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REFLEXÕES SOBRE OS FUNDAMENTOS HISTÓRICO-FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO Francielly Cristina W. T. Leite (PROIC/CNPq-UNICENTRO - VOLUNTÁRIA), Ademir Nunes (Orientador), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de Pedagogia/Guarapuava, PR. GRANDE ÁREA E SUBÁREA: Ciências Humanas e Educação. Palavras-chave: Fundamentos histórico-filosóficos, educação emancipadora, educação e capital. Resumo: A história da educação ocidental possui suas bases principalmente na Grécia Antiga. No século XVIII, diversos filósofos e pensadores contribuíram para a formação de uma nova concepção pedagógica. Não há como negar que a educação sempre esteve atrelada a aspectos: políticos, econômicos e sociais, portanto, a educação é um processo histórico e dialético. Muitos fundamentos histórico-filosóficos se transformaram ao longo da história, pois tais fundamentos não estão alheios às transformações que a história impõe na dinâmica da sociedade. Também é notório que nossa sociedade conseguiu consolidar leis que tentam proporcionar uma formação integral e uma formação para o exercício da cidadania, todavia tais atos legais não estão assegurados por completo frente às dinâmicas que não somente a educação, mas a sociedade como um todo, sofre diante da influência avassaladora do mercado. Por isso, se faz necessário aprofundar estudos que colaborem para a elucidação da relação que hoje a educação faz com o capital. Introdução A perspectiva atual de educação em geral, em sua estrutura institucional, apresenta- se fragilizada em seu projeto político pedagógico devido às transformações sociais que pairam hoje em nossa sociedade, ou seja, o capital perverso. O presente estudo traz uma reflexão em torno dos pressupostos teóricos que fundamentaram a educação para compreender conceitos e fundamentos histórico-filosóficos que são relevantes no processo do ato educacional. Levando-se em conta os problemas atuais e as crises existentes dentro de uma concepção tradicional, estimulando uma nova perspectiva e quebrando dogmas conceituais enraizados na prática educacional, isto é, uma educação voltada apenas para o mundo do capital. É necessário trazer para a discussão, conceitos humanísticos que foram reprimidos pelas estruturas do capital, predominantes em determinados contextos sociais, pois a educação não pode ser entendida sem que traga em seu bojo, aspectos de emancipação humana, leitura do mundo, participação, coletividade e Anais da XIX Semana de Iniciação Científica 25 e 26 de setembro de 2014, UNICENTRO, Guarapuava –PR, ISSN – ISSN: 2238-7358

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REFLEXÕES SOBRE OS FUNDAMENTOS HISTÓRICO-FILOSÓFICO S DAEDUCAÇÃO

Francielly Cristina W. T. Leite (PROIC/CNPq-UNICENTRO - VOLUNTÁRIA ),

Ademir Nunes (Orientador), e-mail: [email protected].

Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de Pedagogia/Guarapuava,PR.

GRANDE ÁREA E SUBÁREA : Ciências Humanas e Educação.

Palavras-chave: Fundamentos histórico-filosóficos, educação emancipadora,educação e capital.

Resumo: A história da educação ocidental possui suas bases principalmente na Grécia Antiga. Noséculo XVIII, diversos filósofos e pensadores contribuíram para a formação de uma novaconcepção pedagógica. Não há como negar que a educação sempre esteve atrelada aaspectos: políticos, econômicos e sociais, portanto, a educação é um processo histórico edialético. Muitos fundamentos histórico-filosóficos se transformaram ao longo da história,pois tais fundamentos não estão alheios às transformações que a história impõe nadinâmica da sociedade. Também é notório que nossa sociedade conseguiu consolidar leisque tentam proporcionar uma formação integral e uma formação para o exercício dacidadania, todavia tais atos legais não estão assegurados por completo frente às dinâmicasque não somente a educação, mas a sociedade como um todo, sofre diante da influênciaavassaladora do mercado. Por isso, se faz necessário aprofundar estudos que colaborempara a elucidação da relação que hoje a educação faz com o capital.

IntroduçãoA perspectiva atual de educação em geral, em sua estrutura institucional, apresenta-se fragilizada em seu projeto político pedagógico devido às transformações sociaisque pairam hoje em nossa sociedade, ou seja, o capital perverso. O presente estudotraz uma reflexão em torno dos pressupostos teóricos que fundamentaram aeducação para compreender conceitos e fundamentos histórico-filosóficos que sãorelevantes no processo do ato educacional. Levando-se em conta os problemasatuais e as crises existentes dentro de uma concepção tradicional, estimulando umanova perspectiva e quebrando dogmas conceituais enraizados na práticaeducacional, isto é, uma educação voltada apenas para o mundo do capital. Énecessário trazer para a discussão, conceitos humanísticos que foram reprimidospelas estruturas do capital, predominantes em determinados contextos sociais, poisa educação não pode ser entendida sem que traga em seu bojo, aspectos deemancipação humana, leitura do mundo, participação, coletividade e

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responsabilidade política e social, aspectos muito presentes junto aos pensadoresque colaboraram na cultura ocidental.

Materiais e métodos Como o objetivo do estudo foi realizar uma reflexão sobre as bases e ospressupostos que sustentaram historicamente a educação, trazendo à tona asinfluências que o capital trouxe as mesmas, fragilizando-as, foi necessário realizar aleitura de algumas obras que são tomadas como clássicos não somente para afilosofia, mas como clássicos das ciências humanas, portanto, da educação. Taisobras trazem aspectos importantes para a análise, pois colocam o homem comofigura fundante e responsável para com a sociedade e ao mesmo tempo nosdemonstram a influência que o homem possui frente às dinâmicas políticas quepodem ameaçar a dignidade humana e, por conseguinte os direitos historicamenteconquistados, em particular o direito a educação. Por isso a filosofia e a história,são de suma importância para conhecer e revelar como é possível tornar o homemfrágil perante o imperialismo do mercado. Platão, Aristóteles, Rousseau, Descartes,Locke, Saviani, Gentili, Mézsáros, Manacorda foram às bases para esta reflexão.

Resultados e Discussão A história da educação ocidental tem início principalmente na Grécia. São os

gregos que ao discutir, os fins da Paideia esboçam as primeiras linhas conscientesda ação pedagógica e assim influenciam por séculos a cultura ocidental. O projetogrego clássico de educação visava à preparação do cidadão para a vida adulta, umaformação completa, um processo de educação que se perpetuava por toda a vida eque não há perversão, tanto do indivíduo como do Estado, a ética vista como bemmaior deveria sobressair. Segundo Jaeger (1995) os gregos foram os primeiros aperceber que a educação deveria ser um processo de construção consciente. Já noséculo VI a.C Platão foi o primeiro a compreender a essência da filosofia comoformação de um novo tipo de homem, portando educacional também. Nos primeirostempos quando não existia a escrita, a educação era ministrada pela própria família,conforme a tradição religiosa. Com o aparecimento da aristocracia dos senhores deterras, de formação guerreira, os jovens da elite são confiados a preceptores.

Grandes pensadores destacaram-se no século XVIII, como John Locke queao criticar o racionalismo de Descartes desenvolve uma concepção da mente infantile da educação. Destaca o papel do mestre ao proporcionar experiências fecundas,que auxiliem a criança no uso da razão. Segundo Aranha (1996, p. 108). Assimcomo Locke, o filósofo Rousseau (1712- 1778) critica o absolutismo e elabora osfundamentos da doutrina liberal, ou seja, o pensamento pedagógico de Rousseaunão se separa de sua concepção política e social, portanto, pensar em educação épensar politicamente.

Já na contemporaneidade, no final da década de 1970, um grupo de filósofose pedagogos passou a conceber a educação por uma perspectiva material, ou seja,pelo dinamismo dos homens na história, iniciando uma teoria chamada pedagogiahistórico-crítica, tendo como um dos principais representantes Dermeval Saviani emsua obra clássica Escola e Democracia (2009, p.45) e comenta que quando mais sefalou em democracia no interior da escola, menos democrática ela foi, e que quandomenos se falou em democracia, mais ela esteve articulada com a construção deuma ordem democrática. Uma vez que a democracia cooperada na consolidaçãodos direitos do homem e na educação colabora na perpetuação do sujeito para

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apoderar-se do conhecimento produzido pelos homens ao longo da história, mesmoque por vezes, contraditório. Outro autor importante para compreensão da realidadeeducacional em confronto com o capital é Mészarós. Em sua obra A Educação paraalém do Capital, Mészaros (2008) reafirma algumas das principais bases da filosofiade Marx, para que os homens existam, devem necessariamente transformar anatureza, devem necessariamente defender que a educação não deve qualificarpara o mercado de trabalho, mas para o social, pois a educação não é umamercadoria. O papel da educação, propriamente definido como o desenvolvimentocontínuo da consciência socialista, é sem dúvida um componente crucial dessegrande processo transformador, pois ao transformar a natureza o homem transformaa si mesmo e a própria sociedade, isto propiciará a ele novas ideias e projetos, osquais podem modificar a realidade. Para Gentili na obra A falsificação do consenso –simulacro e imposição na reforma educacional do neoliberalismo traz uma crítica aosistema do neoliberalismo que afeta diretamente a educação, pois o modelo dehomem neoliberal é o cidadão privatizado, responsável, dinâmico: o consumidor. Oneoliberalismo privatiza tudo, inclusive o êxito e o fracasso. Segundo Gentili (1998,p.22) se fazem necessárias novas práticas políticas e de novos discursos porque arealidade continua sendo injusta e brutal. E por fim, como grande pedagogocontemporâneo, Manacorda em sua obra História da Educação – da Antiguidadeaos nossos dias, conduz aos leitores uma reflexão histórica e dialética, em que já naapresentação do livro, deseja mostrar os seres vivos e não figuras abstratas, ospequenos e grandes protagonistas que fizeram parte da aventura tão tipicamentehumana que é a educação consciente e organizada das novas gerações.

Conclusões Portanto, diante das obras analisadas podemos perceber que muitos

fundamentos foram transformados ao longo da história. Principalmente a partir doséculo XVIII, em que a educação ficou voltada para o mercado de trabalho, elasofreu as consequências do capital, radicalmente diferente da encontrada naPaideia, a formação integral do homem, ou seja, do ser político. Podemoscompreender também que a educação ficou mais elitizada, pois os níveis maiselevados da educação, no critério de ensino, não ficaram assegurados pelo Estadoàs classes mais pobres, é o caso do ensino superior por exemplo. Assim aocompreendermos a história e consequentemente seu dinamismo, poderemosentender como o capital foi adentrando e pervertendo as bases que sustentam aética descrita por Aristóteles, a Paidéia comentada por Platão, o ato pedagógicoreferenciado por Rousseau. Ao trazer os autores contemporâneos para estareflexão, tais como Mészaros, Gentili, Saviani entre outros, podemos analisar aeducação de forma mais crítica e lúcida, para podermos colaborar na desconstruçãodeste raciocínio do capital junto à educação.

Agradecimentos Agradeço a Deus por me proporcionar este momento de aprendizado. Aos meusfamiliares que sempre me apoiam e estão presentes em todos os momentos. Aomeu orientador que com paciência soube conduzir este projeto de pesquisa.

Referências

1. Aranha, Maria Lúcia de Arruda. (História da educação) 2 ed. rev. e atual. SãoPaulo: Moderna, 1996.

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2. Gentili, Pablo. (A falsificação do consenso: Simulacro e imposição na reformaeducacional do neoliberalismo) Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

3. Jaeger, Werner. Paideia: (A Formação do homem grego) Tradução Artur M.Parreira. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

4. Manacorda, A. Mario. (História da educação: da antiguidade aos nossos dias).Tradução Gaetano Lo Monaco. 13 ed. São Paulo: Cortez, 2010.

5. Mézsáros, István.(A Educação para além do capital). Tradução Isa Tavares. 2ed. São Paulo: Boitempo, 2008.

6. Rousseau, J. J. (Emílio ou da Educação). 3 ed. São Paulo: Difel, 1973.7. Saviani, Dermeval. (Escola e Democracia). 41 ed. revista. Campinas, SP:

Autores Associados, 2009.8. Severino, J. Antonio. (Metodologia do trabalho científico). 23 ed. ver. E atual.

São Paulo: Cortez, 2007. 9. Silva, L. Nathália. (A Paideia Grega como contribuição para a realização da

justiça através de uma educação para a cidadania e os direitos humanos). InAnais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI, Fortaleza - CE, 2010.

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