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REFUGIADOS AMBIENTAIS: RESULTADO DA MÁ RELAÇÃO ENTRE SOCIEDADE E NATUREZA Camila Bernardi de Oliveira 1 Eixo temático: TERRITÓRIOS E TERRITORIALIDADES FRONTEIRIÇAS RESUMO: Com as crescentes degradações ao meio ambiente, causadas pelas práticas capitalistas, o local de vivência passa a não oferecer mais as condições necessárias para a sobrevivência das pessoas. Sendo assim, esses indivíduos são forçados a deixar suas casas por problemas ocasionados pelo aquecimento global. Esses sujeitos passaram a ser denominados refugiados ambientais, pois são obrigados a se deslocar para outros lugares, em decorrência de problemas no meio ambiente em que vivem. Por ser a categoria de refugiados que mais cresce ultimamente, a aceitação da comunidade internacional e a definição deste novo tipo de refugiado tornaram-se assuntos a serem amplamente discutidos, principalmente porque os efeitos do aquecimento global ainda não foram totalmente sentidos. Entretanto, para entender a causa do deslocamento dessas pessoas, é preciso perceber como se dá a relação da sociedade capitalista com o meio ambiente, e por que essas práticas capitalistas têm alterado o equilíbrio do geossistema, levando ao aquecimento global principal gerador de refugiados ambientais atualmente. PALAVRAS-CHAVE: refugiados ambientais, degradações da sociedade capitalista, aquecimento global, aumento do nível do mar. 1 INTRODUÇÃO De acordo com os padrões atuais de desenvolvimento, o meio ambiente está sendo severamente afetado, gerando degradações das condições de vida no ambiente. As anomalias ocasionadas pelo aquecimento global resultam em pessoas que já não têm condições de 1 Pesquisa feita para o Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca para a graduação em Geografia, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, em dezembro de 2009. E-mail: [email protected]

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REFUGIADOS AMBIENTAIS: RESULTADO DA MÁ RELAÇÃO ENTRE

SOCIEDADE E NATUREZA

Camila Bernardi de Oliveira1

Eixo temático: TERRITÓRIOS E TERRITORIALIDADES FRONTEIRIÇAS

RESUMO: Com as crescentes degradações ao meio ambiente, causadas pelas práticas capitalistas, o

local de vivência passa a não oferecer mais as condições necessárias para a sobrevivência das pessoas.

Sendo assim, esses indivíduos são forçados a deixar suas casas por problemas ocasionados pelo

aquecimento global. Esses sujeitos passaram a ser denominados refugiados ambientais, pois são

obrigados a se deslocar para outros lugares, em decorrência de problemas no meio ambiente em que

vivem. Por ser a categoria de refugiados que mais cresce ultimamente, a aceitação da comunidade

internacional e a definição deste novo tipo de refugiado tornaram-se assuntos a serem amplamente

discutidos, principalmente porque os efeitos do aquecimento global ainda não foram totalmente

sentidos. Entretanto, para entender a causa do deslocamento dessas pessoas, é preciso perceber como

se dá a relação da sociedade capitalista com o meio ambiente, e por que essas práticas capitalistas têm

alterado o equilíbrio do geossistema, levando ao aquecimento global – principal gerador de refugiados

ambientais atualmente.

PALAVRAS-CHAVE: refugiados ambientais, degradações da sociedade capitalista, aquecimento

global, aumento do nível do mar.

1 INTRODUÇÃO

De acordo com os padrões atuais de desenvolvimento, o meio ambiente está sendo

severamente afetado, gerando degradações das condições de vida no ambiente. As anomalias

ocasionadas pelo aquecimento global resultam em pessoas que já não têm condições de

1 Pesquisa feita para o Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca para a graduação em Geografia, da

Pontifícia Universidade Católica de Campinas, em dezembro de 2009. E-mail: [email protected]

permanecerem em suas casas, sendo obrigadas a fugir por terem suas vidas ameaçadas ou

insustentáveis. Surgem aí os refugiados ambientais.

De acordo com as previsões do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças

Climáticas) sobre as alterações no clima e como isso irá repercutir na vida humana, esse tipo

de refugiado entra nas discussões internacionais, sobretudo em relação aos seus direitos, já

que, segundo análises, esse novo grupo de refugiados será um dos maiores responsáveis por

migrações forçadas no mundo.

Esta pesquisa tem como finalidade estudar o deslocamento de pessoas causado pelas

mudanças climáticas, ligadas ao aquecimento global. Como objetivo geral dessa pesquisa

tem-se a preocupação em compreender as causas que levam as pessoas a se refugiarem. Os

objetivos específicos são: identificar, caracterizar e denominar os refugiados ambientais e

pesquisar a legislação já existente para esse tipo de refugiado.

Por ser um assunto novo, é difícil encontrar bibliografia específica sobre o tema.

Sendo assim, as pesquisas foram realizadas em websites e periódicos que publicaram

reportagens sobre os refugiados ambientais, assim como edições especiais de algumas

revistas; além do relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas).

Legislações existentes, assim como as Convenções sobre Refugiados, também foram

analisadas, para ajudar a compreender a necessidade de criação de uma nova categoria.

2 REFUGIADO AMBIENTAL X VARIABILIDADES CLIMÁTICAS

No século XIX, com a Revolução Industrial, a natureza passou a ser vista como um

recurso, um meio para atingir um fim. Segundo Gonçalves (2002), a idéia de que o homem

não pertence à natureza é fruto da civilização industrial inaugurada pelo capitalismo. Em

nome do progresso, o homem sente-se no direito de oprimir e explorar outro homem, e em

consequência, a natureza.

Segundo Germani (2003), “uma das funções principais do Estado capitalista moderno

é criar condições favoráveis para o desenvolvimento do processo de acumulação de capital”

(GERMANI, 2003, p. 13) sem que haja a preocupação com o meio ambiente. Esse Estado não

parece estar preocupado com as degradações e consequências que terá para acumular capital.

Muitas são as desordens trazidas ao clima pela emissão crescente de gases na

atmosfera, principalmente os derivados da queima de combustíveis fósseis, que causam o

efeito estufa.

Cientistas estimam que a temperatura subirá entre 2 e 5 graus nos próximos 50 anos.

Por essa razão, ocorrerá o derretimento de massas de gelo polar, o que elevará o nível do mar.

Isto produzirá o desaparecimento de zonas litorâneas e países baixos, assim como perdas na

agricultura, migrações e mal-estar político nas zonas mitigadas. (NORVERTO, 1998).

Desde a Revolução Industrial já foram adicionadas na atmosfera 271 bilhões de

toneladas de carbono, através da queima de combustíveis fósseis. (DUNN, 2002). Segundo

mostram pesquisas citadas por Christofoletti, 1999b, há uma clara correlação entre a elevada

concentração de dióxido de carbono na atmosfera e o aumento da temperatura. Esses estudos

indicam que as temperaturas sempre se elevaram quando houve acúmulo desse gás nos

últimos 420.000 anos. (como demonstrado na figura 1).

Fig. 1. Concentrações atmosféricas de dióxido de carbono e mudança de temperatura, de

420.000 anos atrás até 2001

Fonte: ORNL apud DUNN, 2002, adaptado pelo autor.

Dia a dia cresce o número de deslocamentos ocasionados pela variabilidade ambiental,

conforme demonstram os estudos do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para

Refugiados).

Os principais países que geram refugiados estão representados na figura 1. Entretanto,

não há distinção das causas do refúgio.

Fig. 2. Países de onde os refugiados estão saindo

Fonte: World Refugee Survey, 2000 apud Sepal, adaptado pelo autor.

Existem cinco causas principais de deslocamento de pessoas por problemas

ambientais: degradação da terra agriculturável, desastres ambientais, destruição do ambiente

pela guerra, deslocamento involuntário na forma de reassentamento e mudanças climáticas

(ESMPU, 2008).

Segundo estudos da Universidade das Nações Unidas (LISER, 2008) e da Convenção

da ONU Sobre Mudanças Climáticas – UNFCCC, sigla em inglês – (HOOD, 2009), há quase

a mesma quantidade de pessoas deslocadas no mundo por causa do clima quanto refugiados

tradicionais.

Há a necessidade de se criar um conceito legal para identificar os refugiados

ambientais, pois, atualmente, este conceito não existe. O impacto das variabilidades climáticas

tem alterado a vida das populações mais vulneráveis e aumentará à medida que o impacto da

elevação das temperaturas for mais visível.

3 DEFINIÇÕES EXISTENTES

Em todo o decorrer da história da humanidade fala-se em migrações e refugiados.

Classificar as pessoas como migrantes ou refugiados torna-se um assunto importante para que

se possa dar uma assistência devida a elas. Entretanto, deve-se ter o cuidado de fazer a

distinção correta, já que interpretações arbitrárias podem facilitar ou restringir seus direitos

(CONSELHO PONTIFÍCIO "COR UNUM”, 1993).

A expressão refugiado ambiental foi cunhada com a publicação do livro

Environmental Refugees, em 1985, por Essam El- Hinnawi, professor do Egyptian National

Research Centre, Cairo. Ele se referia àquelas pessoas que fugiram de suas casas por causa de

mudanças ambientais que tornaram suas vidas ameaçadas ou insustentáveis; sejam as que

procuraram outros lugares dentro de seus próprios países, ou não. (BARBOSA, 2008).

Segundo Vainer (2007), migrante é alguém que muda de região ou que se desloca a

uma distância mínima, permitindo certa mobilidade, liberdade. Refugiado é aquele que foge

de algo ou de uma situação – um deslocamento compulsório – aquele que é obrigado a mudar

de lugar por imposição, como os refugiados de guerra.

As leis internacionais para refugiados existem há cerca de cinquenta anos e foram

concebidas após a Segunda Guerra Mundial, em decorrência da grande quantidade de

refugiados surgidos com o conflito. Assim, com base nas Nações Unidas (1946) e na

Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), criou-se um Comissariado para os

Refugiados e uma Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados (1951).

Segundo esta Convenção, refugiado é

aquele que, possuído de um temor bem-fundado de ser perseguido por razões

de raça, religião, nacionalidade, de ser integrante de um grupo social

específico ou por suas opiniões políticas, encontra-se fora do país de sua

nacionalidade, e está incapacitado ou possuído por tal temor, por não poder

receber a proteção daquele país; ou quem, não tendo nacionalidade e estando

fora do país de sua habitual residência, está incapacitado, ou possuído por tal

temor, não tem a possibilidade de voltar para ele. (ESMPU, acesso em: 01

mar. 2008).

Por meio do Protocolo Adicional de 1967, entraram outras formas de perseguição,

como agressão externa, ocupação e domínio estrangeiro, procurando englobar outras situações

de refúgio e agilizar processos de reconhecimento e amparo aos refugiados. Desta forma,

todos os refugiados possuem direitos internacionais estabelecidos por essas convenções.

Os refugiados ambientais não se enquadram nessa definição, não existindo uma

proteção específica. Por isso, o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente) procurou definir os refugiados ambientais como

pessoas que foram obrigadas a abandonar temporária ou definitivamente a

zona onde tradicionalmente vivem, devido ao visível declínio do ambiente

(por razões naturais ou humanas) perturbando a sua existência e/ou a

qualidade da mesma de tal maneira que a subsistência dessas pessoas entra em

perigo (...). Com o declínio do ambiente quer se dizer, o surgimento de uma

transformação no campo físico, químico e/ou biológico do ecossistema, que,

por conseguinte, fará com que esse meio ambiente temporária ou

permanentemente não possa ser utilizado. (LISER, 2008).

Porém, esta não é uma definição oficial, com força jurídica, e nem permite direitos a

essas pessoas quando chegam a um lugar após o abandono de suas casas. Os países, ao

acolherem um refugiado, levam em consideração o direito que cada ser humano tem à vida e à

segurança, como é dito pelo artigo 3º da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Entretanto, não é apenas de segurança e proteção que essas pessoas precisam. E, ao mesmo

tempo, essas pessoas acabam não gozando de direitos fundamentais, também previstos na

mesma Declaração.

Segundo McGregor, (1993 apud Font et al. 2009), essa expressão tem sido utilizada

para “descrever as pessoas que se vêem obrigadas a se deslocar como resultado da

degradação ambiental” (FONT et al., 2009, p. 174); independente de suas causas, afirmando

que há pessoas se deslocando por causas ambientais.

Pode-se encontrar, também, outras denominações utilizadas pela mídia, como no

website da Uol, cuja notícia falava sobre refugiados climáticos, que eram as pessoas que

estavam se deslocando de ilhas do Pacífico por causa da elevação do nível dos oceanos. Já

Chaves, na revista Conhecimento Prático Geografia (2009), utilizou a expressão exilados

ambientais para denominar os mesmos indivíduos.

Conclui-se, assim, que se encontram na mídia várias denominações para esse grupo de

pessoas, que migra por causa de problemas ambientais.

4 REFUGIADO AMBIENTAL: UM PROBLEMA DA ATUALIDADE

No relatório do IPCC (Painel Intergovernamental Sobre Mudança Climática – sigla em

inglês), as ações antropogênicas deixaram de ser as “prováveis” causas das mudanças

climáticas e passaram a ser vistas como as “muito prováveis”. Isto quer dizer que a

probabilidade de o homem estar alterando o clima passou de 55% para 90%. (NOGUEIRA,

2007).

O Centro de Direitos Humanos e Meio Ambiente (CEDHA – ONG sediada na

Argentina) apresentou estudos à Comissão de Assuntos Políticos e Jurídicos da Organização

dos Estados Americanos, que confirmavam que as situações de violações de direitos humanos

são geradas ou potencializadas pela degradação ambiental, pois provocam pobreza, afetam o

uso ou gozo dos direitos humanos fundamentais, aprofundam os problemas já existentes em

países desenvolvidos e em desenvolvimento e ocasionam problemas novos, como os

refugiados ambientais. (VULCANIS, 2009).

Quando há a necessidade de mudança de país, os países limítrofes é que acabam sendo

os acolhedores. Entretanto, muitos países estão reduzindo o acolhimento aos refugiados

devido aos problemas e gastos que trazem. “Há Estados que arbitrariamente determinam os

critérios para a aplicação das obrigações internacionais, deixando-se guiar prevalentemente

pelas suas ideologias ou pelos seus interesses particulares” (CONSELHO PONTIFÍCIO

"COR UNUM”, 1993, p. 10-11). Alguns governos limitam e até suprimem o direito à

liberdade que todo cidadão tem. Para melhorar o acesso a outros países, é preciso superar as

divergências políticas entre as nações.

Em relação à legislação referente aos refugiados, sua base está na lógica da exceção.

Nenhum Estado é obrigado a acolher os refugiados, apenas são proibidos de mandá-los de

volta ao país de origem. Não existe, também, nenhum organismo supranacional capaz de

controlar ou punir um Estado por infringir a lei. Todos têm direito de ir e vir, mas a última

palavra é sempre do Estado acolhedor. Caso não seja interessante a ele, não dará abrigo a

pessoa solicitante (REIS, 2009).

Para Le Preste et al. (2009), as principais causas do não recebimento de refugiados

pelos países são a tensão e os conflitos que eles podem provocar por gerar uma carga

adicional ao país hospedeiro, aumentando a insegurança pública, econômica e cultural. Além

disso, podem ocasionar problemas ambientais e nas relações diplomáticas entre países

limítrofes. Por isso, ultimamente, muitos países estão negando a entrada de refugiados em

suas terras.

O local que oferece abrigo a uma determinada pessoa deve não apenas dar proteção,

mas garantir que seus direitos e deveres sejam respeitados. A comunidade internacional deve

adotar um instrumento jurídico que possa assegurar tutela adequada a todos os refugiados.

Entretanto, os refugiados internacionais são indesejados por outros países. Há uma

grande rejeição por várias nações e há aqueles que tratam esse assunto como caso de polícia.

Ninguém migra se não for para melhorar sua condição. Contudo, os estrangeiros passam a ser

mais estrangeiros (ou diferentes) quando são pobres. E mesmo sem perceber que nenhuma

nação apresenta uma população étnica totalmente homogênea, os nacionais encontram

dificuldade para aceitar a existência de imigrantes, passando de xenofobia a um problema

político. (ENZENSBERGER, 1993).

Segundo Agier (2008), o retorno dos refugiados para suas casas aparece como a única

solução para a reinserção normal na ordem regular das coisas. Para o autor, o exílio é o

conjunto de perdas materiais, familiares e econômicas somado à ausência de direitos.

“Acolhidos em nome dos direitos humanos por ONGs nacionais ou internacionais e

organizações da ONU, é como puras vítimas que os refugiados são tratados, como se

devessem sua sobrevivência apenas ao fato de não mais estarem no mundo" (Ibidem, p. 11).

Caso seja possível o retorno, é necessário que os países de origem se esforcem para criar

condições adequadas para que isto ocorra com dignidade e segurança aos seus nacionais

refugiados.

Mais do que um problema judicial ou legislativo, os refugiados sofrem com a perda de

identidade com a sua terra natal. Essas pessoas têm a vida destituída, são vítimas absolutas e

despojadas de qualquer inserção social. São ocultados sofrimentos pessoais e coletivos:

perdem-se locais de memórias, tradições e vínculos. São obrigados a “destruir a sua memória

e a raiz secular da sua cultura”. (CONSELHO PONTIFÍCIO "COR UNUM”, 1993, p. 8).

Para Carlos (2007, p. 14), “(...) o espaço se compõe de experiências além de permitir

a vida, lugar onde gerações sucessivas deixaram marcas, projetaram suas utopias, seu

imaginário”. O lugar, então, guarda as experiências das pessoas, assim como sua vida. As

pessoas usam o lugar para criar sua identidade e isto faz com que haja um sentimento de

pertencer ao lugar, assim como este a elas.

Haesbaert (2006) afirma que o território “é, sempre, abrigo e proteção para os

sujeitos que, por meio dele, se fazem a si mesmos” (Ibidem, p. 14). O território é abrigo e

proteção em dois sentidos: no simbólico e no material.

Os refugiados, quando necessitam sair do seu ambiente de vivência, sofrem, então,

com uma desterritorialização de coisas, idéias, sentimentos e memórias. Na verdade, os

refugiados passam a pertencer a lugar nenhum.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mais importante que a causa ou as causas, é admitir que a temperatura do planeta

esteja mudando. É necessário que medidas sejam tomadas com o intuito de tentar minimizar

e/ou adaptar-se ao novo quadro de mudanças. Além disso, procurar meios para ajudar os mais

afetados com o aquecimento global é primordial.

À luz das previsões feitas, são recomendadas medidas imediatas, entre elas a

diminuição da emissão de gases de efeito estufa, isto por meio da diminuição da queima de

combustíveis fósseis e introdução de tecnologias que não degradem o meio ambiente.

Mesmo que as emissões cessem hoje, os efeitos do aquecimento global ainda serão

sentidos, já que os gases presentes na atmosfera ainda farão efeito por anos, por não se

dissiparem com tanta facilidade e rapidez. Assim, faz-se necessário adotar medidas para se

adequar às alterações impostas pelo aquecimento global.

As previsões falam em dois bilhões de refugiados ambientais por causa das

alterações no clima da Terra (CHAVES, 2009), sem dizer que haverá menor disponibilidade

de água doce no planeta por causa do aquecimento.

Como forma de acomodação dos refugiados ambientais das Ilhas Maldivas,

localizadas no sudeste asiático, o presidente pretende comprar terras em outros países como

Índia, Sri Lanka e Austrália, por terem costumes parecidos com os seus. Criou-se um fundo

nacional para guardar dinheiro para a compra dos novos territórios. Mas, e os países pobres,

como terão dinheiro para comprar terras? As Maldivas só conseguem guardar dinheiro por

viverem, basicamente, do turismo dos seus luxuosos resorts, que são beneficiados pelas

belezas naturais das ilhas.

Segundo Chaves (2009), uma possibilidade de pagamento dos territórios adquiridos é

por meio do trabalho dos refugiados. No entanto, essa situação gera inúmeros

questionamentos, entre os quais estão: qual trabalho poderiam desenvolver? Isso não poderia

ser utilizado por países mais ricos com o objetivo de fazer dos refugiados semi-escravos,

abusando de sua situação? E, se caso não tiverem condições de trabalhar mais, seriam

expulsos de suas terras? E os idosos? Isso tudo poderia gerar conflitos. Mesmo com uma

fiscalização intensa da ONU, vários tumultos poderiam ser provocados. Sem mencionar que

os governos dos países receptores ainda não foram sondados acerca da existência de um país

dentro do seu. Todas essas questões merecem especial atenção da comunidade internacional

em relação a novas políticas de acolhimento de refugiados.

Como reabilitar os refugiados a um lugar diferente do seu de vivência também é uma

questão complexa e merece investigação futura, principalmente pelo fato de, no caso dos

refugiados maldivos, serem muçulmanos. Isso poderia trazer diversos conflitos acerca de sua

cultura e costumes. Como se dará a reabilitação no novo lugar, a aceitação por parte dos

nativos e o novo modo de viver e perceber o lugar onde passará a viver é uma questão que

merece se desenvolver. O conceito é chamado de topo-reabilitação, é novo para a Geografia e

precisa ser aprofundado.

Mesmo os países com grandes extensões de terra também precisam começar a pensar

em como acomodar as pessoas que vivem em regiões litorâneas, já que essas também serão

afetadas pelo aumento do nível dos oceanos.

Resolver o problema dos refugiados ambientais é uma questão mais complicada:

além do reconhecimento, é preciso um pouco mais de entendimento sobre as causas da falta

de condições de sobrevivência em suas terras. Os Estados insulares dificilmente conseguirão

enfrentar esses novos problemas sem a cooperação e o apoio da comunidade internacional, e,

deste modo, os Estados precisarão se unir para tentar minimizar a elevação das temperaturas.

Caso não sejam os homens responsáveis pelo aquecimento global, ao menos foi

tentado algo e, também, ter-se-á um planeta um pouco melhor para se viver. É preciso agir

com rapidez e precisão. O fator dúvida não serve como justificativa para não se fazer nada.

Isso é brincar com o futuro da humanidade.

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