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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE BIOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA REGULAÇÃO DA RESPIRAÇÃO E DA EFICIÊNCIA DO CRESCIMENTO BACTERIANO EM LAGOAS COSTEIRAS TROPICAIS VINICIUS SCOFIELD SIQUEIRA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ecologia Rio de Janeiro Dezembro de 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE BIOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA

REGULAÇÃO DA RESPIRAÇÃO E DA

EFICIÊNCIA DO CRESCIMENTO BACTERIANO

EM LAGOAS COSTEIRAS TROPICAIS

VINICIUS SCOFIELD SIQUEIRA

Dissertação apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em

Ecologia da Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção

do grau de Mestre em Ecologia

Rio de Janeiro

Dezembro de 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE BIOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA

REGULAÇÃO DA RESPIRAÇÃO E DA

EFICIÊNCIA DO CRESCIMENTO BACTERIANO

EM LAGOAS COSTEIRAS TROPICAIS

VINICIUS SCOFIELD SIQUEIRA

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Ecologia da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do grau de

Mestre em Ecologia

_______________________________________

Prof. Dr. Vinicius Fortes Farjalla

_______________________________________

Prof. Dr. Fábio Roland

_______________________________________

Prof. Dr. Paulo Abreu

Rio de Janeiro

Dezembro de 2011

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SCOFIELD, VINICIUS

Regulação da respiração e da eficiência do crescimento bacteriano em

lagoas costeiras tropicais [Rio de Janeiro]

2011

44 pp. 29,7 cm (Instituto de Biologia/UFRJ, M.Sc., Ecologia, 2011)

Dissertação - Universidade Federal do Rio de Janeiro, PPGE

1. Metabolismo Bacteriano, 2. Eficiência de crescimento,

3. Ciclo do carbono, 4. Lagoas costeiras

I. IB/UFRJ II. Título (série)

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“Sit down before fact as a little child, be prepared to give up every

preconceived notion, follow humbly wherever and to whatever

abysses nature leads, or you shall learn nothing”

Thomas Huxley

"Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo

simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo

simplesmente porque está escrito (...). Não acredite em algo só porque seus

professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só

porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e

observação, se você vê que algo concorda com a razão, (...) aceite-o e viva-o".

Buda

"Pequenos peixes cantam e dançam, nadam espertamente ao sabor

das ondas que vêm e vão. Quem no entanto é capaz de saber o que

se passa nas recônditas profundezas desse mar sem fim?”

Musashi

Quanto respira uma bactéria

se não houver ninguém medindo?

Koan Zen, adaptado

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Agradecimentos

Certa vez, ao ser aclamado quanto às suas descobertas, Sir Isaac Newton respondeu: “Se vi

mais longe foi por estar sobre ombros de gigantes”. Referia-se aos cientistas que vieram antes, cada

qual contribuindo com pequenas peças que o ajudaram a montar o grande quadro das leis da

natureza. Nenhum homem, nem mesmo Newton, seria capaz de chegar aonde chegou sem a

colaboração, mesmo que indireta, de inúmeras pessoas. Da mesma forma sei que, se cheguei aqui –

ainda que este trabalho não represente nem uma fração das conquistas do físico, é claro –, foi

devido aos incontáveis gigantes que encontrei pelo caminho. A eles, a minha gratidão.

Agradeço inicialmente a meus pais, Kleide e Paulo, pois sem sua ajuda fundamental, quem

sabe onde eu estaria hoje? Não só por manterem desde sempre um ambiente sadio para meu

crescimento, mas por terem acreditado na importância do desenvolvimento intelectual, sempre me

estimulando a aprender e proporcionando tudo o que fosse necessário para o meu progresso, mesmo

que a custa de sacrifícios pessoais. Agradeço especialmente à minha mãe pelo infinito carinho nos

últimos anos.

Ainda no âmbito familiar, agradeço a meu tio e padrinho, Armando, por todo o apoio, tanto

material quanto intelectual. Se pude ter acesso a variadas oportunidades e recursos, devo muito à

sua colaboração. Da mesma forma agradeço à minha madrinha, tios, avós e primos, pela ajuda e

companhia.

Agradeço profundamente ao prof. Vinicius Farjalla, meu orientador nos últimos 5 anos.

Durante esse tempo a relação passou a ser não só de orientador-orientado, mas também de amizade.

Sempre pude contar com seu apoio, orientação e confiança. Nos meus primeiros momentos no

laboratório, difíceis, mais de uma vez pensei em seguir um caminho diferente. Se não o fiz, e aqui

me encontro hoje, foi devido a ele, sempre propondo novos e estimulantes desafios e ajudando a

solucionar os mais intricados problemas. Um grande abraço, Vinicius!

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Não poderia deixar de agradecer também ao prof. Francisco Esteves, coordenador do

Laboratório de Limnologia, pela oportunidade concedida. Seu trabalho incessante nas últimas

décadas possibilitou que tivéssemos toda a estrutura necessária para desenvolver nossos trabalhos,

seja no Rio seja em Macaé. Agradeço também ao prof. Reinaldo Bozelli, pelas orientações e

oportunidades concedidas e aos profs. João Leal e Marcos Paulo, por todo o auxílio prestado.

Agradeço ao prof. André Megali, da UFRN, que, apesar da distância, foi muito importante no

esclarecimento de várias dúvidas sobre meu tema de trabalho, resultados e discussões. Agradeço

também aos professores Fernando Fernandez e Antônio Solé, pelas conversas nos idos de 2009, que

talvez eles nem lembrem mais, mas que foram importantes naquele momento de dúvidas

profissionais.

Meu mestrado consistiu em um experimento grande, e muito trabalhoso. Sem o apoio

inestimável de Aliny e Rachel eu com certeza teria me perdido em meio às centenas de frascos,

planilhas e análises. Muito obrigado. Mais do que ajudantes, são duas grandes amigas. Aliny tem

sido importante no meu amadurecimento profissional, discutindo resultados, revisando textos,

compartilhando novas conquistas e dividindo grandes idéias. Rachel, que nos últimos anos foi uma

boa amiga, recentemente tornou-se muito mais. Namorada, companheira carinhosa, tem divido

comigo muitos momentos felizes. Um grande beijo.

Agradeço também ao Saulo, com quem dividi o experimento e com quem dividi longas

horas de bancada e de redação, compartilhando dúvidas, explicando estatísticas incompreensíveis,

indicando sempre ótima literatura e ajudando a resolver vários problemas. Thais Laque, Fabrício e

João Marcelo também foram fundamentais na execução do experimento, participando das análises

de laboratório ou das coletas de campo.

Nicholas Marino é, antes de tudo, um grande amigo. Sempre fiel, presente em momentos

muito importantes, compartilhando alegrias e dando todo o apoio quando necessário. Além disso,

colega de trabalho, desde as primeiras disciplinas da graduação. Um cientista de futuro brilhante,

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analista crítico, colaborou inúmeras vezes em sugestão de literatura, discussão de resultados,

revisão de textos, além de longas horas de discussão sobre alunos, gestão do laboratório e etc.

O Laboratório de Limnologia é uma grande equipe. Impossível tocar qualquer trabalho sem

contar com a colaboração do grupo. Agradeço a Jabour, Albert, Fred, Aliny, Fernanda, Ellen,

Paloma e Lúcia, alunos de doutorado ou pós-doutorado, fundamentais na revisão de textos e na

solução de dúvidas diversas. Agradeço também aos colegas de mestrado, em especial ao Daniel, e

também à Viviane Dib, Letícia, Monalisa, Renata, Lucy, Clarice e Maycon. Ao Pedro “Má Fêi”

Barbosa por fazer parte do glorioso grupo do carbono. Ao João Henriques “Minhoca”, do INPA,

por também fazer parte do grupo e estar junto conosco em novos projetos. Aos alunos de graduação,

Alice, Renan, Antonella, Juliana, Rayanne, Elder, Joseph, Carolina Rude, Gabriel, Daniela, Marisa,

Nathália, Roberta Guarany, Mariana Cristina, e mesmo aos mais novos, como Camila Puga e

Arthur, pela colaboração quando foi necessário, porque é impossível cuidar sozinho de cada detalhe

de nossos trabalhos. Agradeço também ao Mário, pela grande colaboração nas análises em geral, ao

Cláudio, pela ajuda e esclarecimentos muito importantes, e ao Andresson, Rose, Sandra e Tia Célia,

por ajudar a manter o laboratório funcionando bem.

Agradeço aos membros da banca, prof. Paulo Abreu e prof. Fabio Roland, pelo interesse e

disponibilidade. Tivemos que fazer malabarismo para conseguir conciliar a agenda de todos e

marcar uma data, mas os dois sempre estiveram muito dispostos a colaborar com o trabalho. O prof.

Fabio desdobrou-se no calendário e nas seguidas vezes em que precisei mudar a data da defesa ele

sempre confirmou sua participação. E o prof. Paulo, mesmo tendo que viajar centenas de

quilômetros e alterar sua rotina profissional, manteve sua disposição em participar da banca.

Agradeço também aos membros suplentes, prof. Alexandre Rosado e profa. Ana Petry, pela

disponibilidade.

Agradeço aos membros da pré-banca, pela revisão preliminar deste texto. A profa. Ana Petry

agiu de forma impecável, entregando uma revisão detalhada, levantando várias imprecisões que eu

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não havia percebido e dando sugestões valiosas, que foram quase totalmente incorporadas nesta

versão. Muito obrigado. Agradeço também ao prof. Rodolfo Paranhos, pela revisão minuciosa.

Agradeço à Márcia e Suely, secretárias do PPGE, por toda a ajuda prestada nestes dois anos.

Agradeço também aos coordenadores do programa, prof. Marcus Vinicius e prof. Eduardo

Arcoverde, pelo auxílio e solução de diversas questões ao longo do mestrado.

E por fim, agradeço a você, leitor, pelo interesse no meu trabalho. Boa leitura!

Vinicius Scofield

Outubro de 2011

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Resumo

Ecossistemas aquáticos são elementos-chave no ciclo global do carbono e a comunidade

bacterioplanctônica possui um papel fundamental neste ambientes, seja através da remineralização

de nutrientes, seja como fonte de matéria orgânica para níveis tróficos superiores. Pouco se sabe

sobre a regulação de seu metabolismo – principalmente a respiração bacteriana -, e são escassos os

estudos em ambientes tropicais. Este trabalho buscou analisar, através de um experimento

trifatorial, a regulação da respiração (RB) e da eficiência de crescimento bacteriano (ECB) em 5

lagoas costeiras do norte fluminense, analisando a influência de 3 variáveis ambientais, cada uma

com diferentes tratamentos: gradiente de carbono orgânico dissolvido (COD), temperatura da água

e concentração de nutrientes (nitrogênio e fósforo). De forma geral, observou-se um aumento na RB

ao longo de todos os gradientes, sendo maior em tratamentos com maiores temperatura e

concentração de nutrientes ou COD. A ECB foi menor em tratamentos com maior aporte de matéria

ou energia, e os fatores que mais influenciaram a eficiência foram a temperatura e os nutrientes. A

concentração de COD, somente, influencia pouco os processos analisados, e a qualidade do carbono

orgânico parece ser um fator mais importante na regulação dos mesmos. O aumento da temperatura

de incubação potencializa os efeitos causados pela adição de nutrientes. Em um futuro cenário de

alterações ambientais no qual os ecossistemas aquáticos têm recebido crescente aporte de energia e

matéria orgânica, espera-se uma redução geral na eficiência de crescimento das comunidades

bacterianas, com conseqüências para toda a teia trófica. Futuros estudos sobre este tema devem dar

enfoque à importância de outros fatores ambientais na regulação do metabolismo microbiano.

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Abstract

Aquatic ecosystems are key elements in the global carbon cycle and bacterioplankton

community has an important role in this environments, either through the remineralization of

nutrients or as a source of organic matter to higher trophic levels. Little is known about the

regulation of bacterial metabolism - especially bacterial respiration - and there are few studies in

tropical environments. This study aimed to analyze, through a three-factorial experiment, the

regulation of bacterial respiration (BR) and bacterial growth efficiency (BGE) in five coastal

lagoons of northern Rio de Janeiro, analyzing the influence of three environmental variables, each

with different treatments: gradients of dissolved organic carbon (DOC), water temperature and

concentration of nutrients (phosphorous and nitrogen). Overall, there was an increase in BR through

all gradients, being higher in treatments with higher temperature and concentration of nutrients or

DOC. BGE was reduced in treatments with higher inputs of matter or energy, and the factors

affecting the efficiency were temperature and nutrients. The concentration of DOC influenced only

slightly the processes analyzed, and the quality of organic carbon seems to be a more important

factor in their regulation. The increase of the incubation temperature enhances the effects caused by

the addition of nutrients. In a scenario of environmental changes, where aquatic ecosystems have

been receiving increasing inputs of energy and organic matter, we expect a general reduction in

growth efficiency of bacterial communities, with consequences for the whole trophic web. Future

studies on this topic should focus on the importance of other environmental factors in the regulation

of microbial metabolism.

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Sumário

1. Introdução............................................................................................................................1

2. Hipóteses..............................................................................................................................9

3. Objetivos..............................................................................................................................9

4. Métodos..............................................................................................................................10

4.1. Área de Estudo e Coleta.......................................................................................10

4.2. Desenho experimental..........................................................................................11

4.3. Preparo das Amostras...........................................................................................13

4.4. Respiração Bacteriana..........................................................................................13

4.5. Produção Bacteriana e Eficiência de Crescimento Bacteriano............................14

4.6. Caracterização Ambiental....................................................................................15

4.7. Análises Estatísticas.............................................................................................15

5. Resultados..........................................................................................................................17

5.1. Respiração Bacteriana.........................................................................................17

5.2. Eficiência de Crescimento Bacteriano................................................................23

6. Discussão............................................................................................................................26

6.1. Respiração Bacteriana.........................................................................................26

6.2. Eficiência de Crescimento Bacteriano................................................................33

7. Conclusão...........................................................................................................................37

8. Referências Bibliográficas.................................................................................................38

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1. Introdução

Nas últimas décadas tem-se percebido cada vez mais os efeitos das mudanças climáticas

globais. Segundo o IPCC (2007), a concentração de gás carbônico na atmosfera aumentou de 280

para 393 ppm desde a revolução industrial, resultando na intensificação do efeito estufa. São

esperados, entre outros efeitos, aumento da temperatura atmosférica média do planeta e alterações

no ciclo de chuvas, ocasionando secas em algumas regiões do globo e inundações em outras. Uma

vez que o dióxido de carbono (CO2) possui papel importante neste processo, a comunidade

científica tem dedicado esforços em compreender o ciclo global do carbono, identificando as fontes

deste gás para a atmosfera.

O carbono está presente no globo em diferentes moléculas, como carbonatos e bicarbonatos,

metano e CO2. O ciclo biológico deste último gás inicia-se quando o CO2 atmosférico é capturado

por plantas e outros organismos autótrofos, através da produção primária, sendo convertido a

glicídios e outros compostos (Raven et al, 2007). Estas moléculas orgânicas serão, remineralizadas

por microorganismos, gerando novamente gás carbônico e outros produtos (Esteves, 1998a). Uma

parte significativa da fixação deste gás é realizada por vegetais terrestres, além de algas e plantas

aquáticas. O material produzido nos biomas terrestres, quando se torna detrito, é erodido por

diversos agentes, sendo carreado para partes mais baixas do relevo, até atingir rios e lagos. Este

material junta-se a detritos de macrófitas e de fitoplâncton produzidos nos corpos d’água. O

carbono orgânico particulado é processado por meios físicos, químicos e biológicos até chegar à

forma de carbono orgânico dissolvido (COD), que representa um dos principais estoques de

carbono nos ecossistemas aquáticos. Grande parte da remineralização da matéria orgânica ocorre

em ambientes aquáticos, o que os torna componentes-chave no ciclo global do carbono. Quando o

CO2, produto desta decomposição, satura a coluna d’água, o gás é exportado para a atmosfera. Isto

acontece em grande escala, uma vez que a maior parte dos lagos é heterotrófica, emitindo mais

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carbono do que seqüestra (del Giorgio et al., 1997). Na floresta Amazônica, por exemplo, o

equivalente a 90% do carbono incorporado pela vegetação é emitido de volta para a atmosfera

através dos ambientes aquáticos (Richey et al., 2002).

Dentre os processos de remineralização biológica de moléculas orgânicas, a mais expressiva

é a respiração aeróbica. Este é um processo utilizado por diversas espécies para obtenção de energia

para manutenção celular, através da degradação de moléculas orgânicas em compostos mais simples

e utilizando o oxigênio como aceptor final de elétrons (King, 2005). Uma vez que a respiração

aeróbica é amplamente utilizada em diferentes táxons, possui importância ecossistêmica na

produção de CO2. Estima-se que a respiração planctônica em todos os lagos do mundo é

responsável pela emissão anual de 62 a 76 Tmol de carbono, excedendo todo o carbono que é

fixado nesses mesmos ambientes (Pace & Prairie, 2005). Outra conseqüência da remineralização da

matéria orgânica é a liberação de diversos compostos para o meio, como nutrientes inorgânicos, que

estavam retidos nas moléculas de detritos.

Microrganismos são peças-chave no funcionamento dos ciclos biogeoquímicos aquáticos

(Cotner and Biddanda, 2002). Dentre estes organismos, as bactérias planctônicas assumem papel

preponderante no consumo óxico de carbono orgânico dissolvido e na produção de CO2 (Jonsson et

al., 2001). Neste sentido, bactérias heterotróficas planctônicas podem ser os maiores contribuidores

na respiração total da maior parte dos ecossistemas aquáticos e a respiração bacteriana (RB) pode

compreender mais de 66% da respiração planctônica total em lagos (Biddanda and Cotner, 2002) e

por até 60% de toda a mineralização de COD em lagos temperados (Jonsson et al., 2001). Portanto,

para a compreensão das vias de transferência do carbono em ecossistemas aquáticos continentais, é

fundamental a avaliação do papel da comunidade das bactérias planctônicas. Além da respiração, a

produção secundária bacteriana é de grande importância nos ambientes aquáticos continentais

(Azam & Malfatti, 2007). A partir da década de 80, houve uma maior compreensão sobre o papel

desta produção na teia trófica, tendo sido observado uma via de transferência de energia que se

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origina nos detritos, passa pelas bactérias heterotróficas até atingir os níveis tróficos superiores – a

alça microbiana (Azam et al., 1983). Sendo assim, as bactérias são importantes não só no ciclo de

nutrientes nos ambientes aquáticos, mas também no fluxo de energia.

No entanto, o papel do metabolismo microbiano nestes processos não foi reconhecido

durante muito tempo (Karlsson, 2007; Fenchel et al, 1998). Durante a primeira metade do século

XX a visão predominante na comunidade científica não considerava microorganismos como

quantitativamente importantes em ecossistemas aquáticos. Isto foi resultado direto das limitações

metodológicas da época, que levaram a grandes subestimativas nos cálculos de biomassa bacteriana

(Williams & del Giorgio, 2005). A partir do surgimento e utilização de métodos mais adequados,

como a microscopia de epifluorescência (Hobbie et al, 1977), as estimativas de biomassa passaram

a ser ordens de grandeza maiores, e passou-se a enfatizar o estudo da ecologia bacteriana (Williams

& del Giorgio, 2005). Métodos para a análise da produção secundária foram aprimorados, e o

método de incorporação de 3H-Leucina, publicado em 1985 por Kirchman, K'nees e Hudson, ainda

hoje é amplamente utilizado. Estes novos métodos permitiram que houvesse uma mudança de

paradigma, reconhecendo o importante papel desempenhado por estes microorganismos nos

processos ecossistêmicos (Williams e del Giorgio, 2005). As estimativas de respiração bacteriana,

no entanto, somente muitos anos mais tarde receberam a precisão e escala necessárias.

Segundo Roland et al (1999), até o final do século passado a maior parte dos pesquisadores

analisava o consumo de oxigênio através do método de Winkler (1888). Este método, embora

preciso, demanda muito tempo para incubação e análise, o que torna inviável a adoção de grande

número de réplicas. Além disso, por se tratar de um método colorimétrico, ambientes com água

turva ou cor escura oferecem restrições à análise (Roland et al., 1999). Diversos métodos foram

criados para mensurar a respiração bacteriana, seja através do consumo de COD (Carlson and

Ducklow, 1996), pelo consumo de oxigênio (Pomeroy et al, 1994) ou ainda pela produção de CO2

(Bjornsen, 1986). No entanto, todos estes métodos possuem limitações, principalmente no que diz

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respeito à necessidade de longos períodos de incubação. Atualmente as estimativas de respiração

têm sido realizadas através de microeletrodos oxigênio, que permitem leituras contínuas, com

tempos curtos de incubação e alta precisão (Briand et al., 2004).

Uma vez que os avanços metodológicos tornaram possíveis análises mais abrangentes, a

respiração bacteriana passou a ser objeto de diversos estudos (Berggren et al., 2010; Bonilla-Findji

et al., 2008; Carlson et al., 1999; del Giorgio et al., 2011; Tsiganova et al., 2007). No entanto, a

grande maioria dos trabalhos se concentra em ambientes temperados, destacando-se lagos e

estuários. Em ambientes tropicais os dados de respiração bacteriana são escassos, e encontram-se

apenas raros trabalhos sobre o tema no Brasil. As primeiras informações sobre este processo no país

foram publicadas por Roland e Vidal (2001), em um artigo que avaliou as taxas de respiração em

um lago amazônico. Porém este foi apenas um esforço inicial na tentativa de compreender a

magnitude e a regulação da respiração bacteriana nos ambientes aquáticos tropicais, deixando uma

grande lacuna sobre os demais ecossistemas. Os estudos realizados em outras regiões do planeta

indicaram alguns fatores importantes na regulação da respiração bacteriana, como a composição do

estoque de COD, a temperatura da água e a concentração de nutrientes (Apple et al, 2006; Biddanda

et al., 2001; Hall and Cotner, 2007)

A fração denominada COD é formada por um grupo de compostos quimicamente

diferenciados, como proteínas, carboidrato e compostos húmicos (Esteves, 1998a). Este último

grupo se destaca, uma vez que representa mais de 50% do COD de ambientes aquáticos continentais

(Thomas, 1997), podendo chegar a mais de 90% em lagoas costeiras do norte fluminense (Suhett et

al., 2004). A composição do COD é diferente de acordo com o material de origem. Plantas

vasculares são ricas em moléculas complexas, como celulose, ligninas e tanino (Raven et al, 2007).

Entre as plantas de origem terrestre e as macrófitas, estas últimas, por necessitarem de menos

estruturas de sustentação, tendem a ter menor proporção de moléculas desta natureza. Em algumas

espécies de macrófitas, foram encontrados teores de mais de 30% de proteínas e carboidratos

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(Farjalla et al., 2009b), compostos de mais fácil decomposição por microorganismos. A

morfometria da lagoa também pode afetar a natureza do COD encontrado em suas águas. Alta razão

perímetro / volume, por exemplo, como acontece em lagoas dendríticas, resulta em maior área de

entrada de material alóctone. A presença de bancos de macrófitas aumenta a contribuição deste

material na produção de detritos, e lagoas com águas claras permitem maior incidência de luz na

coluna d’água, o que possibilita maiores taxas de produção fitoplanctônica.

A respiração bacteriana possui, de forma geral, relação direta com a concentração de COD

na coluna d’água (Pace & Prairie, 2005). No entanto, deve-se observar que aspectos qualitativos do

COD, muitas vezes difíceis de definir, também são relevantes para o metabolismo bacteriano. Uma

ampla revisão (del Giorgio and Cole, 1998) comparou o uso de COD de diversas origens pelas

bactérias: matéria orgânica excretada pelo fitoplâncton, detritos de fitoplâncton, macroalgas, fezes

animais e vegetação vascular. O consumo mais intenso foi observado sobre os compostos

excretados pelo fitoplâncton, indicando a maior biodisponibilidade deste material. A razão

estequiométrica dos detritos também é importante, uma vez que os mesmos atuam como fonte de

nutrientes para os microorganismos. A concentração de fósforo e nitrogênio na água estimula o

metabolismo microbiano, seja aumentando a produção secundária (Farjalla et al., 2002a), seja

intensificando a respiração bacteriana (Hall and Cotner, 2007).

A temperatura é capaz de alterar a permeabilidade da membrana celular, o pode afetar a

capacidade do organismo de obter moléculas orgânicas do meio (Hall et al, 2010). Além disso,

também afeta a solubilidade de oxigênio na água (García & Gordon, 1992). Estudos desenvolvidos

em um estuário localizado na zona temperada revelaram um efeito positivo do aumento da

temperatura sobre a respiração bacteriana, enquanto a eficiência de crescimento apresentou padrão

oposto, reduzindo-se em temperaturas mais altas (Apple et al, 2006). Mesmo sob condições

experimentais, o padrão encontrado para a RB é corroborado (Hall and Cotner, 2007). No entanto,

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os estudos concentram-se em ambientes onde a água raramente ultrapassa os 20°C, e isso pode

levar a uma subestimativa do efeito de temperaturas mais altas sobre a respiração bacteriana.

Embora seja reconhecido que múltiplos fatores são capazes de limitar o metabolismo

bacteriano, há uma tendência a estudar o efeito de apenas um fator limitante por vez, dada a

dificuldade de lidar com duas ou mais variáveis simultaneamente em comunidades naturais

(Pomeroy and Wiebe, 2001). Hall e Cotner (2007) mostraram o efeito interativo da temperatura

com concentrações de nutrientes inorgânicos sobre a respiração bacteriana, embora não tenham

avaliado a influência de nitrogênio e fósforo separadamente. A interação entre concentrações de

substrato e temperatura também foi evidenciada (Pomeroy and Wiebe, 2001), embora não tenha

sido feita uma análise quantitativa da disponibilidade de substrato. Há uma grande lacuna na

compreensão de como diversos fatores atuam em conjunto na regulação da respiração bacteriana, e

é importante que os efeitos sejam analisados de forma independente e interativa, quantificando a

disponibilidade de COD e nutrientes. Em um cenário de mudanças ambientais cada vez mais

abrangentes é fundamental compreender o efeito que alterações simultâneas em diversas

características do meio podem causar sobre o metabolismo bacteriano.

São esperadas grandes alterações ambientais ao redor do globo causadas pela atual crise

climática (IPCC, 2007). Destacam-se o aumento da temperatura média atmosférica e conseqüentes

mudanças nos regimes pluviométricos (Sahoo et al, 2011). Para o sudeste do Brasil são previstos

um pequeno aumento da temperatura, além de aumento na intensidade das precipitações associado à

redução de sua freqüência (Marengo et al, 2010). Em lagos, pode resultar em aquecimento da

coluna d’água, além de uma intensificação no aporte de COD e de nutrientes. Para algumas lagoas,

o regime pluviométrico é o principal fator regulador da concentração de COD na água (Suhett et al.,

2004), já que a as chuvas são responsáveis por erodir e carrear detritos terrestres para o corpo

d’água, seja através de escorrimento superficial, seja através de percolação através do solo,

atingindo o lençol freático. Uma vez que este regime seja alterado, através de chuvas menos

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freqüentes e mais intensas, é possível que este aporte de matéria orgânica seja mais pontual e

significativo, resultando em picos de alta concentração de COD seguidos por períodos onde a fração

mais lábil tenha sido rapidamente consumida.

Uma boa forma de analisar simultaneamente o efeito de vários fatores – como aumento de

temperatura e altas concentrações de COD, por exemplo – sobre o metabolismo microbiano é

através de abordagens experimentais. Microcosmos têm sido utilizados nas áreas de limnologia e

microbiologia, devido a vantagens como a facilidade de replicação, controle preciso das variáveis

ambientais e possibilidade de manipular os parâmetros de interesse (Fraser & Keddy, 1997). Esta

abordagem evita problemas encontrados nos experimentos de escala ecossistêmica, como a pequena

quantidade de réplicas, a quantidade de tempo necessária para observação de efeitos e a

impossibilidade de estudar padrões complexos (Srivastava, 2004). Além disso, há grandes

dificuldades para simular determinados cenários, como um eventual aumento de temperatura da

água de um lago que seria causado pelas mudanças climáticas. Uma maneira de reduzir as

limitações dos experimentos em microcosmos é torná-los mais semelhantes aos ambientes naturais

(Srivastava et al, 2004) e isto é possível quando os ecossistemas estudados apresentam naturalmente

os tratamentos utilizados.

Nesse sentido, as lagoas costeiras do Norte Fluminense possuem características importantes

para estudo através da abordagem experimental. Apesar da proximidade geográfica, apresentam

diferenças físico-químicas significativas (Petrucio, 1998). Nelas se encontra, por exemplo, um

gradiente forte de COD, com concentrações que variam de 1,5 a mais de 150 mg/L (Farjalla et al,

2002b; Suhett et al, 2004). São encontradas também diferenças de pH, concentração de nutrientes e

de clorofila. Estas características podem ser exploradas na elaboração de um desenho experimental,

permitindo a exposição das comunidades bacterianas a condições muito díspares, ainda que

presentes naturalmente nestes ecossistemas. Além disso, uma vez que sejam encontrados padrões

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consistentes em diferentes ambientes aquáticos, têm-se resultados com elevado poder de

generalização.

Além disso, deve ser ressaltada a importância ecológica e antrópica das lagoas costeiras.

Estes corpos d’água ocupam cerca de 13% da costa mundial, e constituem um dos ecossistemas

aquáticos mais produtivos, comparados em termos de produção primária a áreas de ressurgência e

superiores às regiões costeiras e oceânicas (Knoppers, 1994). Devido à localização litorânea, muitas

lagoas costeiras estão hoje cercadas por grandes cidades, sofrendo impactos diversos, como

assoreamento, eutrofização e abertura de canais artificiais. Estas alterações, que podem atingir toda

a bacia de drenagem de determinadas lagoas, são capazes de afetar a dinâmica hídrica destes

ambientes, influenciando também o aporte e disponibilização de COD e nutrientes. É fundamental

que se possa compreender os efeitos que estes impactos podem causar nas comunidades

bacterioplanctônicas, com conseqüências para produção de CO2 e biomassa na coluna d’água.

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2. Hipóteses

2.1. - Os valores de respiração bacteriana são diferentes entre todas as lagoas analisadas,

sendo o padrão influenciado fortemente pela concentração de carbono orgânico dissolvido (COD)

em suas águas;

2.2 - O aumento da temperatura altera significativamente as taxas de respiração, havendo

uma relação positiva com este processo;

2.3 - A adição de nutrientes e carbono orgânico aumenta de forma significativa a respiração

bacteriana processo estudado, principalmente nas amostras de lagoas que possuem menores

concentrações destes compostos;

2.4 - A interação entre os diferentes fatores manipulados produz efeitos significativos sobre

a respiração e a eficiência de crescimento bacterianos;

3. Objetivos

Este trabalho tem como objetivo principal compreender como diferentes fatores ambientais

– concentração de carbono orgânico dissolvido (COD), temperatura e concentração de nutrientes da

água – influenciam, de forma independente e interativa, a respiração e a eficiência de crescimento

da comunidade bacterioplanctônica em lagoas costeiras tropicais.

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4. Métodos

4.1. Área de Estudo e Coleta

O Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba localiza-se no norte do Estado do Rio de

Janeiro. Estando no bioma Mata Atlântica, apresenta formações vegetais variadas, sendo

encontradas desde áreas abertas dominadas por plantas rasteiras até locais de mata fechada. O clima

é tropical quente e úmido, com temperatura média anual de 26,6°C e pluviosidade média anual de

1500 mm (Esteves, 1998b). As chuvas concentram-se nos meses de verão, entre novembro e março.

Dentro dos limites do parque são encontradas 18 lagoas costeiras, que, apesar da proximidade

geográfica, apresentam alta variação em suas características morfológicas e físico-químicas. Um

dos gradientes mais fortes é o de carbono orgânico dissolvido, sendo encontrados valores de 10 a

120 mg.L, nas lagoas Cabiúnas e Atoleiro, respectivamente. Da mesma forma são encontradas

diferenças na profundidade, profundidade do disco de Secchi e coloração da água (tabela 1).

A vegetação de restinga representa uma importante fonte de matéria orgânica para estes

ecossistemas. Uma vez que o solo é arenoso, grande parte do material vegetal decomposto é

carreada pela água das chuvas através do substrato, chegando aos corpos d’água. Este fenômeno

ocorre principalmente no início da estação das chuvas, quando há um acúmulo de material vegetal

decomposto nos meses de seca. Da mesma forma, as macrófitas também representam um aporte

significativo. São encontradas diversas espécies nas lagoas estudadas, algumas – como a Typha

domingensis – com elevada produção de biomassa. Este material de origem externa ao corpo d’água

– ou alóctone – pode representar a maior parte do COD encontrado nestas lagoas (Marinho et al.

2010). Este padrão é ainda mais intenso nos ambientes de água escura, onde é baixa a incidência de

luz na coluna d’água e conseqüentemente a produção primária autóctone é reduzida.

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Tabela 1: Variáveis ambientais das lagoas analisadas. Os valores são apresentados através de médias

correspondentes ao período de outubro de 2008 a outubro de 2010. Entre parênteses são apresentados os

valores mínimos e máximos do período.

Lagoa Profundidade

(m) Secchi (m) COD (mg/L) Cor (430nm)

Temperatura

da Água (º C)

Cabiúnas 3,59

(1,9 – 5,8)

1,18

(0,2 - 2,3)

12,0

(7,72 – 20,35)

0,63

(0,38 – 0,81)

25,68

(20,8 – 31,3)

Carapebus 0,85

(0,5 – 1,0)

0,77

(0,3 - 1)

18,27

(14,36 – 24,8)

0,64

(0,59 – 0,72)

25,83

(21,6 – 30,4)

Comprida 2,45

(0,9 – 4,0)

0,28

(0,2 - 0,4)

46,72

(31,89 – 57,23)

0,88

(0,61 – 0,99)

25,30

(20,4 – 29,5)

Amarra-Boi 0,64

(0,3 – 1,0)

0,2

(0,1 – 0,4)

86,0

(55,65 – 125,7)

1,08

(0,73 – 1,22)

25,66

(19,6 – 30,2)

Atoleiro 0,58

(0,3 – 1,0)

0,15

(0,1 – 0,3)

117,06

(83,17 – 160,5)

1,25

(0,6 – 1,48)

23,61

(19,4 – 27,6)

Para este estudo, foram selecionadas 5 lagoas costeiras: Carapebus, Cabiúnas, Comprida,

Amarra-Boi e Atoleiro. O principal critério na seleção destes ambientes foi a concentração de COD,

uma vez que este é um dos principais fatores reguladores do metabolismo bacteriano (del Giorgio &

Cole, 1998). As características físico-químicas destes ambientes estão relacionadas na tabela 1. A

coleta foi realizada em setembro de 2009, no ponto central de cada lagoa. As amostras foram

retiradas a 20 cm de profundidade, evitando a região superficial, onde a luz solar pode afetar tanto a

comunidade bacteriana, degradando material celular, quanto o COD, através de fotodegradação.

Foram utilizadas garrafas de polietileno previamente lavadas e enxaguadas com HCl 10%. O

material foi transportado para o laboratório e processado após no máximo 6 horas.

4.2. Desenho experimental

Foi realizado um experimento trifatorial, com 3 a 5 tratamentos para cada um dos seguintes

fatores: lagoa, adição de nutrientes, temperatura de incubação (fig. 1). No fator lagoa, os

tratamentos foram: Cabiúnas, Carapebus, Comprida, Amarra-Boi e Atoleiro. A adição de nutrientes

variou entre: controle (B), onde não houve adição de nenhum composto; nitrogênio (N), onde foi

adicionado NH4NO3 à concentração final de 50 µM; Fósforo (P), onde se adicionou KH2PO4 à

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concentração final de 5 µM; Carbono (C), adicionando 500 µM de Glicose e Nitrogênio + Fósforo

(NP), com adição simultânea de ambos os nutrientes (NH4NO3 e KH2PO4, em concentrações finais

de 50 e 5 µM, respectivamente). As temperaturas de incubação utilizadas foram 25, 30 e 35°C. A

interação entre todos os tratamentos gerou um total de 75 combinações únicas entre os fatores. Para

cada uma destas combinações, foram utilizadas 6 repetições, divididas em 3 blocos de 2 repetiçõess

cada. Os blocos foram preparados com 3 dias de intervalo e utilizando novas amostras de água.

Fig. 1: Desenho do experimento tri-fatorial, onde são manipulados a lagoa (em 5 níveis), adição de nutrientes

(5 níveis) e temperatura (3 níveis). Cada combinação de tratamentos possui 6 réplicas. N: adição de

nitrogênio; P: adição de fósforo; NP: adição de nitrogênio e fósforo; C: adição de carbono; B: controle sem

nenhuma adição.

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4.3. Preparo das Amostras

No laboratório, as amostras de água foram submetidas à análise de pH, alcalinidade, cor

(430 nm), concentração de COD e de clorofila-α, de acordo com metodologia descrita na seção

“Análises gerais”. O material destinado à incubação foi filtrado com auxílio de bomba a vácuo, em

filtro de fibra de vidro GF-3 (Macherey-Nigel), com tamanho médio dos poros próximo a 1,0 µm,

capaz de reter organismos bacterívoros e manter na amostra 95% das bactérias originalmente

presentes (Biddanda et al., 2001). 20ml da água filtrada foram acondicionados em frascos de vidro

de mesmo volume, previamente lavados, enxaguados com HCl 10% e autoclavados. Nos

tratamentos apropriados foram adicionadas soluções com glicose, nitrogênio e/ou fósforo. Mediu-se

a concentração de oxigênio dissolvido em cada um dos frascos, e os mesmos foram fechados

hermeticamente, sem ar no interior, e colocados em câmaras de incubação na temperatura adequada.

A incubação foi realizada por 48 h, no escuro, tanto para evitar a produção de oxigênio por

fotossíntese, quanto para evitar processos dependentes de luz que consomem oxigênio, como por

exemplo, a fotooxidação e reação de Mehler (Pace & Prairie, 2005). Após o período de 48 h, as

amostras foram retiradas das câmaras e uma nova medida da concentração de oxigênio foi

realizada, a fim de estimar seu consumo através da respiração bacteriana.

4.4. Respiração Bacteriana

A respiração bacteriana foi estimada a partir do consumo de oxigênio no período das

incubações. Foi realizada uma medida no momento inicial, quando os frascos eram fechados e

colocados nas câmaras, e no momento final, após 48 h de incubação. A concentração de oxigênio

foi medida através de um micro-eletrodo (OX-N, Unisense) acoplado a um picoamperímetro

(PA2000, Unisense). A metodologia, segundo Briand et al (2004), consiste na sensibilização, pelo

oxigênio, de um micro-eletrodo de ouro que ao se oxidar emite impulsos elétricos registrado pelo

pico-amperímetro e computador. O eletrodo é calibrado com soluções saturadas e completamente

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livres de oxigênio (100 e 0 % de saturação). A solução saturada foi preparada através da oxigenação

da água de cada lagoa com auxílio de uma pequena bomba de ar e um difusor. Optou-se por utilizar

a água da lagoa ao invés de água destilada uma vez que diferenças na salinidade e concentração de

outras substâncias podem influenciar a solubilidade de oxigênio na água. A solução livre de

oxigênio é preparada com NaOH 0,1 M saturada com ácido ascórbico. Os microeletrodos são

construídos com um catodo-guarda, o que resulta em um consumo muito reduzido de oxigênio

pelos sensores (4,7 a 47 × 10-7

mmol O2 h-1

). Os eletrodos possuem um tempo de resposta menor

que 1 s e precisão de 0,1 µM (Briand, 2004). Os valores foram obtidos em µmol O2 L-1

, e

posteriormente convertidos para µmol C L-1

h-1

, considerando um quociente respiratório de 1.

4.5. Produção Bacteriana e Eficiência de Crescimento Bacteriano

Esta dissertação tem como foco o processo de respiração bacteriana e a eficiência de

crescimento bacteriano. No entanto, para o cálculo da ECB, são necessárias estimativas da produção

secundária bacteriana. Este experimento foi realizado em conjunto com outro trabalho, destinado a

medir a produção bacteriana, seguindo o mesmo desenho experimental. O presente trabalho utiliza

de forma secundária estes dados, unicamente para calcular a ECB. A metodologia para análise da

PB é descrita abaixo.

A produção bacteriana foi medida através do método de incorporação de 3H-Leucina. Após

o término da incubação de 48 h, transferiu-se 1,2 mL de cada amostra para tubos eppendorf,

previamente preparados com 3H-Leucina em concentração final de 20 nM. Após o preparo da

amostra, os tubos foram incubados no escuro por 45 minutos para incorporação da leucina na

biomassa bacteriana. Ao término do período, a reação foi paralisada com a adição de TCA 100%.

Foram feitos controles negativos com amostras aleatórias de cada lagoa, onde o TCA 100% foi

adicionado antes das amostras. Após a incubação, a leucina incorporada foi analisada através do

método de extração por TCA (Kirchman, K'nees & Hudson, 1985) modificado. Este método

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consiste em lavagens seqüenciais das amostras com água Milli-Q e etanol 80%. O material restante

foi fixado em 1 mL de coquetel de cintilação (Ecolite(+)TM Liquid Scintillation Fluid), e as

amostras foram lidas um Sistema de Cintilação Líquida Beckam LS-6500. Para cálculo da produção

bacteriana, assume-se o fator de diluição intracelular da leucina igual a 2, e uma razão intracelular

de carbono/proteína igual a 0,86, segundo Wetzel & Likens (1991).

Uma vez tendo as taxas de respiração e produção secundária bacterianas, a ECB é calculada

pela seguinte fórmula: ECB = PB / (RB+PB) (del Giorgio & Cole, 1998). O valor é dado sem

unidade, e representa o quanto do aporte de carbono está sendo destinado à produção de biomassa.

4.6. Caracterização ambiental

Para caracterização do ecossistema, foram medidos pH, clorofila-α, coloração da água e

concentração de COD. O pH foi analisado através de um potenciômetro. A análise de clorofila-α é

composta de extração com etanol 90% quente e posterior leitura em espectrofotômetro, a 665 e 750

nm (Golterman et al, 1978). A coloração da água é determinada após leitura em espectrofotômetro a

430 nm. As concentrações de carbono dissolvido são medidas em um analisador de carbono (TOC-

5000, Shimadzu). O carbono total dissolvido na amostra é oxidado a CO2 em alta temperatura, com

um catalisador de platina, e detectado com um sensor de infravermelho. O carbono inorgânico

dissolvido (CID) é acidificado, com transformação em CO2, e detectado com um sensor de

infravermelho. Através da diferença entre os valores de carbono total dissolvido e CID, encontra-se

a concentração de carbono orgânico dissolvido.

4.7. Análises Estatísticas

Os efeitos independentes e interativos dos tratamentos foram avaliados através de análises

de variância tri-fatoriais (Three-Way ANOVA). Respiração bacteriana e BGE foram consideradas

variáveis dependentes, enquanto os fatores lagoa, nutrientes e temperatura foram considerados

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fatores categóricos principais. Os blocos também foram considerados fatores categóricos, a fim de

testar seu possível efeito. Foram utilizadas análises de contrastes do modelo da ANOVA para

distinguir diferenças significativas entre os tratamentos dentro de cada um dos fatores (lagoa,

nutrientes, temperatura). Os testes foram realizados no pacote estatístico R (R version 2.12.0, The R

Foundation for Statistical Computing), considerando α = 0,05. Os gráficos foram produzidos no

SigmaPlot 11.0.

As funções utilizadas no pacote R foram as seguintes:

Para a Three-Way ANOVA: anova(lme (Respiration ~ (Lake * Nutrient *

Temperature)))

Análises de contrastes: anova(lme (Respiration ~ Lake + Block + Contrast1 +

Nutrient + Temperature + Contrast1:Temperature + Nutrient:Temperature))

Em análises posteriores, calculou-se o tamanho do efeito (effect size) dos tratamentos. No

fator “nutrientes”, o effect size foi calculado para cada tratamento em relação ao controle (B), e para

o fator “temperatura”, calculou-se o efeito das incubações a 30 e 35°C em relação às incubações

realizadas a 25°C. O effect size foi calculado a partir da subtração simples das amostras de cada

tratamento. Este cálculo é recomendado, em detrimento de análises padronizadas, quando os dados

são medidos em unidades absolutas. Os effect sizes de cada tratamento foram comparados com

testes-T ou ANOVAS simples, dependendo do número de tratamentos. Estas análises foram

realizadas no Graphpad Prism 5.0, considerando α = 0,05, e os gráficos produzidos no mesmo

programa.

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5. Resultados

5.1. Respiração Bacteriana

Através da Three-Way ANOVA foi analisada a influência global de cada fator – isolado e em

interação – sobre a respiração bacteriana. Quase todos os fatores testados mostraram efeito

significativo (p< 0,05) na regulação do processo (tabela 2). No entanto, há diferenças entre a

magnitude da regulação de cada fator, o que pode ser inferido pelos valores das médias quadráticas.

Os fatores individuais que mais influenciaram a respiração bacteriana foram os nutrientes e a

temperatura de incubação. Os fatores lagoas e a interação entre nutrientes e lagoas exerceram

efeitos menores, e o efeito dos blocos foi baixo. O valor da média quadrática dos resíduos é bastante

reduzido, inferior ao de quase todos os fatores analisados.

Tabela 2: Resultado da ANOVA tri-fatorial mostrando os efeitos independentes e interativos dos fatores

manipulados sobre a respiração bacteriana. gl = graus de liberdade; MQ = média dos quadrados.

gl MQ F p

Nutrientes 4 53,613 138,2 < 0,001

Lagoas 4 11,731 30,25 < 0,001

Temperatura 2 22,645 58,40 < 0,001

Bloco 2 3,239 8,676 < 0,001

Nutrientes x Lagoas 16 10,277 26,50 < 0,001

Nutrientes x Temperatura 8 1,366 3,523 < 0,001

Lagoas x Temperatura 8 1,176 3,031 < 0,01

Nutrientes x Lagoas x Temperatura 32 0,304 0,784 0,795

Resíduos 373 0,373

Analisando a influência de cada fator sobre a respiração bacteriana através da ANOVA tri-

fatorial, podem-se observar padrões distintos para temperatura, nutrientes e lagoas. Os valores de

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respiração bacteriana não apresentaram padrão compatível com o gradiente de COD das lagoas

(Fig. 2), refutando a hipótese 2.1. Na Carapebus foram encontradas as maiores taxas de respiração,

havendo valores intermediários nas lagoas Cabiúnas e Atoleiro. Comprida e Amarra-boi

apresentaram os valores mais baixos, não havendo diferença significativa entre as duas. Dentre os

tratamentos de nutrientes, as amostras com adição de carbono foram as que apresentaram as mais

altas taxas de respiração bacteriana (Fig. 3). Onde foram adicionados nitrogênio e fósforo em

conjunto, as taxas foram pouco menores, mas também altas. A adição de nitrogênio resultou em

valores baixos de respiração, e nos tratamentos com fósforo foram encontrados valores semelhantes

aos do controle. Já entre as diferentes temperaturas de incubação, há uma tendência de aumento no

processo estudado em temperaturas mais altas (Fig. 4). Quando consideradas todas as amostras em

conjunto, os valores mais baixos foram encontrados nos tratamentos de 25°C, com valores

intermediários em 30°C e as mais altas taxas nas incubações de 35°C. O aumento da respiração ao

longo dos gradientes de adição de nutrientes e temperatura era um resultado esperado, corroborando

as hipóteses 2.2 e 2.3.

Figura 2: Taxas de respiração bacteriana nas cinco lagoas analisadas (n=90 em cada lagoa). São apresentadas

as médias e intervalo de confiança (95%). Letras diferentes indicam médias significativamente diferentes,

com p < 0,05.

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Figura 3: Taxas de respiração bacteriana nos cinco tratamentos de adição de nutrientes (n=90 em cada

tratamento). São apresentadas as médias e intervalo de confiança (95%). Letras diferentes indicam médias

significativamente diferentes, com p < 0,05.

Figura 4: Taxas de respiração bacteriana nas três temperaturas de incubação (n=150 em cada temperatura).

São apresentadas as médias e intervalo de confiança (95%). Letras diferentes indicam médias

significativamente diferentes, com p < 0,05.

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Na figura 5 são mostrados os effect sizes da temperatura sobre os tratamentos de nutrientes.

Em geral, o aumento da temperatura de incubação potencializa o efeito causado pelos nutrientes no

incremento das taxas de respiração. Em todos os tratamentos, há diferença significativa entre os

efeitos encontrados a 30 e a 35°C. No entanto, este aumento ocorreu de forma diferente de acordo

com os nutrientes adicionados. No controle e em P o efeito aumenta de forma linear em ambas as

temperaturas. Já para N, há grande diferença entre ambos os tratamentos. Em NP e C ocorre ao

contrário, havendo para ambas as temperaturas effect-sizes elevados.

Figura 5: Effect-size do aumento da temperatura sobre a respiração bacteriana, para cada tratamento de

adição de nutrientes. São mostradas médias e intervalos de confiança (95%).

A adição de nutrientes afetou a respiração bacteriana de forma específica para cada lagoa

(Fig. 6), como esperado pela hipótese 2.4. Cabiúnas e Carapebus apresentaram padrão similar, onde

o efeito da adição de N e P foi baixo, enquanto os tratamentos de NP promoveram elevadas taxas de

respiração e as adições de glicose resultaram em taxas intermediárias. Na lagoa Comprida, foi

encontrado um efeito similar, com taxas elevadas, para os tratamentos NP e C, enquanto as adições

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de N e P não surtiram efeito sobre o processo analisado. Já na Amarra-Boi e Atoleiro, novamente

são encontrados padrões similares. Nestas lagoas, somente a adição de carbono lábil produziu efeito

sobre a respiração bacteriana. Em todos os demais tratamentos o effect size é similar e reduzido.

Figura 6: Effect-size da adição de nutrientes sobre a respiração bacteriana em cada lagoa. Para cada

tratamento é mostrado o aumento/diminuição em relação ao tratamento controle. Barras e linhas representam

médias e intervalo de confiança (95%), respectivamente. Letras diferentes representam valores

significativamente diferentes (p < 0,05)

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A influência da temperatura sobre a respiração do bacterioplâncton também mostrou padrões

distintos nas lagoas (Fig. 7). Somente em três delas – Atoleiro, Cabiúnas e Carapebus – o aumento

da respiração é significativamente maior em 35 do que em 30°C. Nas outras duas, ambas as

temperaturas se equivalem, embora ainda haja diferença entre estas e a temperatura controle, de

25°C. Cabiúnas e Carapebus apresentaram um incremento elevado na temperatura mais alta.

Figura 7: Effect-size do aumento da temperatura sobre a respiração bacteriana, em cada lagoa. Para cada

temperatura é mostrado o aumento/diminuição em relação às incubações realizadas a 25°C. Barras e linhas

representam médias e intervalo de confiança (95%), respectivamente. Asteriscos indicam lagoas onde houve

diferença significativa entre os effect-sizes de 30 e 35°C. Cab = Cabiúnas; Carap = Carapebus; Comp =

Comprida; Atol = Atoleiro; Aboi = Amarra-Boi. Os valores no eixo x representam temperaturas de

incubação, 30 ou 35°C

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5.2. Eficiência de Crescimento Bacteriano

Analisou-se a influência de todos os fatores – isolados e em interação – sobre a eficiência de

crescimento bacteriano (Tabela 3). Foram encontrados efeitos significativos (p<0,05) para a maior

parte das variáveis analisadas. Todos os fatores isolados são significativos, havendo maior efeito

das lagoas, com temperatura e nutrientes em seguida. Os blocos não influenciaram a ECB, assim

como a interação entre todos os fatores e entre tratamento e temperatura. Novamente, os resíduos

mostraram um valor baixo de média dos quadrados, reforçando o elevado efeito das variáveis

estudadas sobre a eficiência de crescimento bacteriano.

Tabela 3: Resultado da ANOVA tri-fatorial mostrando os efeitos independentes e interativos dos fatores

manipulados sobre a eficiência de crescimento bacteriano. gl = graus de liberdade; MQ = média dos

quadrados.

df MQ F p

Nutrientes 4 0,53732 13,72 < 0,001

Lagoas 4 1,21321 30,99 < 0,001

Temperatura 2 0,82273 21,02 < 0,001

Bloco 2 0,14018 3,581 0,029

Nutrientes x Lagoas 16 0,11224 2,867 < 0,001

Nutrientes x Temperatura 8 0,02373 0,606 0,773

Lagoas x Temperatura 8 0,12499 3,193 < 0,01

Nutrientes x Lagoas x Temperatura 32 0,03128 0,799 0,776

Resíduos 373 0,03914

Analisando o efeito individual de cada fator sobre a ECB, através da ANOVA tri-fatorial,

pode-se notar padrões semelhantes a todos eles. De forma geral, a eficiência de crescimento

bacteriano cai ao longo de todos os gradientes analisados – COD (lagoas), temperatura e nutrientes.

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No fator “lagoas”, Cabiúnas e Atoleiro representam dois extremos, havendo valores bastante

reduzidos nesta última, enquanto a primeira apresenta os mais elevados resultados (Fig. 8). Valores

de ECB intermediários foram encontrados na Carapebus, Comprida e Amarra-boi, não havendo

diferença significativa entre elas. Em relação às adições de nutrientes, houve redução no ECB

quando foram adicionados glicose (C) e nitrogênio + fósforo (NP) (Fig. 9). Não há diferença

significativa entre estes tratamentos. Adições isoladas de nitrogênio ou fósforo não influenciaram o

ECB, e os valores encontrados não diferem significativamente do controle. Também ao longo do

gradiente de temperatura a eficiência de crescimento bacteriano diminuiu, com diferença

significativa entre todos os tratamentos (Fig. 10).

Figura 8: Eficiência de crescimento bacteriano nas cinco lagoas analisadas (n=90 em cada lagoa). São

apresentadas as médias e intervalo de confiança (95%). Letras diferentes indicam médias significativamente

diferentes, com p < 0,05.

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Figura 9: Eficiência de crescimento bacteriano nos cinco tratamentos de adição de nutrientes (n=90 em cada

tratamento). São apresentadas as médias e intervalo de confiança (95%). Letras diferentes indicam médias

significativamente diferentes, com p < 0,05.

Figura 10: Eficiência de crescimento bacteriano nas três temperaturas de incubação (n=150 em cada

temperatura). São apresentadas as médias e intervalo de confiança (95%). Letras diferentes indicam médias

significativamente diferentes, com p < 0,05.

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6. Discussão

Quando as condições ambientais mudam, esperam-se alterações metabólicas nos

organismos. Temperatura, nutrientes e carbono orgânico dissolvido são fatores importantes na

regulação da respiração bacteriana. No entanto, estes fatores atuam em conjunto com outras

variáveis ambientais, produzindo diferentes padrões de regulação do metabolismo. Foi observado

grande efeito dos nutrientes sobre a respiração bacteriana, e de que forma este efeito está

relacionado com cada lagoa analisada. Da mesma forma, notou-se que a temperatura também altera

o efeito da adição de nutrientes sobre a respiração. Em relação à eficiência de crescimento

bacteriano, foi observada uma tendência geral de redução, quando são adicionados matéria ou

energia ao meio. Considera-se que, nestes casos, os custos de manutenção das células bacterianas

crescem devido à aclimatação necessária às novas condições, o que aumenta a uso de material

através da respiração, enquanto reduz ou mantém o uso de matéria orgânica na incorporação de

biomassa (BP).

6.1. Respiração Bacteriana

Quando analisada a influência de cada fator ambiental sobre a respiração bacteriana, os

maiores efeitos foram encontrados com a adição de nutrientes. Isto pode ter origem na magnitude

das adições realizadas, uma vez que buscou-se acrescentar nutrientes até concentrações abundantes.

Como conseqüência, foi produzido um gradiente ambiental mais intenso do que o encontrado na

natureza. Mesmo considerando que estes são ambientes distintos entre si (vide tabela 1), as

diferenças naturais foram suplantadas pelas produzidas através das adições. Isto explica o baixo

efeito encontrado pelo tratamento “Lagoas”. Já a temperatura apresentou efeito intermediário. As

incubações foram realizadas com até 10°C de diferença, o que significa uma alteração intensa

nestas lagoas, onde a variação sazonal de temperatura da água pode não chegar a esta magnitude

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(Esteves, 1998b). No entanto, os sistemas biológicos possuem limites metabólicos. O aparato

enzimático é criticamente sensível à temperatura, e embora o calor aumente a velocidade das

reações, quando o limite de tolerância é ultrapassado, a temperatura causa danos às enzimas e

células (Alberts et al, 2002). A respiração bacteriana aumenta de forma efetiva em temperaturas

mais altas, mas sempre dentro do limite de funcionamento enzimático.

Quando o fator lagoas é analisado isoladamente, nota-se rapidamente um padrão inesperado:

o gradiente de concentração de carbono orgânico dissolvido não possui relação com a respiração

bacteriana. Embora este seja considerado um fator muito importante na regulação deste processo

(del Giorgio & Cole, 1998; Farjalla et al, 2009a), neste experimento este efeito não foi notado. No

Atoleiro, com cerca de 110 mg/L de COD, as taxas de respiração foram semelhantes às da lagoa

Cabiúnas (fig. 2), e menores do que as da Carapebus (fig. 2), que possuem concentrações de COD

dez vezes mais baixas (tabela 1). Na lagoa Amarra-boi, com 86 mg/L de COD, a respiração é ainda

menor. Esta aparente inconsistência pode estar relacionada não à quantidade, mas à qualidade do

carbono.

Sabe-se que em lagoas altamente húmicas, como Amarra-Boi e Atoleiro grande parte da

matéria orgânica é refratária, constituída de ácidos húmicos e fúlvicos, moléculas complexas, de

lenta decomposição e conseqüentemente pouco acessíveis às bactérias (Esteves, 1998b). A origem

do carbono orgânico dissolvido nas águas destas lagoas está concentrada em uma fonte principal:

detritos da vegetação terrestres, que são decompostos no solo e erodidos pela água da chuva. O

material dissolvido é carreado através do solo arenoso, altamente permeável, chegando ao corpo

d’água (Farjalla, 2002b; Marinho et al., 2010). Material particulado também pode ser carreado pelo

escorrimento superficial pluvial ou ainda pelo vento. Foi demonstrado que a vegetação da restinga

atua como fonte de COD e nutrientes para as lagoas (Umbelino, 2008). A produção fitoplanctônica

é reduzida nestes locais, uma vez que a cor das águas dificulta a incidência de luz em profundidades

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superiores a alguns centímetros (Esteves, 1998b). Na Atoleiro, a própria coluna d’água é pequena,

dificilmente atingindo mais que 60 cm (tabela 1).

Já as lagoas Cabiúnas e Carapebus possuem águas relativamente claras e coluna d’água

chegando até 4 metros (tabela 1). Isto possibilita uma produção primária fitoplanctônica mais

intensa. Estes indivíduos autótrofos secretam moléculas orgânicas quimicamente mais simples que a

dos vegetais superiores (Raven et al, 2007), representando fonte de carbono orgânico dissolvido

mais lábil que as substâncias húmicas. Além disso, sabe-se que estas células secretam compostos

altamente lábeis, que podem ser utilizados pelas bactérias heterótrofas (Hopkinson e Smith, 2005).

Outra fonte importante de carbono orgânico são as macrófitas. Na Cabiúnas e Carapebus

encontram-se bancos de macrófitas submersas, emergentes e flutuantes (Marinho et al., 2010).

Algumas espécies, como a Typha domingensis, são intensas produtoras de biomassa, atuando como

substancial fonte de detritos a ser consumidos pelo bacterioplâncton (Stepanaukas et al, 2000).

Outro ponto importante reside no fato de as lagoas Carapebus e Cabiúnas receberem o fluxo

vindo de pequenas bacias de drenagem (Esteves, 1998b). Ao longo dos rios da bacia, uma

quantidade significativa de material produzido pela vegetação marginal é carreada para a água. Este

material será transportado pelos rios e decomposto pelas comunidades microbianas e de

macroinvertebrados ali presentes, chegando à forma particulada fina ou dissolvida nas lagoas. Este

material provavelmente possui maior diversidade química que o produzido pela vegetação de

restinga, uma vez que foi gerado ao longo de toda a bacia, passando por formações vegetacionais

distintas. Foi mostrado que a diversidade dos detritos está positivamente correlacionada à sua

velocidade de decomposição, utilizando macrófitas como modelo (Suhett, 2007). Logo, este

material mais diverso possivelmente estimula a respiração bacteriana. Especificamente as lagoas

Cabiúnas e Carapebus recebem outro aporte de matéria orgânica. O canal Macaé-Campos é um

canal artificial, construído no século XIX, comunica-se com estas duas lagoas, e recebe esgoto

doméstico em pequena escala (Sofiatti, 2000). Não se sabe até que ponto este esgoto influencia na

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carga de nutrientes das lagoas, mas pode representar um fator importante que deve ser mais bem

estudado futuramente.

A lagoa Comprida apresentou taxas de respiração intermediárias entre os blocos

Cabiúnas+Carapebus e Atoleiro. De fato, as características encontradas nesta lagoa quanto à origem

do COD também são intermediárias entre estes dois grupos. Suas águas, embora húmicas, são

menos escuras que as do Atoleiro, e sua profundidade também é maior. Isto possibilita uma

produção fitoplanctônica pequena, mas não insignificante. Além disso, esta lagoa também recebe

material de uma pequena bacia de drenagem, o que diversifica a natureza química do COD. Estes

dois elementos propiciam a entrada de carbono orgânico mais lábil do que o produzido pelos

detritos de restinga, o que possibilita taxas intermediárias de respiração bacteriana.

Quando analisados os efeitos das adições de nutrientes, também houve destaque para o

carbono lábil, como esperado. Nos tratamentos onde houve adição de glicose, as taxas de respiração

foram maiores do que em qualquer outro. A respiração bacteriana é um processo catabólico, que

não requer acúmulo de biomassa (King, 2005). Assim, mesmo moléculas de carboidrato com baixo

teor de nitrogênio ou fósforo são capazes de estimular este processo. Sendo a glicose uma molécula

hidrossolúvel e de constituição simples, sem presença anéis aromáticos, é rapidamente consumida

pelos organismos. Estes altos valores encontrados indicam que nestas lagoas, de modo geral, formas

lábeis de COD são limitantes para a respiração bacteriana. Tratamentos com adição conjunta de

nitrogênio e fósforo também apresentaram valores bastante altos. Ambos os nutrientes são

utilizados em diversos componentes celulares, como aminoácidos e ácidos nucléicos (Alberts et al,

2002).

No tratamento NP é possível que os nutrientes em abundância tenham sido utilizados pelos

organismos na constituição de biomassa. Mais biomassa – seja em forma de novas células, células

maiores ou com mais mitocôndrias – representa um maior metabolismo basal, que resulta em

consumo de oxigênio (del Giorgio et al, 1999). Enquanto a adição de glicose resulta em um efeito

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direto, oferecendo mais substrato para a respiração, a adição de NP fornece meios para aumentar a

produção de aparato celular capaz de executar respiração aeróbica. As adições contendo somente N

ou somente P tiveram efeito muito reduzido ou nulo, um indicativo de que estas lagoas são pobres

em nutrientes. Se ambos apresentam concentração baixa no ambiente natural, a adição de apenas

um dos compostos resultaria em limitação do processo pelo nutriente ausente, de acordo com a

teoria dos mínimos de Liebig (Norby et al, 1986). Seria necessária a adição simultânea de

nitrogênio e fósforo para estimular a respiração bacteriana de forma efetiva, como se observa, de

fato, nos tratamentos NP.

O aumento nas taxas de respiração causada por maiores temperaturas de incubação é

esperado e explica-se por um estímulo metabólico, como encontrado em outros estudos (Montagnes

et al, 2008; Hall et al, 2010). Quanto mais próximo do ótimo enzimático, mais rápido ocorrerão os

processos bioquímicos (Lehninger, 2007), resultando em maior respiração. Tendo em vista que

nestes ambientes a água chega a 25 e a 35°C pelo menos em parte do ano (tabela 1), é de se esperar

que estas temperaturas não sejam extremas a ponto de causar inibição celular. Assim sendo, em um

cenário de aquecimento permanente destas lagoas, pode-se esperar um aumento expressivo na

produção de CO2 por parte da respiração bacteriana.

Ao analisar os efeitos causados pela interação entre temperatura e nutrientes, foram

observados 3 padrões distintos: linear, tardio e precoce. O padrão linear, encontrado nos tratamentos

B e P, indica que não há interação entre a temperatura e a adição de nutrientes, o que provavelmente

é fruto do baixo efeito causado por B e por P. O segundo padrão – tardio – foi encontrado nos

tratamentos com nitrogênio. O pequeno incremento na respiração bacteriana entre 25 e 30°C pode

ser explicado pelo simples estímulo metabólico. Mas parece que temperaturas altas estimulam de

forma especial o consumo de nitrogênio. Sabe-se que, quando submetidas a temperaturas mais

elevadas que aquelas do seu ambiente de origem, bactérias sintetizam proteínas específicas,

chamadas de heat shock proteins (Kaufmann, 1990; Alberts et al, 2002). Estas moléculas efetuam

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determinadas atividades nas células, como reparos no DNA e síntese de novas proteínas, a fim de

aclimatar o metabolismo a temperaturas mais altas. Uma vez que proteínas são ricas em nitrogênio

(Lehninger, 2007), é possível que a respiração bacteriana a 35°C demande quantidades mais altas

deste elemento.

Por fim, no padrão precoce, a respiração aumenta muito até os 30°C, se intensificando de

forma mais discreta a partir desta temperatura. Este resultado parece indicar um aproveitamento

cada vez maior dos recursos disponíveis, mas também um metabolismo basal cada vez maior. Uma

vez que nestes ambientes a temperatura das águas em geral não atinja 35°C, a vida a esta

temperatura pode exigir elevados gastos de manutenção, incluindo a produção das supracitadas heat

shock proteins. Os cada vez maiores gastos de carbono na produção de proteínas diversas acabam

consumindo parte do material que seria respirado. A respiração então aumenta, mas cada vez em

um ritmo mais lento.

A interação entre nutrientes e lagoas também revelou 3 padrões distintos, permitindo

agrupar as lagoas em Cabiúnas + Carapebus; Comprida; Amarra-boi + Atoleiro. Nota-se, para cada

grupo, respostas muito similares em relação à adição de nutrientes. Para Amarra-Boi e Atoleiro, só

a adição de glicose produziu taxas de respiração bacteriana maiores que as do controle. Embora este

estudo não tenha produzido dados relativos à concentração de nitrogênio e fósforo nestes ambientes,

percebe-se que eles não são os fatores limitantes da respiração bacteriana. Ambientes húmicos

tendem a ser distróficos, o que significa que possuem grande quantidade de carbono em suas águas,

mas baixas concentrações de nutrientes (Jones, 1992). No entanto, os resultados indicam que a

principal limitação metabólica nestas lagoas não é por nitrogênio e fósforo, mas sim por carbono.

Isto vai de encontro ao que prevê a estequiometria ecológica, onde em um ambiente com elevada

razão C:N e C:P os processos seriam limitados por N, P ou por ambos, mas nunca por C (Sterner et

al, 2002). No entanto, esta é uma interpretação simplificada do ambiente, que considera equivalente

todas as moléculas de carbono. Os resultados indicam que no presente estudo a limitação não se dá

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pelo elemento C, mas sim por compostos lábeis, que são consumidos rapidamente e

presumivelmente estão em concentração reduzida. Neste ambientes, embora as concentrações de

COD sejam altas – 87 a 110 mg/L –, a qualidade da matéria orgânica dissolvida é baixa, como já

discutido.

Em Cabiúnas e Comprida, por outro lado, o tratamento NP foi o que resultou nas mais altas

taxas de respiração, com C em segundo lugar. Como já discutido, estes ambientes possuem águas

claras e maior profundidade, o que possibilita uma maior produção primária fitoplanctônica.

Nitrogênio e fósforo geralmente estão entre os nutrientes limitantes destes organismos autótrofos. É

possível que grande parte do nitrogênio e fósforo na coluna d’água seja utilizada pelo fitoplâncton,

diminuindo a disponibilidade para as comunidades bacterianas. Logo, espera-se uma limitação

nutricional nestes ambientes para as bactérias. Isto é percebido no experimento, quando, após

adição de N+P em excesso, a respiração atinge altas taxas. Um forte indicativo de que ambos os

nutrientes são encontrados em baixas concentrações é o fato de que, ao adicionar somente fósforo

ou somente nitrogênio, a respiração pouco se altera, devido à falta do outro nutriente. Este resultado

condiz com o padrão de co-limitação nutricional, encontrado para outros modelos de estudo

(Harpole et al, 2001). E a lagoa Comprida, por fim, situa-se em um ponto intermediário entre os

dois outros grupos. Ela possui água relativamente escura, com valores de COD também

intermediários (50 mg/L). Aqui, a adição de carbono lábil provoca um aumento na respiração, mas

não tão expressivo quanto no Atoleiro e na Amarra-boi. Este aumento é semelhante ao encontrado

após a adição de N+P, o que indica que nutrientes também são limitantes nesse ambiente, ainda que

de forma menos intensa que nas lagoas Comprida e Cabiúnas.

Quando observados os fatores temperatura e lagoas atuando em conjunto, pode-se notar que

esta interação não é generalizada. Só há diferença significativa nas taxas de respiração em 30 e

35°C para as lagoas Atoleiro, Cabiúnas e Carapebus. Isso corrobora os dados da tabela 2, que

mostram a pequena importância da interação entre esses dois fatores na regulação da respiração

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bacteriana. O resultado encontrado parece refletir simplesmente a magnitude do processo analisado.

Só houve diferença entre 30 e 35°C nas 3 lagoas que apresentaram maiores taxas de respiração

bacteriana. A temperatura mais alta, ao estimular o metabolismo celular de forma geral, tem efeito

maior sobre os organismos que já possuíam o metabolismo mais intenso.

6.2. Eficiência de Crescimento Bacteriano

Em relação à eficiência de crescimento bacteriano (ECB), percebe-se que o fator individual

mais importante na sua regulação foram as lagoas, seguidos por temperatura e nutrientes. Todas as

interações entre dois ou mais fatores tiveram efeito muito reduzido na regulação da ECB, e por isso

não serão analisadas com mais profundidade. O fator “blocos” não teve influência significativa, e os

resíduos mostraram média quadrática pequena, o que indica que os fatores manipulados realmente

são responsáveis pela quase totalidade das alterações na ECB. Uma vez que a ECB representa o

balanço entre respiração e produção secundária bacterianas, reduções na eficiência podem ser

causadas por aumento no catabolismo ou redução nos processos anabólicos (del Giorgio & Cole,

1998). Um padrão muito interessante, que deve ser observado, é a tendência de queda ao longo de

todos os níveis dos tratamentos. Em lagoas com maior concentração de COD, em temperaturas de

incubação maiores e em tratamentos com mais adições de nutrientes, a ECB sempre é reduzida.

Analisando-se somente o efeito das lagoas sobre a ECB, nota-se padrões específicos.

Atoleiro e Cabiúnas figuram em dois extremos, e isto provavelmente possui relação com a

qualidade do carbono neste ambientes. No primeiro ambiente, rico em carbono refratário, há

favorecimento da respiração – como visto na figura 2 –, em detrimento da produção bacteriana. Já

na Cabiúnas, há menos COD mas provavelmente em formas mais lábeis, levando a uma respiração

um pouco menor, e favorecendo a produção bacteriana. Esse quadro leva à tendência de queda da

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eficiência: lagoas com carbono húmico mais abundante tenderam a favorecer processos catabólicos,

que envolvem principalmente a quebra de moléculas para produção de energia. Carapebus,

Comprida e Amarra-boi representam outro grupo, onde a razão entre a concentração de COD e sua

fração lábil parece ser intermediária. Comparando as tabelas 2 e 3, percebe-se que o fator lagoas

influenciou mais o ECB do que a respiração. Essa diferença explica-se pela produção bacteriana,

que certamente foi mais afetada pelo tratamento lagoas.

Observando a influência das adições de nutrientes, percebe-se que N e P não provocam

alteração em relação ao controle, enquanto os tratamentos com NP e C geraram valores de ECB

mais reduzidos. Como já citado, estas lagoas são oligotróficas, apresentando co-limitação de

nutrientes. A adição de nitrogênio ou de fósforo em separado não alteram o metabolismo

bacteriano, tendo em vista quando um destes nutrientes é adicionado o outro continua sendo

limitante. Sabe-se que N+P estimulam a produção secundária bacteriana (Farjalla, 2002a; Hall e

Cotner, 2007; Martínez-García et al, 2010), mas o resultado mostra a queda da ECB. A explicação

reside em uma estimulação maior da respiração do bacterioplâncton do que da incorporação de

biomassa. Para o tempo de incubação utilizado, relativamente reduzido, espera-se um aumento

maior dos processos mais rápidos. Como a respiração é baseada em catabolismo, não necessita da

produção de novas moléculas (King, 2005), podendo aumentar mais rapidamente do que a produção

secundária. Por fim, a redução na eficiência é esperada quando adicionada glicose. Sem ter

subsídios nutricionais para produção de biomassa, a única via metabólica estimulada pelo acréscimo

de carbono lábil no meio é a catabólica.

A eficiência também diminui ao longo do gradiente de temperatura, como esperado. A

respiração bacteriana tende a ser um processo menos conservativo do que a produção secundária

(Farjalla et al, 2009b). Logo, mesmo que temperaturas mais altas estimulem tanto a produção de

biomassa quanto a respiração, este último processo tende a atingir uma magnitude maior, reduzindo

a eficiência. Além disso, 35°C é uma temperatura alta, incomum nestes ambientes. As comunidades

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bacterianas estão provavelmente adaptadas a temperaturas mais reduzidas, entre 25 e 30°C. Em

condições de maior calor, o metabolismo basal tende a aumentar, tendo em vista que é necessária a

síntese de proteínas que visem à aclimatação às novas condições (Alberts et al, 2002).

Alguns fatores característicos da abordagem experimental podem ter influenciados os

resultados obtidos. Estudos anteriores relatam alterações de comunidades microbianas ao longo do

período de incubação (Farjalla et al, 2006; Farjalla et al, 2009b). No entanto, isto é geralmente

encontrado em períodos longos e ao utilizar apenas 48 h de incubação estes efeitos são bastante

reduzidos (Farjalla et al, 2006; Farjalla et al, 2009b). Uma vez que a coleta foi realizada apenas em

um período do ano, e somente no ponto central de cada lagoa, a representatividade espaço-temporal

é limitada. Porém em lagoas costeiras, onde a coluna d’água é pequena e a exposição ao vento é

elevada, ocorre constantemente mistura das massas d’água (Esteves, 1998a), o que torna o ponto

central delas mais representativo do que em outros ambientes aquáticos. A amostragem sazonal não

foi realizada por acreditarmos não haver grandes alterações no metabolismo bacteriano ao longo do

ano.

Devido a limitação de recursos, optou-se pelo investimento em um maior número de

tratamentos, a fim de analisar mais minuciosamente o efeito das alterações ambientais. Da mesma

forma, investiu-se em um número relativamente alto de réplicas, com objetivo de obter dados mais

precisos. Por fim, a análise das comunidades em isolamento de seu ambiente original foi necessária

para uma melhor compreensão dos fatores responsáveis pela regulação do metabolismo bacteriano,

evitando a influência de fatores externos. Uma vez que a influência da temperatura, COD e

nutrientes sobre a respiração bacteriana e ECB sejam compreendidos, poderão ser realizados

estudos que analisem outras influências do meio, como interações bióticas.

A respiração e eficiência de crescimento bacterianos respondem de forma significativa às

alterações ambientais. Tendo em vista as mudanças ambientais já em curso, é possível ter indícios

de como o metabolismo das comunidades bacterioplanctônicas em lagoas costeiras será afetado. No

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atual cenário de mudanças climáticas, são previstos para a região do norte fluminense um aumento

na temperatura da atmosfera e alterações na quantidade e freqüência de chuvas (Marengo et al,

2010). Chuvas mais fortes podem carrear mais material alóctone para as lagoas, o que representaria

um aporte maior de matéria orgânica (Suhett et al, 2007) – fontes de carbono, nitrogênio e fósforo –

, atuando como substrato para a respiração bacteriana. Da mesma forma, eventuais aumentos na

temperatura média da água também poderão estimular o metabolismo catabólico destas

comunidades. O resultado geral seria uma aceleração nos processos de remineralização de matéria

orgânica, transformando material dissolvido em energia e dióxido de carbono. Este gás, ao saturar a

coluna d’água, tenderá a ser exportado para a atmosfera.

As alterações na eficiência de crescimento bacteriano também resultarão em conseqüências

para as comunidades aquáticas. Reduções na ECB tendem a ser resultado de um aumento no

catabolismo e/ou redução no anabolismo, o que pode significar uma redução no acúmulo líquido de

biomassa bacteriana. Uma vez que bactérias planctônicas são fonte de alimento para níveis tróficos

superiores, esta perda de eficiência poderá afetar diversas outras comunidades dependentes desta

fonte de matéria orgânica.

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7. Conclusão

Muitos dos padrões esperados foram encontrados, como o efeito da temperatura e da adição

de nutrientes sobre a respiração bacteriana e a ECB. No entanto, quando observado o fator lagoas, a

respiração não foi regulada unicamente pela concentração de COD. A qualidade, e não apenas

quantidade, do carbono orgânico dissolvido, parece ser mais importante na regulação deste

processo. Futuros estudos devem investir esforços em mapear as características do COD nestas

lagoas costeiras, através de técnicas de fluorimetria, cromatografia e espectroscopia, por exemplo

(McDonald et al, 2004). É importante também compreender a origem e destino do material utilizado

pelas bactérias. Entre as fontes prováveis, para as comunidades destas lagoas costeiras, estão a

vegetação terrestre de restinga, as macrófitas e o fitoplâncton (Farjalla et al, 2009a).

Por fim, recomenda-se que futuros estudos continuem buscando compreender a interação

entre diferentes fatores ambientais nos processos biológicos. Um dos caminhos que a ecologia deve

percorrer nos próximos anos é a busca por um maior poder preditivo (O’Connor, 2000).

Populações, comunidades, ecossistemas, são complexos. Uma miríade de fatores interage, positiva

ou negativamente, de forma sinérgica ou independente, produzindo padrões muitas vezes

inesperados. Os desenhos experimentais devem envolver cada vez mais fatores e aprimorar os

modelos utilizados. No mundo atual, alterações ambientais acontecem cada vez mais depressa. É

indispensável compreendermos os sistemas biológicos que temos hoje, mas urge a necessidade de

antever as mudanças que virão. A ciência tem o papel fundamental de produzir conhecimento. E

isto deve ser feito de forma precisa, útil, e a tempo.

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