regime-jurídico administrativo e seus princípios norteadores - administrativo - Âmbito jurídico

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  • 8/17/2019 Regime-Jurídico Administrativo e Seus Princípios Norteadores - Administrativo - Âmbito Jurídico

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    11/05/2016 Regime-Jurídico Administrativo e seus Princípios Norteadores - Administrativo - Âmbito Jurídico

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    Administrativo 

    Regime‐Jurídico Administrativo e seus Princípios NorteadoresMária Paula Gomes Marçal Belo

    Resumo: O tema ora abordado pretende discutir quanto ao conjunto de normas, regras e princípios que disciplinam um determinado instituto dentro do DireitoAdministrativo, sendo este o Regime‐Jurídico Administrativo, destacando os princípios administrativos aos quais norteiam o presente instituto.

    Sumário: 1 ‐ O Direito Administrativo; 1.1 ‐ A Administração Pública e a administração pública; 2 ‐ Regime‐Jurídico Administrativo; 2.1 ‐ Supremacia do Interesse Público ea Indisponibilidade do interesse público; 3 ‐ Princípios Norteadores do Regime‐Jurídico Administrativo; 4. Conclusão.

    1. O direito administrativo

    Primeiramente o que vem a ser o Direito Administrativo? Sucintamente, diz‐se de um ramo do direito público que ocupa uma das funções do Estado: a funçãoadministrativa. O Direito Administrativo Brasileiro pode ser considerado um direito codificado, pois o mesmo é regido por princípios, regras e normas.

    Leciona‐se: “o conceito de Direito Administrativo Brasileiro, para nós, sintetiza‐se no conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e asatividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado” [1]. Helly Lopes Meirelle s, por sua vez destaca o elementofinalístico na conceituação: os órgãos, agentes e atividades administrativas como instrumentos para realização dos fins desejados pelo Estado.

    1.1. A Administração Pública e a administração pública

    A Administração Pública representa o conjunto de órgãos e agentes estatais no exercício da função administrativa, independentemente se pertencentes ao PoderExecutivo, ao Legislativo, ao Judiciário, ou a qualquer outro organismo estatal (como Ministério Público, Defensorias Públicas e etc).

    A administração pública designa a atividade consistente na defesa concreta do interesse público, “exemplo: os concessionários e permissionários de serviços públicosexercem administração pública, mas não fazem parte da Administração Pública”[2]. A expressão “Administração Pública” pode ser empregada com diferentes sentidos.Alude a professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro: “Administração Pública” em sentido subjetivo ou orgânico é o conjunto de agentes, órgãos e entidades públicas queexercem a função administrativa; e “Administração Pública” em sentido objetivo, material ou funcional, mais adequadamente denominada “administração pública” (cominiciais minúsculas), é a atividade estatal consistente em defender concretamente o interesse público[3].

    Portanto, “Administração Pública” considera‐se o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas as quais a lei atribui o exercício da função administrativa do Estado; e a“administração pública” tem‐se a ótica de que é um complexo de atividades concretas e imediatas desempenhadas pelo Estado sob os termos e condições da lei visando oatendimento das necessidades coletivas.

    Helly Lopes Meirelles nos lembra que, se grafada com iniciais maiúsculas, a expressão “Administração Pública” terá a conotação de subjetiva. De outra forma (com iniciaisminúsculas) sua conotação será objetiva, referindo‐se à atividade administrativa exercida sob o pálio do regime jurídico administrativo.

    2. Regime jurídico administrativo

    A professora Di Pietro nos oferece o seguinte conceito: “A expressão regime jurídico administrativo é reservada tão‐somente para abranger o conjunto de traços, deconotações, que tipificam o direito administrativo colocando a Administração Pública numa posição privilegiada, vertical, na relação jurídico‐administrativa” [4], por isso aapresentação de conceito da Administração Pública e da administração pública acima.

    Maria Sylvia Zanella Di Pietro sustenta que o regime jurídico administrativo pode ser resumido a duas únicas realidades, ou seja, por prerrogativas e sujeições àAdministração Pública.

    O Direito Administrativo versus regime jurídico administrativo se baseia em 02 (duas) idéias opostas: de um lado, a proteção aos direitos individuais frente ao Estado, queserve de fundamento ao princípio da legalidade, um dos esteios do Estado de Direito, a liberdade do indivíduo; e de outro lado, a idéia da necessidade de satisfação dosinteresses coletivos, que conduz a outorga de prerrogativas e sujeições para a Administração Pública, quer para limitar o exercício dos direitos individuais em benefíciodo bem‐estar coletivo (poder de polícia), quer para a prestação de serviços públicos, ou seja, a autoridade da Administração.

    A liberdade do indivíduo dispõe do seguinte dispositivo legal, artigo 5º, inciso II, da Constituição Federal de 1988: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazeralguma coisa senão em virtude de lei”[5], presente aqui o princípio da legalidade.

    A Administração Pública possui prerrogativas e privilégios, não utilizados e até desconhecidos na esfera do direito privado, tais como a autoexecutoriedade, a autotutela,o poder de expropriar, o de requisitar bens e serviços, o de ocupar temporariamente o imóvel alheio, o de instituir servidão, o de aplicar sanções administrativas, o dealterar e rescindir unilateralmente os contratos, o de impor medidas de polícia.

    A força maior da supremacia do interesse público nos atos administrativo entre a Administração e o particular para anular e revogar seus próprios atos sem necessidadede autorização judicial é justamente em função da condição da imperatividade da autotutela e da autoexecutoriedade, que reveste o citado supraprincípio.

    Por mais que as prerrogativas colocam a Administração em posição de superioridade perante o particular, sempre com o objetivo de atingir o benefício da coletividade, asrestrições a que está sujeita limitam a sua atividade a determinados fins e princípios, que se não observados, implicam desvio de poder e consequentemente nulidadedos atos da Administração.

    As prerrogativas e restrições a que está sujeita a Administração e que não se encontram nas relações entre particulares dá origem ao regime jurídico administrativo,posicionamento da administrativista Maria Sylvia Zanella Di Pietro.

    2.1. A Supremacia do interesse público e a Indisponibili dade do interesse público

    Todo o arcabouço legal que dá origem e curso regular ao Direito Administrativo Brasileiro é construído com base nos supraprincípios: supremacia do interesse público sobo privado e indisponibilidade do interesse público.

    O professor Celso Antônio Bandeira de Mello afirma que o regime jurídico administrativo é amparado por dois princípios basilares, a Supremacia do interesse público e aIndisponibilidade do interesse público, que são os princípios centrais dos quais derivam todos os demais princípios e normas do Direito Administrativo.

    A supremacia do interesse público sobre o privado, também chamada simplesmente de princípio do interesse público ou da finalidade pública, significa que os interessesda coletividade são mais importantes que os interesses individuais, razão pela qual a Administração, como defensora dos interesses públicos, recebe da lei poderesespeciais não extensivos aos particulares.

    A outorga dos citados poderes projeta a Administração Pública a uma posição de superioridade diante do particular, onde os interesses do grupo devem prevalecer sobreos do individuo que o compõem.

    Sendo assim, a supremacia do interesse público designa que os interesses da coletividade, os interesses públicos são mais importantes que os interesses individuais.Exemplo: a desapropriação é a prevalência do interesse público sob o privado, como vários outros exemplos citados acima.

    Alude ainda Celso Antônio Bandeira de Mello, sobre a Supremacia do interesse publico sobre o privado: “Trata‐se de verdadeiro axioma reconhecível no moderno DireitoPúblico. Proclama a superioridade do interesse da coletividade, firmando a prevalência dele sobre o particular, como condição, até mesmo, da sobrevivência easseguramento deste último. É pressuposto de uma ordem social estável, em que todos e cada um possam sentir‐se garantidos e resguardados.” [6]

    Já a indisponibilidade do interesse público enuncia que os agentes públicos não são donos do interesse por eles defendido. Assim, no exercício da função administrativaos agentes públicos estão obrigados a atuar, não segundo sua própria vontade, mas do modo determinado pela legislação.

    Portanto a indisponibilidade do interesse público significa que o agente público não é dono dos interesses que defende, por isso que o agente só pode atuar da formacomo a lei determina, interpretação dada ainda à validade do princípio da legalidade para o direito público.

    A indisponibilidade dos interesses públicos significa que, sendo interesses qualificados como próprios da coletividade – internos ao setor público – não se encontram à livredisposição de quem quer que seja por inapropriáveis. O próprio órgão administrativo que os representa não tem disponibilidade sobre eles, no sentido de que lheincumbe apenas curá‐los – o que é também um dever – na estrita conformidade do que predispuser a intentio legis.”[7]

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    A existência desses dois supraprincípios é o reflexo de uma dualidade permanente no exercício da função administrativa, sendo, a dicotomia entre os poderes daAdministração Pública, ou seja, a Supremacia do interesse público o qual reflete os poderes da Administração Pública, e de outro lado a indisponibilidade do interessepúblico o qual reflete os direitos dos administrados.

    O regime funciona como se houvesse 02 (duas) colunas verticais uma ao lado da outra, uma a complementar a outra. De um lado os poderes outorgados a Administraçãopara que a mesma haja em benefício e para o bem‐estar coletivo, e, de outro lado agentes competentes para agirem de forma finalística em busca da segurança dodireito do administrado.

    3. Princípios norteadores do regime‐jurídico administrativo

    A Constituição Federal de 1988, ao tratar da Administração Pública, não traz expressos os princípios da Supremacia do interesse público e da Indisponibilidade dointeresse público. Apesar que é possível considerar que os princípios do Direito Administrativo são desdobramento da supremacia do interesse público e daindisponibilidade do interesse público.

    Entretanto, no caput de seu artigo 37, enumera os mais importantes princípios administrativos: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, sãoestes ainda os princípios que norteiam a Administração Pública.

    Tanto a Administração Pública direta ou indireta de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios expressosno artigo 37, caput, da Constituição Federal de 1988.

    Importante citar que: “violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específicomandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade conforme o escalão do princípio violado, porquerepresenta insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estruturamestra.”[8]

    Helly L. Meirelles ensina que, “na Administração Pública, não há liberdade nem vontade pessoal. Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo que a lei nãoproíbe, na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza. A lei para o particular significa ‘pode fazer assim’, para o administrador público significa ‘devefazer assim’9.

    Importante observar que não há uma hierarquia entre os princípios, cada um tem sua importância e não se diz que um prevalece sobre o outro. Cada caso é que acabadando mais valor a um ou a outro, mas isso não quer dizer que exista hierarquia, um princípio que não seja usado num determinado caso pode ser o mais importante emoutro.

    Imperioso relembrar a interpretação, bem como, a validade do princípio da legalidade para o particular, sendo, que este pode fazer tudo o que a lei não proíbe e já parao direito público, este só pode realizar o que estiver previsto em lei, fazer somente o que a lei permite / determina, sob pena de ter seus atos anulados. O princípio dalegalidade explicita a subordinação da atividade administrativa à lei.

    A relação que o particular tem com a lei é de liberdade e autonomia da vontade, de modo que os ditames legais operam fixando limites negativos à atuação privada.Assim, o silêncio da lei quanto ao regramento de determinada conduta é recebido na esfera particular como permissão para agir.

    No Direito Público a relação do agente público com a lei é de subordinação, razão pela qual os regramentos estabelecidos pelo legislador desenham limites positivos paraas atividades públicas. Por isso, a ausência de disciplina legal sobre certo comportamento significa no âmbito da Administração Pública uma proibição de agir.

    Portanto a atividade administrativa, somente será legítima se estiver em consonância com os comandos veiculados em lei, com capacidade de disciplinar ocomportamento da Administração Pública.

    4. Conclusão

    O presente artigo cumpriu o que veio a apresentar. Ao falar do Regime Jurídico Administrativo, a obra demonstrou mesmo que sucintamente o direito de onde o institutofoi extraído, sendo o Direito Administrativo.

    No que tange, a montar o quebra‐cabeça para melhor elucidar o regime jurídico, importante foi ainda apresentar e demonstrar a diferença entre Administração Pública eadministração pública, para melhor entender a influencia, bem como, notar a harmonia entre todos os assuntos brevemente citados. Sem deixar de dar uma noção, daorigem do Direito Administrativo, da Administração Pública, do Regime‐Jurídico Administrativo, bem como, dos princípios, sejam eles expressos ou implícitos não naConstituição Federal.

    Portanto tudo se encaixa ao notar que regime jurídico administrativo nada mais é do que um nome técnico dado ao conjunto de normas, regras e princípios a umdeterminado instituto, nota‐se ainda, que são as normas, as regras e os princípios que norteiam o Direito Administrativo, e, tudo basicamente para montar o conjuntoharmônico da Administração Pública sendo ela interpretada de forma objetiva ou subjetiva. Ademais a atividade administrativa somente será legítima se em consonânciacom os comandos veiculados em lei.

     Notas:[1] MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 27ª edição. São Paulo: Malheiros,2.002, p. 38[2] MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo / Alexandre Mazza – São Paulo: Saraiva, 2.011, p. 41[3] DI PIETRO, Maria Sylvia Zane lla. Direito Administrativo. 24ª edição. São Paulo: Atlas, 2011, p. 39[4] DI PIETRO, Maria Sylvia Zane lla. Direito Administrativo. 24ª edição. São Paulo: Atlas, 2011, p. 42.[5] Vade Mecum / obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Livia Céspedes. –7ª ed. atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2009[6] MELLO. Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo.27ª edição. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 69.[7] MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, 27ª edição. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 74.[8] “Criação de Secretarias Mun icipais”, Revista de Direito Públ cio, 1971, vol.15, PP. 284‐286.

    Mária Paula Gomes Marçal Belo

    Advogada do Estado de Goiás, Pós‐Graduada em Direito Público.

    Informações Bibliográficas 

    BELO, Mária Paula Gomes Marçal. Regime‐Jurídico Administrativo e seus Princípios Norteadores. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 91, ago 2011. Disponível em: . Acesso em maio 2016.

    O Âmbito Jurídico não se responsabiliza, nem de forma individual, nem de forma solidária, pelas opiniões, idéias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).

     

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