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v.6regiõeS CANAVieirAS

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Universidade Estadual de Campinas – Unicamp

Reitor

Fernando Ferreira Costa

Vice-Reitor

Edgar Salvadori de Decca

Pró-Reitor de Desenvolvimento Universitário

Roberto Rodrigues Paes

Pró-Reitor de Pesquisa

Ronaldo Aloise Pilli

Pró-Reitor de Graduação

Marcelo Knobel

Pró-Reitor de Pós-Graduação

Euclides de Mesquita Neto

Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários

João Frederico da Costa Azevedo Meyer

Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (COCEN)

Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano

Unidades/Órgãos envolvidos na publicação:

Núcleo de Estudos de População (NEPO)

Coordenação: Estela Maria Garcia Pinto da Cunha

Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (CEPAGRI)

Coordenação: Ana Maria Heuminski de Avila

Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (NEPA)

Coordenação: Walter Belik

SÃO PAULO

OBSERVATÓRIO DASMIGRAÇÕES EM

FASES E FACES DO FENÔMENO MIGRATÓRIO NO ESTADO DE

SÃO PAULO

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v.6regiõeS CANAVieirAS

SÃO PAULO

OBSERVATÓRIO DASMIGRAÇÕES EM

FASES E FACES DO FENÔMENO MIGRATÓRIO NO ESTADO DE

SÃO PAULO

Rosana Baeninger Jurandir Zullo Junior

Tirza Aidar Roberta Guimarães Peres

(Organizadores)

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Núcleo de Estudos de População (NEPO) – UNICAMPAv. Albert Einstein, 1300 – CEP: 13081-970 – Campinas – SP – Brasil

Fone: (19) 3521 5913 – Fax: (19) 3521 5900www.nepo.unicamp.br

ApoioProjeto: Observatório das Migrações em São Paulo

FAPESP – Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Organização e Revisão final

Rosana Baeninger Roberta Guimarães Peres

Comitê de Publicação

Jurandir Zullo Junior Roberta Guimarães Peres

Rosana Baeninger Tirza Aidar

Colaboração

Maria Ivonete Zorzetto Teixeira

Projeto Gráfico e Diagramação

Traço Publicações e DesignFlávia Fábio e Fabiana Grassano

Assistente: Caio Fábio

Ficha catalográfica

Adriana Fernandes

Ficha catalográfica

Regiões Canavieiras / Rosana Baeninger et al. (Org.). - Campinas: Núcleo de Estudos de População-Nepo/Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura-CEPAGRI/Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação-NEPA/Unicamp, 2013.

184 p.

(Por Dentro do Estado de São Paulo – Volume 6)

ISBN 978-85-88258-39-6

1. População. 2. Mudanças climáticas, 3. Cana-de-açúcar. I. Baeninger, Rosana (Org.). II. Zullo Junior, Jurandir (Org.). III. Aidar, Tirza (Org.). IV. Peres. Roberta (Org.). V. Título. VI. Série.

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SUMáRIO

Apresentação 7

Dinâmica Populacional nas Regiões Canavieiras 9Roberta Guimarães Peres e Rosana Baeninger

Evolução da produção da cana-de-açúcar em regiões canavieiras tradicionais e em expansão do estado de São Paulo 29

Andrea Koga-Vicente, Jurandir Zullo Junior e Tirza Aidar

Dinâmica Econômica e Emprego nas Regiões Canavieiras no Estado de São Paulo 41

Bruno Perosa, Walter Belik e Carlos Eduardo Fredo

Riscos Climáticos da Cultura da Cana-de-Açúcar 63 Jurandir Zullo Junior, Celso Macedo Junior, Balbino Antonio Evangelista, Hilton

Silveira Pinto, Fábio Ricardo Marin, Eduardo Delgado Assad e Andrea Koga-Vicente

A articulação das dinâmicas regionais a processos multi-escalares: situando a mobilidade espacial recente dos canavieiros 79

Ricardo Antunes Dantas de Oliveira

Saúde nas regiões canavieiras do estado de São Paulo em tempos recentes de expansão da indústria sucroalcooleira 105

Tirza Aidar e Maria Rita Donalísio

Novas áreas de expansão da cana-de-açúcar no Oeste Paulista: do agrário ao território da produção internacional de commodities 119

Natália Belmonte Demétrio

Anexos 141

Sobre os autores 179

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APRESENTAçãO

A dinâmica do cultivo e produção da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo tem raízes históricas em distintas regiões paulistas desde o século XVII. No século XXI, contudo, esta produção se redesenha e ganha novas forças no cenário nacional e internacional. Desse modo, a análise de contextos regionais no interior do Estado de São Paulo, que contam com a presença da atividade canavieira, aponta para a diversidade das dinâmicas econômicas, demográficas e sociais. A progressiva importância dessa dinâmica econômica, voltada para os complexos agroindustriais, tem desdobramentos nas tendências da urbanização paulista, na economia regional, na incorporação e expansão do cultivo e produção em novas áreas – e os riscos climáticos-, no emprego, na saúde.

É nesse contexto, que as Regiões de Piracicaba, Ribeirão Preto, Araçatuba e Presidente Prudente – regiões selecionadas nesta publicação – se expandem e se consolidam no contexto da urbanização paulista, apesar da dinâmica da economia canavieira atingir tais áreas em temporalidades distintas: Ribeirão Preto e Piracicaba como áreas mais antigas e já modernizadas e Araçatuba e Presidente Prudente como áreas de recente expansão desta atividade econômica. Acrescenta-se ainda nesta publicação, estudo sobre a Região de Jales, que muito recentemente volta sua economia para os commodities do cultivo da cana-de-açucar.

O presente volume – Regiões Canavieiras – compõe os estudos da Coleção Por Dentro do Estado de São Paulo. É resultado do esforço conjunto das equipes dos projetos temáticos da FAPESP “Observatório das Migrações em São Paulo” do Núcleo de Estudos de População - NEPO/UNICAMP, e do Projeto temático “Generation of Alcohol Production Scenarios as Support for the Formulation of Public Policies Applied to the Adaptation of the National Sugar and Alcohol Industry to the Climate Changes” coordenado pelo Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura – CEPAGRI/UNICAMP.

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apresentação

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.68

No âmbito do Observatório das Migrações em São Paulo, as Regiões Canavieiras e sua dinâmica populacional e migratória revelam aspectos intra-regionais que dão novos contornos às suas dinâmicas locais.

O Projeto temático “Generation of Alcohol Production Scenarios as Support for the Formulation of Public Policies Applied to the Adaptation of the National Sugar and Alcohol Industry to the Climate Changes” objetiva gerar novos cenários de impactos das mudanças climáticas no setor sucroalcooleiro, a partir da combinação dos diversos fatores envolvidos na produção de açúcar e álcool, tais como demografia, políticas públicas, saúde humana, meio-ambiente, segurança alimentar e nutricional, inovação tecnológica, engenharia genética, modelagem climática, geotecnologias e divulgação científica.

A parceria interinstitucional construída para a elaboração desse volume constitui caminho promissor para o entendimento das relações entre as dimensões econômicas, demográficas e climáticas no contexto da expansão das atividades canavieiras no Estado de Paulo.

Rosana Baeninger IFCH e NEPO/UNICAMP

Jurandir Zullo Junior CEPAGRI/UNICAMP

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DINâMICA POPUlACIONAl NAS REGIÕES CANAVIEIRAS

Roberta Guimarães Peres Rosana Baeninger

Com o objetivo de construir um olhar demográfico para as zonas de produção de cana de açúcar no Estado de São Paulo, neste estudo da coleção “Por Dentro do Estado de São Paulo” apresenta as regiões cujas dinâmicas apontam suas vocações canavieiras: as Cidades Canavieiras. Trata-se das regiões de governo de Araçatuba, Piracicaba, Presidente Prudente e Ribeirão Preto, totalizando 196 municípios no interior de São Paulo.

Ainda que essas regiões compartilhem esta mesma marca – a produção de cana de açúcar – há importantes especificidades entre as áreas, que se buscou definir com este volume. Neste sentido, a evolução da população e a dinâmica demográfica, em articulação com a dinâmica econômica e social dessas áreas, estão diretamente relacionadas à realidade dessas regiões canavieiras.

As quatro áreas aqui destacadas como “Regiões Canavieiras” se inserem em diferentes contextos regionais e, portanto, compreendem espaços, tempo e escalas distintas no Estado de São Paulo no que se refere ao seu processo de ocupação econômica e demográfica. Totalizando 2.902.052 habitantes, essas áreas correspondem a 7% da população estadual e apresentam uma taxa de crescimento da população um pouco acima da média estadual: 1,21% ao ano contra 1,09% ao ano, respectivamente.

A Tabela 1 apresenta a evolução da população de todas essas regiões, bem como suas taxas de crescimento e comparações com o Estado de São Paulo. A participação relativa dessas regiões de governo no Estado de São Paulo, em 2010, ressalta a importância de um olhar para suas especificidades, tanto no contexto demográfico, como também no que se relaciona à sua produção. Este conjunto de regiões de governo traduz a importância de etapas pregressas do desenvolvimento paulista, que possibilita a consolidação hoje de um grande polo produtor e dinâmico cuja força motriz está assentada na produção de cana de açúcar em São Paulo.

Considerando os processos históricos regionais, a Região de Governo (RG) de Araçatuba sofreu, de maneira acentuada, os efeitos do esvaziamento populacional, através do seu êxodo

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regiões canavieiras Dinâmica PoPulacional nas regiões canavieiras

rural, a partir dos anos 1950. A primeira metade deste século ainda foi caracterizada por um moderado acréscimo populacional na Região, em função da abertura de novos espaços econômicos rurais, impulsionado pelo avanço das atividades agrícolas e pecuárias (Cano, 1988). No período 1940/1950, a taxa de crescimento populacional da RG de Araçatuba era bastante próxima à taxa registrada para o conjunto do Estado: 2,01% a.a. e 2,44% a.a., respectivamente.

A participação relativa da população dessa região no Estado chegava a representar 3,24% do total populacional em 1940, e 3,11% em 1950. Na verdade, os anos 40 marcaram o processo de ocupação regional, com elevadas taxas de crescimento urbano: 4,81% a.a., no período 1940/50, e 4,96% a.a., nos anos 50. Esse crescimento urbano refletiu a instalação de uma infraestrutura viária que garantiu à Região de Araçatuba a posição de centro abastecedor das áreas cafeeiras vizinhas (Gonçalves, 1992), contribuindo para o surgimento de novas vilas e cidades. A Figura 1 apresenta os desmembramentos municipais da Região de Governo de Araçatuba.

Fonte: Fundação Seade. Informe Demográfico 1 (1980) e Fundação IBGE apud Vidal (1993) – para municípios criados até 1990; Siqueira (2003), para municípios criados a partir de 1991.

FIGURA 1. Desmembramentos municipais – Região de Governo de Araçatuba

A partir de 1950, no entanto, o declínio do café ocasionado pela exaustão do solo e a vulnerabilidade do produto no comércio exterior, trouxe mudanças significativas para a Região de Araçatuba (SEPLAN, 1972). A Região, que já utilizava suas terras para engorda da pecuária extensiva do Mato Grosso, passou a se dedicar à pecuária de corte. Nesse contexto, entre 1960 e 1970, a Região obteve um aumento populacional absoluto inferior a 10 mil habitantes, sendo que sua taxa de crescimento populacional que era de 1,65% a.a. entre 1950/60, passou a ser de 0,29% a.a. entre 1960/70. Nesses mesmos períodos, as taxas de crescimento do Estado eram superiores a 3% a.a.

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regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

roberta guimarães Peres e rosana baeninger

As taxas de crescimento da população rural, que já no período 1950/60 havia se mostrado negativa (-0,06% a.a.), elevaram-se para -3,67% a.a., entre 1960/70, e -4,66% a.a., no período 1970/80, marcando as perdas populacionais da região. A partir de 1970, no entanto, a Região começou a ensaiar um movimento de retomada em seu ritmo de crescimento populacional, passando a registrar taxas de 0,66% a.a., entre 1970/80, e 1,70% a.a, entre 1980/91; taxas, contudo, ainda bem abaixo da média estadual (3,49% a.a. e 2,12% a.a., respectivamente).

Com relação ao período recente, as taxas de crescimento da população que se mostravam em ascensão nos anos 70 e 80, a partir da década de 1990, voltam a declinar: de 1,7% a.a. entre 1980/91, para 1,25% a.a., entre 1991/2000, e 1,0% a.a., no período 2000/2010, isto em decorrência da queda da fecundidade, do menor êxodo rural e de migrações mais circunscritas ao âmbito regional. A população da Região de Araçatuba atingiu 545.020 habitantes em 2010.

A Região de Presidente Prudente situa-se no extremo oeste do Estado de São Paulo, a mais de 500 km da capital e é limítrofe aos Estados de Mato Grosso do Sul e Paraná. Sua densidade demográfica é baixa e a taxa de crescimento é modesta, comparando-se com o restante do Estado. Seu isolamento permitiu a formação de uma base urbana de suporte à reprodução social e econômica na região, assentada nas atividades agropecuária e agroindustrial.

No início do século passado a cultura de café era presente e foi a responsável pela ocupação efetiva da região (Cano, 1988). Além do café havia também, em menor escala, cultura de cana de açúcar, milho, feijão dentre outras de subsistência. Em meados do século, a pecuária passou a ter maior importância e transformou a região em um dos maiores polos exportadores de carne do país. Atualmente, a base agrícola da região é mais diversificada e possui complexos agroindustriais com maior dinamismo, como o açúcar e álcool de cana (Oliveira, 2012).

Esta área possui 31 municípios incluindo a cidade de Presidente Prudente, totalizando 579.287 habitantes em 2010 . Apenas seis das cidades que compõem esse polo possuem mais de 20 mil habitantes; apenas quatro possuem entre 10 e 20 mil habitantes e as demais possuem uma população inferior à 10 mil pessoas. Isto é, a região é formada por cidades pequenas e teve, no período de 2000/2010, uma taxa de crescimento de sua população de 0,53% a.a. A Figura 2 apresenta os desmembramentos municipais da Região de Governo de Presidente Prudente.

Trata-se de uma área na qual o processo de desmembramento municipal iniciou-se mais tardiamente, comparada a outras regiões do estado, sendo que o desmembramento municipal mais antigo data de 1921 – é o caso do município de Presidente Prudente. No processo emancipatório mais recente, a região de Presidente Prudente registrou a criação de cinco novos municípios, situando-se entre as regiões paulistas que mais registraram ocorrência de emancipações municipais, ao longo da década de 1990 (Siqueira, 2003).

Ao analisar o comportamento da população total desta região, no período 1940-2010, pode-se verificar que, em termos absolutos, sua população passou por significativas oscilações. O período 1940/50 representou o auge do seu processo de ocupação e, em consequência, registrou altas taxas de crescimento tanto da população urbana (6,91% a.a.), quanto da rural (4,34% a.a.). Este acréscimo deveu-se, sobretudo, à ocupação das últimas áreas de fronteiras agrícolas e, também, à intensa formação de cidades e vilas, que atraiu um elevado número de pessoas para esta área (Cunha e Aranha, 1992).

Na década posterior (1950/60), a taxa de crescimento total da população sofreu um grande decréscimo, passando para 1,01 % a.a. Isso se deveu à evasão populacional que ocorria nas áreas rurais, face ao processo de esgotamento das fronteiras e, principalmente, pela substituição de grande parte das atividades agrícolas pela pecuária (Cunha e Aranha, 1992). A região

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regiões canavieiras Dinâmica PoPulacional nas regiões canavieiras

apresentava, neste período, uma taxa de crescimento da população rural negativa, da ordem de 0,52% a.a, embora a taxa de crescimento urbano chegasse a 5,86% a.a., no período.

Figura 2. Desmembramentos municipais – Região de Governo de Presidente Prudente

Fonte: Fundação Seade. Memórias das Estatísticas Demográficas – para municípios criados até 1990; Siqueira (2003), para municípios criados a partir de 1991.

Nas décadas seguintes, o decréscimo populacional acentuou-se ainda mais. A população regional passou a apresentar uma taxa de crescimento inferior a 1% a.a., no período 1960/70, e registrou, em 1970/80, taxa negativa (-0,22% a.a.). Apesar das taxas de crescimento da população urbana terem se mantido em patamares elevados nesses dois períodos (mais de 3% a.a.), o êxodo rural, fruto de processos simultâneos - modernização agrícola, concentração fundiária e substituição da agricultura pela pecuária - foi tão intenso, que a estrutura urbana regional não conseguiu absolver essa mão-de-obra liberada do meio rural com a mesma intensidade. Com isso, um grande contingente da população se viu obrigado a abandonar a região, em busca de áreas mais prósperas (Cunha e Aranha, 1992).

No período de 1980/1991, houve acréscimo na taxa de crescimento da região, a qual passou de -0,22% a.a. (70/80) para 1,57% a.a., porém se manteve inferior à taxa de crescimento do Estado de São Paulo de 2,12% a.a. A taxa de crescimento urbano, neste mesmo período, sofreu redução (3,12% a.a., em 70/80, para 2,60% a.a., em 80/91) em comparação com o período antecedente, no entanto, a taxa de crescimento rural passou por um aumento no seu ritmo de crescimento (-6,03% a.a. em 70/80 para -2,54% a.a. em 80/91).

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regiões canavieiras

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roberta guimarães Peres e rosana baeninger

A mesma situação pode ser verificada para o período seguinte, 1991 a 2000, uma vez que, nesse momento, a população regional passou a apresentar taxa de crescimento total e a taxa de crescimento urbana menores (1,17% a.a. e 1,43% a.a., respectivamente) quando comparadas com a década anterior (1,57% a.a. e 2,60% a.a., respectivamente). A taxa de crescimento rural registrou um pequeno acréscimo embora continue negativa (passando de -2,54% a.a., na década de 80, para -0,23% a.a., na década de 90).

A participação da Região de Presidente Prudente, no total da população paulista, sofreu uma queda, passando de 3,0, em 1940, para 1,4 em 2010. As taxas de crescimento dessa região também decresceram no mesmo período: 4,9% a.a., de 1940 a 1950, para 0,53% a.a. entre 2000-2010. O período de 2000-2010 caracteriza-se pela tendência à redução da taxa de crescimento total da Região de Presidente Prudente, continuando com um ritmo inferior ao estado de São Paulo (1,09% a.a.).

Com relação à Região de Governo (RG) de Ribeirão Preto, esta se localiza a nordeste do Estado de São Paulo e faz fronteira com o Estado de Minas Gerais, a Região de Governo de Ribeirão Preto conta com 25 municípios, com uma população de 1.246.046 habitantes, e se destaca como uma das regiões de melhor desempenho agroindustrial no âmbito nacional (Oliveira, 2012).

A ocupação econômica e populacional da Região de Ribeirão Preto estive intimamente relacionada à expansão da cultura do café e ao consequente deslocamento de frentes pioneiras agrícolas. Anteriormente ao café, desde meados do século XIX, já existiam fazendas de gado que proporcionaram a formação de núcleos de povoamento que posteriormente passariam a exercer grande importância para a “marcha cafeeira”. Apesar da atividade criatória não ter desaparecido totalmente da região, foi o café que possibilitou de forma mais intensa sua ocupação e a exploração de seu território à medida que contribuiu para atrair contingentes populacionais significativos (Pires, 1994). Enquanto a produção cafeeira do Vale do Paraíba entrava em decadência, as fazendas de café se multiplicavam no “velho oeste paulista”, expandindo-se em direção ao norte a partir da Região de Campinas. No início do século XX, a Região de Ribeirão Preto caracterizava-se como uma das mais importantes zonas de produção cafeeira do Estado (Cano, 1988).

Vale ressaltar que nesta região, o café precedeu a estrada de ferro e, mesmo sem contar com uma infraestrutura adequada de transportes, o município de Ribeirão Preto, em 1886, ano em que foi atingido pela ferrovia, já concentrava mais de 10.000 habitantes (SÃO PAULO, Estado, 1972). A princípio, a produção de alimentos provinha das culturas intercalares, desenvolvidas pelos colonos dentro da propriedade cafeeira. O desenvolvimento do complexo cafeeiro e da urbanização dele decorrente, além das implicações da Primeira Guerra Mundial, exigiram o desenvolvimento da produção alimentar fora da propriedade cafeeira, proporcionando uma diversificação da produção na região de Ribeirão Preto (Cano, 1988).

Estruturou-se nessa época uma rede urbana relativamente densa e ramificada na região, pontuada por centros urbanos maiores que centralizavam o comércio e a prestação de serviços, fazendo a mediação entre a Capital e o Interior (NEGRI, GONÇALVES e CANO, 1988). A Figura 3 apresenta os desmembramentos municipais da Região de Governo de Ribeirão Preto.

Com base na produção agrícola diversificada, na rede urbana e na divisão do trabalho na economia paulista, a região de Ribeirão Preto conseguiu ultrapassar a crise de 1929 e se restabelecer com novas características. Nos anos 30, teve início um novo padrão de acumulação, baseado na expansão industrial gerada pela economia cafeeira. A partir daí, o setor industrial ganhou autonomia frente ao capital mercantil e passou a determinar o nível e o ritmo da atividade econômica do País (NEGRI, GONÇALVES e CANO, 1988).

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regiões canavieiras Dinâmica PoPulacional nas regiões canavieiras

Nas décadas de 30 e 40, na Região de Ribeirão Preto, o café em crise foi parcialmente substituído por cana-de-açúcar, algodão, produtos alimentares e pecuária. Segundo Semeghini (1990), foi a partir dos anos 50, entretanto, que se acelerou a recuperação econômica da região. Assim, o movimento de modernização baseado na implantação de indústrias de bens de produção e de insumos básicos para a agricultura, cerne da desconcentração industrial, encontrou as condições e meios necessários para se desenvolver amplamente na região.A urbanização crescente da mão-de-obra rural, com a subordinação da agricultura à indústria nos anos 60 e 70, foi a maior consequência da modernização agrícola sob as cidades. (Negri et ali, 1988).

Essas alterações ocorridas no mercado e na organização do trabalho, no processo de urbanização e nos movimentos populacionais, criaram condições para uma desconcentração relativa da população e das atividades industriais em direção ao interior paulista de maneira mais intensa a partir dos anos 70 (PATARRA e BAENINGER, 1989). A década de 70 marcou a consolidação do processo de modernização agrícola que desencadeou a expansão industrial iniciado no final dos anos 50. A região de Ribeirão Preto foi uma das regiões que registrou com maior intensidade os impactos dessas transformações. “O setor terciário, reagindo aos estímulos advindos dessa dinâmica agrícola e industrial, e àqueles derivados da urbanização teria seu crescimento liderado pelos segmentos mais modernos dos serviços produtivos e pessoais e pela ampliação dos serviços sociais. Persistiriam, entretanto, como é notório, profundos desequilíbrios setoriais, regionais e sociais.” (SEMEGHINI, 1990, p.10-11).

O projeto de maior impacto na região, nesse período, foi o Programa Nacional do Álcool - PROÁLCOOL, criado pelo Governo Federal em 1975. Ribeirão Preto e Campinas eram as

FIGURA 3. Desmembramentos municipais – Região de Governo de Ribeirão Preto

Fonte: Fundação Seade. Memórias das Estatísticas Demográficas – para municípios criados até 1990; Siqueira (2003), para municípios criados a partir de 1991.

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regiões canavieiras

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roberta guimarães Peres e rosana baeninger

regiões que estavam em melhores condições para responder com maior agilidade às metas fixadas pelo Governo no Programa do Álcool. Com forte incentivo público (financiamento a “juros baixos e crédito fácil”) para ampliação e implantação de destilarias, obteve resposta imediata na região, produtora de cana-de-açúcar desde os anos 30 (FSEADE, 1988). Também marcaram presença na região as políticas de incentivo à exportação. Na Região de Ribeirão Preto, a expansão da cultura da cana-de-açúcar e seu processamento têm sido responsáveis pelos efeitos mais marcantes na estruturação do espaço regional, nas relações de produção e de trabalho e, consequentemente, nos movimentos populacionais.

Os principais impactos do aumento da produção canavieira na região foram: substituição de outras culturas pela cana-de-açúcar (monocultura); valorização das terras e maior concentração fundiária; substituição da mão-de-obra permanente pela temporária, com residência na cidade e o aumento dos fluxos migratórios, com destaque para o movimento sazonal na época da safra. Destaca-se, ainda, que a região de Ribeirão Preto é conhecida pelo importante peso da agroindústria sucro-alcooleira (Cano, 1988).

O incentivo à diversificação do parque industrial, a ampliação das atividades urbanas, e, na década de 70, o PROÁLCOOL, ocasionaram uma demanda de mão-de-obra, ao mesmo tempo em que continuava a expulsão da mão-de-obra rural para as cidades. A década de 70 registrou a maior taxa de crescimento da RG no período em estudo, em que pese a manutenção da taxa de crescimento negativa da população rural. De fato, a população da RG quase dobrou no período 1960/80, passando de 384 mil habitantes para quase 654 mil. A taxa de crescimento da população no período 1960/70 foi de 2,14% a.a., e no período 1970/80 de 3,26 % a.a. Essa recuperação populacional ocorreu principalmente, em função do crescimento das áreas urbanas da região, que chegou a apresentar taxas de 4,94% a.a. e de 4,72% a.a., nos períodos mencionados. Em contrapartida, as taxas de crescimento da população rural foram de -3,67% a.a., nos anos 60 e de -3,37% a.a., nos anos 70.

Nos anos 80, a RG de Ribeirão Preto, acompanhando a tendência nacional e estadual, registrou menor ritmo de crescimento populacional, em comparação com a década de 70: 2,86% a.a., muito embora se destaque por ter apresentado uma das mais altas taxas do Estado. Inclusive, a região cresceu mais do que o Estado de São Paulo, cuja taxa de crescimento ficou em torno de 2,12% a.a., para o mesmo período. A população rural, por sua vez, continuou a manter taxas negativas na década de 1980, embora num ritmo menor que o verificado anteriormente.

Entre 1991 e 2000, a taxa de crescimento da RG de Ribeirão Preto diminui um pouco em relação à década anterior, passando para 1,91% a.a. Isso pode ser explicado, simultaneamente, pela diminuição na taxa de crescimento da população urbana e pelas maiores perdas populacionais verificadas na zona rural. Esta tendência de menor crescimento também pode ser verificada para o Estado de São Paulo, considerado em conjunto. Entretanto, vale ressaltar que, durante este período, a RG de Ribeirão Preto atinge, pela primeira vez, a cifra de mais de um milhão de habitantes: em 2000, a população local contava com 1.058.652 habitantes.

Já no período de 2000 a 2010, constata-se que as taxas de crescimento populacional, tanto para a RG quanto para o Estado, continuam a decrescer, em particular pela queda da fecundidade e pelos menores volumes migratórios interestaduais. A RG de Ribeirão Preto, mais especificamente, sustenta uma taxa de 1,64% a.a., taxa esta que se mostra superior à verificada para o Estado de São Paulo (1,09% a.a.).

Completando este panorama acerca dos polos produtores de cana de açúcar no Estado de São Paulo, a Região de Governo de Piracicaba conta com 11 municípios, situados no noroeste do estado, com uma população de 531.699 habitantes. Caracterizada por uma dinâmica definida

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pela Bacia do Rio Piracicaba – uma das mais importantes de São Paulo, a região assistiu, no início do século 20, à ascensão do cultivo do café, período que também refletiu o incremento populacional mais significativo da história (1,97% a.a. entre 1930 e 1940).

Em meados dos anos 1950, o cultivo do café foi rapidamente substituído pela cana de açúcar, mantendo a característica da monocultura na região. Os anos 1960, no entanto, refletem um período de estagnação econômica, refletido na queda do ritmo de crescimento populacional da região, que chegou a 1,02% a.a. A Figura 4 apresenta os desmembramentos municipais da Região de Governo de Piracicaba.

O cenário da cana de açúcar em Piracicaba apresenta, por sua própria configuração, uma série de desafios à sua produção, sobretudo no que se refere à topografia. Neste sentido, a região, a partir de meados dos anos 1970, em um processo rápido de industrialização no estado de São Paulo, apresenta um parque industrial bastante especializado, sobretudo em equipamentos relacionados ao cultivo da cana de açúcar. Uma nova etapa econômica tem, portanto, o seu início, refletindo-se também nas taxas de crescimento populacional: entre 1980 e 1991, a Região de Governo de Piracicaba cresceu 2,7% a.a, enquanto que o Estado cresceu 2,12% a.a. Entre 1991-2000, sua taxa de crescimento da população foi de 2,00% ao ano, expressando o crescimento econômico e populacional da área, e superior à média estadual (1,82% ao ano); entre 2000-2010, esse crescimento populacional teve seu ritmo diminuído para 1,20 % ao ano, mas ainda assim ligeiramente superior à média de crescimento da população estadual (1,09% ao ano).

FIGURA 4. Desmembramentos municipais – Região de Governo de Piracicaba

Fonte: Fundação Seade. Memórias das Estatísticas Demográficas – para municípios criados até 1990; Siqueira (2003), para municípios criados a partir de 1991.

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Os contextos urbanos e rurais dessas quatro regiões que compõem o grande polo canavieiro paulista imprimem as direções e possibilidades dessas regiões no processo de urbanização nacional e internacional. A Tabela 2, a seguir, apresenta as taxas de crescimento da população urbana, rural e total, segundo as regiões de governo.

Entre as regiões, no período de 1980-1991, destaca-se a região de Ribeirão Preto, que registrou crescimento da população urbana de 3,38%a.a. Por outro lado, foi a Região de Presidente Prudente que menos incrementou sua população urbana, com taxa de 2,6%a.a. no mesmo período. Observa-se, ao mesmo tempo, o crescimento negativo da população rural em todas as regiões de governo analisadas, com destaque para a Região de Araçatuba, que registrou crescimento de -3,77%a.a.

O período seguinte apresenta o panorama de desaceleração do crescimento da população urbana (e total) em todas as regiões. De acordo com os dados, o conjunto das regiões de governo experimentou um decremento de 3,07% a.a. para 2,01% a.a. A população rural mantém a tendência de crescimentos negativos, com destaque para a região de Ribeirão Preto, que registrou taxa de -4,63% a.a. de crescimento de sua população rural.

Fonte: Fundação

IBGE. Censo Demográfico

de 2000. Tabulações

Especiais - Projeto Temático

“Observatório das Migrações em São Paulo”

(Fapesp/CNPq/ NEPO/

Unicamp).

GRáFICO 1. Taxas de Crescimento da População Total, segundo Regiões de Governo. 1980-2010

No período mais recente, observa-se a intensificação desta tendência de desaceleração do crescimento tanto entre a população rural quanto urbana. A região de Piracicaba assistiu ao decremento de sua população urbana, passando de 2,24% a.a. para 1,51% a.a. e, ao mesmo tempo, sofreu o maior crescimento negativo da população rural entre todas as regiões analisadas, registrando para o período de 2000/2010 taxa negativa de 3,61% a.a.

Assim, as regiões de governo analisadas experimentaram incremento em sua população total, bem como em sua população urbana. As perdas populacionais se deram, sobretudo, entre a população rural, em todas as RGs, dado que também se reflete nos graus de urbanização.

Apenas a região de Governo de Presidente Prudente apresenta grau de urbanização abaixo dos 90%, apresentando 89,77% em 2010. A Região de Governo de Ribeirão Preto é a mais urbanizada, com 97,52% de grau de urbanização. Foi a Região de Governo de Araçatuba que, em todo o período, teve o mais acelerado processo de urbanização, partindo de 76,84% em 1980, para 94,14% de população urbana (Tabela 3).

As transformações urbanas e rurais revelam, de maneira bastante estreita, a dinâmica canavieira das respectivas áreas. Na Tabela 4 pode-se verificar a importância e evolução da área colhida, da produção e do valor da produção da cana de açúcar nessas regiões e nas Figuras 5, 6 e 7 a visualização dessas informações em âmbito municipal para as respectivas regiões.

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regiões canavieiras Dinâmica PoPulacional nas regiões canavieiras

TABElA 4. Produção de cana de açúcar, por área colhida, produção e valor da produção, segundo regiões de governo

Regiões de GovernoÁrea Colhida (em ha) Produção (em toneladas)

Valor da Produção (em mil reais)

2000 2010 2000 2010 2000 2010RG Araçatuba 146.212 382.680 12.025.453 33.509.075 214.535 1.263.799RG Piracicaba 120.253 158.016 8.867.504 12.294.325 158.197 560.853RG Presidente Prudente 60.926 243.466 4.061.049 19.400.019 72.451 784.202RG Ribeirão Preto 387.053 470.640 28.410.398 40.150.301 506.842 1.429.335Total 714.444 1.254.802 53.364.404 105.353.720 952.025 4.038.189Total Estado de São Paulo 2.484.790 4.986.634 189.040.000 426.572.099 3.372.474 15.627.108Participação no total da produção no Estado de São Paulo

28,75 25,16 28,23 24,70 28,23 25,84

TABElA 3. Evolução da População Total, População Urbana, População Rural e Grau de Urbanização, segundo regiões de governo. 1980-2010

Regiões de GovernoPopulação Total População Urbana

1980 1991 2000 2010 1980 1991 2000 2010

RG Araçatuba 366.523 441.422 493.524 545.020 281.577 385.743 453.184 513.083

RG Piracicaba 294.437 394.800 471.979 531.699 255.273 357.628 436.597 507.204

RG Presidente Prudente 416.852 494.553 549.355 579.287 311.816 413.345 469.781 520.041

RG Ribeirão Preto 654.794 892.884 1.058.652 1.246.046 577.856 833.117 1.019.656 1.215.100

Regiões de GovernoPopulação Rural Grau de Urbanização

1980 1991 2000 2010 1980 1991 2000 2010

RG Araçatuba 84.946 55.679 40.340 31.937 76,84 87,39 91,83 94,14

RG Piracicaba 39.164 37.172 35.382 24.495 86,69 90,58 92,5 95,39

RG Presidente Prudente 105.036 81.208 79.574 59.246 74,8 83,58 85,52 89,77

RG Ribeirão Preto 76.938 59.767 38.996 30.946 88,25 93,31 96,32 97,52

Fonte: Fundação IBGE. Censos Demográficos de 1980 a 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/CNPq/ NEPO/ Unicamp).

Fonte: Fundação Seade, Informações dos Municípios Paulistas, 2010. Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/CNPq/NEPO/ Unicamp).

De acordo com os dados, todas as regiões de governo analisadas assistiram ao incremento de sua produção de cana de açúcar, entre 2000 e 2010. No caso da Região de Governo de Araçatuba, a área colhida em 2000 era de 146 mil hectares, passando em 2010 para 382 mil. A produção também experimentou um aumento de 10,79% a.a. no período, alcançando os 33 milhões de toneladas. Esta dinâmica se reflete também no valor da produção, que teve aumento de 19,4% a.a.

A região de governo de Piracicaba também assistiu a um importante crescimento na produção de cana de açúcar, chegando aos 158 mil hectares de área plantada em 2010. O valor da produção também sofreu ligeiro aumento de 3,32% a.a., bem como o valor da produção, que cresceu 13,49% a.a. no período.

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FIGURA 5. área colhida de cana de açúcar, segundo regiões de governo, 2010

Fonte: Fundação SEADE,

Informações Municipais, 2012.

Fonte: Fundação SEADE,

Informações Municipais, 2012.

Fonte: Fundação SEADE,

Informações Municipais, 2012.

FIGURA 6. Produção de cana de açúcar, segundo regiões de governo, 2010

FIGURA 7. Valor da Produção da cana de açúcar, em milhões de reais, segundo regiões de governo, 2010

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Foi a região de Presidente Prudente, no entanto, a que mais aumentou sua produção de cana de açúcar, chegando aos 470 mil hectares de área colhida, crescendo 14,85% a.a. Este incremento na área de colheita se reflete na produção, que chegou a mais de 19 milhões de toneladas, com valor crescendo 26,89% a.a.

Por fim, a região de Ribeirão Preto, maior produtora entre todas as regiões analisadas, apresentou um incremento em sua área colhida no setor da cana de açúcar de 1,97% a.a. Embora o crescimento seja menos acelerado do que o observado para as demais regiões – isto porque a produção de cana de açúcar em Ribeirão Preto apresenta historicamente grandes proporções – é bastante significativo quando se observa os valores desta produção na região: ultrapassa os 40 milhões de toneladas colhidas com o crescimento de 10,92% a.a. em seu valor (Tabela 5).

Em relação ao panorama do estado de São Paulo, é importante ressaltar que a produção de cana de açúcar destas regiões representa um quarto da produção de todo o estado. Em 2010, o total de área colhida representa 25,16% de todo o estado de São Paulo. A participação destas regiões, em 2010, de toneladas de cana de açúcar é de 24,7% e a mesma proporção se observa na distribuição dos valores desta produção.

De acordo com os dados da Tabela 5, é a Região de Governo de Ribeirão Preto que apresenta o maior crescimento, e também maior PIB entre todas as regiões analisadas. O maior PIB per capita, no entanto, está na Região de Governo de Piracicaba, que também apresentou o maior crescimento para o período. A maior participação no PIB do estado de São Paulo é também da região de Ribeirão Preto, principalmente por conta de sua formação histórica e do porte de seus municípios. Ressalta-se, no entanto, que todas as regiões de governo assistiram um aumento em todos os indicadores apresentados na tabela acima.

TABElA 5. Produto Interno Bruto Total e Produto Interno Bruto per capita, segundo Regiões de Governo

Regiões de GovernoPIB (em milhões de reais) PIB per capita (em reais)

Participação no PIB do Estado (%)

2000 2010 2000 2010 2000 2010

RG Araçatuba 3.262,69 9.683,55 6.611,01 17.767,33 0,77 0,78

RG Piracicaba 4.383,79 14.718,56 9.288,10 27.682,13 1,03 1,18

RG Presidente Prudente 3.635,37 10.871,11 6.617,53 18.766,36 0,86 0,87

RG Ribeirão Preto 10.000,57 31.865,85 9.446,51 25.573,57 2,36 2,55

Fonte: Fundação Seade, Informações dos Municípios Paulistas, 2010. Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/NEPO/ Unicamp).

Essa dinâmica econômica tem rebatimentos nos processos migratórios experimentados pelas diferentes regiões canavieiras no contexto paulista. Desse modo, considerando os componentes demográficos no crescimento absoluto populacional das áreas - crescimento vegetativo e saldo migratório – é possível compreender a importância desses componentes na dinâmica da população das regiões.

O decréscimo no ritmo de crescimento das populações regionais revelam seus processos de transição demográfica; ou seja, a tendência de desaceleração do crescimento populacional nestas regiões está profundamente relacionada também com a queda da fecundidade (Gráfico 2), de um lado, com a chegada de menores contingentes imigrantes, de outro lado.

O fenômeno da transição demográfica, com a expressiva queda da fecundidade, pode ser ilustrado através das alterações nas estruturas etárias das respectivas regiões. Os gráficos a seguir apresentam as estruturas etárias de todas as regiões de governo analisadas, para 2000 e 2010.

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GRáFICO 2. Taxas de fecundidade total, segundo regiões de governo. 2000-2010

O estreitamento da base das pirâmides etárias evidencia esta queda, transformando a estrutura e seu ritmo de crescimento. No caso da Região de Governo de Araçatuba, a taxa de fecundidade geral, por mil mulheres entre 15 e 49 anos, passou de 53,48 para 44,36, segundo dos dados da Fundação Seade (2012). Seguindo a mesma tendência, a Região de Governo de Piracicaba registrou queda de 59,41 para 47,22. A região de Presidente Prudente também assistiu à diminuição de sua taxa de fecundidade total, passando de 59,27 para 45,84 e, por fim, destaca-se a região de governo de Ribeirão Preto, que sofreu uma diminuição em sua taxa de fecundidade total, passando de 60,82 para 48,27, a maior mudança de cenário entre todas as regiões analisadas. O Gráfico 2 a seguir apresenta as taxas de fecundidade total, por mil mulheres entre 15 a 49 anos, segundo as regiões de governo.

A queda da fecundidade incide diretamente tanto nas transformações nas estruturas etárias desta região de governo, bem como na desaceleração do crescimento já analisada anteriormente. Neste sentido, apresentam-se as estruturas etárias para todas as regiões de governo analisadas, chamando a atenção para as recentes transformações nas distribuições entre sexo e idade nestas regiões. Em caso de regiões de governo com municípios pequenos, como é o caso principalmente de Araçatuba e Presidente Prudente, em que a maioria dos municípios tinha, em 2010, menos de 10 mil habitantes, observa-se de forma mais acentuada a influência da queda da fecundidade na estrutura e no crescimento destas regiões.

O caso da região de Governo de Piracicaba, que apresenta apenas 11 municípios, é notável que a queda da fecundidade já modifica o peso relativo entre as diferentes faixas etárias, aumento o peso sobretudo, dos idosos na população; por fim, a região de governo de Ribeirão Preto, que apresenta as cidades de maior porte entre as quatro regiões, também revela o quadro de influência da queda da fecundidade na estrutura etária. Por outro lado, a migração também parece influenciar nesta distribuição etária, impulsionada principalmente pelo próprio município de Ribeirão Preto e suas trocas intra e inter-regionais, como se verá adiante.

Desse modo, as análises das migrações se fazem fundamentais para o entendimento da dinâmica das respectivas regiões canavieiras. Os saldos migratórios advindos da Fundação SEADE (2012) são estimados com base na equação de crescimento populacional – equação compensadora – relacionando dados censitários (população total) e também as estatísticas vitais (nascimentos e óbitos do período) para estimar o crescimento vegetativo, sendo o resíduo referente ao saldo migratório. Neste sentido, obtem-se o saldo migratório anual, nos períodos de 1980-1991, 1991-2000 e 2000-2010 (Tabela 6).

Fonte: Fundação Seade,

Informação dos Municípios Paulistas, 2012.

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regiões canavieiras Dinâmica PoPulacional nas regiões canavieiras

Gráfico 3. Estrutura Etária - RG Araçatuba - 2000

Gráfico 4. Estrutura Etária - RG Araçatuba - 2010

GRáFICO 5. Estrutura Etária - RG Piracicaba – 2000

GRáFICO 6. Estrutura Etária - RG Piracicaba - 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010.

GRáFICO 7. Estrutura Etária - RG Presidente Prudente - 2000

GRáFICO 8. Estrutura Etária - RG Presidente Prudente - 2010

GRáFICO 9. Estrutura Etária - RG Ribeirão Preto - 2000

GRáFICO 10. Estrutura Etária - RG Ribeirão Preto - 2010

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TABElA 6. Crescimento Absoluto Populacional, Crescimento Vegetativo e Saldos Migratórios Anuais, segundo regiões de governo.

Regiões de Governo

Crescimento Absoluto Crescimento Vegetativo Saldo Migratório

1980/1991 1991/2000 2000/2010 1980/1991 1991/2000 2000/2010 1980/1991 1991/2000 2000/2010

RG Araçatuba 74.899 52.102 51.496 74.753 51.190 49.484 146 912 2.012

RG Piracicaba 100.363 77.179 59.720 97.303 73.876 57.856 3.060 3.303 1.864

RG Presidente Prudente

77.701 54.802 29.932 79.002 55.216 31.074 -1.301 -414 -1.142

RG Ribeirão Preto

238.090 165.768 187.394 230.893 159.471 178.664 7.197 6.297 8.730

Fonte: Fundação Seade,

Informação dos Municípios Paulistas, 2012.A região de governo de Presidente Prudente apresentou saldos migratórios anuais negativos

para todos os períodos observados. Ressalta-se, ainda a desaceleração de seu crescimento absoluto, passando de 77.701 pessoas entre 1980/1991 para 29.932 pessoas entre 2000 e 2010. Por outro lado, a região de governo de Ribeirão Preto apresenta os maiores volumes de crescimento absoluto, bem como os saldos migratórios anuais mais positivos, chegando a 8.730 pessoas entre 2000 e 2010. Destaca-se, no entanto, a diminuição de seu crescimento vegetativo, também reflexo direto da queda da fecundidade no período analisado, passando de 230.893 pessoas no primeiro período para 178.664 entre 2000 e 2010.

As regiões de governo de Araçatuba e Piracicaba também apresentaram esta tendência, em ritmos menos acelerados resultantes de sua própria formação histórica e demográfica. Ainda assim, observa-se esta mesma dinâmica, de importante diminuição no crescimento vegetativo, que acompanha a queda nas taxas de fecundidade, bem como o decremento do crescimento absoluto populacional ao logo dos períodos analisados.

Os volumes de imigração e emigração, com base no quesito de Data Fixa, do Censo Demográfico 2010 (Tabela 7, 8 e 9) permitem identificar as migrações intra-regionais, as quais se configuram como elemento importante para a consolidação da rede urbana canavieira e seu mercado de trabalho (Oliveira, 2012; Demétrio, 2013).

De acordo com a Tabela 7, as principais trocas intra-regionais na região de governo de Araçatuba se deram entre os municípios de Birigui e Araçatuba, que apresentaram o maior e menor saldos migratórios, respectivamente. Embora com municípios pequenos, de população total de 545.020 habitantes em 2010, a Região de Governo de Araçatuba apresentou-se bastante dinâmica em sua circulação intra-regional com mais de 10 mil pessoas registrando mudança de residência entre seus municípios entre 2005-2010, denotando a intensificação de processos econômicos e populacionais nesta área.

A Região de Governo de Piracicaba, que apresenta 11 municípios, teve os maiores volumes de entradas e saídas entre os municípios de Piracicaba, São Pedro e Rio das Pedras (Tabela 8). Nota-se que, assim como no caso de Araçatuba, a sede da Região de Governo, Piracicaba, apresentou saldo migratório negativo entre 2005 e 2010, chegando a -812 pessoas. Foram cerca de 5 mil pessoas que mudaram de município de residência entre 2005-2010. Os dados da tabela apontam para a hipótese da importância da redistribuição populacional entre os municípios da região de governo, que deve ter o seu papel considerado na dinâmica das trocas com outras unidades geográficas dentro do estado de São Paulo.

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TABElA 7. Imigrantes, Emigrantes e Saldos Migratórios intra-regionais, segundo os municípios. Região de Governo de Araçatuba, 2005-2010

Municípios Imigrantes Emigrantes Saldos Migratórios

Alto Alegre 57 235 -178Araçatuba 1.441 2.127 -686Auriflama 223 207 16Avanhandava 317 315 2Barbosa 190 287 -97Bento de Abreu 183 65 118Bilac 353 282 71Birigui 2.138 1.678 460Braúna 223 274 -51Brejo Alegre 156 173 -17Buritama 572 373 199Clementina 283 215 68Coroados 481 279 202Gabriel Monteiro 168 149 19Gastão Vidigal 64 93 -29General Salgado 285 224 61Glicério 283 235 48Guararapes 440 803 -363Guzolândia 37 184 -147Lourdes 72 96 -24Luiziânia 76 207 -131Nova Castilho 94 64 30Nova Luzitânia 145 150 -5Penápolis 962 971 -9Piacatu 189 235 -46Rubiácea 220 29 191Santo Antonio do Aracanguá 524 190 334Santópolis do Aguapeí 102 78 24São João de Iracema 31 17 14Turiúba 119 77 42Valparaíso 251 367 -116RG Araçatuba 10.679 10.679 0

Fonte: FIBGE, Censo Demográfico 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/CNPq/ NEPO/ Unicamp).

Municípios Imigrantes Emigrantes Saldos Migratórios

Águas de São Pedro 202 135 67Capivari 318 676 -358Charqueada 404 708 -304Elias Fausto 124 92 32Mombuca 239 158 81Piracicaba 1.550 2.362 -812Rafard 320 134 186Rio das Pedras 843 457 386Saltinho 552 40 512Santa Maria da Serra 132 195 -63São Pedro 894 621 273RG Piracicaba 5.578 5.578 0

TABElA 8. Imigrantes, Emigrantes e Saldos Migratórios intra-regionais, segundo os municípios. Região de Governo de Piracicaba, 2005-2010

Fonte: FIBGE, Censo Demográfico 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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roberta guimarães Peres e rosana baeninger

O caso da Região de Governo de Presidente Prudente (Tabela 9) apresenta uma importante especificidade: é a única região que registrou saldo migratório positivo para sua sede, entre 2005 e 2010, com um volume de 17 mil pessoas que mudaram de município de residência no período. Isto aponta para a possibilidade de uma outra dinâmica intra-regional, de redistribuição populacional no sentido da atração da maior cidade da Região de Governo – Presidente Prudente. Ressalta-se ainda os casos de Álvares Machado e Pirapozinho, que não são os municípios mais populosos da região de governo, mas que apresentaram uma circulação importante de pessoas no contexto intra-regional.

Municípios Imigrantes Emigrantes Saldos Migratórios

Alfredo Marcondes 136 250 -114lvares Machado 1.521 720 801Anhumas 199 269 -70Caiabu 141 186 -45Caiuá 401 112 289Emilianópolis 158 117 41Estrela do Norte 83 178 -95Euclides da Cunha Paulista 319 411 -92Iepê 175 195 -20Indiana 375 248 127Marabá Paulista 401 164 237Martinópolis 446 783 -337Mirante do Paranapanema 771 610 161Nantes 43 118 -75Narandiba 325 258 67Piquerobi 201 162 39Pirapozinho 1.120 883 237Presidente Bernardes 596 609 -13Presidente Epitácio 869 1.296 -427Presidente Prudente 4.489 3.896 593Presidente Venceslau 687 1.234 -547Rancharia 300 515 -215Regente Feijó 1.034 488 546Ribeirão dos Índios 99 132 -33Rosana 461 628 -167Sandovalina 231 357 -126Santo Anastácio 388 830 -442Santo Expedito 149 239 -90Taciba 365 244 121Tarabaí 317 410 -93Teodoro Sampaio 595 853 -258RG Presidente Prudente 17.395 17.395 0

TABElA 9. Imigrantes, Emigrantes e Saldos Migratórios intra-regionais, segundo os municípios. Região de Governo de Presidente Prudente, 2005-2010

Fonte: FIBGE, Censo

Demográfico 2010. Tabulações

Especiais - Projeto Temático

“Observatório das Migrações em São

Paulo” (Fapesp/CNPq/ NEPO/

Unicamp).

Por fim, a Região de Ribeirão Preto (Tabela 10) apresenta os saldos migratórios intra-regionais para o período 2005-2010, com quase 19 mil pessoas registrando mudança de município. Destaca-se o próprio caso do município de Ribeirão Preto, que se configura como área de rotatividade de população (com saldo migratório quase nulo entre 2005 e 2010), revelando intensas entradas e saídas do município, e uma intensa circulação regional. Ressalta-se ainda o caso do município de Jardinópolis, que apresentou 1.811 imigrantes intra-regionais, e também as importantes entradas e saídas registradas pelo município de Sertãozinho.

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regiões canavieiras Dinâmica PoPulacional nas regiões canavieiras

Assim, a dinâmica econômica regional e sua dinâmica populacional atual redefinem os contornos, as heterogeneidades e os desafios que se impõem às políticas sociais no contexto de regiões articuladas no âmbito local que, ao mesmo tempo, se impõem às novas estruturas da reestruturação produtiva em âmbito global.

Referências

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BAENINGER, R. Região, Metrópole e Interior: espaços ganhadores e espaços perdedores nas migrações recentes no Brasil – 1980/1996. (Tese de Doutorado) – Campinas-SP, IFCH – UNICAMP, 1999.

BAENINGER, R. et all. Polos regionais. Coleção Por Dentro do Estado de São Paulo. NEPO/UNICAMP-FINEP/FAPESp/CNPq, 2010.

BRANDÃO, C. A. Território e desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o local e o global. Campinas, Editora da UNICAMP, 2007.

FARIA, V. O processo de urbanização no Brasil: algumas notas para seu estudo e interpretação. Anais do I Encontro Nacional de Estudos Populacionais, São Paulo: p.89-108, 1978.

GONÇALVES, M. F. As Engrenagens da Locomotiva: ensaio sobre a formação urbana paulista. (Tese de Doutorado). Campinas-SP, IFCH – UNICAMP, 1998.

Tabela 10: Imigrantes, Emigrantes e Saldos Migratórios intra-regionais, segundo os municípios. Região de Governo de Ribeirão Preto, 2005-2010

Municípios Imigrantes Emigrantes Saldos Migratórios

Altinópolis 312 491 -179Barrinha 517 406 111Brodowski 898 218 680Cajuru 579 666 -87Cássia dos Coqueiros 112 179 -67Cravinhos 767 515 252Dumont 359 180 179Guariba 322 909 -587Guatapará 310 302 8Jaboticabal 758 1.125 -367Jardinópolis 1.811 582 1.229Luís Antônio 631 306 325Monte Alto 330 307 23Pitangueiras 557 612 -55Pontal 384 834 -450Pradópolis 407 320 87Ribeirão Preto 5.283 5.285 -2Sta Cruz Esperança 123 33 90Sta Rosa do Viterbo 614 889 -275Sto Antonio Alegria 285 350 -65São Simão 749 621 128Serra Azul 845 449 396Serrana 910 1.054 -144Sertãozinho 1.091 2.217 -1.126Taquaral 30 138 -108RG Ribeirão Preto 18.984 18.988 -4

Fonte: FIBGE, Censo Demográfico 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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regiões canavieiras

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roberta guimarães Peres e rosana baeninger

NOVAES, J. R.; ALVES, F. Migrantes. Trabalho e trabalhadores no Complexo Agroindustrial Canavieiro (os heróis do agronegócio brasileiro). São Carlos: EdUFSCAR, 2007.

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SILVA, M. A. M. Errantes do Fim do Século. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999.

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Aspectos relacionados às mudanças climáticas têm repercutido na distribuição espacial da produção canavieira no Brasil. A perspectiva da utilização do etanol como alternativa aos combustíveis fósseis, vem motivando a reorganização geográfica dos complexos de produção sucroalcooleira, desde sua fase agrícola até a industrial. As lavouras de cana-de-açúcar têm se expandido sobre áreas anteriormente não ocupadas com este cultivo por não apresentarem condições de clima e solo favoráveis, provocando transformações na paisagem e na dinâmica socioeconômica dos municípios.

No Brasil, mudanças na cobertura da terra agrícola estiveram fortemente relacionadas aos ciclos econômicos. A produção de cana-de-açúcar foi iniciada no período colonial para atender os interesses da Coroa Portuguesa em lucrar com o fornecimento de açúcar para a Europa. As primeiras lavouras foram plantadas em 1532 na Capitania de São Vicente, quando também foi instalado o primeiro engenho para refino do açúcar. Posteriormente, a produção se concentrou no Nordeste, onde o cultivo foi voltado, principalmente, para a exportação de açúcar.

O ciclo do açúcar, ocorrido no século XVIII, é apontado como o primeiro ciclo econômico no estado1, evidenciando a importância da produção canavieira para São Paulo. Neste período, as lavouras de cana ocupavam a região de Campinas, Jundiaí, Sorocaba, Araraquara, Piracicaba e Mogi-Mirim. A queda na exportação de açúcar no século em meados do século XIX causa a retração dos canaviais e a expansão dos cultivos de café.

No início do século XX, a crise do café causou nova reorganização nos cultivos, e observa-se mais uma vez a o aumento do cultivo da cana no estado de São Paulo2. Nos anos 1970, a crise do petróleo e políticas públicas incrementaram ainda mais esta expansão, e a produção canavieira avançou em direção a região oeste do estado até Assis, sendo que o etanol adquire

1 PETRONE, M. T.S. A lavoura canavieira em São Paulo: expansão e declínio (1765-1851). São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968.2 CORTEZ, L.A.B. (coord.) Bioetanol de cana-de-açúcar: P&D para produtividade e sustentabilidade. São Paulo: Blucher, 2010.

EVOlUçãO DA PRODUçãO DA CANA-DE-AçúCAR EM REGIÕES CANAVIEIRAS TRADICIONAIS E EM

ExPANSãO DO ESTADO DE SãO PAUlO

Andrea Koga-Vicente Jurandir Zullo Junior

Tirza Aidar

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regiões Canavieiras evolução da produção de Cana-de-açúCar em regiões Canavieiras tradiCionais...

importância neste cenário. Nos anos 1980, com o intuito de elevar a produção de etanol, ocorrem incentivos governamentais para expansão da cana e instalação de usinas nas regiões do extremo oeste (Araçatuba, Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Marília), contudo as grandes regiões produtoras continuaram sendo as tradicionais.

Nas décadas mais recentes, vem ocorrendo significativo avanço da cana em direção ao oeste de São Paulo em virtude do aumento do consumo de açúcar e etanol, alargando a área canavieira até mesmo para a região centro-oeste. Desta forma, no intuito de discutir o panorama da produção canavieira no estado ao longo das décadas de 1990 e 2000, serão analisados os dados de quatro Regiões de Governo no território paulista em que a cultura de cana-de-açúcar tem presença significativa: duas regiões tradicionais: Ribeirão Preto e Piracicaba, e duas regiões de expansão: Araçatuba e Presidente Prudente.

Expansão da área plantada com cana-de-açúcar em São Paulo: relações com outras atividades agrícolas

O estado de São Paulo reúne condições edafoclimáticas favoráveis à cultura da cana-de-açúcar que, aliadas à infra-estrutura de transportes e às usinas de açúcar e álcool instaladas, impulsionaram o cultivo na região colocando o estado como maior produtor nacional. Entre 1990 a 2010, São Paulo foi responsável por cerca de 52% da área canavieira no Brasil (Figura 1).

FIGURA 1. Percentagem de área plantada com cana-de-açúcar por estado brasileiro, 1990 a 2010

Fonte: elaboração própria com dados do IBGE.

Nos anos recentes houve relevante expansão da área nacional plantada com cana-de-açúcar (Figura 2), que segundo os especialistas foi alavancada por dois fatores principais: (i) maior demanda por etanol no mercado interno e externo e (ii) aumento do consumo mundial de açúcar. Em São Paulo, foi observada tendência de crescimento similar à nacional. A área ocupada no país passou de cerca de 4 milhões de hectares em 1990 para pouco mais de 9 milhões em 2010, sendo que o crescimento paulista foi de mais de 3 milhões de hectares no mesmo período, passando de 1.800mil/ ha em 1990 para 5 milhões/ha em 2010.

Excetuando-se as regiões mais urbanizadas da porção leste, os setores com acentuada declividade ao sul e a zona litorânea, a cana-de-açúcar tem presença massiva no território paulista destacando-se, como produtora tradicional, a porção norte do estado, mais precisamente as regiões de Ribeirão Preto, Araraquara, Barretos e São Joaquim da Barra (Mapa1).

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andrea koga-vicente, jurandir zullo junior e tirza aidar

Contudo, nos últimos anos, devido ao aumento da demanda mundial de etanol observa-se uma reorganização geográfica da produção sucroalcooleira no estado, em decorrência da necessidade de terras para expansão da cultura e das novas formas de regulação da produção, que visam atender às exigências ambientais e sociais adotadas, principalmente, pelo mercado europeu, importante consumidor dos produtos derivados da cana-de-açúcar brasileira.

Seguindo a tendência nacional, houve aumento da área plantada com cana-de-açúcar nas quatro regiões (Figura 3), embora com ritmos diferentes de crescimento.

Fonte: elaboração própria com

dados do IBGE.

Fonte: elaboração própria com

dados do IBGE.

FIGURA 2. Evolução da área plantada com cana-de-açúcar no Brasil e no estado de São Paulo

MAPA 1. Média anual de área plantada com cana-de-açúcar, por Região de Governo do estado de São Paulo, 1990 a 2010

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Nas regiões de Araçatuba e Presidente Prudente as taxas de crescimento foram aceleradas, apresentando um incremento de 345% e 391%, respectivamente, entre 1990 e 2010, sinalizando o avanço da cana-de-açúcar para a região oeste do estado. A Lei Estadual 11.241/2002 e, em seguida, o Protocolo Agroambiental Etanol Verde são apontados como principais motivadores pelo direcionamento para estas regiões, pois regulamentam datas para a extinção da queimada na colheita da cana-de-açúcar, procedimento necessário para a colheita manual, que consequentemente, será substituída pela colheita mecanizada. Considerando que as máquinas disponíveis atualmente para a colheita operam em terrenos com declividade de até 12%, as regiões central e ocidental do estado são as mais adequadas para a colheita mecanizada por situarem-se na Depressão Periférica Paulista e no Planalto Ocidental Paulista, formações compostas predominantemente por planaltos e planícies sedimentares.

Em contrapartida, na região de Piracicaba, situada em terrenos com presença de locais com declividade acentuada, o Protocolo refletiu-se na tendência de desaceleração no crescimento da área plantada: a taxa de aumento foi de apenas 38,5%, a mais baixa entre as 4 regiões, em um período de franca expansão do mercado sucroalcooleiro.

Ribeirão Preto continuou como a região com maior extensão de áreas ocupadas com a cultura, apresentando incremento em torno de 41% entre 1990 e 2010, o que correspondeu a cerca de 143 mil hectares a mais de área plantada ao longo do período.

A expansão das terras agrícolas ocupadas com cana-de-açúcar vem suscitando discussões sobre as mudanças diretas e indiretas no uso e ocupação das terras, e os possíveis impactos sobre segurança alimentar e avanço sobre áreas de preservação ambiental. Isto se deve ao fato de que no estado de São Paulo o início da ocupação das terras agrícolas remonta ao período colonial, com progressiva utilização do potencial agropecuário dos municípios. Como consequência, a área disponível para atividades agropecuárias é intensivamente ocupada, restando poucas terras não ocupadas para a expansão da cana-de-açúcar, que se daria principalmente pela substituição de outras culturas ou avanço sobre áreas de pecuária.

Com objetivo de direcionar o avanço da cana-de-açúcar sobre terras não produtivas, e assim diminuir o impacto sobre a produção de alimentos, o governo federal criou políticas de incentivo ao cultivo da cana sobre áreas de pastagens degradadas. Levantamentos realizados pelo Canasat3 mostraram que no estado de São Paulo 69,7% da expansão da área plantada

3 http://www.dsr.inpe.br/laf/canasat/

FIGURA 3. Evolução da área plantada com cana-de-açúcar por Região de Governo.

Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE.

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com cana ocorreu sobre áreas de pastagens. Contudo, 25% deste avanço se deu sobre culturas permanentes, indicando possíveis impactos à produção de outras culturas.

Nas regiões de Ribeirão Preto (Figura 4) e Piracicaba (Figura 5), tradicionais produtoras canavieiras, a área ocupada com cana-de-açúcar é marcadamente superior à plantada com as demais lavouras cultivadas nos municípios.

Na região de Ribeirão Preto, observa-se a existência da tendência oposta entre a evolução da cana-de-açúcar e as demais culturas. Enquanto a área plantada com cana aumentou no decorrer do período, as outras culturas apresentaram queda, diferença que se acentuou a partir de 2006. O milho e o café ocupavam áreas significativas até 1992, quando começam a apresentar tendência de decréscimo.

FIGURA 4. Evolução da área plantada com cana-de-açúcar e com outras culturas, permanentes e temporárias conforme levantamento da PAM-IBGE, na Região de Governo de Ribeirão Preto

Por outro lado, com exceção da cana-de-açúcar, na região de Piracicaba a agricultura não tem grande representatividade (Figura 5), sendo que e a área plantada com culturas agrícolas apresentou pouca variação. Enquanto a área canavieira aumentou cerca de 38% entre 1990 e 2010, no mesmo período as demais culturas tiveram taxa de variação negativa em torno de -36%.

Entre as outras culturas, o milho se destacava na produção agrícola do município até o final da década de 1990, quando começa a ocorrer progressiva diminuição, chegando em 2010 com menos da metade da área ocupada inicialmente. O arroz apresentou tendência similar, que de terceira em área plantada em 1990 teve queda de 99% em 2010. A exceção nesta região ocorreu com a laranja, cuja taxa de crescimento situou-se em torno de 59% no período.

No início da década de 1990, a área canavieira na região de Araçatuba era inferior a das demais culturas (Figura 6). Contudo, a partir de 1996 ocorre uma inversão e a área coberta por cana-de-açúcar supera a ocupada com outras culturas, sendo que as diferenças se tornam mais acentuadas a partir de 2005, quando ocorre o aumento da demanda por etanol relacionado ao lançamento comercial dos carros flex-fuel. Neste período, há uma marcante queda nas culturas de milho (-53% entre 2003 e 2010), de feijão (-86%) e de algodão herbáceo. Este último, de terceira cultura em área plantada no início da década de 1990 passa por progressivas diminuições até não ter registro em 2010.

Uma das tendências interessantes observadas na região de Araçatuba foi o aumento do cultivo do sorgo a partir de 2003. No Brasil, o sorgo é usado principalmente como forragem

Fonte: Elaboração própria com

dados do IBGE.

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e ração animal, contudo, o sorgo sacarino vem sendo pesquisado como matéria-prima para produção de etanol, pois possui algumas semelhanças com a cana-de-açúcar e maior taxa de sacarose que as variedades forrageiras. Embora com produtividade menor, pode ser empregado como alternativa na entressafra da cana por ter ciclo curto, ser colhida com o mesmo maquinário utilizado para cana e se adaptar ao mesmo processo industrial para extração de etanol.

FIGURA 5. Evolução da área plantada com cana-de-açúcar e outras culturas, permanentes e temporárias conforme levantamento da PAM-IBGE, na Região de Governo de Piracicaba

FIGURA 6. Evolução da área plantada com cana-de-açúcar e outras culturas, permanentes e temporárias conforme levantamento da PAM-IBGE, na Região de Governo de Araçatuba

Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE.

Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE.

A evolução das culturas agrícolas na região de Presidente Prudente (Fig.7) apresentou dinâmica semelhante à de Araçatuba: do início da década de 1990 até meados da década de 2000 a área de cana era menor que dos demais cultivos, ocorrendo a inversão deste padrão em 2007 quando há aumento progressivo dos canaviais. Concomitantemente à expansão da cana, é observada a retração das terras cultivadas com outras culturas, com taxa de -59% entre 1990 e 2010. O algodão herbáceo, plantação com segunda maior área até 1996 teve queda de 98% em 21 anos, ou seja, pode ser considerado um cultivo que está deixando de ser praticado no local. Significativa queda também foi observada no cultivo de feijão, que apresentou decréscimo de 96%.

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Embora não seja evidente sobre quais cultivos a expansão da cana-de-açúcar nas quatro regiões ocorreu (à exceção das áreas de pastagens4) as estatísticas de área plantada apontam para tendências opostas entre a evolução das terras ocupadas com cana e com as demais culturas agrícolas: enquanto a área coberta com lavouras canavieiras apresentaram elevação, principalmente na década de 2000, inversamente, as demais culturas tiveram diminuição da área plantada, sinalizando para uma provável relação.

Chama a atenção o ritmo de crescimento ocorrido nas regiões de Araçatuba e Presidente Prudente, dinâmica importante para projeções de futuros cenários de expansão canavieira, que aponta para a ocupação das áreas planas da região Centro-Oeste, como de fato já vem ocorrendo em Goiás e Mato Grosso do Sul.

Esta expansão para o Planalto Central pode gerar conflitos com outras atividades do agronegócio, como por exemplo, a atividade pecuária. Além do avanço da cana sobre as áreas de pastagens, incentivado por medidas governamentais nas quatro regiões paulistas analisadas, concomitantemente, houve redução da área plantada com milho, usado principalmente como matéria-prima para ração animal. No Centro-Oeste encontra-se o maior rebanho bovino nacional, e mais recentemente, vem ocorrendo a instalação de frigoríficos avícolas. Estas duas formas de pecuária necessitam da produção de ração para alimentar o rebanho, sendo que a redução da disponibilidade de grãos poderia causar impactos no setor, além dos já salientados problemas de desemprego, de saúde, de segurança alimentar e de concentração de terras e renda.

Desta forma, faz-se premente a formulação de políticas públicas que direcionem a expansão do setor canavieiro de forma sustentável, com ganhos econômicos e sociais.

Evolução da área ocupada, produção e produtividade da cana-de-açúcar

O desafio de abastecer o mercado sucroalcooleiro mantendo o equilibrio com a questão da produção de alimentos e preservação de áreas de interesse ambiental, pode ter como uma das mais efetivas soluções o aumento do rendimento nas terras já ocupadas. Contudo, o que vem se

4 Para maiores detalhes ver http://www.dsr.inpe.br/laf/canasat/

Fonte: Elaboração própria com

dados do IBGE.

FIGURA 7. Evolução da área plantada com cana-de-açúcar e outras culturas na Região de Governo de Presidente Prudente

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observando nas últimas safras é que, embora a área plantada e a produção tenham se elevado, a produtividade não tem acompanhado esta tendência com a mesma intensidade, não obstante a rapidez com que novos conhecimentos estão sendo desenvolvidos na área de tecnologias agrícolas.

Embora seja evidente a expansão da área ocupada com cana nos últimos anos, nem sempre os valores de produção correspondem na mesma intensidade, descompasso refletido na produtividade, que é bastante sensível a fatores externos como clima e manejo.

A região de Ribeirão Preto, maior produtora de cana-de-açúcar no estado de São Paulo, contabilizou produção de mais de 40 milhões de toneladas em 2010 (Figura 8). Em relação à evolução da produção entre 1990 e 2010, destaca-se a região de Araçatuba, que em meados da década de 1990 passa a produzir mais que que a região de Piracicaba, tendência que se acentua a partir de 2005 totalizando elevação de 402.3% em 2010, aproximando-se do rendimento de Ribeirão Preto. Desempenho semelhante ocorreu na região de Presidente Prudente, com significativo aumento, principalmente a partir de 2007. A produção em Piracicaba manteve-se relativamente estável comparada às demais regiões, com ligeiro incremento também a partir de 2007.

FIGURA 8. Produção da cana-de-açúcar por Região de Governo

Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE.

Diferente da produção, a produtividade (Figura 9) apresentou evolução bastante instável com consideráveis oscilações inter-anuais que são atribuídas a causas que vão desde fatores climáticos que influenciam o desenvolvimento da cultura, até questões gerenciais, como falta de renovação dos canaviais e manejo agrícola indequado.

O rendimento médio das regiões analisadas foi de 76 ton/ha, acima da média nacional de 70 ton/ha no período. 5

A produtividade na região de Ribeirão Preto manteve-se em patamares elevados variando entre 73 ton/ha e 85 ton/ha (Figura 9), característica que reforça, também neste aspecto, a tradição canavieira da região.

Os valores de produtividade na região de Piracicaba oscilaram entre 66 ton/ha e 79 ton/ha, e embora os valores absolutos tenham se elevado nos últimos anos da década de 2000, também neste indicador Piracicaba apresentou os valores mais baixos entre as quatro regiões. Contudo,

5 O valor de produtividade usado refere-se à média do período compreendido entre 1990 e 2010.

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os valores regionais não refletem a capacidade produtiva da área, pois a análise agregada é afetada por municípios com muito baixa produtividade, a despeito de outros, como Elias Fausto, despontarem com números entre 100ton/ha e 120 ton/ha

Destacam-se novamente as regiões de Araçatuba e Presidente Prudente com incremento de produtividade nos anos mais recentes. Araçatuba, em especial, alcançou valores de 87 ton/ha, o mais elevado entre as regiões. Embora com produtividade muito baixa na década de 1990, nos anos 2000 os índices se elevaram de forma significativa na região de Presidente Prudente, que superou a região de Piracicaba a partir de 2004. Estas tendências podem indicar reflexos do uso de novas tecnologias agrícolas,como por exemplo, plantio de variedades mais adequadas para os ambientes de produção característicos das regiões oeste de São Paulo, concernentes com a nova configuração territorial do cultivo da cana-de-açúcar.

Neste sentido, a análise do gráfico (Figura 9) permite observar que a mudança na configuração espacial ocorre entre 2003 e 2006, quando a produtividade nas quatro regiões converge para valores bastante próximos entre 75ton/ha e 80 ton/ha, divergindo novamente nos anos seguintes, apresentando, contudo, mudanças em relação ao padrão territorial anterior.

Fonte: Elaboração própria com

dados do IBGE.

FIGURA 9. Produtividade da cana-de-açúcar por Região de Governo

Para possibilitar a comparação da evolução entre área plantada, produção e produtividade, foi realizada a padronização dos dados. Nesta técnica, a média é assumida como ponto inicial (0), e as variações ocorridas no período são expressas como valores de desvio padrão acima ou abaixo da média, destacando assim as mudanças ocorridas no período e permitindo a comparação entre variáveis de grandezas diferentes (Figuras 10, 11, 12 e 13).

De forma geral, nas quatro regiões podem ser delimitados dois ciclos bastante definidos nos indicadores produtivos. No primeiro ciclo, durante os anos 1990 até início da década de 2000, a área plantada e produção mostraram tendências abaixo da média, dinâmica que coincide com os preços desfavoráveis do etanol na época. No segundo ciclo, que engloba meados da década de 2000 até 2010, a área plantada e a produção apresentaram índices acima da média, o que evidencia o grande aquecimento no setor nos anos mais recentes. Os índices de produtividade exibiram padrão mais aleatório no primeiro ciclo, estabilizando-se com índices acima da média no segundo ciclo.

Na região de Ribeirão Preto (Figura 10), durante o primeiro ciclo não ocorreu uma relação direta entre oscilações entre a área plantada, produção e produtividade, ou seja, aumento da

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área plantada e produção não tiveram correspondência na produtividade. No segundo ciclo, ao contrário, há uma aparente relação entre as variáveis, quando também se observa incremento na produtividade. Contudo, o crescimento da área plantada e da produção apresentou um ritmo mais acelerado que o da produtividade.

Destacam-se períodos de muito baixa produtividade na segunda metade da década de 1990 e início dos anos 2000. Um fato bastante interessante a ser destacado neste período é que a produtividade foi acima da média em 1997, ano de ocorrência de um El Niño de forte intensidade, quando houve grande apreensão em escala mundial com relação às perdas agrícolas que poderiam ser ocasionadas pelo fenômeno, mas que não afetaram a cultura na área.

Embora o primeiro ciclo tenha sido mais longo, apenas em três anos a produtividade esteve acima da média na região, inferior aos cinco anos no segundo ciclo.

FIGURA 10. Desvio padrão das medidas de área plantada, produção e produtividade do cultivo da cana-de-açúcar na R.G. de Ribeirão Preto

Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE.

O primeiro ciclo na região de Piracicaba (Figura 11) foi mais curto comparado ao das demais regiões, ou seja, a partir de 1996 há melhora nos índices de produtividade, os quais foram bastante negativos em 1990 e 1991. Neste sentido, há correspondência entre a tendência em se plantar menos cana-de-açúcar que em outros anos e a baixa produtividade, o que poderia estar relacionado ao pouco interesse de mercado, com consequente queda de investimento para manejo adequado da cultura.

A partir de meados da década de 1990 os índices se mantém próximos ou acima da média, com exceção a 2009, quando há acentuada queda na produtividade em vários municípios da região.

Em contrapartida, os primeiros anos de 2000 são um período de produtividade acima da média, não obstante os índices de área plantada e de produção ainda se manterem em baixa. Nos anos mais recentes, embora tenha ocorrido a expansão de área plantada com cana nesta região, os investimentos estimulados pelo aquecimento do setor não se refletiram nos índices de rendimento.

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Por serem áreas de expansão recente, as regiões de Araçatuba (Figura 12) e Presidente Prudente (Figura 13) apresentam dinâmicas semelhantes de evolução. A partir de 2005 a expansão sucroalcooleira se materializa no espaço com a elevação significativa dos três indicadores concomitantemente.

De forma geral, em Araçatuba a dinâmica da área plantada, da produção e da produtividade evoluíram de forma sincrônica. Destaca-se a baixa produtividade em 1996 com queda em municípios produtores tradicionais da região, e em 2003, quando houve aumento de área plantada e produção, a produtividade ainda foi abaixo da média. Chama a atenção o período entre 2006 e 2010, quando a produtividade se eleva atingindo um pico em 2007, decaindo progressivamente no final do período, indicando um padrão cíclico.

FIGURA 11. Desvio padrão das medidas de área plantada, produção e produtividade do cultivo da cana-de-açúcar na R.G. de Piracicaba

Fonte: Elaboração própria com

dados do IBGE.

FIGURA 12. Desvio padrão das medidas de área plantada, produção e produtividade do cultivo da cana-de-açúcar na R.G. de Araçatuba

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Na região de Presidente Prudente o auge da produtividade coincide com valores abaixo da média das outras variáveis nos anos de 2003 e 2004, indicando condições ótimas de cultivo. A exemplo de Araçatuba, observa-se que após período de aumento, a produtividade decaiu novamente nos anos mais recentes, podendo indicar que as variedades utilizadas necessitam de reformas de canaviais em um período mais curto, por serem adequadas a ambientes de produção diferentes.

Desta forma, fica evidente que há grande potencial para o incremento da produtividade da cana-de-açúcar nas regiões analisadas, apontando para a um panorama otimista em relação à possibilidade de atender à demanda crescente por produtos sucroalcooleiros, otimizando as áreas já plantadas e com impactos positivos nas esferas ambiental e social.

Referências

PETRONE, M. T.S. A lavoura canavieira em São Paulo: expansão e declínio (1765-1851). São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968.

CORTEZ, L.A.B. (coord.) Bioetanol de cana-de-açúcar: P&D para produtividade e sustentabilidade. São Paulo: Blucher, 2010.

Figura 13. Desvio padrão das medidas de área plantada, produção e produtividade do cultivo da cana-de-açúcar na R.G. de Presidente Prudente

Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE.

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A história da cana-de-açúcar em São Paulo apresenta períodos de inovação e dinamismo que permitiram ao Brasil assumir posição de liderança no mercado internacional de açúcar e biocombustíveis. No momento atual, observa-se mais uma dessas transformações, com a consolidação de um sistema de produção baseado na mecanização das atividades agrícolas e na introdução de novas tecnologias industriais que vêm aumentando a extração de sacarose da planta. Assim, a agroindústria sucroalcooleira, que criou riqueza e contrastes sociais em muitas regiões do estado ao longo das últimas décadas, ainda é destaque como força para a movimentação da economia local.

É interessante observar que já na virada da década de 1950 e início dos anos 60, o estado de São Paulo assume o comando na produção de cana-de-açúcar em termos nacionais, superando as tradicionais áreas de produção do Nordeste. No seu início, a agroindústria canavieira surge em terras paulistas como uma alternativa ao cultivo café, que havia entrado em crise no período entre guerras. Contudo, diante das inovações introduzidas no sistema de produção e processamento que se afirma ao longo do tempo, a cana-de-açúcar se expande e o açúcar paulista passa a dominar o mercado doméstico do Centro Sul, sem competir com o açúcar nordestino que era voltado para a exportação e, em parte, para o consumo regional.

Naquela época, as melhores terras e o conhecimento do mercado por parte dos antigos cafeicultores facilitaram a expansão da produção açucareira, que – na realidade, já se inicia sob o moderno sistema de produção das usinas e com a concorrência de capitais industriais e comerciais que viam no negócio da cana uma forma de ampliação das suas atividades. Com isso, durante os anos 1970, com o lançamento do Proálcool, pode-se afirmar que o setor canavieiro paulista já tinha um parque industrial diversificado, com capacidade de produção de álcool em destilarias anexas, muito superior ao parque alcooleiro nordestino. Para se ter uma ideia, no ano

DINâMICA ECONôMICA E EMPREGO NAS REGIÕES CANAVIEIRAS NO ESTADO DE SãO PAUlO

Bruno Perosa Walter Belik

Carlos Eduardo Fredo

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de lançamento do Proálcool, em 1975, São Paulo já produzia 362 milhões de litros de álcool (anidro e hidratado) contra apenas 93 milhões de litros de toda a região Nordeste.

Mais tarde, com o lançamento da segunda fase do Proálcool, com incentivos à montagem de destilarias autônomas para a produção de álcool, a participação paulista dispara e já na safra 1979/80 o estado de São Paulo passa a produzir 2,5 bilhões de litros, representando 73% da oferta nacional de álcool. Ao longo da década seguinte e com o ingresso de novos capitais e a introdução de inovações por parte das indústrias locais (bens de capital, máquinas agrícolas e equipamentos do complexo eletroeletrônico), além do consolidado sistema de pesquisa e assistência técnica sediado em território paulista, a produção se amplia e atinge a marca extraordinária de 7,7 bilhões de litros por ano.

O patamar de produção de álcool atingido ao final dos anos 1980 manteve-se inalterado em São Paulo até a safra 2005/06 quando, com a incorporação das novas áreas de plantio, ocorre um novo salto na oferta para o nível de 11 bilhões de litros e, mais tarde na safra de 2008/09 o recorde de 16,7 bilhões de litros. Entretanto o movimento observado nas décadas anteriores foi muito importante para se entender a situação atual da distribuição da produção em território paulista. Por um lado, consolidaram-se as regiões tradicionais que reuniam aparato produtivo, existência de serviços acessórios à produção, mão de obra especializada e boas condições para a produção agrícola. Por outro lado, a concentração do plantio e moagem nessas regiões tradicionais começou a gerar deseconomias de escala e externalidades negativas, como a questão da queima da cana-de-açúcar próxima às áreas urbanas, favelização etc.

O período que vai do início dos anos 1990 até a nova escalada da produção em meados da década passada é de reorganização do setor. Problemas climáticos ao final dos anos 1980, desregulação setorial (com o fim do antigo IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool em 1990) e elevação dos preços do açúcar no mercado internacional promovem mudanças na estrutura produtiva do setor em São Paulo. A crise de confiança dos consumidores quanto ao combustível alternativo empurra as destilarias para a conversão da sua capacidade de moagem para produção de açúcar, prioritariamente. Assim, ao final do último século o setor está basicamente direcionado para produção de açúcar, sendo a produção de álcool bancada basicamente pela demanda “por decreto” de álcool anidro a ser misturado pela gasolina conforme a necessidade do setor (Lei 8723/1993).

A década de 2000 altera substancialmente esse cenário pessimista para o álcool, agora rebatizado de etanol. Com o advento do carro flex-fuel e o crescente interesse internacional pelos biocombustíveis, o setor sucroalcooleiro se descobre como pioneiro das energias renováveis e grandes investimentos passam a ser realizados no setor por grupos nacionais e estrangeiros. Assim, novas áreas passam a serem abertas e novas usinas são construídas em regiões com vocação para a atividade canavieira.

Esse processo de expansão foi facilitado pela crise na produção do suco de laranja e a baixa competitividade de outras atividades tradicionais, como a pecuária de corte e leite. Assim, a cana-de-açúcar avançou em termos de área cultivada e também na ocupação da mão-de-obra no território paulista a partir de 2003. Contudo, a partir de 2009 observa-se uma reversão neste ciclo virtuoso. Pelo lado da oferta, problemas climáticos vêm afetando a produção canavieira há pelo menos três safras; pelo lado dos mercados, os impactos da crise financeira na economia global reduziram os investimentos na construção de novas usinas e na renovação de canaviais. Pelo lado da demanda, o álcool vem perdendo lugar para gasolina na escolha de consumidores proprietários de carros flex-fuel.

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Dessa forma, o entendimento dos movimentos ocorridos na última década (2000-2010) são importantes para conhecermos os resultados da expansão e crise do setor sucroenergético na dinâmica econômica e territorial paulista. Nesse estudo são analisadas quatro regiões de governo do estado de São Paulo, a saber: Araçatuba, Presidente Prudente, Piracicaba e Ribeirão Preto. O estudo deverá fazer uma avaliação preliminar sobre a importância da atividade canavieira na economia regional em termos de renda e ocupação da mão-de-obra, diante do rápido processo de mecanização que vem se observando a partir de 2007.

A escolha dessas quatro regiões se deu em função da necessidade de refletir sobre o impacto gerado pela intensificação da produção canavieira na última década e como este se deu de forma diferenciada em território paulista. Dessa maneira, as duas primeiras regiões escolhidas podem ser consideradas “regiões novas” com vocação para a cana-de-açúcar e com grandes áreas subutilizadas em outras culturas agrícolas. Já as regiões de Piracicaba e Ribeirão Preto podem ser consideradas tradicionais e com pouco espaço para expansão – dada a competição entre culturas e dada a expansão das áreas urbanas.

Para ilustrar as características das quatro regiões escolhidas para esse estudo, apresenta-se o Gráfico 1, com a proporção de área com cana sobre o total da área agrícola das quatro regiões de governo. Como se observa, tanto em Piracicaba como em Ribeirão Preto, nos últimos anos mais de duas terças partes das áreas disponíveis para a agropecuária estão ocupadas com o cultivo da cana-de-açúcar.

Por outro lado, nas regiões de Araçatuba e Presidente Prudente o cultivo de cana-de-açúcar vem se dando em uma escala mais modesta, mas o ritmo de crescimento é intenso. Nos últimos cinco anos essas duas regiões de governo dobraram a participação com as suas áreas cultivadas com a cana-de-açúcar sobre o total disponível para a agropecuária. Considerando a disponibilidade de vastas áreas de baixa ocupação, mas com grande potencial produtivo nessas regiões, parece evidente que os limites para o crescimento dessa lavoura ainda estão distantes.

Gráfico 1. Proporção de área cultivada com Cana sobre área total agrícola, 1990-20101

1 Metodologia para o cálculo da área agrícola: foi obtida utilizando: (i) geoprocessamento: foram colocadas as camadas de área total do município, da qual foram subtraídas os corpos d´água (rios e reservatórios), as áreas de proteção ambiental (dados do MAPA) e as áreas com declividade a partir de 45%; (ii) da área resultante do processo anterior foram subtraídas as áreas ocupadas com estabelecimentos agropecuários (IBGE); terras inadequadas para agropecuária (charcos, pântanos e alagadiços) (IBGE); áreas destinadas à aquicultura (IBGE) e terras inaproveitáveis para agropecuária (erodidas, salinizadas ou desertificadas) (IBGE).

Fonte: elaboração

própria com dados do MAPA

e IBGE

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Outro elemento diferenciador das regiões tradicionais e novas está ligado à declividade do terreno e o custo para mecanizar a colheita (Figura 1). A região de Piracicaba ilustra bem esse problema, muito presente apesar da região se constituir num dos principais polos de geração de tecnologia eletrônica e metal mecânica para o setor sucroalcooleiro.

O mapa apresentado na Figura 1 coloca de forma clara os limites para a expansão da cana-de-açúcar na sua forma extensiva em toda porção setentrional do estado de São Paulo. Tendo em vista o estoque de tecnologias de corte à disposição dos produtores, é possível observar as dificuldades que deverão recair sobre a região de Piracicaba para o corte de cana crua. Nesse particular, Piracicaba apresenta não apenas problemas para a expansão desse cultivo, mas também sérias possibilidades de reversão das áreas já existentes. Todos esses aspectos serão analisados mais a frente.

Figura 1. áreas com declividade superior a 12% no estado de São Paulo

Fonte: Dados obtidos a partir de imagens SRTN.

O presente texto está dividido em três partes. Na primeira parte, analisou-se o perfil produtivo das regiões de governo selecionadas, sempre buscando destacar a importância da cultura da cana-de-açúcar diante de outras culturas regionais. Na segunda parte buscou-se avaliar o impacto da atividade canavieira (incluindo o açúcar, álcool e derivados) na economia dessas regiões. Por fim, a terceira parte focou o desempenho da ocupação da mão de obra na atividade canavieira, levando-se em conta todas as mudanças que vem ocorrendo em função da mecanização. O texto se encerra com algumas considerações e possibilidades de pesquisa futura.

A importância da cana na produção regional

Valor da produção agropecuária no PIB

Antes de analisar a importância da cana, cabe uma caracterização mais geral sobre o perfil econômico das quatro regiões de governo analisadas. Ao se analisar a parcela do valor adicionado pela agropecuária no PIB dos municípios, observa-se uma crescente contribuição do setor agrícola para as economias locais (Gráfico 2).

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Vários fatores podem explicar o crescimento da participação da agricultura sobre o PIB regional, mas a principal causa para esse movimento está na elevação dos preços agrícolas observada na última década, obviamente nas regiões onde a atividade industrial se apresenta com menor participação. A média observada nos municípios das regiões de governo consideradas cresceu consideravelmente no inicio da ultima década passando a oscilar logo em seguida.

Entretanto, em Araçatuba e Presidente Prudente o crescimento da participação foi constante. Na região de Presidente Prudente, por exemplo, a participação é mais expressiva e cresceu de 13,1% em 2000 para 30,1% em 2009, variação de 129,8 % no período. Na região de Ribeirão Preto, onde há maior diversificação de contribuições para o PIB, a variação foi ainda mais marcante - de 4,3% a 16,2%, 271,9% de aumento na participação da agricultura no PIB no mesmo período.

Gráfico 2. Proporção do Valor Adicionado pela Agropecuária no PIB, 2000-2009

Neste sentido, é interessante observar a importância direta que a atividade agropecuária tem para as regiões em questão. Vale lembrar, no entanto, que indiretamente a agropecuária também contribui para o setor industrial e de serviços, elevando ainda mais o impacto do setor agrícola sobre as economias locais.

De toda forma, a contribuição da agropecuária tende a ser maior em regiões com menor atividade industrial, como se observa em Presidente Prudente. Essa informação é relevante para entender a dependência que determinada região tem da atividade agropecuária, em especial com a cadeia sucroalcooleira. Em regiões com parque industrial mais desenvolvido, os impactos socioeconômicos de uma expansão ou redução no setor sucroalcooleiro tende a ser menos sentida. Ribeirão Preto é um bom exemplo, dado que, apesar de considerada a principal região do agronegócio paulista, apresenta uma dependência menor desta atividade para geração de seu PIB. É evidente que indiretamente uma redução na atividade agropecuária impactaria a economia de Ribeirão Preto pela existência de grande número de indústrias e empresas de serviços que atendem a este setor.

Valor da Produção da Cana e Principais Culturas/Valor da Produção Agrícola Total

Ao se considerar o peso da cana-de-açúcar sobre a agricultura nos municípios analisados, também se observa crescente participação dessa cultura. Um dado revelador neste sentido se refere ao valor da produção agrícola. A seguir serão apresentados dados sobre o valor da produção agrícola, considerando as três principais culturas em cada uma das regiões de governo analisadas.

Fonte: Elaboração própria a partir de

dados da SEADE

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Nas quatro regiões de governo consideradas, a cultura da cana-de-açúcar representa mais de 30% do valor total gerado na agricultura. Nas chamadas regiões tradicionais, como Piracicaba e Ribeirão Preto, esse valor é bem superior, superando os 60% na grande maioria dos anos.

Piracicaba apresenta a maior participação da cana, tendo ultrapassado os 80% em 2010, seguido pela laranja que respondeu por 4,3% do valor da produção agropecuária neste ano. Fica evidente a importância da cana na agricultura dessa região e as dificuldades que poderão decorrer para uma futura substituição dessa lavoura.

Gráfico 3. Valor da Produção Agrícola – Região de Governo de Piracicaba, 2000-2010

Fonte: elaboração própria com dados da SEADE.

A região de Ribeirão Preto também apresenta elevada participação da cana no valor da produção agrícola, girando em torno de 70%. O café e a laranja aparecem respectivamente na segunda e terceira posições, sendo as principais culturas que disputam terras com a cana. Dada a conjuntura desfavorável, muitos pomares de laranja estão sendo transformados em canaviais em Ribeirão Preto, o que implicou em uma decisão radical e irreversível por parte dos citricultores. Com os preços do café em baixa neste ano (2012), poderá ocorrer uma perda de receita desta atividade, porém é menos provável que ocorra substituição de cafezais pela cana–de-açúcar, tendo em vista as características das áreas utilizadas para essas culturas e o perfil diferenciado do cafeicultor.

Gráfico 4. Valor da Produção Agrícola – Região de Governo de Ribeirão Preto, 2000-2010

Fonte: elaboração própria com dados da SEADE.

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Nas regiões de Presidente Prudente e Araçatuba, a participação da cana no total da produção agrícola era bem menor no inicio da década de 2000, o que faz sentido ao se considerar que essas são regiões de expansão da cana, ainda em disputa com outras atividades mais tradicionais nesses territórios, como a pecuária2 e outras culturas alimentares. A maior presença de grãos como o milho e a soja nessas regiões, geralmente utilizados na alimentação de animais reforça a importância da cadeia pecuária. Vale mencionar que culturas como soja e milho, que ocupam a segunda e terceira posições no valor da produção agrícola, são geralmente utilizadas em rotação nas mesmas áreas.

Presidente Prudente apresentava a menor participação da cana no valor da produção agrícola em 2000 (pouco mais de 30%). Observou-se aumento expressivo da cana, especialmente a partir de 2005, sendo que em 2010 esse valor atingiu mais de 81%, o que demonstra a forte penetração dessa cultura na região.

Outro aspecto interessante dessa região está relacionado com a maior diversificação da produção agrícola, especialmente nos primeiros anos da ultima década, o que explica o elevado valor de “outros”. Chama atenção as culturas da mandioca e da batata doce que ocuparam a quarta e quinta colocação no valor gerado pela produção agrícola na ultima década.

Gráfico 6. Valor da Produção Agrícola – Região de Governo de Presidente Prudente, 2000-2010

2 Os números da produção agrícolas utilizados não consideram as atividades pecuárias.

Gráfico 5. Valor da Produção Agrícola – Região de Governo de Araçatuba , 2000-2010

Fonte: elaboração própria com

dados da SEADE.

Fonte: elaboração própria com

dados da SEADE.

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Ainda assim, observa-se importância crescente da cana-de-açúcar nessas novas áreas, comprovando essa expansão (Gráfico 7). A grande disponibilidade de terras antes ocupadas por pastagens pouco utilizadas (poucos animais por hectare) é apontada como uma das razões de expansão da cana nessas regiões. Ademais, número considerável de pecuaristas do oeste paulista migrou para terras mais baratas na região centro-oeste do Brasil.

Gráfico 7. Valor da produção da cana em relação à produção agrícola total, segundo quatro regiões de governo do estado de São Paulo, 2000-2010

A topologia mais plana dessas áreas permite a utilização de colheitadeiras para mecanização da colheita, o que torna essas regiões mais atraentes para produção de cana nos próximos anos (a questão da mecanização será discutida mais a frente).

Apesar de demonstrarem a importância da cana-de-açúcar nessas regiões, os dados acima não consideram o valor agregado pelas atividades pós-colheita, como a produção de açúcar e álcool. Com este intuito, serão apresentados dados do Valor Adicionado Fiscal (VAF)3, fornecidos pela Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo.

Peso da cadeia sucroalcooleira nas economias regionais

Valor adicionado por produção de cana-de-açúcar, açúcar e álcool (reais correntes)

Os dados de Valor Adicionado Fiscal (VAF) calculados para cada uma das operações produtivas do complexo sucroalcooleiro apresenta algumas informações que merecem ser destacadas. Essa cifra é utilizada para efeito de pagamento de tributos no estado de São Paulo e, portanto, é muito distinta do valor do Açúcar Total Recuperável (ATR) utilizado para efeito de pagamento dos fornecedores de matéria-prima no sistema CONSECANA. Assim, a evolução do VAF nos fornece um quadro bastante aproximado da riqueza gerada no processo produtivo agrícola.

Cabe uma ressalva importante sobre a forma como os dados de VAF são reportados à Secretaria da Fazenda do estado de São Paulo. As empresas só precisam reportar o VA quando ocorre uma transação de compra e venda. Assim, quando a cana é produzida pela própria

3 Os dados são reportados para fins de tributação. Por questões de sigilo fiscal, os dados estão agregados para regiões de governo.

Fonte: elaboração própria com dados da SEADE.

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usina, seu valor adicionado é incorporado aos produtos finais, o açúcar e o álcool. Logo, em regiões com maior percentual de cana própria (propriedade da usina), o VAF da cana tende a ser subestimado em favor dos VAF de produção de açúcar e álcool.

Um exame do Gráfico 8 mostra a enorme diferença que existe entre a produção de uma região consolidada com um grande número de fornecedores, como é o caso de Ribeirão Preto, em relação a outra região tradicional, na qual as unidades industriais são relativamente integradas. Salta aos olhos também o crescimento expressivo do VAF em novas regiões produtoras, como Araçatuba.

Gráfico 8. VAF Produção de cana-de-açúcar em regiões de governo selecionadas de São Paulo, 2001-2010

Os dados de VAF pelos produtores de cana apresentam uma trajetória predominantemente crescente ao longo da ultima década. Fica evidente a maior participação das regiões de governo de Ribeirão Preto e Araçatuba. Observa-se também grandes oscilações ocorridas ao longo da década, decorrentes majoritariamente do volume de produção obtido na safra, de preços dos insumos e do preço final de venda.

Gráfico 9. VAF Produção de açúcar em regiões de governo selecionadas de São Paulo, 2001-2010

Em relação ao VAF na produção de açúcar bruto, também se observa uma tendência crescente ao longo da década. Comparando as diferentes regiões, fica evidente o crescimento das novas áreas produtoras, como Presidente Prudente e Araçatuba. Piracicaba apresentou a menor taxa de crescimento, apesar da quase totalidade do VAF dessa região ser contabilizado na produção de açúcar (ver gráfico mais a frente com a composição do VAF por região). Ribeirão Preto manteve sua liderança, apresentando um crescimento expressivo entre 2007 e 2010.

Fonte: Elaboração própria com

dados da secretaria da Fazenda do

Estado de São Paulo.

Fonte: Elaboração própria com

dados da secretaria da Fazenda do

Estado de São Paulo.

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Vale mencionar que o VAF da produção de açúcar em Ribeirão Preto é ainda muito maior que a soma dos VAF de açúcar de todos as outras regiões de governo analisadas. Outra constatação importante é a do crescimento do VAF açúcar em Presidente Prudente, entre 2001 e 2010 o VAF do açúcar cresceu mais de vinte vezes, consolidando a região como um importante polo açucareiro.

Gráfico 10. VAF Produção de álcool em regiões de governo selecionadas de São Paulo, 2001-2010

Fonte: Elaboração própria com dados da secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo.

Com relação ao VAF da produção de Álcool, observa-se um incremento ainda maior das novas regiões produtoras de Araçatuba e Presidente Prudente. Esta última apresentou a maior taxa de crescimento, notadamente no final da década. Piracicaba, como mencionado, praticamente não adiciona valor na produção de álcool, se concentrando em açúcar. Ribeirão também apresentou crescimento considerável na produção de álcool, tal como em cana e açúcar.

Também chama atenção que em alguns anos o VAF da produção de álcool em Araçatuba superou o observado na região líder de Ribeirão Preto. Cresceu também o VAF do álcool em Presidente Prudente, demonstrando mais uma vez a força da agroindústria sucroalcooleira nessa região.

Comparando as três categorias de VAF (cana, açúcar e álcool), fica evidente que a produção de açúcar têm gerado os maiores valores na cadeia produtiva. Os gráficos são também uma boa ilustração do peso de cada uma das atividades no volume geral de recursos gerados na atividade. O gráfico 11 apresenta a composição do VAF em cada uma das regiões de governo consideradas.

Uma possível conclusão desses dados se refere a maior especialização das novas regiões produtoras no setor de álcool, o que poderia ser explicado pela implantação mais recente das unidades processadoras, em época que se criaram grandes expectativas de aumento da demanda pelo biocombustível no mercado interno (carros flex) e externo (mercado norte-americano e europeu). Contudo, vale lembrar que diante dos preços mais remuneradores do açúcar, muitas unidades produtivas que antes eram exclusivas de álcool estão se voltando para a produção do açúcar não refinado, fazendo um uso mais eficiente de sua capacidade produtiva4.

Também chama atenção a baixa participação da produção de cana-de-açúcar no total de valor adicionado. Como mencionado, esse fato pode ser explicado pela forma de contabilidade desse dado, em que a produção de cana pela própria usina não é reportada à Secretaria da Fazenda. Assim, regiões como Piracicaba, em que se observa maior proporção de arrendamentos

4 Para maiores detalhes ver: VEIGA FILHO, A. A.; RAMOS, P. Proálcool e evidências de concentração na produção e processamento de cana-de-açúcar. Informações Econômicas, v.36, nº 7, p. 48 – 61, 2006.

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e de cana sob controle das próprias usinas, apresentam uma contribuição da cana quase irrisória em relação ao VAF total adicionado pela cadeia sucroalcooleira.

Gráfico 11. Composição VAF em cada região de governo (cana, açúcar, álcool), 2002-2010

Fonte: Elaboração própria com

dados da secretaria da Fazenda do

estado de São Paulo.

Efeitos nos empregos no setor sucroalcooleiro paulista: o impacto da mecanização

Peso do emprego sucroalcooleiro no estado de São Paulo e nas economias regionais

Os dados acima revelam a importância que a cultura da cana de açúcar tem para a economia das regiões de governo consideradas. Em termos de empregos, o setor também se apresenta como um grande empregador, notadamente no setor agrícola em que o cultivo da cana representa a principal cultura empregadora. No entanto, vale uma ressalva sobre o emprego nas lavouras canavieiras, que é sazonal (geralmente só dura no período de colheita), além de empregar muitos migrantes, o que pode reduzir o impacto deste setor na renda regional.

A Tabela 1 apresenta os principais números em relação às contratações formais no estado de São Paulo e nas quatro regiões de governo analisadas no ano de 20125. Pode-se notar que as contratações do setor sucroalcooleiro representam parcela considerável do total de contratações, mesmo se considerando os três setores da economia (serviços, indústria e agropecuária). Chama atenção o número de Araçatuba, onde o setor sucroalcooleiro já representa mais de 22% do total de empregos da economia. O fato desta ser uma nova região produtora evidencia a velocidade e o forte impacto que a expansão sucroalcooleira teve nos últimos anos.

5 Foram coletados dados do Ministério do Trabalho e Emprego entre janeiro e agosto de 2012, considerando o Grupo 6 (Trabalhadores agropecuários, florestais e da pesca) da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).

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Ao se analisar o setor agropecuário (Tabela 2), os números demonstram a grande importância que a cultura da cana-de-açúcar tem no estado de São Paulo e mais ainda nas regiões de governo analisadas. Esses dados consideram todos os trabalhadores agropecuários do setor sucroalcooleiro, incluindo-se aqueles que trabalham para usinas que produzem sua própria cana.

Tabela 1. Percentual de trabalhadores do setor sucroalcooleiro sobre o total de trabalhadores, 2012

Setor/Atividade Total SP Piracicaba R. Preto Araçatuba P. Prudente

Trabalhadores Agropecuários Total 272.418 6.991 20.309 1.449 4.175

Trabalhadores Agropecuários do Setor Sucroalcooleiro 102.409 4.792 13.772 1.143 2.468

Percentual Cana/Total Agropecuario 38% 69% 68% 79% 59%

Elaboração própria a partir de dados do MTE.

Elaboração própria a partir de dados do MTE. Mesmo considerando a média do estado de São Paulo que inclui diversas regiões não

produtoras de cana, observa-se que 38% dos trabalhadores da agropecuária paulista estão ligados ao setor sucroalcooleiro. Como esperado, este número é bem superior nas regiões de governo selecionadas, ficando entre 59% em Presidente Prudente e 79% em Araçatuba. Mais uma vez, o peso do setor sucroalcooleiro chama atenção em Araçatuba.

Considerando estes números, fica evidente que mudanças neste mercado de trabalho têm forte impacto sobre a economia das quatro regiões de governo consideradas. E este mercado de trabalho vem se alterando substancialmente nos últimos anos. A seguir serão analisadas as mudanças que o processo de mecanização tem causado neste mercado de trabalho.

Protocolo agroambiental, mecanização e emprego no setor sucroalcooleiro

No estado de São Paulo, o setor sucroalcooleiro tem passado por profundas mudanças em seu mercado de trabalho após 2007, quando foi aprovado o Protocolo Agroambiental6. O Protocolo Agroambiental foi implementado pelo governo estadual em parceria com o setor privado para antecipar a erradicação da queima da cana-de-açúcar, mitigando assim a emissão de partículas poluentes originadas da queima da palha da cana que afeta a vida dos centros urbanos no entorno dos canaviais7.

6 Instituído em Junho de 2007 entre Secretaria de Agricultura e Abastecimento, Secretaria do Meio Ambiente ambas do Governo do Estado de São Paulo, a União da Indústria de Cana-de-açúcar (UNICA) e posteriormente, em março de 2008, a Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul (ORPLANA)7 O Protocolo também tem se preocupado a preservação de matas ciliares e maior eficiência no consumo hídrico ligado ao cultivo da cana-de-açúcar.

Tabela 2. Percentual de trabalhadores agropecuários no setor sucroalcooleiro , 2012

Setor/Atividade Total SP Piracicaba R. Preto Araçatuba P. Prudente

Trabalhadores em Todos Setores Econômicos 4.413.186 68.190 154.293 65.795 39.651

Trabalhadores no Setor Sucroalcooleiro 304.568 6.309 21.305 14.580 4.029

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Este acordo de intenções estabeleceu um cronograma com prazos menores do que os já estabelecidos pela Lei 11.241/2002 (box1), de forma a acelerar a adoção da colheita mecânica entre usinas e fornecedores de cana-de-açúcar, o que dispensaria o uso da queima e do corte manual. A contrapartida do governo se deu pela concessão do Selo Agroambiental aos que adotassem e se mantivessem sob as exigências dentro dos prazos estabelecidos. O Selo Agroambiental facilitaria a exportação dos derivados da cana, no caso o açúcar e o álcool, ao mercado externo, pois seriam dois produtos certificados e produzidos de forma sustentável: sem uso de queimadas, e também dizer, sem utilizar o trabalho desgastante do cortador8.

Box 1. A lei estadual n. 11.241/2002 estabelecia para 2021 a erradicação da queima em áreas “mecanizáveis” (declividade menor que 12%). O Protocolo Agroambiental antecipou o prazo para 2014. Em relação às áreas com maior declividade (superior a 12%), a Lei 11.241 estabelecia o ano de 2031 para extinção da queima. Já o Protocolo cortou o prazo final para 2017.

Box 2. Por que a lei 11.241/2002 não acelerou o processo de mecanização no Estado de São Paulo? Ainda que sem dados sobre o índice de mecanização anterior a 2007, é consenso que a Lei 11.241 não acelerou o processo de mecanização do estado de São Paulo. Isto porque, a Lei foi uma imposição aos usineiros e fornecedores sem conceder-lhes alguma espécie de benefício econômico. Outro fato é que os prazos para a erradicação foram lançados para o ano de 2021 e 2031, ou seja, do ponto de vista dos usineiros e fornecedores havia muito tempo para modificar seus sistemas produtivos a fim do cumprimento da Lei. Por fim, vale mencionar o contexto em que ocorre a assinatura do Protocolo, em que o acesso ao mercado internacional se mostra condicionado a redução nas emissões envolvidas na produção.

Segundo dados da Secretaria do Meio Ambiente do estado de São Paulo, o índice de mecanização saltou de 34,2% na safra 2006/07 para 65,2% na safra 2011/2012. Levantamento realizado pelo Instituto de Economia Agrícola mostra que das trinta e quatro regiões de governo do estado de São Paulo que produzem cana, quinze já apresentam mais de 70% de suas áreas colhidas com máquinas, ultrapassando a meta intermediaria estabelecida pelo Protocolo para 2010. Estas regiões representam 44,6% da produção estadual de cana-de-açúcar, incluindo Ribeirão Preto, Presidente Prudente e Araraquara.

Outras onze regiões apresentam índice de mecanização variando entre 65% e 69,9%, como Araçatuba, São José do Rio Preto e Assis. São regiões de expansão mais recente onde a cana-de-açúcar se estabeleceu de forma mais mecanizada. Há indícios, portanto, de que apesar de estarem ainda abaixo dos 70%, até 2014 as unidades produtoras possivelmente cumprirão os acordos do Protocolo.

As últimas oito regiões de governo estão aquém dos 70% devido a maior declividade (acima de 12%) ou pelo menor tamanho das propriedades (menos de 150 ha), o que gera problemas para uso das colheitadeiras existente.

É interessante perceber que as quatro regiões de governo discutidas neste estudo, estão representadas nas três categorias apresentadas nos gráficos (acima de 70% mecanizada, entre

8 O uso da queima da palha da cana facilita o trabalho do cortador, pois além de eliminar os animais peçonhentos nos canaviais também aumenta a produtividade do trabalho; em algumas regiões constatou-se ser superior a 15t/dia. O desgaste do trabalhador, exposto ao calor, extensiva jornada e ainda com baixa remuneração são justificativas para se coibir esse tipo de emprego.

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60 e 70% mecanizada e abaixo de 60%). Enquanto, Ribeirão Preto e Presidente Prudente figuram no grupo mais mecanizado (respectivamente, 70,6% e 70,1%) e Araçatuba no grupo “intermediário” (63%), Piracicaba é a única região que se enquadra no grupo das áreas menos mecanizadas, com apenas 52,7% de sua área mecanizada.

Gráfico 12. Parcela da colheita mecanizada sobre área total, 2010

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IEA.

Chama a atenção o fato de Piracicaba ser uma das regiões mais tradicionais na produção sucroalcooleira e um dos principais polos de desenvolvimento de tecnologias para o setor, sediando grandes empresas como a Dedini e importantes institutos de pesquisa como o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). Contudo, diversos fatores econômicos e geográficos ajudam a explicar porque esta região ainda não se mecanizou.

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Um primeiro elemento está ligado à topografia das regiões produtoras, como já mencionado na introdução deste trabalho. Fica evidente que Piracicaba e as demais regiões apresentando baixos níveis de mecanização têm suas áreas agrícolas estabelecidas em regiões de maior declividade. Esse fato dificulta a mecanização da colheita, pois a maior parte das colheitadeiras apresenta limitações e baixo rendimento para operar sob declividade maior que 12% e apresentam perdas elevadas nessas condições. Especialistas afirmam que as colheitadeiras disponíveis no mercado são pouco customizadas para as especificidades do setor, sendo resultado de adaptações de máquinas projetadas originalmente para colheita de grãos.

Também é interessante notar que a capacidade de mecanizar também está ligada ao perfil das propriedades e dos produtores. Pelo fato dessa cultura ter migrado para essas regiões mais recentemente, observa-se maior concentração da produção (menor numero de propriedades com maior área). Assim, boa parte das novas terras cultivadas é de propriedade de usinas (cana própria). Geralmente esses produtores de maior porte têm acesso facilitado a financiamento, além de desfrutarem de economias de escala para ratear os custos de compra de equipamentos e contratação de mão de obra.

Considerando a necessidade de cumprir as metas de mecanização (total extinção da queimada até 2017), a escolha das terras para expansão dessa cultura deve ser pautada, entre outras variáveis, pelo custo de mecanizar. Essa tendência já se observa e regiões tradicionais com maior declividade, como Piracicaba9, acabam sendo preteridas por novas áreas como Araçatuba e Presidente Prudente. Já nas regiões tradicionais com menor declividade, como Ribeirão Preto, observou-se uma expansão ainda maior da cana-de-açúcar. Esse processo tende a se intensificar nos próximos anos, conforme os prazos para cumprimento das metas do Protocolo estiverem mais próximos.

De forma a analisar em maior detalhe como o processo de mecanização está afetando o emprego no setor sucroalcooleiro paulista, foram analisados dados referentes a contratações e demissões reportados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a partir dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) no período de janeiro de 2007 a Agosto de 2012. Esta base de periodicidade mensal permite observar a sazonalidade nas contratações de trabalhadores que no caso do setor sucroalcooleiro acontece no período da colheita: abril a setembro. O setor sucroalcooleiro é identificado no CAGED por quatro categorias definidas pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.1) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas: 0113-0 - Cultivo de Cana-de-açúcar, 1071-6 - Fabricação de Açúcar em Bruto, 1072-4 - Fabricação de Açúcar Refinado e 1913-4 - Produção de Álcool. A primeira categoria é o segmento agropecuário correspondente aos fornecedores de cana para a indústria. As demais categorias correspondem aos segmentos industriais, as usinas.

Apesar destes dados considerarem apenas o emprego formal, estudos recentes considerando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD-IBGE), encontraram valores elevados de formalidade (acima de 90%) no setor sucroalcooleiro paulista10. Assim, os dados da base RAIS/CAGED trazem uma boa estimativa das mudanças que vem ocorrendo no mercado de trabalho do setor.

9 Apesar da área plantada não ter se reduzido em Piracicaba, observa-se um crescimento inferior ao observado nas chamadas áreas de expansão. 10 Segundo um destes estudos, em 2005, 94% dos trabalhadores do setor tinha vinculo formal. Ver: Moraes, M. A. O mercado de trabalho da agroindústria canavieira: desafios e oportunidades. Revista Economia Aplicada, v. 11. n. 4, 2007.

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O Gráfico 13 evidencia a sazonalidade de contratações e demissões no setor sucroalcooleiro. Apesar de visualmente as demissões parecerem superiores às contratações, isso se deve a maior concentração temporal das demissões (ocorrem de uma vez em um mesmo período). Ao se comparar os dados anuais de demissões e admissões encontram-se números muito próximos, com pequenas alterações no estoque total de trabalhadores dentro de um mesmo ano. Em outras palavras, em um mesmo ano, não se demite mais do que se contrata. Na verdade, deixa-se de contratar a cada nova safra, o que reduz também o número de demissões necessárias naquele ano, como pode ser observado na comparação das curvas de admissões do inicio e do final do período analisado no gráfico 13. Esse processo faz todo sentido, dado que as contratações no inicio da safra consideram o nível de mecanização disponível, que somente poderá se alterar na próxima safra.

Contudo, fica evidente que o número de trabalhadores contratados pelo setor diminuiu substancialmente a cada safra. Isso pode ser explicado principalmente pela progressiva redução da colheita de cana manual, responsável pelo maior numero de contratações do setor. Apesar deste processo ter sido amortizado pela contratação de “tratoristas” para operar as colheitadeiras, os dados evidenciam que essas “não contratações” de cortadores não estão sendo compensadas pelas contratações de tratoristas. E essa mesma tendência se observa nas quatro regiões consideradas, sendo proporcional ao grau de mecanização de cada uma.

Considerando que os valores de admissão e demissão são muito próximos em uma mesma safra, optou-se por só considerar as admissões de cortadores e tratoristas a cada ano. Os dados foram divididos pelo tipo de atividade reportada ao MTE: cultivo de cana-de-açúcar, fabricação de açúcar e fabricação de álcool. Os dados foram analisados para as quatro regiões de governo selecionadas.

Em Araçatuba, a demanda por cortadores de cana-de-açúcar se aproximava de 20.000 em 2007, sendo este número reduzido pela metade em 201211, com aproximadamente 4.000 cortadores empregados por empresas com atuação na agropecuária (Gráfico 14). Essa tendência de redução vai na contramão da produção, que cresceu substancialmente a partir de 2007 em Araçatuba. Os segmentos industriais em que a cana é dita como “própria” também reduziram a contratação de cortadores, apesar da tendência à diminuição ter se iniciado somente em 2010.

11 Os dados aqui apresentados se referem ao período até Agosto de 2012, portanto uma safra ainda em andamento.

Gráfico 13. Total de Admissões e Demissões, Setor Sucroalcooleiro, Estado de São Paulo , 2007-2012

Elaboração própria a partir de dados do CAGED/MTE .

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No mesmo período, a demanda por tratoristas também cresceu na região de Araçatuba tanto pelas admissões realizadas pelos fornecedores quanto pelo segmento industrial correspondente à produção de açúcar (gráfico 15). Especialistas apontam que essas novas regiões canavieiras já introduzem o sistema produtivo do cultivo da cana-de-açúcar de forma mecanizada.

Elaboração própria a partir

de dados do CAGED/MTE .

Elaboração própria a partir

de dados do CAGED/MTE .

Gráfico 14. Total de Admissões de Cortadores de Cana-de-açúcar no Setor Sucroalcooleiro, Região de Araçatuba, 2007-2012

Gráfico 15. Total de Admissões de Tratoristas no Setor Sucroalcooleiro, Região de Araçatuba, 2007-2012

A região de Piracicaba, conforme dito anteriormente, está “atrasada” em relação às demais na mecanização da colheita. Mesmo assim, são verificadas alterações no sistema produtivo em que o número de trabalhadores ligados à colheita manual se mostra em declínio. Esse número que chegava a 6.000 em 2007 declinou a partir de 2009, uma redução de 28,9% no período considerado (gráfico 16). Observa-se porém, que é o segmento industrial o responsável pela maior redução de cortadores de cana-de-açúcar, ao passo em que os fornecedores independentes ainda mantêm estabilidade no número de contratações.

A mecanização tem se intensificado na região de Piracicaba ainda que em número reduzido de tratoristas. Ou seja, constata-se que o processo de mecanização acontece nessa região, porém num ritmo menos acelerado. Outro fato possível de ser verificado é que a mecanização tem se mantido estagnada por parte dos fornecedores, mas aumentado por conta da indústria de açúcar em bruto que está efetivamente contratando mais tratoristas, confirmado a tese de que o segmento industrial tem maior acesso às máquinas (gráfico 17).

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A região de Presidente Prudente juntamente com Ribeiro Preto são as que melhor ilustram a menor demanda pelos cortadores de cana-de-açúcar. Em 2007, o número de contratações em Presidente Prudente estava em torno de 7.500 cortadores e caiu drasticamente a partir de 2009. Todos os elos da cadeia produtiva, tanto fornecedores quanto usinas, apresentaram a mesma tendência de absorver menos cortadores a cada safra. O número em 2012 ficou próximo a 2.000 cortadores, uma redução de 73,3% desde 2007 (gráfico 18).

Gráfico 16. Total de Admissões de Cortadores de Cana-de-açúcar no Setor Sucroalcooleiro, Região de Piracicaba, 2007-2012

Elaboração própria a partir de dados do CAGED/MTE.

Elaboração própria a partir de dados do CAGED/MTE.

Elaboração própria a partir de dados do CAGED/MTE.

Gráfico 17. Total de Admissões de Tratoristas no Setor Sucroalcooleiro, Região de Piracicaba, 2007-2012.

Gráfico 18. Total de Admissões de Cortadores de Cana-de-açúcar no Setor Sucroalcooleiro, Região de Presidente Prudente, 2007-2012.

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Na região de Ribeirão Preto o número de cortadores empregados diminuiu rapidamente. De 25.000 contratações na safra de 2007 sobraram apenas 10.000 na safra atual (gráfico 20). Estes números não reportam quantos destes trabalhadores passaram por algum treinamento que lhes permitissem uma realocação dentro do próprio setor sucroalcooleiro, o que seria recomendável para ocupar vagas de tratoristas.

As usinas de açúcar e álcool são as principais responsáveis pelo crescimento no número de tratoristas nesta região. Quando da implantação do Protocolo, Ribeirão Preto já demandava cerca de 1.500 tratoristas, tendo ultrapassado os 2.000 na safra atual (gráfico 21). Apesar de já ser considerada uma das regiões mais mecanizadas do Estado de São Paulo, pode-se esperar uma redução ainda maior no número de contratações até 2014, dado que a maior parte das áreas tem declividade inferior a 12%.

Elaboração própria a partir

de dados do CAGED/MTE.

Gráfico 19. Total de Admissões de Tratoristas no Setor Sucroalcooleiro, Região de Presidente Prudente, 2007-2012

Gráfico 20. Total de Admissões de Cortadores de Cana-de-açúcar no Setor Sucroalcooleiro, Região de Ribeirão Preto, 2007-2012

Elaboração própria a partir

de dados do CAGED/MTE.

Os dados apresentados revelam a importância que a cultura da cana de açúcar assume no estado de São Paulo e os impactos socioeconômicos que mudanças tecnológicas, como a mecanização, poderão ter sobre regiões novas e tradicionais no cultivo desta importante cultura que representou 38% das admissões para o setor agropecuário entre janeiro e agosto de 2012.

Com relação ao valor gerado pela produção sucroalcooleira, fica evidente que o maior impacto econômico está ligado às atividades pós-colheita, na indústria de açúcar e álcool, responsável pelo maior valor agregado. Ainda assim, os dados de valor da produção agrícola deixam clara a importância que a cana tem na agropecuária, ultrapassando os 80% do valor da produção agrícola em regiões tradicionais, como Piracicaba.

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Ademais, não se pode negligenciar a importância da produção agrícola, principalmente no se refere ao emprego. E é justamente essa dinâmica que está se alterando com a mecanização da colheita.

Os dados revelam a rapidez da mecanização no cultivo da cana. Para fornecedores e usinas, a adoção da nova tecnologia é compensadora pois reduz tanto o tempo da colheita como os encargos trabalhistas. Assim, a mecanização é um processo irreversível, sendo este acelerado pelo Protocolo. Mesmo defensores do emprego, encontram poucos argumentos para justificar a manutenção do trabalho de boias frias na colheita de cana, altamente degradante e insalubre conforme já relatado anteriormente.

A extinção dos empregos de cortadores de cana-de-açúcar é esperada entre os anos de 2014 e 2017 nas usinas e fornecedores signatários do Protocolo Agroambiental. No curto prazo, este cenário já é verificado principalmente nas regiões de Ribeirão Preto e Presidente Prudente.

Caso exista uma parcela residual de cortadores empregados no estado de São Paulo após esse prazo, ela estará presente entre os que não tenham aderido ao Protocolo e assim se manterão dentro do cronograma da Lei 11.241/2002, em que os prazos são mais longos. Contudo, este seria um cenário improvável, uma vez que se essas usinas e fornecedores não adotarem a mecanização na colheita perderão competitividade em relação aos custos de produção, o que lhes prejudicará economicamente. Além do que conforme dito, o Selo Agroambiental foi uma inovação de processo para o setor, facilitando a exportação dos produtos.

Os números da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo confirmam essa tese e revelam que na safra 2011/2012, 173 unidades agroindustriais aderiram ao protocolo (90% do parque industrial do setor), sendo 159 já são certificadas. Já os fornecedores somam 5.400, respondendo por 21,7% da área de cana do Estado de São Paulo.

Fica evidente que está ocorrendo um rearranjo na distribuição dos postos de trabalho. Atualmente, o setor é formado em sua maior parte por ocupações agrícolas que envolvem os cortadores de cana-de-açúcar (maioria), tratoristas e outras ocupações agrícolas (ligadas aos tratos culturais da cana-de-açúcar) e outras ocupações não agrícolas mais ligadas aos segmentos industriais (fabricação de açúcar bruto, refinado e produção de álcool). Dentre essas ocupações pode-se mencionar o transporte da cana e produtos derivados, serviços administrativos e ocupações ligadas ao processamento da cana.

No futuro, deve-se observar uma nova distribuição nas contratações. No setor agropecuário, espera-se uma redução (e até extinção) do emprego de cortadores que seriam substituídos por

Gráfico 21. Total de Admissões de Tratoristas no Setor Sucroalcooleiro, Região de Ribeirão Preto, 2007-2012

Elaboração própria a partir de dados do CAGED/MTE.

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BrUnO PerOsa, WaLTer BeLiK e carLOs eDUarDO FreDO

tratoristas e outras ocupações agrícolas. Nesse cenário, a maior parte dos trabalhadores do setor sucroalcooleiro estariam nas ocupações não agrícolas.

Para analisar esta tendência, realizou-se um exercício de simulação, em que se considerou o total de trabalhadores do setor na safra de 2012 (cortadores representam mais de 50% do total de empregos) e buscou-se redistribuir estes postos de trabalhos entre outras ocupações (gráfico 22). Neste cenário, com a colheita totalmente mecanizada, a maioria dos empregos seriam não agrícolas, ou seja, pertencentes aos segmentos industriais da cadeia produtiva.

Gráfico 22. Distribuição Percentual das Admissões no Setor Sucroalcooleiro, 2012

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CAGED/

MTE.12

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CAGED/MTE1

Sob o ponto de vista econômico e ambiental, resta pouca dúvida sobre os efeitos positivos gerados pelo Protocolo Agroambiental. Porém, em relação ao emprego, não se observam incrementos nos postos de trabalho, argumento mencionado quando de sua assinatura. Este impacto negativo recai quase que exclusivamente sobre os trabalhadores envolvidos na colheita manual, os cortadores. Não houve um mecanismo criado pelo Governo Estadual paulista, por exemplo um Protocolo “AgroSocial” que contemplasse essa importante dimensão de sustentabilidade socioambiental.

Esse hipotético mecanismo poderia ter sido discutido e implementado nos mesmos moldes do Protocolo Agroambiental. Poderiam ser estabelecidos percentuais de requalificação e realocação da mão-de-obra dispensada deste setor, o que atenuaria os impactos da mecanização que se revertem atualmente no desemprego.

O fato da mão-de-obra dispensada ser majoritariamente composta por trabalhadores com baixo nível de instrução dificulta a realocação em ocupações mais especializadas dentro do próprio setor sucroalcooleiro (como a de tratoristas), em outras atividades agropecuárias ou em outros setores econômicos. Os efeitos do desemprego devem ter impactos na renda e desenvolvimento tanto nas regiões produtoras no estado de São Paulo quanto em outros estados,

1 Esta simulação busca somente uma estimativa da nova redistribuição dos empregos no setor sucroalcooleiro, se alterando com inovações e outras mudanças tecnológicas que podem surgir nos próximos anos.

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dado que boa parte destes trabalhadores é formada por migrantes. É preciso ter em mente a grande contribuição que os boias-frias deram ao desenvolvimento do setor sucroalcooleiro paulista.

Novos estudos deverão ser feitos buscando construir um quadro dinâmico dos movimentos observado na área do emprego na atividade canavieira. Dentre as quatro regiões analisadas neste estudo, a cadeia sucroalcooleira se mostra como uma grande demandante de mão-de-obra e, portanto, mudanças tecnológicas como as explicitadas acima deverão impactar diretamente sobre o emprego e renda dos trabalhadores. Esta, por sua vez, tem um papel ativo na movimentação do comércio regional, promovendo um efeito multiplicador (neste caso, divisor) na renda regional.

Referências

Moraes, M. A. O mercado de trabalho da agroindústria canavieira: desafios e oportunidades. Revista Economia Aplicada, v. 11. n. 4, 2007

Veiga Filho, A. A.; Ramos, P. Proálcool e evidências de concentração na produção e processamento de cana-de-açúcar. Informações Econômicas, v.36, nº 7, p. 48 – 61, 2006.

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RISCOS ClIMáTICOS DA CUlTURA DA CANA-DE-AçúCAR

Jurandir Zullo Junior Celso Macedo Junior

Balbino Antonio Evangelista Hilton Silveira PintoFábio Ricardo Marin

Eduardo Delgado Assad Andrea Koga-Vicente

A Cana-de-açúcar

A cana-de-açúcar (Sacarum officinarum L.) é originária da Nova Guiné e teve, com as invasões árabes, sua propagação para o norte da África, sul da Europa e toda margem do Mar Mediterrâneo. Ao mesmo tempo, os chineses a levaram para Java e Filipinas. Porém, foi na América que a cana-de-açúcar encontrou condições excelentes para seu desenvolvimento. Inicialmente, as lavouras estenderam-se por Cuba e outras ilhas, sendo levada por navegantes às Américas Central e do Sul (Fauconier e Bassereau, 1970; Szmrecsányi, 1979; Mozambani et al., 2006). As primeiras mudas de cana-de-açúcar chegaram ao Brasil em 1532, na expedição marítima de Martim Afonso de Souza, onde se espalhou em solo fértil e clima tropical quente e úmido. Na prática, a cana-de-açúcar pode ser cultivada entre as latitudes 35°N e 35°S e altitudes que variam de 0 a 1.000 metros, ou seja, sob várias condições climáticas distintas (Doorenbos e Kassam, 1994; Magalhães, 1987).

A cana-de-açúcar é considerada uma planta altamente eficiente na conversão de energia solar (energia radiante) em energia química (carboidratos), correspondendo à taxa fotossintética e produtividade biológica elevadas (Irvine, 1980; Taiz e Zeiger, 2004). Por essa razão, o comprimento do dia é um fator de grande importância, pois permite que a cana tenha um aproveitamento maior da energia luminosa no processo da fotossíntese e consequente acúmulo de matéria seca. O comprimento do colmo aumenta com o comprimento do dia, em geral, com valor ideal de 10 a 14 horas (Barbieri et al., 1981; citado por Casagrande, 1991). Ressalta-se, com referência à grande capacidade de produção de matéria seca da cana-de-açúcar, a importância do índice de área foliar (IAF) e do longo ciclo da cultura.

O sistema radicular da cana-de-açúcar é do tipo fasciculado, bem desenvolvido e distribuído ao longo do perfil do solo. Nos primeiros 30 a 40 cm, encontram-se as raízes superficiais ou

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regiões Canavieiras risCOs CLiMÁTiCOs Da CULTUra Da Cana-De-aÇÚCar

fibrosas e extremamente absorventes (Ripoli et al., 2007). As raízes de fixação podem superar os 50 cm no perfil, e também absorvem água e nutrientes, mas com eficiência menor. As raízes-cordão podem atingir até cinco metros de profundidade e são importantes para absorção da água mais profunda. Este aprofundamento do sistema radicular deve-se, segundo Staut (2006), ao fato da cultura ser semiperene e ficar, normalmente, de cinco a sete anos no campo. Segundo Dalri (2006), 60% das raízes concentram-se nos primeiros 20-30 cm de profundidade, e 85% nos primeiros 50 cm, com poucas variações entre as cultivares.

Muito embora a cana-de-açúcar não seja muito exigente em solos e, por isso, seja cultivada nos tipos mais diversos, os solos ideais devem ser profundos, bem estruturados, pesados, férteis e com boa capacidade de retenção. Porém, por ser uma planta rústica, ela se desenvolve satisfatoriamente em solos arenosos e menos férteis (Amaral et al., 2001; Copersucar, 1988; Rudorff e Batista, 1988). Os solos rasos com camadas superficiais impermeáveis ou mal drenados não são aconselhados. Os solos encharcados não possuem aeração suficiente às plantas, dificultando o desenvolvimento do sistema radicular e a assimilação dos nutrientes. Quando excessivamente úmidos, chegam a ocasionar a morte das plantas (Udop, 2007).

Em São Paulo, as áreas de cultivo de cana ocorrem normalmente nos Latossolos Vermelho e Latossolos Vermelho-Amarelo e, nos últimos anos, com a expansão da cultura na região oeste do Estado, o Argissolo Vermelho-Amarelo tem ganhado importância. Esses solos encontram-se predominantemente em relevo plano a ondulado, são geralmente profundos a muito profundos e normalmente aptos ao cultivo da cana-de-açúcar (Oliveira, 1999). Ressalta-se que o fato da cana-de-açúcar ser cultivada nos tipos de solos mais variados, que estão sob a influência de climas diferentes, resulta em vários tipos distintos de “ambientes de produção” da cultura que são, por definição, conjuntos das interações dos atributos dos solos com as condições climáticas locais (Ripoli et al., 2007).

A temperatura é um dos fatores ambientais de maior importância para o seu cultivo. Para ter uma colheita rentável, a cana precisa de um período quente e úmido para brotar, emergir e perfilhar; e outro, relativamente seco e/ou frio, para acumular sacarose. Assim, requer temperaturas altas (30ºC) na fase inicial; entre 25 e 30ºC na fase de crescimento vegetativo; e média mensal, no mês mais frio, abaixo de 21ºC (Segato et al., 2006). O crescimento em temperaturas inferiores a 25ºC é lento, sendo muito reduzido abaixo de 20ºC e paralisado aos 10ºC (Barbieri et al., 1979; Fauconier e Bassereau, 1975; Alfonsi et al., 1987). Na prática, os valores limites para o crescimento estão entre 19ºC e 18ºC para condições não-irrigadas e irrigadas, respectivamente (Bacchi e Souza, 1978; Alfonsi et al., 1984). Temperaturas mínimas no abrigo meteorológico em torno de 3ºC correspondem a -1°C na relva e podem causar danos à cana-de-açúcar. Para isso não há necessidade de congelamento da água, bastando uma queda brusca da temperatura (geada agronômica) (Wrege et al., 2005; Grodzki et al., 1996). O crescimento também é lento para temperaturas superiores a 35ºC, cessando para valores acima de 38ºC. Efetivamente, o crescimento é máximo para temperaturas entre 30 e 34ºC (Barbieri et al., 1979; Fauconier e Bassereau, 1975; Alfonsi et al., 1987).

Dentro dos ambientes de produção da cana, a água é o principal parâmetro ambiental responsável pela variabilidade de produtividade da cultura, reduzindo significativamente a produtividade quando limitante em solos mais férteis (eutróficos) e viabilizando o cultivo quando disponível em solos menos férteis (distróficos, ácricos, mesoálicos e álicos) (Prado, 2005). Isto é justificado pelo fato que a cana-de-açúcar necessita absorver grandes quantidades de água para suprir suas necessidades fisiológicas, sendo que pode chegar a ter, em determinada fase do seu desenvolvimento, 70% do peso representado pela água. Dentro de sua família

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botânica (gramíneas/poácea), a cana é a espécie que apresenta a maior capacidade de absorção de água pelas folhas, com aproveitamento do orvalho e da chuva interceptada por elas (Segato et al., 2007).

A cana é eficiente no uso da água, e mesmo em situação de estresse hídrico consegue fazer fotossíntese com eficiência, consumindo de 69 a 168 litros para produzir um quilograma de cana (Casagrande e Vasconcelos, 2008). A quantidade de água exigida pela cultura varia em função do comprimento do ciclo, sendo de 1.500 mm (litros por metro quadrado) a 2.500 mm durante o período de crescimento. Porém, para completar o ciclo vegetativo, a cana requer um período de déficit hídrico ou térmico a fim de acumular sacarose em seus colmos (Ruddorf e Batista, 1988; Joaquim, 1998; Santos et al., 2007). O primeiro estádio (brotação e emergência dos brotos ou colmos primários, sucedidas pelo enraizamento inicial e aparecimento das primeiras folhas) é o mais sensível à deficiência hídrica (Thompson, 1976; Segato et al., 2006), sendo que o período mais crítico para a cana plantada em outubro no Centro-Sul vai do quarto ao oitavo mês de idade, e a maior redução na produção é provocada por secas durante o verão, com a cana na idade de quatro a oito meses (Rosenfeld, 1989).

A cana-de-açúcar pode apresentar dois ciclos determinados em função do sistema de cultivo e da época de plantio: de 12 meses (denominada “cana de ano”) ou de 18 meses (conhecida como “cana de ano e meio”). A cana oriunda da muda, e que receberá o primeiro corte em 12 meses (precoce) ou 18 meses (tardia), é denominada “cana-planta”. Após o corte da “cana-planta”, ocorre a rebrota e inicia-se um novo ciclo, denominado “cana-soca”, com duração média de 12 meses, havendo ciclos sucessivos de corte/brotação, que perdurarão em função do manejo e da viabilidade econômica (Segato, et al., 2006), podendo ser colhida cinco ou mais vezes. Ressalta-se que a cada ciclo sucessivo de corte/brotação devem ser feitos investimentos significativos em insumos e tratos culturais para manter a produtividade em níveis economicamente viáveis (Unica, 2004).

O primeiro período de plantio da cana-de-açúcar em São Paulo coincide com o início da estação chuvosa e quente do ano, sendo feito normalmente entre os meses de setembro e outubro, apresentando um ciclo com duração média de 12 meses (“cana de ano”). O segundo período de plantio ocorre entre os meses de janeiro a março, sendo que a cana passa por um período de “repouso fisiológico” durante o inverno. Desse modo, apresenta um ciclo que pode variar de 14 a 21 meses (“cana-de-ano-e-meio”), conforme o mês de plantio e a época de maturação da variedade, sendo cortada entre os meses de abril e novembro. A fase de maior desenvolvimento para a “cana-de-ano” e a “cana-soca” ocorre na primeira metade do “grande período” (dezembro a abril), isto é, de outubro a janeiro. Para a “cana-de-ano-e-meio”, isto acontece de janeiro a abril (Casagrande, 1991).

Descrição Geral do Zoneamento Agrícola

Em 1990, a Embrapa Cerrados promoveu uma “Feira de Informática Aplicada à Agricultura” que apresentou, dentre vários produtos, um sistema computacional destinado à elaboração de calendários de plantio para culturas agrícolas com base na caracterização das chuvas no Bioma Cerrado (Assad, 2004). Devido ao elevado interesse que este produto despertou, a Embrapa e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) iniciaram uma parceria que culminou com a implantação do Projeto de Redução de Riscos Climáticos na Agricultura, por parte do Ministério, a partir de outubro de 1995. Isto foi o primeiro passo para a concretização do Zoneamento Agrícola de Riscos Climáticos que é

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um instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura do MAPA, baseado em uma metodologia desenvolvida por equipe técnica multidisciplinar pertencente a diversas instituições federais e estaduais de pesquisa agrícola.

Ressalta-se que embora haja vários zoneamentos elaborados e publicados com base em conceitos de potencialidade e aptidão, o Zoneamento Agrícola utiliza critérios estatísticos, definidos a partir da relação entre o clima, o solo e as plantas, com o objetivo de quantificar o risco de perdas das lavouras, a partir do histórico de ocorrência de eventos climáticos adversos, principalmente a estiagem em fases críticas das culturas e o excesso de chuvas na colheita.

Desse modo, com base em séries históricas de dados meteorológicos (principalmente temperatura e chuva), calcula-se o risco de perdas das culturas plantadas em uma determinada época possível de semeadura do ano, considerando tipos distintos de solo e de ciclo das cultivares, para cada município de interesse. Os riscos de perdas calculados são comparados com valores pré-estabelecidos pelo Ministério para definir o nível de risco da simulação realizada, isto é, se ela é de alto ou baixo risco climático de perdas agrícolas. Embora a metodologia utilizada seja sofisticada, os indicadores resultantes dela podem ser compreendidos e adotados efetivamente por seus vários interessados, tais como produtores rurais, extensionistas, agentes financeiros e seguradoras, entre outros.

Um aspecto importante do Zoneamento Agrícola é que ele pode ser revisado e atualizado anualmente, sendo publicado em portarias no Diário Oficial da União, por Unidade da Federação, servindo de orientação para o crédito de custeio agrícola oficial. Além disso, ele é divulgado de forma eletrônica nas páginas do Ministério (www.agricultura.gov.br) e do Agritempo (www.agritempo.gov.br).

Os vários tipos de solos que podem ser utilizados nos plantios são agrupados, normalmente, em três categorias, de acordo com a capacidade de retenção de água, sendo que os valores do teor de argila e de areia para estes três grupos são os seguintes: a) Tipo 1 - Solos Arenosos (teor de argila maior que 10% e menor ou igual a 15%); b) Tipo 2 – Solos de Textura Média (teor de argila entre 15% e 35% e teor de areia menor que 70%); c) Tipo 3 – Solos Argilosos (teor de argila maior que 35%).

Ressalta-se que, segundo orientações técnicas das Portarias do Zoneamento Agrícola publicadas pelo MAPA, é expressamente proibido o plantio de qualquer cultura que esteja em:

a) áreas de preservação obrigatória, de acordo com o Código Florestal em vigor;b) solos que apresentem teor de argila inferior a 10% nos primeiros 50 cm de solo;c) solos que apresentem profundidade inferior a 50 cm;d) solos que se encontram em áreas com declividade superior a 45%; e) solos muito

pedregosos, isto é, solos nos quais os calhaus e matacões (diâmetro superior a 2 mm) ocupam mais de 15% da massa e/ou da superfície do terreno.

No caso de culturas anuais, são listadas as cultivares indicadas no Zoneamento Agrícola pelos seus obtentores/detentores (mantenedores), agrupadas por ciclo de maturação fisiológica. Para a indicação das cultivares, é necessário que estejam registradas no Registro Nacional de Cultivares - RNC do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. No caso de culturas perenes, são indicadas as cultivares registradas no RNC, sem constar cada uma delas nas portarias de Zoneamento. Em uma mesma cultura, o ciclo pode variar dependendo da cultivar, que são agrupadas em ciclos denominados “precoces”, “semi-precoces”, “médios” ou “intermediários” e “tardios”. Pode-se definir o ciclo como sendo o número de dias ocorridos desde a emergência da planta até a sua maturação. Ressalta-se que os calendários disponibilizados pelo Zoneamento Agrícola consideram o ano dividido em 36 decêndios, sendo três por mês: o primeiro entre os

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regiões canavieiras

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dias 01 e 10, o segundo entre os dias 11 e 20 e o terceiro entre os dias 21 e o último dia de cada mês (de 28, 29, 30 ou 31).

Apesar da informação não ser utilizada diretamente na metodologia desenvolvida para o zoneamento agrícola, dados da produção agrícola municipal são considerados. A partir deles e da experiência de especialistas regionais, avalia-se se a região ou o município estudado possuem produções agrícolas bem sucedidas ou recorrência de perdas. Nessa etapa é importante dimensionar as áreas plantadas e colhidas, a produtividade e a variabilidade da produção em um intervalo de tempo, confrontando com as médias estadual e nacional, com a finalidade de obter um diagnóstico preliminar do potencial da região. Essas informações são levantadas em órgãos oficiais, tais como, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ou Secretarias Estaduais.

Metodologia do Zoneamento Agrícola

A Figura 1 apresenta o esquema da metodologia utilizada normalmente para elaborar o zoneamento agrícola de culturas perenes (como o café, por exemplo) e semi-perenes (tais como a cana-de-açúcar), sendo que os cilindros representam os tipos de dados de entrada e saída utilizados e gerados, respectivamente, enquanto os retângulos correspondem aos cálculos e processamentos realizados. Ressalta-se que o método utilizado para culturas anuais (tais como o milho, trigo e soja, por exemplo) é mais complexo que este, pois utiliza um número maior de dados de entrada e saída e etapas de cálculos.

FIGURA 1. Esquema da metodologia utilizada no zoneamento de riscos climáticos de culturas anuais e semi-perenes (como a cana-de-açúcar, por exemplo)

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A metodologia descrita na Figura 1 foi utilizada para elaborar o zoneamento da cana para a região contígua compreendendo os 1.897 municípios pertencentes aos estados de Minas Gerais (853 municípios), São Paulo(645 municípios) e Paraná (399 municípios), conforme ilustrado na Figura 2.

Os dados de precipitação pluviométrica foram obtidos no Sistema de Monitoramento Agrometeorológico Agritempo (http://www.agritempo.gov.br), desenvolvido pelo Embrapa Informática Agropecuária e Cepagri/Unicamp e alimentado por dados provenientes de instituições públicas, tais como o INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), CPTEC/INPE (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos) e a ANA (Agência Nacional de Águas), e organizações privadas, como cooperativas agrícolas (Pereira-Coltri et al., 2007). Foram utilizadas 663 estações pluviométricas localizadas nos três estados (MG, SP e PR), para o período compreendendo os anos de 1976 a 2005. Essa base de 30 anos de dados pluviométricos atende a recomendação da OMM (Organização Meteorológica Mundial) para estudos de climatologia. Utilizou-se um período recente (1976 a 2005) para representar com mais fidelidade as condições climáticas atuais e os impactos das mudanças climáticas.

FIGURA 2. Rede de 663 estações pluviométricas dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná com dados diários de 1976 a 2005

Os valores de temperatura média mensal e anual foram estimados através dos modelos estatísticos de regressão linear múltipla apresentados por Pinto et al. (1972), baseados na dependência existente entre a temperatura e as coordenadas geográficas (latitude, longitude e altitude) dos pontos de interesse. Foram utilizados valores de altitude fornecidos pelo SRTM30 (através do endereço http://dds.cr.usgs.gov/srtm/version2_1/SRTM30/) que tem uma resolução espacial de 30 metros.

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Com base nestes dados de temperatura e precipitação, foi possível determinar a deficiência hídrica a partir da simulação de balanços hídricos, para cada uma das 663 estações pluviométricas utilizadas, considerando uma disponibilidade máxima de água no solo igual a 125 mm, definida a partir do sistema radicular da cultura e dos tipos de solo predominantes na área de interesse.

Para a definição das zonas de risco climático para o cultivo da cana-de-açúcar, em cada ponto de simulação do balanço hídrico, foi utilizada a classificação descrita na Tabela 1, definida com base nos valores publicados por Camargo et al. (1977), Waldheim et al. (2006), Cecílio et al. (2003), Embrapa (2009) e Evangelista (2011). A partir dos pontos de simulação do balanço hídrico, definiu-se o risco climático para o cultivo da cana-de-açúcar de cada um dos 1.897 municípios pertencentes a Minas Gerais, São Paulo e Paraná de acordo com os valores contidos na Tabela 2. Ressalta-se que o valor de referência para a definição do risco climático dos municípios foi de 15% da área de baixo risco. Se ela foi atingida ou superada, então o município foi considerado de baixo risco climático, independentemente do tamanho das áreas de médio e alto risco. Caso contrário, a definição foi feita com base no tamanho das áreas de médio e alto risco.

TABElA 1. Classificação do risco climático da cana-de-açúcar dos pontos de simulação do balanço hídrico, em função da temperatura média e deficiência hídrica anuais

Classe de Risco Climático Temperatura Média Anual Deficiência Hídrica Anual

Baixo ≥ 21ºC > 0mm e < 200mm

Médio

Irrigação recomendada ≥ 21ºC ≥ 200mm e ≤ 400mm

Risco de temperaturas baixas ≥ 19ºC e ≤ 21ºC > 0mm

Ausência de estação seca ≥ 19ºC = 0mm

Risco de geadas ≤ 18ºC ----------

Alto ---------- ≥ 400mm

A Figura 3 apresenta o zoneamento da cana para os estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, considerando os parâmetros e métodos descritos acima. Um total de 1.141 municípios foram classificados como sendo de baixo rico climático, 727 como médio risco e 29 de alto risco para as condições climáticas atuais.

TABElA 2. Classificação do risco climático da cana-de-açúcar dos 1.897 municípios de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, em função de suas áreas de baixo, médio e alto risco

Classe de Risco Área de Baixo Risco Área de Médio Risco Área de Alto Risco

Baixo ≥ 15% ---------- ----------

Médio < 15% > 42,5% < 42,5%

Alto < 15% < 42,5% > 42,5%

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Cenários de Impactos das Mudanças Climáticas

A retomada da importância da cultura da cana-de-açúcar para o Brasil, especialmente a partir de 2000, e a perspectiva da ocorrência de mudanças climáticas no século atual, conforme enfatizado no quarto relatório do IPCC (IPCC, 2007) e nas várias publicações disponíveis na literatura científica, faz com que seja de grande relevância para o país determinar quais são os possíveis cenários de impactos destas mudanças no zoneamento apresentado na Figura 3.

A importância e o interesse do tema das mudanças climáticas têm motivado o desenvolvimento dos “modelos de circulação geral” (MCG’s), que são modelos matemáticos que procuram descrever a circulação geral da atmosfera planetária ou oceânica. Vários centros de pesquisa internacionais vêm se especializando em projeções de cenários climáticos futuros utilizando modelos globais, destacando-se: o National Center for Atmospheric Research (NCAR) e o NOAA Geophysical Fluid Dynamics Laboratory, dos Estados Unidos; o Hadley Centre for Climate Prediction and Research, da Inglaterra; o Max Planck Institute for Meteorology, da Alemanha e o Centre National de Recherches Météorologiques, da França. Ressalta-se que as atividades dos Centros citados acima são coordenadas pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) dentro do projeto World Climate Research Programme (WCRP). Esse projeto foi criado em 1980 para compreensões fundamentais do sistema físico do clima e dos processos envolvidos para predizer os cenários climáticos futuros, além da influência humana exercida sobre o mesmo.

No quarto relatório do IPCC, 23 modelos climáticos globais foram utilizados para simular os cenários propostos e analisar os possíveis impactos das alterações do clima no globo terrestre. Ressalta-se que nenhum modelo existente reproduz de forma perfeita e fiel o sistema de interesse. Apesar disso, os resultados obtidos através de modelagem matemática podem ser muito úteis quando analisados e utilizados corretamente. Dentre os vários modelos climáticos existentes, foram escolhidos para os cenários apresentados neste capítulo os modelos HadCM3, do Hadley Centre for Climate Prediction and Research (Inglaterra), e o MIROCmed, do Centre for Climate System Research (Japão), por serem representativos dos demais modelos utilizados no quarto

FIGURA 3. Zoneamento da Cana para os estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, baseado em dados do período 1976-2005

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relatório do IPCC (Macedo Junior, 2011). Foram utilizados dados de anomalia de precipitação e temperatura do cenário A2 (considerado mais pessimista de mudanças) referente ao período 2010-2039. Os dados de anomalia foram obtidos na página do IPCC DATA Distribution Centre (em http://www.ipcc-data.org) e representam os desvios do período escolhido (2010-2039) em relação ao dados da linha de base do período 1961-1990. As simulações foram feitas considerando apenas as anomalias de temperatura (Anom_T), apenas as anomalias de precipitação (Anom_P), e as duas anomalias em conjunto (Anom_T+P). O método utilizado foi o mesmo do zoneamento de riscos, descrito na seção anterior, incorporando as anomalias correspondentes, isto é, temperatura, precipitação, temperatura e precipitação.

As Figura 4 e 5 apresentam o zoneamento da cana considerando exclusivamente a anomalia de temperatura dos modelos HadCM3 e MIROCmed, respectivamente. O zoneamento das Figuras 6 e 7 consideraram exclusivamente a anomalia de chuva, enquanto os das Figuras 8 e 9, as duas anomalias simultaneamente.

FIGURA 4. Zoneamento da Cana para o período 2010-2039 com anomalia de temperatura para o cenário A2 do modelo HadCM3

FIGURA 5. Zoneamento da Cana para o período 2010-2039 com anomalia de temperatura para o cenário A2 do modelo MIROCmed

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FIGURA 6. Zoneamento da Cana para o período 2010-2039 com anomalia de precipitação para o cenário A2 do modelo HadCM3

FIGURA 7. Zoneamento da Cana para o período 2010-2039 com anomalia de precipitação para o cenário A2 do modelo MIROCmed

FIGURA 8. Zoneamento da Cana para o período 2010-2039 com anomalias de temperatura e precipitação para o cenário A2 do modelo HadCM3

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As Figuras 10 e 11 e a Tabela 3 apresentam os resultados anteriores destacando o número de municípios classificados como sendo de baixo, médio e alto risco climático, utilizando as anomalias de temperatura e precipitação dos modelos HadCM3 e MIROCmed.

FIGURA 9. Zoneamento da Cana para o período 2010-2039 com anomalias de temperatura e precipitação para o cenário A2 do modelo MIROCmed

FIGURA 10. Número de municípios classificados como sendo de baixo, médio e alto risco climático no zoneamento da cana-de-açúcar, para o período 2010-2039, com anomalias de temperatura (T) e precipitação (P) do cenário A2 do modelo HadCM3

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Destaca-se que a principal redução da classe de baixo risco climático no período 2010-2039, em relação ao clima atual (1976-2005), foi provocada pela anomalia de precipitação do modelo HadCM3, acompanhada pelo aumento das classes de médio e alto risco.

A Tabela 4 apresenta as taxas de mudança e manutenção dos municípios pertencentes atualmente (1976-2005) à classe de baixo risco climático, considerando as anomalias de temperatura e precipitação dos modelos HadCM3 e MIROCmed. Ressalta-se que não houve migração de municípios pertencentes à classe de baixo risco climático diretamente para a de alto risco.

Os dados desta Tabela reforçam o peso da anomalia de precipitação do modelo HadCM3 na redução do número de municípios pertencentes à classe de baixo risco climático do zoneamento da cana-de-açúcar, em relação ao clima atual (1976-2005), pois foi ela que provocou as maiores taxas de migração (39,5% e 41,1%) e as menores de manutenção (60,5% e 58,9%) de municípios em todas as análises realizadas.

FIGURA 11. Número de municípios classificados como sendo de baixo, médio e alto risco climático no zoneamento da cana-de-açúcar para o período 2010-2039, com anomalias de temperatura (T) e precipitação (P) do cenário A2 do modelo MIROCmed

TABElA 3. Número de municípios em cada classe de risco climático no zoneamento da cana-de-açúcar, para o período 2010-2039 em relação ao clima atual (1976-2005), com anomalias de temperatura (T) e precipitação (P), para o cenário A2 dos modelos HadCM3 e MIROCmed

Risco Climático Atual Modelo Anom_T Anom_P Anom_P+T

Baixo 1.141HadCM3 1.160 700 719

MIROCmed 1.181 1.155 1.189

Médio 727HadCM3 690 970 936

MIROCmed 649 716 655

Alto 29HadCM3 47 227 242

MIROCmed 67 26 53

Total 1.897HadCM3 1.897 1.897 1.897

MIROCmed 1.897 1.897 1.897

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A Tabela 5 apresenta a estimativa da produção média de cana-de-açúcar (em milhões de toneladas) dos municípios pertencentes à classe de baixo risco climático do zoneamento da cana-de-açúcar, no período 1990-2009, segundo dados oficiais do IBGE, e no período 2010-2039, considerando simultaneamente as anomalias de temperatura e precipitação dos modelos HadCM3 e MIROCmed. Ressalta-se que, segundo o modelo HadCM3, 36,5% da produção de cana poderá passar de municípios classificados atualmente como sendo de baixo risco climático para médio risco. No caso do modelo MIROCmed, este taxa será menor e igual a 7,1%. Ressalta-se que as classes de médio risco climático são aquelas com recomendação ou necessidade de irrigação e com risco de geada ou de temperatura elevada. Ou seja, são aquelas que necessitam de técnicas de adaptação para manter a produção em níveis desejáveis.

TABElA 4. Taxas de migração e manutenção dos municípios pertencentes atualmente (1976-2005) à classe de baixo risco climático, de acordo com as anomalias de temperatura e precipitação dos modelos HadCM3 e MIROCmed, para o zoneamento da cana-de-açúcar

Tipo Modelo Anom_T % Anom_P % Anom_P+T %

Migraçãode baixo risco

HadCM3 22 1,9 451 39,5 469 41,1

MIROCmed 116 10,2 8 0,7 93 8,2

Manutenção embaixo risco

HadCM3 1.119 98,1 690 60,5 672 58,9

MIROCmed 1.025 89,8 1.133 99,3 1.048 91,8

Migraçãopara baixo risco

HadCM3 41 10 47

MIROCmed 156 22 141

Total de baixo risco

HadCM3 1.160 700 719

MIROCmed 1.181 1.155 1.189

TABElA 5. Estimativa da produção média (em milhões de toneladas) dos municípios pertencentes à classe de baixo risco climático do zoneamento da cana-de-açúcar no período 1990-2009 (segundo dados oficiais do IBGE), e nas três classes de risco (baixo, médio e alto) no período 2010-2039, considerando simultaneamente as anomalias de temperatura e precipitação dos modelos HadCM3 e MIROCmed

Produção Média 1990-2009

Modelo

Produção Média Estimada – 2010-2039

Baixo RiscoClimático

%Médio Risco

Climático%

Alto RiscoClimático

%

168,80HadCM3 107,19 63,5 61,61 36,5 0,0097 0,0100

MIROCmed 156,89 92,9 11,91 7,1 0,0061 0,0002

Analisando a distribuição espacial das classes de baixo, médio e alto risco climático nas Figuras 3, 5 e 7 em relação à Figura 3, pode-se constatar que elas mudaram pouco quando foi utilizada apenas a anomalia de precipitação do modelo MIROCmed. No caso da anomalia de temperatura deste modelo, houve aumento da classe de alto risco climático no centro e noroeste de Minas Gerais, Vale do Mucuri, Triângulo Mineiro e sudeste do Paraná. Além disso, esta anomalia favoreceu a diminuição do risco por geadas no sul de Minas Gerais, centro do Paraná e mesorregião de Curitiba e, também, a redução das áreas de baixo risco climático na mesorregião paulista de São José do Rio Preto.

No caso do modelo HadCM3 (Figuras 4, 6 e 8 em relação à Figura 3), as mudanças espaciais não foram significativas quando utilizada a anomalia de temperatura. A anomalia de precipitação, entretanto, colocou toda a faixa que se estende do centro ao norte de Minas Gerais,

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além da porção leste do mesmo estado, na classe de alto risco climático. A anomalia também produziu um aumento significativo na classe de irrigação recomendada no Triângulo Mineiro, Zona da Mata (MG), assim como na região norte do estado de São Paulo.

Embora haja, dentro da comunidade científica, uma confiança muito maior nas anomalias de temperatura que nas de precipitação dos modelos climáticos globais, o objetivo de utilizar dois modelos distintos e as duas anomalias isoladamente e em conjunto, nos cenários apresentados, foi exatamente mostrar a importância de cada uma delas e as diferenças produzidas por modelos distintos de grande aceitação e utilização nas avaliações dos impactos das mudanças climáticas.

Ressalta-se que os cenários de impactos apresentados neste capítulo são de grande utilidade para o planejamento agrícola. A partir deles, devem ser descontadas as áreas urbanas, os corpos de água, as áreas com declividade superior a 12% por dificultarem a colheita mecânica, as áreas de proteção ambiental e outras áreas que podem ser definidas em função da política a ser adotada. Como exemplo, pode-se optar pela utilização de áreas ocupadas por pastagens degradadas mas não pelas ocupadas por culturas alimentares. Desse modo, é possível avaliar com maior precisão a disponibilidade de áreas para a expansão da cultura no país, bem como as demandas necessárias, as limitações existentes e os impactos decorrentes deste fato.

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A ARTICUlAçãO DAS DINâMICAS REGIONAIS A PROCESSOS MUlTI-ESCAlARES:

SITUANDO A MOBIlIDADE ESPACIAl RECENTE DOS CANAVIEIROS*

Ricardo Antunes Dantas de Oliveira

* Este artigo é composto pelo 4º capítulo da tese de doutorado “Mobilidade circular de cortadores de cana e divisão espacial do trabalho: expressões regionais na década de 2000”, defendida no programa de Pós-Graduação em Demografia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), sob a orientação da Profa. Dra. Rosana Baeninger.

O complexo agroindustrial (CAI) canavieiro é característica fundamental da realidade das regiões de Ribeirão Preto e Presidente Prudente nesta primeira década do século XXI. Constituindo-se historicamente de maneiras distintas, já que a primeira é a mais importante área produtora do país (Elias, 1997; Silva, 1999 e 2004) e a segunda vem se constituindo como uma das áreas de expansão mais importantes (Thomaz Jr., 2007), seu desenvolvimento se vincula profundamente às dinâmicas sociais, econômicas e políticas regionais.

As dinâmicas regionais têm registrado cada vez mais amplas conexões com processos multi-escalares, que têm nos movimentos da divisão espacial do trabalho seu elemento fundamental (Massey, 1984; Santos, 1996; Brandão, 2007). Movimentos transformadores, expressos em valorizações, revalorizações e desvalorizações de determinadas atividades em determinados lugares, concretizam as inserções regionais a divisões do trabalho mais amplas espacialmente.

O mercado de trabalho do CAI canavieiro paulista e logicamente aqueles das regiões consideradas, tem a mobilidade espacial de trabalhadores como um de seus elementos fundamentais. Dessa forma, constituem parte dos “territórios circulatórios” (Tarrius, 2000) dessa força de trabalho que se mobiliza em função da inserção problemática das origens, destinando-se às áreas que recebem reiterados ou novos investimentos nesse contínuo processo de (re) territorialização do capital (Gaudemar, 1976; Harvey, 1990a; Brandão, 2007; Oliveira, 2009).

Conectando regiões historicamente tão diferenciadas em termos de suas inserções às divisões do trabalho, este estudo avança no sentido de indicar que a mobilidade espacial dos trabalhadores do CAI canavieiro se enquadra como um movimento que articula territórios a partir dessas inserções. Porém, esta conexão apenas materializa o nível mais visível das

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articulações. Situar a mobilidade espacial recente dos trabalhadores agrícolas do CAI canavieiro nessa constelação de relações e processos, requer ampliar o escopo de seus determinantes e condicionamentos, destacando escalas e os agentes que as concretizam. Esta ampliação possibilita aprofundar a compreensão tanto da mobilidade espacial específica envolvida, quanto das dinâmicas regionais de Ribeirão Preto e Presidente Prudente. Articulá-las a processos que se desdobram de maneira a integrar escalas, revela seus significados mais amplos, que não se produzem em si mesmos, tampouco são isolados em um mundo caracterizado por territórios fragmentados e isolados.

Os objetivos deste artigo envolvem compreender os processos multi-escalares materializados em seus agentes concretos que, expressos através da mobilidade espacial de trabalhadores agrícolas, caracterizam as dinâmicas sócio-espaciais recentes das regiões de Ribeirão Preto e Presidente Prudente. São buscadas convergências, diferenças e tendências entre estas duas expressões regionais das relações entre dinâmicas econômicas e mobilidade espacial.

A concretização desses objetivos envolve a abordagem das características do CAI canavieiro a partir de dados secundários e a análise do material de entrevistas com cortadores, sindicalistas, representantes do poder público e especialistas nas temáticas analisadas. A partir da literatura crítica sobre a divisão espacial do trabalho, se constitui a articulação dos processos regionais a um mundo em movimento fundado nas divisões do trabalho em múltiplas escalas (Massey, 1984; Brandão, 2007).

O estudo está organizado a partir das escalas espaciais e dos agentes que nelas operam, em termos das ações que articulam as dinâmicas regionais do CAI canavieiro e, principalmente, relacionadas à mobilidade espacial dos trabalhadores agrícolas. Os sentidos da ordem global compõem os primeiros registros, seguidos pelos significados do que se processa em escala nacional. Em sequência, é que se efetiva a abordagem das dinâmicas regionais de Ribeirão Preto e Presidente Prudente de maneira comparada, nas quais também estão incluídos os elementos de ordem local. São ressaltadas as dimensões que se desdobram percorrendo todo o espectro escalar considerado, que assim constituem definições e redefinições dos espaços regionais considerados. Faz-se necessário considerar nesses desdobramentos os sentidos das hierarquizações que se processam, especialmente em função das dimensões decisórias, que assim limitam qualquer possibilidade de entender o regional pelo regional e o local pelo local.

Dimensões e significados dos processos globais no CAI canavieiro

A expansão recente do CAI canavieiro em nível nacional tem na escala global dimensões fundamentais. Estas são constituídas pelo interesse internacional em seus produtos mais destacados, o açúcar e o álcool (Carvalho e Oliveira, 2006; Jank e Rodrigues, 2007; Goes et al., 2008; Milanez et al., 2008a; Szmrecsányi et al., 2008). Seus efeitos de desdobram nos investimentos de grupos internacionais no complexo (BNDES/CGEE, 2008; OS GRINGOS, 2010; DESNACIONALIZAÇÃO, 2011), através de fusões com grupos nacionais, aquisição dos mesmos ou investimentos diretos na implantação de novas unidades produtivas.

Szmrecsányi et al. (2008) destacam a demanda pelo etanol em nível internacional como fundamental na atual expansão do CAI canavieiro, especialmente em termos das possibilidades futuras em função das “(...) potencialidades de o etanol se tornar um produto viável no mercado internacional, principalmente favorecido por suas condições de emissão de gases menos impactantes sobre o efeito estufa, quando relacionado ao uso de combustíveis fósseis” (p. 13).

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Jank e Rodrigues (2007), o estudo BNDES/CGEE (2008) e Milanez et al. (2008a) também trazem considerações nesse sentido, destacando o aumento dos preços dos derivados do petróleo e a busca por fontes de energia renováveis e/ou limpas como características determinantes do dinamismo da produção de etanol no Brasil.

Apesar do destaque que autores como Jank e Rodrigues (2007) e Szmrecsányi et al. (2008) dão à produção de etanol como o elemento dinâmico da expansão recente do CAI canavieiro, o interesse internacional pelo açúcar não poder ser subestimado nesse contexto. Goes et al. (2008) aponta a importância desse produto em função do aumento dos seus preços no mercado internacional. Carvalho e Oliveira (2006) apontam processos de médio e longo prazos como fundamentais para o crescimento do mercado internacional para o açúcar brasileiro: crescimento do mercado interno decorrente do aumento do consumo em função de melhorias na distribuição de renda; abertura de novos mercados na Ásia e na África; e, efeitos concretos da redução das barreiras protecionistas, em especial na União Européia.

Em termos da demanda internacional pelos produtos do CAI canavieiro do Brasil o açúcar vem se destacando mais do que o etanol, mesmo com a demanda crescente por fontes alternativas de energia, apontada por Szmrecsányi et al. (2008) e no estudo BNDES/CGEE (2008). O mercado global de biocombustíveis se encontra ainda em constituição (Jank e Rodrigues, 2007; Szmrecsányi et al., 2008), o que torna a produção e exportação do açúcar o lastro do CAI canavieiro.

A outra dimensão essencial dos processos globais no atual momento do CAI canavieiro no Brasil é profundamente relacionada à demanda internacional por açúcar e etanol: a entrada de grupos multinacionais e do capital internacional. O estudo BNDES/CGEE (2008) destaca entre as transformações recentes do CAI canavieiro as mudanças na origem dos capitais investidos, porém um maior detalhamento deste processo é provido em reportagens: OS GRINGOS (2010) da revista Carta Capital e DESNACIONALIZAÇÃO (2011) da revista Caros Amigos. Destaca-se a importância crescente de empresas multinacionais de combustíveis (exemplo: SHELL), grupos que atuam no setor de commodities agrícolas (exemplos: Louis Dreyfuss e Bunge), além de fundos de investimentos (exemplos: Arion Capital e Clean Energy).

As estratégias dos grupos internacionais são bastante diversificadas envolvendo: associações com grupos nacionais, aquisição dos mesmos ou investimentos diretos na implantação de novas unidades produtivas. Na principal área produtora, o estado de São Paulo, verifica-se a atuação de diversos grupos internacionais no CAI canavieiro:

1. SHELL, multinacional petrolífera de origem holandesa, constituiu em 2011 uma joint venture1 com um dos principais grupos do CAI canavieiro brasileiro (COSAN), constituindo a RAÍZEN2;

2. Louis Dreyfuss Commodities, multinacional de origem francesa, que através de uma empresa do grupo (LDC-SEV) começou a operar no CAI canavieiro no ano de 20003;

3. Tereos Internacional, multinacional de origem francesa, que opera nos setores de alimentos e bioenergia, passou a atuar no CAI canavieiro brasileiro em 2002 a partir da aquisição da maioria das ações da Açúcar Guarani4;

1 Joint venture: forma de integração de capitais entre empresas com objetivos específicos, podendo ser ou não definitiva, em que nenhuma delas perde sua personalidade jurídica.2 www.raizen.com – Acesso em 28 de dezembro de 2011.3 www.ldcsev.com – Acesso em 28 de dezembro de 2011. 4 www.tereosinternacional.com.br – Acesso em 27 de dezembro de 2011 e www.aguarani.com.br – Acesso em 28 de dezembro de 2011.

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4. UMOE Bioenergy, multinacional de origem norueguesa com investimentos em múltiplas áreas que vão de transporte marítimo a restaurantes5. Iniciou sua atuação no CAI canavieiro paulista em 2007;

5. ETH Bioenergia, empresa do grupo multinacional de origem brasileira Odebrecht, que atua em múltiplas áreas além do CAI canavieiro: construção, química, petroquímica. Atua no CAI canavieiro paulista desde 2007;

6. Cargill, multinacional de origem estadunidense com atuação em diversas áreas, desde alimentos até serviços financeiros6. Suas primeiras ações no CAI canavieiro paulista datam de 2006;

7. Bunge, multinacional de origem estadunidense que atua em diversas áreas ligadas a agricultura e serviços portuários7. Começou a operar no CAI canavieiro paulista em 2007;

8. Shree Renuka Sugars, multinacional de origem indiana que investe na produção de açúcar e etanol na Índia e no Brasil8. Iniciou sua atuação no Brasil em 2008.

Longe de esgotar todos os grupos ou empresas multinacionais que atuam no CAI canavieiro do conjunto do país, são destacadas algumas das principais a títulos de ilustração. Foram privilegiadas aquelas que atuam nas regiões de Ribeirão Preto e Presidente Prudente. Além destas, se faz necessário registrar duas empresas multinacionais de origem brasileira, que sem necessariamente participar do processo produtivo de açúcar e álcool se constituem enquanto agentes globais no contexto do complexo: a COPERSUCAR e a Petrobrás Biocombustíveis.

A COPERSUCAR é uma empresa de comercialização de açúcar e álcool que atua em escala global9. Esta empresa tem a exclusividade de comercialização do açúcar e do álcool de 48 unidades produtoras nos estados de São Paulo, a grande maioria empresas de menor porte e/ou de capital nacional. Na região de Ribeirão Preto são associadas à COPERSUCAR as seguintes empresas: Da Pedra Agroindustrial (usinas em Serrana e Santa Rosa do Viterbo); Pitangueiras Açúcar e Álcool em Pitangueiras; Usina Santa Adélia em Jaboticabal; Usina Santo Antônio e Usina São Francisco (Grupo Balbo) em Sertãozinho; Viralcool Açúcar e Álcool (usinas em Pitangueiras e Sertãozinho). Na região de Presidente Prudente as associadas são: Cocal II em Narandiba e UMOE Bioenergy (usinas em Narandiba e Sandovalina), sendo este último o único grupo multinacional vinculado.

A Petrobrás Biocombustíveis é uma subsidiária da multinacional petrolífera brasileira. Além da comercialização do etanol, tem atuado na constituição de projetos em associação com empresas do setor. Tem 31,4% das ações da empresa Açúcar Guarani, cujo sócio majoritário é a multinacional Tereos Internacional. Associada ao grupo nacional São Martinho, atuante na região de Ribeirão Preto (Pradópolis), a Petrobrás Biocombustíveis têm investido no crescimento da produção de etanol em Goiás através da sociedade denominada Nova Fronteira Bioenergia S.A. na qual tem 49% das ações, enquanto o grupo nacional tem 51%10.

O Governo Federal brasileiro também se constitui um agente de alcance global no contexto do CAI canavieiro. Em termos gerais essa atuação se refere à promoção do etanol e açúcar brasileiros no mercado internacional, sintetizada em ICTSD (2011) para os Governos Lula (2003 - 2006 e 2007 – 2010) e Dilma (a partir de 2011). Esse apoio está focado principalmente na

5 www.umoebioenergy.com – Acesso em 29 de dezembro de 2011.6 www.cargill.com.br – Acesso em 30 de dezembro de 2011.7 www.bunge.com.br/acucar - Acesso em 29 de dezembro de 2011.8 www.renukasugars.com – Acesso em 29 de dezembro de 2011.9 www.copersucar.com.br – Acesso em 28 de dezembro de 2011.10 www.saomartinho.ind.br – Acesso em 29 de dezembro de 2011.

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abertura de mercados para o etanol, em função das suas possibilidades de substituir combustíveis fósseis, e na redução de barreiras tarifárias através das negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) e com governos estrangeiros.

Outro exemplo relevante da atuação do Governo brasileiro é a participação da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX-Brasil)11. Desde 2008 esta agência tem um projeto de promoção do etanol brasileiro em conjunto com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA)12, organização representativa do setor.

A temporalidade da atuação dos grupos multinacionais no CAI canavieiro representa dimensão relevante. Dentre os agentes globais registrados acima, apenas a atuação da COPERSUCAR é anterior à década de 2000. A Petrobrás Biocombustíveis foi criada em 200813

e a APEX - Brasil em 2003,enquanto seu acordo com a UNICA foi estabelecido em 2008. As empresas multinacionais elencadas passaram a atuar no CAI canavieiro brasileiro durante a década de 2000, sendo a inserção mais antiga a da Louis Dreyfuss Commodities, que em 2000 adquiriu a Usina Cresciumal em Leme (SP) e os eventos mais recentes a constituição da joint venture RAÍZEN entre a COSAN e a SHELL em 2011, mesmo ano em que foram inauguradas usinas dos grupos BUNGE e ETH Bionenergia (grupo Odebrecht) em estados das regiões Centro-Oeste e Norte.

Os agentes que articulam o CAI canavieiro brasileiro e paulista à dinâmicas globais ampliam as dimensões do conjunto de relações que estruturam o complexo. Nesse contexto, ampliar dimensões significa o distanciamento dos espaços decisórios em relação aos lugares de produção, estabelecendo hierarquias que perpassam diversas escalas espaciais (Massey, 1984; Harvey, 1990a; Brandão, 2007; DESNACIONALIZAÇÃO, 2011). Decisões que envolvem o que produzir, quando, em que quantidade, destinado a quais mercados impactam as ações em escala nacional, regional e local, logo articular-se a processos globais significa vincular-se a processos cujas expressões se dão em múltiplas escalas. O caráter recente desta articulação marca a expansão recente do CAI canavieiro, conferindo distintivo em relação à história anterior do mesmo (BNDES/CGEE, 2008).

A escala nacional: articulações entre Estado e empresários do CAI canavieiro

As dimensões da escala nacional no contexto do CAI canavieiro envolvem as ações dos governos nas mais diversas escalas, as empresas do setor de caráter nacional e as articulações entre as mesmas. Embora a demanda internacional por etanol e açúcar tenha aumentado nos últimos anos (Jank e Rodrigues, 2007; BNDES/CGEE, 2008; Szmrecsányi et al., 2008), é o mercado interno que vem conferindo um importante “lastro” à demanda pelos produtos do complexo, principalmente pelo etanol (Milanez et al., 2008b).

Apesar da relevância do etanol no contexto da recente expansão do CAI canavieiro, não se pode descartar o crescimento no consumo de açúcar como dimensão fundamental. De acordo com dados publicados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em seu Anuário Estatístico da Agroenergia 201014 (2011, p. 73), o consumo de açúcar (de cana-de-açúcar) no Brasil aumentou de 9,5 milhões de toneladas em 1999 para 15 milhões em 2008, crescendo 5,2% ao ano no período.

11 www.apexbrasil.com.br – Acesso em 31 de dezembro de 2011.12 www.unica.com.br – Acesso em 31 de dezembro de 2011.13 www.petrobras.com.br – Acesso em 31 de dezembro de 2011.14 Disponível em: www.agricultura.gov.br – Acesso em 19 de dezembro de 2011.

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De acordo com esta mesma fonte, o mercado brasileiro foi responsável por 9% do total consumido no mundo em 2008, participação que era de 7,5% em 1999. Apenas a Índia e o conjunto dos países da União Européia tiveram quantidades participações maiores. No período considerado, o crescimento anual do consumo brasileiro (5,2%) foi o mais significativo no conjunto dos maiores consumidores, já que suplantou a média mundial do período (3% ao ano) e os dois principais mercados consumidores: Índia – 4,2% ao ano e União Européia – 3,1% ao ano.

O aumento do consumo de etanol e açúcar é característico da fase mais recente de expansão do CAI canavieiro. Esta fase se distingue das anteriores em função das mudanças com relação ao papel do Estado (Barros e Moraes, 2002; Veiga Filho e Ramos, 2006; BNDES/CGEE, 2008), sendo este um dos principais elementos da escala nacional no contexto de articulações do CAI canavieiro.

A atuação estatal marca o complexo desde a década de 1930, quando foi criado o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), com o papel de incentivar o consumo e regular o mercado de açúcar e álcool (BNDES/CGEE, 2008). Em função da crise do petróleo de 1973, foi criado o Programa Nacional do Álcool que marca uma nova fase de intervenção estatal (Veiga Filho e Ramos, 2006), com a intenção de promover a produção e o consumo do álcool.

A fase mais recente, que é a que nos interessa, é marcada pela finalização do processo de desregulamentação do setor, iniciada em 1996 e concluída em 1999 (Barros e Moraes, 2002; Veiga Filho e Ramos, 2006). A total liberalização dos preços marcou o fim do referido processo, caracterizado pela intensa disputa entre os agentes do setor (produtores de açúcar e álcool das diferentes regiões produtoras, fornecedores de cana e trabalhadores), que levaram o governo a adiar diversas vezes a sua finalização (Barros e Moraes, 2002).

Oliveira (2009, p. 367) sintetiza a atuação recente do Estado Brasileiro em seus diversos níveis através das seguintes ações: “(...) estabelecendo alianças com o capital, apoiando no discurso e dando suporte financeiro para o projeto expansionista”. Expressões destas ações são: a criação de câmaras setoriais; programas específicos de apoio às atividades do complexo; os estímulos à expansão por meio de discursos de apoio aos empresários; e, os mecanismos estatais de financiamento. Assim como no caso dos agentes da escala global, longe de esgotar os programas e as formas de apoio à expansão do CAI canavieiro, são exemplificadas ações e discursos dos governos Federal e do Estado de São Paulo nesse contexto.

A Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Açúcar e do Álcool foi instalada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em 200315. Agregando representantes dos diversos interesses, atua na proposição, apoio e acompanhamento das ações para o desenvolvimento desta cadeia. Tomando a ata da última reunião ordinária16, é possível ter uma idéia de quem atua na definição das políticas do setor: membros de órgãos governamentais (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ministério das Minas e Energia, Agência Nacional do Petróleo - ANP e Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB); de órgão de representação dos empresários (União da Indústria de Cana-de-açúcar – UNICA, União dos Produtores de Bioenergia – UDOP, União Nordestina dos Produtores de Cana – UNIDA, Associação dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil – ORPLANA), entre outros.

O Governo do Estado de São Paulo tem o Programa Cana, que apoia os produtores paulistas, através de orientação técnica e da oferta de melhoramentos genéticos desenvolvidos

15 Disponível em: www.agricultura.gov.br – Acesso em 30 de dezembro de 2011.16 Realizada em 18 de agosto de 2011. A ata está disponível em: http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/camaras_setoriais/Acucar_e_alcool/19RO/Ata_19RO_Alcool.pdf – Acesso em 30 de dezembro de 2011.

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pelo Instituto Agronômico de Campinas – IAC17. Cabe ressaltar também os acordos de cooperação entre o governo estadual e a UNICA, no sentido de promover a extinção da queima da palha da cana-de-açúcar em São Paulo18

O apoio nos discursos dos governantes também compõe dimensão fundamental de seu papel enquanto agentes das articulações do CAI canavieiro. Com relação ao Governo Federal, uma síntese do apoio discursivo se encontra em ICTSD (2011), no qual são apontadas as ações dos Governos Lula e Dilma no sentido da divulgação das potencialidades do etanol no mercado internacional.

Em relação ao governo estadual de São Paulo, exemplo importante do apoio discursivo está na fala do ex-governador José Serra durante a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas realizada em Copenhague (Dinamarca) entre 7 e 18 de dezembro de 200919. Além de contextualizar e ressaltar a importância do etanol no contexto da mudança do paradigma energético global, há uma síntese das políticas estaduais para o setor: fomento ao desenvolvimento científico e tecnológico; formação e capacitação de recursos humanos; cumprimento do zoneamento agro-ambiental para a cana-de-açúcar no estado; criação do protocolo agro-ambiental do setor; e, eliminação antecipada da queima da cana em relação ao restante das áreas produtoras.

O principal mecanismo estatal de financiamento das atividades do CAI canavieiro é analisado por Milanez et al. (2008a, 2008b e 2010). Estes autores destacam o papel relevante do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) nos investimentos para a expansão do setor sucroalcooleiro, em função de ser a principal fonte de empréstimos de longo prazo (Milanez et al., 2008b). De acordo com Milanez et al (2008a), o crescimento da demanda de recursos para o setor sucroalcooleiro levou o BNDES a criar o Departamento de Biocombustíveis – DEBIO em setembro de 2007.

O BNDES não apenas financia grupos do CAI canavieiro, já que tem uma subsidiária denominada BNDES Participações (BNDESPar), constituída como uma sociedade de ações, que tem como objeto a realização de operações de capitalização de empreendimentos controlados por grupos privados20. No contexto do CAI canavieiro se destaca sua atuação na compra de ações do grupo SantaElisa Vale no ano de 200821.

A participação em relação ao total dos desembolsos também é relevante ao destacar o aumento dos percentuais dos recursos destinados ao CAI canavieiro. Foi registrado um importante crescimento entre 2004 e 2008, ainda que o percentual em 2009, tenha sido inferior aos de 2007 e 2008. Mesmo com essa diminuição da participação, observou-se que os valores absolutos de 2009 foram superiores aos de 2007, o que indica na realidade o aumento do total geral desembolsado pelo BNDES.

Os beneficiários das políticas de apoio e dos mecanismos de financiamento são os grupos econômicos, que compõem outro tipo de agente da escala nacional no âmbito do CAI canavieiro. Além dos grupos nacionais articulados ao capital multinacional, se faz relevante destacar os grupos de caráter fundamentalmente nacional, que tem expandido suas áreas de atuação para além do estado onde se originaram, característica que Vian et al. (2007) apontam para os grupos nordestinos, mas que Oliveira (2009) ressalta também para os grupos paulistas, paranaenses e goianos.

17 Disponível em: http://www.agricultura.sp.gov.br/programas/136-programa-cana - Acesso em 31 de dezembro de 2011.18 Disponível em: http://sigam.ambiente.sp.gov.br/sigam2/Default.aspx?idPagina=2922 – Acesso em 2 de janeiro de 2012.19 Disponível em: www.unica.com.br/search – Acesso em 2 de janeiro de 2012.20 http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/O_BNDES/Legislacao/estatuto _bndespar.html – Acesso em 3 de janeiro de 2012.21 http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u360982.shtml - Acesso em 3 de janeiro de 2012.

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Dentre os grupos nacionais articulados ao capital multinacional há exemplos de joint-ventures, mas principalmente de aquisições da maior parte das ações por grupos internacionais. O principal exemplo de joint-venture é o estabelecimento da RAÌZEN entre os grupos COSAN e SHELL. O Grupo COSAN iniciou suas atividades em 1936 com a Usina Costa Pinto22, localizada em Piracicaba (SP). Na atualidade tem 19 unidades produtoras em São Paulo, uma em Goiás e outra em Mato Grosso do Sul, e como referido anteriormente, nas regiões consideradas possui a Usina Bonfim em Guariba.

Três grupos nacionais que se destacavam no CAI canavieiro paulista tiveram a maioria de suas ações adquiridas por grupos multinacionais: SantaElisa Vale, Açúcar Guarani e Moema Participações. O Grupo SantaElisa Vale foi criado em 2007 a partir da fusão da Companhia Energética Santa Elisa e da Companhia Açucareira Vale do Rosário, ambos os grupos da região de Ribeirão Preto. Em 2009 a multinacional francesa Louis Dreyfuss Commodities, através de sua subsidiária LDC-SEV, passou a ser a controladora do grupo através da aquisição de 60% das suas ações, tendo o BNDESPar como um de seus parceiros. Possui três usinas na região de Ribeirão Preto.

A empresa Açúcar Guarani S.A. foi fundada na década de 1960 no município de Severínia (SP) e em 2001 foi adquirida pelo grupo TEREOS Internacional, que na atualidade controla o grupo em parceria com a Petrobrás Biocombustíveis S.A.23. Possui a Usina Andrade situada no município de Pitangueiras, na região de Ribeirão Preto.

A empresa Moema Participações, possuidora de quatro unidades produtoras em São Paulo e Minas Gerais é outro exemplo de empresa nacional adquirida por grupos internacionais. No ano de 2009 foi incorporada ao grupo estadunidense BUNGE, que atualmente possui 8 usinas24, sendo que nenhuma delas nas regiões de Ribeirão Preto ou Presidente Prudente.

No contexto do CAI canavieiro é importante destacar os grupos de caráter nacional, já que estes marcam a história do mesmo (Ramos, 1999), seja por seus reiterados e novos investimentos nas regiões de origem, seja pela mobilidade dos seus capitais, que passam a se deslocar para as principais regiões produtoras do país (Vian et al., 2007; Oliveira, 2009). Dada à diversidade ainda maior do que os grupos internacionais envolvidos, são ressaltados especialmente aqueles que atuam nas regiões de Ribeirão Preto e Presidente Prudente:

1. São Martinho: iniciou sua atuação na década de 1930 na região de Limeira com a produção de açúcar na Fazenda Boa Vista25;

2. Balbo: iniciou suas atividades em 1946 a partir da instalação da Usina Santo Antônio no município de Sertãozinho (SP)26. Caracteriza-se pela produção de açúcar e álcool orgânicos.

Os grupos acima são os principais de caráter nacional a atuar nas regiões de Ribeirão Preto e Presidente Prudente. Oliveira (2009) destaca dimensões importantes da territorialização do CAI canavieiro nos últimos anos, demonstrando os deslocamentos de grupos para outras e novas regiões produtoras. Bastante interessante é uma figura que a autora registra (p. 116) com as origens e destinos dos investimentos. Para os grupos paulistas, são ressaltados os seus deslocamentos para o próprio estado, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo, verificáveis através das estratégias dos grupos São Martinho e Balbo, acima referidos. No sentido inverso, a autora aponta os investimentos de grupos pernambucanos, alagoanos e paraenses em

22 www.cosan.com.br – Acesso em 3 de janeiro de 2012.23 www.aguarani.com.br – Acesso em 28 de dezembro de 2011.24 www.bunge.com.br/acucar - Acesso em 28 de dezembro de 2011.25 http://www.saomartinho.ind.br/ - Acesso em 29 de dezembro de 2011.26 http://www.nativealimentos.com.br/pt-br/organizacao_balbo/index.html - Acesso em 30 de dezembro de 2011.

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São Paulo. Vian et al. (2007) registram que especialmente no caso dos grupos nordestinos, esta estratégia está relacionada às maiores possibilidades de crescimento nas áreas produtoras de São Paulo.

Enquanto área de expansão do setor, a região de Presidente Prudente vem recebendo investimentos de grupos originários de outros estados. Exemplos disto são a Destilaria Caiuá, no município homônimo e a Usina Alto Alegre, situada em Presidente Prudente. A primeira foi instalada em 2004 pelo grupo Olival Tenório27, de origem alagoana. Iniciou as operações no CAI canavieiro em 1958 e atualmente tem duas usinas além da situada em Caiuá, localizadas em Campo Alegre (AL).

Originária do Paraná, a Usina Alto Alegre iniciou suas atividades em 1978 em Colorado, município desse estado. Em 1996 inaugurou a Usina Floresta, situada em Presidente Prudente. Possui duas outras unidades também no Paraná. Em 2006 transferiu sua sede administrativa para Presidente Prudente, o que expressa o ganho de importância da região no contexto do CAI canavieiro em escala nacional28l.

Grupos originários de estados do Centro-Sul (Vian et al., 2007), como Paraná, Goiás e São Paulo se deslocaram para outras áreas, especialmente estados da própria macro-região. Porém, Oliveira (2009, p. 116) aponta maiores movimentos para grupos situados na região Nordeste, que se destinam não apenas à própria região, mas também a estados do Centro-Sul e até mesmo do Norte do país, como Pará e Acre.

As entidades representativas dos empresários do CAI canavieiro também são importantes agentes da escala nacional. No estado de São Paulo duas se destacam: UNICA e UDOP. A União da Indústria de Cana-de-açúcar – UNICA foi constituída em 1997 a partir da fusão de diversas organizações setoriais. As empresas associadas são de seis estados diferentes: São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins. Sediada em São Paulo (SP), tem representações em Washington (EUA) e Bruxelas (Bélgica), além de Ribeirão Preto. Conforme registrado anteriormente tem convênio com a APEX – Brasil, voltado à promoção da imagem dos produtos do CAI canavieiro no exterior29.

A União dos Produtores de Bioenergia – UDOP é uma entidade constituída em 1985 para representar empresários industrias do CAI canavieiro. Suas associadas são dos seguintes estados: São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná, sendo algumas também vinculadas à UNICA como a ETH Bionergia e a Virálcool. Sua atuação foi iniciada no Oeste paulista, assim tem grande representatividade na região. Sediada em Araçatuba (SP) , é voltada à representação, comunicação e treinamento para as empresas representadas30.

Os agentes da escala nacional do CAI canavieiro expressam as conexões entre processos globais e a efetiva materialização das relações envolvidas nas atividades deste complexo, constituídas regional e localmente. A sua atuação é demonstrada a partir das históricas relações entre Estado e os empresários do CAI canavieiro. Não registra um caráter de novidade como aquele apresentado pelo interesse de grupos multinacionais, já que ao menos desde 1933 com a criação do Instituto do Açúcar e do Álcool, o governo vem interferindo nas dinâmicas da produção de açúcar e álcool (BNDES/CGEE, 2008). Este fato já aponta a temporalidade mais ampla dos processos da escala nacional em comparação com o que ocorre globalmente.

27 http://www.grupoolivaltenorio.com.br/ - Acesso em 2 de janeiro de 2011. De acordo com Oliveira (2009, p. 270) a aquisição da mesma foi realizada em 2000, após crise que afetou os antigos proprietários da destilaria instalada em 1980. A informação da instalação em 2004 é do site do grupo.28 www.usinaaltoalegre.com.br – Acesso em 2 de janeiro de 2012.29 www.unica.com.br – Acesso em 3 de janeiro de 2012.30 www.udop.com.br – Acesso em 3 de janeiro de 2012.

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Autores como Ramos (1999 e 2007), Barros e Moraes (2002), Veiga Filho e Ramos (2006) e o estudo BNDES/CGEE (2008) destacam que o momento mais marcante de intervenção estatal foi o período do Programa Nacional de Álcool (1975 – 2000). Motivado por questões de ordem mundial, principalmente a crise do petróleo de 1973, esse programa apoiou a expansão das atividades vinculadas à cana-de-açúcar, com destaque a produção de álcool e ao mercado de veículos que utilizassem esse combustível (Veiga Filho e Ramos, 2006; BNDES/CGEE, 2008).

A consulta aos históricos dos grupos do CAI canavieiro acima elencados31, demonstra a importância do PROÁLCOOL no início de suas atividades ou na expansão de suas estruturas e produções iniciadas anteriormente, corroborando a relevância que Veiga Filho e Ramos (2006) e BNDES/CGEE (2008) apontam. Nos mesmos históricos verifica-se a importância do atual momento expansivo do CAI canavieiro, que também registra relevantes articulações com as ações do Estado.

A atuação do Estado de maneira interventiva, controlando preços e estoques, foi finalizada com a total desregulamentação do setor, concluída em 1999 (Barros e Moraes, 2002; Veiga Filho e Ramos, 2006). Moraes (2002) relaciona esse processo à crise fiscal dos anos 1980, que diminuiu a capacidade coordenadora e indutora do Estado sobre a economia, assim como ao processo de globalização e a abertura de mercados vinculada. Porém, embora o Estado não atue de maneira direta, seu papel se transforma na atualidade.

A síntese dos papéis atuais do Estado foi elaborada por Oliveira (2009) e registrada anteriormente. Os programas de apoio dos governos federal e estadual, muitos estabelecidos na década de 2000, os discursos de presidentes e governadores no mesmo período e o financiamento, exemplificadas nas formas de atuação do BNDES que também se processam após 2003 constituem as articulações recentes entre Estado e os empresários do CAI canavieiro. Estas vinculações expressam o caráter fundamental da escala nacional na atual expansão do CAI canavieiro.

Ainda que muitos dos grupos aqui registrados tenham expressão marcadamente regional, suas diversas articulações com o Estado os colocam como agentes da escala mais ampla, já que sua atuação vincula a estrutura materializada nas regiões a processos que se desdobram global e nacionalmente. A ação do governo do estado de São Paulo também o expressa como um agente da escala nacional, pois não apenas concentra a produção, os capitais e os novos investimentos (Milanez et al., 2008b), como seu apoio discursivo se expressa internacionalmente, o que se destaca a partir da fala do ex-governador José Serra na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas realizada em Copenhague (Dinamarca) entre 7 e 18 de dezembro de 2009.

As dinâmicas regionais e locais do CAI canavieiro: materializações das articulações multi-escalares

As dinâmicas regionais e locais do CAI canavieiro materializam o conjunto de articulações entre processos desdobrados em escalas espaciais mais amplas, questão fundamental na abordagem da divisão espacial do trabalho por autores como Massey (1984), Harvey (1990a) e Brandão (2007). O apelo internacional por açúcar e álcool, os investimentos de grupos internacionais, as articulações entre o Estado brasileiro e os grupos empresariais ganham expressão material nas características regionais e locais.

Corrêa (1996) explora os sentidos da região de uma maneira que permite contextualizar as dinâmicas recentes do CAI canavieiro nas regiões de Ribeirão Preto e Presidente Prudente:

31 Disponíveis nos sites dos mesmos.

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A particularidade traduz-se, no plano espacial, na região. Esta resulta de processos universais que assumiram especificidades espaciais através da combinação dos processos de inércia, isto é, a ação das especificidades herdadas do passado e solidamente ancoradas no espaço, de coesão ou economias regionais de aglomeração que significa a concentração de elementos comuns numa dada porção do espaço e de difusão que implica no espraiamento dos elementos de diferenciação e em seus limites espaciais impostos por barreiras naturais ou socialmente criadas. (p. 192)

No sentido dos processos de inércia, coesão e difusão que as caracterizam distintamente é que as regiões de Ribeirão Preto e Presidente Prudente expressam territorialidades do CAI canavieiro. Regiões que se inserem de maneira diferenciada no contexto das atividades do complexo, revelando como as articulações recentes entre escalas espaciais repercutem regionalmente e localmente. A partir de processos que estabelecem hegemonias e hierarquias fundados nos movimentos das divisões do trabalho (Massey, 1984; Harvey, 1990a; Brandão, 2007), são estabelecidas configurações regionais específicas com base nas dinâmicas espaciais do capital e do trabalho (Harvey, 1990a).

Consideram-se as dinâmicas locais como enquadradas nas regionais, já que os processos operam nesta última escala. Logicamente há especificidades locais, mas estas se relacionam à dinâmica mais ampla da rede urbana, que articula o território regional com base em especializações e hierarquias (Faria, 1978; IBGE, 2008). Com base nas características regionais e nas hierarquias constituídas na rede urbana, é que são destacadas as convergências e as fundamentais diferenças entre as regiões produtoras.

Tendências homogeneizadoras que seriam decorrentes do processo de globalização, negadas em Corrêa (1996), tampouco são verificadas entre as duas regiões, apesar de existirem convergências se considerarmos o nível mais amplo das relações articuladoras do CAI canavieiro. Ambas se enquadram como regiões importantes no atual contexto de expansão da produção de açúcar e álcool, receberam aportes de capitais multinacionais na década de 2000 e além disto, constituem destinos relevantes no âmbito dos “territórios circulatórios” (Tarrius, 2000) dos trabalhadores migrantes originários de outras regiões do país. Fundamentalmente, são as diferenças quanto os agentes determinantes e as características anteriores que marcam as regiões.

Essencialmente importante é o significado da expansão do CAI canavieiro nas duas regiões. Autores como Elias (1997), Alves (2002 e 2007), Silva (2004 e 2007), além de Oliveira (2009) ressaltam a importância histórica da região de Ribeirão Preto no complexo, caracterizando-a como a mais importante área produtora no país e até no mundo. Assim, o momento atual expressa uma reiteração de características pretéritas, acentuando a importância da região no conjunto do CAI canavieiro através da incorporação de novas áreas (Camargo et al., 2008), do aumento da produtividade (Silva, 2004; Oliveira, 2009) e ampliação da capacidade do parque produtivo, exemplificada pelo recorde mundial de moagem de cana na safra 2010/2011 da Usina São Martinho, localizada no município de Pradópolis.

A região de Presidente Prudente é considerada uma das principais áreas de expansão do CAI canavieiro no período (Thomaz Jr., 2007; Oliveira, 2009), apesar de haver anteriormente usinas e destilarias na região. Dimensão importante é registrada por Camargo et al. (2008): as áreas ocupadas com cana-de-açúcar na região de Presidente Prudente aumentaram de 99.959 ha em 2001 para 211.895 em 2006, incremento superior a 100%32. A implantação de novas

32 As informações destacadas por Camargo et al. (2008) se referem aos Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDR) vinculados à Secretaria de Agricultura do estado de São Paulo. Para obter as informações para a região de Governo de Presidente Prudente foram agregadas as referentes aos EDRs de Presidente Prudente e Presidente Venceslau.

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unidades também é característica desta área de expansão, já que não houve a instalação de novas usinas na região de Ribeirão Preto, enquanto que a ETH – Bioenergia concluiu a Usina Conquista do Pontal em Mirante do Paranapanema. Além disto, Oliveira (2009) aponta que o grupo Olival Tenório tem um projeto para implantar uma nova unidade da Destilaria Caiuá S.A. (DECASA) no município de Presidente Epitácio.

A região de Presidente Prudente, também conhecida como Pontal do Paranapanema, é caracterizada pelos conflitos fundiários, o que confere especificidades à expansão regional do CAI canavieiro. Nesse sentido, Thomaz Jr. (2007 e 2009) aponta um elemento fundamental da incorporação de novas áreas na região: as alianças entre a elite latifundiária regional, envolvida na “grilagem” de terras, e o capital agroindustrial canavieiro. Esta união constitui uma estratégia para considerar produtivas áreas em disputa, o que em tese aceleraria sua legalização. Thomaz Jr. (op cit.) relata inclusive, a importância do Projeto Lei nº 578 de 2007 nesse contexto. Proposto pelo governo do Estado de São Paulo, advoga a regularização de todas as terras com pendências jurídicas acima de 500 hectares. Este projeto ainda se encontra em tramitação na Assembléia Legislativa estadual e é particularmente relevante para as dinâmicas daquela região, já que entre as empresas canavieiras há uma preferência por áreas extensas para a produção de cana-de-açúcar (Veiga Filho e Ramos, 2006).

O destaque aos agentes regionais do CAI canavieiro envolve o registro dos grupos que têm esta escala espacial como lócus de operação. Diferente dos grupos multinacionais e nacionais, suas ações se concentram em regiões do interior paulista. A importância destes grupos é revelada por suas articulações em termos das entidades de representação (UNICA e UDOP), assim como com o Estado, que lhes apóia com programas e discursos, além de financiar, ações exemplificadas nos agentes que operam em escala nacional. Constituem grupos de ação regional:

1. Pedra Agroindustrial: suas operações foram iniciadas em 1931 com a Usina da Pedra, localizada no município de Serrana, na região de Ribeirão Preto 33;

2. Virálcool: iniciou suas operações em 1984 com a Usina Virálcool em Pitangueiras, na região de Ribeirão Preto34;

3. Usina Santa Adélia: iniciou suas operações a partir da instalação da Usina Santa Adélia em Jaboticabal, na região de Ribeirão Preto no ano de 195835;

4. Companhia Albertina, possui a Usina Albertina situada em Sertãozinho, região de Ribeirão Preto. Apesar de não haver mais informações disponíveis sobre esse grupo, destaca-se a sua associação com o grupo norueguês UMOE Bioenergy em 200736;

5. COCAL: iniciou suas operações em 1984 com a instalação da Cocal Açúcar e Álcool no município de Paraguaçu Paulista37;

6. Central Energética Moreno Açúcar e Álcool: tem duas usinas no estado de São Paulo. Não foi possível obter maiores informações sobre essa empresa;

7. 7) Bazan, grupo que possui duas usinas no município de Pontal, região de Ribeirão Preto. Não foi possível obter mais informações sobre esse grupo.

Além destes, há que se destacar a existência de empresas de menor porte com um caráter mais local e autônomo, dentre as quais podem ser destacadas: Pitangueiras Açúcar e Álcool (município homônimo), Destilaria Santa Clara (Jaboticabal), Usina Carolo (Pontal), Destilaria

33 http://www.pedraagroindustrial.com.br/ - Acesso em 2 de janeiro de 2012.34 http://www.viralcool.com.br/site/localizacao.php - Acesso em 2 de janeiro de 2012.35 http://www.usinasantaadelia.com.br/ - Acesso em 2 de janeiro de 2012.36 http://www.investe.sp.gov.br/sis/lenoticia.php?id=1199&c=1 – Acesso em 29 de dezembro de 2011.37 http://www.cocal.com.br/ - Acesso em 2 de janeiro de 2012.

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Lopes da Silva (Sertãozinho) na região de Ribeirão Preto; Atena - Tecnologias em Energia Natural Ltda. (Martinópolis) e Alvorada do Oeste (Santo Anastácio) na região de Presidente Prudente.

Os grupos empresariais também expressam diferenças entre as duas regiões, já que embora o capital multinacional tenha chegado a ambas em função da recente expansão do CAI canavieiro, vide LDC-SEV, RAÍZEN (COSAN/SHELL) e TEREOS na região de Ribeirão Preto e ETH Bioenergia e UMOE Bioenergy na região de Presidente Prudente, as empresas nacionais e regionais expressam diferenças. A região de Ribeirão Preto é a origem de grupos de relevância nacional como São Martinho, Balbo, além do grupo SantaElisa Vale, cuja maioria das ações foi adquirida em 2009 pela LDC-SEV, subsidiária da multinacional Louis Dreyfuss Commodities. Além disso, são originários da região grupos de importante expressão regional como Da Pedra, Virálcool e Usina Santa Adélia. Este fato reitera a importância dos capitais desta região no CAI canavieiro.

A região de Presidente Prudente é caracterizada pelos investimentos de capitais estabelecidos inicialmente em outras regiões. Os maiores empreendimentos recentes estão relacionados a grupos multinacionais, além disto se destacam grupos de outros estados: Olival Tenório (AL) e Usina Alto Alegre (PR); e de outra região do estado de São Paulo: COCAL, estabelecido em Paraguaçu Paulista. Verifica-se nessa região o caráter expansivo de grupos de outras origens.

Os agentes do CAI canavieiro ganham substância nas articulações entre os grupos multinacionais, nacionais e regionais e o Estado em suas diferentes expressões e ações, conferindo características às regiões. A partir de Corrêa (1996), verifica-se que estes agentes se envolvem de maneira essencial na combinação entre processos de inércia, coesão e difusão.

Inércia no sentido do previamente existente, a partir do qual novas relações se expressam. Na região de Ribeirão Preto os processos recentes conferem reiterações e aprofundamentos de dinâmicas já existentes, já que desde o estabelecimento do PRÓALCOOL na década de 1970 é uma das mais importantes áreas produtoras do complexo. Por sua vez, na região de Presidente Prudente, a partir de características calcadas na produção agropecuária e marcadas pelos conflitos fundiários históricos, a expansão do CAI canavieiro transforma relações e características, definindo um novo caráter, de região canavieira.

Revela coesão no sentido de tornar mais densas as relações sustentadoras da economia canavieira na região de Ribeirão Preto, acentuando seu caráter de área essencial da mesma (Silva, 2004 e 2007; Oliveira, 2009). A coesão na região de Presidente Prudente se expressa nas articulações entre CAI canavieiro, latifundiários da região e Estado (Oliveira, op cit.; Thomaz Jr., 2009) e nos investimentos de capitais de diversas origens, que vem conformando as características da economia regional.

Em ambas o caráter de difusão se expressa no aumento do predomínio em termos da área cultivada (Camargo et al., 2008) e na expansão das atividades industriais em todo o território regional. Na região de Ribeirão Preto, verifica-se também na importância que os grupos regionais vão ganhando nacional e internacionalmente e no caráter de referência das características do CAI canavieiro que vem reforçando.

Os constantes movimentos e redefinições das divisões multi-escalares do trabalho articulam processos que configuram territórios (Massey, 1984; Harvey, 1990a; Brandão, 2007). Nesse sentido, o apelo internacional pelos produtos do CAI canavieiro (açúcar e álcool), os capitais multinacionais que vem sendo investidos se articulam às já históricas relações entre Estado e grupos empresariais canavieiros, expressas de múltiplas formas, configurando reiterações ou novidades. Materializam-se regiões canavieiras de distintas espécies, envolvidas numa hierarquia de inserções a divisões inter-regionais, nacionais e globais do trabalho, em que

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decisões e definições partem de lugares hegemônicos específicos (Brandão, 2007), e através de “mecanismos de desencaixe” (Giddens, 1991) conectam regional e local a processos muito mais amplos.

Enquanto forma espacial articuladora de territórios (Corrêa, 1988), as transformações e cristalizações da rede urbana expressam regionalmente o conjunto de articulações multi-escalares. Se há hierarquias globais, nacionais e inter-regionais (Harvey, 1990b; Brandão, 2007), há também as que se expressam no contexto das redes urbanas regionais. Dessa maneira é que se estabelecem diferenciações, especializações dos centros urbanos articuladores dos territórios (Faria, 1978; IPEA et al., 2001a; IBGE, 2008), conectando e posicionando as distintas inserções locais à divisão regional do trabalho, fundada na idéia de que todas elas articulam territórios, mesmo que apenas o rural do próprio município (Singer, 1973a).

No âmbito do conjunto de relações articuladoras constituídas a partir do CAI canavieiro, as regiões de Ribeirão Preto e Presidente Prudente expressam as distinções dos complexos em nível regional. Assim, se diferenciam em termos de sua estruturação, da densidade das relações que possibilitam maior definição e das temporalidades. Nesse sentido é que são registrados os significados das redes urbanas regionais no momento histórico atual.

Ribeirão Preto exerce alto grau de centralidade sobre a rede urbana de sua região, no estudo IPEA et al. (2001a e b) é considerada um centro regional, cujas características podem ser resumidas a partir do Quadro 2 (IPEA et al., 2001a, p. 50): média centralidade em termos de hierarquização exercida sobre sua área de influência; baixa presença de centros decisórios e fluxos de relações com a rede urbana em escalas espaciais mais amplas; média dimensão do processo de urbanização; média diversificação/complexidade da economia urbana; e, média diversificação do terciário.

Em uma classificação mais recente registrada no estudo Regiões de Influência das Cidades 2007 (IBGE, 2008), Ribeirão Preto é definida como uma Capital Regional B, o que significa “capacidade de gestão no nível imediatamente inferior ao das metrópoles, têm área de influência de âmbito regional, sendo referidas como destino, para um conjunto de atividades, por grande número de municípios” (p. 11). A subdivisão B está relacionada a um padrão de localização mais regionalizado, o que distingue das Capitais Regionais A, que incluem as capitais estaduais não metropolitanas e Campinas, de alcance mais amplo.

O estudo IPEA et al. (2001 a e b) classifica Presidente Prudente como um Centro Sub-regional de nível 1, expressando desta maneira: baixa centralidade em termos da hierarquização urbana regional; baixa dimensão do processo de urbanização; baixa complexidade/diversificação da economia urbana; e, média diversificação do terciário. Já o REGIC 2007 (IBGE, 2008) define o município como uma Capital Regional C, diferenciada da classificação atribuída a Ribeirão Preto em função do menor tamanho populacional e menor quantidade de relacionamentos referidos por outros municípios, ou seja, uma polarização dos serviços menos significativa em seu contexto regional.

A partir destas características, constituídas ao longo do processo histórico regional (Gonçalves, 1998), articulado a processos operantes em outras escalas espaciais (Massey, 1984; Brandão, 2007), Ribeirão Preto e Presidente Prudente se estabeleceram como os principais centros urbanos de suas respectivas regiões. Distinguindo-se pela maior centralidade regional e conexões com escalas espaciais mais amplas, Ribeirão Preto expressa uma maior relevância em termos de seu papel nas redes urbanas estadual e nacional, assim como em suas articulações a redes globais. A importância do CAI canavieiro se vincula a essa relevância, estabelecendo conexões mais coesas entre os centros urbanos constituintes dessa rede regional, o que se

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diferencia do seu papel na região de Presidente Prudente, na qual vem tendo papel transformador. Definem-se a partir das relações inerentes ao complexo canavieiro distintas redes urbanas nas duas regiões.

A rede urbana da região de Ribeirão Preto

Ribeirão Preto constitui o principal centro urbano de uma região que, ao menos, desde os anos 1970, vem registrando grande importância do CAI canavieiro, sendo para autores como Elias (1997), Silva (2004 e 2007), o lócus fundamental desse complexo em nível nacional e de acordo com Oliveira (2009), até internacional. Por isto, papéis e inserções são bastante específicos, demonstrando especializações e sua diversidade no sentido apontado por Faria (1978). São definidos cinco níveis de inserção, sintetizados na Figura 1.

Nível 1: o principal centro urbano da região se insere como um centro de serviços diversificados para os municípios do entorno. No contexto do CAI canavieiro, Ribeirão Preto é sede de serviços técnicos, financeiros e comerciais. Não à toa sedia um Terminal Multimodal da COPERSUCAR38, além de um escritório da principal organização representativa dos empresários do complexo: UNICA39. De acordo com Elias (1997), constitui o centro de uma região que expressa o Brasil agrícola moderno, fundado nos Agronegócios. O crescimento do interesse e dos investimentos na década de 2000 acentua o seu caráter de centro urbano articulador do território fundamental da cana.

Nível 2: o segundo tipo de inserção é bastante específico, tendo repercussões que extravasam os limites regionais. Sertãozinho é centro industrial destacado no processamento de cana-de-açúcar, já que seis usinas estão instaladas no município, maior quantidade entre os municípios do país, de acordo com as informações do Departamento da Cana-de-açúcar e

38 www.copersucar.com.br – Acesso em 28 de dezembro de 2011.39 www.unica.com.br – Acesso em 31 de dezembro de 2011.

Fonte: Trabalho de campo (junho e julho de 2011). Organizada pelo

autor (2012).

FIGURA 1. Rede urbana: CAI canavieiro, Região de Governo de Ribeirão Preto, 2011

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Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento40. Porém, a especificidade do município é mais ampla do que a concentração de atividades industriais do CAI canavieiro.

Localizam-se em Sertãozinho diversas indústrias de fabricação de equipamentos para a indústria sucroalcooleira. Originadas a partir de oficinas voltadas à manutenção e conservação do maquinário das usinas de açúcar e etanol do município41, tornaram-se indústrias importantes no ramo de equipamentos, conferindo novas especificidades à economia local. Para exemplificar estas indústrias podem ser citadas: Dedini, CALDEMA, Fundição Moreno; e CAMAQ42. Todas estas são fabricantes de equipamentos para a produção de açúcar e etanol, atuantes nos mercados nacional e internacional. A Dedini integra o grupo Dedini de Indústrias de Base, originado e sediado em Piracicaba (SP). As outras três empresas foram criadas e têm sede em Sertãozinho.

Nível 3: caracterizados pela presença de mais de uma unidade de processamento de cana-de-açúcar, três municípios compõe o terceiro nível da hierarquização urbana fundada nas articulações regionais do CAI canavieiro: Jaboticabal, Pitangueiras e Pontal. Caracterizam-se pela distinção em relação aos municípios com apenas uma unidade em função de estarem envolvidos em uma maior quantidade de relações do complexo. Jaboticabal é o terceiro município mais populoso da região (71.625 em 2010), atrás apenas de Ribeirão Preto (603.774) e Sertãozinho (109.936)43, o que lhe confere um caráter diferenciado nesse contexto em virtude de ter uma estrutura comercial e de serviços mais ampla, além de um mercado de trabalho mais diversificado.

Nível 4: o quarto grupo é o daqueles municípios que possuem ao menos uma usina em seu território. Fazem parte deste grupo seis municípios: Barrinha, Guariba, Jardinópolis, Luiz Antônio, Pradópolis, Santa Rosa de Viterbo e Serrana. Guariba é o centro urbano com especificidades em termos da circulação de trabalhadores na região, destacadas em sessão posterior.

Nível 5: o último grupo é dos municípios envolvidos nas relações do CAI canavieiro regional apenas em função de terem áreas ocupadas com a plantação de cana-de-açúcar. Possivelmente muitos deles também são espaços de residência de trabalhadores do complexo. Fazem parte deste grupo: Altinópolis, Brodowski, Cajuru, Cássia dos Coqueiros, Cravinhos, Dumont, Guatapará, Monte Alto, Santa Cruz da Esperança, Santo Antonio da Alegria, São Simão, Serra Azul e Taquaral.

Neste contexto, Monte Alto é o mais diferenciado dos municípios, pois além de apresentar um maior tamanho populacional em 201044, 46.616 habitantes, sendo que todos os outros dessa categoria tinham menos de 25 mil, é considerado um Centro de Zona B na classificação do REGIC 2007 (IBGE, 2008), enquanto todos os outros são Centros Locais. Isto significa que Monte Alto exerce influência sobre os municípios do seu entorno imediato, enquanto os outros se limitam ao seu próprio território.

A rede urbana da região de Presidente Prudente

A região de Presidente Prudente é área de expansão fundamental do CAI canavieiro (Oliveira, 2009; Thomaz Jr., 2009), especialmente por possibilitar a incorporação de novas

40 Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/desenvolvimento-sustentavel/agroenergia/ - Acesso em 2 de janeiro de 2012.41 www.sertaozinho.com/industrias - Acesso em 5 de janeiro de 2012.42 Respectivamente: www.dedini.com.br, www.caldema.com.br; www.moreno.ind.br e www.camaq.com.br – Acesso em 5 de janeiro de 2011. 43 Informações do Censo 2010 – www.ibge.gov.br - Acesso em 5 de janeiro de 2012.44 Informações do Censo 2010 – www.ibge.gov.br - Acesso em 5 de janeiro de 2012.

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áreas (Camargo et al., 2008), estando situado no estado caracterizado pela maior participação da produção do complexo em nível nacional. Enquanto área de expansão não tem características de inserção tão definidas quanto aquelas da região de Ribeirão Preto, ou seja, as atividades desenvolvidas não permitiriam até o momento uma diversificação relevante das atividades e mesmo uma especialização dos centros urbanos. A Figura 2 os níveis para a região de Presidente Prudente.

A hierarquização verificada está mais relacionada com processos inerciais de características pré-existentes, constituídas ao longo do processo histórico regional (Gonçalves, 1998). Há também cinco níveis de inserção a rede urbana do CAI canavieiro regional, porém não existe o Nível 2, já que não há centros urbanos com indústrias voltadas ao complexo e registra-se um Nível 6, de municípios sem registro de produção de cana-de-açúcar de acordo com a pesquisa Produção Agrícola Municipal45.

Nível 1: o principal centro urbano regional constitui esse nível, porém tem características bastante distintas. Na atualidade Presidente Prudente não constitui uma referência do CAI canavieiro como Ribeirão Preto, já que a maior parte das relações que articula estão relacionadas à própria região, em decorrência de características anteriores a um maior desenvolvimento do complexo canavieiro. No sentido da estruturação de relações do complexo é importante ressaltar que em 2006 a Usina Alto Alegre S.A., que já tinha uma unidade fabril em Presidente Prudente, transferiu sua sede para o município. Este fato aliado à instalação de novas unidades na região nos próximos anos (Camargo et al., 2008; Oliveira, 2009; Thomaz Jr., 2009), pode conformar um papel aprofundado deste centro urbano no contexto mais amplo do CAI canavieiro.

Nível 3: apenas um centro urbano tem mais de uma unidade fabril do setor em seu território: Narandiba, município de apenas 4.283 habitantes em 2010 de acordo com as informações censitárias46. Uma das unidades é filial de um grupo estabelecido em Paraguaçu

45 Disponível em: www.sidra.ibge.gov.br - Acesso em 5 de janeiro de 2012.46 www.ibge.gov.br – Acesso em 5 de janeiro de 2012.

FIGURA 2. Rede urbana: CAI canavieiro, Região d Presidente Prudente, 2011

Fonte: Trabalho de campo (junho e julho de 2011). Organizada pelo

autor (2012).

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Paulista, município próximo, situado na região de Governo de Assis. A outra é uma unidade do grupo norueguês UMOE Bioenergy, adquirida da Companhia Albertina, situada na região de Ribeirão Preto. Os municípios do Nível 3 nesta última região: Jaboticabal, Pitangueiras e Pontal, têm unidades fabris originadas nos próprios municípios, ainda que posteriormente tenham sido adquiridas por grupos maiores, o que ressalta o caráter expansivo da instalação das usinas em Narandiba e vem conferindo a este um grau relevante de centralidade no contexto das articulações regionais do CAI canavieiro.

Nível 4: na região de Presidente Prudente seis municípios têm ao menos uma usina em seu território: Caiuá, Martinópolis, Mirante do Paranapanema, Sandovalina, Santo Anastácio e Teodoro Sampaio. A existência destas unidades fabris permite ressaltar a centralidade destes municípios no CAI canavieiro regional, mesmo sendo todos de pequeno porte populacional: Martinópolis, o mais populoso, tinha 24.203 habitantes em 2010 e Caiuá, o menos populoso, 5.03147.

Nível 5: constituído pelos municípios em que ao menos há produção agrícola do complexo e em muitos casos são espaços residenciais de trabalhadores. São 23 municípios: Anhumas, Caiabu, Emilianópolis, Estrela do Norte, Euclides da Cunha Paulista, Iepê, Indiana, Marabá Paulista, Nantes, Piquerobi, Pirapozinho, Presidente Bernardes, Presidente Epitácio, Presidente Venceslau, Rancharia, Regente Feijó, Ribeirão dos Índios, Rosana, Santo Expedito, Taciba e Tarabaí. Distinguem-se dos municípios de Nível 4 da região de Ribeirão Preto pelo fato de vários só passarem a registrar área colhida com cana-de-açúcar na década de 2000, o que não foi registrado nessa outra região de acordo com as informações da Produção Agrícola Municipal48.

Os municípios de Presidente Epitácio, Presidente Venceslau e Rancharia se distinguem nesse contexto pelo fato de serem o 2º, 3º e 4º municípios mais populosos da região em 2010, com respectivamente 41.301, 37.905 e 28.804 habitantes, atrás apenas de Presidente Prudente (207.449)49. Além disto, o REGIC 2007 (IBGE, 2008) os classifica como Centro de Zona B, caracterizados por possuírem uma área de influência maior do que o seu próprio território. Presidente Venceslau também se destaca enquanto espaço residencial de trabalhadores migrantes do CAI canavieiro regional, questão abordada na seção seguinte.

Nível 6: encontrado apenas nesta região, refere-se aos municípios que não registraram colheita de cana-de-açúcar ao longo da década de 200050. Dois municípios se encontram nesta situação: Alfredo Marcondes e Álvares Machado. Suas características demonstram sua escassa conexão com a dinâmica do CAI canavieiro regional.

O complexo conjunto de articulações materializado nas dinâmicas regionais e locais do CAI canavieiro, expressa as relações entre processos ocorridos nestas escalas e o que ocorre nacional e globalmente. Estas articulações são reveladas através dos movimentos das divisões espaciais do trabalho. Significa nesse contexto (re) valorizações de lugares e atividades, que assim têm transformadas seus papéis nos processo de acumulação (Massey, 1984; Brandão, 2007).

Verifica-se como questão fundamental durante a década de 2000 a ampliação dos limites das escalas decisórias. Historicamente a produção de açúcar e álcool esteve articulada ao Estado brasileiro (Veiga Filho e Ramos, 2006; BNDES/CGEE, 2008). Na atualidade empresas multinacionais, organismos e governos internacionais vêm se envolvendo nas relações do

47 www.ibge.gov.br – Acesso em 5 de janeiro de 2012.48 Disponível em: www.sidra.ibge.gov.br – Acesso em 5 de janeiro de 2012.49 www.ibge.gov.br – Acesso em 5 de janeiro de 2012.50 Disponível em: www.sidra.ibge.gov.br – Acesso em 5 de janeiro de 2012.

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complexo. Por isto, não surpreende a presença de capitais multinacionais em empresas brasileiras, a aquisição das mesmas por grupos internacionais, que assim passaram a marcar presença nas regiões produtoras. Desloca-se o poder decisório, que se distancia cada vez mais dos espaços da produção, a partir de hierarquias e hegemonias (Brandão, 2007), definidas por agentes de atuação global. Verificam-se desta maneira, expressões do processo de globalização, sobre o qual Giddens (2005, p. 61) aponta:

A globalização é muitas vezes retratada apenas como um fenômeno econômico. Muito disso se deve ao papel das corporações transnacionais (CTs), cujas operações massivas se expandem através de fronteiras nacionais, influenciando os processos de produção global e a distribuição internacional do trabalho.

A leitura marcadamente econômica do processo de globalização revela a importância da circulação de capitais e de sua influência nos processos desdobrados em escalas espaciais mais restritas. Porém, no âmbito das questões não abarcadas nesse retrato econômico estão fenômenos sociais, culturais, políticos, que se articulam ao econômico na produção de “configurações espaciais” (Harvey, 1990a). No contexto de articulações do CAI canavieiro nas regiões de Ribeirão Preto e Presidente Prudente, como corolário da circulação de capitais, se verifica a circulação de trabalhadores (Gaudemar, 1977; Harvey, 1990a), para atender as demandas de mão de obra em atividades como o trabalho agrícola no corte da cana. A seguir, são explorados os significados da circulação de trabalhadores, destacando especialmente a mobilidade espacial que tem as regiões consideradas como destinos na constituição de “territórios circulatórios” (Tarrius, 2000).

A mobilidade circular de trabalhadores e as articulações entre escalas espaciais

As regiões de Ribeirão Preto e Presidente Prudente constituem destinos no contexto dos “territórios circulatórios” (Tarrius, 2000), dos cortadores de cana. A mobilidade espacial constituinte desta territorialidade tem caráter compulsório (Alves, 2007), em função das condições de vida na origem (Silva, 1999), o que fundamenta o seu nível macro, mas também se vincula às possibilidades de ampliar recursos para múltiplos usos (Novaes, 2007), característica básica do seu nível micro.

A demanda por trabalhadores braçais é relevante nas atividades agrícolas do CAI canavieiro, combinando-se à valorização que trabalhadores originários de áreas pobres do país conferem a ocupações que recompensem diferencialmente o esforço físico (Novaes, op cit), expressos no pagamento por produtividade. As redes migratórias através de seus vários agentes (Silva, 1999), conectam demandas dos empresários e interesses dos trabalhadores, arregimentando mão de obra e dando suporte ao deslocamento para as áreas produtoras e ao estabelecimento no destino.

A divisão espacial do trabalho é marcante nas relações entre origens e destino através de contínuo movimento de valorização de lugares e atividades que se processa através das articulações entre múltiplas escalas espaciais (Massey, 1984; Harvey, 1990a; Brandão, 2007). As áreas de origem são marcadas pela inserção problemática à divisão do trabalho, em função de processos de estagnação ou de mudança, que transformam relações previamente estabelecidas (Durham, 1973; Singer, 1973b). Estas formas de inserção implicam na necessidade de buscar em outras regiões os recursos necessários à manutenção de pequenas atividades agrícolas ou para determinados formas específicas de consumo (Novaes, 2007).

Nas áreas de destino o movimento do capital busca a reprodução contínua de seu processo acumulativo (Harvey, 1990a; Brandão, 2007), valorizando lugares e atividades. A produção de

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açúcar e etanol, historicamente importante no contexto nacional, ganha novos interesses devido à participação do capital multinacional. Logo, regiões produtoras ganham status de áreas preferenciais para novos ou reiterados investimentos. A circulação de capitais que beneficia o CAI canavieiro, amplia áreas produtoras e quantidades produzidas, o que amplia a demanda por trabalhadores.

Conectam-se áreas de origem e áreas de destino, as primeiras como “fontes” de mão de obra e as últimas como lócus de investimentos em atividades que as demandam. Como as dinâmicas do CAI canavieiro são caracterizadas por este conjunto de articulações entre processos multi-escalares, a mobilidade espacial de trabalhadores agrícolas também se vincula a estas. Além de conectar áreas de origem e destino, tal deslocamento ocorre de maneira relacionada a processos de decisão de investimentos, estratégias quanto à mão de obra, apoio governamental e outros, que na maioria das vezes acontecem em lugares cada vez mais distantes.

Compreendendo a rede urbana como a forma espacial que condiciona e reflete a divisão espacial do trabalho nas mais variadas escalas espaciais (Corrêa, 1988), e constantando a importância que as articulações multi-escalares do CAI canavieiro têm nas dinâmicas das regiões de Ribeirão Preto e Presidente Prudente, verifica-se a relevância da mobilidade espacial dos trabalhadores também nas relações que reiteram ou transformam as redes urbanas. Duas questões são marcantes com relação a essa mobilidade, especialmente em termos comparativos: municípios que são espaços de residência; e, os deslocamentos intra-regionais de trabalhadores.

Diversos municípios das duas regiões são espaços de residência de trabalhadores agrícolas do CAI canavieiro, sejam migrantes com perfil circulatório ou pessoas que migraram e se estabeleceram, assim como trabalhadores das próprias regiões. Certamente há migrantes nas cidades de maior porte populacional como Ribeirão Preto e Presidente Prudente, porém a maior parte dos migrantes reside nas pequenas cidades das regiões (Silva, 1999).

O trabalho agrícola leva à necessidade do deslocamento dos trabalhadores desde seus espaços residenciais até as áreas de cultivo de cana-de-açúcar. Autores como Mello (1976) e Silva (1999) destacam esta questão, especialmente problemática quando o transporte era realizado por meio de caminhões “adaptados”. Questão relevante na atualidade é o fato de a maioria dos empregados trabalhar em várias áreas de cultivo ao longo da safra, já que os fornecedores das usinas muita vezes estão separados espacialmente. João, cortador de cana maranhense entrevistado em Guariba, relatou ter haver trabalhado muitas semanas em regiões distantes do município. A empresa para a qual trabalha, a Central Energética Moreno em Luiz Antônio, tem outra unidade em Monte Aprazível (SP), por isso em vários momentos da safra foi transportado para as áreas de colheita próximas a este último município, o que significava quatro horas de viagem na ida e mais quatro na volta.

As duas questões acima elencadas ressaltam o caráter mais visível das expressões da mobilidade espacial dos trabalhadores agrícolas do CAI canavieiro. Porém, seus significados no âmbito das redes urbanas regionais são mais amplos, especialmente porque envolvem diferenças importantes entre as regiões consideradas.

Os pequenos municípios da região de Ribeirão Preto constituem a longo tempo espaços residenciais dos trabalhadores agrícolas do CAI canavieiro, o que lhes confere uma especificidade enquanto cidades-dormitório no contexto das articulações regionais. Seus papéis são definidos e refletem na criação de um mercado imobiliário específico para os migrantes. João, trabalhador agrícola residente em Guariba e diretor do Sindicato dos Empregados Rurais do município, relatou a existência de diversos proprietários de terrenos que constroem unidades habitacionais para alugar para os migrantes, situação que verifica também em outros municípios da região como Pradópolis, Barrinha, Dumont, entre outros.

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Os municípios da região de Presidente Prudente não têm esse papel tão definido, mesmo que em alguns deles ocorra o mesmo tipo de situação. Ressaltando esse fato, verificou-se que os trabalhadores entrevistados no município de Presidente Venceslau, região de Presidente Prudente, estavam residindo em hotéis do município. Conforme relato do presidente do Sindicato dos Empregados Rurais de Presidente Venceslau e Marabá Paulista, anteriormente os trabalhadores mineiros contratados pela DECASA estavam residindo em um alojamento na periferia de Presidente Venceslau. A empresa, após ter sido autuada em virtude das más condições do local, preferiu na safra seguinte a instalação em pequenos hotéis na região central da cidade.

Verifica-se na situação observada uma dimensão de um conjunto de articulações do CAI canavieiro de caráter menos estruturado na região de Presidente Prudente: a necessidade das empresas terem se responsabilizar diretamente pelo alojamento. Logicamente isto também ocorre na região de Ribeirão Preto (Silva, 1999 e 2007), porém de maneira menos sistemática e em barracões localizados na periferia das cidades ou nas proximidades dos canaviais, dificilmente em hotéis.

O alojamento em hotéis de Presidente Venceslau permite destacar outra questão relevante: Caiuá, o município em que está sediada a DECASA (responsável pelo alojamento de trabalhadores), tinha apenas 5.031 habitantes em 201051, não tendo estrutura de hospedagem para os trabalhadores, logo eles foram instalados no município vizinho. A proximidade com Caiuá faz de Presidente Venceslau município de alojamento dos trabalhadores da DECASA, relação que não necessariamente ocorre na região de Ribeirão Preto.

Os municípios desta última são espaços de residência de migrantes que tem regiões ou municípios de origem semelhantes, porém não necessariamente os lugares de trabalho são os mesmos. Os seis trabalhadores migrantes entrevistados em Guariba são de três municípios: três de Timbiras (MA), dois de Piritiba (BA) e um de Teresina (PI). Entre os maranhenses, João e José trabalhavam na Central Energética Moreno em Luiz Antônio e Luís na Usina Bonfim do grupo RAÍZEN em Guariba. O baiano Gustavo trabalhava na Usina São Carlos (LDC-SEV) em Jaboticabal, enquanto seu conterrâneo Adailton na Usina Bonfim. O piauiense Antônio também trabalhava na Central Energética Moreno.

Entre os trabalhadores residentes em Guariba também há variações, pois enquanto João e Vicente trabalhavam na Usina Bonfim no próprio município, Celestina trabalhava na Usina São Carlos em Jaboticabal. Já os quatro trabalhadores entrevistados em Presidente Venceslau, provenientes de dois municípios do Jequitinhonha (Capelinha e Minas Novas) e um do Norte mineiro (Espinosa), trabalhavam todos na DECASA em Caiuá.

Verifica-se que enquanto Guariba registra uma quantidade igual de regiões de origem e lugares de trabalho, Presidente Venceslau concentrou trabalhadores de duas regiões de um mesmo estado (Minas Gerais, sendo limítrofes inclusive), em uma unidade produtiva. Este é um indicativo de que Guariba registra concentrações de origens específicas de trabalhadores, ressaltadas inclusive pelos próprios entrevistados. No entanto, os lugares de trabalho são diversificados, estando relacionados às conexões dos migrantes com outros cortadores, agenciadores, turmeiros (Silva, 1999). Sendo este processo que expressa a organização social da migração através das redes (Massey, 1986), assim como as relações assimétricas presentes nestas (Krissman, 2005). A organização em redes e as relações assimétricas também foram verificadas entre os trabalhadores migrantes entrevistados em Presidente Prudente, porém há um direcionamento para o trabalho na mesma empresa.

51 www.ibge.gov.br – Acesso em 6 de janeiro de 2012.

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O caráter específico de determinadas origens em determinados lugares de destino foi ressaltado pelo padre coordenador da Pastoral dos Migrantes em Guariba ao apontar que, além da predominância de maranhenses no próprio município, há concentrações de baianos em Sertãozinho, paraibanos em Pradópolis, demonstrando sua relevância regional. Distintamente, a região de Presidente Prudente registra concentrações em função das unidades produtivas, com os trabalhadores residentes em determinadas localidades trabalhando nas mesmas empresas.

O fato de as regiões serem distintas quanto à quantidade de cidades-dormitório, implica em que os fluxos de trabalhadores que a partir destas se deslocam para diversas áreas de cultivo de diferentes empresas em todo o âmbito da região de Ribeirão Preto também se coloque como questão relevante. Verificam-se maiores intensidade e diversidade de direções dos fluxos cotidianos.

Ainda no contexto das distinções entre as duas regiões produtoras em termos dos “territórios circulatórios” (Tarrius, 2000), se faz relevante destacar uma consideração do padre referido acima de que “Guariba é um entreposto de trabalhadores para o corte de cana”. A maioria dos migrantes que conseguem trabalho nas usinas do estado de São Paulo se desloca com contratos acertados desde a origem, porém há um deslocamento de pessoas mais amplo. Muitos trabalhadores sem contrato, das mesmas origens, também se dirigem às regiões produtoras em São Paulo, buscando obter trabalho diretamente no lugar de destino. Em Guariba, muitos destes são agenciados para cortar cana em outras regiões produtoras, como o Triângulo Mineiro, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

Através desta característica o município de Guariba, de reconhecida importância no contexto da mobilidade de trabalhadores relacionada ao CAI canavieiro (Silva, 1999; Alves, 2007; Vetorassi, 2007 e 2010), que em função disto é sede da Pastoral dos Migrantes, registra características que apontam sua relevância mais ampla no contexto de articulações do CAI canavieiro. Constituindo um entreposto de trabalhadores, as atividades nesse centro urbano possibilitam a obtenção de trabalhadores por empresários que atuam em regiões produtoras distantes.

As características acima elencadas não apenas destacam a mobilidade espacial dos trabalhadores agrícolas como constituinte fundamental das articulações regionais do CAI canavieiro, como também a vinculam às relações estruturadoras das regiões. Verifica-se que as relações multi-escalares (Massey, 1984; Brandão, 2007), que articulam as dinâmicas do CAI canavieiro na atualidade também estão vinculadas aos deslocamentos de trabalhadores.

O caráter mais estruturado dos processos relacionados à mobilidade espacial de trabalhadores no contexto da região de Ribeirão Preto se relaciona à própria constituição mais antiga desta como território referencial do CAI canavieiro. As posições, hierarquias, especializações e diversificações contextualizam redes urbanas mais consolidadas em termos das relações do CAI canavieiro, sendo que também as expressões da mobilidade espacial de trabalhadores as definem. Cidades-dormitórios, intensos e variados deslocamentos cotidianos, entrepostos de mão de obra articulam relações que ultrapassam os limites regionais, demonstrando assim que também a mobilidade espacial caracteriza papéis na rede urbana regional. Verifica-se assim, mais um aspecto que aponta relações mais densas na região de Ribeirão Preto quando compara àquela de Presidente Prudente.

A circulação de capitais envolvida nas articulações regionais tem como corolário a circulação do trabalho (Gaudemar, 1977; Harvey, 1990a). Trabalhadores buscando a ampliação de seus recursos para diversos usos (Novaes, 2007), não havendo possibilidade de realizá-la na origem em função das condições de problemáticas de inserção à divisão do trabalho (baseado em Durham, 1973 e Singer, 1973b), se engajam compulsoriamente (Alves, 2007) na mobilidade para o trabalho no corte da cana. Este movimento constitui no período

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recente, parte fundamental dos “territórios circulatórios” (Tarrius, 2000) dos grupos sociais envolvidos.

O aumento da demanda por trabalhadores migrantes em decorrência da expansão do CAI canavieiro durante a década se contrapõe à redução dos postos de trabalho agrícolas em função da mecanização (Silva, 2004; Ramos, 2007). Resta uma questão: quais serão os desdobramentos das trajetórias destes migrantes no âmbito de suas territorializações? De difícil resposta, cobra em curto prazo resposta dos formuladores e implementadores de políticas sociais e regionais, não deixando estas pessoas à mercê de um capital com capacidade de circulação cada vez mais ampla, que em determinados momentos requer esta mão de obra para o trabalho em atividades de pouca qualificação e em condições problemáticas.

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A produção da cana de açúcar no estado de São Paulo foi crescente nas últimas décadas, chegando à marca extraordinária de 7,7 bilhões de litros de álcool por ano (Perosa et al, 2013) que representa mais de 75% da oferta nacional de etanol.

Nas várias regiões canavieiras do Estado registra-se o aumento da área plantada, oscilações de produtividade, mecanização e incorporação de tecnologias e mão de obra. Particularmente para os municípios mais envolvidos, para o bem ou para o mal, esse processo pode ter repercussões relevantes na economia local, na organização social e política, no arranjo urbano, na oferta de empregos, migrações inter e intra regionais, transformações na demanda por serviços urbanos de limpeza, saneamento, educação e saúde.

Diversos autores têm discutido as tendências da produção canavieira e suas implicações econômicas, ambientais e no emprego no Brasil, em especial nas fronteiras agrícolas da Região Centro Oeste e no noroeste paulista (Perosa et al., 2013; Dantas, 2012; Camelini, 2011; Lima e Garcia, 2011). Se por um lado o aumento da produção agrícola repercute no crescimento econômico dos municípios, por outro, especialmente no caso da cana de açúcar, tal expansão pode gerar efeitos perversos, nem sempre previstos, relacionados à centralização do tipo de cultura, das atividades econômicas e dos serviços locais. Ao analisarem a evolução da produção de cana-de-açúcar no estado de Goiás, Lima e Garcia (2011) ressaltam:

“Cercados pelas grandes lavouras de cana, nesses municípios, vários serviços desapareceram de suas estruturas econômicas. Lojas de serviços mecânicos, postos de gasolinas e demais serviços para os produtores rurais, pouco a pouco foram fechados, principalmente devido à autossuficiência das usinas e à substituição do produtor rural pela figura do arrendatário da usina. O que equivale dizer que as regiões goianas estão perdendo o efeito multiplicador dos investimentos, porquanto a maior parte da renda gerada nos municípios não permanece na região” (Lima e Garcia; 2011: 376).

SAúDE NAS REGIÕES CANAVIEIRAS DO ESTADO DE SãO PAUlO EM TEMPOS RECENTES DE ExPANSãO

DA INDúSTRIA SUCROAlCOOlEIRA

Tirza AidarMaria Rita Donalísio

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Outros estudos exploram os possíveis impactos sobre a segurança alimentar e o avanço sobre áreas de preservação ambiental. Há evidências da substituição do cultivo de outros alimentos, - como grãos, hortifrutigranjeiros ou gado - pela cana de açúcar, em grandes extensões de terra no estado de São Paulo, ora para responder a políticas federais de incentivo ao álcool ora em resposta ao mercado do açúcar (Andrea et al, 2013).

Ao analisar o caso específico do município de Quirinópolis em Goiás, Camelini (2011) lista alguns problemas econômicos, sociais e ambientais que podem surgir, a partir de grandes empreendimentos relacionados à produção de etanol. “Acidentes, poluição, prejuízos ao solo e à biodiversidade devido às queimadas, contaminação do ar e de águas com pesticidas, etc.”1, são alguns aspectos impactantes aos serviços públicos locais, em especial para municípios pequenos. Nestes casos, a migração sazonal ou de longa duração pode representar mudanças expressivas do contingente populacional, assim como em sua composição sociodemográfica, cultural ou política, que, por sua vez, reverberam na demanda e necessidade de transformações dos serviços de saúde, habitação, educação e segurança pública.

Especificamente em relação à saúde, alguns autores estudam a associação entre a poluição do ar gerada pelas queimadas em época de colheita da cana de açúcar e a incidência de doenças respiratórias (Furtado et al, 2012; Meneghim et al, 2012). Furtado et al (2012) encontram associação estatisticamente significativa ao compararem séries de indicadores anuais da produção de cana de açúcar e de internações hospitalares devido à problemas do sistema respiratório para um painel de municípios brasileiros no período de 1996 a 2007. Outro aspecto bastante explorado na literatura é a saúde do trabalhador da colheita da cana. Alves (2006) estuda os efeitos perversos da organização do trabalho dos cortadores de cana, baseada no pagamento por produção, refletidos na alta incidência de mortalidade e incapacidades precoces.

Por outro lado, o crescente processo de mecanização da colheita da cana, apontada por Perosa et al.(2013), pode se apresentar como uma grande evolução mitigadora dos possíveis efeitos nocivos à saúde das populações diretamente envolvidas com a forte expansão do setor na última década.

Esse trabalho tem como objetivo geral explorar indicadores de saúde que possam apontar mudanças no perfil epidemiológico da população das regiões canavieiras, eventualmente associadas com o processo de expansão da cana. Certamente não é possível estabelecer relações diretas e imediatas entre os dados de morbidade e mortalidade e os indicadores de produção e ocupação do espaço com a cana de açúcar, mas considera-se que a avaliação de aspectos gerais da saúde, possa contribuir com a compreensão do contexto social das 4 regiões RG. Isto posto, as perguntas que nortearam a construção desse artigo são: ao longo das últimas décadas, a tendência da mortalidade e morbidade devido a acidentes, violência e às doenças respiratórias das populações residentes nas 4 RG indicam alguma relação com as tendências do cultivo da cana e produção de álcool e açúcar? Existem diferenciais específicos entre as 4 RG e a média estadual?

Foram analisadas as quatro regiões de governo, de importância estratégica para a agroindústria canavieira no estado de São Paulo: Piracicaba e Ribeirão Preto são regiões de governo onde a cultura da cana é tradicional e mais antiga: Ribeirão Preto com 25 municípios, a maior produtora de cana do Estado e Piracicaba com 10 municípios, com impossibilidade de expansão para novas terras devido à sua declividade, fator desfavorável ao plantio. Nestas

1 Entrevista dada em 11/10/2011 - 10h28. “O Cerrado é o veio natural da expansão sucroenergética no Brasil”. http://envolverde.com.br/economia/entrevista-economia/o-cerrado-e-o-veio-natural-da-expansao-sucroenergetica-no-brasil/ - Consulta em 20/02/2013.

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regiões a área plantada com cana é marcadamente superior às demais culturas. Entre 1990 e 2010, observou-se a expansão da cana-de-açúcar para a região oeste do Estado, particularmente as regiões de Araçatuba e Presidente Prudente apresentaram altas taxas de crescimento da área plantada e da produtividade (Perosa et tal. 2013)

Material e Métodos

Para a construção dos indicadores de mortalidade foram obtidos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e de Autorização de Internações Hospitalares (AIH), levantadas no sito do DATASUS, Ministério da Saúde. A população estimada pela Fundação SEADE. Os indicadores de saúde considerados são:

• Taxa de mortalidade infantil (óbitos de menores de um ano para cada 1000 nascidos vivos): é um indicador clássico da literatura utilizado para comparar condições de vida e saúde de diferentes regiões e a qualidade do atendimento obstétrico (mãe filho) da região.

• Taxa de mortalidade entre homens 15-49 (óbitos de homens entre 15 e 49 anos para cada 100 mil homens residentes), indica a probabilidade de morte entre homens adultos jovens em idade produtiva captando principalmente os riscos de acidentes e violências.

• Taxa de mortalidade em mulheres de 15 a 49 anos (óbitos de mulheres entre 15 e 49 anos para cada 100 mil mulheres da mesma idade residente) indica a probabilidade de morte em mulheres adultas jovens em idade fértil, captando principalmente os riscos de acidentes, violências e problemas obstétricos.

• Taxas de mortalidade e de morbidade por doenças respiratórias, segundo grupos etários específicos (nº mortes, ou de internações, por doenças respiratórias por habitantes). As taxas de mortalidade, ou de morbidade, específicas por causa respiratória, neste caso, procuram captar mesmo que indiretamente algum impacto da queima da cana de açúcar próxima a áreas urbanas, usual em décadas passadas nas regiões de cultivo intenso.

• Taxa de mortalidade e morbidade por causas externas, segundo grupos etários específicos (nº mortes, ou internações, por causas externas), desdobradas em dois grandes grupos de causa: as agressões (homicídios e demais agressões perpetradas com armas de fogo) e os acidentes de transportes. Em regiões onde ocorre ocupação rápida por grupos populacionais, (trabalhadores sazonais), sem que o município ofereça condições para receber tal contingente, pode resultar em aumento de conflitos em áreas tradicionalmente pacatas, no que diz respeito á criminalidade em geral, como no tráfego urbano e rural.

As taxas foram construídas com recortes de faixas etárias, procurando evidenciar riscos nos grupos mais expostos.

Os períodos analisados, a depender do indicador e fonte de dados disponíveis, cobrem 30 anos, de 1980 a 2010, procurando cobrir períodos decenais visualização da série temporal em anos de evidente expansão da cana de açúcar no Estado.

É importante ressaltar que a morbidade se refere a morbidade hospitalar, considerando as internações efetuadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

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Resultados

A taxa de mortalidade infantil no estado de São Paulo passou de 21,6 a 11,6 óbitos de menores de um ano de idade para cada 1000 nascidos vivos (NV) entre 1996 e 2010, uma queda de 46% em 14 anos. Com algum diferencial na trajetória da tendência, o mesmo patamar foi alcançado pelas quatro regiões, em torno de 11 óbitos por mil NV (Tabela 1). A TMI na RG de Araçatuba era a mais baixa, em torno de 15 óbitos por 1000 NV em 1996, mas só retoma tendência de queda a partir do ano 2000, apresentando a mais baixa taxa anual de decréscimo de 1,8% ao longo do período. A RG de Presidente Prudente segue com a segunda menor intensidade de diminuição da TMI no período, em especial entre 1996 e 2000. Vale ressaltar que enquanto os ganhos são maiores entre 2000 e 2010 para as duas RG consideradas “áreas de expansão”, na média do estado e para as duas “regiões tradicionais” as intensidades na queda da mortalidade infantil é o dobro no período anterior, entre 1996 e 2000. Este resultado pode ser um indicativo de que a expansão da cana nessas regiões não se associou à piora da saúde materno infantil, pelo contrário, observou-se importante decréscimo do risco de morrer no primeiro ano de vida.

Para o segundo indicador, relacionado à saúde das mulheres jovens e adultas em idade produtiva e reprodutiva, de 15 a 49 anos, os diferenciais são maiores tanto em relação aos níveis da mortalidade, quanto à tendência nos dois períodos analisados. Em 2010 a região de Ribeirão Preto apresentou a menor taxa, de 99,0 mortes para cada 100 mil mulheres, e Araçatuba a mais alta, 126,8 mortes por 100 mil mulheres (Tabela 1). Araçatuba, assim como a RG de Piracicaba, apresentou ligeiro aumento da taxa na última década. Dentre as quatro RG, Presidente Prudente foi aquela com menor intensidade na diminuição da mortalidade feminina em idade produtiva e reprodutiva no período, com a menor taxa em 1996, e a segunda mais baixa em 2010, perdendo somente para a RG de Ribeirão Preto. Nesse sentido, vale destacar que Ribeirão Preto, além de ser uma das regiões mais ricas e desenvolvidas do Estado, conta com rede ambulatorial e hospitalar com recursos de alta complexidade para atendimento obstétrico e neonatal, podendo ter impacto na prevenção de mortes por causas maternas na região.

O terceiro indicador analisado, a taxa de mortalidade entre homens jovens e adultos de 15 a 49 anos, aponta especialmente para questões relacionadas aos acidentes e violências. Os resultados mostram que as áreas de expansão não apresentam a mesma intensidade de diminuição que a média estadual (-3,2% anualmente entre 1996 e 2010), ou mesmo das duas regiões tradicionais, e alcançam as maiores taxas no final do período – de 348,5 e 277,8 óbitos para cada 100 mil homens de 15 a 49 anos, nas RG de Araçatuba e Presidente Prudente, respectivamente. Assim, há indícios que embora as mudanças socioeconômicas relacionadas à expansão da cana de açúcar não estejam afetando diretamente a saúde da população em geral, podem estar potencializando, ou até mesmo criando, situações de conflitos e de violência.

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TABElA 1. Taxa de mortalidade infantil (TMI), taxa de mortalidade entre mulheres e homens de 15 a 49 anos, área plantada com cana de açúcar, e variação anual por período Estado de São Paulo e Regiões de Gorno selecionadas, 1996, 2000 e 2010

Região de Governo 1996 2000 2010Variação anual (%)

1996/2000 2000/2010

TMI (óbitos de menores de 1 ano por 1000 nascidos vivos)Estado SP 21,6 17,3 11,6 -5,0 -3,3Piracicaba 21,5 15,8 11,1 -6,6 -3,0Ribeirão Preto 18,1 13,3 10,4 -6,6 -2,1Araçatuba 15,1 16,4 11,3 2,3 -3,1Presidente Prudente 19,9 18,3 12,0 -2,0 -3,5

Taxa de Mortalidade de Mulheres entre 15 e 49 (por 100 mil)Estado SP 164,1 137,7 114,5 -4,0 -1,7Piracicaba 156,5 115,9 123,8 -6,5 0,7Ribeirão Preto 154,4 127,6 99,0 -4,3 -2,2Araçatuba 182,2 119,3 126,8 -8,6 0,6Presidente Prudente 138,3 120,2 117,1 -3,3 -0,3

Taxa de Mortalidade de Homens entre 15 e 49 (por 100 mil)Estado SP 497,7 436,1 277,3 -3,1 -3,6Piracicaba 419,2 365,5 273,8 -3,2 -2,5Ribeirão Preto 506,3 418,4 264,7 -4,3 -3,7Araçatuba 415,0 336,6 348,5 -4,7 0,4Presidente Prudente 348,4 312,3 277,5 -2,6 -1,1

Área plantada com cana de açucar (milhões de hectares)Estado SP 2.493.180 2.484.790 5.071.205 -0,1 10,4Piracicaba 135.470 120.253 164.102 -2,8 3,6Ribeirão Preto 382.944 387.053 470.640 0,3 2,2Araçatuba 122.590 146.212 391.189 4,8 16,8Presidente Prudente 54.561 60.926 250.973 2,9 31,2

Doenças respiratórias

No estado de São Paulo, o corte e distribuição da cana de açúcar ocorrem entre os meses de maio e novembro de cada ano, coincidindo com o período de baixas precipitações pluviométricas e piores condições de dispersão dos poluentes atmosféricos. Com isso, aumentam as chances das queimadas terem impactos negativos sobre a saúde respiratória das pessoas que vivem nas regiões canavieiras, especialmente para os idosos, crianças e pessoas com problemas respiratórios (Meneghim et al 2012; Ribeiro, 2008).

Desta forma, buscando explorar possíveis associações entre a expansão do cultivo da cana e a saúde da população residente, são apresentadas a seguir análise de séries históricas da mortalidade (Figura 1) e de morbidade (Figuras 2 e 3) devido a problemas respiratórios para as quatro RG, com enfoque nas crianças e os idosos.

A Figura 1 apresenta tendências das taxas de mortalidade muito semelhantes. Para as crianças com até quatro anos de idade, os indicadores convergem a valores bem abaixo da média estadual. Em 2010 as taxas variaram de 7 a 14 óbitos para cada 100 mil habitantes em Presidente Prudente e Piracicaba, respectivamente. Já para população em idades mais avançadas, 60 a 69 anos e 70 anos ou mais, a tendência geral é de aumento na década de 1980 e certa estabilização entre 1990 e 2000. Entre os idosos mais jovens, de 60 e 69 anos, a mortalidade volta a diminuir na última década, tanto na média estadual como para as quatro RG analisadas. Entre os mais idosos, com 70 anos ou mais, as curvas de tendência são mais heterogêneas. Neste caso, após a

Fonte: DATASUS e IBGE.

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elevação dos índices entre 1980 e 1990, há diminuição constante na RG de Ribeirão Preto, ao contrário da média estadual e das demais RG para onde as taxas calculadas revelam aumento sutil e constante nas duas últimas décadas do século XX.

FIGURA 1. Taxa de mortalidade por doenças respiratórias, segundo grandes grupos etários. Estado de São Paulo e Regiões de Governo selecionadas, 1980 a 2010

FONTE: DATASUS/MS e Censos demográficos. Tabulações especiais NEPO/Unicamp.

Quanto à morbidade hospitalar, as tendências das taxas anuais apontam para uma melhora generalizada entre 1995 e 2012, independentemente da RG e grupo etário avaliado (Figura 2). Entretanto, vale ressaltar algumas especificidades.

Para as crianças, as taxas de morbidade se elevam a partir de 2004, em especial nas RG de Presidente Prudente e Piracicaba, e voltam a cair após 2010. O mesmo padrão é observado entre os idosos, para os quais as taxas de internações também apresentam período de elevação entre 2007 e 2010, especialmente nas RG de Presidente Prudente e Ribeirão Preto.

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Como já mencionado, e esperado, os resultados apontam maiores incidências de episódios de problemas respiratórios graves, nos meses de outono e inverno. Para as crianças há aumento significativo no número de internações nos meses de abril e maio, com única exceção na RG de Piracicaba, onde o pior período é mais longo, indo de maio a julho (Figuras 3 e 4).

Ao contrário da média estadual e das demais regiões analisadas, na RG de Presidente Prudente há indícios de recrudescimento das condições respiratórias entre os adultos e idosos de julho a outubro, ou seja, cobrindo também parte da primavera.

FIGURA 2. Taxa anual de internações (por 10 mil habitantes) por doenças no aparelho respiratório, por grandes grupos etários. Estado de São Paulo e quatro Regiões de Governo, 1995 a 2012

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Acidentes e Violência

A mortalidade por homicídio é bastante elevada no estado de São Paulo nos anos de 1991 e 2000, atingindo aproximadamente 125 e 175 mortes para cada 100 mil jovens de 15 a 24 anos, respectivamente. No ano de 2000, as taxas também são impressionantes em Ribeirão Preto, que atinge a cifra de 146 óbitos para cada 100 mil jovens (Figura 5). Nas demais regiões, as taxas não ultrapassam 70 por 100 mil, embora apresentem também elevações relevantes.

FIGURA 3. Média mensal de internações por doenças no aparelho respiratório, segundo grandes grupos etários. Quatro Regiões de Governo, 1995 a 2012

FIGURA 4. Média mensal de internações por doenças no aparelho respiratório, segundo grandes grupos etários. Quatro Regiões de Governo, 1995 a 2012

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Em Presidente Prudente, entre os mais jovens o crescimento das taxas de mortes por homicídios é constante de 1980 a 2000; já para as RG de Araçatuba e Ribeirão Preto verifica-se aumento significativo na década de 1990. Vale ressaltar que em 2010 as taxas convergem para valores baixos, próximos aos observados em 1980.

FIGURA 5. Taxa de mortalidade por homicídio (por 100 mil). Homens de 15 a 44 anos. Estado de São Paulo e Regiões de Governo selecionadas, 1980 a 2010

Ao contrário das doenças respiratórias, a morbidade devido às agressões é bastante inferior quando comparadas à mortalidade. Esse padrão indica que as consequências das lesões causados em situações de conflito são, em sua grande maioria, fatais quando homens jovens são as vítimas. Como os casos são muito poucos, qualquer interpretação das tendências registradas deve ser considerada com muito cuidado (Figura 6). De maneira geral, entre 1998 e 2005 há diminuição das taxas para a RG de Ribeirão Preto, Presidente Prudente e Araçatuba, e certa estabilidade na RG de Piracicaba e na média do estado. A partir de 2006 observa-se reversão da tendência, com crescimento da morbidade por agressões em Presidente Prudente e Araçatuba.

FIGURA 6: Taxa anual de internações (por 10 mil homens de 15 a 24 anos) por agressões. Estado de São Paulo e Regiões de Governo selecionadas, 1995 a 2012

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Finalmente, foram avaliadas as tendências da mortalidade e morbidade consequentes dos acidentes de trânsito (Figuras 7 e 8). Os resultados evidenciam significativa piora da segurança no trânsito na primeira década do século XXI, especialmente entre 2007 e 2012 no caso das internações devido a acidentes nas RG de Presidente Prudente, Araçatuba e Ribeirão Preto.

FIGURA 7. Taxa de mortalidade por acidentes de transportes (por 100 mil). Homens de 15 a 44 anos. Estado de São Paulo e Regiões de Governo selecionadas, 1980 a 2010

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FIGURA 8. Taxa anual de internações (por 10 mil homens de 15 a 24 anos) por acidentes de transportes. Estado de São Paulo e Regiões de Governo selecionadas, 1995 a 2012

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As análises desenvolvidas apontam para diversos aspectos relativos às especificidades de cada região estudada e suscitam algumas discussões relevantes. Como o esperado, os resultados não forneçam evidências sobre associação direta entre os indicadores de saúde e a evolução do cultivo da cana e expansão da indústria sucroalcooleira nas regiões consideradas, reforçando a necessidade de pesquisas futuras que considerem o contexto histórico de formação, da dinâmica socioeconômica e demográfica, entre os municípios que compõem cada RG.

Nesse sentido, vale destacar que as RG de Piracicaba e Ribeirão Preto, além de tradicionais quanto à cultura da cana de açúcar, se colocam entre as regiões mais desenvolvidas e dinâmicas do Estado de São Paulo. Assim, é de se esperar que a recente expansão da indústria sucroalcooleira no Estado resulte em menor impacto nas condições de vida, em geral, e da saúde, em particular, da população residente nestas regiões.

Como exemplo, enquanto a participação da migração no crescimento total da população é sempre positiva, entre 3% e 5% para as RG de Ribeirão Preto e Piracicaba, para a RG de Araçatuba o saldo migratório tem impacto crescente, de 0,2%, 1,8% e 3,9% nas décadas de 1980, 1990 e 2000, respectivamente. Por outro lado, em Presidente Prudente, também área de expansão, a participação da migração foi negativa em todos os períodos, chegando a -4% entre 2000 e 2010, justamente no período de maior expansão da cultura da cana de açúcar (31% de crescimento - Tabela 1).

O Quadro 1 abaixo, com os coeficiente de correlação de Pearson entre as tendências da produção de cana de açúcar com os indicadores de saúde selecionados, corroboram e resumem os resultados alcançados. Com associação positiva relevante, destacam-se:

• A mortalidade devido às causas externas e acidentes de transportes para as RG de Araçatuba e Presidente Prudente;

• A morbidade hospitalar, entre jovens, devido aos acidentes de transportes, com única exceção para a RG de Piracicaba.

• A morbidade hospitalar por problemas respiratórios entre crianças na RG de Piracicaba;

QUADRO 1: Coeficiente de correlação de Pearson entre a produção de cana de açúcar (hectares colhidos) e os indicadores de saúde, por período e regiões de governo selecionadas. Estado de São Paulo, 1990 a 2010

Indicadores

1990 a 2010 2000 a 2010

Araçatuba PiracicabaPresidente Prudente

Ribeirão Preto

Araçatuba PiracicabaPresidente Prudente

Ribeirão Preto

Taxas de mortalidade População Jovem (15 a 34 anos) -0,72 -0,48 -0,59 -0,71 -0,76 -0,65 -0,52 -0,65Mulheres em idade fertil (15 a 49 anos) -0,41 -0,26 -0,74 -0,72 -0,31 -0,16 -0,64 -0,57Mortalidade Infantil -0,65 -0,50 -0,65 -0,78 -0,39 -0,68 -0,70 -0,73Agressões 0,20 -0,39 -0,46 -0,25 -0,73 -0,49 -0,63 -0,67Acidentes de Transportes 0,23 0,05 0,13 -0,49 0,53 0,02 0,70 0,26Causas Externas 0,42 -0,30 0,31 -0,26 -0,22 -0,36 0,54 -0,43Taxas de Morbidade (1995 a 2010) Problemas respiratórios (0 a 4 anos) -0,73 0,81 -0,53 -0,59 -0,60 0,83 -0,37 -0,36Problemas respiratórios (60 a 69 anos) -0,73 -0,69 -0,61 -0,59 -0,60 -0,84 -0,48 -0,32 Problemas respiratórios (70 anos ou mais) -0,62 -0,67 -0,61 -0,56 -0,49 -0,73 -0,47 -0,21 Agressões (15 a 24 anos) -0,48 -0,45 -0,10 -0,71 -0,29 -0,37 0,32 -0,67Acidentes de Trânsportes (15 a 24 anos) -0,01 -0,28 0,72 0,59 0,30 -0,13 0,79 0,73

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Portanto, as medidas de associação corroboram com o entendimento de que, embora as mudanças na dinâmica socioeconômicas relacionadas à expansão da cana de açúcar e atividades relacionadas não impactem negativamente, ou diretamente, as condições de saúde da população em geral, estas podem potencializar conflitos e situações de insegurança, em especial em regiões menores, ou menos dinâmicas como Araçatuba e Presidente Prudente.

Por último, chamam a atenção as evidências de associação da quantidade de cana colhida e a morbidade hospitalar por doenças respiratórias entre as crianças na RG de Piracicaba (Quadro 1), que também apresenta aumento significativo no número de internações de maio a julho (Figura 4). Por um lado, tal resultado pode ser surpreendente dado o processo avançado de mecanização da plantação e colheita da cana em todo o Estado. Porém, por outro lado é resultado esperado frente a dificuldade de implementação da mecanização em regiões com altos índices de declividade como em Piracicaba.

Arbex et al (2004) e Lopes & Ribeiro (2006) também encontraram associação significativa entre o números de visitas hospitalares e a quantidade de poluição em Araraquara (SP) e na região de Bauru. Como afirmam os autores, é preciso cautela ao construir associações diretas nestes casos, já que vários outros fatores contribuem para a piora da qualidade do ar durante a safra de cana além da queimada, tais como maior movimentação de caminhões e máquinas e poeira das estradas.

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O último quartel do século XX marcou novos questionamentos aos estudos rurais, nos quais as discussões em torno da crise do modelo produtivista ocupavam apenas parte do debate. De um lado, os teóricos da urbanização completa – dentre os quais Favareto (2007b) destaca Lefebvre – preconizavam o fim da especificidade rural mediante o movimento envolvente da sociedade urbana. Do lado extremo, Kayser (1972 apud FAVARETO, 2007b), apoiando-se na evidência empírica de crescimento demográfico de algumas regiões europeias e americanas, apontava o renascimento dos espaços rurais, agora integrados de forma completar à dinâmica das cidades.

Ao discutir essas duas versões, Veiga (2005 apud FAVARETO, 2007b, p.181) oferece uma terceira explicação: “as mudanças por que vem passando o rural contemporâneo não dão lugar nem ao fim do rural, como em Lefebvre, nem a um renascimento, como em Kayser, mas diferente de ambos, ensejam a emergência de uma nova ruralidade”. Na mesma linha de raciocínio, Wanderley (2000, p.128) exprime “uma outra leitura das semelhanças e aproximações entre o meio rural e o meio urbano” que supere as formas tradicionais da dicotomia campo/cidade, definidas a partir de uma visão setorial da relação.

Segundo a autora, a despeito dos levantamentos censitários de grande parte dos países industrializados estimarem a redução absoluta das populações rurais tradicionais – àquelas cuja sobrevivência depende basicamente da produção de bens primários –, isso ocorre ao mesmo tempo em que outros habitantes são incorporados nesses espaços, atores sociais responsáveis por conferir uma nova dinâmica e sentido ao rural contemporâneo. Assim, Wanderley (2000) salienta a necessidade de apreendermos o rural como um produto histórico. Em sua análise, a autora privilegia os espaços rurais em sua multiplicidade de formas e relações com o mundo

NOVAS áREAS DE ExPANSãO DA CANA-DE-AçúCAR NO OESTE PAUlISTA:

DO AGRáRIO AO TERRITóRIO DA PRODUçãO INTERNACIONAl DE commodities*

Natália Belmonte Demétrio

* Este estudo compõe parte do capítulo 3 da Dissertação de Mestrado em Demografia, intitulada População e dinâmica econômica na Região de Governo de Jales: o outro rural do oeste paulista. IFCH/UNICAMP, 2013.

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urbano e o conjunto da sociedade. Em suas palavras, a atualidade “redefine, sem anular, as questões referentes à relação campo/cidade, ao lugar da agricultura na sociedade, à importância social cultural e política da sociedade local” (WANDERLEY, 2000, p.89). Portanto, o rural permanece como “uma categoria do mundo social (…). Por ela, é possível compreender a sociedade, classificar e distinguir as pessoas e as coisas e construir uma representação do mundo social em torno do espaço e do tempo” (WANDERLEY, 2000, p.130).

Wanderley (2000) discrimina dois principais atores sociais da ruralidade contemporânea: os novos habitantes dos espaços rurais e às políticas voltadas ao desenvolvimento local/territorial. Com relação aos primeiros, a autora menciona, sobretudo, profissionais liberais e idosos em busca de amenidades e lazer, agentes de um processo de redefinição do rural reforçado pela “crise do modo de vida urbana” que, cada vez mais, faz com que o rural seja visto “como um bem coletivo, (…) lugar de moradia de boa qualidade” (WANDERLEY, 2000, p.100). Face a essas novas demandas, o rural deixa de ser o lugar exclusivo da produção, para se tornar também um espaço de consumo, voltado “principalmente para as atividades relacionadas às funções de residência e de lazer, que vão desde as formas de turismo rural, até a ocupação do campo por meio de residências permanentes e temporárias” (WANDERLEY, 2000, p.100).

No tocante às políticas de promoção do desenvolvimento local, a autora considera que a pressão pelo uso sustentável dos recursos naturais; bem como a urgência de se combater a pobreza rural – cuja incidência mesmo entre os países desenvolvidos é superior à urbana –, levou a um reordenamento institucional, organizado agora no

reconhecimento político da necessidade de integração aos processos gerais do desenvolvimento nacional e macrorregional, dos espaços e das populações, marginalizados ou excluídos, por meio da valorização dos recursos naturais, sociais e culturais de cada território, sejam eles ou não associados às atividades agrícolas. Seus objetivos são definidos em torno de três princípios: aproveitar as oportunidades econômicas, assegurar o bem estar das populações rurais e salvaguardar o patrimônio sociocultural das regiões rurais (WANDERELY, 2000, p.116).

Essa nova abordagem do desenvolvimento rural escamoteia a questão da produtividade para prezar por “um território e uma sociedade que devem imperiosamente viver tanto quanto produzir” (WANDERLEY, 2000, p.116). Assim, são alvos desses programas os espaços rurais onde, a despeito da baixa produtividade agrícola e da insatisfatória remuneração do agricultor, se identifica “a sobrevivência a longo prazo de certas funções ambientais valorizadas pelas sociedades” (WANDERLEY, 2000, p.117). A valorização da identidade local funciona, desse modo, como um alicerce a um novo projeto para o rural. Nesse contexto, a autora afirma ser cada vez mais frequente o desenvolvimento rural se dar por conta da exploração das “potencialidades de cada local, oferecendo à clientela produtos cuja qualidade é reconhecida e procurada, precisamente, pela vinculação que possui com a própria localidade” (WANDERLEY, 2000, p.119).

Além dos atores sociais discriminados por Wanderley (2000), Abramovay (2000) também destaca a centralidade da evolução dos meios de comunicação na desconstrução do isolamento característico da vida rural pretérita. Segundo o autor,

Viver no campo não é mais pertencer a um ‘povoado comunitário’ (…) com tudo o que isso comportava em termos de regras compartilhadas, de restrições coletivas, de memória comum e também de fechamento na lei de grupo. Agora existe uma mobilidade cotidiana, um rápido trânsito entre residência, trabalho, lazer, compras que permite o acesso a infra-estrutura e a serviços básicos da vida contemporânea (ABRAMOVAY, 2000, p.11-12).

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Para Favareto (2007a, p.31), a maior integração entre esses mercados, bem como a emergência de instituições preocupadas com a regulamentação das formas de uso e ocupação dos espaços rurais representam, “na verdade, a intensificação da longa evolução de um processo de racionalização do mundo rural”. Em uma perspectiva weberiana, o autor expõe a hipótese segundo a qual esse fenômeno envolve um crescente desencantamento das visões de mundo que, por sua vez, incide no solapamento das bases teóricas da ruralidade pretérita (FAVARETO, 2007a). A intensificação do processo de racionalização e desencantamento da vida rural na contemporaneidade corresponde, portanto, a “um dépassement do paradigma clássico de explicação do desenvolvimento rural”, cujo fundamento básico remetia a “uma visão eminentemente agrária e tradicional” (FAVARETO, 2007a, p.169). Como a passagem a seguir reforça,

nas raízes clássicas da teoria social, as possibilidades de compreensão dos fenômenos sociais se consolidaram, destacadamente, a partir de dois registros. Um, de viés econômico, onde as estruturas determinantes de desenvolvimento rural estão assentadas nos caracteres agrários destas sociedades. E outro, de viés cultural, no qual a tradição a oposição comunidade-sociedade é que adquire estatuo fundante em tais processos. [Entretanto] (…), as bases sociais destes dois pilares foram solapados com as mudanças na vida rural nas últimas décadas, esvaziando seu conteúdo explicativo (FAVARETO, 2007a, p.178).

O aprofundamento dessa visão de mundo ‘desencantada’ decorre de uma série de transformações da vida social, dentre as quais Favareto (2007a, p.184) destaca

uma crescente monetarização da vida econômica local, com tudo o que isso tem de correspondente em termos de introdução do cálculo e de impessoalidade; o acesso crescente a tecnologias como a meteorologia, que serviu para, no mínimo, dividir com o religioso as explicações sobre as manifestações do mundo natural; e a existência de conflitos e relações de dominação, cuja metabolização e encaminhamento por parte destas populações só poderia se dar no plano da religião ou da política.

O autor reforça ainda a influência da própria Revolução Verde nesse deslocamento do “sentido do mundo” que, por exigir maior domínio técnico sobre o tradicional trabalho rural, limitou o alcance dos “conhecimentos transmitidos de pai para filho” (FAVARETO, 2007a, p.185). À luz de tamanhas mudanças, o autor acredita que, de fato, nos dias de hoje,

o rural adquire um novo sentido, pois passa a ser um lugar onde é possível uma vida crescentemente conduzida e onde os conteúdos sociais que informam as estruturas cognitivas e os espaços dessa interação não obedecem mais aos signos de isolamento e das raízes agrárias, mas sim de uma maior aproximação entre o rural e o urbano, entre a natureza e sociedade (FAVARETO, 2007a, p.194).

A ruralidade contemporânea não encerra apenas uma alteração de suas bases teóricas. Também do ponto de vista empírico as instâncias definidoras de rural apresentam mudanças significativas. A incorporação dos novos habitantes acima descrita tem repercussão direta na economia desses espaços e no perfil demográfico de suas populações (FAVARETO, 2007a). Essas mudanças em nível empírico e teórico consolidam, de uma vez por todas, o fim de um tipo específico de rural no qual os aspectos agrários e setoriais ocupavam o centro do debate. Em outras palavras:

os processos sociais subjacente àquilo que a literatura das ciências sociais aplicadas vem chamando por nova ruralidade trouxeram consigo uma erosão das bases empíricas que estavam na raiz do paradigma clássico de explicação do desenvolvimento rural (…). A relação entre sociedade e natureza, que encerra um primeiro traço distintivo da ruralidade, é objeto de um deslocamento em que as formas de uso social dos recursos naturais passam do privilégio à produção de

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bens primários a uma multiplicidade de possibilidades em que se destacam aquelas relativas à valorização e ao aproveitamento das amenidades naturais, à conservação da biodiversidade e à utilização de fontes renováveis de energia. As relações de proximidade, segundo traço distintivo da ruralidade, também são alvo de um deslocamento: a relativa homogeneidade que marcava os espaços rurais dá lugar a uma crescente heterogeneização e um certo esgarçamento dos laços de solidariedade que eram a marca da ruralidade pretérita. A relação com as cidades, último traço distinto, deixa de se basear na exportação de produtos primários para dar origem a tramas territoriais complexas e multifacetadas, com diferentes mecanismos de composição entre os dois polos, agora baseados em novas formas de integração entre os mercados de trabalho, de produtos físicos e serviços e de bens simbólicos. De exportadora de recursos como bens materiais e trabalho, os territórios rurais passam a ser atrativos de novas populações e de rendas urbanas. Em suma, desaparece todo o sentido em tratar o rural exclusivamente como o oposto do urbano, em proclamar seu desaparecimento, ou em resumi-lo a apenas uma de suas dimensões: o agrário (FAVARETO, 2007b, p.184-185).

O abandono aos pressupostos setoriais nos leva a uma abordagem territorial de rural, a uma análise cuja “escala necessariamente remete ao conceito de região e que obriga o seu reexame” (FAVARETO, 2007a, p.30). A partir de uma perspectiva histórico-estrutural, Abramovay (2000, p.22) considera que o território,

mais que uma simples base física para as relações entre indivíduos e empresas, possui um tecido social, uma organização completa feita por laços que vão muito além de seus atributos naturais, dos custos de transportes e de comunicações. Um território representa uma trama de relações com raízes históricas, configurações políticas e identidades que desempenham um papel ainda pouco conhecido no próprio desenvolvimento econômico.

O autor ainda continua:

[territórios] não são entidades dadas, de uma vez por todas, por qualquer tipo de mão mágica ou de dotação natural. Eles são o resultado de formas específicas de interação social, da capacidade dos indivíduos, das empresas e das organizações locais em promover ligações dinâmicas, capazes de valorizar seus conhecimentos, suas tradições e a confiança que foram capazes, historicamente, de construir (ABRAMOVAY, 2000, p.22).

De forma semelhante ao pensamento de Abramovay (2000), Favareto (2007a) declara que as características intrínsecas a cada território definem certas possibilidades de desenvolvimento rural. Segundo o autor, o conceito de desenvolvimento tem de ser entendido sob um aspecto não normativo, isto é, devemos tratá-lo “não como um desejo, utopia ou ilusão, pelos conteúdos expressos num ‘dever ser’ (…), mas sim como evolução de configurações determinadas, analisando as interdependências entre estruturas sociais, meio ambiente e instituições” (FAVARETO, 2007a, p.158). O autor distingue, assim, três fatores essenciais a ser considerado nos estudos sobre desenvolvimento rural: o dinamismo gerado a partir da vitalidade dos espaços urbanos próximos; a incidência de políticas sociais; e um dinamismo próprio de determinados espaços rurais, cuja explicação remete às características históricas de cada território. Dessa forma, Favareto (2007a, p.193) encara a emergência da nova ruralidade como uma possibilidade histórica que

não foi resultado exclusivo da introdução unilateral ou exógena de nenhuma norma ou sanção, mas sim da evolução destas configurações historicamente determinadas, em cuja trajetória houve um crescente processo de racionalização, permitindo que, nestes termos mesmo, a um só tempo ecológicos, históricos e racionais, se constituíssem as estruturas sociais e as instituições necessárias para tanto.

A diversificação em termos econômicos e sociais dos espaços rurais não se trata, portanto, de um processo linear, nem tampouco tem contribuído à sua homogeneização crescente. Ao

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contrário, a heterogeneidade é uma marca candente da nova ruralidade (FAVARETO, 2007a). Prova disso é o caso da América Latina. Nesses países, tradicionais exportadores de bens primários, o processo de ressignificação do rural tem oportunidades de desenvolvimento muito mais restritas e fragmentárias que as partilhadas pelas nações capitalistas centrais. Embora alguns de nossos territórios rurais tenham conseguido fazê-lo, entre nós, as possibilidades de um novo projeto de desenvolvimento rural foram seriamente debilitadas com a Década Perdida, a crise da dívida externa dos anos 1980, os ajustes estruturais que levaram ao abandono das políticas específicas de desenvolvimento e ao incremento das exportações de commodities (FAVARETO, 2007a).

Diante de tamanhas adversidades, ao falar do novo rural brasileiro, Silva (1999) destaca a necessidade de levarmos em consideração quatro subconjuntos: o agrobusiness; uma agricultura de base rudimentar (os ‘sem-sem’, como o autor convencionou chamar); o rural das atividades não-agrícolas ligadas à moradia, lazer, indústria e à prestação de serviços; e, por fim, as “novas” atividades agrícolas, localizadas em nichos específicos de mercado, como a piscicultura, a criação de animais exóticos, a produção de legumes e verduras integrada às redes de supermercado e fast-food, cultivo de flores e mudas ornamentais, fruticultura de mesa, etc. Embora o novo rural teorizado por Silva (1999) seja mais amplo, ao referirmos a ele temos a intenção de destacar a importância desses dois últimos grupos por compreenderem dinâmicas que, efetivamente, são inéditas.

Silva (1999) usa o termo “novas” entre aspas pelo fato dessas atividades serem, em verdade, seculares no país. No entanto, até há pouco tempo, não representavam valor econômico. “Eram atividades de ‘fundo de quintal’ ou hobbies pessoais que foram transformados em importantes alternativas de emprego e renda em anos recentes” (SILVA, 1999, p.91). Embora antigas, em décadas passadas, elas tinham “apenas valor de uso e não valor de troca” (SILVA, 1999, p.101). Todavia, o acirramento da competição capitalista fez surgir novos hábitos de consumo, segmentos de mercado inteiramente novos (HARVEY, 1992). Esse fenômeno repercutiu na formação de outros espaços de reprodução do capital no meio rural brasileiro, articulados a partir da associação entre rural e meio ambiente, da valorização das paisagens e costumes locais (SILVA, 1999). Nos termos desse autor: “É como se houvesse uma busca incessante dos capitais no sentido de converter em mercadorias todos os valores de uso, o que leva à criação de novos mercados e novas necessidades” (SILVA, 1999, p.101). Ou seja, a despeito de seculares, essas atividades

foram recriadas não apenas com nova roupagem, mas também com conteúdo novo: são, no fundo, serviços pessoais e auxiliares da produção que foram agregados às tradicionais cadeias produtivas agroindustriais, criando novo espaço para a emergência de pequenos e grandes empreendimentos no longo caminho que hoje vai do produtor rural ao consumidor final (SILVA, 1999, p. 101).

De acordo com Silva (1999), apenas levando-se em consideração a emergência desse novo rural que conseguimos compreender a evolução do emprego no setor primário ao longo dos anos 1990 em São Paulo que, apesar de toda mecanização, manteve-se relativamente estável. Para o autor, as “novas” atividades agrícolas constituíram, em muitos casos, a ‘salvação da lavoura’ face à crise da agricultura brasileira da última década do século XX, período

marcado pelo “desmanche” dos instrumentos de política agrícola (garantia de preços mínimos, estoques reguladores, redução do crédito agropecuário) promovido pelo governo Collor, juntamente com a significativa queda nos recursos (gastos) públicos destinados à agricultura (infra-estrutura, pesquisa agropecuária, assistência técnica, etc.). Além disso, houve uma abrupta abertura comercial, que trouxe sérios problemas pra a agricultura nacional, na maioria das vezes impossibilitada de competir com produtos internacionais fortemente subsidiados nos seus países de origem (SILVA, 1999, p.79-80).

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De fato, parte do rural paulista conseguiu compensar o mau desempenho das atividades agrícolas tradicionais com a formação de nichos de mercado. Esse é o caso principalmente das regiões rurais próximas aos espaços metropolitanos e de aglomerações urbanas do Sudeste (PINTO, 2006). Nesses contextos, o dinamismo gerado pela vitalidade das grandes cidades do entorno criou as condições necessárias ao processo de ressignificação do rural descritos por Wanderley (2000). Mesmo Silva (1999) reconhece que a diversificação econômica nesses espaços rurais é resultado do esforço dos “pequenos produtores para se inserirem nos novos mercados locais que se abrem” (SILVA, 1999, p.102).

A RG de Jales, por sua vez, localizada no extremo Noroeste do Estado e formada por uma série de pequenos municípios historicamente dependentes das atividades agrícolas tradicionais, não teve as mesmas possibilidades históricas de reparar as perdas decorrentes da crise da agricultura brasileira com as “novas” atividades agrícolas. Dessa forma, nos perguntamos: como a reestruturação produtiva de fins do século passado tem afetado as regiões não beneficiadas pela interiorização do desenvolvimento?

Nesses espaços, a necessidade de ampliar a exportação de commodities primárias para equilibrar nosso balanço de pagamentos, sobrecarregado com o aumento das importações decorrente da abertura econômica (CANO, 2011), reforçou o caráter agrícola da região. No entanto, diferente de outros tempos, quando os principais produtos da região eram arroz, feijão, mandioca, algodão, milho e café, hoje em dia, observamos o significativo aumento na produção de laranja, banana, borracha e, em especial, da cana-de-açúcar (Tabela 1).

TABElA 1. Produção (em toneladas) de alguns dos principais produtos agrícolas. Região de Governo de Jales - Estado de São Paulo. 1995, 2000, 2005 e 2010

Produtos agrícolas 1995 2000 2005 2010

Arroz 3.529 1.866 193 109

Feijão 2.281 3.214 964 12

Mandioca 8.368 8.119 3.756 1.604

Café 2.048 1.576 3.038 690

Algodão 16.768 5.596 14.120 -

Milhão 59.391 35.790 25.706 25.177

Banana 1.387 14.828 11.363 30.728

Borracha (Látex) 283 1087 1834 4626

Cana-de-Açúcar 62.440 43.200 98.037 2.536.935

Laranja 300.116 317.257 304.939 433.932

Fonte: Fundação SEADE. Informações dos Municípios Paulistas. Disponível em: http://www.seade.gov.br/produtos/imp. Acesso 18/01/13.

Dessa forma, observamos a conformação de pelo menos dois rurais com características bastante diferentes no Estado de São de Paulo: um, na porção Sudeste, marcado pelas “novas” atividades descritas por Silva (1999); e outro, na parte Oeste, no qual a difusão das commodities é o que chama atenção. Como o próprio Silva (1999, p. 103) admite,

as “novas” atividades ganham impulso a partir da dinâmica que tem a ver mais com as demandas específicas de grupos de consumidores de média e alta renda dos grandes centros urbanos do país. Nesse sentido, as “novas” atividades, sejam elas agrícolas ou não, significam nada mais nada menos que a emergência de formas de produção “pós-fordistas” (…) que estão se desenvolvendo no rural brasileiro, distintas das nossas tradicionais commodities dirigidas aos mercados agropecuários nacionais e internacionais.

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Isso não significa, contudo, que o rural do Oeste Paulista não registre o crescimento das atividades não-agrícolas. Como o trabalho de Caiado e Santos (2003) indica, algumas indústrias tem se instalado no perímetro rural dos municípios dessa região. Todavia, de acordo com Silva (1999), são principalmente as indústrias ditas tradicionais, sujas ou ainda decadentes que têm procurado ‘refúgio’ no rural brasileiro, pelo fato desse espaço contar com uma força-de-trabalho mais barata e não sindicalizada, bem como um menor rigor na fiscalização de crimes ambientais. O estudo de Caiado e Santos (2003) aponta também a existência de loteamentos e grandes equipamentos de lazer no rural da porção Oeste do Estado, ainda que esses empreendimentos estejam concentrados nas áreas próximas às aglomerações urbanas do Sudeste. Entretanto, acreditamos que, nos territórios paulistas de ocupação tardia, onde verificamos o predomínio de pequenos municípios historicamente dependentes das atividades agrícolas tradicionais, uma visão de desenvolvimento rural baseada na valorização de seus recursos naturais depende muito mais de iniciativas do poder público.

Segundo Favareto (2007a), seja por pressão de organizações da sociedade civil, ou por influências de pesquisas acadêmicas, de agências internacionais, fundos de financiamento e organismos multilaterais (como a FAO, o Banco Mundial, a Cepal, etc.), uma “‘nova’ visão de desenvolvimento rural se instituiu com força suficiente para reorientar o discurso e a desenho das políticas e programas formulados com este fim” (FAVARETO, 2007a, p.141). Nesse contexto, surge também no Brasil uma série de projetos de desenvolvimento rural orientados por uma perspectiva territorial. O principal deles, segundo o autor trata-se do Pronaf (Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar), criado no início da década de 1990, por conta das críticas ao modelo produtivista de modernização da agricultura. Temos ainda o Pronat (Programa Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais), originário do desmembramento da linha de infraestrutura do Pronaf. Abramovay (2000), por sua vez, menciona a criação de uma série de consórcios municipais de desenvolvimento rural, os quais – mesmo que de forma precária – tratam-se de iniciativas locais voltadas à incorporação do meio natural como um valor a ser preservado, e “não como um obstáculo que o progresso agrícola deve remover” (ABRAMOVAY, 2000, p.9).

No caso do Estado de São Paulo, são inúmeros os programas voltados ao desenvolvimento sustentável ou influenciados por uma perspectiva territorial. Para citar apenas alguns, podemos destacar os vários títulos de estâncias concedidos a uma série de municípios1; o Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas2; a criação dos Conselhos Municipais e Regionais de Desenvolvimento Rural, articulados em parceria com a CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral); o Projeto Município Verde Azul3; além de inúmeros consórcios e inciativas de prefeituras em apoio à agricultura familiar. Muitos desses projetos beneficiam vários municípios da RG de Jales. No entanto, haja vista as raízes históricas dessa região, acreditamos que, em linhas gerais,

o que parece estar ocorrendo é uma incorporação ‘por adição’ dos novos temas, onde sob nova roupagem, velhos valores e práticas continuam a dar os parâmetros para a atuação dos agentes sociais, coletivos e individuais, estabelecendo aquilo que a literatura em economia institucional chama por dependência de percurso (FAVARETO, 2007a, p.141).

Ressaltamos, portanto, que o aproveitamento para fins comerciais da “história local, da produção local, do modo como as coisas um dia foram feitas” (HARVEY, 1992, p.273) também

1 Ver: http://www.turismo.sp.gov.br/dade/estancias.html. Acesso 11/11/2012.2 Ver: http://www.cati.sp.gov.br/new/projetosprogramas. Acesso 11/11/2012. 3 Ver: http://www.ambiente.sp.gov.br/municipioverdeazul. Acesso 11/11/2012.

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ocorre no Oeste Paulista. De acordo com esse autor, quanto mais internacionalizada a economia de um determinado território, maior será a tendência de que as identidades locais sejam distorcias, falseadas ou romantizadas pelo mercado. Afinal, “se ninguém ‘conhece o seu lugar’ nesse mutante mundo-colagem, como é possível elaborar e sustentar uma ordem social segura?” (HARVEY, 1992, p.272). E Harvey (1992, p.308) ainda continua: “Para onde quer que vá o capitalismo, o seu aparato ilusório, seus fetichismos e o seu sistema de espelhos não demoram a acompanhá-lo”. Todavia, esse processo de ressignificação da identidade local tem limites “fixados pelas condições historicamente situadas de sua produção” (HARVEY, 1992, p.308).

A nosso ver, enquanto as “novas” atividades de Silva (1999), sejam elas agrícolas ou não, tratam-se dos principais atores sociais no processo de ressignificação do rural na porção Sudeste de São Paulo; na RG de Jales, são principalmente as commodities que emprestam novas características a esses espaços. Essa diferença também tem repercussões quanto ao modo como os territórios rurais de cada região relacionam-se com suas respectivas cidades. No novo rural de Silva (1999), a expansão das atividades não-agrícolas traz consigo a expansão de bens e serviços antes considerados exclusivos do urbano, como energia elétrica, captação e tratamento de esgoto, coleta de lixo, transporte, etc. Nesses locais, “está cada vez mais difícil delimitar o que é rural e o que é urbano”, sendo que ambos os espaços só podem ser entendidos – do ponto de vista espacial – pela existência de um continuum rural/urbano (SILVA, 1999, p.1).

Já no outro rural do Oeste Paulista, assistimos redesenho da relação rural/urbana, por meio da qual enquanto seus espaços rurais respondem cada vez mais às demandas do mercado internacional, seus territórios urbanos voltam-se ao suprimento de bens e serviços elementares à população local. Nesse contexto, salvo algumas exceções, os serviços acima descritos permanecem como padrão de conforto urbano, reforçando as diferenças espaciais entre esses dois territórios.

Esse contraste na forma de ocupação dos espaços urbanos e rurais não pode ser interpretado, entretanto, como expressão de uma independência ou autonomia. Ao contrário, tal como Castells (1983) e Singer (1973) colocam, mesmo atualmente, a relação rural/urbana tem de ser encarada como uma via de mão-dupla, na qual o urbano sobrevive à custa do excedente alimentar do rural que, por sua vez, carece dos bens e serviços oferecidos pelos espaços urbanos. Contudo, os ‘mecanismos de desencaixe’ (GIDDENS, 1991 apud BAENINGER, 2012) ao qual nos referimos remete à natureza da dinâmica econômica que rege esses dois territórios: se o rural abre-se também para o global; o urbano parece voltar-se ao local compondo articulações regionais delimitadas. Entendemos que essa desconexão na lógica de reprodução econômica desses espaços têm repercussões diferenciadas para o adensamento e complexidade da rede urbana regional em comparação com as formas que estruturaram as regiões mais dinâmicas do Estado de São Paulo. Os “mecanismos de desencaixe” (GIDDENS, 1991 apud BAENINGER, 2012) da contemporaneidade têm efeitos em todas as esferas da vida social, e não apenas no âmbito das relações rurais/urbanas. Do ponto de vista da construção das cidades, as repercussões ‘desconcertantes’ ou ‘desconstrutivas’ resultado da compressão do tempo-espaço (HARVEY, 1992) interligam os mais diferentes lugares, fazendo com que “espaços bem diferentes parecem decair uns nos outros, mais ou menos da mesma forma como as mercadorias do mundo são agregadas no supermercado” (HARVEY, 1992, p.271). No âmbito dos processos de redistribuição espacial da população, os desencaixes são expressos de distintas formas em diferentes escalas (BAENINGER, 2012).

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Do conceitual ao operacional: as dificuldades metodológicas ao estudo das populações rurais

Desde pelo menos a década de 1970, as transformações ocorridas tanto no rural, como no urbano, animaram o debate em torno dos problemas de classificação de situação de domicílio resultantes de concepções engessadas dessas categorias, as quais “já não são suficientes para explicar os complexos processos socioeconômicos em curso no Estado de são Paulo” (CAIADO e SANTOS, 2003, p.115).

Nas regiões beneficiadas pelo processo de interiorização do desenvolvimento, a tendência à conurbação levou a formas inéditas de uso e ocupação dos espaços rurais do entorno metropolitano e de aglomerações urbanas, repercutindo na surpreendente recuperação das taxas de crescimento dessa população, principalmente no período 1991/2000 (BAENINGER, 1997; Tabela 2).

TABElA 2. Evolução da população rural segundo Regiões Administrativas - Estado de São Paulo. 1980, 1991, 2000 e 2010

Regiões Administrativas

1980 1991 2000 2010Taxa de crescimento

(em % a.a.)nº % nº % nº % nº % 1980/91 1991/2000 2000/2010

Região Metropolitana de São Paulo

402.583 14,20 332.731 14,63 758.476 31,13 224.857 13,42 -1,72 9,59 -11,45

R. A. de Registro 82.530 2,91 88.998 3,91 89.508 3,67 76.996 4,60 0,69 0,06 -1,49

R. A. de Santos 5.129 0,18 5.239 0,23 6.028 0,25 3.456 0,21 0,19 1,57 -5,41

R. A. de São José dos Campos

151.407 5,34 138.567 6,09 140.020 5,75 133.194 7,95 -0,80 0,12 -0,50

R. A. de Sorocaba 428.923 15,13 406.355 17,86 405.656 16,65 378.770 22,61 -0,49 -0,02 -0,68

R. A. de Campinas 532.007 18,77 438.819 19,29 385.863 15,84 318.262 19,00 -1,74 -1,42 -1,91

R. A. de Ribeirão Preto

76.938 2,71 59.767 2,63 38.996 1,60 30.946 1,85 -2,27 -4,63 -2,29

R. A. de Bauru 134.687 4,75 92.107 4,05 63.465 2,60 59.195 3,53 -3,40 -4,05 -0,69

R. A. de São José do Rio Preto

278.147 9,81 181.781 7,99 141.900 5,82 118.057 7,05 -3,79 -2,71 -1,82

R. A. de Araçatuba 122.103 4,31 82.587 3,63 61.512 2,52 57.860 3,45 -3,49 -3,22 -0,61

R. A. de Presidente Prudente

204.894 7,23 134.359 5,91 115.046 4,72 93.193 5,56 -3,76 -1,71 -2,08

R. A. de Marília 193.312 6,82 131.187 5,77 93.394 3,83 72.796 4,34 -3,46 -3,71 -2,46

R. A. Central 96.973 3,42 83.303 3,66 65.631 2,69 47.255 2,82 -1,37 -2,61 -3,23

R. A. de Barretos 55.060 1,94 43.518 1,91 31.828 1,31 22.651 1,35 -2,12 -3,42 -3,34

R. A. de Franca 69.705 2,46 55.750 2,45 39.051 1,60 37.989 2,27 -2,01 -3,88 -0,28

Estado de São Paulo

2.834.398 100,00 2.275.068 100,00 2.436.374 100,00 1.675.477 100,00 -1,98 0,76 -3,67

Fonte: Fundação SEADE. Informação dos Municípios Paulistas. Disponível em: http://www.

seade.gov.br/produtos/imp. Acesso 20/01/2013.

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Diante dessa evidência empírica, Rodrigues (2001) propõe-se a investigar as causas dessa reversão à tendência de esvaziamento população do rural nessas áreas. Embora reconheça a emergência das “novas” atividades referidas por Silva (1999) na dinamização da economia rural das regiões mais desenvolvidas, a autora acredita na hipótese de erro de classificação, problema por meio do qual áreas demarcadas pela legislação municipal como rurais passam a ser ocupadas do ponto de vista urbano (RODRIGUES, 2001). Essa hipótese é reiterada o se verificar a grande disparidade na taxa de crescimento da população rural da RMSP entre 1980/2010, muito provavelmente em função da reclassificação.

A fim de denunciar essa ‘falácia classificatória’, desde 1991, o IBGE passou a contar com uma maior desagregação da informação sobre situação de domicílio, “possibilitando que a análise dos dados pudesse ir além da simplificada dicotomia rural-urbana” (CUNHA, 2005, p.13). A partir de então, os setores censitários são classificados em três categorias de urbano e quatro situações de rural. No primeiro caso, distinguem-se as áreas urbanas normais, as urbanas não urbanizadas (aquelas legalmente definidas como urbanas, mas ocupadas com atividades agropecuárias) e o urbano isolado (setores não contíguos ao núcleo do município). Já no lado rural, definem-se os aglomerados rurais-extensão urbana (cuja distância deve ser inferior a 1 km do perímetro urbano), os aglomerados rurais isolados (povoados ou núcleos) e os setores rurais exclusive aglomerados (o rural tradicional) (IBGE, 1988 apud SILVA, 1999).

Como era de se esperar, os setores rural-extensão urbana tratam-se de um fenômeno típico das regiões metropolitanas e de aglomerações urbanas do Sudeste do Estado (Mapa 1). Na análise da população desse rural, além dos novos habitantes descritos por Wanderley (2000), Silva (1999, p.53) julga necessário considerar também a “demanda da população de baixa renda por terrenos para a autoconstrução de suas moradias em áreas situadas nas cercanias das cidades”. Desse modo, o crescimento das ocupações não-agrícolas no rural brasileiro não pode ser associado apenas à paridade em termos de infraestrutura entre o rural e o urbano, tal como na Europa e nos EUA (WANDERLEY, 2000).

MAPA 1. unicípios que apresentam setores rural-extensão urbana Estado de São Paulo - 2010

Fonte: Fundação IBGE. Censo Demográfico 2010.

No tocante à distribuição dos setores rural-exclusive aglomerados – marca do rural do Oeste Paulista –, verifica-se a sua dispersão por todo o território estadual, ainda que o município de São Paulo concentre grande parte deles. Observa-se, também, que os poucos

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municípios onde não há setores rural-exclusive aglomerados encontram-se, em sua maioria, no entorno dessa cidade (Mapa 2).

Fonte: Fundação IBGE. Censo Demográfico

2010.

Fonte: Fundação IBGE. Censo Demográfico

2010.

MAPA 2. Municípios que apresentam setores rural-exclusive aglomerados Estado de São Paulo - 2010

O Mapa 3 aponta, por sua vez, o volume de população rural segundo município. Com exceção do Vale do Ribeira (uma das regiões mais pobres do Estado e que, não por coincidência, comporta significativo contingente de população rural), todos os outros municípios com população rural superior a 20 mil localizam-se em importantes aglomerações urbanas (Campinas, Sorocaba, São José dos Campos e Grande São Paulo). Ou seja, o problema de classificação está claramente inserido nesse contexto.

MAPA 3. Volume de população rural por município Estado de São Paulo - 2010

A análise do Mapa 3 e da Tabela 3 mostra ainda que a maioria dos 561 municípios paulistas com população rural inferior a 5 mil habitantes estão na porção Oeste e Norte do Estado. Na avaliação da população rural dessas localidades – grande parte delas situadas às margens dos eixos de desenvolvimento –, as principais limitações das fontes de dados censitários remetem

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às conotações políticas da definição de urbano e rural vigente no Brasil, problema em relação ao qual a inovação trazida pelo IBGE não é capaz de contornar (CUNHA, 2005). Nos termos desse autor, por ser uma prerrogativa dos municípios, essa classificação pode “não apenas variar de uma região para outra, como também dependem de injunções e interesses que, como se sabe, nem sempre obedecem a uma lógica racional ou funcional” (CUNHA, 2005, p.13). Em outras palavras, a “maior abertura das informações não resolveu o problema principal, que é de considerar urbana toda sede de município, independente de sua função, dimensão ou situação” (CAIADO e SANTOS, 2006, p.4). Essa discussão é também proposta por Veiga (2003), para quem as precárias definições brasileiras de urbano e rural, existentes desde 1938, permitem apreender como espaço urbano municípios de tamanho irrisório, simples aglomerações de agricultores.

População rural Número de municípios

Até 5.000 561

De 5.000 a 10.000 61

De 10.000 a 20.000 18

Mais de 20.000 5

TABElA 3. Número de municípios por volume de população rural Estado de São Paulo

Fonte: Fundação IBGE. Censo Demográfico 2010.

Na mesma perspectiva dos autores acima citados, Abramovay (2000) expõe o argumento segundo o qual a autoridade concedida às prefeituras em definir suas próprias áreas rurais e urbanas permite que, “desde que haja extensão de serviços públicos a um certo aglomerado populacional, ele tenderá a ser definido como urbano: é assim que, no Brasil, as sedes de distritos com centenas ou dezenas de casas são definidas como ‘urbanas’” (ABRAMOVAY, 2000, p.4). Como resultado, o rural tenderá a ser apreendido, a priore, pela carência, “o que não pode ser adequado sob qualquer ponto de vista” (ABRAMOVAY, 2000, p.4).

Para esse autor, o lugar institucional do rural vinculado à pobreza e ao subdesenvolvimento é, portanto, produto de nossas próprias definições oficias, as quais, de antemão, já o considera como uma “expressão, sempre mingada, do que vai restando das concentrações urbanas” (ABRAMOVAY, 2000, p.3). Isto é,

Há um vício na maneira como se definem as áreas rurais no Brasil, que contribui decisivamente para que sejam assimiladas automaticamente a atraso, carência de serviços e falta de cidadania. A definição do IBGE (…) é de natureza residual: as áreas rurais são aquelas que se encontram fora dos limites das cidades, cujo estabelecimento é prerrogativa das prefeituras municipais. O acesso à infra-estrutura e serviços básicos e um mínimo de adensamento são suficientes para que a população se torne urbana. Com isso, o meio rural corresponde aos remanescentes ainda não atingidos pelas cidades e sua emancipação social passa a ser vista – de maneira distorcida – como ‘urbanização do campo’ (ABRAMOVAY, 2000, p.2).

Além da definição do IBGE, Abramovay (2000) discorda também das classificações de rural e urbano segundo a distribuição da PEA por setor de atividade e com base em um mínimo populacional. Com relação a primeira, os limites desse recorte esbarram-se no crescimento das atividades não-agrícolas em muitos espaços rurais. Dessa forma, a “aplicação desse critério aboliria o espaço rural dos países desenvolvidos e faria com que seu peso fosse fortemente declinante nas nações em desenvolvimento” (ABRAMOVAY, p.5).

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Já em consideração às designações fundamentadas em um patamar populacional, as críticas do autor giram em torno do caráter arbitrário dessas demarcações – que nos países latino-americanos que adotam esse conceito varia entre 1.000 e 2.500 habitantes – e ao fato dessa abordagem não permitir que tratemos os espaços rurais à luz de sua dimensão espacial ou regional. Ou seja, esse parâmetro

nos diz que tal localidade é ou não rural – segundo os critérios estipulados –, mas não é capaz de indicar se existem regiões ou territórios mais ou menos rurais. Um aglomeração populacional de 25 mil habitantes cercada por pequenos povoados e distritos de 2 ou 3 mil habitantes será caracterizada – a justo título – como urbana, mas sem que se tenham instrumentos estatísticos que permitam perceber que ela está no meio de uma região que globalmente é rural (ABRAMOVAY, 2000, p.5-6).

Nesse sentido, a perspectiva territorial de rural é útil não apenas para as regiões mais desenvolvidas do país, onde grande parte da população rural dedica-se às atividades não-agrícolas, mas também

pode revelar dimensões inéditas das relações cidade-campo e sobretudo mostrar dinâmicas regionais em que as pequenas aglomerações urbanas dependem de seu entorno disperso para estabelecer contatos com a economia nacional e global, seja por meio da agricultura, seja por outras atividades (ABRAMOVAY, 2000, p.27).

O autor ainda continua:

O meio rural só pode ser compreendido em suas relações com as cidades, com as regiões metropolitanas e também com os pequenos centros em torno dos quais se organiza a vida local. É crucial o papel destes pequenos centros na dinamização das regiões rurais (ABRAMOVAY, 2000, p.27).

Dessa maneira, o conceito de ruralidade, ao destacar a dimensão espacial do rural, trata-se de um recurso teórico capaz de contornar os problemas decorrentes da classificação censitária. Assim, apesar de adotarmos as definições oficiais, julgamos que, tal como Abramovay (2000, p.27) afirma, o “importante não é apenas saber se um distrito censitário é rural ou urbano, mas qual a dinâmica de uma certa região, sem que a aglomeração seja isolada de seu entorno”.

Face às características da RG de Jales (predomínio de pequenos e micros municípios, ausência de grandes indústrias, rede de serviços precária, importância das atividades agropecuárias tradicionais), partimos do pressuposto de que esse território é globalmente rural. Por estarem inseridas nesse contexto e também por entreterem forte complementaridade com o tecido dos pequenos aglomerados que os cercam, seus principais centros urbanos regionais (Jales e Santa Fé do Sul) podem ser considerados como ‘cidades rurais’ (ABRAMOVAY, 2000).

População e dinâmica econômica na Região de Governo de Jales no século 21: entre o local e o global

Os atuais processos de redistribuição espacial da população na RG de Jales devem ser analisados levando-se em consideração dois fenômenos distintos: os historicamente construídos em nível local e nacional e àqueles decorrentes da inserção dessa região na dinâmica econômica mundial, via produção de commodities no século 21.

Segundo Baeninger (2012), o atual momento histórico, ao não mais ter como marco um processo nacional de industrialização, impõe limites aos enfoques clássicos, nos quais a ênfase recaia na relação migração e desenvolvimento. Para a autora, o deslocamento hoje existente

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entre as dinâmicas econômica e demográfica tem sua base na inserção do Brasil no cenário da economia internacional, processo cujas origens remontam à década de 1980 e se fortalece nos anos 2000.

Assim, na análise dos processos de redistribuição da população protagonizados pela região de Jales verificamos a manutenção de tendências historicamente construídas, bem como aquelas cujas causas remetem a peculiar forma de inserção desse espaço no âmbito da reestruturação produtiva. A primeira diz respeito tanto às perdas de população dessa região para os principais centros regionais da hinterlândia de São José do Rio Preto (Fernandópolis, Votuporanga e, em especial, o polo de São José do Rio Preto) (Tabela 4, Figura 2), como aos desdobramentos do processo de expansão da fronteira agrícola rumo ao Centro-Oeste e Norte do país (Tabela 5 e Figura 3 e 4). Esses fluxos podem ser considerados como expressões do ‘encaixe’ entre migração e urbanização, com raízes históricas explicadas pelo recurso teórico-metodológico dos tipos e etapas (BAENINGER, 2012).

Já os processos decorrentes da inserção dessa região na economia globalizada têm repercussões distintas em escalas distintas (BAENINGER, 2012). Em nível interestadual, acreditamos ser essa a causa da intensificação das trocas estabelecidas com os Estados do Nordeste (Tabela 5 e Figuras 3 e 4) (muito provavelmente em função da importância de trabalhadores nordestinos na colheita da cana e da laranja, dois dos principais produtos agrícolas dessa região). No contexto intraestadual, por sua vez, consideramos que esse fenômeno está relacionado com o incremento da imigração com origem nas cidades integradas pelo eixo de desenvolvimento estadual, que vai desde a metrópole de São Paulo, passa por Jundiaí, Campinas, Limeira, Rio Claro, Araraquara e se estende até Catanduva (Tabela 4 e Figura 1). Ainda no âmbito intraestadual, acreditamos que essa situação possa explicar, pelo menos em parte, o significativo contingente emigratório da RG de Jales para as RGs de Ribeirão Preto e São Carlos, regiões consideradas como as principais produtoras de cana e laranja do Estado de São Paulo (SEP, 2010; Tabela 6 e Figura 1). Todos esses fluxos expressam o ‘desencaixe’ entre dinâmica econômica e dinâmica demográfica e, para sua análise, a explicação pelos tipos e etapas já não é suficiente (BAENINGER, 2012).

Dessa forma, as trocas de população estabelecidas com os Estados do Nordeste podem ser encaradas como o resultado da forma como a RG de Jales tem se inserido no âmbito da dinâmica econômica internacional (via produção de commodities). Já os fluxos estabelecidos com os grandes polos industriais do Estado refletem, por sua vez, a maneira como esses espaços beneficiados pela industrialização enquadram-se na nova etapa de acumulação capitalista (BAENINGER, 2012). Nesse sentido, o modo pelo qual cada região é impactada pela reestruturação produtiva empresta novas e diferentes características ao processo de urbanização, aos movimentos migratórios e à reorganização da população no espaço (BAENINGER, 2012).

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TABElA 4. Volume de Emigração e Imigração Intraestadual e Índice de Eficácia Migratória (IEM)*. Região de Governo de Jales - Estado de São Paulo 1995/2000 e 2005/2010

Regiões1995/2000 2005/2010 IEM

(I-E)/(I+E)Emigrantes Imigrantes Trocas (I-E) Emigrantes Imigrantes Trocas (I-E) 1995/2000 2005/2010

Grande São Paulo 1.540 3.603 2.063 1.435 1.742 307 0,40 0,10Registro 0 0 0 6 3 -3 - -0,33Santos 92 123 31 112 78 -34 0,14 -0,18Caraguatatuba 13 9 -4 19 25 6 -0,18 0,14Cruzeiro 0 0 0 6 0 -6 - -1,00Guaratinguetá 0 0 0 0 0 0 - -São José dos Campos 75 5 -70 21 0 -21 -0,88 -1,00Taubaté 20 4 -16 22 0 -22 -0,67 -1,00Avaré 31 12 -19 14 13 -1 -0,44 -0,04Botucatu 0 0 0 3 5 2 - 0,25Itapetininga 23 30 7 0 0 0 0,13 -Itapeva 0 15 15 0 6 6 1,00 1,00Sorocaba 65 43 -22 95 38 -57 -0,20 -0,43Bragança Paulista 46 64 18 23 25 2 0,16 0,04Campinas 1.585 1.633 48 756 1.280 524 0,01 0,26Jundiaí 219 225 6 142 251 109 0,01 0,28Limeira 42 20 -22 24 90 66 -0,35 0,58Piracicaba 13 7 -6 22 0 -22 -0,30 -1,00Rio Claro 149 82 -67 70 87 17 -0,29 0,11São João da Boa Vista 29 6 -23 40 10 -30 -0,66 -0,60Araraquara 290 175 -115 111 149 38 -0,25 0,15Barretos 144 173 29 76 71 -5 0,09 -0,03Franca 33 44 11 64 46 -18 0,14 -0,16Ribeirão Preto 140 53 -87 243 121 -122 -0,45 -0,34São Carlos 114 10 -104 153 48 -105 -0,84 -0,52São Joaquim da Barra 0 25 25 4 1 -3 1,00 -0,60Bauru 222 49 -173 33 95 62 -0,64 0,48Jaú 30 0 -30 0 19 19 -1,00 1,00Lins 27 34 7 52 20 -32 0,11 -0,44Catanduva 297 76 -221 84 288 204 -0,59 0,55Fernandópolis 949 951 2 969 874 -95 0,00 -0,05Jales 5.154 5.154 0 7.807 7.807 0 0,00 0,00São José do Rio Preto 2.308 868 -1.440 1.399 777 -622 -0,45 -0,29Votuporanga 789 538 -251 445 371 -74 -0,19 -0,09Andradina 433 521 88 363 367 4 0,09 0,01Araçatuba 302 729 427 503 585 82 0,41 0,08Adamantina 0 46 46 21 26 5 1,00 0,11Dracena 38 58 20 23 17 -6 0,21 -0,15Presidente Prudente 148 45 -103 65 26 -39 -0,53 -0,43Assis 0 7 7 122 65 -57 1,00 -0,30Marília 110 0 -110 0 39 39 -1,00 1,00Ourinhos 0 0 0 0 5 5 - 1,00Tupã 9 11 2 26 10 -16 0,10 -0,44Total Estado de São Paulo 15.479 15.448 -31 15.373 15.480 107 0,00 0,00

Fonte: Para os dados referente ao período 1995/2000: Fundação IBGE. Para os dados

referentes ao período 2005/2010. Fundação IBGE. Censo Demográfico 2010.

*Nota: Os volumes pequenos podem apresentar distorções em função da expansão da amostra. No entanto, consideramos importante constá-los por

indicarem tendências migratórias.

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FIGURA 1. Direção dos fluxos imigratórios da RG de Jales com as demais regiões do Estado de São Paulo – 2005/2010

Fonte: Fundação IBGE. Censo Demográfico 2010.

Fonte: Fundação IBGE. Censo Demográfico 2010.

FIGURA 2. Direção dos fluxos emigratórios da RG de Jales com as demais regiões do Estado de São Paulo – 2005/2010

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TABElA 5. Volume de Emigração e Imigração Interestadual e Índice de Eficácia Migratória (IEM)*. Região de Governo de Jales - Estado de São Paulo 1995/2000 e 2005/2010

Ufs1995/2000 2005/2010 IEM

(I-E)/(I+E)Emigrantes Imigrantes Trocas (I-E) Emigrantes Imigrantes Trocas (I-E) 1995/2000 2000/2010

Rondônia 67 80 13 20 50 30 0,09 0,43Acre 0 0 0 0 0 0 - -Amazonas 0 0 0 48 3 -45 - -0,88Roraima 0 0 0 14 0 -14 - -1,00Pará 41 29 -12 20 80 60 -0,17 0,60Amapá 0 0 0 0 0 0 - -Tocantins 18 39 21 24 30 6 0,37 0,11Região Norte 126 148 22 126 163 37 0,08 0,13Maranhão 33 0 -33 14 131 117 -1,00 0,81Piuaí 0 18 18 26 43 17 1,00 0,25Ceará 13 61 48 59 5 -54 0,65 -0,84Rio Grande do Norte 0 37 37 2 0 -2 1,00 -1,00Paraíba 21 0 -21 0 41 41 -1,00 1,00Pernambuco 0 18 18 56 55 -1 1,00 -0,01Alagoas 0 100 100 0 60 60 1,00 1,00Sergipe 0 10 10 0 11 11 1,00 1,00Bahia 8 252 244 129 333 204 0,94 0,44Região Nordeste 75 496 421 286 679 393 0,74 0,41Minas Gerais 323 562 239 353 610 257 0,27 0,27Espírito Santos 0 12 12 8 12 4 1,00 0,20Rio de Janeiro 23 22 -1 18 44 26 -0,02 0,42Região Sudeste (exceto SP) 346 596 219 379 666 287 0,23 0,27Paraná 199 142 -57 207 183 -24 -0,17 -0,06Santa Catarina 59 57 -2 85 41 -44 -0,02 -0,35Rio Grande do Sul 20 24 4 10 0 -10 0,09 -1,00Região Sul 278 223 -55 302 224 -78 -0,11 -0,15Mato Grosso do Sul 784 907 123 1.375 1.131 -244 0,07 -0,10Mato Grosso 527 649 122 528 750 222 0,10 0,17Goiás 250 217 -33 269 202 -67 -0,07 -0,14Distrito Federal 0 8 8 61 18 -43 1,00 -0,54Região Centro-Oeste 1.561 1.781 220 2.233 2.101 -132 0,07 -0,03TOTAL BRASIL (exceto SP) 2.386 3.244 827 3.326 3.833 507 0,15 0,07

Fonte: Para os dados referente ao período 1995/2000: Fundação IBGE. Censo Demográfico 2000. Tabulações Especiais NEPO/UNICAMP. Para os dados

referentes ao período 2005/2010. Fundação IBGE. Censo Demográfico 2010.

*Nota: Os volumes pequenos podem apresentar distorções em função da expansão da amostra. No entanto, consideramos importante constá-los por

indicarem tendências migratórias.

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De acordo com Negri, Cano e Gonçalves (1988) e Kageyama (1987), as particularidades como cada território integra-se no circuito do capital está intimamente ligada à sua herança histórica, mais precisamente ao tempo de sua ocupação capitalista. É por isso que Baeninger (2012) afirma ser necessária a reconstrução do processo de urbanização e migração a partir dos tipos e etapas. Ainda que esse procedimento apresente, na atualidade, algumas limitações,

a reconstrução histórico-social do fenômeno migratório em seu tipo/etapa em diferentes espaços é que permitirá identificar as raízes das modalidades migratórias e suas especificidades e articulações na formação social e nas relações que estabelece em suas diferentes escalas, desde o local até o global (…). Os distintos contextos históricos, econômicos, sociais, demográficos e políticos serão as heranças para as diferentes manifestações, explicações e interpretações das migrações internas no Brasil no século 21 (BAENINGER, 2012, p.57).

Nas regiões beneficiadas pela industrialização – aquelas de ocupação mais antiga –, a reestruturação produtiva deu lugar à conformação de um mercado de trabalho extremamente competitivo e complexo que, ao absorver apenas os mais escolarizados e qualificados, transformou-se em um espaço de rotatividade para grande parte da população migrante (BAENINGER, 2012). À luz desse fenômeno que devemos entender os expressivos volumes emigratórios de Campinas, São Paulo, Jundiaí, Limeira Para a RG de Jales (Tabela 4 e Figura 1).

Por outro lado, nas regiões de ocupação tardia, não favorecidas pela desconcentração industrial, a inserção brasileira no mercado internacional significou a consolidação de uma agricultura pautada na produção de commodities e orientada pelos investimentos estrangeiros (CANO, 2011; BAENINGER, 2012). Em nível intrarregional, consideramos que as transformações na estrutura produtiva desencadeada pela expansão das commodities tem levado a formação de um excedente populacional de origem rural que – seja no mercado formal ou informal, nos espaços urbanos ou rurais – circula pelos municípios da região.

Julgamos que esses deslocamentos não se enquadram no conceito clássico sobre circularidade dos movimentos migratórios pelo fato desse aporte referir-se a “um excedente populacional com origem rural que circula por trabalhos sazonais ou temporários no lugar de destino” (ZELINSK, 1971 apud BAENINGER, 2012, p.81). No contexto ao qual nos reportamos, a distinção entre origem e destino perde o sentido, já que tratamos do mesmo território. Desse modo, o deslocamento da força de trabalho excedente de origem rural é também regional, pois são as transformações locais as responsáveis pela formação dessa população excedente.

FIGURA 3. Direção dos fluxos imigratórios para a RG de Jales com as demais UFs, 2005/2010

FIGURA 4. Direção dos fluxos emigratórios da RG de Jales com as demais UFs, 2005/2010

Fonte: Fundação IBGE. Censo Demográfico 2010.

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Tais alterações referem-se à modernização agrícola descrito na primeira parte desse capítulo. Esse processo, além de prever a substituição das culturas de abastecimento interno por aquelas cuja produção sirva de insumo à indústria (TARTAGLIA e OLIVEIRA, 1988; MARTINE e GARCIA, 1987), envolve ainda altos níveis de mecanização da produção da agrícola (SILVA, 1999), bem como concentração fundiária e expulsão da população rural (WANDERLEY, 2011). Todas essas mudanças começam a dar seus primeiros passos na ainda nos anos 1960. No entanto, a essa época, a população excedente na RG de Jales era necessária à ocupação do Centro-Oeste brasileiro e à industrialização dos grandes centros do Sudeste paulista (NEGRI, GONÇALVES e CANO, 1988; BAENINGER, 1996).

Nos dias de hoje, ao contrário, assistimos não apenas à vigorosa expansão das culturas exportáveis no extremo Noroeste de São Paulo, como também ao esgotamento das fronteiras agrícolas e ao aprofundamento dos processos de reestruturação urbana (CANO, 2011; BAENINGER, 2012). Ou seja, apesar da manutenção das causas que levam à formação de um contingente excedente, não mais verificamos a existência de espaços capazes de absorvê-lo definitivamente. Por isso a emergência dos processos de circulação populacional em áreas eminentemente rurais e de rotatividade naquelas de vocação urbana-industrial (BAENINGER, 2012). Nesse sentido, assim como o conceito de rotatividade migratória proposto por Baeninger (2012), entendemos que o processo de circularidade regional de pessoas inclui uma série de deslocamentos populacionais não contemplados pela definição tradicional de migração, elaborada com base na mudança definitiva de residência, sendo esse definitivo arbitrariamente estipulado como o tempo superior a 1 ano e inferior a 10 (NAÇÕES UNIDAS, 1972).

Para captar esse processo de circulação regional de pessoas, as informações de período extraídas dos censos demográficos não são suficientes. Assim, realizamos trabalhos de campo exploratórios no município de Santa Fé do Sul. Realizamos duas entrevistas em profundidade com agentes institucionais e aplicamos 30 questionários da seguinte forma: 10 em famílias cujo chefe tenha sempre morado no rural e nunca mudado de cidade; 10 em que ele tenha mudado do rural para o urbano dentro do próprio município; e 10 entre famílias que tenham experimentado uma migração rural-rural.

Nas entrevistas com os agentes institucionais, uma das nossas intenções era entender o porquê de Santa Fé do Sul e principalmente Jales perderem população para alguns pequenos municípios da região. Segundo o ex-prefeito de Santa Fé do Sul, as causas são duas. Enquanto a emigração para municípios limítrofes são, via de regra, explicadas pelas facilidades de acesso, as saídas para municípios mais distantes remetem à dinâmica rural: segundo ele, tratam-se de “pessoas com característica mais rural, que se dedicam à agropecuária para o comércio” e que, portanto, mudam-se para cidades que oferecem melhores possibilidades de inserção dentro dessa perspectiva.

Em linhas gerais, o estudo da região de Jales aponta que a forma como cada área é inserida na nova ordem econômica mundial está intimamente ligada ao momento no qual cada região foi ‘aberta’ ao capital internacional. A ocupação extremamente tardia da RG de Jales tem repercutido na expansão igualmente tardia da agricultura dita ‘dinâmica’. Mesmo na própria RA de São José do Rio Preto, nas RGs de formação capitalista mais antiga (Catanduva e São José do Rio Preto), o lento e gradual processo de anexação de propriedades possibilitou que os canaviais se ‘alastrassem’ mais facilmente. Nesse sentido, essa região é, por excelência, híbrida. Enquanto parte dela beneficiou-se do último fio da desconcentração industrial paulista – em particular São José do Rio Preto –, as microrregiões de Votuporanga (Rodrigues, 2009), Fernandópolis e principalmente Jales ficaram às margens desse processo naquele momento

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histórico. A reestruturação produtiva traz um novo cenário para essas regiões, marcando as heterogeneidades presentes na rede urbana da RA.

Diferente da evolução das commodities nas zonas de ocupação antiga e madura – onde a integração agroindustrial levou a uma relativa drenagem dos recursos humanos e financeiros do rural para o urbano – nessas últimas regiões, essa evolução tem ocorrido em outro tempo e outro espaço. Na esteira dos processos de reestruturação produtiva, o momento atual padece do que Giddens (1991 apud BAENINGER, 2012) chamou de ‘mecanismos de desencaixe’, na qual a produção, agora voltada para o mercado internacional, traz outros contornos à vinculação dessa produção rural ao processo de industrialização nacional e à própria urbanização interna local e regional. Explica-se, dessa maneira, o redesenho da relação rural/urbana entre os municípios dessa região, onde se verifica a mais ‘desenvolvida’ agricultura da RG de Jales justamente em um município de atividades urbanas extremamente embrionárias.

Consideramos, dessa forma, que quanto mais internacionalizado for a produção agrícola da RG de Jales, mais complexas serão suas relações rurais/urbanas. Assim, à medida em que seus espaços rurais abrem-se à produção das commodities no século 21, mais a região pode fortalecer sua ‘vocação’ no cenário internacional (HAVEY, 1992).

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140 Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

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ANExOS

Estruturas etárias, Matrizes e Tabelas

RG Ribeirão Preto

RG Presidente Prudente

RG Araçatuba

RG Piracicaba

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

Estrutura Etária - RG Ribeirão Preto - 2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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anexos regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

Estrutura Etária - RG

Ribeirão Preto - 2000

e 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

Estrutura Etária - RG Ribeirão Preto - 2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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anexos regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

Estrutura Etária - RG

Ribeirão Preto - 2000

e 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

Estrutura Etária - RG Ribeirão Preto - 2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

Estrutura Etária - RG

Ribeirão Preto - 2000

e 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

Estrutura Etária - RG Ribeirão Preto - 2000 e 2010

Região de Governo de Ribeirão Preto Imigrantes, Emigrantes e Saldos Migratórios Intraregionais, segundo o quesito Data Fixa

Municípios Imigrantes Emigrantes Saldos Migratórios

Altinópolis 312 491 -179

Barrinha 517 406 111

Brodowski 898 218 680

Cajuru 579 666 -87

Cássia dos Coqueiros 112 179 -67

Cravinhos 767 515 252

Dumont 359 180 179

Guariba 322 909 -587

Guatapará 310 302 8

Jaboticabal 758 1.125 -367

Jardinópolis 1.811 582 1.229

Luís Antônio 631 306 325

Monte Alto 330 307 23

Pitangueiras 557 612 -55

Pontal 384 834 -450

Pradópolis 407 320 87

Ribeirão Preto 5.283 5.285 -2

Sta Cruz Esperança 123 33 90

Sta Rosa do Viterbo 614 889 -275

Sto Antonio Alegria 285 350 -65

São Simão 749 621 128

Serra Azul 845 449 396

Serrana 910 1.054 -144

Sertãozinho 1.091 2.217 -1.126

Taquaral 30 134 -104

RG Ribeirão Preto 18.984 18.984 0

Fonte: FIBGE, Censo Demográfico 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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anexos regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

Estrutura Etária - RG Presidente Prudente - 2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

Estrutura Etária - RG Presidente Prudente - 2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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anexos regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

Fonte: FIBGE, Censos

Demográficos 2000 e 2010.

Tabulações Especiais -

Projeto Temático “Observatório das Migrações em São

Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/

Unicamp).

Estrutura Etária - RG Presidente Prudente -

2000 e 2010

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

Estrutura Etária - RG Presidente Prudente - 2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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anexos regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

Estrutura Etária - RG Presidente Prudente -

2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos

Demográficos 2000 e 2010.

Tabulações Especiais -

Projeto Temático “Observatório das Migrações em São

Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/

Unicamp).

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

Estrutura Etária - RG Presidente Prudente - 2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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anexos regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

Estrutura Etária - RG Presidente Prudente -

2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos

Demográficos 2000 e 2010.

Tabulações Especiais -

Projeto Temático “Observatório das Migrações em São

Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/

Unicamp).

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

Estrutura Etária - RG Presidente Prudente - 2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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anexos regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

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anexos regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

Fonte: FIBGE, Censo Demográfico 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

Região de Governo de Presidente Prudente Imigrantes, Emigrantes e Saldos Migratórios Intraregionais, segundo o quesito Data Fixa

Municípios Imigrantes Emigrantes Saldos Migratórios

Alfredo Marcondes 136 250 -114

Álvares Machado 1.521 720 801

Anhumas 199 269 -70

Caiabu 141 186 -45

Caiuá 401 112 289

Emilianópolis 158 117 41

Estrela do Norte 83 178 -95

Euclides da Cunha Paulista 319 411 -92

Iepê 175 195 -20

Indiana 375 248 127

Marabá Paulista 401 164 237

Martinópolis 446 783 -337

Mirante do Paranapanema 771 610 161

Nantes 43 118 -75

Narandiba 325 258 67

Piquerobi 201 162 39

Pirapozinho 1.120 883 237

Presidente Bernardes 596 609 -13

Presidente Epitácio 869 1.296 -427

Presidente Prudente 4.489 3.896 593

Presidente Venceslau 687 1.234 -547

Rancharia 300 515 -215

Regente Feijó 1.034 488 546

Ribeirão dos Índios 99 132 -33

Rosana 461 628 -167

Sandovalina 231 357 -126

Santo Anastácio 388 830 -442

Santo Expedito 149 239 -90

Taciba 365 244 121

Tarabaí 317 410 -93

Teodoro Sampaio 595 853 -258

RG Presidente Prudente 17.395 17.395 0

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anexos regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

Estrutura Etária - RG Araçatuba -

2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos

Demográficos 2000 e 2010.

Tabulações Especiais -

Projeto Temático “Observatório das Migrações em São

Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/

Unicamp).

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

Estrutura Etária - RG Araçatuba - 2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

Page 166: REGIÕES CANAV IEIRv.6 AS - Núcleo de Estudos de ...Regiões Canavieiras / Rosana Baeninger et al. (Org.). - Campinas: Núcleo de Estudos de População-Nepo/Centro de Pesquisas Meteorológicas

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anexos regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

Estrutura Etária - RG Araçatuba -

2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos

Demográficos 2000 e 2010.

Tabulações Especiais -

Projeto Temático “Observatório das Migrações em São

Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/

Unicamp).

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

Estrutura Etária - RG Araçatuba - 2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

Page 168: REGIÕES CANAV IEIRv.6 AS - Núcleo de Estudos de ...Regiões Canavieiras / Rosana Baeninger et al. (Org.). - Campinas: Núcleo de Estudos de População-Nepo/Centro de Pesquisas Meteorológicas

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anexos regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

Estrutura Etária - RG Araçatuba -

2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos

Demográficos 2000 e 2010.

Tabulações Especiais -

Projeto Temático “Observatório das Migrações em São

Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/

Unicamp).

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

Estrutura Etária - RG Araçatuba - 2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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anexos regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

Estrutura Etária - RG Araçatuba -

2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos

Demográficos 2000 e 2010.

Tabulações Especiais -

Projeto Temático “Observatório das Migrações em São

Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/

Unicamp).

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Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

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anexos regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

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anexos regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

Região de Governo de Araçatuba Imigrantes, Emigrantes e Saldos Migratórios Intraregionais, segundo o quesito Data Fixa

Fonte: FIBGE, Censos

Demográficos 2000 e 2010.

Tabulações Especiais -

Projeto Temático “Observatório das Migrações em São

Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/

Unicamp).

Municípios Imigrantes Emigrantes Saldos Migratórios

Alto Alegre 57 235 -178

Araçatuba 1.441 2.127 -686

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Bento de Abreu 183 65 118

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Birigui 2.138 1.678 460

Braúna 223 274 -51

Brejo Alegre 156 173 -17

Buritama 572 373 199

Clementina 283 215 68

Coroados 481 279 202

Gabriel Monteiro 168 149 19

Gastão Vidigal 64 93 -29

General Salgado 285 224 61

Glicério 283 235 48

Guararapes 440 803 -363

Guzolândia 37 184 -147

Lourdes 72 96 -24

Luiziânia 76 207 -131

Nova Castilho 94 64 30

Nova Luzitânia 145 150 -5

Penápolis 962 971 -9

Piacatu 189 235 -46

Rubiácea 220 29 191

Santo Antonio do Aracanguá 524 190 334

Santópolis do Aguapeí 102 78 24

São João de Iracema 31 17 14

Turiúba 119 77 42

Valparaíso 251 367 -116

RG Araçatuba 10.679 10.679 0

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

Estrutura Etária - RG Piracicaba - 2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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anexos regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

Estrutura Etária - RG Piracicaba -

2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos

Demográficos 2000 e 2010.

Tabulações Especiais -

Projeto Temático “Observatório das Migrações em São

Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/

Unicamp).

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

Estrutura Etária - RG Piracicaba - 2000 e 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

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anexos regiões canavieiras

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

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anexos

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiões Canavieiras

Região de Governo de Piracicaba Imigrantes, Emigrantes e Saldos Migratórios Intraregionais, segundo o quesito Data Fixa

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações Especiais - Projeto Temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/ CNPq/ NEPO/ Unicamp).

Municípios Imigrantes Emigrantes Saldos Migratórios

Águas de São Pedro 202 135 67

Capivari 318 676 -358

Charqueada 404 708 -304

Elias Fausto 124 92 32

Mombuca 239 158 81

Piracicaba 1.550 2.362 -812

Rafard 320 134 186

Rio das Pedras 843 457 386

Saltinho 552 40 512

Santa Maria da Serra 132 195 -63

São Pedro 894 621 273

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Rosana Baeninger

Socióloga, Doutora em Ciências Sociais – área Estudos de População (IFCH-UNICAMP); professora do Departamento de Demografia, do programa de Pós-Graduação em Demografia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Pesquisadora do Núcleo de Estudos de População - Universidade Estadual de Campinas, Assessora da Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG-UNICAMP), Membro do Comitê de Assessoramento de Arquitetura, Demografia, Geografia, Turismo e Planejamento Urbano e Regional - CA-SA do CNPq, e Coordenadora do Projeto Temático: Observatório das Migrações em São Paulo – NEPO/UNICAMP/FAPESP/CNPq. Membro da equipe do Projeto Temático da FAPESP: Generation of Alcohol Production Scenarios as Support for the Formulation of Public Policies Applied to the Adaptation of the National Sugar and Alcohol Industry to the Climate Changes.

Jurandir Zullo Junior

Matemático e Engenheiro Agrícola, Mestre em Pesquisa Operacional (Departamento de Matemática Aplicada) e Doutor em Engenharia de Computação e Automação (Faculdade de Engenharia Elétrica), todos pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Pesquisador do CEPAGRI/UNICAMP. Diretor do Centro de agosto de 2002 a agosto de 2008. Assessor Científico da Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa da UNICAMP (COCEN) 2009-2013. Coordenador do Projeto Temático da FAPESP: Generation of Alcohol Production Scenarios as Support for the Formulation of Public Policies Applied to the Adaptation of the National Sugar and Alcohol Industry to the Climate Changes.

SOBRE OS AUTORES

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Sobre oS autoreS

Coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

regiõeS CanavieiraS

Tirza Aidar

Estatística - Universidade Estadual de Campinas, mestre em Estatística pela UNICAMP e doutora em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas. Pesquisadora no Núcleo de Estudos de População (NEPO). Professora no Programa de Pós-Graduação em Demografia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), ambos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Membro da equipe do Projeto Temático da FAPESP: Generation of Alcohol Production Scenarios as Support for the Formulation of Public Policies Applied to the Adaptation of the National Sugar and Alcohol Industry to the Climate Changes.

Roberta Guimarães Peres

Socióloga, Mestre e Doutora em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi Diretora Técnica da Agência Metropolitana de Campinas – Agemcamp. Bolsista em Pós-Doutoramento da FAPESP – NEPO/UNICAMP (2011-2013). Pesquisadora do Núcleo de Estudos de População (NEPO) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Membro da equipe do Projeto Temático: Observatório das Migrações em São Paulo – NEPO/UNICAMP/FAPESP/CNPq

Andrea Koga-Vicente

Geógrafa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas. Doutora em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas. Membro da equipe do Projeto Temático da FAPESP: Generation of Alcohol Production Scenarios as Support for the Formulation of Public Policies Applied to the Adaptation of the National Sugar and Alcohol Industry to the Climate Changes.

Balbino Antonio Evangelista

Geógrafo pela Universidade Federal de Goiás. Mestre em Geografia pela Universidade de Brasília. Doutor em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual de Campinas (2011). Analista em Geoprocessamento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

Bruno Benzaquen Perosa

Ciências Econômicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos. Doutor em Economia de Empresas pela Escola de Economia de São Paulo. Pesquisador Pós-Doutor do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação e Nutrição (NEPA/UNICAMP). Membro da equipe do Projeto Temático da FAPESP: Generation of Alcohol Production Scenarios as Support for the Formulation of Public Policies Applied to the Adaptation of the National Sugar and Alcohol Industry to the Climate Changes.

Carlos Eduardo Fredo

Pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA/SP). Mestre em Política Científica e Tecnológica pelo Instituto de Geociências, UNICAMP. Engenheiro de Computação pela UNICAMP. Pesquisador Científico do Instituto de Economia Agrícola da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

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Sobre oS autoreS regiõeS canavieiraS

coleção Por dentro do Estado de São Paulo, v.6

Celso Macedo Junior

Meteorologista pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP). Bolsista de mestrado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) no curso de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (FEAGRI/UNICAMP).

Eduardo Delgado Assad

Engenheiro Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa. Mestre e Doutor -Montpellier, França. Pesquisador da Embrapa. Coordena projetos na área de mudanças climáticas e seus impactos na agricultura. Atualmente, coordena a sub rede clima e agricultura da rede clima do MCT&I.

Fábio Ricardo Marin

Engenheiro agrônomo pela ESALQ/USP. Mestre e doutor em Física do Ambiente Agrícola pela mesma instituição. Pós-doutorado pela Universidade da Florida. Pesquisador da Embrapa. Docente no mestrado profissional em Agroenergia da FGV/ESALQ/Embrapa e no curso de Engenharia Ambiental da PUC Campinas.

Hilton Silveira Pinto

Engenheiro Agronomo pela Universidade de São Paulo, mestrado em Geografia Física pela Universidade de São Paulo. Doutor em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e pós-doutorado pela Universidade de Guelph-Canada. Professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas até outubro de 2012; foi também Diretor do Cepagri/Unicamp, onde permanece atualmente como pesquisador convidado.

Natália Belmonte Demétrio

Socióloga pela Universidade Estadual de Campinas. Mestre em Demografia na mesma universidade. Doutoranda em Demografia (IFCH-UNICAMP). Membro da equipe do Projeto Temático: Observatório das Migrações em São Paulo – NEPO/UNICAMP/FAPESP/CNPq.

Ricardo Antunes Dantas de Oliveira

Geógrafo - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - campus de Rio Claro. Mestre em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - campus de Rio Claro.Doutor em Demografia – IFCH/NEPO/UNICAMP. Bolsista DTI/CNPq - LICTS/ICICT/FIOCRUZ. Membro da equipe do Projeto Temático: Observatório das Migrações em São Paulo – NEPO/UNICAMP/FAPESP/CNPq.

Walter Belik

Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, mestrado em Economia aplicada à Administração - FGV. Doutor em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas. Titular do Instituto de Economia da UNICAMP. Coordenador do NEPA. Membro da equipe do Projeto Temático da FAPESP: Generation of Alcohol Production Scenarios as Support for the Formulation of Public Policies Applied to the Adaptation of the National Sugar and Alcohol Industry to the Climate Changes.

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