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REDE INTERATIVA PARA A GESTÃO COMPARTILHADA DA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DE ARRAIAL DO CABO Antônio Marcos Muniz Carneiro Coordenador Executivo Projeto Ressurgência, Programa de Engenharia de Produção, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro - RJ - CEP 21945-970 http://www.producao.ufrj.br Telefax: + (55 21) 2560-8799. E-mail: [email protected] Resumo Temos por objetivo com este trabalho avaliar alguns resultados alcançados pelo projeto Ressurgência, voltado para o auxílio na implementação de uma gestão compartilhada de uma reserva extrativista marinha. Esta tem por função a preservação do mar e da tradicional pesca profissional artesanal. Entretanto, esse tipo de área protegida marinha tem demandado novos padrões de gestão com base em lógicas reticulares de organização ante as complexas interações socioecológicas. Tal enfoque pressupõe que o conhecimento histórico da realidade socioambiental da referida unidade de conservação é fragmentado, criando entraves a uma gestão integrada e participativa dos seus recursos naturais. O framework do projeto fundamenta-se em concepções de co-gerenciamento para a pesca profissional artesanal – ou de pequena escala – propostas por Berkes, Vieira et al. e Diegues (2004) em torno de uma estratégia de ação com base na “metodologia interativa” (Mc Taggart, 1997; Carneiro, 2005). Esta é constituída por um movimento recursivo de pesquisa-ação participativa, propiciando ao projeto adaptar-se a mudanças abruptas com base no contexto das ações (atores, tempo e lugar). Essa estratégia tem proporcionado estabelecer conexões entre os próprios pescadores artesanais das populações tradicionais costeiras, constituindo-se paulatinamente em uma rede de atores sociais. Palavras-chave: Reserva Extrativista Marinha - Pesca Artesanal – Gestão Compartilhada Rede Interativa 1. Introdução

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REDE INTERATIVA PARA A GESTÃO COMPARTILHADA DA RESERVA

EXTRATIVISTA MARINHA DE ARRAIAL DO CABO

Antônio Marcos Muniz CarneiroCoordenador Executivo Projeto Ressurgência, Programa de Engenharia de Produção, COPPE/UFRJ, Rio de

Janeiro - RJ - CEP 21945-970 http://www.producao.ufrj.br Telefax: + (55 21) 2560-8799. E-mail:

[email protected]

ResumoTemos por objetivo com este trabalho avaliar alguns resultados alcançados pelo projeto Ressurgência, voltado para o auxílio na implementação de uma gestão compartilhada de uma reserva extrativista marinha. Esta tem por função a preservação do mar e da tradicional pesca profissional artesanal. Entretanto, esse tipo de área protegida marinha tem demandado novos padrões de gestão com base em lógicas reticulares de organização ante as complexas interações socioecológicas. Tal enfoque pressupõe que o conhecimento histórico da realidade socioambiental da referida unidade de conservação é fragmentado, criando entraves a uma gestão integrada e participativa dos seus recursos naturais. O framework do projeto fundamenta-se em concepções de co-gerenciamento para a pesca profissional artesanal – ou de pequena escala – propostas por Berkes, Vieira et al.  e Diegues (2004) em torno de uma estratégia de ação com base na “metodologia interativa” (Mc Taggart, 1997; Carneiro, 2005). Esta é constituída por um movimento recursivo de pesquisa-ação participativa, propiciando ao projeto adaptar-se a mudanças abruptas com base no contexto das ações (atores, tempo e lugar). Essa estratégia tem proporcionado estabelecer conexões entre os próprios pescadores artesanais das populações tradicionais costeiras, constituindo-se paulatinamente em uma rede de atores sociais.

Palavras-chave: Reserva Extrativista Marinha - Pesca Artesanal – Gestão Compartilhada – Rede Interativa

1. Introdução

O presente artigo tem por objetivo avaliar resultados parciais de um projeto, coordenado por

uma equipe da COPPE/UFRJ1, voltado para a implementação de uma gestão compartilhada de

unidade de conservação marinha de uso sustentável (UC) no Brasil, Projeto Ressurgência -

rede arraial sustentável, que pressupõe a organização em rede de usuários dos recursos

marinhos, os pescadores artesanais locais, como sendo mais apropriada às complexas e

crescentes mudanças não lineares dos ecossistemas naturais. A experiência do projeto

reafirma a oportunidade de ferramentas de avaliação e gestão dos ecossistemas da biosfera na

perspectiva das interações entre as dimensões sociais e ecológicas, em oposição à perspectiva 1 Projeto Ressurgência – rede arraial sustentável – designa um nome fantasia do Projeto Gestão Socioambiental de Reserva Extrativista Marinha para o Ecodesenvolvimento, um dos 36 projetos aprovados entre mais de 800 que concorreram em uma seleção pública promovida pelo Programa Petrobras Ambiental da empresa petrolífera Petrobras S.A. Do ponto de vista contratual, a Fundação COPPETEC foi a proponente e a executora, Instituto Luiz Alberto Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro - COPPE/UFRJ, através de equipe do Laboratório Sistemas Avançados de Gestão da Produção – SAGE, vinculado ao Programa de Pós-Graduação de Engenharia de Produção.

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top down que tanto tem marcado a criação de áreas protegidas no Brasil. Esta abordagem

compreende 3 enfoques: a descrição dos entraves locais e nacionais à implementação da

gestão compartilhada em uma das UC; um framework de rede interativa proposto para a gestão

compartilhada ou co-gerenciamento da UC de proteção da pesca profissional artesanal marinha– ou

de pequena escala e o destaque de alguns resultados do projeto para efeito de formação de redes

interativas.

Inicialmente, são destacados alguns entraves à implementação de uma UC de proteção à pesca

artesanal em zona marinha como manejo sustentável no litoral sudeste do país criada por

decreto presidencial no país. Nota-se que o discurso da legislação ambiental transparece

ambigüidades relacionadas com a gestão compartilhada, por não inserir diretrizes

metodológicas coerentes aos princípios da política pública ambiental de envolvimento das

populações extrativistas tradicionais nos órgãos gestores do sistema nacional de conservação

de recursos naturais, prevalecendo a ideologia da supremacia do Estado ou do mercado nos

regimes de apropriação dos recursos naturais. Em um item subseqüente, é apresentado o

framework: Rede Interativa de Auxílio à Gestão Compartilhada: Proposição, Conceituação e

Metodologia. Finalmente, foram destacados alguns resultados do projeto que refletem seu

papel proativo na formação de redes sociais como arranjos institucionais em conexões entre

diferentes escalas, alternativos à fragmentação da Modernidade, mais apropriados aos novos

padrões de gestão integrada e participativa do ecossistema marinho e do da tradicional pesca

profissional artesanal em áreas protegidas. Por fim, são apresentados alguns resultados

alcançados pelo projeto relativos à formação de redes socioecológicas de apoio à pesca

artesanal como manejo sustentável em reservas extrativistas marinhas.

2. Desafios à Implementação de uma Unidade de Conservação de Marinha de Uso

Sustentável (UC)

Uma reserva extrativista marinha (Resex-Mar) é uma das modalidades de unidades de

conservação de uso sustentável (UC) do Sistema Nacional de Unidades de Conservação –

criado pela Lei Nº. 9.985/2000 (MMA/SNUC, 2003) - que tem por finalidade proteger os

meios de vida e a cultura das populações tradicionais que têm no extrativismo sustentável dos

recursos renováveis a sua fonte de subsistência, que assegura a reprodução das espécies. Essa

configuração difere-a dos tipos de unidades de proteção integral que se baseiam em um

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enfoque biocêntrico postulado pela corrente ambiental “ecologia profunda” (deep

ecology)2.As UC’s em regiões costeiras e marinhas são mais recentes e carecem de maiores

pesquisas metodológicas de avaliação e gestão, tornando a sua implementação mais

complexa. A Resex-Mar de Arraial do Cabo (Resex-Mar AC), criada por decreto presidencial

de 1997, fora motivada pelo objetivo de preservar a pesca profissional artesanal (ou pequena

escala), como estratégia de preservação da biodiversidade costeiro-marinha. A criação desta

unidade se justificara pelo reconhecimento da existência nessa região de uma população

extrativista tradicional que exerce a pesca artesanal secularmente, uma atividade extrativista

constituída por um complexo conjunto de saberes cumulativos de exploração sustentável da

fauna marinha (peixes, moluscos, crustáceos, cetáceos).

Conforme mapa da Figura 01, a Resex-Mar de AC é localizada no município de mesmo

nome, no litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, Brasil, com uma área de 56.769 ha.de

lâmina d'água e uma faixa de 10 km de entorno, abrangendo um cinturão pesqueiro em todo

litoral do município de Arraial do Cabo, com três milhas náuticas da costa. Suas coordenadas

geográficas aproximadas são as seguintes. Limite Oeste: Lat. Sul - 22°56"21" – Long. Oeste

042° 18" 02" - Limite Nordeste: Lat. Sul - 22° 56" 00" - Long. Oeste - 041° 55"30" - Limite

Sudeste: Lat. Sul - 23° 04"00" - Long. Oeste - 041°55"30" - Limite Sudoeste: Lat. Sul -

23°04"00" - Lonq. Oeste - 042° 18"02". O ecossistema marinho abrangido nessa área é uma

das mais piscosas do litoral brasileiro, em razão da ocorrência do raro fenômeno da

“ressurgência” (upwelling) bem junto à costa, beneficiando a pesca artesanal. Essa

piscosidade resulta do afloramento de águas frias vindas do pólo sul, trazidas pela corrente

Água Central do Atlântico Sul (ACAS), ricas em nutrientes inorgânicos (nitratos, fosfatos e

silicatos), que, no encontro com correntes marinhas tropicais, fertilizam os fitoplânctons e

zooplânctons, a base da cadeia trófica do mar, promovendo o aumento e a abundância da

biodiversidade do ecossistema marinho Silva (2004), precursor da estatística pesqueira

iniciada em 1992 no município, demonstra essa riqueza da fauna ao registrar a variedade de

82 espécies de peixes pelágicos capturados pelos pescadores artesanais de Arraial do Cabo,

sendo 65 peixes ósseos Actinopterygii e 12 espécies de peixes cartilaginosos Condrichthyes.

2 De acordo com Diegues (1996), essa corrente ambiental que separa a vida humana e não humana, atrbiuindo valores intrínsecos independentes do utilitarismo. Portanto, os humanos não teriam o direito de reduzir a biodiversidade, exceto para satisfazer suas necessidades vitais. A concepção biocêntrica dessa corrente da consrvação teria raiz neomalthusiana por desconsiderar a crise ecológica por razões socais. A preservação do mundo natural pressupõe o equilíbrio homeostático, diversidade biológica etc.. Haveria até o perigo do “ecofascismo” de algumas posições. Exemplo: As teses de Garret Hardim, em “The tragedy of commons”, refletem de certo modo esse enfoque biocêntrico da ecologia profunda.

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Destacamos a seguir as 03 espécies mais desembarcadas em Kg no período de 1992 a 2006

(FIPAC, 2007): a) ósseas - Sardinha Verdadeira (Sardinella brasiliensis), 3.489.755;

Cartilaginosas - Cação Galha Preta (Carcharhinus maculipinnis), 122.004; c) Invertebradas –

Lula (Loligo plei), 928.011.

Figura 01: Mapa (Carta – Imagem) da Resex-Mar de Arraial do Cabo

IBAMA/MMA, 2006.

Apesar de a região ser avaliada como de “Extrema Importância Biológica”, o grau máximo de

conservação da biodiversidade marinha no Brasil, a sua criação, a Resex-Mar de AC não tem

se configurado um vetor positivo frente aos principais impactos antrópicos no ecossistema de

sua área. A pesca industrial, o turismo e a produção offshore de petróleo, que a princípio

poderiam promover a melhoria da qualidade de vida de sua população com a geração de

empregos e a valorização dos patrimônios natural e cultural, acabaram, no entanto,

provocando nas últimas décadas a redução da resiliência ecossistêmica e a concentração da

riqueza. A pesca artesanal, a atividade mais remota, tem demonstrado uma relativa capacidade

de adaptação aos impactos ao longo dos ciclos econômicos extrativistas - o pau-brasil durante

a colonização portuguesa e a produção salineira - até o fechamento da Companhia Nacional

da ´Álcalis3 (CNA) em 2007. Esta empresa teve papel decisivo na modernização da região,

3 A Companhia Nacional da ´Álcalis (CNA), criada como empresa estatal 1943, foi responsável pela modernização de toda a região de Arraial do Cabo, então distrito do atual município de Cabo Frio, empregando no seu sistema de produção vários pescadores, juntamente com trabalhadores oriundos de outras regiões do país.

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isolada em parte por fatores geográficos e pelo modus vivendi de um arraial de pescadores,

durante 400 anos aproximadamente. Estudo neste ano realizado por Carneiro (2009) relevou

discrepância entre indicadores de município da região, PIB (Produto Interno Bruto) e o IDH-

M (Índice de Desenvolvimento Humano – Municipal), levando-os a deduzir a ocorrência dos

enclosures, um processo de escala planetária, ainda dominante, de capitalização de privilégios

de uso, não mais da apropriação “física” dos recursos naturais, negligenciando a satisfação

das necessidades básicas (materiais e intangíveis) das populações que, em regra geral, são

segregadas dos benefícios do crescimento econômico (Vieita et al., 2005).

Deve-se ressaltar que as reservas extrativistas marinhas, assim como as continentais e os

demais tipos de unidades de conservação de uso sustentável definidos pelo SNUC (Lei Nº.

9.985/2000), seriam uma modalidades híbridas de regime de apropriação de recursos comuns,

abrangendo regimes de apropriação comunal e estatal. O reconhecimento, porém, de regimes

de apropriação comunitária é mais difícil, pois discriminados pela lógica econômica que os

julga condenados à inexorável superexploração pelos seus próprios usuários. No caso das

reservas marinhas, estas teriam maiores restrições em razão da Constituição Federal do Brasil

discorrer serem bens da União, entre outros, as praias marítimas; as ilhas oceânicas e

costeiras; os recursos naturais da plataforma continental e da zona economicamente exclusiva

e o mar territorial. Essa resistência fundamenta-se nas teses de Garret Hardim, em “The

tragedy of commons” que pressupõem o acesso a usuários ser sempre desordenado e

competitivo, porém, refutadas por vários pesquisadores4. Atualmente, das 55 Resex’s criadas

(ICMBio, 2009), somente, duas possuem plano de manejo, a Reserva Extrativista Chico

Mendes e a Reserva Extrativista do Cazumbá-Iracema, todas de biomas florestais. Segundo a

leitura do projeto, o enfoque da “participação” teria um significado de envolvimento restrito,

induzido e manipulado das populações e as UC’s de zonas costeiras e marinhas careciam de

metodologias apropriadas de avaliação e manejo.

Esse problema, com reflexos na unidade de conservação em foco, configurara-se sistêmico,

A CNA foi fechada em 2007, depois de um processo de sucateamento desde quando foi incluída em programa de privatização pelo Governo Federal no período de 1988 a 1989. O seu produto principal e único na América Latina, a “barrilha” (mono-carbonato de sódio), era a matéria-prima diversos setores industriais: fabricação de vidro, indispensável à indústria automobilística, construção civil e bebidas, com ampla utilização nas indústrias têxteis, de óleos, tintas, vernizes, couros, silicatos, cromatos, sabões, detergentes, explosivos, antidetonante, indústrias farmacêuticas, indústrias eletrônicas, entre outras. O emprego desse produto pode ser estendido às indústrias de petróleo, celulose, siderurgia, alumínio e nuclear. 4 Segundo o historiador inglês Thompson (1998), por exemplo, em estudo sobre antigos regimes de apropriação de recursos naturais (áreas de caça, de pesca, florestas) na história da Inglaterra, Hardin negligenciou o fato dos commoners.serem dotados de bom senso, pois visara ilustrar a sua tese com ações predatórias das florestas régias e as intensas disputas que acossaram Charnwood.

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pois generalizado nas múltiplas escalas do SNUC em suas esferas municipais, estaduais e da

União, conforme reconhecimento da Diretoria de Áreas Protegidas do Ministério do Meio

Ambiente em 20045. Segundo este órgão, haveria necessidade de aprimoramento de duas

ferramentas de gestão do sistema de proteção da biodiversidade: as consultas públicas e o

funcionamento de conselhos gestores, sob o risco de comprometer a sustentabilidade do

sistema nacional de conservação. O desalento por parte dos pescadores de Arraial do Cabo

ficara notório com a diminuição de sua auto-estima ante o fim incontornável da secular

atividade de fonte sustentável de alimentos e reprodução social, manifestando-se

silenciosamente, com ausências em momentos estratégicos para o futuro da sua atividade. Em

2001, foi lançada a Carta de Arraial do Cabo pelo Fórum das Entidades Civis, elaborada no I

Seminário de Desenvolvimento Econômico e Social que diagnosticara os principais óbices e

diretrizes para a superação dos mesmos pelas principais atividades do município (a pesca, o

turismo, a indústria química e um porto de logística industrial). Quatro anos depois, em 2005,

o IBAMA promovera o Seminário de Sustentabilidade e Desenvolvimento Socioambiental da

Resex-Mar de AC, uma tentativa para regularizar esta UC em conformidade às exigências do

SNUC, criação de um plano de manejo e de um conselho deliberativo, sem obter êxito, assim

como o evento anterior. Considerando o conjunto desses entraves à implementação da UC, foi

elaborado o Projeto Ressurgência para contribuir no redesenho da Resex-Mar de AC no

sentido botton up, propiciando uma maior integração da percepção fragmentada dos atores

sociais locais em relação à realidade socioambiental em foco e, principalmente, promovesse a

inovação de mecanismos que assegurassem a participação dos pescadores profissionais

artesanais de Arraial do Cabo na gestão da UC marinha.

3. Rede Interativa de Auxílio à Gestão Compartilhada: Proposição, Conceituação e

Metodologia

3.1 A gestão compartilhada ou co-gerenciamento: um “continuum” entre centralização e

autogestão comunitária

O projeto Ressurgência propôs-se, inicialmente, formular respostas tecnológicas e de

conhecimento para contribuir numa efetiva co-responsabilização de recursos naturais, entre as

comunidades de pescadores artesanais, usuários diretos dos serviços ecossistêmicos marinhos,

e o Estado, com intervenções promissoras, conforme diretrizes do programa da ONU 5 Tal iniciativa contou com o apoio da FUNBIO, um dos primeiros signatários do Protocolo de Intenções para Implementação do Programa de Trabalho para Áreas Protegidas no Brasil no âmbito da Convenção de Diversidade Biológica - CDB (Decisão VII28 da 7a. Conferência das Partes da CDB). A

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Millennium Ecosystem Assesment (MEA, 2005). A reversão da degradação do ecossistema da

Resex-Mar de AC não poderia ser obtida sem o combate aos efeitos negativos ou a

intensificação dos efeitos positivos de pelo menos um dos cinco vetores indiretos de

mudanças: mudanças populacionais (inclusive crescimento e migração), mudanças na

atividade econômica (incluindo crescimento econômico, disparidade na distribuição de renda,

e padrões comerciais), fatores sociopolíticos (incluindo fatores que vão de presença de

conflito até participação pública na tomada de decisão), fatores culturais, e mudanças

tecnológicas. O projeto apresentara uma alternativa à falta de diretrizes e mecanismos de um

efetivo envolvimento dos usuários dos recursos naturais de áreas protegidas (Cozzolino e

Irving 2005) - no caso, os pescadores artesanais - na gestão das UC’s. Esta proposição visou

contemplar os seguintes critérios de relevância6 para a sustentabilidade: iniciativa de gestão da

conservação da biodiversidade marinha; promoção ou indução de outros projetos ambientais

de interesse local/regional; paradigma de qualidade e inspiração para a elaboração de projetos

ambientais locais/regionais; estímulo pedagógico para a atuação em rede e para a gestão

ambiental integrada. Em atendimento ao primeiro critério, com uma equipe multidisciplinar e

interinstitucional, propôs-se uma estratégia de ação que auxiliasse na implementação de uma

gestão integrada e participativa na Reserva Extrativista Marinha de AC (Figura 02).

Realizado. Em sua estratégia de ação, o projeto buscou, enfim, proporcionar junto aos

pescadores profissionais artesanais na interface com outros atores sociais a construção de

capacidades (capacity building) para a formação de uma rede (interactive networking), em

conexão com escalas horizontais e verticais da gestão da UC, a fim de tornar resilientes7 suas

instituições locais ante os impactos da globalização econômica e das mudanças

ecossistêmicas.

6 Estes critérios constavam do roteiro para elaboração do projeto do Programa Petrobras Ambiental – PPA (2006).7 A resiliência é uma propriedade emergente de sistemas complexos – sejam físicos, biológicos ou sociais – que os potencializa a sofrerem grandes mudanças sem, porém, perderem o controle sobre suas estruturas e suas funções (Berkes, 2005). No caso institucional, parcerias firmadas entre gestores e usuários não resolvem as incertezas científicas, mas as coloca num patamar institucional com fragmentação cognitiva reduzida da realidade socioecológica.

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Figura 02: Níveis de participação de co-gerenciamento

Berkes et al., 2001.

A opção do projeto de promover a participação dos pescadores artesanais na gestão da Resex-

Mar de Arraial do Cabo, principal desafio do projeto, foi ao encontro dos resultados de

pesquisas que deduziram ser o compartilhamento comunitário da gestão dos recursos naturais

um fator de êxito para distribuição eqüitativa da riqueza e de aumento da resiliência

ecossistêmica (Ostrom, 1990; Diegues, 1996, 2000; Diegues e Viana, 2000; Thompson, 1998;

Berkes, 2001, 2005; Felicidade et al., 2001; Vieira et al., 2005.). Para Cozzolino e Irving

(2005), a base da formação de movimentos de desenvolvimento local estaria na atuação de

indivíduos e grupos locais no exercício da cidadania, devendo suprir a falta de ferramentas

que assegurem na governança da UC a participação efetiva dos usuários dos recursos naturais,

Esses autores ressaltam a indefinição do caráter do conselho das UC’s, se deliberativo ou

consultivo, na Lei 9985/00 e no Decreto 4.340/02 que a regulamenta. Chamara a atenção para

a definição da estratégia de ação do projeto o sistema de referência para o desenvolvimento

sustentável da pesca, Sustainable Development Reference System (SDRS), constante nas

diretrizes da FAO (1999) para a implementação do Código de Conduta para a Pesca

Responsável. A combinação de indicadores e pontos de referência para a gestão da pesca

deveria considerar múltiplas dimensões (econômica, social, ecológica, tecnológica, política),

ao invés de uma ordenação centrada na fixação dos estoques renováveis como objetivo único.

Esse enfoque pressupõe estratégias comunicacionais para que se obtenha interconexões

localmente entre os stakeholders no contexto da gestão da pesca, no caso, da Resex-Mar de

AC. As orientações técnicas da FAO nesse sentido apontavam, como necessárias, a formação

de grupos de trabalho e a criação de instâncias de discussões de planos de ações para o

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desenvolvimento sustentável, além da manutenção de um público mais amplo e bem

informado através dos meios de comunicação (imprensa, televisão, rádio, internet).

3.2 Rede interativa: conceituação e estratégia de ação

A rede constitui um arranjo institucional sem hierarquia, com o poder descentrado ou

distribuído, extremamente flexível, capaz de suportar conflitos e suscetível a mudanças sem

ameaças ao seu equilíbrio, pois focado em diversas perspectivas e assentado em uma

realidade de fluxos (Levy, 1994; Castells, 2000; Carneiro, 2005). Nesta, o espaço é percebido

no interior do “evento” ou acontecimento, um “lugar inerlocucional” mediado por meios

tradicionais (encontros face a face, presenciais) e informáticos (o ciberespaço, realidade

virtual). Essa lógica reticular pressupõe uma acepção abrangente de “interfaces”, superfícies

de contatos, de tradução, um processo contínuo de trocas de saberes entre pessoas, grupos e

instituições que os permite a transposição de suas experiências singulares no contexto de suas

interações. Essa interatividade das redes contemporâneas advém de suas construções técnico-

sociais que articulam uma base técnica e disposições societais, por transformarem a técnica da

experiência em experiência de linguagem, decorrentes da colocação de dispositivos técnicos

em nível planetário, gerando novas sociabilidades. A arquitetura dessa dinâmica é constituída

pela conectividade de “nós”, potencializando ao sujeito-ator a mobilidade de múltiplos

contatos ao mesmo tempo e lugar.

A linguagem na rede deve ser compreendida a partir de sua função essencialmente interativa,

ou seja, uma ação intersubjetiva, cuja produção de sentidos é sempre resultante de pressão

persuasiva segundo uma ordem de preferência de seus interlocutores (Searle, 1995; Koch,

2002; Carneiro, 2005). No arranjo institucional do Projeto Ressurgência, coube ao Conselho

Técnico, inicialmente constituído pela parceria com, apenas, duas instituições locais, a

Colônia de Pescadores Z5 e o escritório do IBAMA, gerência da Resex-Mar de AC, o papel

de “sujeito ativo” para o estabelecimento de interconexões dentro de uma ordem recursiva nas

três fases do projeto – pré-implementação, implementação e pós-implementação. Esse tipo de

sujeito entra em cena na rede cuja cooperação dinâmica baseia-se em uma comunicação

horizontal não programada, num mundo dominado pelo imprevisível, pela incerteza e

desestabilidade dos sistemas técnicos, em alternativa às concepções clássicas de sujeito: o

sujeito cartesiano e o sujeito instrumental. O primeiro coloca-se numa posição de controle

absoluto sobre o saber, uma posição diametralmente oposta ao segundo que se coloca como

“porta vez”, desengajado com o que diz. Diferentemente desses dois tipos mais conhecidos, o

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sujeito ativo trata-se, primeiramente, de um sujeito situado historicamente e socialmente cuja

identidade é construída na interação com o Outro. No lugar da univocidade do sujeito, ele

passa a definir-se pela posição que assume através de um discurso polifônico na rede. Na fase

de implementação do projeto, esse conselho quintuplicou-se em parcerias com instituições

locais, alargando as interconexões horizontalmente com o projeto.

3.3 Estratégia da ação

Pressupondo a complexidade da realidade socioecológica da Resex-Mar de AC, a estratégia

de ação do projeto fundamentara-se na “metodologia interativa”, definida por Carneiro

(2005), uma proposta conceitual elaborada a partir de uma síntese de um framework das

metodologias alternativas ao paradigma clássico da Ciência Moderna (Bordenave, 1979;

Morin, 1986; Thiollent, 1989; Feyerabend, 1989; Flores, 1997; Nonaka e Takeuchi, 1997;

Genelot, 2001; Brose, 2001; Desroche, 2003), com a reintrodução do sujeito no mundo dos

fenômenos, em uma perspectiva intersubjetiva, em posição de alteridade. Ela consiste na

passagem entre um “estado de coisas” dentro de um processo interativo de conhecimento e

resolução de problemas complexos ou situacionais, constituído pela interlocução e pela

interdisciplinaridade. Esta interatividade se deve ao fato dessa metodologia explorar a

linguagem humana como um lugar evanescente, onde são instauradas as pessoas, os

acontecimentos, as disputas, as narrativas, os dramas humanos; enfim, os settings8 da

produção dos sentidos. Os processos decisórios do projeto não devem obedecer a relações de

causalidade nem de retroação, mas aflorarem recursivamente, um modo espiralado de

progressão das ações. Ou seja, de acordo com estudos da complexidade (Carneiro, 205), a

concepção da realidade construída (coisas, situações, eventos, pessoas) é retirada com a noção

de settings, uma imagem especular de subjetividades, projetadas através de um “filtro”, um

operador que articula os dizeres e visões de mundo circunstanciais, incontornavelmente,

contextuais. A estratégia de ação do projeto foi elaborada para propiciar o estímulo

pedagógico na atuação em rede de apoio à gestão integrada e participativa do regime de

apropriação do uso do ecossistema marinho apropriado à proteção da pesca artesanal. Ela

deveria desencadear uma articulação a ser exercida em nível intermediário das ações então em

andamento no município de Arraial do Cabo e nos demais da região, como as diretrizes das

Agendas 21 locais em rede. Elas poderiam convergir para a linha de expansão do Programa 8 Os “settings” significam aqui os espaços da realidade convertidos “um lugar de engajamento de pessoas em interações face a face, ou mediadas por artefatos, podendo ser em qualquer espaço social (no lar, no trabalho, num pronto socorro de emergência etc.) que implica essas ações intersubjetivas” (Carneiro, 2005).

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Man and the Biosphere (MAB) da UNESCO e da Rede Mundial de Reservas da Biosfera,

operando na forma de um embrião de região-laboratório de ecodesenvolvimento com

objetivos inovadores e demonstrativos (Projeto Ressurgência, 2006).

A estratégia de ação do projeto compreende 03 fases (pré-implementação, implementação e

pós-implementação) cujas passagens foram projetadas em ciclos recursivos, na forma de

espirais, assegurando com isso as atualizações dos propósitos prévios e progressivos acordos

com os atores sociais locais, configurando uma malha de interconexões nas interações

socioecológicas com o ecossistema costeiro-marinho abrangido pela Resex-Mar de AC.

Tendo por eixo a pesquisa-ação participativa (PAR), ele fora estruturado por duas linhas de

ação: PAS (Plano de Ações Socioecológicas) e PES (Programa de Educação Socioambiental).

Ou seja, visou-se um processo marcadamente vis a vis de interlocuções intrínsecas à trajetória

do projeto côo eventos no nível da recursividade (Figura 03) constituiria a experiência de

ações reticulares ou da tessitura da rede interativa: Fase I, a atualização da proposta; Fase II:

Plano de ações promissoras para o manejo do ecossistema marinho e em articuladas com um

programa de educação socioambiental para a formação e capacitação de multplicadores em

perspectiva interativa, como feedbacks à investigação socioecológica da Resex-Mar de AC,

etapa inicial da PAR; Fase III – Fórum estratégico participativo, a experimentação de uma

ferramenta co-gerenciamento da UC. Todo esse processo deve ser permeado por feedbacks,

dispositivos para a criatividade e a inovação.

Figura 03: Ciclo Recursivo da Metodologia Interativa do Projeto

11

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Projeto Ressurgência, 2006.

4. Alguns Resultados Alcançados pelo Projeto Ressurgência

Os resultados a seguir foram selecionados em função das ações que os geraram terem

configurado padrões de arranjos institucionais reticulares, implicando fortemente no uso da

comunicação entre pessoas, grupos e instituições ligadas aos pescadores profissionais

artesanais, aos agentes do turismo e aos poderes púbicos da educação e meio ambiente em

suas esferas municipal, estadual e federal.

4.1 Fórum Participativo: uma avaliação geral da trajetória do projeto

a) Finalidade

Este evento, Fórum Participativo: Avaliação e Cenários da Resex-Mar de Arraial do Cabo,

cuja proposição constava da última fase do ciclo recursivo do Projeto Ressurgência, teve por

finalidade configurar-se em uma experiência de co-gerenciamento da Resex-Mar de Arraial

do Cabo, através da avaliação do projeto e projetação de ações promissoras futuras para esta

UC pelos seus múltiplos usuários que tiveram algum grau de atuação durante a fase de

implementação do projeto Ressurgência.

b) Desenvolvimento

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A abertura do fórum foi no centro urbano do Município de Arraial do Cabo no dia13/11/2009,

sendo que as demais atividades realizadas de forma descentralizada até o dia 28 de do mesmo

mês. A arquitetura do fórum compreendeu um seminário constituído por vários workshops,

além de meãs redondas e painéis. Coube aos workshops a avaliação das múltiplas ações

incrementadas pelo projeto, no período de 2007 a 2009, e a projeção de cenários para a

Resex-Mar de AC. Os participantes desses workshops foram munícipes que tiveram algum

grau de participação nas duas linhas de ação: Linha de 01 - Apoio a Demandas de Recuperação e

Preservação do Ecossistema da RESEX-MAR e Linha de Ação 02: Educação Socioambiental para a

Sustentabilidade A interação entre essas duas linhas, porém, não chegou a se efetivar durante o

Fórum. Os instrumentos de suporte a esses micro-eventos do fórum serviram para propiciar a

realização das avaliações e cenários de modo interativo: A descentralização visou atender à

disponibilidade e ao acesso de cada participante, como os pescadores. Estes preferiam realizar

seus encontros nas praias do município e na marina onde ocorre o maior volume de

desembarque do pescado com apoio da Colônia de Pescadores Z5.

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Figura 04: Fluxograma das Interconexões do Fórum Participativo

IX Relatório Técnico – Projeto Ressurgência, 2009.

LEGENDA:

c) Participantes

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Meta IAvanço na Cooperação entre o Conhecimento Ecológico Científico - CEC e o Conhecimento Ecológico Tradicional – CET

Meta IIInvestimentos em Instituições Locais para o Ecodesenvolvimento: Pesca Artesanal, Turismo Sustentável

Meta IIIApoio à Implementação da Gestão Compartilhada e Co-Manejo da Resex-Mar do Arraial do Cabo

Meta IVConservação, Preservação e Recuperação do Ecossistema Marinho e da Qualidade de Vida das Populações Costeiras Tradicionais

Meta VSistema de Informação Distribuído de Auxílio à Gestão Integrada e Participativa

W Workshop

PGSCPrós-Graduação Gerenciamento Socioambiental Costeiro

ExtensãoCursos de extensão para capacitação técnica

LivreCurso de comunicação comunitária

W01

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O fórum contou com mais de 100 participantes (pescadores artesanais, empresários e

profissionais do turismo, gestores, professores, pesquisadores, associações civis e ONG’s),

sendo que destes 65 participaram dos workshops Enfim, uma parcela representativa de

munícipes envolvidos no projeto, sujeitos ativos da sociedade local na construção contínua do

ecodesenvolvimento.

d) Resultados

O fórum refletiu um quadro de ações estratégicas estruturadas em projetos de realização que

chegaram a estabelecer, parcialmente, interconexões cognitivas e pragmáticas entre elas na

direção de projetos de evolução, potencializando a formação de uma rede interativa no

município, aproximando múltiplos participantes de cada um desses projetos. A organização

reticular dessas ações que compuseram esse quadro, demandadas da etapa inicial da PAR,

evitou ao final o risco do ativismo desordenado dos projetos de realização, proporcionando a

cada um deles a cooperação e colaboração entre eles e, inclusive, com parte das ações

pedagógicas. Os workshops tiveram como matriz de suas avaliações o Plano de Ações

Socioecológicas (PAS), estruturado em cinco metas que deviam interconectar cada uma das

ações estratégicas para o ecodesenvolvimento no contexto da Resex-Mar de AC. O “pano de

fundo” das referidas ações fora composto com as seguintes metas e resultados esperados:Quadro 01: Metas e Resultados Esperados do Plano de Ação

Metas Resultados esperados

1. Avanço na Cooperação entre o Conhecimento Ecológico Científico - CEC e o Conhecimento Ecológico Tradicional – CET

Constituição de um quadro referencial de uma ecologia humana revitalizada para um efetivo ecodesenvolvimento e gestão do patrimônio marítimo da Resex-Mar do Arraial do Cabo como meio de regulação das inter-relações entre os sistemas naturais e sociais no longo prazo.

2. Investimentos em Instituições Locais para o Ecodesenvolvimento: Pesca Artesanal, Turismo Sustentável

Fortalecimento de instituições atuantes no contexto da Resex (pesca, turismo, pesquisa) para o aumento de suas capacidades adaptativas às crescentes mudanças não-lineares ecossistêmicas e globais.

3. Apoio á Implementação da Gestão Compartilhada e Co-Manejo da Resex-Mar do Arraial do Cabo

Formação de redes de atores sociais para uma participação amplificada e qualificada dos multiusuários para o co-gerenciamento da Resex-Mar do Arraial, tendo em vista a criação de um fórum para este fim.

4: Conservação, Preservação e Recuperação do Ecossistema Marinho e da Qualidade de Vida das Populações Costeiras Tradicionais

Contribuições para a redução e/ou reversão da queda dos estoques pesqueiros e a regeneração da biodiversidade marinha, com benefícios diretos às comunidades pesqueiras tradicionais.

5: Sistema de Informação Distribuído de Auxílio à Gestão Integrada e ParticipativaResultado esperado

Redução da fragmentação do conhecimento da Resex-Mar do Arraial do Cabo, bem como de seu sistema de tomada de decisão, aumentando a interatividade entre os atores sociais locais.

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IX Relatório Técnico – Projeto Ressurgência, 2009.

e) Avaliação geral: PAS e PES

No cômputo geral, as avaliações, respectivamente, do PAS pelos workshops e de forma

individualizada do PES, refletiram uma identidade do Projeto Ressurgência forjada num

mosaico de ações de apoio à sustentabilidade da conservação marinha de uso sustentável com

diferentes níveis de impactos e envolvimentos dos pescadores artesanais e demais atores

sociais locais. As ações do PAS tiveram uma avaliação positiva alta com 63%, média com

33% e baixa, apenas, 4%. Na avaliação da atuação do PES, o aspecto que obteve maiores

índices tanto para discentes (95%) quanto para docentes (100%) foi a coerência de sua

proposta, sendo que (IX Relatório Técnico, Projeto Ressurgência, 2009).

4.2 A rede de comunicação entre os pescadores de canoas de auxílio ao co-manejo da pesca

a) Finalidade

Vinculado à Meta V do PAS, foi implementado o projeto de resolução de tecnologia de

informação e comunicação para a formação de uma rede de radiocomunicação entre os

pescadores artesanais das praias do município como forma de contribuir para a melhoria da

captura de pescados, de realizar auxilio à fiscalização no combate à pesca predatória e

impactos antropogênicos, de recomendar formas de preservação e conservação do ecossistema

marinho como também auxiliar através de comunicações radiofônicas preventivas e de

emergência em caso de possíveis acidentes com embarcações na área da Resex-Mar.

b) Demandas diagnosticadas

As capturas artesanais próximas às praias e costões do município passaram a ter em comum a

partir das últimas décadas o aumento da insegurança devido ao crescimento de ações

antropogências (pesca industrial predatória e turismo náutico), demandando uma

comunicação preventiva/corretiva de sinistros, e a conseqüente queda das capturas, além das

crescentes mudanças do comportamento de cardumes provocadas, provavelmente, pelas

mudanças climáticas. A demanda por comunicação diagnosticada pela pesquisa do projeto

motivara a realização da proposição inicial de exploração das possibilidades de tecnologias

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discursivas9 como protocolos de comunicação para a execução, o controle e a tomada de

decisões na perspectiva de grupos sociais no contexto da UC.

c) Desenvolvimento

O escopo de projeto de resolução consolidou-se através da parceria com o Projeto Pólen –

NUPEM/UFRJ cujo objetivo geral convergia com a Meta V do PAS e, principalmente, com a

perspectiva de sustentabilidade do Projeto Ressurgência. O Projeto Pólen visara à formação

de uma rede uma rede educativa de comunicação para mediação de conflitos dos pescadores

tradicionais artesanais e, também, o monitoramento na área da Resex-Mar de AC.

Além dessa parceria, outras foram firmadas com as entidades representativas dos pescadores

pelas praias do município. Se esses acordos foram a base do Programa de Capacitação

Ambiental e Radiocomunicação que, durante o mês de março de 2009, capacitou,

inicialmente, 32 pescadores profissionais artesanais distribuídos nas distintas praias de Arraial

do Cabo. Por meio deste programa, os dois projetos responsáveis repassaram aos pescadores

os seguintes aparelhos: 22 rádios de comunicação com dezesseis faixas com freqüências

configuradas, 68 binóculos e 69 antenas para instalação de uma rádio costeira. O espaço físico

para a instalação da estação costeira conta com a parceria com a Secretaria de Ambiente da

Prefeitura Municipal.

d) Participantes

Esse projeto de resolução contou com a participação de 32 pescadores profissionais artesanais

de diferentes praias do Município de AC no curso de radiocomunicação e meio ambiente,

além de técnicos do Projeto Pólen, Comap (Companhia Municipal de Administração

Portuária), ICMBio, CPRJ (Capitania dos Portos do estado Rio de Janeiro) e DOCAS/S.A.),

e) Resultados

Capacitação e radiocomunicação e ambiente de 32 pescadores profissionais artesanais

no mínimo;

Cessão de 22 rádios - Rádio Motorola EP 450 – para os pescadores artesanais

9 O conceito de tecnologia discursiva - ou tecnologia de linguagem - pressupõe que toda a tecnologia não seja um artefato físico, mas um projeto de prática social de uso do artefato físico construído para atingir algum fim ou propósito. A tecnologia discursiva resulta da introdução nessa prática recursos de natureza semiótica ou lingüística (regras, convenções, símbolos, textos) em ambientes complexos (settings) marcados pela incerteza científica, múltiplas interações e mudanças rápidas e não lineares, demandando, pois, intervenções argumentativas no lugar das clássicas demonstrações (Flores, 1989; Aravena-Reyes, 1998; Carneiro, 2005; Projeto Ressurgência, 2006.).

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Projeto de uma rádio costeira dos pescadores profissionais artesanais, organizada em

uma rede de comunicação que interconecte os segmentos de pescadores das diferentes

praias do município de Arraial do Cabo – RJ

4.3 O oficina pedagógica de auxílio ao plano de manejo participativo

a) Finalidade

Esta oficina pedagógica teve por finalidade delinear diretrizes para a inserção dos

conhecimentos ecológicos tradicionais dos pescadores artesanais nos currículos escolares do

Município de Arraial do Cabo, através do ensino e da pesquisa, como estratégia metodológica

de apoio à participação dos pescadores artesanais na elaboração de um plano de manejo

participativo da Resex-Mar de AC, onde subjazem conflitos territoriais.

b) Demandas diagnosticadas

Este projeto de resolução integrou um conjunto de outras ações estratégicas de uma das metas

do Plano de Ação do Projeto Ressurgência, Meta 01 - “Avanço na Cooperação entre o

Conhecimento Ecológico Científico - CEC e o Conhecimento Ecológico Tradicional – CET.”

Além dos entraves apontados anteriormente neste trabalho, essa meta foi ao encontro da

Instrução Normativa 02do ICMBio/2007, em conformidade com a Lei 9.985/2000, para a

elaboração de plano de manejo participativo das reservas extrativistas que deve,

necessariamente, incorporar o CET das populações extrativistas. Estas populações, como os

pescadores de Arraial do Cabo, tinham adquirido o direito consuetudinário para uma

exploração sustentável dos recursos naturais nessas unidades de conservação para o a sua

subsistência e reprodução de sua vida social.

No caso da referida UC, a cooperação entre os pescadores artesanais e os pesquisadores na

investigação e resoluções de problemas socioambientais não chegou a lograr êxito, apesar da

secular pesca artesanal encontrar-se na região que é o marco zero dos estudos científicos do

mar no Brasil. Essa falta de cooperação se deveu ao predomínio de uma ciência ecológica,

tributária do paradigma clássico newtoniano-cartesiano, cujo núcleo nocional de ecossistema

marinho refere-se a uma rede de interações somente entre os organismos vivos vegetais e

animais, sem interface com o universo cultural das sociedades tradicionais que se mantêm em

interação equilibrada com o meio natural.

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c) Desenvolvimento

Frente a esse quadro socioecológico reafirmado pelo levantamento socioambiental realizado

na etapa inicial da PAR do Projeto Ressurgência, este delineou, em parceria com o

NEPED/UFSCar10, uma ferramenta interativa de auxílio à conexão entre os conhecimentos

ecológicos científicos e tradicionais em apoio à instauração de um processo de elaboração

compartilhada do plano de manejo da Resex-Mar de AC que torne os pescadores profissionais

artesanais seus protagonistas preponderantes. Foram 03 as fases de seu desenvolvimento:

Fase 1: Transecto - O - O reconhecimento da área marinha da Resex-Mar de AC por navegação

por uma equipe de pesquisa multidisciplinar sob a orientação de experientes pescadores

artesanais profissionais – informantes-chaves (Berkes, 2001; Seixas, 2005); Fase 2:

Montagem de Maquete Interativa - Construção artesanal da base e de demais artefatos de uma

“maquete interativa”, uma representação em escala miniaturizada e tridimensional da UC

marinha com informação, a partir das informações levantadas no transecto; Fase 3: Simulação

do Co-Gerenciamento – Ativação da percepção socioambiental dos participantes, através da

mobilização de uma série de estratégias de ordem sociocultural e cognitiva com vistas à

produção de sentidos.

Inicialmente, fez-se, portanto, um reconhecimento dos pontos de pesca costeiros,

completando com informações novas, dadas pelos informantes-chaves, relativas às dinâmicas

ecossistêmicas, ao manejo sustentável e aos impactos antropogênicos: fatores naturais da

ocorrência das espécies (fases da lua, marés, temperatura, sazonalidade, tipos de ventos,

correntes marinhas), manejo tradicional (tipos de isca, apetrechos e técnicas de captura) e

ações antropogênicas. A partir dessas informações coletadas e tratadas posteriormente, fez-se,

artesanalmente, uma base e diversos artefatos miniaturizados do ecossistema marinho e do

entorno urbano da Resex-Mar de AC (mar, praias, espécies marinhas endêmicas e invasoras

etc.; casas, barcos, população humana, frota pesqueira, turismo náutico, plataforma de

petróleo). A “distância segura” proporcionada pela maquete interativa (Venâncio et al.,2009),

por constituir-se uma simulação, viabiliza a compreensão e o tratamento de problemas

complexos no âmbito da gestão dos recursos naturais. Os participantes, atuantes na área da

UC, puderam posicionar-se abertamente com alteridade sobre os diversos fatores

socioambientais que se imbricam em um plano de manejo.

10 Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres (NEPED) do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos.

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Figura 05: As Fases Recursivas da Oficina Pedagógica

d) Resultados alcançados

Envolvimento de, no mínimo, de 100 participantes (equipes pedagógicas,

professores, alunos e pescadores), aproximadamente;

Realização de um transecto da Resex-Mar com base no CET local;

Experiência do grupo com a montagem da maquete interativa, passando a sua

base e artefatos à disposição da comunidade escolar;

Produção acadêmica: monografia de final de curso de pós-graduação lato sensu,

nível de especialização, Gerenciamento Socioambiental Costeiro, do Programa de

Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ;

Compromisso de autoridades municipais para a inserção do CET no currículo

escolar, através de um programa de capacitação de multiplicadores.

Conclusão

Os resultados parciais do Projeto Ressurgência apresentados – o fórum, rede de

radiocomunicação e a oficina pedagógica - foram gerados por meio de um movimento recursivo

da pesquisa-ação participativa, propiciando-lhe flexibilidade para adaptar-se a mudanças abruptas com

base no contexto das ações (atores, tempo e lugar) ao longo de sua trajetória. Cabe salientar que no

papel de sujeito ativo do projeto não só catalisou, de modo reticular, várias iniciativas locais,

regionais, nacionais e internacional para formação de redes, como também serviu de referência para a

20

Fase 1: TRANSECTO NA Fase 1: TRANSECTO NA ÁREA DA RESEX-MAR DE ÁREA DA RESEX-MAR DE

ARRAIAL DO CAGOARRAIAL DO CAGO

Fase 2: MONTAGEM DA Fase 2: MONTAGEM DA MAQUETE INTERATIVA MAQUETE INTERATIVA

DA RESEX-MAR DE DA RESEX-MAR DE ARRAIAL DO CABOARRAIAL DO CABO

Fase 3: SIMULAÇÃO DO Fase 3: SIMULAÇÃO DO CO-GERENCIAMENTO DA CO-GERENCIAMENTO DA RESEX-MAR DE ARRAIAL RESEX-MAR DE ARRAIAL

DO CABODO CABO

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fase diagnóstica da criação do plano de manejo participativo do ICMBio (Alarcon, 2009). No

município, o projeto apoio a criação do Núcleo de Pesquisa de Pesca Familiar - Sudeste 02 –

MEC-SEAP. Em nível regional, o projeto disponibilizou técnicos e infra-estrutura para a

participação de pescadores artesanais de Arraial do Cabo na formação da criação da Rede.

Solidária da Pesca na Bacia de CampoDurante o Congresso Mundial da Conservação da

Natureza da International Union for Conservation of Nature – IUCN, em Barcelona, Espanha,

outubro de 2008, deu-se início a uma cooperação com a da Red de Comunidades de

Pescadores Artesanales para el Desarrollo Sustenible (RECOPADES). Essa rede visa à

interação entre comunidades pesqueiras artesanais para se obter respostas responsáveis e

coordenadas para o esgotamento dos recursos pesqueiros. A participação nesta sessão foi

resultante também de um convite feito a partir do conhecimento da proposta do Projeto

Ressurgência. Depois, a convite do Projeto Ressurgência, representantes da RECOPADES

estiveram em Arraial do Cabo para o estabelecimento de futuras cooperações com

organizações de pescadores deste município. Além de fonte de dados, contou com um

assessor técnico-científico da equipe da técnica do Projeto Ressurgência, o oceanólogo Luiz

Fernando Vieira, no grupo de trabalho da fase diagnóstica para a implementação do plano de

manejo participativo da Resex-Mar de Arraial do Cabo, coordenado pela consultora Alarcon,

Projeto PNUD BRA/99/024 – Desenvolvimento Sustentável com Populações Tradicionais.

O projeto Ressurgência havia proposto inicialmente a formação de uma rede de atores sociais

da Resex-Mar com suporte computacional em auxílio à criação de um eFórum para ampliação

da autonomia dos usuários diretos dos recursos naturais no gerenciamento desta UC. Essa

proposta fora inspirada numa tecnologia discursiva, o cForum (The Common-Forum)

proposta por Jason Diceman (2001), um suporte tecnológico para a promoção de uma

democracia radical através de projetos comunitários em uma sociedade marcada pelos medias.

Tendo como referência a Agora da antigüidade ateniense, trata-se de sistema ajustável à

discussão, aprendizagem/ensino, debate, coordenação, planejamento e tomadas de decisões

em nível comunitárias, enfim, flexível à estrutura agonística das discussões em nível

societário. Do ponto de vista teórico, sua concepção fundamenta-se em teorias pragmáticas da

linguagem, com novas definições e conceitos de tecnologia, linguagem, esfera pública e

democracia. Formalmente, o projeto não se transformou em uma “rede”, ou “âncora” de rede,

em razão de sua natureza institucional ser pontual e provisória. Essa condição fez com que a

sua atuação fosse prospectiva, promovendo, como sujeito ativo na criação, novos arranjos

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