reforma da segurança social em portugal

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Reforma da Segurança Social em Portugal João Francisco Regulação e Análise de Políticas Públicas 1

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Page 1: Reforma da Segurança Social em Portugal

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Reforma da Segurança Social em Portugal

João FranciscoRegulação e Análise de Políticas Públicas

Page 2: Reforma da Segurança Social em Portugal

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Estrutura

Reforma da Segurança

Social

Modelo Social Europeu – contextualização

histórica e modelos de reforma

Problemática do financiamento do Estado-Providência e despesas com a proteção social

Processo de reforma da Segurança Social

em Portugal

Resumo e Nota

Introdutória

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Contextualização histórica

Ao abordar este tema da sustentabilidade da Segurança Social é necessário entender todo um conjunto de acontecimentos históricos que aconteceram no mundo e em especial na Europa.

Necessidade de manter um

mínimo decente de

condições de vida de todos os cidadãos

Necessidade de regulação da economia de mercado, mantendo níveis de emprego altos e

estáveis

Redes de segurança de serviços de

assistência de forma a reduzir a pobreza

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Contextualização histórica

Países inovadores na decisão por estas medidas de Estado Social e na introdução de programas sociais:  Primeiro Segundo Terceiro

Acidentes de

trabalhoAlemanha (1871) Suíça (1881) Áustria (1887)

Saúde Alemanha (1883) Itália (1886) Áustria (1888)

Pensões Alemanha (1889) Dinamarca (1891) França (1895)

Desemprego França (1905) Noruega (1906) Dinamarca (1907)

Apoio à famíliaÁustria (1921)

Nova Zelândia

(1926)Bélgica (1930)

Sufrágio

masculinoFrança (1848) Suíça (1848) Dinamarca (1849)

Sufrágio

universal

Nova Zelândia

(1893)Austrália (1902) Finlândia (1907)

Fonte: OCDE

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Contextualização histórica

Bismarck, chanceler do Império Germânico – Séc. XIX

“Para Bismarck (…) a criação de um seguro social que cobrisse os grandes riscos da existência das classes trabalhadoras – doença temporária, invalidez permanente, velhice, morte prematura – não era assimilável a beneficiência. Tratava-se antes da prevenção de riscos incertos (…)” (Campos: 2000: 10)

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Contextualização histórica

Concepção bismarckiana:

Não Universal

Provisão de apoios

relacionada com a situação

profissional dos indivíduos

Concepções do papel da família bem diferentes

O homem seria o angariador de rendimentos

A mulher seria o elemento familiar que cuidava dos filhos e da

casa

Contribuição da Igreja

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Contextualização histórica

Durante o século XX, Richard Titmuss contribuiu para a reflexão sobre o Estado Social, formulando a primeira tipologia:

Estados Sociais residuaisI• Papel subsidiário e suplementar do Estado• Apoios sociais dirigem-se apenas àqueles que comprovadamente

apresentem alguma necessidade e a ação do Estado dura apenas até que o estado de dependência seja eliminado.Estados Sociais meritocrático-

particularistaII• Políticas sociais moldadas por objectivos de produtividade• Estado assegura a proteção social ligada ao corporativismo ocupacional• Acesso aos benefícios ligado ao status do trabalho e à contribuição paga

pelos beneficiáriosEstados Sociais institucionais-redistributivosIII

• Políticas sociais determinadas por objectivos normativos de provisão universal

• O acesso aos programas sociais é universal, assegurando patamares mínimos de rendimento e serviços sociais financiados pelo Estado(Titmuss: 1974: 23-32)

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Contextualização histórica

Esping-Andersen trouxe um contributo essencial na análise dos modelos de welfare que, ainda nos dias de hoje, é estudado no âmbito das ciências sociais. Sobre este autor e o seu contributo, Pedro Adão e Silva refere:

“(…) Esping-Andersen definiu o conceito de “modelo de welfare”. Este conceito tornou-se um instrumento particularmente poderoso para a compreensão de como as políticas sociais influenciam o funcionamento do mercado de trabalho, bem como as estruturas sociais mais amplas e de como neste processo uma série de factores se interligam.” (Silva: 2002: 26)

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Contextualização histórica: Esping-Andersen

Modelo de welfare

Dimensões típicas

PaísesRiscos sociais associados

Estratégias em cenários

de crise

Continental ou Corporativo

Regimes de proteção segundo o estatuto profissional

Proteção social dos funcionários públicos elevada

Áustria

Bélgica

França

Alemanha

Holanda

Luxemburgo

Discriminatório das mulheres

Encargos sociais com a mão-de-obra elevados

Excesso de peso das despesas com pensões

Dificuldade em responder a níveis elevados de desemprego

Indução da saída precoce do mercado de trabalho

Aumento da produtividade

Prestações sociais de desemprego e de reforma antecipada elevadas

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Contextualização histórica: Esping-Andersen

Modelo de welfare

Dimensões típicas

PaísesRiscos sociais

associados

Estratégias em cenários

de crise

Anglo-saxónico ou Liberal

Prestações sujeitas a condição de recursos

Importância do sector privado nas pensões

Importância das despesas privadas com saúde

Reino Unido

Irlanda

Armadilhas de pobreza

Aumento da desigualdade social e da pobreza

Trabalhadores pouco qualificados e baixos salários

Desregulação do mercado de trabalho

Flexibilidade salarial, redução do valor dos salários mais baixos

Erosão do valor das prestações

Redução de programas sociais

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Contextualização histórica: Esping-Andersen

Modelo de welfare

Dimensões típicas

PaísesRiscos sociais

associados

Estratégias em cenários

de crise

Escandinavo ou Social

Democrático

Acesso universal

Prestações igualitárias

Serviços de apoio às famílias desmercadorizados

Dinamarca

Finlândia

Suécia

Dificuldades de financiamento

Dificuldades de manutenção de níveis elevados de qualidade do serviço público

Limites do emprego no sector público

Erosão do ideal solidarístico subjacente

Expansão dos serviços sociais, com criação de emprego público

Expansão da participação feminina no mercado de trabalho

Expansão do trabalho em part-time

Desenvolvimento de medidas activas de inserção no mercado de trabalho

Modelos de welfare state. Fontes: Esping-Andersen (1990: 69-78), Esping-Andersen (1996: 10-20), Rhodes (1997: 61-62), adaptado de Pedroso (1999)

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Contextualização histórica: Maurizio Ferrera

Maurizio Ferrera identifica nos países mediterrâneos algumas características muito próprias. Uma delas é a importância e elasticidade da família como uma espécie de carteira de compensação para o bem-estar dos seus membros;

o A isto associa-se uma cultura social imbuída de um tipo específico de solidariedade muito influenciado pela doutrina social da Igreja e associações católicas.

o Outra evidência que não deixa de ser importante é o relativo subdesenvolvimento do Estado Social e a discrepância entre as medidas prometidas e as realmente levadas à prática (Ferrera, 1996).

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Contextualização histórica: Maurizio Ferrera

Na sua obra “The ´Southern` Model of Welfare State in Social Europe”, Ferrera deixa alguma características sobre os países do Sul da Europa:

Elevada relevância das remunerações de transferência; Distribuição desequilibrada da proteção social pelos escalões

de riscos padronizados e pelas diversas funções da política social: A superprotecção do risco da velhice e dos idosos como

grupo social; Subdesenvolvimento dos benefícios e serviços para a

família; O subdesenvolvimento da habitação social e dos

subsídios para a habitação; Universalidade nos cuidados de saúde; Combinação altamente articulada entre actores e instituições

públicos/as e não públicos/as; Clientelismo (Ferrera, 1996)

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Problemática do financiamento do Estado-Providência

Gráfico 1 – Comparação de médias de gastos sociais, % PIB, entre países nórdicos, anglo-saxónicos, Europa continental e Europa do sul. Fonte: OCDE (2006)

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Problemática do financiamento do Estado-Providência

Seria de esperar que se os países gastam mais dos seus orçamentos em despesas sociais, os valores da taxa de pobreza fossem mais baixos. o E de facto, é verdadeiro afirmar que com a provisão das

prestações sociais diminuiu-se, em considerável escala, a pobreza um pouco por todo o mundo.

Gráfico 2 – Taxa de pobreza e gastos sociais. Fonte: OCDE

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Problemática do financiamento do Estado-Providência

Relativamente ao financiamento do sistema de pensões, identificam-se diferenças:

Plano de Repartição Sistema de Capitalização

Fontes de financiamento

Contribuições associadas ao salário Impostos gerais

Redistribuição intergeracional Acentuada Inexistente

Universalidade Cobertura universal Cobertura restrita

Organização Pública Privada

O que é definido Benefícios Contribuições

Confiança Reduzida Forte

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DesempregoEnvelhecimento da Pop.

Crescimento EconónicoTaxas de Natalidade

Problemática do financiamento do Estado-Providência

“(…) o atual modelo de Estado-Providência assenta sobre perspetivas de crescimento económico irrealistas; o envelhecimento da população, a par da diminuição das taxas de natalidade, em Portugal como no resto do mundo desenvolvido, constituem um enorme desafio à sustentabilidade financeira do Estado Social.” (Silva, 2013: 52)

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A esta dificuldade em apresentar os resultados práticos, soma-se a impopularidade das medidas tomadas pelos governos, que resultam em grande descontentamento dos cidadãos (principalmente os beneficiários) gerando muitos anticorpos e provocando instabilidade política resultante das medidas.

Problemática do financiamento do Estado-Providência

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Processo de reforma da Segurança Social em Portugal

Condicionamento pela intervenção

da troika

Défice Público Crónico

Excesso de emprego público?

Baixos níveis de qualificaçãoDuplicações de organismos

Clivagem social nos rendimentos

Redes priveligiadas no setor público?

Contexto Português

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Processo de reforma da Segurança Social em Portugal

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Beneficiários de prestações de desemprego 419.360

Titulares de abono de família 1.156.995

Beneficiários de Subsídio por doença 94.840

Beneficiários de Prestações de Parentalidade 33.404

Beneficiários de RSI (Rendimento Social de Inserção) 273.376

Beneficiários de CSI (Complemento Solidário para Idosos) 228.842

Pensionistas de Velhice 1.993.510

Entidades Empregadoras: Estabelecimentos com

situações de Layoff

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Processo de reforma da Segurança Social em Portugal

Os números apresentados são reveladores da crescente exaustão do Estado Social, cada vez com mais cidadãos a ter necessidade de apoios sociais, consequência do crescimento do desemprego, do envelhecimento da população e da conjuntura económica global.

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Existência de grandes

grupos de beneficiários que tem uma

influência eleitoral muito significativa e que tornam

qualquer política de desmantelamento de Estado-

Providência um potencial

suicídio político.

Resistência popular é

ampliada pela possibilidade

de alguns órgãos de soberania poderem

vetar muitas destas

mudanças (Silva, 2013: 63), como serve de

exemplo a última revisão

do tribunal constitucional,

em Abril de 2013.

No entanto, existe uma forte capacidade de resistência à mudança do Estado-Providência, não só em Portugal como na maioria dos países. Filipe Carreira da Silva identifica duas razões para esta resistência:

Processo de reforma da Segurança Social em Portugal

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O que se tem verificado é a difícil sustentabilidade dos sistemas com planos de repartição:

Isto significa que o aumento da taxa de dependência obriga ao ajuste de outras variáveis:

Processo de reforma da Segurança Social em Portugal

Valor da pensão

Impostos x nível salarialTaxa de dependência

Taxa de contribuiç

ão

Nível das pensões

Participação laboral Salários

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Algumas previsões apontam mesmo para a completa insustentabilidade da taxa de dependência nos próximos 40 anos.

Processo de reforma da Segurança Social em Portugal

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Em Portugal, as reformas antecipadas constituem mais uma dificuldade para a sustentabilidade do sistema:o Suspensão do direito à reforma antecipada até

2014

Processo de reforma da Segurança Social em Portugal

Podem Pedir Reforma Antecipada:o Trabalhadores abrangidos pelo sistema de segurança social

(exclui os funcionários públicos)o Os desempregados (involuntários) de longa duraçãoo Os contribuintes que apresentaram o pedido de pensão de

velhice antecipada até ao dia 5 de abril de 2012

Existem penalizações: o Reforma antecipada a partir dos 55 anos, com 30 de descontos até aos 55

anos: 0,5% no valor dapensão, por cada mês de antecipaçãoo Reforma antecipada para quem tem mais de 30 anos de descontos aos 55

anos de idade: 3 anos de descontos acima dos 30, tem direito a tirar 12 meses ao número de meses de antecipação

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A passagem para sistemas de capitalização poderia aliviar a pressão sobre o sistema de proteção social

Algumas soluções alternativas têm passado por: Manter os níveis de benefícios aumentando taxas

de contribuição e/ou impostos; Reduzir níveis de benefícios para assim manter

taxas de contribuição; Aumentar a idade da reforma.

Processo de reforma da Segurança Social em Portugal

Problema: custos de curto prazo para as gerações da transição, o que torna os planos de repartição não capitalizáveis.

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O que diz o FMI sobre esta matéria?o Proposta de 3 linhas de ação:

Processo de reforma da Segurança Social em Portugal

Continuar com ajustes periódicos nos pagamentos

das prestações

Reduzir os benefícios para os futuros pensionistas,

encurtando o período de transição da reforma

Redução “radical” nas pensões existentes, para combater desigualdades e melhorar

incentivos

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“O debate, assim, centra-se na necessidade e nos inconvenientes da actual tendência para o aumento do peso dos setores privados no fornecimento de serviços à população. (…) Neste sentido, o que está em debate é a reformulação do contrato social no contexto da acção institucional do Estado-Providência. Isto, na medida em que este é, na sua própria configuração, o resultado das diferentes e progressivas escolhas dos cidadãos sobre os modelos de orientação e de regulação social.” (Mozzicafreddo, 1992: 84)

Processo de reforma da Segurança Social em Portugal

http://www.youtube.com/watch?v=y0mTnvggFKs

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Bibliografia Adão e Silva, Pedro (2002), “O modelo de welfare da Europa do Sul”, Sociologia, Problemas e

Práticas, nº 38, pp. 25-59. Carreira da Silva, Filipe (2013), O Futuro do Estado Social. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos

Santos. Correia de Campos, António (2000), Solidariedade Sustentada: Reformar a Segurança Social.

Lisboa: Gradiva. Estanque, Elísio (2012), “O Estado Social em Causa: instituições sociais, políticas sociais e

movimentos sociolaborais”, Finisterra – Revista de Reflexão e Crítica, nº 73, pp. 39-80. Ferrera, M. (1996) “The ´Southern` Model of Welfare State in Social Europe”, Journal of European

Social Policy, 6(1), 17-37. Mozzicafreddo, Juan (1992), “O Estado-Providência em Portugal: estratégias contraditórias”.

Sociologia – Problemas e Práticas. Nº 12, 57-89. Titmuss, R. (1974) Social Policy, Allen and Unwin: London Adão e Silva, P. (2000) “O Estado-Providência português num contexto europeu”, Sociedade e

Trabalho, 8/9, 49-61. Caeiro, Joaquim (2010), Política Social e Estado Providência. Lisboa: Universidade Lusíada Editora. Clarke, John (2004), Changing Welfare Changing States: New Directions in Social Policy. London:

SAGE Publications. Dornelas, António (2006), “Dimensão Social da Globalização”. Sociologia – Problemas e Práticas,

nº 50, 157-164. Esping-Andersen, Gøsta (1990), The Three Worlds of Welfare Capitalism, Cambridge: Polity Press. Guillén, Ana et al (2001), Redesigning the Spanish and Portuguese Welfare States: The Impact of

Accession into the European Union. CES Working Paper, no. 85, 2001. Muffels, Ruud J.A.; Tsakloglou, Panos e Mayes, David G. (2002), Social Exclusion in European

Welfare States. Massachusetts: Edward Elgar Publishing.

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Obrigado pela atenção.

João [email protected]