relação entre direito e a moral

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Relação entre direito e a moral  Relações entre o Direito e a moral Tanto o direito quanto a moral apresentam-se como sistema de normas de conduta humana, mas que apresentam diferenças.  A moral tem como ideia e valor central o concei to de bem, que po de ser entendid o como tudo aqui lo que promov e e desenvolve o ser humano. Veja as seguintes correlações: Nem tudo o que é moral é jurídico: ex: dar preferência aos mais velhos em assentos públicos ou particulares; Da mesma forma, nem tudo o que é jurídico é moral. Ex: o direito garante igualdade na partilha da herança, ainda que um dos herdeiros jamais tenha despendido respeito e carinho aos pais. Há também regras jurídicas que são amorais, ou seja, indiferentes à moral: é o que se passa com grande parte das regras de trânsito. Assim, o que há de moral ou imoral em determinar-se por lei que determinada rua deixa de ser mão-dupla e passa a ser trafegável em sentido único? Em que pese sobressair enorme coincidência entre as regras morais e jurídicas, sempre há um resíduo de normas  jurídicas que e scapa à moral , por mais que se esforce no sentido de que o di reito somente tutel e o “lícito moral ”.   A moral é algo que se cumpre espontaneame nte. Sua adesã o se dá pela s imples consciên cia dapesso a. O respeito à lei moral não deriva da força, mas da voluntária obediência, por compreender que aquele ato ou conduta traz algo de positivo ao espírito e à convivência humana. Em situação oposta, o Direito se identifica com uso da força. Não se trata, porém, em tese, da força arbitrária, mas daquela que se apresenta legítima, compreendida como expressão do corpo social, manifestada na lei.  A força que se emp rega no Direi to não é de coaç ão, mas coerção . Coação é uso da força ilegítima , pelos meios físicos ou de ameaça psíquica. Coerção é diferente de coação. Coerção é o uso da força organizada com a qual consentiu a sociedade, afigurando como técnica da qual se serve o Estado para fazer imperar o Direito. Portanto, entre o Direito e a Moral há uma diferença básica: a Moral é incoercível e o Direito é coercível  A força no Direi to é sempre emp regada em po tencial, caso a con duta prescri ta pela norma não seja volun tariamente acatada.  Assim, deve-se a gir de conformi dade com as leis, mesmo que com ela não concordemos.  As leis são vál idas, concordemos ou não. Ex: pa gamos imposto s, nem sempre de bo a vontade. Nesse contexto, Kelsen definiu o Direito como a “ordenação coercitiv a da conduta humana”. As normas da moral, tal como as jurídicas, podem associar uma pessoa a outra, ou uma pessoa a um ente (Estado, empresas), mas apresentam outro traço distintivo em relação ao Direito: as normas morais não são exigíveis contra quem as descumpre, tal como o são as normas jurídicas. Quando o Direito regula a conduta humana, ao mesmo tempo que delimita a ação, garante ao homem previsão do espaço dentro do qual ele pode agir.  Assim, o direito nã o visa ao val or negativo da l imitação em si, ma s ao valor posi tivo de se pretend er algo no esp aço lícito de ação demarcad o. Outras Diferenças entre o Direito e a Moral a) Bilateralidade do Direito e unilateralidade da Moral: as normas jurídicas possuem uma estrutura imperativo- atributiva., isto é, ao mesmo tempo em que impõem um dever jurídico a alguém, atribuem um poder ou direito subjetivo a outrem. A moral, t odavia, tem estrutura mais simples, prescreve apenas deveres a serem observados. b) Coercibilidade do Direito e Incoercibilidade da Moral: o Direito é coercível, ou seja, o cumprimento de seus comandos é constrangido pelo uso da força organizada do Estado. No campo do Direito, sujeitamo-nos ao cumprimento de normas postas por terceiros. A Moral, por sua vez, carece do elemento coercitivo, mas nem por isso as normas da Moral deixam de exercer uma certa intimidação perante a sociedade. Direito e sanção  As regras éticas, co mo a moral e o Di reito, existem pa ra serem obedeci das; não fari a sentido se as sim não fosse. Quando são descumpridas surge a consequência, que vale como sanção.  As sanções são di ferentes no Direi to e na Moral. No campo da Moral, são sanções: o remorso, o arrependimento, o exame de consciência, todas no foro íntimo. No plano externo, a reprovação da conduta pela sociedade, o demérito a que o indivíduo se expõe, a crítica, etc. Entretanto, as sanções morais podem ser indiferentes a quem infringe as normas morais. Daí a necessidade da sanção pré-determinada e organizada, que é a nota da sanção jurídica.  A sociedade se organiza, atrav és do Estado, pa ra a prevençã o, reparação e pu nição daque la transgressão da norma  jurídica, atravé s dos órgãos da A dministração Pública, do Poder Judiciário, Ministério público e aparelhamento policial.  Assim, é o Estado , como ordenação do Poder, qu e disciplina as formas e os proce ssos de execuç ão coercitiv a do Direito. A coerção estatal é universal, atinge a todos que estão sujeitos a soberania do Estado.

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  • 5/20/2018 Relao Entre Direito e a Moral

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    Relao entre direito e a moral

    Relaes entre o Direito e a moralTanto o direito quanto a moral apresentam-se como sistema de normas de conduta humana, mas que apresentamdiferenas.A moral tem como ideia e valor central o conceito de bem, que pode ser entendido como tudo aquilo que promove edesenvolve o ser humano.Veja as seguintes correlaes:Nem tudo o que moral jurdico: ex: dar preferncia aos mais velhos em assentos pblicos ou particulares;

    Da mesma forma, nem tudo o que jurdico moral. Ex: o direito garante igualdade na partilha da herana, aindaque um dos herdeiros jamais tenha despendido respeito e carinho aos pais.H tambm regras jurdicas que so amorais, ou seja, indiferentes moral: o que se passa com grande parte dasregras de trnsito. Assim, o que h de moral ou imoral em determinar-se por lei que determinada rua deixa de sermo-dupla e passa a ser trafegvel em sentido nico?Em que pese sobressair enorme coincidncia entre as regras morais e jurdicas, sempre h um resduo de normasjurdicas que escapa moral, por mais que se esforce no sentido de que o direito somente tutele o lcito moral.A moral algo que se cumpre espontaneamente. Sua adeso se d pela simples conscincia dapessoa. O respeito lei moral no deriva da fora, mas da voluntria obedincia, por compreender que aquele ato ou conduta traz algode positivo ao esprito e convivncia humana.Em situao oposta, o Direito se identifica com uso da fora. No se trata, porm, em tese, da fora arbitrria, masdaquela que se apresenta legtima, compreendida como expresso do corpo social, manifestada na lei.A fora que se emprega no Direito no de coao, mas coero. Coao uso da fora ilegtima, pelos meiosfsicos ou de ameaa psquica.Coero diferente de coao. Coero o uso da fora organizada com a qual consentiu a sociedade, afigurandocomo tcnica da qual se serve o Estado para fazer imperar o Direito.Portanto, entre o Direito e a Moral h uma diferena bsica: a Moral incoercvel e o Direito coercvelA fora no Direito sempre empregada em potencial, caso a conduta prescrita pela norma no seja voluntariamenteacatada.Assim, deve-se agir de conformidade com as leis, mesmo que com ela no concordemos.As leis so vlidas, concordemos ou no. Ex: pagamos impostos, nem sempre de boa vontade.Nesse contexto, Kelsen definiu o Direito como a ordenao coercitiva da conduta humana. As normas da moral, talcomo as jurdicas, podem associar uma pessoa a outra, ou uma pessoa a um ente (Estado, empresas), mas

    apresentam outro trao distintivo em relao ao Direito: as normas morais no so exigveis contra quem asdescumpre, tal como o so as normas jurdicas.Quando o Direito regula a conduta humana, ao mesmo tempo que delimita a ao, garante ao homem previso doespao dentro do qual ele pode agir.Assim, o direito no visa ao valor negativo da limitao em si, mas ao valor positivo de se pretender algo no espaolcito de ao demarcado.Outras Diferenas entre o Direito e a Morala) Bilateralidade do Direito e unilateralidade da Moral: as normas jurdicas possuem uma estrutura imperativo-atributiva., isto , ao mesmo tempo em que impem um dever jurdico a algum, atribuem um poder ou direitosubjetivo a outrem. A moral, todavia, tem estrutura mais simples, prescreve apenas deveres a serem observados.b) Coercibilidade do Direito e Incoercibilidade da Moral: o Direito coercvel, ou seja, o cumprimento de seuscomandos constrangido pelo uso da fora organizada do Estado. No campo do Direito, sujeitamo-nos ao

    cumprimento de normas postas por terceiros. A Moral, por sua vez, carece do elemento coercitivo, mas nem por issoas normas da Moral deixam de exercer uma certa intimidao perante a sociedade.

    Direito e sanoAs regras ticas, como a moral e o Direito, existem para serem obedecidas; no faria sentido se assim no fosse.Quando so descumpridas surge a consequncia, que vale como sano.As sanes so diferentes no Direito e na Moral.No campo da Moral, so sanes: o remorso, o arrependimento, o exame de conscincia, todas no foro ntimo. Noplano externo, a reprovao da conduta pela sociedade, o demrito a que o indivduo se expe, a crtica, etc.Entretanto, as sanes morais podem ser indiferentes a quem infringe as normas morais. Da a necessidade dasano pr-determinada e organizada, que a nota da sano jurdica.A sociedade se organiza, atravs do Estado, para a preveno, reparao e punio daquela transgresso da norma

    jurdica, atravs dos rgos da Administrao Pblica, do Poder Judicirio, Ministrio pblico e aparelhamentopolicial.Assim, o Estado, como ordenao do Poder, que disciplina as formas e os processos de execuo coercitiva doDireito. A coero estatal universal, atinge a todos que esto sujeitos a soberania do Estado.

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