relatorio bom professor espm sul 2014

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    VICE-PRESIDNCIA ACADMICA (VPA)

    Ncleo De Prticas Pedaggicas (NPP)

    A Representao Social do Bom Professor

    Descrio dos ResultadosESPM Sul(Graduao)

    So Paulo, Dezembro de 2014

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    2Ncleo de Prticas Pedaggicas

    Vice-Presidncia Acadmica

    Prof. Alexandre Gracioso

    Coordenadora do Ncleo de Prticas Pedaggicas

    Prof.a Manolita Correia Lima

    Pesquisadores

    Danilo Torini

    Claudia Silva

    Analista administrativo

    Aline Oliveira

    Pesquisador assistente

    Caio Giusti Bianchi

    Auxiliar de Escritrio

    Daniel Celestino

    Integrante do Programa Jovem Aprendiz

    Mrcia dos Reis Machado

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    3Ncleo de Prticas Pedaggicas

    Sumrio

    1. Introduo: apresentao da pesquisa 4

    2. Anlise descritiva dos relatos 5

    2.1 Repertrio na rea de expertise 5

    2.2 Experincia Profissional 6

    2.3 Competncias Pedaggicas 7

    2.4 Aspectos atitudinais e traos da personalidade 12

    3. Uma tentativa de sntese e os possveis desdobramentos 15

    4. Consideraes finais 19

    5. Referncias 20

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    4Ncleo de Prticas Pedaggicas

    1. Introduo: apresentao da pesquisa

    Com o objetivo de conhecer a representao social que o corpo discente daESPM faz de um bom professor, o Ncleo de Prticas Pedaggicas (NPP) realiza,desde 2012, uma pesquisa qualitativa que tem por base o registro escrito dosestudantes que se predispem a responder seguinte questo: quais so ascaractersticas que fazem um docente ser reconhecido como um bomprofessor?

    Entre os meses de Abril e Junho de 2012, os Estudantes dos cursos de graduaoda ESPM Administrao, Comunicao, Design, Jornalismo e RelaesInternacionais foram convidados a expressar as percepes sobre essa

    questo. Obteve-se um total de 225 narrativas. Em Maio de 2013, o mesmotrabalho foi replicado na ps-graduao lato sensu e 76 Estudantesparticiparam. Em 2014, a ampliao dos dados se concentrou entre osestudantes da ps-graduao da ESPM SP1e da graduao da ESPM Sul2, com10 e 78 narrativas, respectivamente. Este relatrio apresenta os resultados dapesquisa realizada com os estudantes da ESPM-Sul, cujos respondentes estodistribudos conforme dados dispostos na tabela 1. Por ser opcional, aparticipao dos estudantes por curso no foi homognea e variou de 5narrativas no curso de Relao Internacionais at 23 no curso de Design comnfase em moda.

    Tabela 1: Quantidade de respondentes da pesquisa sobre Representao Social de

    um Bom professor por curso de graduao, ESPM-Sul

    CursoNmero

    de respondentes

    Design com nfase em moda 23

    Comunicao 18

    Administrao 15

    Jornalismo 11

    Relaes Internacionais 5

    No identificados3 6

    TOTAL 78

    Fonte: Narrativas coletadas em 2014.

    1A coleta das narrativas dos estudantes foi realizada pela Professora Doutora Paula Pinto e Silva.2A coleta das narrativas dos estudantes foi realizada pela Professora Doutora Joseane Rucker.3 Nesses relatos, os estudantes no informaram o nome, curso e/ou semestre em que estomatriculados.

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    2. Anlise descritiva dos relatos

    Assim como j havia ocorrido no ano passado, os relatos dos estudantes degraduao da ESPM-Sul foram muito heterogneos, seja em seu formato, seja

    em seu contedo. Alguns deles se limitaram a escrever quatro ou cinco linhas,enquanto outros se dedicaram a elaborar textos com uma estruturaargumentativa mais complexa. H trechos das narrativas cuja escrita confusa eproblemas na estruturao das oraes afetam a coeso do texto e, portanto,a compreenso do argumento. Tambm no foram raras as passagens cujofoco recaiu sobre crticas ao curso e aos docentes. Esses trechos, embora nomenos relevantes, no foram objeto desta anlise, uma vez que desviavam daproposta de se ater ao detalhamento das qualidades que fazem de umdocente um bom professor.

    Frente diversidade e complexidade dos relatos dos estudantes, as narrativasforam organizadas em quatro categorias principais, a fim de que pudessem seranalisadas as convergncias e divergncias de percepo:

    Repertrio na rea de expertise, Experincia Profissional, Competncias Pedaggicas, Aspectos Atitudinais.

    Em vez de se configurar como uma exegese dos temas e assuntosmencionados, a anlise a seguir buscar evidenciar as principais tendncias nosrelatos registrados, no intuito de recuperar de forma basilar os principaiselementos da representao que os estudantes constroem acerca do bomprofessor.

    Em cada uma das categorias h um quadro em que as principais citaes soprecedidas por um nmero que indica a recorrncia com que elas forammencionadas. importante ressaltar que a contagem no se presta a proporqualquer tratamento quantitativo, apenas de orientar o leitor sobre a incidnciacom as ideias apareceram nas narrativas analisadas.

    2.1 Repertrio na rea de expertise

    No que diz respeito primeira categoria, acerca do conhecimento e repertriodo professor em determinada rea de expertise, notvel a menor incidnciade citaes entre os estudantes de graduao se comparados aos da ps-graduao. A maior parte das menes a esse tema se refere menos qualidade da formao acadmica do professor, expressa em seu currculo(titulao, gerao de conhecimento acadmico e tcnico etc.) e mais percepo genrica de que o professor deve ter domnio do conhecimentoou do contedo da matria ou da disciplina que ministra. Em outras palavras,

    trata-se do professor que entende muito do assunto abordado na disciplina, que

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    possui destacado repertrio conceitual e terico em determinada rea, almde capacidade de aplicar esse conhecimento no universo da prtica.

    O pouco peso atribudo questo da formao acadmica do professorparece expressar menos a pouca importncia conferida a esse quesito e mais

    a percepo de que este um pr-requisito. Assim sendo, pressupem que obom professor deve possuir, de partida, consistente formao acadmica paradar conta das responsabilidades que recaem sobre ele. H, assim, um consensoque implicitamente manifesto em todas as narrativas de que os estudantes spodem aprender bem com professores que aprendem bem (DEMO, 2011),corroborando a imprescindibilidade do bom nvel de formao para se dispordo repertrio exigido atividade de docente da educao superior.

    Ainda no que concerne categoria do conhecimento, outra caractersticavalorizada nos relatos e que complementa a anterior o fato de o professorestar sempre atualizado na rea, motivado a conhecer coisas novas e no

    preso a conhecimentos antigos. Embora com incidncia muito menor que aprimeira, esta caracterstica revela a importncia atribuda ao professor que sensvel necessidade de se aprimorar e que est sempre atento s mudanasdo seu campo de atuao. Por trs dessa avaliao, est, evidentemente, aexpectativa de que o professor traga essas novidades sala de aula,compartilhando-as com os estudantes.

    Faz-se necessrio ressaltar que a percepo sobre o domnio do contedo esobre estar atualizado est quase sempre atrelada noo implcita (e muitasvezes explcita) de que o conhecimento algo a ser transmitido, passado

    pelo docente aos estudantes e que o bom professor aquele que conseguetransferir o seu estoque de conhecimento e passar tudo o que sabe para osseus alunos de forma eficaz.

    Quadro 1: Menes relativas ao repertrio na rea de expertise

    18Tem domnio do contedo, da matria; domina o conhecimento;conhece a fundo o assunto que est sendo tratado; temconhecimento tcnico em sua rea.

    11

    atualizado sobre os assuntos de sua disciplina, est sempre seatualizando sobre o contedo que ministra, motivado a conhecer

    coisas novas; gosta de se atualizar, estar sempre atento s novasdescobertas de sua rea.

    Fonte: Narrativas coletadas em 2014.

    2.2 Experincia Profissional

    Comparativamente s demais categorias, o conjunto de caractersticas ligadas vivncia profissional do professor tambm mencionado com menosrecorrncia nos relatos dos estudantes de graduao do que entre os de ps-

    graduao. No que diz respeito a esse quesito, a referncia que perpassa demodo geral as narrativas a de que o bom professor aquele que possui uma

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    vivncia profissional consistente, isto , que acumula significativa experinciaprofissional e que exemplo inquestionvel de sucesso na sua rea deatuao e no mercado. Mais uma vez, parece estar pressuposto, na viso dosestudantes, que esse requisito s ganha sentido medida que professor estejadisposto a compartilhar essa vivncia profissional, ilustrando as suas exposiescom exemplos diversificados e preparando os estudantes para a "vida real".

    Os relatos da graduao, se comparados aos da ps-graduao, fazemreferncias ainda muito difusas e pouco claras sobre o sucesso profissional quese espera do bom professor. De forma geral, h a expectativa de que oprofessor tenha experincias profissionais para alm do campo acadmico etraga essas vivncias de mercado como exemplos reais nas diferentesatividades que realiza. No entanto, no est presente nos relatos dos estudantesum maior detalhamento sobre os elementos que definem essa "carreira desucesso".

    Quadro 2: Menes relativas experincia profissional

    26 Tem rica vivncia profissional; tem experincia de mercado.

    14 atualizado; est sempre bastante atualizado com o mundoprofissional, o mercado e sua rea de atuao; atento s mudanase s tendncias de mercado.

    8 exemplo de sucesso e excelncia na rea de atuao; reconhecido em seu campo profissional como uma referncia.

    Fonte: Narrativas coletadas em 2014.

    2.3 Competncias Pedaggicas

    De todas as categorias de anlise trabalhadas, a dimenso referente scompetncias pedaggicas a que mais merece menes dos estudantesquando se posicionam sobre as qualidades de um bom professor. Tal como jhavia sido detectado nas pesquisas anteriores (seja com estudantes degraduao, seja com os de ps-graduao), os melhores professores soaqueles que tm aptido para a docncia, sabem ensinar, so didticos,explicam o contedo quantas vezes o aluno precisar.

    De forma geral, h forte valorizao da articulao de dimenses tericas eprticas, com a utilizao de exemplos e casos reais para que o contedo sejamais inteligvel e aplicvel, uma vez que, como explicita um dos estudantes, ouso de referncias e exemplos da teoria aplicados no nosso cotidiano essencial para que ocorra mais interesse e entendimento do que lecionado.Atribuir importante peso didtica do professor e ao exerccio de aplicar osconceitos e demais elementos tericos ao universo inteligvel do estudante no

    apenas compreensvel como parte fundamental do processo de ensino-e-aprendizagem, uma vez que, como bem aponta Libneo (2009), a

    especificidade da didtica reside na busca das condies timas de

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    transformao das relaes que o aprendiz mantm com o saber (Libneo,2009, p.18).

    A despeito de no haver muitas referncias diretas ao planejamento das aulas qualidade que havia sido bastante valorizada nos relatos do ano passado

    (2013) e, principalmente, nas narrativas dos estudantes de ps-graduao , opressuposto de que o professor planeje as atividades est implcito nos discursosquando se espera que ele lance mo de diferentes estratgias de ensino eaprendizagem para realizar as atividades em sala de aula. Isso se mostra aindamais evidente ao se observar a expectativa recorrente de que o professor sejacriativo e verstil, que precisa inovar sempre, a cada aula. Nos relatos dosestudantes, a percepo do bom professor como um inovador est, assim,menos ligada ao contedo da disciplina do que com a forma como ele trabalhado, o que significa dizer que o principal incmodo recai sobre odocente que no diversifica as suas estratgias de ensino, j que nos dias atuaisno h mais espao s para quadros e apresentaes em ppt.

    Aliado ao uso dos recursos didticos variados, o bom professor um profissionalque se comunica bem, interage com a turma e sabe se relacionar com osestudantes, falando a linguagem do aluno e sabendo tirar deles o que tm

    de melhor. Espera-se do docente, assim, que ele seja acessvel e promova odilogo com os estudantes, gerando abertura e espao para atendimento eresoluo de eventuais dvidas dentro e fora da sala de aula.

    O bom professor se preocupa com o desenvolvimento dos estudantes,

    identifica o perfil da turma e respeita o ritmo de cada um, adequando as aulasao perfil dos alunos e sendo capaz de se adaptar s necessidades dosestudantes.

    Exerce tambm grande destaque nos relatos a imagem de um profissionalinteressado pelos estudantes e definido como um incentivador, que motivaos alunos, desperta o seu interesse pela matria, envolvendo-os e fazendocom que amem o contedo em estudo.

    Esses elementos, analisados isoladamente, poderiam denotar a existncia, na

    representao dos estudantes, da imagem do professor tal qual alguns autoresdefinem como um facilitador de aprendizagens (Demo, 2009; Ferreira, 2009;Libneo, 2009; Soares, 2009 e Soares & Cunha, 2010). No obstante, um olharmais apurado sobre o teor dos relatos revela que a maior parte dos participantesda pesquisa enxerga no docente a figura mais prxima de um transmissordo que propriamente de um mediador ou facilitador.

    Nas narrativas dos estudantes de graduao deste ano (e tambm nas do anopassado), a atuao do professor no ambiente de aprendizagem se assemelhapor vezes da funo de entretenimento, com a necessidade constante de

    prender a ateno dos alunos nas aulas para que a transmisso doconhecimento se efetive. Em outras palavras, no basta passar o contedo,

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    necessrio que se faa com nimo e determinao, despertando a vontadedos alunos para com os estudos, disciplinas e contedos. Embora essacaracterstica tambm esteja presente nos discursos dos estudantes de ps-graduao, ela muito mais recorrente na graduao, a despeito de a maioriados autores das narrativas j estarem na metade do curso (4 semestre) e serem,portanto, mais experientes que os alunos ingressantes.

    H, contudo, relatos que so exceo maioria e que apresentam, por outrolado, uma posio refratria a esse tipo de postura esperada do professor,defendendo que o docente no uma pea de entretenimento dos alunos,que tm sede por distraes enquanto fogem da teoria e que preciso fazero aluno correr atrs e no ficar apenas assistindo aula. Ainda que esta noseja a posio predominante, o fato de existir esse tipo de posicionamento sintomtico da existncia de certo incmodo por parte de alguns sobre o papelque a maior parte da turma atribui ao professor.

    No obstante, ainda que haja algumas vozes dissonantes, prevalece umapostura tradicional de passividade perante a ao do docente. A despeito deos estudantes valorizarem os professores que promovem a participao dosestudantes nas aulas, a anlise dos relatos aponta justamente que os autores

    no se veem como protagonistas no processo de ensino-e-aprendizagem,atribuindo ao professor, a priori, o papel de agente principal que viabiliza oudificulta (e, portanto, condiciona) a aprendizagem dos estudantes.

    Trs aspectos perpassam a maioria das narrativas e so fundamentais para

    compreender essa construo dos estudantes acerca da postura esperada deum bom professor. O primeiro deles, que tem relao estreita com os pontosdiscutidos anteriormente, a capacidade que se deseja do bom professor emcriar um ambiente agradvel para a aprendizagem. Motivar a turma, envolvero aluno, promover a participao dos estudantes, respeitando o ritmo de cadaum, so pr-requisitos bsicos para o bom andamento das disciplinas, o quetorna evidente que a maior parte da responsabilidade pelo sucesso dessaempreitada recai sobre o professor, uma vez que dele a obrigao de ativaros alunos para a atividade proposta.

    Isso se relaciona diretamente, por sua vez, com o segundo ponto a serdestacado, que o fato de a maioria dos estudantes atribuir o xito daaprendizagem ao bom relacionamento estabelecido entre o professor e oaluno. De forma muito mais enftica que o observado nos discursos da ps-graduao e at mesmo nos relatos do ano passado, a viso de um professormuito prximo dos estudantes, em uma relao que se assemelha de umaamizade, o que prevalece nas citaes sobre relacionamento. H relatos quevalorizam no apenas a horizontalidade das relaes aluno-professor, mas quetambm fazem meno diretamente prpria expectativa de que o docente

    atue como um amigo. Este , seguramente, um dos aspectos em que asnarrativas dos estudantes de graduao mais se distanciam dos textos da ps-

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    graduao. Ainda que na ps-graduao, a expectativa de que o professorestabelea um bom relacionamento com a turma tambm esteja presente,entre os estudantes de graduao essa qualidade parece ser condio sinequa nonpara o xito do processo de ensino e aprendizagem.

    interessante, contudo, que de forma aparentemente contraditria aosegundo aspecto citado, o terceiro ponto de convergncia dos relatos justamente a necessidade de que a relao estabelecida entre o professor e osestudantes seja a de uma liberdade controlada, isto , de que o professorexera um papel disciplinador a ponto de evitar perder o controle sobre osalunos. Esta uma percepo que no deixa de constar entre os relatos daps-graduao ou da graduao do ano passado, mas que aparece de formamuito mais contundente nos relatos deste grupo especfico de graduao daESPM-Sul. Embora esteja bem claro que esse controle no deve se confundircom autoritarismo, citaes que apontam a necessidade de mostrar rigidez,"conseguir se impor", saber controlar a turma e at gritar, se for preciso soindcios de insatisfao dos autores dos relatos com situaes de indisciplina,em que os professores no conseguiram manter a ordem na sala de aula. predominante na maior parte dos relatos, no entanto, a percepo de que oideal que exista um equilbrio entre a liberdade e a disciplina no ambiente daaprendizagem e que o responsvel por operar essa tnue ponderao , porexcelncia, o professor.

    Nesse sentido, compreensvel que os estudantes, embasados por esses trs

    elementos, atribuam grande importncia liderana, assertividade, seguranae firmeza que professor deve assumir em sala de aula, valorizando qualidadesque esto, portanto, na fronteira entre competncias pedaggicas, traos depersonalidade e aspectos atitudinais de um bom professor.

    Quadro 3: Menes relativas s competncias pedaggicas

    47Explica bem; didtico; sabe ministrar o contedo de forma clara ecoesa; consegue transmitir o contedo; consegue fazer com que oaluno compreenda o assunto sem esforo.

    44Desperta o interesse dos estudantes pela disciplina, pelos estudos epelo conhecimento; motiva os alunos; estimula a criatividade doaluno; um incentivador.

    38Consegue prender a ateno dos alunos; consegue entreter duranteas aulas;

    35Respeita o ritmo e as especificidades dos estudantes; adequa oplanejamento de acordo com as necessidades dos alunos.

    34Identifica as dificuldades dos estudantes e se empenha para ajudarna superao; explica o contedo quantas vezes forem necessrias; insistente ao ajudar os alunos a entenderem o contedo.

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    29Tem pacincia, calma, equilbrio ao lidar com os estudantes; educado, cordial e atencioso com a turma; no perde a pacinciacom facilidade; compreensivo; flexvel.

    29Comunica-se bem; tem boa oratria; sabe se comunicar e falar alinguagem dos estudantes;

    27 criativo; inovador; mistura mtodos e estratgias de ensino parapassar os contedos aos alunos; concilia exerccios prticos s aulasexpositivas;

    26Estabelece um bom relacionamento interpessoal com o estudantee/ou com a turma; estabelece boa interao com a turma;

    22Articula dimenses tericas e prticas com exemplos e casos reais;preocupa-se com a aplicabilidade dos contedos.

    20Estimula o dilogo com os estudantes; cria um ambiente agradvel,que favorece a participao dos alunos.

    16 Sabe controlar a turma, mostrando rigidez quando necessrio;consegue manter a ordem; tem pulso firme; impe respeito e nodeixa a turma muito solta; tem autoridade sem ser autoritrio

    8Tira o estudante da zona de conforto, da passividade; conseguedesafiar os alunos, instigar a turma.

    Fonte: Narrativas coletadas em 2014.

    Esses elementos constituintes da representao do bom professor seriamexclusivos ao grupo especfico dos estudantes da ESPM ou se estenderiam a

    outros grupos de estudantes, independentemente de seu perfil socioeconmicoou meio social em que vivem? Em artigo recentemente publicado porpesquisadores de duas instituies pblicas de educao superior do Rio deJaneiro (UERJ e UFFRJ), os autores (Cndido, Assis, Ferreira & Souza, 2014)detectam em pesquisa com 294 estudantes de graduao percepes que seassemelham muito as observadas entre os estudantes da ESPM sobre o que fazde um docente um bom professor. Dos oito principais atributos citados no artigo,todos convergem com as citaes mais recorrentes mencionadas pelosestudantes da Escola (Cndido, Assis, Ferreira & Souza, 2014, p.359):

    didtico, Tem bom relacionamento interpessoal, Preocupa-se com o futuro do aluno, Possui atributos pessoais positivos, Possui motivao pessoal, Possui conhecimento tcnico, Possui compromisso e profissionalismo, e atualizado.

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    Seria possvel afirmar que essas caractersticas so invariveis,independentemente do tipo de instituio, perfil socioeconmico ou trajetriados estudantes, refletindo um perfil contemporneo dos jovens que ingressamna educao superior? Ou h atributos especficos que influenciam napercepo e, portanto, na representao que cada grupo discente faz do bomprofessor? Essas so questes cujo escopo desta pesquisa no permiteresponder com propriedade, mas que poderiam surgir como desdobramentosdas discusses aqui iniciadas.

    2.4 Aspectos atitudinais e traos da personalidade

    Entre as caractersticas mais valorizadas de um bom professor e que dizemrespeito a aspectos atitudinais, a espontaneidade e o bom humor ganhamdestaque nos relatos dos estudantes de graduao da ESPM Sul. Essa tendncia

    j havia sido detectada com igual peso nas narrativas da graduao dasdemais unidades no ano passado (2013) e aparecem nesses grupos de modomuito mais pronunciado do que na ps-graduao. A despeito de osestudantes de ps-graduao tambm valorizarem o fato de o professor seranimado e simptico turma, na graduao essas qualidades parecem sercondicionantes para o bom andamento das atividades. Um bom professor, narepresentao dos estudantes, precisa ser mpar, espontneo eengraado. E se o carisma e o bom-humor so os dispositivos que permitemconquistar a adeso da turma s atividades propostas, a calma e a pacinciado docente so o que garantem a conquista da confiana dos estudantes. Nosrelatos da graduao, as expectativas que recaem sobre o professor so as deque ele seja cordial e atencioso, sempre disposto a ouvir e orientar os alunos.

    O entusiasmo e o bom-humor so reflexo de uma qualidade maior, que noest ligada natureza apenas desta atividade profissional mas que adquire,ainda mais importncia pela posio de liderana que o docente ocupa: obom professor ama o que faz, tem paixo por ensinar e por sua rea doconhecimento, gosta do que faz e faz com prazer, assim todo o resto, incluindoo aprendizado do aluno, vir por consequncia. E, nesse sentido, provocaadmirao nos estudantes, servindo de exemplo e incentivo a eles.

    A questo da influncia e do poder de referncia exercidos pelo professor juntoaos estudantes tem sido objeto de estudos no campo das cincias sociais e da

    psicologia4, e avaliada como um ponto positivo em algumas recentespesquisas acerca da representao social do bom professor, como o caso dapesquisa realizada com estudantes da Universidade Federal Rural do Rio deJaneiro, j mencionada anteriormente:

    4Os estudos de Barros (1998) e Coleta, Coleta & Guimares (2005) so duas referncias na defesada importncia do fenmeno de identificao entre influenciador e influenciado no processo deensino-e-aprendizagem.

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    Em termos especficos, de acordo com o objetivo do presenteestudo, o professor ser mais eficiente na sua tarefa de ensinarna medida em que consiga despertar no aluno esse sentimentode identificao. Se o professor admirado e respeitado comopessoa, isso facilita a aprendizagem e o interesse pelas aulas epelo contedo (Cndido, Assis, Ferreira & Souza, 2014, p.359)

    O professor acessvel e disponvel, que paciente, tolerante e respeitoso aosestudantes , portanto, na viso dos participantes da pesquisa da ESPM Sul, umdocente democrtico, dedicado a ouvir os seus alunos com nimo, sobreassuntos no apenas ligados ao contedo das disciplinas e ao ambiente deaprendizagem, mas tambm vida de seus alunos, a fim de orient-los para asmelhores escolhas. Trata-se, em outras palavras, no apenas de um mentor ouorientador, mas de um tutor, que no apenas orienta, mas ampara e protege

    os estudantes.

    Quadro 4: Menes relativas aos aspectos atitudinais e traos da personalidade

    34 acessvel; aberto ao dilogo; prximo dos alunos;

    31 descontrado; entusiasmado; espontneo; bem humorado;engraado.

    23Tem carisma; mantm um certo nvel de intimidade com os alunos; amigo dos estudantes; um professor querido

    16Ama o que faz; gosta de ensinar, de partilhar o seu conhecimento e asua experincia; apaixonado pela profisso.

    Fonte: Narrativas coletadas em 2014.

    Uma maneira diferente e bastante interessante de se analisar a representaosocial dos estudantes da ESPM sobre o bom professor examinar os termos queos autores das narrativas utilizam para expressar as suas percepes e justificaro seu posicionamento. A nuvem de palavras apresentada na sequencia reneos termos mais recorrentemente empregados nos relatos dos estudantes, sendo

    o tamanho (maior ou menor) proporcional frequncia de utilizao nasnarrativas. Como se pode observar, termos tais como aluno, aula,contedo e conhecimento prevalecem como principais referncias doprocesso de ensino-e-aprendizagem, juntamente com verbos como fazer,

    dominar, passar e transmitir, fornecendo indcios de que os estudantes, defato, parecem definir o professor como o protagonista por excelncia noambiente educacional que envolve ensino e aprendizagem.

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    Figura 1: Palavras mais citadas nas narrativas coletadas em 2014, Graduao, ESPM-Sul, 2014

    Fonte: Narrativas coletadas em 2014.

    Como exerccio de comparao, a figura exposta na sequncia reneos termos mais utilizados em um documento escrito por autoresfinlandeses sobre essa mesma temtica5. O material, que faz parte docurso intitulado What makes a good teacher? (2009) e elaborado pelaFaculdade de Educao da University of Eastern Finland, estabelece asqualidades de um bom professor levando em conta seis categorias e 27subcategorias. So notveis as diferenas entre a concepo deeducao e de docncia existentes nos relatos dos estudantes da ESPMe as qualidades docentes adotadas pelo sistema de educaofinlands. Se a anlise das narrativas apresentada neste relatrio apontapara a centralidade do professor no processo educacional, aqui oestudante e a sua aprendizagem exercem claro protagonismo. Chamaateno o fato de no constarem na descrio finlandesa acerca doque faz um bom professor termos relacionados ao ensino, mas sim,expresses que remetem aprendizagem, tais como construir o prprio

    conhecimento, encorar e avaliar a aprendizagem, em refernciatanto ao estudante quanto instituio e/ou o docente. Isso ficaevidente na nuvem de palavras retratada a seguir, cujos termos principaisdestoam daqueles observados nos relatos dos estudantes da ESPM.

    5A partir da dcada de 2000, a Finlndia tem sido uma referncia internacional em Educao,em virtude dos resultados que os estudantes do pas tm alcanado no Programme forInternational Student Assessment (PISA). Diversos autores tm se dedicado a entender as razes

    que justificam os excelentes resultados dos estudantes (ROBERT, 2009), embora haja consenso deque o fenmeno se deve a mltiplas razes, a contribuio dos professores (seu perfil, formao,e atuao) so objeto de inmeras reflexes.

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    Figura 2: Palavras mais citadas no documento do curso What makes a good teacher?,University of Eastern Finland, 2009

    Fonte: What makes a good teacher?. School of Applied Educational Science andTeacher Education, University of Eastern Finland.

    3. Uma tentativa de sntese e os possveis desdobramentos

    A figura a seguir busca sintetizar os principais elementos sobre os quais se pautaa representao dos estudantes de graduao da ESPM-Sul acerca do que fazde um docente um bom professor. As caractersticas esto distribudas deacordo com as quatro categorias de anlise propostas e as zonas deinterseco indicam justamente as qualidades que transitam entre umacategoria e outra.

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    Figura 3: Representao Social do Bom Professor, Graduao, ESPM-Sul, 2014

    Fonte: Narrativas coletadas em 2014.

    Em termos gerais, a despeito do nvel de formao e/ou a titulao do professor

    no serem explicitados como importante exigncia por parte dos estudantes, inegvel que as qualidades mencionadas nos registros da ESPM-Sul manifestama expectativa por um perfil sofisticado de docente, que precisa dispor de umrico repertrio tcnico, conceitual e terico em sua rea de expertise, estar

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    sempre atualizado e ter reconhecida experincia profissional para alm dadocncia, sendo um exemplo de sucesso em seu campo profissional. Emconsonncia com todas essas caractersticas, ainda essencial que o professorpossua competncias especficas para lidar com os estudantes dentro e forada sala de aula, exercendo um papel fundamental no xito do processo deaprendizagem.

    Entre as categorias de anlise trabalhadas, observa-se que a percepoacerca do bom professor est fundada principalmente em competnciaspedaggicas e aspectos atitudinais vistos como indispensveis em um docente.No que concerne s competncias pedaggicas, o bom professor aqueleque explica bem e articula as dimenses tericas e prticas com exemplos ecasos reais, evidenciando a aplicabilidade dos contedos, explorando distintasmetodologias e mltiplos recursos didticos, tornando as aulas dinmicas,divertidas e agradveis. Na viso dos estudantes, o bom professor sabeidentificar o perfil da turma e adequar o planejamento das atividades a esteperfil, detectando eventuais dificuldades dos estudantes e se empenhandopara super-las. E, nesse sentido, tarefa imprescindvel do docente despertaro interesse dos estudantes pela disciplina, pelos estudos e, ainda mais, peloconhecimento.

    inegvel que os discursos dos estudantes acerca do bom professor refletemuma concepo de educao e de docncia (Mascret, 2012), que semanifesta sob diferentes mbitos. Evidencia-se, por exemplo, que os estudantes

    tm como referncia de docncia a atividade de ensino, que confere situao de aula uma importncia fundamental e que est pautada naexpectativa de que o professor transmita aos estudantes parte do estoque deconhecimento que possui. A cincia e o conhecimento so assim, vistos comoproduto e no como processo e, para que possam ser adquiridos pelosestudantes, necessrio que o professor seja aberto o suficiente para viabilizaressa transferncia. Ao expressarem tais ideias, os autores das narrativasprovavelmente desconsideram que o sucesso da utilizao de estratgias deensino ativas depende do protagonismo do estudante no processo de ensino-e-aprendizagem. A despeito de valorizarem os professores que promovem a

    participao dos alunos, prevalece nos relatos a viso de que o estudante temum papel mais reativo do que propositivo nas aulas e que a transmisso doconhecimento est condicionada, de partida, postura e ao do professordentro e fora da sala de aula.

    Embora estivessem presentes com muito mais fora nos relatos da graduaodo que nos da ps-graduao, o fato de muitas dessas expectativas descritasacima perdurarem nas representaes dos estudantesa despeito do avanosnos nveis de qualificao e da concluso de sucessivas etapas no sistema deeducao permite questionar se essas concepes sobre o professor no

    estariam arraigadas em construes sociais que ultrapassam o mbito doambiente de aprendizagem ou da educao formal. Em outras palavras, mais

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    do que denotar apenas um possvel desconhecimento ou imaturidade dosestudantes frente aos fundamentos do processo de ensino-e-aprendizagem,convm questionar se a valorizao de qualidades que misturamcompetncias pedaggicas com aspectos atitudinais e at traos depersonalidade do professor no reflexo de caractersticas culturais quepermeiam diferentes meios sociais e no esto restritas ao ambienteeducacional.

    A despeito de no se constituir uma regra social formalmente expressa, muitocomum no Brasil (diferentemente de outros pases) a expectativa de poucodistanciamento ou reserva entre os atores em diversas interaes sociais (comoprofissionais, comerciais, financeiras etc.). Sendo assim, a representao, noambiente educacional, de um profissional bem humorado e cuja proximidadequase se confunde com a de uma amizade, no seria apenas uma extensodas experincias observadas e vivenciadas por esses estudantes nos diferentesmeios sociais a que pertencem? Em outras palavras, seria um reflexo (no mbitodo ambiente de aprendizagem) do que existe na sociedade, em suas diferentesdimenses?

    Alm disso, outra questo se coloca: o estabelecimento de relacionamentos

    interpessoais mais estreitos e menos formais poderia ser compreendido, a priori,apenas como algo prejudicial ao processo de ensino-e-aprendizagem ou existe,de fato, um terreno potencialmente frtil para se aprender mais e melhor coma construo desse tipo de relao? Essas so algumas das perguntas cujos

    desdobramentos poderiam certamente fornecer elementos interessantes paraa melhor compreenso da representao do bom professor que perpassa osrelatos coletados.

    Alguns estudos recentes tm defendido o argumento de que certo grauafetividade construda entre professor e aluno no apenas inevitvel comotambm pode facilitar o processo de construo do conhecimento e daaprendizagem tambm na educao superior, desde que haja equilbrio porparte do professor e dos estudantes no estabelecimento destas relaes:

    As formas com que professor e aluno se relacionam perpassam

    por expresses de afetividade inerentes ao ser humano emtodas as suas relaes sociais, e influenciam a dinmica docomportamento e do entendimento mtuo, bem como odiscurso de cada um destes atores sociais, o que tem impactosobre os pressupostos bsicos para o processo da construo doconhecimento e da aprendizagem (Soares, 2009, p.137)

    Ornellas (2009) e Cndido, Assis, Ferreira & Souza (2014) tambmasseguram que o relacionamento interpessoal mais estreito entre docente eestudante pode constituir-se como favorvel aprendizagem, uma vez quenum contexto de parceria e amizade, o discurso do professor tem chance de

    ser bem escutado, ganhando maior credibilidade (Cndido, Assis, Ferreira &Souza, 2014: 360). Veras e Ferreira (2010), por sai vez, ressaltam que no se pode

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    tomar como automaticamente positivo esse estreitamento das relaesdefendido pelos estudantes, uma vez que ele pode contribuir tanto para aexistncia de experincias positivas como negativas, dependendo do acordo(tcito ou explicito) estabelecido entre os atores. Sendo assim, para que possaser profcua, fundamental que essa relao seja conduzida pelo professor deforma clara e objetiva. De modo geral, os prprios estudantes destacam nosrelatos a necessidade de existir algum equilbrio entre liberdade e disciplina, adespeito dessa linha separadora ser muito tnue na maioria das situaesvivenciadas nos ambientes formais de aprendizagem.

    Para que conquiste o interesse e a adeso dos estudantes, preciso que almde comprometido, dedicado, seguro e organizado, o bom professor ame o quefaz e, por isso, seja paciente, tolerante, flexvel e, de preferncia, descontrado,entusiasmado, dinmico e bem humorado. Este , indubitavelmente, segundoos relatos, o caminho mais seguro para se conquistar a confiana da turma econstruir um ambiente agradvel, que favorea a participao e amplie ointeresse do estudante pela matria.

    Os diferentes atributos citados pelos estudantes nos relatos analisados revelam,assim, uma representao sobre o bom professor que se aproxima no apenas

    da viso de um mentor mas tambm de um familiar prximo ou de um amigoque, com liderana, carisma e autoridade (no autoritarismo), desperte aconfiana, a admirao, o respeito e, por consequncia, a aceitao dosestudantes. justamente por isso, que os discursos esto to centrados em

    termos como alunos, aulas, prender a ateno, transmitirconhecimento, conquistar e motivar, sendo a importncia e o sucesso doprofessor proporcionais sua capacidade de provocar adeso dos estudantess atividades propostas.

    Seria essa, no entanto, uma das incumbncias que competem aos docentesem pleno ambiente da educao superior? Ou se pode dizer que elesadquiriram tarefas oriundas de outros meios sociais ou mesmo outros nveis deensino, fazendo com que o papel da docncia superior transborde para muitoalm do que deveria lhe caber de fato? (Nvoa, 2009). Trata-se de questes

    que, embora no possam ser respondidas no escopo desta pesquisa,mereceriam ateno especial em um aprofundamento da anlise aquiiniciada.

    4. Consideraes finais

    Assim como j havia sido detectado nas etapas anteriores da pesquisa, aanlise dos relatos dos estudantes de graduao da ESPM-Sul permite concluirque ainda falta entre os estudantes a percepo clara de que so uma pea

    chave do processo de ensino-e-aprendizagem, e para tanto, seria importantese exercerem como protagonistas e no coadjuvantes na construo do

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    conhecimento. E, diante desse quadro, o papel do docente passa a ser aindamais complexo e fundamental, uma vez que cabe a ele a tarefa inicial deconscientizar e sensibilizar os estudantes, criando condies para que estesaprendam a pensar, criticar, raciocinar, questionar incertezas e, assim, tornem-se atores capazes de se mobilizar, de fato, para a aprendizagem.

    5. Referncias

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