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REDES SOCIAS: O TWITTER NA SALA DE AULA
SCARABOTTO, Suelen do Carmo dos Anjos – PUC PR
TOSATTO, Carla – PUCPR [email protected]
RUARO, Laurete Maria – UNICENTRO
TORRES, Patrícia Lupion– PUCPR [email protected]
Eixo Temático: Comunicação e Tecnologia
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo O presente trabalho tem como objetivo discutir a experiência pedagógica a partir da utilização didática das redes sociais desenvolvida no primeiro semestre de 2011 na disciplina de Teoria e Prática na Educação a Distância do programa de pós-graduação strictu sensu da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Considerando que a internet é um veículo de comunicação que dissemina grande parte das informações no cenário atual, faz-se importante discutir as possibilidades de utilização educacional de alguns sites que são bastante populares, dentre elas, as redes sociais como o Twitter, Facebook, Orkut, MySpace e Youtube. Sob a luz de contribuições de autores como Moran (2007); Recuero (2005); Torres (2007), buscou-se teorizar a ação desenvolvida nessas redes sociais vislumbrando analisar o seu possível potencial para envolver estudantes e docentes em um processo mais dinâmico, interativo e significativo de aprendizagem em que há possibilidade tanto de democratização e produção de conhecimento como de desmitificação da banalização desses espaços virtuais. Entendeu-se que, a princípio, é necessário conhecer todos os suportes textuais e comunicacionais que permeiam o universo de nossos alunos para, então, aproximar-se e usufruir dos canais de que eles dispõem favorecendo maior dialogicidade e subsidiando instrumentos para que esses veículos de comunicação dos quais eles se alimentam e disseminam mensagens não se tornem lineares e mesmo distanciados de interpretação crítica. As possibilidades didáticas para as redes sociais podem ser intencionalmente organizadas de modo a privilegiar a criatividade, a colaboração e a superação do senso comum sem perder de vista, entretanto, suas limitações uma vez que sua natureza privilegia o entretenimento e que nem todos os espaços virtuais contribuem para organização efetiva de processo educativo sistematizado. Palavras-chave: Redes sociais. Ensino e aprendizagem. Didática.
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Introdução
Junto a reorganização social frente ao advento das tecnologias, percebe-se que as
estratégias utilizadas para comunicação vem sendo transformadas significativamente. Com
maior acesso à rede mundial de computadores, observa-se que, não obstante a inclusão digital
como parte da inclusão social ainda seja utópica em um país continental e com distribuição de
renda desigual como o Brasil, cada vez mais jovens, crianças e adultos de diversas condições
sociais, culturais e econômicas acessam informações, assim como disseminam sua cultura em
espaços virtuais na internet.
Nesse contexto, no Brasil, há crescente procura pela utilização de sites de
relacionamento como ferramenta principal de comunicação. Conforme matéria publicada pela
Folha Online em 2008,
[...] o brasileiro fica, em média, cinco horas por mês em sites relacionados a comunidades. Nos outros países, esse valor não passa das duas horas, com exceção dos internautas do Reino Unido, que gastam duas horas e meia nesses portais. A empresa inclui na categoria "comunidades" as páginas de redes Orkut e MySpace, blogs, microblogs, bate-papos, fóruns, grupos de discussão, mundos virtuais e outros sites semelhantes que reúnem grupos de interesse e de relacionamento. (FOLHA, 2008)
O interesse do brasileiro pela leitura e produção de conteúdos na internet pode ser uma
grande possibilidade de constituir formas mais significativas de organização da didática
escolar. As redes sociais podem ser consideradas como elemento lúdico para potencializar o
prazer pela produção dos conteúdos referentes ao currículo assim como aproximar a escola da
realidade concreta dos alunos.
Conforme Moran (2007, p. 100) “se os alunos fizerem pontes entre o que aprendem
intelectualmente e as situações reais, experimentais, profissionais ligadas a seus estudos, a
aprendizagem será mais significativa, viva, enriquecedora”, os espaços virtuais já habitados
pelos alunos pode ser caracterizada como veículo para essa aproximação.
Considerando essa condição, discutiu-se na disciplina de Teoria e Prática na Educação
a Distância do programa de pós-graduação strictu sensu da Pontifícia Universidade Católica
do Paraná, ministrada pela professora Patricia Lupion Torres, a presença das redes sociais no
contexto contemporâneo a fim de estudar estratégias didático-pedagógicas para exploração
educacional desse recurso.
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Para além das discussões teóricas a partir de fundamentação de autores estudiosos da
temática, as aulas permitiram organização de laboratórios de aprendizagem que tiveram como
suporte as redes sociais Twitter, Facebook, Orkut, MySpace e Youtube. Cada grupo de alunos
produziu situações de aprendizagem, as propôs e as dinamizou nesses espaços virtuais
coordenando o processo de construção coletiva do conhecimento a partir dos recursos e
limitações de cada rede.
Essa situação provocou na turma de alunos uma nova condição de pensar o
planejamento educacional impulsionando a deslocar a centralidade do processo da sala de
aula para o mundo virtual. Nem sempre é fácil transpor os limites tradicionais da educação e
redimensionar formas de comunicação já cristalizadas, principalmente quando há necessidade
de maior pesquisa e cuidado na organização e mediação das ações de ensino.
O presente texto discutirá essa experiência sob o enfoque da utilização pedagógica do
Twitter, rede social na qual esse grupo aprofundou a pesquisa e organização de atividades
pedagógicas. Serão apresentadas as características positivas e limitadoras da rede, assim como
as possíveis estratégias para, a partir dessa interface, desenvolver movimento de comunicação
menos linear com os estudantes e incentivá-los a refletir sobre esse suporte e os conteúdos
veiculados nele.
Redes sociais e educação
O uso das redes sociais faz parte da vida dos alunos e de muitos professores, pois,
trata-se de uma linguagem que vem sendo amplamente inserida nos novos modos de
produção, comunicação e interação social e cultural. Não há, por conseguinte, como ignorar
as transformações advindas com o uso das redes sociais, que imprimem na vida de todos nós,
novas possibilidades de diálogo e interação com os outros e com o mundo.
Interação, diálogo, comunicação são palavras que vem sendo amplamente utilizadas
para pensar a educação em uma perspectiva inovadora, comprometida com a produção do
conhecimento, com a compreensão, a criação, a transformação e, com um novo olhar para os
alunos, mais ativos, participativos, coautores e produtores de conhecimento e cultura.
Conforme Rangel (2007), as redes sociais numa perspectiva ecossistêmica são o
suporte para a convivência humana uma vez que, a partir delas, há comunicação e
estabelecimento de vínculos dos mais variados gêneros e níveis. A autora menciona que
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As redes sociais estão estabelecidas também enquanto interações entre seus membros. Estas interações se caracterizam, além dos vínculos, da comunicação e das relações, pela organização ao redor do fazer, de estruturar o tempo e o modo como este se utiliza. Assim, as relações sociais permitem dar sentido às vidas das pessoas que nelas participam, favorecendo a construção de suas identidades, propiciando a sensação de que estão ali para alguém, que tem os recursos necessários para dar conta de diversas tarefas e dar suporte social. Desta forma, promovem o sentido a suas ações e práticas de cuidado social e autocuidado. (RANGEL, 2007, 27)
Nesse sentido de pertencimento, construção de identidade e busca de um lugar em que
se tenha espaço para falar e ser ouvido, Rangel (2007) menciona que podem ser definidas
como funções das redes: companhia social, apoio emocional, guia cognitivo, regulação social,
ajuda material e de serviços, acesso a novos contatos.
Esses mesmos conceitos podem ser utilizados quando pensamos em redes sociais
virtuais; devido a facilidade de acesso à rede mundial de computadores, observa-se que alguns
modelos de organização social migram para o ciberespaço e são fortalecidas pela aceitação
que essa opção tem na contemporaneidade. Conforme Rheingold (citado por RECUERO,
2005, p.13) “as comunidades virtuais são agregados sociais que surgem da Rede [Internet],
quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discussões públicas durante um
tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações
pessoais no espaço cibernético”.
Inserir as redes sociais em propostas pedagógicas a serem desenvolvidas na escola é
importante devido às novas formas de organização cultural assim como por ampliar as
possibilidades de desenvolvimento dos alunos, ou seja, eles terão a oportunidade de transitar,
conhecer e produzir diferentes gêneros textuais, com diferentes intenções sociocomunicativas,
desenvolvendo sua competência leitora e escritora. Sabemos que o trabalho com a linguagem
oral e escrita na escola deve estar pautado no trabalho com os diferentes gêneros textuais
inseridos em práticas sociais de uso da leitura e da escrita. Isso está vinculado com a ideia de
que usar a linguagem é uma forma de agir socialmente, de interagir com os outros e de que
essas ações somente acontecem em textos, ou seja, falamos ou escrevemos sempre em textos
que circulam em diferentes suportes, entre eles a web.
Portanto, a língua deve entrar na escola da mesma forma que existe fora dela, ou seja,
por meio das práticas sociais, reais e significativas de leitura e escrita. A intenção é formar
alunos que saibam produzir e interpretar textos de uso social - orais e escritos - e que tenham
trânsito livre nas várias situações comunicativas que permitem plena participação no mundo
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letrado. Faz parte desse mundo letrado e conectado, as redes sociais e seus múltiplos espaços
de interação e comunicação.
De forma geral, pode-se dizer que o uso das redes sociais favorece o trabalho em
grupo, o uso e a produção de diferentes formas de comunicação e a troca de ideias e de
informações. Uma das ferramentas de comunicação existentes em quase todas as redes sociais
são os fóruns de discussão, nos quais os membros podem abrir um novo tópico e interagir
com outros membros compartilhando ideias e saberes sobre um determinado assunto.
Por meio do uso das redes sociais no interior da escola, é possível: criar uma
comunidade de aprendizagem para a escola, para a turma ou para uma disciplina específica;
compartilhar informações e ideias com outros profissionais e especialistas nos temas que
estão sendo estudados em sala, ampliando as possibilidades de interação, pesquisa e produção
e novos conhecimentos; criar canais de comunicação entre os alunos de diferentes turmas,
entre escolas diferentes, entre comunidades que compartilham de interesses em comum.
Ratifica-se que essas possibilidades didáticas só terão sentido se inseridas em um
projeto educacional inovador, ético, ou seja, não adianta inserir as redes no ensino e continuar
com práticas arraigadas em uma organização tradicional na qual o conteúdo esteja sendo
trabalho de forma mecânica e sem significado.
O Twitter na sala de aula
O Twitter é um espaço colaborativo no qual se podem postar mensagens de no
máximo 140 caracteres. Neste espaço de colaboração as pessoas compartilham o que estão
fazendo, pensando ou sentindo, o que estão lendo, por onde navegam e o que mais for
possível dizer de forma breve e sucinta. No Twitter é possível seguir várias pessoas e ser
seguido por elas. Desta forma, uma grande rede é construída.
Segundo Zago (2008) o microblogging, assim como o blog, tem como características o
formato de publicação em ordem cronológica inversa e publicações com microconteúdo, que
no caso do microblogging possui limitações de tamanho, diferenciando-o do blog. O Twitter
permite ao usuário postar mensagens, links, compartilhar imagens. Foi criado em 2006 e a sua
popularidade tem aumentado, hoje é a ferramenta, nessa proposta, mais popular em escala
global (ZAGO, 2008).
Entre as funções disponíveis, há o twittar: permite postar mensagens, links e imagens;
Retwittar: permite disseminar uma mensagem postada por alguém; Seguir amigos e ser
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seguido: todas as publicações serão divulgadas na página inicial do seguidor; Criar listas
selecionando as pessoas irão interagir. No seu profile (página visível aos demais), aparecerá
os seus tweets e retweets em ordem cronológica inversa, ficando visível a todos, caso queira
postar mensagens particulares deve ser selecionada a opção e ao citar alguém em seu texto,
basta colocar @ antes do nome do usuário e o post aparecerá na página inicial da pessoa
citada.
Trata-se de um veículo de comunicação ágil, já que são mensagens muito curtas, e de
muito alcance, pois o número de seguidores que se pode ter é ilimitado. Embora seja uma
ferramenta que apareceu há pouco tempo na rede, conta com uma popularidade crescente.
A intenção inicial de seus idealizadores em 2006, Jack Dorsey, Evan Willians e Biz
Stone, era operacionalizar um sistema que permitisse maior agilidade na comunicação a partir
de um sistema de troca de SMS. Devido a essa natureza, a intenção de comunicação compacta
permaneceu e limita o número de caracteres possíveis de ser encaminhados em cada
mensagem.
Conforme matéria publicada no site EducaRede, as dez melhores maneiras de utilizar
essa ferramenta são:
Quadro de avisos: comunicar aos estudantes mudanças no conteúdo dos cursos, horários, lugares ou outras informações importantes. Resumo: pedir aos alunos que leiam um texto e que façam um resumo dos principais pontos, com um limite de 140 caracteres. Compartilhar sites: periodicamente, cada aluno tem o compromisso de compartilhar um novo site interessante que tenha conhecido na Web. Twitter à espreita: seguir uma pessoa famosa e documentar sua trajetória. Twit* em outros tempos: eleger um personagem importante da história da civilização ou de seu país e criar para ele uma conta no Twitter. Num determinado prazo de tempo, escrever no Twitter como se fosse esse personagem, com estilo e vocabulário da época, imaginando o que ele diria. Microencontros: manter conversas nas quais participem todos os estudantes que assinam o Twitter. Microtextos: escrita progressiva e colaborativa para criar micro-histórias. Língua do Twitter : enviar twits* em línguas estrangeiras e pedir que os alunos respondam na mesma língua ou que traduzam o twit* em seu idioma nativo. Corrente de texto: começar um meme* para que todo o conteúdo criado possa ser capturado automaticamente por um agregador*. Intercâmbio cultural: estimular os alunos para que encontrem um tuiteiro* de outra cidade, estado ou país e converem regularmente com ele durante um período de tempo para conhecer sua cultura, seus interesses, amigos, familiares. Ideal para aprender sobre outras culturas. (EDUCAREDE, 2009)
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Observa-se, dentre as sugestões de atividades, que há um grande estímulo à análise e
produção de conteúdos a partir da perspectiva dinâmica que a ferramenta oferece, assim
como, incentivo à geração de sínteses sobre os assuntos discutidos. É um recurso que se
aproxima bastante do perfil comunicativo dos jovens contemporâneos e pode aproximar
bastante o espaço formal de educação com as necessidades reais de aprendizagem da demanda
atual.
Torna-se indiscutível, entretanto, que o professor empreenda uma nova organização de
seu planejamento. Conforme Moran (2007, p.103) “os professores podem ajudar os alunos,
incentivando-os a aprender a perguntar, a enfocar questões importantes, a definir critérios na
escolha de sites, na avaliação de páginas, a comparar textos com visões diferentes”.
Nesse ponto, para além da motivação sugerida pelas redes sociais, chegamos ao
necessário entendimento de que a educação para a comunicação é o elemento base do
processo de ensino e aprendizagem a partir de conteúdos disponibilizados na internet.
Conforme Ruaro (2007, p.51)
Educar para a mídia estende a abrangência do uso das TIC como recurso didático para demonstração e/ou ilustração de conteúdos. Na verdade este conceito implica em preparar o receptor para leitura crítica tanto da intencionalidade do meio que se escolheu como da informação que se veiculou. Educação para a mídia sugere que o tratamento das informações aconteça de forma detalhada, planejada, dirigida de modo a facilitar a transposição do elementar, transformando informação em conhecimento.
Os textos interpretados e produzidos na web precisam se constituir numa perspectiva
que supere a proposição de pretextos para dinamizar os conteúdos. Eles mesmos tornam-se
conteúdos para análise crítica considerando os fatores de textualidade nos quais foram
construídos. Esse é um cuidado que não pode ser dispensado quando da utilização das
tecnologias da informação e comunicação no contexto didático.
Considerações sobre a experiência pedagógica nas redes sociais
Estudar o impacto das redes sociais no cotidiano das pessoas possibilitou a
compreensão de que existe um processo significativo de migração para o virtual de muitos
processos comunicativos na organização social contemporânea. Essas redes, junto a outros
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diversos espaços online oferecem uma variedade enorme de informações que são
disseminadas em grande escala e muita velocidade.
Conforme Moran (2007, p. 101) “uma das dimensões fundamentais do ato de educar é
ajudar a encontrar uma lógica dentro do caos de informações que temos” (grifos do autor); a
informação se faz em grande parte na internet pode tornar-se material pedagógico quando
existe perspicácia e planejamento intencional do professor.
Nesse sentido, gera-se a possibilidade de empregar um suporte que já está inserido na
prática cotidiana dos alunos para fomentar discussões, pesquisa, análises e produções que se
aproximem de suas realidades e as desmitifiquem. Pois, a intenção pedagógica para utilização
das redes é aproveitar o potencial lúdico da ferramenta que em sua origem é essencialmente
voltada ao entretenimento, dando um significado crítico às formas de recepção da informação
mesmo que por meio de canais que não possuem tendência especificamente pedagógica.
Esse talvez, tenha se constituído o maior desafio com a utilização das redes nessa
experiência: a desmitificação do conceito de que não é possível construir alternativas
educacionais nesses espaços sem banalizar ou massificar a ação. Realmente, conforme a
abordagem, há o risco de que as discussões educativas não sejam tão atrativas a ponto de
provocar a mesma curiosidade que os alunos teriam por situações puramente voltadas ao
entretenimento.
Ainda, conforme a organização cultural em que é privilegiada a informação rápida e
condensada, recorre-se à internet como forma de minimizar a necessidade de aprofundamento
teórico; pois, naquele espaço sabe-se que serão redefinidas e sintetizadas informações que se
necessita para responder a um esforço de pesquisa que se quer compactar ou mesmo desviar.
A esse respeito Moran (2007, p. 103) menciona que “quanto mais fácil for o que queremos,
mais tendemos a nos acomodar na preguiça dos primeiros resultados, na leitura superficial de
alguns tópicos, na dispersão das muitas janelas que abrimos simultaneamente”.
Tal questão foi bastante discutida durante a disciplina e suscitou algumas ponderações:
a) as atividades programadas com a utilização das redes sociais precisam apresentar um teor
significativo de criatividade; b) a utilização do Twitter torna-se mais vantajosa quando
acontece de forma síncrona devido às características do site; c) alunos e professores precisam
conhecer a interface da rede para se beneficiarem de forma ampla de todos os recursos
disponíveis; c) responsabilidade profissional e ética são elementos indispensáveis à ação
pedagógica nas redes sociais.
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Criatividade
Para que se superem as expectativas meramente lúdicas e de lazer da utilização da
ferramenta, o professor precisa lançar mão de bastante criatividade ao propor situações
educacionais no Twitter. Observou-se que quando a atividade não se tornava complexa ou
desafiadora, a participação dos colegas na proposta era bastante vaga e pouco produtiva,
sinalizando falta de aprofundamento e pesquisa sobre a temática.
A fim de evitar que a participação dos alunos nas atividades propostas nas redes torne-
se superficial e que o esforço pedagógico seja banalizado, deve-se organizar situações de
discussão mais complexas e dinâmicas que exijam um esforço intelectual maior na elaboração
de sínteses coerentes e consistentes. Nesse sentido, desenvolver atividades interessantes para
exercitar a produção de sínteses (lembrando do espaço reduzido de postagem: 140 caracteres)
pode se caracterizar um grande exercício de criatividade.
Atividades síncronas
A utilização do Twitter, devido às suas especificidades, deve priorizar atividades
síncronas que possibilitam interação e organização das produções. Devido á velocidade e
quantidade de informações que os alunos geralmente recebem, torna-se inviável solicitar
contribuições fora do espaço tempo real, uma vez que as postagens se perderiam, tornando-se
descontextualizadas. A possibilidade de utilização assíncrona desse espaço estaria na análise
de postagens que o professor pode recortar e levar à sala de aula para discussão.
Entretanto, em ambos os casos, há necessidade de um trabalho de pesquisa anterior em
que o professor delimita os conteúdos que serão trabalhados e sugere bibliografias de
aprofundamento. Não há sentido, nem muita eficiência, organizar uma discussão sem que haja
subsídios teóricos que fundamentem essa prática.
Familiaridade com a ferramenta
Constatou-se um dos empecilhos fundamentais para fruição pedagógica nas redes
sociais é a falta de conhecimento para gerenciamento de todas as possibilidades que são
oferecidas pelo ambiente; muitas vezes são utilizados apenas os recursos menos complicados
e mais visíveis como os chats e links mais recorrentes.
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O professor, quando se dispõe a trabalhar com recursos digitais, precisa empreender
esforços para se apropriar das características e opções que lhe são oferecidas por esse recurso;
tal condição reafirma a necessária formação continuada inerente ao trabalho docente.
Responsabilidade profissional e ética
O cuidado ao se propor trabalho didático por meio das redes sociais precisa se fazer
redobrado, lembrando que nem sempre a web é um ambiente seguro e que existem muitas
formas de desvirtuamento das informações disseminadas. O controle das atividades deve se
fazer presente a fim de que seja garantida situação de discussão e produção democrática de
conhecimento sem prejuízos à integridade moral e intelectual do educando respeitando seus
limites e propondo condições de superação, pois, o objetivo maior seria a reafirmação de que
a mediação pedagógica intencional e organizada a partir de situações contextualizadas traz
benefício à aprendizagem. Conforme Torres (2007, p.155)
O acesso à informação está cada vez mais rápido. Pela via da internet, pode-se
consultar qualquer assunto, com superficialidade ou detalhamento. Entretanto, principalmente
para nus educadores, o desafio È transformar essa informação em conhecimento. O desafio é
encontrar meios que auxiliem nesse processo de migrá-lo de um ensino memorístico para um
ensino significativo. O desafio é educar para formar cidadãos com espírito crítico,
promovendo a iniciativa, a responsabilidade e a auto-confiança.
A responsabilidade de empreender ação pedagógica a partir das redes sociais ainda se
constitui em um grande desafio com muitas limitações, entretanto, muito promissor uma vez
que permite ao professor mergulhar no universo comunicacional dos alunos e promover
melhores condições de interação, recepção e produção nesse contexto.
Considerações Finais
Frente à reorganização das formas de se comunicar na contemporaneidade, a intenção
dessa experiência pedagógica foi a de analisarem que medida as redes sociais podem instigar
mudanças, também, na forma de ensinar e aprender dos professores e dos alunos. O que era
futuro já virou realidade e o que está sendo construído no presente envolve um futuro de
novas e inovadoras possibilidades de construção de práticas pedagógicas que tenham com
foco a interação, a colaboração e a produção compartilhada de conhecimentos.
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Vale ressaltar que, apesar das redes fazerem parte do cotidiano, nem todos estão
familiarizados com elas. Portanto, se a escola acredita na importância do uso das novas
tecnologias e pretende utilizá-las num contexto didático, é fundamental investir na formação
do professor, ampliando sua alfabetização digital, sua compreensão e atuação no universo da
web. Outra questão primordial, diz respeito aos próprios alunos. É necessário incluí-los
digitalmente, garantindo a todos o acesso as possibilidades de uso da internet, instigando o
conhecimento acerca dessa ferramenta e sua utilização a partir de critérios éticos e
responsáveis.
Segundo Moran (2001) as mudanças na sociedade, o que inclui o advento e
disseminação de novas tecnologias, atingem também a educação, o que nos obriga a repensar
os modelos pedagógicos centrados no professor e partir em busca da reorganização do
processo de ensinar, e nesse caso, ferramentas como as redes sociais podem ser aliadas do
professor no processo.
A partir daí percebe-se a importância dos educadores se aproximarem das redes sociais
e demais tecnologias, as quais hoje têm forte impacto na vida de muitos alunos em diferentes
níveis de ensino, e buscarem as possibilidades que essas novas ferramentas possam
proporcionar na aproximação e estreitamento do vínculo professor-aluno e significação do
processo de aprendizagem.
O Twitter, especificamente, pode ser utilizado de modo a instigar os alunos a praticar a
síntese na escrita, devido ao limite de caracteres na publicação. Além disso, pode servir como
meio de comunicação e interação entre a comunidade escolar através da divulgação de
eventos, links interessantes, entre outros. Outra opção é a aplicação em atividades síncronas,
proporcionando a construção de diálogos significativos.
Pode-se considerar que as redes sociais possuem, sim, potencial pedagógico quando
utilizadas na educação presencial ou a distância desde que portadoras de atividades que
dinamizem o espaço de produção de conhecimento apresentando situações que estimulem a
pesquisa, o estabelecimento de vínculos afetivos e o sentimento de corresponsabilidade pelo
sucesso das empreitadas educacionais. Para tanto, é necessário movimento de superação de
práticas tradicionais e empenho em pesquisas sobre essa possibilidade pedagógica e ainda
investir muito esforço de pesquisa a fim de que as discussões sobre a temática produzam
sentidos sempre mais significativos, conscientes e transformadores para essa prática.
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REFERÊNCIAS
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ZAGO, Gabriela da Silva. O Twitter como suporte para produção e difusão de conteúdos jornalísticos. Trabalho apresentado no 6º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, realizado em São Bernardo do Campo, SP, novembro de 2008.