refrigeração nacional entre as melhores do mundo - jornal do brasil

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JORNAL DO BRASIL Domingo, 21 de setembro de 2008 Convênio firmado entre o Jornal do Brasil eo Instituto Ciência Hoje apresenta todo domingo textos baseados em artigos publicados na revista Diminuição das gotas de água faz com que chuva demore mais a cair Widinei A. Fernandes UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL Paulo Artaxo QUEIMADAS – Partículas liberadas pela queima de florestas modificam eletrificação das nuvens ENGENHARIA Refrigeração nacional entre as melhores do mundo JB 101 CIÊNCIA ATMOSFÉRICA Poluição dificulta formação de nuvens de tempestade Em Rondônia, um estudo bus- cou distinguir a contribuição do aerossol na eletrificação e na es- trutura das nuvens. O aerossol pode ser entendido como uma suspensão de partículas na atmosfera (exceto água pura) pouco maiores que 0,2 bilionésimo de metro. As observações mostram que essas partículas têm papel substancial na diminuição da absorção de gotas menores por gotas maiores. Há in- dícios de que em nuvens de quei- madas (e, portanto, poluídas) a falta de gelo causada por esse processo faz com que a região eletricamente ativa da nuvem seja elevada para grandes altitudes. Outros estudos feitos no local entre 2002 e 2003 mostram um aumento no percen- tual de relâmpagos intranuvem (quando a descarga elétrica se des- loca dentro da própria nuvem) em relação à ocorrência desse tipo de relâmpago em nuvens limpas. Ou- tro dado é que, em regiões poluídas, as nuvens têm suas vidas prolon- gadas devido às gotículas de nuvem inicialmente serem muito pequenas e, assim, levarem mais tempo até caírem na forma de chuva. Várias pesquisas apontam dife- renças nos relâmpagos entre pe- ríodos de atmosfera limpa e poluída, mas o papel dos aerossóis nessas diferenças ainda é tema que cer- tamente precisa de mais estudos para ser totalmente esclarecido. Leia mais na revista Ciência Hoje, edição de setembro Henrique Kugler CIÊNCIA HOJE/PR Por trás de toda cerveja gelada, há sempre um bom freezer. E, por trás de todo bom freezer, há sempre um bom compressor – a peça mais importante para que um sistema de refrigeração funcione bem. A fa- bricação do aparelho, mais conhe- cido como ’motor’, requer tecno- logia de ponta, e o Brasil é destaque mundial no segmento. É o que confirma pesquisa da revista Exame/Monitor, que in- cluiu o VCC (sigla em inglês para Compressor de Capacidade Va- riável) na lista das 10 maiores ino- vações brasileiras da última década. O VCC também foi premiado por diminuir em até 40% o consumo de energia de geladeiras e freezers. O compressor é o aparelho res- ponsável por fazer com que o ’gás’ (na verdade um fluido) que retira calor dos alimentos, mantendo-os gelados, circule pela geladeira ou freezer. O equipamento normal- mente é ligado e desligado au- tomaticamente várias vezes ao lon- go do dia em um processo que desperdiça muita energia. O VCC foi desenvolvido para solucionar o problema: em vez de ligar e desligar inúmeras vezes, per- manece ativado, adequando sua ati- vidade à demanda. Assim, o apa- relho reduz até 40% do uso de energia elétrica – o que fez com que o VCC recebesse prêmio da or- ganização internacional Alliance to Save Energy (ASE). Parcerias de sucesso A excelência tecnológica do Brasil no setor de refrigeração não é fruto do acaso. Para que a indústria nacional chegasse a esse nível, foi necessário um longo processo de integração entre o setor privado e as universidades públicas. – Mantemos acordos de co- operação com reconhecidas ins- tituições de ensino superior no Bra- sil e em outros países –, diz o engenheiro ambiental Guilherme Lima, do setor de pesquisa e de- senvolvimento da Embraco, em- presa que criou o VCC. Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por exem- plo, a empresa construiu um mo- derno centro de pesquisa. Ali, pes- quisadores e alunos trabalham no desenvolvimento de novos conhe- cimentos na área de refrigeração e em áreas correlatas, como enge- nharia elétrica, nanotecnologia (pa- ra o desenvolvimento de materiais) e acústica (parao estudo de ruídos). A parceria existe há 26 anos. >> Conheça os tipos de relâmpagos Os relâmpagos são descargas de curta duração, com correntes elétricas intensas, que se propagam por quilômetros. São, em geral, associados a nuvens cúmulo-nimbo (a típica nuvem de trovoada), embora possam ocorrer também na presença de vulcões, tempestades de neve, queimadas ou tempestades de poeira. Os relâmpagos podem ocorrer: i) da nuvem para o solo, denominados relâmpagos nuvem-solo (NS); ii) do solo para a nuvem, denominados relâmpagos solo-nuvem (SN); iii) dentro da nuvem, denominados intranuvem (IN); iv) da nuvem para um ponto qualquer na atmosfera, denominados descargas no ar (NA); v) entre nuvens, denominados relâmpagos entre nuvens (EN). De todos os tipos de relâmpagos, os intranuvem são os mais freqüentes. Entre os demais tipos, os mais comuns são os relâmpagos nuvem-solo, ocorrendo os outros mais raramente. Osmar Pinto Jr. Iara R. C. A. Pinto INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS (SP) Os cientistas descobriram novos efeitos da poluição: ela pode di- ficultar a formação de nuvens de tempestade e modificar as carac- terísticas dos relâmpagos. A im- portância do tema não é só cien- tífica, já que tempestades e relâm- pagos podem causar perda de vidas e prejuízos materiais. Apesar de ainda não haver ex- plicação definitiva sobre como uma nuvem de tempestade se torna ele- trificada, evidências mostram que o processo ocorre devido a colisões entre o granizo e os cristais de gelo em seu interior. Durante essas co- lisões podem ocorrer transferências de carga elétrica e/ou massa entre o granizo e os cristais de gelo. Esse processo acontece de modo sistemático no interior da nuvem e deixa partículas de um mesmo tipo (granizo ou cristais de gelo) com sinal de carga igual (positivo ou negativo). A carga elétrica adquirida depende de fatores, como o ta- manho dos cristais de gelo, que podem se alterar em ambiente po- luído, resultando em mudanças na estrutura de cargas das nuvens e nas características dos relâmpagos. Influência de poluentes Uma nuvem se forma quando o vapor de água se condensa ao redor de partículas em suspensão na at- mosfera chamadas núcleos de con- densação. Em uma atmosfera lim- pa, há relativamente poucos – cerca de 100 por cm 3 – núcleos de con- densação, enquanto em uma at- mosfera poluída, esse número ul- trapassa 1.000 por cm 3 . Como a quantidade de água em nuvens poluídas e limpas é apro- ximadamente a mesma, a água em nuvens poluídas é distribuída sobre um número muito maior de nú- cleos de condensação. Assim, a nu- vem poluída inicia-se com uma quantidade maior de gotas peque- nas e essas gotículas não se tornam facilmente gotas maiores, processo necessário para que ocorra a chuva. Essa alteração afeta a troca de cargas elétricas entre o granizo e o cristal de gelo e a estrutura elétrica das nu- vens, o que implica mudanças nas características dos relâmpagos.

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Matéria de Henrique Kugler publicada no Jornal do Brasil

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Page 1: Refrigeração nacional entre as melhores do mundo - Jornal do Brasil

CYAN MAGENTA AMARELO PRETO TAB 23

JORNAL DO BRASIL Domingo, 21 de setembro de 2008

Convênio firmado entre oJornal do Brasil e o InstitutoCiência Hoje apresenta tododomingo textos baseados emartigos publicados na revista

Diminuição das gotas de água faz com que chuva demore mais a cair

Widinei A. FernandesUNIVERSIDADE FEDERAL DEMATO GROSSO DO SUL

Paulo Artaxo

QUEIMADAS – Partículas liberadas pela queima de florestas modificam eletrificação das nuvens

ENGENHARIA

Refrigeraçãonacional entreas melhoresdo mundo

JB 1

01

CIÊNCIA ATMOSFÉRICA

Poluição dificulta formaçãode nuvens de tempestade

Em Rondônia, um estudo bus-cou distinguir a contribuição doaerossol na eletrificação e na es-trutura das nuvens. O aerossol podeser entendido como uma suspensãode partículas na atmosfera (excetoágua pura) pouco maiores que 0,2bilionésimo de metro.

As observações mostram queessas partículas têm papel substancialna diminuição da absorção de gotasmenores por gotas maiores. Há in-dícios de que em nuvens de quei-madas (e, portanto, poluídas) a faltade gelo causada por esse processo fazcom que a região eletricamenteativa da nuvem seja elevada paragrandes altitudes. Outros estudosfeitos no local entre 2002 e 2003mostram um aumento no percen-tual de relâmpagos intranuvem(quando a descarga elétrica se des-loca dentro da própria nuvem) emrelação à ocorrência desse tipo derelâmpago em nuvens limpas. Ou-tro dado é que, em regiões poluídas,as nuvens têm suas vidas prolon-gadas devido às gotículas de nuveminicialmente serem muito pequenase, assim, levarem mais tempo atécaírem na forma de chuva.

Várias pesquisas apontam dife-renças nos relâmpagos entre pe-ríodos de atmosfera limpa e poluída,mas o papel dos aerossóis nessasdiferenças ainda é tema que cer-tamente precisa de mais estudospara ser totalmente esclarecido.

Leia mais na revista Ciência Hoje,edição de setembro

Henrique KuglerCIÊNCIA HOJE/PR

Por trás de toda cerveja gelada,há sempre um bom freezer. E, portrás de todo bom freezer, há sempreum bom compressor – a peça maisimportante para que um sistema derefrigeração funcione bem. A fa-bricação do aparelho, mais conhe-cido como ’motor’, requer tecno-logia de ponta, e o Brasil é destaquemundial no segmento.

É o que confirma pesquisa darevista Exame/Monitor, que in-cluiu o VCC (sigla em inglês paraCompressor de Capacidade Va-riável) na lista das 10 maiores ino-vações brasileiras da última década.O VCC também foi premiado pordiminuir em até 40% o consumo deenergia de geladeiras e freezers.

O compressor é o aparelho res-ponsável por fazer com que o ’gás’(na verdade um fluido) que retiracalor dos alimentos, mantendo-osgelados, circule pela geladeira oufreezer. O equipamento normal-mente é ligado e desligado au-tomaticamente várias vezes ao lon-go do dia em um processo quedesperdiça muita energia.

O VCC foi desenvolvido parasolucionar o problema: em vez deligar e desligar inúmeras vezes, per-manece ativado, adequando sua ati-vidade à demanda. Assim, o apa-relho reduz até 40% do uso deenergia elétrica – o que fez com queo VCC recebesse prêmio da or-ganização internacional Alliance toSave Energy (ASE).

Parcerias de sucessoA excelência tecnológica do

Brasil no setor de refrigeração não éfruto do acaso. Para que a indústrianacional chegasse a esse nível, foinecessário um longo processo deintegração entre o setor privado e asuniversidades públicas.

– Mantemos acordos de co-operação com reconhecidas ins-tituições de ensino superior no Bra-sil e em outros países –, diz oengenheiro ambiental GuilhermeLima, do setor de pesquisa e de-senvolvimento da Embraco, em-presa que criou o VCC.

Na Universidade Federal deSanta Catarina (UFSC), por exem-plo, a empresa construiu um mo-derno centro de pesquisa. Ali, pes-quisadores e alunos trabalham nodesenvolvimento de novos conhe-cimentos na área de refrigeração eem áreas correlatas, como enge-nharia elétrica, nanotecnologia (pa-ra o desenvolvimento de materiais)e acústica (parao estudo de ruídos).A parceria existe há 26 anos.

>> Conheça os tipos de relâmpagos

Os relâmpagos são descargasde curta duração, comcorrentes elétricas intensas,que se propagam porquilômetros. São, em geral,associados a nuvenscúmulo-nimbo (a típicanuvem de trovoada), emborapossam ocorrer também napresença de vulcões,tempestades de neve,queimadas ou tempestadesde poeira.Os relâmpagos podemocorrer: i) da nuvem para osolo, denominadosrelâmpagos nuvem-solo (NS);

ii) do solo para a nuvem,denominados relâmpagossolo-nuvem (SN); iii) dentro danuvem, denominadosintranuvem (IN); iv) da nuvempara um ponto qualquer naatmosfera, denominadosdescargas no ar (NA); v) entrenuvens, denominadosrelâmpagos entre nuvens (EN).De todos os tipos derelâmpagos, os intranuvem sãoos mais freqüentes. Entre osdemais tipos, os mais comunssão os relâmpagos nuvem-solo,ocorrendo os outros maisraramente.

Osmar Pinto Jr.Iara R. C. A. PintoINSTITUTO NACIONAL DE PESQUISASESPACIAIS (SP)

Os cientistas descobriram novosefeitos da poluição: ela pode di-ficultar a formação de nuvens detempestade e modificar as carac-terísticas dos relâmpagos. A im-portância do tema não é só cien-tífica, já que tempestades e relâm-pagos podem causar perda de vidase prejuízos materiais.

Apesar de ainda não haver ex-plicação definitiva sobre como umanuvem de tempestade se torna ele-trificada, evidências mostram que oprocesso ocorre devido a colisõesentre o granizo e os cristais de geloem seu interior. Durante essas co-lisões podem ocorrer transferênciasde carga elétrica e/ou massa entre ogranizo e os cristais de gelo.

Esse processo acontece de modosistemático no interior da nuvem edeixa partículas de um mesmo tipo(granizo ou cristais de gelo) comsinal de carga igual (positivo ounegativo). A carga elétrica adquiridadepende de fatores, como o ta-manho dos cristais de gelo, quepodem se alterar em ambiente po-luído, resultando em mudanças naestrutura de cargas das nuvens e nascaracterísticas dos relâmpagos.

Influência de poluentesUma nuvem se forma quando o

vapor de água se condensa ao redorde partículas em suspensão na at-mosfera chamadas núcleos de con-densação. Em uma atmosfera lim-pa, há relativamente poucos – cercade 100 por cm3 – núcleos de con-densação, enquanto em uma at-mosfera poluída, esse número ul-trapassa 1.000 por cm3.

Como a quantidade de água emnuvens poluídas e limpas é apro-ximadamente a mesma, a água emnuvens poluídas é distribuída sobreum número muito maior de nú-cleos de condensação. Assim, a nu-vem poluída inicia-se com umaquantidade maior de gotas peque-nas e essas gotículas não se tornamfacilmente gotas maiores, processonecessário para que ocorra a chuva.Essa alteração afeta a troca de cargaselétricas entre o granizo e o cristal degelo e a estrutura elétrica das nu-vens, o que implica mudanças nascaracterísticas dos relâmpagos.