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III Congresso Consad de Gestão Pública REDE PARTICIPATIVA DE ELABORAÇÃO DE PROJETOS COMUNITÁRIOS Flávia da Silva Miranda Marina Marinho de Melo Brochado

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III Congresso Consad de Gestão Pública

REDE PARTICIPATIVA DE ELABORAÇÃO DE

PROJETOS COMUNITÁRIOS

Flávia da Silva Miranda Marina Marinho de Melo Brochado

Painel 20/078 Planejamento e participação local

REDE PARTICIPATIVA DE ELABORAÇÃO DE PROJETOS COMUNITÁRIOS

Flávia da Silva Miranda Marina Marinho de Melo Brochado

RESUMO A elaboração de projetos por associações comunitárias é uma demanda recorrente nas regiões Norte e Nordeste de Minas, principalmente como forma de participação no Programa de Combate a Pobreza Rural (PCPR) – programa coordenado pela Secretaria de Estado Extraordinária de Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas (Sedvan) e pelo Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas (Idene). Esse programa apóia, a fundo perdido, projetos de associações da zona rural para melhoria da qualidade de vida no campo. Para elaboração dos “subprojetos” do PCPR as associações contam com a ajuda de um projetista da Emater, na maioria da vezes. No entanto, observa-se que existe certa dificuldade de apropriação comunitária em relação aos projetos. Nota-se que uma das principais causas desse fato é em decorrência da diminuta participação coletiva nas ações e decisões da associação. Portanto, com o objetivo de aumentar a autonomia das lideranças comunitárias para elaboração de projetos, aumentando com isso a apropriação deles pelos projetos, o governo de Minas criou o programa Rede Participativa de Elaboração de Projetos Comunitários, desenvolvido pela Oscip Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais (CeMAIS) em parceria com o sistema Sedvan/Idene. O Programa Rede Participativa capacita lideranças comunitárias das áreas de atuação da Sedvan/Idene para elaboração de projetos, considerando que projetos são a organização de idéias para solucionar problemas. Foi pensada uma metodologia que contribui para organização dessas idéias de forma participativa e, a partir disso, demonstrado como as idéias devem ser estruturadas na apresentação de um projeto. O trabalho aconteceu em um encontro de dois dias e foi realizado em oito municípios, onde o Idene tem escritório. O ponto de partida era o desejo dos participantes, a vontade, o interesse, já que isso é condição necessária para que haja apropriação. Eles falavam dos problemas que os incomodavam, do que gostariam de mudar e, juntos, utilizando a metodologia de árvore de problemas, a questão era compartilhada, buscando entender onde seria possível e necessário intervir. A partir desse entendimento, eram pensados os passos de um projeto: introdução, diagnóstico, objetivos, público-alvo, estratégia de intervenção, atividades, indicadores, cronograma, responsáveis e orçamento. O presente artigo traz relatos sobre essas intervenções e sobre a forma como os participantes interpretam a realidade e as propostas de intervenção que eles fazem: algumas partindo da organização da própria comunidade para se alcançar os objetivos e outras por meio de parcerias. Pelo simples fato de que não existe um modelo universal para se elaborar projeto e este, por sua vez, é feito buscando solucionar um problema, e os problemas são variados e multifatoriais, apostou-se em uma metodologia que fosse facilmente adaptado às diversas realidades. Tal metodologia implica em grande interação com os beneficiados e, em detrimento disso, reduzida

programabilidade. O importante de ser observado é que esse tipo de modelo proporciona troca e gera conhecimento: “Nos modelos de implementação adaptativa não se espera que a política seja implementada conforme o previsto, mas que ela se adapte, isto é, que a implementação gere aprendizagem”. Embora o Programa Rede seja para capacitar lideranças em elaboração de projetos, este programa pode ser aproveitado também por gestores públicos, pois o programa aponta vários arranjos possíveis para melhor aproveitamento de políticas públicas voltadas para as regiões norte e nordeste de Minas. É um programa no qual não só as lideranças comunitárias podem aprender sobre como elaborar projetos, como também possibilita que gestores públicos conheçam a realidade e possibilidades de intervenção. Observamos também, por meio de relatos dos participantes e como era de se esperar pela metodologia adotada, que os resultados são muito variados. Alguns utilizaram o que aprenderam para repensar um projeto que estava em execução, outros para propor coisas novas, outros para repensar um projeto que já havia escrito e não tinha sido aprovado. Alguns que lidam com elaboração de projetos disseram ainda que a capacitação contribuiu para conseguirem elaborar projetos de forma mais participativa. O que se sabe, por meio da avaliação de satisfação, é que consideraram o curso proveitoso para as atividades que desenvolvem na comunidade e tiveram uma avaliação positiva do curso. Por fim, é importante ressaltar que um programa que contribui para aumentar a clareza e apropriação dos participantes para propor projetos deve estar aliado a outro que dá condição para que isso se concretize. Da mesma maneira, um programa que oferece recurso para que os atendidos executem propostas para melhoria de sua qualidade de vida deve estar aliado a um que busque a clareza desses atendidos em como melhorar tal condição de vida. Ou seja, o programa Rede Participativa de Elaboração de Projetos contribui para aumentar a efetividade do PCPR, fazendo com que as oportunidades oferecidas por este sejam melhor aproveitadas e deixa evidente a importância de uma participação organizada e consciente da comunidade para o combate a pobreza.

SUMÁRIO

O PROGRAMA REDE PARTICIPATIVA, A CO-GESTÃO COMUNITÁRIA E O COMBATE À POBREZA..................................................................................... 04

INTRODUÇÃO........................................................................................................... 05

METODOLOGIA.........................................................................................................09

A CAPACITAÇÃO – PRÁTICA E RESULTADOS...................................................... 13

CRÍTICAS ÀS FORMAS USUAIS DE ELABORAÇÃO DE PROJETOS/PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS.....................................................17

AVALIAÇÃO FEITA PELOS PARTICIPANTES SOBRE O PROGRAMA.................. 19

ANALISANDO A METODOLOGIA ADOTADA: UM OLHAR CRÍTICO SOBRE SUA EFETIVIDADE......................................................................................

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CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 24

REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 26

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O PROGRAMA REDE PARTICIPATIVA, A CO-GESTÃO COMUNITÁRIA E O

COMBATE À POBREZA

O Programa Rede Participativa de Elaboração de Projetos busca orientar

a sociedade para agir em prol da resolução de problemas comunitários, ou o que

Elinor Ostrom, ganhadora do Prêmio Nobel de Economia em 2009, sugere como co-

gestão comunitária. Esse movimento da comunidade mostra-se essencial para o

combate à pobreza e mostra-se eficiente para a gestão de recursos e superação de

problemas comuns.

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INTRODUÇÃO

O Programa Rede Participativa de Elaboração de Projetos surgiu como

uma demanda da Secretaria de Estado Extraordinária para o Desenvolvimento dos

Vales do Jequitinhonha e Mucuri do Norte de Minas (Sedvan)/ Instituto de

Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas (Idene) ao Instituto de Governança

Social (IGS)/Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais (CeMAIS). Um dos objetos do

convênio era a capacitação de 100 lideranças comunitárias da área de atuação

dessa Secretaria para elaboração de projetos.

Para melhor compreender como essa capacitação poderia contribuir para

o desenvolvimento das comunidades que seriam atendidas, foi feita uma análise do

Programa de Fortalecimento Gerencial de Associações (PFG/PCPR), realizado em

2008 numa parceria entre IGS/CeMAIS e Sedvan/Idene. A análise apresentou a

situação de 23 comunidades beneficiadas pelo Programa de Combate à Pobreza

Rural (PCPR). Além da consulta à análise, foram feitas reuniões com pessoas

ligadas à direção do PCPR.

O PCPR atende comunidades da zona rural que apresentam baixo Índice

de Desenvolvimento Humano (IDH). Para serem beneficiadas pelo Programa é

preciso que essas comunidades encaminhem suas propostas para o Conselho

Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) por meio de associações

comunitárias. No conselho são definidas as propostas prioritárias e, de acordo com a

verba destinada a tal comunidade, o recurso é liberado.

A elaboração dos subprojetos do PCPR, na maioria das vezes, é feita

por um técnico da Emater. Observa-se que, no geral, as propostas são pensadas

em função da oferta, não pela demanda. Assim, corre-se o risco de a oferta ser

interessante, mas não para aquela comunidade. Além disso, dessa forma, foca-se

no que vão receber e muitas vezes não se tem clareza do que será solucionado

com isso, podendo o que é ofertado ganhar outras utilidades diferentes do

pensando inicialmente.

Pela análise do PFG/PCPR, observou-se uma dificuldade dos

beneficiados definirem o que querem e devem fazer em suas comunidades para

superar os entraves/problemas comuns. Ao mesmo tempo, percebeu-se que a

chegada do PCPR era considerada como um convite à organização comunitária.

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Antes do Programa, algumas associações estavam desorganizadas e poucas

pessoas participavam das reuniões. Durante a fase de elaboração do projeto,

gerou-se uma expectativa, aumentaram as possibilidades das pessoas se

reunirem, discutirem qual subprojeto vão apresentar para pleitearem recursos,

mas nem sempre essa participação se sustenta com o passar do tempo. Além

disso, constatou-se que algumas propostas não eram fator de mobilização, pois

apenas uma pessoa se interessava e coordenava a ação do subprojeto, bem

como usufruía de seus benefícios. Ou seja, não houve apropriação da proposta

por parte da comunidade.

Portanto, era preciso uma metodologia de elaboração de projetos que

contribuísse para a apropriação das oportunidades oferecidas. Para isso, os projetos

deveriam ser construídos partindo do interesse dos proponentes, já que o interesse

é condição para que haja apropriação, e já se tinha a clareza de que as demandas

são específicas e complexas, portanto, dependem do envolvimento da comunidade.

Era preciso trabalhar não apenas a capacidade de elaborar um projeto, mas também

de criticá-lo, de perceber o que é possível e realmente relevante para o público a

que se destina, tinha de ser feito de modo que considerasse as vivências e

particularidades dos envolvidos.

Além disso, a metodologia deveria provocar uma organização social,

evidenciando não só o que o governo (por meio do PCPR) poderia oferecer, mas

também como a comunidade deveria agir para solucionar seus problemas e

conseguir parcerias, ou seja, era preciso o compartilhamento de responsabilidades.

Esse é o ponto que confere importância ao Programa Rede para o combate à

pobreza, afinal, pobreza não se restringe à condição econômica e depende da

apropriação das oportunidades de mudança pelos atores atendidos.

A pesquisadora da Fundação João Pinheiro, Carla Bronzo, salienta a

ligação da pobreza a aspectos intangíveis, que dificultam a apropriação da vida, e a

importância das relações construídas pelos indivíduos:

Baixa-estima, resignação, apatia, ressentimento, subalternidade, baixa expectativa quanto ao futuro, são expressão de natureza não material que acabam por limitar as possibilidades de as pessoas pobres se apropriarem de sua vida e acharem saídas para situações em que se encontram. É importante ter claro, entretanto, que tais expressões de natureza psico-social são construídas nas interações com os vizinhos, família, comunidade e instituição (CARNEIRO, 2005).

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Várias dessas expressões são observadas nas populações do Norte e

Nordeste de Minas. Como apontado por Bronzo, as possibilidades de saída dessa

situação devem contribuir para que os cidadãos do Norte e Nordeste de Minas

tomem para si o destino de suas vidas e busquem saídas para as barreiras que

encontram. Entende-se, portanto, que é preciso políticas públicas que contribuam

para a formação de capital social, ou seja, que favoreçam a organização

comunitária por meio do compartilhamento de responsabilidades, como definido

por Miracy Gustin:

Capital social e humano deve ser concebido como a existência de relações de solidariedade e de confiabilidade entre indivíduos, grupos e coletivos, inclusive a capacidade de mobilização e organização comunitárias, traduzindo um senso de responsabilidade da própria população sobre os seus rumos e sobre a inserção de cada um no todo (GUSTIN, 2008).

Em outras palavras, é preciso exercer a “governabilidade democrática”

definida por Bernado Toro (2008) como a “capacidade de uma sociedade de

organizar a si mesma para poder alcançar bens coletivos que a façam mais digna a

cada dia”.

A efetividade de gestões como essas, em que a comunidade consegue

se organizar e compartilhar responsabilidades, foi provada pelos estudos de

Elinor Ostrom, laureada com o Prêmio Nobel de Economia de 2009. Em seu

trabalho, Ostrom estuda as relações para a preservação de bens comuns, que

fogem das relações tradicionais do mercado, mas contribuem para o

desenvolvimento das comunidades.

Ostrom observa que o controle de recursos de uso comum é, muitas

vezes, difícil e problemático; afinal trata-se de algo que é de todos e que ninguém

tem direito a ter mais controle ou provocar maior exploração do que outros. Ao

mesmo tempo, ser comum não significa que deve haver livre acesso, pois isso pode

levar à escassez daquilo que pertence a todos. Para resolver esse problema, ela

sugere um sistema de co-gestão comunitária, em que há compartilhamento de

responsabilidades entre diversos usuários ou entre estes e o governo. Idéia similiar

ao que o Programa Rede Participativa pretende provocar (FOLHAONLINE, 2009).

O estudo de Ostrom constata que as regras criadas por usuários diretos,

por serem legitimadas por eles e baseadas em iniciativas que foram desenvolvidas

ao longo do tempo, tendem a ser mais sustentáveis. Além disso, quando se

apropriam do que é comum, o interesse no desenvolvimento e acompanhamento de

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ações para preservá-lo é espontâneo, não ficando atrelado a incentivos financeiros

de forma direta, o que, muitas vezes, dispensa investimentos governamentais para

monitorar e sancionar os que vão contra o bem comum (FOLHAONLINE, 2009).

Elinor Ostrom comprova que os usuários podem produzir regras próprias

e novas, eficientes para a gestão de recursos comuns, a partir da apropriação

comunitária

Os esforços para minimizar a pobreza devem ir no mesmo sentido,

provocando o compartilhamento de responsabilidades e apropriação das

possibilidades oferecidas. Ainda não foi realizada uma avaliação do PCPR, mas é

evidente que nos casos em que há apropriação da proposta do subprojeto e

compartilhamento de responsabilidade, o Programa é muito mais eficiente no seu

objetivo: combater a pobreza.

A seguir, discorre-se sobre a estrutura do Programa.

Objetivo geral

� Aumentar a autonomia e apropriação das lideranças comunitárias para

proposição de projetos.

Objetivos específicos

� Provocar a organização comunitária para o compartilhamento de metas

comuns

� Incentivar o fortalecimento dos vínculos de solidariedade entre os

atores sociais;

� Repassar e explicar a estrutura de um projeto;

� Estimular o envolvimento e apropriação da população por assuntos de

interesse público.

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METODOLOGIA

Uma metodologia de elaboração de projetos que contribua para

apropriação e compartilhamento de responsabilidades pretende uma mobilização, ou

seja, um envolvimento dos beneficiados com o que propõem no projeto. Nesse caso,

o primeiro passo é definir o problema, em seguida, comungá-lo e, depois, definir

propostas de intervenção. Nesse sentido, foi proposto o seguinte plano de trabalho:

1 – Primeira etapa: Pré-capacitação

As indicações das lideranças foram feitas por cada regional do Idene com

até quinze lideranças, sendo pelo menos três da mesma região. Dessa forma, os

membros de uma mesma comunidade puderam se ajudar na capacitação e devem

se auxiliar na realização do projeto, melhor aplicando a metodologia usada na

capacitação em suas comunidades. Além disso, tendo a capacitação se concentrado

em algumas comunidades, ao invés de membros isolados, possibilitou-se um melhor

suporte e acompanhamento do desenvolvimento dos projetos.

Foi aplicado um questionário com a finalidade de diagnóstico para

identificar as dificuldades e expectativas das lideranças indicadas a participar da

capacitação em relação à elaboração de projetos. Esse diagnóstico serviu também

para avaliar o programa, comparando o conhecimento que os participantes tinham

antes e depois da capacitação.

2 – Segunda etapa

Encontro – 1o dia

Elaboração de projetos de vida

Na capacitação, para aproximar os participantes da prática de elaboração

de projetos, o encontro iniciou-se com a elaboração de projetos de vida. Algumas

perguntas foram feitas para orientar o raciocínio dos participantes, como: O que

você pretende para sua vida? Quais são seus sonhos, planos? O que precisa fazer

para conseguir isso? Como fará para conseguir? O que indica que você avançou?

Para quando são esses planos? Quanto vai custar? Depois disso, apresentou-se um

exemplo onde foram apontados: objetivo geral e específico, atividades, cronograma,

orçamento. Isso exemplificou a importância de elaborar projetos.

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Dinâmica “eu no mundo”

Em seguida, com o intuito de introduzir os conceitos de rede social e

realizar uma apresentação entre os participantes, foi feita uma dinâmica: “eu no

mundo”.

Os participantes receberam uma folha branca, canetinhas, lápis de cor

e lápis de cera e nessa folha expressaram qual mudança gostariam de realizar

em sua comunidade.

Depois as folhas foram afixadas no crachá de cada um e em roda os

participantes falaram seu nome, sua comunidade e explicaram o desenho.

Depois foi entregue um barbante a um dos participantes, que deveria

jogar o fio e se unir a outro participante por afinidade ou interesse comum e assim

seguiu, podendo o barbante voltar a algumas pessoas até que todos estivessem

incluídos.

No final da dinâmica fez-se a seguinte reflexão: Qual a sensação que

tiveram antes e depois da dinâmica? Sentiram mais fortalecidos antes ou depois? O

que uniu todos? Ponderações feitas: Uma vontade comum, um interesse comum,

por meio do barbante, que é o elo entre os pontos da rede. Foi um movimento

voluntário e sem hierarquia, todos foram incluídos porque poderiam contribuir de

alguma forma com o que desejavam e o que coordenou esse movimento foi a

vontade de cada um. É uma estrutura aberta e, quanto mais pessoas conseguimos

envolver, mais forte a rede fica.

Outras considerações: Foi importante pensar também quais pessoas com

vontades/trabalhos semelhantes existem, ou seja, se as redes existem, é preciso

acioná-las, é preciso que haja uma coordenação de ações para que esses atores

(pontos) colaborem uns com os outros (formem os elos), otimizando o alcance de

resultados. Esse é o primeiro passo para a elaboração de projetos: definir quais

mudanças queremos realizar e mobilizar os interessados para tal mudança.

Entendendo o problema

Na maioria das vezes as mudanças desejadas são complexas, envolvem

uma série de causas importantes de serem entendidas para assim identificar onde é

possível intervir. Para isso, foi construída com os participantes uma árvore de

problemas.

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O problema central era definido de acordo com a mudança que gostariam

de realizar. A partir disso, eles se reuniram, em dupla ou trio, e fizeram uma lista do

que observavam como causa do problema. A monitora recolhia os apontamentos e

estes eram discutidos com o grupo e encaixados na árvore. Em seguida foi feita a

mesma coisa para construírem as conseqüências.

Escopo do projeto

Usando o entendimento que tiveram sobre o problema, o que foi apontado

como causa e conseqüência, foi feito um levantamento de dados que poderiam ser

buscados para comprovar o problema, sendo usados também para compor o

diagnóstico do projeto.

Em seguida explicou-se a construção da justificativa, apresentaram-se os

critérios para definição da população beneficiada ou público-alvo e foi construída a

árvore de objetivos com os participantes. Com a árvore já construída, diferenciou-se

objetivo geral de objetivos específicos.

Depois disso houve uma explanação sobre estratégia de intervenção,

metas e indicadores, cronograma e orçamento e foram apresentadas algumas

planilhas que podem auxiliar na elaboração de projetos.

Em todo trabalho buscou-se o entendimento dos participantes de que não

existe uma forma exata para elaborar projeto. Mesmo nas teorias, cada autor sugere

uma coisa, apresenta de uma forma. Contudo, alguns itens são padrões (como

título, dados do proponente, introdução, diagnóstico, justificativa, objetivos, público

alvo ou população beneficiada, estratégia de intervenção ou plano de ação,

cronograma, orçamento), mudando apenas a forma de apresentá-los. Então,

entendendo cada uma dessas etapas, o importante seria cada um achar a forma que

dê mais segurança para dizer o que querem e de se organizar para conseguir.

Encontro – 2o dia

Prática

Como grande parte das dúvidas surge na prática, no segundo dia de

capacitação os participantes se dividiram em grupo, por alguma afinidade (mesma

comunidade ou interesse por mudanças semelhantes) e estruturaram um projeto.

Os participantes foram orientados e acompanhados pela instrutora

durante todo processo.

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No final do segundo dia os participantes tinham compreendido as etapas

necessárias para elaborar um projeto. O objetivo era de que isso os estimulasse a

elaborar projetos e a trabalhar a organização comunitária para alcançarem

mudanças.

Alguns saíram com projetos já estruturados para serem executados e/ou

buscarem parcerias, necessitando apenas de coletar os dados que foram levantados

no diagnóstico e realizarem ajustes de acordo com o interesse da comunidade que

pretendem beneficiar. Outros deverão ser adaptados, ou seja, construir “com” a

comunidade a proposta, de acordo com a realidade. Alguns dependeram apenas da

mobilização da comunidade para executar o que foi pensado. E outros, mais

complexos e ousados, dependeram de ajustes e envolvimento de vários atores

ligados aos problemas discutidos.

No final do segundo dia os participantes fizeram uma avaliação da

capacitação quanto ao curso (tema, tempo, conteúdo), instrutora (informação,

conhecimento e didática) e aspectos gerais (local, material e organização), bem

como deram sugestões.

3 – Terceira etapa: Assessoria e acompanhamento

O CeMAIS se colocou à disposição para qualquer acompanhamento e

orientação sobre a elaboração de projetos entre a primeira e segunda etapa. Os

contatos (endereço, telefone, e-mail) foram divulgados em todas as capacitações.

Para estimular a elaboração de projetos, bem como acompanhar e avaliar

essa ação, o CeMAIS encaminhou uma carta para cada participante do Programa

Rede Participativa de Elaboração de Projetos Comunitários.

4 – Quarta etapa: Encontro de avaliação

Aproximadamente três meses depois da capacitação deverá ser realizado

um encontro de um dia com os mesmos participantes em cada regional para estes

fazerem relatos de suas experiências e da forma como aproveitaram a capacitação.

A partir disso deve ser feita uma avaliação (relatório final) dessas ações e do

Programa Rede, orientando para possíveis mudanças.

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A CAPACITAÇÃO – PRÁTICA E RESULTADOS

A capacitação aconteceu nos locais em que o Idene tem escritório e no

total contou com 102 participantes.

No primeiro dia de capacitação os participantes escolheram os seguintes

problemas para trabalhar os passos de um projeto com o grupo:

Município Problema Central

São Francisco Desequilíbrio ecológico

Montes Claros Pouca participação dos atores locais em movimentos sociais

Janaúba Pouca participação da comunidade nas questões sociais

Teófilo Otoni Pouca participação comunitária nas questões sociais

Jequitinhonha Pouca participação dos associados nas reuniões da associação

Araçuaí Pouca participação nas associações

Salinas Falta de consciência ambiental

Diamantina Pouca participação dos moradores nas associações

No segundo dia os participantes se dividiram em grupos e trabalharam os

seguintes temas:

Município Problema Central

− A pobreza rural da Caatinga

− Preparo inadequado do solo São Francisco

− Falta de acesso das comunidades Toco Preto, Maruaz e Taboquinha à escola

− A degradação dos rios Quebra Ovo e Córrego Pernetas

− Degradação do meio ambiente Montes Claros

− Falta de estrutura física para o desenvolvimento de atividades comunitárias

− Degradação ambiental Janaúba

− Dificuldade de comercialização

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− Êxodo Rural

− Dificuldade de geração de emprego e renda Teófilo Otoni

− Pouca participação da comunidade na Associação

− Falta de sede para realização de atividades comunitárias na comunidade de Oratório

− Precariedade de estrutura física da feira livre

− Falta de geração de emprego e renda

Jequitinhonha

− Desvalorização de ações culturais tradicionais

− Redução da capacidade de recarga dos mananciais (Córrego dos Coelhos, Ponto dos Volantes)

Araçuaí − Desinteresse da comunidade escolar (pais, alunos,

professores e diretores) pela escola

− Poluição do rio Salinas

− Abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes Salinas

− Ineficiência na coleta de lixo

Diamantina − Baixa produtividade agrícola

Percebe-se que um dos problemas mais citados foi a pouca participação

da comunidade nas associações. Uma das causas desse problema, mencionada

pelos participantes, é o entendimento equivocado da população sobre o papel da

associação. Muitos percebem a associação apenas como meio de captar recursos e

não como espaço para debater e solucionar problemas comunitários. Além desse

entendimento cultural, a pouca clareza em relação ao papel da associação é

decorrente também do pouco conhecimento da direção sobre a gestão da

associação. Isso acontece pela dificuldade de troca de informação entre os diretores

e falta de capacitação deles em relação à gestão. Outro fator que pode gerar o

entendimento equivocado é a pouca divulgação das ações da associação.

Outro motivo que, em geral, está diretamente ligado à pouca participação

é a falta de união, ou enfraquecimento dos laços de solidariedade entre os

moradores. Acreditam que o enfraquecimento é decorrente da falta de ações

coletivas, do comodismo e da falta de abertura para que outros atuem. Uma causa

que atribuem ao comodismo é a falta de interesse por ações coletivas, gerada pelo

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descrédito decorrente da frustração causada pela falta de apoio e pelo fato de uma

parcela da comunidade não acreditar em seu potencial. A baixa crença no próprio

potencial é atribuída à pouca auto-estima, gerada pela baixa expectativa em relação

ao futuro e pela falta de incentivo.

A falta de abertura para que outras pessoas atuem em ações da

associação acontece pela ausência de incentivo à participação por parte das

autoridades (poder público e presidentes de associações) e pelo medo de

assumirem responsabilidade. Este é decorrente da insegurança, causada pela falta

de conhecimento sobre como assumir algumas funções. Isso acontece pela baixa

escolaridade da população, pela falta de informação sobre a gestão de associação

e, em alguns casos, pela monopolização da informação, gerada pelo egoísmo.

A partir desse entendimento, eles percebem ações que podem realizar e

conseguem ter maior clareza da forma como gostariam de receber o apoio de

terceiros.

Diante desse problema (a pouca participação da comunidade na

associação), algumas sugestões de ação foram: capacitação da direção sobre o

papel da associação; um quadro de avisos, em local de fácil acesso para o público

pretendido, para troca de informações entre os agricultores e outro dentro de cada

comunidade informando as ações e resultados da associação; elaboração de rádio-

novela sobre o papel da associação; realização de atividades coletivas como grupo

de jovens, grupo da terceira idade, domingo na praça com a criançada, panela junta

(cada família leva um prato e realizam uma refeição coletiva), entre outras.

Outra preocupação fortemente demonstrada é em relação à degradação

ambiental. Para intervir nesse problema, um grupo pensou em aumentar a

conscientização, introduzindo uma disciplina sobre o tema na escola e realizando

campanha com palestras, programas na rádio, cartazes e cartilhas voltados para

preservação ambiental. Outra ação seria realizar o tratamento de lixo. Para isso,

sugeriram a construção de aterros sanitários, realização de coleta seletiva e

formação de cooperativas para produção de sacolas ecológicas.

Outro grupo focou a ação na preservação da fauna e da flora. Para isso

seria feita reprodução de espécies em extinção e seriam colocadas placas de

conscientização em áreas de preservação. Outro objetivo definido por esse grupo é

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o reflorestamento. Para abordar a relevância da temática, sugeriram a realização de

teatro, palestras, programa educativo de rádio, entre outras ações.

Para trabalhar o manejo integrado do solo, um grupo optou por

solucionar: primeiro, o assoreamento, causado pelas estradas mal planejadas;

segundo, a destruição das matas ciliares e das áreas de topo, causada pelo

desmatamento ocasionado pelo uso indiscriminado do fogo e terceiro a

compactação do solo, causado pelo excesso de animais e pelo uso incorreto de

máquinas, vindos da falta de consciência sobre o uso adequado do solo.

Outro grupo pretende revitalizar dois rios de suas comunidades. O grupo

percebeu que o problema tem duas grandes causas: desproteção das nascentes e

falta de consciência ambiental. Portanto, esses são os focos da estratégia de

intervenção proposta por eles.

A despoluição do rio foi trabalhada por outro grupo para complementar

uma ação já prevista em seu município, mas que não envolvia a comunidade. Para

isso, foram sugeridas ações como: formar comissão para acompanhar as ações de

despoluição do rio e fiscalizar o trato da comunidade com o mesmo; divulgar no site

e na rádio notas sobre o andamento das ações de despoluição; realizar evento de

“contação de causos” relacionados ao rio; promover oficina com crianças para a

produção de brinquedos com produtos recicláveis, palestras, concurso de paródias

ou poesias.

Ao longo do período de capacitação os participantes fizeram

considerações à metodologia e concepção tradicional de elaboração de projetos,

seguem alguns registros dessas críticas.

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CRÍTICAS ÀS FORMAS USUAIS DE ELABORAÇÃO DE PROJETOS/

PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS

Algumas críticas foram observadas pelos beneficiados em relação à

forma de implementação usualmente utilizada em programas governamentais:

O governo tem mania de mandar as coisas de cima pra baixo e nós somos obrigados a aceitar, até pela nossa carência, e às vezes não é o que a gente quer, o que a gente precisa.

Quando a gente traz o projeto pronto para aplicar em um lugar é muito complicado. Às vezes a gente vai levando, mas chega uma hora que não dá e o projeto pára.

As conseqüências disso podem ser observadas na não apropriação da

comunidade em relação à proposta de algumas políticas públicas, acarretando

assim no desperdício de recurso, enquanto as carências permanecem.

Muitos beneficiados percebem que precisam se organizar para aproveitar

oportunidades e provocarem mudanças, inclusive nos formatos das políticas

públicas:

Como o recurso é pouco, a gente via que para conseguir qualquer coisa a gente precisava se unir.

Se não tiver união fica difícil conseguir os benefícios.

Hoje o mundo é dos organizados.

A prefeitura tem que ser para ajudar, não para resolver.

É preciso ver a prefeitura como uma parceira, isso dá mais liberdade.

E apontam também dificuldades e meios para isso:

A gente já faz um pouco e tem muita coisa pra fazer. A gente precisa saber mais.

A gente aprende participando.

E percebem a possibilidade de elaborarem projetos, como uma alternativa

contrária ao que está posto:

O projeto é um documento para gente expressar o que a gente realmente necessita e buscar apoio.

Mesmo nas políticas em que eles têm liberdade de propor é importante

observar que isso não é uma coisa banal. Se organizarem para saber o que querem

e dizerem isso de forma clara e sistemática para o que o outro entenda não é

simples e, às vezes, não sabem nem por onde começar:

Eles querem que a gente faça, mas não nos dão a base.

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O Programa Rede vem atender a essa demanda, considerando que o

primeiro passo para elaboração de projetos é ter clareza do que querem e depois

organizar as idéias dentro da estrutura de um projeto. O Programa Rede oferece

uma possibilidade de discussão sobre o que querem e apresenta as etapas de

um projeto.

Algumas percepções demonstram o que isso representa para eles:

Elaborar projeto é uma tarefa de muita responsabilidade. É possível mudar muita coisa a partir de um projeto.

O homem que não sonha, não dá um passo.

Além das críticas à metodologia tradicional de elaboração de projetos

supracitadas ao final da capacitação os participantes avaliaram o trabalho realizado,

seguem os resultados.

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AVALIAÇÃO FEITA PELOS PARTICIPANTES SOBRE O PROGRAMA

Considerando o total das avaliações, temos os seguintes indicadores:

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ANALISANDO A METODOLOGIA ADOTADA: UM OLHAR CRÍTICO SOBRE SUA

EFETIVIDADE

Partindo do fato de que não existe um modelo universal para se elaborar

projeto e que um projeto é feito para solucionar um problema e definir as maneiras

de solucioná-lo, apostou-se em um modelo que fosse facilmente adaptado às

diversas realidades. A metodologia usada no Programa Rede Participativa de

Elaboração de Projetos Comunitários implica em grande interação com os

beneficiados e, em detrimento disso, reduzida programabilidade.

Pelos relatos descritos em relação a execução do Programa é possível

perceber que a implementação, bem como os resultados, são diferentes em cada

lugar, mesmo com a utilização de uma mesma metodologia. O Programa Rede

Participativa tem, portanto, as seguintes características:

Característica Situação pouco estruturada

Escopo de mudança Intenso

Grau de conflitos sobre metas e meios Alto

Grau de certeza da tecnologia Baixo

Arranjo institucional Frouxamente articulado

Característica do ambiente Instável

Fonte: adaptado de Costa (2007).

Ou seja, o grau de mudança em cada execução de Programa Rede é

intenso, variando de lugar para lugar, assim como o uso da tecnologia é incerto, pois

a aplicação muda em cada localidade. Isso ocorre porque em cada capacitação os

participantes definem um problema a ser trabalhado e observam diferentes causas e

conseqüências e, a partir disso, cada um realiza um tipo de intervenção.

Os resultados e as metas que se podem esperar desse programa também

são muito variados, o que gera uma dificuldade de mensuração dos mesmos: alguns

executam ações do projeto que pensaram na capacitação, outros elaboram outros

projetos; há também quem usa a capacitação para repensar sua forma de trabalhar.

Os arranjos institucionais têm alto grau de flexibilidade, podendo ser observado na

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escolha da data de realização dos trabalhos, que dependem da disponibilidade do

instrutor e dos participantes, na definição do local e até na adaptação do tempo de

realização do trabalho.

A característica do ambiente também é outro fator instável, que varia de

acordo com a realidade de cada lugar, com os recursos que existem disponíveis e

até com disposição pessoal dos participantes no dia.

O mais importante de ser observado é que esse tipo de modelo

proporciona troca e gera conhecimento:

Nos modelos de implementação adaptativa não se espera que a política seja implementada conforme o previsto, mas que ela se adapte, isto é, que a implementação gere aprendizagem (COSTA, 2007, p. 203).

É possível observar que, embora o Programa Rede seja para capacitar

lideranças em elaboração de projetos, esse programa pode ser aproveitado também

por gestores públicos, pois aponta vários arranjos possíveis para melhor

aproveitamento de políticas públicas voltados para as regiões norte e nordeste de

Minas. É um programa que não só as lideranças comunitárias podem aprender

como elaborar projetos, como também possibilita que gestores públicos conheçam a

realidade e possibilidades de intervenção, como apontado nos relatos acima.

Além disso, a formulação do programa se dá de modo constante,

apresentando adequações e sendo concluída conforme as necessidades

observadas na aplicação. Portanto, a execução gera aprendizados que são

refletidos na própria forma de realizar o programa.

Enfim, percebe-se que o Programa Rede além de oferecer informação às

lideranças atendidas sobre como elaborar projetos, gerou conhecimento sobre a

própria forma de capacitar pessoas em elaboração de projetos, assim como

possibilita uma nova visão e possível abordagem do governo em relação às suas

políticas de projeto.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se na construção da árvore de problemas que as pessoas têm

um entendimento profundo e muito próprio dos problemas, bem como suas causas e

conseqüência, mas têm dificuldade de organizar as idéias para elaborar uma

proposta. A construção da árvore contribui para tal organização e para visualizarem

quais pontos são possíveis e necessários de intervenção e deixa mais claro quem

são os responsáveis (ou os co-responsáveis) por tais intervenções e o que desejam

das parcerias.

A partir da definição e do compartilhamento dos problemas por meio do

entendimento de causas e conseqüências, são criadas propostas muito próprias a

cada realidade, o que só pode ser feito pelos atores que vivem tal realidade.

Na construção dos objetivos foi observado que, muitas vezes, confundem

este com “como” fazer. Por isso, o exercício de construírem a árvore de objetivos foi

importante para repensarem e terem clareza dos objetivos, como sendo este o

oposto ao problema. É importante que os objetivos estejam bem definidos porque as

ações do projeto devem ser feitas para atendê-los.

O tópico mais difícil de trabalhar na capacitação é o orçamento, que

demanda pesquisa, além de depender também dos ajustes das ações que, em

muitos casos, são estabelecidos com a comunidade. Algumas propostas têm

também aspectos técnicos que devem ser analisados para se fazer o orçamento.

Mas, na medida do possível, é feito um levantamento dos tópicos que devem ser

orçados.

Com os exemplos citados, mostramos que, com esse processo, as

lideranças começam a se organizar, percebendo-se como atores na resolução de

seus problemas, apropriando-se de seu destino e começando uma co-gestão para

superarem o que impede seu desenvolvimento.

Além da clareza de como devem intervir no problema, precisam de

condições para concretizar a proposta. Por isso, é importante que um programa que

ajude a organizar a comunidade a provocar mudanças sociais esteja aliado a outro

que ofereça recursos para isso e vice-versa. Ou seja, um programa que oferece

recurso para a comunidade realizar mudanças deve buscar a organização de tal

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comunidade para receber o recurso, senão corre-se o risco de haver escassez

desse recurso e um mínimo de aproveitamento.

Outro ponto que vale ser ressaltado é que um sistema de co-gestão

comunitária, em que há compartilhamento de responsabilidades, muito se

assemelha à proposta de democracia, definida no dicionário Houaiss como: “sistema

político comprometido com a igualdade ou com a distribuição equitativa de poder

entre todos os cidadãos”. Muitos são os problemas que demandam um envolvimento

da sociedade para sua resolução e, para isso, é importante que haja um

fortalecimento da democracia no sentido de efetivar sua proposta de compartilhar

responsabilidade.

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REFERÊNCIAS

CARNEIRO, Carla L. B. Programas de proteção social e superação a pobreza: concepção e estratégias de intervenção. Belo Horizonte, 2005. Tese (doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais. COSTA, Bruno L. D. A avaliação nas políticas de assistência social: desafios para sua consolidação e relevância. In: FAHEL, Murilo; NEVES, Jorge A.B. (Orgs.). Gestão e avaliação de políticas sociais no Brasil. Belo Horizonte: PucMinas, 2007. FOLHAONLINE. Comissão concede primeiro Nobel em Economia a uma mulher; dupla divide prêmio. 2009. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ folha/dinheiro/ult91u636815.shtml>. Acesso em: 15 dez. 2009. GUSTIN, Miracy Importância da constituição de capital social e humano em comunidades periféricas e de exclusão. Revista Governança Social. Ano 1, Edição 3, Belo Horizonte, 2008. TORO, Bernardo O poder como empoderamento democrático. Revista Governança Social. Ano 1, Edição 3, Belo Horizonte, 2008.

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AUTORIA

Flávia da Silva Miranda – Mestre e bacharel em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente, é analista de comunicação do Programa Selo de Responsabilidade Empresarial, executado pelo Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais (CeMAIS), de Belo Horizonte, em parceria com a Secretaria de Estado Extraordinária para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas (Sedvan) e Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene).

Endereço eletrônico: [email protected] Marina Marinho de Melo Brochado – Pós-graduanda em Gestão Social pela Fundação João Pinheiro. Bacharel em Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). Atualmente trabalha como analista de projetos comunitários do IGS/CeMAIS. Endereço eletrônico: [email protected]