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REDES SOCIAS: O TWITTER NA SALA DE AULA

SCARABOTTO, Suelen do Carmo dos Anjos – PUC PR

[email protected]

TOSATTO, Carla – PUCPR [email protected]

RUARO, Laurete Maria – UNICENTRO

[email protected]

TORRES, Patrícia Lupion– PUCPR [email protected]

Eixo Temático: Comunicação e Tecnologia

Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo O presente trabalho tem como objetivo discutir a experiência pedagógica a partir da utilização didática das redes sociais desenvolvida no primeiro semestre de 2011 na disciplina de Teoria e Prática na Educação a Distância do programa de pós-graduação strictu sensu da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Considerando que a internet é um veículo de comunicação que dissemina grande parte das informações no cenário atual, faz-se importante discutir as possibilidades de utilização educacional de alguns sites que são bastante populares, dentre elas, as redes sociais como o Twitter, Facebook, Orkut, MySpace e Youtube. Sob a luz de contribuições de autores como Moran (2007); Recuero (2005); Torres (2007), buscou-se teorizar a ação desenvolvida nessas redes sociais vislumbrando analisar o seu possível potencial para envolver estudantes e docentes em um processo mais dinâmico, interativo e significativo de aprendizagem em que há possibilidade tanto de democratização e produção de conhecimento como de desmitificação da banalização desses espaços virtuais. Entendeu-se que, a princípio, é necessário conhecer todos os suportes textuais e comunicacionais que permeiam o universo de nossos alunos para, então, aproximar-se e usufruir dos canais de que eles dispõem favorecendo maior dialogicidade e subsidiando instrumentos para que esses veículos de comunicação dos quais eles se alimentam e disseminam mensagens não se tornem lineares e mesmo distanciados de interpretação crítica. As possibilidades didáticas para as redes sociais podem ser intencionalmente organizadas de modo a privilegiar a criatividade, a colaboração e a superação do senso comum sem perder de vista, entretanto, suas limitações uma vez que sua natureza privilegia o entretenimento e que nem todos os espaços virtuais contribuem para organização efetiva de processo educativo sistematizado. Palavras-chave: Redes sociais. Ensino e aprendizagem. Didática.

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Introdução

Junto a reorganização social frente ao advento das tecnologias, percebe-se que as

estratégias utilizadas para comunicação vem sendo transformadas significativamente. Com

maior acesso à rede mundial de computadores, observa-se que, não obstante a inclusão digital

como parte da inclusão social ainda seja utópica em um país continental e com distribuição de

renda desigual como o Brasil, cada vez mais jovens, crianças e adultos de diversas condições

sociais, culturais e econômicas acessam informações, assim como disseminam sua cultura em

espaços virtuais na internet.

Nesse contexto, no Brasil, há crescente procura pela utilização de sites de

relacionamento como ferramenta principal de comunicação. Conforme matéria publicada pela

Folha Online em 2008,

[...] o brasileiro fica, em média, cinco horas por mês em sites relacionados a comunidades. Nos outros países, esse valor não passa das duas horas, com exceção dos internautas do Reino Unido, que gastam duas horas e meia nesses portais. A empresa inclui na categoria "comunidades" as páginas de redes Orkut e MySpace, blogs, microblogs, bate-papos, fóruns, grupos de discussão, mundos virtuais e outros sites semelhantes que reúnem grupos de interesse e de relacionamento. (FOLHA, 2008)

O interesse do brasileiro pela leitura e produção de conteúdos na internet pode ser uma

grande possibilidade de constituir formas mais significativas de organização da didática

escolar. As redes sociais podem ser consideradas como elemento lúdico para potencializar o

prazer pela produção dos conteúdos referentes ao currículo assim como aproximar a escola da

realidade concreta dos alunos.

Conforme Moran (2007, p. 100) “se os alunos fizerem pontes entre o que aprendem

intelectualmente e as situações reais, experimentais, profissionais ligadas a seus estudos, a

aprendizagem será mais significativa, viva, enriquecedora”, os espaços virtuais já habitados

pelos alunos pode ser caracterizada como veículo para essa aproximação.

Considerando essa condição, discutiu-se na disciplina de Teoria e Prática na Educação

a Distância do programa de pós-graduação strictu sensu da Pontifícia Universidade Católica

do Paraná, ministrada pela professora Patricia Lupion Torres, a presença das redes sociais no

contexto contemporâneo a fim de estudar estratégias didático-pedagógicas para exploração

educacional desse recurso.

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Para além das discussões teóricas a partir de fundamentação de autores estudiosos da

temática, as aulas permitiram organização de laboratórios de aprendizagem que tiveram como

suporte as redes sociais Twitter, Facebook, Orkut, MySpace e Youtube. Cada grupo de alunos

produziu situações de aprendizagem, as propôs e as dinamizou nesses espaços virtuais

coordenando o processo de construção coletiva do conhecimento a partir dos recursos e

limitações de cada rede.

Essa situação provocou na turma de alunos uma nova condição de pensar o

planejamento educacional impulsionando a deslocar a centralidade do processo da sala de

aula para o mundo virtual. Nem sempre é fácil transpor os limites tradicionais da educação e

redimensionar formas de comunicação já cristalizadas, principalmente quando há necessidade

de maior pesquisa e cuidado na organização e mediação das ações de ensino.

O presente texto discutirá essa experiência sob o enfoque da utilização pedagógica do

Twitter, rede social na qual esse grupo aprofundou a pesquisa e organização de atividades

pedagógicas. Serão apresentadas as características positivas e limitadoras da rede, assim como

as possíveis estratégias para, a partir dessa interface, desenvolver movimento de comunicação

menos linear com os estudantes e incentivá-los a refletir sobre esse suporte e os conteúdos

veiculados nele.

Redes sociais e educação

O uso das redes sociais faz parte da vida dos alunos e de muitos professores, pois,

trata-se de uma linguagem que vem sendo amplamente inserida nos novos modos de

produção, comunicação e interação social e cultural. Não há, por conseguinte, como ignorar

as transformações advindas com o uso das redes sociais, que imprimem na vida de todos nós,

novas possibilidades de diálogo e interação com os outros e com o mundo.

Interação, diálogo, comunicação são palavras que vem sendo amplamente utilizadas

para pensar a educação em uma perspectiva inovadora, comprometida com a produção do

conhecimento, com a compreensão, a criação, a transformação e, com um novo olhar para os

alunos, mais ativos, participativos, coautores e produtores de conhecimento e cultura.

Conforme Rangel (2007), as redes sociais numa perspectiva ecossistêmica são o

suporte para a convivência humana uma vez que, a partir delas, há comunicação e

estabelecimento de vínculos dos mais variados gêneros e níveis. A autora menciona que

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As redes sociais estão estabelecidas também enquanto interações entre seus membros. Estas interações se caracterizam, além dos vínculos, da comunicação e das relações, pela organização ao redor do fazer, de estruturar o tempo e o modo como este se utiliza. Assim, as relações sociais permitem dar sentido às vidas das pessoas que nelas participam, favorecendo a construção de suas identidades, propiciando a sensação de que estão ali para alguém, que tem os recursos necessários para dar conta de diversas tarefas e dar suporte social. Desta forma, promovem o sentido a suas ações e práticas de cuidado social e autocuidado. (RANGEL, 2007, 27)

Nesse sentido de pertencimento, construção de identidade e busca de um lugar em que

se tenha espaço para falar e ser ouvido, Rangel (2007) menciona que podem ser definidas

como funções das redes: companhia social, apoio emocional, guia cognitivo, regulação social,

ajuda material e de serviços, acesso a novos contatos.

Esses mesmos conceitos podem ser utilizados quando pensamos em redes sociais

virtuais; devido a facilidade de acesso à rede mundial de computadores, observa-se que alguns

modelos de organização social migram para o ciberespaço e são fortalecidas pela aceitação

que essa opção tem na contemporaneidade. Conforme Rheingold (citado por RECUERO,

2005, p.13) “as comunidades virtuais são agregados sociais que surgem da Rede [Internet],

quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discussões públicas durante um

tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações

pessoais no espaço cibernético”.

Inserir as redes sociais em propostas pedagógicas a serem desenvolvidas na escola é

importante devido às novas formas de organização cultural assim como por ampliar as

possibilidades de desenvolvimento dos alunos, ou seja, eles terão a oportunidade de transitar,

conhecer e produzir diferentes gêneros textuais, com diferentes intenções sociocomunicativas,

desenvolvendo sua competência leitora e escritora. Sabemos que o trabalho com a linguagem

oral e escrita na escola deve estar pautado no trabalho com os diferentes gêneros textuais

inseridos em práticas sociais de uso da leitura e da escrita. Isso está vinculado com a ideia de

que usar a linguagem é uma forma de agir socialmente, de interagir com os outros e de que

essas ações somente acontecem em textos, ou seja, falamos ou escrevemos sempre em textos

que circulam em diferentes suportes, entre eles a web.

Portanto, a língua deve entrar na escola da mesma forma que existe fora dela, ou seja,

por meio das práticas sociais, reais e significativas de leitura e escrita. A intenção é formar

alunos que saibam produzir e interpretar textos de uso social - orais e escritos - e que tenham

trânsito livre nas várias situações comunicativas que permitem plena participação no mundo

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letrado. Faz parte desse mundo letrado e conectado, as redes sociais e seus múltiplos espaços

de interação e comunicação.

De forma geral, pode-se dizer que o uso das redes sociais favorece o trabalho em

grupo, o uso e a produção de diferentes formas de comunicação e a troca de ideias e de

informações. Uma das ferramentas de comunicação existentes em quase todas as redes sociais

são os fóruns de discussão, nos quais os membros podem abrir um novo tópico e interagir

com outros membros compartilhando ideias e saberes sobre um determinado assunto.

Por meio do uso das redes sociais no interior da escola, é possível: criar uma

comunidade de aprendizagem para a escola, para a turma ou para uma disciplina específica;

compartilhar informações e ideias com outros profissionais e especialistas nos temas que

estão sendo estudados em sala, ampliando as possibilidades de interação, pesquisa e produção

e novos conhecimentos; criar canais de comunicação entre os alunos de diferentes turmas,

entre escolas diferentes, entre comunidades que compartilham de interesses em comum.

Ratifica-se que essas possibilidades didáticas só terão sentido se inseridas em um

projeto educacional inovador, ético, ou seja, não adianta inserir as redes no ensino e continuar

com práticas arraigadas em uma organização tradicional na qual o conteúdo esteja sendo

trabalho de forma mecânica e sem significado.

O Twitter na sala de aula

O Twitter é um espaço colaborativo no qual se podem postar mensagens de no

máximo 140 caracteres. Neste espaço de colaboração as pessoas compartilham o que estão

fazendo, pensando ou sentindo, o que estão lendo, por onde navegam e o que mais for

possível dizer de forma breve e sucinta. No Twitter é possível seguir várias pessoas e ser

seguido por elas. Desta forma, uma grande rede é construída.

Segundo Zago (2008) o microblogging, assim como o blog, tem como características o

formato de publicação em ordem cronológica inversa e publicações com microconteúdo, que

no caso do microblogging possui limitações de tamanho, diferenciando-o do blog. O Twitter

permite ao usuário postar mensagens, links, compartilhar imagens. Foi criado em 2006 e a sua

popularidade tem aumentado, hoje é a ferramenta, nessa proposta, mais popular em escala

global (ZAGO, 2008).

Entre as funções disponíveis, há o twittar: permite postar mensagens, links e imagens;

Retwittar: permite disseminar uma mensagem postada por alguém; Seguir amigos e ser

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seguido: todas as publicações serão divulgadas na página inicial do seguidor; Criar listas

selecionando as pessoas irão interagir. No seu profile (página visível aos demais), aparecerá

os seus tweets e retweets em ordem cronológica inversa, ficando visível a todos, caso queira

postar mensagens particulares deve ser selecionada a opção e ao citar alguém em seu texto,

basta colocar @ antes do nome do usuário e o post aparecerá na página inicial da pessoa

citada.

Trata-se de um veículo de comunicação ágil, já que são mensagens muito curtas, e de

muito alcance, pois o número de seguidores que se pode ter é ilimitado. Embora seja uma

ferramenta que apareceu há pouco tempo na rede, conta com uma popularidade crescente.

A intenção inicial de seus idealizadores em 2006, Jack Dorsey, Evan Willians e Biz

Stone, era operacionalizar um sistema que permitisse maior agilidade na comunicação a partir

de um sistema de troca de SMS. Devido a essa natureza, a intenção de comunicação compacta

permaneceu e limita o número de caracteres possíveis de ser encaminhados em cada

mensagem.

Conforme matéria publicada no site EducaRede, as dez melhores maneiras de utilizar

essa ferramenta são:

Quadro de avisos: comunicar aos estudantes mudanças no conteúdo dos cursos, horários, lugares ou outras informações importantes. Resumo: pedir aos alunos que leiam um texto e que façam um resumo dos principais pontos, com um limite de 140 caracteres. Compartilhar sites: periodicamente, cada aluno tem o compromisso de compartilhar um novo site interessante que tenha conhecido na Web. Twitter à espreita: seguir uma pessoa famosa e documentar sua trajetória. Twit* em outros tempos: eleger um personagem importante da história da civilização ou de seu país e criar para ele uma conta no Twitter. Num determinado prazo de tempo, escrever no Twitter como se fosse esse personagem, com estilo e vocabulário da época, imaginando o que ele diria. Microencontros: manter conversas nas quais participem todos os estudantes que assinam o Twitter. Microtextos: escrita progressiva e colaborativa para criar micro-histórias. Língua do Twitter : enviar twits* em línguas estrangeiras e pedir que os alunos respondam na mesma língua ou que traduzam o twit* em seu idioma nativo. Corrente de texto: começar um meme* para que todo o conteúdo criado possa ser capturado automaticamente por um agregador*. Intercâmbio cultural: estimular os alunos para que encontrem um tuiteiro* de outra cidade, estado ou país e converem regularmente com ele durante um período de tempo para conhecer sua cultura, seus interesses, amigos, familiares. Ideal para aprender sobre outras culturas. (EDUCAREDE, 2009)

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Observa-se, dentre as sugestões de atividades, que há um grande estímulo à análise e

produção de conteúdos a partir da perspectiva dinâmica que a ferramenta oferece, assim

como, incentivo à geração de sínteses sobre os assuntos discutidos. É um recurso que se

aproxima bastante do perfil comunicativo dos jovens contemporâneos e pode aproximar

bastante o espaço formal de educação com as necessidades reais de aprendizagem da demanda

atual.

Torna-se indiscutível, entretanto, que o professor empreenda uma nova organização de

seu planejamento. Conforme Moran (2007, p.103) “os professores podem ajudar os alunos,

incentivando-os a aprender a perguntar, a enfocar questões importantes, a definir critérios na

escolha de sites, na avaliação de páginas, a comparar textos com visões diferentes”.

Nesse ponto, para além da motivação sugerida pelas redes sociais, chegamos ao

necessário entendimento de que a educação para a comunicação é o elemento base do

processo de ensino e aprendizagem a partir de conteúdos disponibilizados na internet.

Conforme Ruaro (2007, p.51)

Educar para a mídia estende a abrangência do uso das TIC como recurso didático para demonstração e/ou ilustração de conteúdos. Na verdade este conceito implica em preparar o receptor para leitura crítica tanto da intencionalidade do meio que se escolheu como da informação que se veiculou. Educação para a mídia sugere que o tratamento das informações aconteça de forma detalhada, planejada, dirigida de modo a facilitar a transposição do elementar, transformando informação em conhecimento.

Os textos interpretados e produzidos na web precisam se constituir numa perspectiva

que supere a proposição de pretextos para dinamizar os conteúdos. Eles mesmos tornam-se

conteúdos para análise crítica considerando os fatores de textualidade nos quais foram

construídos. Esse é um cuidado que não pode ser dispensado quando da utilização das

tecnologias da informação e comunicação no contexto didático.

Considerações sobre a experiência pedagógica nas redes sociais

Estudar o impacto das redes sociais no cotidiano das pessoas possibilitou a

compreensão de que existe um processo significativo de migração para o virtual de muitos

processos comunicativos na organização social contemporânea. Essas redes, junto a outros

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diversos espaços online oferecem uma variedade enorme de informações que são

disseminadas em grande escala e muita velocidade.

Conforme Moran (2007, p. 101) “uma das dimensões fundamentais do ato de educar é

ajudar a encontrar uma lógica dentro do caos de informações que temos” (grifos do autor); a

informação se faz em grande parte na internet pode tornar-se material pedagógico quando

existe perspicácia e planejamento intencional do professor.

Nesse sentido, gera-se a possibilidade de empregar um suporte que já está inserido na

prática cotidiana dos alunos para fomentar discussões, pesquisa, análises e produções que se

aproximem de suas realidades e as desmitifiquem. Pois, a intenção pedagógica para utilização

das redes é aproveitar o potencial lúdico da ferramenta que em sua origem é essencialmente

voltada ao entretenimento, dando um significado crítico às formas de recepção da informação

mesmo que por meio de canais que não possuem tendência especificamente pedagógica.

Esse talvez, tenha se constituído o maior desafio com a utilização das redes nessa

experiência: a desmitificação do conceito de que não é possível construir alternativas

educacionais nesses espaços sem banalizar ou massificar a ação. Realmente, conforme a

abordagem, há o risco de que as discussões educativas não sejam tão atrativas a ponto de

provocar a mesma curiosidade que os alunos teriam por situações puramente voltadas ao

entretenimento.

Ainda, conforme a organização cultural em que é privilegiada a informação rápida e

condensada, recorre-se à internet como forma de minimizar a necessidade de aprofundamento

teórico; pois, naquele espaço sabe-se que serão redefinidas e sintetizadas informações que se

necessita para responder a um esforço de pesquisa que se quer compactar ou mesmo desviar.

A esse respeito Moran (2007, p. 103) menciona que “quanto mais fácil for o que queremos,

mais tendemos a nos acomodar na preguiça dos primeiros resultados, na leitura superficial de

alguns tópicos, na dispersão das muitas janelas que abrimos simultaneamente”.

Tal questão foi bastante discutida durante a disciplina e suscitou algumas ponderações:

a) as atividades programadas com a utilização das redes sociais precisam apresentar um teor

significativo de criatividade; b) a utilização do Twitter torna-se mais vantajosa quando

acontece de forma síncrona devido às características do site; c) alunos e professores precisam

conhecer a interface da rede para se beneficiarem de forma ampla de todos os recursos

disponíveis; c) responsabilidade profissional e ética são elementos indispensáveis à ação

pedagógica nas redes sociais.

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Criatividade

Para que se superem as expectativas meramente lúdicas e de lazer da utilização da

ferramenta, o professor precisa lançar mão de bastante criatividade ao propor situações

educacionais no Twitter. Observou-se que quando a atividade não se tornava complexa ou

desafiadora, a participação dos colegas na proposta era bastante vaga e pouco produtiva,

sinalizando falta de aprofundamento e pesquisa sobre a temática.

A fim de evitar que a participação dos alunos nas atividades propostas nas redes torne-

se superficial e que o esforço pedagógico seja banalizado, deve-se organizar situações de

discussão mais complexas e dinâmicas que exijam um esforço intelectual maior na elaboração

de sínteses coerentes e consistentes. Nesse sentido, desenvolver atividades interessantes para

exercitar a produção de sínteses (lembrando do espaço reduzido de postagem: 140 caracteres)

pode se caracterizar um grande exercício de criatividade.

Atividades síncronas

A utilização do Twitter, devido às suas especificidades, deve priorizar atividades

síncronas que possibilitam interação e organização das produções. Devido á velocidade e

quantidade de informações que os alunos geralmente recebem, torna-se inviável solicitar

contribuições fora do espaço tempo real, uma vez que as postagens se perderiam, tornando-se

descontextualizadas. A possibilidade de utilização assíncrona desse espaço estaria na análise

de postagens que o professor pode recortar e levar à sala de aula para discussão.

Entretanto, em ambos os casos, há necessidade de um trabalho de pesquisa anterior em

que o professor delimita os conteúdos que serão trabalhados e sugere bibliografias de

aprofundamento. Não há sentido, nem muita eficiência, organizar uma discussão sem que haja

subsídios teóricos que fundamentem essa prática.

Familiaridade com a ferramenta

Constatou-se um dos empecilhos fundamentais para fruição pedagógica nas redes

sociais é a falta de conhecimento para gerenciamento de todas as possibilidades que são

oferecidas pelo ambiente; muitas vezes são utilizados apenas os recursos menos complicados

e mais visíveis como os chats e links mais recorrentes.

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O professor, quando se dispõe a trabalhar com recursos digitais, precisa empreender

esforços para se apropriar das características e opções que lhe são oferecidas por esse recurso;

tal condição reafirma a necessária formação continuada inerente ao trabalho docente.

Responsabilidade profissional e ética

O cuidado ao se propor trabalho didático por meio das redes sociais precisa se fazer

redobrado, lembrando que nem sempre a web é um ambiente seguro e que existem muitas

formas de desvirtuamento das informações disseminadas. O controle das atividades deve se

fazer presente a fim de que seja garantida situação de discussão e produção democrática de

conhecimento sem prejuízos à integridade moral e intelectual do educando respeitando seus

limites e propondo condições de superação, pois, o objetivo maior seria a reafirmação de que

a mediação pedagógica intencional e organizada a partir de situações contextualizadas traz

benefício à aprendizagem. Conforme Torres (2007, p.155)

O acesso à informação está cada vez mais rápido. Pela via da internet, pode-se

consultar qualquer assunto, com superficialidade ou detalhamento. Entretanto, principalmente

para nus educadores, o desafio È transformar essa informação em conhecimento. O desafio é

encontrar meios que auxiliem nesse processo de migrá-lo de um ensino memorístico para um

ensino significativo. O desafio é educar para formar cidadãos com espírito crítico,

promovendo a iniciativa, a responsabilidade e a auto-confiança.

A responsabilidade de empreender ação pedagógica a partir das redes sociais ainda se

constitui em um grande desafio com muitas limitações, entretanto, muito promissor uma vez

que permite ao professor mergulhar no universo comunicacional dos alunos e promover

melhores condições de interação, recepção e produção nesse contexto.

Considerações Finais

Frente à reorganização das formas de se comunicar na contemporaneidade, a intenção

dessa experiência pedagógica foi a de analisarem que medida as redes sociais podem instigar

mudanças, também, na forma de ensinar e aprender dos professores e dos alunos. O que era

futuro já virou realidade e o que está sendo construído no presente envolve um futuro de

novas e inovadoras possibilidades de construção de práticas pedagógicas que tenham com

foco a interação, a colaboração e a produção compartilhada de conhecimentos.

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Vale ressaltar que, apesar das redes fazerem parte do cotidiano, nem todos estão

familiarizados com elas. Portanto, se a escola acredita na importância do uso das novas

tecnologias e pretende utilizá-las num contexto didático, é fundamental investir na formação

do professor, ampliando sua alfabetização digital, sua compreensão e atuação no universo da

web. Outra questão primordial, diz respeito aos próprios alunos. É necessário incluí-los

digitalmente, garantindo a todos o acesso as possibilidades de uso da internet, instigando o

conhecimento acerca dessa ferramenta e sua utilização a partir de critérios éticos e

responsáveis.

Segundo Moran (2001) as mudanças na sociedade, o que inclui o advento e

disseminação de novas tecnologias, atingem também a educação, o que nos obriga a repensar

os modelos pedagógicos centrados no professor e partir em busca da reorganização do

processo de ensinar, e nesse caso, ferramentas como as redes sociais podem ser aliadas do

professor no processo.

A partir daí percebe-se a importância dos educadores se aproximarem das redes sociais

e demais tecnologias, as quais hoje têm forte impacto na vida de muitos alunos em diferentes

níveis de ensino, e buscarem as possibilidades que essas novas ferramentas possam

proporcionar na aproximação e estreitamento do vínculo professor-aluno e significação do

processo de aprendizagem.

O Twitter, especificamente, pode ser utilizado de modo a instigar os alunos a praticar a

síntese na escrita, devido ao limite de caracteres na publicação. Além disso, pode servir como

meio de comunicação e interação entre a comunidade escolar através da divulgação de

eventos, links interessantes, entre outros. Outra opção é a aplicação em atividades síncronas,

proporcionando a construção de diálogos significativos.

Pode-se considerar que as redes sociais possuem, sim, potencial pedagógico quando

utilizadas na educação presencial ou a distância desde que portadoras de atividades que

dinamizem o espaço de produção de conhecimento apresentando situações que estimulem a

pesquisa, o estabelecimento de vínculos afetivos e o sentimento de corresponsabilidade pelo

sucesso das empreitadas educacionais. Para tanto, é necessário movimento de superação de

práticas tradicionais e empenho em pesquisas sobre essa possibilidade pedagógica e ainda

investir muito esforço de pesquisa a fim de que as discussões sobre a temática produzam

sentidos sempre mais significativos, conscientes e transformadores para essa prática.

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REFERÊNCIAS

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MORAN, José Manuel. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. São Paulo: Papirus, 2007.

_______. Novos desafios na Educação – a Internet na educação presencial e virtual. In: Saberes e Linguagens de educação e comunicação, org. Tânia Maria E. Porto, editora UFPel, Pelotas, 2001, pág. 19-44.

RANGEL.M, María Piedad. Redes sociais: pessoais: conceitos, práticas e metodologia. Tese de doutorado. PUCRS: Porto Alegre, 2007.

RECUERO, Raquel. Comunidades Virtuais em Redes Sociais na Internet: Uma proposta de estudo. Ecompos, Internet,v. 4, n. Dez 2005, 2005.

RUARO, Laurete Maria. Educação para e com a mídia. Análise da utilização das TICs na rede pública de educação: programa Paraná digital. Dissertação de mestrado. PUCPR: Curitiba, 2007.

TORRES, PatrÌcia Lupion (org.). Algumas vias para entretecer o pensar e o agir. Curitiba: Senar, 2007. P.155-167

ZAGO, Gabriela da Silva. O Twitter como suporte para produção e difusão de conteúdos jornalísticos. Trabalho apresentado no 6º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, realizado em São Bernardo do Campo, SP, novembro de 2008.