Psiquiátrica ao desencadear a criação dos CAPS iniciava uma nova construção e
representação acerca dos usuários portadores de transtorno psíquico e da relação com o
sistema social.
De acordo com Marchi (2005) os CAPS têm como característica fundamental
desenvolver estratégias para integrá-los ao ambiente social e cultural concreto na qual
os usuários estão inseridos. Eles receberam a seguinte classificação: CAPS I, CAPS II,
CAPS III, CAPS-I e CAPS-AD, a depender das suas características operacionais. O
nosso foco nesse relatório será o Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e outras
Drogas (CAPS-AD) visto que a visita ocorreu no dispositivo citado quando
desenvolvida atividades da disciplina Drogas e Cultura.
O CAPS-AD se coloca enquanto serviço de acolhimento a pessoas com
problemas devido ao abuso ou consumo de álcool e outras drogas. É de valia apresentar
que os CAPS-AD foram implantados no ano de 2004, alicerçados na Política de
Redução de Danos (PRD). A PRD é entendida “como um novo paradigma ético, clínico
e político para a política pública brasileira de saúde de álcool e outras drogas implicou
um processo de enfrentamento e embates com as políticas antidrogas que tiveram suas
bases fundadas no período ditatorial” (Passos e Souza, 2011, p. 154). Percebe-se então
que a RD “não é uma clínica do caos, mas ela fornece respostas para as quais não
estamos preparados, na exata medida em que consideramos o preparo técnico excessivo
de trabalhadores(as) da saúde como algo indispensável” (Medeiros e Petuco, 2008,
p.135). Sendo assim, os CAPS-AD incluem como objetivo trabalhar em rede
com outros serviços de assistências à saúde, de educação, de cultura,
de assistência social e diretamente com a comunidade (BRASIL,
2008).
Nosso objetivo foi conhecer o funcionamento do CAPS-AD, bem como
compreender os fenômenos sociais, subjetivos, biológicos e culturais que atravessam os
sujeitos ali atendidos.
A visita realizada se configura como uma possibilidade de perceber através do
que é observado, escutado, falado e refletido. Adentrar em um dispositivo social tão
caro a população é uma possibilidade ímpar de se aproximar das mais variadas
problemáticas que perpassam os usuários de drogas e os profissionais em saúde.
Deparar-se com um serviço em atividade é deixar circular mesmo que brevemente um
emaranhado de subjetividades que florescem a cada sensação, percepção e emoção que
circula no ambiente.
Passaram pelo CAPS-AD de Campina Grande-PB aproximadamente 2 mil
pessoas. Atualmente o mesmo possui 490 usuários, distribuídos em semi-intensivos
(acompanhamento mensal) intensivos (acompanhamento diário) e não intensivos
(destinado aos pacientes que necessitem de uma frequência menor, de acordo com o
quadro clínico apresentado). A equipe conta com 5 psicólogos, 4 assistentes sociais, 2
médicos (sendo 1 psiquiatra), 2 pedagogos, 3 enfermeiros, 4 técnicos de enfermagem, 1
educador físico, 1 musicoterapeuta, 2 porteiros, 2 auxiliares de serviços gerais e 1
cozinheira.
Inicialmente é realizada uma primeira escuta no intuito de saber as principais
demandas, ainda é realizada uma triagem (geralmente com algum familiar presente). O
primeiro instrumento utilizado pela equipe é o Acolhimento. Segundo Romano (2008) a
definição de acolhimento é permeada por três ideias norteadoras: O princípio de
universalização do Sistema Único de Saúde, onde se procuram atender os todos os
sujeitos que necessitem do serviço; O cuidado em saúde é entendido sob a ótica de
multidisciplinaridade e não em um modelo biomédico; A relação profissional e usuário
dá-se de forma igualitária, na qual as problemáticas são compartilhadas e o saber de
ambos se entrelaçam.
O trabalho da Psicologia no CAPS-AD se dá a partir da própria medicação que
aquele sujeito faz uso, trabalhando-se o lugar da oralidade na vida do mesmo com o
próprio corpo. Ainda são realizadas oficinas de geração de rendas. O lugar do psicólogo
no CAPS-AD é essencial para entendermos a relação que o usuário mantém com a
própria droga, focando-se no que ele fala, nos desejos e anseios que possui.
Há no dispositivo importantes ferramentas de trabalho, a saber: a construção do
Projeto Terapêutico Singular (PTS) e Projeto de Saúde no Território (PST). O PTS diz
respeito ao “conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas, para um sujeito
individual ou coletivo, resultado da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar”
(BRASIL, 2007). O PST “pretende ser uma estratégia das equipes de SF e do NASF
para desenvolver ações efetivas na produção da saúde em um território que tenham foco
na articulação dos serviços de saúde com outros serviços e políticas sociais” (BRASIL,
2009).
Ficou-se notório que o CAPS-AD tem como foco de trabalho a RD, visto que o
trabalho é realizado para/com o sujeito visando a desinstitucionalização e a própria
abstinência. Todavia, há uma falta de redutores de danos no já citado dispositivo social.
Nota-se que o CAPS-AD tem um papel fundamental na (re)construção da imagem da
pessoa que faz uso de drogas, trata-se de um reconhecimento do contexto em
que ele se insere, das razões e implicações que levaram seu consumo,
fazendo com que os usuários se percebam enquanto sujeito de
autonomia e de potencialidades.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Política nacional de atenção básica. Brasília, 2006.
_______ Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Clínica ampliada, equipe de referência e projeto terapêutico singular. Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização – 2. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2007._______. Secretaria-Executiva. Subsecretaria de Assuntos Administrativos. Memória da loucura: apostila de monitoria. Brasília: Ministério da Saúde, 2008._______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Cadernos de Atenção Básica: Diretrizes do NASF. Brasília, 2009.MARCHI, V. A Busca da Integralidade nas Ações dos Profissionais de Saúde Mental: um desafio cotidiano, 2005. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2005.MEDEIROS, R. G; PETUCO, D. R. S. Redução de Danos: dispositivo da Reforma? In: III Congresso Internacional, IV Congresso Iberoamericano e II Congresso Brasileiro de AT, 2008, Porto Alegre. Anais III Congresso Internacional, IV Congresso Iberoamericano e II Congresso Brasileiro de AT. Porto Alegre, 2008. p. 133-149.PASSOS, E. ; SOUZA, T. P. Redução de Danos e saúde pública: construções alternativas a política global de guerra as drogas. Psicologia & Sociedade, v. 23, p. 154-162, 2011. ROMANO, V. F. As Travestis no Programa Saúde da Família da Lapa. Saúde e Sociedade, v. 17, p. 211-219, 2008.