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Relato de caso: perícia judicial de incêndio parcial no compartimento do motor de um veículo novo Julho/2018 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 Relato de caso: perícia judicial de incêndio parcial no compartimento do motor de um veículo novo Cesar Augusto da Fonseca Vila Nova [email protected] Auditoria, avaliações e perícias de engenharia Instituto de Pós-Graduação IPOG Boa Vista, RR, 18 de agosto de 2017 Resumo O presente artigo tem como finalidade apresentar os desdobramentos de uma perícia judicial de incêndio parcial no compartimento do motor de um veículo novo, com poucos dias de uso, que em inspeção, logo após o sinistro, apontou como causa do incêndio a presença de capim no setor inferior do automóvel na região do foco do fogo. Consoante análise do processo judicial e dos quesitos apresentados foi desenvolvida perícia no automóvel e a emissão do consequente laudo visando o melhor subsídio à decisão do juiz quanto à lide entre o cliente, a concessionária e a montadora do veículo. Tratando-se de perícia de incêndio em veículo automotor, devido às suas peculiaridades funcionais, os procedimentos de investigação são específicos. O objetivo de uma perícia de incêndio é identificar o ponto de origem, a causa e o combustível do fogo. Para tanto, a fim de obter os efeitos esperados, executou-se consulta a toda literatura disponível sobre incêndio, principalmente as de ocorrência em veículos, o exame visual do objeto da perícia tantas vezes quanto foram necessárias e vistoria no local onde ocorreu o sinistro. Os resultados encontrados indicaram que uma falha no sistema de direção hidráulica e não, o acúmulo de capim na região do foco do fogo, como alegado por uma das partes do conflito. Concluiu-se que o combustível que fechou o triângulo do fogo foi o flúido do sistema de direção hidráulica. Palavras-chave: Perícia. Incêndio. Veículo. Capim. Flúido. 1. Introdução Este trabalho se insere na área de atuação da engenharia legal, “este ramo da engenharia auxilia os magistrados e advogados a elucidar problemas técnicos [...] por meio da realização das perícias de engenharia(DEUTSCH, 2011:27), especificamente, no segmento da engenharia mecânica. O tema escolhido aborda uma perícia realizada pelo autor, buscando a introspecção da lógica pericial, a troca de conhecimento e experiências e as possíveis e bem-vindas críticas dos mais experientes. Os dados do processo judicial, tais como o autor da ação, os réus, e a vara cível em que corre o processo e outros fatores de identificação, serão omitidos.

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Relato de caso: perícia judicial de incêndio parcial no compartimento do motor de

um veículo novo

Julho/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018

Relato de caso: perícia judicial de incêndio parcial no compartimento

do motor de um veículo novo

Cesar Augusto da Fonseca Vila Nova – [email protected]

Auditoria, avaliações e perícias de engenharia

Instituto de Pós-Graduação – IPOG

Boa Vista, RR, 18 de agosto de 2017

Resumo

O presente artigo tem como finalidade apresentar os desdobramentos de uma perícia

judicial de incêndio parcial no compartimento do motor de um veículo novo, com poucos

dias de uso, que em inspeção, logo após o sinistro, apontou como causa do incêndio a

presença de capim no setor inferior do automóvel na região do foco do fogo. Consoante

análise do processo judicial e dos quesitos apresentados foi desenvolvida perícia no

automóvel e a emissão do consequente laudo visando o melhor subsídio à decisão do juiz

quanto à lide entre o cliente, a concessionária e a montadora do veículo. Tratando-se de

perícia de incêndio em veículo automotor, devido às suas peculiaridades funcionais, os

procedimentos de investigação são específicos. O objetivo de uma perícia de incêndio é

identificar o ponto de origem, a causa e o combustível do fogo. Para tanto, a fim de obter

os efeitos esperados, executou-se consulta a toda literatura disponível sobre incêndio,

principalmente as de ocorrência em veículos, o exame visual do objeto da perícia tantas

vezes quanto foram necessárias e vistoria no local onde ocorreu o sinistro. Os resultados

encontrados indicaram que uma falha no sistema de direção hidráulica e não, o acúmulo

de capim na região do foco do fogo, como alegado por uma das partes do conflito.

Concluiu-se que o combustível que fechou o triângulo do fogo foi o flúido do sistema de

direção hidráulica.

Palavras-chave: Perícia. Incêndio. Veículo. Capim. Flúido.

1. Introdução

Este trabalho se insere na área de atuação da engenharia legal, “este ramo da engenharia

auxilia os magistrados e advogados a elucidar problemas técnicos [...] por meio da

realização das perícias de engenharia” (DEUTSCH, 2011:27), especificamente, no

segmento da engenharia mecânica. O tema escolhido aborda uma perícia realizada pelo

autor, buscando a introspecção da lógica pericial, a troca de conhecimento e experiências e

as possíveis e bem-vindas críticas dos mais experientes. Os dados do processo judicial, tais

como o autor da ação, os réus, e a vara cível em que corre o processo e outros fatores de

identificação, serão omitidos.

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O motivo que deu origem a perícia, resume-se na seguinte anamnese: um veículo novo,

cinco dias após ter sido adquirido na concessionária, realizou viagem da capital Boa Vista

ao interior do Estado de Roraima, tendo entre outros trechos do percurso, trafegado por

caminho tosco, tipo trilha formada no meio da vegetação nativa. Parado, mas em

funcionamento, diante de uma porteira, foi observado pelos passageiros fogo e fumaça na

dianteira do veículo, aberto o capô foi seccionado um dos cabos da bateria para cessar o

funcionamento do motor, pois não desligara na chave e combatido o incêndio com pó

químico. Sem condições de se auto locomover, o veículo foi guinchado para a oficina da

concessionária sediada na capital. Após o automóvel ser inspecionado foi informado ao

cliente que a causa do incêndio se originara no alojamento e na inflamação de capim nas

proximidades de partes quentes do automóvel, configurando mau uso do veículo, não se

tratando de defeito de fábrica e não sendo os prejuízos alcançados pela garantia. O

proprietário não aceitou o resultado da inspeção e nem os argumentos da concessionária.

Procurando ajuda em órgão de defesa do consumidor, não obteve sucesso na sua intenção

de ter substituído, por meio de garantia da montadora, o veículo que comprara, por entender

que não tinha culpa na ocorrência de incêndio. Afirmou-se, ainda, que não havia foco de

fogo próximo ao veículo e não havia seguro para o automóvel. Então, o cenário se enquadra

na seguinte situação:

Quando duas pessoas possuem interesse sobre o mesmo bem ou

utilidades da vida, surge entre elas um conflito de interesses. O

conflito pode dar lugar à manifestação da vontade de uma delas

exigir a subordinação do interesse da outra ao próprio. A esta atitude

da vontade dá-se o nome de pretensão. Esta pode ser resistida,

configurando-se um litígio ou lide, definido sinteticamente como o

conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida.

Decorre para a pessoa que se sente prejudicada o direito de propor

uma ação em juízo, objetivando ser dirimida a lide com justiça, ou

seja, conforme a vontade da lei que regula o conflito. A função de

decidir a lide é atribuída a um terceiro sujeito desinteressado e

imparcial que é o Estado. Dá-se a essa função o nome de função

jurisdicional, ou simplesmente jurisdição, e aos órgãos que a

exercem, o de órgãos jurisdicionais (SANTOS, 2006:15).

Ajuizada ação pelo autor, aqui “aquele que intenta demanda judicial” (FERREIRA, 1999),

no caso o cliente insatisfeito, perante a montadora e a concessionária comercializadora do

veículo e acolhida à pretensão do autor pelo juiz, o processo tramitou em conformidade

com o Código de Processo Civil – CPC vigente na época, sendo apresentadas pelos réus ou

o “indivíduo contra quem se instaurou ação civil ou penal” (FERREIRA, 1999), suas

contestações e o pedido de perícia no objeto da demanda, ou seja, no veículo incendiado.

Tratando-se o assunto, conforme Maia Neto (2008:59), “de natureza técnica o juiz

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determinará a realização da perícia, que poderá consistir em exame (coisas móveis,

animais, pessoas, livros e papéis), vistoria (bens imóveis) ou avaliação (valor em dinheiro

de coisa ou obrigação)”. A esse propósito, foi deferido o pedido de produção de prova

pericial, de plano nomeado o perito, e determinando às partes, se quisessem indicar

assistentes técnicos e formularem quesitos.

Para a perícia que será explanada adiante, o processo iniciou-se sob a égide do CPC

instituído em 1973, no entanto a nomeação do perito já se deu com arrimo no CPC

sancionado em 13 de março de 2015, e vigente a partir de 18 de março de 2016. A

transposição, analisada à luz do quadro comparativo, entre o CPC de 1973 e o CPC de

2015, de Caputo (2015: 149-154), em nada influenciou os procedimentos da perícia, por

não ter havido geração de nenhum fato que adentrasse nas novidades do novo CPC, porém

para outras duas perícias desenvolvidas pelo autor, houve a necessidade de manifestação

acerca de quesitos complementares ou suplementares apresentados fora de tempo hábil e

que ampliavam o objeto de estudo. Credita-se tal fato a interpretação dada, por interessados

em reverter situações desfavoráveis, ao art. 469, caput, NCPC: “as partes poderão

apresentar quesitos suplementares durante a diligência, que poderão ser respondidos pelo

perito previamente ou na audiência de instrução e julgamento”.

Ciente da nomeação, não havendo óbices e realizado depósito dos honorários, o perito se

preparou para desincumbir-se do encargo recebido da melhor forma possível, se

aprofundando no assunto a ser investigado, fortalecendo ou ampliando os conhecimentos

atinentes a incêndios e explosões, com ênfase em incêndios em veículos automotores. Esse

direcionamento foi delineado na análise dos autos do processo, nas causas da própria

existência do processo, e, sobretudo, nos quesitos formulados.

Os quesitos são classicamente definidos, por Liporoni e Benite (2008:164), como

“perguntas que ambas as partes ou as várias partes envolvidas no processo podem formular

para serem respondidas pelo perito judicial e seus assistentes técnicos”, no entanto Maia

Neto (2003:113) observa que os quesitos “são realmente a parte determinante e obrigatória

da perícia, pois será neste tópico que o profissional irá apresentar resposta aos

questionamentos trazidos pelas partes”, nesse sentido, Fiker (2005:59) sublinha, que:

O laudo é feito em função do que pedem como resposta os quesitos.

Assim, o perito coloca no corpo do laudo tudo quanto é necessário

para subsidiar e fundamentar as respostas aos quesitos. É por isso

que é importante que o perito conheça em profundidade a técnica de

formulação de quesitos, até para saber o que ele deve responder e o

que não está obrigado ou não tem meios ou possibilidade de

informar.

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Com estas e outras lições sempre avivadas, o perito, consoante ao art. 466, § 2º, NCPC,

fixou a data, hora e local para início do exame no veículo incendiado. O local escolhido foi

a oficina da concessionária, por ser parte no processo e possuir instalações adequadas. Na

data e hora marcada, compareceram as partes envolvidas na lide, as quais acompanharam,

subsidiaram, prestaram esclarecimento e indicaram ocorrências relevantes ao perito nesse

seu primeiro contato visual com o objeto da perícia.

2. Sobre a perícia

A Norma Básica para Perícias de Engenharia do IBAPE/SP – 2002 define perícia como “a

atividade que envolve a apuração das causas que motivaram determinado evento ou da

asserção de direitos” e estabelece as diretrizes básicas, conceitos, terminologia, convenções,

notações, critérios e procedimentos relativos às perícias de engenharia, sendo referência

para o trabalho pericial.

2.1. Do exame no objeto da perícia

Os trabalhos de exame transcorreram no local designado, após o veículo ser empurrado do

depósito de veículos, localizado em frente ao prédio da oficina da concessionária. Coletadas

na ocasião, as coordenadas geográficas da porta principal da oficina e do depósito de

veículos. As partes litigantes acompanharam a identificação, a verificação do estado, o

levantamento fotográfico e a inspeção no veículo.

2.1.1. A identificação do veículo

Fotografada a parte dianteira, as laterais, e a traseira, bem como a placa dianteira e o

número do chassi, tecnicamente denominado VIN, acrônimo de Vehicle Identification

Number, estampado no assoalho em frente ao banco dianteiro direito.

2.1.2. O estado de conservação do veículo

Na dianteira, na traseira, na lateral esquerda e na lateral direita do veículo não foram

observadas anormalidades. No interior do veículo, foi constatado que o painel de

instrumentos se encontrava inoperante: hodômetro total, indicador de temperatura do

líquido de arrefecimento do motor e indicador do nível do tanque de combustível. Não foi

possível verificar o funcionamento da buzina e das luzes internas, sendo que a chave de

setas também não foi testada. Constava ainda, rádio+sd/USB+aux, espelho retrovisor,

cintos de segurança e acendedor de cigarros. Na porta do condutor, foi verificado que o

interruptor de regulagem dos espelhos retrovisores externos se encontrava danificado. O

estofamento dos bancos em bom estado. Exceto registro do veículo, livreto de garantia e

manual do proprietário, os pertences do veículo encontravam-se na cabine do motorista:

extintor de incêndio descarregado e tapetes. No porta-malas, constatada a presença de

macaco, triângulo, chave de roda e a roda de emergência.

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No compartimento do motor – Figura 01 e Figura 02 – verificou-se áreas impregnadas pela

ação de pó extintor, esfumaçadas, ausência do módulo de injeção eletrônica, peças

deslocadas da posição original, chicotes elétricos danificados ou destruídos, condutores

elétricos seccionados ou destruídos e a destruição total ou parcial de partes e peças

contíguas ao motor, causada por incêndio parcial no quadrante esquerdo do compartimento

do motor.

Figura 01 – Vista frontal do compartimento do motor. No lado direito, observa-se a

ausência do módulo de injeção eletrônica, de chicotes elétricos e o deslocamento da caixa

de fusíveis no compartimento do motor da posição original

Fonte: Acervo do autor (2017)

Verificada a condição de todos os reservatórios que possuem níveis máximos e mínimos:

do cárter, a vareta de inspeção do óleo lubrificante assinalava o nível intermediário; do

líquido de arrefecimento do motor: nível mínimo; do reservatório de gasolina para o

sistema de partida a frio: vazio; do reservatório de fluido do freio: nível mínimo; do

reservatório do fluido da direção hidráulica: vazio; e do reservatório da água de limpeza dos

para-brisas: vazio.

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Figura 02 – Vista parcial da tampa do compartimento do motor, apresentando

esfumaçamento na superfície interna do lado direito

Fonte: Acervo do autor (2017)

No setor inferior do veículo – Figura 03 – foi constatada quantidades de material orgânico

(capim) alojado em diversas cavidades do setor inferior do veículo, acúmulos de pó

químico extintor sobre partes mecânicas, manchas esbranquiçadas, coifa do semi-eixo

esquerdo lado do câmbio danificada, peças oxidadas, peças de material termoplástico e

mangueiras do sistema de direção hidráulica danificadas ou destruídas, caixa de direção

oxidada, tubulações oxidadas, chicotes partidos e danos severos no isolamento térmico

entre o compartimento do motor e a cabine dos passageiros, coifa da barra de direção do

lado esquerdo destruída pela ação de fogo, suporte do tubo de escapamento danificado por

calor, mancha esbranquiçada e pintura danificada no lado esquerdo do quadro agregado,

fragmentos de capim queimado depositados em cima do quadro agregado e esfumaçamento

no lado esquerdo do setor inferior.

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Figura 03 – Vista parcial do setor inferior dianteiro do veículo. Acima, à esquerda,

esfumaçamento marcante na superfície da cavidade na chaparia do veículo. Ao centro, o

quadro agregado e parte do tubo de escapamento com dois de seus suportes e o dispositivo

de proteção contra o calor (heatshield) entre o assoalho e o sistema de escapamento, em

baixo, o protetor do cárter

Fonte: Acervo do autor (2017)

2.1.3. O exame em partes e peças específicas do veículo

Foi objeto específico de exame, em três ocasiões, as partes e as peças danificadas no

compartimento do motor pelo incêndio, tanto no setor superior quanto no inferior do

veículo, a fim de determinar o local de início e a causa ou causas, isto é a natureza do

combustível original e da fonte de ignição do incêndio.

2.1.4. O levantamento fotográfico

Em atenção às recomendações de Reis (2005:137), “o primeiro passo na perícia de veículos

incendiados, [...] é produzir um bom levantamento fotográfico [...], do geral para o

específico”, foi efetuada a cobertura fotográfica de vários aspectos verificados nos exames

realizados, bem como do caminho e do local em que o veículo se incendiou, porém nem

todas as imagens capturadas foram utilizadas nos esclarecimentos do laudo pericial.

2.2. Do sinistro

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Em decorrência do incêndio no compartimento do motor, houve danos significativos no

veículo. Seito (2008:44) informa que “o incêndio inicia-se, na sua maioria, bem pequeno.

O crescimento dependerá: do primeiro item ignizado, das características do comportamento

ao fogo dos materiais na proximidade do item ignizado e sua distribuição no ambiente”.

Entre diversas definições apresentadas por normas internacionais, Seito (2008:35 e 43)

também aduz as definições da NBR 13860 para fogo: “processo de combustão

caracterizado pela emissão de calor e luz” e para incêndio: “é o fogo fora de controle”.

Cosnsciente do que se busca em uma perícia de incêndio e dos quesistos a serem

respondidos e, considerando os ensinamentos dados por (REIS, 2005:138), acerca da

perícia desenvolvilda, tem-se que:

Visa a investigação de incêndios em veículos constatar a sua causa,

modo e meio de produção, bem como estabelecer relação entre o

fato e o seu agente causador. Para tal, durante os exames,

impreterivelmente terá o perito que constar a origem, ou seja, onde

o fogo iniciou, se na parte externa ou interna do veículo. Sendo na

parte interna, se no espaço útil ou na caixa do motor. Se nas partes

mecânicas ou nas partes elétricas. Se o veículo se encontrava em

movimento ou parado, se funcionando ou não. Se em manutenção

ou não, bem como o seu estado de conservação e tempo de uso.

Como o incêndio ocorreu na zona rural de um município limítrofe ao do domicílio do autor

da demanda judicial, fêz-se necessária à inspeção no local onde ocorreu o sinistro,

conforme denota Kleinübing (2010:360), da seguinte forma: “o primeiro exame deve

ocorrer, sempre que possível, no local de origem do evento.“

2.2.1. O local onde ocorreu o sinistro

Concordante com o endereço fornecido pelo autor da ação, realizou-se o deslocamento até

o município onde ocorreu o sinistro, com o propósito de inspecionar o caminho que dá

acesso ao local e o próprio local onde ocorreu o incêndio no veículo. Observa-se que os

pontos geografico principais foram georeferenciados a fim de futura demonstração gráfica

de localizações no laudo pericial. A sede do município dista 125 km da cidade de Boa

Vista, por via asfaltada, na direção nordeste do estado, e a área estudada localiza-se a

sudoeste do centro da sede do município 16 km. O acesso à área é feito em estrada de

piçarra (estrada de chão batido coberta por pedras, em geral de tom avermelhado, que

conferem maior durabilidade à estrada), a partir do centro da cidade, até a primeira porteira

do sítio, e por caminho até a segunda porteira – Figura 4.

Na região predomina a vegetação savânica ou campo cerrado, conhecida regionalmente

como lavrado, cuja principal característica é seu contínuo estrato de graminóide que reveste

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o solo e que pode secar durante o período de estiagem, somente uma pequena porção é

campestre com estrato de árvores baixas. Nesse ambiente foi que o caminho entre as duas

porteiras foi sendo formado, em solo de baixa resistência que quando úmido cedia ao peso

das rodas do diversos veículos que trafegaram pelo local, e, que hoje em dia, parece estar

compactado.

Esse caminho é uma trilha, cujos sulcos produzidos pelas rodas deixam a parte central, a

delimitada entre as rodas, mais alta em relação a essas depressões laterais. Em quase todo

percurso, observou-se na parte central a presença de gramíneas, capim do tipo nativo

Trachypogon, cuja altura média é de aproximadamente 400 mm – Figura 5. Uma simples

comparação entre a fotografia da amostra de capim obtida na região da ocorrência do

incêndio com fotografia existente em (OLIVEIRA, 2011:13), determinou qual o tipo de

capim característico daquela área.

No local da ocorrência do incêndio no veículo, em frente à segunda porteira, não se

observou nenhum indício do incêndio, talvez esmaecidos pelo tempo, tendo em vista que

até a data da vistoria, tinham se passado 728 dias do fato. Em conformidade a essa etapa da

perícia, resalta-se a advertência de Liporoni e Benite (2008:19), quanto à necessidade de

conquistar “alguns conhecimentos que extrapolem a didática de seus cursos normais de

engenharia [...] procurando abordar todas as questões relativas ao mérito principal da ação e

de assuntos correlatos”.

Figura 4 – À esquerda, vista da primeira porteira e parte do caminho que conduz até à

segunda porteira do sítio. Do lado direito, vista da segunda porteira do sítio, local onde

ocorreu o incêndio no veículo

Fonte: Acervo do autor (2017)

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Figura 5: Amostra da gramínea, capim do tipo Trachypogon, altura aproximada de 400 mm,

encontrado em quase todo percurso do caminho entre as duas porteiras do sítio

Fonte: Acervo do autor (2017)

2.2.2 A análise do incêndio

Foi fundamental, na análise do incêndio, as orientações dos mestres no ofício, e de muita

impotâcia a afirmação de que “os veículos automotores atuais, além de ter em sua construção

uma série muito grande de materiais combustíveis, possuem princípios de funcionamento dos

diversos sistemas veiculares com potencial para deflagração de um incêndio” (KLEINÜBING

2010,339 e seg.).

2.2.3. O foco inicial do fogo

Nos exames visuais das configurações da queima no compartimento do motor, tanto no setor

superior quanto no inferior, e pela posição do esfumaçamento nas superfícies da chaparia da

carroceria, localizou-se a região de maior intensidade da ação do fogo. Essa área de fogo com

elementos queimados e esfumaçados perpassa, na vertical, todo compartimento do motor,

indo da sua parte superior à sua parte inferior. O ambiente do compartimento do motor é

praticamente confinado pela tampa e pelos flancos, contando com aberturas na parte inferior.

Dessa forma, não havendo significativa corrente de ar forçada de cima para baixo e protegido

das correntes laterais de ar, o fogo tende a se propagar ascendentemente, portanto pode-se

afirmar que a eclosão do incêndio, ou seja, o foco inicial do fogo se deu do lado esquerdo da

parte inferior do compartimento do motor, isto é, acima do quadro agregado, em

conformidade com a graduação de queima dos componentes afetados pelo incêndio – Figura 6

e Figura 7. Resalta-se que:

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área de fogo: é a zona de máxima intensidade de fogo no incêndio, de

máxima queimadura, [...] Comumente, principalmente nos incêndios

de origem acidental, a área de fogo englobará o(s) foco(s) de fogo, isto

é, o lugar de origem do incêndio, e outros focos de combustão, ou

focos secundários, formados durante os estágios intermediários de

evolução do fogo (ARAGÃO, 2010:430).

2.3.4. O agente ígneo

Numa condição propícia, o oxigênio atmosférico, o comburente, se une ao material

combustível e ao calor para dar início ao processo de combustão, provocando assim a eclosão

do incêndio, ou seja, do foco inicial do fogo. Determinado o local de eclosão do fogo, é

possível o avanço para outra fase do diagnóstico de incêndio que é a determinação do agente

ígneo, isto é, a fonte de calor.

Figura 6: Ao centro, na vista observada de cima para baixo, a diferenciação de ação da chama

sobre parte do quadro agregado, montado no setor inferior do compartimento do motor,

resultando no consumo total da película de tinta, acima do qual ocorreu a eclosão do incêndio,

o foco inicial do fogo

Fonte: Acervo do autor (2017)

O agente ígneo é responsável pelo incremento de energia à mistura oxigênio/combustível,

provocando a reação e o início da combustão (CBMSC: 2011,2). Dessa forma, foi

inspecionado o sistema elétrico do veículo, em busca de indícios de ter sido a fonte de ignição

do incêndio, no caso, uma possibilidade remota, mas plausível, no entanto não foi observada a

ocorrência de nenhum fenômeno elétrico de curto-circuito e/ou sobrecarga no circuito

elétrico. Sendo assim, o combustível, aqui ainda não determinado, em contato com superfícies

aquecidas do veículo ou por processos de transmissão – condução ou convecção – de calor,

pode deflagrar um incêndio. Então, devido à proximidade do foco do incêndio ao sistema de

escapamento do veículo, pode-se afirmar que este foi o agente ígneo do incêndio, tendo em

vista que parte do tubo de escape dista 300 mm do foco do fogo. Sobre o sistema de

escapamento, Kleinübing (2010,345) informa que é “constituído pelo coletor de descarga,

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pelo catalizador, pelo silenciador e pelo tubo de escape”, canaliza gases queimados que saem

da câmara de combustão do motor com temperatura entre 700 a 800°C. “A temperatura do

coletor de descarga e dos demais componentes, por sua vez, pode atingir até 500° C, com

temperatura de superfície exterior maior do que 300 °C”.

Figura 7: Vista lateral de parte do setor inferior do compartimento do motor e do lugar de

origem do incêndio. Observa-se a exposição da ponta do tubo metálico flexível interno em

razão da destruição da parte de borracha do duto de óleo do sistema de direção hidráulica; e a

exibição dos reparos do lado esquerdo da caixa de direção hidráulica danificados, devido à

destruição da coifa pelo fogo, além de fragmentos de capim queimado

Fonte: Acervo do autor (2017)

2.3.5. Da causa do incêndio

Conforme (ARAGÃO: 2010,78):

para os efeitos práticos do estudo de incêndio, combustível é toda e

qualquer matéria sólida, líquida ou gasosa que queima, praticamente

todas encontradas no decurso natural da vida. Do ponto de vista da

ciência, combustível é quaisquer substâncias que reajam

quimicamente com o oxigênio (ou outro comburente) com

despreendimento de fogo (calor e luminosidade).

2.3.5.1. Sobre o capim como possível combustível do incêndio

Para o estudo em pauta, muito contribuiram os trabalhos de (SOUZA: 2015) e (SEYE: 2016),

os quais conferiram conhecimento e segurança nas afirmações sobre o comportamento da

matéria vegetal.

É fato que foram encontradas quantidades de capim em diversas partes e cavidades do

veículo, inclusive nas proximidades do foco do fogo – Figura 8. Ainda que gramíneas finas,

isto é, com folhas e ramos com menos de 6 mm de espessura, como as que foram verificadas

em campo, serem consideradas de alta inflamabilidade, pois sua inflamação precisa apenas de

fontes ígneas de pouco mais que 130°C (SOUZA: 2015,10 e seg.), não é o bastante para se

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afirmar que o capim foi o combustível causador do incêndio. A verificação de outras variáveis

atinentes ao processo de queima do capim, tais como o modo de deposição do capim nas

partes inferiores do veículo, especialmente no local de eclosão do fogo, a compactação do

capim, a densidade energética da deposição, a sustentabilidade, a combustibilidade e a

consumabilidade do capim, é necessária para se concluir que o capim foi o tipo de

combustível principal e o potencializador da propagação do fogo. A deposição do capim nas

cavidades e partes com forma e localização adequadas ao arrancamento e corte de segmentos

de capim por bordas e arestas, no setor inferior do veículo, inclusive pelas arestas do protetor

do cárter, é aleatória sendo a distribuição do capim pelo setor inferior do veículo imprevisível.

Então, essa deposição do capim “solto” no local do foco do incêndio não foi de forma

compactada, portanto muito baixa a sua densidade a granel, formando, em consequência, um

material de baixa densidade energética (SEYE: 2016). Nos combustíveis vegetais, a

combustão se processa com a secagem, aquecimento e destilação, logo depois a combustão

dos componentes voláteis que se incendeiam (SOARES; BATISTA, 2007 apud SOUZA:

2015, 3).

O capim estudado, devido às baixas condições de fertilidade do solo, não possui na sua

composição resinas e óleos vegetais, sendo pobre a quantidade desses compostos que

conferem maior conteúdo energético aos vegetais (SOUZA: 2015,23), então a queima do

capim produz baixo calor de combustão e, pelas suas dimensões, curta duração das chamas e

baixa intensidade da queima, “a intensidade da queima depende da combinação entre os gases

combustíveis, Oxigênio e quantidade de calor” (SOUZA: 2015,10). Determina-se, ainda, a

sustentabilidade pelo tempo que perduram as chamas, a combustibilidade pela velocidade de

queima que está relacionada à intensidade do fogo e a consumabilidade é a medida da

quantidade (massa ou volume) de vegetação consumida pelo fogo (ANDERSON, 1970;

MARTIN et al., 1994 apud SOUZA: 2015,11). Então, admitindo-se que a quantidade de

capim depositada aleatoriamente em cima do quadro agregado no local do foco do incêndio,

pela baixa qualidade de sua composição química, baixa densidade de material, alta velocidade

e intensidade do fogo, porém com baixa consuntibilidade de capim utilizado na queima,

denota que o capim como combustível não possui características para causar os danos

verificados no veículo.

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Figura 8: Vista do capim depositado no alojamento do coxim do motor. Vista do capim

depositado em cavidade existente entre o tanque de combustível e a chaparia do veículo. Vista

do capim depositado em uma cavidade da carroceria do veículo. Vista de fragmento de capim

queimado no local do foco do incêndio

Fonte: Acervo do autor (2017)

2.3.5.2. Sobre o Combustível do Incêndio

Nos exames visuais no compartimento do motor, não foram observadas anormalidades nos

sistemas com potencial para deflagrar incêndios, como comentado na hipótese do sistema

elétrico, além do de alimentação de combustível do motor, no caso de gasolina ou álcool, e do

sistema de freios, pois não apresentaram vazamentos de combustível e nem do líquido de

freio. Então, descartada a possibilidade do capim ser o combustível principal da eclosão do

incêndio e analisando-se atentamente o local da eclosão do incêndio sob outros enfoques, em

busca da causa ou causas do incêndio, deparou-se com seguintes constatações: conduto de

óleo do sistema de assistência hidráulica da direção com a ligação de mangueira destruída

pelo fogo entre duas conexões prensadas, exposição do duto flexível metálico da mangueira

do conduto de óleo; extremidade do segmento metálico do conduto fixado na caixa de direção

recoberta com película oleosa; formato do restante da mangueira comburida; suporte do tubo

de escapamento próximo ao silenciador danificado devido a calor intenso; e aspecto marcante

do esfumaçamento em cavidade na carroceria no setor inferior do veículo – Figura 9 e Figura

10. Essas evidências denotam uma ocorrência de vazamento do fluido do sistema hidráulico

de direção, por motivo não identificado. No entanto, cabe elucubração sobre as possíveis

causas, tendo em vista que aqui se discute qual foi o combustível que fechou o triângulo do

fogo, então se pode levar em consideração a possível ocorrência de uma conexão defeituosa

na ligação entre as tubulações metálicas e a mangueira; pelo aumento de pressão no circuito; e

vibração e/ou atrito do conduto do óleo do sistema hidráulico da direção devido a contato com

o quadro agregado, entre outros problemas.

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Figura 9: Vista do local onde ocorreu a eclosão do incêndio, o foco inicial do fogo, e parte do

conduto de óleo do sistema de assistência hidráulica da direção com a ligação da mangueira

de borracha destruída pelo fogo próximo da fixação com prensagem pelo segmento metálico e

a exposição da parte metálica flexível do conduto de óleo

Fonte: Acervo do autor (2017)

Figura 10: No centro da figura a vista da extremidade do segmento metálico do conduto

fixado na caixa de direção recoberto com película oleosa, o esfumaçamento concentrado na

cavidade da carroceria e o suporte do tubo de escapamento próximo ao silenciador danificado

devido ao calor intenso

Fonte: Acervo do autor (2017)

3. Conclusão

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A construção da dinâmica do incêndio cinge a perícia: a finalidade da direção hidráulica é

reduzir os esforços de manobra, o motorista sem dificuldade aciona a parte mecânica do

sistema por meio do volante, a força para direcionar as rodas é feita pela pressão transmitida

ao fluido. O conjunto é formado basicamente pelo mecanismo de direção, bomba hidráulica,

reservatório de óleo e tubulações de alta e baixa pressão. O acréscimo de pressão age de um

lado ou do outro da cremalheira. A bomba hidráulica é acionada quando o motor entra em

funcionamento, bombeando o fluido do reservatório e produzindo a pressão necessária para o

mecanismo da direção. Com a ocorrência de uma falha, como dito antes, no sistema de

direção hidráulica, representada por um vazamento a partir do duto de maior pressão, durante

o tempo de funcionamento da bomba hidráulica, o fluido hidráulico, cujo ponto de inflamação

é de 177°C, passou a ser vaporizado formando uma mistura de oxigênio e combustível nas

proporções ideais para ignição devido à proximidade da fonte de calor, o sistema de escape do

veículo, que pode atingir temperatura de superfície exterior maior do que 300 °C, formando o

triângulo do fogo. Eclodido o fogo, a quantidade de capim, depositada no local de origem do

fogo, se queima e o volume de fluido hidráulico ainda existente no circuito hidráulico com

maior calor de combustão que o capim, continua sendo injetado no foco do incêndio, até o

motor parar de funcionar, sustenta e amplia o fogo que passa a consumir os materiais

combustíveis presentes nas proximidades e em seu caminho ascendente até o incêndio ser

debelado pelo pó químico extintor.

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