reitor da universidade federal do rio grande do sul - ufrgs · diretor presidente da fundação de...

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Publicação concebida e viabilizada pelo Convênio FAURGS/UFRGS/MDS - 2007/2011

Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGSCarlos Alexandre Netto

Diretor Presidente da Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul � FAURGSSérgio Nicolaiewsky

Equipe do Projeto RedeSAN / FAURGS / UFRGS

Coordenador GeralEdni Oscar Schroeder

Coordenador de Formação e Organizador da PublicaçãoIrio Luiz Conti

Coordenadora AdministrativaVera Lucia Mazzini dos Santos

Assessora PedagógicaGilda Glauce Martins Alves

Assessor de ComunicaçãoElson Koeche Schroeder

Coordenadora da Biblioteca VirtualGisele Piletti

Assessor de FormaçãoEvandro Pontel

Assessor de LogísticaPedro Ivo Almeida de Freitas Borges

Gestores Técnicos da PlataformaDaniel Thomé de Oliveira, Alexandre Gervini e Alessandro Dalla Vecchia

Bolsistas AssistentesEduardo Gehlen Grapilia, Giordano Benites Tronco e Lilian Susan Grudzinski

Equipe do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome � MDS

Ministra do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome � MDS

Tereza Campello

Secretária da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional � SESANMaya Takagi

Diretor Interino do Departamento de Estruturação e Integração de Sistemas Públicos AgroalimentaresAntônio Leopoldo Nogueira Neto

Diretor do Departamento de Apoio à Aquisição e à Comercialização da Produção FamiliarJoão Marcelo Intini

Diretor Departamento de Fomento à Produção e à Estruturação ProdutivaMarcos Dal Fabbro

Apoio Técnico ao projeto RedeSAN no MDSIsis Leite Ferreira

Jales Dantas da Costa

© 2011 - Projeto REDESAN - Rede Integrada de Segurança Alimentar e Nutricional

F I C H A T É C N I C A

Edição: Editora EVANGRAF Ltda.Capa: Artífice Design EstratégiaDiagramação: Jadeditora Editoração Gráfica Ltda.Revisão do texto: Irio Luiz Conti e Carina Dartora ZoninFotos: Arquivo MDSImpressão: Editora EVANGRAF Ltda.

Essa publicação é financiada com recursos públicos para distribuição gratuita.A reprodução � em parte ou na totalidade � é permitida somente, mas somente com autorização

prévia do Projeto RedeSAN/FAURGS/UFRGS/MDS

R762s RedeSAN - FAURGS - UFRGS - MDSEquipamentos públicos de segurança alimentar e nutricional /

RedeSAN - FAURGS - UFRGS - MDS � Porto Alegre : Evangraf, 201180 p. ; 25 cm. � (GenteSAN ; 4)

ISBN: 978-85-7727-329-4

1. Segurança alimentar. 2. Direitos humanos � Alimentação. IV.Título.

CDU : 338.439

CIP � Catalogação na Publicação

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO .............................................................................................................. 7

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 9Irio Luiz Conti

POLÍTICAS MUNICIPAIS DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONALEM CHAPECÓ - SC ......................................................................................................... 15

Fernando Macedo Cembranel e Melina Garcia Ribeiro

AÇÕES EDUCATIVAS NOS EQUIPAMENTOS PÚBLICOS DE ALIMENTAÇÃOE NUTRIÇÃO DE LAURO DE FREITAS - BA .................................................................... 23

Vânia Maria da Silva Bonfim e Edilene Carvalho Feitosa

BANCO DE ALIMENTOS COMO ESTRATÉGIA DE FORTALECIMENTODA REDE DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL EM UBÁ - MG .................. 29

Gisely Peron Gasparoni

POLÍTICA DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL EM DIADEMA - SP .......... 35Maria José Lima de Aragão Silva (Lita)

COZINHA SOCIAL EM TOLEDO - PR ............................................................................ 39Sofia Carminati Perinazzo

RESTAURANTE POPULAR, ABASTECIMENTO SOCIAL E AÇÕESDE SEGURANÇA ALIMENTAR EM CURITIBA - PR ....................................................... 46

Mônica Jambersi Taques

PARTICIPAÇÃO POPULAR NA CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICASDE SAN EM JUIZ DE FORA - MG ................................................................................... 52

Dagmar Bettina Koyro

CONTRIBUIÇÕES PARA O DEBATE SOBRE A CONSTRUÇÃO DO SISTEMANACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL: A EXPERIÊNCIA DE CONTAGEM - MG ......................................................................... 63

Maria Aparecida Rodrigues de Miranda e Rosana Cristina Avelar

SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E SISTEMA DE SEGURANÇAALIMENTAR E NUTRICIONAL: UMA INTEGRAÇÃO POSSÍVEL ................................... 72

Elizângela Assunção Nunes e Leiriane de Araújo Silva

LISTA DE SIGLAS

BA � Banco de Alimentos

BMA � Banco Municipal de Alimentos

CAPS � Centro de AtendimentoPsicossocial

CC � Cozinha Comunitária

CDLAF � Compra Direta Local daAgricultura Familiar, hoje, CompraDireta com Doação Simultânea.

CF � Constituição Federal

CGU- Controladoria Geral da União

CMAS � Conselho Municipal deAssistência Social

CMAUF- Centro Municipal deAgricultura Urbana e Familiar

COMSANS � Conferência Municipal deSegurança Alimentar e NutricionalSustentável

COMSEA � Conselho Municipal deSegurança Alimentar e Nutricional

CONAB � Companhia Nacional deAbastecimento

CONSEA � Conselho Nacional deSegurança Alimentar e Nutricional

CRAS � Centro de Referência deAssistência Social

CREAS � Centro de ReferênciaEspecializada de Assistência Social

DHAA � Direito Humano à AlimentaçãoAdequada

EPAN � Equipamentos Públicos deAlimentação e Nutrição

FAAC � Fundo de AbastecimentoAlimentar de Curitiba

FASC � Fundação de Ação Social deChapecó

FAURGS � Fundação de Apoio daUniversidade Federal do Rio Grandedo Sul

FEPAR � Federação Paranaense deProdutores Rurais

FNDE � Fundo Nacional deDesenvolvimento da Educação

FUMSAN � Fundo Municipal deSegurança Alimentar e Nutricional

LDO � Lei de Diretrizes Orçamentárias

LOA � Lei Orçamentária Anual

LOSAN � Lei Orgânica de SegurançaAlimentar e Nutricional

MDS � Ministério do DesenvolvimentoSocial e Combate à Fome

MESA � Ministério Extraordinário deSegurança Alimentar

ONG � Organizações NãoGovernamentais

PAA � Programa de Aquisição deAlimentos

PBF � Programa Bolsa Família

PC � Pastoral da Criança

PEHE � Projeto Educando com a HortaEscolar

PETI � Programa de Erradicação doTrabalho Infantil

PNAE � Programa Nacional deAlimentação Escolar

PNSAN - Política Nacional de SegurançaAlimentar e Nutricional

PPA � Plano Pluri Anual

PSE � Programa de Saúde dosEscolares, no âmbito do ProgramaNacional de Alimentação e Nutrição

PSF � Estratégia Saúde da Família

RIT � Rede Integrada de Transporte

RP � Restaurante Popular

SENARC � Secretaria Nacional de Rendae Cidadania

SESAN � Secretaria Nacional deSegurança Alimentar e Nutricional

SISAN � Sistema Nacional deSegurança Alimentar e Nutricional

SISVAN � Sistema de V igilânciaAlimentar e Nutricional

SMAB � Secretaria Municipal deAbastecimento

SMMA � Secretaria Municipal de MeioAmbiente

SUAS � Sistema Unificado deAssistência Social

UFRGS � Universidade Federal do RioGrande do Sul

7

RedeSANAPRESENTAÇÃO

Em 2003, a partir da Estratégia Fome Zero, o Governo Federal iniciou,

em parceria com estados e municípios, a implantação da Rede de Equipa-

mentos Públicos de Alimentação e Nutrição. Por meio de editais públicos de

seleção, lançados anualmente pelo Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome (MDS), os entes federados foram aderindo ao projeto naci-

onal de combate à fome, de forma que hoje contamos com uma potente

rede, formada por Restaurantes Populares, Cozinhas Comunitárias e Bancos

de Alimentos, muitos deles, parcialmente, abastecidos por alimentos adquiri-

dos, localmente, da agricultura familiar, por meio do Programa de Aquisição

de Alimentos.

A experiência dos últimos anos nos mostra que, em muitos casos, a

implantação de equipamentos públicos, em um determinado estado ou mu-

nicípio, representa a sua entrada na Política Nacional de Segurança Alimentar

e Nutricional (PNSAN). A parceria com o MDS para a instalação de uma Cozi-

nha, Restaurante ou Banco é uma oportunidade de qualificar a atuação dos

entes federados na garantia do direito humano à alimentação. A possibilida-

de de oferecer serviços públicos de alimentação e nutrição, em espaços ade-

quados para o atendimento à população, em especial, às famílias em situação

de vulnerabilidade social e insegurança alimentar e nutricional, qualifica a

atuação local de assistência alimentar e abre espaços para que outras ações

fundamentais sejam implementadas, como por exemplo a realização de ativi-

dades de educação alimentar e nutricional e o fortalecimento da agricultura

familiar, que ganha novos mercados institucionais a partir desta rede.

Os gestores destes equipamentos passam também a fazer parte de um

grupo mais amplo de técnicos capacitados e engajados na construção da

PNSAN. Neste ponto, cabe destacar a importância da plataforma virtual de

acompanhamento e formação de gestores, desenvolvida pelo MDS em par-

ceria com a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(FAURGS), denominada RedeSAN. Através desta rede social, vem se estabele-

cendo um processo de formação continuada para os gestores públicos de se-

gurança alimentar e nutricional, abordando conteúdos importantes para sub-

sidiar o planejamento e execução dos diversos estágios de implementação

dos Equipamentos Públicos de Alimentação e Nutrição, da formulação do pro-

grama à operacionalização dos serviços. A partir de 2009 a RedeSAN ampliou

seu escopo de formação, passando a oferecer conteúdos que buscam capaci-

tar os gestores, não só para operacionalizar os equipamentos, mas também

para que estes atuem enquanto gestores de segurança alimentar e nutricional,

corresponsáveis pela implantação do Sistema Nacional de Segurança Alimen-

tar e Nutricional no município.

RedeSAN

8

O desenvolvimento deste processo de formação continuada, além de

contribuir para a ampliação e qualificação dos serviços e benefícios ofereci-

dos no âmbito da Rede, tem trazido contribuições importantes em relação à

definição e ao aperfeiçoamento dos critérios e diretrizes que regem a instala-

ção dos Equipamentos Públicos e orientam o funcionamento dos Sistemas

Descentralizados de SAN, na sua integração com outros setores, ações e ser-

viços que dizem respeito ao tema. A troca de informações e experiências en-

tre os gestores facilita o planejamento para a operacionalização dos serviços

e favorece a superação de dificuldades que possam limitar os resultados e

benefícios esperados. Desse modo, por meio deste espaço democrático de

participação e construção em SAN, estamos conseguindo aprofundar as re-

flexões acerca dos objetivos e potencialidades dos Equipamentos Públicos de

Alimentação e Nutrição, no âmbito da Política e do Sistema Nacional de SAN.

O exercício continuado de ideias, associado ao processo de acompanhamen-

to e avaliação das práticas, na busca de alternativas que nos permitam quali-

ficar e ampliar nossa atuação na realização plena do direito humano à ali-

mentação adequada, vem sendo um rico alimento no nosso cotidiano de tra-

balho e contribuindo para a nossa própria qualidade de vida.

As experiências apresentadas, nesta publicação, representam uma

síntese deste processo. Os autores e autoras dos artigos são gestores públi-

cos e militantes da segurança alimentar e nutricional. A partir, da formação

adquirida através da RedeSAN, e pela sua atuação profissional a frente

destes equipamentos, apresentam aquilo que puderam aprender e que,

hoje, dividem com todos nós.

Portanto, caros leitores e leitoras, é melhor deixar que as próprias

autoras e autores desta obra se expressem através dos artigos desta quarta

publicação da coleção GenteSAN. Boa leitura e boas lutas em SAN a todos e

todas!

Antônio Leopoldo Nogueira Neto

Diretor Interino do Departamento de Estruturação e Integração de

Sistemas Públicos Agroalimentares

e Coordenador Geral de Equipamentos Públicos -

DESAN/SESAN/MDS

Mariana Menezes Santarelli Roversi

Ex-Coordenadora Geral de Apoio à Implantação do SISAN �

DESAN/SESAN/MDS

9

RedeSANINTRODUÇÃO

Irio Luiz Conti1

A finalização e a divulgação desta publicação ocorrem em um período

de intensas avaliações e reflexões sobre as ações em segurança alimentar e

nutricional em diferentes âmbitos de ação. Há oito anos, a ousadia do ex-

presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez com que a superação da fome se cons-

tituísse em uma agenda política dos dois mandados de seu governo. Ao assu-

mir o cargo, no início deste ano, a presidenta Dilma Rousseff reiterou os com-

promissos de seu antecessor e anunciou a adoção do Plano de Erradicação da

Extrema Pobreza, lançado em 02 de junho sob o nome de Plano Brasil sem

Miséria. Essa determinação política de ambos os governantes se traduz e se

explicita em um conjunto de programas e ações em segurança alimentar e

nutricional (SAN) que contribuem para a realização do direito humano à ali-

mentação adequada (DHAA).

Entre as primeiras ações de seu governo, Lula instituiu a estratégia Fome

Zero, em 2003, com vistas à alteração substancial da situação de pobreza e

fome vigente no Brasil. Para isso, criou o Ministério Extraordinário de Segu-

rança Alimentar (MESA), que mais tarde foi transformado em Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). No interior do MDS logo

foram criadas a Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

(SESAN), a Secretaria Nacional de Renda e Cidadania (SENARC) e, agora, a

Secretaria Extraordinária de Superação da Extrema Pobreza, que substitui a

Secretaria de Articulação para Inclusão Produtiva.

Estas secretarias, com seus diversos departamentos, estão encarre-

gadas pela coordenação e operacionalização de um amplo leque de políti-

cas e programas em segurança alimentar e nutricional e de transferência de

renda para as populações empobrecidas. Foi nesse contexto que surgiram

os programas Restaurante Popular (RP), Banco de Alimentos (BA) e Cozinha

Comunitária (CC), como parte de uma estratégia que visa criar e manter

uma rede de equipamentos públicos de alimentação e nutrição que asse-

gurem o direito à alimentação às populações pobres que possuem dificul-

dades de acesso à alimentação adequada.

Desde sua recriação, em 2003, o Conselho Nacional de Segurança Ali-

mentar e Nutricional (CONSEA) vem tendo uma atuação proativa na proposi-

ção e na fiscalização das políticas e programas de segurança alimentar e

1 Mestre em Sociologia, especialista em Direitos Humanos, graduado em Filosofia e Teologia.Professor e coordenador de Formação na RedeSAN, professor no IFIBE, na UFRGS/IEPE/Plageder e integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Segurança Alimentar e Nutricional(NESAN)/IEPE/UFRGS). Presidente da FIAN Internacional e conselheiro do CONSEA Nacionale do CONSEA-RS.

RedeSAN

10

nutricional. Este conselho organizou a II e a III Conferências Nacionais de

Segurança Alimentar e Nutricional, em 2004 e 2007, respectivamente, que

definiram as diretrizes e os princípios orientadores das políticas e progra-

mas de segurança alimentar e nutricional como uma política garantidora da

realização do direito humano à alimentação adequada. Ele também exer-

ceu um papel proeminente no debate, proposição e mobilização social pela

aprovação da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN, nº

11.346/2006), da Lei da Alimentação Escolar (PNAE, nº 11.947/2009), da Emen-

da Constitucional nº 64 que inclui a alimentação no artigo 6º da Constitui-

ção Federal, do Decreto Lei (nº 7.272/2010) que institui a Política Nacional

de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN), do Projeto de Lei que visa

institucionalizar o Programa de Aquisição de Alimentos, entre outras.

Em continuidade, tanto o CONSEA Nacional quanto os CONSEAs esta-

duais e municipais têm diversos e grandes desafios pela frente, entre os

quais: fortalecer e consolidar o processo de construção do Sistema Nacio-

nal de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) nas três esferas de gover-

no, com suas respectivas instâncias, em todo território nacional; dinamizar

um amplo processo de preparação e realização da IV Conferência Nacional

de SAN, antecedida pelas conferências municipais, regionais, territoriais e

estaduais de SAN; cobrar dos gestores públicos a implementação de planos

municipais, estaduais e nacional de SAN, participando ativamente de sua

elaboração; e dar capilaridade à campanha �direito humano à alimentação

adequada: faça valer!�2, que visa mobilizar a sociedade civil e o poder pú-

blico pela efetivação deste direito fundamental social.

Segundo a Coordenação Geral de Equipamentos Públicos de Alimen-

tação e Nutrição, do MDS, atualmente existem 74 Restaurantes Populares

em funcionamento e outros 69 encontram-se em diferentes fases de im-

plantação, totalizando 143 unidades espalhadas em 113 municípios do Bra-

sil; a estes equipamentos somam-se 396 Cozinhas Comunitárias em funcio-

namento e mais 86 unidades em fase de implantação; também existem 104

Bancos de Alimentos presentes em 102 municípios de 19 estados brasilei-

ros. Estes restaurantes e cozinhas servem mais de 200 mil refeições diárias

para pessoas que recorrem a estes equipamentos públicos como uma al-

ternativa de alimentação saudável a um preço acessível. Por sua vez, os

Bancos de Alimentos funcionam como mecanismos de abastecimento ali-

mentar desses restaurantes e cozinhas, mas também de entidades e insti-

tuições socioassistenciais que atendem a diferentes públicos no âmbito da

assistência alimentar e social.

2

2 Esta é uam campanha promovida pelo CONSEA - Nacional em parceria com umarede de organizações sociais, com vistas a tornar o direito humana à alimentaçãoconhecido e efetivado, especialmente após a inclusão do artigo 6° da ConstituiçãoFederal, 2010. Maiores informações [email protected] ewww.planalto.gov.br

ESE

11

RedeSAN

Os artigos desta publicação contemplam experiências de alguns mu-

nicípios que possuem tais equipamentos em funcionamento. Eles resul-

tam de trabalhos de conclusão de cursos de formação para gestores públi-

cos e lideranças sociais em SAN, promovidos pela RedeSAN. As autoras e os

autores acolheram o desafio das coordenações da RedeSAN e do MDS, de

transformar seus trabalhos em artigos sobre as experiências locais em SAN

para compor esta publicação. Desde então, realizou-se um intenso proces-

so de interação e �polimento� dos textos até que os artigos alcançassem o

estilo e a densidade que ora apresentam.

Seguindo a definição editorial do Projeto RedeSAN, esta publicação

visa contribuir com o debate sobre a segurança alimentar e nutricional no

Brasil a partir de experiências concretas que vem ocorrendo nos municípi-

os. Deste modo, subsidia o processo de formação de gestores de Restau-

rantes Populares, Cozinhas Comunitárias, Bancos de Alimentos, Programa

de Aquisição de Alimentos, Feiras e Agricultura Urbana e Periurbana, mas

também subsidia lideranças sociais que trabalham com ações em SAN. Sob

diversos olhares, as autoras e os autores dos artigos mostram a relevância

desses equipamentos públicos e iniciativas para propiciar alternativas con-

cretas de alimentação saudável para milhares de pessoas que ainda vivem

em insegurança alimentar ou em situação de vulnerabilidade social. São

textos curtos, com linguagem acessível e com poucas citações bibliográfi-

cas, tornando a leitura agradável e envolvente. Assim, estimulam os gestores

dos equipamentos públicos e as lideranças sociais a ampliarem suas razões

e motivações para continuarem na realização de sua primorosa missão de

promover a vida e a dignidade humana, através dos programas e ações em

segurança alimentar e nutricional.

O primeiro artigo, escrito por Melina Garcia Ribeiro e Fernando Macedo

Cembranel, traz um pouco da experiência das políticas municipais de segu-

rança alimentar e nutricional em Chapecó. O poder público local optou pelo

trabalho em parceria com o Ministério de Desenvolvimento Social e Com-

bate à Fome na implantação dos Equipamentos Públicos de Alimentação e

Nutrição. Em um curto espaço de tempo implantou o Restaurante Popular, a

Cozinha Comunitária e o Banco de Alimentos no município, em estreita rela-

ção e articulação com iniciativas de prevenção à saúde, educação alimentar e

outros serviços de assistência social, sob a coordenação da Fundação de As-

sistência Social de Chapecó.

Um diagnóstico da situação de insegurança alimentar e nutricional no

município de Lauro de Freitas contribuiu para que a gestão pública munici-

pal adotasse algumas medidas de políticas públicas articuladas para alterar

esse quadro desfavorável, especialmente aos grupos em situação de

vulnerabilidade social. Um pouco dessa história é narrado por Edilene Car-

ESE

RedeSAN

12

valho Feitosa e Vânia Maria da Silva Bonfim, no artigo que refere as ações

educativas nos Equipamentos Públicos de Alimentação e Nutrição de Lauro

de Freitas. O município conta com um Restaurante Popular, uma Cozinha

Comunitária em funcionamento e outra em construção, um Banco de Ali-

mentos implantado e um segundo em estágio de instalação. Esses equipa-

mentos propiciam que um grande número de munícipes tenha a alimenta-

ção diária para garantir sua segurança alimentar e nutricional. Ao mesmo

tempo esses equipamentos favorecem o desenvolvimento de ações

educativas que contribuem para que os comensais aprimorem seus hábitos

alimentares. Entre os desafios as autoras acentuam o esforço da gestão

pública no processo de transição da gestão terceirizada para a gestão públi-

ca do Restaurante Popular, com vistas ao aprimoramento da articulação e

integração das políticas de segurança alimentar e nutricional no município.

O terceiro artigo, elaborado por Gisely Peron Gasparoni, apresenta,

de uma forma um tanto ousada, o Banco de Alimentos como uma estratégia

de fortalecimento da rede de segurança alimentar e nutricional em Ubá. A

autora mostra que o Banco de Alimentos, apesar de ser ainda recente como

programa de política pública no município, apresenta um grande potencial

de articulação da rede socioassistencial em torno de ações de segurança

alimentar e nutricional. As ações de monitoramento realizadas pela gestão

pública, através da realização de avaliações antropométricas de pessoas

que recebem alimentos de entidades que acessam ao Banco de Alimentos,

contribuem para direcionar as metas do Banco de Alimentos e ampliar a

rede socioassistencial.

A Maria José Lima de Aragão Silva (Lita), relata brevemente o proces-

so histórico de construção da política de segurança alimentar e nutricional

em Diadema. Um município 100% urbano que há quase três décadas sentiu

a necessidade de adotar políticas de abastecimento alimentar. No início

desta última década a gestão pública adotou várias iniciativas, como parte

da estratégia Fome Zero. Implantou dois Restaurantes Populares, um Ban-

co Municipal de Alimentos e um amplo programa de educação alimentar e

nutricional. Para administrar estes programas e ações o gestor público criou

a Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional e o Centro de

Referência em Segurança Alimentar e Nutricional Josué de Castro. Foi um

dos primeiros municípios a institucionalizar os programas de SAN, criar o

COMSEA e a Câmara Intersecretarial de Segurança Alimentar e Nutricional,

condições indispensáveis para a implantação do Sistema de Segurança Ali-

mentar e Nutricional em âmbito local.

O município de Toledo tem um modo diferenciado de organizar e

desenvolver ações de alimentação e nutrição. Esta experiência é descrita

neste quinto artigo, pela nutricionista Sofia Carminati Perinazzo, com o

título Cozinha Social em Toledo. Trata-se de uma cozinha, no estilo de uma

13

RedeSAN

cozinha industrial, que funciona como uma unidade que produz refeições

para serem distribuídas em quatro restaurantes populares, na rede pública

de escolas municipais e em diversas entidades sociais e assistenciais loca-

lizadas em vários locais do município. O gestor público optou por este mo-

delo descentralizado para que os equipamentos públicos de alimentação e

nutrição estejam mais próximos da população que deles se beneficia. Os

projetos e ações são articulados entre si, abrangem a produção e o abaste-

cimento, passam pela educação alimentar e convergem na Cozinha Social e

na distribuição de alimentos aos diferentes públicos, através dos restau-

rantes populares, da rede escolar e de entidades socioassistenciais.

Em Curitiba há mais de duas décadas o governo municipal vem desen-

volvendo um conjunto de ações em torno do abastecimento alimentar. Essa

rede de proteção alimentar é abordada no artigo da Mônica Jambersi Taques,

com o título Restaurante Popular, abastecimento social e ações de segurança

alimentar em Curitiba. A Secretaria Municipal de Abastecimento é o órgão

público encarregado pela execução dessa política que está baseada na educa-

ção alimentar, no abastecimento e numa rede de comercialização de alimen-

tos acessíveis à população de baixa renda. Esse tripé orienta o desenvolvi-

mento dos diversos programas e ações de SAN, que ocorrem de forma des-

centralizada e possuem estreita articulação entre si e com os Centros de Refe-

rência de Assistência Social. A autora indaga em que medida tais ações

estariam convergindo para a constituição de um SISAN no município e afir-

ma que, indiscutivelmente, elas contribuem para garantir qualidade de

vida ao povo que mais necessita.

O penúltimo artigo trata da participação popular na construção de

políticas públicas de segurança alimentar e nutricional em Juiz de Fora. A

presidente do COMSEA de Juiz de Fora, Dagmar Bettina Koyro, descreve e

analisa o longo e doloroso processo de mobilização social pela implantação

de um Restaurante Popular e um Banco de Alimentos naquele município. A

Pastoral da Criança despertou algumas iniciativas ainda na década de 1990.

Em 2004 a Assembleia Municipal da População de Rua elegeu a instalação

de um Restaurante Popular e um Banco de Alimentos entre as prioridades

de políticas públicas sociais para o município. Em seguida, diversas organi-

zações e movimentos sociais assumiram essa mesma causa, articuladas e

coordenadas pelo COMSEA. Daí em diante ocorreram visitas de intercâm-

bio, audiências públicas, mobilizações sociais, reuniões e conferências que

culminaram com a decisão do poder público pela implantação de um Res-

taurante Popular no município. No entanto, o processo é longo - se asse-

melha a uma extensa novela cujo último capítulo ainda está por acontecer

� e a inauguração do Restaurante Popular de Juiz de Fora ainda não tem

data marcada, mas se tudo for bem, deverá ocorrer ainda antes da próxima

Copa do Mundo. Entre os aprendizados que resultam desse processo de

RedeSAN

14

mobilização dos diferentes atores sociais destacam-se a relevância e a per-

sistência das organizações e movimentos sociais na proposição e controle

social em todo processo de construção e implantação das políticas públicas

de segurança alimentar e nutricional, como um exercício democrático e de

constituiçao de sujeitos de direitos, dentre eles o direito humano à ali-

mentação adequada.

Para encerrar esta publicação - mas deixar em aberto e estimular o

debate sobre as ricas experiências municipais em segurança alimentar e

nutricional - o último artigo traz o que se poderia chamar de um pequeno

�ensaio� sobre o processo de construção de sistemas de segurança alimentar

e nutricional no âmbito municipal. Este artigo, elaborado por Maria Aparecida

Rodrigues Miranda e Rosana Cristina Avelar, contempla importantes contri-

buições para o debate sobre a construção do Sistema Nacional de Segurança

Alimentar e Nutricional: a experiência de Contagem. As autoras evidenciam

que as políticas e programas de segurança alimentar e nutricional fazem par-

te de um contexto municipal que se poderia chamar de �nova cultura� de po-

líticas públicas sociais, inaugurado no início deste século, que está em proces-

so crescente de consolidação. Para isso se faz necessário mudar a cultura po-

lítica local, organizar conselhos de políticas públicas, estimular a integração e

a intersetorialidade entre as políticas sociais, avançar na institucionalização

das políticas e programas de segurança alimentar e nutricional, mas, sobretu-

do, tornar a segurança alimentar e nutricional uma agenda política estratégi-

ca para o desenvolvimento social do município.

Portanto, caros leitores e leitoras, é melhor deixar que as próprias auto-

ras e autores desta obra se expressem através dos artigos desta quarta publi-

cação da coleção GenteSAN. Boa leitura e boas lutas em SAN a todos e todas!

POLÍTICAS MUNICIPAIS DE SEGURANÇAALIMENTAR E NUTRICIONAL EM CHAPECÓ - SC

Fernando Macedo Cembranel1

Melina Garcia Ribeiro2

Com uma população de 164.803 habitantes (IBGE, 2007) e extensão

territorial de 625,60 km², Chapecó caracteriza-se como município pólo do

oeste de Santa Catarina e grande produtor de alimentos. Apesar da economia

basicamente agroindustrial, os índices de urbanização vêm crescendo e já atin-

gem mais de 91,53% da população, com um percentual de 7,09% de pessoas

pobres em relação à população total, resultando em situação de pobreza des-

sas famílias.

Diante disso, a gestão municipal de Chapecó, através da Fundação de

Ação Social de Chapecó (FASC), em defesa da Segurança Alimentar e Nutricional

(SAN) de sua população, implanta programas como Banco de Alimentos

(BA), Cozinha Comunitária (CC), Restaurante Popular (RP) e outros projetos

de capacitação e educação nutricional.

1. Características dos Equipamentos Públicos

de Alimentação e Nutrição (EPAN), em Chapecó - SC

1.1. Restaurante Popular

É um programa implantado em parceria com o Governo Federal e vem

atendendo o público em insegurança alimentar desde 2007, inicialmente com

300 a 400 refeições por dia, e hoje está em torno de 1.000 refeições por dia.

Localizado em região central e com um serviço de ótima qualidade, com-

provado pelo prêmio Josué de Castro, no ano de 2008, oferecido pelo Minis-

tério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), na modalidade

de gestão bem sucedida, o Restaurante Popular de Chapecó vem sendo mui-

to valorizado pelo público frequentador, o que se percebe pelos resultados

obtidos nas pesquisas de satisfação. O alto índice de aceitação por parte dos

sujeitos de direitos é mérito do trabalho desempenhado por uma equipe de

20 funcionários, sendo 16 diretamente ligados à produção e 4 no setor admi-

nistrativo, além do apoio da Gerência de Segurança Alimentar e Nutricional,

locada na Fundação de Ação Social de Chapecó (FASC).

1 Nutricionista, formado pela Universidade do Vale do Itajaí e membro do Núcleo deApoio à Gestão do Restaurante Popular (NAG), de Chapecó, SC. Aluno Gestor daRedeSAN. Email: [email protected]

2 Nutricionista, formada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, éEspecialista em Fisiologia Humana e da Nutrição, e Responsável pela Gerência deSegurança Alimentar e Nutricional da Prefeitura Municipal de Chapecó, SC. AlunaGestora da RedeSAN. Email: [email protected]

RedeSAN

16

1.2. Cozinha Comunitária

Também é um programa executado em parceria com o Governo Fede-

ral. Serve em torno de 300 a 500 refeições por dia e, ao mesmo tempo, é local

de inúmeras oficinas e cursos de capacitação, atendendo aos usuários dos

Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), pessoas inscritas pelo bal-

cão de empregos, merendeiras dos programas socioeducativos e entidades

parceiras do Banco de Alimentos. Em 2009, 107 pessoas concluíram cursos

ministrados na Cozinha Comunitária.

A Cozinha Comunitária de Chapecó atende a um público bem específi-

co. São os usuários de um outro programa da FASC, denominado de Cidade

do Idoso. Esse programa constitui-se em um complexo de ações voltadas ao

bem estar integral dos idosos, de forma a garantir os direitos preconizados

pelo Estatuto do Idoso. Seu objetivo principal é promover a melhoria da qua-

lidade de vida da população chapecoense acima de 60 anos, proporcionan-

do-lhe condições para um envelhecimento saudável, através de atividades

como pilates, yoga, musculação, ginástica, hidroginástica, natação, dança,

bocha, caminhada orientada e outras atividades como coral, informática, sa-

lão de beleza, atendimento e educação em saúde, eventos festivos. A Cozinha

e a Cidade do Idoso dividem o mesmo espaço físico dentro do Parque de

Exposições Tancredo Neves.

1.3. Banco de Alimentos (BA)

O Banco de Alimentos de Chapecó foi instalado pelo poder público

municipal, no ano de 2003. Em 2004, o primeiro convênio com o MDS foi

firmado com o objetivo de adquirir equipamentos e material de consumo,

visando modernizar o BA e ampliar sua capacidade de estocagem, bem

como facilitar os processos de seleção, identificação e armazenamento.

Devido a suas características funcionais, seleção, armazenamento,

estocagem e distribuição dos gêneros alimentícios recebidos de doações e do

Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o BA se firma como importante

instrumento na estratégia de articulação entre os programas e equipamentos

de segurança alimentar e nutricional de Chapecó, repassando alimentos à

Cozinha Comunitária e ao Restaurante Popular, mas também atendendo à

rede socioassistencial.

Com papel central na logística de distribuição dos gêneros alimentícios,

o BA é responsável pelo repasse de alimentos para 106 locais, entre entida-

des, programas e projetos, totalizando em torno de 10.994 pessoas atendi-

das (dados de dezembro de 2009). E com uma variedade considerável, sendo

49 tipos de produtos entre hortifrutigranjeiros, carnes e alimentos processa-

dos como doces de frutas, melado, panificados, entre outros.

17

RedeSAN

2. Perfil das entidades que acessam ao Banco de Alimentos

Gráfico 01: Perfil das entidades divididas por grupos.Fonte: Gerência de Segurança Alimentar e Nutricional.

O gráfico a seguir mostra a quantidade de pessoas atendidas pelo Ban-

co de Alimentos, por faixa etária.

Gráfico 02: Divisão por faixa etáriaFonte: Gerência de Segurança Alimentar e Nutricional.

Analisando o Gráfico 02, percebe-se o grande número de idosos aten-

didos. Fato este, importante diante das mudanças no perfil demográfico da

população mundial, que denota um aumento na expectativa de vida. Assim,

o repasse de alimentos a essas entidades e grupos visa à proteção do estado

nutricional dessa população, incentiva a socialização e a inserção de idosos

em atividades saudáveis.

Para realizar o monitoramento do que está sendo distribuído aos pro-

gramas e entidades, são utilizados softwares de gerenciamento que facili-

tam a gestão controlada e eficaz. Porém, uma boa coordenação não se limi-

RedeSAN

18

ta aos controles de monitoramento; é necessário interpretar os resultados

e moldar ações de acordo com o constatado.

3. Gestão dos programas de Segurança Alimentar e Nutricional

(SAN)

A Fundação de Ação Social de Chapecó é responsável pela gestão e

execução dos programas de SAN, conforme o organograma.

Figura 01: Organograma da Gestão e Execução dos Programas de SAN.Fonte: Elaborado pelos autores (2010).

Todos os Equipamentos Públicos de Alimentação e Nutrição e Progra-

mas do município são administrados pela Fundação de Ação Social de Chapecó,

que possui a Gerência de Segurança Alimentar e Nutricional, responsável pela

coordenação dos programas.

O marco inicial da institucionalização, dado pelo município na área de

SAN, foi em 2003, ano em que foi instituído o Conselho Municipal de Segu-

rança Alimentar e Nutricional de Chapecó (COMSEA), regulamentado pelo

decreto nº 11.896/2003. No mesmo ano, foi editado o decreto nº 12.202/

2003, que cria o Programa Banco de Alimentos, instalado pela iniciativa do

poder público municipal, no mesmo ano.

Em 2005, com a habilitação para implantar o primeiro Restaurante Po-

pular, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à

Fome (MDS), foi editada a Lei nº 4.849/2005, que cria e regulamenta o funci-

onamento do Restaurante Popular de Chapecó. Em 2009, foi a vez da Cozinha

Comunitária ser regulamentada pelo decreto nº 21.270/2009. No mesmo ano,

foi aprovada a Lei nº 5.643/2009, denominada de Lei Orgânica de Segurança

Alimentar e Nutricional (LOSAN), que regulamenta a política e o COMSEA.

Todas essas leis e decretos são fundamentais para a consolidação da Política

Municipal de SAN, pois elas transcendem mandatos, dada a dimensão tem-

poral contínua desses programas. Assim, o direito humano à alimentação

adequada fica protegido por mecanismos legais que orientam os rumos da

SAN, no município.

19

RedeSAN

4. Práticas inovadoras nos Equipamentos Públicos

de Alimentação e Nutrição (EPAN)

Incentivar a cultura regional no espaço dos EPAN é muito importante.

Para isso, foi feita uma parceria com a Secretaria Municipal da Cultura, abrin-

do espaço para apresentações de artistas locais, em datas comemorativas,

nos equipamentos.

De acordo com o grande fluxo de pessoas que passam pelos equipa-

mentos, principalmente no Restaurante Popular, algumas ações de saúde pre-

ventiva acabam tendo um bom alcance, quando desenvolvidas em seu espa-

ço. Nos anos 2009 e 2010, realizaram-se ações preventivas contra dengue,

pragas urbanas, gripe H1N1, diabetes, campanha de vacinação dos idosos e

convite para o dia de exame preventivo contra o câncer de mama.

O montante de recursos empregados na execução e na manutenção

de programas como Cozinhas Comunitárias e Restaurantes Populares é gran-

de. Desse modo, algumas ações em busca da sustentabilidade dos mesmos

são necessárias. O uso racional dos recursos disponíveis, as práticas ecolo-

gicamente corretas de descarte de resíduos, a reciclagem e redução do

desperdício de alimentos são exemplos coerentes de uma gestão adequa-

da dos equipamentos.

Ações contra o desperdício de alimentos são muito importantes, pois

o problema existe em vários EPAN, tanto nas etapas produtivas quanto nos

restos de comida deixados nos pratos e/ou bandejas dos usuários. No Res-

taurante Popular de Chapecó foi realizada uma campanha contra o desper-

dício de alimentos. Após se quantificar as sobras foram elaboradas ações

de intervenção com todos os atores envolvidos no processo (funcionários

do RP e sujeitos de direitos), conforme segue descrição nos subitens.

4.1. Ações de intervenção na produção

Inicialmente, foram elaboradas fichas técnicas das preparações mais

utilizadas. Fez-se um estudo comparativo entre os fatores de correção do RP

de Chapecó e os recomendados pela literatura e verificou-se que no pré-pre-

paro de hortifrutigranjeiros havia desperdício. Houve treinamento de pessoal

para adequar o porcionamento durante a distribuição da alimentação. Igual-

mente, fez-se análise sensorial das preparações, oportunidade em que foram

identificadas preparações com características insatisfatórias.

4.2. Ação junto aos sujeitos de direitos

Na seqüência, fez-se a confecção de mural com fotos de pessoas em

situação de insegurança alimentar e desnutrição de diversas partes do mun-

do, com o objetivo de sensibilizar os sujeitos de direitos em relação ao

RedeSAN

20

problema da fome e do desperdício de alimentos. No mesmo período, foi

distribuído material informativo (folder) acerca da importância da redução

do desperdício no RP e nos lares dos comensais (com receitas de

reaproveitamento e aproveitamento integral dos alimentos).

Após as ações de intervenção foi feita outra mensuração da sobra dos

pratos dos usuários após as refeições e os resultados foram positivos, como

mostram os dados a seguir:

Tabela 01: Resto-Ingesta antes das intervenções.Fonte: Elaborado pelos autores (2010).

O desperdício no terceiro dia foi maior em relação aos dias anteriores.

Analisando o cardápio, verifica-se que uma das preparações, a do macarrão

teve características apontadas como insatisfatórias na avaliação sensorial.

Após as ações desenvolvidas na campanha, os resultados foram os

seguintes:

Tabela 02: Resto-Ingesta após as intervenções.Fonte: Elaborado pelos autores (2010).

Ao comparar os valores médios do índice de resto ingesta, percebe-

se uma redução de 4,77% para 3,39%. Comparando-se esses valores, utili-

zando o valor em quilos de alimentos, os valores parecem bem mais signi-

ficativos: de 42,15 kg para 30,60 kg de alimentos, demonstrando que houve

redução média de 11,55 kg de alimento pronto desperdiçado por dia.

21

RedeSAN

Dessa forma, campanhas educativas de diferentes focos podem se

desenvolver com sucesso no espaço dos EPAN, pois o grande fluxo de pes-

soas que passam por eles diariamente facilita o desenvolvimento de ações

de interesse comum.

Considerações finais

Com as ações e programas na área de SAN, atualmente, Chapecó

atende em torno de 11.000 pessoas de variadas faixas etárias. Essas pesso-

as são atendidas pelos programas diretos de SAN e também nos CRAS, nos

programas socioeducativos e em entidades assistenciais não governamen-

tais.

Dessa forma, tais programas e ações fortalecem a rede de proteção da

população em insegurança alimentar, com um trabalho dinâmico e integrado,

obtendo bons resultados.

Um dos maiores facilitadores da SAN é a integração entre os equipa-

mentos, por ser fundamental para aperfeiçoar o funcionamento dos mesmos,

facilitando as ações desempenhadas em seu espaço.

O Banco de Alimentos funciona como o principal articulador dos pro-

gramas de SAN, pois aprimora a logística de distribuição dos gêneros alimen-

tícios adquiridos através de doações e da Compra Direta (PAA), além da

melhoria na qualidade dos alimentos distribuídos, dada pelo prévio processo

de seleção.

Facilitar o processo de obtenção e distribuição dos alimentos é funda-

mental para a sustentabilidade dos equipamentos. Porém, outras ações são

necessárias, como foi a campanha contra o desperdício de alimentos, que

contribuiu para a redução da quantidade de desperdício e, consequentemente,

do custo final das refeições. Outro elemento importante são as ações de edu-

cação alimentar que propiciam aos sujeitos de direitos a oportunidade de

receberem informações que eles podem aplicar em seu dia a dia e não so-

mente no espaço do EPAN.

A forma dinâmica e integrada de funcionamento dos programas com os

EPAN de Chapecó já rendeu ótimos resultados no que diz respeito à seguran-

ça alimentar e à qualidade de vida de seus cidadãos. No entanto, ainda há

muito a ser feito. Entre os novos desafios, encontram-se a viabilização da

sustentabilidade a longo prazo dos equipamentos, o fortalecimento do

COMSEA e sua maior integração com a sociedade civil, a divulgação da SAN

no município, a criação do comitê intersecretarial de SAN no município e, de

modo mais amplo, a implementação do princípio constitucional da alimen-

tação como um direito fundamental social e a garantia de seus meios de

exigibilidade.

RedeSAN

22

Referências

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Guia de Políticas e

Programas do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Brasília, 2008.

IBGE. Instituto Brasileiro de Economia e Estatística. Disponível em <http://

www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 20 jun. 2010.

SAGI. Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação. Disponível em <http://

aplicacoes.mds.gov.br/sagi/mi2007/tabelas/consulta_cidade_geral>. Acesso em: 20

jun. 2010.

AÇÕES EDUCATIVAS NOS EQUIPAMENTOSPÚBLICOS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

DE LAURO DE FREITAS - BAVânia Maria da Silva Bonfim1

Edilene Carvalho Feitosa2

Este artigo visa analisar processos educativos realizados nos Equipa-

mentos Públicos de Alimentação e Nutrição (EPAN), de Lauro de Freitas,

Bahia. Inicialmente, apresenta-se um breve panorama do histórico e fun-

cionamento da segurança alimentar e nutricional (SAN) no município e, na

sequência, examina-se o relacionamento e a integração das ações entre

Banco de Alimentos (BA), Cozinha Comunitária (CC) e Restaurante Popular

(RP). A seguir, faz-se uma reflexão sobre a ação educativa nos EPAN e seus

impactos nos hábitos de vida dos sujeitos de direitos que delas participa-

ram. A partir daí, levanta-se alguns elementos importantes para a

reorientação e a construção da prática educativa nos EPAN.

1. Diagnóstico dos Equipamentos Públicos de Alimentação e

Nutrição (EPAN) em Lauro de Freitas - BA

O município de Lauro de Freitas fica localizado no estado da Bahia e

integra a Grande Salvador, fazendo parte dos 13 municípios que compõem a

região metropolitana da capital baiana. A história da segurança alimentar e

nutricional, como propriamente uma política pública no município, iniciou

em 2005, num período de mudança da orientação política local, a qual trouxe

uma nova concepção sobre as necessidades sociais. A situação de fome que

atingia estratos importantes da sociedade local a partir de então se tornou

objeto oficial de medidas governamentais. Na titularidade da Secretaria do

Trabalho, Assistência Social e Cidadania, a jornalista Maria de Lourdes Lôbo,

que investigara a realidade da fome no município, começou a assessorar o

governo laurofreitense. Desde então, essa secretaria buscou êxito em ações

que assegurassem a segurança alimentar e nutricional, especialmente por

descobrir ser muito maior o número de munícipes que sofriam, secretamente,

com o desenvolvimento do Bacilo de Koch, gerado por uma situação de fome.

Inicialmente, a segurança alimentar e nutricional era uma política de go-

verno. No entanto, não tardou a institucionalizar-se como política de Estado,

devido ao esforço do então governo e da sociedade civil para tornarem lei o

combate à fome e normatizar seus instrumentos de desenvolvimento e de con-

1 Pedagoga, Mestre em Educação e Contemporaneidade, Supervisora Pedagógica de Projetosem SAN na Prefeitura de Lauro de Freitas, Bahia. Aluna Gestora da RedeSAN. Email:[email protected]

2 Nutricionista, Supervisora de Nutrição e Gestora do RP de Lauro de Freitas, Bahia.Aluna Gestora da RedeSAN. Email: [email protected]

RedeSAN

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trole, tais como fundos e conselhos. O governo municipal atualmente vem

mantendo a distribuição mais democratizada dos recursos alimentares pro-

duzidos e comercializados no município e arredores. Afinal, o Sistema de

Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) está sendo construído em âmbito

local, através da realização de ações, projetos e programas de SAN. Estas

ações têm sido realizadas pelo Departamento de Segurança Alimentar e

Nutricional (DESAN), da atual Secretaria Municipal de Assistência Social e

Cidadania (SEMASCI). Compõem o lastro para a realização dessas ações, par-

cerias com a sociedade civil, com secretarias municipais e estaduais, com a

Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), com o Conselho Municipal

de Segurança Alimentar e Nutricional (COMSEA) e com o Conselho Municipal

de Assistência Social (CMAS).

O DESAN gerencia os três EPAN que existem no município, a saber:

um Banco de Alimentos (BA), um Restaurante Popular (RP) e uma Cozinha

Comunitária (CC). No momento, mais um BA e mais uma CC estão sendo

construídos. A CC de Lauro de Freitas, em seus dois anos e meio de funcio-

namento, vem produzindo e distribuindo refeições saudáveis à população

em situação de vulnerabilidade do seu entorno e incrementando o lanche

das crianças do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). O BA

doa alimentos a famílias carentes e a instituições da cidade que atendem

cidadãos em situação de vulnerabilidade social, alimentar e nutricional. O

RP distribui diariamente três mil refeições (almoços) saudáveis e

nutricionalmente adequadas. Além disso, nesses equipamentos são reali-

zadas diversas ações de educação alimentar e nutricional.

2. Articulação dos Equipamentos Públicos de Alimentação

e Nutrição (EPAN)

O BA de Lauro de Freitas doou, no ano de 2009, o equivalente a 66

toneladas de alimentos. Com isso, atendeu 20 instituições regularizadas no

CMAS e seis mil beneficiários diretos foram atendidos, mensalmente. Desse

contingente, 1.330 famílias foram beneficiadas. O BA está no cerne das arti-

culações entre os EPAN para a realização de ações integradas de segurança

alimentar e nutricional.

Dentre os EPAN de Lauro de Freitas é notória a articulação entre o BA e

a CC. A relação entre esses dois equipamentos, em termos comparativos, pode

ser compreendida como uma espécie de �simbiose social�. Isso por que as

refeições da CC são confeccionadas ou incrementadas, muitas vezes, com ali-

mentos provindos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA),

recepcionados no BA. O Programa Sopa e o lanche do PETI, desenvolvidos na

CC, também têm sua produção incrementada pelos produtos da agricultura

familiar provindos do PAA (legumes, verduras e temperos naturais), fazendo

25

RedeSAN

com que haja um enriquecimento dessas refeições, que se tornam mais

saudáveis. Portanto, as ações do BA e da CC no combate à fome estão arti-

culadas. A política de SAN é materializada tendo o BA como um instrumen-

to estratégico de viabilização das ações da CC.

Já, a realidade do RP é bastante diferente, pois, como tem uma ges-

tão terceirizada, isto é, uma empresa, selecionada através de licitação, está

contratada para a confecção das três mil refeições nele servidas, o RP não

recebe nenhum repasse de doação de alimentos do BA. Afinal, faz parte do

contrato que a empresa de produção de alimentos se abasteça com os gê-

neros alimentícios necessários para a confecção das refeições. Por isso, é

inviável, neste contexto, haver uma articulação do BA ou da CC com o RP, no

que tange ao repasse de alimentos.

Por outro lado, o RP inova no âmbito do compartilhamento da sua

gestão. Em visita técnica do Ministério do Desenvolvimento Social e Com-

bate à Fome (MDS), em 2009, esse EPAN foi caracterizado como tendo,

informalmente, uma espécie de �gestão compartilhada�. Apesar de ter for-

malmente uma gestão terceirizada, a SEMASCI consegue orientar a gestão

a substanciar, em sua prática e funcionamento, os princípios da SAN e a

conceber comensais como sujeitos de direitos.

3. Ações educativas nos Equipamentos Públicos

de Alimentação e Nutrição (EPAN)

Os processos educativos realizados nos EPAN emergem como impor-

tantes instrumentos no combate à fome e no fomento a práticas alimentares

saudáveis. Por sua característica de constituir conscientização, a educação

tem encontrado terreno fértil no campo da nutrição e da luta contra a fome.

As ações educativas, realizadas nos EPAN de Lauro de Freitas, têm o

sentido de democratizar importantes informações sobre alimentação e nutri-

ção e de se obter uma resposta de conscientização por parte dos beneficiários

destas ações. Afinal, essas informações contribuem para se criar um nível

mínimo de consciência da necessidade de tornar mais saudável a alimenta-

ção, através do menor custo. Esse processo educativo gera a vida em algumas

famílias e, em muitas outras, eleva a sua qualidade.

Verificou-se a premente necessidade de um trabalho de educação ali-

mentar e nutricional para as comunidades localizadas ao redor dos EPAN ou

frequentadoras deles. Viu-se que esse trabalho deveria contribuir para a for-

mação de práticas alimentares que melhorassem a saúde e prevenissem da-

nos causados por patologias, como hipertensão, diabetes, obesidade e

triglicolesterolemia. Ações educativas já vinham sendo praticadas, contudo, a

partir de então, no RP, criou-se uma dinâmica de realização de palestras para

RedeSAN

26

comensais. Assim, buscou-se promover uma educação alimentar e

nutricional para o consumo saudável e sustentável de alimentos, ao tempo

que se combate a fome e se estimula a adoção de hábitos alimentares

saudáveis.

Dentre as ações já realizadas, destacam-se as da CC. Nesse EPAN, fo-

ram realizados cursos e palestras, no período de 2007 a 2009. Essas iniciati-

vas educativas de temas e formatos diversos obtiveram uma crescente par-

ticipação de sujeitos de direitos, locomovendo por volta de 530 beneficiários

do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), do Programa Bolsa

Família, cadastrados no CadÚnico, funcionários dos EPAN e munícipes em

geral. Para a realização dessas atividades, a CC articulou-se com os CRAS e

as secretarias de Saúde e de Educação, além do MDS, constituindo parceri-

as fundamentais. Os cursos desenvolvidos na CC foram: Manipulação de

Alimentos e Cocadas Finas, em 2008; Panificação e Confeitaria do Projeto

Capacitar para o Desenvolvimento Pessoal e Comunitário e Alimentação

Saudável e Cidadania do Projeto Alimentação Saudável: fonte de vida e

cidadania, entre 2009 e 2010. E as palestras foram: Prática do Aproveita-

mento Integral de Alimentos e Pirâmide Alimentar, em 2007; e Manipula-

ção de Alimentos e Higiene Pessoal, entre 2007 e 2008; Alimentação Saudá-

vel e Diabetes, Função Social dos CRAS, Importância e Funcionalidade dos

Equipamentos Sociais, Hipertensão e Alimentação Saudável, em 2008. No

BA foram realizadas as seguintes palestras: Importância e Funcionalidade

dos Equipamentos Sociais, em 2008 e Alimentação Saudável e Pirâmide

Alimentar, em 2009.

No RP foi realizado um Ciclo de Palestras focadas em educação ali-

mentar e nutricional, entre janeiro e fevereiro de 2010. Esse ciclo visou

promover a educação alimentar e nutricional a sujeitos de direito,

frequentadores do RP. As palestras foram realizadas na sala de capacitação

do RP, sempre às 10 horas da manhã. Foi notório que a faixa de horário

atingiu um recorte geracional, já que houve maior frequência de idosos. Ao

total, esse ciclo obteve 103 participantes. As palestras foram realizadas

duas vezes por semana e os temas, repetidos semanalmente, foram os

seguintes: Alimentação Saudável, Qualidade é de Vida e Como Prevenir a

Pressão Arterial através dos Temperos Naturais.

4. Impactos das ações educativas no

Restaurante Popular (RP)

Os impactos das ações educativas nos hábitos de vida dos participan-

tes foram obtidos através de pesquisa direta. Entre os meses de maio e

junho de 2010, os participantes do Ciclo de Palestras do RP foram entrevis-

tados a fim de se obter deles as possíveis mudanças em seus hábitos ali-

27

RedeSAN

mentares e de vida. A pesquisa contempla a análise do impacto dos três

temas abordados no Ciclo, já que cada entrevistado participou de um tema.

Os entrevistados correspondem a 15,5% do total dos participantes do Ciclo

de Palestras.

As informações emanadas das palestras foram significativas para os

participantes, já que 81,25% deles lembram do tema do evento a que assis-

tiram. E o mais expressivo é que isso tem a ver com a manutenção ou des-

coberta do gosto pelo tema, pois 100% deles afirmaram ter gostado do

conteúdo discutido.

O uso das palestras no RP como ação educativa para a segurança ali-

mentar e nutricional conseguiu, de forma positiva, atingir seu objetivo de

contribuir para a promoção de hábitos alimentares saudáveis. Afinal, 93,7%

dos entrevistados afirmaram ter mudado seus hábitos com base no que apren-

deram nas palestras. O mais significativo desse resultado são as reais mudan-

ças que ocorreram nos hábitos alimentares e de vida dos participantes. Eles

relataram o seguinte: redução do uso de sal, óleo e açúcar; redução da ingestão

de frituras, doces, guloseimas, pimenta e farinha de mandioca; redução ou

retirada de temperos, condimentos e alimentos industrializados da dieta; in-

clusão ou aumento do uso de alimentos mais saudáveis (frutas, verduras, le-

gumes, tubérculos, leite desnatado) e do uso de alimentos integrais e funcio-

nais (azeite de oliva, linhaça, soja) na dieta; diminuição da ingestão de ali-

mentos à noite, utilizando-se alimentação mais leve; não ingestão de líqui-

dos durante as refeições; aumento da variedade de alimentos ingeridos; di-

minuição da ingestão de gordura animal; inclusão da prática de exercícios

físicos na rotina; diminuição da quantidade diária de alimentos ingeridos e

aumento na qualidade desses; aumento na frequência da ingestão de vege-

tais e, especialmente, verduras cruas; e, em termos da interação social, maior

disposição para integrar-se com outros comensais do RP.

Essas mudanças de hábitos ocasionaram um impacto positivo sobre a

saúde verificado e relatado espontaneamente pelos entrevistados, tais como:

melhora na qualidade do sono; sensação de melhora generalizada da saúde;

melhoria no controle da hipertensão; e melhora da digestão.

Considerações finais

A política de SAN em Lauro de Freitas tem estado bem assentada do

ponto de vista da sua institucionalização. Afinal, houve interesse da gestão e

dos atores sociais envolvidos em tornar o combate à fome uma norma e,

finalmente, uma política de Estado.

Em termos da funcionalidade, houve um ganho qualitativo no serviço

disponibilizado pela CC, através de sua articulação com o BA. Essa articulação

RedeSAN

28

se revelou uma forma estratégica de aumentar a eficácia da CC na promo-

ção da segurança alimentar e nutricional. Frente a essa experiência positi-

va de articulação de EPAN, o município vislumbra agregar também o RP a

essa funcionalidade estratégica. Mas, a articulação desse EPAN com o BA

(em termos de doações) é uma meta futura que tem estado na pauta da

SEMASCI, através da elaboração de propostas que ajudem a superar a ges-

tão terceirizada. Uma nova gestão pública do RP deverá incluir a comunida-

de através de cooperativas para, finalmente, articular-se com o BA.

Além das articulações estratégicas, a educação alimentar e nutricional

é um elemento de base para o sucesso da SAN, em Lauro de Freitas. Os

resultados positivos revelados pelos sujeitos de direitos, que passaram

por processo educativo (como o Ciclo de Palestras), endossam isso. Contu-

do, a estrutura física e de recursos humanos precisa ser melhorada para

ampliar o poder de alcance das ações educativas e dar-lhes

sustentabilidade. A parceria com universidades, incluindo o planejamento

conjunto de ações educativas, pode constituir-se numa medida importan-

te que venha a contribuir na superação dessas dificuldades.

BANCO DE ALIMENTOS COMO ESTRATÉGIADE FORTALECIMENTO DA REDE DE SEGURANÇA

ALIMENTAR E NUTRICIONAL EM UBÁ - MGGisely Peron Gasparoni1

Os Bancos de Alimentos (BA) se inserem no panorama brasileiro como

uma forma de assegurar que indivíduos, em situação de vulnerabilidade soci-

al e alimentar, tenham garantida a alimentação de qualidade e em quantida-

de suficiente para a promoção de sua saúde e a prevenção de doenças.

Diante da situação de vulnerabilidade alimentar em que se encontra a

população brasileira, é preciso mobilizar-se para mudar o panorama vigente.

O BA é um dos vértices da rede de equipamentos públicos que pode contri-

buir para a construção do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional

(SISAN), em Ubá, Minas Gerais, constituindo-se como parte importante na

interlocução das relações entre os equipamentos públicos de segurança ali-

mentar e nutricional (SAN). A articulação dessa rede pode contribuir para a

consolidação de políticas estruturantes que ajudem a mudar o quadro

nutricional vigente. Assim, a inserção do BA de Ubá tem objetivos mais am-

plos que aqueles relacionados ao combate do desperdício e ao aproveita-

mento integral dos alimentos, direcionando metas para articular os progra-

mas municipais de SAN e facilitar o fortalecimento da rede municipal de SAN,

rumo à consolidação do SISAN.

1. Breve diagnóstico do município de Ubá - MG

Ubá localiza-se na Zona da Mata Mineira e possui 99.708 habitantes

(IBGE, 2009). Desses, cerca de 95% estão na zona urbana e apenas 5% na zona

rural. Principalmente os moradores das áreas, com maiores índices de

vulnerabilidade social, encontram dificuldades de acesso à alimentação em

quantidade e qualidade adequadas, ficando mais vulneráveis aos desvios

nutricionais no tocante aos aspectos socioeconômicos e da política de saúde.

Os projetos de SAN, no município, buscam identificar o perfil nutricional dos

beneficiários, a fim de evitar que se priorize unicamente o aumento do con-

sumo de alimentos pela população que convive, simultaneamente, com a

desnutrição e a obesidade. Para tanto, a avaliação do estado nutricional de

indivíduos de vários grupos etários pode ser obtida através da antropometria,

método de avaliação considerado não-invasivo, de baixo custo e universal-

mente aplicável.

Dentre as ações de monitoramento que direcionam as metas do Banco

de Alimentos de Ubá, realizou-se, em 2009, avaliações antropométricas com

os beneficiários do BA, que resultaram nos dados descritos nos gráficos abai-

xo (CUSTÓDIO; GASPARONI, 2009).

1 Nutricionista, coordenadora técnica do Banco de Alimentos e do Programa de Aquisiçãode Alimentos de Ubá (MG). Aluna Gestora da RedeSAN. E-mail: [email protected]

RedeSAN

30

Do total de 694 participantes da avaliação antropométrica, apenas

687 permaneceram no estudo para as avaliações subsequentes, visto ter

ocorrido perda amostral de 7 pessoas, por ausência de dados que impossi-

bilitaram as análises. Desses, 263 são crianças; 174 são adolescentes; 164

são adultos e 86 são idosos.

Gráfico 1: Distribuição percentual das crianças beneficiárias do Banco de Alimentosde Ubá/MG, segundo IMC (Índice de Massa Corporal).Fonte: CUSTÓDIO; GASPARONI, 2009.

Também foram avaliadas 131 crianças, de 2 a 5 anos, pelo índice P/E,

que identificou 91,6% delas com peso adequado para a estatura.

Gráfico 2: Distribuição percentual dos Adolescentes beneficiários do Banco deAlimentos de Ubá/MG, segundo IMC (Índice de Massa Corporal).Fonte: CUSTÓDIO; GASPARONI, 2009.Fonte: CUSTÓDIO; GASPARONI, 2009.

A avaliação nutricional dos 164 adultos e 86 idosos revelou resultados

preocupantes, tanto em termos de excesso de peso quanto de baixo peso,

conforme os gráficos abaixo.

31

RedeSAN

Esta avaliação antropométrica foi um instrumento indispensável para

subsidiar a realização de educação nutricional, haja vista a necessidade de

se averiguar os desvios nutricionais para, posteriormente, serem realiza-

das intervenções eficientes.

2. A construção da rede de Segurança Alimentar e Nutricional

(SAN) rumo ao Sistema Nacional de Segurança Alimentar e

Nutricional (SISAN) em Ubá - MG

A tríade pobreza, falta de acesso ao alimento e riscos nutricionais

vem sendo trabalhada prioritariamente em Ubá, num misto de redução de

desperdício, combate à fome, valorização da agricultura familiar, consumo

consciente, participação social e educação nutricional. Para isso, conta-se

com a participação de diversos atores sociais, que contribuem para o cres-

cimento da rede de SAN municipal.

Um breve histórico da SAN em Ubá facilita para se compreender o

atual estágio em que se encontra o município. O BA de Ubá foi implantado

em 2006. Desde seu início, buscou-se parcerias com a Empresa Brasileira de

Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER). No final de 2008 e no pri-

meiro semestre de 2009, somaram-se aos projetos de SAN municipais o

Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), através da modalidade CPR via

Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), que promoveu o fortale-

cimento da rede, com a agregação de agricultores familiares. A

implementação do PAA também repercutiu no aumento da quantidade e

qualidade dos alimentos oferecidos à rede socioassistencial de Ubá. Em

2009, essa rede ganhou mais um aliado, o Serviço Nacional de Aprendiza-

gem Rural (SENAR), que tem ações direcionadas à capacitação para a mani-

pulação de alimentos, técnicas de preparo diversas e aproveitamento inte-

Gráfico 3: Distribuição percentual dosadultos beneficiários do Banco deAlimentos de Ubá/MG, segundo IMC.Fonte: CUSTÓDIO; GASPARONI, 2009.

Gráfico 4: Distribuição percentual dosidosos beneficiários do Banco deAlimentos de Ubá/MG, segundo IMC.Fonte: CUSTÓDIO; GASPARONI, 2009.

RedeSAN

32

gral de alimentos. Também nesse mesmo ano, a política de SAN municipal

teve suas metas fortalecidas após a aprovação de dois projetos pela Secre-

taria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN), através dos

editais do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS),

em 2009, que facilitaram a implantação do PAA, modalidade de Compra

Direta Local da Agricultura Familiar (CDLAF), no município, e a moderniza-

ção do BA de Ubá.

A participação social insere-se, nesse contexto, com a atuação dos

conselhos de políticas públicas. Até 2009, o Conselho Municipal de Assis-

tência Social era o principal instrumento de controle social das ações de

segurança alimentar e nutricional, realizadas no município. Em 2010, ga-

nhou-se maior poder de mobilização, com a atuação do Conselho Munici-

pal de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (COMSEA), já institu-

ído desde 2003, porém implementado no final de 2009, e a atuação do Con-

selho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS). Ainda

nesse ano, os sindicatos de trabalhadores rurais e de produtores rurais do

município atuaram para fortalecer essa rede.

3. A articulação de atores sociais e públicos nas ações

integradas em Segurança Alimentar e Nutricional (SAN)

33

RedeSAN

O esquema visa ilustrar a articulação de atores sociais e públicos nas

ações integradas em SAN, especialmente em torno do BA, constituindo a

base para a construção do SISAN em Ubá. Já, o Sistema de Vigilância Ali-

mentar e Nutricional (SISVAN), no município, direciona ações específicas

ao detectar pessoas com risco nutricional, através do banco de dados do

Programa Bolsa Família, e encaminhá-las ao BA, que, por meio da

interlocução dos Programas de SAN, com a rede socioassistencial do muni-

cípio, realiza o atendimento dos usuários em situação de vulnerabilidade

social e risco nutricional.

O PAA reforça o abastecimento da rede socioassistencial, através do

BA e da alimentação escolar, constituindo-se numa estratégia de SAN e de

construção do SISAN no município, por meio do fortalecimento da agricul-

tura familiar e da garantia do acesso a alimentos de qualidade e em quanti-

dade suficiente aos beneficiários. A implantação do PAA na alimentação

escolar é um desafio no município. Esse processo está em fase inicial, po-

rém conta com a mobilização de diversos atores para tornar-se realidade. O

BA de Ubá se insere como facilitador para essa modalidade do PAA, uma

vez que encaminha agricultores pré-selecionados, que já participaram do

PAA e estão aptos a oferecer alimentos em quantidade e qualidade.

Dentre as contribuições possibilitadas pelo PAA, existe, também, a

inclusão de frutas nos lanches oferecidos aos usuários de oficinas dos Cen-

tros de Referência da Assistência Social (CRAS). Essa mudança de cardápio

foi acompanhada por práticas de educação nutricional, visando mudança

de hábitos alimentares e a multiplicação dessa rotina, nas famílias.

Para os passos futuros da política de SAN, em Ubá, pretende-se divul-

gar as práticas agroecológicas na agricultura familiar, a realização de educa-

ção nutricional de uma forma ampla e não eletiva e a institucionalização de

políticas de SAN propriamente municipais. Planeja-se que o SISAN obede-

ça a uma lógica que fortaleça as ações de SAN articuladas no BA. Nesse caso,

o BA funcionará como articulador dos programas municipais de SAN de

forma auto-sustentável e multifuncional. Igualmente, pretende-se efeti-

var ações articuladas com outros programas de combate à fome e diminui-

ção da desigualdade social, como o Programa Bolsa Família, e ações

territoriais de segurança e educação alimentar, a serem implantadas pelos

CRAS e as escolas municipais.

A ampliação do número de atendidos, tanto das famílias envolvidas

em projetos ou programas sociais do governo como das pessoas inseridas

nas diversas entidades sociais inscritas no COMSEA, também é um dos fo-

cos de atenção das ações na área da SAN, no município.

RedeSAN

34

Considerações finais

Para a consolidação de algo é preciso a união de agentes com anseios

comuns, não obstante isto, as vantagens sempre devem ser bidirecionais.

Assim, foi construído o entendimento de que a consolidação da rede de

SAN � Ubá/MG e a construção do SISAN, nesse município, devem acontecer

como resultado da mobilização de diversos atores sociais. É válida a men-

ção de que essa rede exista além das fronteiras das políticas públicas, daí a

importância das parcerias com iniciativas privadas e da participação de toda

a sociedade, na consolidação do SISAN. A avaliação da política de SAN do

Brasil indica a não definição de qual equipamento público deve assumir e

dirigir as metas, a fim da construção do SISAN municipal. Ressalta-se que

toda a rede de Equipamentos Públicos de SAN (EPAN) deve ser responsável

pela elaboração de uma logística estruturante para a SAN municipal.

Os Bancos de Alimentos precisam atuar além das barreiras

emergenciais, pois a construção de uma política eficiente e estruturante

demanda história, superação de barreiras, elaboração de metas e, ainda, o

processo educativo mostra resultados em longo prazo, então atentemos

para que ontem já fosse o tempo de ter começado. Diante disso, planejam-

se as estratégias de atuação do BA de Ubá, vislumbrando a inserção deste

equipamento público como eixo mobilizador de parcerias e incentivador

de iniciativas direcionadas ao fortalecimento da rede de SAN Municipal e a

construção do SISAN em Ubá.

Referências

CUSTÓDIO, I.D.D.; GASPARONI, G. P. Relatório de conclusão de curso em nutrição social.

Curso de graduação em Nutrição. Universidade Federal de Viçosa (UFV). Ubá, dez.,

2009.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Estimativas de Popula-

ção. Estimativas da população para 1º de julho de 2009. Disponível em: <http://

www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2009>. Acesso em: 27 set.

2009.

POLÍTICA DE SEGURANÇA ALIMENTARE NUTRICIONAL EM DIADEMA - SP

Maria José Lima de Aragão Silva (Lita)1

Diadema foi reconhecido como município através da Lei Estadual nº.

5.285, de 18/02/59. É um município com origem marcada por um processo

intenso de ocupação urbana, devido à sua localização geográfica entre o lito-

ral, Vila de São Vicente e o planalto, e Vila de São Paulo de Piratininga. Foi

graças a existência de uma via de ligação entre São Bernardo do Campo e

Santo Amaro que proporcionou a chegada de alguns poucos moradores, ain-

da no século XVIII.

Deste modo, a conjugação de diversos fatores contribuiu para a eman-

cipação político-administrativa de Diadema. Aprovado o processo de emanci-

pação pela Assembleia Legislativa, ocorreu o plebiscito no dia 24 de dezem-

bro de 1958. Após o término das eleições de outubro de 1959, Diadema pas-

sou a ser organizada burocraticamente, com a posse de seu primeiro prefeito

e dos respectivos vereadores, em 10 de janeiro de 1960, caracterizando, as-

sim, a instalação oficial do novo município.

O dia 8 de dezembro, por ser consagrado a Nossa Senhora da Concei-

ção, e devido à religiosidade dos antigos moradores e de seus emancipadores,

foi escolhido para a comemoração da emancipação política, tornando-se a

santa a padroeira da cidade.

Há 27 anos, o município é administrado por governos democráticos

populares. Isso possibilitou, também, o crescimento e o desenvolvimento

conjugados com a participação popular.

As preocupações do poder público municipal vão de encontro às neces-

sidades de elaboração de políticas públicas para a questão habitacional, de

emprego e renda, educação, segurança alimentar e nutricional, saúde públi-

ca, desenvolvimento cultural e de atividades esportivas, além das necessida-

des específicas de grupos, tais como os de juventude, gênero, idosos, pessoas

com deficiências e, principalmente, propicia a abertura de mais espaços à

participação popular qualificada no município.

Na década de 90, começou-se a discutir a política de segurança alimen-

tar e nutricional (ainda não conhecida com essa nomenclatura), através da

criação da Divisão de Abastecimento, na Secretaria de Desenvolvimento Eco-

nômico, tendo como foco principal os equipamentos populares de abasteci-

mento, com destaque para os �sacolões� municipais. Tratava-se de equipa-

mentos populares de abastecimento, que facilitavam a comercialização de

alimentos, com os preços e a qualidade controlados pelo poder público muni-

1 Bacharel em Teologia, Filosofia e Administração de Empresas. Chefe de Divisão na SecretariaMunicipal de Segurança Alimentar de Diadema, SP. Aluna Gestora da RedeSAN.Email: [email protected]

RedeSAN

36

cipal. Naquela época, foram implantados os seguintes projetos: Jardineira

da Economia, Rua da Quitanda e Campanha de Alimentos, entre outros.

A política de segurança alimentar e nutricional se tornou mais efetiva

com a implementação da estratégia do Programa Fome Zero, em 2003, oca-

sião em que o município respondeu ao chamado do Governo Federal, criando

o Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de Diadema

(CONSEAD). Tal iniciativa foi produto de uma discussão intersecretarial local,

em articulação com a sociedade civil. Foi naquele ano que se formatou a Co-

ordenação do Programa Fome Zero no município, vinculada ao Gabinete do

Prefeito. O objetivo dessa iniciativa foi de articular e contribuir na implanta-

ção de programas e projetos que contribuíssem para a efetivação e amplia-

ção da política de segurança alimentar e nutricional.

A constituição do CONSEAD teve sua base na orientação do Conselho

Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), com a composição

de dois terços de representantes da sociedade civil e um terço de represen-

tantes do governo. O Conselho foi criado através da Lei nº. 2.230/03 e teve

sua primeira alteração pela Lei nº. 2.447/05. A partir daí, iniciou-se um novo

período de articulação, organização e implantação de programas e projetos

de segurança alimentar e nutricional, a maioria deles financiados pelo Minis-

tério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).

Em 2003, criou-se o Programa de Educação Alimentar e Nutricional

(PEAND), através da Lei nº. 2.285, de 25 de novembro de 2003, com o objeti-

vo de fornecer informações e orientações que estimulassem a formação de

hábitos alimentares e estilos de vida saudáveis. Esse programa se destina à

comunidade em geral, cuja ênfase recai no trabalho com as crianças, através

da ludicidade e do teatro de fantoches. Ainda no mesmo ano, instituiu-se o

Banco Municipal de Alimentos, que tem por objetivo combater o desperdício

e fornecer complementação alimentar, através da distribuição de alimentos

às entidades que atendem famílias em situação de vulnerabilidade social.

Sendo assim, gerou-se uma grande expectativa em relação ao progra-

ma, pela compreensão de que o mesmo fosse resolver o problema da fome

no município. Várias pessoas e entidades se dirigiam à Secretaria em busca de

alimentos. E foi, neste momento, que o CONSEAD teve um papel fundamen-

tal na definição dos critérios de classificação das entidades, que estariam ap-

tas a tornarem-se parceiras do Programa Banco de Alimentos. Entre os crité-

rios centrais, estavam: estar realizando algum trabalho social; estar juridica-

mente constituída; ter disponibilidade para retirar as doações no local da dis-

tribuição e; dispor de espaço adequado para a manipulação dos alimentos.

Esse foi um fator muito importante, porque existiam pessoas querendo abrir

entidades só para serem parceiras do Banco de Alimentos. Deste modo, fo-

ram inscritas as primeiras entidades, sendo estas visitadas por membros do

Conselho e da equipe técnica do Banco de Alimentos. No total, foram apro-

37

RedeSAN

vadas 43 entidades no primeiro processo de seleção, que se tornaram par-

ceiras do Programa Banco Municipal de Alimentos, com ampliação, hoje,

para 77 entidades.

Neste processo de aperfeiçoamento, muitas foram as dificuldades,

associadas, especialmente, à operacionalização das ações e na compreen-

são dessa política como algo que não acontece isoladamente, mas que re-

quer a articulação com outras áreas. Em 2004, a então Divisão de Abasteci-

mento foi transformada em Secretaria de Abastecimento, o que possibili-

tou definir melhor a receita para a manutenção e a sustentabilidade das

ações.

A discussão foi se ampliando no município, bem como a implantação

de novas ações, como é o caso do primeiro Restaurante Popular, cujo funci-

onamento iniciou em setembro de 2005. Em 2010, foi inaugurado o segun-

do Restaurante Popular no município. Ambos fornecem refeições balance-

adas e seguras, a preço acessível e promovem ações de segurança alimen-

tar e nutricional. Gradualmente, o município criou e regulamentou, através

de Decreto, o Programa Restaurantes Populares.

Aos poucos, outros avanços foram acontecendo, tais como a inclusão

de um artigo na Lei Orgânica do Município em 2005, que institucionalizou o

Programa de Segurança Alimentar e Nutricional, e a inclusão de dotação or-

çamentária para o programa no Plano Pluri Anual do município, em 2006.

Outro passo significativo foi a realização da I Conferência Municipal de Segu-

rança Alimentar e Nutricional, em 2007, em estreita articulação com o

CONSEAD.

Outra iniciativa que potencializa a articulação das ações acontece por

meio do Programa de Agricultura Urbana, que estimula as hortas comunitári-

as. Em 2003, foi institucionalizado, pela Lei nº. 2.272, um programa que in-

centiva o uso de espaços públicos e privados para a implantação de hortas,

visando proporcionar acesso à alimentação saudável e à geração de renda. As

hortas priorizam o público beneficiário do Programa Bolsa Família, como tam-

bém as famílias atendidas pelo Banco Municipal de Alimentos.

Para contribuir com a sustentabilidade dos programas e projetos, bem

como para fortalecer a organização da agricultura familiar, o poder público

operacionaliza, junto ao MDS, o Programa de Aquisição de Alimentos, na

modalidade de Compra Direta Local da Agricultura Familiar, hoje, Compra Di-

reta com Doação Simultânea Municipal. Os alimentos oriundos desse Progra-

ma são encaminhados ao Restaurante Popular, ao Banco de Alimentos e para

a alimentação escolar. Como o município de Diadema é 100% urbano, com

sua área totalmente ocupada, os produtos do Programa de Aquisição de Ali-

mentos (PAA) são adquiridos de municípios vizinhos, num raio de abrangência

de até 400 quilômetros distante de Diadema.

RedeSAN

38

Para assegurar que a população tenha garantido o acesso aos pro-

dutos hortifrutigranjeiros de qualidade, o município conta com 21 feiras,

que funcionam, de terça a domingo, em vários bairros da cidade. Todas as

feiras são devidamente inspecionadas pela Vigilância Sanitária para garan-

tir a qualidade higiênico-sanitária e prevenir riscos à saúde dos consumido-

res.

Na perspectiva de consolidar a Política de Segurança Alimentar e

Nutricional Municipal, foi inaugurado, em dezembro de 2008, o Centro de

Referência em Segurança Alimentar e Nutricional Josué de Castro (CRESAND).

Esse centro, administrado pela Secretaria de Segurança Alimentar, tem por

objetivo articular as ações de SAN no interior do governo municipal, como

também mediar as relações entre governo e sociedade, tornando-se um es-

paço multifuncional de formação e capacitação em SAN. O planejamento do

atual governo municipal contempla esse espaço como um dos equipamentos

estruturantes, que devem contribuir significativamente para tornar Diadema

uma cidade com mais qualidade de vida.

Em 2010, foi criada, através de Decreto Lei, a Câmara Intersecretarial

de Segurança Alimentar e Nutricional. Assim, pela continuidade e pelo avan-

ço das políticas implementadas, tem-se, pela frente, o grande desafio de criar

e regulamentar o SISAN no âmbito do município, em conformidade com as

deliberações da II Conferência Municipal de SAN, realizada em outubro de

2009.

COZINHA SOCIAL EM TOLEDO - PRSofia Carminati Perinazzo1

Restaurantes Populares são unidades de alimentação e nutrição que

visam à produção e à distribuição de refeições saudáveis, com alto valor

nutricional e a preços acessíveis para pessoas em situação de insegurança

alimentar. São equipamentos de alta complexidade que promovem diversas

atividades multifuncionais de desenvolvimento social, geração de emprego e

renda, na perspectiva do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN).

A gestão dos Restaurantes Populares é responsabilidade do poder público lo-

cal e a produção mínima estimada para um equipamento dessa natureza é de

mil refeições diárias, no horário do almoço, por, no mínimo, cinco dias por

semana (MDS, 2005).

Nesse contexto, os restaurantes populares de Toledo, Paraná, foram inau-

gurados e implantados, de forma descentralizada, para atender populações

com carências nutricionais, que necessitam de alimentação balanceada e, de

forma acessível, por estarem em locais de trabalhos afastados de suas resi-

dências, proporcionando segurança alimentar e nutricional, através de refei-

ções balanceadas nutricionalmente e com boa qualidade higiênico-sanitária,

obedecendo às normas técnicas que garantam a qualidade nutricional, sen-

sorial, microbiológica e físico-química dos produtos, com um preço acessível

(ABERC, 2003). E a decisão pela instalação dos restaurantes populares tem

como pano de fundo a realização de alguns conceitos basilares, tais como: o

direito humano à alimentação adequada (DHAA), que implica no acesso ao

alimento como um direito humano fundamental para garantir a dignidade

humana; a segurança alimentar e nutricional (SAN), que explicita um conjun-

to de condições e características que precisam ser garantidas para que haja

uma alimentação adequada e saudável; e a soberania alimentar, que enfatiza

a importância da autodeterminação política e econômica de cada país, cada

povo e cada território na definição soberana de seus sistemas alimentares, de

acordo com seus hábitos e tradições culturais. Essas três concepções se des-

dobram em articulações e práticas que, cada uma a seu modo, visam garantir

melhor qualidade de vida e cidadania ao povo (CONTI, 2009).

O município de Toledo vem desenvolvendo ações que atendem às pesso-

as que frequentam diariamente os restaurantes, mas também abrangem a maior

parte da população carente do município. Desse modo, amplia seu atendimen-

to e atrela outros programas sociais já iniciados pelo poder público do municí-

pio junto à Cozinha Social, que é um elo de ligação entre os programas em um

único local, para garantir a tão necessária segurança alimentar e nutricional.

1 Nutricionista e responsável técnica pela Cozinha Social da Prefeitura Municipal de Toledo,PR. Aluna Gestora da RedeSAN. Email: [email protected]

RedeSAN

40

1. Equipamentos Públicos de Segurança Alimentar

e Nutricional (SAN) em Toledo - PR

Toledo está localizado na região oeste do estado do Paraná. É o tercei-

ro maior município da região, com uma população de aproximadamente

116.774 habitantes. Possui o terceiro maior índice de desenvolvimento

humano (IDH) do Paraná e o primeiro lugar no PIB Agropecuário do Paraná

e da região sul. O município localiza-se a 536 km da capital Curitiba e 160 km

de Foz do Iguaçu, a maior cidade da região, e a 45 km de Cascavel, que é

considerada uma cidade pólo regional.

A Cozinha Social e os restaurantes populares foram criados através da

Lei nº 84, de agosto de 2006. Dessa forma, constituem-se em direitos perma-

nentes da população toledana. As ações em SAN passaram a ser políticas so-

ciais implantadas que contribuem para a criação de uma rede nacional de

proteção às pessoas carentes. Com essas medidas, a questão social sai do

assistencialismo para a implementação de uma política pública de assistência

social, que garante o atendimento de crianças, idosos, jovens, pessoas com

deficiência e outras pessoas que necessitem de auxílio.

Aparentemente, a Cozinha Social ou Unidade de Produção pode ser con-

fundida com as Cozinhas Comunitárias, que são outro tipo de Equipamento

Público de Alimentação e Nutrição (EPAN). É chamada de Restaurante Popu-

lar, mas é administrada de uma maneira um pouco diferente daquela dos equi-

pamentos em outros municípios, pois é uma unidade que produz refeições

centralizadas para transportar para os quatro restaurantes populares e servir

1.600 (mil e seiscentas) refeições, além de diversos tipos de lanches. Após a

implantação da Cozinha Social, deu-se a implantação do primeiro restaurante

do Bairro Coopagro e, posteriormente, foram inauguradas mais três unidades

(Vila Pioneira, Jardim Europa e Jardim São Francisco/Panorama). Com a inclu-

são de novos projetos, a implantação de novos restaurantes, o atendimento

às escolas e atividades da usina de beneficiamento de soja, entre outros, defi-

niu-se a Cozinha Social como sendo uma unidade de produção centralizada

de alimentos para atendimento da população, através de projetos sociais e

em parceria com o Governo Federal.

A produção dos alimentos é feita de forma centralizada e a sua distri-

buição é feita de forma descentralizada. As refeições são elaboradas na Cozi-

nha Social e distribuídas dentro de caixas térmicas para todos os restaurantes

e demais lugares que recebem a alimentação. Esse transporte é feito em ve-

ículos apropriados e adaptados para o transporte adequado de alimentos.

Como esse projeto era inovador para a cidade de Toledo, a administra-

ção foi pioneira em implantar a descentralização do serviço. Primeiramente,

por que queria fornecer alimentação a maior quantidade de pessoas possível

e atingir diversos bairros. Desse modo, foram construídos e adaptados res-

41

RedeSAN

taurantes nos bairros mais populosos, com população mais carente e onde

havia maior quantidade de trabalhadores com dificuldades de retornar às

suas residências para almoçar. Outra vantagem dessa gestão é de não interfe-

rir nos restaurantes do centro da cidade, mesmo sabendo que a população

atendida pelos RPs não é a mesma atendida pelos restaurantes comerciais.

O principal objetivo do projeto é o atendimento da população toledana.

Porém, os restaurantes também atendem pessoas de cidades da região que

vêm até o município para fazer consultas, comércio e transporte. Elas acabam

se alimentando no restaurante e desfrutando de uma alimentação de quali-

dade, já que, muitas vezes, quando vinham para Toledo faziam refeições

rápidas (lanches), de baixo custo e de questionável valor nutritivo. Normal-

mente, isso ocorria devido ao pouco poder aquisitivo para elas poderem

adquirir alimentação de qualidade. O público atendido caracteriza-se em geral

por trabalhadores, idosos, crianças, donas de casa e estudantes. Atualmente,

além das refeições diárias aos comensais, são servidas refeições a mais de 70

funcionários que almoçam no local de trabalho.

O poder público demonstrou interesse em ampliar o projeto, além de

implantar as políticas e programas nacionais de SAN. Para isso, adotou várias

iniciativas expressas em programas municipais. A intersetorialidade entre as

diversas secretarias e seus programas federais, estaduais e municipais pro-

porcionou a implantação desses junto à Cozinha Social e criou um conjunto

de condições e mecanismos para isso, inclusive, com destinação de recursos

para sua efetivação. Recursos provindos do Programa de Aquisição de Ali-

mentos (PAA) são utilizados para a compra de verduras, legumes, carnes, bo-

lachas, pães e macarrão caseiro, oriundos da agricultura familiar. Tais produ-

tos abastecem a Cozinha Social na produção das refeições e lanches. Há tam-

bém recursos do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e outros

recursos oriundos da Secretaria de Assistência Social, que são aproveitados

na Cozinha. Desse modo, a aprovação da Política Nacional de SAN virá refor-

çar as ações já executadas em Toledo, uma vez que a administração municipal

preza pela qualidade e o direito à alimentação para todos.

2. Programas e projetos de Segurança Alimentar

e Nutricional (SAN) em Toledo - PR

Na Cozinha Social, além de refeições servidas nos restaurantes, são

produzidas outras preparações atendendo a diversos projetos e programas

como esses explicitados a seguir.

2.1. Merenda Escolar

São atendidas 18 escolas com grande quantidade de alunos e em pon-

tos de maior vulnerabilidade social. A alimentação de melhor qualidade

RedeSAN

42

melhora o estado nutricional. Muitas vezes, essa é a única refeição do dia

para algumas crianças. Além dessas escolas onde são servidas merendas

pela manhã e à tarde, também são atendidas quatro escolas de período

integral com almoço. Nas escolas, entre merenda e almoço, são atendidos

diariamente oito mil alunos.

2.2. Panificadora

A Panificadora atende 23 grupos de idosos, 32 grupos da Pastoral da

Criança, 8 projetos de adolescentes envolvidos em programas de assistência

social, 18 creches e 6 escolas, garantindo um café da manhã saudável e lan-

ches durante as atividades diárias. Com esse projeto são atendidos semanal-

mente 705 idosos (com três tipos de preparações: bolo, torta e pão com doce

ou queijo e presunto), acompanhado de suco de soja produzido na cozinha.

Diariamente, são atendidos 250 adolescentes no período da manhã e da tar-

de (as preparações variam entre pequenas e grandes refeições). Todas as quar-

tas-feiras são enviados pães para creches, totalizando 1.170 pães. De terças-

feiras a quintas-feiras são enviados 1.035 pães para algumas escolas e algum

tipo de doce como acompanhamento. Durante quatro vezes por semana, o

Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) é atendido com lanches.

2.3. Marmitas

São preparadas marmitas com salada inclusa para uma parcela de tra-

balhadores braçais, que prestam serviços ao município em locais de difícil

acesso, também para o Conselho Tutelar, e aproximadamente 100 marmitas

para a população que mora nas proximidades da unidade de produção cen-

tralizada.

2. 4. Suco de soja e leite de soja in natura

Devido às necessidades nutricionais, principalmente de crianças, mu-

lheres e idosos, foi implantada a usina de beneficiamento de soja para uma

complementação alimentar. Isso melhora a qualidade de vida das famílias e

favorece a inclusão social, principalmente para quem se encontra em maior

risco, auxiliando na prevenção de doenças que atingem a terceira idade e

crianças. Outro programa a ser desenvolvido é o iogurte de soja, que será

implantado no próximo ano. A distribuição de suco também é feita pela Cozi-

nha Social, entregue em postos de saúde (para famílias cadastradas), pasto-

rais, escolas, restaurantes e entidades. São distribuídos 20 mil litros de suco

de soja e leite de soja in natura no decorrer do mês, em parceria com a assis-

tência social.

43

RedeSAN

3. Ações de educação alimentar e nutricional

Os restaurantes devem funcionar como espaços multiuso para diver-

sas atividades, contribuindo para o fortalecimento da cidadania e repre-

sentando um pólo de contato entre o cidadão e o poder público. Nesses

espaços, devem ser realizadas atividades de educação alimentar como, por

exemplo, palestras sobre o valor nutricional dos alimentos, oficinas de apro-

veitamento e combate ao desperdício de alimentos, realização de campa-

nhas educativas e outras atividades com fins culturais e de socialização, tais

como shows, apresentações e reuniões da comunidade (MDS, 2004).

Nem todos os restaurantes foram construídos especificamente com

esse intuito. Apenas dois deles. Os outros dois são espaços cedidos por

associações de moradores dos bairros, que dividem suas atividades de fim

de semana com o atendimento dos restaurantes durante a semana. Essa é

uma parceria que está sendo produtiva. Nos outros dois restaurantes, em

fins de semana ocorrem diversas atividades de acordo com a necessidade

da comunidade, como concursos, exposições, feiras e reuniões.

As mudanças que vêm ocorrendo nos padrões de consumo alimentar

têm levado pesquisadores e profissionais a indicar a necessidade de interven-

ções imediatas nesse quadro, entre as principais está a educação nutricional

(CERVATO et. al, 2004). Essa pode promover a capacidade de compreender

práticas e comportamentos, proporcionando ao indivíduo condições para que

possa tomar decisões para a resolução de problemas mediante fatos percebi-

dos (RODRIGUES et. al, 2006). Boog et al. (2003) mencionam que a educação

nutricional tem como elemento de confronto a grande influência exercida

pela publicidade e pela mídia nos hábitos alimentares dos consumidores, pois

a indústria de alimentos elege o adolescente como consumidor privilegiado e

sensível às mensagens, apresentando os adeptos de certos produtos como

mais charmosos, bonitos e vencedores. O contexto desafiador da educação

nutricional exige o desenvolvimento de abordagens educativas que permi-

tam abraçar os problemas alimentares em sua complexidade, tanto na di-

mensão biológica como na social e cultural (BOOG et al., 2003).

Outra atividade desenvolvida na Cozinha Social é a educação nutricional,

que é desempenhada com auxílio de estagiários de nutrição que acompa-

nham a distribuição de refeições nos restaurantes, desenvolvem material de

apoio como cartazes, panfletos informativos e avaliação nutricional. Esse tra-

balho vem auxiliando cada vez mais na instrução dos frequentadores dos res-

taurantes, revelando a modificação nos hábitos alimentares da população

atendida.

Segundo Mezzomo (1994), a qualidade é um termo que tem conceitos

variados e dinâmicos, mas fundamentalmente ele indica um nível de excelên-

cia do que é produzido. É necessário satisfazer o cliente tanto por aspectos

RedeSAN

44

tangíveis como intangíveis da qualidade. Os aspectos tangíveis da qualida-

de estão incorporados às características físicas dos produtos e se manifes-

tam através do cardápio, apresentação dos alimentos, aparência física do

restaurante e assim sucessivamente. As características intangíveis da quali-

dade estão relacionadas às expectativas, percepções, desejos conscientes

e inconscientes do cliente, incluindo-se aqueles de natureza emocional,

tais como: o atendimento, o ambiente, as características sensoriais dos ali-

mentos e outros (ABREU, 2003). Aprimorando todos esses conceitos, o pro-

grama fica completo e contribui para satisfazer desde a qualidade dos ali-

mentos até a satisfação da população atendida.

Todas as inclusões de projetos na Cozinha Social tiveram boa reper-

cussão quanto à aceitação da população. Uma das dificuldades encontradas

é suprir o aumento da demanda, sem que haja um planejamento e uma

estrutura adequada. Em virtude do sucesso do programa e do aumento da

procura pelo serviço oferecido, está programada uma reforma para a mo-

dernização do restaurante e da própria cozinha, assim como a aquisição de

novos equipamentos e veículos e o aumento do número de funcionários

conforme a necessidade. Nenhum programa tem êxito sem o esforço de

diversos setores para que se concretizem todos os objetivos propostos.

Considerações finais

A realização de um trabalho de qualidade no campo da SAN implica

em avaliar diversos fatores, como o planejamento de ações, o desenvolvi-

mento, as análises de projetos e ações em conjunto, sob o enfoque do

direito humano à alimentação adequada, da soberania alimentar e da se-

gurança alimentar e nutricional. Para isso, é necessário que as atividades

desenvolvidas na Cozinha Social de Toledo sejam continuamente

reestruturadas e analisadas para que atendam à população que realmente

necessita desse apoio e que as pessoas sintam satisfação em frequentar os

restaurantes populares e recebam todo o auxílio a fim de que mantenham

uma vida saudável e digna.

Nesse sentido, para se continuar avançando nas políticas de SAN, é

preciso realizar estudos relacionados às ações desenvolvidas e avaliar fu-

turamente as suas repercussões, mediante a instalação de um banco de

dados que subsidie metas que possibilitem o melhoramento contínuo das

ações e a reestruturação de projetos que possam ser melhor potencializados

no atendimento da população.

Igualmente, é importante que todas essas atividades e ações sejam

devidamente articuladas entre si, em torno da construção do Sistema de

Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), no município, como uma das

principais prioridades.

45

RedeSAN

Referências

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práticas de elaboração e serviço de refeições para coletividades. 8 ed. São Paulo: ABERC,

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RESTAURANTE POPULAR, ABASTECIMENTOSOCIAL E AÇÕES DE SEGURANÇA ALIMENTAR

EM CURITIBA - PRMônica Jambersi Taques1

O presente trabalho visa contribuir para a discussão dos conceitos e

ações de segurança alimentar e nutricional (SAN) dos municípios, com des-

taque especial para o Restaurante Popular, que vem demonstrando ser uma

eficaz política pública em Curitiba, no combate à insegurança alimentar e às

suas consequências. Os equipamentos da rede de proteção alimentar de

Curitiba realizam atendimento de forma não só emergencial, mas perma-

nente, através da garantia do acesso a uma alimentação saudável, de baixo

custo a toda a população, especialmente àquela de menor renda. Os equipa-

mentos de abastecimento alimentar se integram com os demais atendimen-

tos municipais, motivando as ações multidimensionais de promoção da saú-

de, educação alimentar e nutricional, formação e capacitação para a geração

de renda, promoção da autonomia e subsistência, com foco na melhoria da

qualidade de vida.

As bases dessas estratégias e ações da segurança alimentar e nutricional

estão pautadas nos princípios do direito humano à alimentação adequada

(DHAA) e da soberania alimentar dos povos.

O conjunto de políticas públicas de SAN em Curitiba vem se consolidan-

do através de algum conhecimento acumulado ao longo do tempo e tem,

entre suas características, as ações setoriais e intersetoriais. Essa coopera-

ção, juntamente com o monitoramento e as avaliações sistemáticas dos pro-

gramas, a previsibilidade de orçamento e dos ciclos de gestão e a criação de

legislação específica, são sementes para fazer germinar um futuro Sistema

Integrado de Ações em Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), confor-

me prevê a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN).

1. Rede de proteção alimentar de Curitiba: semente do futuro

Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

(SISAN) municipal

Curitiba vem criando e implementando ações de abastecimento ali-

mentar a mais 23 anos. A Secretaria Municipal do Abastecimento (SMAB),

criada em 1986, tem, entre suas práticas, a interação com os demais entes

municipais, estaduais e da sociedade civil. Essa articulação prioriza ações que

buscam atender às necessidades e demandas locais, no que se refere à ali-

mentação e nutrição.

1 Nutricionista e gestora pública em SAN na Prefeitura Municipal de Curitiba, PR.Aluna Gestora da RedeSAN. Email: [email protected]

47

RedeSAN

A SMAB tem a missão de �promover o abastecimento de alimentos,

associado à educação alimentar, visando a melhoria do padrão nutricional

da população de Curitiba, especialmente aquela que se encontra em risco

social� (SMAB, 2000).

O município criou legislação específica a fim de garantir recursos para

suas ações, como o Fundo de Abastecimento Alimentar de Curitiba (FAAC)

e, mais recentemente, o Fundo Municipal de Segurança Alimentar

(FUMSAN), através da Lei 11.832/2006 e do Decreto 1247/2007. A SMAB é

responsável pelo apoio técnico e administrativo ao Conselho Municipal de

Segurança Alimentar (COMSEA). O Restaurante Popular também possui lei

regulatória desde sua criação, em 2007.

Uma das razões do sucesso da articulação da SMAB com os demais

órgãos está na parceria de interesse social para a operacionalização dos

Restaurantes Populares. Atualmente, uma entidade social sem fins lucrati-

vos opera os Restaurantes. O município subsidia parte do custo dos 4.000

almoços servidos diariamente (R$ 2,06 por refeição) e o valor é

complementado pelo pagamento dos usuários (R$ 1,00 por refeição). Ou-

tros modelos podem ser verificados nas parcerias com a CEASA Curitiba,

através do Banco de Alimentos, com a Federação Paranaense de Produto-

res Rurais (FEPAR) e demais associações de produtores.

A SMAB atua em três linhas de ação: educação alimentar e nutricional,

comercialização de alimentos e na área social.

A educação alimentar e nutricional desenvolve um conjunto de ações

voltadas à orientação da população para a adoção de práticas alimentares

saudáveis. Realiza, através de atividades diversas e por processos lúdicos,

palestras para a comunidade, teatros, cursos completos e aulas de econo-

mia doméstica. Atua também na orientação de estagiários das diversas áre-

as de formação em alimentação e nutrição. O ponto alto dos cursos da SMAB

é sua abordagem de temas sobre a alimentação saudável, higiene pessoal

e dos alimentos, aproveitamento integral dos alimentos, manipulação e

conservação, economia e meio ambiente. O processo educativo busca se

adequar à realidade das famílias, enfatiza o combate ao desperdício, a mo-

tivação para as atitudes de cuidado com o meio ambiente, a valorização dos

alimentos regionais e o estímulo ao consumo de alimentos naturais. Os

cursos de capacitação de multiplicadores em educação alimentar preparam

líderes das comunidades, jovens e adultos, que buscam formação para o

emprego e a geração de renda. Mensalmente, 4.400 pessoas participam

dos cursos da SMAB.

A linha de comercialização dos alimentos, também chamada de abas-

tecimento comercial, destaca-se pelo trabalho com os produtores e comer-

ciantes de hortaliças e frutas, principalmente, provenientes da agricultura

RedeSAN

48

familiar e do mercado de orgânicos. Trata-se da disponibilização de uso de

espaço público para o comércio de alimentos, através de programas que

geram empregos diretos e indiretos, promovendo a aproximação de pro-

dutores e comerciantes, garantindo a qualidade e o acesso aos alimentos

para toda a população. Curitiba possui 93 pontos de comercialização de

alimentos em 50 bairros da cidade, através de suas 79 Feiras Livres, 14

Sacolões e Varejões de frutas e verduras, o Mercado Municipal e o Mercado

de Orgânicos. São mais de 500 feirantes empreendedores e 6.000 emprega-

dos que participam do comércio de 30.000 toneladas de alimentos por ano.

Nessa linha de ação, para esse ciclo de gestão ainda estão previstas obras

de ampliação e requalificação dos Mercados Municipal e de Orgânicos, que

aumentarão os espaços para a circulação de usuários e o número de bancas

de hortifruti e produtos da gastronomia regional.

O abastecimento social ocorre através dos programas que viabilizam

o acesso regular aos alimentos às famílias de baixa renda. Os principais

programas desse segmento são: Armazém da Família, Mercadões Popula-

res, Restaurante Popular, Câmbio Verde, Programa de Aquisição de Ali-

mentos (PAA) e Família Curitibana. A SMAB atua desde 2004 na divulgação

do PAA, junto às prefeituras da região metropolitana, em articulação com a

EMATER e entidades sociais do município. Atualmente, realiza o suporte

para a aproximação de produtores e entidades, promovendo o escoamen-

to da produção. Um programa que se destaca nessa linha de ação é o Arma-

zém da Família, que adquire por compra pública e comercializa alimentos e

produtos de higiene com preço, em média, 30% inferior ao dos mercados

convencionais. Ele oferece 196 itens, principalmente alimentos de quali-

dade, em 29 lojas em todas as Regionais da cidade. Atende famílias cadas-

tradas com renda mensal de até 03 salários mínimos. A média de atendi-

mento no primeiro semestre de 2010 está em 163.000 famílias, ao mês.

Esses equipamentos de comercialização de alimentos são mantidos atra-

vés do Fundo de Abastecimento Alimentar de Curitiba, respaldado pela Lei

7462/1990.

A criação do Restaurante Popular ocorreu em 2007, com base no De-

creto Lei Municipal nº 1247 e é de responsabilidade da SMAB. Sua construção

se deu com o apoio financeiro do Ministério de Desenvolvimento Social e

Combate à Fome e a contrapartida do município. O equipamento promove a

inclusão social pelo critério do acesso universal, ou seja, as refeições são

disponibilizadas a todos os cidadãos, sem a exigência de documentação ou

cadastro. Curitiba possui aproximadamente dois milhões de habitantes. Jun-

tamente com a Região Metropolitana de Curitiba (RMC), formada pelos mu-

nicípios vizinhos, soma 3.200.000 habitantes (IBGE, 2004). No centro da cida-

de, na Regional Matriz, está localizada a maior unidade de Restaurante Popu-

lar, com o atendimento de 2.000 almoços por dia. A comunidade de usuári-

49

RedeSAN

os trabalha, vive, estuda ou transita na região. Circulam ali aposentados,

desempregados e moradores de rua. Uma parcela dessa população utiliza

os serviços médicos, bancos e farmácias populares e os serviços municipais

dispostos na Rua da Cidadania Matriz. Os grupos mais vulneráveis são os de

moradores de rua, dependentes químicos, pessoas com perda de vínculo

familiar ou que sofreram algum tipo de violência. Destaca-se também nes-

se segmento os imigrantes, itinerantes e usuários dos abrigos públicos da

Fundação de Ação Social (FAS) e outras organizações sociais. O atendimen-

to do Restaurante Popular Matriz se integra às ações da rede solidária da

FAS, através dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), dos

Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS), e com

os demais equipamentos de convivência de idosos e de portadores de ne-

cessidades especiais. Diariamente, cerca de 1,2 milhões de pessoas transi-

tam pelo centro da cidade e utilizam a Rede Integrada de Transporte (RIT),

através dos principais terminais rodoviários (IPPUC, 2009).

Nos bairros do Sítio Cercado e CIC estão localizadas duas novas uni-

dades de Restaurantes Populares, inauguradas em março e maio de 2010.

Cada unidade oferta 1.000 almoços por dia. Ambas situam-se próximas aos

grandes terminais rodoviários dos bairros do Sítio Cercado e Fazendinha. A

área possui uma alta concentração de comércio de bairro e equipamentos

municipais como hospitais, clínicas e unidades de saúde, escolas, creches,

CRAS e CREAS. Esses novos Restaurantes possuem áreas exclusivas para a

realização das atividades de educação alimentar e nutricional e para pro-

gramas de capacitação e formação de jovens e adultos.

Nesse sistema de abastecimento social, interage também o progra-

ma Câmbio Verde. A SMAB adquire frutas, verduras e legumes através de

compra pública para troca de lixo reciclável por alimentos. São 90 pontos de

trocas do Câmbio Verde espalhados pela cidade. Ele é realizado em parce-

ria com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA) e procura disse-

minar noções de preservação do ambiente, promovendo o mercado de

produtores locais. A SMAB e SMMA também se articulam para solucionar o

problema do lixo nas áreas de favelas e bolsões de pobreza, onde não é

possível a entrada dos caminhões da coleta do lixo orgânico. O Programa

Compra do Lixo disponibiliza caçambas estacionárias e volantes para a po-

pulação colocar seu lixo orgânico. Em troca, o líder da comunidade recebe

as sacolas de frutas, hortaliças, feijão, cereais e distribui às famílias. Atual-

mente, 10 comunidades são atendidas por esse programa que vem diminu-

indo por conta das melhorias urbanas e com a implantação do Câmbio Ver-

de e da coleta oficial do lixo.

O Programa Vale Vovó oferta 60.000 vales cestas básicas, anualmen-

te. A interação entre a SMAB e a Fundação de Ação Social (FAS) promove a

identificação de famílias e idosos em estado de vulnerabilidade social e o

RedeSAN

50

acompanhamento desses grupos. Outro programa importante nesse seg-

mento é o Família Curitibana, que integra ações de assistência social com o

combate à fome e a promoção da autonomia das famílias carentes. A famí-

lia cadastrada recebe um vale mercado para utilizar no Armazém da Famí-

lia. O ProJovem, o Programa de Atendimento Familiar (FAS/PAF) e o For-

mando Cidadão são outros projetos onde famílias, jovens e adultos, em

situação de rua, sem vínculo de trabalho e sem renda, são atendidos com os

vales cestas.

Na agricultura urbana e periurbana, os programas Lavoura e Nosso

Quintal atendem famílias de baixa renda, associações de moradores, organi-

zações sociais e pequenos agricultores através do incentivo ao cultivo de hor-

tas para o autoconsumo, da redução dos gastos com alimentação, da promo-

ção da alimentação saudável, da socialização e do aumento da renda familiar

pela venda das hortaliças. Esses programas existem há 24 anos no município.

Em 2009, foram 7.000 pessoas atendidas por mês.

Considerações finais

Cabe aos gestores públicos a reflexão e a reelaboração cotidiana das

formas de conceber e realizar a SAN. Realizar projetos em linhas específicas

de ação, para a SMAB, tem sido a certeza da realização de políticas públicas

importantes para o desenvolvimento da cidade como um todo.

A construção de ações que se estendem para além do exclusivo forne-

cimento de alimentos aos cidadãos, a busca da articulação intersetorial com

os parceiros certos renovou os conceitos de assistência alimentar e resultou

em dados que Curitiba considera importantíssimos, para a próxima década.

Nessa experiência, reconhece-se como essencial a vontade política para o

estabelecimento de ações perenes e que se tornam a base das gestões admi-

nistrativas, mesmo nas mudanças de ciclos. Fundamentar as ações em SAN,

na legislação municipal, assegura também a discussão ininterrupta.

Se o que Curitiba tem é um SISAN em formação, ainda não se sabe

claramente. Mas é certo que o caminho já percorrido servirá de experiência

para um futuro que já começa a acontecer: qualidade de vida para todos e

todas.

Referências

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51

RedeSAN

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<http://www.rlc.fao.originiciativapdfdmal.pdf> Acesso em: 20 set. 2009.

PARTICIPAÇÃO POPULAR NA CONSTRUÇÃO DEPOLÍTICAS PÚBLICAS DE SAN EM JUIZ DE FORA - MG

Dagmar Bettina Koyro1

A Fome é um flagelo produzido pelos homens, contra outros homens.

(Josué de Castro).

O controle social das políticas de segurança alimentar e nutricional

(SAN) é uma forma efetiva de se exigir a realização do direito humano à

alimentação adequada (DHAA). O Conselho Municipal de Segurança Ali-

mentar e Nutricional de Juiz de Fora, Minas Gerais (COMSEA), conta com

várias entidades representadas que trabalham, no seu dia a dia, com a falta

de políticas públicas de SAN. Estas entidades desenvolveram a capacidade

de propor ações que possam modificar as situações de insegurança alimen-

tar encontradas nas comunidades.

A atual composição do COMSEA é de oito órgãos do governo munici-

pal e dezesseis entidades da sociedade civil. Cada órgão ou entidade no-

meia um conselheiro titular e um suplente. As entidades da sociedade civil

têm uma participação ativa no combate à fome no município, seja com

distribuição de alimentos, educação alimentar, mobilização em torno do

tema da SAN, luta por salários justos ou a organização de cooperativas e

associações de produtores, entre outros.

Como se trata de entidades que trabalham de formas diversas (pas-

torais, produtores rurais, comerciantes, sindicatos, grupos espíritas, asso-

ciações de catadores de material reciclável, empreendimentos solidários,

universidades, fórum de moradores de rua, outros conselhos de direitos,

etc.), existem também as mais variadas expectativas a respeito da implan-

tação do Restaurante Popular (RP), no município. Essa variedade de expec-

tativas deve fazer com que a gestão desse RP, respeitando as proposições

do Conselho, alcance qualidade no sentido de garantir que o RP efetive

uma política pública de SAN.

Cabe destacar a disposição dos atores sociais integrantes do Conse-

lho em buscar conhecimento sobre SAN, DHAA, soberania alimentar, con-

trole social e políticas públicas, de forma que os mesmos se tornem com-

ponentes necessários que orientem o poder público na implementação

das políticas de SAN, no município.

1 Enfermeira obstetra, membro da equipe de coordenação da Pastoral da Criança daArquidiocese de Juiz de Fora e Presidente do COMSEA de Juiz de Fora, MG. AlunaGestora da RedeSAN. Email: [email protected]

53

RedeSAN

1. Antecedentes das políticas de Segurança Alimentar

e Nutricional (SAN) em Juiz de Fora - MG

O trabalho da Pastoral da Criança (PC), na Arquidiocese de Juiz de

Fora, acompanha, desde 1993, um grande número de famílias com crianças

e gestantes desnutridas e em situação de insegurança alimentar. Com sua

capilaridade, a PC presta serviço nas comunidades mais desassistidas, com

as ações básicas de saúde, alimentação, educação e cidadania. Inicialmen-

te, começou com a ação das �Alternativas Alimentares�, distribuindo a fari-

nha �Multimistura� entre as famílias com crianças e gestantes desnutridas,

que resolveu, em parte, a questão da subnutrição (BRANDÃO, 1989). No

final dos anos 90, através do empenho da Pastoral da Criança no estado de

Minas Gerais, foram realizadas capacitações na área da segurança alimen-

tar, deixando claro que a �alimentação enriquecida� é somente uma das

ferramentas para se alcançar a SAN, pois ela não leva em conta a falta do

acesso à alimentação adequada das famílias e, consequentemente, tam-

bém não garante o acesso à alimentação adequada. Na oportunidade, co-

meçou-se por questionar a falta de acesso aos alimentos de qualidade por

parte das famílias acompanhadas e que era preciso que as crianças desnu-

tridas tivessem acesso a produtos de leite, carne, frutas, verduras e legu-

mes variados como um direito.

Pelo empenho da então coordenadora da PC de Minas Gerais, a PC da

Arquidiocese de Juiz de Fora realizou, em outubro de 2000, um grande even-

to com a presença de Dom Mauro Morelli, pioneiro na questão de SAN. O

evento reuniu várias pessoas de entidades da sociedade civil, que lutavam

contra a fome no município, conselheiros de conselhos de direitos e mem-

bros de universidades, entre outros. Daquele encontro, surgiu o encaminha-

mento concreto de formar a Comissão Regional de Segurança Alimentar e

Nutricional Sustentável (CRSANS) da Zona da Mata III - diretamente subordi-

nada ao CONSEA-MG, criado, por decreto, em março de 1999. Uma das atri-

buições dessa comissão foi a de realizar formação sobre o tema de SAN na

região e a implantação dos conselhos municipais de SAN. Em seguida, foram

formados COMSEAs em três municípios da região. Somente Juiz de Fora, o

maior município na Zona da Mata III, com 520.000 habitantes, lutou anos

sem sucesso para implantar o COMSEA. Em 2003, foi aprovada a Lei n. 10.466

de criação do COMSEA e, após muita postergação por parte do poder público,

em abril de 2007, instituiu-se o COMSEA. Instalado, ele imediatamente co-

meçou a questionar a falta de políticas públicas na área de SAN no município

e a propor a implantação do Sistema Municipal de Segurança Alimentar

(SISAN), assim como tomar conhecimento sobre o andamento do processo

de implantação do Restaurante Popular de Juiz de Fora, para o qual a prefei-

tura já havia recebido verba do Ministério do Desenvolvimento Social e Com-

bate à Fome (MDS), em dezembro de 2005.

RedeSAN

54

No período de 2000 a 2007, mesmo antes da implantação do COMSEA,

aconteceram vários seminários, pré-conferências e oficinas com a temática

de SAN, promovidas pela CRSANS, que propiciou aos membros da socieda-

de civil grande conhecimento sobre o tema. Houve participação de repre-

sentantes da região nas conferências estaduais e nacionais de SAN. Infeliz-

mente, esses eventos quase nunca foram frequentados por membros do

poder público, evidenciando cada vez mais a discrepância do conhecimen-

to sobre o tema de SAN, entre os membros da sociedade civil e da adminis-

tração municipal.

2. Breve histórico de um longo processo de mobilização social

pela implantação do Restaurante Popular (RP)

em Juiz de Fora

Em fevereiro de 2004, em assembleia da População de Rua de Juiz de

Fora, o Restaurante Popular (RP) e o Banco de Alimentos (BA) foram aponta-

dos como prioridades absolutas na garantia da realização do direito ao traba-

lho e à alimentação adequada. Em seguida, várias entidades, ligadas à popu-

lação em situação de rua, elaboraram o anteprojeto do RP, que foi apresenta-

do ao poder público municipal. Nele, pensou-se o formato de um Restauran-

te Popular como lugar de convivência, de educação alimentar e de

referência para a inclusão social e não somente como um lugar para se ali-

mentar. 

No ano seguinte, um jornal local anunciou que �JF ganhou a disputa

para ter um Restaurante Popular�, num artigo seguido de entrevista com o

então prefeito que afirmou que 100% dos empregos gerados pelo projeto

seriam preenchidos pelo público a quem se destinaria o RP. Igualmente, afir-

mou que o projeto iria beneficiar os pequenos produtores rurais, os morado-

res de rua e os catadores de material reciclável do município. Desde aquela

época, a discussão sobre o Restaurante Popular e o Banco de Alimentos tem

sido feita à revelia das entidades da sociedade civil de Juiz de Fora e pedidos

de informação ficaram sem respostas. Os diversos segmentos da população

que idealizaram o RP somente obtiveram informações sobre o andamento do

planejamento e execução do RP através da mídia local e do MDS.

No final de maio de 2006, em um ato público, o governo municipal

lançou a pedra fundamental do RP e anunciou a abertura de licitação para a

obra. Foi efetuada a compra de um terreno com imóvel no centro de Juiz de

Fora e o antigo imóvel foi demolido.

O COMSEA foi instalado em abril de 2007. Imediatamente, começou a

questionar a demora do início da obra do RP. Em outubro de 2007, o COMSEA

recebeu visita de um representante do poder público municipal que explanou

sobre os dois projetos (RP e BA), apresentando prazos para o início e o

55

RedeSAN

término das obras. Informou, ainda, que a empresa vencedora da licitação

se recusou a assinar o contrato em função do baixo preço por ela mesma

ofertado, e que foi realizada uma segunda licitação, razão do atraso do

início da obra.

No início de novembro de 2007, o COMSEA questionou publicamen-

te a demora do início das obras do RP, com carta que recebeu destaque na

imprensa local. No dia 29 de novembro de 2007, realmente começaram as

obras de construção do RP com a promessa de que ele estaria pronto

antes das eleições municipais de 2008. Em dezembro de 2007, também

apareceram propagandas nos ônibus de Juiz de Fora sobre a �comida que

não pesa� a R$ 0,99.

Em abril de 2008, o COMSEA realizou visita à obra do RP e foi informa-

do que o provável início do funcionamento do RP se daria somente no início

de 2009, devido à falta de máquinas e ao terreno muito pedregoso.

Sempre preocupados com a gestão do RP, para garanti-lo como políti-

ca pública de SAN que atenda à população necessitada com alimentação de

qualidade, o COMSEA participou de Audiência Pública na Câmara Munici-

pal, em junho de 2009, com o tema �Restaurante Popular e Banco de Ali-

mentos � ambas as políticas públicas de Segurança Alimentar e Nutricional

e de inclusão social, conveniadas com o MDS�. A audiência reuniu autorida-

des municipais, estaduais e federais e contou com grande participação de

membros de entidades da sociedade civil, indignados com o descaso do

poder público municipal e com a demora na entrega do Restaurante Popu-

lar para o povo. Após denuncias feitas na Audiência Pública, o gestor públi-

co retirou dos ônibus a propaganda enganosa intitulada como �comida que

não pesa�.

No dia seguinte à Audiência Pública, o COMSEA organizou uma ofici-

na de capacitação sobre a �participação popular na gestão do Restaurante

Popular�, que foi dirigida pelo Secretário Nacional de Segurança Alimentar

(SESAN/MDS), com a participação de conselheiros e membros do governo

municipal. Nessa oficina, foram assumidos diversos compromissos entre

os presentes e elaborou-se um cronograma de ações a serem realizadas até

meados de 2009, com busca de esclarecimentos, organização de eventos e

realização de visitas a outros municípios que já possuem Restaurantes Po-

pulares em funcionamento. Resultante dessas ações, ocorreria um evento

no qual o COMSEA deliberaria sobre a forma de gestão do Restaurante

Popular de Juiz de Fora.

Nos meses de junho e julho de 2008, o município passou por momen-

to de instabilidade política decorrente da prisão do prefeito, por

improbidade administrativa e corrupção ativa e passiva. Na operação �João-

de-Barro�, a Polícia Federal apreendeu todos os documentos de convênios

do município com o Governo Federal para fiscalização. Entre eles, estavam

RedeSAN

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os documentos do RP e do BA. Consequentemente, as obras foram interdi-

tadas. O governo municipal foi assumido pelo vice-prefeito até o final de

2008. Em agosto de 2008, o município recebeu a visita de auditores da

Controladoria Geral da União (CGU) para fiscalização. Em novembro de 2008,

o COMSEA procurou o poder público com o intuito de obter informações

sobre a previsão de continuação da obra do RP e foi informado que a prefei-

tura não teria como continuá-la, mesmo com o recurso liberado, porque os

documentos ainda se encontravam na Polícia Federal, que ainda não havia

finalizado sua investigação.

Em dezembro 2008, foi entregue ao Presidente Lula, por intermédio

de um representante da População de Rua de Juiz de Fora, um histórico do

RP e uma carta, solicitando providências a esse imbróglio. Esse mesmo

documento seguiu para várias autoridades dos governos Federal, Estadual

e Municipal, à CGU e ao CONSEA estadual e nacional.

No início de 2009, já sob nova administração pública, o COMSEA en-

viou ofício ao prefeito da cidade, solicitando informações sobre o anda-

mento das obras do RP e também que o COMSEA fosse incluído na discus-

são sobre o planejamento do programa. Recebeu resposta em março, in-

formando que ao longo de 2009 a prefeitura não daria continuidade à obra

do RP. Em seguida, um vereador e conselheiro do COMSEA criticou a sus-

pensão das obras na plenária da Câmara Municipal, já que os recursos oriun-

dos do MDS se encontravam intactos, depositados na Caixa Econômica Fe-

deral. A crítica foi rebatida por outro vereador que estimou os custos de

manutenção do RP em R$ 2,5 milhões por ano, um valor considerado muito

alto para o município.

Poucos dias depois, representantes do COMSEA se reuniram com o

prefeito e questionaram a suspensão da obra do RP. O prefeito demonstrou

sua preocupação com a manutenção do RP e apresentou um custo final de

R$ 5,00 por refeição, dizendo que este custo seria inviável para o município.

Também expressou que o RP não beneficiaria as pessoas da periferia que

realmente precisam de uma política de SAN. Os integrantes do COMSEA

defenderam o RP como um espaço de convivência social e argumentaram

que o custo final por refeição poderia ser diminuído mediante a aquisição

da matéria prima de cooperativas de pequenos produtores das proximida-

des e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), tendo o Banco de

Alimentos como suporte no abastecimento. Alertaram que a gestão do RP

por uma ONG ou compartilhada entre a prefeitura e uma ONG seria a mais

adequada, por não visar lucro. Frisaram, ainda, a importância de um RP

para o município, levando em conta as pessoas que vêm das periferias e até

da região para o centro da cidade em busca de serviços médico-hospitala-

res e para resolver problemas de documentação, necessitando de alimen-

tação de qualidade durante sua estadia na cidade. Explicaram também so-

57

RedeSAN

bre a necessidade de se conceber o RP como parte de um sistema de SAN

no município, que precisa ser regulamentado em lei, com um órgão que

coordene as ações de SAN no município e que o RP se articule com outras

políticas de SAN, como as cozinhas comunitárias que irão atender as pesso-

as da periferia. O prefeito explicou que ainda �não bateu o martelo� sobre a

questão do RP e ficou de estudar a possibilidade da manutenção ser menos

onerosa, inclusive conhecendo outros RPs em municípios vizinhos.

De abril em diante, a prefeitura continuou divulgando que o custo de

manutenção do RP seria muito elevado, ocasionando despesa de R$ 3 mi-

lhões por ano ao município e podendo gerar desemprego nos restaurantes

convencionais, localizados no centro. Por outro lado, o COMSEA divulgou

que, mediante um bom planejamento, é possível fazer a manutenção do

RP com subsídio público de R$ 1,80 por refeição, conforme evidenciam

exemplos de outros RPs, em municípios que foram visitados.

Em maio de 2009, o COMSEA procurou a Promotoria Pública de Juiz de

Fora e o Bispo da Arquidiocese em busca de apoio na luta pelo RP. Em junho

2009, foi realizada outra Audiência Pública, com a presença de representan-

tes de gestores do RP de Belo Horizonte e de Barra Mansa, RJ, além do MDS e

de ampla participação de vários segmentos da sociedade civil, principalmen-

te de sindicatos de trabalhadores e moradores de rua. Nessa audiência, o

Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico (SPDE) do muni-

cípio, responsável pela concretização da obra do RP, depois de ouvir as argu-

mentações dos presentes, manifestou que o município está aberto para

renegociar e planejar novamente a implantação do RP, no município.

No dia 01 de julho de 2009, foi criada a �Frente de Defesa do Restauran-

te Popular�, composta por representantes de várias entidades que participa-

ram da Audiência Pública. Essa frente promoveu uma mobilização de pressão

e foi às ruas nos dias 11 e 12 de julho em atos públicos e distribuiu folhetos

para esclarecer a população sobre o significado e a importância de um RP. A

panfletagem se estendeu a alguns bairros de tal forma que mais de 5.000

pessoas se manifestaram favoráveis à implantação do RP e assinaram os ca-

nhotos dos folhetos, que foram recolhidos em urnas e divulgados pela im-

prensa local.

Em julho, o mesmo secretário da SPDE se reuniu com três membros do

COMSEA e dois vereadores para apresentar os cálculos e a revisão de custos

prováveis da obra do RP. Mencionou que será necessário que o MDS libere

mais recursos financeiros para o término da obra e para os equipamentos do

RP, devido à atualização dos preços desde 2004, e que a prefeitura terá que

abrir nova licitação porque foram descobertas irregularidades na empresa que

iniciou a obra.

Entre os dias 20 a 22 de agosto de 2009, realizou-se a I Conferência

Municipal de SAN (COMSANS), de Juiz de Fora. Na abertura do evento, o

RedeSAN

58

prefeito se comprometeu com a concretização do projeto do RP, após a

análise de sua viabilidade para o município e da aprovação de recursos

adicionais pelo MDS. A Conferência aprovou várias propostas relacionadas

à conclusão e implantação imediata do Restaurante Popular e à sua gestão.

Aprovou a criação de um grupo de trabalho composto por integrantes da

sociedade civil e de técnicos do governo municipal para formular um plano

de gestão para o RP, o que não foi acatado pelo gestor municipal. A mesma

Conferência também aprovou a minuta de um projeto de lei, a ser

gestionado no Executivo e no Legislativo Municipal, que cria o sistema

municipal de SAN.

Passada a Conferência, o governo municipal novamente silenciou

sobre o assunto do RP, mesmo que o COMSEA tenha solicitado informação

sobre a continuação da obra, requerendo prazo para a publicação da nova

licitação até setembro de 2009. No início de outubro de 2009, o secretário

da SPDE garantiu, mais uma vez, publicamente, a continuação das obras do

RP, com o aporte adicional de recursos do MDS, no patamar de R$ 659.860.

Em novembro, a �Frente de Defesa do RP� voltou às ruas, frustrada

com a falta de informações sobre a abertura da licitação e os próximos

passos a serem dados pelo poder público. Dessa vez, distribuiu folhetos

informativos e bananas, que simbolizaram o descaso do governo municipal

pela continuidade da obra do RP. Logo em seguida, o COMSEA recebeu

visita do secretário da SPDE, que explicou a demora da abertura da licitação

e destacou que �a prefeitura trabalha de uma forma bem certinha, organi-

zada e que esse Conselho deveria ter um pouco de paciência�.

A paciência da população e do COMSEA foi novamente posta à prova,

pois ainda demorou até março de 2010 para a abertura da licitação. Final-

mente, no final de abril, foram abertos os envelopes, na presença de mem-

bros do COMSEA e foi publicado o nome da empresa vencedora. A expectati-

va das entidades foi grande, mas o contrato entre a empresa e a gestão públi-

ca somente foi assinado em junho e a obra recomeçou no início de julho, sem

motivo visível para essa demora.

3. Expectativas da comunidade com a implantação e gestão do

Restaurante Popular (RP)

Estima-se que o COMSEA represente cerca de 23.000 pessoas de Juiz

de Fora que experimentam regularmente a sensação de fome (PIMENTA,

2009). Existe um número grande de entidades não representadas nesse Con-

selho, mas que sabem de sua existência e participam do seu trabalho. Isso

se expressou recentemente durante a I COMSANS, que reuniu mais de 50

entidades da sociedade civil, que se preocupam com a segurança alimen-

tar, no município.

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RedeSAN

Parte-se de um levantamento de expectativas sobre o Restaurante

Popular em meio a vários sindicatos (metalúrgicos, produtores rurais, comér-

cio, professores, construção civil, entre outros), movimentos negros, pasto-

rais sociais (da Criança, do Povo de Rua e do Menor), movimentos de mulhe-

res, Consulta Popular, Comitê Central Popular, outros conselhos de direitos

(da criança e do adolescente, de assistência social, dos idosos, das pessoas

portadoras de deficiências, das mulheres e da saúde), Cáritas, igrejas evan-

gélicas (I Igreja Batista do Brasil e outras), Associação Beneficente Sopa dos

Pobres, Sociedade São Vicente de Paulo, Associações Espíritas, Universida-

des (Federal e particulares que oferecem cursos de nutrição), cooperativas,

Associação de Catadores de Material Reciclável, Fórum de População de Rua,

Comitê Municipal de Combate à Desnutrição e camelôs do centro da cidade.

Esse levantamento expressa uma representatividade de aproxima-

damente 90 mil pessoas de Juiz de Fora. Evidencia, também, que, quanto

mais as entidades com suas respectivas experiências de trabalho com a

população em situação de insegurança alimentar definem e articulam suas

expectativas, tanto mais é possível perceber e planejar o RP como um pro-

grama estratégico de política pública de SAN, garantindo ao povo de Juiz de

Fora o direito humano à alimentação adequada e digna.

Uma perspectiva nova, antes não observada pelo COMSEA, foi a dos

sindicatos que defendem o RP como um espaço para servir alimentação

adequada a um preço acessível para os trabalhadores formais e informais

no centro da cidade, que atualmente se alimentam de salgadinhos e refri-

gerantes ou comem sua marmita, sentados na calçada, entre carros e

passantes. Os trabalhadores informais e camelôs dizem que precisam de

um lugar limpo e aconchegante para se alimentar, mas a um preço acessí-

vel, que até então não estão encontrando no centro da cidade.

Surpreendente foi o grande número de idosos que afirmou que procu-

ram um lugar para fazer sua alimentação saudável em companhia de outros e

que pretendem vir de ônibus da periferia urbana para frequentar o RP. Res-

saltaram que procuram um espaço de acolhimento e que muitas vezes não

preparam comida em casa porque não há ninguém que a prepara para eles.

Os catadores de material reciclável e moradores de rua, segmento

que idealizou inicialmente esse projeto, estão com a expectativa de final-

mente terem um espaço para fazerem refeições dignas e acessíveis, porém

temem a discriminação e a exclusão. Inclusive, alimentam a expectativa de

possível geração de emprego no próprio restaurante como auxiliares de

serviços, serventes ou até mesmo produtores de alimentos.

As igrejas evangélicas, das quais algumas são fornecedoras de �quenti-

nhas� e sopas para os mais pobres do centro da cidade, afirmam que o Restau-

rante Popular será um avanço para a população, propiciando que eles saiam

da situação de mendigos para a condição de cidadãos com direitos.

RedeSAN

60

Várias cooperativas e associações que produzem doces, conservas e

outros tipos de alimentos colocaram que esperam que possam vender seus

produtos ao Restaurante Popular. As escolas de nutrição esperam que o RP

seja um espaço para a geração de empregos para nutricionistas e campo de

estágio para as universidades.

Por fim, a mais ousada expectativa vem dos agricultores familiares que

colocaram a clara expectativa do aumento da produção local, que é precária e

pouco subvencionada. É possível que o RP gere renda para cerca de 1.000

produtores locais que atualmente estão em outro tipo de ocupação por falta

de políticas de incentivo à produção e escoamento de seus produtos. O RP,

articulado com o PAA, poderá estimular sua produção diversificada em maior

quantidade para abastecer o RP e para a venda do excedente em feiras livres,

dinamizando a produção e a oferta de alimentos.

O COMSEA propõe o modelo de gestão direta do RP, ou seja, que o

poder público realize sua gestão efetiva. Além do mais, é importante que

essa gestão incorpore as proposições da I Conferência Municipal de SAN

e do COMSEA. A gestão precisa estimular a incubação de cooperativas, o

fortalecimento da organização e da produção dos agricultores familiares,

assim como o uso multifuncional do espaço do RP para a realização de

atividades diversas.

Entre os principais pontos recomendados pelo COMSEA para a elabo-

ração do plano gestor, destacam-se a realização de um diagnóstico da situ-

ação de vulnerabilidade social; o recrutamento de pessoas para a constitui-

ção da equipe de gestão do RP e sua capacitação na perspectiva da SAN e do

DHAA; a adoção de manual de boas práticas de higiene; a minimização e

destinação adequada dos resíduos orgânicos e inorgânicos; o uso adequa-

do dos recursos naturais como água e energia; o aproveitamento máximo

dos alimentos evitando o desperdício; a potencialização dos produtos lo-

cais e regionais oriundos da agricultura familiar e agroecológica e; a

sustentabilidade ambiental e social do equipamento.

Portanto, de acordo com as expectativas dos diferentes segmentos

envolvidos desde a produção até o consumo, a implantação do RP em Juiz de

Fora como uma política pública de SAN que garante o direito humano à ali-

mentação adequada se constitui numa iniciativa importante e inadiável.

4. Aprendizados a partir das lutas pela implantação do

Restaurante Popular (RP) em Juiz de Fora

O Restaurante Popular de Juiz de Fora ainda é uma utopia. No entan-

to, é uma utopia cada vez mais real, como demonstra o histórico e o empe-

nho incessante dos vários segmentos das organizações da sociedade civil

do município. É uma longa trajetória de lutas que envolve diversos atores

61

RedeSAN

sociais que serão beneficiados com a implantação do RP no município, pois

o projeto se retroalimenta da experiência e da expectativa desses segmen-

tos e sujeitos de direitos. Quanto mais diversificados os pontos de vista

sobre o RP, tanto maior é seu potencial para tornar-se um instrumento de

políticas públicas que atendam às necessidades da população que vive em

situação de insegurança alimentar.

Levando em conta os problemas relacionados à fome aguda e à fome

oculta e as perspectivas de soluções apresentadas por vários cientistas e

segmentos sociais, o poder público precisa agir rápido (CASTRO, 1952). Di-

ante do crescente gasto com a saúde pública no país e no município, precisa

conceber e adotar alternativas de investimento em políticas de promoção

da alimentação adequada e acessível para todos, de qualidade e sem

agrotóxicos, em quantidade suficiente, para diminuir o custo na área da

saúde e aumentar a qualidade de vida de sua população. Isso passa hoje

pelo investimento no fomento à agricultura familiar e agroecológica e em

equipamentos públicos de SAN para superar os índices de miséria, ainda

considerados altos para os padrões internacionais.

Para se alcançar essa meta é necessário que a sociedade civil, através

dos diversos conselhos de políticas públicas e controle social, sobretudo no

COMSEA, ajude a apontar alternativas de solução mediante a proposição de

um modelo de desenvolvimento muito diferente do modelo vigente e que

promova a segurança alimentar e nutricional, com base nos princípios da so-

berania alimentar e do direito humano à alimentação adequada, agora con-

solidado como um direito constitucional (CONTI, 2009).

Com a implantação do RP, ainda espera-se a melhoria na organização

das políticas de SAN e a implantação de programas complementares na área.

Nessa construção. o COMSEA e os movimentos sociais no município terão um

papel fundamental, de serem propositores e fiscalizadores das políticas de

SAN. A expectativa, a longo prazo, com a realização do programa Restaurante

Popular na perspectiva apontada nesse trabalho é o estímulo à produção lo-

cal agroecológica, garantindo escoamento para o RP e assegurando o aumen-

to da produção agrícola e mais oferta de alimentos frescos e saudáveis, com-

batendo a monotonia alimentar e suas consequências para o organismo hu-

mano. Isso também contribuirá para a diminuição dos preços dos alimen-

tos à população do município e, em escala mais ampla, para a redução das

desigualdades sociais.

Referências

ABRANDH. Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos. Diretrizes Voluntárias

para o DHAA. Brasília, 2005.

RedeSAN

62

BRANDÃO, Clara Takaki; BRANDÃO, Rubens. Alternativas Alimentares. 3 ed. Goiânia:

Editora Redentorista, 1989.

CASTRO, Josué. Geopolítica da Fome. São Paulo: Editora da Casa do Estudante do

Brasil, 1952.

CONTI, Irio Luiz. Segurança Alimentar e Nutricional: noções básicas. Passo Fundo:

IFIBE, 2009.

DIÁRIO REGIONAL. CONSEA contesta valor de manutenção. Juiz de Fora, 24 mai. 2009.

JORNAL PANORAMA JF. Manifestação pelo Restaurante Popular. Juiz de Fora, 12 jul.

2009.

________. Restaurante Popular sai do papel. Juiz de Fora, 30 nov. 2007.

Tribuna de Minas. JF ganha disputa por restaurante popular. Juiz de Fora, 18 jun.

2005.

________. Restaurante Popular, pedra fundamental será lançada dia 31 de maio. Juiz

de Fora, 15 abr. 2006.

________. Restaurante Popular sai antes das eleições. Juiz de Fora, 30 nov. 2007.

________. COMSEA avalia obra do Restaurante Popular. Juiz de Fora, 12 abr. 2008.

________. Vereador critica suspensão de obras. Juiz de Fora, 20 mar. 2009.

________. Não esperem de mim nenhum efeito pirotécnico. Juiz de Fora, 12 abr. 2009.

________. Consea quer rediscutir projeto. Juiz de Fora, 25 abr. 2009.

________. Entidades se mobilizam e cobram Restaurante Popular. Juiz de Fora, 25

jun. 2009.

________. União negocia Restaurante Popular de JF. Juiz de Fora, 21 ago. 2009.

MACHADO, Marilene Bandeira. Logística nos Restaurantes Populares. Textos de sub-

sídio para o curso de formação de gestores de Restaurantes Populares. Módulo II,

REDESAN, 2009.

PIMENTA, Marcos Sales. Diagnóstico de Segurança e Insegurança Alimentar no Muni-

cípio de Juiz de Fora. Juiz de Fora: I COMSANS de Juiz de Fora, 2009.

CONTRIBUIÇÕES PARA O DEBATE SOBREA CONSTRUÇÃO DO SISTEMA NACIONAL

DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL:A EXPERIÊNCIA DE CONTAGEM - MG

Maria Aparecida Rodrigues de Miranda1

Rosana Cristina Avelar2

Debater a construção do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e

Nutricional (SISAN) é estimulante por ser um tema de grande complexidade.

Do ponto de vista histórico, este é, ainda, um debate jovem, forjado de rela-

ções sociais que remontam à formação da sociedade brasileira com suas com-

plexas estruturas produtoras de desigualdades, concentradora de renda e de

poder. O tema da fome e da segurança alimentar emerge no seio dessas con-

tradições e toma corpo de política pública muito recentemente, graças à grande

mobilização popular que se traduz no acúmulo sobre o marco legal, nos dife-

rentes entes federados e nas conquistas concretas, rumo a uma política naci-

onal vigorosa de segurança alimentar e nutricional. No entanto, no âmbito

dos municípios, ainda faltam referências vivenciadas e concretas.

Ao refletir sobre os outros sistemas de políticas públicas, tais como saú-

de, educação, assistência social, constata-se que existem marcos legais mais

completos. Esses são sistemas verticais e fechados, desde o nível nacional até

o equipamento no território, que facilitam a articulação entre os diferentes

entes federados. Além disso, são políticas mais consolidadas historicamente,

consensuadas pela sociedade como direitos. As políticas de saúde e educação

têm financiamento garantido por força de lei. Embora as políticas da assistên-

cia social não possuam percentual constitucional, seu financiamento é

concensuado e garantido por meio de instâncias tripartites, regulamentadas

pelo Sistema Unificado de Assistência Social (SUAS). A política de segurança

alimentar e nutricional sustentável (SANS)3, por sua própria especificidade e

construção histórica, está sendo construída como um sistema aberto e

intersetorial. Isso pode ser entendido como uma inovação, mas também como

uma desvantagem, sob o ponto de vista da ação concreta, pois, um sistema

concebido para ser aberto e intersetorial, mas que ao mesmo tempo rei-

1 Geógrafa, Coordenadora de Segurança Alimentar Nutricional e Abastecimento (CSANA), nagestão pública municipal de Contagem/MG, e membro do GT SISAN do CONSEA/MG.Aluna Gestora da RedeSAN. Email: [email protected]

2 Licenciada em Letras, Diretora de Promoção e Educação Alimentar Nutricional (CSANA), nagestão pública municipal de Contagem/MG, e membro do GT SISAN do CONSEA/MG.Aluna Gestora da RedeSAN. Email: [email protected]

3 O CONSEA/MG, desde sua fundação, acrescenta o termo �sustentável� ao conceito de SAN,de modo que a sigla é expressa como SANS. Essa denominação também foi contemplada nalei estadual que desde sua promulgação, em 2006, passou a chamar-se Lei Orgânica deSegurança Alimentar e Nutricional Sustentável (LOSANS). Atualmente, no interior do CONSEA/MG, utiliza-se tanto SAN quanto SANS, mas, no debate sobre a construção do SISAN, utiliza-se o termo SISAN e não SISANS.

RedeSAN

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vindica o status de política de Estado, revela certo grau de complexidade e

traz um novo conteúdo para o debate sobre a intersetorialidade. Ele

problematiza uma das principais dificuldades relacionadas ao alcance das

políticas públicas, ao tratar da criação das condições para resolver, de forma

estrutural, os problemas dos cidadãos.

O depoimento de uma moradora que acessa a um programa social, no

estado de São Paulo, ilustra bem a complexidade e o desafio da integração

das políticas públicas, na atualidade:

A minha casa enche de água. O nível da água chega a um metro e quinzecentímetros [...] não tenho como fazer benfeitorias na minha casa. Aminha filha de 3 anos tem bronco-pneumonia [...] minha casa é muitoúmida, quando os esgotos da rua entopem a minha casa faz infiltraçãoda água dos esgotos [...] Sou costureira, mas já não enxergo tão bempara dar produção em firmas [...] Quando consigo alguma diária, meusfilhos pequenos ficam nas ruas, tenho medo de irem parar no juizado[...] Meu marido também não consegue emprego, é sempre barradopelos antecedentes criminais [...] Nossa comida é pouca, às vezes te-mos que sair pedindo comida nas casas de vizinhos e parentes. Nemsempre conseguimos pra todo mundo (moradora de São Paulo apudSilva, 2009).

Tratar de um problema complexo como esse requer uma análise

intersetorial e a disposição dos diferentes setores de governo para atuarem

de forma integrada. Nesse caso descrito, identificam-se problemas relacio-

nados à moradia inadequada, ausência de rede de esgotos, saúde (deficiência

visual, bronco-pneumonia), educação (ausência de creche), desemprego, dis-

criminação, violência e fome. Para atuar de forma eficaz na solução desses

problemas, várias áreas deverão ser envolvidas, dentre elas: habitação, saú-

de, saneamento, assistência social, segurança alimentar, direitos humanos,

trabalho, segurança pública, educação, trabalho e renda.

1. Antecedentes do processo de construção do Sistema

Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (SIMSANS)

em Contagem - MG

O município de Contagem localiza-se na região metropolitana de Belo

Horizonte. Possui extensão territorial de 195 km² e uma população aproxima-

da de 625.000 habitantes, constituindo-se na terceira cidade mais populosa

do Estado (IBGE, 2007). É um município com destacada vocação industrial e

sua conformação conta com um grande número de pessoas que vieram de

diversas regiões mineiras, em busca de trabalho e melhores condições de

vida. O desenvolvimento ocorreu de forma desigual - como na maioria das

65

RedeSAN

grandes cidades - formando cenários distintos e contraditórios, com algu-

mas regiões mais dinâmicas, estruturadas e urbanizadas, enquanto outras

ficaram desprovidas de serviços de infraestrutura, transporte urbano, sa-

neamento e acesso ao trabalho. Isso resultou na formação de regiões ou

áreas, cujas famílias vivem com renda per capita muito baixa, com alto índi-

ce de desemprego, violência e fome.

O debate sobre a segurança alimentar e nutricional, no poder público

municipal, era ausente até o ano de 2005. Logo após a posse de um governo

democrático e popular, o tema entrou na agenda política, criando condições

para se desenvolver a experiência apresentada a seguir.

Partindo do diagnóstico de que o tema ainda é novo e não havia regis-

tro de experiências anteriores, tampouco orçamento destinado a qualquer

ação, buscou-se realizar movimentos complementares entre a procura de

estratégias internas na administração pública (municipal e federal) e a

mobilização da sociedade civil que, por sua vez, desenvolvia ações, mesmo

que de forma isolada, em prol da segurança alimentar da população.

No primeiro ano de governo (2005), foi nomeada uma equipe de profis-

sionais no âmbito da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, que se

encarregou de realizar um diagnóstico da situação, mapear possíveis aliados,

mobilizar a sociedade civil, pensar estratégias administrativas, negociar a in-

serção do tema nas peças orçamentárias e buscar recursos externos para dar

início às ações.

O primeiro passo foi reconhecer a potencialidade do tema da SANS jun-

to à sociedade civil e organizar o Conselho Municipal de Segurança Alimentar

e Nutricional. Num processo dinâmico e participativo, uma equipe composta

por representantes do poder público e da sociedade civil trabalhou durante

oito meses, resultando na criação e posse do Conselho Municipal de Seguran-

ça Alimentar e Nutricional (COMSAN) e do Fundo Municipal de Segurança

Alimentar e Nutricional (FUMSAN). Isso tornou possível a mobilização de ali-

ados dentro e fora do governo e o lançamento das bases para a construção

das diretrizes de planejamento das ações de segurança alimentar e nutricional

(SAN) e da estruturação de um órgão gestor próprio. Outra oportunidade foi

o apoio do governo federal que, por sua vez, estimulou os municípios, através

de editais públicos, a buscarem recursos junto ao Ministério do Desenvolvi-

mento Social e Combate à Fome (MDS) para estruturarem programas de SAN

em seus territórios.

A experiência do primeiro ano impulsionou o COMSAN e a equipe de

SANS no governo a ampliar o debate junto à sociedade, concretizar os instru-

mentos de gestão (órgão gestor e de financiamento) e formular eixos e

ações que viriam a compor a política municipal. Por meio de uma reforma

administrativa, foi criada a Coordenadoria de Segurança Alimentar

RedeSAN

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Nutricional e Abastecimento (CSANA), com organograma próprio e atribui-

ções bem definidas. Também foram criados programas orçamentários es-

pecíficos, vinculados à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e

ao FUMSAN. Foi realizada a I Conferência Municipal de Segurança Alimen-

tar Nutricional, com ampla participação da sociedade civil e de gestores

municipais, de onde emanaram as diretrizes para a estruturação dos pro-

gramas e ações da SANS. O planejamento estratégico foi um instrumento

fundamental para organizar as ideias, ainda dispersas, em planos de ação,

propiciando uma grande reflexão sobre os desafios e possibilidades de se

criar essa nova política, no município.

A gestão participativa e a formação em segurança alimentar e

nutricional são estratégias permanentes e fundamentais na construção da

política no município. Elas são colocadas em prática por meio do COMSAN,

dos conselhos gestores das cozinhas comunitárias, dos encontros bimestrais

dos beneficiários das Cozinhas Comunitárias, dos encontros mensais dos

agricultores(as) urbanos, da comissão local do Centro Municipal de Agricultu-

ra Urbana e Familiar (CMAUF), dos cursos de multiplicadores (manipuladores

de alimentos, agentes comunitários de saúde, agricultores urbanos), como

também através de oficinas, minicursos, palestras, seminários, encontros e

divulgação de materiais informativos. A força e a representatividade do

COMSAN estão na participação das instituições da rede de proteção social

que, além de beneficiárias das ações de SAN, são parceiras efetivas na cons-

trução e no controle social. Os conselhos gestores das Cozinhas Comunitárias

e a Comissão Local do CMAUF, formados por representantes governamentais

e da sociedade civil no nível local, os encontros bimestrais dos beneficiários

das Cozinhas Comunitárias e os encontros mensais dos agricultores/as urba-

nos cumprem o papel de controle social e de avaliação da qualidade e do

impacto das ações de SAN, na vida das famílias e das comunidades.

A inauguração dos equipamentos de SANS (Cozinhas Comunitárias, Ban-

co de Alimentos, Ponto da Roça, Centro Municipal de Agricultura Urbana e

Familiar4), a organização dos grupos e famílias da Agricultura Urbana e Fami-

liar, a implantação do Programa de Aquisição de Alimentos MDS/Município,

as ações de formação em educação alimentar nutricional e o estabelecimen-

to de espaços de gestão participativa foram efetivadas ao longo do tempo,

instalando-se um processo dinâmico e interrelacionado entre o debate, a sis-

tematização da política e a concretização das ações, numa relação dialética

entre o pensar e o fazer.

Ao longo de cinco anos foi poss­ível sistematizar uma política de SANS

em três planos, com ações, subações e metas, sustentados pelas estratégi-

4 O Centro Municipal de Agricultura Urbana e Familiar (CMAUF) foi o último equipamentopúblico de SAN, inaugurado em 28 de abril de 2010.

67

RedeSAN

as da gestão participativa e da intersetorialidade interna ao governo e ex-

terna, com outros órgãos do governo e da sociedade civil. Os planos são

estruturados a partir de três eixos: o eixo �promoção e educação alimentar

nutricional� articula o fornecimento de alimentação nutricionalmente ba-

lanceada por meio de duas Cozinhas Comunitárias, realiza ações de educa-

ção alimentar e nutricional, divulga materiais informativos sobre os temas

relativos à SANS e realiza o acompanhamento das famílias beneficiadas; o

eixo �abastecimento e complementação alimentar� articula as ações do

Banco de Alimentos (BA) - articulação e acompanhamento das instituições

da rede de proteção social, rede de doadores, apoio à rede metropolitana

de BA�s, arrecadação e distribuição gratuita de alimentos, apoio aos progra-

mas de produção e comercialização direta da agricultura familiar e do Plan-

tão Social, desenvolvido pela Assistência Social; o eixo �fomento à produ-

ção e comercialização de alimentos saudáveis� articula as ações da agricul-

tura urbana e familiar por meio do Centro Municipal de Agricultura Urbana

e Familiar - formação de multiplicadores e organização de grupos produti-

vos urbanos (comunitários em espaços públicos e privados), quintais e pe-

quenos espaços, assessoria técnica para os agricultores familiares e gestão

do PAA no município.

A política municipal de SANS está refletida nas peças orçamentárias

(PPA, LDO e LOA), sistematizada em três programas, com metas e orçamen-

to estabelecidos, anualmente. No âmbito do planejamento estratégico do

governo, a SAN se tornou um Programa Municipal de Segurança Alimentar

e Nutricional coordenado por uma Câmara Intersetorial de Políticas Sociais.

Essa Câmara é composta pelas Secretarias Municipais de Desenvolvimento

Social, Educação e Cultura, Saúde, Direito e Cidadania.

Os avanços na construção da política de SANS em Contagem têm rela-

ção direta com a metodologia fundada no planejamento, na gestão

participativa e na intersetorialidade. A percepção da importância dessa abor-

dagem intersetorial se deu logo no início dessa experiência, a partir da

constatação de que o tema era desconhecido no município e que as forças

em potencial se encontravam dispersas em diversos setores do governo e da

sociedade civil. Para dar conta desse desafio, foi necessário identificar parce-

rias dentro do governo, começando, imediatamente, por dentro da própria

secretaria.

Nesse sentido, buscou-se integrar as ações de SANS com a Assistência

Social e o Programa Bolsa Família por se tratar de políticas complementares.

De fato, as ações de SANS são voltadas prioritariamente para o mesmo públi-

co atendido pelos outros programas referidos. Exemplo disso são as Cozinhas

Comunitárias instaladas nas comunidades mais pobres, que beneficiam as

famílias mais vulneráveis e em situação de insegurança alimentar. Além

das Cozinhas, construiu-se uma relação de colaboração com os CRAS (Casas

RedeSAN

68

da Família), nos territórios. Nessa interação, são realizadas atividades peri-

ódicas de educação alimentar e de agricultura urbana voltadas para as ins-

tituições da rede de proteção social, grupos de famílias, idosos e jovens,

nas diversas regiões do município.

Na perspectiva de se avançar na intersetorialidade, outros setores do

governo foram envolvidos e mobilizados. Os setores da educação, saúde, meio

ambiente, habitação, limpeza urbana, coordenadorias especiais (Política para

Mulheres, Igualdade Racial, Projetos Especiais) e administrações regionais

foram identificados, imediatamente, como aliados estratégicos. Gestores e

técnicos desses setores são pautados e convidados a tomarem parte da cons-

trução da política municipal de SANS, por meio da participação nas conferên-

cias, seminários, cursos e conselhos gestores dos programas, além da partici-

pação efetiva desses setores no COMSAN.

Cabe destacar as áreas de saúde e da educação, sem as quais a SANS

não se efetivaria. No âmbito da educação, estão sendo desenvolvidas ações

conjuntas relacionadas à alimentação escolar, ao Projeto Educando com a

Horta Escolar (PEHE), agricultura urbana e educação alimentar e nutricional,

envolvendo a comunidade escolar. Além dessas ações concretas, está sendo

negociada a inserção do tema no currículo escolar. Uma ação concreta na

área da saúde foi a criação de um curso de formação em SANS, para agentes

comunitários de saúde, que alcançará um grupo de 200 participantes. Com

essa ação, pretende-se garantir que os agentes comunitários de saúde se tor-

nem multiplicadores de SANS, junto às famílias acompanhadas pelo PSF; en-

volver os gestores dos distritos sanitários na construção coletiva do temário e

da metodologia do curso, num primeiro momento e, a partir daí, formular

outras ações mais estratégicas, na perspectiva da intersetorialidade.

No entanto, ainda os resultados concretos nessas tentativas de

integração são lentos. A percepção é a de que a estrutura fragmentada e ver-

tical das políticas setoriais ainda prevalece na prática da maioria dos gestores,

sendo necessário forjar uma nova cultura, que ainda está em construção. Ali-

ada a essa cultura setorial fragmentada, programas nacionais como o PEHE e

até mesmo a alimentação escolar chegam ao município com uma estrutura

verticalizada e fechada (na concepção e no financiamento), o que dificulta a

construção de estratégias intersetoriais, no nível do município.

2. Institucionalização do Sistema Municipal de Segurança

Alimentar e Nutricional (SIMSANS) em Contagem - MG

A concretização do sistema de segurança alimentar e nutricional no

âmbito do município, sistematizado numa Lei, pode ser entendido como o

resultado de um processo de aprendizagem, por meio do qual foram des-

cobertas estratégias de sustentabilidade, que procuram envolver os agen-

69

RedeSAN

tes públicos e a sociedade civil, com o objetivo de garantir o enraizamento

da SANS, no município. O texto da Lei foi formatado coletivamente no mo-

mento em que todos os elementos que constituem um sistema estavam

consolidados: o COMSAN, o FUMSAN, a Conferência Municipal de SAN, o

órgão gestor (Coordenadoria de Segurança Alimentar Nutricional e Abaste-

cimento/Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social) e a Política (pro-

gramas, planos, ações, metas e financiamento). Eles formam a estrutura

política do Sistema Municipal de Segurança Alimentar Nutricional Susten-

tável (SIMSANS).

A Lei nº 4.276/2009, que institui o SIMSANS, está orientada pelos prin-

cípios e diretrizes da LOSAN, da LOSANS estadual e segue as diretrizes das

duas conferências realizadas no município em 2006 e 2009, respectivamente.

O principal objetivo do SIMSANS é integrar as ações de governo e da socieda-

de civil para garantir o direito humano à alimentação adequada a toda popu-

lação do município e fazer de Contagem uma cidade sem fome, mais justa e

saudável.

O sucesso dessa experiência está na capacidade dos atuais gestores fa-

zerem com que a SANS se torne política pública e imprescindível, no municí-

pio. Questões como a intersetorialidade, a continuidade e a elaboração de

uma política municipal integrada de SANS estão em pauta (no governo e na

sociedade civil) e alguns instrumentos estão previstos na Lei, como por exem-

plo, a criação de um Comitê Intersecretarias e as Microrredes Locais, seguin-

do os territórios dos CRAS.

Para se avançar na efetivação dessa política está se constituindo um

Grupo de Trabalho (GT), composto por representantes dos setores governa-

mentais e do COMSAN, no âmbito da Câmara Intersetorial de Políticas Soci-

ais, com o propósito de definir estratégias e um plano de ação para a elabora-

ção da Política Municipal de SANS, de forma integrada. Além disso, a prática

cotidiana da intersetorialidade é imprescindível, pois é a partir da vivência

das dificuldades e entraves que se aprende a buscar caminhos. Outro ele-

mento importante para a garantia da continuidade é a realização de concurso

público para servidores que possam ser capacitados e envolvidos com o tema.

A criação do SIMSANS em Contagem é, sem dúvida, uma conquista his-

tórica para o município, um reconhecimento público incontestável nos âmbi-

tos do Executivo e do Legislativo. Tornou-se, também, uma referência im-

portante para outros municípios que se encontram em processo de organi-

zação da SANS. As insuficiências e os acertos devem ser avaliados para que

outras experiências avancem. No entanto, precisa-se avançar na

institucionalização dessas políticas e no empoderamento ainda maior da

sociedade civil. Os programas e ações de SANS precisam ser regulamenta-

dos. A instância intersecretarias � Comitê intersetorial � precisa tomar cor-

RedeSAN

70

po e legitimidade, a organização das microrredes locais dinamizada e os

conselhos e comissões locais fortalecidos.

Considerações finais

Considerando que a SAN propõe um sistema aberto, essencialmente

intersetorial, com ações e metas pulverizadas em diferentes setores do go-

verno, quais serão as estratégias de concepção, planejamento, financiamen-

to e execução da política integrada de SAN? Qual ou quais serão os órgãos

componentes do sistema com a função de fomentar processos como faz hoje

o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome? Este Ministério

cumpre a função de indutor da política de SAN junto aos estados e municípi-

os, de forma diferenciada de outros ministérios que, sabidamente promo-

vem ações e políticas de segurança alimentar, mas ainda circunscritas aos li-

mites de um sistema fechado e vertical. Nesse sentido, a análise dos outros

sistemas de políticas públicas se constitui em referência importante para se

conceber a implantação de um sistema diferente, como o que se pretende

com a segurança alimentar e nutricional no país, nos estados e municípios.

Na experiência de Contagem, os mesmos elementos estão colocados. A

atual Política de SANS está localizada na Secretaria Municipal de Desenvolvi-

mento Social e não é simples ampliar a visão para compreendê-la de forma

integrada com outros setores do governo. No momento, o debate ocorre por

dentro da Câmara Intersetorial de Políticas Sociais e se aposta na capacidade

do GT SANS para desobstruir obstáculos e avançar no sentido da reformulação

da Política Municipal, de forma integrada. O Comitê Intersecretarias previsto

no SIMSANS ou outra estrutura similar deverá ser pautado e encaminhado

por esse GT, de modo que possa vir a cumprir uma função similar à da Câma-

ra Interministerial, no nível federal.

O processo percorrido mostra que no município são necessários instru-

mentos muito concretos para a efetivação da política como: um órgão gestor

próprio, regulamentado e vinculado a uma unidade gestora da administração

pública, um fundo próprio, programas, ações e metas previstas nas peças or-

çamentárias e financiamento garantido com recursos municipais. Esses ins-

trumentos são estratégicos para garantir a relevância da SANS junto às de-

mais políticas e ações governamentais. De modo geral, os recursos humanos

e financeiros da administração pública são sempre insuficientes para o aten-

dimento das demandas da população. Diante disso, é necessário e indis-

pensável que ocorra o reconhecimento legal e político dos temas e das

políticas sociais para que não sejam relegados a um segundo plano.

Apesar da complexidade na construção do SIMSANS, no município, e

do SISAN, em âmbito federal, pode-se afirmar que esse é um caminho sem

71

RedeSAN

volta e com perspectivas muito promissoras. As conquistas históricas são

imensuráveis: o direito humano à alimentação já está legitimado na Cons-

tituição Federal, boa parte do marco legal já está constituído, a política

nacional já está bastante sistematizada; avança-se, ainda, na concepção de

intersetorialidade e continua uma mobilização popular vigorosa. Isso sina-

liza que estão ocorrendo passos largos para que a SANS se torne, efetiva-

mente, uma política de Estado.

Referências

BRASIL. Lei Federal 11.346, de 15 de setembro de 2006. Lei Orgânica de Segurança

Alimentar e Nutricional.

CONSELHO NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL. CONSEA/MG.

Documento Base. Encontro Estadual de Conselheiros Municipais de Segurança Ali-

mentar e Nutricional de Minas Gerais, 2010.

EQUIPE CSANA. Cartilha Segurança Alimentar e Nutricional: Um direito de todos. Con-

tagem/MG, 2008.

IBGE. Perfil do Município de Contagem. Prefeitura Municipal de Contagem (SEPLAN/

DITEC), 2007.

LEI MUNICIPAL Nº. 4.276/2009. Cria o Sistema Municipal de Segurança Alimentar e

Nutricional Sustentável (SIMSANS), de Contagem/MG. In: Diário Oficial de Contagem.

ed. 2471, 2009, p. 05.

PREFEITURA MUNICIPAL DE CONTAGEM. Secretaria Municipal de Desenvolvimento

Social. Coordenadoria de Segurança Alimentar Nutricional e Abastecimento. Relató-

rio Final II Conferência Municipal de Segurança Alimentar Nutricional Sustentável:

Direito Humano à alimentação adequada. Contagem/MG, 2006.

PREFEITURA MUNICIPAL DE CONTAGEM/MG. Secretaria de Trabalho e Desenvolvi-

mento Social. Coordenadoria de Segurança Alimentar Nutricional e Abastecimento.

Relatório da 1ª Conferência Municipal de Segurança Alimentar Nutricional e Abaste-

cimento. Contagem/MG, 2006.

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Construção do Sistema e da Política Nacional de Segu-

rança Alimentar e Nutricional: a experiência brasileira. Brasília/DF, 2009.

São Paulo, citado por Enid R. A. Silva na Oficina Nacional Construindo o Sistema Naci-

onal de Segurança Alimentar e Nutricional, em Brasília � fevereiro/2009.

1 Especialista em Saúde Mental pela Universidade Estadual do Ceará, Mestranda emPlanejamento e Políticas Públicas pela mesma Universidade, Assistente Social e Gerente emSegurança Alimentar e Nutricional em Maracanaú - CE. Aluna Gestora da RedeSAN.E-mail: [email protected]

2 Especialista em Serviço Social pela Universidade de Brasília, Mestre em Políticas Públicas eSociedade pela Universidade Estadual do Ceará, Assistente Social da Diretoria de GestãoIntegrada de Maracanaú e Professora substituta da Universidade Estadual doCeará. Aluna Gestora da RedeSAN. E-mail: [email protected] 

SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ESISTEMA DE SEGURANÇA ALIMENTAR E

NUTRICIONAL: UMA INTEGRAÇÃO POSSÍVELElizângela Assunção Nunes1

Leiriane de Araújo Silva2

A construção de um sistema de proteção social configura-se como um

desafio ao país que possui uma dívida social histórica com os segmentos em-

pobrecidos, principalmente no que concerne à proteção social não-

contributiva. O enfrentamento desse desafio alcança expressão com a Cons-

tituição Federal de 1988 e a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), a partir

das quais se edifica um novo arcabouço legal e institucional que se materiali-

za de maneira mais expressiva com a elaboração da Política Nacional de As-

sistência Social (PNAS) e a Norma Operacional Básica (NOB), que estabele-

cem que a política de Assistência Social se organizará a partir do Sistema Úni-

co de Assistência Social (SUAS).

Segundo Sposati (2008, p. 06), proteger �supõe, antes de tudo, tomar a

defesa de algo, impedir sua destruição e sua alteração. Nesse sentido, a ideia

de proteção contém um caráter preservacionista � não da precariedade, mas

da vida -, supõe apoio, guarda, socorro e amparo. Esse sentido preservacionista

é que exige tanto as noções de segurança social como as de direitos sociais�.

Partindo do entendimento de que o enfrentamento do problema da

fome e da pobreza tem caráter multidimensional e intersetorial, que requer

articulação entre as políticas sociais, a experiência ora apresentada busca tra-

balhar a interface entre o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e o Sis-

tema de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), visando ampliar a prote-

ção social integral para as famílias em situação de vulnerabilidade e risco so-

cial, a fim de aliar desenvolvimento com justiça social.

O objetivo deste artigo é mostrar como o município de Maracanaú, no

Ceará, vem estruturando uma rede socioassistencial integrada e integradora

de serviços que fortalecem sua rede de proteção social. Mostra ações de se-

gurança alimentar e nutricional, assistência social, inclusão produtiva e trans-

ferência de renda, e como essas ações podem incidir de maneira positiva so-

bre situações de vulnerabilidade social, através da viabilização do acesso des-

sas famílias a uma alimentação adequada, de qualidade e em quantidade su-

ficiente, a um custo acessível.

73

RedeSAN

1. Desenvolvendo ações e integrando pessoas

Os desafios no município de Maracanaú não diferem dos desafios

nacionais, embora apresentem particularidades. O ponto de partida e o

percurso dessa prática iniciaram-se com a elaboração de um diagnóstico do

município, que possibilitou a identificação das vulnerabilidades e

potencialidades locais, acrescido de um �Diagnóstico territorializado por

Centro de Referência da Assistência Social � CRAS�, realizado a partir do

Cadastro Único para programas sociais, que proporcionou visualizar o perfil

socioeconômico dos titulares de direitos e orientou a organização dos ser-

viços, programas e projetos, no âmbito da assistência social.

Maracanaú possui 199.808 habitantes, dos quais, 150.684 estão ins-

critos no Cadastro Único. Isso corresponde a 75% da população do municí-

pio e mostra o grau acentuado de desigualdade existente, apesar de inte-

grar um dos principais pólos industriais do Ceará, com um número significa-

tivo de famílias com renda per capita de ½ salário mínimo.

A cobertura da transferência de renda3 no município abrange 20.905

famílias do Programa Bolsa Família (PBF) e 3.790 que recebem o Benefício de

Prestação Continuada (BPC), perfazendo um total de 24.695 famílias incluí-

das nos serviços, programas e projetos socioassistenciais.

Para responder a essa demanda, o município possui oito CRAS, um

CREAS, cinco Cozinhas Comunitárias, um Restaurante Popular, cinco Centros

de Convivência Social � Pólos ABC � e um Centro de Convivência do Idoso.

Articulados entre si, estes constituem a rede de proteção social não

contributiva de Maracanaú.

Para realizar a cobertura territorial de 24.695 famílias a gestão da Polí-

tica Municipal de Assistência Social busca estruturar um arranjo institucional

que transite entre a proteção e o desenvolvimento social, em vista da consti-

tuição de uma rede integrada de proteção e promoção social. Essa rede tem

os CRAS enquanto �portas de entrada� do SUAS. Eles identificam as

vulnerabilidades e potencialidades em seus territórios, através de diagnósti-

cos e da vigilância social, gerando as demandas que serão trabalhadas con-

juntamente pelos serviços do SUAS e do SISAN.

Desta forma, as demandas para os serviços e equipamentos da seguran-

ça alimentar e nutricional têm seu ponto de partida nos CRAS, caracterizando a

articulação entre SUAS e o SISAN em duas frentes. A primeira parte do cuidado

e da prevenção, por meio da rede socioassistencial. A segunda potencializa o

desenvolvimento, através da segurança alimentar e nutricional e da inclusão

produtiva, que se complementam na proteção integral da família.

3 Por cobertura da Assistência Social compreende-se todas as famílias beneficiadas pelosprogramas de transferência de renda no município.

RedeSAN

74

Diversas ações de combate à fome e de geração de renda perpassam

os equipamentos e os serviços da Secretaria de Assistência Social e Cidadania

de Maracanaú, por meio da capacitação de cidadãos para o mercado de tra-

balho e da economia solidária. Ao todo são 5.153 famílias atendidas4 pelos

oito CRAS e 37.306 famílias referenciadas5. Deste modo, os equipamentos,

serviços, programas e projetos da assistência social estão voltados,

prioritariamente, para os usuários acompanhados pelos CRAS e os CREAS,

numa metodologia de trabalho que se volta para o acompanhamento inte-

gral da família, ressignificando a rede pública de proteção socioassistencial.

Os Equipamentos Públicos de Alimentação e Nutrição são voltados,

prioritariamente, ao atendimento do público do Cadastro Único e dos progra-

mas de transferência de renda por entender-se que essas famílias vivem em

situação de risco maior, sob múltiplas vulnerabilidades, requerendo ações in-

tegradas pelo SUAS e o SISAN para a sua superação, dentre elas: o

empoderamento das pessoas para a sua autonomia, suas competências e

capacidades de autodesenvolvimento; o desenvolvimento de um trabalho

coletivo, mobilizador e agregador que produza mudanças nas condições de

vida dos sujeitos das ações socioassistenciais; a capacitação dos cidadãos para

o mercado de trabalho e o exercício da cidadania, fomentando a organização

de grupos produtivos solidários.

2. Integração Sistema Unificado de Assistência Social (SUAS) e

Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

(SISAN): resultados possíveis

A experiência de Maracanaú evidencia um conjunto de resultados

interessantes, entre os quais cabe mencionar: o atendimento integralizado

às famílias através de serviços, programas, projetos e benefícios; o acesso à

alimentação de qualidade a preço acessível e a redução de gastos com ali-

mentação no orçamento familiar; o estímulo à agricultura familiar

agroecológica, respeitando a cultura regional e local na produção e

comercialização de alimentos; a comercialização de produtos agrícolas de

acordo com os preços de mercado; o abastecimento dos equipamentos da

rede socioassistencial pelo Programa de Aquisição de Alimentos.

Entre os resultados quantitativos pode se destacar: 5.153 famílias acom-

panhadas pelos oito CRAS existentes no município; 40.000 famílias

referenciadas nos oito territórios de CRAS; 14.000 pessoas alimentadas por

4 Total geral de famílias atendidas durante o ano em solicitação de benefícios, atendimento àsfamílias do CadÚnico, atendimento individual, orientações e encaminhamentos.

5 As famílias referenciadas são aquelas inscritas no cadastro único de Maracanaú, configurando-se como famílias prioritárias para os serviços, programas, projetos e benefíciossocioassistenciais.

75

RedeSAN

mês no Restaurante Popular; 10.000 pessoas alimentadas por mês nas Cozi-

nhas Comunitárias; 190 toneladas de alimentos adquiridas da agricultura fa-

miliar pelo Programa de Aquisição de Alimentos para o abastecimento de 48

entidades socioassistenciais; 2.500 crianças e adolescentes e 120 idosos da

rede socioassistencial mudando seus hábitos alimentares; 10.000 pessoas

beneficiadas diretamente com o Programa de Aquisição de Alimentos.

A integração entre o SUAS e o SISAN evidencia alguns impactos positi-

vos que cabem ser mencionados: a descentralização territorializada dos ser-

viços ampliou a autonomia dos CRAS legitimando-os como �portas de entra-

da� do SUAS e do SISAN; a cultura de direito social que rompe com a visão

fragmentada, desarticulada e clientelista da assistência social; a utilização do

cadastro único como instrumento de planejamento de políticas e programas

sociais no município; em torno de 90% das famílias que frequentam o Res-

taurante Popular são avalizadas pelas unidades de atendimento CRAS e

CREAS; 100% dos integrantes das ações de inclusão socioprodutiva são cadas-

trados e/ou beneficiados pelo Programa Bolsa Família e o BPC; 50% dos gêne-

ros alimentícios do Restaurante Popular e das Cozinhas Comunitárias são

oriundos dos produtores familiares dos territórios de CRAS; 70% do público

atendido pelo Restaurante Popular realizam suas refeições com familiares

e/ou amigos, resgatando a cultura local do almoço em família e; otimização

do orçamento familiar reduzindo em 50% as despesas com alimentação.

Esses resultados foram possíveis mediante momentos de avaliação e

de monitoramento, entendidos como um processo sistemático de análise das

ações, características e resultados de políticas, programas ou projetos, a par-

tir de critérios definidos que ajudam a determinar a relevância, a qualidade, a

utilidade ou efetividade dessas ações, gerando recomendações para a sua

correção ou melhoria.

Para tanto, utilizou-se como principais instrumentos: pesquisa direta

realizada com os usuários do Restaurante Popular sobre a qualidade dos ser-

viços ofertados; pesquisa direta sobre impacto do serviço do Restaurante

Popular no orçamento familiar; instrumental de referência e contrarreferência

da rede socioassistencial; Plano Municipal de Assistência Social e do Sistema

Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional; Planejamento Estratégico

da Secretaria de Assistência Social e Cidadania e; Sistema de entrada e manu-

tenção de dados do Cadastro Único.

A importância da experiência ora apresentada consiste na integração

entre a assistência social, a segurança alimentar e nutricional e a transferên-

cia de renda, na perspectiva de articulação de ações que visem o atendimen-

to e acompanhamento das famílias na sua integralidade, rompendo com o

modelo fragmentado culturalmente presente nas políticas sociais da socie-

dade brasileira. Consiste, também, na afirmação do SUAS como uma políti-

ca de seguridade social que tem como princípio a equidade e a justiça social,

RedeSAN

76

pressupõe o reconhecimento dos direitos incluídos na Constituição Fede-

ral, rompendo com o atendimento calcado na lógica do benefício. Por últi-

mo, é preciso destacar a importância do SISAN para além da distribuição de

alimentação a preço acessível, mas alcança a dimensão do cuidado com as

pessoas, ao buscar integrá-las à rede socioassistencial.

A perspectiva de assegurar direitos de cidadania encontra alguns obs-

táculos na sociedade. Desta forma, identifica-se a dificuldade de trabalhar as

políticas numa perspectiva intersetorial e integral devido à cultura

assistencialista impregnada entre usuários, técnicos e gestores. A segurança

alimentar e nutricional e a assistência social historicamente foram muito vin-

culadas ao assistencialismo. E, pelo pouco conhecimento da população da

amplitude que envolve essas políticas, corre-se o risco das mesmas serem

reduzidas a ações pontuais e não se efetivarem como direitos sociais.

A integração entre o SUAS e o SISAN, em Maracanaú, é possível devido

à implementação de equipamentos públicos estatais que passam a compor a

rede de proteção social e a assegurar a primazia do Estado na condução da

política de assistência social e segurança alimentar e nutricional no municí-

pio. Nesse contexto, houve a descentralização dos serviços de proteção soci-

al, reafirmando o compromisso e a responsabilidade institucional entre os

entes federados na realização de políticas sociais que atendam o território e

as necessidades da população, consolidando e ampliando a rede de proteção

social e evitando práticas de ajudas parciais e fragmentadas, bem como a

superposição e o paralelismo de ações.

Essa experiência vislumbra contribuir para a criação de espaços públi-

cos nos quais os interesses coletivos sejam apresentados, discutidos, pactua-

dos e negociados, reforçando a existência de cidadãos ativos.

Considerações Finais

Pelo exposto, percebe-se uma ampliação da cobertura do sistema

municipal de proteção social não-contributivo em Maracanaú, que vem

estruturando-se em uma rede socioassistencial integrada e integradora de

serviços públicos, com vistas a enfrentar a questão social local com a respon-

sabilidade de proteger a sociedade e promover seu desenvolvimento social,

ou seja, a cidadania e a dignidade humana, materializando, assim, os direitos

conquistados e instituídos.

No processo histórico de implementação de políticas públicas sociais a arti-

culação entre SUAS e SISAN não se dá, contudo, sem contradições e conflitos. Os

obstáculos e desafios fazem parte desse processo que requer uma nova estru-

tura nas instituições públicas no que se refere à gestão do trabalho intersetorial.

O reconhecimento da intersetorialidade entre as diversas políticas públicas

ainda vem sendo um desafio a ser superado para evitar as ações isoladas, para-

77

RedeSAN

lelas, fragmentadas e residuais, vislumbrando à ampliação da cobertura à po-

pulação. Esses esforços institucionais apontam para a afirmação e consolidação

de políticas públicas no combate à pobreza e às desigualdades sociais.

Aliado a essa questão da intersetorialidade tem-se a necessidade de

desenvolver uma cultura do planejamento, monitoramento e avaliação no

âmbito das políticas de assistência social e segurança alimentar e nutricional.

Só assim se poderá consolidar a gestão territorializada da proteção social,

integrando benefícios e serviços e ainda regulando procedimentos e fluxos

entre ambas.

Outro desafio é romper com a cultura clientelista que persiste nos mais

diversos segmentos, sejam eles políticos, gestores, profissionais e usuários.

Esta é uma condição para se avançar rumo a um novo paradigma pautado

pela lógica do direito, que somente se conseguirá com a participação ativa da

sociedade civil nas decisões. Daí a importância do controle social no processo

de tomada de decisões sobre os rumos da política que, de acordo com Silva,

Jaccound e Beghin (2005), envolve três sentidos: maior participação social

promove maior transparência na visibilidade e nas deliberações das ações

tornando o sistema decisório mais democrático; a participação social permi-

te saber quais são as demandas sociais, provocando um aumento na promo-

ção da igualdade e equidade nas políticas públicas e; a sociedade, através de

movimentos e formas associativas, permeia as ações estatais de defesa e

ampliação de direitos, demanda ações e é capaz de executá-las no interesse

público. A participação da sociedade civil nos processos políticos precisa pau-

tar-se pela legitimação dos direitos sociais, ampliando a esfera pública e evi-

tando a desresponsabilização do Estado pelo provimento das necessidades

básicas da população.

Por fim, faz-se necessária a construção de um arcabouço legal que asse-

gure a continuidade da atual formatação da política de assistência social e de

segurança alimentar e nutricional em Maracanaú, uma vez que os direitos

precisam ser traduzidos e incorporados em lei.

Referências

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Avaliação de políticas e

programas do MDS: resultados em segurança alimentar e nutricional. Brasília: MDS,

SAGI, 2007.

BELIK, Walter, SILVA, José Graziano da e TAKAGI, Maya. Políticas de combate à fome

no Brasil. São Paulo Perspec., Dez 2001, vol.15, no.4, p.119-129.

BRASIL. Emenda Constitucional n. 64, de 04.02.2010. Alimentação como direito soci-

al. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 2010.

RedeSAN

78

P r o j e t o R e d e S A N

Rede Integrada de Segurança Alimentar e Nutricional

. O Projeto RedeSAN é a soma de pessoas, organizações

e entidades que têm em comum a luta

pela implantação e o fortalecimento

da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) no Brasil.. Dos que sabem que o alimento é um direito humano

e um referencial de vida �

contra a pobreza de qualquer natureza

e a exclusão social de qualquer origem.. Dos gestores que compreendem

que o desenvolvimento local e nacional

é aquele que cria e estimula cidadãos/cidadãs.

O Projeto RedeSAN proporciona

. A comunicação e a troca de informações

entre atores que atuam com SAN;. A formação de gestores e lideranças que atuam

na Rede de Equipamentos Públicos

de Alimentação e Nutrição

(Restaurantes Populares, Bancos de Alimentos e Cozinhas

Comunitárias) e com programas e ações de SAN

(Programa de Aquisição de Alimentos, Feiras, Agricultura

Urbana e Periurbana, Cisternas e SISAN) em todo país;. A formação de gestores e lideranças sociais

que atuam em programas e ações de acesso à água

e convivência com o semiárido brasileiro;. Espaços para interações, trocas de experiências

e de informações em SAN;. A articulação de processos sociais

e políticas públicas sociais;. A Interação entre gestores públicos de SAN e gestores de

diferentes áreas do MDS.

79

RedeSAN

O Projeto RedeSAN visa

. Promover orientação, monitoramento e avaliação

de resultados relativos ao desenvolvimento de ações

nos Equipamentos Públicos de Alimentação e Nutrição;. Formar gestores

para equipamentos e programas públicos de SAN;. Fortalecer a SAN nos municípios brasileiros

a partir da formação de uma rede de comunicação

e troca de informações;. Incentivar e apoiar

a implantação de políticas públicas de SAN

em âmbito nacional, estadual e municipal;. Produzir, coletar e divulgar materiais

(livros, apostilas, textos, vídeos, DVDs, entre outros)

de formação e informação aos que atuam

no campo da SAN, do Direito Humano à Alimentação

Adequada (DHAA),

da Soberania Alimentar e da efetivação do

Sistema Nacional

de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN).

.

Projeto RedeSAN - Rede Integrada de Segurança Alimentar e Nutricional

Viabilizado por Convênios firmados entre

a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande

do Sul (FAURGS) / Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(UFRGS) com o Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome (MDS).

Parcerias com outras entidades, como o Instituto Ambiental

Brasil Sustentável (IABS) e a Agência Espanhola de

Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID)

Rede Integrada de Segurança Alimentar e Nutricional - RedeSAN

Rua Miguel Teixeira, 86 � 2º Andar � CEP: 90050-250 � Porto Alegre � RS.Fones: (51)3288-6687 ou (51)9976-3219.End. Eletr.: [email protected]

Plataforma / Portal: www.redesan.ufrgs.br

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ISBN

857727329-6