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Regras e Dicas TÓPICO 1 Termos essenciais da oração Introdução Chamamos de termos essenciais da oração aqueles compõem a estrutura básica da oração, ou seja, que são necessários para que a oração tenha significado. São eles: sujeito e predicado. Encontramos diversas definições do que vem a ser sujeito, tais como: Sujeito é o elemento do qual se diz alguma coisa. Sujeito é o ser que pratica ou recebe a ação que o verbo expressa. Já sobre predicado podemos dizer que é aquilo que se diz sobre o sujeito. No decorrer deste tutorial veremos a classificação e os tipos de sujeito e predicado. SUJEITO NÚCLEO DO SUJEITO É a palavra (substantivo ou pronome) que realmente indica a função sintática que está exercendo. Exemplo: O computador travou novamente. Núcleo A lâmpada está queimada. Núcleo TIPOS DE SUJEITO O sujeito pode ser: DETERMINADO O sujeito é determinado quando é facilmente apontado na oração e subdivide-se em: simples e composto. a) SIMPLES à quando possui um único núcleo. Exemplo: o menino quebrou a janela. Núcleo Olga aprendeu a tocar violão. Núcleo b) COMPOSTO à apresenta dois ou mais núcleos.

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Regras e Dicas

TÓPICO 1

Termos essenciais da oração

Introdução

Chamamos de termos essenciais da oração aqueles compõem a estrutura

básica da oração, ou seja, que são necessários para que a oração tenha significado. São eles: sujeito e predicado.

Encontramos diversas definições do que vem a ser sujeito, tais como:

Sujeito é o elemento do qual se diz alguma coisa.

Sujeito é o ser que pratica ou recebe a ação que o verbo expressa.

Já sobre predicado podemos dizer que é aquilo que se diz sobre o sujeito.

No decorrer deste tutorial veremos a classificação e os tipos de sujeito e predicado.

SUJEITO

NÚCLEO DO SUJEITO

É a palavra (substantivo ou pronome) que realmente indica a função sintática que está exercendo.

Exemplo: O computador travou novamente.

Núcleo

A lâmpada está queimada. Núcleo

TIPOS DE SUJEITO

O sujeito pode ser:

DETERMINADO

O sujeito é determinado quando é facilmente apontado na oração e subdivide-se em: simples e composto.

a) SIMPLES à quando possui um único núcleo.

Exemplo: o menino quebrou a janela. Núcleo

Olga aprendeu a tocar violão.

Núcleo

b) COMPOSTO à apresenta dois ou mais núcleos.

Exemplo: Do Carmo e Dirceu cambaleavam pela rua.

Núcleo

O Windows e o Linux disputam o mercado de informática.

Núcleo

c) IMPLÍCITO à quando podemos identifica-lo através da desinência verbal.

Exemplo: (eu) Pintei algumas camisas.

(nós) Viajaremos para São Paulo.

INDETERMINADO

Quando não é possível determiná-lo na oração.

O sujeito indeterminado apresenta-se de duas maneiras:

1. verbo na 3ª pessoa do plural, sem a existência de outro elemento que exija

essa flexão do verbo. 2. verbo na 3ª pessoa do singular acompanhado do pronome SE.

Exemplo: Maria, falaram de você na festa.

Mandaram o pintor concluir o serviço. Precisa-se de costureiras.

ORAÇÕES SEM SUJEITO

São orações constituídas apenas pelo predicado, pois a informação fornecida

não se refere a nenhum sujeito. As principais são:

1. verbos que exprimem fenômenos da natureza: chover, trovejar, nevar,

anoitecer, amanhecer, etc.

Exemplo: Choveu muito hoje pela manhã. Nevou bastante durante o inverno.

2. o verbo haver no sentido de existir ou indicação de tempo transcorrido.

Exemplo: Houve sérios problemas na rede da empresa.

Há vários anos não viajamos juntos.

3. verbo fazer, ser e estar indicando tempo transcorrido ou tempo que indique

fenômeno da natureza.

Exemplo: Faz duas semanas que não viajamos. Está muito quente hoje.

Era noite quando ele chegou.

Observações:

1. o verbo SER, impessoal, concorda com o predicativo, podendo aparecer na

3ª pessoa do plural.

Exemplo: São oito horas da manhã. É uma hora da tarde.

2. os verbos que indicam fenômenos da natureza, quando usados em sentido conotativo (figurado) deixam de ser impessoais.

Exemplo: Amanheci indisposto. Choveram reclamações sobre as operadoras de telefonia.

3. quando um pronome indefinido representa o sujeito ele deve ser classificado

como determinado.

Exemplo: Alguém pegou a minha borracha. Ninguém ligou hoje.

PREDICADO

O predicado é aquilo que se comenta sobre o sujeito. Para estuda-lo é

necessário conhecer o verbo que forma o predicado. Quanto a predicação os verbos podem ser classificados como: intransitivos, transitivos e de ligação.

VERBO INTRANSITIVO

São verbos que não exigem complemento, pois têm sentido completo.

Exemplo: A menina caiu.

V.I

O computador quebrou. V.I

VERBO TRANSITIVO

São verbos que exigem complemento e se dividem em: transitivo direto,

transitivo indireto e transitivo direto e indireto.

TRANSITIVO DIRETO

Não exigem preposição, ligando-se diretamente ao seu complemento,

chamado objeto direto.

Exemplo: As empresas tiveram prejuízos. VTD

Luíza comprou doce. VTD

TRANSITIVO INDIRETO

Exigem preposição, ligando-se indiretamente ao seu complemento, chamado de objeto indireto.

Exemplo: Gustavo gosta de chocolate.

VTI Nós precisamos de melhores salários.

VTI

TRANSITIVO DIRETO E INDIRETO

Exigem os dois complementos – objeto direto e objeto indireto – ao mesmo

tempo.

Exemplo: Alan pediu um carro ao pai.

VTDI Os alunos receberam elogios de seus professores.

VTDI

VERBOS DE LIGAÇÃO

São verbos que expressam estado ou mudança de estado e ligam o sujeito ao predicativo.

Exemplo: Os alunos permaneceram na sala.

VL

O computador é antigo. VL

O verbo de ligação pode expressar:

1. estado permanente: expressa o que é habitual, o que não se modifica.

Verbos SER e VIVER.

Exemplo: Anita é bonita.

2. estado transitório: expressa o que é passageiro. Verbos ESTAR, ANDAR,

ACHAR-SE, ENCONTRAR-SE.

Exemplo: Antônio anda preocupado. A criança está doente.

3. mudança de estado: revela transformação. Verbos FICAR, TORNAR-SE,

ACABAR, CAIR, METER-SE.

Exemplo: A pintura ficou bonita

4. continuação de estado: Verbos CONTINUAR, PERMANECER.

Exemplo: O computador permaneceu desligado.

José continua febril.

5. estado aparente: VERBO PARECER.

Exemplo: A sobremesa parece saborosa.

TIPOS DE PREDICADO

Há três tipos de predicado: predicado nominal, predicado verbal e predicado

verbo-nominal.

PREDICADO NOMINAL

Expressa o estado do sujeito. O verbo é de ligação.

Exemplo: O dia continua quente.

PREDICADO Todos permaneciam apreensivos.

PREDICADO

Observação: o núcleo do predicado nominal é chamado predicativo do

sujeito, pois atribui qualidade ou condição.

PREDICADO VERBAL

Expressa a ação praticada ou recebida pelo sujeito.

Exemplo: Os professores receberam o prêmio.

PREDICADO

Observação: o núcleo do predicado verbal é o verbo, pois sua mensagem

principal é a ação praticada ou recebida pelo sujeito.

Exemplo: Os trabalhadores exigem melhores condições de trabalho. PREDICADO

PREDICADO VERBO-NOMINAL

Informa a ação e o estado do sujeito.

Exemplo: Nós chegamos cansados. AÇÃO ESTADO

Cândida retornou feliz da viagem.

AÇÃO ESTADO

Observação: o predicado verbo-nominal é constituído de dois núcleos – um verbo e um nome – porque fornece duas informações: ação e estado.

Exemplo: O comprador saiu da loja estressado.

A criança dormia tranqüila

TÓPICO 2

Oração, ponto, outra oração.

Ou coordenadas assindéticas sem complicação

Orações e suas respectivas classificações são um trauma que a maioria de nós

adquiriu na escola.

Coordenadas sindéticas aditivas, adversativas, substantivas subjetivas, relativas e

uma infinidade de outros nomes que, para um aluno, são conceitos abstratos e sem utilidade nenhuma.

Na escola, deve-se aprender a usar a língua, não sobre a sua estrutura. Por isso,

vamos começar de outro jeito, olhando para as frases abaixo:

Joãozinho saiu logo, estava atrasado.

Meu pai foi trabalhar. Chovia pela manhã.

Não fomos ao casamento; mandamos um presente.

Os termos destacados são verbos. É através deles que separamos as orações. Em

cada uma das frases temos duas orações e cada uma delas tem um verbo.

Tudo bem até aí?

Agora vamos reparar no elemento que separa cada oração. Na primeira, é a vírgula; na segunda, o ponto; na terceira, o ponto-e-vírgula.

Nós chamamos esse elemento de articulador.

Por quê? Você já deve ter ouvido falar que o ser humano tem articulações. Elas

ligam as partes do nosso corpo, não é? Assim:

Os articuladores são responsáveis por ligar duas orações, assim como as

articulações são responsáveis por ligar duas partes do nosso corpo.

Seu professor é antigo? Ele deve ter muitos articuladores!

Existem vários elementos (além da pontuação) que servem como articuladores, eles costumam ser chamados de conjunções. Mas esse é assunto pra outro texto.

O que precisamos lembrar agora é:

Quando temos duas orações, lado a lado, ligadas por um articulador de pontuação

(vírgula, ponto-e-vírgula ou ponto) estamos em frente a uma oração coordenada assindética.

Por que esse nome feio?

Coordenada, pois as orações estão ordenadas lado a lado.

Assindética, pois não há um síndeto (o mesmo que conjunção) ligando-as.

Complicado? Nem tanto.

Precisa decorar o nome feio? Não deveria; mas se seu professor de português ainda estiver no século passado, paciência.

Mais alguns exemplos de orações coordenadas assindéticas:

Cheguei, vi, venci. (Júlio César)

Estudei ontem; tenho prova na faculdade hoje.

Não tinha ninguém em casa. Entrei silenciosamente.

TÓPICO 3

COORDENAÇÃO

O período composto por coordenação é constituído por orações coordenadas. Chamamos oração coordenada por não exercer nenhuma função

sintática em outra oração, daí ser chamada também oração independente.

Exemplo:

Você trouxe o bolo, mas eu não o comi. Verbo verbo

O pedreiro chegou e começou o serviço.

As orações coordenadas podem ou não conter a presença de conjunções. Dependendo desta condição podemos classificar as orações coordenadas como:

ASSINDÉTICAS

Chamamos orações coordenadas assindéticas aquelas que não possuem

conjunção.

SINDÉTICAS

As orações coordenadas sindéticas são aquelas que possuem conjunção.

ORAÇÕES COORDENADAS ASSINDÉTICAS

Coordenam-se umas às outras sem a presença de conectivo, conjunção.

Exemplo: Amanheceu, acordei, admirei os primeiros raios solares.

O computador era potente, tinha velocidade, não possuía proteção.

ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS

Coordenam-se umas às outras por meio de conectivo, conjunção.

Exemplo:

Olhei e comprei o presente. Correu demais, por isso caiu.

CLASSIFICAÇÃO DAS ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS

As orações coordenadas sindéticas são classificadas de acordo com as

conjunções que as unem. Podem ser:

ADITIVAS

ADVERSATIVAS ALTERNATIVAS

EXPLICATIVAS CONCLUSIVAS

ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS ADITIVAS

Expressam idéia de soma, adição. Conjunções: e, nem (e não), mas também, como também.

Exemplo: Ele não só conhecia a cidade, mas também os melhores pontos turísticos.

Não só estudava como também ensinava. Telefonou e comunicou sua decisão ao chefe.

ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS ADVERSATIVAS

Expressam idéias contrárias à outra oração. Conjunções: mas, porém,

todavia, contudo, no entanto, entretanto.

Exemplo:

A população fez várias passeatas, mas não conseguiu bons resultados. Viajou para Londres, contudo não esquecia Recife.

O problema era facilmente resolvido, entretanto poucos conseguiram resolvê-lo.

ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS ALTERNATIVAS

Expressam idéia de exclusão, alternância. Conjunções: ou... ou, ora... ora,

já... já, quer... quer.

Ora estudava matemática, ora estudava português.

Procure chegar cedo ou não conseguirá a vaga.

ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS EXPLICATIVAS

Expressa uma justificativa, explicação, contida na outra oração coordenada. Conjunções: pois (anteposta ao verbo), porque, que visto que.

Exemplo: Recife está intransitável, pois é repleta de buracos em suas ruas.

Não vou sair à noite, porque vou fazer uma prova importante amanhã.

ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS CONCLUSIVAS

Expressa uma idéia de conclusão do fato contido na oração anterior. Conjunções: logo, portanto, pois (colocada após o verbo), assim, por isso.

Exemplos: Conseguimos bater a meta, portanto podemos comemorar o nosso sucesso.

Acreditamos na igualdade entre os povos; por isso devemos lutar por uma distribuição de renda melhor.

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

1. Relacione as orações coordenadas por meio de conjunções:

a) Ouviu-se o som da bateria. Os primeiros foliões surgiram. b) Não durma sem cobertor. A noite está fria.

c) Quero desculpar-me. Não consigo encontrá-los.

Respostas:

Ouviu-se o som da bateria e os primeiros foliões surgiram.

Não durma sem cobertor, pois a noite está fria. Quero desculpar-me, mais consigo encontrá-los.

2. (PUC-SP) – Em: ―... ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas...‖ a partícula como expressa uma idéia de:

a) causa

b) explicação c) conclusão

d) proporção e) comparação

Resposta: E

A conjunção como exercer a função comparativa. Os amplos bocejos ouvidos são comparados à força do marulhar das ondas.

POLISSEMIA CONJUNTIVA E A ORAÇÃO COORDENADA

Conjunção pois: pode caracterizar as seguintes orações:

CONCLUSIVA » não inicia a oração, aparece entre vírgulas ou separada da

oração por uma vírgula.

Exemplo:

Henrique está louco; devemos, pois, interditá-lo.

EXPLICATIVA » inicia a oração e pode ser substituída pelas conjunções

explicativas porque e que.

A conjunção e pode assumir valor adversativo.

Exemplo:

Convidei vários amigos e nenhum veio ao jantar. (Convidei vários amigos mas nenhum veio ao jantar).

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

3. (FUVEST – SP) – ―Entrando na faculdade, procurarei emprego‖, oração

sublinhada pode indicar uma idéia de:

a) concessão

b) oposição c) condição

d) lugar e) conseqüência

Resposta: C

A condição necessária para procurar emprego é entrar na faculdade.

4. (Univ. Fed. Santa Maria – RS) – Assinale a seqüência de conjunções que estabelecem, entre as orações de cada item, uma correta relação de sentido.

1. Correu demais, ... caiu.

2. Dormiu mal, ... os sonhos não o deixaram em paz.

3. A matéria perece, ... a alma é imortal. 4. Leu o livro, ... é capaz de descrever as personagens com detalhes.

5. Guarde seus pertences, ... podem servir mais tarde.

a) porque, todavia, portanto, logo, entretanto

b) por isso, porque, mas, portanto, que c) logo, porém, pois, porque, mas

d) porém, pois, logo, todavia, porque e) entretanto, que, porque, pois, portanto

Resposta: B

Por isso – conjunção conclusiva.

Porque – conjunção explicativa.

Mas – conjunção adversativa. Portanto – conjunção conclusiva.

Que – conjunção explicativa.

5. Reúna as três orações em um período composto por coordenação, usando conjunções adequadas.

Os dias já eram quentes.

A água do mar ainda estava fria.

As praias permaneciam desertas.

Os dias já eram quentes, mas a água do mar ainda estava fria, por isso as praias permaneciam desertas.

SÍNTESE DO TUTORIAL

O período composto por coordenação é constituído por orações

coordenadas.

ASSINDÉTICAS

Chamamos orações coordenadas assindéticas aquelas que não possuem conjunção.

SINDÉTICAS

As orações coordenadas sindéticas são aquelas que possuem conjunção. As orações coordenadas sindéticas são classificadas de acordo com as

conjunções que as unem. Podem ser:

ADITIVAS

ADVERSATIVAS ALTERNATIVAS

EXPLICATIVAS CONCLUSIVAS

ADITIVAS » Expressam idéia de soma, adição. Conjunções: e, nem (e não),

mas também, como também.

ADVERSATIVAS » Expressam idéias contrárias à outra oração. Conjunções: mas, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto.

ALTERNATIVAS » Expressam idéia de exclusão, alternância. Conjunções: ou... ou, ora... ora, já... já, quer... quer.

EXPLICATIVAS » Expressam uma justificativa, explicação, contida na outra oração coordenada. Conjunções: pois (anteposta ao verbo), porque, que visto que.

CONCLUSIVAS » Expressam uma idéia de conclusão do fato contido na oração anterior. Conjunções: logo, portanto, pois (colocada após o verbo), assim,

por isso.

TÓPICO 4

Aprenda definitivamente a

usar a vírgula com 4 regras simples

A vírgula é um dos elementos que causam mais confusão na língua portuguesa.

Pouca gente sabe ao certo onde deve e onde não deve usá-la. O motivo disso é

bem simples: sempre nos ensinaram do jeito errado!

Você deve lembrar da sua professora falando coisas como ―a vírgula é usada para

indicar pausa‖, ―prestem atenção em como vocês falam, quando tiver pausa, usem

vírgula‖. Isso é besteira, pois cada um de nós fala de um jeito diferente, usa pausas

diferentes e, basicamente, decide como quer falar.

Mas não podemos simplesmente decidir onde vai e onde não vai vírgula. Ela tem

poder demais para ser arbitrária.

Pois bem, existem algumas regras para o uso da vírgula, e elas são baseadas na

gramática. Deu medo, né? Calma, o meu objetivo aqui é mastigar a gramática pra

que você não estrague seus dentes.

1. Use a vírgula para separar elementos que você poderia listar

Veja esta frase:

João Maria Ricardo Pedro e Augusto foram almoçar.

Note que os nomes das pessoas poderiam ser separados em uma lista:

Foram almoçar:

João

Maria

Ricardo

Pedro

Augusto

Isso significa que devem ser separados por vírgula na frase original:

João, Maria, Ricardo, Pedro e Augusto foram almoçar.

Note que antes de ―e Augusto‖ não vai vírgula. Como regra geral, não se usa

vírgula antes de “e”. Há um caso específico que eu explico daqui a pouco.

Um outro exemplo:

A sua fronte, a sua boca, o seu riso, as suas lágrimas, enchem-lhe a voz de formas

e de cores… (Teixeira de Pascoaes)

2. Use a vírgula para separar explicações que estão no meio da frase

Explicações que interrompem a frase são mudanças de pensamento e devem ser

separadas por vírgula.

Exemplos:

Mário, o moço que traz o pão, não veio hoje.

Dá-se uma explicação sobre quem é Mário. Se tivéssemos que classificar

sintaticamente o trecho, seria um aposto.

Eu e você, que somos amigos, não devemos brigar.

O trecho destacado explica algo sobre ―Eu e você‖, portanto deve vir entre vírgulas.

A classificação do trecho seria oração adjetiva explicativa.

3. Use a vírgula para separar o lugar, o tempo ou o modo que vier no início

da frase.

Quando um tipo específico de expressão — aquela que indica tempo, lugar, modo e

outros — iniciar a frase, usa-se vírgula. Em outras palavras, separa-se o adjunto

adverbial antecipado. Exemplos:

Lá fora, o sol está de rachar!

―Lá fora‖ é uma expressão que indica ―lugar‖. Um adjunto adverbial de lugar.

Semana passada, todos vieram jantar aqui em casa.

―Semana passada‖ indica tempo. Adjunto adverbial de tempo.

De um modo geral, não gostamos de pessoas estranhas.

―De um modo geral‖ é sinônimo de ―geralmente‖, adjunto adverbial de modo, por

isso vai vírgula.

4. Use a vírgula para separar orações independentes

Orações independentes são aquelas que têm sentido, mesmo estando fora do texto.

Nós já vimos um tipo dessas, que são as orações coordenadas assindéticas, mas

também há outros casos. Vamos ver os exemplos:

Acendeu um cigarro, cruzou as pernas, estalou as unhas, demorou o olhar em

Mana Maria. (A. de Alcântara Machado)

Nesse exemplo, cada vírgula separa uma oração independente. Elas são

coordenadas assindéticas.

Eu gosto muito de chocolate, mas não posso comer para não engordar.

Eu gosto muito de chocolate, porém não posso comer para não engordar.

Eu gosto muito de chocolate, contudo não posso comer para não engordar.

Eu gosto muito de chocolate, no entanto não posso comer para não engordar.

Eu gosto muito de chocolate, entretanto não posso comer para não engordar.

Eu gosto muito de chocolate, todavia não posso comer para não engordar.

Capiche? Antes de todas essas palavras aí, chamadas de conjunções

adversativas, vai vírgula.

Pra quem gosta de saber os nomes (se é que tem alguém), elas se chamam

orações coordenadas sindéticas adversativas. (medo!)

Agora só faltam mais duas coisinhas:

Quando se usa vírgula antes de “e”?

Vimos aí em cima que, como regra geral, não se usa vírgula antes de ―e‖. Tem só

um caso em que vai vírgula, que é quando a frase depois do ―e‖ fala de uma

pessoa, coisa, ou objeto (sujeito) diferente da que vem antes dele. Assim:

O sol já ia fraco, e a tarde era amena. (Graça Aranha)

Note que a primeira frase fala do sol, enquanto a segunda fala da tarde. Os

sujeitos são diferentes. Portanto, usamos vírgula. Outro exemplo:

A mulher morreu, e cada um dos filhos procurou o seu destino (F. Namora)

Mesmo caso, a primeira oração diz respeito à mulher, a segunda aos filhos.

Existem casos em que a vírgula é opcional?

Existe um caso. Lembra do item 3, aí em cima? Se a expressão de tempo, modo,

lugar etc. não for uma expressão, mas sim uma palavra só, então a vírgula é

facultativa. Vai depender do sentido, do ritmo, da velocidade que você quer dar

para a frase.

Exemplos:

Depois vamos sair para jantar.

Depois, vamos sair para jantar.

Geralmente gosto de almoçar no shopping.

Geralmente, gosto de almoçar no shopping.

Semana passada, todos vieram jantar aqui em casa.

Semana passada todos vieram jantar aqui em casa.

Note que esse último é o mesmo exemplo do item 3. Vê como sem a vírgula a frase

também fica correta? Mesmo não sendo apenas uma palavra, dificilmente algum

professor dará errado se você omitir a vírgula.

Não se usa a vírgula!

Com as regras acima, pode ter certeza de que você vai acertar 99% dos casos em

que precisará da vírgula. Um erro muito comum que vejo é gente separando

sujeito e predicado com vírgula. Isso é errado, e você pode ser preso se for

pego usando!

Jeito errado:

João, gosta de comer batatas.

Alice, Maria e Luíza, querem ir para a escola amanhã.

Jeito certo:

João gosta de comer batatas.

Alice, Maria e Luíza querem ir para a escola amanhã.

Exercício sobre vírgula e pontuação

O seu Alfredo estava já no fim da vida e escreveu seu testamento. Infelizmente, ele

esqueceu da pontuação, e o texto ficou assim:

Deixo minha fortuna a meu sobrinho não à minha irmã jamais pagarei a conta do

alfaiate nada aos pobres

Reescreva o testamento 4 vezes, de forma que em cada uma delas você deve dar a

herança pra alguém diferente. Você pode usar qualquer sinal de pontuação, mas

não pode mudar as palavras.

TÓPICO 5

27 dicas para escrever bem

Nada melhor do que ver na prática como os erros mais comuns que cometemos na

hora de escrever podem ser horríveis e tornar um texto muitíssimo desagradável.

A lista que segue é fantástica, vale lembrar dela a cada vez que pensarmos em

redigir algo.

1. Vc. deve evitar abrev., etc.

2. Desnecessário faz-se empregar estilo de escrita demasiadamente

rebuscado, segundo deve ser do conhecimento inexorável dos

copidesques. Tal prática advém de esmero excessivo que beira o

exibicionismo narcisístico.

3. Anule aliterações altamente abusivas.

4. ―não esqueça das maiúsculas‖, como já dizia dona loreta, minha

professora lá no colégio alexandre de gusmão, no ipiranga.

5. Evite lugares-comuns assim como o diabo foge da cruz.

6. O uso de parênteses (mesmo quando for relevante) é desnecessário.

7. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.

8. Chute o balde no emprego de gíria, mesmo que sejam maneiras, tá

ligado?

9. Palavras de baixo calão podem transformar seu texto numa porcaria.

10. Nunca generalize: generalizar, em todas as situações, sempre é um erro.

11. Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma palavra

repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra repetida

desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida.

12. Não abuse das citações. Como costuma dizer meu amigo: ―Quem cita os

outros não tem idéias próprias‖.

13. Frases incompletas podem causar.

14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas

diferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez. Em

outras palavras, não fique repetindo a mesma idéia.

15. Seja mais ou menos específico.

16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!

17. A voz passiva deve ser evitada.

18. Use a pontuação corretamente o ponto e a vírgula especialmente será que

ninguém sabe mais usar o sinal de interrogação

19. Quem precisa de perguntas retóricas?

20. Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.

21. Exagerar é cem bilhões de vezes pior do que a moderação.

22. Evite mesóclises. Repita comigo: ―mesóclises: evitá-las-ei!‖

23. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.

24. Não abuse das exclamações! Nunca! Seu texto fica horrível!

25. Evite frases exageradamente longas, pois estas dificultam a compreensão

da idéia contida nelas, e, concomitantemente, por conterem mais de uma

idéia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçando,

desta forma, o pobre leitor a separá-la em seus componentes diversos, de

forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas,

parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso

de frases mais curtas.

26. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língüa portuguêza.

27. Seja incisivo e coerente, ou não

TÓPICO 6

Como escrever e pensar com maior clareza e aprender mais facilmente

O material a seguir é uma tradução do estudo de

Michael A. Convington, da Universidade da Georgia nos EUA.

Eu não creio ser dono de tanta inteligência,

mas acredito ter o talento necessário para amplificar a que possuo.

R.D.G – 1975

Amplificando sua inteligência

Como:

Escrever mais claramente;

Pensar mais claramente;

Aprender mais facilmente.

Minha proposição é de que estes fatores estão interligados.

Como escrever mais claramente

O mundo é regido por pessoas que escrevem;

Uma escrita clara leva a um pensamento claro;

Você não sabe o que você sabe, até tentar expressar isso.

Falsas concepções sobre o ato de escrever

Mito: A escrita refere-se principalmente � ficção ou poesia.

Fato: Isso seria o mesmo que dizer que a maioria dos exercícios são feitos em

danças de balê.

A maior parte do que é escrito no mundo é puramente informação. Geralmente

pessoas que não gostam de poesia ou ficção é que acreditam neste mito.

Mito: Escritores são pessoas que memorizaram vários livros e muitíssimas regras

de gramática.

Fato: A Gramática não é o problema.

Você é exposto a enormes quantidades de bom português todos os dias. Se você

sabe o que está tentando dizer, 99% do tempo estará dizendo isso

gramaticalmente.

Uma pessoa educada, precisa no máximo de alguns poucos pontos do

conhecimento gramatical. Em uma gramática de 100 páginas, por exemplo, você

não precisará de mais do que 3 delas. Deixe as pessoas lhe ajudarem a fazer esse

número diminuir ainda mais ;)

A perspectiva altruísta

Uma boa escrita é, em parte, uma questão de caráter.

Ao invés de escrever o que é fácil para você, escreva o que é fácil para seu leitor.

Não obrigue-o a aceitar os seus erros, o trabalho extra é feito por você, de modo

que seu leitor não perca tempo.

O processo de escrita

Escrever, simplesmente, é algo complicado demais para a maioria das pessoas.

Solução: Desmembrar o processo de escrita, de forma a torná-lo possível.

Tendo consciência do que estamos fazendo, seguindo os 5 passos a seguir, as

chances de obtermos um resultado satisfatório são grandes:

Planejar – Decidir o quê e como escrever;

Rascunhar – Colocar isso no papel, logo;

Revisar – Colocar isso no papel, mas de uma forma melhor;

Editar – Corrigir a escrita, pequenos erros gramaticais etc.;

Formatar – Escolher estilo de letra, aparências etc.

TÓPICO 7

15 Exercícios para Melhorar sua Escrita

Exercícios de escrita são um ótimo caminho para melhorar suas habilidades

na produção textual e até gerar novas idéias para futuros trabalhos. Eles podem

também dar-lhe uma nova perspectiva do seu projeto atual. Um dos grandes

benefícios de exercícios particulares é que você pode se sentir livre do medo ou

perfeccionismo.

Para tornar-se um escritor é importante às vezes escrever sem a expectativa

de publicação. Não se preocupe se sair imperfeito, para isso que serve a prática. O

que você escrever em qualquer um desses exercícios, pode não ser o seu melhor

trabalho, mas é uma boa prática para quando você precisar escrever O melhor.

1. Escolha dez pessoas que você conhece e escreva uma frase descrevendo

cada uma.

2. Grave 5 minutos do rádio (ou de algo que você ouve). Escreva o diálogo e

adicione descrições narrativas dos falantes e suas ações, como se

estivesse montando uma cena.

3. Escreva uma auto-biografia com cerca de 500 palavras.

4. Escreva seu testamento. Liste todas as realizações de sua vida. Você pode

escrever como se você fosse morrer hoje, ou daqui a 50 anos.

5. Faça uma descrição de seu banheiro, em 300 palavras.

6. Escreva uma entrevista fictícia com você mesmo, uma figura famosa, com

um caráter também ficcional. Faça isso de uma forma apropriada (ou

inapropriada), como se fosse para uma revista famosa, como a Veja,

Época, Galileu etc.

7. Pegue um jornal ou folheto de supermercado, olhe os artigos e escolha um

que possa ser base para uma cena ou história que você queira escrever.

8. Mantenha um diário de caráter fictício.

9. Pegue uma parte de um livro e reescreva em um estilo diferente, como um

romance gótico, de ficção ou ainda uma história de terror.

10. Escolha um autor, que não necessariamente precise ser seu favorito, e

escreva sobre o que você acha da forma como ele escreve. Faça isso sem

consultas primeiramente, só depois de terminado, releia algumas de suas

obras e veja se esqueceu algo e, se preciso, mude seu texto. Analise quais

elementos do estilo dele você pode adicionar ao seu próprio e quais

elementos você não pode (ou não quer) adicionar. Lembre que seu estilo é

único e que você deve apenas pensar em adicionar elementos a ele. Nunca

tente imitar alguém por mais de um ou dois exercícios.

11. Pegue um texto que você tenha escrito em primeira pessoa e reescreva-o

em terceira pessoa, ou vice-versa. Você também pode tentar fazê-lo

mudando o tempo verbal, narração, ou outros elementos estilísticos. Não

faça isso com um livro inteiro, só com pequenos trechos. Depois de

escrever um livro, nunca olhe para trás para tentar reestilizá-lo, senão

você vai gastar todo seu tempo reescrevendo coisas, ao invés de escrever

algo novo.

12. Tente relembrar da sua mais tenra infância. Escreva tudo que puder

lembrar. Reescreva como uma cena, usando sua perspectiva atual ou, se

conseguir, usando a perspectiva da idade que você tinha.

13. Relembre um antigo argumento que você usou com alguma pessoa.

Escreva sobre o argumento do ponto de vista dessa pessoa. Lembre-se

que a idéia é ver o argumento daquela perspectiva, não da sua própria.

Este é um exercício que pode ser feito oralmente. Nunca julgue se você

está certo ou errado.

14. Escreva uma descrição, com no máximo 200 palavras, de algum lugar.

Você pode usar quaisquer elementos sensoriais, descreva como se sente,

como são os sons, os cheiros e sabores de lá. Tente fazer uma descrição

de forma que as pessoas não percam os detalhes visuais.

15. Sente em um restaurante ou uma área com bastante gente e escreva os

diálogos que você ouve. Escute as pessoas ao seu redor, como elas falam

e que palavras elas usam. Depois de fazer isso, pode praticar terminando

seus diálogos. Escreva sua versão sobre como as conversas continuam.

TÓPICO 8

12 Exercícios para melhorar seus Diálogos

O diálogo é um dos mais difíceis aspectos para desenvolver em uma escrita de

qualidade. Há diversos pequenos erros que você deve tentar evitar, tais como:

Linguagem robótica

Diálogos que não soam como uma fala natural não prendem a atenção do leitor. Ao

ler, você deseja entrar na história, fazer parte dela!

Preenchimento

Diálogos que não adicionam nada na cena e não contribuem para um melhor

entendimento dos caracteres são apenas ―encheção de lingüiça‖. O seu leitor não

tem tempo a perder.

Exposição Demasiada

Novamente a encheção de lingüiça. Gente, não pense que seu leitor é burro! Se

Maria falou que vai à feira, ela não precisa dizer novamente: ―À feira eu vou‖.

Nomeação

Não abuse escrevendo repetidamente os nomes dos interlocutores.

Uso excessivo de ―Modificadores‖

Modificadores de diálogo são elementos que influenciam no ato de falar dos

interlocutores, tais como: gritou, exclamou,

chorou, sussurrou, gaguejou, opinou, insinuou e milhares de outros. Eles podem

ser muito úteis às vezes, mas são freqüentemente utilizados como ponto de crítica

para um diálogo mal elaborado.

Aqui vão alguns exercícios que podem ajudar você a melhorar suas técnicas de

escrita de diálogos:

1. Escreva coisas que você fala ao longo do dia. Examine seu próprio padrão

de diálogo. Você não precisa pegar cada palavra, mas você pode descobrir

que fala muito menos do que pensa e que suas declarações são

extremamente curtas. Talvez você descubra também que raramente fala

frases completas.

2. Encontre um lugar qualquer, como um restaurante, um bar, ou um

shopping e escreva alguns tópicos sobre coisas que ouve. Não tente

lembrar conversas inteiras, apenas siga em frente e com uma breve

mudança de contexto, vá para o próximo ―alvo‖. Se estiver preocupado em

parecer suspeito, use seu palmtop ou aparelho de celular, eles fazem com

que pareça que você está trabalhando ou jogando aquele joguinho legal,

não espionando.

3. Teste respostas de uma mesma pergunta. Pense em uma pergunta que

requer ao menos um pouco de reflexão e questione várias pessoas

diferentes. Compare suas respostas. Lembre-se de que seu foco são as

palavras. Escreva-as assim que puder.

4. Grave alguns programas de TV como noticiários, talkshows, comerciais,

jogos de futebol etc. Transcreva os diálogos utilizando os nomes das

pessoas. Se você não souber os nomes, use apenas descrições como ―o

anunciante‖ ou ―a mulher de cabelo vermelho‖. Compare diálogos entre

programas de ficção e não-ficção que você gravou. Procure por expressões

de boas vindas, descrições, vícios verbais (tais como, ―você sabe‖,

―uhhhh‖, ―bem‖ etc.). Compare como esses diálogos mudam conforme o

tipo de programa.

5. Reescreva os diálogos dos programas que o exercício 4 propõe, tentando

recriá-los tão precisamente quanto possível. Note como pode ser fácil ou

difícil recriar o programa inteiro e também como pode ser fácil ou difícil o

entendimento para quem está lendo. Finalmente, reescreva-os eliminando

qualquer parte que possa ser irrelevante. Perceba, após isso, quais os

pontos que foram melhorados e como a leitura ficou mais fácil.

6. Novamente usando o exercício 4, reescreva os diálogos acrescentando

tudo que for possível. Mude a cena, mude o propósito das pessoas que

falam, mude o tom etc. Veja como pode ser fácil ou difícil usar as mesmas

palavras para falar em tons diferentes.

7. Escreva um diálogo para uma cena sem usar nenhum modificador. Apenas

escreva uma conversa que flui naturalmente. Após o término, adicione

descrições narrativas, mas nada de modificadores como ―falou‖, ―gritou‖ou

―ordenou‖. Ao invés disso, tente trabalhar o diálogo dentro da ação, numa

progressão lógica de declarações. Finalmente, adicione alguns

modificadores que sejam absolutamente necessários, mas mantenha-os o

mais simples possíveis com expressões como ―disse‖, ―contou‖, ou

―perguntou‖. Repetindo, use-os apenas caso não tenha outra opção.

Compare-os então, com antigos diálogos que você tenha escrito e veja o

que você gostou ou não em relação às mudanças.

8. Escreva uma cena onde uma pessoa conte a outra uma história. Tenha

certeza em estar escrevendo um diálogo e não uma narrativa em primeira

pessoa. Identifique claramente que uma pessoa está contando e outra está

ouvindo, fazendo perguntas ou comentários. O propósito deste exercício

não é a história que está sendo contada, mas sim as reações da pessoa

que está ouvindo (em forma de diálogo escrito, evidentemente).

9. Escreva uma cena onde uma pessoa esteja ouvindo a outras duas

argumentando ou discutindo. Por exemplo, uma criança ouvindo seus pais

falando sobre dinheiro. Use este ―terceiro personagem‖ para narrar o que

está acontecendo, ele sequer precisa entender os argumentos

completamente.

10. Escreva um diálogo entre dois mentirosos. Dê a tudo que eles falarem um

duplo ou triplo sentido, mas nunca diga, em qualquer parte da narrativa,

que eles estão mentindo. Depois, peça para alguém ler seu texto e

perceba suas reações. É uma forma de verificar se seu diálogo causa

entendimento imediato.

11. Escreva uma conversa em que ninguém diga mais de 3 palavras por linha.

Novamente, nada de modificadores para explicar o que se passa através

da narração. Use a narração apenas para descrever ou melhorar a

cena, não para explicar o diálogo.

12. Escreva uma cena onde muitas pessoas estejam falando. Esta habilidade é

uma característica dos mestres do diálogo, já que é muito difícil manter

muitos personagens engajados em uma conversa de forma a manter o

leitor consciente do que está acontecendo e das idéias e interesses de

cada um dos interlocutores. Veja quantos personagens você consegue ir

acrescentando, até que seja impossível entender o que está acontecendo.

TÓPICO 9

As 4 qualidades essenciais de um texto

Quando escrevemos, o principal objetivo deve ser — ao menos na maioria das

vezes — a plena comunicação com o leitor. As qualidades de um texto são fatores

que determinam a facilidade com que o leitor poderá interagir e criar significados a

partir daquele conjunto de sentenças. Essas qualidades são, essencialmente, os

elementos da língua que estão à disposição de quem escreve.

Paulo Guedes, em seu livro Da redação escolar ao texto – um manual de redação

(2002) define 4 qualidades que qualquer texto deve possuir: unidade

temática, objetividade, concretude e questionamento.

Unidade temática

Todo texto deve apresentar apenas uma ideia predominante. Não importa o quanto

complexo ou simples o texto possa ser, a partir do momento em que as ideias

começam a misturar-se, o leitor sofre um lapso de entendimento imediato.

É impossível criar um texto que dê conta de tudo. Precisamos definir e desenvolver

uma ideia central, caso contrário, o texto não passará de uma lista mais ou menos

ordenada de pequenos dados quase sempre incompletos.

Exemplo de texto sem unidade temática

Eu

Meu nome é Aline. Tenho dezoito anos. Sou uma pessoa recatada diante de

estranhos. Porém, quando estou em companhia de amigos, me sinto à vontade

para expor minhas ideias. Sendo aberta somente com estes, com os demais

mantenho certa discrição. Admiro a justiça e fico chocada ao ver alguém sendo

desprezado.

Adoro me divertir: ir a festas, assistir filmes, escutar músicas, bater um papo

saudável. Gosto também de ler e muitas vezes de ficar só, pensando na vida.

Detesto depender de outros na realização de minhas tarefas. Outra coisa que me

realiza é dar aulas para crianças porque, como todo ser humano, gosto de carinho,

e elas são muito afetivas.

Exemplo de texto com unidade temática

O rio e a serpente

Meu nome é Semíramis Deusdedith. Quando era criança, morria de inveja das

Marias. Achava injusto ter de carregar sozinha um nome tão grande e esquisito.

Mais tarde, já adolescente, comecei a pensar que talvez ele encerrasse uma espécie

de presságio. Quem sabe eu não seria um dia, também, uma grande mulher?

Comecei, então, a sonhar em tornar-me uma mistura bombástica de mulheres

como Jane Fonda, Simone de Beauvoir e Leila Diniz. Aceitava o convite de John

Lennon para imaginar um mundo diferente e adorava-me assim, na primeira linha,

entre aqueles que lutariam pela vida e os direitos humanos.

Hoje, encontro-me demasiado ocupada procurando cumprir a difícil tarefa de ser eu

mesma. De forma que o projeto de mulher do século ficou para, quem sabe, uma

próxima encarnação. Minhas contradições são idas e vindas através das quais vou,

aos poucos, transformando-me numa pessoa inteira. Acredito no questionamento

dos valores estabelecidos, na irreverência criativa e que o pensamento lúcido seja,

não só revolucionário, mas também a chave da autonomia.

Neste ano completo meu trigésimo aniversário. Sou uma mulher comum, uma

mulher do meu tempo. Meu nome? Acho-o simplesmente sibilante como uma

serpente e longo feito um rio.

Concretude

Nós desenvolvemos nossa capacidade de abstração bem depois de termos

aprendido a ler (Leia sobre as fases de desenvolvimento da leitura). Por essa razão,

entendemos muito melhor as ideias concretas.

Um texto com concretude permite a criação de significados de uma forma muito

mais fácil por parte do leitor. Falando de coisas específicas, de particularidades, de

diferenças, explicando fatos, ações, dando exemplos, pequenos relatos de situações

ocorridas, ilustrações, analogias e comparações, obtemos um texto com

concretude.

A falta de concretude é caracterizada pelo uso de lugares-comuns, noções

confusas, expressões vagas e genéricas.

Exemplo de texto sem concretude

Eu

Um jovem de dezessete anos, incerto de seu futuro. Alguém que sempre busca o

melhor para todos, mas às vezes tropeça e faz o pior de tudo. Uma pessoa que se

emociona e pára para chorar na distância de outro alguém.

Às vezes inconstante, incerto, indeciso. Idealista, acredita que todas as histórias

podem ter um final feliz; desilude-se a cada derrota, seja de quem for, mas irradia-

se de felicidade com uma pequena vitória. Teimoso, toma por certo o que todos lhe

dizem ser absolutamente errado, traça os mais absurdos caminhos. Muitas vezes

egoísta, individualista: abandona suas convicções para não perder algo que

conquistou materialmente.

Exemplo de texto com concretude

Quando crescer (trecho)

É interessante como as cabeças das pessoas mudam com o passar dos anos.

Quando criança, só desejava sair viva da escola, e poder chegar em casa sem levar

uma surra por ser a mais feia e moreninha dentre todos os meus colegas. Após

vinte e seis anos desejo coisas diferentes, o motivo com certeza é a vida que tive,

esse modo de viver que me moldou.

Filha única de pais separados, tive muito pouco contato com meu pai, viajava

esporadicamente para visitá-lo, e minha mãe, preocupada em dar tudo que podia

para sua filha, vivia mais no trabalho do que em casa. Resultado: cresci

acompanhada pela televisão. Meus gostos foram influenciados pelos filmes e

personagens que eu gostaria de ser na vida real, até o modo de falar eu procurava

trabalhar, para ficar cada vez mais refinado. As roupas, então, não tinha muita

opção, a falta de recursos impossibilitava a imitação, mas determinou meu estilo.

Objetividade

Talvez a principal qualidade de um texto. Ser objetivo significa ir direto ao ponto,

apresentar as ideias claramente de forma que o leitor possa entender o mais rápido

possível, sem distrações.

Um detalhe importante que deve ser observado é que ser objetivo não significa ser

―curto‖. Veja:

Um homem forte entrou na sala

diz muito menos do que

Um homem entrou. Segurava uma bengala e, por alguma razão, quebrou-a ao

meio como se fosse um pequeno galho de árvore.

Você precisa ser curto, sem ser curto, entende? Não, né. Faltou concretude na

última frase ;)

Mais exemplos, então.

No texto que segue as palavras que designam conjuntos indefinidos tornam o texto

tão pouco específico que qualquer significado pode ser atribuído a ele; não nos diz

nada de concreto. Repare em: pessoa, situações, acontecimentos, maneira,

mesmos, consequências, opções. São palavras que expressam conjuntos muito

amplos, grupos gerais de conceitos.

Exemplo de texto sem objetividade

Considero-me uma pessoa otimista, apesar de que muitas situações e

acontecimentos que se sucedem, não somente comigo, diretamente, mas com

outras pessoas, e mesmo alguns de âmbito mundial me forcem, não raras vezes, a

pensar de uma maneira negativa a respeito dos mesmos ou de suas possíveis

conseqüências. Sou otimista, apesar de tudo, porque acredito que uma pessoa

pode, muitas vezes, escolher qual o caminho seguir. Sendo assim, há, não raro,

opções; cabe a cada um escolher o melhor entre elas.

O texto precisa apresentar uma questão, convidar o leitor a ajudar a solucioná-la e,

ao mesmo tempo, percorrer os caminhos que podem levar a essa solução.

É preciso que o texto considere o tema como um problema a ser resolvido, ou pelo

menos, equacionado, com um questionamento que possa afetar o leitor,

agradando-o ou não.

Exemplo de texto com questionamento

Autodefesa (trecho)

Uma tarefa a cumprir sempre faz com que busquemos uma série de alternativas

para concluí-la. Acredito que, quanto mais desafiador é o trabalho, maior é o

número de hipóteses levantadas para a sua realização ou maior o tempo durante o

qual nos ocupamos em devaneios à procura da solução mais criativa ou da ideia

mais segura. Em resumo, apresentar-se não é tarefa das mais simples,

considerando-se, além do constrangimento evidente, o fato de que esta mão

esquerda habituada aos exercícios de caligrafia, sente-se muito desconfortável no

exercício de juntar estes signos para falar da pessoa a que pertence.

Antes que as ponderações se tornem enfadonhas, apresento-me: Flávia, 20 anos,

canhota (como o leitor mais atento já teve a oportunidade de constatar no

parágrafo anterior), professora, grupo sanguíneo A positivo, estudante de

Pedagogia, apaixonada pela vida, nativa de Escorpião, bailarina, tricoteira,

frequentadora dos cinemas nos fins de semana e dos bares do Bom Fim (entre

outros), simpatizante da ideologia da esquerda, apesar de detestar multidões e

cultivar um monte de hábitos burgueses, preferências alimentares alternativas que

agregam os prazeres da carne, a degustação de bebidas alcoólicas e o rigor da

alimentação macrobiótica, motorista sem habilitação, irremediavelmente romântica

e sempre preocupada com as opiniões alheias. Acabo de confessar um pequeno

tormento cotidiano, responsável pelas longas explicações e justificativas presentes

em quase tudo o que digo ou escrevo.

Conclusão

Depois de tantas regras e exemplos, ficamos pensando se realmente é possível

criar um texto que possua todas essas qualidades de uma forma harmônica.

A resposta é: sim, mas talvez não precise.

Digo isso porque é muito importante conhecermos as qualidades de um texto e os

modos de torná-lo atraente. Mas o objetivo de quem escreve é conhecer essas

receitas e regras de tal forma que seja possível quebrá-las no momento certo.

TÓPICO 10