relaÇÃo perito-periciado crm 97-2003

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Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Sul C R E M E R S II FÓRUM DE PERÍCIAS MÉDICAS 27 e 28 de maio de 2011 RELAÇÃO PERITO-PERICIADO Luciana Slongo Coiro Médica perita previdenciária Médica perita legista Mestra em Saúde Pública/Epidemiologia

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Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul CREMERS II FRUM DE PERCIAS MDICAS 27 e 28 de maio de 2011

RELAO PERITO-PERICIADOLuciana Slongo Coiro Mdica perita previdenciria Mdica perita legista Mestra em Sade Pblica/Epidemiologia

DESTAQUE NO SITE DO CREMERSII Frum de Percias Mdicas Evento acontece nos dias 27 e 28 de maio e ter presena do presidente do INSS

II Frum de Percias Mdicas Aspectos ticos e Legais abordar temas relacionados s percias mdicas, em especial as previdencirias.O Cremers realizar entre os dias 27 e 28 de maio o , evento que

A abertura contar com a presena do presidente do INSS, Mauro Hauschild, que ir palestrar sobre Percias Mdicas do INSS Modelo atual e viso futura.

A atividade acontece atravs das Cmaras Tcnicas do Cremers, coordenadas pelo conselheiro Jefferson Piva, e com o apoio da CT de Percias Mdicas, sob coordenao do conselheiro Euclides Virissimo Pires.

- A rea problemtica. Queremos discutir seus problemas e buscar solues, pois os mdicos peritos enfrentam dificuldades para o desempenho de suas atividades destaca o diretor Iseu Milman, responsvel pela organizao do evento.

Na programao, destacam-se outros aspectos que sero abordados, como o modelo de atendimento do atual sistema pericial, o ponto de vista do Conselho, condies de trabalho, instalaes fsicas, horrios de trabalho e de atendimento, informatizao, riscos e proteo dos peritos e aspectos ticos da percia mdica.

Os debates devem ocorrer para que ocorra busca honesta e verdadeira de solues para conflitos. Os conflitos so responsveis pelo desconforto que move em direo s mudanas. Discutir aspectos/opinies divergentes em relao a problemas origina idias para a resoluo dos mesmos sempre difcil a proposio de mudanas e ainda mais difcil implementar as mesmas

O NVEL DE DESCONFORTO NAS RELAES QUE SE ESTABELECEM EM TORNO DA PREVIDNCIA SOCIAL ESTO INSUPORTVEIS ! Os usurios esto insatisfeitos Os sindicatos de trabalhadores esto insatisfeitos Os gestores da Autarquia INSS esto insatisfeitos Os servidores da administrativos esto insatisfeitos Os servidores peritos esto insatisfeitos

FALTA DE COMPREENSO

Um dos pontos de atrito e impedimento do exerccio correto da atividade pericial na Previdncia Social a IGNORNCIA acerca da natureza da mesma.

TRAANDO UM PARALELO Um periciado ao comparecer ao IML para exame de leses corporais SABE que no est indo consultar. SABE que quem pediu o exame foi uma AUTORIDADE (o Delegado). SABE que a SOCIEDADE NO ADMITE CRIMES E QUE H LEIS PARA ORDENAR ESTAS QUESTES (punir quem comete crimes). Para ser legista basta ser mdico e isto compreendido

Um requerente que vai ao INSS QUER UM BENEFCIO PREVIDENCIRIO (pecnia). Muitas vezes comporta-se na percia previdenciria como se esta FOSSE UMA CONSULTA e o perito previdencirio um MDICO QUE DEVE AJUDAR os segurados (a despeito das leis que regem o sistema). Entendem o perito previdencirio AUTORIDADE (no enxergam no INSS exige a percia por ter como dever CONTRIBUIES DA SOCIEDADE para a Seguradora pblica). Para ser perito especialistas previdencirio como sendo a a autoridade que legal controlar as Previdncia Socialmdicos

querem

QUESTES A AVERIGUAR: POR QUE NO INSS A CONFUSO ACERCA DA NATUREZA DA ATIVIDADE PERICIAL PROBLEMA CRNICO QUE AINDA NO MERECEU A DEVIDA ATENO ? H INTERESSE NA MANUTENO DE UM SISTEMA DE CARACTERSTICAS PATERNALISTAS COM DISTRIBUIO DE RECURSOS DE CARTER COMPULSRIO PROVENIENTES DOS TRABALHADORES ? SE SIM POR QUE NO SE FOMENTA ESTE DEBATE COM A SOCIEDADE PARA ADEQUAO DA LEGISLAO ?

JUSTO QUE SE EXPONHA O GRUPO DE SERVIDORES PERITOS AO CONFRONTO COM A POPULAO POR ESTA ESPERAR QUE ESTES AJAM COMO MDICOS DE CONSULTRIO, RECEITANDO BENEFCIOS PARA A CURA DE MALES SOCIAIS?

RELAO PERITO-PERICIADO NO RELAO MDICO-PACIENTE A confuso entre relao mdico-paciente e perito-periciado GERA CONFLITOS As atribuies de ambos os profissionais nem sempre so compreendidas e bem esclarecidas aos interessados: pacientes e periciados.

A PRINCIPAL DIFERENA ENTRE AS RELAES Na relao mdico-paciente o ponto central o SEGREDO MDICO. No h como contar algo privado sem confiar e no h como confiar sem acreditar que haver manuteno do segredo pelo mdico.

De onde vem a instituio do segredo mdico? Do Juramento Hipocrtico: Penetrando no interior dos lares, meus olhos sero cegos, minha lngua calar os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. (Juramento Hipocrtico; Rezende J.M, Revista Paraense de Medicina, vol. 17(1):38-47, abril-junho de 2003)

Posteriormente s tradues e abreviaes do Juramento ocorreram mudanas de costume e avanos tecnolgicos que trouxeram consigo a necessidade de adaptao do mesmo s novas demandas da tica mdica. Podemos nos referir a estas mudanas comomodernizao do Juramento.

A mais conhecida a da conveno de Genebra, em 1948, da qual saliento o seguinte fragmento:Respeitarei os segredos a mim confiados.

Em 1994 a Assemblia Geral da Associao Mdica Mundial, em Sidney, modificou ligeiramente o texto:

Mesmo aps a morte do paciente, respeitarei os segredos que a mim foram confiados.

RELAO MDICO PACIENTE: RELAO DE CONFIANASegundo o Dicionrio Aurlio, de lngua portuguesa, tal palavra assim definida: "Confiana: (S.) 1. Segurana ntima de procedimento 2. Crdito, f 3. Boa fama 4.Segurana e bom conceito que inspiram as pessoas de probidade, talento, discrio, etc. 5. Esperana firme. Ou seja, confiana depsito de esperana e f entre as partes. Parece claro que, neste sentido, manter o sigilo ou segredo das informaes ntimas colhidas durante uma consulta mdica seja primordial.

Este tipo especial de confiana que ocorre entre mdico e paciente definido como CONFIDENCIALIDADE.

CONFIDENCIALIDADE a garantia do resguardo das informaes dadas pessoalmente, em confiana e, por conseguinte, a proteo contra a sua revelao no autorizada. Atualmente, confidencialidade considerada como sendo o dever de resguardar todas as informaes que dizem respeito a uma pessoa, isto , a sua privacidade. A confidencialidade o dever que inclui a preservao das informaes privadas e ntimas (Kennedy Institute of Ethics. Bioethics Thesaurus. Washington: KIE, 1995:9)

EXCEES 1) um srio dano fsico, a uma pessoa identificvel e especfica, tiver alta probabilidade de ocorrncia; 2) um benefcio real resultar desta quebra de confidencialidade; 3) for o ltimo recurso, aps ter sido utilizada persuaso ou outras abordagens, 4) este procedimento deve ser generalizvel, sendo novamente utilizado emoutra situao com as mesmas caractersticas, independentemente de quemseja a pessoa envolvida (http://www.ufrgs.br/bioetica/confqueb.htm)

Portanto, mesmo na relao mdico-paciente, h situaes em que se admite a quebra da confiana. Esta quebra est diretamente relacionada a um bem maior que deve ser protegido ou obtido e deve ter carter impessoal.

PERCIA PREVIDENCIRIA A Percia mdico-legal, na qual est includa a percia previdenciria; com fins de verificao de incapacidade laboral difere, e muito, da prtica da medicina assistencial,curativa. O objetivo da PERCIA no o diagnstico, tratamento e/ou cura de doenas. O objetivo da PERCIA A PROMOO DE JUSTIA SOCIAL auxiliando as autoridades sempre que o conhecimento mdico for necessrio para a elucidao de um fato de interesse da SOCIEDADE como um todo.

PERCIA PREVIDENCIRIA A percia da incapacidade laboral situa-se, em nosso pas, na esfera previdenciria, primordialmente. Est determinada pela lei 8213/91. Por conta da legislao vigente o requerente de um benefcio previdencirio por incapacidade laboral deve ser submetido percia mdica. Ou seja, o requerente no deseja ou quer passar por exame, mas deve submeter-se ao mesmo para que se verifique a veracidade de suas afirmaes e reste provado que se encontra incapaz.

Cabe ao perito do INSS, uma vez que ele perito tanto quanto os outros peritos, colher as provas necessrias para firmar convico, ou no, acerca das alegaes do requerente.

RELAO PERITO-PERICIADO No guarda qualquer semelhana com a relao mdico-paciente. Na esfera mdico-legal, principalmente onde o benefcio buscado seja financeiro, o perito uma barreira a ser transposta pelo requerente no sentido de obter direito, ou, infelizmente, como por vezes verificamos na prtica, um ganho indevido.

Este um dos motivos da existncia do perito previdencirio: coibir as tentativas de burla ao sistema e ganhos fraudulentos. Isto contribui para a credibilidade do sistema, manuteno e sustentabilidade, em longo prazo, do maior patrimnio dos trabalhadores brasileiros:

a previdncia pblica.

OS PERITOS DA PREVIDNCIA CONHECEM SEU MISTER ? Segundo recente estudo publicado na Revista Biotica, do CFM, por Almeida; EHR, os peritos da previdncia costumam tomar suas decises da seguinte maneira: os peritos pouco se preocupam em ser beneficentes e em nada se preocupam com a autonomia da vontade do requerente; a preocupao predominantemente demonstrada pelos peritos mdicos foi a aplicao correta da legislao, no se podendo, entretanto, afirmar que o princpio norteador predominante foi o da justia. Rev. biot (Impr.) 2011; 19(1): 277 - 98

APLICAR A LEGISLAO Verificou-se no estudo citado que esta a principal preocupao dos peritos da previdncia. ESTARIA INCORRETO ? EM UM PRIMEIRO MOMENTO, NO: FUNO DO PERITO SER O AGENTE DE INTERFACE ENTRE A MEDICINA E AS LEIS.

ISTO DEVE OCORRER COM EQUIDADE E JUSTIA PARA QUE A NECESSIDADE DA ATIVIDADE PERICIAL, MESMO QUE ANTIPTICA, SEJA COMPREENDIDA E RESPEITADA.

EQUIDADE E JUSTIA SO MUITO MAIS QUE APLICAR A LEGISLAO H QUE SE APROFUNDAR O ESTUDO PARA ENTENDER COMO OS PERITOS ESTO APLICANDO A LEGISLAO: COM QUAL GRAU DE OBJETIVIDADE/SUBJETIVIDADE ? H UNIFORMIZAO DE CONDUTAS ? H CAPACITAO SUFICIENTE ? CADA UM APLICA COMO BEM ENTENDE ?

HUMANIZAO H um crescente clamor por atendimento humano na previdncia. A grande maioria das queixas recai sobre o atendimento pericial. Porm o que seria humanizar o trabalho pericial quando NO H SEQUER ENTENDIMENTO DO QUE SEJA TAL TRABALHO ? Se h confuso entre PERCIA E ASSISTNCIA? Se no se verifica um movimento de conscientizao e informao sobre a PREVIDNCIA, seu carter contributivo, embora com firmes princpios calcados na solidariedade ?

HUMANIZAO PERCIA HUMANA PERCIA CORRETA, REALIZADA POR PROFISSIONAL INTEIRAMENTE CAPACITADO PARA A TAREFA QUE REALIZA.

PERCIA HUMANA ATIVIDADE INTELECTUAL COMPLEXA QUE DEMANDA O INTER-RELACIONAMENTO DE UMA SRIE DE SABERES MDICOS E NO MDICOS. PERCIA HUMANA NO O PREENCHIMENTO DE CASELAS DE UM LAUDO MDICO PR-PRONTO E ENGESSADO QUE NO PERMITE AO PROFISSIONAL EXPRESSAR SUAS CONVICES DE MANEIRA COMPLETA. PERCIA HUMANA DEVE DURAR O TEMPO DE OUVIR E O TEMPO DE BEM INFORMAR CADA PERICIADO RESPEITANDO SUA INDIVIDUALIDADE.

PERCIA HUMANA ATENDER COM TICA E EMPATIA, SEMPRE BUSCANDO RECONHECER DIREITOS DE QUEM OS POSSUI. PERCIA HUMANA TAMBM NEGAR O BENEFCIO INDEVIDO, POIS H UM BEM MAIOR A PROTEGER: A CONTRIBUIO DE MILHARES DE CIDADOS QUE TALVEZ NUNCA SENTEM NA FRENTE DE UM PERITO PREVIDENCIRIO.

QUE PERCIA PREVIDENCIRIA A SOCIEDADE BRASILEIRA QUER E PRECISA ? Este o debate amplo que ENTENDEMOS COMO URGENTE. Deveria envolver todos que, de alguma forma, se relacionam com a Previdncia/INSS. A DISCUSSO DA RELAO PERITO-PERICIADO, A NECESSIDADE DE COMPREENSO E CORRETA DIVULGAO DA NATUREZA DA MESMA, PEQUENA PARTE DENTRO DE UM UNIVERSO DE INSATISFAES (TANTO DE PERICIADOS QUANTO DE PERITOS).