regras - princípios - valores e postulados

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SANTOS JÚNOR, Rosivaldo Toscano dos; SILVA, Mariana Candido. Regras, princípios, valores e postulados para bem aplicar o direito. In Revista Direito e Liberdade / Escola da Magistratura do Rio Grande do Norte. Mossoró: ESMARN, vol. 6, n. 1, pp. 257-282, jan-jun 2007.

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    R E G H A S , P R IN C IP IO S ,V A L O R E S E P O S T U L A D O S

    P A R A B E M A P L IC A H 0 D I R E I T O

    MARIANA CANDIDO SILVA'ROSIVALDO TOSCANO DOS SANTOS JUNIOR ..

    RESUMO. A distinya~\ntre regras, principios, valores e postulados continuasendo uma incognita para muitos operadores do Direito. Visando a trazer luz itquestao, tracarernos a evolucao do conceito de norma juridica, trazendo 0 con-traponto existente entre 0jusnaturalismo e 0positivismo juridico, com a ascen-sao e a queda deste ultimo. Depois, procederemos it distincao entre texto e nor-ma, interpretacao dos fatos e do direito, Destacaremos as caracteristicas e dife-rencas existentes entre regras e principios, Discutiremos a existencia de rnetanor-mas, equal seria a natureza juridica da proporcionalidade, da razoabilidade e daigualdade. Por fim, discutiremos a diferenciacao entre valores e principios.

    PALAVRAS-CHAVE. Regras. Principios. Valores. Postulados ..II 1 DO JUSNATURALISMO AO JUSPOSITIVISMOCaro leitor, cornecernos com urn exercicio hipotetico, Imaginemos que, no

    dia de amanha, se iniciasse urn terrivel catadismo. Urn virus transmissivel pdo ardizirnasse, em poucos dias, quase toda a populacao do globo, restando, tao-somente, uma centena de pessoas geneticamente imunes. Nao haveria rnais osEstados nem os seus ordenamentos juridicos. Diante dos sobreviventes, se apre-sentaria urna folha com as seguintes proposicoes: a) deve-se fazer 0justa e abs-ter-se do injusto; b) deve-se evitar 0 mal e praticar 0 .hem; c) a cada urn 0 que e

    Espccialista em Dircito cJurisdicdo pcla-Escola da Magistrature do Rio Grande do Norte - ESMA RN c da UnivcrsldadePotiguar - UnP. Advogada. .

    Espccialisra em Prcccsso Civil e Processo Penal pela Esccla da Magistrarura do Rio Grande do Norte. - ESMARN aUnivcrsidadc Poriguar - UoP+Profeasor da Escola da Magisrratu ra do Rio Grande do None - nSMARN. juiz de Dirclro noRio Grande do Norte.

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    seu; d) nao facas aos outros 0 que nao queiras que facam a ti. Perquiridos - "leitor hi de concordar conosco - os sobreviventes acatariarn as premissas acimainda que se discutisse 0 alcance de alguma palavra ou expressao, 1550e 0Direin INatural, A existencia de uma ordem juridicasnprapositiva,etema e imutavcl.Resolvemos fazer tal exercicio hipotetico em razao de estarrnos imersos em uiparadigms positivists que nao nos deixa dar conta de que, ate 0Seculo XVIII, (Ic!ireitonatural tinha precedencia sobre odireito positivado, sendo aquele regra, (este excecso.'II2 DIREITO NATURAL - EVOLU

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    2.2 Fundamento na DivindadeDurante a Idade Media e 0 periodo Escolastico, diferentemente do que ocor-

    ria na Grecia Antiga, 0 fundamento naoera a natureza, mas sim 0Criador, Haviaurna lei divina que pressuporia toda ordem juridica. Sao Tomaz de Aquino fala-va, nestes terrnos, na existencia de quatto Direitos: lex eaterna, lex naturalis, lexbumana e a lex divina. Aqui, 110S interessarn a lex naturalis, definida POt de como aparticipacao da lei eterna na criacao racional, e a iex hamana, tida como expressaodaquela.'

    2.3 Fundamento na Razao HumanaNos Seculo A"VII e .A"VIII, sob 0patio de novos pens adores, como ReneDescartes, surge HUGO GROCIO. Rejeitando a visao teocratica, para de, "0 direito

    natural e urn ditame da justa razao destinada a mostrar que urn ate e moralmentetorpe ou moralmente necessario segundoseja ou nao conforrne a propria natu-reza racional do homern". E aerescenta que "os atos relativamente aos quaisexiste urn tal dirarne da justa razao sao obrigatorios ou ilicitos pOt si mesrrros"."II3 0 DIREITO POSITIVOCuriosamente, 0direito positivo naseeu e cresceu a sombra do jusnaturalismo,. sendo que depois 0suplantou. Outro dado interessante e que foi exatamente no

    momenta em que atingiu seu apiee que a concepcao de direitos naturais foi esgo-tada, Vejamos esses dois pontos,Ainda no Seculo XVII, 1110mas Hobbes enxergou as leis.naturais prescreven-

    do-as como sendo acoes boas em relacao a urn certo fim. 0bern maier por elasprotegido seria a vida, alcancavel atraves da paz. Para se alcaricar a paz, dizia de,o homem precis a sair do estado de natureza e renunciar a alguns direitos, em prolda vida em sociedade - proporcionada pelo Estado. 0Ente Estatal seria 0meiomais eficiente de proteger 0 bem maier. Inferiu-se dai, que a lei natural seria 0fundamento do direito estatal e do dever dos suditos de obedecer a s leis positi-vadas.? Surge, dai, a concepcao formalists do direito, assim nominada por Bob-bio."Europa, fins do Seculo )"_"VIII.A burguesia revolucioria a ordern ate entao

    estabelecida e assume 0poder, sobre as bases historicas do Renascirnento, das, lbidcrn, p. 18.'GROClO, Hugo, apud BOBBIO, 2006, p. 2021.~ENGEI ...I\1ANN, \'\IihoI1. Crttka t J t > P ( J . I i l i v i s l N ( J j m i d I C Q . Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2001~p. 36-37.8 "Dira rcoria do formalismo juridico, na qual a validadc do dircito sc [unda em critcrios qtlC:conccrncm unicamcnre a

    sua.cstrutura formaJ (vale dizcr, em pala\~ra~simples, 0 scu i\Spccto exterior), prescind.odo do scu conreudo; segundo 0positivismo [urfdico, a afiauacac da validadc de uma norma juridica niic impiica tambem na afirmacso do Stu 'v, ,-Jor' , 'BOBB]O.2006,p.131. .

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    grandes navegacoes e do descobrimenro das Americas. Com iS50, as Estados Scfortalecern, e 0 iluminismo - de ideias antropocentricas e libertarias - ganh:lcorpo, ferindo a vida teol6gica e a teoria politica absolutista ate entao estabeleci-das. Nesse palco, 0direito natural de terceira geta

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    direito, capitaneada POt Hr\NS KELSEN, para quemQuando a si pr6pria se designa como 'pura' teoria do Direito, isto significa

    que ela se propoe garantir urn conhecimento apenas dirigido ao Direito e excluirdeste conhecimento tudo quanto nao pertenc;a ao seu objeto, tudo quanto nao sepossa, rigorosamente, determinar como Direito. Quer isto dizer que ela pretendelibertar a ciencia juridica de todos os elementos que lhe sao estranhos. Esse e 0seu principio metodo16gico fundamental 10.Caro leitor, comose pode vet no pensamento kelseniano, separou-se 0juridi-

    co do politico. E aquele nao se aon taminaua com este.E continua 0autor, aproveitando para separar, em sua visao, Direito e valor:

    Se bern que a ciencia jundica tenha por objero norrnas juridi-case, portanto, osvaloresjuridicosatravesdelas constituidos,as suas proposicoes sao, no entanto - tal como as leis naturaisda ciencia da natureza - urna deSC11~aOdo seu objeto alheiasaos valores (wertfreier) . l l

    Urn outro expoente do positivisrno, alem de Bobbio e Kelsen, foi HERBERTHART. Sua obra rnais conhecida, "0 conceito de Direito", reflete 0seguinte: 0sistema juridico e "urna uniao .complexa de regras prirnarias e secundarias", sen-do aquelas as regras que irnpoem urn comportamento ou abstencao dele, e estasas que se dirigem a regulamentar a criacao, modificacao e extincao de regrascomportamentais (regras prirnarias). Fala, ainda, em regra de reconhecimento,que nem norma e . Trata-se de urn pressuposto fatico (externo) e de aceitacao(interno). Quando urn tribunal aplica uma regra, reconhece-a como valida dentrodo sistema. Isso nao implica, porern, 0reconhecimento de principios, segundo ateoria potivista; Na analise do autor, admite-se a existencia de uma "penumbrade duvida" nas situacoes em que determinadas regras sao aplicadas, Nestes casos,o juiz ou tribunal tern uma esfera de discricionariedade decisiva, mas que naopode ser usada de forma arbitraria: "ele deve sempte ter certas razoes gerais parajustificar a sua decisao e deve agir como urn legislador conscencioso agiria, deci-dindo de acordo com as suas proprias crencas e valores".12Essa e uma grande incoerencia da ideia defendida pdo autor positivista. Selevarmos em conta que os principios nao deixam de ser urn criterio para se

    aplicar 0direito, eis que h a uma delirnitacao 16gico~linguistica de seu significado,o positivismo passa a condicao de contraditorio ao nao reconhecer a norrnativi-dade dos principios, mas aceitando que 0juiz, em situacoes nao abarcadas porregras juridicas, decida discricionariamente, segundo suas conviccoes pessoais,Isto significa sem aitenos.

    HI KELSEN. Hans. T~oriaP/{ra do direito. 6. ed. Sao Paulo: Martins Fontes, 2003, P: 01." Idem. p. 89.12 HART HERBERT L. A. 0 conil. de Direi lo. Trad. Armindo Ribeiro Mendes. 4. cd. Lisboa: Fundacao Calouste Gul-bcnkian, 2005, p. 336.

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    3.2 Positivismo e Valores

    Criticas a parte, e voltando a desczicao cia teoria, em poucas palavras resunumos 0positivisrno juridico em tres proposicoes. Sao elas as seguintes: a) 0dircie urn conjunto de tegras utilizado pelacornunidade, POt meio das qual 0pockipublico punira ou coagira quem as violar, Nao havendo possibilidade de inlnvencao do poder publico, nao havera regra juridica (porexemplo - uma reg!":1moral- que nao possui ccercitividade); b) essas regras sao a expressao do direiio.e se algum caso nao estiver amparado em qualquer dessas normas abstratamcnrprevistas, nao podera ser objeto de aplicacao do direito; c) dizer que alguem tell Iuma obrigacao juridica significa que seu caso se enquadra em uma regra juridx vilida que 0 obriga a fazer ou se abster de fazer algo.l3

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    o positivismo juridico nega, nesse diapasao, a possibilidade de se operar COlivalores ou com norrnas abertas - que poderiam comprorneter, segundo eS~:1concepcao, a seguran

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    Embora tenha tido 0positivisrno, inicialmente, a vantagem da seguranc;:ajuri-dica, sua pretensa impanial idade e sua dent i f i t idade foram, em muito, -danosas. Inte-ressante destacar as palavras de EROSGRAU:

    Os positivistas normativistas sao, todos, olimpicamente, "ci-.entistas"; e, enquanto tal, ignoram a realidadee 0 social; po-dern, ate mesmo (!), set dotados de sentimento de sociabili-dade, mas, enquanto "cientistas", estao envolvidos com coisadistinta do direito, as normas juridicas; com? tal, poem-se aservice da justificacao de qualquer ordem, desde que valida;nao importa que essa ordem seja iniqua, oprima 0homem ea dignidade do homem; eles sao "cientistas", tecnicos, e serecusam a, enquanto "juristas", fazer politica - estao tranqui-los, tantas vezes em que funcionam como justificadores dainiqiiidade, porque sao "cientistas". Seja por ignoranoa, sejapor corrveniencia, sustentam a neutralidade cia ciencia ... Su-poem que 0cientista e destituido de consciencia- os 'cienris-tas' sao dotados de Iicenca para matar ...19

    II 4 REFLEXAO: PODE HAVER DIREITO SEM LEI OU SEMNORMA?Comecamos este texto com um fato hip atetico. Continuernos com outro,

    concreto. Em 1889, um herdeiro testamentirio assassinou seu avo para ficar coma heranca. Foi condenado a anos de prisao, por 1SS0. Duas outras herdeiras in-gressaram na justica dvel para discutir 0direito do assassino a heranca.i" Vence-ram na prirneira instancia. A defesa do requerido, em grau de recurso, sustentouque a lei the conferia 0direito it heranca, ja que nao existia nenhum irnpeditivolegal prevendo uma situacao como aquela, mesmo em face das circunstancias ecausas do assassinato. Em seu voto, 0juiz Gray defendeu a "teoria ciainterpreta-~ao literal", segundo a qual a lei nao pode inrerferir no contexte do seu usa ou naintencao de seu autor." Um outro juiz da Corte de Nova Iorque - Earl - enten-deu que, nao obstante a ausencia de Ulna norma legal sobre a questao, existe umprincipio niio-positivado de que n ingu im pode .r e b en i fU iar da pr opr ia to rpeza. Excetoo vote do juiz Gray, os demais magistrados acompanharam 0voto do ju iz Earl.Elmer,o assassino, acabou preso e sem direito a heranca,II5 DO IMPERIO DA LEI PARA 0 IMPERIO DO DIREITOComo visto acima, em muitos casos a mera aplicacao da lei (uma regra) nao

    consegue resolver a questao de urna forma justa. Pelo contrario. Fere 0senso de10 } GRAU~ 'Eros. 0 r l ir c il o p O li O e o dirrilqpreIJlpol/0. 5 cd. rev e arnpl. Sao Paulo: Malhciros, 2003, p. 107.lOCaso Riggs Ilf!rllfSPalmcrJciradoern DWORKlN~ 1978.p. 23."ENGELMANN.2001,p.141-143.

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    Rules ate applicable in an all-ot-nothing fashion. If the facts :1rule stipulates are given, then either th e rule is valid, in which-case the answer it supplies must be accepted, or it is not, ill

    justica. Mas, como fazer? Violar a lei para realizar a justica?Antes de -continuarmos, faz-se importante saber 0que se entende por n o rm"

    juridi , a . Norma juridica e todaexpressao que confere direitos ou impoe obrign

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    which case it contributes nothing to the decision. 25Isto quer dizer que, se duas regras entram em conflito, uma delas nao sera

    valida, Elas se aplicam na base do tudo ou nada, e a definicao de qual a regIa a seraplicada nao se encontra nela, mas sun no proprio sistema juriclico (hierarquia,especialidade ou posteridade da regra prevalecente).De outro lado, em-casas dificeis, nos quais nao hi regra para solucionar aquestao ou, havendo, conflitam entre 51,0juiz nao pode decidir com base em sua

    discricionariedade, como queriam os positivistas (incluindo Kelsen), mas sirn nosprincipios, E estes funcionam de maneira diferente. Como foi visto, a eles, pri-meiramente, nao se preve uma consequencia especifica quando de sua aplicacao,mas serao 0fundamento para a decisao judicial em concreto que se tornar, sejaela qual for, especificamente.P E possuem uma dimensao de peso que as regrasnao possuem. Assim, quando dois principios colidem, ambos sao levados emconsideracao, como validos.tpara se chegar ao preponderante, confotme 0pesode cada urn naquela situacao."5.3 Os Principios na Teoria de Robert AlexyROBERTALEXYconcorda com Dworkin em que tanto as regras quanto os

    principios sao normas, porque ambos dizem 0que deve ser.28Porern, el1quantoDworkin afirrna que os principios sao, no casa concreto, levados em conta ape-nas como razao que se inclina a uma ou outra direcao, para ele os principios

    Son riorrnas que ordenan que algo sea realizado en la mayormedida po sible, dentro de las posibilidades juridicas y rcalesexistentes. PO t 10 tanto, los principios son mandatos de opti-rnizacion, que estan caracterizados po el hecho de que puedenser curnplidos en diferente grado y que la medida debida de sucumplirniento no s610 depende de las posibilidades realessino tambien de las juridicae. EI ambito de las posibilidadesjuridicas es determinado por los principios y reglas opues-tos"

    Assirn, os prindpios,como mandados de otimizacao, se aplicariam da melhor25 DWORKIN;1978, p. 24. Tradccao livre: "

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    maneita possivel, ainda que ern diferentes graus.J a a diferenca entre regra e principio e qualitativa, e nao de grau (maior or Imenor generalidade).

    A solucao em urn conflito de r e g r a s pode serestabelecida de duas rnaneiras: n)declarando invalida uma das regras ou b) introduzindo em uma das regras um.iclausula de excecao que elimina 0conflito" Em se tratando de -colisao de principios, urn tern que ceder ante 0 outro, Mas 1SS0 nao significa a invalidade do qu('foi desprezado. Acentua que 0 conflito de regras ocorre no ambito da validez. J;Io conflito de principios - que pressupoe a valida de de ambos - tem lugar marsalem: na dirnensao de peso." E esse peso varia conforme a situacao em concrcto, podendo urn principio suplantar 0outro, numa situacao, e set suplantado ernoutra. E tal mecanismo e ponderacao, Concluindo: 0conflito de regtas se da nadimensao da validade; 0 conflito de principios se resolve com base no valorpreponderan te o 32

    Cabe alerrar que ambos os institutes se complementam no sistema do Direito.Os pn 'ndpio :f , porque - em razao de sua maier abertura - conferem uma plastici-dade maier ao sistema juridico e a Constituicao, como topos normativo, facilitando-lhe a adaptacao a s rnudancas sociais, Ademais, porque trazern forte carg;lvalorativa, nutrem 0ordenamento com conteudos eticos - reconhecidamentc,hoje, essenciais, Por outre lado, as r e g r a s asseguram maior seguranc,:a e estabilidada ordem juridica, principalmente em uma sociedade de riscos, onde 0 que ('verdade hoje ja nao se garante mais arnanha, numa curva geometrica de acelera-

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    em face do Direito, que distorce e limita a visao da tealidade juddica, permitin-do-se que aparentesdilemas abissais (como 0doexemplo dado par Dworkin)assornbrem aqueles que se condicionaram a voltar os olhos somente para baixo,ao lex as artigos estritos da lei, e naoergueram a ca~e)=ae nem focaram a vistapara 0horizonte: os valores, os principios e 0futuro.

    E0 -constitucionalismo -exerceu importante papel na contestacao das premis-sas positivistas com a generalizacao do controle de constitucionalidade eo reco-nhecimentodo carater supremo da constiruicao. Como bem ensina JANEREISGON

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    II- 6 HA METANORMAS?

    nao e incompacivel com a sua reoria.'"Em resurno, acabamos de quebrar 0 positivismo com 0 reconhecimento do

    carater normative e impositivo dos prindpios juridicos, Estamos no pos-positi-visrno, Mas as questoes nao param por aqui, Se nao, vejamos,

    Vivernos a era dospr indpios. Acontece que, agora, precisarnos saber se todos oschamados prindpios assirn 0sao. Ja entendemos as normas 'em sua dupla expressao. Agora, perguntarnos: ha institutos que tern por finalidade cuidar da maneirncorn que sao aplicados os principios e as regras? Isto e , h a metanormas/postuladOS38 (que servem de instrumental para aplicacao das normas: regras e prindpiOS)?39 E qual a natureza juridica desses entes, em caso de seu reconhecimento?Essa discussao se difundiu por todo 0direito ocidental, incluindo ate mesmo 0

    anglo-sarlo. Surgiram tres posicoes, A primeira e a segunda sao pelo nao-reconheci-menta de um plano instrumental. Seriam prindpios, para uns, e regras, para outros. l\terceira defende a natureza juriclicadep o s t s d a d o s de interpretacao / aplicacao do direi to,Sao varies os institutes considerados metanormas, ou postulados: proporcio-

    nalidade, razoabilidade, igualdade, ponderacao, concordancia pratica e proibicaode excesso, Em razao da lirnitacao do espac;:o, focar-nos-emos nos dais queconsideramos principais - a proporcionalidade e a razoabilidade, ate porque boaparte da doutrina e a maioria de jurisptudencia ainda nao entenderam a conceitu-acao, funcoes e delimitacoes de cada urn dos institutos. E comum a confusaoentre proporcionalidade e razoabilidade, e a furidamentacao das decisoes combase nesses postulados como se normas primirias fossem.II7 TAIS INSTITUTOS SAO PRINCIPIOS?Nao sao poucos as autores que conceituam como principio 0que nao 0 e .

    Acreditamos que tenha sido por influencia do positivismo que se tentou bus cal:uma cristalizacao positivada para os institutos que visavam a regular a aplicac;:ao/interpretacao do direito, uma vez que, na concepcao daquele paradigma, 0Direitoe a lei eram sinonimos, Porern, como adverte EROS GRAD e 0 proprio RonaldDworkin, no caso Riggs vs Palmer - acirna visto -, os principios "nao precisam serpositivados, visto que ja se encontrarn integrados no sistema juridico de que se trate,cumprindo ao interprete exclusivamente descobri-los em cada caso.?"

    " HART,2005, p . 328 e329.JSUsaremos essas duas cxprcssoes Indisrinramcntc, pais seus conccitos reflerern 0 mcsmo conrcddo: insrirutos que scrvcm

    de criterio para inrerprctaciioyaplicacao do Direito. Em ncsaa doutrina, quem usamais a cxprcssao postulado C : E RO S G RA LLJi metanorrna e expressao dada por HUMBERTO AVllJ\.: ; O ' l Utilizamos cssa exprcssdo tendo ern vista a acepcdo do radical grego me:c(a): "( ... ) ~rcflc:-:aocrftica sobrc': mctafonia,

    metamorfico, metacronisrno, metapsiquico, mctalinguagem", Cocf.: HOULNDA, Aurelio Buarquc. Novo diciondric Aurelioda lingua portuguese. 3. ed. TO\< e atual. Curitiba: Positive, 2004, P' 1319.

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    Como nao era regra, pais nao descrevia expressarnente urn comportamento,so poderia ser algo mats vago. Urn principio, portanto. Vamos tornar comoparametro a proporcionalidade, que e 0caso mais ocorrente e claro,Hi rnuitas e vastas obras sobre 0tema, no exterior, e mesrno em tetra brasil is ,

    e todas partin do do paradigma errado, isto e , da proporcionalidade como prin-cipio juridico, E nao foram poucos. E nao foram os men os destacados queassim caminhararn. Comefeito, PAULOBONAVIDESenta encaixar 0chamadoprincipio em urn feixe de dispositivos constitucionais." Mas 0proprio autorquestiona se nao seria, na verdade, urn "principio de interpretacao", \X'ILLISSAN-TIAGOGUERRA FrLHOtambem defende 0carater principiologico da proporcio-nalidade, e ja deve ter escrito uma dezena de attigos sobre 0tema, todos sob 0mesmo paradigmaY Para de, a proporcionalidade seria urn principio constituci-onal, apesar de adrnitir que as normas, todas elas, regras ou principios, sao rela-tivos e que:

    Nao ha principio ao qual se possa entender ser acatado deforma absoluta, em toda e qualquer hipotese, pois uma talobediencia unilaterale irrestrita a uma determinada pauta va-lorativa - digamos, individual - termina POt infringir U1Tlaoutra - por exemplo, coletiva. Dai se dizer que ha uma neces-sidade 16gica, e ate axiologica de postular um "principia daproporcionalidade." 43

    Outro prestigiado autor a embarcar nessa nau e Luis ROBERTOBARROSO.Alemde usar como sin6nimas razoabilidade e proporcionalidade, procura esforcada-mente - ao longo de vinte e oito piginas - encontrar guarida no devido proces-so legal, com base no d u e p ro ce ss if la w americano e em juIgados da corte consti-tucional alerna, para, no final, sem reconhecer 0obvio, conduit que:

    o principio da razoabilidade faz uma imperativa parceria como principio da isonomia . . A vista da constaracao de que legis-lar, em ultima analise, consiste em discriminar siruacoes e pes-soas porvanados criterios, a razoabilidade e 0parametro peloqual se vai aferir se 0 fundamento da diferenciacao e aceitavel ese 0 fi-n pot: ela visado e legitimo.44

    41Abarcandc 0 art. 5, '" X cXXVi art. T", IV,V s : XXI; art. 36, 3~art. 37~IX; art. 40, Ul~"c' e ltd", v , e 4; art. 71, VIII;art. 84, paragrafo uniro; art. 129,lI dX; art. 170, rap"i ; art. !3, 3", 4" e 5"; art; 174, 1" 0art. 175,tV. d.Consriruioio Federal.

    41 S6 par. excrnpiificar, vide GUERRA FlLHO, Willis Santiago. S.bt?oplil1ciJ!ioddp,~porcion"lid"de. In: LEITE, Gco

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    Em recente artigo (embora continuando a entender comosinonimas proporcionalidade e razoabilidade) cunhou a expressao "principios instrurnentais de interpretacao constitucional" para os postulados, e ponderou que:

    o emprego do termo principio, nesse contexto, prende-se :~Iproerninenciae a precedencia desses mandamentos dirigidos ao interprete, e nao propriamente ao seu conteudo (...)consistem premisses conceituais, rnetodologicas ou finalisticas, que devern anteceder, no processo intelectual do interprete, a solucao con creta da questao posta. Nenhum delcsencontra-se expresso no texto da Constituicao, mas sao rc-conhecidos pacificamente pela doutrina e pela jurisprudencia.45

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    KILDARE GON

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    "I 8 TArS INSTITUTOS SAO REGRASMas ha vozes pela consideracao da proporcionalidade como regra, tarnbern.I.ssa e a visao de ROBERT ALEXY para quem:

    A maxima da proporcionalidade costuma ser chamada de"principia da proporcionalidade". No entanto, nao se trata deurn principio no sentido aqui exposto. A adequacao, necessi-dade e proporcionalidade em sentido estrito nao sao pondera-das frente a algo diferenre, Nao e que umas vezes preponde-rem e outras nao, 0 que mais se pergunta e se as rnaximasparciais sao satisfeitas ou nao, e se sua nao satisfacao tern comoconsequencia a ilegahdade. Portanto, as tres rnaximas parciaistern que ser catalogadas como regras."

    REJANE RElS GON(ALVES PEREIRA, acompanhando 0jurista alemao.vdiz que acxpressao principio da proporcionalidade esta consagrada pelo uso, mas que,cfetivamente, principio nao 0 e , pois "a proporcionalidade e uma norma meto-dolbgica que exige aplicacao integral e, porranto, pode ser qualificada como umaregra". 52Luis VIRGiLIO AFONSODA SILVA tarnbem compartilha 0 entendimento de que

    a proporcionalidade nao e principio, senao que regra. E acentua que a utilizacaodo terrno principio pode set erron ea, e com rnais razao quando se adota 0conceito, de Dworkin e Alexy, de regra e principio como as formas diferentes decxpressao da norma juridica. Para 0autor, a proporcionalidade e uma regra deinterpretacao e aplicacao do direito.PII 9 TAIS INSTITUTOS sxo POSTULADOS OU METANORMASo maior expoente deste pensamento e HUMBERTO AVILA. Para ele, em interes-

    sante esrudo," regrase principios sao norrnas de primeiro grau, que visam apromover urn estado de coisas. Compartilhamos-lhe, em muito, 0pensamento,nesse topico. E partimos de urn ponto em cornum. Hi deterrninados entes quenao se situam em qualquer das duas categorias, pois nao visarn a conferir direitosau impor obrigacoes, Funcionam como ferramenta para aplicacao das regras e

    , .51 Ob. cit., p. 112: "La mdxima de proporcionalidad suck ser Hamada 'principio de proporcionalidnd'. Sin embargo, no

    se trsta de um principio em cl scntido aqui expuc.sto. La adequacion, neccsidad y proprocionalidad en scntido csrricto no sonponderadus frente a algo difcrcnrc. No es que unas voces tCfl&r.tn prcccdcncia y OtGl5 no. Lo que sc ptcgunt:l mas bien cs silas maximas parcialcs sen sansfccl-as, 0 no, }' su no satisfaction bene -(:omo corrsecucncia III ilcgalidad. Por 10 tanto, las tresmaximas parcialcs ticncn gue scr caralogadas como rcglas".

    "PEREIRA, 2006, p. 323.53 S ILVA , L U I S Virgilio Afonso da. 0 p ro po rc ir m tl/ c o r (lZ (} dP e l. I n : R e vi st a dos Trihunais, vel. 798. S a o Paulo; Revises dos

    Tribunals, 2002, p. 29.54 A VIL A , H UMB ER TO . ' T eo r ia d o s p l 1 . r u : i p i t J J : da definicac a aplj .cas-jo dos princlpios juridicos. 6_ cd. S a o Paulo: Mnlhciros,2006,p.122.

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    dos principios, Com efeito, os principios sao normas imediatamente finalisticas,visto que buscam urn estado de coisas atraves de urn comportamento. As regr;l~sao normas imediatamente descritivas de .comportamento. De outro lado, essc-.entes juridicos, a que Avila chama de metanormas, e outros de postulado;s , nilodescrevern direta ou indiretamente comportamentos, "mas modos de raciocini: ,e de argumentacao relativamente a norrnas que indiretamente prescrevem comportamentos. Rigorosamente, nao se podem confundir principios com postulados."56 Seriam os postulados normas de segundo grau.o Supremo Tribunal Federal, durante muitos anos, confundiu as expressocsproporcionalidade e razoabilidade, reconhecendo em ambas, porern, 0status dprincipio, Contudo, vozes recentes, ante a revolucionaria recornposicao da Casa,entendem em carater diferente. Paradigm:itico foi 0voto do Ministro EROSGRAU na ADI, em que se declarou a constitucionalidade da aplicacao do Codi-go de Defesa dos Consumidores a s instituicoes financeiras, E disse 0Ministro:

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    Quanta a ofensa - na expressao "inclusive as de naturezabancaria, financeira, de credito e securitaria" , do 20do art. 3"do CDC - ao "principio da razoabilidade", anoto desde logoque ela, tal qual a proporcionalidade, nao constitui urn princi-pio. Como observei em outra oportunidade, uma e outra,razoabilidade e proporcionalidade, sao postulados normati-vos da interpretacao Zaplicacao do direito - urn novo nomedado aos vclhos canones da interpretacao, que a nova herrne-neutica despreza - e nao principios."

    Em texto doutrinario, EROSGRAU acentua que se tratam de "urna condicaoformal ou estrutural de conhecimento concreto (= aplicacao) de outras nor-mas".58 ''Nada ha de novo na proporcionalidade e na razoabilidade, postuladosque desde ha muito - e independentemente da forrnulacao dessas duas nocoes=-vern 0Poder Judiciario exercitando na interpretacao/aplicacao do direito",E como bern acentua Avila, enquanto os principios e regras sao os objetos da

    aplicacao, os postulados estabelecern os criterios de aplicacao dos principios edas regras, servindo de parametro a s norm as de prirneiro grau, com criterios emedidas, Sempre hi uma outra norma a rente das metanormas.Como foi visto no momento de delineamento do conceito de principio, este

    pode ser aplicado em varies graUS, dependendo da situacao f:itica em que hajaconflito ou concorrencia entre urn ou mais destes institutes, Contudo, os postu-lados nao se aplicam desta forma. Nao sao principios, pois nao sao realizados

    53"Em geral uma proposicao C J . uese admire, ou se pede seja adrnitida, com 0 cscopo de tornar possivcl uma demonstrscaoou urn procedimenro qualquer" (ABBAGNANO, Nicola. D i,i .m ir io de Pitosofia. 2. ed. Sao Paulo: Mestre joe, 1982, p.7S!.,. AVILA, 2006, p. ]23.

    "BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 2591/0F Rcl. Min. Carlo. Velloso, rei, p/ acordao Min. Eros Grau, j. 07/06/2006, O J 29.09 .2006. p . 31."'GRAU, 2002, P. 178179.

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    em varies graus, mas em urn s6 (a medida e ou nao e proporcional ou razoavel,por exemplo). Nao sao normas, porque nao possuem uma hip6tese e uma con-sequencia, tampouco podem set dedarados invalidos em caso de colisao, Nao seponderam nem se declaram validos au nao, pois sao eles mesmos ferrarnentascom que se pondetam principios e se aquila tam a invalidade de uma regra. Alias,nao sao principios. Sao meios. Meios de se aplicar 0Diretto.E sua funcionalidade e diferente, Veja-se que nao imp6em a promocao de urn

    fim {como os principios), Estruturam a aplicacao do dever de promover umfim. Nao prescrevemcornportamentos (como as tegtas). Estruturam a aplica-c;:aodas regras que os fazem. Seu processo de aplicacao nao eo de subsuncaoj"como 0das regras, em que se avalia apenas uma relacao entre a hipotese norma-tiva e os elementos de fato, para se chegar a norma de decisao, Verificam-se"varios elementos {meio e fim, criterio e medida, regra geral e caso individual)"60Alias, nao se podem aplicar as metanormas - v.g. a ptoporcionalidade ou a

    tazoabilidade - como principios, ja que assirn se estaria transformando 0juiz emlegislador, cornpetindo-lhe criar uma norma que, ao alvedrio de qualquer princi-pia au regra que 0fundamentasse, Fosse a mais "proporcional" ou "razoavel"para aquele caso. Voltariarnos a visao positivista de discricionariedade judicial.Como bern adverte AVILA:

    S6 elipticamente e que se pode afirrnar que sao violados ospostulados da razoabilidade, da proporcionalidade ou da efi-ciencia, por exemplo. A rigor, violadas sao as riorrnas - prin-dpio s e regras - que deixararn de ser devidamen te aplicadas."

    Infelizmente, nossa jurisprudencia ainda nao compreendeu a existencia dasnormas de segundo grau; cornetendo falhas facilrnente dernonstraveis. Portanto,quando 0Supremo Tribunal Federal, invocando 0"principio da proporcionali-dade", por exemplo, concedeu habeas i"OpUS a paciente que fora algemada e ex-posta ao publico desnecessariamente, uma vez que naquele momento nao apre-sentava perigo de fugir ou ferir alguem, com base nos "principios" da proporci-onalidade e da razoabilidade, na verdade reconheceu - como 0pr6prio voro daMinistra CARMENLUCIA destaca - que:

    .A Constiruicao da Republica, em seu art. 5, inc. III, em suaparte final, assegura que ningub:n sera subrnetido a tratarnentodegradante, e, 110 incise X daquele rnesmo dispositive, protegeo direito a intimidade, a imagem e ahoma das pessoas. Detodas as pessoas, seja realcado. Nao hi, para 0direito, pessoas

    "DWORKlN,1978,p.24-25."'AV1LA,2006,p.124.61 Idem,p. 122.

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    de categorias variadas, 0 ser hurnano e urn, e a de devc ,,,.,garantido 0conjunto dos direitos fundamentaisY

    Desta forma, nao houve violacao clir-etada proporcionalidade .e/ou da razoabilidade, mas sim da dignidade humana e do direito a intimidade (art. 5, III e X,da Constituicao Federal). 10 0 POSTULADO DA PROPORCIONALIDADEInteressante frisar a umbilicacao existente entre a igualdade e a ideia de pro

    porcaoem AruSTOTELES,63 0 justa e uma especie de termo proporcional, umnigualdade de razces rnediadas, Dar evoluiu 0conceito de igualdade substancial,Sua ideia de justica e a de que "0justa eo proporcional, e 0injusto eo que violaa proporc;:ao".64Na doutrina espanhola se discute 0status da proporcionalidade. Duas posi

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    :trgumento de que aquela concepcao pode induzir a pensar que a proporcionali-dadeseria urn dnone au um parametro de controle da constitucionalidade ca-paz de operar desconectadodo sistema dos direitos fundamentais sobre 0qualincide, A proporcionalidade nao poderia, segundo 0 autor espanhol, ser aplicadasern uma disposicao jusfundamental que a susrentasse.t" Contudo, entendemoscrronea a posicao do autor espanhol, como tentaremos fazer ver mais a frente.Tratemos, par ora, da sisternatizacao do institute,Em nOS50 direito conscitucional can temp oraneo, a postulado da proporcio-

    nalidade, que deve ser obedecido tanto por quem exerce quanta por quem sesubrnete ao poder, tern por pressuposto. a) a existencia de urn ate normativoque afete urn direito constitucional fundamental; b) uma relacao entre os finsperseguidos e os meios utilizados nesse desiderato; c) uma situacao de fato, con-forme pre1eciona PAUJ,O BONAV.ID[~.70 No mesrno -caminho, HUMBERTO AVILAdispoe que a proporcionalidade constitui urn postulado normacivo-aplicativoque decorre do cararer principal das normas e da funcao distributiva do direito,"cuja aplicacao, porem, depende do imbricamento entre bens juridicos e da exis-rencia de uma relacao meio /fim intersubjetivarnente controlavel"." Se nao hou-vet essa relacao, nao se esta a falar da proporcionalidade.

    Nao obstante a ideia de proporcionalidade ja remontasse a Arist6te1es ~ comofoi visto acima=-, foi a [urisprudencia alema que a sistematizou em tres maximasparciais,.a sa?er:72 a) adeq~ac;aa CC:- re igne the i i ) ; b) nec:ess~dade (Enforderl iohke i t ) c)proporcionalidade em sentido estt1t~ {Verhal tmsmiis . rzgke t t ) .Adequa

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    A utilizacao da proporcionalidade exige a ocorrencia de uma relacao de perilnencia axio16gica entre urn meio e urn fim, dado que averigua exatamentc "medida dessa relacao,

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    II11 0 POSTULADO DA RAZOABILIDADECabe agora distinguir propotcionalidade de razoabilidade. Com efeito, aind.i

    paira em nos sa jurisprudencia uma nevoa espessa.Em nosso dia-a-dia utilizamos a palavra razi io em muitos sentidos. Pode inch

    car certeza ("estou com a razao"), lucidez ("nao perdi a razao"), motivo ("1z iss: Iem razao daquilo"). A palavra razao tem duas origens: 0latim ratio e 0gregl)logos, e em ambos tem 0mesmo sentido: contar, reunir, juntar. E 0que fazemos- reflete MARILENACHAut - "quando medimos, juntamos, separamos, contamos.e calculamos? Pensamos de modo ordenado (...) Assim, na origem, a razao e :1capacidade intelectual para pensare exprimir-se correta e claramente, para pensare dizer as coisas tais como sao".75A proporcionalidade e a razoabilidade nao sao sinonimas, ernbora tenham

    objetivos semelhantes. Suas origens sao diferentes. Leciona LUIS VIRGiLIOAFONSO DA SILVAque a razoabilidade remonta a uma decisao jurisprudencial inglesde 1948, nos seguintes parametros: se uma decisao e de tal forma irrazoavel, qlH'nenhuma autoridade que agisse razoavelmente a tomaria, entao pode a Corteintervir e reformar ou anular 0ato.76 Ve-se que a aplicacao da razoabilidadc t'menos exigente que a proporcionalidade, que possui a tridimensionalidade adc-qua~ao!necessidade/proporcionalidade em sentido estrito, E a Corte Europeiados Direitos Humanos decidiu reiteradas vezes pela desproporcionalidade deuma medida, nao obstante a razoabilidade dela."Mais uma vez, socorrerno-nos de HUMBERTOAVILA,"que, ao descrever a hipo-

    tese de aplicacao da razoabilidade, diz 0seguinte:Hi casos em que e analisada a constitucionalidade da aplicacaode uma medida nao com base em urna relacao meio-fim, mascom fundamento na siruacao pessoal do sujeito envolvido. r\pergunta a ser feita e : a concretizacao da rnedida abstrativamen-te prevista implica a nao realizacao substancial do bern juridicocorrelato para determinado sujeito? Trata-se de urn.exame con-creto individual dos bens juridicos envolvidos, nao em funcaoda rnedida em relacao a urn fim,mas em razao da particularida-de ou excepcionalidade do caso individual (...) A razoabilidadedetermina que as condicoes pessoais e individuais dos sujeitos

    -:~C,II\lJI, Marilcna. Convite a filosofia. 13. ed.Sao Paulo: Atka. 2003.p. 62.""SII .V". 2() ()2 , p. 24-n I drm, p. 30,

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    envolvidos sejam consideradas na decisao,E importante salientar dois pontos na razoabilidade: a) deve-se verificar como

    paradigmaD que ocorre no dia-a-dia, e nao 0extraordinario; b) devem-se conside-tar, alem disso, as peculiaridades da situacao ern face da abstracao e genetalidade danorma. Verifiea-se que, os dois elementos acima culminam no entendimento derazoabilidade como antag6nica it arbitrariedade e respeitando a justica do casoconcreto, isto e, a equidade, Assume-se, assim, urn cleverde consistencia e coerencia16gica,HUMBERTO AVILA cita como exemplo a caso de urna pequena industria dernoveis que foi exduida cia classe de empresa de pequeno porte, irrazoavelmente,por ter feito a importacao de quatro pes de sofa, uma unica vez, ja que havia umalei que excluia daquela dasse as empresas que irnportassem produtos, 78Na razoabilidade, a relacao e entre criteria e medicla. Na ptoporcionalidade,

    meio e fun, Consoante WILSON,ANTONIO STEINMETZ, na razoabilidade "objetiva-se verificar se a resultante da aplicacao da norma geral (que e uma norma cans-titucionalrnente valida) ao caso individual e razoavel, nao-arbitraria.t"?II 12 DIFERENCIANDO PRINCIPIOS E VALORESPropositadamente, em varias passagens, utilizamos as terrnos principio e va-

    lor intercaladarnente, mas como sinonirnos, na malaria das vezes atraves de cita-

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    deontol6gicos sao mandados de proibicao ou atribuicao de urn direito a algu("'11(urn dever-ser). Os conceitos axiol6gicos se caracterizam nao por expressa!' "que deve ser, mas sim 0 que e born, Assim, utilizam-se os conceitos axiol6gin I',quando se considera algo sob 0 prisms do belo, do dernocratico, do social ou d,lEstado de Direito, por exemplo, J a os conceitos antropol6gicos sao os de VOlltade, interesse, necessidade, decisao eacao. Sob esse enfoque se torna rnais [i(Iidistinguir os dois entes em apre):o.0ntropo16gico nao interessa a nos sa refl.:xao. Os principios sao ordens de urn deterrninado tipo, mandados de otimixc;:ao,pertencendo ao mundo deonto16gico. J a os valores constituem uma relac. ientre urn ou varios criterios, estabelecendo, tao-somente, 0preferivel. Assim, "que e , no modele dos valores, born, e 6 no modelo dos principios, devidPortanto, 0 primeiro enunciado e deonto16gico; 0 segundo, axiol6gico; e 0 tel'ceiro, antropol6gico.A vista de JOGEN HABERMAS, as normas possuem urn sentido deontologico(que compoltamento se deve adotar). o, valores, teleol6gico (0 que melhor cit-se buscar) e axioI6gico (0 que e born). As normas, quando validas, obrigam seusdestina tarios, sem excecao, Os val.ores devem ser vistos como preferencias compartilhadas intersubjetivamente. as valores expressam preferencias tidas comodignas de serem desejadas, podendo ser realizadas ou nao. As normas sao bin.a .rias, validas ou invalidas que, em via geral, s6 aceitam uma resposta S 1 m ou nan.ou uma abstencao/"Por fim, podemos conduir que, no Direito, os principios podem conter valo-

    res; mas 0 inverse nao ocorre, visto que os principios possuem urn plus, que e adirnensao pratica do dever-ser, e e exatamente esta que se leva em consideracaono estudo das normas juridicas.II13 CONCLUSAODe tudo 0 que foi exposto, podermos inferir que:o juspositivismo nasceu e cresceu a sombra do jusnaturalismo, e depois 0

    suplantou. 0auge do positivisrno ocorreu com 0 pensamento de Hans Kelsen(no chamado positivismo normativista), segundo 0qual juridico deveria serestudado separado da moral ou da politica. E aquele nao se contars inaua com este.Esse discurso isolacionista nao fez lume as necessidades sociais emergentes, eabriu uma fenda pela qual regimes injustos, mas ancorados na lei (como foramos casos do nazismo, do stalinismo e do fascismo), se estabeleceram. Ap6s anosde guerra e milh6es de vidas ceifadas, constatou-se que 0Direito, embora naoseja a moral, nao pode se apartar de conceiros eticos,Foi reconhecido, assim, 0carater deontol6gico d0S principios, isto e , foi-lhes

    conferido 0 statui de especie do genero norrnas juridicas, ao lade das regras;

    8"l - IAHl iR)l .[;\S,]ugen. Dinito e dem oc rat ia : entre facticidade e validsde, 2. ed. Rio de janeiro: Tempo Bresilciro, 2003) Vo l. I,r316-317.

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    !'lllcndeu-se que nenhum sistema pode ficar sem esses corretivos (os principios),",)b pena de se produzir, entre 0direito e a justice, urn .divorcio inadmissivel,'''luO ocorrido no-passado recente da primeira metade do Seculo lL'C.Embora ainda incipientes, a doutrina e a jurisprudencia vern percebendo que

    I i : \ determinados institutos que nao funcioriam como regras ou principios. Seuobjeto nao visa a regular cornportamentos,' mas sim estabelecer criterios e estru-rurar a aplicacao das regras e principios, Surgiu a conceito de metanorrnas aupostulados: proporcionalidade, razoabiIidade, igualdade, ponderacao, concor-lhl.t1ciapratica e proibicao de excesso,A proponional idade foi sistematizada pela jurisprudenciaalema, no inicio da se-

    gunda metade do Seculo XX, em tres maxirnas parciais, a saber: a) adequacao(Geeignethei t ); b) necessidade (EtifOrderlio'hkeit) e c) proporcionalidade em sentidoestrito (VerhaltniJmaJJ"igkeit), A proporciona1idade averigua a relacao de causalida-de entre urn meio e urn tim-,A razoabi f idade, tal qual como a conhecemos atualmente, remonta a urna deci-sao jurisprudencial inglesa de 1948, nos seguintes parametres: se urna decisao e

    de tal forma irrazoavel, que nenhum raciocinio razoavel a tornaria, entao pode aCorte intervir. E importante salientar dois pontos na razoabilidade: i) 0paradig-rna e 0que oeorre no dia-a-dia, e nao 0extraordinario; ii ) as peculiaridades dasituacao frente a abstracao e generalidade da norma devern ser avaliadas. Deve-se eoxergar a razoabi l idade em antagonismo a arb i t rar iedade . Na diferenciacao entreo que e razoavel e 0que e ptoporcional, 0primeiro e a relacao entre criterio emedida, e 0 segundo, entre 0 rneio eo rim perseguido,Na diferenciacao entre norrnas e valores, aquelas possuem urn sentido deon-tol6gico. Os valores, teleol6gico e axiologico, As norrnas validas obngam seus

    destinatarios, Os valoressao preferencias compartilhadas intersubjetivamente. Osvalores expressam preferencias dignamente desejaveis, realizadas ou nao, As nor-mas sao binarias; so aceitam urna tesposta S 1 m ou nao, ou urna abstencao.Por rim, nao podemos ter a pretensao de, num opusculo como este, dar

    respostas a questoes tao complexas e relevantes para 0cenario do Direito, comoas que envolvem regras, principios, postulados e valores. Confess amos, hurnilde-mente, que apenas almejamos trazer a tona os aspectos mais relevantes dessesinstitutos juridicos, com 0fun de levar 0leitor a reflexao, instigando-o a buscarmaiores explicacoes sobre os ternas versados. Esperarnos que este texto sirva-lhecomo primeiro passo para uma jornada rnuito maior, 14 REFERENCIAS

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