redes de polÍticas pÚblicas e de … redes de polÍticas pÚblicas e de governanÇa websphere...

23
63 RESUMO Mario Procopiuck REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA E SUA ANÁLISE A PARTIR DA WEBSPHERE ANALYSIS 1 Klaus Frey Com o presente artigo propõe-se uma discussão sobre a Policy Websphere Analysis como abordagem metodológica de análise de arranjos organizacionais e suas relações expressas no ciberespaço, buscando explicitar lógicas de políticas públicas em contexto de redes de políticas. Sob essa abordagem, serão apresentados resultados de uma pesquisa que buscou apreender e interpretar a lógica relacional, sustenta- da em valores e normas subjacentes aos arranjos organizacionais, das práticas sociopolíticas destinadas a viabilizar a difusão social de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) em Porto Alegre e Curitiba. Será apresentada a morfologia reticular de tais arranjos, por meio de gráficos construídos a partir de sítios de Internet e hyperlinks, que, em essência, constituem-se em meios representativos de potenciais espaços de interação política e de valores sociopolíticos comunicados por organizações articuladas em arranjos de governança representados na esfera virtual. Entendemos que a mais importante contribuição da Policy Websphere Analysis para a compreensão da esfera pública contemporânea, pelo menos até este momento, consiste na possibilidade de delineamento dos novos espaços de apresentação e discussão de informações, idéias, ações e projetos, tendo estes espaços crescente importância para a atuação das redes de políticas em processos de governança pública. PALAVRAS-CHAVE: Policy Websphere Analysis; Hyperlink Analysis; Social Network Analysis; Redes Sociotécnicas de Políticas; governança pública. I. INTRODUÇÃO Este artigo pretende contribuir para a discus- são sobre as possibilidades de análise de arranjos organizacionais e suas relações expressas no ciberespaço, enfatizando o potencial da policy websphere analysis como abordagem metodológica capaz de explicitar a formação e articulação de redes de políticas públicas apoiadas na Web. O estudo de complexos contextos sociopolíticos em que se articulam diferentes atores para concreti- zar ações junto a comunidades locais passa a re- querer sofisticadas abordagens metodológicas, de cunho tanto qualitativo quanto quantitativo. É importante que tais abordagens permitam levar em consideração aspectos sociológicos, políticos, tecnológicos e ideológicos que sustentam e dão sentido aos fluxos informacionais estruturantes de arranjos organizacionais sob lógica reticular. Nesses arranjos, a interatividade comunicati- va passa crescentemente a catalisar forças com potencial de gerar, ampliar e democratizar novos espaços de governança pública emergentes da for- mação de constelações sociopolíticas compostas por atores públicos, semipúblicos e privados, to- dos com interesses diversos, mas convergindo para determinadas esferas da vida sociopolítica. Nessa perspectiva é que, em termos teóricos, pro- põe-se, neste artigo, a abordagem da Policy 1 Este artigo está baseado em resultados dos projetos de pesquisa Governança e redes sociais na era digital, sob coordenação do Professor Klaus Frey e financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Redes técno-sociais e a gestão demo- crática da cidade, com coordenação-geral da Professora Tamara Egler (cf. EGLER, 2006), que contou com o apoio do Fundo Regional para o Desenvolvimento da Internet para a América Latina e o Caribe (FRIDA-LACNIC); e da Dissertação de Mestrado em Gestão Urbana, de Mario Procopiuck, apresentada na Pontifícia Universidade Cató- lica do Paraná (PUC-PR) (cf. PROCOPIUCK, 2007). Uma primeira versão deste artigo foi apresentada no Seminário Temático 25 – Políticas públicas: métodos e análises , do XXXI Encontro Anual da Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), reali- zado entre 22 e 26 de outubro de 2007, em Caxambu, Mi- nas Gerais. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 17, n. 34, p. 63-83, out. 2009 Recebido em 2 de fevereiro de 2009. Aprovado em 25 de fevereiro de 2009.

Upload: hoanghanh

Post on 25-May-2018

214 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

63

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

RESUMO

Mario Procopiuck

REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DEGOVERNANÇA E SUA ANÁLISE A PARTIR DA

WEBSPHERE ANALYSIS1

Klaus Frey

Com o presente artigo propõe-se uma discussão sobre a Policy Websphere Analysis como abordagemmetodológica de análise de arranjos organizacionais e suas relações expressas no ciberespaço, buscandoexplicitar lógicas de políticas públicas em contexto de redes de políticas. Sob essa abordagem, serãoapresentados resultados de uma pesquisa que buscou apreender e interpretar a lógica relacional, sustenta-da em valores e normas subjacentes aos arranjos organizacionais, das práticas sociopolíticas destinadas aviabilizar a difusão social de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) em Porto Alegre e Curitiba.Será apresentada a morfologia reticular de tais arranjos, por meio de gráficos construídos a partir de sítiosde Internet e hyperlinks, que, em essência, constituem-se em meios representativos de potenciais espaços deinteração política e de valores sociopolíticos comunicados por organizações articuladas em arranjos degovernança representados na esfera virtual. Entendemos que a mais importante contribuição da PolicyWebsphere Analysis para a compreensão da esfera pública contemporânea, pelo menos até este momento,consiste na possibilidade de delineamento dos novos espaços de apresentação e discussão de informações,idéias, ações e projetos, tendo estes espaços crescente importância para a atuação das redes de políticas emprocessos de governança pública.

PALAVRAS-CHAVE: Policy Websphere Analysis; Hyperlink Analysis; Social Network Analysis; RedesSociotécnicas de Políticas; governança pública.

I. INTRODUÇÃO

Este artigo pretende contribuir para a discus-são sobre as possibilidades de análise de arranjosorganizacionais e suas relações expressas nociberespaço, enfatizando o potencial da policy

websphere analysis como abordagem metodológicacapaz de explicitar a formação e articulação deredes de políticas públicas apoiadas na Web. Oestudo de complexos contextos sociopolíticos emque se articulam diferentes atores para concreti-zar ações junto a comunidades locais passa a re-querer sofisticadas abordagens metodológicas, decunho tanto qualitativo quanto quantitativo. Éimportante que tais abordagens permitam levar emconsideração aspectos sociológicos, políticos,tecnológicos e ideológicos que sustentam e dãosentido aos fluxos informacionais estruturantes dearranjos organizacionais sob lógica reticular.

Nesses arranjos, a interatividade comunicati-va passa crescentemente a catalisar forças compotencial de gerar, ampliar e democratizar novosespaços de governança pública emergentes da for-mação de constelações sociopolíticas compostaspor atores públicos, semipúblicos e privados, to-dos com interesses diversos, mas convergindopara determinadas esferas da vida sociopolítica.Nessa perspectiva é que, em termos teóricos, pro-põe-se, neste artigo, a abordagem da Policy

1 Este artigo está baseado em resultados dos projetos depesquisa Governança e redes sociais na era digital, sobcoordenação do Professor Klaus Frey e financiado peloConselho Nacional de Desenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq); Redes técno-sociais e a gestão demo-crática da cidade, com coordenação-geral da ProfessoraTamara Egler (cf. EGLER, 2006), que contou com o apoiodo Fundo Regional para o Desenvolvimento da Internetpara a América Latina e o Caribe (FRIDA-LACNIC); e daDissertação de Mestrado em Gestão Urbana, de MarioProcopiuck, apresentada na Pontifícia Universidade Cató-lica do Paraná (PUC-PR) (cf. PROCOPIUCK, 2007). Umaprimeira versão deste artigo foi apresentada no SeminárioTemático 25 – Políticas públicas: métodos e análises –, doXXXI Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), reali-zado entre 22 e 26 de outubro de 2007, em Caxambu, Mi-nas Gerais.

Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 17, n. 34, p. 63-83, out. 2009Recebido em 2 de fevereiro de 2009.Aprovado em 25 de fevereiro de 2009.

64

REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

Websphere Analysis para a identificação, delinea-mento e análise das emergentes esferas públicasvirtuais que se formam em torno de políticas pú-blicas específicas.

Como tentativa de melhor compreender a rea-lidade das estruturas relacionais delineadas nociberespaço por organizações atuantes na políticade difusão social de Tecnologias de Informação eComunicação nas cidades de Curitiba e Porto Ale-gre, o presente artigo, com base na análise de da-dos obtidos em pesquisa empírica, tem por obje-tivo: 1) apresentar métodos de aplicação da abor-dagem Policy Websphere Analysis para identifi-car, visualizar e analisar as novas configuraçõesde redes sociotécnicas de políticas; e 2) apresen-tar e analisar uma rede de atores de governança,procurando compreender as relações, expressasno ciberespaço, entre organizações do setor pú-blico, do setor privado e do terceiro setor comrelevância para a governança no âmbito da políti-ca em questão.

II. ABORDAGEM TEÓRICO-CONCEITUALPARA O ESTUDO DAS REDES SOCIOTÉC-NICAS DE POLÍTICAS

Nesta seção do trabalho são inicialmente apre-sentados alguns fundamentos da análise de políti-cas públicas; na seqüência, é discutida a aborda-gem das redes de políticas públicas comoferramental de análise das novas práticas degovernança em sistemas sociais policêntricos; fi-nalmente, pretendemos formular o atual desafioinerente ao estudo de redes sociotécnicas de polí-ticas.

Com vistas a explicitar efeitos e explicar leis eprincípios próprios das políticas, os estudos en-volvendo políticas públicas no Brasil, principal-mente até as últimas décadas do século passado,tenderam a ser descritivos e com distintos grausde complexidade analítica e metodológica. Muitasvezes foram conduzidos de modo dissociado demacroprocessos, centrando-se emmicroabordagens tendentes a realçar análises es-truturais com foco voltado para instituições, ouprocuravam delinear processos de negociação res-tritos a políticas setoriais específicas (FREY, 2000,p. 213-214).

Mais recentemente, como alternativasmetodológicas para a investigação de políticaspúblicas, foram propostas novas abordagens,como o fez Frey (2000) ao tratar da Policy

Analysis como instrumento analítico capaz de re-alçar a dinâmica relacional típica de políticasconflitivas que se desenvolvem em contextossociopolíticos crescentemente interativos e nosquais diferentes tipos de atores buscam alcançar,ao mesmo tempo, resultados particulares e coleti-vos. A Policy Analysis permite, pois, abordar si-multaneamente as inter-relações institucionais, osprocessos políticos e o conteúdo da política arti-culada.

A Policy Analysis compreende procedimentosmetodológicos que visam identificar e apreenderelementos formadores ou constitutivos da com-plexa esfera de ação sociopolítica em distintas ati-vidades analiticamente manejáveis. O enfoque daPolicy Analysis permite descrever as relações in-ternas e os contornos externos, por mais tênuesque sejam, das redes político-administrativas com-postas por diferentes tipos de atores pertencentesao setor público, ao setor privado e à sociedadecivil organizada.

A abordagem em questão permite a observa-ção de microprocessos sem ignorar sua inserçãoem macroprocessos de elaboração e execução depolíticas e de programas articulados em uma es-fera pública ampliada. Com isso, facilita a identi-ficação das instituições envolvidas, das perspecti-vas estratégicas por elas adotadas e dos fluxos dediferentes recursos que as ligam e as tornaminterdependentes em processos sociopolíticosparticulares, para cujas características o foco deanálise é voltado.

A Policy Analysis, portanto, tem por objetivouma melhor compreensão da complexidaderelacional, cada vez mais interativa e dinâmica, dosistema político-administrativo em ação, ou seja,na elaboração e execução de políticas públicas.Além disso, oferece importantes instrumentosavaliativos desenhados especialmente para a ob-tenção de subsídios para o aprimoramento da ges-tão pública e dos processos políticos ao permitirpôr em evidência o posicionamento dos diferen-tes atores e os efeitos de suas decisões no seuentorno relacional.

Com este enfoque da Policy Analysis, é pos-sível, por conseguinte, ampliar a abrangência ana-lítica, superando limitações impostas pelas abor-dagens que se restringem a considerar isolada-mente a dimensão institucional (polity) ou a di-mensão político-processual (politics) da política.

65

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

A Policy Analysis caracteriza-se justamente porpermitir a confluência dessas duas dimensões eseu tratamento concomitante com a dinâmica dasações estratégicas envolvidas em redes (FREY,2000; MARQUES, 2003, p. 18), sendo estasestruturadas com lastro em valores simbólicos queinterferem nos fins da articulação coletiva, nosfluxos materiais e imateriais e nos meiosrelacionais, utilizados com propósitos voltados aoalcance de objetivos conjuntos em dados contex-tos sociopolíticos.

A abordagem das redes de políticas, por umlado, oferece bases teórico-conceituais que per-mitem a apreensão, com maior grau de objetivi-dade, de processos e estruturas na elaboração eexecução de políticas públicas, os quais ocorremem um ambiente político de crescente fluidezinstitucional. Por outro lado, passam a oferecerferramental metodológico que permite apreenderrelações empiricamente observáveis e, a partir dis-so, representar agrupamentos (clusters), proces-sos de intercâmbio de recursos, fluxos de influ-ências, interdependências de metas e objetivos; e,finalmente, analisá-los sob as diferentes perspec-tivas dos atores envolvidos. Com isso, é possíveldefinir e analisar posicionamentos dos atores co-letivos ou individuais na respectiva estruturareticular, sendo esta estrutura constituída a partirda confluência de interesses condicionados porvalores coletivos comuns e, pelo menos parcial-mente, conflitantes.

Em termos metodológicos, sob a perspectivadas redes de políticas, em primeiro lugar, é identi-ficado o conteúdo a partir do qual se define o con-texto e o escopo em que os jogos políticos sãotravados e, subseqüentemente, é possível a apre-ensão de ações colaborativas relacionadas a pro-cessos interativos convergentes para determina-das assuntos ou interesses. Ao tratar processual-mente tais interações, como constitutivas do ci-clo das políticas, as redes de políticas podem servistas sob influências de conjuntos de regras for-mais e informais que governam as interações en-tre o Estado e os interesses organizados. Essasregras, nesse processo, podem ser qualificadascomo instituições por normalmente serem de na-tureza geral, basearem-se em práticas e significa-dos compartilhados, serem de conhecimento damaioria dos atores e por se estruturarem e estabi-lizarem-se em decorrência de repetitivas interaçõesem redes (MARCH & OLSEN, 1994, p. 250).

Essas regras constituem-se em condicionantes queservem de diretrizes para o comportamento es-tratégico dos atores políticos, voltado ao delinea-mento e execução de ações formais e informaisdesses atores em determinada esfera ou setor dapolítica.

Considerando concomitantemente o conteúdomaterial que define o escopo de uma dada políticae seu âmbito institucional, que interfere na sualógica e dinâmica processual, torna-se possívelidentificar e analisar as configurações de redestemáticas, de maior ou menor grau de abertura. Aestrutura relacional típica das redes de políticas épassível de se revestir de identidade própria, fren-te a outras configurações, pela possibilidade daparticipação ser tendencialmente mais ampla eaberta. O fluxo de entrada e saída de atores, cadaum com seus diferentes pontos de vista sobre osresultados, tende a tornar as interações fluídas eformar uma ampla gama de centros instáveis detomada de decisão. Em contrapartida, há menoscontatos formalmente institucionalizados entregrupos e governos – portanto, menos regras for-mais a serem necessariamente seguidas. Logo,tendem a existir tentativas de imposição de pon-tos de vista e/ou negociações de compromissosno processo de tomada de decisão, uma vez que aunanimidade é raramente possível. Os canais decomunicação são caracterizados por os atorespoderem expressar publicamente suas opiniões,sem, contudo, possuírem qualquer garantia de queserão seguidos pelos demais. Isso dependerá daforça de convencimento de seus argumentos e dacredibilidade e reputação institucional ou pessoalde cada ator. Nas redes temáticas abertas, a re-compensa dos atores reside na possibilidade deinfluenciarem os resultados da política.

Diante de tais características é mais provávelque nessas redes a elaboração de políticas de ca-ráter público seja mais plural e com tendência amaiores possibilidades de conflitos. Aliado a isso,elas tendem a desenvolver-se geralmente em no-vas áreas em que inexiste um grupo dominante eonde não há instituições formalmente estabelecidasque possibilitem a exclusão de interessados(BLOM-HANSEN, 1997, p. 676; EVANS, 1998;KLIJN, 1999; ZURBRIGGEN, 2005). Nas novasarenas públicas interativas em surgimento, os ato-res buscam, portanto, interferir estratégica e arti-culadamente em diferentes dimensões da políticacom vistas a formular, defender e selecionar cur-

66

REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

sos de ação destinados à resolução de problemasem questões substantivas da vida sociopolítica. Éimportante frisar que, nesse contexto, de acordocom Windhoff-Héritier (1987), Prittwitz, (1994)e Frey (2000, p. 221-222), mesmo que, em geral,as barreiras de acesso às redes de políticascostumeiramente sejam baixas, se comparadascom as estruturas institucionalizadas da política,existem redes em que o número de envolvidostende a ser pequeno e as barreiras de acesso, al-tas.

Nessas estruturas de organização para articu-lação sociopolítica, conseqüentemente, os atoresdeixam de ser representados como simples con-juntos amorfos de participantes em eventos isola-dos. Em termos analíticos, passam a ser conside-rados ativamente a partir da gênese de sistemasrelacionais que ganham forma e consistência nodecorrer do tempo, originando complexas estru-turas de governança com identidade própria emtorno de conteúdos específicos de políticas quelhes interessam. Nessas estruturas, com diferen-tes níveis de coesão relacional, o posicionamentoe as capacidades de articulação de cada agenteindividual para afetar os resultados coletivos nasdecisões políticas são os meios disponíveis parainterferir no curso de suas próprias ações e dasdos demais atores. Nesse ponto, justamente, sur-ge a lógica interativa das ações estratégicas indi-viduais frente aos propósitos coletivos.

Essas esferas da política, por tais razões, pas-sam a ser concebidas como sistemas reticularessociopolíticos abertos em que os agentes que asintegram não atuam isoladamente, mas são mutu-amente influenciados em função da disponibilida-de de recursos, de interesses e de estratégias quecondicionam a dinâmica de negociação na formu-lação e execução das políticas e iniciativas. Osmútuos intercâmbios, em conseqüência das de-pendências de recursos durante as interações,acabam por consolidar uma estrutura relacionalespecífica e estruturar o contexto simbólico emque as redes de políticas estão inseridas. Não ésuficiente, portanto, levar em consideração, emconsonância com uma visão estruturalista das re-des, “os sítios identificáveis de influência e depoder”, mas ao mesmo tempo é preciso contem-plar “a dimensão simbólico-cognitiva e discursiva”subjacente à estrutura de governança da rede(GUALINI, 2005, p. 293).

As redes de políticas, assim, podem ser vistascomo relacionadas a sistemas simbólicos. Nessalinha, Pierre Bourdieu (2005, p. 9; cap. V), aodescrever os sistemas simbólicos, os vê comoinstrumentos de conhecimento e de comunicaçãodo mundo social. Neles, pois, as estruturasrelacionais simbólicas condicionam as relaçõessociais e exercem um poder estruturante dos pro-cessos de interação nos respectivos campos so-ciais ou, no caso de redes de políticas públicas,campos de políticas. O poder simbólico quepermeia os processos de construção da realidadetende, então, a atribuir um sentido ao mundo so-cial. As estruturas simbólicas permitem tambémuma concepção tendencialmente homogênea quan-to a relações lógicas que tornam possível a con-cordância de se chegar a um “consensus acercado sentido do mundo social que contribui funda-mentalmente para a reprodução da ordem social”(idem, p. 10); permitem também o surgimento desolidariedades sociais resultantes dos agentes sen-tirem-se participantes de dada função social. Estafunção social não se limita a uma mera função decomunicação, mas assume uma autêntica funçãopolítica. Por conseguinte, os símbolos constitu-em-se em “instrumentos por excelência deintegração” (idem, p. 9) e servem, pois, de ele-mentos importantes para a articulação de conhe-cimentos e a comunicação na estruturação do sen-tido do mundo social.

Como em qualquer outro espaço social, a in-serção numa rede de políticas públicas significa,portanto, de um lado, identidade sociopolítica emoral, baseada em valores compartilhados, e comisso a possibilidade de atuação solidária, de outro,é resultado de relações de poder que se manifes-tam numa luta política permanente, “luta ao mes-mo tempo teórica e prática pelo poder de conser-var ou de transformar o mundo social conservan-do ou transformando as categorias de percepçõesdesse mundo.” (idem, p. 142). Estar em redes depolíticas significa, portanto, também submissão aum campo de forças, isto é, a “um conjunto derelações de força objectivas impostas a todos osque entrem nesse campo e irredutíveis às inten-ções dos agentes individuais ou mesmo àsinterações directas entre os agentes” (idem, p.134). A análise de redes de políticas públicas pre-tende justamente captar essa dinâmica relacionalque caracteriza esse peculiar campo de forçassociopolíticas.

67

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

Entretanto, na análise de redes de políticas, istoé, na captação da dinâmica e da lógica das esferasrelacionais articuladas em processos particularesimersos em amplos contextos sociopolíticos, ofoco pode concentrar-se nas dimensões sociais,técnicas ou simbólicas das relações estabelecidas.As redes simbólicas merecem especial atenção,principalmente pelas possibilidades por elas ofe-recidas para a análise das relações políticas, hajavista que “a política é o lugar, por excelência, daeficácia simbólica, acção que se exerce por sinaiscapazes de produzir coisas sociais e, sobretudo,grupos” (idem, p. 159). Alain Touraine (1969, p.66) chega a afirmar que, no contexto sociopolítico,“a ação é inconcebível sem o emprego de expres-sões simbólicas”.

As redes de políticas passam a ser vistas, en-tão, como representação de espaços relacionaissimbólicos que atribuem sentido ao conteúdo es-tratégico e às ações individuais e coletivas de ato-res envolvidos em políticas de caráter público.Essas redes, quando associadas a estruturas deredes sociais (meios relacionais em que agentessociais articulam-se entre si por intensa comuni-cação e intercâmbio de recursos para formação emobilização de grupos de interesses para execu-ção de propósitos comuns) e às redes técnicas(infra-estruturas técnicas viabilizadas pelas novasTICs como meios interativos de intercâmbio derecursos em ações relacionais) permitem osurgimento das redes sociotécnicas de políticas.

Com a expansão da Internet, que ganhou for-ça na década de 1990, ganham força correntes deestudos das redes sociais que passam a tratar dasrelações entre diferentes tipos de agentes nessenovo ambiente comunicacional interativo, surgin-do daí trabalhos que abordam as redessociotécnicas, explicitadas mediante o mapeamentode hyperlinks como meios de suporte de relaçõespolíticas e sociais entre atores (cf. PARK;BARNETT & NAM, 2002; FOOT et alii, 2003).Tecnicamente, os hyperlinks são conceituadoscomo mecanismos que estabelecem conexões quevão de uma página da Internet a outra, ou de umapágina a um arquivo, mas normalmente ainterconexão ocorre entre páginas. O acionamentodo hyperlink é feito mediante um clique que abreou mostra um navegador da Internet. Normalmen-te, os hyperlinks são também usados para baixararquivos (download) ou abrir programas de cor-reio eletrônico. Esses dispositivos tecnológicos,

pela viabilização de interações na Internet, aca-bam por se configurar em elementos estruturaisbásicos nas relações entre sítios eletrônicos(websites) na rede mundial de computadores.

Nos estudos das relações sociais, os hyperlinksdeixam de ser considerados simples dispositivostecnológicos e passam a ser vistos como um emer-gente canal de informação e de comunicaçãointerativa pelo qual valores passam a ser transmi-tidos entre sítios. Os hyperlinks passam, então, aser vistos como elementos estruturais simbólicosrepresentativos de relações entre atores na Internet,expressando virtualidades de colaboração e de tro-ca de informações entre diferentes entidades quese estruturam no ciberespaço em redes represen-tadas por tais dispositivos tecnológicos. Além dis-so, passam também a constituir-se em ferramen-tas por meio das quais a qualquer cidadão é per-mitido traçar suas rotas particulares de navegaçãona Internet em função de seus próprios interes-ses. Desta forma, quanto mais bem organizados,mais significativos e com maior número dehyperlinks, em maior número serão as alternati-vas disponibilizadas para os cidadãos buscareminformações no ciberespaço.

Estudos têm evidenciado que os enlaces entreos sítios da Internet não são distribuídosrandomicamente no ciberespaço, mas passam aconstituir comunidades ou agrupamentos(clusters), que expressam identidades em contex-tos simbólicos específicos nessa ampla esfera vir-tual (cf. PARK; BARNETT & NAM, 2002;WALKER, 2002; PARK, 2003; PARK &THELWALL, 2003; FRY, 2006; HEIMERIKS &BESSELAAR, 2006; ROSA; FREY &PROCOPIUCK, 2007; PROCOPIUCK & ROSA,2009). Nessas comunidades virtuais têm origemas redes sociotécnicas de políticas, passíveis deserem explicitadas mediante o mapeamento dosnós (simbolizados pelos sítios eletrônicos) e dosenlaces (representados por hyperlinks) que osinterconectam. Esse mapeamento permite deline-ar e explicitar cenários simbólicos singulares – oque se denomina websphere – construídos a partirdo compartilhamento de valores ou interessescomuns entre os atores. No caso da identidade dawebsphere ser determinada pela vinculação dosatores a um dado conteúdo de política, a partir desua lógica relacional, tem origem uma redesociotécnica de política, com contornos própri-os. Nessa rede, sob diferentes perspectivas, po-

68

REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

dem ser identificadas posições estruturais dos di-ferentes atores, centrais ou periféricos, bem comocaptadas suas ações e intenções estratégicas de-claradas em direção ao conteúdo temático dasações pretendidas ou efetivamente empreendidas.

Nessa linha, a idéia-base da Websphere Analysisganha relevância e, portanto, justifica-se agregá-la às bases da Policy Analysis e da Análise deRedes Políticas, chegando, deste modo, à abor-dagem da Policy Websphere Analysis. Esta passa,assim, a articular perspectivas políticas, socioló-gicas, tecnológicas e comunicacionais nociberespaço com vistas a apreender e interpretarrealidades sociopolíticas virtualizadas ouatualizadas nessa esfera pública relacional amplia-da. Sob as premissas do conceito da policywebsphere, recorrendo às técnicas da SocialNetwork Analysis, torna-se possível analisar ascaracterísticas dos atores que a compõem, omacro-ambiente simbólico por ela delimitado, bemcomo a distribuição espacial e posicional dos ato-res em função de relações de poder dentro de umarede de política (cf. PROCOPIUCK, 2007;PROCOPIUCK & FREY, 2007). A PolicyWebsphere Analysis, portanto, permite descrevere analisar essas novas configurações de esferaspúblicas e processos políticos interativos no âm-bito do ciberespaço, revelando o papel facilitadorda tecnologia na promoção de novos espaços pú-blicos que ganham expressão a partir da repre-sentação de relações ocorridas na realidade con-creta, que apenas tornaram-se possíveis ou maisefetivas por meio do uso da Internet.

III. DEFINIÇÃO DE POLICY WEBSPHERE

Conceitualmente, na policy websphere, quefunciona como uma macro-unidade de análise, aInternet deixa de ser vista como uma simples co-leção de sítios eletrônicos, e passa a ser concebi-da como um conjunto interconectado de recur-sos digitais que se expandem por múltiplos sítiose são considerados relevantes ou relacionados aum “objeto”, um tema ou uma política específica.Essa perspectiva possibilita a análise de realidadesdelineadas em função de conteúdos temáticos,sendo as relações entre produtores e usuáriosmediadas e potencializadas por elementos estru-turais característicos dos sítios eletrônicos, oschamados hyperlinks.

Uma policy websphere pode ser concebidacomo uma matriz que traduz, no ciberespaço,conjuntos de significados socialmente

construídos, logicamente relacionados, e passí-veis de serem individualmente captados e inter-pretados. Uma policy websphere situa-se como ummeio informacional e, ao mesmo tempo, de ex-pressão de articulações estratégicas voltadas àobtenção de legitimação e integração reflexiva emmeio a outros distintos processos institucionaisimplexos em amplos contextos de relaçõessociopolíticas. Os papéis expressos na policywebsphere em tais contextos explicitam, assim,modos de participação em um universo que incluie transcende a ordem institucional. Nessa esferada manifestação sociopolítica no ciberespaço, sãovirtualmente dispostos e passíveis a serem locali-zados acontecimentos coletivos, incluindo açõespassadas, presentes e perspectivas estratégicasfuturas dos atores nelas envolvidos. As informa-ções que circulam na websphere registram a me-mória de valores compartilhados pelos atores eservem para informá-los e atribuir legitimidade àsações desenvolvidas coletivamente. Em relação aofuturo, nelas são estabelecidos amplos quadrosde referência para ações coletivas vindouras.

Em termos práticos, as fronteiras da policywebsphere são delimitadas pela estrutura relacionalformada por um conjunto de sítios vinculado aum conteúdo temático específico dentro de umcontexto espacial e temporal sob investigação. Ossítios eletrônicos relacionados ao objeto ou ao temada pesquisa são identificados, capturados no seucontexto, indexados digitalmente, preferencialmen-te com alguma periodicidade para análises retros-pectivas, contemporâneas e/ou para projeções decenários futuros. Dessa base de dados relacionaissão extraídas informações que, por meio da apli-cação de técnicas de quantificação e de classifi-cação, são transformadas em metadados utiliza-dos para expressar propriedades das relações en-tre os atores. As redes de políticas que permeiamo ambiente sociopolítico definido pela policywebsphere passam a representar topologias soci-ais e políticas nas quais diferentes atores, comsuas perspectivas sociais e ideológicas, estãoimplexos em ações coletivas articuladas por siste-mas de governança com identidades e sentidospróprios que os distinguem dos outros.

IV. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DECOLETA E PROCESSAMENTO DE DADOS

Para o embasamento metodológico foi toma-do como suporte o processo descrito por FábioDuarte (2002, p. 246), que compreende a apreen-

69

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

são de uma realidade fática e sua transcrição parao universo informacional e, com base nisso, pre-vê a geração de modelos, a captação, a filtragem ea organização de informações expressas nociberespaço (“desterritorializadas”) para a cons-trução e representação de um universoinformacional em um ambiente computacionalcapaz de representar aspectos essenciais da reali-dade. Disso segue a necessidade de sua“reterritorialização”, agora de caráterinformacional, em que dados são organizados emmodelos, que, por sua vez, podem ser articuladospara a reconstrução de processos sociais e políti-cos, ou sujeitos a simulações, que podem visar aconhecer o espaço abrangido sob condições pre-sentes, futuras ou hipotéticas.

A principal preocupação inicial da pesquisa foibuscar meios de obter dados relacionais sob de-terminada função capaz de mantê-los coerentes econsistentemente organizados. Com esta finalida-de, foi desenvolvido um programa em ACCESSpara armazenamento e processamento de infor-mações provenientes dos sítios eletrônicos. Nes-se banco de dados, foram registradas as relaçõesrepresentadas pelos hyperlinks que conectam taiscentros nodais de informações no ciberespaço. Aextração de medidas relacionais foi realizada pormeio do programa UCINET (cf. ANALYTICTECHNOLOGIES, 2002a) e a geração de grafosmediante utilização do programa NetDraw (cf.ANALYTIC TECHNOLOGIES, 2002b). Toda acoleta de dados relacionais foi realizada entre osmeses de julho e agosto de 2006 e teve, comofonte exclusiva de consulta, a Internet.

O conteúdo da política tratado pela pesquisafoi definido como “difusão social de TICs” e oespaço geográfico abrangeu as cidades de PortoAlegre e Curitiba. Curitiba foi definida como a ci-dade de início da pesquisa e, dentro dela, comoponto de início da coleta de dados (ou de primei-ra ordem), buscou-se identificar uma instituiçãocom atuação relevante na política em estudo.

Depois de definida a temática, a cobertura ge-ográfica, desenvolvido o sistema para registro eestruturação de dados, o universo da pesquisa foidelimitado por meio da aplicação da técnica deno-minada “Bola de Neve”, ou Snowball, cujodetalhamento operacional é descrito abaixo. Naaplicação desse método, há tendências de que a

composição da rede a ser delineada venha a refle-tir características relacionais do ator inicial, hajavista que este exerce influências que determina-rão a inclusão dos demais atores na rede. Por talmotivo reveste-se de grande importância a esco-lha de um ator, ou de um conjunto de atores, comcaracterísticas relacionais significativas quanto àaderência à temática em exame e à base territorialdelimitada. Neste sentido, a literatura adverte quea qualidade dos dados obtidos pelo método “Bolade Neve” é condicionada por uma criteriosa sele-ção do ponto de partida natural para a coleta dedados, que bem represente as características dasrelações entre os atores dentro da população estu-dada (SCOTT, 2000; HANNEMAN & RIDDLE,2005).

Sob tais premissas, procurou-se identificar umainstituição com atuação representativa na formu-lação e execução de políticas de difusão social deTICs em âmbito local. Com este objetivo foi dadoinício a levantamentos na Internet, por meio dautilização da ferramenta de buscas Google, eacessados os sítios eletrônicos de instituições lo-calizadas em Curitiba e atuantes na política de di-fusão social de TICs. Na análise, e com apoio emconhecimentos prévios dos pesquisadores, foiconsiderada a representatividade das suas relaçõescom outras instituições em nível local, regional,nacional ou internacional, expressas nociberespaço.

A partir de tais procedimentos, decidiu-se ini-ciar os trabalhos de coleta de dados a partir dosítio do Instituto Curitiba de Informática (ICI).Este instituto é o principal fornecedor de infra-estrutura, representada por equipamentos e pes-soal técnico especializado, para atender às neces-sidades da Prefeitura Municipal de Curitiba queenvolvam a aplicação de TICs para condução depolíticas públicas locais. Aliado à representatividadedo ICI na condução da política local de difusãosocial de TICs, ao analisar seu sítio eletrônico, foitambém constatado o registro de vários projetose um número significativo de hyperlinks que oconectam com importantes instituições públicas,privadas e do terceiro setor envolvidas com taispolíticas em âmbito local e supra-local.

Em termos procedimentais, desde o ponto ini-cial da coleta de dados, os hyperlinks identifica-dos nos sítios pesquisados eram acedidos e, de-

70

REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

pois de analisados, classificados estruturalmentecomo relacionados ao conteúdo temático da pes-

quisa. A definição de cada um desses três tipos dehyperlinks consta do Quadro 1, a seguir.

QUADRO 1 – CATEGORIAS RELACIONAIS ENTRE ATORES

FONTE: Os autores.

Com suporte nas premissas classificatóriasdefinidas no Quadro 1 foi aplicado o método “Bolade Neve”. Neste processo, após identificação eclassificação dos hyperlinks – que partiam do sí-tio eletrônico de primeira ordem – pertencentesaos atores nucleares, eram todos enquadradoscomo apontando para sítios de segunda ordem deatores nucleares, de parceiros temáticos ou de sim-ples hyperlinks de referência, como representadoesquematicamente na Figura 1.

Depois de acedidos todos os sítios apontadospor aquele de primeira ordem, eram então avalia-dos os respectivos conteúdos e feita a sua classi-

ficação com fundamento nos conceitos trazidosno Quadro 1. Das três possibilidades de classifi-cação, eram selecionados aqueles sítios cujos ato-res enquadravam-se na categoria atores nuclea-res. Estes passavam então a constituir-se emreferencial para aceder os sítios de terceira or-dem. Em relação a estes, eram aplicados os mes-mos critérios classificatórios a que se submete-ram os de segunda ordem. Esse procedimento foiaplicado sucessivamente até o esgotamento daspossibilidades de surgimento de novas instituiçõesque preenchessem as condições para serem in-cluídas na ordem seguinte.

FIGURA 1 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

FONTE: Os autores.

71

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

Dos sítios pertencentes aos atores nuclearesforam registrados os dados institucionais arrola-dos e definidos no Quadro 2, que se configuramcomo atributos individuais dos atores. Os dadoscoletados de acordo com as diretrizes trazidas

neste quadro passaram a constituir o substratoanalítico por meio do qual foi possível classifi-car, segundo a tipologia expressa no Quadro 1,as relações de cada um dos 311 sítiospesquisados.

QUADRO 2 – ATRIBUTOS INDIVIDUAIS DOS ATORES NUCLEARES PESQUISADOS

FONTE: Os autores.

Derivada da convergência de iniciativas –espelhando ações ou projetos em execução nascidades de Porto Alegre e/ou Curitiba – dos atoresclassificados em qualquer das três categorias

trazidas pelo Quadro 1, foi definida uma quartacategoria relacional chamada de parcerias em açõese projetos, definida no Quadro 3.

QUADRO 3 – CONVERGÊNCIA DE ATORES PARA PARCERIAS EM AÇÕES E PROJETOS

FONTE: Os autores.

72

REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

Na categoria definida no Quadro 3, o critériobásico utilizado para enquadramento doshyperlinks foi a constatação de atuação concretada organização por eles apontada em ações ou pro-jetos de difusão social de TICs em Porto Alegre e/ou Curitiba. Sob esse critério, portanto, foramconsideradas as relações tanto de atores nuclearese parceiros temáticos quanto de hyperlinks de re-ferência.

V. FORMAÇÃO DE UMA POLICY WEBSPHEREA PARTIR DE UMA REDE DE DIFUSÃO SO-CIAL DE TICS.

Uma policy websphere pode emergir a partirde relações cooperativas previamente existentesem redes de políticas públicas ou impulsionadapor eventos específicos que originam um proces-so de articulação via Web. Como exemplo de umprocesso de sedimentação de normas e valorescom a finalidade de consolidação de uma esferaWeb de política pode ser tomada a V Oficina deInclusão Digital, de 2006, que deu origem à Car-ta de Porto Alegre: Por um compromisso com aInclusão Digital no Brasil, elaborada sob as dire-trizes do Plano de Ação da Cúpula Mundial so-bre a Sociedade da Informação, de 2003, que,por sua vez, busca o desenvolvimento de umaSociedade da Informação que inclua a todos, per-mitindo o amplo acesso às TICs. Nessa mesmalinha, mais recentemente, na Conferência Mundi-al sobre a Sociedade da Informação, realizada emduas etapas, em Genebra (2003) e em Tunis(2005), uma pluralidade de atores globais reuniu-se para a redefinição de papéis e regras degovernança exercida sobre a Internet, o livre aces-so à informação, com discussões sobre exclusãoe inclusão digital, dentre outros assuntos.

Movimentos e eventos como os citados cons-tituem-se e buscam instituir sistemas de referên-cias estruturados por intermédio da adoção de es-tratégias simbólicas pelas quais os agentes líderesdo movimento procuram explicitar a sua visão domundo social, dos problemas ou tópicos de inte-resse, de modo a definir claros contornos do seuespaço de atuação. Com isso, intentam mobilizar,catalisar e coordenar esforços coletivos para a açãosociopolítica dentro de estruturas emergentes degovernança para definição de diretrizes globais dereferência e de suporte a iniciativas locais, que,de outro modo, tenderiam a permanecer isoladasou desconectadas. Exemplo desse tipo de estraté-gia de ação simbólica de reforço de valores

sociopolíticos é a Conferência Mundial sobre aSociedade da Informação de 2005, como podeser verificado no seguinte excerto: “Além dosembates naturais que surgem com a questão doacesso à informação, o evento tornou-se simboli-camente sensível em razão da escolha do localpara essa segunda fase da Conferência. O para-doxo é evidente: a Tunísia, conhecida pelo des-respeito constante de liberdades individuais, in-cluindo restrições severas à veiculação de infor-mação na Internet, recebe atualmente os delega-dos de vários países para uma conferência sobreacesso à informação.

Em razão desses paradoxos, a Anistia Interna-cional, tradicional militante na defesa dos direitoshumanos, lançou uma campanha em seu websitecom o objetivo de acabar com as restrições à li-berdade de expressão e ao acesso à informaçãono país. O website da ONG conta atualmente comum longo relatório de monitoramento sobre a pro-teção de direitos humanos na Tunísia” (A TUNÍSIAE A CONFERÊNCIA INTERNACIONAL, 2005).

As intenções e recomendações expressas portais movimentos sociopolíticos culminam por setornar referência para a formação e o reconheci-mento de domínios de políticas e, como diretri-zes, para a mobilização e estruturação da ação deatores articulados para a consecução de iniciati-vas e projetos comuns, como é o caso da difusãosocial de TICs; ou, indo além, como se depreendedo seguinte trecho: “[...] é preciso reconhecer queas contradições do mundo atual permitiram, pelomenos, uma unificação no discurso das ONGs li-gadas à proteção de direitos humanos e as suasirmãs preocupadas com o acesso à informação.Assim, de repente, defensores de prisioneiros po-líticos e especialistas em propriedade intelectualviram-se lado a lado e pisando sobre o mesmobarco” (idem; sem grifos no original).

Contribuindo com tais objetivos de mobilizaçãopara a ação, a Internet, como canal interativo decomunicação, tem se transformado em uma are-na de intensiva expressão intencional e espontâ-nea de identidades organizacionais específicas,que, ao serem agregadas, correlacionadas eadjungidas, passam a definir e a representar macro-ambientes sociais e políticos que influenciam esão influenciados pelas ações individuais e coleti-vas dos atores que os integram. Nesse ambienteestruturado pelas TICs, “grupos sociais se adap-tam de modo a elevar sua interconectividade, con-

73

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

solidar sua identidade e fortalecer sua capacidadepara atuar em um mundo cada vez maisinterdependente” (FREY, 2005, p. 184).

O conhecimento dos atores envolvidos, de suasposições relativas, de temáticas abrangidas porseus interesses e de suas intenções e ações estra-tégicas permitem explicitar e compreender a lógi-ca dos arranjos de governança que lhes dão sus-tentação dentro de domínios de políticas. A partirdisso, as redes de políticas passam a revestir-sede identidade temática e a permitir a identificaçãoe análise de concentrações de atos, do processode sedimentação de normas e valores comuns e adistribuição de recursos em ações e projetos de-senvolvidos intencionalmente e concretizadosmediante ações articuladas em que se ajustam pers-pectivas políticas, sociais e ideológicas.

As propostas e ações entre os atores que com-põem a emergente policy websphere, em que seinserem as redes sociotécnicas de políticas, aca-bam por expressar certas uniformidades quanto aintenções e objetivos. Estes, depois de publica-mente declarados e difundidos, tendem a se auto-impor aos seus emissores e passam a regular suasações no contexto social. Com isso, havendo adefinição da identidade da própria policy webspheree, à conta das relações assentadas em regras evalores particulares compartilhados pelos atoresque a constituem, podem caracterizar e definiridentidades próprias de redes sociotécnicas de po-líticas que nela inserem-se e entrelaçam-se.

VI. REPRESENTAÇÃO DA TOPOLOGIA DAPOLICY WEBSPHERE QUE ENVOLVEUMA REDE DE DIFUSÃO SOCIAL DE TICS

A leitura e o mapeamento dos sítios, o registroe interpretação das missões institucionais, dos ob-jetivos e dos relatos vinculados às ações sociaisdesenvolvidas por conjuntos de organizações emdado campo da política, tornam possíveis, alémdo descortinamento de amplos movimentossociopolíticos, a identificação e avaliação daque-las que acabam por se destacar dentro de domíni-os ou redes sociotécnicas de política. Com a aná-lise das relações estratégicas empreendidas emantidas por organizações com ações no âmbitode uma policy websphere, sob a qual redessociotécnicas de políticas ganham contornos, po-dem ser delineados universos de valores sociais epolíticos, conforme representado graficamente naFigura 2. A policy websphere representada por essa

figura resultou do mapeamento das relações de31 atores nucleares com atuação na rede de difu-são social de TICs nas cidades de Porto Alegre eCuritiba. Nela passam a ser representadas, alémdo espaço geográfico e do conteúdo da políticainicialmente delimitados, organizações atuando emdiversos outros segmentos de ações sociais e emdiferentes contextos locais, nacionais e internaci-onais.

Na Figura 2, os losangos amarelos espelhamas diferentes áreas de interesses (conteúdostemáticos ou de políticas) para as quais sãodirecionados hyperlinks originados nos sítios dosatores nucleares. O tamanho dos losangos é dire-tamente proporcional ao número de hyperlinks querecebem dos demais atores. A espessura das li-nhas é diretamente proporcional ao número dehyperlinks que partem do sítio eletrônico de cadauma das instituições nucleares em direção a ou-tras organizações cujo foco está direcionado paradiferentes políticas ou áreas de interesse. Ressal-ta-se que, para não comprometer a nitidez da fi-gura, foi definido o número máximo de 15 rela-ções refletidas em um único enlace. Deste modo,há proporcionalidade entre o número de relaçõese a espessura somente até este limite. Na realida-de, o número de relações por instituição pode che-gar a 37, como é o caso da Prefeitura de PortoAlegre em relação à Política de Difusão Social deTICs, como detalhadas quantitativamente nasociomatriz representada no Quadro 4.

A Figura 2, de pronto, exemplifica o surgimentode uma variedade de áreas de interesses às quaisas organizações estão vinculadas. Tal figura, aodefinir a topologia da policy websphere, bem ex-pressa “que o espaço social é um espaçomultidimensional, conjunto aberto de campos re-lativamente autônomos” (BOURDIEU, 2005, p.153), ocupados por uma diversidade de atores cominteresses centrados em diversos aspectos de dadaesfera de ação sociopolítica. A emergência dessesdiversos campos, partindo da consideração dosinteresses individuais das instituições que os inte-gram, decorre do fato de “que certos interessesserão comuns a todos os membros de uma cole-tividade. Por outro lado, muitas áreas [...] só te-rão importância para alguns tipos. Estes últimosimplicam uma incipiente diferenciação, pelo me-nos no sentido em que se atribui a esses tipos umsignificado estável” (BERGER & LUCKMANN,1985, p. 90).

74

REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

FIGURA 2 – WEBSPHERE EM QUE ESTÁ IMPLEXA A REDE DE DIFUSÃO SOCIAL DE TICS EM PORTOALEGRE E CURITIBA

FONTE: Os autores.

Em meio à diversidade de políticas ou áreas deinteresse expressas na Figura 2, surge naturalmen-te, como resultado do próprio método empregadopara a coleta de dados, a rede de política de difu-são social de TICs com posição central na policywebsphere, recebendo 57% de todas as 442 rela-ções mapeadas. No Quadro 4, é demonstrada adistribuição desse número de relações que partem

dos 31 atores considerados como nucleares narede de difusão social de TICs de Porto Alegre eCuritiba para diferentes políticas ou áreas de inte-resse que compõem a policy websphere. Os quan-titativos e percentuais relativos às políticas de di-fusão social de TICs estão destacados pelas colu-nas acinzentadas da sociomatriz abaixo.

QUADRO 4 – POLÍTICAS OU ÁREAS DE INTERESSE DOS ATORES NUCLEARES

ATO

RES

NU

CLE

AR

ES

75

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

FONTE: Os autores.NOTAS: * A) Difusão Social de TICS; B) Indústria, Comércio e Serviços; C) Educação; D) Cultura; E) Desenvolvimento

Comunitário; F) Comunicações; G) Saúde; H) Ensino de Xadrez; I) Combate à Pobreza; J) Outras 23 áreas comoito ou menos relações;

** O número que aparece antes do nome do ator corresponde ao setor a que ele pertence: 1) Público; 2) Privado; e 3)Terceiro Setor.

*** Significado das siglas e abreviações: Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e aCultura; Porto Alegre-Pref. – Prefeitura Municipal de Porto Alegre; CDI-PR – Comitê para Democratização da Informática;FPD – Fundação Pensamento Digital; CELEPAR – Companhia de Informática do Paraná; PROCERGS – Companhia deProcessamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul; BTelecom – Brasil Telecom S.A.; PROCEMPA – Companhiade Processamento de Dados do Município de Porto Alegre; ICI – Instituto Curitiba de Informática; CEX – Centro deExcelência de Xadrez; Unisys – Unisys Brasil Ltda.; CEMINA – Comunicação, Educação e Informação em Gênero; APC– Associação Paranaense de Cultura; NET – NET Brasil; Curitiba-Pref. – Prefeitura Municipal de Curitiba.

ATO

RES

NU

CLE

AR

ES

Em relação à Figura 2 e aos dados quantitati-vos expressos no Quadro 4, considerando os finsdas ações voltadas essencialmente à elevação daspossibilidades de acesso a melhores padrões lo-cais de qualidade de vida de indivíduos de menorpoder aquisitivo, verifica-se que há certa correla-ção e convergência entre a política de difusão so-cial de TICs e as políticas de educação, cultura,desenvolvimento comunitário e combate à pobre-za que integram a policy websphere que seexplicitou. Esses espaços de convergência dentrode amplos domínios de políticas sociais aproxi-mam-se do que Volker Schneider e Raymund Werle(1991, p. 98-99) descrevem como a configura-ção de um campo em que diferenciadas, mas re-lativamente estáveis redes de políticas estruturam-se e sobrepõem-se umas às outras noprocessamento de problemas relacionados a polí-ticas específicas. Essas redes, contudo, não sãosubsistemas nitidamente delineados, pois muitasvezes acabam por transcender os limites clássi-cos do domínio de uma política específica e porse sobrepor relativamente a outros domínios, semque haja, contudo, prejuízo quanto à identificaçãodo próprio domínio ou das próprias redes.

A complexidade das relações envolvendo di-versas áreas de interesse ou políticas, como asevidenciadas pela Figura 2, para além das estrutu-

ras das redes, e mesmo extrapolando a configu-ração de amplos domínios políticas, “em termosde sua funcionalidade social externa não preci-sam ser integradas em um único sistema coeren-te. Podem continuar a coexistir com base em de-sempenhos separados. Mas, [reflexamente], en-quanto esses desempenhos podem ser separados,os significados [emanados de todas as ações co-letivas que representam] tendem para uma cons-ciência pelo menos mínima [do contexto, ou do-mínio, social mais amplo em que se inserem]...”,com tendência a aumentar à medida que cada ator,com diferentes interesses, compartilha com ou-tros seus significados em relações de “reciproci-dade dotadas de sentido nos processos deinstitucionalização” (BERGER & LUCKMANN,1985, p. 91) de amplos valores sociopolíticos so-bre os quais estrutura-se determinada sociedade.

Na Figura 3, são representadas as cidades emque estão localizadas geograficamente as institui-ções que fazem parte da policy websphere repre-sentada pela Figura 2. No Quadro 5, sãoquantificados os hyperlinks recebidos e que par-tem de cada uma das principais cidades represen-tadas na Figura 3. A partir da sociomatriz-base daqual se originou a Figura 3, foram excluídas to-das as linhas ou colunas que apresentassemsomatório igual ou menor a quatro relações por

76

REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

enlace. Como resultado, foi mantida a represen-tação de 88% das relações (=538÷608), ou seja,deixaram de ser contempladas apenas 70 relações.É importante notar que tanto na rede quanto no

quadro abaixo são computados todos os tipos derelações entre os sítios. Isso significa que entreum par de sítios podem estar sendo contabilizadasdiversas relações.

FIGURA 3 – REDE DE CIDADES ABRANGIDAS

FONTE: Os autores.

QUADRO 5 – RELAÇÕES ENTRE CIDADES

FONTE: Os autores.

77

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

VII. REDE SOCIOTÉCNICA DE POLÍTICA DEDIFUSÃO SOCIAL DE TICS IMPLEXA NAWEBSHPERE

De modo sintético, a representação da rede depolítica viabilizada pela Figura 4, de acordo comparâmetros trazidos por Alain Touraine (1969, p.63), permite, ao considerar as orientaçõesnormativas que indicam os fins buscados pelosatores, definir o sentido das relações entre sujei-tos e objetos de sua ação, bem como definir asposições relativas entre sujeitos no processo deinterações. Isso tudo, além de indicar a amplitudee a capacidade de ação dos sujeitos quando setrata de avaliar as articulações internas à redesociotécnica de política que veio à tona. A ampli-tude temática é representada pela Figura 2, ao passoque a amplitude geográfica tem representação naFigura 3.

2 O out-degree mede a expansividade de um ator na rede,ao passo que o in-degree mede a receptividade ou popula-ridade desse ator (IACOBUCCI, 1997, p. 126). O in-degreepode ser denominado também de degree prestige, que re-

Na Figura 4, os diferentes tamanhos doslosangos amarelos variam em decorrência do nú-mero de instituições que participam da execuçãodo respectivo projeto ou ação. Utilizando a termi-nologia específica da Social Network Analysis, asáreas dos losangos são proporcionais ao in-degreesde cada ação ou projeto. Os círculos simbolizamas organizações participantes na execução dasações ou projetos. A diferenciação do tamanho decada um dos círculos é diretamente proporcionalao número de ações ou projetos em que cada umadas organizações participa: ou seja, ao out-degreede cada um dos atores2. Também, na Figura 4, háa classificação das organizações correspondenteao setor a que pertencem. Os círculos verdes iden-tificam organizações públicas; os azuis, organiza-ções do setor privado; e os vermelhos, organiza-ções do terceiro setor.

FIGURA 4 – REDE DE AÇÕES E PROJETOS EM PORTO ALEGRE E CURITIBA

flete a popularidade de um nó, que, por sua vez, é expressapelo número de vezes que um ator é eleito por outrosdentro da rede (WASSERMAN & FAUST, 1997, p. 170;202).

78

REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

A rede acima aproxima-se do que Erik-HansKlijn (1999, p. 30) chama de conjuntos de organi-zações agrupadas em torno de conjuntos de açõesespecíficas nas quais agentes sociopolíticos ten-tam atingir objetivos em torno de um propósitoconcreto em que são intercambiados recursos, al-mejando a obtenção de resultados estratégicos in-dividuais e, ao mesmo tempo, comuns aos parti-cipantes.

A consideração de ações concretas para a ava-liação da ação social, segundo Alain Touraine(1969, p. 19), é importante, já que uma ação soci-al somente pode existir se estiver orientada paracertos objetivos e orientações coletivas concre-tas. Não basta, portanto, que seja tratada somenteem termos de intenções individuais; por se tratarde processo essencialmente coletivo, a ação soci-al em rede é sustentada por sistemas de relaçõesinterativas geradoras de inovação, criação e atri-buições de sentidos capazes de despertar e mobi-lizar novos atores por meio de sistemas simbóli-cos que ganham corpo a partir de realizações comreflexos concretos sobre a vida de pessoas queconvivem em determinada comunidade.

Na Figura 4, os losangos amarelos espelhamações ou projetos em que há convergência de es-forços de duas ou mais organizações. A partir darede de difusão social de TICs, é trazido à tona umespaço interativo emergente da interação de diver-sos atores vinculados em virtude de uma iniciativaque se constitui em ponto de convergência queassegura unidade do funcionamento do sistema deação visando alcançar objetivos específicos em prolde determinada comunidade.

Ao se considerar as intenções estratégicas im-plícitas dos atores, a Figura 4 permite visualizarglobalmente uma estrutura de governança baseadaem relações que condicionam uma constelação deorganizações em torno de projetos dos quais parti-cipam. Também é evidenciada, à conta do númerode projetos em que participam, a posição relativade cada uma dessas organizações dentro da redeem questão. Outra informação trazida pela figura éa simbolizada pela importância relativa de cada ins-tituição ou iniciativa; a medida in-degree, neste caso,expressa, de um lado, a capacidade de mobilizaçãodas organizações iniciadoras em favor de suas idéi-as e propostas e, de outro, a atratividade ou reputa-ção de cada instituição na rede sociotécnica ou,respectivamente, das próprias idéias e propostas eda sua força de articulação e integração.

Além de permitir visualizar a macroestruturada rede da política de difusão social de TICs nascidades de Porto Alegre e Curitiba, a Figura 4 tam-bém serve como referencial para explorar, em ní-vel micro, quem nela participa e a quais idéias,concepções e valores cada instituição vincula-se,sendo estes subjacentes a cada projeto ou açãorepresentados. Em essência, a rede representadamaterializa um cenário de ação em que cada agen-te constitui-se em auxiliar, parceiro ou colabora-dor para os demais participantes de cada uma das65 iniciativas. Considerando qualquer dessas ini-ciativas isoladamente, é possível notar que cadaorganização participante, em função dos proces-sos de interação que as originaram, tem suas pers-pectivas objetivas e subjetivas contempladas, en-tretanto, em diferentes graus e com diferentes ato-res. Agora, se considerados atores com participa-ção em mais de uma iniciativa, é evidenciado asua interação com outros diferentes atores e emdiferentes situações, sendo as formatações obser-vadas resultado das peculiaridades intrínsecas decada projeto ou ação; desta maneira, tais relaçõesde interatividade geram um profícuo espaço parao intercâmbio de conhecimentos e experiências.

Nesse processo interativo espelhado pelasações executadas conjuntamente pelos atores ar-ticulados em rede, agora em nível macro,descortina-se um ambiente em que há mescla dediferentes perspectivas subjetivas desses agentes.Com isso, é possível gerar uma estrutura em rede,interinstitucional e “extra-individual”, revelada apartir da conjunção de diferentes valores sociais,políticos e ideológicos, resultante da participaçãode atores pertencentes aos setores público, priva-do e terceiro setor. Nesse ambiente, cada um des-tes três grupos de agentes comparece com suaspróprias regras e valores que os distinguem polí-tica e socialmente. As diferentes perspectivasnormativas que influenciam a conduta dos atorespertencentes a cada um dos setores representa-dos neste ambiente relacional esboçado acabampor se ajustar e se conformar ao serem materiali-zadas em ações e projetos que revertem resulta-dos concretos no seio das comunidades locais emque se desenvolvem. Neste sentido, dão origem aum espaço para constituição de representaçõesmeta-sociais, conforme processo descrito porPeter Berger e Thomas Luckmann (1985, p. 91),que poderão determinar características peculia-res que distinguirão a rede sociotécnica de políti-ca de difusão social de TICs em Porto Alegre e

79

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

Curitiba perante outras redes estruturadas a partirde temáticas ou delimitações geográficas distin-tas.

Na Figura 4, verificando as diferentes coresdos nós, pode ser constatada e contabilizada a par-ticipação relativamente equilibrada dos três seto-res em termos numéricos nos 65 projetos e açõesdas, ao todo, 142 diferentes organizações. Dentreessas organizações, 46 (32%) pertencem ao setorpúblico; 47 (33%) ao setor privado; e 49 (35%)são integrantes do terceiro setor. Este equilíbriorelativo dos setores na composição da rede revelauma tendência que cada vez mais caracteriza oprovimento de bens sociais e de serviços públicosbásicos: um maior peso do setor privado, o quetraz, de um lado, mais recursos e possibilidadesde suprir as necessidades sociais crescentes, mas,de outro, aumentam também as possibilidades deuma ingerência ou predominância dos interesseseconômicos na execução de políticas públicas.Esta observação tem uma peculiar relevância nocaso de projetos de difusão social de TICs, umavez que para as empresas de telecomunicações,não por acaso as empresas mais ativas nesta área,a ampliação do acesso às TICs é diretamente vin-culada com seus interesses econômicos.

Analisando a Figura 4, quanto à distribuiçãogeográfica entre as duas cidades estudadas, ago-ra com foco nas ações e projetos, verifica-se tam-bém a existência de certo equilíbrio numérico, mascom pequeno viés em favor de Porto Alegre: 30(46%) das iniciativas são conduzidas nesta cida-de e 27 (42%) em Curitiba, sendo que oito (12%)abrangem ambas as cidades.

No caso específico da política de difusão so-cial de TICs nas cidades de Porto Alegre eCuritiba, os níveis de participação e de interaçãoem ações conjuntas indicadas na Figura 4, por sisó, sugerem terreno fértil para internalização eexternalização de normas e valores entre as orga-nizações participantes e, portanto, entre as diferen-tes localidades. A atuação conjunta dos atores pa-rece indicar que estes estão mutuamente orienta-dos para demandas de ordem social; senão, sinali-za ao menos a superação da ação puramente indivi-dual por atuações cada vez mais coletivas. De qual-quer modo, há indicação da emergência de algumgrau de sociabilidade e identidade compartilhada,uma vez que “o ator se identifica com um grupo, aum sujeito coletivo; superando assim, sua indivi-dualidade compartilhando normas, valores, inten-

ções. Por outro lado, fortalece sua imagem peranteos demais membros do grupo ao expressar sua iden-tidade” (TOURAINE, 1969, p. 70).

Agora, por outro lado, analisando o númerode ações e projetos em que cada uma das organi-zações representadas na Figura 4 participa, tem-se que 103 (71%) tomam parte de apenas umainiciativa; 15 (10%) participam em duas; nove(6%), em três; e 17 (12%) estão vinculadas aquatro ou mais iniciativas. Essa relativamente bai-xa amplitude de participação em diferentes inicia-tivas pode ter diferentes explicações: por um lado,o fato da política de difusão social de TICs não sera única que merece atenção da maioria das organi-zações envolvidas, ou até de se constituírem emorganizações que têm tal participação como “aces-sória” das suas principais atividades ou finsinstitucionais (o que deve ser o caso, sobretudo,de empresas privadas que atuam motivadas primor-dialmente pela idéia da responsabilidade socialcorporativa); de outro lado, o fato de algumas or-ganizações constituírem-se em atores iniciantes dorespectivo campo de política, ou, ainda, o fato dese dedicarem única e exclusivamente a um projetoou atividade em função da sua própria precarieda-de institucional (o que é uma condição de muitasorganizações não-governamentais, sobretudo numcampo novo como é a difusão social de TICs).

Independentemente do motivo que levou amaioria das organizações a se envolverem em ini-ciativas únicas, figura-se, em si, como aspectoimportante dentro da política, o fato de que taisorganizações foram movidas a se inserir em umambiente de sociabilidade com finalidade de atuarcooperativa e efetivamente em busca de resulta-dos concretos em benefício de comunidades lo-cais. Neste ponto, abre-se uma importante pers-pectiva para o desenvolvimento de outros estu-dos mais aprofundados para buscar explicações paraa realidade que se descortinou; por exemplo, como objetivo de avaliar se há uma tendência deenvolvimento de tais organizações com maior nú-mero de iniciativas com o decorrer do tempo. Nes-sa linha, há interessante estudo empreendido porPeter Spink (2000), que oferece importantesparâmetros comparativos quanto ao número deentidades envolvidas em iniciativas sociais no Bra-sil.

Finalmente, quanto à participação em iniciati-vas, expressando propriedades posicionais na rede,destacam-se, no quesito centralidade, a

80

REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

PROCEMPA – Empresa de Tecnologia da Infor-mação e Comunicação de Porto Alegre –, comnove participações, e as prefeituras de Porto Ale-gre (10) e de Curitiba (14), no setor público; nosetor privado, têm maior relevância o Banco doBrasil (seis), a Microsoft (seis) e a Brasil Telecom(nove). No terceiro setor, sobressaem-se a Fun-dação Pensamento Digital (oito) e o InstitutoCuritiba de Informática (13 participações). Im-portante notar que a Fundação Pensamento Digi-tal e, por conseqüência, as ações e projetos emque participa contam com amplo envolvimento deatores privados e do terceiro setor, ao passo queaqueles desenvolvidos pelo Instituto Curitiba deInformática contam com o envolvimento princi-palmente da Prefeitura Municipal de Curitiba.

VIII. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pretendeu-se neste artigo demonstrar o poten-cial da Policy Websphere Analysis em contribuirpara a compreensão do novo ambiente interativodo ciberespaço no que tange à sua influência so-bre as redes de políticas públicas ou de governança,as quais, diante do esgotamento do modelo“estatocêntrico” de gestão pública, tornaram-secada vez mais dominantes tanto nas práticas degestão como nas reflexões teóricas sobre estas.

As reflexões teóricas empreendidas neste tra-balho, bem como as recentes pesquisas empíricasrealizadas3, demonstram o surgimento de relaçõesinterinstitucionais que anteriormente não existiam,mas que ainda são pouco percebidas como rele-vantes em processos de governança. A policywebsphere mostrou-se não apenas um conceitocapaz de descrever esta nova realidade (de umacrescente interconectividade no espaço virtual),mas acabou revelando uma dimensão normativa,com perspectiva prescritiva, ao permitir identifi-car estruturas de poder e estratégiasinformacionais distintas adotadas pelas diferentesinstituições, além de situações de exclusão e gar-galos em relação aos fluxos informacionais ecomunicacionais. Neste sentido, a PolicyWebsphere Analysis mostrou-se como uma ferra-menta capaz de auxiliar os tomadores de decisão

no aprimoramento dos processos de governança,aumentando sua eficiência, mas também a trans-parência e as possibilidades de participação de-mocrática.

O universo simbólico retratado pela policywebsphere e, dentro dela, pelos referenciais indi-viduais e coletivos que orientam as ações articula-das por redes sociotécnicas de políticas emergen-tes, é resultado da expressão de valores comunsinstitucionalizados e da sua publicização nos síti-os eletrônicos que o compõem. Estes sítios, comolugares de expressão de normas e valoresinstitucionais, apresentando relações que conver-gem para atividades e projetos comuns, sendopassíveis de serem mapeados pelo rastreamentodos hyperlinks que os entrelaçam no ciberespaço,passam a estruturar e a fundamentar uma identi-dade simbólica da policy websphere que eles inte-gram. No ciberespaço, tendo como mecanismode sua gênese a utilização das potencialidadestrazidas pelos hyperlinks, cada policy webspherepassa a representar uma topografia passível deser navegada e investigada por qualquer interes-sado em função daquilo que julga importante quan-to a informações correlacionadas e disponibilizadasrelativamente à temática e aos contornos geográ-ficos que lhe interessam.

Dentro de um contexto de ação social maisamplo, em que se concretiza a atuação políticadas instituições, a importância das ações de cadauma delas tende a ser avaliada em consonânciacom o foco que demarca a configuração de de-terminada rede e sob diferentes matizes sociais epolíticos assumidos dentro da matriz operacionalda respectiva policy websphere, que a circunscre-ve temática e geograficamente; logo, a análise deredes, em virtude do foco específico de investi-gação ser direcionado para aqueles aspectos darealidade escolhidos como objeto de pesquisa, ten-de a considerar apenas parcialmente a dinâmicade atuação de determinada organização num am-plo e complexo ambiente sociopolítico.

Essa consideração apenas parcial da realidadeocorre em conseqüência dos critérios utilizadospara a definição da pertinência a certa área temáticae/ou geográfica; da importância relativa de cadaatuação sobre a configuração de diferentes redesem que determinada organização envolve-se; e dospapéis e funções que nelas desempenha. Diantedisso, as múltiplas redes em que certa organiza-ção pode participar concomitantemente tendem a

3 No Programa de Mestrado em Gestão Urbana, da PUC-PR, no início de 2007, houve a conclusão e defesa de duasdissertações que tratavam, num caso, de políticas de difu-são social de TICs (PROCOPIUCK, 2007), e, no outro, depolítica ambiental (ROSA, 2007), recorrendo ambas

81

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

apresentar diferentes morfologias em diversosníveis de diferenciação e configurados em funçãodos contornos de núcleos temáticos e/ou geográ-ficos.

Diante de tais observações, a perspectiva dapolicy websphere, como abordagem capaz de de-linear macro-ambientes sociopolíticos em que seinserem as redes sociotécnicas de políticas, ganhacrescente relevância para a análise de políticaspúblicas cuja elaboração e execução ocorrem cadavez mais sob a influência e com o apoio das no-

vas tecnologias em arranjos interinstitucionais degovernança pública.

Concluindo, entendemos que a mais importantecontribuição da Policy Websphere Analysis para acompreensão da esfera pública contemporânea,pelo menos até este momento, consiste na possi-bilidade de delineamento dos novos espaços deapresentação e discussão de informações, idéias,ações e projetos, tendo estes espaços crescenteimportância para a atuação das redes de políticasem processos de governança pública.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERGER, P. & LUCKMANN, T. 1985. A cons-trução social da realidade : Tratado de Socio-logia do Conhecimento. Petrópolis : Vozes.

BLOM-HANSEN, J. 1997. A “New Institutional”Perspective on Policy Network. PublicAdministration, v. 75, n. 4, p. 669-693, Winter.

BOURDIEU, P. 2005. O poder simbólico. Rio deJaneiro : Bertrand Brasil.

DUARTE, F. 2002. Crise das matrizes espaciais :arquitetura, cidades, geopolítica, tecnocultura.São Paulo : Perspectiva.

EGLER, T. 2006. Redes técno-sociais e gestãodemocrática da cidade. Rio de Janeiro : UFRJ.Disponível em : http://acd.ufrj.br/~interacao/login/login.php. Acesso em : 2.ago.2009.

EVANS, M. 1998. Análisis de redes de políticaspúblicas : una perspectiva británica. Gestión yPolítica Pública, Ciudad de México, v. 7, n.2, p. 229-266.

FOOT, K.; SCHNEIDER, S.; DOUGHERTY,M.; XENOS, M. & LARSEN, E. 2003.Analyzing Linking Practices : Candidate Sitesin the 2002 US Electoral Web Sphere. Journalof Computer-Mediated Communication,Bloomington, v. 8, n. 4, July. Disponível em :http://jcmc.indiana.edu/vol8/issue4/foot.html.Acesso em : 2.ago.2009.

FREY, K. 2000. Políticas públicas : um debateconceitual e reflexões referentes à prática daanálise de políticas públicas no Brasil. Planeja-mento e Políticas Públicas, Brasília, n. 21, jun.Disponível em : http://www.ipea.gov.br/pub/ppp/ppp21/Parte5.pdf. Acesso em : 2.ago.2009.

_____. 2005. ICT-Enforced Community Net-works for Sustainable Development and So-cial Inclusion. In : ALBRECHTS, L. &MANDELBAUM, S. (org.). The NetworkSociety : a New Context for Planning. Lon-don : Routledge.

FRY, J. 2006. Studying the Scholarly Web : HowDisciplinary Culture Shapes OnlineRepresentations. International Journal ofScientometrics, Informetrics and Bibliometrics,Madrid, v. 10, n. 1.

GUALINI, E. 2005. Reconnecting Space, Place,and Institutions : Inquiring into “Local”Governance Capacity in Urban and RegionalResearch. In : ALBRECHTS, L. &MANDELBAUM, S. (org.). The NetworkSociety : a New Context for Planning. Lon-don : Routledge.

HANNEMAN, R. & RIDDLE, M. 2005.Introduction to Social Network Methods.Riverside : University of California. Disponí-vel em : http://faculty.ucr.edu/~hanneman/.Acesso em : 2.ago.2009.

Mario Procopiuck ([email protected]) é Doutorando em Administração pela Pontifícia UniversidadeCatólica do Paraná (PUC-PR).

Klaus Frey ([email protected]) é Pós-Doutor em Planejamento Urbano e Regional e em PolíticasPúblicas pela Technische Universitaet Berlin (TUB), da Alemanha, e Professor Titular da PontifíciaUniversidade Católica do Paraná (PUC-PR).

82

REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

HEIMERIKS, G. & BESSELAAR, P. 2006.Analyzing Hyperlinks Networks : the Meaningof Hyperlink Based Indicators of KnowledgeProduction. International Journal ofScientometrics, Informetrics and Bibliometrics,Madrid, v. 10, n. 1.

IACOBUCCI, D. 1997. Graphs and Matrices.In : WASSERMAN, S. & FAUST, K. (org.).Social Network Analysis : Methods andApplications. Cambridge, MA : University.

KLIJN, E.-H. 1999. Policy Networks andNetwork Management : a State of the Art. In :KICKERT, W.; KLIJN, E.-H. & KOPPENJAN,J. (org.). Managing Complex Networks.Strategies for the Public Sector. London : Sage.

MARCH, J. & OLSEN, J. 1994. InstitutionalPerspectives on Governance. In : DERLIEN,H.-U.; GERHARDT, U. & SCHARPF, F. (hg.).Systemrationalität und Partialinteresse :Festschrift für Renate Mayntz. Baden-Baden :Nomos.

MARQUES, E. 2003. Redes sociais e atores polí-ticos no governo da cidade de São Paulo. SãoPaulo : Annablume.

PARK, H. 2003. Hyperlink Network Analysis : aNew Method for the of Social Structure onthe Web. Connections, Alhambra, v. 25, n. 1.p. 49-61.

PARK, H.; BARNETT, G. & NAM, I. 2002.Interorganizational Hyperlink Networks AmongWebsites in South Korea. Networks andCommunication Studies, Montpellier, v. 16, n.3-4. p. 155-174.

PARK, H. & THELWALL, M. 2003. HyperlinkAnalyses of the World Wide Web : A Review.Journal of Computer-Mediated Communica-tion, Bloomington, v. 8, n. 4., July. Disponívelem : http://jcmc.indiana.edu/vol8/issue4/park.html. Acesso em : 2.ago.2009.

PRITTWITZ, V. 1994. Politikanalyse. Opladen :Leske-Budrich.

PROCOPIUCK, M. 2007. Governança local e re-des sociotécnicas de difusão social de TICs nascidades de Porto Alegre e Curitiba. Curitiba.Dissertação (Mestrado em Gestão Urbana),Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

PROCOPIUCK, M. & FREY, K. 2007. Redessociotécnicas de difusão social de TICs em

Porto Alegre e Curitiba. XXXI Encontro daANPAD, Rio de Janeiro.

PROCOPIUCK, M. & ROSA, A. 2009. Redessociotécnicas no ciberespaço : possibilidadesde avaliação de relações sociopolíticas sobre aAgenda 21 e desenvolvimento sustentável lo-cal numa Policy Websphere. XIII EncontroNacional da ANPUR - Planejamento e Gestãodo Território: escalas, conflitos e incertezas,Florianópolis.

ROSA, A. 2007. Rede de governança ambientalna cidade de Curitiba e o papel das tecnologiasda informação e comunicação. Curitiba. Dis-sertação (Mestrado em Gestão Urbana).Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

ROSA, A.; FREY, K. & PROCOPIUCK, M.2007. Redes virtuais de governança ambien-tal : análise de uma websphere ambiental a partirda cidade de Curitiba. Revista Tecnologia eSociedade, Curitiba, v. 5. p. 79-102.

SCHNEIDER, V. & WERLE, R. 1991. PolicyNetworks in the German TelecommunicationsDomain. In : MARIN, B. & MAYNTZ, R.(org.). Policy Networks : Empirical Evidenceand Theoretical Considerations. Frankfurt :Campus.

SCOTT, J. 2000. Social Network Analysis : aHandbook. Thousands Oaks : Sage.

SPINK, P. 2000. The rights approach to localpublic management : experiences from Brazil.Revista de Administração de Empresas, SãoPaulo, v. 40, n. 3. p. 45-65, jul.-set.

TOURAINE, A. 1969. Sociologia de la accion.Barcelona : Ariel.

WALKER, J. 2002. Links and Power : ThePolitical Economy of Linking on the Web.In : Conference on Hypertext and Hypermedia.Maryland : ACM.

WASSERMAN, S. & FAUST, K. 1997. SocialNetwork Analysis : Methods and Applications.Cambridge, MA : University.

WINDHOFF-HÉRITIER, A. 1987. Policy-Analyse : eine Einführung. New York :Campus.

ZURBRIGGEN, C. 2005. Las redes de políticaspúblicas. Una revisión teórica. Barcelona :Institut Internacional de Governabilitat deCatalunya.

83

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

OUTRAS FONTES

A Tunísia e a Conferência Internacional sobre aSociedade da Informação. 2006. Cultura Li-vre, Rio de Janeiro, 28.nov. Disponível em :http://www.culturalivre.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=28&Itemid=58. Acesso em : 2.ago.2009.

ANALYTIC TECHNOLOGIES. 2002a. Ucinet6 for Social Network Analysis. Disponívelem : http://www.analytictech.com/ucinet6/ucinet.htm. Acesso em : 2.ago.2009.

_____. 2002b. NetDraw : Graph VisualizationSoftware. Disponível em : http://w w w. a n a l y t i c t e c h . c o m / N e t d r a w /netdraw.htm. Acesso em : 2.ago.2009.

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34: 347-354 OUT. 2009ABSTRACTS

PUBLIC POLICY AND GOVERNING NETWORKS AND THEIR ANALYSIS THROUGH“WEBSPHERE ANALYSIS”

Mario Procopiuck and Klaus Frey

This article presents a discussion on Policy Websphere Analysis as a methodological approach foranalysis of organizational arrangements and the relationships they express through cyberspace, in anattempt to make the logics underlying political policies within the context of political networks explicit.Through this approach, we present the results of research aimed at apprehending and interpretingthe relational logic of sociopolitical practices meant to facilitate societal dissemination of informationand communication technologies, as sustained through the norms and values underlying organizationalarrangements, in Porto Alegre and Curitiba. We present a reticular morphology of such arrangements,using of tables that have been put together through websites and hyperlinks and which, in essence,constitute the representative means for potential spaces of political interaction and the socio-politicalvalues communicated by organizations that are articulated in governance arrangements representedin virtual space. In our view, the most important contribution made by Policy Websphere analysis, atleast until the present, consists of the possibility for delimiting new spaces for the presentation anddiscussion of ideas, actions and projects. These spaces have acquired an ever –greater importancein political networks’ actions in processes of public governance.

KEYWORDS: Policy Websphere Analysis; Hyperlink Analysis; Social Network Analysis; socio-technical political networks; public governance.

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34: 357-365 OUT. 2009RÉSUMÉS

RÉSEAUX DE POLITIQUES PUBLIQUES ET DE GOUVERNANCE : UNE ANALYSE ÀPARTIR DE LA WEBSPHERE ANALYSIS

Mario Procopiuck et Klaus Frey

Cet article présente un débat sur la Policy Websphere Analysis comme une approche méthodologiqued’analyse de composition organisationnelle et ses relations figurant dans le cyberespace. Nouscherchons à expliciter le raisonnement de politiques publiques dans le contexte des réseaux depolitiques. Par cette approche, sont présentés les résultats d’une recherche qui visait à saisir et àinterpréter la logique relationnelle, appuyée sur des valeurs et des normes sous-jacentes auxcompositions organisationnelles, des pratiques sociopolitiques destinées à rendre possible la diffusionsociale de technologies d’information et communication (TICs) à Porto Alegre et à Curitiba. Nousprésentons la morphologie reticulaire de ces compositions, au moyen de graphiques élaborés à partirde sites Internet et hyperlinks qui constituent essentiellement des moyens représentatifs d’espacespossibles d’interaction politique et de valeurs sociopolitiques transmis par des organisations articuléesdans des arrrangements de gouvernance représentés dans la sphère virtuelle. Nous comprenons quela contribution la plus importante de Policy Websphere Analysis pour la compréhension de la sphèrepublique contemporaine, au moins jusqu’à maintenant, consiste en la possibilité de définition desnouveaux espaces de présentation et de discussion d’informations, idées, actions et projets, car cesespaces sont de plus en plus importants pour l’action des réseaux de politiques dans des processusde gouvernance publique.

MOTS-CLÉS : Policy Websphere Analysis ; Hyperlink Analysis ; Social network Analysis ; réseauxsociotechniques de politiques; gouvernance publique.