relaÇÃo entre trabalho e saÚde prof. paulo de oliveira perna/ufpr
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RELAÇÃO ENTRETRABALHO E SAÚDE
Prof. Paulo de Oliveira Perna/UFPR
SER HUMANO e TRABALHO
• "Como criador de valores de uso, como trabalho útil, é o trabalho, por isso, uma condição de existência do homem, independente de todas as formas de sociedade, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre homem e natureza e, portanto, da vida humana.“
• (MARX, O capital)
TRABALHO E VALOR DE USO
TRABALHO
TRABALHO
TRABALHO
TRABALHO
TRABALHO
TRABALHO E SER HUMANO“Já nas sociedades primitiva, que só há pouco estão dando os seus primeiros passos ao longo da estrada do desenvolvimento histórico, a completa constituição psicológica dos indivíduos pode ser vista como diretamente dependente do desenvolvimento de tecnologia, do grau de desenvolvimento das forças de produção e da estrutura daquele grupo social ao qual o indivíduo pertence.”
•(Vygotsky, A transformação socialista do homem)
TRABALHO E SER HUMANO
• “(...) Da mesma forma que a ação produtiva do homem altera sua constituição biológica pela criação e uso de ferramentas, a apropriação de conhecimentos gera processos de raciocínio completamente novos, bem como novas necessidades de conhecer e raciocinar.”
• (FACCI; TULESKI 2006)
Promove a inteligência, pelo permanente desafio colocado no avanço civilizatório.
Estimula a capacidade de concepção, de criação, de análise e de lógica.
Mobiliza os componentes de afetividade ao exigir a relação com outras pessoas.
Utiliza experiências anteriores (individuais ou coletivas).
TRABALHO E PSIQUE (MENTE)
“Todos os homens são intelectuais'' (Gramsci, Cadernos do Cárcere) mesmo que nem todos exerçam na sociedade a função específica de intelectuais”.
“Em qualquer trabalho físico, mesmo o mais mecânico e degradado, existe um mínimo de qualificação técnica, isto é, um mínimo de atividade intelectual criadora”.
• (Gramsci, Os intelectuais orgânicos e a formação da cultura)
TRABALHO E PSIQUE (MENTE)
SAÚDESaúde e salud (espanhol) vem de salus/salutis = inteiro,
intacto, íntegro.Dele deriva outro radical de interesse: salvus, que
conotava a superação de ameaças à integridade física dos sujeitos, portanto, salvo, redimido, resgatado.
Segundo alguns autores, salus provém do termo grego holos = totalidade, inteireza (teria sido incorporado ao
latim clássico através da transição s´olos).
Santé (francês), sanidad, (espanhol) e o adjetivo "são", provêm do latim medieval sanus, = puro, imaculado,
correto, verdadeiro.
TRABALHO E SAÚDE
“Todos os aspectos da personalidade do indivíduo são desenvolvidos no ato de trabalhar.”
(Sadi dal Rosso, Mais trabalho!, 2008)
Saúde é poder trabalhar.
ou
Trabalhar é ter saúde.Para se discutir as relações entre saúde e trabalho, é obrigatório se discutir o
processo e a organização do trabalho.
CAPITALISMO: característica central
Duas classes:1)Proprietária dos meios de produção; portanto, define os rumos da produção
(finalidade, quantidade, preço, etc.)
1)Proprietária unicamente de sua força de trabalho; sofre as consequências da
direção que o processo toma.
TRABALHO E VALOR DE TROCA
• "Ao desaparecer o caráter útil dos produtos do trabalho, desaparece o caráter útil dos trabalhos nele representados, e desaparecem também, portanto, as diferentes formas concretas desses trabalhos, que deixam de diferenciar-se um do outro para reduzir-se em sua totalidade a igual trabalho humano, a trabalho humano abstrato.
• Consideremos agora o resíduo dos produtos do trabalho. Não restou deles a não ser a mesma objetividade fantasmagórica, uma simples gelatina de trabalho humano indiferenciado, isto é, do dispêndio de força de trabalho humano, sem consideração pela forma como foi dispendida."
• (Marx, O Capital)
TRABALHO E VALOR DE TROCA
Trabalho no capitalismo: progressiva intensificação
Revolução Industrial: séc. 17-19
Taylorismo-fordismo: séc. 20
Toyotismo: anos 70/80 (reestr. prod.)
Trabalho no capitalismo atual
Desemprego (boicote ao desenvolvimento individual)Precarização (péssimas condições para o exercício do trabalho)Intensificação (superexploração)A combinação de intensificação e precarização.
DUPLA FACE DO TRABALHOI)Em sua concepção geral, o trabalho é processo através do qual o homem transforma a natureza e produz a humanidade. Nesta perspectiva, o trabalho sempre será qualificador, propiciando o exercício da criação, da reflexão e da auto-realização.
II)Sob o capitalismo, quando o trabalho serve para o capitalista acumular riqueza através do trabalho excedente, ele passa a ser desqualificador: o trabalhador perde o controle do seu trabalho e das decisões sobre ele e, em decorrência, perde a posse do produto do seu esforço. Em geral, a separação entre trabalho intelectual e manual se impõe. O trabalhador sofre, se desgasta, se aliena. (Kuenzer, 2004)
O trabalho na reestruturação produtivaOs serviços de saúde – privados ou públicos
(marcas do Estado neoliberal), cada vez mais, se assemelham aos produtos das demais empresas
(só muda o processo de trabalho): baixos salários; privatização crescente de serviços de saúde; complexificação tecnológica com redução da força de
trabalho; terceirizações (limpeza, segurança, alimentação,
transporte, etc.) – cooperativas, ONGs., etc.; FLEXIBILIZAÇÃO: mudanças nos contratos (empregos
temporários, estágios, etc.) e processos de trabalho (multitarefas, polivalência, produtividade).
trabalho informal, apelo ao voluntariado.
O papel da ideologiaEm tempos urgirem outras formas de “convencimento” (pela força ou pela persuasão) para o trabalhador ser ele mesmo mediador da sua própria exploração:
- ser competitivo;- ser empreendedor;- discurso da qualificação como promessa de melhorias no mundo do trabalho;- a polivalência como mérito e critério de avaliação;- o trabalho em equipe (apregoado, mas pouco ou nada realizável na prática);- apelo à “humanização”.
SÍNDROME DE BURNOUT(queimar de dentro prá fora)
“A dor de um profissional encalacrado entre o que pode fazer e o que efetivamente
consegue fazer, entre o céu de possibilidades e o inferno dos limites estruturais, entre a
vitória e a frustração; é a síndrome de um trabalho que voltou a ser
trabalho, mas que ainda não deixou de ser mercadoria”
(Codo, W., “Educação: carinho e trabalho”, 1999)
Adoecimento pelo trabalho docente
Ansiedade Angústia Irritação Desconfiança Descrença Cinismo com o trabalho (como proteção) Insonia Hipertensão Diabetes Obesidade/magreza Dores de cabeça Cansaço crônico Problemas específicos: fala, audição, coluna, etc.
TRABALHO E SAÚDE
“A possibilidade de prevenção destes distúrbios envolve a busca
de maior controle dos trabalhadores sobre seu próprio trabalho, pela solidariedade entre pares e pela
superação da lógica mercantil, que hoje impregna o trabalho docente
(...).”(LACAZ, F. A. C., 2010)
REFERÊNCIASCODO, Wanderley (org.). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis-RJ: Vozes, 1999.
DAL ROSSO, S. Mais trabalho! A intensificação do labor na sociedade contemporânea. São Paulo: Boitempo, 2008.
FACCI, M. G. D.; TULESKI, S. C. Da apropriação da cultura ao processo de humanização: o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. In: Anais do III Encontro Brasileiro de Educação e Marxismo – EBEM. UFPR, Curitiba, Paraná, Brasil, 2006.
GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.
KUENZER, Acácia Z. Sob a reestruturação produtiva, enfermeiros, professores e montadores de automóveis se encontram no sofrimento do trabalho. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 239-265, mar. 2004.
LACAZ, F. A. C. Capitalismo organizacional e trabalho: a saúde do docente. Universidade e Sociedade, Brasília, n. 45, n. 1, p. 51-59, jan. 2010.
VYGOTSKY, L. A transformação socialista do homem. Disponível em: <www. marxists.org>.