reformador maio/2005 (revista espírita)

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AMOR"Assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros"

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EDITORIALAmorRevista de Espiritismo Cristo Ano 123 / Maio, 2005 / No 2.114

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ENTREVISTA: LACORDAIRE ABRAHO FAIADA difuso da Doutrina Esprita trabalho com Jesus

ESFLORANDO O EVANGELHOCom amor Emmanuel

A FEB E O ESPERANTOObras Pstumas em Esperanto Affonso Soares

Ainda em homenagem a Ismael Gomes Braga

CONSELHO ESPRITA INTERNACIONALBolvia sedia reunio da Coordenadoria da Amrica do SulFundada em 21 de janeiro de 1883 Fundador: Augusto Elias da Silva ISSN 1413-1749 Propriedade e orientao da Federao Esprita Brasileira Direo e Redao Av. L-2 Norte Q. 603 Conj. F (SGAN) 70830-030 Braslia (DF) Tel.: (61) 321-1767; Fax: (61) 322-0523

PGINAS DA REVUE SPIRITEO trabalho Santo Agostinho

SEARA ESPRITAA grande esperana Juvanir Borges de Souza Sacrifcio e Amor Joanna de ngelis s filhas da Terra Bittencourt Sampaio A evoluo do amor materno Sua importncia para o progresso do Esprito Clara Lila Gonzalez de Arajo Provao materna Valentim Magalhes Imaginemos Maria Dolores Gente na praa Richard Simonetti Trabalho Alfredo Nora Jesus e trs motivadores psicolgicos Adilton Pugliese A tica de Jesus: Um tratado insupervel Renata S. S. Guizzardi Me Meimei Em dia com o Espiritismo VI Marta Antunes Moura Retorno Ptria Espiritual Luiz Antnio Milecco Clvis Ramos As curiosas respostas do Alm Kleber Halfeld Inteligncia sem educao espiritual Joo Luiz Romo Altos salrios por vida simples Adsio Alves Machado Jesus em casa Irene S. Pinto Ajuda, perdoa e passa Casimiro Cunha A Religio e o uso de drogas por adolescentes Umberto Ferreira FEB promoveu Ms Allan Kardec Repensando Kardec Da Lei do Progresso Inaldo Lacerda Lima Composio dos rgos da FEB

Home page: http://www.febnet.org.br E-mail: [email protected] [email protected] o Brasil Assinatura anual Nmero avulso Para o Exterior Assinatura anual Simples Area R$ 30,00 R$ 4,00 US$ 35,00 US$ 45,00

Diretor Nestor Joo Masotti; Diretor-Substituto e Editor Altivo Ferreira; Redatores Affonso Borges Gallego Soares, Antonio Cesar Perri de Carvalho, Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oliveira So Thiago; Secretria Snia Regina Ferreira Zaghetto; Gerente Amaury Alves da Silva; REFORMADOR: Registro de Publicao no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polcia Federal do Ministrio da Justia), CNPJ 33.644.857/0002-84 I. E. 81.600.503. Departamento Editorial e Grfico Rua Souza Valente, 17 20941-040 Rio de Janeiro (RJ) Brasil Tel.: (21) 2187-8282; Fax: (21) 2187-8298 E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] Capa: Leonardo Vieira

Tema da Capa: AMOR na sua plenitude , como Jesus o ensinou e exemplificou, do qual, o amor materno , na Terra, uma de suas expresses.

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EditorialAmor

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erminada a ltima ceia e diante do calvrio que se aproximava, para o qual j se havia preparado, Jesus ofereceu aos discpulos os seus ltimos ensinamentos, orientaes e exemplos. Dentre estes, destacou-se o que est registrado no Evangelho de Joo (13:34-35): Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que tambm vos ameis uns aos outros. Nisto conhecero todos que sois meus discpulos, se vos amardes uns aos outros. Com estes ensinos, Jesus consagra a prtica do amor, em sua expresso mais ampla e profunda, como o mvel principal de sua Doutrina e do seu exemplo. Ao ensinar que a sntese da Lei Divina consiste em Amar a Deus sobre todas as coisas e ao prximo como a si mesmo, Ele deixou para todos os que se propem a segui-lO o exemplo do amor incondicional, praticado sem as mculas do egosmo, do orgulho e da leviandade, to comuns entre os homens. Observando que seus discpulos sero conhecidos por muito se amarem, ou seja, pela vivncia da Lei de Amor que emana de Deus, Jesus tambm consagrou a prtica dos seus ensinos sem nenhum vnculo a rituais, dogmas, raas, povos ou naes, tal como j havia esclarecido mulher samaritana que Deus esprito; e importa que os seus adoradores o adorem em esprito e verdade. (Joo, 4:24.) Revivendo os ensinos do Evangelho atravs da Doutrina Esprita, os Espritos Superiores, consultados sobre qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo, responderam clara e objetivamente: Jesus. (Questo 625 de O Livro dos Espritos.) A prtica da Lei de Amor, tal como Jesus a exemplificou, deve ser, pois, o objetivo permanente a ser alcanado em nossas vidas, sabendo, embora, que somente ser atingido atravs do perseverante e constante trabalho em nosso aprimoramento interior, pela vivncia da mxima Fora da Caridade no h salvao, compreendendo a palavra Caridade como a entendia Jesus: Benevolncia para com todos, indulgncia para as imperfeies dos outros, perdo das ofensas. (Questo 886 de O Livro dos Espritos.)

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A grande esperanaJuvanir Borges de Souza

evoluo do Esprito, criado simples e ignorante, lenta e afanosa. Em sua busca constante de melhores condies de vida, a felicidade o seu objetivo. Mas a ignorncia de que portador no lhe permite a conquista desejada, porque procura onde ela no est. Como a vida no cessa nunca, as decepes e os sofrimentos decorrentes de seus prprios enganos so lies teis que funcionam na ascenso lenta do ser. Dores e sofrimentos so, pois, ao lado das experincias adquiridas, fatores do progresso. Deus, o Criador, a Inteligncia Suprema, determina assim, atravs de leis divinas, imutveis e perfeitas, a evoluo dos seres inteligentes que criou. O Esprito imortal subordina-se Lei do Progresso, mesmo que, no uso do livre-arbtrio de que goza, enverede pelos nvios caminhos da rebeldia e da negao. A lei divina possui meios para o tratamento da obstinao no mal, por mais extrema que seja. Esse ensino da Doutrina Esprita derruba as suposies e interpretaes infelizes dos textos escritursticos que se referem a demnio, diabo e satans, como gnios eter-

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nos do mal, por incompatveis com o poder supremo de Deus, crena que se tornou dogma em diversas religies tradicionais. Criados por Deus, todos os Espritos so irmos, ligados entre si pelos laos da solidariedade, independentemente do nvel de progresso de cada um. Desse modo, absurda a crena em seres dedicados eternamente ao mal, no s por incompatvel com o amor e a bondade de Deus, mas tambm por no ajustar-se ao poder absoluto e justia das leis estabelecidas pelo Criador. Estamos longe de conhecer toda a Verdade. Conhecimentos transcendentes, como a natureza ntima de Deus, a vida dos seres nos mundos espirituais superiores, o infinito da Criao, ainda no podemos alcanar em nossas atuais condies evolutivas. Mas, dentro dessas mesmas condies, a Revelao Esprita nos deixou claro que Deus, o Criador do Universo, o Ser Supremo, consciente por excelncia e no uma abstrao sujeita a contradies. A fonte eterna do Bem, o Criador, no criaria seres com poderes paralelos eternamente dedicados ao mal. Dentro do emaranhado dos sistemas religiosos, carregados de supersties e dogmas imprprios, que se vm acumulando atravs dos milnios, os Espritos Superiores, atravs do Consolador prometido

por Jesus, aclararam esse ponto capital, do qual resultam conseqncias importantssimas para o conhecimento gradativo da Verdade pelos habitantes deste mundo. Embora vivendo o homem em um mundo de expiaes e provas, atrasado por sua condio moral e intelectual, o conhecimento de sua natureza de criatura de Deus, o Poder Infinito que governa todo o Universo, sem quaisquer contestaes, de extrema importncia para o encontro do caminho da Verdade. A vivncia das leis morais, as vidas sucessivas, os sofrimentos e dores, os conhecimentos adquiridos, tanto no estado de encarnados quanto no de desencarnados, so meios e formas para a ascenso do Esprito imortal. extremamente consoladora a certeza que o Espiritismo revelou quanto ao futuro de todos ns, Espritos imortais, futuro que ns mesmos forjamos, atravs de pensamentos, aes, dedicaes e sacrifcios, tanto no sentido do bem, quanto no do mal. Saber, com segurana, proporcionada por nossos irmos maiores os Espritos Superiores a servio do Cristo que h uma Justia imanente regulando o destino de todas as criaturas de Deus, uma forma de felicidade que nos liberta de erros milenares, qual a crena na condenao eterna ao inferno, no reino > de Satans.163 5

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A Doutrina Esprita veio, assim, em auxlio s religies, esclarec-las quanto a seus erros e preconceitos oriundos de um passado nebuloso, em que os homens se deixaram influenciar por supersties e conjeturas sem fundamentao na realidade. Embora no tenha conhecimento de como se desenvolve a vida em outros mundos materiais, ressalvadas certas revelaes trazidas atravs da mediunidade, sobre a existncia de vida em Marte e Jpiter, o homem comea a perceber que h leis e normas divinas imutveis e aplicveis em todo o Universo. Compreende que toda a criao de Deus est subordinada s suas leis, visando a uma finalidade, qual seja o aperfeioamento gradual dos seres, tendo em vista o Bem, a ser alcanado atravs do esforo individual e coletivo. A Cincia da Terra, que se tem ocupado quase que unicamente com a matria, no tomando conhecimento de outro elemento da Criao o esprito , v-se divorciada da realidade. Para ns, espritas, torna-se difcil compreender como uma cincia, como a Psicologia, possa basear-se somente nos conhecimentos sobre a matria para a explicao de inmeros fenmenos comprovadamente de natureza espiritual. Felizmente, aps a influncia negativa do materialismo e do positivismo, nos sculos XIX e XX, ao que parece, as cincias vo despertando para a realidade no somente da matria, mas tambm da presena do elemento espiritual, numa conjugao dos dois elementos constitutivos do Universo.6 164

Outro fato consolador que a Revelao Esprita tornou claro que, em todas as etapas de sua marcha evolutiva, o Esprito assistido e auxiliado por Entidades Superiores, desde que seus propsitos sejam o bem. a Lei de Amor, sob a forma da solidariedade. A sabedoria da lei divina coloca cada Esprito em marcha evolutiva, ao mesmo tempo como auxiliado dos que esto mais adiantados, e como auxiliar dos que esto mais atrasados. a Lei de Amor, sob a forma da solidariedade, que explica, por exemplo, a vinda do Cristo de Deus Terra para, atravs de ensinos, exemplificaes e sacrifcios imensos, tornar possvel um avano considervel na marcha evolutiva da Humanidade, tanto em entendimento da realidade quanto no aperfeioamento dos sentimentos, que Ele sintetizou no Amor. A vinda dos emissrios do Cristo Terra, em todos os tempos, no seio de todos os povos e civilizaes, em misses especficas, atendendo s condies evolutivas de cada um deles, outro exemplo da solidariedade do superior com o inferior. Outro fato elucidativo da solidariedade do Alto aos irmos da retaguarda a vinda e presena do Consolador entre os homens, prometido por Jesus quando de sua passagem pela Terra e enviado muitos sculos depois, em hora crucial para a Humanidade, invadida por idias e filosofias materialistas de grande poder persuasivo. Somente os beneficirios do conhecimento do Consolador, os espiritistas sinceros que o estudam e procuram vivenciar seus ensinos,

podem fazer idia do que ele representa em suas vidas, com suas revelaes grandiosas, norteamento seguro para suas condutas e inspiraes profundas para seus pensamentos e aes. Cada revelao nova, comprovadamente verdadeira, cada avano da Cincia, em qualquer de seus ramos, que proporcionem conhecimentos corretos ao ser humano, representam auxlios oriundos do pensamento superior, em benefcio dos que se encontram na retaguarda. Revelaes novas proporcionadas pela Espiritualidade Superior e descobrimentos novos conquistados pela Cincia so formas para o conhecimento e a compreenso da obra de Deus. Mas as religies e filosofias de um lado, como as cincias, de outro, criaram certos dogmas, que tm prevalecido por sculos e que desmoronam diante de novos descobrimentos e comprovaes. Assim ocorreu com a soberania da matria, hoje caracterizada como energia condensada. Esse novo conceito cientfico atingiu profundamente o materialismo, nas suas bases. O fundamento das idias e concluses tem suas conseqncias, s vezes imprevisveis.

...Dentre as doutrinas materialistas surgidas no sculo XIX, o denominado sculo das luzes, o positivismo e o marxismo histrico-dialtico tiveram suas influncias sobre a Humanidade, estendendo-se pelo sculo XX, quando comearam a declinar. Na atualidade, somente a China, Cuba e a Coria do Norte perReformador/Maio 2005

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manecem sob regimes socioeconmicos de bases comunista-marxistas, adaptados s tradies dessas trs naes. De outro lado, o utilitarismo, de Bentham e John Stuart Mill, doutrina ressurgida da antiga Grcia, por volta de 1864, propagou-se pelo mundo, no por seus fundamentos filosficos ou morais, mas por corresponderem seus objetivos s aes humanas baseadas no egosmo, que o maior caracterstico de nossa Humanidade pouco evoluda. Na realidade, o utilitarismo a busca da felicidade individual, atravs da satisfao dos prazeres de toda ordem para o maior nmero de pessoas. A simples enunciao dos princpios do utilitarismo mostra sua correlao com os hbitos e objetivos da maior parcela dos habitantes deste planeta, na atualidade. Cultivar o prazer e o bem-estar a qualquer custo, sem princpios morais elevados que os delimitem, favorecer o egosmo, em todas as suas manifestaes individuais e coletivas, e o orgulho que nele teve origem, causadores de todas as misrias morais. Egosmo e orgulho, como as piores chagas humanas, geradores da cupidez, da inveja, da ambio, do dio, do cime, causas de perturbao das relaes sociais e de todas os vcios, so tambm os maiores inimigos da felicidade, no verdadeiro sentido dessa palavra. Infelizmente as religies do mundo no conseguem combater, com xito, esses males que se alastram por toda parte, porque seus princpios morais mais puros se acham envolvidos por prticas eReformador/Maio 2005

erros dogmticos e conceituais que os limitam e enfraquecem. Urge, pois, que o utilitarismo de ordem prtica, o egosmo, o orgulho e seus consectrios encontrem obstculos que os combatam permanentemente. As novas geraes que se sucedem na Terra precisam encontrar, desde a infncia, orientao segura que as instruam e eduquem. A educao essencial para a

A Doutrina dos Espritos, o Consolador prometido, a grande esperana para a reverso do que se observa de negativo na civilizao atualevoluo do Esprito. Falamos de educao integral e no somente de instruo, como se procede na atualidade. Os fundamentos para a educao do homem no mundo encontram-se na Mensagem do Cristo e no Consolador por Ele prometido e enviado aos homens. Ao lado da instruo de que se ocupam os governos e a iniciativa privada, h necessidade premente da complementao tico-moral, de

uma revoluo do corao na formao dos caracteres, para que as crianas, os jovens, os homens e mulheres tomem conhecimento de si mesmos, do seu passado, do futuro que os aguarda, das vidas sucessivas, da necessidade do progresso intelectual e moral, com uma noo segura da Justia Infalvel e da Solidariedade, a orientar permanentemente a vida de cada um. Os ambientes sociais da atualidade caracterizam-se, por toda parte, pelo negativismo, pelo materialismo, pelo utilitarismo e pela afirmao do egosmo individual. A decomposio moral flagrante, facilitada pela comunicao de massas, favorecida pela tecnologia avanada. Esse quadro social acima resumido, de profunda ignorncia do que realmente o homem e qual o seu destino de Esprito imortal, gera, como no passado, males permanentes, como as guerras, a violncia e a corrupo. Somente a educao e a reeducao moral, baseadas em princpios inquestionveis, podem reverter essa situao inquietante. A Doutrina dos Espritos, o Consolador prometido, a grande esperana para a reverso do que se observa de negativo na civilizao atual, rica em tecnologia, mas pobre em valores morais. Nessa esperana inclui-se o desejo sincero dos idealistas espritas de que as grandes religies do mundo despertem para o conhecimento das verdades da Terceira Revelao, retifiquem seus erros interpretativos, revoguem seus dogmas imprprios e se unam na aceitao do que o Cristo de Deus enviou como complementao dos seus ensinos de h 2.000 anos.165 7

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Sacrifcio e Amornvariavelmente, quando se fala a respeito da sublime doao do Mestre ao Seu rebanho, entregando-lhe a prpria vida, assevera-se que este Lhe foi um grande sacrifcio, como se Ele no tivesse conhecimento, desde antes, sobre a necessidade de demonstrar a inefvel grandeza do Seu amor. O conceito de sacrifcio, em to elevada demonstrao de afeto, no se ajusta realidade, porquanto Ele marchou para o matadouro absolutamente seguro, consciente e confiante da necessidade de faz-lo, a fim de que, dessa maneira, pudesse despertar os Seus afeioados para o significado da Sua entrega total. Estivera com todos em momentos felizes, oferecendo-lhes bnos de sade e de conhecimento, de esperana e de paz, informando, entretanto, que a existncia fsica no definitiva e que todos deveriam preparar-se para o enfrentamento com as vicissitudes e os naturais sofrimentos. Restitua-lhes a sade, mas no impedia que viessem a morrer. Proporcionava-lhes jbilos, porm no evitava que fossem visitados pela tristeza que decorre do processo de evoluo ante os dissabores e as lies morais de crescimento ntimo.

I

Concedia-lhes paz, entretanto, no se permitia impossibilitar a luta que cada qual deve travar, a fim de autoconhecer-se e de encontrar o rumo da iluminao. Mimetizava-os com a Sua ternura, todavia, era necessrio que se esforassem para preserv-la. Jamais deixou de os amparar e de os auxiliar no crescimento ntimo para Deus. Abriu-lhes os olhos da alma para o discernimento e para a razo, concitou-os ao trabalho e solidariedade vivendo a servio do Pai, sem jamais queixar-se ou exigir-lhes o que quer que fosse. Tornava-se, portanto, indispensvel demonstrar-lhes a grandeza desse amor, oferecendo a existncia em holocausto no rumo da Vida Eterna, ltima e vigorosa maneira de faz-los crer. No foi, portanto, um sacrifcio, no sentido de um esforo de imolao entre desespero e luta renhida. Sacrifcio, ser-Lhe-ia deixar ao prprio destino aqueles que o Pai Lhe confiara para pastorear, conduzindo-os pelo rumo certo do dever e da conquista de si mesmos. Seria tambm sacrifcio se, por acaso, se houvesse eximido da oferenda mxima de que se tem notcia, para que cada qual pudesse aprender atravs do sofrimento, que somente no dever se encontra a razo essencial da existncia humana. A cruz, que sempre foi um smbolo de humilhao e de desgra-

a, de punio e de corrigenda severa, com Jesus tornou-se asas de libertao, facultando o vo no rumo do Infinito. Em razo disso, Ele doou a Sua vida para que todos tivssemos vida, e vida em abundncia, lutando pessoalmente cada qual por adquiri-la.

...Quando se ama, nada constitui esforo, sofrimento, sacrifcio. O amor to rico de carinho e de bnos que se multiplica medida que se oferece, jamais diminuindo de intensidade quanto mais se distribui. Invariavelmente, as criaturas consideram-no uma operao de reciprocidade, mediante a qual, a permuta dos sentimentos faz-se estmulo para o seu prosseguimento. De alguma forma, porm, essa expresso de amor no deixa de ser o incio do processo que levar sublimao do querer e do doar. Saindo do instinto, que todo posse, matriz do egosmo perturbador, aformoseia-se com a experincia afetiva, agigantando-se e tornando-se maior na proporo da abnegao e do devotamento de que se faz portador. O amor nunca se exalta, nem reclama, porque fonte de compreenso, nada obstante, tambm de educao das emoes, do comportamento, da vida. O Mestre sempre ensinava, e o clmax dessas lies a Sua crucifiReformador/Maio 2005

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cao, mediante a qual, na expresso de tragdia atrairia todos a Ele. O ser humano, infelizmente, ainda necessita do espetculo ou terapia de choque, de modo a despertar do letargo a que se entrega. Isso ocorre em todos os campos do relacionamento social. Quando os fatos transcorrem naturais e sem comoo, no se tornam de aceitao imediata, pacfica e penetrante. No entanto, quando produzem impacto, sensao peculiar, despertam interesse, discusso e aceitao na maioria das vezes. Eis porque, embora seja o amor a fonte inexaurvel de enriquecimento, o progresso do ser como indivduo e da sociedade como organismo coletivo tem sido mediante a dor, especialmente estabelecida pelos testemunhos que so considerados sacrifcios do prazer e do gozo imediato. Dessa forma, a idia vigente de que a suprema doao do Mestre seria tambm um sacrifcio em favor dos Seus afeioados, quando, diferindo do convencional, o Seu exemplo de enriquecimento um convite reflexo. Se Ele, que no tinha culpa, foi conduzido ao mximo de entrega, natural que as criaturas, caracterizadas pelas cargas emocionais de desequilbrio e de culpa, no se possam considerar exceo, eximindo-se ao padecimento purificador. NEle temos a oferenda de ternura e de alegria, embora as excruciantes aflies que padeceu, confirmando a Sua procedncia de enviado de Deus, o Messias que as tormentosas condies israelitas se negavam a aceitar. Na sua desenfreada alucinao pelo poder e dominao pelo orguReformador/Maio 2005

lho, mediante o qual a raa eleita governaria o mundo dos gentios, era muito difcil aceitar aquele Rei especial, sem trono nem exrcito homicida, sem ulicos com trombetas nem embaixadores soberbos precedendo-O. Como o Seu reino no era deste mundo, os ministros e servidores no se apresentavam visveis seno, semelhana de Joo Batista, o Precursor, ou dos profetas que vieram bem antes dEle e foram, uns ridicularizados, outros perseguidos, outros mortos...

Aprende a renunciar aos pequenos apegos, crescendo na direo da superao dos tormentosos desejos, os de grande porte, em homenagem tua auto-iluminao, tua ascenso. sempre necessrio morrer, a fim de viver em plenitude. Tem como exemplo Jesus em todas as situaes, e se amas, tudo quanto ofereas, no constitua sacrifcio nem sofrimento, antes mensagem de alegria e de paz.Joanna de ngelis (Pgina psicografada pelo mdium Divaldo P. Franco, no dia 4 de junho de 2004, em Londres, Inglaterra.)

...Esfora-te, por tua vez, para entender a doao da vida como sendo a entrega amorosa quele que a gerou.

s filhas da TerraDo Seu trono de luzes e de rosas, A Rainha dos Anjos, meiga e pura, Estende os braos para a desventura, Que campeia nas sendas espinhosas. Ela conhece as lgrimas penosas E recebe a orao da alma insegura, Inundando de amor e de ternura As feridas cruis e dolorosas. Filhas da Terra, mes, irms, esposas, No turbilho dos homens e das coisas, Imitai-A na dor do vosso trilho!... No conserveis do mundo o brilho e as palmas, E encontrareis, em vossas prprias almas, A alegria do reino de Seu Filho!Bittencourt Sampaio Fonte: XAVIER, Francisco C. Parnaso de Alm-Tmulo. 17. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004, p. 180. Edio Comemorativa 70 Anos.

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A evoluo do amor maternoSua importncia para o progresso do EspritoClara Lila Gonzalez de Arajo

questo 890, de O Livro dos Espritos, destaca que o amor materno uma virtude e, ao mesmo tempo, um sentimento instintivo, e que a me ama seus filhos no interesse da conservao deles. Este amor se expressa pela vida inteira e se transforma em devotamento e abnegao1. Essa interessante questo faz-nos refletir sobre determinados aspectos, especialmente quanto ao conceito de sentimento materno, que nem sempre parece ser entendido por todas as mes, levando-nos a questionar a existncia do carter inato do sentimento maternal e se de fato partilhado por todas as mulheres. A Doutrina Esprita revela que determinadas mes no gostam dos filhos (questo 891), o que certamente afeta a nossa sensibilidade, e, mesmo sabendo que essa transgresso tem sua razo de ser na lei de causa e efeito, no conseguimos admitir que isso possa acontecer com seres to indefesos e carentes de amparo2. Tal revelao, todavia, nos le-

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va constatao da ausncia de amor materno, neste ou naquele agrupamento familiar, mesmo que as pessoas tenham conscincia da magnitude desse tipo de amor e de sua existncia e constncia para o progresso da Humanidade. Ao refletirmos sobre as implicaes espirituais subjacentes a esse problema, inicialmente, gostaramos de falar do sentimento do amor, analisando as palavras do Esprito Lzaro, em sua mensagem no captulo XI de O Evangelho segundo o Espiritismo, que diz ser este sentimento a expresso da doutrina de Jesus toda inteira, alertando-nos para que possamos compreend-lo, vivenciando-o, no como o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e rene em seu ardente foco todas as aspiraes e todas as revelaes sobre-humanas, extinguindo as misrias sociais e estimulando-nos a amar com amplo amor nossos irmos em sofrimento3. Mas o amor potencial, que h na essncia de cada um de ns, se desenvolve igualmente em todos os seres? O amor, certamente, no deixa de desenvolver-se sem cessar em todas as criaturas, mas algumas amaro de forma diferente, pois, conforme Angel Aguarod (1976), filso-

fo esprita, a diversidade de graus no desenvolvimento espiritual dos seres que produz manifestaes to diametralmente opostas de um mesmo sentimento 4. Assim, o dio, a inveja, o cime e outros vcios e defeitos, que so expresses negativas do amor, podem significar manifestaes vivas deste para aqueles que ainda no compreenderam o que seja o verdadeiro sentimento do amor. Na concepo do Esprito Fnelon, o amor deve manifestar-se por meio da caridade, da humildade, da pacincia, do devotamento, da abnegao, da resignao e do sacrifcio5. E as mes devem reunir em si todas essas virtudes, extremamente necessrias aos cuidados para com os filhos. Ao buscarmos alguns registros histricos sobre a famlia e o papel exercido pelas mes no decorrer de muitos sculos, verificaremos que algumas sociedades no valorizaram esse sentimento, a ponto de quase elimin-lo em numerosos coraes. A escritora Elisabeth Badinter (1985) fala-nos que, at o final do sculo XVII, as mes francesas, de classes mais abastadas, enviavam seus filhos para serem criados por amas-de-leite, geralmente camponesas, convencidas das vantagens do ar do campo e da nocividade da ciReformador/Maio 2005

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dade, mas desconhecendo as estatsticas de mortalidade das crianas confiadas a essas criaturas e, portanto, no tendo condies de avaliar os danos desse modo de criao 6. Badinter no acredita que as mes agissem no melhor interesse das crianas ao encaminh-las para longe, mesmo considerando os costumes da poca. Para a escritora, o amor materno deve ser adquirido e conquistado ao longo dos dias passados ao lado do filho e por ocasio dos cuidados que a me lhe dispensa. (...) Se faltarem oportunidades para se exprimir o prprio amor, se as manifestaes do interesse que se tem por outrem so demasiado raras, ento se corre o risco de v-lo morrer (p. 15). O socilogo e historiador francs Philippe ries (1981) mostrou que foi necessria uma longa evoluo para que o sentimento da infncia efetivamente se arraigasse nas mentalidades, especialmente dos pais7. No seu entender, o sculo XVIII transformou-se num marco como o perodo de aparecimento das obras que instigaram os pais a descobrirem novos sentimentos, particularmente as mes. Alguns autores, como filsofos, mdicos etc., logo ao incio do sculo, tentaram ser ouvidos por seus contemporneos mas foi Rousseau, com a publicao de mile, em 1762, que divulgou as novas idias e deu um verdadeiro impulso inicial famlia moderna, isto , a famlia fundada no amor maternal. O beb e a criana transformaram-se em seres privilegiados dasReformador/Maio 2005

atenes paterna e materna. Mas, nem todas as mes permitiram que seus filhos vivessem melhor junto delas. Mesmo que a mulher tenha se deixado influenciar pelos discursos que celebravam uma nova era para a boa me, passando a amament-los, nem todas se apressaram a submeter-se ao teste difcil de cuidarem com mais carinho de seus rebentos. O princpio da reencarnao permite que possamos entender a evoluo desse sentimento, j que,

a cada oportunidade de vida na matria, trazemos das existncias precedentes o que adquirimos de bom e de ruim, contribuindo, ou no, para o progresso social de todos. No entanto, nem sempre, ao reencarnar, poderemos considerar-nos como almas mais aperfeioadas, se no desenvolvemos no pretrito experincias de aprendizagem intelectual e

moral, que nos possibilitem compreender melhor as necessidades da nova civilizao onde vivemos. Em especial quanto aos desvelos que precisamos ter em relao aos filhos. As preocupaes que surgem, atualmente, na criao da prole, nascem, principalmente, quando percebemos o excessivo poder de motivao que exercem os veculos de informao de massa sobre ela, desafiando-nos a estabelecer normas comportamentais para que consiga defender-se desse tipo de influncia. As crianas se deixam envolver de tal maneira que passam a expressar as mesmas atitudes violentas, degradantes e perniciosas que observam no vdeo, ou no exemplo de adultos menos atentos a uma conduta moral mais adequada. importante refletir sobre tudo isso, avaliando at que ponto a falta de vigilncia materna no contribui para esse resultado, reconhecendo que a cooperao paterna no processo de orientao dos filhos imprescindvel, mas, dependendo das provaes impostas pela carne, nem sempre possvel ter o companheiro ao lado. Nesse caso, cabe me a parcela maior no cumprimento desse compromisso. O Esprito Thereza de Brito, em uma de suas lcidas mensagens sobre os problemas familiares, enaltece a mulher-me e afirma que junto a seus filhos que ela encontra as mais exuberantes oportunidades de avanar, em esprito, para alcanar os campos luminosos do progresso pelos quais anela 8. As mes devem adquirir esse sol inte169 11

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rior, do qual nos informa Lzaro: o amor que busca entender as angstias trazidas por esses Espritos acolhidos como filhos e que esperam delas a ajuda para que possam reajustar-se, esclarecendo-se luz da Doutrina Esprita e fortalecendo-se para o grande combate que travaro contra as prprias imperfeies, ao longo de suas existncias futuras. Sem esquecer que o estado de infncia para o Esprito o perodo mais acessvel s impresses recebidas daqueles encarregados de ampar-lo. Isso significa que saberemos esforar-nos para o seu adiantamento se, efetivamente, nos colocarmos disposio para educ-lo, no tempo certo. Recordar, sempre, que muitos defeitos da criana podem decorrer de atitudes, reaes e comportamentos dos que a geraram. Tenhamos cuidado para que as obrigaes sociais e profissionais no nos levem a repetir equvocos anteriores, cometidos nas vidas pregressas onde estagiamos, deixando os filhos sem as atenes exigidas pelo dever e a responsabilidade de cri-los. Preparemo-nos para um melhor entendimento do que seja a misso da maternidade e junto aos filhos, sem comodismos, sejamos a mestra, a enfermeira, a irm, a amiga, a me a orient-los, firmemente, para uma vida melhor, no deixando que se transviem pelos desvos do mal. Atentas s prprias imperfeies, que muitas vezes nos levam a mim-los em demasia, no perderemos a chance de conscientiz-los para o verdadeiro sentido da existncia na Terra, que tem como objetivo o progresso intelectual, moral e espiritual do ser, na exempli12 170

ficao das lies que Jesus legou Humanidade, resumidas, magistralmente, no Assim como eu vos amei, que tambm vos ameis uns aos outros. (Joo, 13:34.) Nossos apontamentos sobre o tema tm como referncia a Campanha Viver em Famlia, reativada pela FEB, por ocasio da Reunio do Conselho Federativo Nacional, em novembro de 2004, que reafirma e destaca a importante funo educadora e regeneradora da famlia, valorizando-a no processo de edificao moral do homem, e no esforo conjunto de construir-se um mundo melhor.9REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS KARDEC, Allan. O Livro dos Espritos. 72. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1992, Parte 3a, cap. XI, questes 890 e 891, p. 410.1e2

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______ O Evangelho segundo o Espiritismo. 112. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996, cap. XI, item 8, p. 186-187.

AGUAROD, Angel. O Problema de Amar a Deus, Grandes e Pequenos Problemas. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1976, p. 47.5

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KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 112. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996, cap. XI, item 9, p. 187-189.

BADINTER, Elisabeth. Um Amor Conquistado o mito do amor materno. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1985.7

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RIES, Philippe. Histria Social da Criana e da Famlia. 2. ed. Rio de Janeiro. Livros Tcnicos e Cientficos Editora S.A., 1981.

TEIXEIRA, J. Raul. A Mulher e seus Filhos, Vereda Familiar, pelo Esprito Thereza de Brito. Niteri (RJ), Editora Frater Livros Espritas Ltda., 1991, p. 57. FEDERAO ESPRITA BRASILEIRA. Opsculo da Campanha Viver em Famlia Subsdios para sua Implantao e Desenvolvimento. Braslia, 1994, p.1.9

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Provao maternaGritava a nobre anci, em rede morna e langue: Bate, meu filho!... Zurze o chicote a preceito!... Um servo igual ao boi que nasceu para o eito... E o filho, Dom Muniz, deixava o servo em sangue. Dos sales da fazenda ao derradeiro mangue, Esculpira a fidalga um carrasco perfeito. Mas vem a morte, um dia, e leva o filho eleito, A matrona pranteia e larga o corpo exangue... No Alm, cai Dom Muniz em abismos de prova!... Aflita, a pobre me pede a Deus vida nova, Quer guard-lo, outra vez, numa estrada sem brilho... Hoje, mulher sem lar, definha, a pouco e pouco, E, aos duros repeles de um jovem cego e louco, Roga, em pranto de amor: No me batas, meu filho!...Valentim Magalhes Fonte: XAVIER Francisco C. Poetas Redivivos, por Diversos Espritos. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994, cap. 12, p. 29.

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ENTREVISTA: LACORDAIRE ABRAHO FAIAD

A difuso da Doutrina Esprita trabalho com JesusO Presidente da Federao Esprita do Estado de Mato Grosso, Lacordaire Abraho Faiad, destaca a sua integrao precoce nas atividades espritas, que compreendem o estudo e a difuso da Doutrina Esprita P. H quanto tempo voc atua no Movimento Esprita? Lacordaire H 38 anos. Sendo meus pais espritas, tive a sublime oportunidade de freqentar aulas de evangelizao infanto-juvenil na cidade de Catalo, Gois. Comecei a atuar efetivamente no Movimento Esprita a partir dos meus treze anos de idade, quando participei da reativao da Juventude Esprita do Centro Esprita Amor e Caridade, casa esta fundada por meu pai junto com outros valorosos bandeirantes da Seara Esprita, que tiveram como misso abrir picadas nas matas densas da difuso doutrinria na cidade de Catalo (Gois). Atravs dos estudos doutrinrios e com tarefas ensejadas aos jovens aprendi a desenvolver potenciais criativos em torno do trabalho. P. Foi importante a integrao precoce no trabalho doutrinrio? Lacordaire Graas integrao no trabalho doutrinrio desenvolvi a motivao e o gosto pelo estudo da Doutrina e o comprometimento com o trabalho, que me auxiliaram no processo de equilbrio na fase da desencarnao do meu pai, que ocorreu nesse peroReformador/Maio 2005

Lacordaire Abraho Faiad

do. Ouvimos sempre no Movimento Esprita a queixa de que h falta de trabalhadores. Penso que nos falta, enquanto dirigentes de atividades doutrinrias, um apoio mais efetivo juventude da Casa Esprita, visando uma integrao do jovem com as atividades da Casa, com uma percepo deste jovem como sendo um trabalhador no Movimento Esprita e futuro dirigente, amanh, da Instituio Esprita. P. Como se envolveu com os trabalhos de unificao? Lacordaire No ano de 1969, mudei-me de Catalo para Braslia e logo que cheguei, busquei uma Casa Esprita para freqentar. De-

pois de um perodo de adaptao nas atividades da Casa, tendo criado um espao de convivncia com a sua equipe diretora, tive a grata oportunidade de assumir a direo das atividades da Mocidade do Centro Esprita Fraternidade Allan Kardec, e, como programa de trabalho para a Mocidade, participamos do desenvolvimento de uma srie de encontros entre as Mocidades do Distrito Federal, comeando da uma percepo, ainda que incipiente, da importncia do Movimento Esprita federativo e seu papel unificador. No ano de 1973 participamos da fundao do Grupo Esprita Voluntrios da Paz e, j com a percepo da importncia do movimento federativo, buscamos integr-lo ao quadro de entidades adesas Federao Esprita do Distrito Federal. Em 1979 mudei-me para Mato Grosso e j havia conhecido o Sr. Aristotelino Praieiro, ento poca Presidente da Federao Esprita do Estado de Mato Grosso, o qual generosamente me acolheu no trabalho federativo com o carinho e a envolvncia de um pai, sendo ele um outro benfeitor na minha vida, que com profunda humildade e carinho me orientou171 13

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muito no que concerne s diretrizes do rgo federativo. Com a desencarnao do Sr. Praieiro, como estava nesse perodo na condio de Vice-Presidente, assumi a Presidncia do rgo federativo de Mato Grosso. At hoje encontro-me envolvido com as responsabilidades da difuso da Doutrina, com a certeza de ser o primeiro beneficiado por estar comprometido com esse trabalho de unificao, pois sou daqueles que pensam que o trabalho a forma abenoada de devolver amorosamente o que a vida investe em ns. P. Houve mudanas no cenrio do Movimento Esprita de Mato Grosso? Lacordaire Com certeza! Com a diviso do Estado de Mato Grosso, em 1978, o novo Estado que se formou cresceu muito, novas cidades surgiram e o Estado recebeu imigrantes das mais diversas regies do Pas para essas cidades, tendo a sua populao triplicada. Muitos desses novos moradores eram espritas e trouxeram contribuies valiosas das experincias vividas no Movimento Esprita federativo em outros Estados, ajudando na criao de novas casas espritas em nosso Estado, facilitando com isso a sedimentao de uma mentalidade que temos difundido nos ltimos 15 anos, de que a responsabilidade na conduo do Movimento Esprita no apenas da Federativa Estadual, mas de todos ns, gerando um novo comportamento em nosso Movimento. O que acreditamos ser realmente importante que, ns, aqueles que temos esta oportunidade abenoada de estar frente de qualquer atividade do bem, e principalmente no Movimento Es14 172

prita, no esmorecermos, porque temos aprendido que o bem no tem vencimento. Conclamamos sempre os irmos das casas espritas de Mato Grosso a participarem do movimento federativo, colocando sempre que o rgo federativo filho, e no me das casas espritas, pois s existe em funo delas. Portanto, a responsabilidade pelo Movimento de todos ns, tanto da diretoria executiva que lida diretamente com o trabalho de unificao, quanto de todas as casas espritas. Com essa diviso de responsabilidade temos tido resultados evidentes de melhora na dinmica do Movimento Esprita no nosso Estado. Buscamos desenvolver somente dois grandes eventos na capital a cada ano e os demais eventos da agenda esto destinados a desenvolvermos o que chamamos Caravanas Federativas, que so encontros regionais nas cidades-plo, com atividades de capacitao de multiplicadores para as diversas reas que envolvem a Casa Esprita. P. Como voc avalia as aes do Conselho Federativo Nacional? Lacordaire de fundamental importncia para as instituies espritas e para ns os espritas que gerimos o Movimento Esprita ter um rgo de trabalho unificacionista e orientador como o Conselho Federativo Nacional (CFN), que foi criado com o objetivo de trabalhar pela unio dos espritas e pela unificao do Movimento Esprita, para que as atividades de estudo, difuso e prtica da Doutrina Esprita sejam fortalecidas e realizadas no seu devido tempo. Acreditamos que a funo principal do CFN ser um espao de dilogo, de troca de experincias, a fim de gerar orientaes

que possam nortear o Movimento Esprita como um todo, assim como auxiliar os dirigentes das federativas e suas respectivas instituies nas diretrizes doutrinrias, pautadas na tica e na moral do Cristo, harmonizando informaes e mantendo a unidade dos postulados kardequianos. Tenho tido a feliz oportunidade de participar, ininterruptamente, das reunies do CFN desde o ano 1983 e tenho acompanhado a sua tarefa no trabalho de unificao, que consiste em colaborar com as Instituies Federativas para que possamos mais facilmente alcanar os nossos objetivos, aprimorando as atividades e mantendo as realizaes dentro dos princpios doutrinrios. Tenho visto, ao longo do tempo, uma ampliao cada vez maior da maturidade doutrinria nos relatos de cada Federativa que, com as dificuldades peculiares de cada regio, vem fazendo um esforo gigantesco para cumprir seu papel de rgo unificador do Movimento Esprita nas suas regies. As campanhas que atravs do CFN foram lanadas no Movimento Esprita, tais como Campanha de Evangelizao Esprita da Infncia e da Juventude, em 1977; Campanha do Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita, em 1983; Campanhas Em Defesa da Vida e Viver em Famlia, em 1994, que esto sendo reativadas; a Campanha de Divulgao do Espiritismo, em 1996, e a Campanha Construamos a Paz Promovendo o Bem!, em 2002, vieram contribuir com o Movimento Esprita e a sociedade como um todo, num salto qualitativo do estudo, difuso e prtica da Doutrina Esprita com base nas obras de Allan Kardec, sedimentando as bases equilibradas daReformador/Maio 2005

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Doutrina Esprita no solo da Ptria do Cruzeiro do Sul. P. E as aes das Comisses Regionais do CFN? Lacordaire As Comisses Regionais desempenham um papel relevante como sendo um laboratrio de idias, proporcionando aos membros das Federativas, em suas respectivas regies, a oportunidade de trocar informaes e experincias mais diretamente, bem como de unirem-se nas realizaes de trabalhos que visem colocar em prtica as diretrizes anteriormente aprovadas em encontros anteriores. Para ns, da Federao Esprita do Estado de Mato Grosso, podemos afirmar que a cada participao nos encontros das Comisses Regionais voltamos com a equipe mais motivada e com novas idias para a dinamizao do trabalho doutrinrio. P. Teria alguma mensagem ao leitor de Reformador? Lacordaire De um dos trechos da mensagem Os obreiros do Senhor, de O Esprito de Verdade (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XX, item 5), destacamos: (...) Ditosos os que hajam dito a seus irmos: Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforos, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra, porquanto o Senhor lhes dir: Vinde a mim, vs que sois bons servidores, vs que soubestes impor silncio aos vossos cimes e s vossas discrdias, a fim de que da no viesse dano para a obra! . Estamos vendo que por toda parte h muita dor, muito sofrimento e uma carncia de mos amigas a colaborarem com Jesus para diminuir o sofrimento que est visitando os nossos irmos de camiReformador/Maio 2005

nhada evolutiva. Que sejam as nossas mos aquelas com que Jesus possa contar, para aliviar a dor do mundo, usando as ferramentas da Doutrina Esprita, permeadas com o nosso amor, fruto da nossa reforma ntima e das nossas mos ocupadas no bem, na ao da caridade da difuso doutrinria. Recordemos a Benfeitora Joanna de ngelis, que

nos diz atravs da psicografia do nosso querido Divaldo Pereira Franco: O remdio que colocamos na ferida do prximo medicao que colocamos em nossa prpria alma. Recebamos a exortao da Benfeitora como sendo uma forma de haurir foras para administrar nossas dificuldades e conectar com o bem, o bom, e o belo.

ImaginemosSofres e lutas? Alma fraterna, enquanto aqui me escutas, Imagina a caudal de sofrimentos Que rola pelo mundo... Pensa nos dias lentos Dos que gemem a ss, de segundo a segundo, Do pardieiro humilde aos grandes hospitais... Se, em verdade, pudesses Contar as lgrimas e as preces Que surgem sem cessar Nos que faceiam duras provaes Sem apoio e sem lar, Carregando nos prprios coraes Inquietao, angstia, sombra, desventura... Se pudesses somar As chagas, os desgostos e os gemidos Na alma triste e insegura Dos irmos perseguidos Por pedradas da injria e aoites do pesar... Se enumerasses todas as crianas Que por falta do amor a que te elevas, Sofrem deformaes, suplcios e mudanas, Da infncia rejeitada revolta nas trevas. Se pudesses fitar, analisar, transpor, No caminho em que avanas Aflies que talvez nunca enxergaste em derredor, Certo que a tua dor Ficaria menor.Maria Dolores Fonte: XAVIER, Francisco C. A Vida Conta. 3. ed. So Paulo: CEU, 1984, cap. 17, p. 54-55.

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Gente na praaRichard Simonetti

Mateus, 20:1-16 tou.

Porque ningum nos contra Ide tambm vs para a vinha.

onta Jesus que o Reino dos Cus semelhante a um pai de famlia que saiu ao amanhecer, por volta de seis horas, a fim de contratar trabalhadores para a sua vinha. Ficavam os jornaleiros ou diaristas, como eram conhecidos, na praa, espera de servio. prtica usual, ainda hoje, envolvendo trabalhadores braais contratados para servios no campo. Levam a marmita com singela refeio, que comem sem aquecer. Por isso so conhecidos como bias-frias. Explica Jesus que foi contratada uma turma, pessoal madrugador. Por volta das nove, o dono da vinha retornou. Vendo mais desocupados, convocou:

C

Ao anoitecer, recomendou ao seu administrador: Chama os trabalhadores e paga-lhes o salrio, comeando pelos ltimos at os primeiros. Seguindo a orientao do patro, o acerto de contas foi feito a partir da turma das dezessete horas. Um denrio a cada um, correspondente a um dia de trabalho. Quando chegou a vez dos trabalhadores contratados s seis da manh, estes ficaram indignados. No era para menos. Mourejar de sol a sol, durante doze horas, e ganhar o mesmo salrio de algum que serviu apenas uma hora configura flagrante injustia. Prato cheio para um sindicato rural. Daria boa briga na justia trabalhista. Como nos tempos de Jesus no havia nada disso, tudo o que o pessoal injustiado pde fazer foi reclamar com o patro: Estes que vieram por ltimo s trabalharam uma hora e tu os igualaste a ns, que suportamos o peso do dia e o calor do sol. Dirigindo-se ao porta-voz dos reclamantes, esclareceu o vinhateiro:

Amigo, no fao injustia, no combinaste comigo um denrio? Toma o que teu e vai; pois quero dar a este ltimo o mesmo que a ti. Porventura no me lcito fazer o que eu quero com o que meu? Ou o teu olho mau, porque eu sou bom? Assim, os ltimos sero os primeiros, e os primeiros sero os ltimos. Porque muitos so chamados, mas poucos escolhidos.

...Apreciada sob o ponto de vista humano, esta parbola seria a consagrao da injustia nas relaes trabalhistas, embora devamos considerar que o patro, o dono do dinheiro, tem o direito de remunerar como lhe aprouver, desde que haja acordo prvio. No competia aos trabalhadores nenhum questionamento. Significativa a sua indagao: Teu olho mau porque eu sou bom? Olho mau sinnimo de inveja. Usa-se outra expresso: olho gordo. Cobiar o alheio, ou sentir-se diminudo por no ter o mesmo. No seria a reclamao do trabalhador apenas um exerccio de inveja? Afinal, ele recebeu o que fora acertado. bom lembrar que a inveja mal to antigo quanto o Homem.Reformador/Maio 2005

Ide, tambm vs para a vinha, e vos darei o que for justo. Por volta de meio-dia, chamou mais gente. s quinze horas, nova contratao. Finalmente, s dezessete horas, falou a um grupo remanescente: Por que estais aqui, o dia inteiro desocupados?16 174

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Foi a motivao do primeiro fratricdio, na histria bblica. Caim matou Abel por imaginar que seu pai dava mais ateno ao irmo. Nas empresas h sempre gente reclamando de colegas supostamente privilegiados. So criticados os que se destacam, os que so promovidos, tachados de bajuladores e hipcritas, que simulam eficincia e dedicao. As pessoas tm muita facilidade para se considerar injustiadas, sempre que os seus interesses so contrariados. No obstante, foroso reconhecer que algo anda errado numa empreitada em que algum ganha doze vezes mais do que um colega para executar exatamente o mesmo servio. Com o aperfeioamento das regras do trabalho, cuja orientao principal determina uma isonomia, igualdade de salrio para identidade de funes, seria de justia o pagamento por horas trabalhadas.

o Reino est dentro de vs. Ento, amigo leitor, trata-se de um estado de conscincia. Ah! Sinto-me to bem! Leve, tranqilo, em paz! Voc est no Cu. Ah! Vida cruel! Estou atormentado, idias infelizes, vontade de morrer! Voc est no inferno. Bem, sendo assim, como que vamos entrar no Reino, ou mais exatamente, como que o Reino vai instalar-se em ns?

Deus, o trabalhador incansvel, o motor divino que sustenta a celeste movimentaoComeamos a decifrar esse mistrio lembrando uma expresso significativa de Jesus (Joo, 5:17): Meu Pai trabalha desde sempre, e eu tambm. Tudo movimento no Universo, na dinmica da evoluo, desde o verme que nas profundezas do solo o fertiliza, aos mundos que se equilibram no Espao. Deus, o trabalhador incansvel, que tudo projetou e construiu, o motor divino que sustenta a celeste movimentao. Jesus, Esprito puro e perfeito, chamado a nos governar, entrega-se

...Esta parbola tem desafiado os intrpretes do Novo Testamento, pela aparente injustia que encerra. A chave para superar esse problema est em ressaltar o objetivo de Jesus ao enunci-la. Era simbolizar o ingresso no Reino de Deus. Lembremos, em princpio, como o Mestre sempre frisou que o Reino no tem localizao geogrfica, na Terra ou no Alm. Trata-se de uma realizao pessoal, na intimidade de nossas almas. Proclama Jesus (Lucas, 17:21):Reformador/Maio 2005

a esse mister desde a formao da Terra. Filhos de Deus, temos potencialidades criadoras que caracterizam nossa filiao divina, e que nos realizam como seus filhos, quando as mobilizamos. Isso implica em ao, em ocuparmos nosso tempo e nossa mente em atividade disciplinada. Esse empenho chama-se trabalho. Quando nos ocupamos com algo produtivo, pomos ordem em nossa casa mental, sintonizamos com os ritmos do Universo e nos sentimos em paz, como se estivssemos no Cu. Um detalhe importante. O salrio do Reino no o resultado do trabalho. o prprio trabalho! Aqueles que mais cedo despertam para esse imperativo, desde logo sintonizam com as Fontes da Vida e se habilitam ao equilbrio e serenidade, configurando a paz do trabalho. Os retardatrios sujeitam-se a problemas e dores, perturbaes e dissabores, como uma espcie de ferrugem em motor desativado.

...Entrar nesse estado sublime de sintonia com os ritmos do Universo depende de ns. Situemos nossa posio na Terra como a de pessoas numa praa. As motivaes so variadas: Espairecer. Matar o tempo. Namorar.175 17

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Bater-papo. Exercitar a maledicncia. Satisfazer um vcio. Ouvir msica. Apreciar a pregao religiosa. Cultivar a leitura. Diariamente, ao longo da existncia, Deus nos convida Seara Divina. H quem imagine que seria dedicar uma hora semanal ao esforo da fraternidade, atendendo pessoas carentes em hospitais, favelas, organizaes filantrpicas O que Deus espera de ns algo bem maior. No o esforo de algumas horas, mas a consagrao de nossa existncia. No significa que devamos passar o tempo todo em instituies de beneficncia, mas que em todo o tempo encaremos nossas atividades e relacionamentos como parte de um contexto o de trabalhadores da Vinha. Isto , que nos comportemos, onde estivermos, com a conscincia de que somos servidores do Senhor, com compromissos e responsabilidades inerentes nossa condio.

ras, j prximos do final da jornada humana. Multides no atendem em tempo nenhum. Regressam ao Plano Espiritual com lamentveis comprometimentos morais, sujeitando-se a longos perodos de sofrimento e desajustes. Por isso Jesus diz que muitos so os chamados e poucos os escolhidos. Na verdade, todos somos chamados. Se poucos os escolhidos porque raros atendem convocao.

mente anterior, quando Mateus (19:30) se reporta ao jovem que no se sentiu em condies de acompanhar Jesus porque era muito rico. O Mestre teria encerrado o episdio com aquele mesmo comentrio, enfatizando que posies privilegiadas na Terra podem inibir o homem para os servios da Seara. Segundo alguns exegetas a expresso foi repetida na parbola por erro dos copistas, encarregados de reproduzir os textos, o que acontecia, no raro.

...A parbola tem uma dificuldade final de interpretao. Como situar a condio dos trabalhadores que comearam por ltimo e receberam primeiro o pagamento? Como interpretar a afirmativa: os ltimos sero os primeiros e os primeiros sero os ltimos? Bem, caro leitor, essa expresso est contida num texto imediata-

...Poderamos concluir, em sntese, que fundamental no perder tempo na praa existencial, dispostos aos servios da Seara, onde estivermos, na atividade profissional, na vida social, no convvio familiar Somente assim faremos jus ao salrio de bnos que Deus oferece aos filhos que atendem Sua convocao.

...Ao longo da existncia, na praa de nossas cogitaes, h perene convocao. H os que atendem ao primeiro chamado, na adolescncia. H os que comeam s nove horas, na idade adulta. H os que se dispem ao meio-dia, na maturidade. H os que se integram s trs da tarde, no entardecer da existncia. H os que buscam s cinco ho18 176

TrabalhoTrabalho a santa oficina De que a vida se engalana a glria da luta humana De que a Terra se ilumina. Escola, templo, doutrina De que a alegria promana, Servio fora que irmana, Cria, eleva, disciplina. Preguia imita a gangrena, Estraga, arrasa, envenena Onde vazia se enfuna. Quem vive s de poltrona No melhora, nem se abona E morte se mancomuna.Alfredo Nora Fonte: XAVIER, Francisco C. Poetas Redivivos, por Diversos Espritos. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994, cap. 11, p. 28.

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Jesus e trs motivadores psicolgicosAdilton Pugliese

m O Evangelho segundo o Espiritismo, mantendo dilogo com um Esprito que se identifica como So Lus (Lus IX, Rei da Frana 1214-1270), Allan Kardec faz trs perguntas que podem ser resumidas numa nica questo:1 permitido repreender os outros, notar as imperfeies de outrem, divulgar o mal de outrem? O Esprito So Lus destaca algumas condies: (1) podemos faz-lo com moderao, tudo depende da inteno; (2) com um fim til, como uma caridade, mas com todo o cuidado, sem prazer de denegrir, o que seria uma maldade. Ele sugere que a censura que algum faa a outrem deve dirigi-la a si prprio. Isso nos lembra a imagem da atitude do dedo indicador em riste, apontando, acusando, mas, enquanto um dedo acusa quatro apontam para o acusador. Interpretando e trazendo para a atualidade esses ensinamentos, o Esprito Joanna de ngelis tece comentrios em torno da nossa atitude quando algum est sendo acusado. O que devemos fazer? Qual dever ser a nossa posio? E se formos ns os acusados? Recomenda a Benfeitora mantermo-nos em silncio, porquanto os acontecimentos

E

podem ter antecedentes que so ignorados pelos que acusam e observam e que nem sempre as coisas so como se apresentam. Destaca, por fim, que quem est sendo acusado merece comiserao e oportunidade de reeducao.2 Ao refletirmos em torno dessas orientaes fizemos uma conexo com trs motivadores psicolgicos que podem influenciar nas atitudes de acusados e acusadores: (1) a auto-estima, que pode apresentar-se em nvel alto, mdio ou baixo, e que pode ser o reflexo de antecedentes desta ou de outras vidas; (2) a afetividade, expressando sentimento de compaixo ou de piedade; e (3) a empatia, sugerindo colocar-se psicolgica e emocionalmente no lugar do acusado, ensejando a sua reeducao. Abraham Maslow (1908-1970)3, um dos tericos da terceira-fora em Psicologia, que a Psicologia Humanista, aps o Behaviorismo e a Psicanlise, viu no atendimento das necessidades do Ego destacando a auto-estima e a afetividade motivadores psicolgicos que fortaleceriam o ser humano nos confrontos que mantm, periodicamente, com os desafios existenciais, motivadores esses que, juntamente com a empatia, so trabalhados pelos chamados terapeutas da auto-ajuda.

Esses motivadores, embora utilizados como tcnicas modernas dentro de uma viso holstica do ser humano, ou numa viso transpessoal, que identifica o homem com uma alma preexistente ao nascimento e sobrevivente morte, tm suas razes na poca do Cristianismo primitivo. Jesus os praticou e estimulou numa comovedora aula em praa pblica. O relato feito pelo evangelista Joo (8:3-11), que certamente presenciou o episdio, em Jerusalm, quando Jesus retornava ao Templo, para ensinar, acompanhado de enorme multido. Aproxima-se, ento, um grupo de escribas e fariseus, apresentando-lhe uma mulher apanhada em adultrio. Pondo-a em meio ao povo disseram-lhe: Mestre, esta mulher acaba de ser surpreendida em flagrante adultrio. Moiss nos ordena na Lei que as adlteras sejam apedrejadas. Qual, sobre isso, a tua opinio? E Tu, que dizes? Era uma Lei antiga, prevista em livros de Moiss, no Deuteronmio (22:22) e no Levtico (20:10), tradio, porm, arcaica e em desuso naquele tempo, sobretudo porque o Declogo j previa no matars e a condenao desse delito era simblica, considerando que desde o domnio romano a pena de morte fora retirada do Sindrio e reservada ao Procurador de Roma.4177 19

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Imaginemos a cena em praa pblica: a multido enfurecida, provocada pelos fariseus, assumindo o papel dos jurados, a expressar deciso antecipada; a mulher, acuada e sendo acusada, na posio de r, aguardando veredicto e sentena; e Jesus, feito ali, pelos que a acusavam, advogado e juiz. Em todos os tempos, o Mestre sempre chamado para defender os fracos e em diversas ocasies coloca-se ao lado das mulheres, socorrendo-as, defendendo-as e, sobretudo, atravs delas exemplifica a necessidade do exerccio da misericrdia, como observamos nos relatos que envolveram a mulher hemorrossa, a mulher encurvada, a viva de Naim, a mulher canania, a samaritana, Salom me dos filhos de Zebedeu, Maria Madalena, Marta e Maria, a pecadora citada por Lucas e a mulher de Betnia, aquela que envolveu a cabea de Jesus com perfume caro e purssimo, tendo sido o seu ato questionado pelos discpulos, levando o Mestre a declarar que onde quer que venha a ser proclamado o Evangelho o que ela fez jamais ser esquecido. (Mateus, 26: 6-13.) Tu, pois, que dizes? Insistia a multido dos acusadores. Era aquele um momento histrico do Cristo. Era, em verdade, uma cilada. Desafiando-O, promovendo-O a advogado de defesa e de acusao e simultaneamente a juiz, queriam a Sua perdio. Para a multido pouco importava a mulher. A expectativa de todos era em torno da deciso que Ele tomaria. Como reagiria ao desafio? Se desculpar a mulher estar transgredindo a Lei de Moiss; se confirmar a sentena, Sua misericrdia, que in20 178

tensamente prega, ser colocada em dvida. Nesse staccato, o silncio do Cristo, que escrevia no cho com o dedo, segundo o evangelista que testemunhou o fato, por Ele quebrado, quando, ao erguer-se, pronuncia a sentena: Aquele que dentre vs estiver sem pecado atire a primeira pedra. A multido toma um choque. No esperava por isso. Era um conjunto de seres-instinto, comandados pelas sensaes. Egocntricos e violentos, haviam desafiado o homem-razo, que no dizer do Esprito Manoel Philomeno de Miranda so homens que pensam com calma, nas circunstncias mais

De nada adianta apedrejar o corpo e sim apedrejar a conscinciagraves, desenvolvendo o sentimento de altrusmo.5 Ao pronunciar a sentena inesquecvel o objetivo do Mestre teraputico e pedaggico: busca desenvolver nos acusadores a postura da empatia, de colocarem-se no lugar daquela mulher, compreendendo as suas lutas e estimulando-os a serem empticos, embora tenham preferido ser egocntricos. Assim, os fariseus e seus liderados, desafiados agora pelo Cristo, que lhes submete a Lei de todos os tempos, de todos os mundos, a Lei das Causas e dos Efeitos, retiram-se, vencidos. Dirige-se, ento, mulher: Onde esto os que te acusavam?

Ningum te condenou? Nem Eu tampouco te condenarei. Vai, e no peques mais. toda a expresso da afetividade. O Mestre no a condena. Orienta, conversa, interage, respeita a situao difcil daquela mulher, preocupando-se com ela. Sabe que est sujeita aos mecanismos da Lei Divina e que de nada adianta apedrejar o corpo e sim apedrejar a conscincia, lapidando-a atravs de aes renovadoras. O Esprito Amlia Rodrigues, atravs do mdium Divaldo Franco6, narra que naquele mesmo dia, noite, Jesus teria o Encontro da Reparao com aquela mulher, quando se estabelece um dilogo motivador, e o Mestre busca elevar a sua auto-estima, afetada pelo acontecimento que poderia destruir a sua vida, comprometendo a oportunidade reencarnatria. A misericrdia do Cristo, atravs da aplicao da empatia, da afetividade e da auto-estima, motivaria aquela alma sofrida a vivenciar uma existncia renovada, agora nas diretrizes do amor e da caridade.REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:1

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 117. ed. FEB, cap. X, item 19, p. 180.

FRANCO, Divaldo. Vida Feliz, pelo Esprito Joanna de ngelis. 12. ed. LEAL, p. 53. MASLOW, Abraham H. Uma Teoria da Motivao Humana. O Comportamento Humano na Empresa. BALCO, Yolanda Ferreira. CORDEIRO, Laerte Leite. 2. ed. FGV, p. 337.4 3

2

PASTORINO, C. Torres. Sabedoria do Evangelho. Ed. Sabedoria. 1977, volume 5, p. 71.

5

FRANCO, Divaldo P. Loucura e Obsesso, pelo Esprito Manoel Philomeno de Miranda. 7. ed. LEAL, p. 241.

6

______. Pelos Caminhos de Jesus, pelo Esprito Amlia Rodrigues. 1. ed. LEAL, p. 131.Reformador/Maio 2005

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ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

Com amorE, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que o vnculo da perfeio. Paulo. (Colossenses, 3:14.)Todo discpulo do Evangelho precisar coragem para atacar os servios da redeno de si mesmo. Nenhum dispensar as armaduras da f, a fim de marchar com desassombro sob tempestades. O caminho de resgate e elevao permanece cheio de espinhos. O trabalho constituir-se- de lutas, de sofrimentos, de sacrifcios, de suor, de testemunhos. Toda a preparao necessria, no captulo da resistncia; entretanto, sobre tudo isto indispensvel revestir-se nossa alma de caridade, que amor sublime. A nobreza de carter, a confiana, a benevolncia, a f, a cincia, a penetrao, os dons e as possibilidades so fios preciosos, mas o amor o tear divino que os entrelaar, tecendo a tnica da perfeio espiritual. A disciplina e a educao, a escola e a cultura, o esforo e a obra, so flores e frutos na rvore da vida, todavia, o amor a raiz eterna. Mas, como amaremos no servio dirio? Renovemo-nos no esprito do Senhor e compreendamos os nossos semelhantes. Auxiliemos em silncio, entendendo a situao de cada um, temperando a bondade com a energia, e a fraternidade com a justia. Ouamos a sugesto do amor, a cada passo, na senda evolutiva. Quem ama, compreende; e quem compreende, trabalha pelo mundo melhor.Fonte: XAVIER, Francisco Cndido. Vinha de Luz. 21. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004, cap. 5, p. 21-22.

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A tica de Jesus: Um tratado insupervelRenata S. S. Guizzardi

empre admiramos Jesus como exemplo religioso e como algum que desafiou sabiamente os costumes de uma poca em que os homens tinham a arrogncia de se achar superiores a seus irmos por mera diferena racial ou pela riqueza que lhes vinha do bero. Todavia, mais recentemente, passamos a admirar Jesus tambm, e principalmente, pela beleza de seu Evangelho, extraordinrio tratado de tica que somente agora comeamos a compreender em profundidade, graas aos esclarecimentos que nos trouxe o Espiritismo. Na pgina 97 do livro Pensamento e Vida, em texto cujo ttulo Hbito, Emmanuel nos ensina com sabedoria: (...) vemos no Cristo divino marco da renovao humana todo um programa de transformaes viscerais do esprito. O Cristo veio propor uma transformao visceral ao homem, ou seja, uma mudana radical e profunda, para manifestar atitudes to opostas aos costumes daqueles tempos. Procuremos nos lembrar de alguns exemplos. Imagine que, naquela poca, aquele que se senta-

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va mesa de refeies sem lavar suas mos era considerado um pecador: Narra o evangelista Mateus (15:1-11) que os fariseus e escribas perguntaram a Jesus porque os seus discpulos transgrediam a tradio dos ancios, pois no lavavam as mos quando comiam. O Mestre deu-lhes uma longa resposta, enumerando as contradies de sua conduta. E, convocando a multido, disse-lhes:No o que entra na boca que macula o homem; o que sai da boca do homem que o macula. O que sai da boca procede do corao e o que torna impuro o homem (...) significando que as palavras que, muitas vezes, escolhemos proferir prejudicam o outro e, conseqentemente, a ns mesmos. Ou seja, Jesus ensinou aqui que devemos evitar a maledicncia, bem como a palavra dura para com o nosso prximo. Um outro caso interessante que ilustra bem a revoluo moral proposta pelo Cristo aquele famoso acontecimento de apedrejamento da mulher adltera, em que Jesus conclama: Aquele que no tiver pecado, atire a primeira pedra. (Joo, 8:7.) E, assim, reconhecemos que todos ns precisamos melhorar-nos (e muito!), antes de julgar o outro por qualquer ato que tenha praticado. O mais provvel

que, quando atingirmos esse determinado grau evolutivo, no mais sintamos a necessidade de julgar quem quer que seja. Voltemos agora aos ensinos de Emmanuel: Sem violncia de qualquer natureza, [o Cristo] altera os padres da moda moral em que a Terra vivia h numerosos milnios. Um dos preceitos mais belos do Cristianismo o de que devemos evitar a violncia a todo custo e, assim, Jesus, antes de qualquer outra coisa, foi um pacifista. triste notar, entretanto, quantas lutas j foram travadas em nosso planeta em nome do Cristianismo, certamente por pessoas que no estavam (e, em muitos casos, ainda no estejam) preparadas para aceitar a mensagem de Jesus em sua pureza. Pessoas estas que acabam por colocar seus prprios interesses materiais e fugazes acima das mximas do Cristo. Os budistas exemplificaram admiravelmente esse ideal de paz com a inesquecvel figura serena de Gandhi e, hoje, com Dalai Lama, que continua a pregar a no-violncia como filosofia de vida capaz de resolver conflitos dos mais variados em seu pas, o Tibet. Emmanuel continua: Contra o uso da condenao metdica,[o Cristo] oferece a prtica do perdo. Novamente nos referimos aoReformador/Maio 2005

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caso da mulher adltera, pois ali Jesus exemplificou, de forma inigualvel, a prtica do perdo. Na poca, era costume civil institudo apedrejar mulheres adlteras at a morte. Jesus, todavia, evitou que isso ocorresse quela mulher, mostrando que devemos, sim, desaprovar a vingana ou as penas extremas, mesmo que essas sejam leis institudas no mundo onde vivemos. Por isso, no podemos concordar, por exemplo, com a pena de morte, legalizada em alguns pases. Quem somos ns para decidir que um indivduo deve perder a vida (dom a ele legado por Deus, nosso Pai) pela falta que haja cometido, por mais grave que ela seja? Lembremos, pois, que essa pessoa parte da nossa famlia universal e que devemos, sim, educ-la, para que no torne a cometer o mesmo erro, e devemos tambm ter por ela compaixo, sendo capazes de perdoar a falta cometida no passado. Jesus exemplificou e pregou o perdo em inmeras outras passagens do Evangelho, mas foi durante a crucificao que verdadeiramente emocionou os que sua volta estavam, quando pediu: Pai, perdoa-lhes, porque no sabem o que fazem! (Lucas, 23:24.) Que alma santa esta que, at quando julgada e condenada por crimes nunca cometidos, consegue ter a fora e a determinao para perdoar seus algozes, pedindo por eles clemncia a Deus? Conforme nos ensinam os Espritos, ele o ser mais perfeito que Deus enviou Terra, para servir-nos de guia e modelo (O Livro dos Espritos, questo 625). Procurando assimilar as palavras sbias de Emmanuel, chegamos seguinte afirmativa: tradio de raa [o Cristo] ope o funReformador/Maio 2005

damento da fraternidade legtima. No se pode negar que, at o presente, h os que se acham superiores por terem nascido com determinada cor, em determinado pas, ou com determinada condio econmico-social. Acompanhamos com tristeza as notcias atuais sobre o ressurgimento de grupos nazistas e anti-semitas na Europa Ocidental. Vemos, com tristeza, as minorias tnicas sofrendo em pases desenvolvidos, que exploram sua fora de

Todo sofrimento traz ensinamentos importantes, que s assimilamos enfrentando a dor com resignao e pacinciatrabalho, sem lhes dar a compensao devida. uma pena que os ideais sinceros de liberdade, igualdade e fraternidade no tenham vingado at hoje, quando ainda observamos as decises serem tomadas sem a considerao a valores quaisquer que no sejam os comerciais e financeiros. O resultado disso o recrudescimento do dio por parte de certos grupos, que propem prticas terroristas como meio de contra-atacar o poder institudo. Precisamos atentar para o fato de que a cultura perversa hoje pra-

ticada em nosso planeta, movida pela busca desenfreada de lucros e privilgios, gera sentimentos nocivos vida terrena. Precisamos, assim, compreender, de uma vez por todas, que somente a fraternidade e a cooperao, ao invs da competio por recursos, que salvaro nossas vidas, e mais tarde levaro verdadeira construo do paraso na Terra, fato j previsto por Jesus. Para finalizar nossa leitura de Emmanuel, recorremos, enfim, ltima frase do pargrafo: No abandono tristeza e ao desnimo, nas horas difceis, [o Cristo] traz a noo das bem-aventuranas eternas para os aflitos que sabem esperar e para os justos que sabem sofrer. Talvez seja esse o ponto mais difcil de atingirmos. Por que, ainda hoje, quando sofremos, afligimo-nos tanto com o pensamento de que verdadeiramente no merecamos a dor? Se Jesus j nos falava, e o Espiritismo vem confirmar-nos, que toda dor resultado de nossos prprios atos no passado, por que nos sentimos to injustiados pela Providncia divina? Isso algo que realmente no compreendemos bem e que, agora, procuramos superar. O fato que todo sofrimento traz ensinamentos importantes, que s assimilamos enfrentando a dor com resignao e pacincia. No exijamos o impossvel de ns mesmos, ou seja, que compreendamos a lio a ser aprendida enquanto o sofrimento ainda nos dilacera o corao, mas tenhamos a pacincia sugerida por Jesus conforme ensina o trecho acima, e sejamos justos, querendo bem aos que eventualmente nos fizeram sofrer. Ao nos despedirmos da dor, perceberemos, enfim, quanto amadurecemos e quantas bnos rece181 23

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bemos pelo nosso comportamento reto diante do sofrimento. Se no o fizermos enquanto ainda vivos, certamente, no alm-tmulo, teremos ainda a oportunidade de faz-lo e alcanaremos alegrias infinitas e foras renovadoras. Sentimo-nos felizes ao perceber que, apesar do quadro entristecedor que o mundo nos mostra, o bem est em toda a parte, e muitos vm percebendo o valor das lies de nosso Mestre Jesus. Entre eles, esto os bilogos chilenos Maturana e Varella, que em uma de suas obras mais conhecidas, intitulada A rvore do Conhecimento, reconhecem a beleza dos ensinamentos do Cristo. J no prefcio, encontramos o comentrio de que as concluses do livro vm confirmar a importncia da tica j proposta h 2.000 anos por um doce nazareno. Maturana

e Varella provam, por estudos da Biologia, que o amor essencial vida. Como bom ler sobre essa descoberta to bela da Cincia contempornea! Objetivamos, neste texto, levar voc, leitor(a), a uma reflexo em torno da tica crist. No foi nossa inteno esgotar o assunto, mesmo porque isso no seria possvel. Todavia, esperamos ter demonstrado que h uma completude nas lies de Jesus com relao a nos ensinar a viver em comunidade, alm de pregar tambm o respeito Natureza e ao ambiente em que vivemos. Devemos compreender, porm, que, como em outros casos, para passar da teoria prtica, h um longo caminho a ser percorrido. Pelo exemplo de Maturana e Varella, como por muitos outros, percebemos que o homem, atravs

dos mais variados meios religiosos, filosficos e cientficos, passa hoje a aceitar e compreender a relevncia da tica crist. Para que isso seja racionalizado pela maioria dos seres humanos, talvez ainda precisemos de alguns sculos e, mais tarde, para que passemos a viver esses ensinamentos em sua totalidade, ainda mais tempo ser necessrio. Tenhamos, pois, para com o ser humano a considerao e a pacincia necessrias; reconheamos tambm que o bem existe, ao contrrio do que a mdia faz parecer; e mos obra, para a construo do mundo de regenerao, a comear em ns mesmos, com a reforma ntima e a renovao dos hbitos que internalizamos em inumerveis encarnaes permeadas de erros. Est na hora de comearmos a acertar!

Mem dia, a Mulher solitria e atormentada chegou ao Cu e, rojando-se, em lgrimas, diante do Eterno Pai, suplicou: Senhor, estou s! Compadece-te de mim. Meu companheiro fatigado, cada dia, pede-me repouso e devo velar-lhe o sono! quando triunfa no trabalho, absorve-se na atividade mais intensa e, muita vez distrado, afasta-se do lar, aonde volta somente quando exausto, a fim de refazer-se. Se sofre, vem a mim, abatido, buscando restaurao e conforto... Tu que deste flores ao arvoredo e que abriste as carcias da fonte, no seio escuro e ressequido do solo, consagras-me, assim, ao insulamento? Reservaste a terra inteira ao servio do homem que se agita, livre e dominador, sobre montes e vales, e concedes a mim apenas o estreito recinto da casa, entre quatro

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paredes, para meditar e afligir-me sem consolo? Se sou a companheira do homem, que se vale de mim para lutar e viver, quem me acompanhar na misso a que me destinas? O Senhor sorriu, complacente, em seu trono de estrelas fulgurantes e, afagando-lhe a cabea curvada e trmula, falou compadecido: Dei o mundo ao homem, mas confiarei a vida ao teu corao. Em seguida colocou-lhe nos braos uma frgil criana. Desde ento, a Mulher fez-se Me e passou a viver plenamente feliz.Meimei Fonte: XAVIER, Francisco C. Luz no Lar, por Diversos Autores Espirituais. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1997, cap. 13, p. 40-41.Reformador/Maio 2005

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Em dia com o EspiritismoVIMarta Antunes Moura

Luz congelada

fsica dinamarquesa Lene Vestergaard Hau, do Instituto de Cincias Rowland, em Cambridge, nos Estados Unidos, anunciou ter imobilizado o movimento de um raio luminoso, usando o sistema indito de congelamento, armazenamento e liberao da luz, como se fosse uma partcula de matria comum. Sabemos que a luz se desloca no espao velocidade de 300 mil quilmetros por segundo. A gua, o vidro e o cristal reduzem ligeiramente essa velocidade, provocando distoro dos raios luminosos. O congelamento da energia luminosa, considerada a mais rpida e etrea da Natureza, pode ser o incio de uma revoluo tecnolgica, especialmente nos campos da telecomunicao ptica e da fabricao de computadores qunticos. Para desacelerar a luz, os cientistas da equipe da professora Lene Hau utilizaram o Condensado de Bose-Einstein, formado de densa nuvem de sdio cujos tomos so congelados a 273,15 graus Celsius negativos, numa temperatura prxima do zero absoluto. Nesta condio, um

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feixe de laser (aparelho que produz radiao eletromagntica monocromtica visvel) pode, por exemplo, direcionar a luz lenta ou congelada, cuidadosamente regulada, para um objeto opaco, tornando-o transparente por desintegrao atmica. Em artigo publicado na revista Scientific American, a professora Lene Hau descreve a pesquisa e fala tambm das possveis aplicaes tecnolgicas: (...) nossos experimentos originais de luz lenta aconteciam em etapas de 27 horas, sem pausa. (...) Em maro de 1998, vimos os primeiros indcios de pulsos de luz ficando mais lentos. Em julho, j tnhamos freado a luz velocidade de um avio (...). No ms seguinte, alcanamos 60km/h. (...) Em meados de 2000, freamos os pulsos de luz completamente (...). A cientista conta como freou totalmente a luz em perodos prolongados de tempo: Resfriamos tomos de sdio com uma combinao de feixes de laser, campos magnticos e ondas de rdio. (...) Em poucos segundos, acumulamos 10 milhes de tomos (...) e ento desligamos os feixes de laser, deixando o laboratrio em total escurido. Depois, ligamos os eletroms (...), resfriamos os tomos por evaporao (...). Ondas de rdio (...) garantem que isso acontea.(Scientific American

Brasil. No 8. Edio Especial, janeiro 2005, p. 44-51.) Desejamos que os resultados da pesquisa, obtidos pela brilhante fsica e sua equipe, sejam utilizados para o bem da Humanidade, pois os progressos intelectual e moral nem sempre caminham juntos. Para que isto ocorra preciso tornar (...) compreensveis o bem e o mal (O Livro dos Espritos, questo 780a). A propsito, Andr Luiz nos traz notcias de um equipamento cuja tecnologia sugere utilizao da luz congelada manuseado por Espritos distanciados do bem. O relato que se segue revela domnio de tecnologia avanada tanto pelos Espritos moralmente atrasados quanto pelos Benfeitores espirituais: O companheiro ia continuar, mas estranho rudo nos tomou a ateno, ao mesmo tempo em que um emissrio varou uma das portas, situada rente a ns, e, abeirando-se de Druso [diretor da Manso Paz, notvel escola de reajuste existente em regies inferiores do mundo espiritual, sob a jurisdio da Colnia Nosso Lar], anunciou: Instrutor, depois de amainada a tormenta, voltou o assalto dos raios desintegrantes... O orientador esboou um gesto de preocupao e recomendou:183 25

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Liguem as baterias de exausto. Observaremos a defensiva, instalada na Agulha de Vigilncia [torre, provida de escadaria helicoidal, situada algumas dezenas de metros acima de grande edifcio existente na Manso Paz]. (...) No topo, descansamos em pequeno gabinete, em cujo recinto interessantes aparelhos nos facultaram a contemplao da paisagem exterior. Assemelhavam-se a telescpios diminutos, que funcionavam como lanadores de raios que eliminavam o nevoeiro, permitindo-nos exata noo do ambiente constrangedor que nos cercava, povoado de criaturas agressivas e exticas, que fugiam, espavoridas, ante vasto grupo de entidades que manobravam curiosas mquinas guisa de canhonetes. (...) E aquelas equipagens? que vm a ser? enunciou meu companheiro [Hilrio], assombrado. Podemos defini-las como canhes de bombardeio eletrnico informou o orientador. As descargas sobre ns so cuidadosamente estudadas, a fim de que nos atinjam sem erro na velocidade de arremesso. E se nos alcanassem? perguntou meu colega. Decerto provocariam fenmenos de desintegrao, suscetveis de conduzir-nos runa total, sem nos referirmos s perturbaes que estabeleceriam em nossos irmos doentes (...) porque os raios desfechados contra ns contm princpios de flagelao, que provocam as piores crises de pavor e loucura. (XAVIER, Francisco C. Ao e Reao. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004, cap. 3, p. 41-43.)26 184

RETORNO PTRIA ESPIRITUAL

Luiz Antnio MileccoDesencarnou no dia 5 de fevereiro passado o confrade Luiz Antnio Milecco, nascido em 30 de junho de 1932, de pai italiano e me brasileira. Cego de nascena, apresentava, desde a infncia, tendncia para a msica. Ouvia falar de Espiritismo por alguns membros da famlia. Aos 19 anos ingressou no Movimento Esprita, levado por Mrio Travassos. Em 1953 participou da fundao da Sociedade Pr-Livro Esprita em Braille. Psicografou livros como Meu alm de dentro e de fora, Reflexes do meu alm, Vivncias I e II. Escreveu ainda Msica e Espiritismo, com CD encartado, e em parceria com Isabel Bittencourt de Souza, Ecos de So Bartolomeu. Seu ltimo livro foi Olhos de ver. Corao sensvel e inspirado compositor, por onde andou deixou pegadas luminosas. Receba, portanto, nossos votos de paz. (O Esprita Fluminense.)

Clvis RamosRegistramos a desencarnao, no dia 26 de novembro de 2004, aos 82 anos, do escritor e poeta esprita Clvis Ramos. Nasceu no Maranho, em 1922, e residia ultimamente em Niteri (RJ). Era casado com a Sra. Helosa Ramos e tinha trs filhas: Esmeralda Branca, Rita de Cssia e Clara de Assis. Divulgou, em 1972, exaustiva pesquisa sobre revistas e jornais espritas, desde O Eco dAlm-Tmulo, editado por Lus Olmpio Teles de Menezes, na Bahia, em 1869. Em 1982, a FEB publicou seu livro 50 Anos de Parnaso, em comemorao ao cinqentenrio de Parnaso de Alm-Tmulo, primeiro livro psicografado por Francisco Cndido Xavier. Dentre outros livros de sua autoria, est Herculano Pires Filsofo e Poeta, em parceria com Humberto Mariotti, publicado pela Editora Correio Fraterno do ABC. Que, em seu retorno Ptria Espiritual, possa intregrar a falange dos Espritos-espritas que continuam servindo na Seara do Consolador.

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As curiosas respostas do AlmKleber Halfeld

nseia o homem pelo desfecho favorvel de seu desejo. Desta forma, a resposta negativa sugere-lhe incompreensvel descaso dos abnegados Mentores nos quais deveria confiar. Onde, afinal, a bondade da Espiritualidade Maior que no atende sua rogativa? Entretanto, um posterior acontecimento haver de modificar-lhe o raciocnio!

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IPara suporte do presente trabalho, teremos por base trs obras da literatura esprita, todas editadas pela Federao Esprita Brasileira: Almas em Desfile1, Bem-Aventurados os Simples2 e A Vida Escreve3. Com referncia a Almas em Desfile, livro do qual focalizaremos a passagem intitulada Dois meses antes, sugiro ao leitor a leitura de nossa pesquisa Semelhana que no mera coincidncia publicada por Reformador em sua edio de fevereiro de 1987, a qual, devemos salientar, consumiu-nos 14 anos para ser concluda, visto que necessitamos de uma srie extensa de entrevistas e de coleta de informaes com inmeros setores particulares e governamentais, tudo objetivandoReformador/Maio 2005

concluir para os leitores da veracidade dos casos relatados pelo Esprito Hilrio Silva em seus livros. Logo aps rpida introduo naquele trabalho tivemos ensejo de fazer meno a um caso extrado da revista Planeta, de dezembro de 1972, com o ttulo O morto agradecido, narrado pela irm em doutrina Zuleika Vellide De Franceschi Velloso, vereadora residente na cidade paulista de Pirassununga. A narrativa assemelhava-se a uma pgina intitulada Dois meses antes, de autoria de Hilrio Silva e publicada no livro Almas em Desfile captulo 21 , fazendo-nos concluir que ambos diziam respeito a um s acontecimento, embora algumas trocas de nomes de pessoas e lugares, resultado, alis, dos propsitos dos narradores: um no plano fsico, outro no espiritual. Restava-nos, entretanto, provar a veracidade do fato com provas concretas. Busquemos agora resumir este mesmo fato, narrado em Almas em Desfile. Em uma confeitaria da capital paulista, pobre homem tentando furtar dois pes preso por um guarda e um balconista. Presente cena, um advogado esprita condi-se da infeliz criatura, livrando-a das pessoas que a seguram. Conversando com seu protegido o advogado toma conhecimento de que este est doente, desem-

pregado e mora em uma choupana com mulher e seis filhos. Arranja-lhe, ento, dinheiro e emprego. Precisando ausentar-se de So Paulo, recomenda-o a diversos amigos e esquece o caso. Decorridos seis meses, necessitando viajar ao Rio de Janeiro, sente-se abraado em um aeroporto de uma cidade brasileira pelo antigo protegido, humildemente trajado, mas limpo e alegre pela cura obtida. Um dilogo inicia-se entre os dois, envolto o advogado pela pressa de pegar o avio que est prestes a decolar. impedido pelo amigo, em meio a continuadas expresses de gratido. Desvencilhando-se por fim, corre para pegar a aeronave, mas j tarde. Aborrecido, volta para ouvir agora com mais ateno seu amigo, porm no logra encontr-lo. Mais tarde, ao chegar a casa, toma conhecimento de que o avio em que viajaria cara de grande altura sem deixar sobreviventes! Resolve ento visitar a choupana de Noel (nome dado pelo autor ao protegido do advogado). Deseja abra-lo e comentar o infausto acontecimento. Neste ponto, deixemos a palavra com Hilrio Silva: Mas, no lar modesto de Vila Maria [nome suposto tambm dado pelo autor], veio a saber que Sou185 27

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za [Noel] desencarnara dois meses antes. A materializao do protegido do advogado, fazendo este perder o avio, era a resposta do Alm para, livrando-o do acidente, recompens-lo pela bondade dispensada a uma infeliz criatura que furtara dois pes...

IIO Esprito Valrium, em sua obra Bem-Aventurados os Simples, na pgina Em tempo algum, tem esta narrativa: Cara a noite e o viajante pedia socorro a Deus. Sentia-se doente. Longa fora a caminhada. Doa-lhe o corpo. Estava exausto. Orando sempre, encontrou rvore acolhedora que lhe pareceu agasalhante refgio. No p do tronco anoso, grande cova caprichosamente forrada de razes era leito ao luar. Oh! suspirou o viajor fatigado Deus ouviu-me! Afinal, o repouso! Ajoelhou-se e ia estender o manto roto no cho, quando verdadeira nuvem de maruins surgiu no assalto. Picadas na cabea, no rosto, nas mos, nos ps... E eram tantos os dardos vivos e volantes em derredor que o pobre recuou espavorido, para dormir ao relento, entre as pedras e espinheiros da retaguarda. De corpo dorido, pensava desalentado: Tolo que sou de acreditar na orao! Estou sozinho! Nada de Deus!28 186

Na manh seguinte, porm, retomando a marcha, voltou rvore do caminho e, somente a, reconheceu, admirado, que a grande cova de que fora obrigado a afastar-se era a moradia de vrios escorpies. H muito permanece entre ns o ditado de que Deus escreve certo por linhas tortas. Com toda certeza o personagem do relato de Valrium ter reconhecido que a misericrdia do Alm se manifestara atravs de uma nuvem de insetos dpteros, livrando-o dos perigosos artrpodos terrestres! Uma curiosa resposta do Alm...

No adianta repetir frases inteis. E sempre falta grave conferir salincia ao mal. Comentemos o bem. Destaquemos o bem. Dentre todos os presentes, Belmiro Arruda escutava em silncio.

...Decorridos alguns dias, Arruda, nas funes de pedreiro-chefe, orientava o trmino da construo de grande recinto. O enorme salo parecia completo. Tudo pronto. Acabamento esmerado. Pintura primorosa. Experimentemos a acstica disse o engenheiro superior. E virando-se para Belmiro: Grite algo. Arruda, recordando a lio, bradou: Confia em Jesus!... Confia em Jesus!... O som estava admiravelmente distribudo. Os operrios continuavam na sua faina, quando triste homem penetra o recinto. Cabeleira revolta. Semblante transtornado. Quem mandou confiar em Jesus? perguntou. Algum aponta Belmiro, para quem ele se dirige, abrindo os braos. Obrigado, amigo! exclamou. E mostrando um revlver: Ia encostar o cano ao ouvido, entretanto, escutei seu apelo e sustei o tiro... Queria morrer no terreno baldio da construo, mas sua voz acordou-me... Estou desempregado, h muito tempo, e sou pai de oito filhos... Jesus, sim! Confiarei em Jesus!... Arruda abraou-o, de olhos midos. O caso foi conduzido aoReformador/Maio 2005

IIIO caso a seguir narrado por Hilrio Silva na obra A Vida Escreve. Intitula-se O grito. Uma boa palavra auxilia sempre. s vezes, supomo-nos sozinhos e proferimos inconvenincias. Desajudamos quando podamos ajudar. preciso aproveitar oportunidades. Falar um dom de Deus. Se abrimos a boca para dizer algo, saibamos dizer o melhor.

No adianta repetir frases inteis. E sempre falta grave conferir salincia ao malA pequena assemblia ouvia atenta a palavra de Slus, o instrutor espiritual que falava pelo mdium.

Maio 2005.qxp

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conhecimento do diretor do servio. E o diretor, visivelmente emocionado, estendeu a mo ao desconhecido e falou: Venha amanh. Pode vir trabalhar amanh. certo admitir que, no fosse o grito de Arruda, inspirado pelos Mentores Espirituais, e aquele homem desempregado e pai de oito filhos seria um novo suicida. O Alm, todavia, dava a necessria e curiosa resposta sua triste situao. Conclumos que uma realidade emerge dos trs casos: a de que nos cabe aguardar a resposta do Plano Superior, atentos ao que Andr Luiz nos adverte em seu livro Agenda Crist 4, no captulo Nos momentos graves: Se a questo excessivamente complexa, espere mais um dia ou mais uma semana, a fim de solucion-la. O tempo no passa em vo. Neste sentido aconselhamos a leitura da pgina inserida na obra j citada (A Vida Escreve) e intitulada Por