rede globo de televisão central globo de produção capítulo 143 · zÓio-furado — tu vem...

Rede Globo de Televisão

Central Globo de Produção Capítulo 143

Cordel Encantado (08/09/2011)

Novela de

Thelma Guedes e Duca Rachid

Escrita por

Duca Rachid

Thelma Guedes

Thereza Falcão

Colaboração de

Manuela Dias

Daisy Chaves

Júlio Fischer

Alessandro Marson

Direção Geral

Amora Mautner

Núcleo

Ricardo Waddington

Personagens deste capítulo

AMÁLIA

ANTÔNIA

AUGUSTO

AÇUCENA

BARTIRA

BATORÉ

BELARMINO

BENVINDA

CORDATA

CARLOTA

CÂNDIDA

CÍCERO

DEMÓSTENES

DORA

EFIGÊNIA

EUZÉBIO

FARID

FAUSTO

FELIPE

FILÓ

FLORINDA

GENARO

HELENA

HERCULANO

INÁCIO

JANAÍNA

JESUÍNO

LILICA

MARIA CESÁRIA

MIGUÉZIM

NEUSA

NIDINHO

OMAR

PADRE JOAQUIM

PATÁCIO

PAÇOCA

PENÉLOPE

PETRUS

QUIQUIQUI

ROSA

RUFINO

SALIM

SETEMBRINO

SOFIA

TERNURINHA

TIBUNGO

TÉINHA

VIRTUOSA

ZENÓBIO

ZÓIO-FURADO

Participações:

VICENTINA / TOMÁS/ SILVÉRIO / CARDEAL DE SERÁFIA/ CEL. PEDRO FALCÃO /

CORDELISTAS/ CRIANÇAS: MARIA DA GLÓRIA (4 ANOS), JOSÉ (3), CLARA (3) E

FRANCISCO (2), JORGE (2), MISSADE (BEBÊ DE UNS QUATRO MESES)

Elenco de apoio:

GARNIZÉ / VENTANIA / MEIA-NOITE

Figuração:

POVO DE SERÁFIA / POVO DE BROGODÓ/ PARTEIRA / 3 GUARDAS / FOTÓGRAFOS /

JUIZ ELEITORAL / 2 MOTORISTAS / PESSOAS NA FEIRA DE S. CRISTOVÃO

Cordel Encantado Capítulo 143 Pag.: 01

CENA 1/ SERÁFIA/ CATEDRAL/ EXTERIOR/ DIA.

CONT. IMEDIATA DA CENA ANTERIOR. OS DE ANTES. JESUÍNO ACABA DE

SER COROADO. OLHA AÇUCENA. ELES SORRIEM UM PARA O OUTRO.

AÇUCENA — (BAIXO, À VIRTUOSA) Jesuíno é o rei mais lindo do

mundo, não é, mãinha?

VIRTUOSA — (SORRI, BAIXO) Ele tá mesmo formoso por demais. A

cerimônia toda tá uma belezura, né não, Euzébio?

EUZÉBIO, SENTADO AO LADO DELAS, DÁ CABEÇADAS, COCHILANDO.

VIRTUOSA LHE DÁ UMA COTOVELADA. ELE ACORDA, ASSUSTADO.

EUZÉBIO — Oxe, isso num acabou ainda não?! Eita, coisa arrastada...

CARDEAL ABENÇOA JESUÍNO. ASPERGE ÁGUA BENTA SOBRE ELE.

CARDEAL — Eu te consagro Serafim II, o Esperado.

O AUXILIAR DO PADRE SE COLOCA DIANTE DE JESUÍNO COM A BÍBLIA.

JESUÍNO PÕE A MÃO SOBRE O LIVRO SAGRADO E FAZ O JURAMENTO.

JESUÍNO — Eu, Serafim II, subo ao trono pra juntar as casas reais de

Seráfia do Norte e Seráfia do Sul, numa única Seráfia. E juro

por minha vida, que vou fazer o melhor pra paz e a

prosperidade de meu reino.

CARDEAL — In nomini patri, et fili et spiritu sancti... Amém!

AUGUSTO — (BRADA) Viva o rei!

TODOS NA IGREJA APLAUDEM JESUÍNO. DÃO VIVAS. NA REAÇÃO

EMOCIONADA DOS NOSSOS PERSONAGENS, CORTA DESCONTÍNUO PARA:

CENA 2/ SERÁFIA/ BALCÃO DO PALÁCIO/ EXTERIOR/ DIA.

O POVO GRITA E ACENA PARA O BALCÃO. JESUÍNO, DE COROA E MANTO,

AO LADO DE AÇUCENA, RESPONDEM AOS ACENOS. COM ELES: AUGUSTO

E CESÁRIA, BENVINDA, EUZÉBIO E VIRTUOSA, PETRUS E FILÓ. AUGUSTO

SE ADIANTA E PEDE SILÊNCIO. TODOS OBEDECEM.

AUGUSTO — Povo de Seráfia! É com imensa alegria que apresento nosso

novo rei, Serafim II, o Esperado!

NOVA SALVA DE PALMAS. JESUÍNO BEIJA A MÃO DE AÇUCENA E PEDE

SILÊNCIO AO POVO QUE OBEDECE.

JESUÍNO — A vista que tenho aqui de cima é muito bonita. O rosto de

vocês é só de alegria. Alegria de ver esse reino como Serafim

fundou: uma Seráfia só!

NOVO CLAMOR DO POVO. JESUÍNO PEDE SILÊNCIO.

JESUÍNO — Lá na igreja eu jurei que ia fazer o melhor pra Seráfia. E é o

que eu vou fazer agora, dando essa coroa pro homem que

nasceu aqui, sempre amou e defendeu esse reino...


JESUÍNO TIRA COROA DA CABEÇA. POVO DIZ “OH” ESPANTADO. NO

BALCÃO, TODOS SEM ENTENDER. AÇUCENA SORRI, MATREIRA.

AUGUSTO — Jesuíno, o que você está.../

JESUÍNO — (ESTENDE A COROA PARA AUGUSTO) Essa coroa é

sua, Rei Augusto!

TODOS EMOCIONADOS NO BALCÃO. AÇUCENA CHORA.

AUGUSTO — Eu não posso...

NO MEIO DA MULTIDÃO OUVE-SE UM GRITO “VIVA REI AUGUSTO!”

AUGUSTO OLHA EMOCIONADO PARA A COROA E DEPOIS PARA O POVO.

EM SEGUIDA OLHA JESUÍNO QUE SORRI ESTENDENDO-LHE A COROA.

JESUÍNO — Pela felicidade do povo de Seráfia, majestade!

AUGUSTO TOMA A COROA NAS MÃOS E COLOCA NA CABEÇA. CLAMOR.

ELES SE ABRAÇAM. AÇUCENA SE JUNTA A ELES, FELIZ.

AUGUSTO — (AO POVO) Meus amigos, este é o dia mais feliz de minha

vida, porque recebo de volta a coroa das mãos de Jesuíno, a

alma mais nobre que tive a honra de conhecer. Volto a

governar trazendo comigo o futuro herdeiro do trono. (PUXA

CESÁRIA) Anuncio que Vossa Rainha, Maria Cesária, a

Bem Aventurada, espera um filho!

POVO EXPLODE EM GRITOS. CHAPÉUS PARA O ALTO, APLAUSOS. NA

SURPRESA E ALEGRIA DE TODOS NO BALCÃO, CORTA PARA:

CENA 3/ SERÁFIA/ CATEDRAL/ EXTERIOR/ DIA.

CLIPE MUSICADO, SEM FALA: “MINHA PRINCESA CORDEL – VERSÃO

LENTA”. CASAMENTO DE JESUÍNO E AÇUCENA. NO ALTAR, O PADRE,

COROINHA E JESUÍNO, ESTE DE FARDA, NERVOSO, ESPERA AÇUCENA.

BENVINDA SE APROXIMA DO FILHO E O ACALMA. EUZÉBIO AFROUXA A

GRAVATA. VIRTUOSA VÊ E VOLTA A APERTÁ-LA. ELE BUFA. CESÁRIA,

EFIGÊNIA, PETRUS, FILÓ (LINDA), CECÍLIA E JUCA. DE REPENTE JESUÍNO

OLHA A ENTRADA DA IGREJA E SORRI. TODOS OLHAM PARA TRÁS E SE

LEVANTAM. É AÇUCENA QUE ENTRA VESTIDA DE NOIVA, TRAZIDA POR

AUGUSTO, TRAJADO COMO REI. ELA PASSA PELAS PESSOAS,

SORRIDENTE. AUGUSTO NÃO SE CABE DE ALEGRIA. ELES SE OLHAM.

DETALHAR A ALEGRIA DE TODOS NO ALTAR. AÇUCENA E AUGUSTO

CHEGAM LÁ. ELE BEIJA A TESTA DA FILHA E A ENTREGA A JESUÍNO.

JESUÍNO E AÇUCENA SE OLHAM EMOCIONADOS. EM CORTES

DESCONTÍNUOS: JESUÍNO E AÇUCENA AJOELHADOS DIANTE DO PADRE.

TROCAM ALIANÇAS. FAZEM O JURAMENTO E FINALMENTE O PADRE OS

ABENÇOA. ELES LEVANTAM, SE OLHAM FELIZES E REALIZADOS.

JESUÍNO — Agora tu é minha, Açucena. Pra sempre! Ninguém mais vai

separar a gente!


AÇUCENA — Eu lhe amo, Jesuíno!

JESUÍNO — Eu lhe amo mais ainda!

ELES SE BEIJAM, APAIXONADOS. EMOÇÃO GERAL. EUZÉBIO E VIRTUOSA,

BENVINDA, CESÁRIA, AUGUSTO, EFIGÊNIA, PETRUS, FILÓ, CECÍLIA, JUCA.

APLAUSOS E VIVAS. JESUÍNO E AÇUCENA SAEM DO BEIJO RADIANTES.

EM SLOW: ELES SAEM CORRENDO PELO CORREDOR, SORRINDO. NA

ALEGRIA DELES, CORTA PARA:

CENA 4/ IMAGENS DO SERTÃO – PARA LOCALIZAR.

CENA 5/ PALÁCIO DO GOVERNO/ SALA/ INTERIOR/ DIA.

DORA E FELIPE VEEM FOTOS DO CASAMENTO DE AURORA NOS JORNAIS.

DORALICE — O casamento de Açucena e Jesuíno parou Seráfia!

CARLOTA ENTRA COM O BEBÊ, HELENA E BATORÉ (SEM PERUCA).

CARLOTA — Parece que foi ainda mais espetacular do que o casamento do

Rei Augusto com Maria Cesária! Quero uma festa igual,

quando me casar com Fausto!

BATORÉ — Oxe, que esses casórios em carreirinha estão me dando uma

vontade arretada de casar logo com você, minha rainha!

HELENA — Faço questão de me casar em Seráfia, Altino! Com o reino

unificado há muito o que comemorar!

BATORÉ — Como você quiser, rainha de minha vida!

FELIPE — Fico muito feliz pela senhora, mamãe. Há muito tempo não a

via com esse sorriso no rosto!

CARLOTA — Mas o que me surpreendeu mesmo foi Jesuíno ter devolvido

o trono para rei Augusto.

BATORÉ — Fiquei de queixo caído! Esse menino Jesuíno é arretado...

DORALICE — Pois esperem! Outra novidade irá surpreendê-los ainda mais!

Desta vez em Brogodó! (LEVANTA) Vem comigo, Felipe!

NA CURIOSIDADE DE TODOS, CORTA DESCONTÍNUO:

CENA 6/ PALÁCIO DO GOVERNO/ QUARTO DE DORA/ INTERIOR/ DIA.

O QUARTO AGORA É O QUARTO DO CASAL. FELIPE E DORA ENTRAM.

FELIPE — Doralice, de que surpresa você estava falando?

DORALICE — As eleições em Brogodó estão chegando. Estive pensando e

tive uma idéia. Veja o que acha. (T) Nós dois, podemos...

EM DORA EXPLICANDO PARA FELIPE FORA DE ÁUDIO, CORTA PARA:

CENA 7/ PALÁCIO DO GOVERNO/ GABINETE/ INTERIOR/ DIA.

PATÁCIO E FAUSTO CHORANDO. NIDINHO JUNTO.


PATÁCIO — O que vai ser de nós, Faustinho, sem sua mãinha? Por que,

meu Deus? Por que Ternurinha nos abandonou?

FAUSTO — É tudo culpa daquele caolho da moléstia!

PATÁCIO — Sem Ternurinha, estou acabado, morto e liquidado!

NIDINHO — Fale assim não, painho! As eleições tão chegando. O senhor

há de se reeleger!

PATÁCIO — Impossível, meu filho! Nunca mais vou ser prefeito desta

cidade outra vez! Nunca mais vou dizer: “na qualidade de

prefeito de Brogodó...” (CHORA MAIS) Ai, meu Deus!

NIDINHO — Oxe, e por que não vai, painho?!

PATÁCIO — (ESTENDE UMA CARTA) Por causa dessa carta que recebi,

hoje cedo, lá da capital do Estado! Leia!

NIDINHO — (PEGA A CARTA, LÊ) “Em virtude de irregularidades

apuradas em sua administração, fica impugnada a candidatura

de Vossa Senhoria a qualquer cargo público...” (T) Não

entendi foi nada desse palavrório... Isso quer dizer o quê?

FAUSTO — Eles proibiram nosso painho de se candidatar a prefeito!

PATÁCIO — É o fim dos Peixoto à frente da prefeitura de Brogodó! Nosso

clã foi desterrado, varrido do poder público para sempre!

FAUSTO — Pior: desse palácio também! Onde é que nós vamos morar?

Vamos viver de quê?! (PAVOR) Eu vou ter que trabalhar?!!

NIDINHO — Calma, minha gente! Carece desse chororô todo não, porque

eu tive uma idéia porreta, qüiçá a salvação da lavoura!

EM PATÁCIO E FAUSTO OLHANDO NIDINHO, SURPRESOS, O CORTE.

CENA 8/ CASEBRE NO MATO/ EXTERIOR/ DIA.

TERNURINHA MAL VESTIDA, DESGRENHADA, LAVA UMA PILHA DE

LOUÇA NA BACIA, SE COÇANDO POR CAUSA DOS MOSQUITOS.

TERNURINHA — Miséria de vida! (AFASTA MOSQUITO) Xô, muriçoca!

ZÓIO SURGE TRAZENDO ALGUNS MANTIMENTOS.

ZÓIO-FURADO — Pronto, Ternurinha, já arranjei comida! Não é muita coisa,

mas foi o que deu pra roubar no armazém. Trouxe feijão de

corda, lingüiça, rapadura, farinha, e.../

TERNURINHA — (CORTA) Rapadura, farinha! Então foi pra isso que joguei

tudo pro alto pra ficar com você?! Cadê os vestidos, os

sapatos, as jóias que tu prometeu roubar pra mim?


ZÓIO-FURADO — Tenha paciência, Ternurinha. Por enquanto não posso

fazer grandes assaltos, pra não dar muito nas vistas. Capitão

Herculano ainda tá buscando minha pessoa. Mas logo a gente

vai-se embora pra longe. E tu vai se vestir feito uma rainha!

TERNURINHA — (REVOLTADA) Rainha de quê? Desse casebre? (T) Ai

que saudade de meu palácio, de minha primeira-damice!

ZÓIO-FURADO — (PULA) Oxente! Tu tá com saudade daquele frouxo de seu

marido? Então me deixe e volte pra ele, volte!

TERNURINHA — Ui, que facínora ciumento! (ABRAÇA-O) Não foi isso

que eu disse, Zóinho! Só disse que nossa vida pode mudar, e

pra melhor! Acabo de ter uma idéia porreta, visse? As

eleições em Brogodó estão chegando e a gente podia...

TERNURINHA EXPLICANDO, SAINDO DE ÁUDIO, ZÓIO OUVINDO, O CORTE.

CENA 9/ PASSAGEM DE TEMPO DE ALGUNS DIAS.

CENA 10/ BROGODÓ/ PRAÇA - CORETO/ EXTERIOR/ DIA.

EM VOLTA DO CORETO, NA EXPECTATIVA: GENARO, JANAÍNA, ADEMAR,

ANTÔNIA, INÁCIO, MIGUÉZIM, GALEGO, CORDATA, TIBUNGO, HELENA

BATORÉ, NEUSA, QUIQUIQUI, SETEMBRINO, GALEGO, TEÍNHA, ZENÓBIO,

FLORINDA, JOAQUIM, DEMÓSTENES, SILVÉRIO, LILICA, TOMÁS E POVO

(FIGURANTES). PENÉLOPE SOBE NO PALANQUE E FALA PARA O POVO.

PENÉLOPE — Boa tarde, povo de Brogodó! Vamos dar início ao primeiro

debate público entre os candidatos à Prefeitura de Brogodó!

PESSOAS APLAUDEM, ANIMADAS.

PENÉLOPE — Antes de mais nada, quero agradecer a disposição dos

candidatos em participar dessa iniciativa, que tenho certeza,

só virá a fortalecer a democracia brasileira!

CÂM DESVIA PARA BAIXO DO PALANQUE, E ENCONTRA PATÁCIO.

PATÁCIO — (REPETE) Fortalecer a democracia brasileira... (T) Muito

boa frase... Decorou, Faustinho?

ENTÃO REVELAMOS: CARLOTA, FAUSTO (NERVOSÍSSIMO) E NIDINHO

(LEVANDO UMA PASTA) QUE, SOBRE UM CAIXOTE, AJEITA O IRMÃO.

FAUSTO — Painho, eu não tenho o dom da oratória. Não entendo nada de

política! Vamos desistir disso!

NIDINHO — Se avexe não, Fausto. Na qualidade de seu irmão e assessor,

estarei a seu lado. Qualquer coisa segure minha mão.

CARLOTA — (BATE NELE) Coragem, Fausto! Suba e não faça feio. Eu

quero um futuro brilhante como primeira-dama. Trate de

ganhar esse debate! Esmague seus opositores, como baratas!


FAUSTO — Oxe! Tenho medo de barata que me pélo!

CÂM. VAI PARA PENÉLOPE NO PALANQUE:

PENÉLOPE — E com vocês, o candidato da situação, Fausto Peixoto!

POUCOS APLAUSOS. FAUSTO RESISTE A SUBIR E É EMPURRADO POR

PATÁCIO, CARLOTA E NIDINHO QUE VAI COM ELE, ACENANDO PRO POVO.

PENÉLOPE — Agora vamos conhecer o candidato da oposição, Príncipe

Felipe Avignon de Toledo.

REAÇÃO DE FAUSTO, NIDINHO, CARLOTA, SURPRESOS E CHOCADOS.

PATÁCIO — O quê?! Então Felipe é o candidato da oposição?!

O POVO GOSTA, APLAUDE FORTE. CORTA PARA: DORA ACOMPANHANDO

FELIPE À ENTRADA DO CORETO. ELA DÁ UM SELINHO NELE.

DORA — Boa sorte, meu amor!

FELIPE SOBE, APLAUDIDO. PATÁCIO E CARLOTA VÃO ATÉ DORA.

CARLOTA — Aposto que isso é coisa sua, Doralice!

PATÁCIO — Traído pelo sangue de meu sangue... Ai de mim!

DORA — Ora, papai! Já estava na hora do senhor ter um opositor!

PATÁCIO — Dois, minha filha! Ainda tem o terceiro candidato! Quem

será?

OS TRÊS VÃO PRA FRENTE DO CORETO. PENÉLOPE ANUNCIA

PENÉLOPE — E o terceiro candidato, Dr. Leopoldo Fulgêncio!

TODOS ESTRANHAM. TERNURINHA SURGE NO PALANQUE PARA ESPANTO

DE TODOS. ELA SORRI E VEM PUXANDO UM HOMEM DE ÓCULOS

ESCUROS, TERNO IMPECÁVEL E CHAPÉU QUE NÃO RECONHECEMOS.

PATÁCIO — (MÃO NO PEITO) Ternurinha?!

TERNURINHA — Cidadãos e cidadãs brogodonenses. Vocês me conhecem,

sou sua primeira-dama. E para que eu continue no posto, peço

seu voto para... Dr. Leopoldo Fulgêncio!

O HOMEM LEVANTA A CABEÇA: É ZÓIO-FURADO.

DORA — Zóio-Furado?! É ele o terceiro candidato?!

EM TODOS BOQUIABERTOS, CORTA PARA:

1º INTERVALO COMERCIAL


CONT. IMEDIATA DA CENA ANTERIOR. ZÓIO E TERNURINHA SORRINDO E

ACENANDO PARA O POVO. CORRE UM BURBURINHO INDIGNADO.

TERNURINHA — Leopoldo Fulgêncio, o prefeito que vai fazer de Brogodó,

uma cidade milhó!


PATÁCIO — O amante cangaceiro de olho único, de Ternurinha?!

ZONZO, PATÁCIO CAI SOBRE DORA E CARLOTA QUE O AMPARAM.

BATORÉ — (GRITA, FURIOSO) Ele é Zóio-Furado!!! O cangaceiro

traidor!

ZÓIO-FURADO — Não, senhor! Meu nome é Leopoldo Fulgêncio!

BURBURINHO DO POVO AUMENTA. ZÓIO APERTA A MÃO DE FAUSTO, QUE

ESTÁ EM CHOQUE. DEPOIS ESTENDE A MÃO A FELIPE QUE RECUA.

FELIPE — Eu jamais apertarei a mão de um homem de sua laia!

VAMOS PARA O MEIO DO POVO ONDE A REVOLTA COMEÇA A INSURGIR.

BATORÉ — Este homem é um foragido da polícia!

SETEMBRINO — (GRITA) Ele foi capanga de Timóteo!

QUIQUIQUI — Vamo pegar esse safa-fa-fado de uma figa!

NEUSA — Num vamo deixar ele fazer o povo de besta!

ADEMAR — Eu não voto em facínora!

JANAÍNA — Fora, desgraçado! Fora!

O POVO TODO SE JUNTA AOS GRITOS DE FORA!, VAIAM, AMEÇAM, ZÓIO

VAI FICANDO NERVOSO. TERNURINHA COMEÇA A BRIGAR COM O POVO.

TERNURINHA — Parem, ignorantes! Leopoldo é um facínora arrependido!

ZÓIO-FURADO — (FURIOSO) Vocês vão ter que me engolir!

DORA AVANÇA DO MEIO DO POVO, FALANDO

DORA — Ninguém vai te engolir, não! Você é um bandido. Não pode

se candidatar a prefeito...

BATORÉ — Seu lugar é na cadeia! (CHAMA) Guardas! Prendam esse

homem!

O POVO GRITA JUNTO “PRENDE! PRENDE!”. RUFINO E PAÇOCA TENSOS.

RUFINO — Oxe, Paçoca! E agora? O que é que a gente faz?

DORA — O que é que vocês estão esperando, homens?

BATORÉ — Prendam Zóio-Furado imediatamente!

RUFINO E PAÇOCA SÃO EMPURRADOS PELO POVO ATÉ O PALANQUE. LÁ,

ZÓIO-FURADO E TERNURINHA SE OLHAM, NERVOSOS.

ZÓIO-FURADO — Eita, Ternurinha... melhor a gente se escafeder !

PAÇOCA E RUFINO, APOIADOS PELO POVO, OS DETÊM. RUFINO E PAÇOCA

SENTINDO-SE APOIADOS, RESPIRAM FUNDO, ENGROSSAM A VOZ E

APONTAM SEUS CACETETES PARA ZÓIO. FALAM JUNTOS.

RUFINO E PAÇOCA — (JUNTOS) Teje preso!


ELES PEGAM ZÓIO, UM EM CADA BRAÇO E VÃO TIRANDO-O DALI, COM A

AJUDA DO POVO, QUE APLAUDE OS GUARDAS, “MUITO BEM!”, “FORA!”.

ZÓIO-FURADO — Eu lhe disse que isso não ia dar certo, Ternurinha!

TERNURINHA VAI ATRÁS, GRITANDO:

TERNURINHA — Soltem meu Zóinho, soltem meu Zóinho!

GUARDAS VÃO SE AFASTANDO DALI COM ZÓIO E TERNURINHA E UM

GRUPO DE HOMENS E MULHERES (DORA E FELIPE NÃO VÃO, FICAM).

PATÁCIO VAI SAINDO DISCRETAMENTE ATRÁS DELES. O POVO VAIANDO.

PENÉLOPE — Gente, por favor! Zóio Furado já está sendo preso... Vamos

começar o debate. (SORTEIA) O primeiro a expor seu

programa de governo será... (TIRA PAPEL) Fausto Peixoto!

APLAUSOS FRACOS. CARLOTA INCITA O POVO.

CARLOTA — Força, minha gente! Não comeram hoje, não?! Aplaudam!

NIDINHO EMPURRA FAUSTO. FELIPE RECUA, APLAUDINDO.

CARLOTA — Chega! (P/FAUSTO) Pode começar a falar, meu amor!

SILÊNCIO. O POVO OLHANDO FAUSTO, ELE SEM GRAÇA.

FAUSTO — Bem... Meu... meu governo de programa... digo... meu

programa de governo está... (P/ NIDINHO, BAIXO) Está

onde mesmo, Nidinho?

NIDINHO — (LEVANTA OS PAPÉIS) Aqui, minha gente! O programa

de governo de seu futuro prefeito Fausto Peixoto está aqui!

NIDINHO DÁ O PROGRAMA PARA FAUSTO QUE DEIXA OS PAPÉIS CAIREM

NO CHÃO. ELE SE ABAIXA E COMEÇA A CATAR. O POVO RI.

CARLOTA — (P/ FAUSTO) Ande com isso, Fausto! Depressa!

FAUSTO CATANDO OS PAPÉIS. O TEMPO PASSANDO.

PENÉLOPE — (OLHA RELÓGIO) Sinto muito, candidato. Mas seu tempo

esgotou!

PROTESTOS DE CARLOTA E NIDINHO. FAUSTO ALIVIADO.

PENÉLOPE — Vamos chamar agora o candidato Príncipe Felipe!

POVO EXPLODE EM APLAUSOS. DORA ORGULHOSA.

FELIPE — Meus amigos, não vou fazer promessas. Mas assumir um

compromisso de governo, que é o de priorizar as políticas

sociais! Moradia, saúde e educação são direito de todos! São

os pilares de uma sociedade justa! A educação, sobretudo.

Pois é ela que garante a liberdade e a cidadania! O acesso à

informação, assim como a valorização da arte e da cultura são

a maior riqueza que um povo pode ter!

NA EXPLOSÃO DE APOIO DO POVO, CORTA PARA:


CENA 12/ BROGODÓ/ DELEGACIA/ FACHADA/ EXTERIOR/ DIA.

ZÓIO LEVADO POR RUFINO E PAÇOCA. TERNURINHA DESESPERADA.

TERNURINHA — Não façam isso! Soltem meu Zóinho! É uma ordem!

RUFINO — A senhora não manda é mais nada nessa cidade!

TERNURINHA — Mas vou voltar a mandar! E aí vocês vão ver!

ZÓIO SE APROVEITA DA DISTRAÇÃO DOS SOLDADOS, QUE BATEM BOCA

COM TERNURINHA, E SE DESVENCILHA DELES. ZÓIO VAI FUGIR, MAS OS

SOLDADOS REAGEM. PAÇOCA VAI PEGAR ZÓIO, MAS ESTE LHE DÁ UM

CHUTE E PAÇOCA VAI AO CHÃO.

PAÇOCA — Aiii!!! Pegue ele, Rufino!

RUFINO AVANÇA, MAS TERNURINHA DÁ UNS SOPAPOS NELE.

TERNURINHA — Não encoste um dedo em meu Zóinho! Fuja, Facínora!

ZÓIO E TERNURINHA CORREM PARA DOIS CAVALOS ALI. PAÇOCA AJUDA

RUFINO A LEVANTAR E ELES VÃO ATRÁS DE ZÓIO E TERNURINHA,

CORRENDO. CÂM VAI PARA PATÁCIO QUE CHEGA E VÊ OS DOIS FUGINDO.

PATÁCIO — Ternurinhaaaa!!!!! Espere!

PATÁCIO PEGA O CARRO DE POLÍCIA E OS SEGUE. CORTA DESCONTÍNUO:

CENA 13/ CASEBRE NO MATO/ INTERIOR/ DIA.

ZÓIO E TERNURINHA ARRUMANDO AS COISAS DELES PARA FUGIREM.

ZÓIO-FURADO — Sabia que isso não ia prestar! Agora vamos ter de arrumar

outro esconderijo! E dessa vez vai ter que ser no mato!

TERNURINHA — Eu agora vou ter que morar no mato?!

ZÓIO-FURADO — Melhor do que o xilindró! Quem mandou querer ser

primeira dama outra vez? (A ENCARA) Enfie uma coisa em

sua cabeça, Ternurinha: tu agora não é mais primeira madama

de nada. Tu é mulher de bandido!

EM TERNURINHA SURPRESA E FRUSTRADA, CORTE DESCONTÍNUO:

CENA 14/ CASEBRE NO MATO/ FACHADA/ EXTERIOR/ DIA.

TERNURINHA E ZÓIO MONTANDO NOS CAVALOS COM SEUS PERTENCES.

SÚBITO ZÓIO VÊ ALGO E REGE ASSUSTADO.

ZÓIO-FURADO — A polícia?!!!

CÂM REGISTRA A VIATURA DA POLÍCIA CHEGANDO.

ZÓIO-FURADO — Depressa, mulé! S’imbora!

OS DOIS VÃO PARTIR. QUANDO PATÁCIO PÁRA A VIATURA À FRENTE.

PATÁCIO — Ternurinhaaaa!!!!

ELA REAGE SURPRESA AO VER PATÁCIO SAINDO DO CARRO.

TERNURINHA — Patácio?! É você?!


PATÁCIO — (CHORA) Ternurinha! Não se vá com esse fora-da-lei, eu

suplico! Fique comigo! Olhe, não sou mais prefeito, mas ao

menos serei pai ou sogro de prefeito! E daí a ser prefeito

novamente, é um pulinho!

TERNURINHA EM DÚVIDA.

ZÓIO-FURADO — Tu vem comigo ou vai ficar com esse frouxo, Ternurinha?

TERNURINHA OLHA ZÓIO, OLHA PATÁCIO, VIRA NOVAMENTE PARA ZÓIO,

SORRI E VAI ATÉ ELE. PATÁCIO MURCHA. ZÓIO SORRI VITORIOSO.

TERNURINHA — Olhe, Zóio, gostei por demais de viver essa aventura a seu

lado... Mas não posso viver sem meu Patacinho!

PATÁCIO — (NAS NUVENS) Ternurinha!

TERNURINHA — Eu e Pata somos almas gêmeas... (DÁ BEIJINHO EM

ZÓIO) Boa sorte, Facíííínora.

ZÓIO MURCHO, SE VIRA PARA IR EMBORA, CONFORMADO. TERNURINHA

CORRE PARA PATÁCIO. ELE A RODA NOS BRAÇOS. NO REENCONTRO,

CENA 15/ TOMADAS DE SERÁFIA - PARA LOCALIZAR.

LETREIRO: “MESES DEPOIS...”

CENA 16/ PALÁCIO DE SERÁFIA/ QUARTO DO REI/ INTERIOR/ DIA.

AO FUNDO, A MÚSICA “QUANDO ASSIM”. CESÁRIA EM TRABALHO DE

PARTO. CENA PARECIDA COM A CENA DE NASCIMENTO DE AURORA.

AÇUCENA AO LADO DELA, APOIANDO. EFIGÊNIA, VIRTUOSA E BENVINDA

ALI. CRIADAS TRAZEM TOALHAS LIMPAS E UMA PARTEIRA FAZ O PARTO.

BENVINDA — Vamos, Maria Cesária...

VIRTUOSA — Só mais uma forcinha...

AÇUCENA — Seu bebê já está quase chegando!

CESÁRIA FAZ FORÇA. SONOPLASTIA: CHORO FORTE DO BEBÊ. TODOS

FELIZES E ALIVIADOS. A PARTEIRA MOSTRA O BEBÊ – AINDA, SUJO, COM

O CORDÃO UMBILICAL – PARA CESÁRIA. ELA MUITO EMOCIONADA.

MARIA CESÁRIA — (CHORA) É um menino... O filho do Rei é um menino!

AÇUCENA BEIJA CESÁRIA. CORTA DESCONTÍNUO: CESÁRIA COM O BEBÊ,

JÁ LIMPO E VESTIDO, NOS BRAÇOS. AUGUSTO AO LADO DELA. JUCA,

LADY CECÍLIA, PETRUS, FILÓ, JESUÍNO, AÇUCENA, BENVINDA, VIRTUOSA,

EUZÉBIO E EFIGÊNIA ALI, TODOS EMOCIONADOS.

AUGUSTO — (MURMURA) Que Deus te abençoe, meu filho...

AÇUCENA — Já escolheram o nome do meu irmãozinho?

CESÁRIA E AUGUSTO TROCAM UM OLHAR CÚMPLICE.

AUGUSTO — Ele se chamará Augusto Frederico IV, o Bendito.

JESUÍNO — É nome danado de bonito...


MARIA CESÁRIA — (P/ BEBÊ) Tu há de ser um rei bom e justo, meu filho...

Igualzinho ao teu pai...

AUGUSTO — Mamãe, a medalhinha de Santa Eudóxia.

EFIGÊNIA — (ENTREGA ESTOJO DE VELUDO) Está aqui, Augusto...

AUGUSTO TIRA MEDALHINHA DA CAIXA. DETALHAR: A MEDALHA COM

IMAGEM DE SANTA EUDÓXIA. ELE A COLOCA NO PESCOÇO DO BEBÊ.

AUGUSTO — Augusto Frederico, assim como eu te concedo agora essa

medalha de Santa Eudóxia, tu a concederás um dia ao nascido

do ventre de tua esposa. Ela representa a casa real de Seráfia!

NA EMOÇÃO DE TODOS, O CORTE PARA:

CENA 17/ SERÁFIA/ BALCÃO DO PALÁCIO/ EXTERIOR/ DIA.

MARIA CESÁRIA COM O BEBÊ NOS BRAÇOS. AUGUSTO, AO SEU LADO,

ORGULHOSO, AO LADO DELES, JESUÍNO E AÇUCENA. O POVO, REUNIDO,

SAÚDA OS REIS. AUGUSTO TOMA O FILHO NOS BRAÇOS E DECLARA:

AUGUSTO — Povo de Seráfia, eu vos apresento Augusto Frederico IV, o

Bendito! Longa vida ao futuro rei de Seráfia!

POVO ACLAMA. AUGUSTO E CESÁRIA OLHAM O BEBÊ, RADIANTES, E SE

BEIJAM. AÇUCENA NOTA JESUÍNO QUIETO, PENSATIVO.

AÇUCENA — (NUM APARTE) O que é que tu tem, Jesuíno?

JESUÍNO — Olhando o filho do rei, me lembrei que sempre quis criar

nossos menino no sertão. (DECIDE) Vamos voltar, Açucena?

AÇUCENA — Acho é bom! Porque nosso primeiro menino já tá a caminho.

JESUÍNO — Açucena, tu tá dizendo que...

AÇUCENA — Eu tô grávida, Jesuíno! Tô esperando um filho teu!

JESUÍNO A ABRAÇA AÇUCENA FELIZ. NA FELICIDADE DOS DOIS, O CORTE.


CENA 18/ PALÁCIO DE SERÁFIA/ SALÃO/ INTERIOR/ DIA.

JESUÍNO, AÇUCENA, AUGUSTO, CESÁRIA (COM O BEBÊ) E EFIGÊNIA.

AUGUSTO — Voltar pra Brogodó? Mas por quê? Aconteceu alguma coisa?

AÇUCENA — Nosso lugar não é aqui, meu pai...

JESUÍNO — O sertão não sai de nosso coração... Não tem jeito, rei.

AUGUSTO — Estão mesmo decididos? Não há nada que eu possa fazer?

EFIGÊNIA — Se conforme, Augusto. Esses dois sabem bem o que querem.

AÇUCENA — (SEGURA AS MÃOS DE AUGUSTO) Me perdoe, meu pai.

Sei que tô lhe dando uma tristeza grande demais...


AUGUSTO — A sua felicidade está acima de tudo, minha querida.

MARIA CESÁRIA — No fundo, Augusto sabia que um dia vocês iam voltar.

AUGUSTO — Preferia estar errado, mas enfim... Que Deus os abençoe! (T)

Vou sentir tanto a sua falta, meu anjo.

AÇUCENA — Mas aposto que o senhor não vai demorar a ir me visitar...

Vai ficar ansioso para conhecer o seu netinho.

AUGUSTO — Netinho?

AÇUCENA — Eu estou grávida, painho!

AUGUSTO — Por Santa Eudóxia! Isso é uma benção! (T) Minha filha está

grávida! Eu vou ser avô!

EFIGÊNIA — E eu, bisavó pela segunda vez!

EM AÇUCENA, ABRAÇANDO O PAI E A AVÓ, EMOCIONADA, O CORTE.

CENA 19/ IMAGENS DO SERTÃO – PARA LOCALIZAR.

LETREIRO: “UM MÊS DEPOIS...”

CENA 20/ BROGODÓ/ SALÃO DE BARBEIRO/ FACHADA/ EXTERIOR/ DIA.

ADAPTAÇÃO DE CENÁRIO QUE JÁ EXISTA, UMA CASA DE BROGODÓ, QUE

SERVE DE FACHADA P/ BARBEARIA. FARID, BARTIRA (COM O BEBÊ

MAIORZINHO), SALIM, OMAR E SOFIA INAUGURAM O SALÃO.

SETEMBRINO, QUIQUIQUI, TÉINHA, ROSA, FLORINDA E ZENÓBIO ALI COM

ELES. ALGUNS FIGURANTES POR ALI TAMBÉM.

FARID — Bartirinha, bode corta o fita da inauguração, ê!

BARTIRA CORTA A FITA.

BARTIRA — Anuncio que tá inaugurado o salão de beleza Sherazade!!!

TODOS APLAUDEM, CUMPRIMENTAM FARID E BARTIRA. VICENTINA,

TOMÁS, LILICA E SILVÉRIO VÃO CHEGANDO.

VICENTINA — É festa, é? E nós não fomos convidados?

BARTIRA — Oxe, Farid! O que essa dona tá fazendo aqui? (A

VICENTINA) No meu salão ela não bota os pé não, visse?!

VICENTINA — Ai, credo! Que indelicadeza! Mulherzinha mais sem finesse!

TOMÁS — Vamos dar meia volta, Vicentina... Não quero confusão.

SILVÉRIO — Eu vou embora, porque este lugar está longe dos padrões

aceitáveis de civilidade, cortesia e elegância.

QUIQUIQUI — E esse ca-ca-cabra safado ainda tá falando mal da ge-gente?

ROSA — Depois do ele aprontou com Filó?!

TÉINHA — Queria seduzir a coitada!


SETEMBRINO — Fazer ela de besta!

FLORINDA — Acho que é melhor vocês pegarem outro rumo, visse?

ZENÓBIO — É verdade. E como se tratam de atores, proponho uma salva

de... vaias para acompanhar a despedida deles.

TODOS COMEÇAM A VAIAR E XINGAR VICENTINA E SILVÉRIO. “SAFADO”,

“BISCATONA”, “SUMAM DAQUI”, “SEM-VERGONHA”, “CACHORRO”, “PATA

FANHOSA”, “CAFAJESTE”, ELES REAGEM INDIGNADOS E VÃO SAINDO.

TOMÁS — A voz do povo é a voz de Deus! E, pelo jeito, Deus pode

dizer coisas horríveis sobre vocês dois!

LILICA — Esses aí num respeitam ninguém, nem artista de cinema!

(PROVOCA) Bando de João-ninguém! Morto-de-fome!

COM OS XINGAMENTOS DE LILICA, O POVO SE REVOLTA MAIS E AVANÇA

PARA CIMA DOS QUATRO, QUE SÃO FORÇADOS A SAIR CORRENDO.

BARTIRA E FARID FICAM COM OS FILHOS, OBSERVANDO A CORRERIA.

FARID — Está vendo só, Bartirinha? Farid nunca mais vai deixa que

nada nem ninguém estrague nossa amorzinho! Você é o

único esposa de Farid, bara sempre!

BARTIRA — Ai, Farid! Me dê um cheiro, seu turco safado!

FARID — Libanês! Farid é libanês! Libanês abaixonada!

ELES SE BEIJAM. AS CRIANÇAS FELIZES APLAUDEM.

CENA 21/ PENSÃO/ QUARTO DE VICENTINA/ INTERIOR/ DIA.

VICENTINA FAZ AS MALAS ÀS PRESSAS. SILVÉRIO COM SUA MALA ALI.

VICENTINA — Que horror, deixar Brogodó assim! Como uma criminosa...

Achei que seríamos linchados pelo populacho!

TOMÁS E LILICA ENTRAM, TAMBÉM COM MALETAS.

LILICA — O carro já está lá embaixo. Tu ainda vai demorar muito, é?

VICENTINA — Querida, por mais que você tenha ficado com o papel, eu

serei sempre uma estrela. Demoro o quanto eu quiser!

SILVÉRIO — (A TOMÁS) Ainda temos que esperar por Penélope e

Belarmino. Eles irão conosco para a capital.

TOMÁS — Tomara que venham logo! Estamos correndo risco de vida!

CENA 22/ ACAMPAMENTO DE CANGACEIROS/ EXTERIOR/ DIA.

CARRO DE PENÉLOPE COM AS MALAS. BELARMINO E PENÉLOPE SE

DESPEDEM DE HERCULANO, CÂNDIDA, GARNIZÉ, VENTANIA, MEIA-

NOITE, CÍCERO E OUTROS CANGACEIROS (FIGURANTES) DO BANDO.


PENÉLOPE — (P/ CÂNDIDA, EMOCIONADA) Lembra quando cheguei

aqui? Que a senhora cortou meu cabelo? Naquele momento,

não imaginei que seria tão difícil me despedir de vocês.

CÂNDIDA — Nem eu! (T) Vou sentir sua falta, jornalista.

HERCULANO — Cuide de Belarmino... Senão tomo ele de volta de sua pessoa!

ELES RIEM. BELARMINO E HERCULANO SE APROXIMAM.

BELARMINO — Capitão, fique sabendo que vou pro mundo de empréstimo.

Porque, aqui dentro, vou ser sempre um cangaceiro de seu

bando. Pronto pra lhe atender, a qualquer chamado.

HERCULANO — Vou sentir tua falta, Belarmino. Cabra como tu só nasce

bissexto nesse sertão. Tu tem meu afeto como se filho fosse.

BELARMINO — E o senhor eu levo como pai, capitão. Aqui dentro de meu

peito. Muito agradecido por tudo.

ELES SE ABRAÇAM EMOCIONADOS. BEL E PENÉLOPE ENTRAM NO CARRO

E PARTEM ACENANDO. HERCULANO TRISTE, ENTRE CÍCERO E CÂNDIDA.

HERCULANO — Tô perdendo muita gente numa mesma leva. Uns pra vida e

outros pra morte. Jesuíno, Belarmino, a duquesa...

CÍCERO — Oxente, meu capitão! Não quero aumentar seu desgosto, mas

o senhor tem mais uma despedida pra cumprir...

NA REAÇÃO DE HERCULANO, CORTA DESCONTÍNUO:

CENA 23/ CASA DE ZENÓBIO/ COZINHA/ INTERIOR/ DIA.

FLORINDA, ZENÓBIO, TÉINHA, ROSA, NEUSA (COM BEBEZINHO NO COLO),

QUIQUIQUI DO LADO MIMANDO O BEBÊ, SETEMBRINO, ZIG, DULCINA.

TODOS PRONTOS PARA SAIREM.

TÉINHA — Tô doida pra saber quem vai ganhar a eleição!

QUIQUIQUI — Tomara que o pri-príncipe Felipe seja o novo pre-prefeito!

ZENÓBIO — Tomara mesmo! Felipe há de mudar a política dessa cidade.

FLORINDA — Ao contrário de Fausto, que é filho de Patácio! Se ele ganha,

continua tudo na mesma sem vergonhice!

SETEMBRINO — Bora então! O povo tá na praça, esperando o resultado!

NEUSA — Vão vocês! Que eu vou levar Quintinho pra casa... Ele tá com

uma fome arretada... Mas depois, Quiquiqui, me conte tudo!

ELES VÃO SAINDO. CÍCERO CHEGA E RETÉM ROSA. OS OUTROS SEGUEM.

CÍCERO — (SORRI) Tudo bom, Rosinha? (T) Ôxe, como tu tá linda...

ROSA — Se tu veio só me elogiar, perdeu seu tempo... Enquanto tu

tiver no cangaço, nossa prosa acabou!


ELA VAI SAIR, MAS ELE A RETÉM.

CÍCERO — Eu larguei do cangaço.

ROSA — (PASMA) O quê?! Tu tá falando sério?

CÍCERO — Fiz isso porque lhe amo demais. Quero casar contigo,

Rosinha... Quer dizer... Se tu ainda me quiser, claro...

ROSA — Oxe, que pergunta! Tu é o amor de minha vida, Cícero!

NO BEIJÃO DOS DOIS, O CORTE PARA:


GENARO, JANAÍNA, ADEMAR, ANTÔNIA, INÁCIO, MIGUÉZIM, GALEGO,

CORDATA, TIBUNGO, HELENA, BATORÉ, QUIQUIQUI, SETEMBRINO,

TEÍNHA, ZENÓBIO, FLORINDA, DEMÓSTENES, FARID, BARTIRA E OS

FILHOS E POVO (FIGURANTES) REUNIDOS EM TORNO DO PALANQUE

ONDE ESTÃO FAUSTO, TERNURINHA, NIDINHO, PATÁCIO E CARLOTA. E

FELIPE COM DORA. PADRE JOAQUIM ALI COM O JUIZ ELEITORAL ATT:

NEUSA ESTARIA EM CASA COM SEU BEBÊ.

PADRE JOAQUIM — Meus amigos, estou aqui com o juiz eleitoral, para

anunciar que os votos já foram contados. Agora vamos

conhecer o novo prefeito de Brogodó!

PESSOAS APLAUDEM. PATÁCIO, TERNURINHA E NIDINHO CONVERSAM.

PATÁCIO — (CONFIANTE) Quem será o escolhido dos brogodozenses?

TERNURINHA — (ACENA PARA O POVO) Brogodonenses...

NIDINHO — E painho e madrastinha têm dúvida? É Faustinho na cabeça!

TERNURINHA — Nosso povo nunca que votaria num príncipe estrangeiro...

JUIZ SACA UM ENVELOPE DA PASTA E ENTREGA AO PADRE QUE ABRE.

FELIPE — É agora, Doralice! Quem será que ganhou?

DORA — O povo de Brogodó há de escolher o melhor pra eles, assim

como eu escolhi... (SORRI) Você, meu amor!

PADRE JOAQUIM — (LENDO) Com setenta e cinco por cento dos votos, o

novo prefeito de Brogodó é... Príncipe Felipe!

POVO EXPLODE EM APLAUSOS E VIVAS. FELIPE E DORA SE ABRAÇAM.

CARLOTA, TERNURINHA E PATÁCIO INDIGNADOS. FAUSTO ALIVIADO.

CARLOTA — Roubalheira! Roubalheira! Eu exijo recontagem!

FELIPE E DORA ACENAM. FOTÓGRAFOS, EMBAIXO DO PALANQUE,

COMEÇAM A FOTOGRAFÁ-LOS. CARLOTA, AO LADO DE FAUSTO, CHORA.

CARLOTA — Humilhação! Eu não fui Rainha! E não serei primeira-dama!

FAUSTO — Se acalme, Carlotinha! Eu posso conseguir um secretariado...

E SAEM DO CORETO. FICAMOS COM PATÁCIO E TERNURINHA, CHOROSOS.


PATÁCIO — Olhe, Ternurinha! Felipe e Doralice rodeados de fotógrafos!

TERNURINHA — (SE ANIMA) Oxe, que na qualidade de sogros do novo

prefeito, nós temos direito a um cantinho na foto!

E CORREM PRA JUNTO DE FELIPE E DORA QUE SÃO FOTOGRAFADOS.

PATÁCIO — Com licença, com licença! Na qualidade de ex-prefeito...

TERNURINHA — (SORRI) E de ex-primeira-dama...

PATÁCIO — Eu e Ternurinha orientaremos o novo prefeito, nosso genro...

TERNURINHA — E a nova primeira-dama, nossa filha Doralice...

PATÁCIO — Na esburacada estrada da política sertaneja...

NIDINHO — E havemos de trazer a luz a Brogodó! Viva o prefeito Felipe!

FELIPE E DORA RIEM. PATÁCIO, TERNURINHA E NIDINHO DE PAPAGAIOS

DE PIRATA, POSANDO PARA AS FOTOS, CORTA PARA:

CENA 25/ ESTRADA/ EXTERIOR/ DIA.

BENVINDA, JESUÍNO E AÇUCENA NUM CARRO DIRIGIDO POR UM

MOTORISTA. OUTRO CARRO ATRÁS, COM EUZÉBIO, VIRTUOSA E

MOTORISTA.

AÇUCENA — Ave Maria! Não vejo a hora de chegar em Brogodó!!

(ENJOA) Já tô mareando de tanta viagem.

JESUÍNO — Não é a viagem. É meu menino que tá reclamando. (P/

BARRIGA) Sossegue que já tamo chegando em casa, visse?

CARROS DÃO DE CARA COM UM TRONCO CAÍDO, CRUZANDO A ESTRADA.

JESUÍNO — (ESTRANHA) Oxe, essa árvore não parece que caiu sozinha.

SALTAM DO MATO: MEIA-NOITE, GARNIZÉ, VENTANIA E HERCULANO.

AÇUCENA — (AINDA SEM RECONHECER) Cangaceiros?!

HERCULANO SE APROXIMA DO CARRO E VÊ JESUÍNO, SE RECONHECEM.

HERCULANO — Jesuíno?! Açucena?

JESUÍNO — Meu pai?!

SAI DO CARRO E CORRE AO ENCONTRO DO PAI. NO ABRAÇO, O CORTE:

CENA 26/ ACAMPAMENTO DOS CANGACEIROS/ EXTERIOR/ DIA.

EUZÉBIO, VIRTUOSA, BENVINDA, AÇUCENA E HERCULANO. CÂNDIDA

ABRAÇA JESUÍNO. CANGACEIROS DESMONTAM ACAMPAMENTO.

CÂNDIDA — O que é do sertão nem o diabo toma e nem Deus leva! Meu

neto e minha neta... Sejam bem vindos!

VIRTUOSA — E Ciço? Quédi meu filho?

HERCULANO — Dona Virtuosa, Ciço tomou uma decisão que muito vai lhe

agradar. Largou do cangaço pra casar com Rosa.


EUZÉBIO — Tu ouviu isso, Virtuosa? Ciço largou do cangaço!! Com todo

respeito, capitão, fico feliz com a notícia.

AÇUCENA — Olhe, capitão, nós também temos uma novidade pra contar.

JESUÍNO — Tu vai ser avô, Capitão!

HERCULANO — Eu? Avô? (ABRAÇA AÇUCENA E JESUÍNO) Que meu

padim Cícero abençoe vocês!!!

CÂNDIDA — E eu vou ser bisavó! É muita emoção pra essa cangaceira...

JESUÍNO — Nós voltamos pra ter nosso menino aqui. Quero que meu

filho aprenda a andar pisando nessa terra seca.

HERCULANO — Não lhe agradou ser rei no estrangeiro, meu filho?

JESUÍNO — Seráfia é um lugar muito lindo, mas meu coração e meu

pensamento nunca saíram do sertão. (VÊ O MOVIMENTO)

Oxe, tão levantando acampamento, meu pai?

HERCULANO — Estamos, filho. Mas dessa vez vou atravessar o São Francisco

pras bandas de Alagoas. A sorte me chama pra outro lugar.

BENVINDA — (NUM ROMPANTE) Posso ir contigo, Herculano? Se tu

consentir, é de meu agrado voltar pro bando.

NA SURPRESA GERAL, CORTA PARA:


CENA 27/ ACAMPAMENTO/ TENDA DE HERCULANO/ INTERIOR/ DIA.

BENVINDA E HERCULANO A SÓS.

BENVINDA — Saí do cangaço pra criar nosso menino em segurança, não por

gosto. O coração de mãe guiou minha vida esses vinte anos.

Mas agora o coração de mulher tomou a frente, Herculano.

HERCULANO — Que tu tá dizendo, Benvinda?

BENVINDA — Que meu coração quer é voltar pro seu. Nunca amei outro

homem. Mas também nunca tive coragem pra lhe dizer isso.

(SE APROXIMA) Tu quer que eu fique, capitão?

HERCULANO — Vamos ver se isso responde tua pergunta!

HERCULANO A BEIJA COM TUDO. CORTA DESCONTÍNUO:

CENA 28/ ACAMPAMENTO DOS CANGACEIROS/ EXTERIOR/ DIA.

TUDO DESMONTADO. HERCULANO, CÂNDIDA E BENVINDA SE DESPEDEM

DE AÇUCENA, JESUÍNO, VIRTUOSA E EUZÉBIO. TODOS EMOCIONADOS.

BENVINDA — (BENZE JESUÍNO) Que teu anjo da guarda lhe proteja com

todo amor que eu sempre lhe protegi...


JESUÍNO — (ABRAÇA-A, CHORANDO) Minha mãe! A senhora vai me

fazer muita falta, visse? (SAI DO ABRAÇO) Só fico feliz de

saber que a senhora vai tá do lado de meu pai! (T) Cuide dela,

Capitão!

HERCULANO — Fique sossegado, Jesuíno... (ABRAÇA-O)

JESUÍNO — O senhor promete que volta? Não vai sumir nesse mundo?

HERCULANO — (SAI DO ABRAÇO) E sou besta de não ver meu neto

crescer? Ele há de me dar tanto orgulho quanto tu me deu!

SE ABRAÇAM. BENVINDA VAI ABRAÇAR AÇUCENA.

BENVINDA — Que Deus lhe dê boa hora, minha filha. E abençoe meu neto!

AÇUCENA — Oxente! Me dê um abraço, minha sogra...

ELAS SE ABRAÇAM, EMOCIONADAS. CORTA P/: CÂNDIDA COM JESUÍNO.

CÂNDIDA — Minhas orações hão de lhe alcançar, onde quer que eu esteja!

ELES SE BEIJAM E ABRAÇAM, EMOCIONADOS. VIRTUOSA E EUZÉBIO SE

DESPEDEM DE BENVINDA. EMOÇÃO GERAL, HERCULANO REUNE TODOS.

HERCULANO — Agora vamos! Que muita despedida envelhece a gente!

NELES PARTINDO, CORTA PARA:

CENA 29/ VILA DA CRUZ/ IGREJINHA/ FACHADA/ EXTERIOR/ DIA.

A IGREJA, DESTRUÍDA PELO FOGO, SENDO RECONSTRUÍDA, ASSIM COMO

O RESTANTE DA VILA. FELIPE E DORALICE DIANTE DE MIGUÉZIM, INÁCIO

E ANTÔNIA.

INÁCIO — Parabéns, meu irmão! Você é o novo prefeito de Brogodó!

ANTÔNIA — O povo da Vila tava torcendo pra tu ser eleito, Felipe

FELIPE — Admiro muito o trabalho que vocês fazem aqui. E a minha

prefeitura vai apoiar vocês sempre, no que precisarem.

DORA — (BRINCA) E isso não é promessa de político, não.

MIGUÉZIM — Sabemos que o príncipe será um prefeito justo e honesto.

SALIM, OMAR, SOFIA, SEVERINA, RAIMUNDO, AMÁLIA, GALEGO E

TIBUNGO APROXIMAM-SE EMPOLGADOS, ANUNCIANDO PELA VILA.

AMÁLIA — Jesuíno e Açucena voltaram!

TIBUNGO — E vieram pra ficar!

MIGUÉZIM — Deus seja louvado!

NA ALEGRIA DE TODOS, CORTE DESCONTÍNUO: JESUÍNO E AÇUCENA

CUMPRIMENTANDO MIGUÉZIM, FELIPE, DORA, INÁCIO E ANTÔNIA.

MIGUÉZIM — O sonho que tive, enfim se realizou. O Rei e a Flor vão reinar

no sertão, ajudando a combater a miséria desse povo sofrido!


AÇUCENA — Com certeza a gente vai se esforçar pra ajudar a nossa gente!

JESUÍNO — Juntos vamos reconstruir a Vila e melhorar a vida do povo!

NA ALEGRIA GERAL, O CORTE DESCONTÍNUO PARA:

CENA 30/ DELEGACIA/ SALA DO DELEGADO/ INTERIOR/ DIA

LEGENDA: “ALGUNS ANOS DEPOIS...”. DORA DIANTE DE TRÊS NOVOS

SOLDADOS, RUFINO E PAÇOCA. RUFINO COM UM JORNAL NAS MÃOS.

DORA — Esses são seus colegas, que vieram da capital. A força

policial de Brogodó agora vai contar com cinco soldados!

RUFINO — Se tem mais gente, nós vamos trabalhar menos, né, delegada?

PAÇOCA — A cidade agora tá uma tranqüilidade... Não sei pra que mais

soldado...

DORA — Polícia não serve só para reprimir bandidos, Paçoca... Mas

também para ajudar a população. Não contem com moleza!

PAÇOCA — (AOS NOVOS) Por isso chamam ela de delegada Duralice!

DORA — (RINDO) Confesso que adoro esse apelido!

RUFINO — (MOSTRA) A senhora viu o jornal da capital? Só tá falando

bem do prefeito Felipe. Diz que seu marido é “o” cabra!

DORA — Felipe é, sem dúvida, o melhor prefeito que Brogodó já teve.

Mesmo assim, a polícia não pode esmorecer. (AOS TRÊS)

Vocês podem fazer a ronda e se apresentar à população.

OS TRÊS SAEM. DORA SENTA E COMEÇA A LER O JORNAL.

DORA — O filme sobre a vida de Aurora saiu! (LÊ) “A Princesa

Perdida” estreia com estrondoso sucesso no Rio de Janeiro!

PAÇOCA E RUFINO SE APROXIMAM PARA VER. VEMOS FOTO DE LILICA,

BEL, PENÉLOPE, TOMÁS, SILVÉRIO E VICENTINA NO DIA DA ESTREIA.

DORA — E o Bel?! Está sendo considerado o novo Rodolfo Valentino!

PAÇOCA — Esse filme podia passar no cine Brogodó! To doidio pra ver!

DORA DOBRA O JORNAL E REVELA UM BOX, COM UMA FOTO DE LILICA E

OUTRA DE NICOLAU E A CHAMADA: “MORDOMO DA ATRIZ LANÇA

BIOGRAFIA NÃO AUTORIZADA DA DUQUESA ÚRSULA DE SERÁFIA”.

(ATT.: MOSTRAR MESMO AS FOTOS)

DORA — Olha só! É o Nicolau! Aqui está dizendo que Lilica o tirou

das masmorras de Seráfia e o levou para ser seu mordomo!

RUFINO — A cobra ajudou a outra cobra a fugir!

DORA — Nicolau agora é escritor. Está lançando uma biografia não

autorizada sobre a vida da duquesa Úrsula de Seráfia...


RUFINO — Ave Maria! Que esse livro vai vender é muito!

FELIPE ENTRA COM O FILHO DELE E DORALICE (GAROTO DE DOIS ANOS).

FELIPE — Olha quem está aqui para visitar a mamãe.

DORA — Jorginho! Que saudades, meu amor!

DORA BEIJA FELIPE E DÁ UM GRANDE ABRAÇO EM JORGE.

FELIPE — Delegada Duralice, que tal um passeio? Hoje é domingo, dia

de ficar com a família. Podemos ir pra fazenda! Jorginho está

louco para brincar com os meninos de Açucena e de Jesuíno!

NO SORRISO DE DORA, CORTA DESCONTÍNUO:

CENA 31 CENA 32/ RIO DE JANEIRO/ FEIRA DE SÃO CRISTOVÃO/ EXT./ DIA.

LEGENDA: “RIO DE JANEIRO, FEIRA DE SÃO CRISTOVÃO, 2011”. MÚSICA:

MINHA PRINCESA INSTRUMENTAL COM VIOLA, TRIÂNGULO, ZABUMBA,

SE FUNDE COM BURBURINHO DA FEIRA. MESMA IMAGEM ANTERIOR

COMO GRAVURA DE CORDEL, NA ÚLTIMA PÁGINA DE CORDEL, NAS

MÃOS DE UMA MOÇA QUE NÃO SE VÊ AINDA, EM MEIO A PESSOAS NUMA

BARRAQUINHA, OUVINDO UM GRUPO DE CORDELISTAS REPENTISTAS

QUE CANTAM OU DECLAMAM OS VERSOS DA HISTÓRIA DO “CORDEL

ENCANTADO”. MÚSICA SE TRANSFORMA PARA NARRATIVA DOS

CORDELISTAS. CADA UM NARRA UMA PARTE DA HISTÓRIA. ATT.: OS

VERSOS ABAIXO SERVEM COMO GUIA PARA VERSOS DOS CORDELISTAS,

QUE PODEM MUDAR, DESDE QUE MANTENHAM O TEOR DA HISTÓRIA.

Em dois mundos distantes

O mesmo sonho sonharam

Um rei e um profeta errante

E um presságio anunciaram.

A bola de fogo ardente

O céu do sertão riscou

Caiu sobre a terra quente

A chuva que deu vida à flor

Açucena brotou da terra

Enquanto nascia Aurora

No meio de uma grande guerra

Naqueles tempos de outrora

Uma malvada duquesa

A inveja em forma de gente,

Fez plano de matar a princesa

Indefesa nas mãos da serpente

Pro sertão fizeram a viagem

Os reis com a princesinha


Trazendo em sua bagagem

A maldita algoz da rainha

Antes de a morte a levar

A soberana bondosa

Conseguiu ela deixar

A filha com Virtuosa

E veio o rei cangaceiro

Garrado em seu menino

Pra deixar com o fazendeiro

O pequeno Jesuíno

Vinte anos se passaram

Pra Jesuíno e pra Flor

Nunca os dois mais se largaram

A isso se chama Amor

E quando Açucena e o amado

Estavam pra se unir

Chegou Timóteo danado

Pro casório impedir

O filho do coronel

Que sempre a flor cobiçou

Pior do que cascavel

Seu veneno destilou

Chegaram também os reis

De Seráfia e do sertão

Querendo impor suas leis

E impedir essa paixão

Mas os reis de idéia mudaram

Se uniram a Jesuíno afinal

E ao lado dele lutaram

Na batalha contra o Mal

Foi grande a luta e a dor

Que os amantes enfrentaram

No fim venceu o Amor

E os bons tempos chegaram

A princesa foi feliz

Com o filho do cangaceiro

Quem sabe, conta e diz

Neste cordel verdadeiro!

AO FINAL, TODOS APLAUDEM. FICAMOS COM O APLAUSO DA MOÇA COM

O CORDEL NA MÃO. SÓ ENTÃO REVELAMOS: AÇUCENA E JESUÍNO, NOS


DIAS DE HOJE, DOIS MIGRANTES NORDESTINOS, APLAUDINDO O GRUPO

QUE AGRADECE. TODOS VÃO DISPERSANDO. ELES SE ABRAÇAM E VÃO

SAINDO PELA FEIRA.

AÇUCENA — Meu amor, tô besta! O casal desse cordel tem o mesmo nome

da gente, tu reparou?

JESUÍNO — E não é? Açucena e Jesuíno...

ELES RIEM.

JESUÍNO — Pois a nossa história há de ter um final feliz como a desse

cordel. (PARA E OLHA-A) Açucena, tu quer casar mais eu?

AÇUCENA — É tudo que eu mais quero nessa vida, Jesuíno!

E ELE A PEGA NO COLO E RODOPIA.

JESUÍNO — Sou o cabra mais feliz do mundo!

ELES SORRIEM E SE BEIJAM. NO BEIJO APAIXONADO, SOB

INSTRUMENTAL DE MINHA PRINCESA, ENTRA O TEXTO:

“ESTA OBRA É DEDICADA AOS POETAS POPULARES DO NORDESTE. E AOS

TROPICALISTAS QUE, A PARTIR DELES, NOS REINVENTARAM.”

FIM

Mensagem aos companheiros de viagem:

“Amigos, foram meses e meses em que nos unimos aqui, neste espaço mágico da ficção,

para sermos reis, rainhas, princesas, cangaceiros, duquesas, profetas, cozinheiras,

coronéis, delegados, bandoleiros, loucos, santos, anjos e demônios... Foi um árduo, mas

belo e feliz trabalho, que agora chega ao fim. As autoras loucas desse cordel querem

agradecer de coração a companhia, confiança, contribuição, talento, força, coragem e

magistral realização de cada um de vocês, em sua arte e ofício. Sabemos o quanto foi

difícil realizar esse sonho. Mas um sonho realizado nunca será esquecido! Sempre

juntos estaremos aqui reunidos, gritando com Jesuíno e seu bando: “Pelo justo e pelo

certo! Com amor, Thelma e Duca / São Paulo, 07 de setembro de 2011.”

rede globo de televisão central globo de produção capítulo 143 · zÓio-furado — tu vem...

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