regeneraÇÃo de coagulantes a partir de lodos de etas para aplicaÇÃo no tratamento...

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REGENERAÇÃO DE COAGULANTES A PARTIR DE LODOS DE ETAs PARA APLICAÇÃO NO TRATAMENTO FÍSICO-QUÍMICO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS Zeila Chittolina Piotto* e Ricardo Franci Gonçalves ** *Engenheira Química/ FURG-RS(1984); Especialização em Saneamento Ambiental/Convênio UFMA- CETESB, (1989); Mestranda Em Engenharia Ambiental/UFES- ES, (1993); Engenheira Sanitarista da Prefeitura Municipal de Aracruz, Aracruz - ES. **Engenheiro civil e sanitarista / UERJ(1984); Pós-graduado em Engenharia de Saúde Pública ENSP - RJ (1985); D.E.A. Engenharia Ambiental, Universidade de Paris XII - França (1990); Doutor em Engenharia do Tratamento de Água (1993), INSA de Toulose, França; Professor Adjunto 1 -DHS/UFES e professor do Mestrado em Engenharia Ambiental - UFES. RESUMO Lodos oriundos do tratamento físico-químico de águas para potabilização contém altos teores de metais pesados, principalmente Ferro ou Alumínio, podendo causar danos ao meio- ambiente e aos seres humanos se descartado sem critérios. Este trabalho objetivou avaliar a possibilidade de regeneração dos coagulantes contidos no lodo e sua reutilização no tratamento de águas residuárias. Foi avaliada a influência do pH, do teor de sólidos e da agitação nos teores de Al recuperados após a solubilização ácida e alcalina do lodo. Também foram determinadas a cinética da solubilização e as relações de consumo dos reagentes. Tempos de contato da ordem de 10 minutos foram suficientes para produzir uma solubilização de Alumínio da ordem de 60%, tanto pela via ácida quanto pela alcalina. Os coagulantes oriundos da solubilização alcalina (NaOH) não são estáveis, devido a reprecipitação paulatina do Al nos dias que se seguem ao ensaio. A utilização dos coagulantes regenerados pela via ácida no tratamento de efluentes, sem a separação prévia dos sólidos, produziu bons resultados indicando que o poder coagulante é mantido, e que os sólidos inertes do produto recuperado não interferem na eficiência do processo.

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Lodos oriundos do tratamento físico-químico de águas para potabilização contém altos teores de metais pesados, principalmente Ferro ou Alumínio, podendo causar danos ao meio-ambiente e aos seres humanos se descartado sem critérios. Este trabalho objetivou avaliar a possibilidade de regeneração dos coagulantes contidos no lodo e sua reutilização no tratamento de águas residuárias. Foi avaliada a influência do pH, do teor de sólidos e da agitação nos teores de Al recuperados após a solubilização ácida e alcalina do lodo. Também foram determinadas a cinética da solubilização e as relações de consumo dos reagentes. Tempos de contato da ordem de 10 minutos foram suficientes para produzir uma solubilização de Alumínio da ordem de 60%, tanto pela via ácida quanto pela alcalina. Os coagulantes oriundos da solubilização alcalina (NaOH) não são estáveis, devido a reprecipitação paulatina do Al nos dias que se seguem ao ensaio. A utilização dos coagulantes regenerados pela via ácida no tratamento de efluentes, sem a separação prévia dos sólidos, produziu bons resultados indicando que o poder coagulante é mantido, e que os sólidos inertes do produto recuperado não interferem na eficiência do processo.

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REGENERAO DO POTENCIAL DE COAGULAO DO LODOS DE ETAs PARA O TRATAMENTO FSICO-QUMICO DE GUAS RESIDURIAS.

REGENERAO DE COAGULANTES A PARTIR DE LODOS DE ETAs PARA APLICAO NO TRATAMENTO FSICO-QUMICO DE GUAS RESIDURIAS Zeila Chittolina Piotto* e Ricardo Franci Gonalves ***Engenheira Qumica/ FURG-RS(1984); Especializao em Saneamento Ambiental/Convnio UFMA- CETESB, (1989); Mestranda Em Engenharia Ambiental/UFES-ES, (1993); Engenheira Sanitarista da Prefeitura Municipal de Aracruz, Aracruz -ES.**Engenheiro civil e sanitarista / UERJ(1984); Ps-graduado em Engenharia de Sade Pblica ENSP - RJ (1985); D.E.A. Engenharia Ambiental, Universidade de Paris XII - Frana (1990); Doutor em Engenharia do Tratamento de gua (1993), INSA de Toulose, Frana; Professor Adjunto 1 -DHS/UFES e professor do Mestrado em Engenharia Ambiental - UFES.RESUMOLodos oriundos do tratamento fsico-qumico de guas para potabilizao contm altos teores de metais pesados, principalmente Ferro ou Alumnio, podendo causar danos ao meio-ambiente e aos seres humanos se descartado sem critrios. Este trabalho objetivou avaliar a possibilidade de regenerao dos coagulantes contidos no lodo e sua reutilizao no tratamento de guas residurias. Foi avaliada a influncia do pH, do teor de slidos e da agitao nos teores de Al recuperados aps a solubilizao cida e alcalina do lodo. Tambm foram determinadas a cintica da solubilizao e as relaes de consumo dos reagentes. Tempos de contato da ordem de 10 minutos foram suficientes para produzir uma solubilizao de Alumnio da ordem de 60%, tanto pela via cida quanto pela alcalina. Os coagulantes oriundos da solubilizao alcalina (NaOH) no so estveis, devido a reprecipitao paulatina do Al nos dias que se seguem ao ensaio. A utilizao dos coagulantes regenerados pela via cida no tratamento de efluentes, sem a separao prvia dos slidos, produziu bons resultados indicando que o poder coagulante mantido, e que os slidos inertes do produto recuperado no interferem na eficincia do processo.PALAVRAS-CHAVE: Regenerao de coagulantes, lodos de ETAs, Alumnio, Tratamento fsico-qumico, efluentesINTRODUOMais de 90% das estaes de tratamento de gua em operao atualmente utilizam os processos de coagulao e floculao na potabilizao de guas (Dentel et.al., 1988). Os agentes coagulantes mais empregados so sais de Ferro e Alumnio (Dulin et. al., 1983), gerando como sub-produtos lodos qumicos que contm as impurezas retiradas da gua bruta e hidrxidos metlicos floculentos precipitados. Devido ao contedo elevado de metais e de slidos, o seu descarte deve ser feito de maneira criteriosa para evitar danos ao meio ambiente e aos seres humanos (AWWA Foundation Report, 1970a). No solo, o Alumnio tende a complexar o Fsforo tornando-o inacessvel s plantas. Relatos sobre mortandade de peixes so freqentemente relacionados ao lanamento de lodo e de efluente da contra-lavagem dos filtros em corpos de gua (AWWA Foundation Report, 1970b). O lanamento de lodos em guas superficiais podem causar intoxicao crnica em peixes pelos hidrxidos hidratados, produzindo sintomas similares aos induzidos pelos aluminatos (AWWA Committee Report,1987). Para os seres humanos, o Alumnio um elemento neurotxico e a sua bioacumulao promove o desenvolvimento de doenas no sistemas nervoso (Reiber et. al. , 1995).Dentre as alternativas racionais atualmente empregadas para o descarte de lodos de ETAs destacam-se a desidratao e disposio em aterros (AWWA Committee Report, 1978), o descarte na rede de esgotos para tratamento conjunto (Grabarek et al. , 1987) e a recuperao e reciclo de coagulantes com descarte do material excedente em aterros (Gruninger et al.,1975 e Bishop et al., 1991).Esta ltima opo vem sendo pesquisada desde o incio do sculo, tendo sido objeto de maior interesse aps as pesquisas desenvolvidas por Fulton (1973), que resultaram no desenvolvimento do processo Fulton de regenerao cida destes lodos(Fulton, 1974). De uma maneira geral, os processos at agora empregados realizam a solubilizao dos hidrxidos contidos no lodo mediante ataque cido, e diferem somente na forma como os compostos inertes sero separados dos coagulantes recuperados. Existem atualmente algumas ETAs que utilizam a recuperao e reciclo de coagulantes operando no Japo e nos Estados Unidos, dentre elas uma com capacidade de tratamento de uma vazo de 107 l/s (AWWA Handbook, 1987).Este trabalho apresenta os resultados obtidos numa pesquisa sobre solubilizao cida e alcalina dos coagulantes contidos em lodo oriundo da ETA de Linhares, situada no Estado do Esprito Santo - Brasil. Os diversos testes realizados objetivaram conhecer a cintica do processo, as relaes estequiomtricas entre os reagentes envolvidos e a influncia de parmetros tais como pH, teor de slidos e da agitao na frao de Alumnio solubilizada.solubilizao DE COAGULANTESA solubilizao dos compostos formados durante as etapas de coagulao/floculao envolve basicamente as reaes de equilbrio das espcies qumicas solveis e precipitadas presentes no meio. Os mecanismos de coagulao da gua bruta tambm influenciam decisivamente na solubilizao, uma vez que deles depende a quantidade de hidrxidos metlicos contidos no lodo.A concentrao de uma determinada espcie solvel depende fundamentalmente do pH do meio, podendo ser estimada atravs de equaes ou diagramas de equilbrio, tais como o apresentado na figura 1. O exemplo em questo relaciona as espcies solveis de alumnio com o Hidrxido de Alumnio Al(OH)3, indicando que concentrao de cada espcie qumica solvel com o precipitado funo do pH e da dosagem de coagulante [Al Total]. O Alumnio contido no lodo sob a forma Al(OH)3 solubilizado quando o pH atinge valores abaixo de 4 e superiores a 10.Tendo em vista que a solubilizao incide basicamente sobre hidrxidos no lodo, somente a frao do lodo proveniente da coagulao no mecanismo varredura ser passvel de solubilizao. A presena majoritria do Al complexado(adsorvido), tpico da coagulao por adsoro/neutralizao de cargas, faz com que a solubilizao dependa da estabilidade dos complexos formados entre os colides inorgnicos e as espcies solveis de Al. Isto significa que reaes dos cidos e bases com os hidrxidos precipitados assumem menor importncia na regenerao deste tipo de lodo.Figura 1. Diagrama de Equilbrio entre o Alumnio (p = precipitado) e as espcies solveis.Onde:Esp. 1 =Al(OH)2+Esp. 5 =Al8(OH)204+Esp. 2 =Al3+Esp. 6 =Al6(OH)153+Esp. 3 =Al(OH)4-Esp. 7 =Al3(OH)45+Esp. 4 =Al2(OH)24+Esp. 8 =Al13(OH)327+Esp. 9 =Al13(OH)345+Material e mtodos:a) Amostragem - A ETA escolhida para a coleta do lodo fica localizada no municpio de Linhares, ES, sendo operada pelo Servio Autnomo de guas e Esgotos (SAAE). O volume de gua tratado de 200 l/s, atravs de duas estaes que operam em paralelo. O manancial de gua bruta, na maior parte do tempo, a Lagoa Juparan, sendo que durante alguns meses do ano, (perodo de chuvas), o manancial passa a ser o Rio Doce. O tratamento da gua feito de forma convencional mediante adio de sulfato de Alumnio, com as etapas de floculao, decantao e filtrao. A retirada do lodo do decantador feita de forma manual (descarga de fundo), com freqncia mensal. O lodo retirado do decantador e da contralavagem dos filtros lanado no crrego Rio Pequeno.Foram realizadas trs campanhas de amostragem. A amostra inicial (Lodo I) de cerca de 50 litros de lodo do decantador (aps 12 dias de operao), foi centrifugada at teor de slidos em torno de 15-20%, e conservada sob refrigerao a 4oC para ser submetida aos ensaios de solubilizao. As amostras seguintes (Lodo II e III) foram coletadas aproximadamente 4 meses aps a primeira, e o lodo foi submetido in natura aos ensaios de solubilizao. O quadro a seguir descreve as caractersticas da gua bruta e de dosagem de coagulante na poca da coleta.Quadro 1- Caractersticas da gua bruta e dosagem de coagulante na poca da coleta.Tipo de LodoManancialData daColeta pHCor (UC)Turbidez (UT)Dosagem de Sulfato(mg/l)Lodo IL. Juparan0ut/945,2209 -1020Lodo IIRio DoceJan/956,850020024 - 28 Lodo IIIRio DoceFev/956,71509020 b) Preparo das amostras - Para a determinao de metais, procedeu-se a calcinao das amostras, seguida da digesto em uma mistura (5:1) de cido Ntrico-cido Sulfrico em chapa de aquecimento, durante cerca de 3 horas. Aps a digesto, as amostras foram diludas com gua deionizada at 100 ml em balo volumtrico.c)Tcnicas analticas de laboratrio - A determinao de slidos foi feita conforme recomendao do Standard Methods For Water and Wastewater Examination 17a Edition, para amostras slidas e semi-slidas:Slidos Totais - O perodo de aquecimento em estufa a 103 C foi de 16h.Slidos Fixos-Foi feita atravs da calcinao das amostras durante 1 h a temperatura de 550 C .Slidos Volteis - Por diferena entre: [Slidos totais - slidos fixos].A determinao do Carbono Orgnico Total foi feita utilizando-se o mtodo infravermelho de anlise de gs, ( mtodo 505 A do Standard Methods) e equipamento analisador de TOC -Mod. 500, Shimadzu.A anlise de metais do lodo foi feita pela Via espectrofotomtrica ( Spectraa -20 plus -Varian- chama acetileno- N2O) em amostra calcinada e digerida conforme recomendao do Standard Methods For Water and Wastewater Examination 17a Edition.A determinao do pH das amostras de lodo in naturafoi feita em equipamento analgico com eltrodo combinado Prata/Cloreto de Prata.d)Ensaios de Solubilizao - Os ensaios de solubilizao foram executados em aparelho de Jar-test com quatro cubetas de 1000 ml, e velocidade varivel de 0 - 200 rpm. Nesta etapa foram feitos ensaios de solubilizao cida e alcalina em amostras do Lodo tipo I com diferentes teores de slidos [ 2%, 4% e 6%]. A preparao das amostras de lodo foi feita mediante diluio da amostra centrifugada (20% de slidos). Antes do ataque cido ou alcalino foi feita a homogenizao das amostras por cerca de 2h..O acompanhamento da solubilizao do Al foi feito mediante a retirada de amostras de cerca de 40 ml, que foram centrifugadas e filtradas. A filtrao foi feita em papel filtro (Framex Ref:389/1 -faixa preta) prprio para a filtrao de precipitados gelatinosos. A anlise de Al+++ foi feita aps acidificao e diluio de um volume conhecido do filtrado com gua deionizada, at o volume de 100 ml em balo volumtrico. A anlise de metais foi feita pela Via espectrofotomtrica (Spectraa -20 plus -Varian- chama acetileno- N2O) em amostra acidificada com HCl concentrado.A solubilizao cida foi feita mediante adio de H2SO4cc na relao molar de H2SO4 / Al igual 1,5. Na solubilizao alcalina, foi feita com a adio de NaOH a 50%, na relao molar de 1:1 ( Moles NaOH/moles de Al). Para o ensaio em que foi avaliado a influncia do pH, a relao molar de consumo foi varivel. Na solubilizao feita com Cal (CaO), a relao molar CaO/Al foi aproximadamente 4.RESULTADOS E DISCUSSOa) Caracterizao das amostras- O quadro 2 apresenta as principais caractersticas qumicas dos lodos amostrados. Observa-se que os lodos tipos I, II e III diferem significativamente, principalmente no tocante aos teores de slidos totais e de matria orgnica (COT). Estas diferenas refletem as mudanas na qualidade da gua bruta , conforme pode ser visto no quadro 1. Os teores de Alumnio total nos tres lodos atingem fraes variando entre 10 e 15% do teor de slidos totais, evidenciando ao mesmo tempo o potencial poluidor deste tipo de resduo e o grande desperdcio de coagulantes no caso de descarte sem regenerao. Quadro 2- Caracterizao qumica dos lodos .DETERMINAOLODO I(Lagoa Juparan)LODO II( Rio Doce)LODO III ( Rio Doce)pH5,26,96,9Sl. Totais2,2%3,7%5,8%Sl. Fixos58,6%83,3%85,5%Sl.Volteis41,4%16,7%14,5%Carbono Orgnico Total15,6%ST7,4%ST5,8%Alumnio como Al2620mg/l (20,5%SF)5246 mg/l(17,3% SF)7830mg/l(15,8%SF)Alumnio como Al(OH)3 H2O12809mg/l(58,2 ST)25647 mg/l(67,5%ST)38280mg/l(66,0%ST)Alumnio como Sulfato Hidratado29600 mg/l64700 mg/l96 570 mg/lFerro1122 mg/l (8,78%SF)--Mangans5,5 mg/l (0,043%SF)--Zinco1,5 mg/l (0,012%SF)--b)Cintica da solubilizao e influncia do teor de slidos- Os estudos cinticos objetivaram determinar o tempo de contato necessrio para que a reao se processe e determinar o tamanho do reator. A variao temporal das concentraes de Alumnio solubilizado pode ser representada por cintica de primeira ordem do tipo :C = Cmax ( 1 - e-kt) (1) ondeC = Concentrao de Al solubilizado [mg/l]Cmax = concentrao mxima de Al solubilizado [mg/l]t = tempo [min]K = constante cintica (min-1)As figuras 2 e 3 mostram o ajuste do modelo terico (1) aplicado a resultados obtidos na solubilizao cida e alcalina de amostras do lodo I com diferentes teores de SST. As constantes cinticas (K) e as concentraes mximas calculadas (Cmax, t = () para todos os ensaios so apresentadas no quadro 3.Figura 2. Ajuste da solubilizao cida a uma curva com cintica de 1a ordemFigura 3. Ajuste da solubilizao alcalina a uma curva com cintica de 1a ordemConforme pode ser observado nos grficos acima, tempo de reao em torno de 15 minutos o suficiente para a solubilizao cida e alcalina. Como aparentemente o tempo de reao poderia ser inferior 15 min, foi feito um novo teste, com coleta de amostras em tempos de 0;5;10;15; 20 e 30 min. Os resultados deste teste esto representados no grfico a seguir:Figura 4. Solubilizao alcalina -Lodo I-slidos 2%Devido a dificuldade de filtrao das amostras, os tempos reais de contato foram superiores a 5 minutos. Deste modo, o tempo real de contato para efeito de solubilizao foi de aproximadamente 8 minutos na primeira amostra. Nas ETAs com regenerao de coagulantes que esto operando no Japo, o tempo de contato no tanque de solubilizao de 10 minutos.Influncia do teor de SST do lodo na solubilizao - Os valores de K e Cmax obtidos na solubilizao cida nos ensaios apresentados nas figuras 2 e 3 foram utilizados para comparar a influncia dos teores de SST na solubilizao. Os resultados resumidos no quadro 3 indicam a reao se processa mais rapidamente na medida em que o teor de SST aumenta, tanto na via cida quanto na via alcalina. Este incremento na velocidade de reao mais sensvel na solubilizao cida, notadamente no teste com o lodo com 6%SST. Quanto concentrao mxima de alumnio solubilizado (Cmax), observa-se que a relao entre o teor SST no lodo e o Cmax no linear. A quantidade relativa de alumnio solubilizvel (mg AL3+/mg SST) diminui com o aumento da concentrao de SST no lodo.Quadro 3. Valores de K e Cmax na solubilizao cida e alcalina.cidaAlcalinaTeor de slidosKCmax (mg/l)KCmax (mg/l)2%0,17213260,17512184%0,17828800,18525836%0,20832430,1843583Influncia do pH -Conforme pode ser observado nos grficos abaixo, o pH fator limitante da frao de Alumnio solubilizada. Para a solubilizao alcalina o pH timo est entre 11,8 e 12,4, enquanto que para a solubilizao cida, quanto menor o pH maior ser a solubilizao do Al. Em contrapartida, o manuseio e aplicao de regenerado com pH muito baixo aumenta o consumo de cido e implica em dificuldades operacionais, como por exemplo, a adio de lcalis para ajuste do pH de coagulao.Figura 5.- Solubilizao alcalina (NaOH) - Lodo I- Teor de slidos 2%Figura 6.- Solubilizao cida -Lodo I - 2% slidosOutro aspecto a ser observado que o comportamento da solubilizao cida frente ao pH varia bastante de lodo para lodo, sobretudo devido aos mecanismos que predominam na coagulao de diferentes tipos de gua bruta.. Esta variao incide no somente sobre as fraes solubilizadas, mas tambm no formato das curvas, conforme pode ser visto na figura 7. Lodos formados predominantemente pelo mecanismo de varredura apresentam uma maior disponibilidade de hidrxidos de alumnio, que se constitui na fonte de suprimento do alumnio solubilizvel por ataque cido ou alcalino.Figura7.-Influncia do pH na porcentagem de Al recuperado (Cordeiro,1981 e este trabalho).

Solubilizao alcalina com CaO - Testes com CaO foram realizados com o objetivo se viabilizar um reagente facilmente disponvel no mercado e de custo inferior ao hidrxido de sdio. Os resultados obtidos mostraram quea adio de CaO no promoveu solubilizao do Alumnio, mesmo com o pH favorvel (Figura 8). A solubilizao mxima alcanada foi de 0,6% do alumnio total presente no lodo, para o pH igual a 12,5. Este comportamento indica que outras reaes qumicas prevaleceram em detrimento da solubilizao, predominando a precipitao de sais de Clcio. Durante os testes, observou-se a coagulao do lodo, com a formao de duas fases bem ntidas aps cessar a agitao.Figura 8.-Solubilizao alcalina-(CaO) pH =12,5 Figura 9.-Influncia da agitaoInfluncia da agitao - Os testes sobre a influncia da agitao compararam a eficincia de solubilizao sob duas condies de agitao: 240 e 450 rpm. Para esta faixa de agitao estudada, observou-se que a agitao no alterou a frao de Al solvel (Fig.9.), promovendo a formao de espuma quando o gradiente muito elevado.Estabilidade dos coagulantes regenerados - Outro aspecto a considerar a estabilidade no tempo dos coagulantes regenerados. Os coagulantes regenerados via cida, no apresentam tendncia de formao de compostos insolveis de Alumnio, permanecendo estveis durante o armazenamento. J no caso da regenerao pela via alcalina, as espcies solveis de Alumnio encontram-se sob forma de. aluminatos [Al(OH)-4], que em meio fortemente alcalino, precipitam sob a forma de Alumina hidratada [Al2O3.3H2O(p).], conforme reao a seguir:2Al(OH)-4 ( Al2O3.3H2O(p) + 2OH-Os sulfatos e de aluminatos no regenerado alcalino podem tambm produzir compostos insolveis do tipo [Aln(OH)m(SO4)pzH2O] (Beecroft, 1994). Aparentemente, os aluminatos so os precursores de espcies polimricas de Alumnio, como por exemplo, [Al13(OH)32+7], e estas espcies so apontadas como responsveis pela baixa estabilidade dos coagulantes de ltima gerao (polissulfatos, policloretos etc.) (Dorst et. al.,1993). Confirmando as observaes acima, os testes de aplicao dos coagulantes regenerados pela via alcalina, realizados 2 meses aps os ensaios de solubilizao, no produziram resultados satisfatrios. Testes preliminares de aplicao dos coagulantes regenerados no tratamento diferentes tipos de efluentes - Os coagulantes recuperados nos ensaios de solubilizao foram aplicados em diversos efluentes mediante ensaios de Jar-test com o objetivo de remover cor, DQO, slidos suspensos e Fsforo. Os efluentes submetidos ao tratamento fsico-qumico foram: esgoto bruto, esgoto decantado, efluente de filtro anaerbio, efluente de lagoa facultativa, efluente de lavanderia, efluente alcalino de indstria de celulose e efluente misto de indstria de celulose.A utilizao dos coagulantes regenerados sem a separao prvia dos slidos no tratamento de efluentes produziu bons resultados, conforme ilustram as figuras 10 e 11. A remoo de SS e de DQO de um esgoto bruto fortemente concentrado foi ligeiramente inferior s obtidas de sulfato de alumnio comercial para dosagens de at 130 mg/l (como sulfato de alumnio). Dosagens de coagulantes da ordem de 160 mg/l resultam em eficincias de remoo de DQO e de SS prticamente idnticas nos dois casos. Os slidos inertes do produto recuperado no interferem na eficincia do processo.Figura 10. Ensaio com Esgoto Bruto-Remoo de DQOFigura 11. Ensaio com Esgoto Bruto -Remoo de Slidos suspensos.J no caso da aplicao do regenerado cido no tratamento fsico-qumico do efluente de fbrica de celulose, excelentes remoes de Cor e de DQO foram observadas, com resultados similares aos obtidos com a soluo de sulfato de Alumnio Comercial (Figuras 12 e 13). Eficincias superiores a 75% na remoo de DQO e 95% na remoo de cor foram obtidas com os dois tipos de coagulantes.Figura 12 -Ensaios com efluente alcalino de fbrica de celulose -Remoo de DQOFigura 13 -Ensaios com efluente de fbrica de Celulose -Remoo de CorUma sntese dos resultados obtidos nos testes de coagulao-floculao de diferentes tipos de efluentes apresentada pela figura 14. A remoo especfica de DQO, expressa em mg de DQO removida/ mg de sulfato, para os dois coagulantes em todos os ensaios similar, indicando que o poder coagulante mantido nos produtos recuperados.Figura 14-Remoo Especfica de DQO para diversos EfluentesCONCLUSES:Uma experincia produzindo resultados positivos sobre a regenerao de coagulantes contidos no lodo de ETAs e sua reutilizao no tratamento de guas residurias foi apresentada neste trabalho. A solubilizao cida e alcalina dos coagulantes contidos em lodo oriundo da ETA de Linhares, situada no Estado do Esprito Santo - Brasil, detalharam a cintica do processo, as relaes estequiomtricas entre os reagentes envolvidos e a influncia de parmetros tais como pH, teor de slidos e da agitao na frao de Alumnio solubilizada. As principais concluses a que se chegou foram:A reao de solubilizao cida e alcalina para o lodo I so similares e obedecem a uma cintica de 1a ordem, com tempos de contado em torno de 10 minutos.Os teores mdios recuperados para o lodo tipo I foram cerca de 60%, enquanto que os valores reportados na bibliografia indicam recuperaes de Al em torno de 75% ou mais.A separao dos slidos inertes aps a regenerao influenciada pelo pH e pelo teor de slidos.A regenerao alcalina mediante adio de Cal no vivel porque promove a coagulao do lodo e a co-precipitao do Alumnio.A regenerao alcalina utilizando-se NaOH no indicada devido a re-precipitao dos aluminatos.As relaes de consumo de cido[t] por [t] de Al solubilizado obtidas para o lodo tipo I (0,74) foram um pouco superiores aos valores reportados na bibliografia (0,68). Este aumento foi consequncia da menor recuperao de Al neste tipo de lodo.Os ensaios de solubilizao com os lodos tipos II e III indicaram que somente uma pequena frao do Alumnio foi solubilizada. Os mecanismos de coagulao e da identificao das espcies de Al presentes, mediante balano de massa e de consumo de reagentes, sero abordados separadamente em publicao posterior.Os ensaio preliminares de aplicao dos compostos recuperados no tratamento de efluentes indicaram que o poder de coagulao semelhante ao do sulfato de alumnio comercial. Os slidos inertes contidos no regenerado no inteferem significativamente nos processos de coagulao-floculao dos diversos tipos de efluentes testados.AGRADECIMENTOSOs autores expressam seus agradecimentos a Fundao Nacional de Sade pelo patroncio deste projeto de pesquisa, e a Aracruz Celulose pelo fornecimento de infra-estrutura para a realizao dos ensaios e para as determinaes analticas.BIBLIOGRAFIAAWWA Research Foundation , Handbook: Water Treatment Plant Waste Management, 1987, p.330-388.AWWA Research Foundation Report , Disposal Of Wastes From Water Treatment Plants - Part 2, Journal AWWA,Nov. 1969, p. 619-638.AWWA Research Foundation Report , Disposal Of Wastes From Water Treatment Plants - Part 3, Journal AWWA, December 1969, p.681-708.AWWA Research Foundation Report , Disposal Of Wastes From Water Treatment Plants - Part 4, Journal AWWA, January 1970, p.63-70.AWWA Research Fundation Report , Disposal Of Wastes From Water Treatment Plants - Part 1, Journal AWWA, 61(10)October 1969, p. 541-566.Beecroft, J.R.D. , et.al. , The chemical nature os precipitates formed in solution of parcially neutralized Aluminum Sulfate, Water Res. 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