rel piumhi

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  • MINISTRIO DE MINAS E ENERGIA

    EDISON LOBO Ministro

    Secretaria de Geologia, Minerao e Transformao Mineral

    CLUDIO SCLIAR

    Secretrio

    CPRM-SERVIO GEOLGICO DO BRASIL

    AGAMENON SRGIO LUCAS DANTAS Diretor-Presidente

    MANOEL BARRETTO DA ROCHA NETO Diretor de Geologia e Recursos Minerais

    JOS RIBEIRO MENDES Diretor de Hidrogeologia e Gesto Territorial

    FERNANDO PEREIRA DE CARVALHO Diretor de Relaes Institucionais e Desenvolvimento

    EDUARDO SANTA HELENA Diretor de Administrao e Finanas

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO UFRJ

    ALOSIO TEIXEIRA

    Reitor

    INSTITUTO DE GEOCINCIAS PROFESSOR JOO GRACIANO MENDONA FILHO

    Diretor

    PROGRAMA GEOLOGIA DO BRASIL Contrato CPRM- UFRJ N. 067/PR/05

    Braslia, 2008

  • APRESENTAO

    O Programa Geologia do Brasil (PGB), desenvolvido pela CPRM - Servio Geolgico do Brasil, responsvel pela retomada em larga escala dos levantamentos geolgicos bsicos do pas. Este programa tem por objetivo a ampliao acelerada do conhecimento geolgico do territrio brasileiro, fornecendo subsdios para novos investimentos em pesquisa mineral e para a criao de novos empreendimentos mineiros, com a conseqente gerao de novas oportunidades de emprego e renda. Alm disso, os dados obtidos no mbito desse programa podem ser utilizados em programas de gesto territorial e de recursos hdricos, dentre inmeras outras aplicaes de interesse social.

    Destaca-se, entre as aes mais importantes e inovadoras desse programa, a estratgia de implementao de parcerias com grupos de pesquisa de universidades pblicas brasileiras, em trabalhos de cartografia geolgica bsica na escala 1:100.000. Trata-se de uma experincia que, embora de rotina em outros pases, foi de carter pioneiro no Brasil, representando uma importante quebra de paradigmas para as instituies envolvidas. Essa parceria representa assim, uma nova modalidade de interao com outros setores de gerao de conhecimento geolgico, medida que abre espao para a atuao de professores, em geral lderes de grupos de pesquisa, os quais respondem diretamente pela qualidade do trabalho e possibilitam a insero de outros membros do universo acadmico. Esses grupos incluem tambm diversos pesquisadores associados, bolsistas de doutorado e mestrado, recm-doutores, bolsistas de graduao, estudantes em programas de iniciao cientfica, dentre outros. A sinergia resultante da interao entre essa considervel parcela do conhecimento acadmico nacional com a excelncia em cartografia geolgica praticada pelo Servio Geolgico do Brasil (SGB) resulta em um enriquecedor processo de produo de conhecimento geolgico que beneficia no apenas a academia e o SGB, mas toda a comunidade geocientfica e industria mineral.

    Os resultados obtidos mostram um importante avano, tanto na cartografia geolgica quanto no estudo da potencialidade mineral e do conhecimento territorial em amplas reas do territrio nacional. O refinamento da cartografia, na escala adotada, fornece aos potenciais usurios, uma ferramenta bsica, indispensvel aos futuros trabalhos de explorao mineral ou aqueles relacionados gesto ambiental e avaliao de potencialidades hdricas, dentre outros.

    Alm disso, o projeto foi totalmente desenvolvido em ambiente SIG e vinculado ao Banco de Dados Geolgicos do SGB (GEOBANK), incorporando o que existe de atualizado em tcnicas de geoprocessamento aplicado cartografia geolgica e encontra-se tambm disponvel no Portal do SGB www.cprm.gov.br.

    As metas fsicas da primeira etapa dessa parceria e que corresponde ao binio 2005-2006, foram plenamente atingidas e contabilizam 41 folhas, na escala 1:100.000, ou seja aproximadamente 1,5% do territrio brasileiro. As equipes executoras correspondem a grupos de pesquisa das seguintes universidades: UFRGS, USP, UNESP, UnB, UERJ, UFRJ, UFMG, UFOP, UFBA, UFRN, UFPE e UFC.

    Este CD contm a Nota Explicativa da Folha Piumhi, juntamente com o Mapa Geolgico

    na escala 1:100.000 (SF.23-V-B-II), em ambiente SIG, executado pela UFRJ, atravs do Contrato CPRM-UFRJ No.067/PR/05.

    Braslia, setembro de 2008

    AGAMENON DANTAS MANOEL BARRETTO Diretor Presidente Diretor de Geologia e Recursos Minerais

  • MINISTRIO DE MINAS E ENERGIA SECRETARIA DE GEOLOGIA, MINERAO E TRANSFORMAO MINERAL

    CPRM - SERVIO GEOLGICO DO BRASIL

    PROGRAMA GEOLOGIA DO BRASIL Contrato CPRM-UFRJ N. 067/PR/05

    NOTA EXPLICATIVA DA FOLHA

    PIUMHI (SF.23-V-B-II)

    1:100.000

    AUTORES Andr Ribeiro, Fbio Vito Pentagna Paciullo,

    Aracy Souza Senra, Cludio de Morrison Valeriano, Rudolph Allard Jonnhanes Trouw

    COORDENAO GERAL

    Rudolph Allard Jonnhanes Trouw

  • APOIO INSTITUCIONAL DA CPRM Departamento de Geologia-DEGEO

    Diviso de Geologia Bsica-DIGEOB Incio Medeiros Delgado

    Diviso de Geoprocessamento-DIGEOP

    Joo Henrique Gonalves

    Edio do Produto Diviso de Marketing-DIMARK

    Ernesto von Sperling

    Gerncia de Relaes Institucionais e Desenvolvimento - GERIDE/ SUREG-BH

    Marcelo de Arajo Vieira

    Brysa de Oliveira Elizabeth de Almeida Cadte Costa

    M. Madalena Costa Ferreira Rosngela Gonalves Bastos de Souza

    Silvana Aparecida Soares

    Representante da CPRM no Contrato Fernando Antnio Rodrigues de Oliveira

    APOIO TCNICO DA CPRM Supervisor Tcnico do Contrato

    Luiz Carlos da Silva

    Apoio de Campo Nolan Maia Dehler

    Reviso do Texto

    Luiz Carlos da Silva

    Organizao e Editorao Luiz Carlos da Silva

    Carlos Augusto da Silva Leite

    Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais-CPRM/Servio Geolgico do Brasil.

    Piumhi- SF.23-V-B-II, escala 1:100.000: nota explicativa./Andr Ribeiro, Fbio Vito Pentagna Paciullo, Aracy Souza Senra, Cludio de Morrison Valeriano, Rudolph Allard Jonnhanes Trouw.- Minas Gerais: UFRJ/CPRM,

    2007.

    50p; 01 mapa geolgico (Srie Programa de Geologia do Brasil PGB) verso em CD-Rom.

    Contedo: Projeto desenvolvido em SIG Sistema de Informaes Geogrficas utilizando o GEOBANK Banco de dados.

    1- Geologia do Brasil- I- Ttulo II- Trouw, R.A.J., Coord. III- Ribeiro, A., IV- Paciullo, F.V.P. V- Serra, S. VI-

    Valeriano, C.M..

    CDU 551(815) ISBN 978-85-7499-027-9

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumh i

    SUMRIO

    1. INTRODUO ................................................................................................................ 1

    1.1 Localizao da Folha Piumhi....................................................................................... 1

    2. GEOLOGIA BSICA......................................................................................................... 2

    2.1 Sumrio.................................................................................................................. 2

    2.2 Contexto Geotectnico .............................................................................................. 3

    2.3 Trabalhos Anteriores................................................................................................. 4

    2.3.1 Embasamento ................................................................................................ 4

    2.3.2 Sucesses Neoproterozicas ............................................................................. 4

    2.3.3 Geologia Estrutural ......................................................................................... 5

    2.3.4 Geocronologia ................................................................................................ 6

    3. CARACTERIZAO DAS UNIDADES MAPEADAS

    3.1 Embasamento ......................................................................................................... 7

    3.1.1 Granitides no Domnio Autctone - Parautctone................................................ 7

    3.1.2 Granitides no Domnio Externo ........................................................................ 8

    3.1.3 Greenstone Belt de Piumhi ............................................................................... 8

    3.1.4 Talco, Xisto e Serpentinito ............................................................................... 8

    3.1.5 Wackes, Arenitos e Pelitos Turbidticos............................................................... 9

    3.1.6 Unidade Serra da Mamona ............................................................................... 9

    3.2 Unidades Metassedimentares Neoproterozicas .......................................................... 10

    3.2.1 Unidade Serra da Boa Esperana..................................................................... 10

    3.2.2 Formao Santo Hilrio.................................................................................. 10

    3.2.3 Formao Sete Lagoas, Grupo Bambu ............................................................. 11

    3.2.4 Formao Sambur ....................................................................................... 18

    4. GEOLOGIA ESTRUTURAL E METAMORFISMO NAS UNIDADES PRECAMBRIANAS ..................... 22

    5. UNIDADES FANEROZICAS

    5.1 Kimberlitos............................................................................................................ 25

    5.2 Depsitos Cenozicos e Neotectnica ........................................................................ 26

    5.2.1 Sedimentos Semi - Litificados ......................................................................... 26

    5.2.2 Sedimentos No Litificados............................................................................. 27

    6. RECURSOS MINERAIS NA FOLHA PIUMHI......................................................................... 28

    7. PANORAMA MINERAL .................................................................................................... 30

    7.1 Calcrio ................................................................................................................ 32

    7.2 Areia .................................................................................................................... 32

    7.3 Argila ................................................................................................................... 33

    7.4 gua-Mineral ......................................................................................................... 34

    8. OUTROS RECURSOS MINERAIS ...................................................................................... 35

    8.1 Diamante.............................................................................................................. 35

    8.2 Cromo .................................................................................................................. 35

    8.3 Turfa.................................................................................................................... 36

    8.4 Chumbo................................................................................................................ 36

    9. CARSTE NA REGIO DE ARCOS-PAINS-DORESPOLIS....................................................... 37

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi ii

    9.1 Acervo Espeleolgico .............................................................................................. 37

    9.2 Acervo Arqueolgico ............................................................................................... 39

    9.3 Acervo Ambiental ................................................................................................... 39

    10 ASPECTOS AMBIENTAIS - CENTROS DE EDUCAO AMBIENTAL......................................... 41

    10.1Centro de Educao Ambiental e Ncleo Museolgico Estao Corumb......................... 41

    10.2 Centro de Educao Ambiental da Lafarge do Brasil Unidade Arcos............................ 41

    11. POTENCIAL HIDROGEOLGICO .................................................................................... 42

    12. PROJEES E PERSPECTIVAS ECONMICAS................................................................... 43

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................................ 44

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumh 1

    1. INTRODUO

    Este relatrio mostra resultados do trabalho na Folha Piumhi 1:100.000, contrato CPRM-UFRJ.

    A primeira parte trata a geologia bsica, a segunda mostra dados sobre recursos minerais, meio

    ambiente, potencial hidrolgico e Provncia Crstica Arcos-Pains-Dorespolis. Os dados e

    interpretaes geolgicas resultaram de trabalho de campo incluindo 800 pontos estudados e

    contatos litolgicos seguidos no campo. Informaes bibliogrficas e imagens de satlite

    complementaram parte das interpretaes. No canto sudoeste da folha, Serra da Pimenta e

    adjacncias, a caracterizao das unidades baseia-se nos trabalhos de Claudio de Morisson

    Valeriano, coordenador do mapeamento nas folhas vizinhas, Guap e Alpinpolis.

    1.1 Localizao da Folha Piumhi

    A Folha Piumhi 1:100.000 situa-se no centro-oeste do Estado de Minas Gerais, entre as

    coordenadas 4600- 4530W e 2000- 2030S (Fig.1). Engloba as cidades de Bambu e

    Dorespolis no noroeste, Lagoa da Prata no nordeste, Pimenta e Piumhi no sudoeste. Arcos e Pains

    no centro constituem importante plo industrial de calcrio. As principais vias de acesso so a

    rodovia MG-050 que liga Belo Horizonte a Passos e a BR-354 que corta a rea ligando a BR-262 a

    noroeste e BR-384/Ferno Dias a sudoeste. A rea coberta pelas cartas topogrficas 1:50.000 do

    IBGE/1969-1970, Bambu (SF-23-C-I-1), Lagoa da Prata (SF-23-C-I-2), Arcos (SF-23-C-I-4) e

    Piumhi (SF-23-C-I-3), base para os trabalhos de campo.

    Figura 1: Localizao da Folha Piumhi 1:100.000 no Estado de Minas Gerais e articulao com folhas vizinhas.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 2

    2. GEOLOGIA BSICA

    2.1 Sumrio

    Na Folha Piumhi, de leste para oeste, em ordem tectonoestratigrfica, afloram ortognaisses

    granitides arqueanos do embasamento do Crton do So Francisco (Fig. 1); sucesses

    neoproterozicas carbonticas plataformais rasas da Formao Sete Lagoas com pelitos e

    calcipelitos na base e calcrios cinzentos no topo; sucesses de fluxos gravitacionais com ruditos

    e pelitos includos na Formao Sambur, e um sistema de empurres imbricados para leste.

    Este sistema de empurres gerado durante a orognese neoproterozica Brasiliana inclui

    unidades metassedimentares paleoproterozicas e neoproterozicas e na base uma lasca de faixa

    greenstone arqueana com metagranitides associados. As escamas tectnicas foram empurradas

    sobre a Formao Sambur e esta sobre os carbonatos da Formao Sete Lagoas. Na lapa do

    empurro Sambur os calcrios cinzentos chegam a mostrar localmente quatro fases de dobras

    superpostas, mas a deformao diminui em direo ao crton. Para leste as sucesses da

    Formao Sete Lagoas mostram duas fases de dobras abertas com envoltrias subhorizontais.

    Uma fase de dobras com planos axiais ca. 240/80 e eixos de baixo caimento para SE, outra com

    planos axiais ca.130/80 e eixos de baixo caimento para SW. Estas dobras abertas passam ento

    a suaves e na zona pericratnica calcipelitos suavemente dobrados repousam em discordncia

    litolgica sobre granitides do embasamento. A deformao nos granitides foi acomodada

    essencialmente em falhas reversas aparentemente de pequeno rejeito. O metamorfismo tambm

    diminui em direo ao crton; passa de fcies xisto-verde com cloritide no sistema de

    empurres a fcies subxisto-verde de metamorfismo incipiente com sericita e clorita na zona

    pericratnica. Cabe ressaltar que no sistema de empurres as rochas mostram foliao tectnica

    do tipo clivagem ardosiana e xistosidade, enquanto nas rochas das formaes Sambur e Sete

    Lagoas a clivagem incipiente ou mesmo no ocorre, apesar da deformao. Na maioria

    dos afloramentos fora do sistema de empurres, a composio, textura e estrutura primrias

    das rochas esto relativamente bem preservadas. Assim, para facilitar a leitura muitas vezes

    foi excludo o prefixo meta que deve acompanhar o nome das rochas descritas ao longo do

    texto.

    As unidades fanerozicas so kimberlitos cretceos atestando tectonismo mesozico. Depsitos

    fluviais e colvios cenozicos semilitificados so deslocados por falhas de pequeno rejeito

    registrando atividade neotectnica na regio. Dezenas de minas de calcrios e ocorrncias locais de

    blenda, galena, cromita e kimberlitos tornam a rea interessante do ponto de vista geoeconmico.

    O nvel de base regional o Rio So Francisco no seu alto curso e um relevo crstico relativamente

    suave domina grande parte da paisagem.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 3

    2.2 Contexto Geotectnico

    Como mostra o sumrio, as estruturas tectnicas e o metamorfismo nas sucesses precambrianas

    da Folha Piumhu registram a transio de uma rea pericratnica paleoproterozica e arqueana

    para o cinturo orognico neoproterozico adjacente (Fig. 2). Na borda cratnica o metamorfismo

    incipiente e a deformao foi acomodada em dobras suaves. Para oeste a deformao aumenta,

    aparecem dobras abertas e os calcrios da Formao Sete Lagoas so cavalgados por sucesses da

    Formao Sambur. Sobre esta unidade ocorre um sistema de empurres imbricados, a parte

    norte do Sistema de Cavalgamento Ilicnia-Piumhi (Valeriano, 1992), onde o metamorfismo atinge

    fcies xisto-verde. Esta estruturao tectnica atribuda a episdios orognicos neoproterozicos

    que formaram a Faixa Braslia meridional (Dardenne, 2000; Valeriano et al., 2004a). Esta faixa

    registra a coliso do Crton do Paranapanema contra a margem ocidental do Paleocontinente So

    Francisco (Valeriano et al., 2000, 2004b) durante aglutinao do supercontinente Gondwana

    (Almeida et al., 2000; Alkmim et al., 2001).

    Na rea ocorrem ainda raros corpos de kimberlitos do Cretceo relacionados a reativaes

    mesozicas no sudeste brasileiro, e depsitos fluviais e colvios cenozicos localmente deslocados

    por falhas que registram atividade neotectnica na regio.

    Figura 2: Contexto geotectnico da Folha Piumhu (1) e folhas Nepomuceno (2), Varginha (3) e Itajub (4), parceria CPRM/Servio Geolgico do Brasil - UFRJ. A linha tracejada mostra o limite aproximado do Crton do So Francisco. Figura original de Trouw et al., 2000.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 4

    2.3 Trabalhos Anteriores

    2.3.1 Embasamento

    O embasamento na Folha Piumhu est representado por granitides do embasamento do Crton

    do So Francisco na parte leste da folha, e pela lasca de faixa greenstone e ortognaisses

    associados no sistema de empurres Ilicinia-Piumhu, no sudoeste da rea. Os granitides

    cratnicos fazem parte do complexo Campo Belo e, possivelmente, correspondem a sutes TTG

    arqueanas (cf. Teixeira et al., 2000). A lasca de faixa greenstone ou Greenstone Belt de Piumhi

    (Fritzsons et al., 1980) inclui corpos plutnicos, subvulcnicos e vulcnicos ultramficos, mficos e

    flsicos, alm de metassedimentos. Anlises U-Pb em microgabros intrusivos em rochas vulcnicas

    mficas forneceram idades de 3.1.Ga, felsitos paleoarquenos tambm balizam a idade da unidade.

    Este greenstone belt foi estudado em detalhe por Schrank (1982, 1986), Jahn & Schrank (1983),

    Schrank & Abreu (1990) e Schrank. & Silva (1993) e aparece nos mapas ao milionsimo do DNPM-

    CPRM (Cavalcanti et al., 1979) e do Projeto RADAMBRASIL (Machado Filho et al., 1983).

    2.3.2 Sucesses Neoproterozicas

    As sucesses neoproterozicas expostas na rea da Folha Piumhu correspondem a unidades das

    formaes Sete Lagoas e Sambur, ambas consideradas pela maioria dos estudiosos (cf. Castro &

    Dardene, 2000; Martins-Neto & Alkmim, 2001) como integrantes do Grupo Bambu, de idade

    neoproterozica.

    Nomenclatura estratigrfica

    Segundo Oliveira e Leonardos (1943) o termo Bambu foi aplicado por Rimann (1917) a uma srie

    xistos argilosos e argila xistosa da regio de Bambu no oeste mineiro. Estes autores citam ainda

    que a unidade, incluindo tambm calcrios, j tinha sido informalmente denominada de Srie So

    Francisco por Derby no incio do sculo passado. Depois vieram as descries de Moraes e

    Guimares (1930) e a diviso estrutural de Fryberg (1932; in Oliveira e Leonardos, 1943).

    A primeira diviso litoestratigrfica regional foi feita por Costa e Branco (1961) e vrias vezes

    revista e modificada (Barbosa et al., 1970; Marchese, 1974; Dardenne, 1978; Braun & Batista,

    1978; Braun, 1981; Castro & Dardene, 2000; entre outros). Almeida (1967) rebatizou a srie como

    Grupo Bambu e Pflug e Ranger (1973) incluram o grupo, junto com o Grupo Macabas, no

    Supergrupo So Francisco. Um bom resumo sobre a histria do Grupo Bambu e suas formaes

    aparece no lxico estratigrfico da CPRM.

    A diviso adotada pela maioria dos autores deriva do trabalho de Costa & Branco (1961) e rene

    no Grupo Bambu as seguintes unidades:

    Formao Trs Marias - siltitos, arcseos, arenitos, conglomerados, no topo do grupo.

    Subgrupo Paraopeba com as seguintes formaes na parte mdia do grupo:

    Serra da Saudade - folhelhos, siltitos

    Lagoa do Jacar - calcissilitos, calcarenitos

    Serra de Santa Helena - folhelhos, argilitos, margas, siltitos

    Sete Lagoas - dolomitos, folhelho, margas, calcarenitos, calcilutitos.

    Formao Carrancas - diamictitos e conglomerados de ocorrncia local, na base do grupo.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 5

    A Formao Sambur (Branco, 1957) inclui pelitos e ruditos, e tem sido includa no Grupo Bambu

    (cf. Castro & Dardene, 1996, 2000; Martins-Neto & Alkmim, 2001).

    Paleoambientes

    A maioria das unidades atribudas ao Grupo Bambu so interpretadas como depsitos de uma

    extensa cobertura de plataforma em discordncia sobre unidades paleoproterozicas e arqueanas.

    As formaes do Subgrupo Paraopeba so consideradas plataformais marinhas e incluem fcies

    carbonticas e siliciclsticas. A Formao Trs Marias interpretada como terrgena continental e a

    Formao Sambur como depsito de leque deltico. Segundo Castro & Dardene (2000) as

    unidades do Grupo Bambu podem ser reunidas em trs grandes megaciclos com caractersticas de

    raseamento ascendente, cada megaciclo com pelitos e calcipelitos marinho-profundos que passam

    fcies carbonticas rasas. Este conjunto foi rebatizado de Megasseqncia Bambu por Martins-

    Neto & Alkimim (2001) que consideraram a Formao Sambur um equivalente lateral do

    Subgrupo Paraopeba. Entretanto, so poucos os trabalhos detalhados sobre estratigrafia e

    paleoambientes na Folha Piumhi. A Formao Sambur foi interpretada como depsito de leque

    deltico contemporneo aos carbonatos e siliciclstitos do Grupo Bambu (Castro & Dardene, 1996,

    2000) idia adotada por Martins-Neto & Alkmim (2001). Nobre (1995) e Nobre e Coimbra (2000),

    com base em um perfil detalhado cerca de 100m na pedreira da CSN em Arcos, identificaram

    quatro intervalos estratigrficos na Formao Sete Lagoas: basal ou 1 uma rampa carbontica com

    biostromas, carbonatos detrticos e estromatlitos; intervalo 2 uma plancie de mar com

    estromatlitos e intervalos 3 e 4 com grainstones oolticos de plataforma rasa. Estes intervalos

    foram reconhecidos nos calcrios cinzentos do topo da Formao Sete Lagoas, acima de sua base

    constituda essencialmente por siltitos e argilitos carbonticos, no presente trabalho agrupados sob

    a designao geral de calcipelitos.

    2.3.3 Geologia Estrutural

    Valeriano (1992, 1999) caracterizou trs compartimentos tectnicos distintos relacionados

    orognese brasiliana na regio da Folha Piumhi e adjacncias. So os domnios autctone-

    parautctone, externo e interno. O domnio interno inclui a Nappe Passos exposta a sudoeste nas

    Folhas Guap e Alpinpolis. Esta nappe registra empurres para SE e recobre parcialmente os demais

    domnios. constituda essencialmente por metassedimentos dos grupos Arax ou Andrelndia

    deformados em fcies xisto-verde e anfibolito. O domnio externo ou Sistema de Cavalgamento

    Ilicnea-Piumhi (Valeriano, 1992) um conjunto de escamas de empurro deformadas em dobras

    abertas e em fcies xisto-verde. Este sistema de empurres cavalga o domnio autctone-

    parautctone. O domnio autctone-parautctone inclui a Formao Sambur, os depsitos do Grupo

    Bambu e o embasamento pericratnico. Como mencionado nos itens 2.1 e 2.2 a deformao diminui

    para leste e na borda cratnica os carbonatos neoproterozicos em fcies subxisto-verde repousam

    suavemente dobrados em discordncia litolgica sobre granitides do embasamento. As escamas

    tectnicas do domnio externo foram exumadas por volta de 640-610 Ma e forneceram detritos para

    a bacia de antepas que abrigou os depsitos da Formao Sambur (Valeriano, 1992).

    O Mapa estrutural de Muzzi-Magalhes (1989) mostra traos estruturais de charneiras de grandes

    dobras deslocadas por zonas de cisalhamento sinistrais. Nas imagens magnetomtricas, tanto

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 6

    intensidade magntica total como derivadas, aparecem lineamentos NW-SE bem definidos,

    atravessando toda rea da Folha Piumhi. Este feixe de lineamentos no tem expresso geolgica

    ou geomorfolgica no campo. Pode ser interpretado como uma feio rasa, possivelmente um

    exame de diques no embasamento subjacente aos depsitos Bambu e Sambur. Tal interpretao

    ajusta-se a de Borges & Drews (2001) que descrevem entre Arcos e Arax lineamentos que

    aparecem como um feixe de diques retilneos e paralelos sugerindo para estas anomalias

    o modelo de diques rasos, nem sempre aflorantes. Aparentemente este feixe de lineamentos

    magnticos junto com feies de imagens de satlite que expressam parte do contato Sambur x

    Bambu, tem sido interpretado como zonas de cisalhamento sinistrais. Assim, possivelmente

    surgiram em diversos mapas, desde Muzzi Magalhes (1989) e Muzzi Magalhes et al. (1989), as

    zonas de cisalhamento Dorespolis - Pains e Campos Altos - Lagoa da Prata (cf. Castro &

    Dardenne, 2000; Alkmim & Martins Neto, 2001, entre outros). Todavia, estas zonas de

    cisalhamento no foram confirmadas em nossos trabalhos de campo.

    2.3.4 Geocronologia

    Os granitides do embasamento na Folha Piumhu fazem parte do Complexo Campo Belo que inclui

    ortognaisses granitides arqueanos e paleoproterozicos (Teixeira et al., 2000). Apesar de no

    existirem dados geocronolgicos das formaes Sete Lagoas e Sambur na rea da Folha Piumhu

    consenso que estas unidades so neoproterozicas. Uma idade isocrnica Pb-Pb de 740 22 Ma

    foi obtida por Babinsky & Kaufman, (2003) em carbonatos da Formao Sete Lagoas na Pedreira

    Sambra em Sete Lagoas, cerca de 200 km a nordeste de Piumhu. Conforme Babinsky (2005) esta

    idade permite relacionar a deposio dos carbonatos ao final da glaciao Sturtiana. J com base

    em estratigrafia isotpica Misi (2001) situa a formao no intervalo 680-600Ma. Os ruditos da

    Formao Sambur encerram fragmentos de rochas semelhantes as do Sistema de Cavalgamento

    Ilicnea-Piumhi e por tal razo so interpretados como depsitos de antepas, derivados da eroso

    da frente de empurres. Dataes K-Ar mostram que o resfriamento no sistema de empurres se

    deu a cerca de 600-580 Ma (Valeriano et al., 2000) balizando assim a idade da Formao

    Sambur.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 7

    3. CARACTERIZAO DAS UNIDADES MAPEADAS

    A subdiviso tectnica adotada por Valeriano (1992; Valeriano et al., 2006a e b) mostra as

    unidades precambrianas agrupadas em trs domnios distintos, interno que corresponde a Nappe

    Passos; externo incluindo o Sistema de Cavalgamento Ilicnia-Piumhu e autctone-parautctone

    englobando o Grupo Bambu, Formao Sambur e embasamento (Simes & Valeriano, 1990;

    Fuck, 1994; Valeriano et al., 2000). As unidades precambrianas da Folha Piumhu foram includas

    nos domnios autctone-parautctone e externo.

    3.1 Embasamento

    O termo embasamento na rea Folha Piumhu tem sido aplicado a um conjunto geotectnico que

    inclui unidades arqueanas e paleoproterozicas constitudas por ortognaisses ou granitides e

    sucesses de greenstone belts. Na parte oriental da rea, no domnio autctone-parautctone,

    afloram ortognaisses que devem corresponder a sutes TTG do Complexo Campo Belo (Teixeira

    et al., 2000) do embasamento do crton. No sistema de empurres de Piumhi, no sudoeste da

    rea, ocorre uma lasca tectnica de tipo greenstone belt e granitides arqueanos em variado grau

    de deformao. Ainda neste sistema de empurres aparecem uma unidade de talco xistos e

    serpentinitos cromferos; uma sucesso turbidtica com arenitos, wackes e pelitos e a Unidade

    Serra da Mamona incluindo pelito carbonoso, formao ferrfera e quartzitos.

    3.1.1 Granitides no Domnio Autctone - Parautctone

    Na parte leste e sudeste da folha afloram granitides ou ortognaisses muito alterados em

    barrancos e semifrescos em lajedos nos crregos. Na maioria dos afloramentos so granitides

    cinzentos, equigranulares mdios ou grossos, macios ou xistosos. Estas rochas encaixam

    diques granticos e pegmatitos provavelmente penecontemporneos a gerao dos granitides.

    Outra variedade, aparentemente subordinada

    em rea, um ortognaisse porfiroblstico

    (Fig. 3) ou com carter migmattico definido

    por bandas mficas, apfises granitides e de

    pegmatitos. No canto sudeste da folha ocorrem

    saprlitos de ortognaisses granitides com

    bandamento definido por camadas tabulares

    delgadas (1-10cm) avermelhadas (mficas ?)

    e brancas flsicas. Ocorrem tambm possveis

    biotititos e clorita xistos alterados em lentes

    no granitide alterado. Os raros granitides

    semifrescos tm composio grantica a

    Figura 3: Variedade porfiroblstica de ortognaisse do embasamento. Ponto 471, Usina Velha So Domingos, prximo a Arcos.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 8

    granodiortica, com quartzo, K-feldspato, plagioclsio e biotita; e quantidades acessrias

    ou traos de zirco, apatita, rutilo e minerais opacos. Sericita e epidoto so secundrios

    comuns.

    3.1.2 Granitides no Domnio Externo

    Dois corpos de granitides ocorrem em escamas tectnicas no domnio externo, ambos em

    posies tectnicas inferiores no sistema de empurres, encaixados na faixa greenstone e sob as

    sucesso turbidtica e a Unidade Serra da Mamona. So rochas semelhantes as que ocorrem na

    borda cratnica, porm com variado grau de deformao. Ocorrem feies e texturas locais

    preservadas pela deformao e fcies muito deformadas, at milonticas. A composio variada,

    mas predominam granitos e granodioritos sobre tonalitos e quartzo dioritos. Valeriano et al.

    (2004) dataram granitides semelhantes na Folha Guap, logo a sul. Os afloramentos situam-se

    em posio tectnica semelhante aos de Piumhi. Uma razo 207

    Pb/206

    Pb em titanita forneceu idade

    mnima de 3019 Ma para uma amostra grantica. Uma idade de 2936 13 Ma foi obtida por

    datao U-Pb em zirco em granodiorito. Outra idade de 2.25 Ga foi obtida pelo mtodo K-Ar em

    hornblenda de amostra do mesmo corpo.

    3.1.3 Greenstone Belt de Piumhi

    Esta unidade constitui uma escama tectnica no sistema de empurres do domnio externo. Trata-

    se de uma sucesso de tipo greenstone belt antes conhecida como Macio de Piumhi (Fritzsons

    et al., 1980; Schrank, 1982). A unidade inclui derrames baslticos e komatiticos com estruturas

    almofadadas e spinifex, vulcanitos bsicos, intermedirios e cidos. As rochas mostram varivel

    grau de deformao em fcies xisto-verde, mas em geral, os atributos primrios esto

    relativamente bem preservados. Esta lasca tectnica greenstone belt foi estudada em detalhe por

    Schrank (1982, 1986), Jahn & Schrank (1983), Schrank. & Silva (1993) e Schrank & Abreu (1990).

    Cristais de zirco de um sill de gabro anortostico, intrudido na sucesso vulcnica foram datados

    pelo mtodo U-Pb, com intercepto superior em 311610 Ma, situando a associao no

    Mesoarqueano (Machado & Schrank, 1989).

    3.1.4 Talco, Xisto e Serpentinito

    Rochas ultramficas, mormente talco xisto e serpentinito localmente com lentes de cromitito,

    constituem uma unidade distinta no sistema de empurres ou domnio externo, no canto sudoeste

    da folha. Estas rochas ultramficas aparecem em afloramentos descontnuos ao longo da superfcie

    de cavalgamento que recobre a unidade dos metassedimentos turbidticos e se estendem para sul

    na Folha Guap. A cromita ocorre disseminada xistos ultramficos e lentes de cromitito compacto

    muito deformado, intercaladas nestes xistos. No existem dataes ou correlaes confiveis a

    posio estratigrfica da unidade ainda incerta.

    Rochas metaultramficas com cromita j eram conhecidas e mineradas desde o incio da dcada

    de 40 nas cabeceiras do ribeiro das Araras e do crrego Caxambu, a sul de Piumhi (Barbosa &

    Lacourt, 1940; Arajo, 1943; Sidrim, 1978). Ferrari et al. (1996) sugere corpos alpinotipos com

    base no quimismo da cromita (cf. Recursos Minerais).

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 9

    3.1.5 Wackes, Arenitos e Pelitos Turbidticos

    Esta unidade alcana cerca de 100 metros de espessura mnima, recobre a escama de faixa

    greenstone de Piumhu e aparece empurrada sobre a Formao Sambur a sul de Piumhu.

    constituda essencialmente por wackes e arenitos feldspatolticos e pelitos cinzentos. Estas rochas

    aparecem organizadas em pares ou ciclos wacke/arenito-pelito e siltito/arenitofino-argilito

    empilhados em sucesses mtricas com tpico acamamento tabular. Os pares wacke/arenito-pelito

    alcanam espessuras de 20 a 50cm e localmente mostram base erosiva e intraclastos pelticos. Os

    pares de finos so delgados (1-10cm) a moda dos ritmitos. As estruturas comuns nas camadas

    individuais so as de tipo macia ou gradada, mas localmente ocorre microlaminao cruzada e

    laminao convoluta.

    A litologia psamtica inclui wackes quartzosas e feldspatolticas. As quartzo-wackes tm arcabouo

    de quartzo monocristalino e policristalino tipo quartzito fino e matriz de sericita e minerais opacos.

    Uma clivagem ardosiana mal definida pela matriz e orientao dos eixos maiores dos gros do

    arcabouo. Ocorrem transies para arenitos quartzosos sujos que se destacam por formarem

    cristas continuas no relevo. As wackes feldspatolticas tm arcabouo composto por quartzo, a

    maioria monocristalino, feldspatos e abundantes fragmentos de vulcanitos. A maioria dos gros de

    quartzo e feldspato parece derivar de rochas granitides, provavelmente finas. Os litoclastos so

    de vulcanitos flsicos com fenocristas de plagioclsio e texturas equigranular, traqutica e

    esferultica devida a devitrificao. Ocorrem tambm fragmentos de rochas baslticas e andesticas

    microcristalinas. A matriz uma pasta muito fina de mica branca, clorita e minerais opacos.

    A petrofcies sugere rea fonte em granitides finos e vulcanitos flsicos, intermedirios e mficos.

    Possivelmente as rochas fontes so do prprio Greenstone Belt de Piumhu e granitides arquenos

    associados.

    3.1.6 Unidade Serra da Mamona

    Esta unidade aparece no sistema de empurres ou domnio externo, no canto sudoeste da folha.

    Aflora nas serras do Lavaps e Gabiroba e da para sul, na Serra da Mamona, j na Folha Guap.

    Na Folha Piumhi cobre as unidades turbidtica e dos xistos ultramficos. A Unidade Serra da

    Mamona inclui formao ferrfera bandada e pelitos carbonosos na base, e pelitos, quartzitos e

    conglomerados quartzosos no topo. A formao ferrfera bandada constituda pelo empilhamento

    de lminas tabulares macias com varivel proporo de quartzo e xido de ferro e lminas

    cinzentas ou castanhas dominadas por materiais ferruginosos. Os quartzitos e conglomerados do

    topo aparecem em camadas de aparncia macia, delgadas (1-10cm), mdias (10-30cm) e

    espessas (30-100cm), esverdeadas e cinzentas. As esverdeadas so ricas em fragmentos de

    quartzo de veio e devem sua cor a matriz de sericita esverdeada. As camadas cinzentas, apesar da

    alta proporo de quartzo, devem sua cor a intraclastos de pelitos carbonosos, fragmentos de chert

    avermelhado e alta proporo relativa de minerais opacos na matriz quartzo-serictica. No topo da

    sucesso aparecem corpos lenticulares de conglomerados grossos cinzentos. As duas sucesses

    formam um conjunto grano e estratocrescente para topo. A sucesso basal registra deposio em

    ambiente euxnico com baixo aporte de material terrgeno e a sucesso de topo representa a

    progradao de materiais terrgenos. O conjunto pode ser interpretado como parte de um delta em

    bacia relativamente fechada.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 10

    Dataes U-Pb de gros detrticos de zirco de um metaconglomerado mostram idades

    majoritariamente arqueanas. A idade mxima para a sedimentao do conglomerado indicada

    pelo zirco mais novo datado, de ca. 2.0 Ga (Valeriano et al., 2004a, b).

    3.2 Unidades Metassedimentares Neoproterozicas

    As sucesses neoproterozicas expostas na Folha Piumhi podem ser includas nas unidades Santo

    Hilrio e Boa Esperana que aparecem em escamas tectnicas no sistema de empurres de

    Piumhu, na Formao Sambur e na Formao Sete Lagoas.

    3.2.1 Unidade Serra da Boa Esperana

    Esta unidade ocorre em escamas tectnicas basais no sistema de empurres do domnio externo.

    So metaquartzo arenitos, quartzitos, sericita filitos e quartzo conglomerados que ocorrem sob a

    Nappe Passos, desde Carmo do Rio Claro e Ilicnia nas folhas Guap e Alpinpolis, at a Serra da

    Pimenta na Folha Piumhi. O termo Seqncia Boa Esperana foi criado originalmente por Valeriano

    (1992) para agrupar as rochas da unidade. Depois elas foram includas, junto com conglomerados

    da Formao Sambur, na Seqncia Carmo do Rio Claro (Heilbron et al., 1987). Mas Valeriano et al.

    (1995) voltaram ao termo original excluindo os conglomerados Sambur da unidade. O enfoque

    litolgico domina a descrio da unidade, pois cisalhamento subparalelo ao acamamento destruiu a

    maioria das estruturas primrias e dificulta o entendimento das relaes originais das litofcies.

    Valeriano (1992) reconheceu duas sucesses, uma dominada por quartzitos e outra por filitos.

    Sucesso Quartztica - esta sucesso forma serras e chapades no domnio externo, destacando-se

    na parte oriental da Serra da Pimenta. constituda por quartzo arenitos e quartzitos, e

    intercalaes de sericita filito, filito hemattico e raras lentes de conglomerados quartzticos.

    Valeriano (1992; 1999) reconheceu trs associaes na sucesso quartztica:

    a. Quartzito ou metaquartzo arenito com grnulos e intercalaes de sericita filito esverdeado. Os

    quartzitos contm fragmentos arredondados de quartzo monocristalino e policristalino, e raros

    clastos de K-feldspato. Em locais mais preservados foram identificados rochas bem selecionadas,

    sobrecrescimentos de quartzo, marcas de onda e estratificao cruzada.

    b. Quartzito micceo cinza com maior proporo de minerais opacos finos e de matriz miccea em

    relao aos quartzitos da associao a.

    c. Quartzito micceo em acamamento lenticular delgado com estratificao cruzada.

    Sucesso filtica - so quartzo clorita sericita filitos, cinzentos ou esverdeados, que ocorrem

    intercalados na sucesso quartztica. Localmente enceram intercalaes de pares quartzito fino-

    filito formando ritmitos esverdeados.

    3.2.2 Formao Santo Hilrio

    Esta unidade aflora em lentes descontinuas na base do sistema de empurres do domnio externo,

    desde Santo Hilrio na Folha Guap, at a Serra da Pimenta na Folha Piumhu. Inclui arcseos,

    quartzitos e brechas deformados. Nas brechas ocorrem fragmentos de granitos, quartzitos,

    metapelitos, feldspatos e matriz arcoseana. A unidade parece representar um depsito de antepas

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 11

    precoce em relao aos depsitos da Formao Sambur e pode ser entendida como uma

    variedade de melange tectonossedimentar.

    3.2.3 Formao Sete Lagoas, Grupo Bambu

    Nesta formao foram reconhecidas duas unidades de expresso regional, uma basal constituda

    por calcipelitos rosados e esverdeados e outra de topo composta por calcrios cinza escuros. Os

    calcipelitos podem ser equivalentes da fcies Pedro Leopoldo e os calcrios cinzentos correlatos da

    fcies Lagoa Santa, ambas definidas na rea de Sete Lagoas por Scholl (1972). Na regio da Folha

    Piumhi os calcrios tm sido tradicionalmente includos na Formao Sete Lagoas e os calcipelitos

    em parte includos no SubGrupo Paraobepa. Uma terceira unidade de ocorrncia local no

    cartografada na escala adotada aparece abaixo dos calcipelitos sobre granitides do embasamento.

    So pelitos siliciclsticos e ruditos que podem ser equivalentes da Formao Carrancas (cf. 2.3.3)

    ou remanescentes da Formao Macabas

    Rochas carbonticas so caracterizadas pela sua granulometria, proporo de matriz, seleo e

    componentes essenciais, ou seja, intraclastos, oolitos, pelides e bioclastos. Em analogia a

    siliciclsticos podem ser classificadas como calciruditos (rudstones, floatstones), calci-arenitos

    (grainstones, packstones), calciwackes (wackestones) e calcilamitos (mudstones). Rochas

    carbonticas autctones so classificadas de acordo com sua textura e gnese (cf. Folk, 1959;

    Dunham, 1962; Embry & Klovan, 1971). O tipo de estrutura presente ajuda a caracterizar a rocha

    e o tipo de depsito ainda no campo. Um calcrio com estratificao cruzada pode ser um

    grainstone, ainda que os seus componentes essenciais no sejam reconhecidos. Mas em calcrios

    cinza escuros ou negros muitas vezes difcil reconhecer tambm a estrutura. A caracterizao das

    variedades de calcrios da rea mesclou petrografia de 40 amostras tingidas com alisarina para

    identificao de dolomita e observaes de campo com ajuda de cido clordrico diludo na maioria

    dos afloramentos. No campo, na maioria dos casos as rochas carbonticas afanticas foram

    coletivamente denominadas calcipelitos e as mircofanerticas e fanerticas finas de calcrios. Com

    ajuda das estruturas foi possvel separar calciarenitos, calciruditos ou brechas carbonticas e fcies

    oolticas e biolticas como estromatlitos colunares.

    3.2.3.1 Pelitos e Ruditos Siliciclsticos

    Estas rochas aparecem em ocorrncias isola-

    das e alteradas capeando granitides do

    embasamento em discordncia litolgica, e

    cobertas pelos calcipelitos. Prximo a Arcos,

    no ponto 36, ocorre um conglomerado com

    fragmentos arredondados e subangulosos do

    granitide subjacente. Este rudito aparece em

    lentes descontnuas com at cerca de 1 metro de

    espessura capeando um paleorelvo esculpido

    no granitide do embasamento. Calcipelitos

    Sete Lagoas cobrem o rudito em aparente

    discordncia. Os pelitos siliciclsticos aparecem

    Figura 4: Pelitos siliciclsticos na minerao Fazenda gua Santa, prximo a Arcos. Vide Recursos Minerais.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 12

    em corpos aparentemente lenticulares com espessuras at mtricas e extenso lateral no mnimo

    decamtrica. A sucesso formada pelo empilhamento siltitos e argilitos cinzentos ou esverdeados

    em camadas delgadas e mdias, macias ou com laminao plana (Fig. 4). Como mencionado

    acima estes depsitos podem ser equivalentes da Formao Carrancas (cf. 2.3.3) ou

    remanescentes da Formao Macabas.

    3.2.3.2 Calcipelitos (calcissiltitos e calcilutitos/argilitos) Formao Sete Lagoas

    Esta unidade ocupa vasta rea na parte norte da folha. No leste da rea predomina uma sucesso

    com intercalaes de fcies ondulada e laminao cruzada. A sucesso suavemente dobrada

    aparece em discordncia litolgica sobre o embasamento (Fig. 5). Para norte, nordeste e noroeste,

    nas reas que incluem Iguatama, Lagoa da Prata e Bambu predomina uma sucesso de calcipelitos

    em acamamento tabular delgado na maioria dos afloramentos dobrado ou redobrado. As rochas

    esto muito alteradas, exceto um corte semifresco a sul de Dorespolis. A cobertura de colvios

    e as rochas deformadas e muito alteradas dificultaram a localizao e o entendimento da transio

    entre as duas sucesses.

    A unidade apresenta espessuras variadas, cerca de 50 metros na rea de Arcos at cerca de 100

    metros de espessura mnima na rea de Bambu.

    No leste e sudeste, reas de Arcos e Crrego Fundo calcipelitos rosados e esverdeados, frescos,

    semifrescos e alterados cobrem um paleorelvo irregular esculpido nos ortognaisses granitides

    do embasamento (Figs. 5 e 6). Apesar de no ter sido observada em afloramentos contnuos, a

    transio para os calcreos cinzentos sobrepostos parece ser marcada por horizonte de camadas

    tabulares macias ou laminadas. Para norte, nordeste e noroeste predomina a sucesso de

    calcipelitos em acamamento tabular delgado, e as rochas sempre muito alteradas. A transio

    entre as sucesses mal definida devido cobertura de colvios e rochas muito alteradas,

    dobradas e redobradas.

    Figura 5: Calcipelitos da Formao Sete Lagoas em acamamento tabular delgado suavemente dobrado, discordante sobre granitides alterados, rosados. Ponto 36, Boca do Mato, Arcos.

    Figura 6: Calcipelitos em discordncia litolgica sobre granitide do embasamento. Ponto 417 na periferia de Arcos.

    Como visto acima trata-se de uma unidade constituda por calcipelitos e pelitos margosos

    organizados em duas sucesses distintas. O primeiro tipo de sucesso bem exposto na parte

    leste da rea, especialmente entre a rea de Arcos e o trevo das rodovias BR-354 e MG-159. Este

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 13

    tipo inclui calcissiltitos ou calciarenitos muito finos e calciargilitos em camadas delgadas e mdias.

    As cores das rochas frescas e semifrescas so rosadas (Fig. 7) e variedades menos freqentes

    esverdeadas e cinzentas e creme. As rochas frescas efervescem em contato com cido clordrico

    diludo, so micrticas e os componentes essenciais so de difcil reconhecimento. O ataque com

    alisarina mostra traos de dolomita. As rochas alteradas tm cores amareladas (Fig. 8) e pouco

    efervescem com cido clordrico diludo. As estruturas freqentes so ondulada definida por marcas

    de onda e recobrimentos de micas finas esverdeadas, microlaminao cruzada e laminao plano

    paralela (Fig. 9). Localmente foram encontradas provveis estruturas hummocky (Fig. 10) e gretas

    de ressecamento (Fig. 11). Brechas intraformacionais com at cerca de 3 metros de espessura se

    intercalam na sucesso (Fig. 12). As fcies macias podem ser originais ou produtos de

    recristalizao e micritizao.

    As estruturas onduladas (wavy), gretas de ressecamento e microlaminaes cruzadas registrando

    paleocorrentes para nordeste e sudoeste (Fig. 13) indicam paleoambiente deposicional litorneo

    raso, provavelmente um sistema de plancie de mar, com gretas de ressecamento caracterizando

    ambiente de intermar. Os recobrimentos micceos nas estruturas onduladas (Fig. 9) mostram o

    baixo influxo de materiais siliciclsticos finos na base da sucesso. No entanto, localmente definem

    camadas margosas.

    Figura 8: Calcipelitos semelhantes aos da figura 7, alterados. Ponto 61 rodovia BR-354.

    Figura 7: Empilhamento de camadas delgadas e mdias de calcipelitos tpico da base da Formao Sete Lagoas. Acima rochas frescas no ponto 32 prximo ao trevo das rodovias BR-354 e MG-439; abaixo rochas semifrescas no ponto 19, um corte na rodovia MG-050 prximo a Crrego Fundo do Meio.

    Figura 9: Fcies ondulada (wavy) e microlaminao cruzada em calcissiltitos da Formao Sete Lagoas. Ponto 32b, prximo ao trevo BR-354 e MG-439.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 14

    O segundo tipo de sucesso formado pelo montono empilhamento de camadas tabulares

    delgadas (1-10cm) e mais raras mdias (10-30cm) ou espessas (30-100cm). As rochas

    so finas e a estrutura interna nas camadas aparentemente macia. Mas, as rochas

    esto sempre muito alteradas, com cores amareladas e menos freqentes rosadas e na

    maioria dos afloramentos aparecem dobradas (Fig. 14) o que dificulta a interpretao paleo-

    ambiental. O montono empilhamento de camadas tabulares, a estrutura macia e ausncia de

    estruturas tracionais sugerem deposio de materiais finos baixo do nvel base de ondas.

    Provavelmente so equivalentes laterais aos depsitos litorneos expostos na parte setentrional

    da rea.

    3.2.3.3 Calcreos cinzentos Formao Sete Lagoas

    Na parte leste da rea os calcrios cinzentos capeiam os calcipelitos e formam pare-

    des abruptos que deram origem ao apelido de campo calcrio muralha (Figura 15).

    Figura 10: Estratificao cruzada hummocky em calcissiltitos da Formao Sete Lagoas. No ponto 32c, prximo ao trevo das rodovias BR-354 e MG-439.

    Figura 11: Gretas em calcipelito da base da Forma-o Sete Lagoas. Ponto 32d, prximo ao trevo das rodovias BR-354 e MG-439.

    Figura 12: Brecha intraformacional em calcissiltitos daFormao Sete Lagoas. Ponto 32e, prximo ao trevo dasrodovias BR-354 e MG-439.

    Figura 13: Sentido de paleocorrentes em micro-laminao cruzada de calcissiltitos na base da For-mao Sete Lagoas em 18 pontos de amostragem.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 15

    Este relevo de orientao aproximada norte-sul

    marca o contato com a unidade de calcipelitos

    e pode ser observado nas imagens Geocover 2000

    e Google Earth. Na parte central da rea, nas

    adjacncias do Rio So Miguel e da para noroeste

    em direo a Dorespolis, aparecem afloramen-

    tos escarpados e relevo crstico proeminente.

    Sumidouros e dolinas so identificados nos mapas

    1:50.000 do IBGE. Nas partes sul e norte da

    unidade os afloramentos so escassos e o padro

    crstico discreto. No noroeste os calcrios esto muito mal expostos ocorrendo essencial-

    mente ao longo de crregos. A presena de dolinas, sumidouros, vales cegos e de colvio

    vermelho, distinto da maioria dos colvios

    mais claros sobre calcipelitos, ajudam a

    encontrar afloramentos isolados de calcrios

    semifrescos ou alterados.

    Na pedreira da Lafarge do Brasil em Arcos,

    foram medidos cerca de 150 metros de

    calcrios cinzentos, sem base exposta e topo

    erodido (Fig. 16). Com base nesta seo, em

    sees geolgicas e observaes de campo

    estima-se que a unidade alcance cerca de 200

    metros de espessura mnima na Folha Piumhi.

    Apesar de no ter sido observado em aflora-

    mentos contnuos, na parte leste da rea o contato com os calcipelitos sotopostos parece

    ser marcado por horizonte de camadas tabulares macias e laminadas. Para oeste e sudoeste

    a unidade truncada pela Formao Sambur ao longo de uma falha reversa ou empurro.

    Figura 15: Muralha de calcrio cinzento subhorizontal, relevo tpico dos calcrios da Formao Sete Lagoas na parte leste da Folha Piumhi, entre Arcos e Crrego Fundo.

    Figura 14: Afloramentos tpicos da sucesso de calcipelitos exposta na parte meridional da folha: rochas muito alteradas em acamamento tabular delgado dobrado. Acima no ponto 241, a noroeste da localidade de Pedra Branca, abaixo no ponto 135, ao norte de Dorespolis.

    Figura 16: Calcrios cinzentos sem base exposta e topo erodido. Lavra da Minerao Arcos, CSN, vista da pedreira da Lafarge do Brasil, Arcos.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 16

    No noroeste, reas de Lagoa dos Martins, Dorespolis e Bambu a escassez de aflora-

    mentos e a cobertura de colvios no permitiu caracterizar a natureza do contato com os

    calcipelitos.

    Sob a denominao geral de calcrios cinzentos inclui-se aqui uma variedade de rochas

    carbonticas, cinzentas a quase negras, a maioria microfanerticas. Por suas estruturas primrias,

    por exemplo, estratificao cruzada, grande parte destas rochas so calcarenitos ou grainstones.

    Calcissiltitos, lutitos e biolititos aparecem em menor proporo. Micas finas e recobrimentos

    micceos so raros. Estas rochas efervescem em contato com cido clordrico diludo e o

    tingimento com alisarina nas sees delgadas revelou ausncia ou apenas traos de dolomita na

    maioria das amostras. No perfil da pedreira da Lafarge calcrios da parte mdia e do topo da

    unidade chegam a conter cerca de 10% de dolomita e poucas variedades alcanam 30%. Portanto

    so calcrios, calcrios com dolomita e calcrios dolomticos. Na maioria das rochas observadas

    ocorre calcita microesptica ou micrtica e escassos cristais espticos isolados. A dolomita aparece

    em cristais xenomrficos e em poiquiloblastos gerando textura mosqueada. Em algumas amostras

    ocorre dolomita idiomrfica sobre estilolito definido por resduo escuro carbonoso. Em algumas

    amostras aparecem estruturas circulares de calcita micrtica com envelopes de dolomita ou pasta

    escura, possivelmente microfitlitos. Reconhece-se ainda intraclastos, oolitos e possveis pelides

    micrticos. Minerais opacos finos, isolados ou concentrados em manchas, ocorrem em quantidades

    acessrias ou traos. Microestilolitos so freqentes. Estas rochas constituem lminas e camadas

    delgadas, mdias, espessas e muito espessas, a maioria tabulares.

    A leste do Rio So Miguel, na parte leste da

    unidade as camadas subhorizontais pouco

    deformadas exibem estrutura primrias

    relativamente bem preservadas. Estes tipos

    de estruturas so melhor observadas em

    superfcies alteradas ou tingidas (Fig.17).

    So reconhecidas fcies macia, laminao

    plano paralela, estrutura ondulada com

    recobrimentos carbonosos e mais raros

    micceos, estratificao cruzada dos tipos

    planar, acanalada, espinha de peixe e

    superfcies de reativao (Fig. 17).

    Estromatlitos com at cerca de 1 metro de

    altura aparecem na parte superior da

    unidade (Fig. 18). Brechas intraformacionais provavelmente geradas por dissoluo e colapso

    (Fig. 19) e estilolitos (Fig. 20) so freqentes desde a base at o topo da unidade. Do Rio So

    Miguel para oeste e noroeste, em direo a Lagoa dos Martins, Dorespolis e Bambu na grande

    maioria dos afloramentos os calcrios cinzentos deformados e recristalizados mostram apenas

    estrutura aparente macia. Provavelmente as estruturas deposicionais e penecontemporneas

    foram mascaradas ou destrudas durante a deformao (Fig. 21).

    Figura 17: Estratificao cruzada e superfcies de reativao em provvel canal de mar. Calciarenito cinzento da Formao Sete Lagoas na Minerao Caloeste, ponto 68.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 17

    Figura 18: Estromatlito colunar com cerca de 80cm de altura. Provvel barreira bioltica no topo dos calcrios cinzentos. Pedreira da Lafarge do Brasil em Arcos.

    Figura 19: Brecha intraformacional gerada por dissoluo em calcrio cinzento. Formao Sete Lagoas na pedreira da Lafarge do Brasil em Arcos.

    A sucesso subhorizontal de calcrios cinzentos est bem exposta na pedreira da Lafarge em

    Arcos. A seo local mostra o seguinte:

    nos primeiros sessenta metros, que correspondem as bancadas 1 a 5 da pedreira, predomina o

    empilhamento de camadas delgadas de calciarenitos finos e calcissiltitos. So dois tipo de

    camadas dominantes, uma aparentemente macia ou com laminao plana difusa e outra com

    laminao ondulada definida por pelculas cinzas ou esverdeadas. As duas variedades podem

    formar pares empilhados ciclicamente. Estilolitos so muito freqentes. Intercalados nestas

    camadas aparecem bancos de brechas macias, com base e topo planos e espessuras

    centimtricas, exceto um corpo de brecha de 2 metros na parte alta da bancada 3 da

    pedreira.

    nas bancadas seis, sete e base da bancada 8, totalizando cerca de 20 metros de espessura,

    aparecem calciarenitos, localmente oolticos. Estas rochas formam camadas delgadas e mdias

    agrupadas em dois tipos de estratos, ambos com espessuras mtricas. Um tipo de estrato

    composto pelo empilhamento de camadas com estratificao cruzada, a maioria acanalada.

    Figura 20: Estilolito definido por material marrom ferruginoso e carbonoso em calcrio cinza da Formao Sete Lagoas. Ponto 50, Fazenda Bocaina, Arcos.

    Figura 21: Acamamento delgado aparentemente macio definindo dobras concntricas com ncleos cspides. Neste tipo de rocha calcria deformada rara a preservao de texturas estruturas prim-rias. Calcrio cinza na lapa do empurro Sambur, ponto 99.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 18

    O outro tipo de estrato formado por camadas macias ou com laminao plana mal definida.

    As estruturas cruzadas registram paleocorrentes para sudeste, sul e sudoeste.

    sobre as fcies com estratificao cruzada, na bancada oito, ocorre um estrato com 3 metros de

    espessura, constitudo por estromatlitos colunares com at cerca de 80 centmetros de altura.

    Lateralmente ocorrem calciarenitos com estratificao cruzada. Este banco parece registrar

    barreiras de estromatlitos e canais de mar adjacentes.

    acima da associao com estromatlitos ocorre um banco de brecha com 3 metros de espessura

    e sobre as brechas voltam a ocorrer calciarenitos aparentemente macios, laminados ou com

    estratificao cruzada, alm de estromatlitos colunares, agora com alturas apenas centimtricas

    ou decimtricas.

    Afloramentos contnuos mostrando o contato basal dos calcrios cinzentos sobre os calcipelitos

    rosados e esverdeados no foram encontrados. Os afloramentos mais prximos ao contato

    mostram o topo dos calcipelitos com estruturas litorneas e a provvel base dos calcrios cinzentos

    com camadas tabulares delgadas sugestivas de depsitos abaixo do nvel base de ondas. Para o

    topo os calcrios cinzentos passam a mostrar estruturas tracionais tpicas de ambientes litorneos

    rasos, culminando com barreiras definidas por estromatlitos colunares e canais adjacentes

    caracterizados por calciarenitos, inclusive oolticos, com estratificao cruzada registrando

    paleocorrentes bidirecionais (Fig. 17).

    Em conjunto as sucesses tradicionalmente includas na Formao Sete Lagoas na rea da Folha

    Piumhu mostram calcipelitos e calciarenitos finos rosados e esverdeados, litorneos e pobres

    em material carbonoso na base, sobrepostos por uma sucesso de calcrios cinzentos ricos em

    matria carbonosa, com caractersticas de raseamento ascendente. Este quadro estratigrfico

    sugere sedimentao em plataforma carbontica, provavelmente epicontinental (cf. Misi, 2001),

    em duas etapas distintas. A primeira, pouco espesssa, registra sedimentao em ambiente

    litorneo pobre em material carbonoso. A segunda registra depsitos ricos em materia

    carbonosa associados subida do nvel relativo do mar seguida de raseamento. Anlises

    isotpicas de carbono e oxignio em andamento mostram valores altamente negativos para os

    calcipelitos rosados e positivos para os calcrios cinzentos. Estes dados, ainda em confrontao

    com perfis e anlises qumicas, mostram boa correlao com dados de Misi (2001) e sugerem

    que para os calcipelitos rosados sedimentao ps-glacial, ou seja, provavelmente ps

    Macabas.

    Resta ainda a relao ou transio para a espessa sucesso de calcipelitos em acamamento tabular

    delgado que ocupa a parte noroeste da rea. Possivelmente esta sucesso representa os depsitos

    mais fundos, abaixo de do nvel base de ondas, contemporneos a toda sedimentao litornea

    representada pelos calcipelitos e calcrios cinzentos.

    3.2.4 Formao Sambur

    Esta unidade aparece na lapa dos empurres do domnio externo, empurrada sobre calcrios da

    Formao Sete Lagoas (Fig. 22). Na rea da Folha Piumhu tem cerca de 200m de espessura

    mnima e constituda essencialmente por conglomerados polimticos e pelitos.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 19

    Os conglomerados que afloram no vale do Rio

    Sambur, a oeste da Folha Piumhu, foram

    descritos inicialmente por Miranda (1953, in

    Braun, Lxico Estratigrfico Brasileiro) e Branco

    (1957). Barbosa (1963; in Barbosa, 1965)

    batizou a unidade como Formao Sambur

    estendendo sua rea de ocorrncia at a regio

    de Piumhi. Valeriano (1992) interpretou a

    formao como depsito de leque subaqutico

    relacionado eroso da frente alctone da Faixa

    Braslia em avano sobre o antepas. Castro

    (1996) e Castro & Dardenne (1996, 2000) a

    interpretaram como depsito de leque deltico

    tambm em bacia de antepas relacionada

    Orognese Brasiliana. Estas interpretaes foram

    originalmente sugeridas por Chang et al. (1988) e corroboradas por Simes & Valeriano (1990),

    embora o modelo de Chang e colaboradores tenha sido aplicado a todo o Grupo Bambu e no

    apenas Formao Sambur. Castro & Dardenne (2000) mencionam que a Formao Sambur

    grada para a sucesso pelitca carbontica da Formao Sete Lagoas, idia adotada por Martins-

    Neto & Alkmim (2001). Entretanto, como j apontava Valeriano (1992), o mapeamento mostrou

    que a Formao Sambur recobre as unidades da Formao Sete Lagoas ora em discordncia ora

    em contato de empurro. Alm disso, a sul da Folha Piumhu, na Folha Guap, a Formao

    Sambur trunca o contato basal da Formao Sete Lagoas e cobre o embasamento autctone. Na

    Folha Piumhu a formao aparece empurrada sobre os calcrios cinzentos Sete Lagoas. Nossas

    observaes coincidem com as de Valeriano (1992) e Valeriano et al. (2006a, b). A Formao

    Sambur constituda por depsitos sincompressionais dos estgios finais da coliso brasiliana.

    A deposio ocorreu em bacia de antepas provavelmente distinta ou sucessora da bacia que

    abrigou os depsitos da Formao Sete Lagoas. A Formao Sambur ento considerada aqui

    uma unidade desvinculada do Grupo Bambu, e provavelmente tardia em relao aos depsitos

    orognicos da Formao Santo Hilrio.

    Formao Sambur - descrio

    Uma espessura mnima de 150m estimada para a unidade na rea estudada com base em sees

    geolgicas e perfis estratigrficos detalhados. A unidade cobre os calcrios cinzentos da Formao

    Sete Lagoas ao longo de uma falha reversa ou empurro e truncada por empurres basais do

    domnio externo no sudoeste da folha (Fig. 22).

    Figura 22: Colinas e vales com rochas alteradas, paisagem tpica da Formao Sambur. A unidade aparece empurrada sobre calcrio cinza da Formao Sete Lagoas e capeada pelos empurres da Serra da Pimenta, ao fundo. Quadrante sudoeste da Folha Piumhi.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 20

    Ocorrem duas litofcies principais na unidade,

    conglomerados polimticos e pelitos. Pelitos

    arenosos e areno-seixosos transicionais a

    arenitos e wackes lticos e diamictitos so fcies

    secundrias. Na maioria dos afloramentos as

    rochas esto muito alteradas, so saprlitos de

    variadas cores, rosadas, avermelhadas,

    amareladas. Nos raros afloramentos frescos so

    rochas cinza escuras ou esverdeadas. Os

    conglomerados so macios ou mostram

    estratificao horizontal e gradao normal e

    inversa mal definidas, difusas (Fig. 23). A

    maioria dos fragmentos so subarredondados. A

    escassa matriz arentica ltica limpa, mas,

    ocorrem variedades com matriz wquica transicionais a diamictitos. Os fragmentos so de

    metarenitos quarzticos, quartzitos, quartzitos milonticos, quartzo de veio, metapelitos e filitos

    pelticos, metabasitos, gnaisses, granitides e felsitos, entre eles riolitos, e feldspatos muito

    alterados. Seixos arredondados de materiais

    estveis, quartzitos e quartzo de veio, registram

    provvel transporte tracional prvio, devem ser

    de segundo ciclo.

    O arredondamento de rochas macias como

    felsitos pode registrar processos tracionais ou

    esfoliao esferoidal na fonte. Em geral os

    clastos de pelitos ou filticos mostram baixa

    esfericidade inerente a sua estrutura interna.

    Os pelitos so macios, gradados (siltito-argilito)

    ou mostram laminao plana mal definida.

    Podem conter areia e seixos espalhados

    passando gradacionalmente a wackes e arenitos

    sujos.

    Os conglomerados, pelitos e arenitos/ wackes se associam em ciclos de tipo conglomerado-pelito e

    conglomerado-arenito/wacke-pelito (Fig. 24). Aparecem tambm em corpos de espessuras

    mtricas a decamtricas, isolados nas sucesses cclicas. Possivelmente os corpos rudticos muito

    espessos so constitudos pelo empilhamento de camadas amalgamadas.

    O aparente predomnio da estrutura macia, tanto em ruditos como em arenitos e pelitos,

    a presena de ciclos grano- e estrato-descrescentes para o topo, gradao normal e localmente

    inversa ou recorrente (Fig. 25), a ausncia de estruturas tpicas de processos tracionais e a

    aparente ausncia de fcies canalizadas sugerem depsitos de fluxos gravitacionais em ambiente

    subaquoso no confinado, abaixo do nvel base de ondas. A petrofcies indica rea fonte nas

    frentes alctones da Faixa Braslia. Muitos litoclastos so fragmentos de rochas semelhantes as que

    ocorrem no sistema de empurres de Piumhu, como os quartzitos milonticos esverdeados

    Figura 23: Conglomerado Sambur em acamamento difuso com caimento mal definido para sudoeste (esquerda). Ponto 94 na rodovia MG-170 prximo Pimenta.

    Figura 24: Ciclos rudito-pelito seixoso tpicos da Formao Sambur na Folha Piumhu. Camadas com alto mergulho para sul (direita) no ponto 95, MG-170 entre Pimenta e Pains.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 21

    possivelmente derivados da unidade Boa Esperana. Estes metassedimentos tm sido interpretados

    como depsitos gravitacionais em leques delticos. Nos escassos afloramentos contnuos onde

    possvel analisar uma sucesso relativamente espessa no foi possvel caracterizar tal tipo de

    ambiente. Por seu contexto geotectnico, provavelmente os depsitos representam fluxos

    gravitacionais subaquosos no canalizados em regio de baixa energia e alta acomodao em uma

    bacia de antepas.

    Conforme discutido com C. M. Valeriano, coordenador do mapeamento nas folhas vizinhas a sul

    (Valeriano et al., 2006a e b), provavelmente na parte nordeste da Folha Guap os depsitos

    Sambur cobrem a Formao Sete Lagoas e o embasamento. Como as rochas pelticas de ambas

    as unidades, Sambur e Sete Lagoas aparecem muito alteradas e tm sido coletivamente

    denominadas de ardsia Bambu, resulta um problema no campo: diferenciar saprlitos de pelitos

    e calcipelitos Sete Lagoas de saprlitos de pelitos Sambur. Tal problema deve ter incomodado

    tambm outros pesquisadores na regio. Assim, possivelmente foram includos na mesma unidade,

    o Subgrupo Paraopeba, pelitos das formaes Sete Lagoas e Sambur. o que aparentam

    mapas regionais e semidetalhados como os de Muzzi-Magalhes (1989) e Castro (1996), entre

    outros.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 22

    Figura 25: Perfil colunar mostrando ciclos conglomerado-pelito tpicos da Formao Sambur na Folha Piumhu. Corte na Rodovia MG-170 entre Pimenta e Pains, ponto 95.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 23

    4. GEOLOGIA ESTRUTURAL E METAMORFISMO NAS UNIDADES PRECAMBRIANAS

    A subdiviso tectnica adotada nas folhas vizinhas Alpinpolis e Guap (Valeriano et al., 2006a e b)

    pode ser utilizada na Folha Piumhu. Conforme descrito no item 3, esta subdiviso tectnica mostra

    as unidades precambrianas agrupadas em trs domnios distintos: interno que corresponde na

    regio a Nappe Passos; externo que inclui o Sistema de Cavalgamento Ilicnia-Piumhu e domnio

    autctone-parautctone englobando a formaes Sete Lagoas, Sambur e o embasamento

    pericratnico (Simes & Valeriano, 1990; Fuck, 1994; Valeriano et al., 2000). As unidades

    precambrianas na Folha Piumhu podem ser includas nos domnios autctone-parautctone e

    externo.

    Domnio externo sistema de empurres de Piumhu

    O domnio externo caracterizado pela imbricao tectnica das unidades litolgicas. A deformao

    principal, D1DE no esquema de Valeriano (1992), gerou empurres, clivagem penetrativa de baixo

    ngulo subparalela ao acamamento e com lineao de estiramento associada. Indicadores

    cinemticos registrando transporte tectnico de topo para NW e NE. A deformao foi interpretada

    como produto de intenso cisalhamento heterogneo de baixo ngulo. Ocorreu em condies de

    fcies xisto verde, zona da clorita, localmente com cloritide. Quartzo, clorita e mica branca

    definem a clivagem em metapelitos. Cloritide ocorre em intraclastos na unidade Serra da Boa

    Esperana, em pelitos da unidade turbidtica e em granitide milontico no vale do Ribeiro Araras

    (cf. Valeriano et al., 2006b). Duas geraes de dobras ps-metamrficas suaves a abertas, ambas

    sem foliao plano-axial, com planos axiais ngremes e eixos N-S e E-W ou NW-SE de baixo

    caimento se superpem estrutura principal. Estas dobras foram associadas a feies rptil-

    dcteis como kink-bands e falhas verticais (Valeriano, 1992; Valeriano et al. 1995; 2006a e b).

    Domnio autctone-parautctone

    Deformao no embasamento

    No embasamento pericratnico afloram ortognaisses granitides arqueanos e/ou paleoprote-

    rozicos retrabalhados durante a Orognese Transamaznica (cf. Teixeira et al., 2000). Estas

    rochas encerram uma foliao penetrativa antiga, uma xistosidade em geral mal desenvolvida e

    com alto caimento, entre 50 e 80 graus, para sudoeste. As poucas estruturas novas observadas

    sugerem que o embasamento acomodou a deformao brasiliana em falhas reversas de pequeno

    rejeito. Estruturas razoavelmente bem expostas podem ser observadas em rochas alteradas

    prximo a Arcos, na borda cratnica. No ponto 417 (0445129, 7757444), por exemplo, um bloco

    alto de metagranitide aparece em meio pelitos suavemente dobrados mostrando a diferena de

    comportamento estrutural entre rochas secas do embasamento e sedimentos da cobertura

    durante a deformao brasiliana em fcies subxisto-verde.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 24

    Deformao na cobertura neoproterozica Sete Lagoas e Sambur

    Como descrito no sumrio, na Folha Piumhi, de leste para oeste, em ordem tectonoestratigrfica,

    afloram ortognaisses granitides pericratnicos e sucesses neoproterozicas das formaes

    Sete Lagoas e Sambur. Sobre estas unidades ocorre o sistema de empurres que caracteriza o

    domnio externo, com suas unidades arqueanas,

    paleoproterozicas e neoproterozicas. As

    escamas tectnicas do domnio externo foram

    empurradas sobre as unidades do domnio

    parautctone-autctone. Neste domnio a

    Formao Sambur ocorre empurrada sobre os

    calcrios autctones da Formao Sete Lagoas

    (Fig. 22). Na lapa do empurro Sambur os

    calcrios chegam a mostrar quatro fases de

    dobras superpostas, mas a deformao diminui

    para leste em direo ao crton. Para leste a

    Formao Sete Lagoas mostra dobras abertas

    que passam a suaves na rea pericratnica,

    ambas com envoltrias subhorizontais. O modelo

    em escala reduzida pode ser visualizado na

    figura 26.

    Na parte lesta da rea, zona pericratnica, a deformao gerou dobras suaves muitas vezes com

    falhas reversas de pequeno rejeito associadas (Fig. 27). Para oeste e noroeste ocorrem duas fases

    de dobras abertas com planos axiais e eixos quase ortogonais (Fig. 28). As dobras aparentemente

    mais antigas tm superfcies axiais de alto mergulho para SW, cerca de 230/80, e eixos de baixo

    caimento para SE. A outra fase gerou dobras com superfcies axiais de alto mergulho para SE,

    cerca de 130/80, e eixos de baixo caimento para SW. Localmente, nas reas adjacentes ao

    empurro Sambur aparecem padres de redobramento mostrando at quatro fases de dobras nos

    calcrios. Tambm localmente nestes setores ocorrem dobras com superfcies axiais ngremes

    de trao NNW-SSE e eixos subverticais, em alguns pontos associadas s pequenas

    zonas de cisalhamento NNW-SSE subverticais

    dextrais.

    O metamorfismo regional associado a orognese

    basiliana diminui em direo ao crton. Passa

    de fcies xisto-verde com muscovita, clorita

    e localmente cloritide no sistema de empurres

    a fcies subxisto-verde de metamorfismo inci-

    piente com sericita e clorita na zona pericra-

    tnica. No domnio parautctone-autctone as

    rochas no desenvolveram clivagem penetrativa,

    exceto incipiente clivagem ardosiana local em

    rochas pelticas.

    Figura 26: Caractersticas estruturais do domnio parautctone-autctone na Folha Piumhu. Camadas suavemente dobradas a leste (esquerda) passam a dobras abertas e depois apertadas sob a falha reversa. As camadas da capa chegam a posies subverticais, vide figura 24. O anlogo representa as formaes Sete Lagoas na lapa e Sambur na capa do empurro. Calcipelito em corte na rodovia Pimenta- Dorespolis, ponto133 (0405079, 7755107).

    Figura 27: Dobra suave e falha reversa de pequeno rejeito, registros do estilo estrutural na parte leste da rea, na zona pericratnica. Calcipelito no ponto 61, BR-354.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 25

    Figura 28: Dobras abertas com superfcies axiais e eixos quase ortogonais. Calcrios cinzentos no ponto 154 (0415250, 7757214), prximo a Fazenda Jatob.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 26

    5. UNIDADES FANEROZICAS

    5.1 Kimberlitos

    Ocorrncias de diamantes no oeste de Minas Gerais so conhecidas desde os tempos do Brasil

    colonial. No sculo passado centenas de corpos kimberlticos e rochas afins foram encontrados e

    hoje constituem a Provncia gnea do Alto Paranaba (Gibson et al., 1995; Brod et al., 2000) ou

    Provncia Alcalina Gois Minas (Sgarbi et al. 2000, 2001). Estes corpos registram magmatismo

    anorognico Cretceo e tm sido relacionados pluma de Trindade. A Folha Piumhu situa-se na

    periferia desta provncia magmtica alcalina.

    Oito requerimentos e cinco autorizaes de pesquisa, alm de doze reas em disponibilidade para

    diamantes estavam cadastradas no DNPM na rea da Folha Piumhu. De posse dos overlays do

    DNPM vasculhamos estas reas a p. Trs ocorrncias foram confirmadas, duas a noroeste de

    Piumhu e outra na rea de Abacaxis, a sudeste de Bambu (cf. 3.1, Recursos Minerais). Prximo a

    Piumhu ocorrem dois pequenos afloramentos no Crrego da gua Limpa, quase totalmente

    cobertos por pelitos Sambur. So brechas muito alteradas, com matriz fina, macia e escura, e

    abundantes fragmentos angulosos de pelitos. Numa delas encontramos um seixo arredondado de

    eclogito semifresco. Prximo a Abacaxis (ponto 366; 0404413, 7783845) ocorre uma brecha muito

    alterada constituda por fragmentos angulosos e

    arredondados de calcipelitos esverdeados,

    calcarenitos (?) com cor de alterao

    avermelhada e granitides em uma matriz

    macia fina marrom ou ocre, provavelmente

    ultramfica (Figuras 46 e 47, Recursos Mine-

    rais). Esta brecha tem pelo menos 15 metros de

    dimetro aflorante e o contato com os calci-

    pelitos encaixantes brusco. Outra suposta

    ocorrncia localiza-se na plancie do Rio So

    Miguel a norte de Pains (ponto 255; 0430398;

    7758576). Neste local destaca-se uma pequena

    elevao na plancie fluvial onde encontramos

    alguns seixos angulosos de uma rocha macia

    fina amarelada, muito alterada e frivel; um seixo de chert negro com boxwork de sulfeto e um

    seixo de granitide alterado. Em outro local, prximo a Fazenda Pau-Ferro a sul de Bambu,

    investigando uma depresso em anfiteatro encontramos calcipelitos ferruginosos localmente com

    boxwork de sulfetos (ponto 243; 0400213; 7767236; Fig. 29). A topografia local, as rochas

    ferruginosas e o regolito local fogem ao padro da rea. Suspeitamos de um possvel corpo

    Figura 29: Calcipelitos ferruginosos em rea depri-mida possivelmente vinculada a corpo kimberltico no exposto. Ponto 243 a sul de Bambu (0400213; 7767236).

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 27

    kimberltico ainda no exposto mineralizando os pelitos encaixantes. Nos outros polgonos

    cadastrados no DNPM a investigao de campo no revelou ocorrncias anmalas ou fora dos

    padres da rea.

    5.2 Depsitos Cenozicos e Neotectnica

    5.2.1 Sedimentos Semi - Litificados

    Dois tipos de depsitos de sedimentos semi-

    litificados, de provvel idade cenozica foram

    observados a sul de Vila Costina, em discor-

    dncia angular sobre Formao Sambur.

    Quartzo conglomerados localmente cartogra-

    fveis ocorrem na rea do ponto 126 (0410247,

    7746779). Aparecem em corpos macios ou

    com estratificao horizontal difusa formando

    depsito com cerca de 5 metros de espessura

    mnima. So conglomerados com seixos

    arredondados de quartzo de veio e raros

    pelitos cimentados por material ferruginoso.

    Em outros locais ao longo do baixo Ribeiro

    das Araras ocorrem depsitos semelhantes, porm, com menor grau de litificao. Destaca-se o

    ponto 319 (0401044; 7746760) onde um canal escavado em calcrio foi preenchido por

    conglomerado e este coberto por coluvio (Fig. 30). Estes depsitos registram ambiente

    deposicional fluvial.

    O outro tipo depsito exposto em um barranco

    (ponto 106; 0417137; 7739246) consti-

    tudo por camadas tabulares macias de

    wackes mal litificadas. As camadas esto

    inclinadas cerca de 15 graus para sudoeste,

    em discordncia angular sobre pelitos Sam-

    bur. Da base para o topo ocorrem 4 metros

    de wacke vermelha com manchas bran-

    cas subverticais, possivelmente pedotbulos;

    1 metro de wacke amarelada e 4 metros de

    wacke vermelha que registram fluxos de detri-

    tos arenosos. O conjunto coberto por col-

    vio.

    Falhas devem ter sido responsveis pela inclinao das wackes e pela localizao dos

    conglomerados ferruginosos no alto de uma colina. Estas falhas, grande parte verticais de direo

    aproximada norte sul registram neotectnica na rea e algumas delas deslocam at mesmo os

    colvios (Fig. 31).

    Figura 30: Quartzo conglomerado cenozico discor-dante sobre calcrio Sete Lagoas e coberto por coluvio vermelho. Ponto 319 (0401044; 7746760) na rodovia Pimenta Dorespolis.

    Figura 31: Falha vertical de pequeno rejeito deslo-cando contatos entre calcrio, conglomerado fluvial e coluvio vermelho. Bloco alto a oeste (esquerda). Ponto 319.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 28

    5.2.2 Sedimentos No Litificados

    Depsitos fluviais cascalhosos, arenosos e lamosos aparecem em diversos pontos ao longo das

    principais rios da rea. Os mais potentes, com espessuras at mtricas, so depsitos do Rio So

    Francisco a sudoeste de Lagoa da Prata.

    Colvios argilo arenosos, muitas deles com pavimentos de seixos angulosos na base suavizam o

    relevo em muitas reas da folha. Depsitos de talus associados a encostas ngremes e discretos

    depsitos de fluxos de detritos aparecem localmente por toda rea.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 29

    gua mineralAreia

    Areia / Areia refratriaAreia / Argila

    ArgilaArgila / Calcrio

    Argila / Calcrio / DolomitoArgila / Turfa

    BaritaCalcrio

    Calcrio calcticoCalcrio / calcrio dolomtico

    Calcrio / DolomitoCalcrio / Diamante

    CaulimCascalho

    CobaltoCromo

    CromitaDolomito

    Diamante industrialFilito

    GrafitaLeucofilito

    Minrio de mangansMinrio de ouro

    NquelMinrio de ferro

    QuartzoMinrio de cromo

    0 2 4 6 8 10 12 14

    Nmero de Processos

    Requerimento de Pesquisa

    0 10 20 30 40 50 60 70

    Nmeros de Processos

    Autorizao de Pesquisa

    AreiaAreia / Areia refratria

    Areia / ArgilaArgila

    Argila / CalcrioArgila / Calcrio / Dolomito

    Argila / TurfaBarita

    CalcrioCalcrio calctico

    Calcrio / calcrio dolomticoCalcrio / Dolomito

    Calcrio / DiamanteCaulim

    CascalhoCobaltoCromo

    CromitaDolomito

    Diamante industrialFilito

    GrafitaLeucofilito

    Minrio de mangansMinrio de ouro

    NquelMinrio de ferro

    Quartzo

    0 20 40 60 80

    Nmeros de Processos

    Requerimento de Lavra

    0 5 10 15 20 25 30 35Nmeros de Processos

    Concesso de Lavra

    Areia

    Areia refratria

    Areia / Argila

    Argila

    Argila / Calcrio

    Argila/Calcrio

    Argila / Turfa

    Barita

    Calcrio

    Calcrio calctico

    Calcrio dolomtico

    Calcrio / Dolomito

    Calcrio / Diamante

    Caulim

    Cascalho

    0 2 4 6 8 10

    Nmeros de Processos

    Licenciamento

    AreiaAreia / Areia refratria

    Areia / ArgilaArgila

    Argila / CalcrioArgila / Calcrio / Dolomito

    Argila / TurfaBarita

    CalcrioCalcrio calctico

    Calcrio / calcrio dolomticoCalcrio / Dolomito

    Calcrio / DiamanteCaulim

    CascalhoCobaltoCromo

    CromitaDolomito

    Diamante industrialFilito

    0 2 4 6 8 10 12

    Nmeros de Processos

    Disponibilidade

    6. RECURSOS MINERAIS NA FOLHA PIUMHI

    Os estudos sobre os bens minerais da Folha Piumhi 1:100.000 foram realizados em etapas de

    escritrio e campo. Inicialmente foi feita uma compilao bibliogrfica sobre os recursos minerais e

    o levantamento do grande nmero de processos de pedidos de pesquisa e lavra disponveis no

    Cadastro Mineiro e SIGMINE do Departamento Nacional de Produo Mineral (Fig.32).

    Figura 32: Bens minerais na Folha Piumhi 1:100.000 discriminados pela fase do Processo versus o nmero de processos existentes no Cadastro Mineiro do Departamento Nacional de Produo Mineral.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 30

    Com auxlio dos overlays do Cadastro Mineiro foram selecionadas para os trabalhos de campo

    somente reas com requerimento de lavra, concesso de lavra e licenciamento. Uma exceo foi

    aberta no caso do diamante, onde estudamos tambm reas com autorizao de pesquisa e

    disponibilidade. Cerca de 30 empresas mineradoras de pequeno at grande porte foram contatadas

    mas algumas no forneceram dados, no permitiram acesso a suas instalaes e frentes de lavra.

    Durante a etapa final foram inseridos os dados de campo nos mapas geolgicos e elaborado o

    Banco de dados Base Aflora e este relatrio. Assim foi possvel obter uma viso ampla sobre os

    bens minerais e sobre o potencial econmico da regio.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 31

    7. PANORAMA MINERAL

    Na folha Piumhi 1:100.000 destaca-se o importante plo industrial de calcrio que abrange os

    municpios de Pains, Arcos e Dorespolis (Fig. 33). Conforme o Anurio Mineral 2001 estes

    municpios detm quase 30% da reserva medida de calcrio no Estado de Minas Gerais,

    contribuindo de maneira significativa na produo nacional de cimento. O plo industrial

    constitudo por mineradoras de pequeno, mdio e grande porte e destaca-se na produo de cal,

    calcrio agrcola e qumico (carbonato de clcio precipitado). As jazidas esto prximas do mercado

    consumidor e o calcrio tem poucas impurezas.

    A extrao de bens minerais para construo civil restrita na regio. Destaca-se a areia quartzosa

    extrada no Rio Santana nos municpios de Lagoa da Prata e Japaraba, e diversos tipos de argila para

    produo de materiais cermicos nos municpios de Piumhi e Arcos. Os demais bens minerais na

    regio so o cromo, chumbo, diamante, turfa e gua mineral. Destaca-se o crescente interesse na

    explorao de gua mineral na regio de Japaraba. As demais substncias foram consideradas

    de importncia menor pois no esto sendo exploradas tanto devido a questes ambientais como

    por no caracterizarem no momento depsitos economicamente viveis. Os processos protocolados

    no DNPM at o segundo semestre de 2005, alguns j arquivados, encontram-se discriminados na

    Tabela 1.

    Aps a triagem no escritrio foram selecionadas 137 reas para pesquisar (Fig. 33). Quatro reas

    tm autorizao de pesquisa para diamante, 40 (quarenta) concesses de lavra, 74 (setenta e

    quatro) requerimentos de lavra, 15 (quinze) a licenciamentos, 3 (trs) reas esto em

    disponibilidade para diamantes. Existe tambm um registro de extrao. Vale ressaltar que alm

    destes foram cadastradas cerca de 24 extraes de bens minerais no protocoladas no DNPM.

    A seguir so descritos os bens minerais da regio por ordem de importncia.

    Tabela 1: Processos sobre bens minerais na Folha Piumhi conforme o Cadastro Mineiro do DNPM (2005): A- Requerimento de pesquisa; B Autorizao de pesquisa; C Requerimento de lavra; D Concesso de lavra; E Licenciamento; F Disponibilidade.

    Fase do processo Substncia

    A B C D E F gua mineral 1 2 - 1 - -

    Areia - 4 2 - 10 3 Areia / Areia refratria - 1 - - - -

    Areia / Argila - 3 - - 1 - Argila 3 2 4 4 2 -

    Argila / Calcrio - - 2 - 3 2 Argila / Calcrio / Dolomito - - 2 - - -

    Argila / Turfa 14 2 4 - - - Barita - 1 - - - -

    Calcrio 3 73 92 36 5 2 Calcrio calctico - 1 - 1 - -

    continua...

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 32

    ...continuao

    Fase do processo Substncia

    A B C D E F Calcrio / calcrio dolomtico 1 2 4 4 2 -

    Calcrio / Dolomito 1 3 2 3 - - Calcrio / Diamante 1 - - - - -

    Caulim 1 4 - - - 1 Cascalho - - - - 1 - Cobalto - 5 - - - - Cromo 1 4 1 - - - Cromita - - - 1 - - Dolomito 2 - 3 - - -

    Diamante industrial 8 5 - - - 12 Filito 1 4 1 - - 1

    Grafita - - - 1 - - Leucofilito - 1 1 1 - -

    Minrio de mangans - 1 - - - - Minrio de ouro - 2 1 - - -

    Nquel - 2 1 - - - Minrio de ferro - 1 - - - -

    Quartzo 1 - 1 - - - Minrio de cromo 2 2 - - - -

    Figura 33: Mapa das ocorrncias e minas visitadas classificadas de acordo com a fase de processo no DNPM. Em cores os distintos municpios na Folha Piumhi 1:100.000. Datum Crrego Alegre. Os tipos de bens minerais em cada ponto estudado esto discriminados no mapa geolgico.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Piumhi 33

    7.1 Calcrio

    So listados no cadastro mineiro do DNPM 5 requerimentos de pesquisa, 80 autorizaes de

    pesquisa, 92 requerimentos de lavra e 44