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Redes de fibra óptica: Conexões locais em dimensões globais no Brasil1
Danilo Bertoloto2 Yuji Gushiken3
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT/Cuiabá)
Resumo
Este artigo, de caráter descritivo e em nível exploratório, busca aproximar-se de
uma definição tecnológica e produzir um mapa das redes de fibra óptica existentes no
Brasil em sua conexão com o sistema global. Metodicamente, o artigo se realiza com
base em pesquisa bibliográfica e dados de fontes secundárias de informação (periódicos
jornalísticos e sites de empresas e organizações). No plano teórico-metodológico,
investe na interface entre comunicação e economia política, atentando para as relações
entre economia global, políticas públicas nacionais e demandas socioeconômicas da
sociedade civil no que se refere à infra-estrutura de telecomunicações e as implicações
que esta relação impõe ao futuro das práticas midiáticas.
Palavras-Chave: Comunicação; tecnologia; fibra óptica; backbone; RPN.
Introdução
Neste artigo, buscamos apreender o conceito tecnológico e a constituição
estrutural da rede de fibra óptica em território brasileiro, a partir dos principais nós e
backbones que conectam as diversas regiões do país entre si e o país à rede de fibra
óptica pelo mundo. Uma das necessidades hoje, na pesquisa em comunicação, torna-se
compreender o desenvolvimento tecnológico no plano político e econômico. A partir
desta relação, analisar com mais perspicácia os enfrentamentos que emergem das
constantes mutações tecnológicas e as conseqüentes transformações nas práticas
midiáticas.
1 Artigo apresentado no GP de Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura (DT 8 Estudos Interdisciplinares) do XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado de 02 a 06 de setembro de 2011 na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), em Recife, Pernambuco, Brasil. Artigo desenvolvido no âmbito do projeto “Modernização tecnológica e midiática: Imagens da cidade e mediações do cosmopolitismo” (Propeq/UFMT/Cuiabá). 2 Webdesigner, diretor de criação e aluno do Mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade Federal de Mato Grosso (ECCO-UFMT). E-mail: [email protected]. 3 Professor do Departamento de Comunicação e do Mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade Federal de Mato Grosso (ECCO-UFMT). Líder do Núcleo de Estudos do Contemporâneo (NEC-UFMT) e orientador do trabalho. E-mail: [email protected].
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Com base em referências bibliográficas e fontes secundárias, buscou-se
identificar os mapas da fibra óptica no Brasil e suas ligações interiores e com os
principais backbones globais. A economia política das telecomunicações
necessariamente é uma área de atrito entre interesses do capital internacional na
formação de mercados sempre renovados, as políticas públicas no esforço de inserção
nacional no desenvolvimento de infra-estrutura e as demandas nem sempre muito claras
da sociedade civil diante das transformações tecnológicas.
Os dados sobre infra-estrutura de fibra óptica nem sempre são legíveis e as
fontes, nem sempre oficiais. A partir do jogo de forças em que se constitui a rede de
fibras ópticas no mundo, torna-se necessário compreender o atravessamento dessa
tecnologia fundamental no desenvolvimento das mídias e nas práticas midiáticas do
futuro.
A partir do mapa global, embora descrito de modo ilustrativo através de dados
de consultorias privadas, torna-se possível fazer uma aproximação com o mapa
nacional, e assim perceber os níveis de conexão de infra-estrutura entre o Brasil e o
mundo. Tendo esta dimensão nacional mais clara, até o ponto em que se pode ter uma
imagem dos níveis de conexão do país com o mundo, tornou-se viável anotar a
ramificação da rede de fibra óptica também pelos interiores do país.
Num processo de descrição que passa do global ao nacional, o interesse da
presente pesquisa foi descrever também a continuação da rede de fibra óptica até a
cidade de Cuiabá, capital de Mato Grosso, para se tecer de modo mais claro ainda as
relações entre modernização tecnológica, políticas nacionais de ciência & tecnologia e
capitalismo global na definição da infra-estrutura de telecomunicações.
Entre a política pública nacional e o enquadramento regional no mercado global,
a rede de fibra óptica, ao ser desenhada num mapa nem sempre visível, tende a indicar o
avanço do capitalismo pelas mais diversas regiões do planeta. Neste sentido, nota-se a
inserção da região oeste do Brasil como mercado consumidor, simultaneamente regional
e global. Do ponto de vista da economia política, a rede de fibra óptica, somada à rede
geral de infra-estrutura de internet, é simultaneamente condição política e resposta
econômica ao desenvolvimento.
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Fibra óptica: o que é
Fibras ópticas são fios longos e finos de vidro muito puro, com o diâmetro
aproximado de um fio de cabelo humano, dispostas em feixes chamados cabos ópticos e
usadas para transmitir sinais de luz ao longo de grandes distâncias. (WIRTH, 2002)
Figura 1 – Cabo de Fibra Óptico. Fonte: How Stuff Works (2001)
Partes de uma única fibra óptica
Uma fibra óptica possui as seguintes partes:
• Núcleo - minúsculo centro de vidro da fibra, no qual a luz viaja;
• Interface - material óptico externo que circunda o núcleo e reflete a luz de
volta para o mesmo;
• Capa protetora - revestimento plástico que protege a fibra de danos e
umidade.
Centenas ou milhares dessas fibras ópticas são dispostas em feixes nos cabos
ópticos, que são protegidos pela cobertura externa do cabo, chamada jaqueta.
As fibras ópticas são fabricadas em dois tipos:
• Fibras monomodo
• Fibras multimodo
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As fibras monomodo possuem núcleos pequenos (cerca de nove micrometros, ou
seja, nove milésimos de milímetro de diâmetro) e transmitem luz laser infravermelha
(comprimento de onda de 1.300 a 1.550 nanômetros).
As fibras multimodo possuem núcleos maiores (cerca de 62,5 milésimos de
milímetro de diâmetro) e transmitem luz infravermelha (comprimento de onda = 850 a
1.300 nm) proveniente de diodos emissores de luz (LEDs). 4
Algumas fibras ópticas podem ser feitas de plástico, possuem um núcleo grande
(1 mm de diâmetro) e transmitem luz vermelha visível (comprimento de onda = 650
nm) proveniente de LEDs.
Como funciona a fibra óptica
A luz que os cabos óticos transmitem é gerada normalmente por um diodo
emissor de luz (LED, em inglês) ou por um tubo de raios laser. Controlando-se a
emissão da luz, é possível criar códigos digitais para transmitir informações. Assim, a
linguagem binária, como a dos computadores, composta dos algarismos (dígitos) zero e
um, é substituída pelo código luz/ausência de luz. Informatizada dessa forma, uma fibra
ótica é capaz de transmitir até 20 mil conversas telefônicas simultâneas, quarenta vezes
mais do que um fio de cobre.
Com capacidade de transmissão até um milhão de vezes maior do que o cabo
metálico, a fibra ótica tornou hoje a base tecnológica das relações de comunicação no
mundo. Praticamente não há diferença entre a velocidade de transmissão em um cabo
metálico e a fibra. O que muda é a capacidade de transmissão. A fibra pode transportar
um número muito maior de bits por segundo do que o cabo. Além da enorme
capacidade de transmissão, a fibra tem outras vantagens na comparação com o cabo
metálico, como a alta estabilidade, baixa perda na transmissão e grande resistência.
Além disso, como não conduzem eletricidade, ficariam imunes a interferências elétricas
exteriores5.
A produção da fibra ótica se inicia com a transformação da sílica, retirada de
rochas de quartzo, em varetas ocas de sílica pura. Um tubo de sílica de 12 milímetros de
diâmetro e 1 metro de comprimento produz até dois mil metros de fio com 125 micra
(1/8 de milímetro) de diâmetro, pouco mais espesso que um fio de cabelo.
4 http://informatica.hsw.uol.com.br/fibras-opticas1.htm. Acesso em 09/08/2010 5 http://super.abril.com.br/tecnologia/fibra-otica-439075.shtml. Acesso em 08/07/2010
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Fibra óptica: História de uma tecnologia
O primeiro sistema ótico de comunicação surgiu há mais de dois séculos, quando
o engenheiro francês Claude Chappe inventou, em 1790, o telégrafo ótico - que foi
substituído pelo telégrafo elétrico em meados do século XIX. Alexander Graham Bell
patenteou um sistema ótico de telefonia, que chamou de Photophone, em 1880.
Entretanto, o telefone, sua invenção anterior, provou ser mais prática na época.
A década de 1960 foi assinalada por transmissões de sinais luminosos por fibras.
Essa tecnologia era forte candidata a substituir, gradativamente, os sistemas baseados
em fios de cobre nos sistemas de telefonia, o que certamente impulsionaria o campo de
pesquisa e desenvolvimento. Entretanto duas barreiras se puseram na frente do avanço
da tecnologia em comunicação por fibra óptica: as grandes perdas de luz durante a
transmissão e o excessivo calor que os lasers geravam. 6
Neste mesmo período, como registra o Jornal da Unicamp, o professor Zeferino
Vaz instituía, mais precisamente no ano de 1966, a Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), e diversos pesquisadores buscavam soluções para os empecilhos do uso da
fibra óptica. Tais recursos foram encontrados apenas na década de 1970, quando a
empresa americana Corning desenvolveu a primeira fibra óptica com pouquíssima perda
de sinal luminoso. Já nos laboratórios Bell, da AT&T, foi construído um tipo de laser
que operava em temperatura ambiente.
Três cientistas brasileiros que acompanhavam as descobertas nos EUA –
Rogério Cerqueira Leite, Sérgio Porto e José Ripper Filho – retornaram ao Brasil, mais
precisamente Unicamp, para estabelecer o campo de pesquisa na área.7 Ainda segundo o
Jornal da Unicamp, a instituição teve o primeiro instituto a desenvolver e a produzir
fibra ótica no início dos anos 1970. E, conforme relata a imprensa brasileira, a
tecnologia desenvolvida foi transferida para a Telebrás, que no início dos anos 1980 a
repassou para empresas começarem a produzir a fibra em escala comercial.8
Foi através do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações
(CPqD) que a concessão da tecnologia para a indústria nacional aconteceu. A primeira
planta piloto para a fabricação da fibra óptica no Brasil foi montada no centro de
pesquisa e desenvolvimento da Telebrás. 6 http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/maio2007/ju359pag6-7.html Acesso em 29/09/2010 7 http://www.redetec.org.br/inventabrasil/ripper.htm Acesso em 23/06/2010 8 http://www.terra.com.br/reporterterra/fibra/materia1.htm Acesso em 02/04/2010
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A ABC X-TAL, empresa sediada em Campinas, formalizou contrato de US$ 6
milhões para a produção de dois mil quilômetros de fibra óptica. Após ter contratado
parte da equipe da Unicamp, entregou em agosto de 1984 o primeiro lote de 500
quilômetros. No mesmo ano entrava em funcionamento o primeiro sistema não-
experimental de comunicações ópticas produzido integralmente no Brasil, ligando duas
estações telefônicas de Uberlândia. Já em 1985, a antiga Telesp constuiu o primeiro
backbone de fibra óptica com a extensão de 1,4 quilometro na capital paulista, dando
inicio à exploração da tecnologia.
Fibra Óptica no Mundo
Vivemos em um mundo de fluxos globais, tanto de riquezas como poder e
principalmente informação e isso fundamenta uma economia informacional. Segundo
Castells, “uma nova economia surgiu em escala global no ultimo quartel do século XX.
Chamo-a de informacional, global e em rede para identificar suas características
fundamentais e diferenciadas e enfatizar sua interligação” (CASTELLS, 1999)
Esta nova economia é baseada em conexões, pois não há fluxo sem conexões. E
a fibra óptica entra nesse contexto como uma solução tecnológica contemporânea
ligando os continentes e fazendo circular o sangue do capitalismo pós-moderno. A
necessidade de estar conectado levou ao desenvolvimento de tecnologia de
comunicação e a fibra óptica é resultante deste processo.
Estima-se que atualmente a extensão de cabos de fibra óptica em uso no planeta
seja de 300 milhões a 400 milhões de quilômetros. De modo comparativo, essa extensão
seria ao menos cem vezes maior que a circunferência de 39.400 km do globo terrestre,
conforme dados da agência TeleGeography9, empresa especializada em pesquisa de
mercado, consultoria em assuntos referentes a telecomunicações, atuando desde 1969
como uma das maiores provedoras de dados referente a Internet e seus usos, sediada em
Washington-DC, EUA.
Um recente levantamento feito pela mesma agencia identificou as ligações dos
continentes feitas por fibra óptica através dos oceanos, conforme Figura1.
9 http://www.telegeography.com/
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Figura 1: cabos submarinos de fibra óptica 10. Fonte: TeleGeography’s. O mapa (Figura 1) mostra que o sistema global de cabos oceânicos de fibra
óptica tem uma concentração na região nordeste dos EUA, onde se localiza a cidade de
Nova York, com destino à Europa, e com pontos de conexão principalmente na França e
no Reino Unido. Outro conjunto visível de cabos é encontrado ao longo da costa Oeste
americana, ligando a Califórnia com backbones (tronco principal das redes de fibra
óptica) em diversos pontos da extrema Ásia, como Japão, Sudeste da China e ilhas do
Pacífico.
O Brasil possui suas principais conexões de fibra óptica com a Argentina e, para
acessar dados de servidores na Europa ou dos EUA, os cabos que partem do Brasil
quase todos passam pelo Caribe. Há uma única rede ligando o Brasil à África: trata-se
de um conjunto de cabos que sai da região do Rio Grande do Norte até as ilhas de Cabo
Verde e, de lá, até o Senegal e do Senegal para Portugal. 11
Em outro mapa da TeleGeography, assessoria com sede em Washington-DC e
especializada em dados sobre internet, divulga-se detalha o tráfego global de
informações e seus maiores troncos.
10 http://www.telegeography.com/telecom-resources/map-gallery/submarine-cable-map-2010/index.html Acesso em 08/05/2010 11 http://info.abril.com.br/aberto/infonews/102008/08102008-9.shl. Acesso em 03/05/2010
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Figura 2 – Mapa Global de Tráfego de Informações.12 Fonte: TeleGeography
A Figura 2 mostra como os EUA centralizam a distribuição de informação para
o mundo. Segundo Castells, esse domínio sobre o volume de informações acontece
porque a “capacidade de largura de banda é muito maior que o resto do mundo”
(CASTELLS, 2003). Oitenta por cento das rotas de infovias internacionais passam
necessariamente pelos backbones norte americanos.
Fibra óptica no Brasil
No Brasil, o principal nó das rotas internacionais do tráfego da informação é
Brasília, que liga o extremo oriente asiático às rotas da Europa e o Brasil ao tronco
central americano. O Brasil atualmente dispõe de um backbone com mais de 21 mil
quilômetros de extensão, sendo 16 mil quilômetros deles de propriedade da falida
Eletronet, empresa que decretou falência há anos.
Por conta da falência, a rede foi embargada pela Justiça e permanece inutilizada
até hoje, pois está arrolado num processo judicial que envolve a Eletronet e grandes
empresas de infra-estrutura, como a Alcatel-Lucent. Mas, no começo de 2010, a Justiça
12 http://www.telegeography.com/telecom-resources/map-gallery/global-traffic-map-2010/index.html Acesso em 03/04/2010
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havia autorizado o Governo Federal a utilizar esses 16 mil quilômetros de fibra ótica
para serviços de banda larga e inclusão digital.13
O backbone de fibra óptica da Eletronet conecta a maior parte das capitais
brasileiras, ligando extremos, como Fortaleza e Porto Alegre, e cobre as regiões
Nordeste, Sul e Sudeste, além dos Estados de Tocantins e Goiás. Ver figura 03.
Figura 03, Backbone de fibra óptica da Eletronet.14
Existem no Brasil outras redes de backbone:
a) Redes para educação, pesquisa e desenvolvimento, constituída por 9
backbones, situados em São Paulo (rede ANSP), Bahia, Santa Catarina, Minas Gerais,
Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Há
também um backbone de alcance nacional da RNP (Rede Nacional de Pesquisas);
b) Redes governamentais;
c) Redes comerciais. A maior estrutura de backbone dessa classe é a da
Embratel/MCI.
13 http://info.abril.com.br/noticias/tecnologia-pessoal/brasil-tem-16-mil-km-de-fibra-optica-ociosos-24112009-45.shl. Acesso em 12/10/2010 14 http://www.eletronet.com/
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Outro projeto para ampliação da internet no Brasil é a conexão com o Projeto
Internet 2, dos EUA. Trata-se de um projeto norte-americano de incremento da
agilidade do tráfego de informações pela rede, inicialmente visando a comunidade
acadêmica e de pesquisa. O projeto envolve um consórcio de 180 universidades dos
EUA denominado Ucaid (University Corporation for Advanced Internet Development),
agências de governo e indústrias. Mais tarde, a nova tecnologia deverá ser transferida
também para a área comercial.
No Brasil, o backbone da RNP2 interliga hoje todos os estados da federação,
como mostra o mapa na figura 05.
Figura 05, Backbone RNP2.15 Fonte: Rede RNP2 (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa)
A participação do Brasil no projeto Internet 2 foi formalizada em março de
2000, com a assinatura do “Memorandum of Understanding” entre a RNP e a Ucaid
(University Corporation for Advanced Internet Development). Porém, para que essa
nova tecnologia funcionasse, foi necessário não só conectar as redes nacionais à Internet
2 norte-americana, mas também implementar no Brasil as novas tecnologias.
Por isso, foi montado um novo backbone de alto desempenho, chamado RNP2,
voltado para instituições de pesquisa. Duas outras conexões internacionais de alto
desempenho foram desenvolvidas. Uma de 45 Mbps entre o Rio de Janeiro e a Flórida,
15 http://www.rnp.br/backbone/index.php. Acesso em 23/06/2010 as 22:35
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oferecida gratuitamente pela Global Crossing, empresa de telecomunicações presente
em 27 paises16, apenas para redes acadêmicas.
Existem outras redes de fibra óptica que interligam o interior do país como a
rede de Fibras no Sistema Elétrico da Eletronorte17, ver figura 04.
Figura 04: Backbone da Eletronorte. Fonte: SEATI MA – Secretaria adjunta de tecnologia da
informação e integração do Estado do Maranhão.
Essa rede é usada para a transmissão de dados da proprietária Eletronorte.
Através deste backbone, a empresa controla os fluxos de dados de todos os estados
ligados a ela. A rede de fibra óptica da Eletronorte é usada também por outras empresas,
principalmente de telecomunicações, que alocam uma determinada largura de banda
para trafegar seus dados, como é o caso da BrtOi.18
Fibra óptica em Mato Grosso
O backbone da Eletronorte entra em Mato Grosso por um link de Brasília e
atravessa o estado, como mostra a figura 4, acima. A ligação ente o estado de Mato
Grosso e o Estado de Rondônia é feita, segundo o mapa, por uma rede particular da
empresa Oi Telefônica.
16 http://www.globalcrossing.com/LATAM/pr/Default.aspx. Acesso em 24/08/2010 17 http://www.seati.ma.gov.br/dados/apresentacao_SEATI_2010.pdf. Acesso em 20/05/2011 18Disponível em: http://www.oi.com.br. Acesso em: 25/09/2010
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A rede de fibra óptica chega a Cuiabá, e posteriormente se espalha pelo estado
de Mato Grosso, passando por cidades como Nobres, Nova Mutum, Sorriso e Sinop,
abrangendo também a cidade de Rondonópolis. Esse link entre Brasília a Cuiabá se
estabelece em uma velocidade de 155 megabits.
Confirmando o que mostra a figura 04, o mapa abaixo apresenta toda a rede de
telecomunicações da empresa Oi Brasil Telecom. Mostra-se, neste mapa, as redes via
rádio, cabo óptico, satélite e outras tecnologias de rede que a compõe. Os troncos de
fibra óptica, por sua vez, confirmam o que este trabalho vem buscando mostrar: que
toda a rota do backbone de fibra óptica instalada em Mato Grosso parte do nó de
Brasilia, que se ramifica até a capital Cuiabá.
Cabe enfatizar que há dois tipos de redes de fibra ópticas presentes em Mato
Grosso: as redes aéreas e as redes de cabos enterrados. Um exemplo de ligação por rede
aérea é a conexão entre os municípios de Campo Verde e Primavera do Leste,
interligadas por uma rede de fibra óptica com cabos lançado em postes. Na conexão
entre os municípios de Cuiabá e Chapada dos Guimarães, os cabos da rede de fibra
óptica foram enterrados.
É importante salientar também como o backbone de fibra óptica da empresa
Embratel, representado pela linha amarela, tem o mesmo ponto de partida que a rede da
empresa Oi Brasil Telecom, o backbone de Brasília, e acompanha a rede da Oi Brasil
Telecom cortando o estado de Mato Grosso, tendo como seu destino o estado de
Rondônia, mais a oeste.
Cabe aqui fazer algumas observações com relação às outras tecnologias de rede
utilizadas para conectar o interior de Mato Grosso. Por exemplo, as ligações de todo o
Vale do Xingu são estabelecidas por uma longa rede de tecnologia a rádio SDH
(Synchronous Digital Hierarchy), marcado em traço azul, capaz de transmitir a uma
velocidade de 40 Gbps e podendo interagir com outras tecnologias como as redes
ópticas. Para cidades que se localizam nos extremos do território, como é o caso de
Rondolândia e Santa Cruz do Xingu, no extremo norte do estado, a conexão é
estabelecida via satélite (STFC), de propriedade da empresa Oi Brasil Telecom.
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Figura 05 – Redes de telecomunicações da empresa OI Brasil Telecom. Fonte: OI Brasil
Telecom
Rede de Fibra Óptica em Cuiabá
Cuiabá, pela maior demanda socioeconômica, é a grande centralizadora do nó do
backbone de fibra óptica em Mato Grosso, visto que todas as operadoras privadas fazem
da capital ponto de partida para outras regiões no estado.
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A RNP2 em Cuiabá é gerenciada pela Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT), e é distribuída por outros nove pontos, conforme a figura 08.
Figura 08: backbone de fibra óptica em Cuiabá19. Fonte: Rede Comep, (Redes Comunitárias de
Educação e Pesquisa)
Essa rede de fibra óptica em Cuiabá tem um total de 26.390 quilômetros, com
uma velocidade de conexão de 155 megabits por segundo.
O backbone é interligado a Brasília, como dito acima, e chega a Cuiabá pela
UFMT e segue depois para a Cemat (Centrais Elétricas de Mato Grosso), IF-MT
(Instituto Federal de Mato Grosso, campus 1), Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais), Secitec (Secretaria de Ciência e Tecnologia de Estado do Mato Grosso),
HUJM (Hospital Universitário Júlio Müller), Inmetro/Imeq-MT (Instituto de
Metrologia e Qualidade de Mato Grosso).
Diante disso, observa-se que a estrutura de cabeamento do backbone brasileiro
ainda está em pleno processo de expansão. Os quilômetros de fibra óptica instalados no
país derivam de uma história acadêmica, onde o processo inicial de pesquisa e
desenvolvimento se deu na Unicamp e posteriormente em empresas privadas.
É importante salientar também a importância do projeto RNP que presente em
todos os estados, propôs ser a conexão base entre o Brasil com o mundo. Seus pontos de 19 http://www.redecomep.rnp.br/?consorcio=16
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presença, como em Cuiabá através da Rede Ipê, vem implementando avanços na
infraestrutura de comunicação óptica na cidade há mais de duas décadas.
As operadoras de telecomunicações, por sua vez, traçam seus planos de
expansão tentando atingir o máximo de localidades possível, mesmo que as tecnologias
ópticas em alguns casos não sejam utilizadas, tentando satisfazer as exigências do
governo em expandir a infraestrutura de telecomunicações do país, como é o caso da
operadora Oi Brasil Telecom e Embratel.
Especificamente no caso de Mato Grosso o backbone da Oi Brasil Telecom é de
extrema importância para a conexão das cidades do interior do estado tanto com a
capital Cuiabá e também com o planeta. Interagem neste contexto também as redes da
Embratel e Eletronorte, aparentemente como redes de fluxo secundárias no estado, se
considerada a dinâmica das conexões, embora os dados não sejam muito claros nesse
sentido e demande futuras investigações.
Conclusões
A realidade da estrutura de fibra óptica no Brasil, tendo Cuiabá e Mato Grosso
como lugares geográficos de onde se faz a observação e análise dos dados colhidos,
deve considerar necessariamente as condições do capitalismo global em suas relações,
invariavelmente tensas, com as políticas nacionais de desenvolvimento e as demandas
socioeconômicas e políticas da sociedade civil.
Nota-se, no caso de Cuiabá e Mato Grosso, a realidade mais próxima e
fornecedora dos dados empíricos da pesquisa em sua fase exploratória, que a infra-
estrutura de cabos de fibra óptica passa necessariamente tanto pela efetivação de
políticas públicas nacionais quanto pela criação de um mercado regional em sua
dimensão hoje global dos investimentos internacionais.
O interior de Mato Grosso, em sua economia ainda bastante focada na pecuária e
na agricultura, tem a capital Cuiabá movida a comércio e serviços. Do ponto de vista da
economia informacional, torna-se premente que a infra-estrutura de fibra óptica se
constitua como condição de desenvolvimento, na medida em que atividades nos mais
diversos campos profissionais passam a depender da capacidade de fluxo de
informações e transmissões de dados.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Aos 30, fibra óptica mudou as telecomunicações do país. Disponível em: http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/maio2007/ju359pag6-7.html http://www.oi.com.br http://www.globalcrossing.com/LATAM/pr/Default.aspx http://www.eletronet.com/ http://www.rnp.br/backbone/index.php http://www.telegeography.com/