rede colaborativa mundial de aprendizagem em ciências com...

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Rede colaborativa mundial de aprendizagem em Ciências com uso das TICs Alexandra Okada 1 Sandra Tonidandel 2 Tony Sherborne 3 Valdenice Minatel Melo de Cerqueira 4 Introdução - O Contexto Educacional Num mundo de rápidas mudanças, o desafio da educação é conduzir o “sistema de aprendizagem com ênfase em conteúdo” para o “desenvolvimento flexível de habilidades”. Para que tenham sentido as questões como: saúde, genética, meio- ambiente, os estudantes precisam aprender “como a ciência trabalha” desde “identificação e análise de evidências” até “definição de valores e ética”. De fato, torna-se essencial buscar uma nova abordagem que ofereça uma solução para um antigo problema: — Como manter estudantes interessados em ciência ao invés de achá-la abstrata e irrelevante? Como trabalhar com conceitos de modo 1 Doutora em Educação: Currículo na PUC/SP. Professora e coordenadora do curso online de extensão: Uso de Software na Pesquisa qualitativa da PUC/SP COGEAE. Colaboradora no Projeto Science UPD8. Pesquisadora e membro do Knowledge Media Institute – The Open University – Inglaterra. Foi professora do Colégio Dante Alighieri por 10 anos, atuou em diversos projetos de formação de Educadores a distância no Brasil da PUC-SP em parceria com MEC. a.l.p.okada@ open.ac.uk 2 Graduada em Ciências Biológicas pela USP. Mestranda em Educação: Ensino de Ciências e Matemática na USP. Professora de Ciências há 16 anos e coordenadora do Departamento de Ciências Físicas e Biológicas do Colégio Dante Alighieri, desenvolvendo vários projetos interdisciplinares que privilegiam a autonomia e autoria do aluno. sandra.tonidandel@ cda.colegiodante.com.br 3 Diretor e Professor Doutor do Centro de Educação de Ciências da Universidade de Sheffield Hallam no Reino Unido. Cientista e Mestre pela Universidade de Cambridge. Autor do Science UPD8, colaborador do currículo no Reino Unido. Por nove anos, tem trabalhado em projetos que trazem a ciência contemporânea e estratégias novas de ensino e aprendizagem em diversos países do mundo. E-mail: [email protected] Site: http://www.crackingscience.com 4 Mestre em Educação e Currículo - Novas Tecnologias (PUCSP). Atualmente coordena o Departamento de Tecnologia Educacional do Colégio Dante Alighieri, desenvolvendo projetos interdisciplinares com alunos e professores, de inclusão digital e de formação continuada de professores em ambientes de ensino e aprendizagem a distância. É professora do curso de pós-graduação “Informática Aplicada à Educação” da Universidade Mackenzie.valdenice.minatel@ cda.colegiodante.com.br

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Rede colaborativa mundial de aprendizagem em Ciências

com uso das TICs

Alexandra Okada1

Sandra Tonidandel2

Tony Sherborne3

Valdenice Minatel Melo de Cerqueira4

Introdução - O Contexto Educacional

Num mundo de rápidas mudanças, o desafio da educação é conduzir o

“sistema de aprendizagem com ênfase em conteúdo” para o “desenvolvimento

flexível de habilidades”.

Para que tenham sentido as questões como: saúde, genética, meio-

ambiente, os estudantes precisam aprender “como a ciência trabalha” desde

“identificação e análise de evidências” até “definição de valores e ética”. De fato,

torna-se essencial buscar uma nova abordagem que ofereça uma solução para

um antigo problema: — Como manter estudantes interessados em ciência ao

invés de achá-la abstrata e irrelevante? Como trabalhar com conceitos de modo

1 Doutora em Educação: Currículo na PUC/SP. Professora e coordenadora do curso online de extensão: Usode Software na Pesquisa qualitativa da PUC/SP COGEAE. Colaboradora no Projeto Science UPD8.Pesquisadora e membro do Knowledge Media Institute – The Open University – Inglaterra. Foi professora doColégio Dante Alighieri por 10 anos, atuou em diversos projetos de formação de Educadores a distância noBrasil da PUC-SP em parceria com MEC. a.l.p.okada@ open.ac.uk2 Graduada em Ciências Biológicas pela USP. Mestranda em Educação: Ensino de Ciências e Matemática naUSP. Professora de Ciências há 16 anos e coordenadora do Departamento de Ciências Físicas e Biológicas doColégio Dante Alighieri, desenvolvendo vários projetos interdisciplinares que privilegiam a autonomia eautoria do aluno. sandra.tonidandel@ cda.colegiodante.com.br3 Diretor e Professor Doutor do Centro de Educação de Ciências da Universidade de Sheffield Hallam noReino Unido. Cientista e Mestre pela Universidade de Cambridge. Autor do Science UPD8, colaborador docurrículo no Reino Unido. Por nove anos, tem trabalhado em projetos que trazem a ciência contemporânea eestratégias novas de ensino e aprendizagem em diversos países do mundo. E-mail:[email protected] Site: http://www.crackingscience.com4 Mestre em Educação e Currículo - Novas Tecnologias (PUCSP). Atualmente coordena o Departamento deTecnologia Educacional do Colégio Dante Alighieri, desenvolvendo projetos interdisciplinares com alunos eprofessores, de inclusão digital e de formação continuada de professores em ambientes de ensino eaprendizagem a distância. É professora do curso de pós-graduação “Informática Aplicada à Educação” daUniversidade Mackenzie.valdenice.minatel@ cda.colegiodante.com.br

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interessante e significativo? Como propiciar aos alunos circunstâncias ricas de

aprendizagem para que possam desenvolver suas habilidades, autoconhecimento

e conhecimento do mundo com visão ético-científica?

Essas questões têm sido o desafio no Reino Unido nesta última década.

Pesquisas realizadas pelo governo indicam que o número de alunos interessados

em Ciências Naturais tem se reduzido drasticamente; tanto no ensino médio,

quanto superior. No Reino Unido, durante os dois últimos anos que antecedem a

graduação, os alunos podem optar pelas disciplinas desejadas de acordo com a

carreira que pretendem seguir na Universidade. Na década de 90, apenas cerca

de 6% dos alunos escolheram Física ou Química na sua grade curricular

(SMITHERS, 1997).

Segundo o Centro para Educação de Ciências da Universidade de

Sheffield, é fundamental mudar as práticas pedagógicas e o currículo de Ciências

que se manteve no passado. Ciências é apresentada como um conjunto de

conhecimentos desvinculado de valores, desarticulada do contexto histórico-social

atual, uma sucessão de fatos a serem aprendidos sem conexão com o mundo dos

aprendizes. Nesses últimos anos, tem sido fundamental trazer novas metodologias

e estratégias de aprendizagem. É fundamental criar oportunidades para

desenvolver melhor algumas habilidades importantes relacionadas à investigação

científica:

percepção do mundo ao seu redor;

observação e coleta de evidências;

organização e análise de informações;

articulação entre teoria e prática;

desenvolvimento do pensamento crítico;

conexão do processo científico com seu cotidiano;

construção de novos conhecimentos com sentido e significado;

Para isso, é essencial possibilitar a atualização dos professores com

conteúdo de Ciências mais contemporâneo e desenvolver novas metodologias

para formação de alunos aptos a ingressarem no mundo atual com uma visão

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científica diferenciada. Isso significa desenvolver habilidades consideradas

essenciais:

a. Compreensão: habilidade de interpretar o mundo com visão ética e

científica.

b. Curiosidade reflexiva: habilidade de se questionar e questionar o

mundo.

c. Criatividade: habilidade de pensar e agir de forma inovadora.

d. Colaboração: habilidade de interagir, compartilhar e contribuir.

e. Sensibilidade: habilidade de agir de modo ético e responsável.

f. Competência: habilidade de articular teoria e prática e de construir

conhecimentos.

Nesse sentido, dois projetos estão sendo implementados no Reino Unido

para o desenvolvimento de rede de aprendizagem colaborativa através do uso das

TICs.

Redes colaborativas de Aprendizagem

1- Science UPD8 (http://www.upd8.org.uk/)

Trata-se de um portal sobre Ciências contemporâneas. “Science UPD8”,

cuja pronúncia em inglês é similar a “Science update”, significa “Ciência

atualizada”. Os participantes são professores de diversas escolas do Reino Unido

e também no exterior que podem acessar, editar e também co-produzir diversos

materiais e atividades sobre Ciências contemporânea.

Tal conteúdo é co-produzido por uma rede de pesquisadores, cientistas e

professores que acompanham os acontecimentos do mundo e do cotidiano dos

alunos. Tal equipe constrói desafios coletivamente para os aprendizes

investigarem e compreender como as Ciências Naturais estão envolvidas nesse

contexto mundial e pessoal.

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O objetivo é criar circunstâncias para os alunos desenvolverem o olhar

crítico e compreender o mundo próprio e ao redor através da ótica ética-científica.

O Projeto Science UPD8, criado por Sherborne em 2002 envolve uma rede

colaborativa de cientistas, professores-especialistas, pesquisadores que criam em

conjunto desafios na área de ciências baseado em notícias atuais. O foco é o

desenvolvimento de habilidades como, por exemplo, a leitura ético-científica sobre

o que a mídia (web, TV, jornal, etc) veicula e o desenvolvimento de

posicionamento ético-crítico diante dessa leitura.

A equipe procura contemplar os assuntos que são considerados como

difíceis de ensinar e aprender pelos alunos e professores. Partindo dessa

perspectiva, eles selecionam as notícias vinculadas em diversos canais de

comunicação, principalmente em jornais online. Os conteúdos de Ciências são

organizados a partir das notícias e então, atividades pedagógicas são elaboradas

visando desenvolvimento de habilidades.

Importante ressaltar que a metodologia envolvida nos desafios é definida

pelos professores em conjunto com pesquisadores cientistas. O foco é criar

circunstâncias que o aluno ao desenvolver o desafio possa vivenciar o papel de

cientista e compreender como a Ciência funciona. Os desafios, depois de criados,

são editados por uma equipe pedagógica de design que organizam o conteúdo

com uma linguagem apropriada para o contexto dos aprendizes e o layout de

modo claro, objetivo, simples e fácil para o professor fazer reedições. E, então,

publicam no portal. Qualquer professor cadastrado no Science UPD8 pode fazer

download dos arquivos e reconstruir sua aula inspirada no desafio. E então,

implementar a atividade com os alunos, reconstruindo conhecimentos articulados

com as notícias.

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Analisando Science UPD8

É importante destacar que a atividade proposta pelo professor na sala de

aula pode ir além do que é proposto pelo Science UPD8. Por exemplo, um

problema relacionado com xampu foi publicado no jornal. A equipe de cientistas e

pedagogos desenvolveu na mesma semana uma atividade propondo a

elaboração de um relatório científico com a análise dos efeitos de substâncias

químicas no cabelo. Nesse desafio, as crianças de algumas escolas na Inglaterra

realmente realizaram a experiência com seus próprios cabelos. Os alunos

expressaram as suas opiniões na escola e fora dela – com a família e amigos.

Além disso registraram comentários com visão crítica e mais elaborada sobre a

notícia no próprio jornal online e com iniciativa própria.

Os professores, por sua vez, trocaram feedback no portal, sugestões, dicas

e outras referências. Desse modo, o professor pode ser autor e também um

colaborador.

Notícia: Consumidores reclamaram sobre oXampu Pantene ao afirmar deixar o cabelo 10vezes mais forte. ASA inicia investigação sobrea veracidade dos fatos. Alunos e comunidade

Desafio: Os alunos deverão investigar seguindoorientações da ASA, discutir, elaborar umrelatório ético-científico sobre os resultados dapesquisa.

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registram opiniões abaixo

Portal do Professor: Na mesma semana em que saiu a notícia, a equipe pedagógica-técnica publicoua atividade descrevendo objetivo, relação com o conteúdo curricular, dicas pedagógicas, web links(com fonte de notícia) e espaço para professores trocarem feedback (idéias e sugestões)

Figura.1 – Atividade sobre Xampu. (UPD8 activity) http://www.upd8.org.uk/activity.php?actid=137(BBC news) http://www.bbc.co.uk/1xtra/tx/pantene.shtml

2- Science Across the World (http://www.scienceacross.org/)

Trata-se de um portal de Ciências “explorando ciências localmente e

compartilhando insights globalmente” . Os participantes são alunos de milhares de

escolas ao redor do mundo que sob orientação do professor realizam experiências

propostas, trocam informação, opiniões sobre diversos tópicos.

O objetivo é tornar a aprendizagem de ciências mais atrativa e significativa,

com compreensão mais ampla inclusive sob a ótica multicultural, polissêmica

através da troca, interatividade e colaboração com outros aprendizes de outros

países.

Os assuntos e experiências são desenvolvidos por cientistas e professores

de Ciências no Reino Unido que divulgam materiais e atividades na Internet.

Professores de várias escolas podem acessar o portal, cadastrar professores da

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Escola e seus Alunos. As propostas com visão global são realizadas localmente.

Os resultados são compartilhados e discutidos com outras escolas internacionais.

Essa análise multicultural além de envolver mais os alunos num processo

interativo, favorece a dialogicidade, criticidade e olhar mais amplo através de

múltiplas perspectivas.

Analisando o Science Across the World (SAW): uma experiência

brasileira

Uma atividade do projeto SAW foi desenvolvida numa escola de São Paulo

no qual os alunos trocaram dados com uma escola da Irlanda. Conforme a

coordenadora de Ciências esse projeto permitiu o desenvolvimento de várias

habilidades dos alunos. Ao tomar conhecimento de que jovens de outros locais do

mundo estariam realizando o mesmo projeto de pesquisa, os alunos em geral

demonstram entusiasmo e maior envolvimento.

A partir dessa motivação inicial, vários objetivos puderam ser trabalhados:

Utilização instrumental da língua inglesa.

Desenvolvimento da metodologia de pesquisa em Ciências.

Construção de opiniões críticas a partir do recebimento de outros tipos

de respostas para um mesmo tema.

Valorização de sua cultura e respeito às diferenças.

A compreensão de conceitos em Ciências de forma contextualizada.

No início de 2005, os alunos de 7ªs e 8ªs séries foram orientados quanto ao

trabalho do Science. O planejamento incluía a ação de três departamentos de

nossa escola: Ciências, Inglês e Tecnologia Educacional. Para os alunos das 7ªs

séries foi escolhido um tema único: “Haja saúde!” (keeping health) pois é um tema

relacionado ao corpo humano, conteúdo central nessa etapa. Para as 8ªs séries,

foi escolhido o tema “Aquecimento global” (global warming), também relacionado

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ao assunto central dessa série que é tecnologia, desenvolvimento científico e

energia.

Cada sala de aula produziu seu próprio material de pesquisa, com coleta e

análise de dados, organização e produção de gráficos utilizando-se a linguagem

científica. Nessa etapa a orientação foi dos professores de Ciências, e os

trabalhos foram realizados com recursos de informática na sala de projetos

especiais, durante o período letivo.

Na próxima etapa, após dois meses de pesquisa e discussões, os

professores de Inglês trabalharam com os alunos a tradução de todo material

produzido para a língua inglesa. Os alunos trabalharam em duplas ou grupos

maiores, criando uma aprendizagem colaborativa e, ao mesmo tempo autônoma,

pois a construção dos resultados foi feita pelos alunos e não transmitida pelo

professor.

Depois de todo material traduzido, os professores de Informática Aplicada

auxiliaram no envio dos trabalhos para o portal do SAW, tornando-os disponíveis

às outras escolas.

Começaram a chegar os resultados dos trabalhos de outros países e,

começa a terceira etapa do trabalho. Os professores de inglês, em conjunto com

os alunos, realizam a compreensão dos textos para que possam construir um

novo documento em língua portuguesa: agora, utilizando-se o software

PowerPoint, passo a passo, a comparação entre os resultados de pesquisas de

alunos ao redor do mundo.

As discussões finais foram riquíssimas: os questionamentos, as conclusões

foram feitas novamente em aulas de Ciências. Cada sala de aula trocou

informações com uma escola diferente. Assim, a quantidade de informação e

conceitos trabalhados foi muito grande.

Abaixo, estão disponíveis os resultados finais de alguns desses trabalhos.

Escolhemos um exemplo das 7ª série e um das 8ª série.

Em alguns casos, ocorreu um contato pessoal entre nossa escola e outra escola.

Exemplos de produções de alunos das 7ªs séries:

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Science Across the World – Haja Saúde! Quais são os problemas de saúde comuns

que preocupam pessoas de nossa idade?

ScienceAcrosstheWorld- HajaSaúde!

Trabalhobaseadonacomparaçãoentreosdadosrecolhidossobresaúdecomosseguintespaíses:

Brasil eIrlanda

Parte1- Causasdasdoençaseproblemasdesaúdecomuns

• Brasil:• Viroses

(principalmente gripe)• Dor de barriga

(intestino preso)• Problemas ortopédicos

(traumas causados ematividades esportivas)

• Irlanda:• Câncer (leucemia)• Asma• Gripe

1. Estes são três problemas de saúde comunsque preocupam pessoas de nossa idade:

Quais são as causas de problemas de

saúde mais freqüentes e difíceis de curar?

O que fazemos para curar doenças?

2. Emnossaregião, asseguintescausasdeproblemasdesaúdesãoasmaisfreqüentese

difíceisdecurar:

• Brasil:• Gripe• Doenças hereditárias

(diabetes, problemasnos olhos,hipertensão)

• Stress• Alimentação errada• Problemas ortopédicos• Problemas ambientais

(que causam alergias).

• Irlanda:• Doenças

hereditárias• Stress• Machucados

causados poresporte

Parte2-Oquefazemosparacurar doenças

• Brasil:• Às vezes usamos as

seguintes alternativas:- A Homeopatia e a

Acupuntura sãoconsideradasespecialidadesmédicas, sendodisciplinas ministradasem grandes faculdadesde medicina em SãoPaulo.

• Irlanda:• Acupuntura,

Medicina HerbalChinesa, Óleo deoliva verde são umadas principaismedicinasalternativas.

• Brasil:• O número de estudantes

que ficaram doentes etiveram licença médica nosúltimos 5 meses é 17.

• Em média os estudantesque ficam doentes em nossaclasse, nos últimos 5 mesesficaram 2 dias sem ir àescola quando doentes.

• A escala era de 1 dia(curto) à 4 dias (longo).

• Aqui estão dois exemplosde como as pessoas fizerampara se recuperar:

• Ficaram de repouso• Se agasalharam• Não tomaram nada gelado.

• Irlanda:• O número de estudantes

que ficaram doentes nosúltimos 6 meses é 21.

• Em média, os estudantesque ficaram doentes emnossa classe nos últimos 6meses tiveram licençamédica durante 3 dias.

• A escala era de 1 dia (maiscurto) a 10 dias (maislongo).

• Aqui estão dois exemplos decomo fizemos para melhorarenquanto estivemos doentes:

• i) Descansar / dormir• ii) Beber bastante líquido.

Brasil:• Em nossa cidade, dentro do

nosso nível social, a grandemaioria das pessoas tem umplano de saúde cobrindoconsultas médicas, hospitais,tratamentos e examesauxiliares.

• Estes planos também nãocobrem gastos commedicamentos, a não sergastos em hospitais.

• A grande maioria das famíliastêm o seus planos pagos pelasempresas onde trabalham ealgumas vezes pagamdiferenças para melhorar aqualidade dos medicamentos.

• O valores variam com o tipode atendimento contratado ea idade do associado.

Irlanda:• Os grupos de pessoas

que têm renda maisbaixa são:desempregados, algumasmães solteiras, edoentes com doençascrônicas.

• Aproximadamente 15%de pessoas de nossaclasse têm cartãomédico.

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Brasil:• Se ocorre algum acidente

próximo de casa , demoraem média 10 minutos parachegar ao hospital maispróximo de casa.

• Em nosso país, região, osmedicamentos não sãopagos pelos planos desaúde. Cada família arcacom os próprios gastos.

• Em alguns casos o serviçopúblico paga osmedicamentos (muitoraro). Até existemfarmácias populares mastambém é difícilencontrar e conseguir amedicação desejada.

Irlanda:• Se ocorrer algum acidente

próximo de casa, demoraaproximadamente 25minutos para chegar aodepartamento deemergência do hospital,mais próximo de casa.

• Em nosso país, ou região,os custos das medicinasprescritas são £35- £45.

• Nossa família paga -todaparte dos custos médicos,a menos que a renda dafamília for baixa ou tiverum cartão médico.

Tabela 1 - Dados trocados entre o Colégio Dante Alighieri (SP) e Carrigaline Community

School (UK)

O Workshop “Aprendizagem de Ciência do século 21” no Brasil

No Brasil, a problemática acerca do interesse dos estudantes pela Ciência,

é similar ao contexto do Reino Unido. O número de alunos que optam por Ciências

no Ensino Superior também é um número baixo em relação a outras áreas.

Segundo os indicadores do Ministério da Educação MEC/INEP no ano de 2001,

cerca de 9% optaram por Ciências, Matemática e Computação.

O Colégio Dante Alighieri em São Paulo, tem participado do Science UPD8 e

Science Across the World, os professores de Ciências tem utilizado já há um ano

e meio as atividades na grade curricular de Ciências no Ensino Fundamental. Em

2004, foi oferecido no Colégio Dante o primeiro workshop “21st century Science

Learning” com apoio de algumas instituições:

ASE- The Association for Science Education

Sheffield Hallam University – the centre for science education

Microsoft Educação do Brasil

CENP – Coordenadoria de Estudos e Normas da Secretaria de Educação

do Estado de SP.

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O curso teve duração de cinco dias com um total de 13 horas. Os participantes

foram 32 professores de Ciências de São Paulo: 13 professores de Ciências da

Rede Pública, representando as 13 regiões da rede - NAEs (Núcleos de Ação

Educativa); 19 professores de diferentes escolas particulares incluindo o Colégio

Dante Alighieri.

Os objetivos do Workshop (http://projeto.org.br/workshop/) foram :

Aprender novas estratégias para o ensino de ciências através de currículo

atualizado.

Fazer emergir dos estudantes questões sobre ética e aprimorar habilidades

de argumentação.

Ter maior segurança para planejar aulas usando ciência atual

contemporânea.

Desenvolver habilidades para construir atividades mais relevantes e

significativas para desenvolver ciência.

Perceber como gerenciar projetos colaborativos de ciência com estudantes

de outro país.

Elaborar estratégias para possibilitar o desenvolvimento das habilidades

dos alunos e uso mais familiar das TICs como Power Point, vídeo e

programas de edição.

Discutindo a Aprendizagem com uso das TICs através de Redes

Colaborativas

O processo de aprendizagem não acontece somente na escola, tem relação

com diversos espaços e ambientes, com a interação entre as pessoas e com o

momento atual. (BURNHAM, 2000; YOUNG , 2000 e SANTOS, 2003). Os autores

também destacam que as atuais práticas pedagógicas trabalham com uma

concepção de currículo que pressupõe a precedência da aprendizagem de

referenciais teóricos para depois aplicá-los.

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Nessa abordagem curricular, torna-se imperceptível a potencialidade dos

“campos de prática” que são percebidos como espaços que pouco têm a oferecer

em termos de articulação de novas aprendizagens e da socialização e construção

de novos conhecimentos. Importante considerar que os campos de prática não se

limitam ao conteúdo curricular, mas se ampliam com o mundo pessoal e global no

qual o aluno vive.

Nesse sentido, os projetos UPD8 e SAW consideram como “campos de

prática” o cotidiano do aluno e seu mundo ao redor marcado por rede complexa de

acontecimentos, fatos, fenômenos, notícias, informação e conhecimentos. Um

cenário sócio-cultural definido por um espaço tempo-histórico rico para os alunos

desenvolverem a “leitura ético-científica” decorrente de uma aprendizagem

significativa.

É importante trazer questões para nossas aulas que a ciência nos apresentaagora, não só para envolverem os alunos, mas para que a aprendizagem deCiências possa ser mais significativa na vida deles e o mundo ao redor possa termais sentido e melhor compreendido. Prof.B1 – workshop São Paulo Brasil.

Como enfatiza Freire (1987) “leitura crítica consciente” se refere ao

processo do aprendiz de explorar de modo reflexivo e ativo a sua realidade

pessoal e global, descobrindo-se como um ser capaz de se inserir, interagir e

transformar. Essa leitura permite ao indivíduo tomar consciência de si e do mundo,

das relações que permeiam o seu convívio social, capacitando-o a também

escrever o mundo, ou seja, fazer opções, interferir no meio em que vive,

transformá-lo e transformar-se para melhor.

Conforme destaca Sherborne (2005) a “leitura ético-científica” está

relacionada com a habilidade investigar o universo interno e externo, de

questioná-lo e questionar-se, interpretar de modo crítico o que acontece e como

acontecem os fenômenos, fatos e acontecimentos envolvidos. Uma investigação

despertada pela curiosidade natural e prazer em buscar respostas. Essa leitura

implica em discussão, argumentação, ação articulada com conhecimentos e

valores éticos no sentido de compreender e aprimorar a qualidade de vida.

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Seria interessante que várias escolas da rede particular e pública pudesseminteragir nesses projetos onde podemos criar atividades baseadas em notícias domundo e ciências contemporânea, e nossos alunos pudessem trocar dados dessasatividades entre eles e com escolas de outros países. O desafio é ampliar essarede com visão crítica e colaborativa. Prof.B4 – workshop São Paulo Brasil

Para implementar mudanças no currículo visando a “leitura crítica

consciente ético científica”, é necessário que nós professores possamos

estabelecer pontes de sentido e significado através da articulação entre o contexto

pessoal e particular dos nossos aprendizes com o contexto global e geral do qual

tudo e todos fazem parte também.

Isso significa também criar circunstâncias favoráveis para que os alunos

possam estabelecer conexões de sentido e significado entre teoria e prática, entre

conhecimentos e a realidade atual na qual todos nós vivemos. Para que isso

ocorra é necessário refletir sobre a prática já existente e consolidada, valores

conceitos e pré-conceitos, questioná-los e buscar novas alternativas.

Não resta dúvidas que trabalhar com desafios, projetos e discussões torna a aula maisinteressante, no entanto, para mim administrar o tempo é um problema... Como dar contade tudo, inclusive do conteúdo curricular que temos que cumprir? Prof.B2 – workshopSão Paulo Brasil

As modificações ou inovações curriculares partem da nossa ação em

conjunto com demais sujeitos envolvidos no processo, todos participantes de uma

rede educacional viva (MATURANA e VARELA, 1987), libertadora (FREIRE,

1988), complexa (MORIN, 1990; 2003), imprevisível, inacabada, diversa,

heterogênea, multicultural (McLAREN, 1997; PERKINS e MEBERT, 2005),

interativa (SILVA, 2000) , sócio-técnica (LÉVY, 1999), real e virtual, mostrando

que “lidar com essa multiplicidade de olhares evidencia a complexidade do ser

humano, da ciência e da tecnologia, com suas incertezas e ambigüidades, cujo

enfrentamento exige flexibilidade, abertura e humildade para participar de uma

rede humana de colaboração e aprendizagem.” (ALMEIDA, 2003, p. 15).

Uma rede na qual se cruzam diversas experiências, referências, notícias,

informações, formações, conceitos, conhecimentos que por sua vez vão dar

origem a saberes distintos, novas construções, produções, ações... Rede

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autopoiética (MATURANA e VARELA, 1987) que está sempre se construindo, se

auto-organizando numa dinâmica na qual é produto do meio e ao mesmo tempo

produtora desse próprio meio.

Costumo já trazer notícias, provocar discussões e novas dinâmicas nas minhasaulas, no entanto, foi interessante perceber que temos muitas coisas à disposiçãona Internet: Não só informação, mas oportunidade rica de troca. O desafio agora éampliar nossa rede de interações, inclusive contribuir para que nossos alunosampliem a deles também. Prof.B3 – workshop São Paulo Brasil

Implementar mudanças no currículo significa conceber o “currículo

multirreferencial (ARDOINO,1988) em transformação” um currículo que está

sempre em mudanças, está se construindo, através de várias referências, vários

sujeitos, várias mídias, meios de comunicação, linguagens de expressão que não

ocorrem somente no espaço da escola e nem pelas metodologias pedagógicas

determinadas pela escola.

Ciências não é algo pronto e terminado, mas está sempre construção e sendoatualizado. Devemos refletir e rever os conteúdos e as metodologias que usamos,reconstruí-los para mundo atual em que nós e nossos alunos vivemos. Prof.B5 –workshop São Paulo Brasil

É nessa perspectiva que as TICs ampliam o espaço escolar, rompem com

os limites de espaço e tempo, permitem trazer outros “campos de prática” para

escola, e levar a escola para outros espaços sociais reais e ou virtuais. As TICs

não devem ser usadas apenas para trazer informações aos alunos, mas para

provocar questionamentos, discussões, interações, visão ético crítica e também

levar o aluno à reconstrução de conhecimentos. Toda a evolução tecnológica que

presenciamos e avistamos num futuro próximo está condicionada ao uso que

fazemos dos artefatos produzidos por ela mesma. Ela, a tecnologia, é um

construto para além de hardware e software, para além dos equipamentos

(KENSKI, 2003, p. 21), por possibilitar que as pessoas5, através de suas

elaborações internas, potencializem o ato de conhecer e de aprender. Nesse

sentido, podemos entender por que as TICs, com sua capacidade de comunicação

5 No contexto de uso das TICs podemos, neste caso, usar o termo peopleware.

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quase infinita, elevam o computador, antes apenas visto como simples ferramenta,

à categoria de elemento mediático6 indicando, como reforça Kenski, que “as

mídias há muito tempo abandonaram suas características de mero suporte

tecnológico e criaram suas próprias lógicas, suas linguagens e maneiras

particulares de comunicar-se com capacidades perceptivas, emocionais,

cognitivas, intuitivas e comunicativas das pessoas” (2003, p. 23).

Conclusões e Novos Horizontes

Conforme o “pensamento ecossistêmico” (MORAES, 2004), é fundamental

buscarmos uma nova forma de pensar, capaz de integrar relações complexas e de

reconhecer a autonomia a partir de sistemas abertos e dos processos de auto-

eco-organização. Isso significa fazer emergir novos caminhos que possam

transcender o princípio determinista e mecanicista em direção a um princípio

dialógico relacional aberto às relações antagônicas, instáveis e imprevisíveis.

Desse modo, é importante criar circunstâncias para que nós e nossos

aprendizes possamos associar diferentes conceitos e questionamentos: simples,

globais, opostos, complementares, similares ou antagônicos com experiência de

vida. Isso implica em perceber a existência de relações sistêmicas, relações de

interdependência entre os elementos constituintes e a emergência de

propriedades comuns compartilhadas. E, assim nos abrimos para novas formas de

compreender o mundo, de nos compreendermos melhor assim, atuar de modo

mais consciente, solidário e responsável.

Ao nos abrirmos para uma nova forma de pensar, de perceber o mundo,

interagir nele, nos lançamos também para a autonomia e a co-autoria. Nos

tornamos sujeitos – alunos e professores – parceiros criadores e transformadores

desse próprio processo de aprender e ensinar.

6Já podemos encontrar em algumas obras o termo “mediação tecnológica”.

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A leitura consciente-crítica e ético-científica, a autonomia, a co-autoria e o

uso das TICs como forma de ampliar a rede viva da aprendizagem permitem uma

nova forma de articularmos o conhecimento novo com o nosso já existente,

compreendermos essas inter-relações e reorganizarmos o nosso modo de

aprender possibilitando novas formas de agir e interagir enquanto aprendizes

ativos colaboradores. (OKADA, 2005; SHERBORNE, 2005).

Somos todos, então, testemunhas do espetáculo da complexidade que as

novas tecnologias trazem em seu bojo. São novos ritmos, paradigmas,

perspectivas, novas formas de se organizar, de trabalhar, de aprender e de

viver/conviver (MORAES, 1997). Graças às possibilidades de arranjos arbóreos e

rizomáticos das informações (DELEUZE E GUATTARI apud KENSKI, 2003, p. 39-

41) possuímos um arranjo não linear (hipertextual) do conhecimento que traz em

si a essência da complexidade.

São inúmeras as articulações possíveis entre informação, ciência, cultura,

sociedade, tecnologia e educação. Nessas articulações, ancoram-se as raízes da

complexidade e do pensamento complexo bem como o dialogismo que

possibilitam, antes que a busca por respostas, a reflexão acerca das incertezas no

uso das TICs em educação.

Com isso, podemos, provocar mudanças, inovar metodologias e estratégias

em busca de novos desafios que trazem sentido e consistência para uma

aprendizagem mais significativa.

Referências bibliográficas

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