relatório anual pibic 2013

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  • 7/22/2019 Relatrio Anual PIBIC 2013

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    Departamento de Histria

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    CONTAR A VIDA ACADMICA: MEMORIAIS DE PROFESSORESTITULARES DA PUC-RIO COMO ESCRITAS AUTOBIOGRFICAS

    Aluno: Reinan Ramos dos SantosOrientadoras: Margarida de Souza Neves e Silvia Ilg Byington

    Introduo.Desde sua fundao em 1940, a PUC-Rio uma universidade que enfatiza o

    desenvolvimento de pesquisas e da cincia no Brasil. Partindo desse projeto consolidado deuma universidade de pesquisa, a PUC-Rio conseguiu reconhecimento e excelncia no s noque diz respeito aos cursos de graduao, mas tambm na ps-graduao.

    Por entender que a Universidade deveria construir para si uma memria institucional

    para a formulao de projetos futuros, a Vice-Reitoria Acadmica teve a iniciativa de, em2006, criar o Ncleo de Memria da Ps-Graduao e da Pesquisa na PUC-Rio. O Ncleotinha como objetivo inicial recolher material de acervos privados e dos diversosDepartamentos e rgos da Universidade, organiz-los, cadastr-los e public-los no site(www.ccpg.puc-rio.br/nucleodememoria/). Em 2008 o Ncleo foi ampliado e passou a tratarde toda a gama de atividades universitrias, graduao e ps-graduao, e tornou-se o Ncleode Memria da PUC-Rio.

    O Ncleo assume a feio de um lugar de memria, no sentido que tal conceito ganhana formulao do historiador Pierre Nora, ou seja, no trplice sentido de ser um lugar fsico deconstruo da memria, um lugar cuja funo fazer memria e um lugar simblico damemria institucional da Universidade.

    Portanto, atravs dos seus diferentes usos e servios voltados comunidadeacadmica, o Ncleo reconhecido institucionalmente como lugar de memria e serve dereferncia para toda a PUC-Rio e para pesquisadores de outras instituies e ncleos de

    pesquisa.

    No Ncleo de Memria da PUC-Rio, condio primeira o trabalho coletivo, o que setornou ainda mais possvel no ano de 2011, quando obtivemos sala prpria no EdifcioCardeal Leme, no campus Gvea. Sob a coordenao da professora Margarida de Souza

    Neves e da pesquisadora Silvia Ilg Byington, a equipe composta, em 2013, pelospesquisadores Clvis Gorgnio e Eduardo Gonalves, pelo fotgrafo Antnio Albuquerque, epelos bolsistas: Igor Valamiel F. Martins, Luana de Arajo de Souza, Priscila Sobrinho de

    Oliveira, Helio Cannone, Pedro Fraga Vianna e Reinan Ramos.O presente Relatrio tem como objetivo descrever as atividades desempenhadas por

    esse bolsista do Ncleo de Memria da PUC-Rio no perodo de junho de 2012 a junho de2013. Divide-se em duas partes: a primeira, o Relatrio Tcnico, de carter descritivo, relataas atividades realizadas pelo grupo de pesquisa como um todo, que uma parte idntica doRelatrio Tcnico do tambm bolsita do Ncleo de Memria Igor Valamiel, e as minhascontribuies individuais ao andamento do projeto; a segunda parte, o Relatrio Substantivo,apresenta um texto que consolida o meu trabalho de pesquisa at o momento.

    Atividades em equipe.

    A equipe do Ncleo de Memria realiza basicamente as seguintes tarefas:

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    01. Localizao e registro de documentao escrita, iconogrfica, filmogrfica esonora, direta e indiretamente relacionada ao tema do projeto nos acervos da PUC-Rio;

    02. Seleo, coleta e tratamento do material documental;

    03. Consulta a professores, pesquisadores, ex-alunos e funcionrios administrativospara coleta e aferio de documentos e informaes pesquisadas;

    04. Identificao de fotografias coletadas e selecionadas para cadastro no acervo doNcleo de Memria da PUC-Rio;

    05. Catalogao e sistematizao do material documental atravs de digitalizao ecadastro em metadados no acervo do Ncleo de Memria da PUC-Rio;

    06. Reviso de transcrio de entrevistas para suporte de texto digital;

    07. Realizao de seminrios de leitura internos com a participao dos componentesda equipe para discusso de textos tericos sobre conceitos de Memria, Identidade e HistriaOral. Esse ano os seminrios contaram com a presena da professora Tnia Dauster, doDepartamento de Educao e de alunos de ps-graduao de Histria, Letras e de Educao;

    08. Realizao de reunies tcnicas semanais com a participao do grupo depesquisadores e bolsistas, tendo como principais objetivos elaborar projetos, sistematizar aagenda de tarefas, trocar experincias e sanar eventuais dvidas sobre a rotina de trabalho;

    09. Publicao do acervo atravs do website do Ncleo de Memria da PUC-Rio;

    10. Produo e edio de contedo, textos e imagens, para publicao no website doNcleo de Memria da PUC-Rio;

    11. Produo do Anurio da PUC-Rio;

    12. Produo das Crnicas de Memria publicadas em todas as edies do Jornal daPUC;

    13. Manuteno e atualizao do website institucional do Ncleo de Memria da

    PUC-Rio;14. Atendimento a solicitaes relativas pesquisa no acervo, cesso e autorizao de

    uso de documentos e perguntas sobre temas abordados. As consultas, internas e externas Universidade, so respondidas diretamente pela equipe ou encaminhadas aos setoresresponsveis;

    15. Cpias em mdia digital dos documentos solicitados pelos diversos setores daUniversidade e externos a ela;

    16. Proposta de uma nova disposio para os objetos relativos histria da PUC-Rioconservados em vitrines da Reitoria, e execuo de tal proposta;

    17. Outras atividades;

    17.1. Ida da equipe ao Santurio da Penha, localizado no bairro da Penha noRio de Janeiro com objetivo de verificar documentos referentes ao Cruzeiro daUniversidade, inaugurado em 1941, ao lado da Igreja da Penha, em homenagem a fundaoda primeira Universidade Catlica no Brasil, a PUC-Rio;

    17.2. O Ncleo de Memria participou da organizao e participou daConferncia Internacional Memria: Amrica Latina em Perspectiva Internacional eComparada, que culminou com a 61 edio da Caravana da Anistia. O Ncleo de Memriaforneceu fotografias de eventos relacionados presena de alunos e professores da PUC-Rioem eventos polticos durante os anos da ditadura militar dos anos 1960-70, e a profa.Margarida de Souza Neves participou do painel Histria, Memria e Testemunho no dia

    15/08/13;

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    17.3. Participao de representantes do Ncleo de Memria no Simpsio deHistria da Informtica na Amrica Latina e Caribe - CLEI XXXVIII, em Medelln,Colmbia. As profas. Margarida de Souza Neves e Silvia Ilg Byington participaram do eventocom a apresentao do artigo El B-205 en la PUC-Rio. Historia y memoria de la primeracomputadora para fines cientficos en una Universidad brasilea, escrito em colaborao

    com o prof. Arndt von Staa (INF).17.4. Apoio do Ncleo de Memria s comemoraes dos 60 anos do

    Departamento de Comunicao da PUC-Rio, cedendo dados do acervo;

    17.5. Produo do Anurio PUC 2012 a ser lanado no segundo semestre de2013;

    17.6. Pesquisa e atualizao de dados para a cronologia sobre a PUC-Rio dohot site dos 70 anos, para incluso no Anurio PUC-Rio 2012 em edio digital;

    17.7. Sequncia atividade de pesquisa no acervo da Reitoria da PUC-Rio, emprocessamento desde maio de 2010;

    17.8. Pesquisa de documentao presente na Diretoria de Admisso e Registro

    (DAR), realizada na sala do PIUES (Programa de Integrao Universidade, Escola eSociedade) e posteriormente na sala L074. A atividade consistia em limpeza e anlise domaterial, com seleo de documentos de importncia para a PUC-Rio e indicao de descartede outros. O contedo da documentao basicamente provas de vestibular e de disciplinas,currculos dos cursos e relatrios;

    Atividades individuais: Reinan Ramos dos Santos.No perodo que compreendido por este relatrio (junho de 2012 a junho de 2013)

    realizei as seguintes atividades:

    I. Participao na elaborao do Anurioda PUC-Rio de 2011O Ncleo de Memria ficou responsvel pela elaborao do Anurio da PUC-Rio de

    2011. Os bolsistas receberam algumas tarefas para auxiliar o projeto:

    1.1 Preparo de formulrios com informaes dos Cursos e Departamentos daUniversidade. As informaes foram recolhidas dos sites das respectivas unidades, da AgendaPUC-Rio 2012 publicada pelo prprio Ncleo de Memria e dos Catlogos de Graduao ePs-Graduao da PUC-Rio;

    1.2 Foram divididas pelos membros da equipe as tarefas necessrias para a elaboraodo Anurio, dentre elas fazer lista uma das siglas utilizadas na PUC-Rio, produzir fotografiasdas equipes de rgos da Universidade e produo de vdeos para a verso digital do Anurio.Junto com o bolsista Helio Cannone fiquei responsvel pela ltima tarefa listada. Juntosfizemos o levantamento de pessoas que foram entrevistadas e de vdeos j existentes no siteda PUC-Rio e produzidos pelo Projeto Comunicar a partir dos temas:

    Implantao da Agenda Ambiental; Internacionalizao da Universidade Novas Unidades (neste caso entrei em contato com professores e alunos da Unidade

    de Biologia situada no Parque da Cidade, na Gvea);

    Ensino a Distncia (entrei em contato com o aluno Jos Marcos, do Maranho, quese graduou em Histria na modalidade ensino distncia e providenciei o envio de

    sua entrevista gravada em vdeo, includa no Anurio); Iniciativas comunitrias e culturais dos alunos;

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    Prmios e distines recebidos; Funcionrios; Dos Projetos Acadmicos aos Resultados Sociais; Saudades (Professores, funcionrios e pessoas importantes para a Universidade

    falecidos no ano de 2011); Novos Cursos: Graduao e Ps-Graduao (entrei em contato com o coordenador

    da graduao em Biologia, institudo em 2011 na PUC-Rio);

    Ao Social; Acolhimento aos novos alunos 2011.

    II. Publicao no Jornal da PUC.O Ncleo publica no Jornal da PUC uma srie de artigos intitulada Crnicas de

    Memria. Em 2012, as crnicas buscavam fazer memria daqueles cujos nomes presidem(edifcios, salas, auditrios, etc). Na edio 261, de 11/10/2012, foi publicado o texto A Sala

    Myriam Alonso, artigo de autoria da Professora Margarida de Souza Neves, para o qualrealizei a pesquisa de informaes. J na edio 263, de 05/11/2012, foi publicado o artigo

    Para lembrar do Walmer, escrito em conjunto por mim e pela Professora Margarida, queconta a histria da Sala Walmer. Segue o artigo:

    Para lembrar do WalmerEm 1994 um menino transformou a dor da perda de um amigo em

    lembrana para sempre fixada em um desenho. Fabrcio, esse o nome domenino, saia do colgio e vinha para o Departamento de Histriaencontrar sua me, a professora Flvia Eyler. Enquanto esperava a hora davolta para casa, brincava nas salas do Departamento. Foi assim que fezamizade com um adulto chamado Walmer, para ele o companheiro deanimadas partidas de futebol jogadas entre cadeiras e mesas cheias delivros.

    Naquele ano de 1994, depois de uma longa luta, Walmer, o amigoadulto de Fabrcio morreu. O menino sabia que no haveria mais futebolnem brincadeiras. Com a sabedoria das crianas, decidiu pregar uma pea morte e fazer eterno seu amigo em um retrato surpreendentemente fieldaquele que teve o dom de fazer que suas longas horas de espera seenchessem de alegria.

    Walmer Jacintho Soares comeou a trabalhar na PUC-Rio em1978. Foi um professor muito querido e lembrado como uma presenaamiga, um excelente profissional e um homem corajoso diante dosdesafios da vida. Para o professor Marcelo Jasmin, era sobretudo "uma

    pessoa solidria" e "uma personalidade carinhosa e sensvel". Para aprofessora Flvia Eyler, trs palavras resumem o que ele foi: "sabedoria,simplicidade e proteo". Para todos os que conviveram com ele, inesquecvel.

    No 5 andar do Frings existe uma Sala Walmer. A escolha do nome reflete o impactode sua morte precoce e o carinho de todos que o conheceram. Hoje, possvel que muitosalunos e alguns dos novos professores e funcionrios do Departamento de Histria no saibam

    por que a sala ganhou esse nome. Mas Fabrcio Eyler, o menino que desenhou o amigo que

    Walmer JacintoSoares (desenho de

    Fabrcio Eyler)

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    perdera e hoje doutorando do Departamento de Letras da PUC-Rio sabe muito bem que asala leva o nome de um grande homem.

    Margarida de Souza Neves e Reinan Ramos dos Santos

    Ncleo de Memria da PUC-Rio

    III. Digitalizao e catalogao de documentos

    O acervo do Ncleo de Memria da PUC-Rio constitudo atravs de pesquisa, coleta,seleo, tratamento, catalogao e sistematizao de documentos relacionados memria daUniversidade. Por documentos, entendemos no s aqueles que so escritos, mas tambmimagens, vdeos, entrevistas. Tais documentos so digitalizados e cadastrados em fichas demetadados, como este que segue, a ttulo de exemplo:

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    Estes cadastros ficam disponveis no acervo digital do Ncleo de Memria(www.ccpg.puc-rio.br/nucleodememoria/), e podem ser consultados por qualquer usurio.Cadastrei basicamente fotos da histria recente da Universidade, a maioria delas de autoria dofotgrafo Antnio Albuquerque. Cadastrei um total de 35 metadados.

    Fiquei tambm responsvel pela digitalizao e catalogao da Coleo PUC-Rio, umacervo de documentos reunidos pela Professora Stella Ceclia Duarte Segenreich, atualprofessora da Universidade Catlica de Petrpolis. O acervo antes de chegar ao Ncleo,estava alocado no PROEDES (Programa de Estudos e Documentao Educao e Sociedadeda UFRJ), sendo doado em 2010. Digitalizei mais da metade do acervo.

    IVPreparao de seminrios

    Durante este ano, como parte em conjunto das atividades do Ncleo de Memria daPUC-Rio, realizamos mensalmente a leitura de captulos do livroLembrar Escrever Esquecer,de Jeanne Marie Gagnebin. uma coletnea de artigos da autora publicada em 2006 pela

    Editora 34, que para o Ncleo, tem sido importante para refletirmos sobre a atividade dohistoriador, sobre os conceitos de memria, esquecimento e histria.

    Em primeiro lugar, fiquei responsvel pela preparao do primeiro seminrio deleitura, baseado no primeiro captulo do livro chamado A memria dos mortais: notas parauma definio de cultura a partir de uma leitura da Odisseia. Em segundo, fui responsvel

    por enviar os informes e textos dos seminrios queles que deles iriam participar.

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    Relatrio Substantivo.

    CONTAR A VIDA ACADMICA: MEMORIAIS DE PROFESSORESTITULARES DA PUC-RIO COMO ESCRITAS AUTOBIOGRFICAS

    Aluno: Reinan Ramos dos SantosOrientadoras: Margarida de Souza Neves e Silvia Ilg Byington

    IIntroduo.

    O presente trabalho pretende analisar uma srie de cinco memoriais acadmicosapresentados por professores que se candidataram a professores titulares da PUC-Rio. Aapresentao de um Memorial um dos requisitos exigidos no processo de promoo quela

    que a mais alta categoria da carreira docente da Universidade. O processo de promoo temincio na Comisso de Carreira Docente dos Departamentos, passa pela Comisso de CarreiraDocente dos Centros e culmina na anlise e avaliao feitas pela Comisso Central deCarreira Docente, que encaminha ou no a proposta de promoo para professor titular parahomologao pelo Conselho Universitrio realizado. Dos memoriais conservados nosarquivos da Vice-Reitoria Acadmica, foram selecionados cinco como documentao

    principal para esta pesquisa.

    A escolha do tema obedeceu a um duplo objetivo, por um lado o de refletir sobre asespecificidades da escrita autobiogrfica, por outro, o de, ao entender os Memoriais como

    uma peculiar escrita autobiogrfica, buscar nestes as possveis relaes com a histria e amemria da PUC-Rio.

    Este texto surge como uma tentativa de tratar das questes com as quais me depareidurante a leitura dos memoriais e de textos tericos de apoio. Nas reunies de equipe, cadaetapa do trabalho foi analisada e discutida Fizemos em equipe, inclusive, um laboratrio deleitura conjunta do memorial do Professor Luiz Fernando Gomes Soares, do Departamento deInformtica da PUC-Rio, como um primeiro exerccio de anlise deste tipo de documento.Isto me possibilitou uma melhor compreenso sobre a natureza desse tipo de documento,sobre questes terico-metodolgicas implicadas no trabalho e sobre as questes quedeveriam orientar a leitura e a anlise desse tipo de documentao.

    Pretendo aqui apontar e as primeiras questes suscitadas pela leitura desse tipo dematerial e iniciar um trabalho de anlise dessa documentao, que se desdobrar em etapas

    posteriores da pesquisa: em primeiro lugar, uma definio da especificidade do materialestudado; em segundo, inscrev-lo no campo de reflexo sobre a escrita autobiogrfica eapresentar posies tericas sobre o tema da autobiografia e suas possveis relaes com osMemoriais, e por ltimo, apresentar mais questes que se apresentaram durante a leitura dosMemoriais sobre suas relaes com a histria e a memria da PUC-Rio e com o tema da

    funo social do professor.

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    IIA especificidade do Memorial Acadmico.

    A escolha dos memoriais para a pesquisa no foi aleatria. Ao tentar dar conta dasreas cientficas em que a PUC-Rio atua, foram escolhidos para a anlise cinco memoriais.Foram estabelecidos alguns critrios para esta seleo. Com base na diviso administrativa e

    acadmica da Universidade, selecionei para a pesquisa memoriais de professores datadosentre 1981 e 2003, que esto em atividade atualmente na PUC-Rio, que tiveram sua trajetriaacadmica como discentes e como docentes nesta Universidade e que representem os trsCentros da PUC-Rio que mantm atividades sistemticas de graduao e ps-graduao. Poresse ltimo critrio, o CCBM (Centro de Cincias Biolgicas e Medicina) no entrou naamostragem do trabalho.

    Do Centro Tcnico Cientfico selecionei o memorial do professor do Departamento deFsica Luiz Carlos Scavarda do Carmo (sem data), atual Vice-Reitor Administrativo, e do

    professor do Departamento de Informtica Luiz Fernando Gomes Soares (2003). Do Centrode Cincias Sociais, foi selecionado apenas um Memorial, o do professor do Departamento deEconomia Marcelo de Paiva Abreu (1989), em funo do fato de que, entre os anos indicados,apenas dois dos professores do CCS que esto em atividade tornaram-se professores titulares,um dos quais, o professor Roberto Da Matta, que no foi discente da PUC-Rio e ingressou emseus quadros aps longa carreira na UFRJ, o que faz que seu Memorial fuja aos critriosfixados, ainda que possa vir a ser utilizado, em etapa posterior, para efeitos comparativos. Edo Centro de Cincias Humanas e Teologia, foram selecionados os memoriais do professor doDepartamento de Filosofia Danilo Marcondes Filho (1996), atual Assessor Especial daReitoria, e da professora do Departamento de Educao Vera Ferro Candau (1981).

    muito importante frisar que estes memoriais no esto disponveis para consultapblica. A autorizao dada para consultar os documentos veio da Vice-Reitoria Acadmica,que os possui em seu arquivo, em funo do trabalho do Ncleo de Memria. Por razes dediscrio, as citaes textuais feitas dos Memoriais no indicaro seus autores, ainda que noseja muito difcil inferi-las.

    Para refletir sobre a especificidade dos memoriais acadmicos dos professores daPUC-Rio, foi analisado, a ttulo de comparao e porque traz uma reflexo sobre o significadodos Memoriais apresentados para a obteno da titularidade, o Memorial da professora Magda

    Becker Soares, que professora titular, livre-docente e emrita da Universidade Federal deMinas Gerais onde atua na rea de Educao h mais de 50 anos. Em 1990, o Memorial queescreveu para receber a titularidade na UFMG foi publicado em livro pela Cortez Editora,com o ttulo de Metamemrias Memria. Travessia de uma Educadora no qual ela faz um

    belo estudo sobre sua trajetria como docente. Magda Soares assinala em seu memorial queao participar da reformulao dos ordenamentos bsicos do Conselho Universitrio daUFMG, no que dizia respeito ao corpo docente, foi entusiasta da introduo de um Memorialcomo requisito para a promoo do professor universitrio categoria docente de titular [1].

    Segundo Magda Soares, ser Professor Titular o ltimo degrau da carreira acadmica.

    Ao defender a exigncia de um Memorial como requisito para a titulao, afirma que somenteao fazer uma tese cujo objetivo a prpria vida acadmica [2] o professor ultrapassa a

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    simples enumerao do que foi feito, a mera listagem dos inmeros congressos e bancas dasquais participou, como no curriculum vitae, e analisa, critica e justifica aquilo que fez. Afirmaque s quem pode escrever um memorial so aqueles que tm um passado acadmico paracontar, e s a esses deveria ser oferecido o acesso ao ltimo degrau da carreira docenteuniversitria [3]. Portanto, ao supor que a vida acadmica do professor que intenta atitularidade um histria, o objeto do Memorial torna-se esta vida acadmica, o que faz dosMemoriais peculiares escritas autobiogrficas, cuja clave a trajetria acadmica e o objetivo mostrar a uma comisso de pares que est em condio de ascender ao lugar mais

    proeminente da carreira docente universitria.

    Nos memoriais analisados, percebe-se por parte dos professores o compromisso comuma anlise crtica de suas vidas acadmicas. Alm de ser uma das exigncias do processo de

    promoo titularidade, o Memorial uma oportunidade de olhar para o passado e traar opercurso que o levou at o ponto onde est. o momento de analisar quais foram os

    acontecimentos importantes desta vida, que tambm acadmica, mas que est atravessadapela vida pessoal do professor e por sua compreenso da funo social da tarefa universitria.

    Em um destes memoriais ntida uma preocupao com este estudo crtico, estaanlise da carreira acadmica. Cito o Professor Luiz Carlos Scavarda do Carmo, em uma dassesses de seu memorial que ele denomina Um memorial:

    Um memorial um esforo autobiogrfico difcil, um interessante exerccio dereflexo sobre a prpria carreira, da razo de ser de nossos passos profissionais, denossas vontades e iluses, mas tambm um curioso exerccio de auto-avaliao, de

    anlise das oportunidades que se nos apresentaram, do reconhecimento das pessoasque exerceram influncias sobre ns e da nossa compreenso do mundo e de suasmudanas.

    [...]

    Este memorial um estudo crtico da carreira de um professor-pesquisador no Brasildos ltimos 30 ou 35 anos visto pelos seus prprios olhos e marcado pela sua prpriaavaliao do ambiente universitrio brasileiro e, em particular do da PUC-Rio.[4]

    Este trecho nos fornece algumas pistas do que tomarei por Memorial nesta pesquisa. Seu autor

    afirma que o Memorial que pretende escrever um esforo autobiogrfico. Por que umesforo autobiogrfico? O que configura um esforo autobiogrfico? Estas perguntasimplicam na reflexo sobre o estatuto do gnero autobiogrfico e na questo da possibilidadede inscrever os Memoriais acadmicos neste gnero.

    IIIOs Memoriais Acadmicos como Autobiografias.

    Um dos maiores estudiosos sobre a escrita autobiogrfica na atualidade PhilippeLejeune. Seu ensaio mais importante intitulado O Pacto Autobiogrfico, publicado em 1975,nos fornece algumas informaes sobre a especificidade da escrita autobiogrfica e algumas

    proposies tericas relevantes para a reflexo sobre o tema aqui estudado.

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    Lejeune inicia seu texto exprimindo sua inteno de estabelecer uma definio para ognero autobiogrfico, diferente da biografia, do romance pessoal, do dirio ntimo, e deoutros vrios tipos de escrita de si. Para estabelecer esta definio, ele se coloca antes de tudona posio de leitor, a nica que para nosso autor, e para ns, permite captar maisclaramente o funcionamento dos textos (suas diferenas de funcionamento), j que foramescritos para ns, leitores, e nossa leitura que os faz funcionar [5]. Tambm afirma que

    partiu de uma srie de oposies entre as vrias escritas de si para tentar definir aautobiografia, e diferenci-la neste conjunto. O autor chega seguinte definio:

    DEFINIO: narrativa retrospectiva em prosa que uma pessoa real faz de suaprpria existncia, quando focaliza sua histria individual, em particular a histria desua personalidade. [6]

    Ele especifica mais ainda: a autobiografia deve ser uma narrativa em prosa, na qual o assuntotratado deve ser a vida individual ou a histria de uma personalidade; a identidade do autordeve ser a mesma do narrador e este narrador, que deve ter a mesma identidade do

    personagem principal, conta a vida a partir de uma perspectiva retrospectiva [7]. Para Lejeuneestes so os elementos que diferenciam a autobiografia de outros gneros de escrita de si.

    primeira vista, as definies de Lejeune soam um pouco normativas, como se nohouvesse nenhuma flexibilidade para incluir nelas outras formas de discursos autobiogrficos.Seguindo este esquema, os Memoriais ficariam de fora da definio feita por Lejeune do que autobiografia. Mesmo contendo alguns dos elementos constitutivos da autobiografia oMemorial no completa o quadro proposto por Lejeune. O Memorial acadmico no conta a

    vida individual ou a histria de uma personalidade. Diferenciando-se da autobiografiatradicional, no Memorial conta-se o percurso profissional, que est carregado da histria domeio acadmico ao qual o professor pertence. O objeto do Memorial a vida acadmicadaquele que o escreve. , por exemplo, o percurso para a filosofia [8] de Danilo Marcondes,ou o caminhar pela rea de informtica [9] de Luiz Fernando Soares que est em jogo.

    Entretanto, Lejeune deixa algumas brechas para a interpretao do que tambm podeser considerada uma autobiografia. De um lado, na abertura do texto ele indica que a posiode leitor a mais adequada para interpretar os textos, e de outro ele afirma que uma certalatitude dada ao classificador no exame de casos particulares [10], casos estes entendidos

    como outros tipos de escritas de si que no se encaixariam na definio por ele proposta. Emoutras palavras, esta brecha permitiu pensar no caso do Memorial acadmico (segundo minha

    posio de leitor e de classificador), tal como escreveu Scarvarda: um esforo autobiogrfico[ou] um estudo crtico da carreira de um professor [11], e no limite uma autobiografiaacadmica.

    Entendendo que o Memorial uma narrativa da trajetria acadmica daquele quebusca a titularidade, ou seja, uma autobiografia acadmica, atravs deles podemos entendermelhor a noo de ato autobiogrfico que Contardo Calligaris, cientista social e psicanalistaitaliano radicado no Brasil, traz para o debate sobre o gnero da autobiografia. Calligaris,

    assim como Lejeune, tambm est envolvido no debate sobre o estatuto da produoautobiogrfica, porm, diferente de Lejeune, no se nota uma preocupao com uma definio

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    rgida do gnero autobiogrfico em sua reflexo, mas sim uma tentativa de aproximao destecom a noo de ato autobiogrficoproposta pela crtica literria norte-americana ElisabethBruss [12].

    Em seu texto Verdades de Autobiografias e Dirios ntimos, publicado pela revista

    Estudos Histricos, Calligaris faz uma reflexo histrica sobre o surgimento do atoautobiogrfico e situa seu incio no advento do indivduo moderno. Enxergar a vida comouma aventura, uma trajetria individual um fenmeno historicamente e culturalmentemoderno que no existiu desde sempre. A (auto)biografia s passa a ser pensada quando secomea a enxergar a vida como uma histria individual. Em suas palavras, a autobiografiavem a existir como gnero quando a vida de cada um, a experincia de vida, j umaautobiografia, antes mesmo que seja escrita ou no [13].

    Esta noo de ato autobiogrfico englobaria de forma mais ampla, e menosexclusiva, uma gama maior de produes autobiogrficas, inclusive as que no esto escritasou publicadas, pois a noo de ato abarca tambm a fala e outras formas de expresso.Segundo a interpretao de Calligaris, o ato autobiogrfico [...] no nenhumametalinguagem da vida, por assim dizer. A vida do sujeito moderno j um ato narrativo.[14] A vida em si j um texto, necessitando apenas de um editor, que no o editor nosentido portugus da palavra; tampouco ele escreve; ele aquele que rearranja ou melhora oque j um texto [15]. notvel sua preocupao com a importncia da ideia de que aautobiografia a prpria forma de ver a vida moderna e no simplesmente a sua escrita. Aolongo do texto as expresses escrita de si ou escrita do eu, recorrentes nas reflexes edefinies sobre a (auto)biografia, nem ao menos so explicitadas.

    Com base nesta noo de ato autobiogrfico, pode-se supor que a vida acadmica j si um texto e que o Memorial o momento de rearranjar os acontecimentos, de editar emforma de texto o que foi feito nesta vida. Seguindo mais um vez a reflexo de Magda Soares,a exigncia deste Memorial j supe que o professor que busca a titularidade tenha uma vidaacadmica para contar passvel de algum tipo de representao, neste caso escrita. Em outras

    palavras, a ato autobiogrfico da escrita do Memorial uma representao possvel de umavida acadmica que j existe.

    Em seu textoA Iluso Biogrfica Pierre Bourdieu concorda com Calligaris ao afirmar

    que falar de histria de vida pelo menos [...] pressupor que a vida uma histria [16 ]. Apartir de sua anlise, pode-se notar a ideia que o ato autobiogrfico um esforo deapresentao de si [17], que um bom ponto de partida para pensarmos a funo ltima e atmesmo burocrtica do Memorial. Para Bourdieu, tudo leva a crer que o relato de vida tende aaproximar-se do modelo oficial da apresentao oficial de si, como o curriculum vitae, ou acarteira de identidade [18]. Neste sentido, o Memorial acadmico um ato autobiogrfico quetenta criar um sentido para a vida de forma artificial [19], pressupondo que esta vida j umahistria a priori, e uma apresentao oficial de si, neste caso a do professor. apresentaomas tambm representao escrita da vida acadmica para um pblico, que no caso do

    Memoriais restrito banca examinadora do concurso de titularidade.

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    importante localizar o lugar de fala de cada um destes autores aqui apresentados.Suas concepes e formulaes sobre o gnero da (auto)biografia vm de diversas reas doconhecimento. Philippe Lejeune, por exemplo, um filsofo francs especialista emautobiografias, tendo dedicado toda a sua vida ao estudo e anlise deste tipo de discurso.Contardo Calligaris um psicanalista italiano, radicado no Brasil, formado em Letras e TeoriaLiterria. Alm de Pierre Bourdieu que um socilogo tambm francs. A anlise tericadestes Memoriais seguiu, portanto, uma perspectiva interdisciplinar, porm manteve sempreum olhar atento Histria e a partir da Histria.

    IVOs Memoriais analisados: denominadores comuns.

    A leitura dos Memoriais tornou possvel identificar alguns pontos em comum entreeles, principalmente entre aqueles em que uma aproximao crtica da carreira acadmica

    pode ser percebida de forma mais ntida. Um dos critrios para a escolha destes Memoriais foio de que todos os professores-autores dos Memoriais tivessem vivido sua trajetria acadmica

    prioritariamente na PUC-Rio. Mesmo com a sada ao exterior para mestrados e doutorados,estes professores sempre voltaram para a PUC-Rio. A PUC-Rio aparece, inclusive, noMemorial do Professor Scavarda como sua Alma mater [20], expresso latina que significame que gera e nutre e que se refere s Universidades em seu papel formativo. Este um

    primeiro denominador comum: todos os professores-autores dos Memoriais selecionados tmsua carreira acadmica marcada pela trajetria na PUC-Rio. Esse foi um critrio de seleoem funo do interesse do Ncleo de Memria em aprofundar a viso desses professores, emtese os mais qualificados de Universidade, sobre a PUC-Rio, seu papel formativo, suascaractersticas e diferenciais como universidade e sua funo social.

    Um segundo ponto em comum a explicitao dos desafios, e mesmo dos conflitosque marcam a trajetria acadmica de cada um e sua relao direta com a histria da PUC-Rio, sobretudo no que diz respeito ao exerccio de cargos e funes na administraoacadmica. Todos os professores-autores dos Memoriais tiveram papeis importantes dentro daadministrao da Universidade. Em pelo menos trs Memoriais, pode-se notar que estes

    professores-autores assumiram cargos desde as coordenaes departamentais de suas reas deatuao at cargos como o decanato de Centros e Vice-Reitorias. E todos os Memoriaisanalisados destacam a participao de seus autores nos rgos colegiados da Universidade. O

    professor Danilo Marcondes assinala em seu Memorial a experincia administrativa que

    adquiriu durante sua trajetria na PUC-Rio:

    O Departamento de Filosofia da PUC havia passado, no momento de meu retorno dodoutorado, por uma grave crise, que resultou na sada de alguns de seus professoresmais antigos e qualificados. Tnhamos ento a misso de reerguer o departamento e,sobretudo o curso de ps-graduao que sempre fora muito bem conceituado. Issotrouxe ao corpo docente uma grande responsabilidade, bem como uma grande carga detrabalho, com cursos, orientaes de monografias e dissertaes, etc. Em 1981 passei a

    professor de tempo integral, como professor assistente, e em 1982 assumi a

    coordenao de ps-graduao. Fui tambm eleito para o Conselho Departamental doCTCH e, um pouco depois, tornei-me representante do Centro no Conselho de Ensino

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    e Pesquisa. Essas novas funes revelaram-me a importncia da participao do corpodocente na gesto da universidade e nos rgos colegiados, abrindo-me uma nova

    perspectiva sobre a vida da universidade, sua estrutura e seu funcionamento, suasdificuldades e lutas para levar adiante seu projeto acadmico de excelncia no ensinointegrado pesquisa. [21]

    Ao falar da experincia de administrao dos departamentos que fazem parte, a oProfessor Danilo Marcondes permitem inferir a importncia de sua atuao para aconsolidao e revitalizao dos programas de ps-graduao de seu departamento.Marcondes inclusive ressalta que o Mestrado em Filosofia passou a ser recomendadonovamente pela CAPES em sua administrao, e que nela props a implantao do Doutoradoem Filosofia, tambm recomendado [22]. tambm um aspecto que aparece no Memorial da

    professora Vera Candau. Ao perceber que no Brasil havia um baixo nvel na formao deeducadores, Candau conta em seu Memorial que

    Durante os anos em que fui Diretora do Departamento de Educao da PUC/RJ (70-72; 73-75), esta foi uma tnica do trabalho que procurei realizar. Quando assumi adireo em 1970, o primeiro esforo foi o de consolidar sua existncia atravs dareviso dos currculos de graduao e ps-graduao, promoo de uma poltica deaperfeioamento do corpo docente, criao de uma coordenao de pesquisa eampliao das instalaes fsicas. [23]

    Este um segundo ponto em comum: a importncia da experincia administrativa quea trajetria na PUC-Rio legou a estes professores-autores e o entendimento que esses

    professores tm do exerccio de cargos administrativos como participao na viabilizao doprojeto acadmico da PUC-Rio.

    A importncia acadmica destes professores para seus departamentos pode ser vistaem seus prprios Memoriais. Em todos eles, mesmo que isso esteja oculto pela discrio decada um deles em relao a seu protagonismo, possvel inferir o carter pioneirodesempenhado por cada um desses professores, em especial no que diz respeito aos seus

    programas de ps-graduao, consolidao de atividades de pesquisa da Universidade ou ainovaes em suas respectivas reas um aspecto em comum pode ser notado: todos elescreditam seu crescimento acadmico e at mesmo pessoal e sua contribuio para o

    desenvolvimento de seus departamentos ao fato de terem sado do Brasil em algum momentode sua trajetria para cursarem seu mestrado ou doutorado.

    o caso do relato da professora Vera Candau. Ela afirma ao terminar a licenciatura[em Pedagogia na PUC-Rio] me foi oferecida pelo ento Reitor, Pe. Arthur Alonso, S.J., bolsade estudos para realizar um Curso de Especializao em Psicopedagogia na UniversidadeCatlica de Louvain (Blgica) [24] o que possibilitou um aprofundamento na rea deMetodologia Didtica, assim como a consolidao de uma formao filosfica bsica,indispensvel a investigao dos problemas educativos [25]. Ao falarsobre a ps-graduaoem Educao no Brasil, assinala que o Curso de Mestrado em Educao com reas de

    Concentrao em Planejamento Educacional e Aconselhamento Psicopedaggico, funcionoudesde 1966, tendo sido o primeiro criado na rea no pas. No entanto, em 1970, nenhuma tese

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    havia sido defendida e o curso no estava credenciado pelo Conselho Federal de Educao.Em 1970, foi criada a rea de habilitao em Mtodos e Tcnicas de Ensino. Em 1971, ocurso foi credenciado pelo Conselho Federal de Educao (o primeiro do pas) e a primeiratese foi defendida. [26] A importncia de haver profissionais formados no exterior erafundamental para a consolidao da PUC-Rio como uma universidade de pesquisa e na qualos programas de ps-graduao fossem pioneiros no pas.

    Este um terceiro denominador comum: a influncia decisiva que a experinciaacadmica fora do pas teve na consolidao da carreira acadmica desses professores e, comoconsequncia, em sua atuao para a consolidao da PUC-Rio como uma universidade de

    pesquisa e ps-graduao reconhecida nacional e internacionalmente. Este denominadorcomum aponta, inclusive, para uma das questes centrais desta pesquisa que identificarcomo a histria PUC-Rio aparece nos Memoriais, e como esta se traduz na memria destes

    professores-autores. Este ponto ser desenvolvido em etapas futuras da pesquisa.

    Um quarto ponto em comum entre os Memoriais a evidncia da importncia dafuno que o professor tem para a sociedade. Em pelo menos quatro Memoriais explcitaesta preocupao por parte dos professores-autores de dizer que seu trabalho feito noapenas para dentro da academia, mas que tm a inteno de promover benefcios sociedadeem geral. O professor Scavarda afirma que ao assumir o Departamento de Fsica em 1991,decidiu criar um novo ambiente para uma nova interao do departamento. Era o Programade Integrao Universidade Escola e Sociedade PIUES [27]. Segundo Scavarda, estainterao foi concebida para aproximar o Departamento de Fsica dos problemas da educao

    pr-universitria, de seus professores e alunos, e para ele onde o grande n de nossa

    sociedade [28] est.

    No Memorial do Professor Danilo Marcondes possvel notar interesse semelhante;quando volta ao Brasil de seu doutorado na Inglaterra, Danilo assinala que pretendeudesenvolver seu trabalho em duas direes; uma delas preparar textos de naturezaintrodutria, visando sobretudo o estudante de filosofia ou de outras reas com interesse emfilosofia, um trabalho portanto, mais de carter de divulgao ou seja, com inteno deintervir na sociedade, e o que para Marcondes parece extremamente importante em nossocontexto, em que no temos ainda uma tradio filosfica consolidada. [29] Seu objetivo,

    portanto, com a produo de textos introdutrios na rea de filosofia propag-la para um

    pblico mais amplo.

    A preocupao com o mbito social tambm uma constante no Memorial doProfessor Luiz Fernando Soares. Ao concluir seu Memorial e apontar os planos para o seufuturo profissional, Luiz Fernando afirma que pretende manter o mesmo perfil de fortementecorrelacionar [suas] atividades de ensino com as de pesquisa, e, sempre que possvel dar-lhesalgum engajamento social. [30] Seu objetivo claro: ao falar sobre um grande projeto cujoobjetivo principal a implementao de uma infraestrutura para produo distribuda de

    programas de TV, a chamada Rede de Produo Cooperativa de Vdeo [31], Soares assinala

    que o projeto

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    visa construo de uma rede de estdios multimdia como o primeiro passo paraque as iniciativas nas reas de cultura, da suplementao escolar, da profissionalizao e daincluso digital, encontrem ressonncia. Os estdios devero prover aos moradores dasregies envolvidas, e adjacncias especialmente da juventude acesso a seus recursos,

    permitir aos moradores que sua produo cultural seja registrada e divulgada, tantolocalmente quanto para o pblico em geral, e, finalmente, promover a formao e insero

    profissional de seus usurios no mercado de trabalho [...]. [32]

    Em todos os casos, nota-se um objetivo social por parte dos professores-autores. Suaspesquisas, seus projetos e propostas, alm do objetivo acadmico, visam interao, por umlado, entre Universidade e sociedade, e por outro, entre o prprio Professor e a sociedade.Este o quarto ponto em comum que pode ser observado nos Memoriais e tambm outraquesto central da pesquisa: buscar nos Memoriais de que maneira os professores-autoresconcebem sua funo social como professores e como isto se reflete na histria da PUC-Rio.

    tambm este um ponto a ser desenvolvido em etapas futuras da pesquisa.VSingularidades e comparaes.

    Aps apontar alguns denominadores comuns entre os Memoriais, preciso fazer ocaminho inverso, ou seja, a identificao de suas singularidades e possveis diferenas em seuconjunto. O exerccio de comparao em Histria, alm de apontar as semelhanas, visatambm ao aprofundamento das diferenas.

    Dos cinco Memoriais escolhidos para a pesquisa e anlise, em funo desta intenode estabelecer a singularidades de cada um, tornou-se necessria uma classificao dos

    mesmos em dois grupos: no primeiro, composto por trs Memoriais, podemos notar que osprofessores utilizam-se da ocasio da necessidade de escrita do Memorial para fazer umaanlise crtica de suas vidas acadmicas; no segundo grupo, composto por dois Memoriais,

    possvel observar que os professores-autores somente tecem comentrios relativos ao que registrado em seu curriculum vitae. Em seu Memorial, inclusive, o Professor Marcelo Paivade Abreu indica que o seu texto e isso se comprova na leitura do mesmo deve ser lidotendo-se em mos o currculo do candidato [33], para que dessa maneira a leitura faa maissentido.

    Esta classificao importante para identificar uma diferena clara no conjunto dosMemoriais. Ao restringirmos a anlise ao primeiro grupo, possvel notar um trao depessoalidade praticamente inexistente no segundo grupo. Os autores dos Memoriais doprimeiro grupo falam de sua famlia, de suas dificuldades nos primeiros anos de vidaacadmica, das indecises tericas que os atormentaram durante anos, enfim, podemos alienxergar de forma mais pessoal estes professores e suas trajetrias. Esta diferena entre osdois grupos se encontra, portanto, na forma de sua escrita, e nas escolhas narrativas feitas porcada um. Uma das surpresas da pesquisa deu-se ao notar que os Memoriais dos professores darea de Cincias Exatas, acostumados a escrever textos mais duros e menos afeitos narratividade e pessoalidade, mantm de forma mais viva esse trao de pessoalidade na

    escrita.

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    Uma singularidade destes Memoriais, que permite inclusive comparaes com outrasformas de escrita autobiogrfica, fato de no estarem destinados a ser uma autobiografia

    publicada. Diferente do caso do Memorial de Magda Soares, que inclusive utilizado comomaterial para cursos na rea de Educao [33], os Memoriais aqui estudados so restritos aum pblico especfico: as Comisses de Carreira Docente. Esta singularidade se reflete na

    prpria forma dos Memoriais. De um lado, saber a priori que esta escrita de si no serpublicada, pode acarretar na acentuao do trao de pessoalidade, e no Memorial o professor-autor de fato conta sua vida acadmica. De outro lado, pode causar o efeito inverso: ao ter aconscincia de possuir uma carreira conhecida dentro da Universidade e fora dela, este

    professor-autor busca ao mximo sair de seu texto, propondo inclusive que ele seja lido comseu curriculum em mos. Esta hiptese pode ser reiterada quando da leitura de um Memorial,que no foi analisado aqui por no se adequar aos critrios, mas que pode ajudar nacompreenso. Ao escrever seu Memorial, este professor-autor abre o texto afirmando que

    Provavelmente, o objetivo de um memorial seja forar quem o escreve a refletiracerca das atividades acadmicas [...] que vem desenvolvendo ao longo de sua vida.Decerto no se deseja um auto louvor, mas sim, que se fornea parmetros objetivosde desempenho que possa, justificar uma promoo a Professor Titular, ponto maiorda carreira universitria. dentro desta tica que procurei escrever meu Memorial.Sendo objetivo, procurando evitar a falsa modstia, fugindo dos lugares comuns.

    E fecha seu texto afirmando que

    Como j frisei no incio, procurei ser breve; na PUC j sou bem conhecido e meu

    Curriculum, meus alunos e colgas podem falar de mim.[...]

    Enfim, acho que j sou, de fato, um Professor Titular.

    Talvez este seja o pensamento daquele que escreve o seu Memorial excluindo qualquer traode pessoalidade. No h sequer marca retrica, pois o professor-autor no precisa falar de simesmo, a comunidade cientfica na qual ele est inserido fala por ele. Sua experincia e seucurriculum so o suficiente para que a banca examinadora conhea sua vida acadmica eentenda que ele j de fato um Professor Titular. O Memorial, nesse caso, seria mera

    formalidade para alguns. Para outros, no entanto, uma ocasio de reflexo sobre si mesmo,sobre sua trajetria acadmica e sobre o lugar da instituio onde se formaram e atuam nessatrajetria individual e em sua repercusso social. Para outros ainda, o fazer de seu curriculumvitae a pauta nica de seu Memorial, evitando toda marca de pessoalidade, pode ser umamarca de discrio, tanto mais que os autores dos dois Memoriais que mais se aproximamdesse modelo so reconhecidos por sua excelncia nas suas respectivas reas no apenas naPUC-Rio, mas so referncias nacionais e so tambm internacionalmente reconhecidos.

    Uma das caractersticas narrativas do conjunto de Memoriais analisados, e certamenteuma de suas maiores riquezas, que no seguem um modelo nico. O aprofundamento das

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    diferenas entre esses peculiares escritos autobiogrficos dever ser o objeto de uma faseposterior do trabalho de pesquisa.

    VIConcluses.

    Este texto o resultado de uma primeira fase da pesquisa, o que configura aimpossibilidade do apontamento de concluses definitivas, sendo possvel apenas a exposiode concluses parciais nesta etapa. As concluses parciais foram:

    01. A partir das leituras tericas, os Memoriais passam a ser entendidos comoautobiografias acadmicas, ou seja, narrativas da histria da vida acadmica daqueles

    professores que intentam a posio de Professor Titular da PUC-Rio. O momento no qual oprofessor, que ao escrever o Memorial se torna autor e narrador, pode fazer um estudo crticode sua trajetria acadmica;

    02. Os Memoriais passam tambm a serem entendidos como uma das vrias formas deatos autobiogrficos que visam apresentao oficial de si diante da banca examinadora doconcurso de obteno da titularidade;

    03. A partir da anlise dos Memoriais pde-se empreender um esforo comparativo enotar, em uma primeira aproximao, a presena de pontos em comum entre eles. Em todosos Memoriais, a PUC-Rio tem grande importncia na carreira acadmica dos professores-autores, na compreenso da funo social dessa carreira. As experincias em cargosadministrativos dentro da Universidade tiveram papel de destaque em todas as narrativas e asada do Brasil para concluir etapas da vida acadmica implicou na consolidao de suas reas

    de atuao e em influncia significativa na sociedade;

    04. Notou-se uma diferena significativa na forma narrativa dos Memoriais, sendopossvel distinguir, grosso modo, dois grupos. O primeiro grupo formado por textos, nosquais os professores-autores utilizam a marca narrativa da pessoalidade e fazem de fato umaanlise crtica de suas carreiras. No segundo grupo, esto os memoriais em que os

    professores-autores parecem evitar a marca da pessoalidade para preferir fazer de seusMemoriais um comentrio de seus curricula vitarum.

    Referncias

    1SOARES, Magda. MetamemriasMemria. Travessia de uma Educadora. So Paulo:Cortez Editora, 1990. p. 25.

    2Idem.Ibidem.

    3Idem.Ibidem.

    4CARMO, Luiz Scavarda do. Memorial. Rio de Janeiro: PUC-Rio, s.d., p. 1.

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    5 LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiogrfico. IN: NORONHA, Jovita Maria Gerheim(Org.). O pacto autobiogrfico: de Rousseau Internet. Belo Horizonte: Editora UFMG,2008. p. 14.

    6Idem. Ibidem.

    7Idem. Ibidem.

    8MARCONDES, Danilo. Memorial. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 1996. p. 2.

    9SOARES, Luiz Fernando Gomes. Memorial. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2003. p. 1.

    10LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiogrfico. Op. Cit. p. 15.

    11CARMO, Luiz Scavarda do. Memorial. Op. Cit. p. 1.

    12 CALLIGARIS, Contardo. Verdades de Autobiografias e Dirios ntimos. IN: RevistaEstudos Histricos, v. 11, n. 21, p. 43-58. 1998.

    13Idem. p. 48.

    14Idem. p. 50.

    15Idem. p. 51.

    16BOURDIEU, Pierre. A iluso biogrfica. IN AMADO, Janana e FERREIRA, MarietaM. (orgs.). Usos e abusos da Histria Oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001. p. 183.

    17Idem.p. 188.

    18Idem.Ibidem.

    19Idem. p. 185.

    20CARMO, Luiz Scavarda do. Memorial. Op. Cit. p. 1.

    21Idem.Ibidem.

    22MARCONDES, Danilo. Memorial. Op. Cit. p. 8-9.

    23CANDAU, Vera Maria Ferro. Memorial. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 1981, p. 3.

    24Idem.p. 1.

    25Idem.Ibidem.

    26Idem. p 3.

    27CARMO, Luiz Scavarda do. Memorial. Op. Cit. p. 12.

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    28Idem. Ibidem.

    29MARCONDES, Danilo. Memorial. Op. Cit. p. 6.

    30Idem. Ibidem.

    31SOARES, Luiz Fernando Gomes. Memorial. Op. Cit. p. 13.

    32Idem. p. 14.

    33ABREU, Marcelo Paiva de. Memorial. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 1989. p. 1.

    34Idem. Ibidem.

    34SOARES, Magda. MetamemriasMemria. Op. Cit. p. 12.