reequilíbrio econômico-financeiro - artigo

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40 REEQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO E REALINHAMENTO DE PREÇOS DE CONTRATOS Márcio Soares da Rocha Reequilíbrio econômico-financeiro e realinhamento de preços de contratos O Reequilíbrio econômico-financeiro de um contrato é o restabelecimento das condições econômicas e financeiras pactuadas inicialmente, e que por motivo imprevisto, durante a execução do contrato, foram alteradas. O princípio inerente é que não pode haver durante a execução do contrato, situação imprevista que conduza a prejuízo para uma das partes. O desequilíbrio econômico-financeiro de um contrato é estabelecido sempre que um fator econômico ou financeiro inicialmente previsto for alterado durante a sua execução. No campo da Engenharia, podem ser enunciadas como principais causas de desequilíbrio econômico-financeiro: Os aumentos de alíquotas de tributos (COFINS, CPMF etc.) por parte do governo, durante a execução da obra; O atraso injustificado de pagamentos de medições, que provoca aumento do prazo executivo da obra, causado pelo contratante e o conseqüente aumento de custos para o contratado; Variações pontuais e anormais da inflação (acima das médias mensais observadas nos doze meses antecedentes ao prazo da obra); Mudança da conjuntura macro-econômica em geral; Greves; Guerras, calamidades e outras situações emergenciais. É importante ressaltar que não constitui desequilíbrio de um contrato, a perda causada pela inflação em níveis normais, dentro do prazo da obra. A inflação só será considerada um fator de desequilíbrio de um contrato, se ocorrer em níveis acima dos verificados no período (doze meses) que antecede o prazo da obra e caso este também não ultrapasse doze meses. Esta orientação baseia-se em diversas jurisprudências de tribunais de contas brasileiros, relativas ao tema.

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40REEQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO E REALINHAMENTO DE PREÇOS

DE CONTRATOSMárcio Soares da Rocha

Reequilíbrio econômico-financeiro e realinhamento de preços de contratos

O Reequilíbrio econômico-financeiro de um contrato é o restabelecimento das condições econômicas e financeiras pactuadas inicialmente, e que por motivo imprevisto, durante a execução do contrato, foram alteradas. O princípio inerente é que não pode haver durante a execução do contrato, situação imprevista que conduza a prejuízo para uma das partes.

O desequilíbrio econômico-financeiro de um contrato é estabelecido sempre que um fator econômico ou financeiro inicialmente previsto for alterado durante a sua execução. No campo da Engenharia, podem ser enunciadas como principais causas de desequilíbrio econômico-financeiro:

Os aumentos de alíquotas de tributos (COFINS, CPMF etc.) por parte do governo, durante a execução da obra;

O atraso injustificado de pagamentos de medições, que provoca aumento do prazo executivo da obra, causado pelo contratante e o conseqüente aumento de custos para o contratado;

Variações pontuais e anormais da inflação (acima das médias mensais observadas nos doze meses antecedentes ao prazo da obra);

Mudança da conjuntura macro-econômica em geral; Greves; Guerras, calamidades e outras situações emergenciais.

É importante ressaltar que não constitui desequilíbrio de um contrato, a perda causada pela inflação em níveis normais, dentro do prazo da obra. A inflação só será considerada um fator de desequilíbrio de um contrato, se ocorrer em níveis acima dos verificados no período (doze meses) que antecede o prazo da obra e caso este também não ultrapasse doze meses. Esta orientação baseia-se em diversas jurisprudências de tribunais de contas brasileiros, relativas ao tema.

Os cálculos para solicitação de reequilíbrio econômico-financeiro de um contrato dependerão das causas alegadas como geradoras do desequilíbrio. Cada fator exercerá um impacto nas condições contratuais e seu impacto deverá ser analisado isoladamente.

Apresenta-se, a seguir uma metodologia para verificação de desempenho econômico-financeiro de contratos de engenharia, que contempla os casos de ocorrência de atraso de pagamentos por parte do contratante e de variações inflacionárias não previstas em projeto, durante a execução de uma obra de engenharia.

1º. Projetar o valor contratado, para a data final de pagamento da obra, pela Equação 18.2 adaptada, por este autor, da Equação do Valor Futuro, da Matemática Financeira. O valor futuro corresponde àquele que seria devido,

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considerando-se a diferença entre o prazo executivo projetado e o prazo real de pagamento.

Vf = Vp1 + [Vp2 x (1 + i/100)(n-n0)] (1)Onde:

Vf = valor futuro (valor equilibrado) da obraVp1 = valor total pago dentro do prazo (previsto) da obraVp2 = valor total pago fora do prazo (Vp – Vp1)i = taxa de inflação setorial média a.m., durante o período de pagamento da

obran = período (em meses) decorrido entre o primeiro e o último pagamento da

obran0 = período (em meses) projetado como sendo o prazo da obra (prazo

contratual)

2º.) Comparar o valor pago (Vp) da obra com o Valor final projetado (Vf) e verificar:

Se Vp < Vf , o desempenho do contrato foi desfavorável ao contratado; Se Vp = Vf, o desempenho do contrato foi satisfatório para ambas as

partes; Se Vp > Vf, o contrato foi exageradamente favorável ao contratado e a

diferença pode ser apontada pelos auditores como pagamento indevido a ser ressarcido.

Aplicação (1):

Analisar o desempenho econômico-financeiro de um contrato de obra, sabendo-se que:

Preço global pago para a obra (Vg): R$ 106.000,00; Valor pago dentro do prazo executivo (Vp1): R$ 50.000,00 Prazo de execução da obra: 4 meses Prazo de pagamento: 10 meses; Inflação setorial média, medida pelo INCC durante o período de

pagamento: 1,10% a.m.

Solução:

1º. Diferença de prazos = 10 – 4 = 6 meses;

2º. Vp2 = Vp– Vp1 = 106.000 – 50.000 = R$ 56.000,00

3º. Vf = Vp1 + [Vp2 x ( 1 + 1,10/100)6]

Vf = 50.000 + (56.000 x 1,0673) = R$ 109.768,80

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Conclusão: Vp < Vf , então, o desempenho econômico-financeiro do contrato foi desfavorável ao contratado, no valor de R$ 3.768,80.

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Aplicação (2):

Certo construtor solicitou ao contratante, no início de março de 2003, o realinhamento de 5% nos preços do orçamento de uma obra sob sua responsabilidade, que se iniciou no mês de junho de 2002, com prazo previsto inicialmente para 6 meses e que retomava naquele mês os trabalhos. A obra ficou paralisada devido a problemas causados pela falta de pagamento de parcelas (faturas) por parte do contratante. O construtor já havia recebido quatro parcelas até o mês de setembro de 2002, totalizando R$ 300.000,00 recebido. Analisar o pedido do construtor.

Dados adicionais:

Preço global da obra: R$ 500.000,00 Variação média do INCC durante o período: 0,90% a.m.

Solução:

1º. Prazos de pagamento:

previsto: junho a novembro / 2002 = 06 meses real: junho / 2002 a fevereiro / 2003 = 09 meses Diferenças de prazos: 3 meses

2º. Valor atualizado do saldo

Vf1 = = 200.000 x (1 + 0,90/100)3

Vf1= 200.000 x 1,0272 = R$ 205.448,46

3º. Valor final para reequilíbrio do contrato

Vf = Vf1 + Vp1

Vf = 205.448,46 + 300.000 =R$ 505.448,46

4º. Análise do percentual de realinhamento adequado para o orçamento

Observação: o índice de realinhamento é adequado somente aos itens ainda não executados (saldo). O cálculo é:

%Rl = [(205.448,46 / 200.000)-1] x 100

%R l = 2,72% (Resposta: neste caso, caberia um realinhamento de 2,72% no orçamento, e não de 5%, como solicitou o construtor).

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Conclusão:

A análise econômico-financeira de uma obra ou serviço de engenharia não consiste unicamente na verificação da compatibilidade de seus orçamentos com os respectivos mercados. Por princípio constitucional, nenhum dos pactuantes de um contrato (contratante ou contratado) seja pessoa física, jurídica de direito privado ou da administração pública pode ser prejudicado por alterações das condições inicialmente avençadas em um contrato. Portanto, deve ser verificado o equilíbrio econômico financeiro de um contrato, para se poder emitir um parecer adequado e integral sobre a economicidade de uma obra.

O presente artigo apresenta um método e uma equação desenvolvidos pelo autor, a partir dos fundamentos da matemática financeira e da doutrina e jurisprudência relativos ao tema, para que sejam aplicados ao estudo dos casos de desequilíbrios causados por atrasos de pagamentos de parcelas por parte dos contratantes, de modo que auditores, analistas, contratantes e contratados possam decidir sobre a solicitação ou concessão de realinhamentos de preços com maior clareza e justiça.