região sandra lencioni pagina

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rida, uma temperada, duas frias e, ainda, uma zona tropical. Mas é em Estrabão (63 a.C.-25 d.e.) que encontramos o marco inaugural da geografia regional. Seus recortes não são feitos a partir de parâ- metros geométricos - embora considerasse a geometria o funda- mento da geografia -, mas são estabelecidos segundo a composi- ção territorial das civilizações I. Dentre as contribuições para o desenvolvimento da geografia I regional, gostaríamos de destacar AI-Idrisi, século XII, que~seguin- do a divisão do mundo de Ptolorneu, elaborada com parâmetro no clima, criou uma divisão mais detalhada da Terra, expressa em 70 regiões, tendo procedido à descrição de cada uma delas, ilustran- do-as com um mapa. Mas foi COrTl Bernhard Varenius, no século XVII, que o conhecimento geográfico assumiu a distinção entre geografia geral e geografia especial, esta última com o sentido de • geografia regional. PERSPECTIVAS DIVERSAS NO ESTUDO REGIONAL ç o pensamento científico moderno, inspirado na filosofia ilu- minista e no idealismo alemão, revolucionou a forma de analisar e interpretar a natureza e a sociedade. O conhecimento geográfico se conformou como ciência no momento em que - sob a inspiração iluminista, comsua visão de mundo assentada na razão e na expe- rimentação - buscou a formulação de teorias e conceitos gerais que possibilitaram a construção de generalizações e abstrações. Com a perspectiva idealista questionando a razão infinita e demonstrando seus limites, valorizou-se o particular.' O avanço dos estudos geográficos, centrando-se, ora na análi- .se dos fenômenos da natureza, ora nos aspectos que interessam à sociedade, conduziu a uma tendência à separação da geografia como ciência da natureza ou como ciência do homem. Assim, a própria evolução da ciência geográfica acabou por comprometer a particularidade de seu campo de conhecimento fundado na análise da unidade dos aspectos físicos e humanos da realidade. 188 A solução para essa cisão da disciplina é, conseqüentemente, para a perda de sua identidade, veio por meio do estudo regional. Ele possibilitava combinar o procedimento metodológico de aná- lise das relações causais e de construção de leis gerais, bastante per- tinentes ao estudo dos fenômenos naturais, com a perspectiva que não buscava construir generalizações, bastante presentes na busca da compreensão dos aspectos da vida social e cultural. Desse modo, o espectro da cisão da disciplina e o comprometimento de sua identidade se resolviam pelo estudo regional que tentava rela- cionar os fenômenos físicos e humanos de uma dada área. Por isso é que se consagraram os estudos regionais como a alternativa de manutenção da unidade da disciplina geográfica. Foi com Paul Vidal de La Blache (1845-1918), um pensa- dordo possível, ou seja, das inúmeras possibilidades queo homem tem diante da vida, que a geografia regional alcançou grande desenvolvimento. Para ele, a ciência geográfica deveria o_bs~~var ~!~~nder a sing~.L~ridãcIe~o~.~~~ Seu objet. vo deveria ser o de compreender o único, mais do que Indagar por um concei- to que o definisse. Por isso não encontramos em La Blache uma definição de região. Compartilhando a mesma visão de Friedrich Ratzel em rela- ção à visão de homem e de natureza, como constituintes de uma unidade, não como opostos, afirmou que a "síntese regional... é o objetivo último da tarefa do geógrafo, o único terreno sobre o qual ele encontra a si mesmo'". O ponto de vista de La Blache era que a região podia ser objetivamente distinguida na paisagem e que os homens têm consciência da existência das regiões à medida que constroem identidades regionais. Contudo, as monografias regionais acabaram construindo uma geografia que destacava o caráter único de cada estudo regional, sem preocupação com o estabelecimento de leis e princípios gerais no conhecimento da realidade. Portanto, acabou comprometendo o status científico da disciplina e conduzindo a um novo impasse teó- rico: a dicotomia entre geografia regional e geografia geral. Esse impasse tinha como cenário a consciência social de que o mundo não era um todo harmônico; pelo contrário, era fragmenta- '-1 .~ ~ ~ ,j '1 .--1 -1 , '~ i .~ I '1 ;. j ;~ '. I ::1 '"1 .... ~ I :4 :~ '. ~ :1 .--.-~ '-J. I 1 \i '. ( . ~ '1 ~ ~ I -d. l "1 "-1 189

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rida, uma temperada, duas frias e, ainda, uma zona tropical. Mas éem Estrabão (63 a.C.-25 d.e.) que encontramos o marco inauguralda geografia regional. Seus recortes não são feitos a partir de parâ-metros geométricos - embora considerasse a geometria o funda-mento da geografia -, mas são estabelecidos segundo a composi-ção territorial das ci vilizações I.

Dentre as contribuições para o desenvolvimento da geografia Iregional, gostaríamos de destacar AI-Idrisi, século XII, que~ seguin-do a divisão do mundo de Ptolorneu, elaborada com parâmetro noclima, criou uma divisão mais detalhada da Terra, expressa em 70regiões, tendo procedido à descrição de cada uma delas, ilustran-do-as com um mapa. Mas foi COrTl Bernhard Varenius, no séculoXVII, que o conhecimento geográfico assumiu a distinção entregeografia geral e geografia especial, esta última com o sentido de

• geografia regional.

PERSPECTIVAS DIVERSAS NO ESTUDO REGIONAL• ç

o pensamento científico moderno, inspirado na filosofia ilu-minista e no idealismo alemão, revolucionou a forma de analisar einterpretar a natureza e a sociedade. O conhecimento geográfico seconformou como ciência no momento em que - sob a inspiraçãoiluminista, comsua visão de mundo assentada na razão e na expe-rimentação - buscou a formulação de teorias e conceitos geraisque possibilitaram a construção de generalizações e abstrações.Com a perspectiva idealista questionando a razão infinita edemonstrando seus limites, valorizou-se o particular.'

O avanço dos estudos geográficos, centrando-se, ora na análi-. se dos fenômenos da natureza, ora nos aspectos que interessam àsociedade, conduziu a uma tendência à separação da geografiacomo ciência da natureza ou como ciência do homem. Assim, aprópria evolução da ciência geográfica acabou por comprometer aparticularidade de seu campo de conhecimento fundado na análiseda unidade dos aspectos físicos e humanos da realidade.

188

A solução para essa cisão da disciplina é, conseqüentemente,para a perda de sua identidade, veio por meio do estudo regional.Ele possibilitava combinar o procedimento metodológico de aná-lise das relações causais e de construção de leis gerais, bastante per-tinentes ao estudo dos fenômenos naturais, com a perspectiva quenão buscava construir generalizações, bastante presentes na buscada compreensão dos aspectos da vida social e cultural. Dessemodo, o espectro da cisão da disciplina e o comprometimento desua identidade se resolviam pelo estudo regional que tentava rela-cionar os fenômenos físicos e humanos de uma dada área. Por issoé que se consagraram os estudos regionais como a alternativa demanutenção da unidade da disciplina geográfica.

Foi com Paul Vidal de La Blache (1845-1918), um pensa-dordo possível, ou seja, das inúmeras possibilidades queo homemtem diante da vida, que a geografia regional alcançou grandedesenvolvimento. Para ele, a ciência geográfica deveria o_bs~~var~!~~nder a sing~.L~ridãcIe~o~.~~~ Seu objet. vo deveriaser o de compreender o único, mais do que Indagar por um concei-to que o definisse. Por isso não encontramos em La Blache umadefinição de região.

Compartilhando a mesma visão de Friedrich Ratzel em rela-ção à visão de homem e de natureza, como constituintes de umaunidade, não como opostos, afirmou que a "síntese regional... é oobjetivo último da tarefa do geógrafo, o único terreno sobre o qualele encontra a si mesmo'". O ponto de vista de La Blache era que aregião podia ser objetivamente distinguida na paisagem e que oshomens têm consciência da existência das regiões à medida queconstroem identidades regionais.

Contudo, as monografias regionais acabaram construindo umageografia que destacava o caráter único de cada estudo regional,sem preocupação com o estabelecimento de leis e princípios geraisno conhecimento da realidade. Portanto, acabou comprometendo ostatus científico da disciplina e conduzindo a um novo impasse teó-rico: a dicotomia entre geografia regional e geografia geral.

Esse impasse tinha como cenário a consciência social de que omundo não era um todo harmônico; pelo contrário, era fragmenta-

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