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REFUGIADOS E DIREITOS HUMANOS: DESAFIOS INTRÍNSECOS AO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL Tathiana Costa dos Santos 1 RESUMO: Este artigo consiste na abordagem de alguns fatores que embaraçam e ou impedem o acesso e a permanência dos refugiados nos equipamentos públicos de proteção social especial de alta complexidade, na modalidade de abrigo institucional. Para tanto utilizamos a experiência vivida em um equipamento público municipal do Rio de Janeiro- a URS Plínio Marcos. Tais fatores sinalizam as fragilidades deste serviço tipificado na Politica Nacional de Assistência Social- PNAS, no que diz respeito ao atendimento e resolutividade das questões específicas deste segmento populacional. Sinalizamos também as políticas públicas e o papel do Estado no sentido da proteção e garantia dos direitos do segmento refugiado que, infelizmente, ainda enfrenta discriminações e preconceitos na sociedade brasileira. Palavras-chave: refugiados, acolhimento institucional, direitos humanos. 1 INTRODUÇÃO O presente artigo traz apontamentos sobre os desafios intrínsecos ao acolhimento institucional, enquanto serviço de proteção social especial de alta complexidade destinado à população em situação de rua, com destaque para os refugiados vivendo no município do Rio de Janeiro. Para a construção deste artigo foi feito breve levantamento bibliográfico sobre a temática ainda pouco explorada por profissionais do Serviço Social e pelas demais categorias atuantes da política de assistência social. Também foi considerada a experiência profissional vivida na URS Plinio Marcos, que é uma instituição pública de acolhimento 1 - Assistente Social, Mestranda em Política Social (UFF). Especialista em Gestão Pública Municipal (UFF) e Atenção Psicossocial na Infância e Adolescência (IPUB-UFRJ). E-mail: [email protected] Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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REFUGIADOS E DIREITOS HUMANOS: DESAFIOS INTRÍNSECOS AO

ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL

Tathiana Costa dos Santos1

RESUMO:

Este artigo consiste na abordagem de alguns fatores que embaraçam e ou impedem o

acesso e a permanência dos refugiados nos equipamentos públicos de proteção social

especial de alta complexidade, na modalidade de abrigo institucional. Para tanto utilizamos

a experiência vivida em um equipamento público municipal do Rio de Janeiro- a URS

Plínio Marcos. Tais fatores sinalizam as fragilidades deste serviço tipificado na Politica

Nacional de Assistência Social- PNAS, no que diz respeito ao atendimento e resolutividade

das questões específicas deste segmento populacional. Sinalizamos também as políticas

públicas e o papel do Estado no sentido da proteção e garantia dos direitos do segmento

refugiado que, infelizmente, ainda enfrenta discriminações e preconceitos na sociedade

brasileira.

Palavras-chave: refugiados, acolhimento institucional, direitos humanos.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo traz apontamentos sobre os desafios intrínsecos ao acolhimento

institucional, enquanto serviço de proteção social especial de alta complexidade destinado

à população em situação de rua, com destaque para os refugiados vivendo no município do

Rio de Janeiro.

Para a construção deste artigo foi feito breve levantamento bibliográfico sobre a

temática ainda pouco explorada por profissionais do Serviço Social e pelas demais

categorias atuantes da política de assistência social. Também foi considerada a experiência

profissional vivida na URS Plinio Marcos, que é uma instituição pública de acolhimento

1 - Assistente Social, Mestranda em Política Social (UFF). Especialista em Gestão Pública Municipal (UFF) e

Atenção Psicossocial na Infância e Adolescência (IPUB-UFRJ). E-mail: [email protected]

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institucional componente da estrutura da SMASDH- Secretaria Municipal de Assistência

Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro.

A Unidade de Reinserção Social Plinio Marcos está ligada à 1ª. CASDH

(Coordenadoria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos) e, tem sua

localização estratégica por estar situada no bairro de São Cristóvão, bem próximo ao centro

da cidade do Rio de Janeiro. Esta instituição atualmente acolhe indivíduos adultos do sexo

masculino, na faixa etária de 18 a 59 anos de idade, que estão em situação de rua por

diferentes motivos, tais como: em decorrência do desemprego, rompimento de vínculo

familiar, perda ou ausência de moradia, dependência química, comprometimento mental,

migrantes de outros estados e municípios, com longo histórico de acolhimento, egressos e

refugiados.

É importante mencionar que no município do Rio de Janeiro não há equipamentos

públicos específicos para acolhimento de estrangeiros e ou refugiados. Neste caso, o

mesmo atendimento ofertado ao público brasileiro é dado ao indivíduo oriundo de outro

país em busca de segurança e acolhida, por motivo de perseguição política, racial ou social

em seu país de origem. Sendo assim, o nosso objetivo neste artigo, é dar visibilidade ao

segmento refugiado como público da assistência social, bem como, apontar alguns

obstáculos presentes no cotidiano de trabalho profissional que, consequentemente,

interferem na garantia dos direitos dos indivíduos refugiados em situação de

vulnerabilidade.

2 REFUGIADOS E DIREITOS HUMANOS

2.1 O REFÚGIO NO BRASIL

É sabido que o Brasil é signatário dos principais tratados internacionais de direitos

humanos, e como consequência disto, se consolida como destino de imigrantes em busca

de sobrevivência. Isto significa dizer que o país assumiu um compromisso internacional de

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fornecer proteção aos refugiados, pautando-se nos princípios das Nações Unidas, desde o

pós-guerra, quando assinou a Convenção de 1951 e o Protocolo de 19672.

Estudos apontam que a partir do século XX as migrações internacionais motivadas

por conflitos bélicos passaram a atrair grande atenção no plano internacional. O cenário

estabelecido durante e após a guerra que dizimou cinquenta milhões de pessoas de

diferentes nacionalidades causou várias migrações, especialmente de refugiados, que

buscavam paz e novas oportunidades em diferentes locais do mundo, abandonando suas

origens, residências e bens em busca de paz em outros países.

De acordo com Bógus e Rodrigues (2011, p.102) neste início de século XXI, o

Estado brasileiro tem se mostrado cada vez mais receptivo às vítimas de violência

generalizada, aceitando refugiados de toda parte do mundo. Uma vez que o Estado

brasileiro assumiu o compromisso internacional de recebê-los em seu território.

A temática do refúgio no Brasil passa a ser, desde a entrada em vigência da Lei

9.474/97, revestida de um aparato normativo caracterizado por ser um dos mais

modernos do mundo. Pois, além de abarcar a totalidade dos princípios previstos

pela Convenção de 1951 e do Protocolo de 1967 das Nações Unidas sobre

Refugiados, incorpora o que há de mais contemporâneo da discussão acerca do

direito internacional dos refugiados. (LEÃO, 2004, p.201)

Um importante avanço no direito internacional para os refugiados é o Alto

Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) que foi criado pela

Assembleia Geral da ONU em 14 de dezembro de 1950 para proteger e assistir às vítimas

de perseguição, da violência e da intolerância. Desde então, já ajudou mais de 50 milhões

de pessoas, ganhou duas vezes o Prêmio Nobel da Paz (1954 e 1981). Hoje, é uma das

principais agências humanitárias do mundo.

No Brasil, o ACNUR atua em cooperação com o Comitê Nacional para os

Refugiados (CONARE), ligado ao Ministério da Justiça. Além da proteção física e legal,

os refugiados no país têm direito à documentação e aos benefícios das políticas públicas de

educação, saúde e habitação, entre outras. Para garantir a assistência humanitária e a

integração dessa população, o ACNUR também trabalha com diversas ONGs no país.

2 A Convenção e o Protocolo são os principais instrumentos internacionais estabelecidos para a proteção dos

refugiados e seu conteúdo é altamente reconhecido internacionalmente. São os meios através dos quais é

assegurado que qualquer pessoa, em caso de necessidade, possa exercer o direito de procurar e de gozar de

refúgio em outro país.

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Conforme o balanço feito pelo ACNUR3, até o final de 2016, o Brasil reconheceu

um total de 9.552 refugiados de 82 nacionalidades. Desses, 8.522 foram reconhecidos por

vias tradicionais de elegibilidade, 713 chegaram ao Brasil por meio de reassentamento e a

317 foram estendidos os efeitos da condição de refugiado de algum familiar. Os países

com maior número de refugiados reconhecidos no Brasil em 2016 foram Síria (326),

República Democrática do Congo (189), Paquistão (98), Palestina (57) e Angola (26).

Fonte: Ministério da Justiça e Segurança Pública, Governo Federal do Brasil.

Estes dados apontam um aumento 127% no período de 2010 a 2016. Contudo,

atualmente existem 27.343 pessoas esperando a decisão do Conare (Comitê Nacional para

os Refugiados), que analisa os pedidos com base na Lei nº 9474/97. Dentre este

quantitativo, foram registrados 7.500 refugiados, sendo que aproximadamente 5.000 vivem

atualmente na cidade do Rio de Janeiro, conforme dados divulgados pela Caritas-RJ4.

3 O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), conhecido como a Agência da ONU

para Refugiados, tem o mandato de dirigir e coordenar a ação internacional para proteger e ajudar as pessoas

deslocadas em todo o mundo e encontrar soluções duradouras para elas. 4 A Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro (Cáritas/RJ) é um organismo da Conferência Nacional dos

Bispos do Brasil (CNBB) e está inserida nos trabalhos da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

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Fonte: Ministério da Justiça e Segurança Pública, Governo Federal do Brasil.

De acordo com as orientações do Ministério das Relações Exteriores, para solicitar

refúgio no Brasil, é preciso estar presente no território nacional. A qualquer momento após

a sua chegada no Brasil, o estrangeiro que se considera vítima de perseguição em seu país

de origem deve procurar uma Delegacia da Polícia Federal ou autoridade migratória na

fronteira e solicitar expressamente o refúgio para adquirir a proteção do governo brasileiro.

O estrangeiro que solicita refúgio no Brasil não pode ser deportado para fronteira de

território onde sua vida ou liberdade estejam ameaçadas.

É importante destacar que conforme a legislação adotada pelo Brasil, o refugiado só

poderá ser expulso em casos de risco à segurança nacional e à ordem pública, tendo

garantia à defesa e a um tempo razoável que lhe permita buscar asilo em outro Estado. Há

ainda vedações à devolução ou expulsão para países em que a vida ou liberdade dos

refugiados estejam ameaçadas por motivo de religião, raça, nacionalidade, grupos sociais

e/ou opinião política.

A Lei 9.474/97, de 22 de julho de 1997, é a lei nacional que garante aos refugiados

o mesmo direito de outro estrangeiro no país. Deste modo, muitos a consideram uma das

mais avançadas leis de proteção aos refugiados.

Conforme Art. 1º da Lei Nº 9.474/1997, será reconhecido como refugiado todo

indivíduo que:

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I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião,

nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de

nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país;

II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência

habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias

descritas no inciso anterior;

III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a

deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país.

Entretanto, apesar do Brasil adotar lei específica considerada progredida, na prática,

ainda carece de muitos avanços para sua implementação, isto porque os refugiados até hoje

enfrentam uma série de dificuldades para adaptação cultural e permanência segura após

adentrar ao território brasileiro. Atrelado a este fator, podemos sinalizar questões relativas

tanto à possibilidade de viver dignamente, quanto ao enfrentamento de restrições ao

mercado de trabalho, dificuldades para conseguirem moradias, problemas no acesso à

saúde e à educação, além da discriminação.

2.2 OS DIREITOS HUMANOS DOS REFUGIADOS

Entendemos que os direitos humanos são os direitos e liberdades básicas de todos

os seres humanos e este conceito está relacionado à noção de liberdade de pensamento, de

expressão, e a igualdade perante a lei. A ONU5 (Organização das Nações Unidas) foi a

responsável por proclamar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que deve ser

respeitada por todas as nações do mundo.

Podemos dizer que os direitos humanos consistem em direitos naturais garantidos a

todo e qualquer indivíduo, e que devem ser universais, isto é, se estender a pessoas de

todos os povos e nações, independentemente de sua classe social, etnia, gênero,

nacionalidade ou posicionamento político. Entretanto, alguns estudiosos acreditam que o

desafio para a eficácia dos direitos humanos está relacionado principalmente à falta

de vontade política, muitas vezes sob a justificativa dos altos custos dos investimentos

sociais.

5 A ONU é uma organização internacional dotada de personalidade jurídica internacional e capaz de celebrar

tratados e acordos.

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A proteção ao refugiado é uma função do Estado brasileiro, respaldado pelo direito

internacional e no conceito do non-refoulement (ou não devolução), base de todo o direito

de refugiados, significa simplesmente que o indivíduo perseguido não pode ser devolvido.

O tema do Direito Internacional dos Direitos Humanos adquiriu relevância na

ordem internacional a partir da catástrofe humanitária que se verificou durante a

Segunda Guerra Mundial, uma vez que várias normas de Direito Internacional

foram adotadas para evitar que as atrocidades aí cometidas se repetissem. Sob a

égide da recém-criada ONU, passou-se ao estabelecimento de regras mínimas de

proteção aos direitos mais fundamentais do ser humano, sendo eles a vida, a

liberdade, a igualdade e a segurança. (JUBILUT, 2007, p. 31)

Uma questão a ser destacada é o fato da maioria dos países ocidentais distinguir os

refugiados “políticos” dos denominados refugiados “econômicos”. Estes últimos fogem,

acima de tudo, da pobreza e da miséria, mais do que de perseguições políticas,

principalmente quando são provenientes dos países da periferia capitalista.

A principal diferença entre refugiado e migrante “econômico” e que estes últimos

escolhem se deslocar não devido a uma ameaça direta de perseguição ou morte, mas

principalmente para melhorar sua vida em busca de trabalho ou educação, por reunião

familiar ou por outras razões. Sendo assim, os migrantes continuam recebendo a proteção

do seu governo, o que não ocorre com os refugiados que tem respaldo do direito

internacional, onde países como o Brasil têm responsabilidades específicas frente a

qualquer pessoa que solicite refúgio em seu território ou em suas fronteiras. Ou seja, se

incubem de responsabilidades específicas.

A efetivação da proteção internacional aos refugiados apresenta dois aspectos: (1) o

relacionado ao próprio reconhecimento do status de refugiado, ou seja, a verificação da

implementação dos dispositivos mínimos de proteção adotados pela Convenção de 51 por

parte dos Estados signatários; e (2) o relativo ao gozo de direitos após o reconhecimento do

status de refugiado. (JUBILUT, 2007, p. 161)

Como destacamos, o Brasil é considerado um dos países que mais acolhem

refugiados. Atualmente, o país possui cerca de cinco mil refugiados, de mais de oitenta

nacionalidades diferentes, vivendo principalmente em centros urbanos.

Devido à forma quase sempre inesperada como deixam os seus países de origem,

muitos refugiados chegam ao país de refúgio sem dinheiro, documentação e recursos para

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sua sobrevivência. Desta forma, boa parte destes ficam sujeitos a riscos e condições de

vulnerabilidade social6, o que infere a necessidade de proteção social especial.

As condições de fragilidade denotam a necessidade de medidas protetivas voltadas

para a garantia dos direitos fundamentais e humanos dos refugiados no Brasil. A própria

Constituição Federal brasileira assegura a dignidade da pessoa humana por meio do seu

Artigo 1°, instituindo dessa forma, fundamento legal para a aplicação do Estatuto de

Refúgio. Deste modo, o sistema brasileiro deve zelar por um conjunto de direitos civis,

dentre estes, o respeito aos direitos humanos, a concessão de asilo aos refugiados e a

igualdade de direitos entre brasileiros e estrangeiros.

Todavia, a discriminação tem se mostrado um fator relevante que dificulta o acesso

a direito e a aplicação da progressiva lei. De acordo com a perspectiva de Freitas (2013)

muitos refugiados sentem-se discriminados por serem estrangeiros ou devido à sua

condição de refugiado e de solicitante de refúgio. Esta discriminação, que pode ter como

causa a desinformação sobre o tema do refúgio, reduzindo dessa forma, as oportunidades

de trabalho e comprometendo a geração de renda e dificultando a integração sociocultural

do refugiado no Brasil.

Segundo a ACNUR, a discriminação e a xenofobia estão entre os maiores desafios

de proteção aos solicitantes de refúgio e refugiados, principalmente em áreas urbanas.

Obstáculos iniciais estão geralmente relacionados ao aprendizado do idioma do país de

abrigo e às questões culturais.

Em entrevista ao Jornal do advogado e publicado no Jornal Nexo, Flávia Piovesan-

atual secretária de Direitos Humanos do Ministério da Justiça destaca que “Cada refugiado

é reflexo de uma grave violação aos direitos humanos. Eles só existem porque os direitos

humanos foram afrontados. Então, cada um deles carrega essa dor.”7

A temática dos direitos humanos nos remete a garantia e acesso aos direitos por

indivíduos de diferentes países. Segundo Piovesan (2006, p.18), o conceito de direitos

humanos é dotado de universalidade, pois possui extensão universal, pois basta possuir

6 O conceito de vulnerabilidade social está relacionado com os lugares e indivíduos que estão expostos à

exclusão social, ou seja, que vivem à margem da sociedade. 7 Ver https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/05/18/Quem-%C3%A9-Fl%C3%A1via-Piovesan-a-

secret%C3%A1ria-de-Direitos-Humanos-do-governo-Temer-em-9-frases

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condição de pessoa para ser titular de direitos. Portanto, o ser humano é visto como um ser

essencialmente moral com unicidade existencial e dignidade.

Para Piovesan (2004, p. 57) “a concepção contemporânea de direitos humanos

caracteriza-se pelos processos de universalização e internacionalização destes direitos,

compreendidos sob o prisma de sua indivisibilidade”.

Neste sentido, entendemos a questão do refúgio como uma questão de direitos

humanos que precisa ser garantida, uma vez que há respaldo pela própria Declaração

Universal dos Direitos Humanos, que no Artigo 14°, afirma o direito de toda e qualquer

pessoa procurar e se beneficiar de refúgio.

1.Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de

asilo em outros países.

2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente

existente por crime de direito comum ou por atividades contrárias aos fins e aos

princípios das Nações Unidas.

Conforme Moura (2016) a questão do refúgio tem se mostrado uma crise

humanitária, onde as políticas necessitam ser revistas para que de fato a acolhida em outro

país seja efetivada. No caso, do Brasil a autora traz uma importante reflexão que é tratar

este segmento a partir de suas especificidades.

A proteção brasileira em acolher estes refugiados deve ser refletida também no

compromisso do Estado em promover o desenvolvimento social, não

somente na inclusão dos refugiados em programas como o Bolsa Família, mas

também em oferecer políticas sociais específicas a este grupo. Dado que,

políticas específicas não significam uma diferenciação entre refugiados e

brasileiros; mas sim a necessidade e a receptividade em tratar de casos,

situações e realidades específicas que necessitam de urgência e que exigem

uma atuação particularizada. (MOURA, 2016, p.12)

A partir dessa reflexão podemos mencionar que avanços são necessários, embora a

o Direito Internacional do Refugiado e o Estatuto do Refugiado garanta a entrada destes no

pais, são necessárias outras medidas e garantias de permanência digna. Acreditamos que

somente através da criação e implementação de outras politicas seja viável, Contudo o

fortalecimento das políticas públicas já existentes possa contribuir em grande medida para

essa permanência, como é o caso da política de assistência social que possibilita garantia

proteção aos vulneráveis, como destacaremos a seguir.

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REFUGIADOS E ASSISTÊNCIA SOCIAL

A PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL DE ALTA COMPLEXIDADE

Como sabemos, no Brasil, a política de assistência social é integrante do sistema de

seguridade social, juntamente com as políticas de previdência social e de saúde.

A Seguridade Social está definida na Constituição Federal, no artigo 194, “como

um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade,

destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”.

A constituição Federal em seu artigo 203 estabelece que:

A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de

contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;

II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;

III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;

IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a

promoção de sua integração à vida comunitária;

V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de

deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria

manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) dispõe sobre a organização da

assistência social. Esta lei institui benefícios, serviços, programas e projetos destinados ao

enfrentamento da exclusão social dos segmentos mais vulnerabilizados.

De acordo com a Politica Nacional de Assistência Social (PNAS), a proteção social

especial de alta complexidade tem por objetivo ofertar serviços especializados, em

diferentes modalidades e equipamentos, com vistas a afiançar segurança de acolhida. Deve

primar pela preservação, fortalecimento ou resgate da convivência familiar e comunitária -

ou construção de novas referências, quando for o caso - adotando metodologias de

atendimento e acompanhamento condizente com esta finalidade.

Os serviços de proteção social especial de alta complexidade são aqueles que

garantem proteção integral – moradia, alimentação, higienização e trabalho

protegido para famílias e indivíduos que se encontram sem referência e, ou, em

situação de ameaça, necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e, ou,

comunitário. (PNAS, 2004, p. 38)

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A condição de vulnerável leva muitos indivíduos a situação de rua, que buscam

normalmente os centros urbanos para permanência. Devido o crescimento deste

contingente vivendo nas ruas ao longo dos anos, foi criada em 23 de dezembro de 2009,

através do Decreto 7.053 a Política Nacional para a População em Situação de Rua. Esta

política reafirma os princípios e diretrizes da Constituição Federal de 1988 e se apresenta

como um instrumento que visa garantir a proteção, através do Estado brasileiro, daqueles

que historicamente foram invisíveis sob a ótica dos direitos.

De acordo com a Política Nacional para a População em Situação de Rua, no

parágrafo único, do artigo 1º, considera-se população em situação de rua:

O grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os

vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia

convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas

como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem

como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia

provisória (BRASIL, 2009, p.7).

O trato a população em situação de rua adulta, está previsto na PNAS e se insere na

proteção social especial de alta complexidade, através dos serviços de acolhimento.

Conforme o Sistema Único de Assistência Social (SUAS)8 a oferta do Serviço de

Acolhimento para Adultos e Famílias deverá ter caráter provisório, com estrutura para

atender com privacidade pessoas do mesmo sexo ou grupo familiar. Está voltado para

pessoas em situação de rua e desabrigo por abandono, migração e ausência de residência

ou pessoas em trânsito e sem condições de autossustento.

O atendimento prestado deve ser personalizado e em pequenos grupos e

favorecer o convívio familiar e comunitário, bem como a utilização dos

equipamentos e serviços disponíveis na comunidade local. As regras de gestão e

de convivência deverão ser construídas de forma participativa e coletiva, a fim

de assegurar a autonomia dos usuários, conforme perfis. (BRASIL, 2009, p.31)

No que diz respeito ao atendimento aos refugiados, a Tipificação Nacional para os

Serviços Socioassistenciais (2014, p.45) aponta que “o atendimento a indivíduos

8 O Sistema Único da Assistência Social é um sistema não contributivo, descentralizado e participativo que

tem por função a gestão do conteúdo específico da Assistência Social no campo da proteção social brasileira.

Configura-se como o novo reordenamento da Política de Assistência Social na perspectiva de promover

maior efetividade de suas ações.

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refugiados ou em situação de tráfico de pessoas (sem ameaça de morte) poderá ser

desenvolvido em local específico, a depender da incidência da demanda”.

O atendimento na modalidade Abrigo Institucional deve ser ofertado em unidade

institucional semelhante a uma residência com o limite máximo de 50 pessoas por unidade

e de quatro pessoas por quarto. Todas as ações desenvolvidas neste Serviço devem ser

orientadas, de acordo com a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, pelos

objetivos gerais e específicos abaixo relacionados:

Objetivos Gerais:

Acolher e garantir proteção integral;

Contribuir para a prevenção do agravamento de situações de negligência, violência e

ruptura de vínculos;

Restabelecer vínculos familiares e/ou sociais;

Possibilitar a convivência comunitária;

Promover acesso à rede socioassistencial, aos demais órgãos do Sistema de Garantia

de Direitos e às demais políticas públicas setoriais;

Favorecer o surgimento e o desenvolvimento de aptidões, capacidades e

oportunidades para que os indivíduos façam escolhas com autonomia;

Promover o acesso a programações culturais, de lazer, de esporte e ocupacionais

internas e externas, relacionando-as a interesses, vivências, desejos e possibilidades

do público.

Objetivos Específicos:

Desenvolver condições para a independência e o auto-cuidado;

Promover o acesso à rede de qualificação e requalificação profissional com vistas à

inclusão produtiva.

A partir desses objetivos, a PNAS buscar causar determinados impactos sociais, tais

como contribuir com os fatores abaixo relacionados:

Impacto Social Esperado:

Redução das violações dos direitos socioassistenciais, seus agravamentos ou

reincidência;

Redução da presença de pessoas em situação de rua e de abandono;

Indivíduos e famílias protegidas;

Construção da autonomia;

Indivíduos e famílias incluídas em serviços e com acesso a oportunidades;

Rompimento do ciclo da violência doméstica e familiar.

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3.1 DESAFIOS INTRÍNSECOS AO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL

Segundo o ACNUR, os principais problemas enfrentados pelos refugiados que

chegam ao Brasil estão relacionados à moradia e ao trabalho. Em relação ao trabalho, as

dificuldades enfrentadas são os baixos salários, a falta de qualificação profissional, carteira

de trabalho não assinada, demora na emissão dos documentos e a própria dificuldade em

encontrar emprego. Na área de moradia, os maiores problemas são os altos preços dos

aluguéis e as exigências burocráticas das imobiliárias, como fiador e comprovação de

renda.

A questão da moradia corresponde um grande problema para os refugiados que

chegam aos centros urbanos no Brasil, pois não existe uma política de moradia para

refugiados no país. Todavia, percebemos que a habitação, dentre outras, é uma questão

relevante para a autonomia e estabilidade dos refugiados no país, isso se dá como

consequência da não existência de política pública específica para estes indivíduos.

Diante destes fatores, a questão da vulnerabilidade aumenta, o queal leva este

segmento a compor o público da política de assistência social no Brasil. Diante da situação

de rua, os refugiados chegam aos equipamentos da assistência social de alta complexidade,

onde então enfrentam alguns obstáculos para seu acesso e permanência. Por isso, neste

artigo, dizemos que estes são fatores intrínsecos ao acolhimento institucional que é uma

modalidade de serviço socioassistencial pertencente a proteção social especial.

Como já apontamos aqui, consideramos a experiência vivenciada no equipamento

público do município do Rio de Janeiro, onde não dispõe de locais de acolhimento

institucional específicos para os refugiados em situação de extrema vulnerabilidade. Por

isto, estes são encaminhados para os equipamentos públicos do município e acolhidos nas

mesmas instituições que os brasileiros, e por vezes, não conseguem se adequar às normas

estabelecidas.

De acordo com a realidade da URS Plínio Marcos, destacamos fatores

intervenientes para a garantia dos direitos dos refugiados tais como: ausência de normativa

que regulamenta a metodologia/diretriz de trabalho específico, a falta de qualificação dos

profissionais que atuam na política de assistência social e demais políticas sociais, a

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estigmatização sofrida, os diferentes idiomas, comprovação de escolaridade, dificuldades

de inserção no mercado de trabalho, dentre outros.

Deste modo, separamos os mais evidentes no cotidiano de trabalho:

Ausência de metodologia específica de trabalho

No município do Rio de Janeiro, o acolhimento do refugiado se dá conforme os

procedimentos adotados para os demais usuários previsto na Tipificação dos Serviços

Socioassistenciais da PNAS, não havendo uma metodologia específica para este segmento.

Também não há normativa que estabelece critérios que indicam a criação de unidades

especializadas para atendimento ao segmento refugiado, embora a Tipificação aponte que o

acolhimento poderá ser desenvolvido em local específico. Como consequência disto, não

se tem uma metodologia específica de trabalho voltado para o público estrangeiro em

situação de refúgio.

Necessidade de qualificação dos profissionais

Infelizmente, o que observamos na prática, é um corpo de profissionais que não

possui capacitação permanente para atuação na política de assistência social. Isto ocorre

para profissionais de todos os níveis, desde o motorista até o profissional de nível superior

que digere a unidade. Tal fator pode interferir na garantia dos direitos dos usuários destes

serviços, dada a desqualificação e, muitas vezes, despreparo para atuar em situações

específicas no cotidiano do trabalho social que requer um olhar mais atento e qualificado

sobre as questões apresentadas pelo segmento refugiado.

O idioma

De imediato, a barreira com o idioma se revela como um grande obstáculo, pois

como já apontamos, não há profissionais com competência para compreender outros

idiomas, além da língua materna. Assim como, por parte dos refugiados, também não

notamos a presença daqueles que se comunicam em português. Nestas situações, o serviço

se vê refém daquele profissional que consegue minimamente compreender e se expressar

em outra língua .

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O tratamento de saúde

Outro fator que é consequente deste é o acesso e permanência aos equipamentos

públicos de saúde para tratamento de saúde física ou mental. Devido suas histórias de vida,

muitos chegam doentes, com depressão e em processo de sofrimento psíquico com sérios

prejuízos a saúde. A saudade de familiares e ou perda destes, são as principais causas deste

sofrimento. Há por parte da grande maioria, dificuldade para abordar sobre suas histórias

em virtude dass violências sofridas, além do fato de se expressarem em outro idioma, onde

muitos profissionais de saúde se sentem inseguros nos procedimentos, como, por exemplo,

na prescrição de medicamentos e elaboração de diagnósticos.

A escolarização e a profissionalização

A escolarização e profissionalização ainda são grandes desafios que se apresentam,

pois como muitos abandonam seus países de origem de forma súbita, nem sempre dispõem

de documentação comprobatória de suas escolaridades. Em outros casos, quando possuem

documento, a validação deste no Brasil nem sempre se dá de forma acessível a todos, pois

há custos financeiros. O interesse pela aprendizagem do nosso idioma também nem sempre

é bem aceito pelos refugiados. Logo, a escolarização se torna uma tarefa difícil, tendo em

vista que demanda tempo razoável e dedicação dos mesmos. Além do fato de serem poucas

as instituições que oferecem gratuitamente aprendizagem do português para estrangeiros na

área de abrangência/território, sobretudo oferecendo certificação válida no país.

A empregabilidade

Sobre o acesso ao mercado de trabalho, podemos informar que fatores como: não

reconhecimento do ofício exercido no país de origem, ausência de experiências em

trabalhos anteriores, receio sobre o tempo de permanência do refugiado no Brasil, e,

principalmente o idioma, são obstáculos encontrados pelos refugiados para ingressar no

mercado formal de trabalho. É importante destacar que algumas empresas possuem

parceria com o Ministério do Trabalho e Renda para admissão de refugiados, desde que os

mesmos consigam se comunicar bem em nossa língua e estejam regulares no país (sai da

condição de solicitante de refugio e torna-se refugiado).

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A questão cultural

Em alguns casos, por conta da religião e costumes agregados à sua história de vida,

muitos destes usuários acabam não se adaptando às normas da instituição, e por este

motivo são desligados do equipamento. Costumes, tais como hábitos alimentares, ritos

religiosos, medos e o consumo de substâncias psicoativas são exemplos de impasses no

atendimento pela equipe.

O estigma

Ainda que tenhamos avançada lei de proteção aos refugiados, o desconhecimento

sobre os direitos dos solicitantes de refúgio e refugiados produz preconceito com este

segmento. Infelizmente, é comum pensar nos refugiados como pessoas que cometeram atos

“ilícitos” em seu país de origem e, por este motivo, são perseguidos e não podem mais

retornar. Logo, na visão do senso comum, merecem ser tratados com desprezo e pode

ocorrer novamente a violação de seus direitos humanos. Ou, em outras situações, são visto

como pessoas que “retiram” empregos dos brasileiros, diante de uma realidade atual de

forte instabilidade econômica, cujo acesso ao mercado de trabalho formal tem se mostrado

bastante restritiva. Aliados a isto, a xenofobia e o racismo marcam a historia da sociedade

brasileira, traduzindo-se num fator negativo para a integração dos refugiados no país.

Estes apontamentos revelam que a política de assistência social, precisa ser revista

e melhor adequar às questões, como as apresentados aqui.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi exposto neste artigo foi possível observar que a implementação

efetiva da lei 9.474/1997, implica na articulação e adequação de outras políticas, como por

exemplo, a PNAS. Assim, esse fenômeno representa um desafio novo na agenda

governamental, gerando demandas específicas para os serviços socioassistenciais do

Sistema Único da Assistência Social, sobretudo a necessidade de uma política especifica

devido situação de intensa vulnerabilidade apresentada apor este segmento.

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Apesar da realização de alguns programas sociais, poucas políticas são

desenvolvidas para solucionar o problema da situação de rua, como é o caso dos abrigos

temporários e os albergues que, de um modo geral, são considerados insuficientes para

suprir a demanda dessa população.

Podemos notar que por parte do Estado não há devida preocupação com o

reconhecimento desta população como alvo de ações efetivas. Logo, percebemos que

políticas públicas precisam ser criadas e implementadas com a perspectiva de garantir

condições de exercício da dignidade destes sujeitos.

A formulação e implantação de políticas públicas voltadas para esse segmento é de

extrema importância para diminuir os problemas sociais, de saúde e de segurança sofridos

pelos refugiados e também diminuir os problemas advindos da própria situação e que

afetam todo o resto da sociedade.

No entanto, sabemos que política de assistência social sozinha não será capaz de

superar esta questão. Isto porque, se apresenta como fruto das desigualdades sociais

existentes em nosso país, marcada violência estrutural e simbólica presente nas sociedades

capitalistas, fortemente marcadas pelas relações desiguais, que tende a “invisibilizar”

sujeitos.

4 REFRÊNCIAS

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