relação entre desemprego e tecnologia no brasil a partir do plano

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS Letícia Satômi Kuroda RELAÇÃO ENTRE DESEMPREGO E TECNOLOGIA NO BRASIL A PARTIR DO PLANO REAL PORTO VELHO 2008

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

Letícia Satômi Kuroda

RELAÇÃO ENTRE DESEMPREGO E TECNOLOGIA NO BRASIL A PARTIR DO

PLANO REAL

PORTO VELHO

2008

LETÍCIA SATÔMI KURODA

RELAÇÃO ENTRE DESEMPREGO E TECNOLOGIA NO BRASIL

A PARTIR DO PLANO REAL

Monografia apresentada à FundaçãoUniversidade Federal de Rondônia comorequisito parcial para obtenção do título debacharel em Ciências Econômicas.

Orientador: Prof. Jonas Cardoso

PORTO VELHO

2008

LETÍCIA SATÔMI KURODA

RELAÇÃO ENTRE DESEMPREGO E TECNOLOGIA NO BRASILA PARTIR DO PLANO REAL

Monografia apresentada à FundaçãoUniversidade Federal de Rondônia comorequisito parcial para a obtenção do títulode bacharel em Ciências Econômicas

Data da aprovação: ___/___/_____

Prof. Jonas Cardoso

Prof. Edílson Lobo

Prof Silvio Persivo

PORTO VELHO

2008

RESUMO

Este trabalho apresenta as causas do crescente aumento do desemprego nosúltimos anos, principalmente após a implantação do Plano Real em 1994,enfatizando o impacto que as mudanças tecnológicas provocam no mercado detrabalho, resultando no desemprego tecnológico ou estrutural. Expõe dados,estatísticas e estudos feitos por grandes instituições como IBGE (Instituto Brasileirode Geografia e Estatística), DIESSE (Departamento Intersindical de Estatística eEstudos Sócio-Econômicos), SEADE, IPEA etc. Aborda a importação de bens decapital e a produtividade como conseqüências da tecnologia, e também causadorasdo desemprego, e as mudanças ocorridas ao longo dos anos nas empresas e emsua mão-de-obra. Chegando à conclusão que após o Plano Real, o desempregotecnológico aumentou significativamente. Ou seja, com a maior automação eespecialização das empresas frente á tantas inovações, o corte na mão-de-obra foiinevitável. E, apesar do progresso tecnológico influenciar de forma positiva nasempresas (aumentando sua produtividade), tem ocorrido um detrimento no mercadode trabalho.

Palavras-chave: Desemprego tecnológico. Importação de bens de capital.Produtividade.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 06

2. A TRAJETÓRIA DO PLANO REAL ................................................................. 08

2.1 ASPECTOS SOCIAIS ..........................................................................10

2.2 ASPECTOS ECONÔMICOS ............................................................... 10

3. O DESEMPREGO TECNOLÓGICO E A MODERNIZAÇÃO .............................. 13

4. A TRAJETÓRIA DO CRESCENTE DESEMPREGO A PARTIR DE 1994 ...........16

5. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 26

6

1. INTRODUÇÃO

O Brasil vive, atualmente, numa época em que depende, constantemente, da

tecnologia, onde todos se encontram “acomodados” com tanta facilidade, agilidade e

eficácia nos produtos e serviços, tornando-se cada vez mais necessitados destes

meios. As indústrias e as empresas são exemplos de que necessitam destas

tecnologias e procuram adaptar-se a estas evoluções do processo de produção.

Esse avanço tecnológico tem influenciado o mercado de trabalho e conduz a

um tema tão comum e conhecido, que é o desemprego. Atribui-se o fato de ser

comum e conhecido por afetar a maioria dos habitantes do país, direta ou

indiretamente. Na pesquisa feita pelo IBGE (Instituo Brasileiro de Geografia e

Estatística) em Julho de 2007, estima-se que há aproximadamente 2,2 milhões de

pessoas desempregadas no Brasil nas seis regiões metropolitanas (Belo Horizonte,

Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo). As causas do

desemprego são várias, mas este estudo irá se limitar a tratar apenas do

desemprego causado pelo progresso tecnológico, chamado desemprego

tecnológico.

Este trabalho tem por objetivo analisar as mudanças ocorridas no mercado de

trabalho a partir de 1994 com a implantação do Plano Real. A partir deste contexto,

busca-se avaliar os impactos das inovações tecnológicas, bem como mostrar as

alterações no emprego como a criação ou destruição de postos de trabalho em face

da automação. Tem por objetivo também apresentar como conseqüência dessa

modernização a produtividade e a importação de bens de capital. Assim como,

relacionar o aumento dessas duas variáveis com o aumento da taxa de desemprego

no país. Será também avaliado o comportamento das empresas frente ao acelerado

processo produtivo, onde se empregam a produtividade e a importação de bens de

capital como conseqüências da evolução tecnológica. Tem por objetivo, também,

relacionar o aumento da produtividade e o crescente aumento da importação de

bens de capital, a partir da década de 90, com o aumento dos níveis de desemprego

no país.

A apresentação dos objetivos deste trabalho está divida em três sessões. A

sessão 2 descreve os objetivos e etapas ulteriores da implantação do Plano real. Na

sessão 3 será apresentada as formas conceituais expostas por diversos autores à

respeito do desemprego, modernização, bens de capital, produtividade, Plano Real,

dentre outros assuntos relacionados com o trabalho. O capítulo seguinte discorre

sobre a trajetória do aumento do desemprego, a partir do início dos anos 90 até os

dias atuais através de exposição de quadros, tabelas e gráficos das principais

instituições que pesquisam sobre o desemprego.

7

2. A TRAJETÓRIA DO PLANO REAL

Em 1º de Julho do ano de 1994 foi implantado o Plano Real. Este plano

econômico foi criado durante o governo de Itamar Franco, pelo ministro Fernando

Henrique Cardoso, que veio a se tornar presidente no ano seguinte. Objetivo

principal do Plano Real era a diminuição da exorbitante inflação que assolava a

economia do país naqueles últimos anos. O Plano Real foi o plano que mais obteve

êxito em seus resultados, comparado com os outros planos que o antecederam, tais

como: Cruzado (1986), Bresser (1987), Verão (1989), Collor I (1990), Collor II

(1991)1. O Gráfico 1 representa a inflação mensal dos respectivos planos citados.

Fonte: Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas FIPE/2000

Gráfico 1 – Inflação Mensal (IPC-FIPE)

A implantação do Plano passou por três etapas. A primeira etapa consistiu no

ajuste fiscal a curto prazo, ou seja, procurou-se reduzir e obter maior eficiência dos

gastos do governo. Para isto, foi criado no final do ano de 1993 e para atuar na

gestão de 1994 e 1995, o FSE (Fundo Social de Emergência), que tinha por objetivo

reduzir os gastos públicos e aumentar as receitas tributárias. Com isso, esperava-se

equilibrar as contas do governo e suprimir o déficit público, considerado o principal

causador da inflação. A segunda etapa iniciou-se no começo de 1994, com a criação1 Fonte: Artigo “O Plano Real e seus reflexos”, de Rosemar Cristina de Oliveira., de 1999.

8

da URV (Unidade Real de Valor), que teve como moeda transitória, entre o Cruzeiro

e o Real, o denominado Cruzeiro Real. Este tinha por objetivo indexar contratos,

preços e salários por meio da URV, bem como tornar a transição monetária menos

violenta. Diferenciou-se, neste caso, dos outros planos por não ter havido um

congelamento dos preços e salários ao tentar desindexar a economia. A terceira e

última etapa deu-se com a mudança da unidade monetária – o Real. Foi autorizado

ao Banco Central a emitir até março de 1995 até R$ 9,5 bilhões, e podendo haver

alteração em até 20% deste valor. Esta mudança monetária veio acompanhada de

adoção de âncoras monetária e cambial. A âncora monetária, baseava-se nas

restrições de emissão da quantidade de moeda como já foi exposto, não podendo

ser alterada, independente de pressões para assegurar a estabilidade da moeda. E

a âncora cambial consistiu na definição de um limite máximo de venda do câmbio na

paridade de R$ 1,00 = US$ 1, 00, procurando reduzir e estabilizar o nível de preços.

(SANDRONI, 2005, pg. 655)

A inflação, motivo principal da criação do plano, diminuiu de 7.273,4% no

primeiro semestre de 94 para 39% no segundo semestre. O sucesso inicial do plano

é incontestável. O gráfico 2 demonstra a veracidade dos efeitos do plano na inflação:

Fonte: IBGE, Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor (IBGE/SNIPC).

9

2.1 ASPECTOS SOCIAIS

No que tange a esse aspecto, a implantação do plano resultou, de um lado,

em ganhos no poder aquisitivo do trabalhador, mas por outro lado, houve um

acréscimo do número de desempregados, assunto que será abordado, mais

detalhadamente, ao longo do trabalho.

A diminuição da inflação ocasionou mudanças no poder de compra da

população, estimulando o consumo, que foi também influenciado pela mudança nos

salários e devido à facilidade de acesso ao crédito propiciado entre junho e

dezembro de 1994, que foi expandido em 150% 2. Antes, o salário mínimo comprava

pouco mais da metade de uma cesta básica, que em Julho de 94 custava R$ 106,95

e o salário mínimo era de R$ 64,79. Mas, com a nova moeda, houve um crescimento

de quase 60% no poder aquisitivo do trabalhador. 3

2.2 ASPECTOS ECONÔMICOS

No segundo semestre de 1997, a moeda nacional sofre um ataque com a

crise asiática e, como conseqüência, houve uma elevação da taxa de juros e

aumento dos tributos para equilibrar as contas do governo, apesar do Real não ter

sofrido desvalorização. Em 1998, ocorreu outro ataque especulativo à moeda com a

crise russa.

O período antes de 1999 era caracterizado pela adoção do câmbio fixo, o que

tornava o real sobrevalorizado, tanto que em Outubro de 1994 o câmbio alcançou a

cotação de R$ 0,83/US$ 1,00. Com o real sobrevalorizado, fez com que o fluxo de

2 MERCADANTE, Aloizio (org.). O Brasil pós-Real: a política econômica em debate. Campinas,SP, UNICAMP. IE, 1998.3 Brasil. Presidência da República. Brasil 1994-2002: a era do Real. Brasília: SECOM, 2002.

10

importações no país aumentasse consideravelmente, como pode ser observado no

gráfico abaixo.

O gráfico 3 demonstra a balança comercial (em US$ bilhões) no período

de 1994 a 2007, indicando a diferença do período antes e depois de 1999:

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria de Comércio Exterior – SECEX Departamento de Desenvolvimento e Planejamento de Comércio Exterior - DEPLAGráfico 5 – Balança Comercial Brasileira – 1994 a 2007 – US$ bilhões FOB

O período após 1999, que foi caracterizado pela mudança do câmbio (adoção

do regime de câmbio flutuante) e conseqüente desvalorização do real frente ao

dólar, fez com que as exportações brasileiras aumentassem gradualmente, de forma

a tornar o fluxo cambial positivo para o país.

11

Nota-se que em 2000 ainda houve um pequeno saldo negativo na balança,

que se deveu ao reajuste de empresariados nacionais para reabrirem novamente

seus mercados. Contudo, a partir de então, o saldo da balança brasileira

permaneceu positivo.

12

3. DESEMPREGO TECNOLÓGICO E MODERNIZAÇÃO

As causas do desemprego são várias, mas esta monografia irá tratar apenas

do desemprego causado pelos avanços da tecnologia, onde:

O desemprego tecnológico é caracterizado pela diminuição relativa

da quantidade de trabalho humano empregado nas atividades

produtivas ou de serviço, que resulta da crescente mecanização ou

automação dessas atividades. (LANGER, 2004).

Desde a Revolução Industrial, este processo de automação vem acontecendo

não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. Pode-se notar que, com o passar dos

anos, vários postos de trabalho foram eliminados devido à modernização das

empresas. E estas, cada vez mais, procuram por trabalhadores mais especializados.

E a maioria, dentre esses desempregados, não dispõe de condições financeiras

para poderem se aperfeiçoar, e acabam não se inserindo em certos empregos que

são criados por essa modernização.

Muitos autores têm escrito sobre as inovações tecnológicas e os impactos

que causam na sociedade. Muitos estudos a respeito dos avanços da modernização

tecnológica enfatizam a importância que vêm adquirindo as inovações

organizacionais na estratégia de modernização das empresas. 4

As empresas adquirem tecnologias para não ficarem para trás e para obterem

uma maior produção e um custo menor. São inevitáveis os cortes na mão-de-obra.

Pois estes são substituídos por máquinas, que surgem constantemente.

Essa terceira revolução industrial e tecnológica vai revelando que a

economia do futuro é uma economia da rapidez e da agilidade das

informações, uma sociedade pós-industrial de serviços e do

4 WALTON, Richard E. Tecnologia de Informação: O uso de TI pelas empresas que obtêm vantagem competitiva/Richard E. Walton; tradução Edson Luiz Riccio. São Paulo: Atlas, 1993

13

conhecimento. O aumento de produtividade é espetacular, as

escalas de produção atingem um novo patamar, impulsionam a

formação de macromercados e configuram novos padrões de

concorrência internacional. (MERCADANTE, 1997, pg 133).

Ou seja, as empresas neste contexto de globalização, precisam se adaptar a

esse processo de modernização, pois se continuarem com os mesmo métodos

obsoletos, consequentemente, serão levadas à falência.

O autor também mencionou a respeito da produtividade, que é um outro

benefício que a tecnologia fornece. Segundo Campos (1999, 02) “Aumentar a

produtividade é produzir cada vez mais e/ou melhor com cada vez menos.” Então,

se uma máquina produz a mesma quantidade que um homem produziria num

espaço de tempo muito mais curto, isso só traria benefícios para uma empresa.

Pois, quanto mais fosse a produção, maior seria o lucro. O aumento da

produtividade se tornou essencial para o sucesso de uma empresa.

[...] sem produtividade ou sem a eficiência do processo produtivo,

dificilmente uma empresa vai ser bem-sucedida ou até mesmo

sobreviver no mercado. [...] a gestão da produtividade está se

tornando um dos quesitos essenciais na formulação das estratégias

de competitividade das empresas. (MACEDO, 2002).

Nota-se que a produtividade e a tecnologia estão articuladas e propiciam,

geralmente, às indústrias e às empresas, aumento nos lucros. Mas o aumento da

produtividade também tem um efeito negativo:

Em certo sentido, o comportamento extremamente distinto da

produtividade é influenciado pelo movimento de desestruturação do

mercado de trabalho. Isto é, a tendência de forte elevação do

desemprego aberto [...]. (POCHMANN, 2000).

14

Pochmann (2000), afirma que para se conseguir aumento na produtividade, é

preciso modernizar e seguir as inovações tecnológicas, mas sendo necessário,

desestruturar o mercado de trabalho, ou seja, causar desemprego.

Outro fator que contribuiu para o aumento do desemprego foi a abertura

comercial iniciada nos anos 90 pelo presidente Fernando Collor e que teve

continuação como estratégia econômica no Plano Real, como já citado na sessão 2.

Essa abertura representou um programa de liberalização financeira externa e de

eliminação de barreiras protecionistas contra a importação. Ou seja, ficou muito mais

fácil e barato de importar. Em conseqüência disso e, juntamente com o processo de

modernização, umas das importações que mais cresceram foi a de bens de capital. 5

A maioria dos autores considera bens de capital como sendo máquinas e

equipamentos.

Assim, a importação crescente desses bens prejudica o mercado de trabalho

de duas formas: por fornecer equipamentos mais modernos para as indústrias, e

isso acaba afetando a força de trabalho que é em parte descartada. E também por

haver uma substituição de produtos nacionais por importados. E isso faz com que as

indústrias que fabricam máquinas tenham que concorrer com os produtos

importados, os quais, muitas vezes, se tornam mais baratos que os nacionais,

prejudicando as empresas que são obrigadas a adotarem programas para reduzir

custos (eliminando certas porcentagens da mão-de-obra) e outras acabam por

fecharem, demitindo, portanto, milhares de operários, causando mais desemprego.

5 Bens de capital são bens que servem para a produção de outros bens, especialmente os bens deconsumo, tais como máquinas, equipamentos, material de transporte e instalações de uma indústria.Alguns autores usam a expressão bens de capital como sinônimo de bens de produção; outrospreferem usar esta última expressão para designar algo mais genérico, que inclui ainda os bensintermediários (matéria-prima depois de algumas transformações, como, por exemplo, o aço) e asmatérias-primas. (SANDRONi 2005, p.78)

15

4. A TRAJETÓRIA DO CRESCENTE DESEMPREGO A PARTIR DE 1994

Logo após a implantação do Plano Real, no segundo semestre de 1994,

devido à queda abrupta da inflação, criou-se um clima de euforia, apresentando

índices de aceleração do crescimento e resultados positivos no mercado de

trabalho. Segundo pesquisa feita pelo IBGE com pessoas a partir de 15 anos, em

seis regiões metropolitanas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São

Paulo e Porto Alegre), enquanto que no primeiro semestre de 94 havia uma média

de 833.594 desempregados, no segundo semestre caiu para 771.468. Na tabela 1

será apresentado o número de pessoas desempregas acima de 15 anos nas seis

regiões. Pode-se notar que, a partir de 1995, o desemprego voltou a subir,

apresentando uma média de 780.195 desempregados.

Tabela 1 – População desocupada de 15 anos e mais (série encerrada)Variável = População desocupada de 15 anos e mais (Habitante)

RegiãoMetropolitanae Tottal dasáreas - PME

Mês

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Recife 74.127,33

60.645,75

63.639,42

67.107,67

103.934,25

97.168,50

96.163,92

97.895,92

91.627,58

Salvador 73.873,42

72.283

76.060,08

86.239,25

104.040,75

112.436,42

118.421,00

111.173,25

94.501,00

Belo Horizonte

66.495,58

60.511,33

76130,92

88.539,67

127.333,25

136.209,58

145.291,83

139.417,92

137.821,42

Rio de Janeiro

173.655,4

146.630,8

158.676,4

161.543,2

237.860,67

236.252,58

235.428,75

188.134,50

241.407,00

São Paulo 382.414,7

376.734,4

477.703,3

502.208,7

662.080,25

643.944,08

599.978,25

527.818,92

713.898,50

Porto Alegre 56.965

63.390,08

85.968,25

79.580,25

108.931,83

108.356,25

111.729,42

86.598,83

93.151,42

Total das áreas - PME

827.531,4

780.195,4

938178,3

985.218,7

1.344.181

1.334.417

1.307.013

1.151.039

1.372.406

Fonte: Elaboração Própria, com base nas tabelas do IBGE – Pesquisa Mensal de Emprego.

Nota-se, também, a disparidade do número de desempregados desde a

implantação do Plano, sendo que em 94 era de cerca de 827 mil, saltando para mais

de 1 milhão no ano de 2002.

16

Outro fator influente, além da implantação do Plano e da modernização, foi a

abertura comercial que influenciou no mercado de trabalho como já foi abordado. A

abertura comercial, iniciada no começo dos anos 90, facilitou a importação. Esta

facilidade foi reforçada na implantação do Real, como uma forma de acirrar a

concorrência com produtos importados e, como efeito, reduzir os preços internos. O

resultado não poderia ser outro, ocorreu um aumento intenso nas importações.

Dentre estas, destaca-se a de bens de capital, por haver uma analogia com o

aumento do desemprego, que será evidenciada nas tabelas adiante.

O aumento da importação de bens de capital, substituindo produtos nacionais

pelos importados, levou à falência muitas indústrias brasileiras por não resistirem à

forte pressão da concorrência, e conseqüentemente, à elevação do índice de

desempregados. Este aumento no desemprego deve-se ao fato de ter ocorrido mais

facilidade aos produtos importados, porque além de tornarem-se mais acessíveis

pelo preço mais baixos que os nacionais, também tinham qualidade superior. Como

os empresários estavam habituados com a proteção imposta pelo governo à

indústria doméstica, tendo o domínio do mercado, as empresas não se empenharam

em produzir com maior eficiência, pois não tinham concorrência estrangeira. Porém,

com a abertura comercial, o parque nacional enfrentou dificuldades para competir

com tanta eficiência e tecnologia que as indústrias estrangeiras detinham e

buscavam a redução de custos e aumento de produtividade. 6

As empresas nacionais que se mantiveram funcionando, procuraram adaptar-

se e foram compelidas a ajustarem seus métodos de produção, modernizando seu

processo de produção importando bens de capital como: máquinas e equipamentos

mais avançados, demandando, também, produtos de informática e comunicações e

6 Artigo de Márcia Regina Weise sobre o Comportamento da Indústria de Bens de Capital após o Plano Real, dez2000.

17

exigindo maior grau de especialização por parte dos trabalhadores. Em virtude de

terem adotado essas medidas poupadoras de mão-de-obra, houve aumento do

desemprego.

O gráfico 4 representa o quantum de importações de bens de capital no

período 1994-2007.

Fonte: Elaboração Própria. Dados do IPEADATA, Importações – Bens de capital – quantum – índice(média 2006 = 100)Gráfico 4 – Importações de bens de capital – quantum (1994 a 2007)

Devido a maior facilidade de importar e à necessidade de adquirir produtos

mais sofisticados, de alta tecnologia, muitas empresas optaram por importar

máquinas e equipamentos denominados bens de capital, para terem oportunidade

de resistir à forte pressão da concorrência com que começavam a conviver.

Se em 1994 a importação de bens de capital era cerca de 25%, em 1996

passou a ser mais de 50% (Gráfico 4). Para alguns autores, esse aumento é

positivo, pois gerou um crescimento da indústria geral. Porém, na visão de outros,

como explica a Funcex (Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior), foi

prejudicial, por ser um processo de troca do produto nacional por importado. Os

motivos que explicam o aumento das importações de bens de capital da década de

90 foram: as dificuldades impostas ao crescimento da indústria nacional, como o

18

aumento das taxas de juros que inviabilizaram investimentos no setor de produção

de bens de capital; a falta de estímulo do governo, sem uma política industrial para

valorizar a produção nacional; a sobrevalorização cambial; a menor eficiência do

parque industrial nacional em relação às empresas estrangeiras. Essas situações

eram conseqüências das medidas adquiridas em virtude do Plano como já foi

apresentado na sessão 2.

Pode-se notar no Gráfico 4 que a quantidade de importações de bens de

capital apresentou três grandes saltos, que foram nos anos de 1998, 2002 e início

de 2007. Os motivos para esses aumentos são as facilidades de importar estes

produtos a taxas de juros menores, como exemplo, a concessão de crédito pelo

BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que concede às

empresas estrangeiras maiores facilidades. Em 2007, o fator que mais contribuiu

para o aumento das importações, não apenas no setor de bens de capital, foi a

desvalorização do dólar, que teve seu inicio gradativo em 1995 e foi efetivada em

1999 com o câmbio flutuante.

No primeiro trimestre de 1995, as taxas de desemprego continuaram a se

elevar. A balança comercial estava em desequilíbrio e para corrigir essa situação foi

necessário elevar as taxas de juros, o que foi bom para conseguir o resultado que se

pretendia, mas ruim para o mercado de trabalho. Devido a esse mecanismo de

controlar a balança comercial adotando medidas restritivas para obter uma

estabilização econômica, a taxa de desemprego se elevou.

No início do ano de 1997, a situação não foi diferente. A taxa de desemprego

da cidade de São Paulo era de 13,9%, saltando para 14,2% em fevereiro e 15% em

19

março 7. A seguir, o gráfico 5 mostra a taxa de desemprego no período 1994-1998

da região metropolitana de São Paulo.

FONTE: DIEESE/SEADE. PED – Pesquisa de emprego e desenvolvimento.Gráfico 5 – Taxa de desemprego total anual: Região metropolitana de São Paulo,1994-1998

Neste mesmo ano, a importação de bens de capital obteve um aumento de

31,26% em relação ao ano de 1996, onde grande parte das máquinas e

equipamentos importados foi destinada ao setor de telecomunicações. 8

Atribui-se a isso, o fato da crescente automação microeletrônica e da

informática em busca do aumento da produtividade. A produtividade possui uma

relação direta com o avanço tecnológico, ou seja, à medida que novas formas são

implementadas nos processos de produção, mais rápido se torna o processo,

conseguindo até mesmo uma diminuição nos custos e aumento dos lucros. Porém,

observa-se que o índice de desemprego aumentou ao mesmo passo que a

produtividade.

7 Dados extraídos do IBGE.8 Artigo O comportamento da indústria de bens de capital após o Plano Real, de Márcia Regina Weise, dez 2000.

20

Ferretti (2000, pg. 36-50) revelou em estudos que devido à crescente

modernização tecnológica, as empresas vêm adotando inovações organizacionais

na estratégia de modernização, pois os empresários começaram a se dar conta que

se não se adaptarem ao avanço tecnológico ficarão para trás face em tanta

transformação. Um exemplo desta mudança é a adoção das técnicas japonesas na

organização do trabalho. Um dos métodos que ganham destaque é o just-in-time,

que consiste num instrumento de controle da produção baseado no propósito de

atender a demanda com a maior rapidez possível e de minimizar os estoques. As

conseqüências disso para o empresário são positivas, pois aumentam seus lucros e

diminuem os custos. Para o trabalhador, porém, é uma ameaça, ois é deixado de

lado o método taylorista/fordista, onde cada trabalhador era treinado para fazer

determinada tarefa. E entra em cena os métodos japoneses, onde se baseia na

produção diversificada, com menos utilização de mão-de-obra, mais qualificada e

devendo exercer várias funções (multifuncional) e desenvolver diferentes tarefas.

Sem dúvida, com a adoção de métodos mais eficazes e modernos, a

produtividade das indústrias aumenta, ao passo que o desemprego também.

Enquanto antigamente a produtividade se dava com a divisão do trabalho,

atualmente o aumento da produtividade é demonstrado também na capacidade de

apenas uma pessoa desempenhar diferentes tarefas, como o método japonês já

apresentado. Nota-se que de um lado, elimina-se postos de trabalho e de outro lado,

passa-se a exigir trabalhadores mais especializados, participativos e polivalentes

para desempenharem novas funções que vão surgindo com base no progresso do

sistema de produção.

21

Outro fator que dificulta a diminuição da taxa de desemprego na cidade de

São Paulo é a adoção do modelo “stop and go” 9 (pára e segue), que serviu como

forma de prevenção após a crise mexicana em 94 e seus efeitos sobre a economia

brasileira, onde o governo adotou medidas restritivas. Com a instabilidade do

crescimento econômico e a demanda de mão-de-obra volátil (alta e baixa no índice

de desemprego), algumas empresas optaram por ao invés de contratar novos

funcionários, numa alta fase de crescimento, por contratar horas-extras. E de corte

de horas-extras quando a fase de crescimento baixar. 10 Então, ao invés de as

empresas contratarem mais empregados quando a produção cresce, ela apenas

ajusta a produção com a contratação de horas-extras. E quando ocorre uma

diminuição na produção volta ao horário normal. E, muitas vezes, para se ajustar ao

período de queda na atividade economia, as empresas, após a contratação de

horas-extras, optam por demitirem.

Abaixo serão correlacionadas duas variáveis:

Comparação entre os gráficos de Importações de Bens de Capital e da taxa de

desemprego:

9 Política em busca de crescimento econômico que embora lento, apresenta menores oscilações. Stop significa quando o Banco Central eleva a taxa de juros com o objetivo de diminuir o consumo e investimento para retardaro crescimento. E o go, representa o contrario.10 Site DIEESE. Matéria sobre “A aceleração do desemprego na grande São Paulo” em Maio de 1997.

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Fonte: Elaboração Própria. Dados Ipeadata. Importações – Bens de capital – quantum – índice(média 2006 = 100).Gráfico 6- Taxa de Desemprego – 1994 a 2007

Fonte: Elaboração própria; dados Ipeadata. Taxa de desemprego – referência: 30 dias – RMs.Gráfico 7- Importações de Bens de Capital – 1994 a 2007

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Pode-se verificar que em alguns momentos a alta na taxa de desemprego

corresponde também a uma maior quantidade de bens de capita importados. Tanto

que, a partir de 2004, quando a taxa de desemprego atinge seu ponto máximo,

corresponde a crescente alta da quantidade de importações.

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados do IPEAGráfico 8 – Importação de bens de capital e desemprego no Brasil no períodode 1994 a 2007

Quando o desemprego está baixo é um sinal de que a economia está

aquecida, ou seja, há aumento no consumo, aumentando a demanda por bens.

Nesse cenário, os empresários irão aumentar a sua produção. A compra de bens de

capital visa aumentar a produção e a produtividade. Nesse caso, não se cria novos

empregos, apenas mantêm-se os já existentes. O problema é que a população

economicamente ativa continua crescendo, aumentando as taxas de desemprego.

Pelo gráfico 7 é possível visualizar que há defasagem entre as variáveis

analisadas, mostrando que, quando o desemprego está baixo, as importações de

bens de capital estão altas e vice-versa. Fazendo uma análise no período de 1994 a

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2007 é possível notar que tanto o desemprego como a importação de bens de

capital cresceu.

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CONCLUSÃO

Com este trabalho, possibilitam-se notar, com a opinião de diversos autores,

que essas mudanças (Plano Real, abertura comercial, avanço tecnológico)

causaram diversos benefícios para o desenvolvimento do país, influenciando de

forma positiva na aceleração do crescimento. Entretanto, para o mercado de

trabalho, principalmente, as influências não foram tão positivas assim. Pois, apesar

de o progresso tecnológico ter criado novos postos de trabalho, muitos não se

enquadram neste perfil, por não atenderem às expectativas das empresas, e não

possuírem especialização suficiente, e isso acarretou um dos piores problemas

sociais do Brasil, que é o aumento do desemprego. A concorrência entre as

empresas e a busca pela permanência no mercado levam as empresas a

acompanhar o progresso de modernização que o mundo vem passando desde a

década de 70. O aumento da produtividade passou a ser inerente ao processo de

produção de empresas e indústrias.

Nesse contexto pós-real, a modernização se tornou mais sólida, intensa. Um

dos objetivos desse plano (facilitar que indústrias estrangeiras entrassem no

mercado nacional para diminuir os preços internos) fez com que o parque nacional

despertasse para o atraso e buscassem o rumo da globalização. Processos

produtivos obsoletos foram abandonados e novas técnicas mundiais foram

adotadas, que muitos autores definem como poupadoras de mão-de-obra. Para os

novos empregos criados com base na modernização são necessários operários

capacitados para operar máquinas e desempenharem inúmeras funções, o que não

é a realidade do povo brasileiro.

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O processo para todos se habituarem a esta nova era globalizada e

modernizada é longo, e enquanto isso, de um lado vagas não são preenchidas e de

outro, trabalhadores ficam sem serviço.

Por fim, observou-se que o comportamento do mercado de trabalho foi

influenciado tanto por questões políticas (Plano Real), como também por novas

formas de produção (avanço tecnológico).

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