relato discussões mulher e mídias bahia

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transcrição das falas do 1º Encontro Baiano Mulheres e Mídias

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CIDE- Capacitação, Inserção e Desenvolvimento

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Relatório Encontro Baiano Mulher e Mídia

As atividades do encontro começaram com agradecimentos á presença de todas as mulheres participantes e informes sobre o credenciamento, almoço e entrega de kits. Em seguida, o filme “Doido Lelé” da jornalista e cineasta baiana Ceci Alves foi exibido para uma platéia de mais de 200 pessoas na Saladearte Cine XIV no Pelourinho, haviam entre elas representantes de diversos grupos políticos e culturais de Salvador. Além delas, o encontro acolheu com surpresa a participação de militantes de São Paulo e do Rio de Janeiro. Afim de introduzir o debate, a jornalista Sueide Kintê fez uma saudação à platéia e falou da importância de as mulheres terem apoio institucional e recurso financeiro para se apropriarem dos meios de produção de mídias independente e serem porta-vozes de suas próprias histórias nos veículos de comunicação. Depois foi a vez da diretora de operações do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia - IRDEB dar o seu recado. Sahada Mendes fez uma exposição sobre a estrutura da Rádio e da TV Pública da Bahia e sobre as contribuições que as mesmas poderiam dar à Articulação Mulher & Mídia Bahia. Sua sucessora nas explanações, a coordenadora de relações sociais da Assessoria Geral de Comunicação - AGECOM, Rosely Arantes, falou das contribuições das Conferências Estadual e Nacional de Comunicação e levantou alguns desafios que este grupo terá que enfrentar para ter um trabalho de fato efetivo. Depois dela, uma das palestrantes convidada, a psicanalista Rachel Moreno, discorreu sobre a situação da Articulação Mulher & Mídia nacionalmente e apontou alguns caminhos possíveis para fortalecer a luta regionalmente.

Ainda na parte da manhã Daniella Rocha da ONG Cipó socializou com as participantes do evento os resultados preliminares da pesquisa de monitoramento a dois programas televisivos policialescos na Bahia que foi realizada pelo Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania (CCDC).

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os resultados preliminares da pesquisa de monitoramento a dois programas televisivos policialescos na Bahia que foi realizada pelo Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania (CCDC). Na explanação, Daniela confirmou que os dados da pesquisa apontam e confirma a constância na violação aos direitos, inclusive, contra mulheres. E, finalmente, quem contribuiu para as discussões foi a então Secretaria da SEPROMI, Luiza Bairros. Ela falou das campanhas de comunicação protagonizadas pela secretaria e sobre os conceitos que foram priorizados nas mensagens das peças que criadas pelo órgão, em que o mesmo por diversas vezes se utilizou de informes publicitários para debater e divulgar o tema do combate ao racismo e ao sexismo. Além disso, a secretaria se comprometeu em apoiar as ações da Articulação Mulher & Mídia Bahia e se colocou solidária às reivindicações feitas pelo grupo organizador do evento de que a secretaria criasse um edital com o tema central – Mulheres & Mídias. As atividades desta mesa de abertura do evento acabaram depois da leitura da Carta Mulheres & Mídias Bahia, onde foram feitas uma série de reivindicações e recomendações sobre as políticas públicas de comunicação para mulheres no estado, e, também, depois da apresentação de teatro do grupo feminista de Recife - Loucas de Pedra Lilás. Em seguida, houve diversas intervenções da platéia e a carta foi entregue a todas as representantes do poder público que foram convidadas, com exceção de Sahada Mendes do IRDEB que saiu antes por conta de compromissos pessoais.

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Nesta discussão Rita Batista em dar informação sobre os serviços pelo papel pioneiro que assume na TV falou sobre a representatividade das públicos “A mídia tem tudo haver com Baiana.mulheres em vários setores, mas, disse serviço, com saúde e educação” * É possível fazer uma mídia alternativa que a mulher ainda precisa ocupar mais afirmou. Rita falou também da pra quem ainda tem que buscar espaço em diversos lugares, inclusive, existência de políticas específicas para recursos? Como? na comunicação. Em resposta ao as populações, e da importância de dar * Como as redes sociais influenciam o questionamento feito pela organização mais visibilidades para algumas delas processo de a auto-afirmação dos do evento através do tema da mesa a “Temos que colocar mais caras pretas diferentes grupos nestes espaços de comunicadora respondeu que os na tela. Algumas pessoas dizem mídia?caminhos possíveis para construir uma ironizando, ah é o seu jornal é o Rita Batista responde: Ao falar sobre a comunicação criativa com educação e programa da cota? Eu afirmo é sim.” auto-afirmação ela diz que foi a entretenimento são todos. A mesma A apresentadora reafirmou primeira a apresentar um telejornal afirmou ainda, que, só não seria também, a necessidade da integração. com o cabelo trançado e conta que isso possível para quem não quisesse. Ela citou como exemplo a caminha do aconteceu por que na época a TV queria

Ela falou também sobre seu dia 20 de novembro. “Seria melhor se que ela alisasse seu cabelo, e, então a histórico na profissão e reclamou da todos saíssem juntos em caminhada e mesma aproveitou que estava numa interferência que os pontos na não que fragmentasse” afirmou Rita. A época de carnaval onde poderia ousar audiência têm na relevância dos mesma discorreu ainda sobre seu papel mais e passou a usar tranças “Deixei programas para a TV “Uma coisa que na comunicação e como ela contribui no meu cabelo tomar o espaço porque a atrapalha muito é a audiência. Temos empoderamento de mulheres e forma de falar, a roupa, e o cabelo não que ter audiência para entrar mais homens que a assistem e depois passou tem como esconder porque eu sou capital através dos comerciais” disse a discussão para a platéia perguntar. desse jeito mesmo”. E, em resposta à Rita. Ela também criticou os comerciais Intervenção da platéia: pergunta sobre redes sociais Rita disse de cerveja e o uso do corpo das * Não nos interessa fazer personagens que o twitter ela usa assiduamente e mulheres, mas, não deixou de lembrar negras somente para aparecer como que a ferramenta ajuda ela a ter mais os anunciantes dessas marcas de Thaís Araújo que mesmo como informação sendo que a idéia é interagir produtos são os que pagam mais. protagonista foi apagada na novela. e fazer com que seus telespectadores

Falou sobre o papel da mídia Acho que você Rita está de parabéns participem.

“Temos que colocar mais caras pretas na tela. Algumas pessoas brincam ironizando: ah, é cota? Eu afirmo é sim. E daí?”.

Rita Batista (radialista e publicitária)

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“Eu era uma mulher, jovem e negra que teve que construir uma reputação no jornal para conseguir falar de coisas que achava imprescindível”

Cleidiana Ramos (jornalista)

A Jornalista Cleidiana jornal Á Tarde, “Sobre este Ramos, também participou caderno, eu sempre disse lá das discussões sobre o tema: para os donos do Jornal que Comunicação criativa com eles estão cumprindo o papel educação e entretenimento. social do jornal. Eu não digo Quais são os caminhos que estamos fazendo política. possíveis? E, começou falando Só afirmo que esse é o papel de sua entrada no jornal A d e l e s e m r e l a ç ã o à Tarde quando era recém representatividade”. formada. “Eu era uma mulher, A jornalista contou jovem e negra que teve que ainda que a pauta da negritude construir uma reputação no não é dela, é uma pauta que jornal para conseguir falar de deve ser de todos dentro do c o i s a s q u e a c h a v a jornal. O grupo A tarde deu a imprescindível”. missão a ela de criar um blog

Cleidiana explicou experimental e hoje esse blog também a importância dos que tem diversas contribuições tablóides como documento: de outras pessoas é o terceiro “O que se publica no jornal não mais acessado do grupo.se apaga. O que se escreveu hoje ficará para sempre então a Intervenção de Mia: Como nossa responsabilidade é p o d e m o s p e n s a r u m a triplicada”. estratégia de intervenção no

C l e i d i a n a c o n t o u jornal MASSA em relação ao também, que, uma vez no seu uso do corpo da Mulher? trabalho no jornal, o editor lhe deu a missão de provar que na Resposta de Cleidiana: “O Bahia existe racismo através de Jornal Correio da Bahia faz um uma matéria onde a mesma hibrido entre jornalismo teria que ir num prédio de luxo p o p u l a r e j o r n a l i s m o e num shopping para depois tradicional e o Jornal massa é contar, em primeira pessoa, um jornal para classe C e D como foi a experiência. mesmo. Dizendo isso eu quero Cleidiana disse que essa mostrar pra vocês que as história repercutiu tanto que meninas que vão tirar a foto virou até um caderno dentro para sair no jornal MASSA do jornal. Ela e mais duas causam o maior freson na pessoas brancas foram a esses redação e em suas famílias m e s m o s e s p a ç o s e o também, porque além de tratamento foi completamente serem muito bonitas, elas outro do dado a ela. Esse a s s u m e m q u e p o u s a m caderno ganhou, inclusive, um seminuas como um passo para prêmio nacional de jornalismo. a ascensão social. Bom, pousar

Ela fala também da semi-nua na capa de um jornal experiência do caderno da popular não significa ascensão Consciência Negra que é para mim e pode não significar coordenado por ela dentro do para você, mas, para essas

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meninas é uma questão de status. E, tem mais, existem hoje até grupos de pagode utilizando o jornal para fazer concurso de dançarina”.

“Enfim, o que pode ser feito? Quando existe um tipo de serviço que se presta a um jornalismo sem parâmetro e a sociedade não se move e ninguém manda uma carta para redação do Jornal. Ninguém se manifesta em relação aos absurdos. O jornal impresso é um documento e ninguém se preocupa com isso, as pessoas vigiam mais o jornal televisivo. A sociedade tem que reagir. Nós jornalistas não devemos ficar impunes. Existe liberdade de imprensa, mas, também existe a responsabilidade de imprensa”.

“Olha, a equipe do Jornal MASSA me procurou essa semana para saber como falar sobre o Candomblé. Aí temos que pensar na organização do povo de Candomblé e como a incidência dessa população tem tanta influência que amedronta a equipe de um jornal novo. Este é um exemplo de patrulhamento positivo”.

Depois de responder à pergunta da platéia, Cleidiana falou sobre as questões éticas da profissão, explicou os motivos do jornal para não fazer a cobertura de seminários e também dificilmente cobrir eventos durante a noite (a partir da 18h). Explicou ainda, que o jornal extinguiu a figura do pauteiro e do chefe de reportagem e que muitos profissionais são multifuncionais e que em muitos casos atender a solicitação da assessoria de imprensa é muito difícil “O que chama atenção para cobertura jornalística é algo inusitado, criativo, como, por exemplo, o sindicato dos bancários que distribuiu bananas durante uma reivindicação” enfatiza. Cleidiana termina sua fala dizendo que a maioria dos jornalistas que estão lá no Á Tarde corresponde ao perfil da população de Salvador, no entanto, ressalva que nos cargos de chefia os negros ainda são poucos.

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A médica da família, Drª quanto institucional. Ainda existe Andréia Beatriz começa dizendo no sistema único de saúde, que a saúde deve ultrapassar a sua profissionais que possuem nojo de pasta específica e se articular com tocar nas mulheres negras para outras áreas. E, a partir daí a cuidá-las. E, o que é ainda pior, mesma problematiza: “Saúde da existe aqueles que acham que elas Mulher - o que a mídia tem haver são mais resistentes à dor. Isto é com isso? Bom, o papel da omissão profissional. Isto é comunicação na assistência a racismo”saúde é crucial, porque essa mídia pode dar visibilidade maior a Intervenções da Platéia:questões estruturantes à vida. Ÿ Qual a sua percepção sobre a Porque ter saúde se equipara a inclusão das questões do viver. A mídia pode contribuir, por aborto na mídia?exemplo, para a proteção da vida Ÿ Dentro disso que você traz você das mulheres”. acredita que há a necessidade

A médica aproveita para da formalização do uso da falar da complexidade de ser comunicação na área de mulher e da compreensão de saúde? saúde que devemos ter para Ÿ Será que os profissionais desta entender essa complexidade. área, não poderiam também A l e r t a t a m b é m s o b r e o propor pautas nas quais a compromisso que temos de saúde seja colocada cobrando desconstruir crenças equivocadas a responsabilidade social da de que as mulheres brancas, loiras mídia pensando na promoção de olhos claros são o modelo de da saúde? pessoa saudável e diz que a mídia te m p o s s i b i l i d a d e d e d a r Resposta Drª Andréia: Para as visibilidade a uma compreensão ações sugeridas aqui peço que de saúde mais equânime. a n t e s s e c o n s t r u a

Nesta d iscussão Drª necessariamente um contato com Andréia envereda também pelo a vida real dessas mulheres que tema da morte materna e do são público alvo das campanhas, e, problema da Feminilização da também, um distanciamento em AIDS, e, alerta: “Vivemos numa relação ao que a academia produz sociedade sexista, machista e os e o que é posto na prática “Se profissionais de saúde não deixam vocês em suas comunidades não de ser do mesmo modo. Inclusive se sentem representadas devem no SUS têm um monte de gente reivindicar a produção de material assim.” Fala também do exemplo educativo que funcionem” explica das mulheres em situação para a platéia e conclui a resposta prisional que são tratadas sob o dizendo que a promoção da ângulo da heteronormatividade. doença dá muito dinheiro para a

Drª Andréia aproveita e indústria farmacêutica, pesa fala das mulheres negras e as muito sobre o lucro que a doença imagens que a mídia constrói dela pode dar “Esses discursos e a “A mídia reforça um estigma que vontade de que a saúde pública permanece ainda hoje que diz que não dê certo faz parte do mercado as mulheres negras são sujas, não da doença” diz.prestam e que merecem estar naquela condição de doença e isso Sueide Kintê finaliza o evento e é tanto do ponto de vista pessoal agradece ao público e as

“Ainda existe no sistema único de saúde profissionais que possuem nojo de tocar nas mulheres negras para cuidá-las. E, o que é ainda pior, existem aqueles que acham que elas são mais resistentes à dor. Isto é omissão profissional. Isso é racismo”

Drª Andréia Beatriz ( Médica, Mestra em Saúde Coletiva)