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Revista de Políticas Públicas ISSN: 0104-8740 [email protected] Universidade Federal do Maranhão Brasil Bazi Brandáo, Thiago A CATEGORIA STATUS EM MARSHALL: contrlbuicóes para os estudos dos direitos socials Revista de Políticas Públicas, vol. 17, núm. 1, enero-junio, 2013, pp. 221-228 Universidade Federal do Maranhão São Luís, Maranhão, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=321131081022 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Revista de Políticas Públicas

ISSN: 0104-8740

[email protected]

Universidade Federal do Maranhão

Brasil

Bazi Brandáo, Thiago

A CATEGORIA STATUS EM MARSHALL: contrlbuicóes para os estudos dos direitos socials

Revista de Políticas Públicas, vol. 17, núm. 1, enero-junio, 2013, pp. 221-228

Universidade Federal do Maranhão

São Luís, Maranhão, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=321131081022

Como citar este artigo

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A CATEGORIA STATUS EM MARSHALL: contrlbuicóes para os estudos dos direitossocials

Thiago Bazi BrandáoUniversidade de Brasília (UnB)

A CATEGORIA STATUS EM MARSHALL: contrlbulcóes para os estudos dos direitos sociaísResumo: O presente artigo tem por objetivo demonstrar as contribuicóes da utilizacáo da categoria statuspara os estudossobre direitos sociais e políticas sociais. O texto revisita conceitos e análises de Marshall sobre as categorias status edireitos socisis. Para tanto, investiga os determinantes da sociedade capitalista e a emergencia dos direitos socisis nestecontexto. Discute a tendencia do debate sobre direitos na literatura de política social brasileira e identifica as brechasde análise que podem ser aproveitadas a partir do uso da categoria status. Em seguida, apresenta e discute a críticamarxista formulada por pensadores brasüeíros sobre os conceitos de Marshall, alérn de apontar os limites desta critica.Por fim, indica algumas contribuicóes que a categoria status pode apresentar para estudos sobre politica social e direitossociais, tais como a possibilidade de identificar as irnplicacóes do acesso a direitos sociais na posicáo social de grupos eindivíduos.Palavras-chave: Status, direitos soclals, politicas socisis.

THE STATUS CATEGORY IN MARSHALL: contributions to the study 01 social rightsAbstract: Thls article aims to demonstrate the contributions 01 the use 01 category status for studies on social rights andsocial policies. The paper reviews concepts and analyzes of Marshall about status and social rights. To do so, it investigatesthe determinants 01 capltalíst society and the emergence 01social rights in this contex!. Discusses the tendency 01debateabout rights in the literature of Brazilian social policy and identifies the analysis gaps that can be harnessed from the use ofthe category status. Then presents and discusses the marxist critic formulated by Brazilian researchers on the concepts ofMarshall, while pointing out the Iimits 01 this critico Finally, índlcates some contributions that the category status can presentfor studies on social pollcy and social rights, such as the possibility 01 identilying the implications 01access to social rightsin the social posítlon 01groups and indlviduals.Key words: Status, social rights and social polícles.

Recebido em: 28/06/2012. Aprovado em14/05/2013

R. Poi. Púbi., Sao Luis, v.17, n.1, p. 221-228, jan./jun. 2013

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1 INTRODUc;AO

o debate teórico contemporáneo no campo dapolítica social tem sido marcado pelas discuss6essobre os significados e funcionalidades daspolíticas públicas, sua relacáo com a reestruturacáoprodutiva do capital e com o novo formato derequlacáo social e económica do Estado capitalista,O debate sobre os direitos sociais também constano rol de temáticas estudadas sob o enfoque dosdesafios da concretízacao de direitos, haja vistaos limites económicos e financeiros impostas pelaconjuntura neoliberaL Percebe-se a ausencia dacategoria status no debate atual sobre política sociale direitos sociais, o que indica um campo abertopara atualizacáo e problernatizacáo. A inclusáono debate académico da categoria status tem porobjetivo criar novas frentes de análise, ampliando adiscussáo hoje centrada nas dimens6es económicase políticas, O objetivo deste artigo é demonstrar ascontribuicóes da utilizacáo da categoria status paraos estudos sobre direitos sociais e políticas sociais.

O texto está organizado da seguinte forma:na primeira secáo, busca-se de forma analítica nosestudos de Marshall (1967) o conceito de status e suarelacáo com os direitos. Na segunda secáo, discutem­se os rumos seguidos pelo debate sobre direitossociais e políticas sociais no Brasil, e identificam-seos pontos em aberto nestas discussóes. Busca-se,na sequéncia, na literatura marxista, fundamentadaem Abreu (2008), Coutinho (1997) e Vieira (2004),a crítica ao pensamento de Marshall sobre statuse direitos, bem como exploram-se os limites destacrítica, Na última segao, indicam-se as possíveiscontribuicóes da utilizacáo da categoria status nodebate sobre políticas sociais e direitos sociais.

2 A TEORIA DE MARSHALL SOBRE STATUS

A incursao no debate sobre direitos remete aretlexáo sobre o conceita de status como elementoexplicativo importante para se compreenderdesigualdades nas sociedades capitalistas, Marshall(1967), dentre os pesquisadores das cienciassociais, como Parsons, Wright Milis e Weber, é umdos expoentes no debate teórico sobre o conceitode status,

Em suas conferencias sobre a cidadania,Thomas Humprey Marshall (1967) propóe-se aperscrutar a obra do economista Alfred Marshallpara discutir as possibilidades de enfrentamentodas desigualdades sociais via acesso a direitos.Alfred Marshall aposta na política de educacáouniversalizada como mecanismo de reducáo dasdesigualdades, sinalizando como essencial nodebate a análise das derivacóes da instituicáo denormativas que ampliaram direitos ao conjuntode toda a populacáo. Aa estabelecer a discussáoteórica e política, o autor recorre as bases históricae empírica do contexto ingles, analisando tanto a

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evolucáo cronológica quanto a definicáo estruturalda cornposicáo de cada elemento da cidadania,das garantias de direitos que foram assegurados aolanga do processo histórico,

Ressalta-se que A Marshall nao discutiaa desigualdade dada apenas pela renda, e simquestionava a desigualdade derivada da posícaosocial ocupada por grupos e indivíduos na sociedade,ou seja, condicóes de status diferenciadas, Marshall(1967, p. 62), ao analisar as proposicóes de AlfredMarshall, assevera que "[",] a desiguaídade dosistema de classes pode ser aceitável desde que aiguaídade de cidadania seja reconhecida". Em faceda assertiva apresentada Marshall discorre sobreo percurso do estatuto da cidadania aleada pelaconquista dos direitos civis, políticos e sociais.

A abordagem da categoria status em Marshall(1967) é multidimensional, destacando-se ascondicóes de status social e legal. O status íegaícaracteriza-se pela

[...] posicáo a qual se atribui umconjunto de direitos e deveres,privilégios e obrlqacóes, capacidadese incapacidades legais que saopublicamente reconhecidas [",](MAR5HALL, 1967, p,148),

O status social refere-se a "[",] um fenómenoda estratíñcacao numa sociedade [",]", ou seja, "[",]a dlvisáo da sociedade em estratos ou camadas,situados uns sobre outros." (MARSHALL, 1967,p,146), O status social pode ser classificado emstatus social pessoal, ou seja, a posicáo individualdo suieito perante os membros da comunidade;status social posicional, que se refere á posícaosocial atribuída ao grupo que pertence o individuo;e a posícao ocupada no sistema de estratificacáo ouhierarquia de uma sociedade.

Segundo o autor, para as ciencias sociais, adiscussáo acerca do status legal nao é suficientepara compreender as situacóes de estratificacáosocial, pois é preciso trazer outros determinantescomo a ocupacáo, o nível de renda e o grau deescolaridade. O fato é que para Marshall (1967) acategoria status por si só nao indica uma situacáode desigualdade social, que pode remeter-se adiferencas de tradicáo, ritos, condutas pessoais quenao implicam distribuicáo desigual de recursos eprestlqio. Contudo, para fins deste estudo, adota­se a categoria status (legal e social) como um dosaspectos que possibilitam a cornpreensáo dosdíreltos sociais e da política social na sociedadecapitalista, O autor dedica-se a compreender o papeldos díreltos socíais na defimitacáo desta condicáode status, bem como avaliar como esta pode ou naoreproduzir desigualdades,

Considerando que status social retere-seao fenómeno da estratificacáo em uma sociedade

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(ex: castas, estamentos, classes etc), na sociedadecapitalista uma das formas reconhecidas deestratíñcacao é o sistema de classes, cuja base éeconómica. Marshall (1967) admite a convivencia dadesigualdade de classes com a igualdad e de status,mas considera que estas duas dirnensóes entramem conflito na sociedade capitalista.

A análise da categoria status em Marshall(1967) foi fundamentada na caracterízacao datrajetória dos direitos, cuja base empirica foi aInglaterra. No contexto ingles do século XVIII, acidadania adquiriu primeiramente a forma dosdireitos civis, e, depois, dos direitos políticos esociais. É importante destacar que cidadania comostatus nao significa a realizacáo efetiva dos direitosassegurados, mas uma expectativa de realizacáo,garantindo-se a igualdad e de oportunidades e naode resultados. Bobbio (2004) também manifesta estapreocupacáo ao deslocar o debate sobre direitosda esfera do seus fundamentos para a análise dasperspectivas da sua garantia de realizacáo, comogrande desafio contemporáneo.

Marshall (1967) designa a diferenciacáo detres dirnensóes dos direitos da cidadania, quaissejam, civis, pcllticos e sociais. O compcnentecivil representa os direitos de Iíberdade individualem sentido como Iíberdade de ir e vir, Iíberdadecontratual, direito a propriedade, Iíberdade deimprensa, direito de trabalhar e Iíberdade deconsciencia e crenca, dentre outros. Isto quer dizerque todos sao iguais perante a lei. As instituicóesIígadas ao exercício do conjunto de direitos civissao os tribunais de justica. Já o componente políticoretere-se ao direito de participar no exerclcio dopoder político. Nao concorrem para a criacáo denovos direitos que enriquecem o status já gozado,mas sim para extensao de direitos já gozados porparte da populacáo a outros setores. Nesse sentido,o sufrágio universal transfere a base de direitospolíticos para o status pessoal. As instituicóes quepermitem sua concretizacao sao os parlamentos.Por fim, o componente social abarca os direitosque asseguram bem-estar social e económico.A exigencia de cidadáos letrados para o exerclciodos direitos políticos demandou a ampliacáo doacesso ao direito a educacáo, além de possibilitara qualiticacáo da rnao de obra para o mercado detrabalho. Em face disso, Marshall (1967) afirmaque a concretízacao dos direitos sociais remete avigencia de servicos sociais, lncluindo instituicóesIígadas a área de educacáo.

Barbalet (1989, p.18), ao revisitar a obrade Marshall, indica que "I... ] os tres elementos dacidadania [...[térn histórias independentes [...]",sendoque os compcnentes direitos civis, pollticos e sociaisdesenvolvem-se, respectivamente, em XVIII, XIX eXX. Atenta-se, contudo, que essa divisáo cronológicadeve ser tratada de forma relativa considerandoo contexto histórico e o Estado em questáo. Paraidentificar a relacáo entre direitos e status, importa

compreender as diíerencas fundamentais dos tiposde direitos, pois eles provocaráo efeitos no statussocial de grupos e individuos.

Partindo da compreensac de Marshall (1967)da cidadania como um status social geral atribuidoa todos os individuos e considerando os elementoscaracterizadores e o processo histórico mencionado,o autor investiga o impacto da cidadania sobre asdesigualdades sociais. Para viabilizar a sua análise,Marshall (1967) se propóe a identificar as relacóesentre cidadania e classe social. A tese de Marshall(1967) é a da compatibilidade da cidadania, comoresultado da ampliacáo das garantias individuaise coletivas, com as desigualdades de classe dassociedades capitalistas. Admite-se, neste sentido,que a desigualdade economica é chancelada pelaigualdad e de direitos.

A cidadania inicialmente correspondia apenasaos direitos civis e surgiu para extinguir o sistemafeudal, cujo status era baseado em privilégios. Aexistencia da igualdade formal está associada adiversas garantias do individuo perante o Estado e asociedade, mas é indispensável as relacóes socíaisda economia de mercado. Cabe destacar, a títuloilustrativo, a liberdade contratual por meio da qualcapitalistas e trabalhadores eram compreendidoscomo iguais perante a lei e, portanto, podiam exercersuas respectivas Iíberdades contratuais.

Essa perspectiva se modifica com a amplíacaoda cidadania pelos direitos políticos e, sobretudo,pelos direitos sociats. Se os primeiros apresentavamriscos ao sistema capitalista, os segundos levarama uma sítuacao em que "I... ] cidadania e sistemacapitalista estavam em guerra [...]" (MARSHALL,1967, p. 103). Os direitos sociais ataca m a matrizfundamentadora do liberalismo económico, qualseja, a rentabilidade económica, tendo em vistaa necessidade de taxacáo dos lucros para ofinancia mento destes direitos. Barbalet (1989)considera que Marshall (1967) percebe a cidadanianao só como um status que diminui a desigualdadede classes, mas, na medida em que assume as tresperspectivas em questáo, a cidadania pode entrarem conflito com as desigualdades de classe.

Em contraposicác a Marshall (1967), defende­se que os direitos de cidadania nao alteram aconñquracao das desigualdades, e podem inclusivefavorecer a reproducáo dessas desigualdades,considerando que o acesso a direitos sociais naomodifica a posícao geral ocupada por grupose individuos na sociedade, apenas ratifica suacondicác de trabalhador, proprietário, entre outros.O acesso a direitos sociais pode manter o individuoem um lugar especifico na sociedade, sem alterarsua condicáo ou posicáo social. A garantia dedireitos sociais favorece a reproducáo do capitale nao consegue alterar as posicóes socialmenteinstituidas. O status social geral é dado pelaposicáo social ocupada por grupos e individuos nasociedade e este se consolida pelo acesso a direitos

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sociais. A condicáo de trabalhador da indústria, porexemplo, e reforcada pelos dlreitos assegurados aeste trabalhador, poste que os direitos sociais naoalteram a estrutura em que se assenta a lógica docapital, qual seja, a exploracao do trabalho, apenasatenuam este processo.

Portanto, da análise de Marshall e possivelsustentar que os direitos de cidadania permitema comunqacáo de um estatuto comum entre ossujeitos, vinculando-os a determinada ordem social.O resultado e a dirninuicáo da potencia do conflitode classes, dantes limitado a esfera privada, já queestes sao absorvidos pelos espacos instltuclonals deneqociacáo democrática, que nao necessariamentereduzem as desigualdades, mas abrem aoportunidade para torné-las objeto de díscussáo, dernaterializacáo e de rnodelacáo de novos direitos.

3 O ENFOQUE DOMINANTE DO DEBATE SOBREDIREITOS SOCIAIS E pOLíTICAS SOCIAIS NOBRASIL E A CRíTICA A MARSHAL

O estado da arte dos estudos sobre direitose políticas sociais no Brasil está baseado emanálises que focalizam as restricóes impostas pelareestruturacáo produtiva do capital que repercutemno formato das politicas públicas do Estadocapitalista. Os desafios da concretizacao dosdireltos sociais aparecem nos estudos associadosas políticas neoliberais que se pautam pelofavorecimento do mercado capitalista, indicandouma tendencia de rnercantilizacáo dos servicossociais. A seguir dellneiarn-se os marcos referenciaispara se compreender as politicas socíais no Estadocapitalista e apresentam-se ensaios e resultadosde pesquisas que mostram a tendencia do debatesobre direitos socíais e politicas sociais.

Para estabelecer o debate sobre a relacáoentre direltos e status importa analisar o cenárioem que se inscreve essa discussáo, qual seja, asociedade do capital. Na sociedade capitalista omodelo de aufericáo da rentabilidade económica estáfundado na apropriacáo do excedente da producáodos trabalhadores pelos capitalistas. O incrementodo lucro e acompanhado pela intensificacáo daexploracao do trabalho, realizada pelo aumentoda jornada de trabalho, pelo desenvolvimentotecnológico, pelos modelos de qestáo de trabalho.O custo humano deste processo e percebido pelascondicóes de trabalho e vida dos trabalhadores, emgeral, precárias, quando nao penosas.

O enfrentamento da lógica do capitalimplicou a rnobilizacáo dos movimentos operariosno sentido de cobrar rnudancas no processo detrabalho. A classe trabalhadora respondeu a essasituacáo fortalecendo a solidariedade do grupo, viaorqanízacao política que culminou em reivindicacóese lutas traduzidas em greves e controntacoes comos proprietários e, logo, na conquista dos direitos. Oconflito travado entre trabalhadores e proprietários

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deu origem aos direltos sociais, como propriedadesocial, nos termos de Castel (2005). Assim, constitui­se o status social dos trabalhadores, cuja posicáoinicial e dada pela condicáo de nao proprietários,mas ao mesmo tempo sao portadores de direltosdeterminados pela sua condicáo. O século XIXdemarca o periodo de consolidacáo do status dotrabalhador, especialmente, industrial, em queos díreltos socíais sao ampliados e a condicác decidadania dos nao proprietários ratificada.

O Estado aparece como um agente reguladordeste conflito e por meio da leqislacáo concretizadapelas politicas sociais criou condicóes para areproducáo do trabalhador. Os direitos sociaisnascem como conquistas dos trabalhadores, masservem tarnbérn á reproducáo do capital, posteque para a sustentacao da lógica do capital importater trabalhadores em condicóes para produzir,mesmo que isso implique a reducáo das taxas delucratividade em curto prazo, devido a tributacáo e aconcessáo de beneficios.

Destaca-se que o impulso pela auterícaode rentabilidade económica foi contraposto pelaspoliticas sociais estatais asseguradas com baseem díreltos socíais reconhecidos pela humanidade.Conquanto, autores como Polanyi (1980) afirmamque a as políticas sociais representam um imperativopara a reproducáo da lógica do capital na medidaem que mantidas as condicóes originais da lógica docapital a tendencia era da autodestruicáo do sistema.Os direitos sociais, conforme o autor, parecemfuncionar como breques do impulso espoliadorda lógica do capital ao tempo em que garantemmelhores condicóes de vida e trabalho. A genese dosdíreltos socíais está interligada á lógica do capitalimpulsionada pela industrializacáo, responsávelpelo aumento substancial da producáo de riqueza.Por outro lado, este processo e sustentado pelaexploracáo do trabalho que agudizava condicóes devida e trabalho precárias.

Estudo realizado por Abreu (2008) critica oestatuto da cidadania forjado na sociedade capitalistapor considerá-lo reiterador da ordem social vigente.Para o autor, o processo que dá origem aos direitos,calcado nas lutas e disputas, quando efetivado eapropriado pelas instituicóes e traduzido na formade acáo estatal, desvinculando-se da sua origemcombativa. O cidadáo, entendido nesta sociedadecomo individuo portador de direltos e deveres, temlimites claros para o exercício da sua Iiberdade epara ter assegurada a igualdade, em razao da suaposicáo no processo produtivo. Neste sentido, parao autor, os direitos sociais conquistados e garantidosnao traduzem o efetivo exerclcio da cidadania, queserá concretizado com a ruptura com a lógica docapital e a partir da transíormacáo do processoprodutivo e da construcáo de uma sociedadesocialista.

Percebe-se dos estudos de Abreu (2008) queo autor centra sua análise nos aspectos dos dlreitos

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que favorecem a reproducáo do modo de producaocapitalista, por isso propóe ir "para além dos direitos'".No entanto, o autor minora os processos de rnudancasocial advindos com a conquista e a efetivacáo dosdireitos sociais. Nao reconhece também outrasformas de desigualdade decorrentes do acesso aosdireitos sociais. Identificar em que medida os direitosmodificam a cultura polltica instituida, o estadoem que se encontram os individuos e grupos queacessam direitos, sao pontos pouco trabalhados,mas que poderiam ser aproveitados com a inclusáoda categoria status neste debate.

Já o estudo realizado per Coutinho (1997),sobre cidadania e direitos na sociedade capitalista,apresenta o questionamento sobre as possibilidadesque os direitos trazem na perspectiva da rupturacom O sistema de desigualdades ensejadas pelalógica do capital. Aposta na ideia da construcáo deuma sociedade socialista, efetivamente democráticae com a cidadania plena. Critica a igualdade formalatribuida pelos direitos, mas que concretamente naoprevé espaco para se consolidar, visto que existemdesigualdades de oportunidades e de acesso aospróprios direitos.

Coutinho (1997) nao inclui a categoria statusna reflexáo sobre cidadania, direitos e democracia.A ornissáo desta categoria deixa uma lacunaanalítica para se pensar como se moldam ou semantém o status social a partir da "democraciaburguesa" (COUTINHO, 1997, p.11). A ausencia dodebate sobre status ignora também a possibilidadede compreender as desigualdades que vao segestando na sociedade derivada da mobilidadesocial propiciada pelo acesso a direitos.

A investiqacáo realizada por Gomes (2007)discorre sobre a tendencia do debate sobre direitossociais, no ámbito do Servico Social, considerando asrnudancas ocorridas no padráo de requlacáo sociale económica do estado capitalista. A autora observaque o discurso dos direitos é funcional á reproducáoda lógica capitalista, porquanto nao indaga osfundamentos ontológicos da lógica do capital eescamoteia a tensao do conflito de classes, bemcomo as desigualdades produzidas pela exploracáodo trabalho. No cenário contemporáneo, Gomes(1997) observa que a crise do capital repercutiu nodiscurso dos direitos e na concretízacao dos direitosvia pollticas sociais, posto que foi dominante atendencia de alteracáo da leqislacáo e reorientacáodo direcionamento do fundo público para osinteresses do capital.

Gomes (1997) constata que o debatesobre direitos girou em torno da possibilidadede construcáo da ordem democrática, calcadana garantia de direitos. Conquanto, a autoranao percebeu no debate atual a presenca dacategoria status como ferramenta analítica parase compreender as políticas socíais e os direitossociais na contemporaneidade. A ornissáo destacategoria pede inviabilizar a investiqacáo sobre os

impactos dos direitos na cultura instituida, nos ritos,prestigios, honras e dogmas cultivados nos grupossociats.

Já a análise realizada por Telles (1999)sobre o significado dos direitos sociais indaga oslimites da concretizacao dos direitos na sociedadecapitalista. O estatuto da igualdade legal, conformea autora, nao se efetiva em razao das desigualdadeseconórnicas estabelecidas pela insercáodos sujeitosno processo produtivo. A autora enfatiza a dimensáodos direitos associada a sua reivindicacáo, a lutapara conquistá-Io em contraposícao ao processode apropriacáo deste como acáo estatal, entendidocomo processo normalizador e dominador. A autoracritica o processo atual de desmonte de direitos queenfraquece os movimentos sociais.

Em Telles (1997), também nao se identificaa utilizacáo da categoria status para a análise dosdireitos sociats. A arqurnentacáo da autora naoapresenta indicativos que mostrem o significadodos direitos atrelado ao status social dos sujeitos.Fica aberta lacuna para análise do grau de filiacáodo individuo a sociedade, em funcáo da garantiade direitos e como isso pode afetar as condicóesde igualdad e e desigualdades socialmenteestabelecidas.

Partindo da premissa levantada pelos autoresmarxistas citados, de que os direitos alimentama lógica do capital, discute-se a critica a obra deMarshall e a lógica dos direitos com a finalidadede demonstrar a necessidade de incluir a categoriaexplicativa status para ampliar o escopo do debate.

As anállses de Marshall tém sido objeto decritica por parte de autores marxistas brasileiroscomo Abreu e Coutinho. As criticas dos marxistas asanállses de Marshall (1967) estáo dirigidas a falta dehistoricidade e totalidade - categorias explicativas dametodologia marxiana - na investiqacáo do autor. Hácriticas também colocadas a precisáo dos conceitoscomo direitos sociais, considerado demasiado gerale superficial, nao existindo uma posícao clara entreuniversalizacáo ou particularizacáo das acóes eservícossociais.

Por outro lado, importa destacar algunsaspectos meritórios da obra de Marshall, ressaltadospor Abreu (2008) e Coutinho (1997), dentre esses anocáo de igualdade de oportunidades para o acessoaos direitos sob a ótica do interesse público e dauniversalizacáo dos direitos. Ademais, a reflexáo deMarshall coíocou a Política Social na ordem do diaentre os pesquisadores da época e foi pioneira nodebate em torno do conceito de direitos, trazendocontríbuicóes para o estudo das conforrnacóes dasclasses socíais e dos grupos de status.

Mesmo considerando os aspectos importantesda obra de Marshall (1967) e Coutinho (1997) insistena reflexáo sobre o sentido que o direito assumeno contexto capitalista: ser uma funcionalidadeideológica ao considerar todos iguais perante a lei,tratando-se assim os individuos de modo genérico,

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destituídos das relacóes reais e históricas quevivenciam. Lago, os direitos nao podem ser vistoscomo trunfos para o rompimento das desiguaídadessociais.

Marshaíí (1967) recebeu críticas pelainsuficiencia analítica na cornpreensáo do processode conquista de direitos de cidadania. A ornissáo daanálise do papeí dos sujeitos frente a estrutura, oumeíhor,daacáodostrabaíhadores, daburocracia edasclasses dominantes como geradores de conquistase resistencias as garantias de direitos constitui umaíacuna explicativa importante do trabaího deste autor.A historicidade e a contraditoriedade, expíoradas porCoutinho (1997), em seu ensaio sobre a cidadania,revela um olhar multifocal que nao está presente naanálise de Marshall. Coutinho (1997) defende quee incompatível a universalizacáo da cidadania emuma sociedade de classes, bem como o gozo daplena cidadania, dada a radicaí contradicáo entre osinteresses do capitaí e do trabaího.

A crítica realizada por Vieira (2004) sobreMarshaíí reíere-se a inviabiíidade de se extrapoíarpara outros países o modelo de análise da evolucáoda cidadania, que se inicia com os direitos civis,passando petos direitos poíítioose chega aos direitoseconómicos. Por exempío, no caso brasileiro, osdireitos socíais emergiram com mais intensidadeem um período ditatorial, de 1937 a 1945, quandoda Ditadura Vargas, em que os direitos políticos saorestritos.

Ademais, cabe pontuar a crítica a concepcáode Marshall sobre a evolucáo linear e nao conflituosados direitos no contexto inqlés e da ruptura do sistemafeudal, vista apenas com um processo de rnudancainstitucionaí e nao como movimento revoluclonárioque fez nascer a sociabilidade burguesa (ABREU,2008). A conquista de direitos nas sociedadescapitalistas nao deve ser vista como aígo eterno, poisexistem reveses, retrocessos e perdas, que implicamna alteracáo da ccndicác de cidadania instituída.Foi possíveí observar este processo de forma maisnítida no advento das proposicóes neoliberais queimpíicaram reducáo de direitos sociais em variospaíses, em especiaí com a reducáo da alocacáo derecursos nas poííticas sociais.

Contraditoriamente, os direitos conquistadosnas sociedades ocidentais foram resuítado da acáopolítica dos sujeitos organizados, especialmente aclasse trabalhadara, que desde a leqislacáo fabrilinglesa, estudada por Marx (1984), conquistoumeíhorias nas condicóes de trabaího e acessoa direitos. Ressalta-se que estas melhorias naoatingem o núcleo estruturaí da reproducáo dasdesiguaídades nas sociedades capitalistas e,na verdade, aíimentam as posicóes de statusinstituídas. As conquistas de direitos podem retorceras posicóes de status construindo uma identidadeassociada ao direito conquistado, o que podeimobilizar qualquer tentativa de transformar asrelacóes de desiguaídade.

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Abreu (2008) fundamenta sua análise da obrade Marshaíí a partir de críticas dirigidas a tres pontosespecíficos. Primeiro, a defesa da cidadania comorecurso que reduziu as tensoes de classe e fragilizouda luta dos trabaíhadores. Segundo, Marshaíínao apontou como seria possível materializardireitos em uma sociedade com desiguaídades deoportunidades, em que prevalece a cornpeticáo sobrea solidariedade. Os cortes financeiros executadosnas políticas sociais reduziram a acao estatal ea influencia do Welfare State, que implicou narestricáo da perspectiva da cidadania e do acesso adireitos. Em terceiro íugar, a concepcáomarshaííianaestabelece uma especie de hierarquia de direitos, jáque os direitos civis possuem sólida sustentacaonos Tribunais de Justíca, enquanto que os direitossociais dependem de arranjos poííticos, disputaseleitorals e manitestacác de interesses privados naarena de embate petos recursos púbíicos. Abreu(2008, p. 309) nomeia a relacáo entre os direitoscomo "arnpliacáo híbrida da cidadania", que teveum papeí estratéqico para a reproducáo da íógicado capital.

Pode-se dizer que, na relacáo entre direitossociais e reproducáo da sociedade do capitaí,identifica-se a natureza contraditória dos direitos,posta que os direitos sociais colidem com o direitoindividuaí a propriedade privada e ora percebemosavances em proí dos direitos sociais, ora emfavor da rnanutencáo da propriedade privada". Auniversaíidade assegurada aos direitos civis (deíiberdade) e contrariada pela seíetividade presentenos direitos sociais dirigidos a grupos sociaisespecíficos. Neste ponto, observa-se que os direitospodem proporcionar determinados status sociaisque podem reproduzir diterencas e possivelmentedesigualdades. A trajetória da conquista dos direitosrevela a estratificacáo social dada pelo tipo de direitosocial assegurado. Assim, os burgueses reproduzemseu status devido ao direito de propriedade, enquantoos trabalhadares, por sua vez, rnantérn seu statusdado pelo acesso aos direitos íigados ao trabaího.

4 AS POSSIBILlDADES DE APROPRIACAO DACATEGORIA STATUS PARA OS ESTUDOS DApOLíTICA SOCIAL

A leitura do pensamento marxista brasiíeirosobre direitos desconsidera a categoria statuscomo ferramenta explicativa da reproducáo dasdesigualdades, detendo-se no enfoque da procucaocapitalista oomo central para a explicacáo damanutencáo das desigualdades. A ausencia dessedebate deixa espaco para o entendimento dosmotivos que fazem com que os direitos, mesmosenda conquistas e provocando melhorias decondicóes de vida e trabalho, possam favorecer aprevalencia de desigualdades.

A imersáo nos estudos sobre direitos sociaise poííticas socíais mostrou a possibiíidade de

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apropríacáo da categoría status para contribulrcom novas leituras sobre estes temas. Aqui saoenumeradas algumas possibilidades de utilizacáodesta categoria em investiqacóes sobre políticassociais e direitos sociais.

Realiza<;ao de investiqacóes empíricaspara verificar, por exemplo, em que medidao acesso a direitos socíais pode aíterar ostatus sociaí de grupos e individuos;

Realiza<;ao de estudos para identificarcomo o acesso a direitos pode modificar osvalores que determinam o status social;

Realiza<;ao de pesquisas para entender comoo acesso a direitos pode gerar mobiíidade nosistema de estratificacáo social;

A utilizacáo da categoria status empesquisas pode permitir compreender ograu de filiacáo do indivíduo a sociedade,em funcáo da garantia de direitos ecomo isso pode afetar as condicóes deiguaídade e desiguaídades sociaímenteestabeíecidas;

Podem-se realizar investiqacóes sobre osimpactos dos direitos na cultura instituida,nos ritos, prestigios, honras e dogmascuítivados nos grupos scciais:

Pode-se pensar como se molda ouse mantém o status sociaí a partir da"democracia burguesa".

A trajetória de parte da socioloqia americana,especialmente os estudos que seguiram aproposta de Hollingshead (2011) acerca dosquatro fatores de classificacáo do status social degrupos e individuos, revelou uma possibiíidade deapropríacao da categoria status. O autor propugnaa utítízacao independente das variáveis: ocupacáo,grau de escoíaridade, situacáo conjugaí e sexo. Aclassificacáo dos grupos aglutinados pelos critérioscitados indicaria a estratíñcacao social existente nasociedade.

O citado estudo apresenta fragilidades paraaplicacáo na atuaíidade e no contexto brasileiro,haja vista o perfil cultural da sociedade americanae o período da sua realizacáo original, a década de1970. No entanto, mostra indicios das possibiíidadesde se pensar a forrnacáo de grupos de status nassociedades contemporáneas, frutos das diíerencasna insercáo no mercado de trabaího, no grau deescoíaridade e na renda auferida por individuos.

Á proposta de Hollingshead (2011) adiciona­se o acesso a direitos como criterio de ctessiücecéc.social. Considerando a existencia de direitos distintosde acordo com a insercéo ocupacional e o nivel derenda das pessoas, cabe questionar em que medidaeste fator pode influir na definigao do status sociaí dedeterminados grupos. O caso da seguridade social

brasiíeira pode servir de üustracáo para determinar aposícao de grupos e indivíduos, posto que o indivíduoque acessa o direito a assisténcia social nao pode serbeneficiario da previdéncia social, o que coloca umadistíncáo clara de íugar sociaí ocupado. Ademais, umtrabaíhador do setor público acessa determinadosdireitos distintos do trabaíhador do setor privado,o que revela uma posícao social também diferenteentre estes grupos. Em sintese, parece imperiosoinvestigar o fator direitos como aspecto queinfluencia a torrnacao de grupos de status e denotadesiguaídades sociaímente instituidas.

As indicacóes de possiveis contríbuicóesda utilizacáo da categoria status para os estudossobre direitos sociais e política social reveíamque compreender status na sociedade capitalistavai muito além do que entender a reproducáo dalógica do capital. O uso da categoria status podesinalizar como outras formas de desigualdades témsido geradas em razao da concretizacao ou naode direitos e a conformacác de grupos de statusdiferenciados.

Aocupacáo condiciona o status que é moldadopor valores e práticas incorporadas petos individuosna sua relacáo social e económica, por exempío, noato de consumir e nos tipos de produtos e servícosconsumidos. A posicáo ocupacional, a renda, o nivelde vida expressam, assim, um modo de vida queindica a estratíñcacao social existente na sociedade.

5 CONCLUSAO

O presente texto, ao procurar demonstrar aimportancia da categoria status para o debate sobredireitos socíais e poííticas sociais, descortinou osignificado de status de acordo com o pensamentode Marshaíí. Abordou as íacunas dos estudossobre direitos no Brasil e verificou a ausencia dautilizacáo da categoria status, bem como apontouas brechas analíticas deixadas por esta ausencia.O texto apresentou e analisou a critica aos estudosde Marshaíí sobre direitos e status, de modo aidentificar os limites do modelo analítico do autorPor fim, sinalizou possibilidades da apropríacao dacategoria status no debate sobre políticas socíais edireitos sociais que podem ser testados em estudosempiricos vindouros.

Pode-se dizer, portanto, com base noconteúdo explorado pelo texto, que os direitossocíais brotam das necessidades socíais da cíassetrabalhadora expressa pelas lutas sociais, quebrecaram os impulsos iíimitados da rentabiíídadeeconómica capitalista. Ao mesmo tempo, de acordocom a perspectiva dos autores marxistas, existeuma relacáo de reciprocidade entre direitos socíaise reproducáo da íógica do capital.

Destaca-se a releváncia do debate travadopelos citados autores no sentido de pensar oslimites e desafios da concretízacao dos direitos

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sociais nas sociedades capitalistas. É dominante nodebate marxista brasileiro o entendimento de que osdireitos sociais abastecem a lógica da rentabilidadeeconómica capitalista, demarcando o espaco ou aposicáo dos trabalhadores no processo produtivo.Além da ausencia no debate sobre direitos dacategoria status como elo que associa o acesso aosdireitos á reproducáo das desigualdades, podemosidentificar a necessidade de desenvolver estudosno campo das pollticas sociais que adicionem acategoria status, especialmente em investiqacóesde recorte emplrico para verificar a sua validade.

Afinal, cabe a pergunta, há rnudanca social coma conquista de direitos como a melhoria da renda, dascondicóes de vida e trabal ha? É posslvel dizer quesim, pois os direitos socíais favorecem a melhoria daqualidade de vida, incrementam o nivel educacional,as condicóes de saúde. Assim, ao se propor nesteartigo a utilizacáo da categoria status para se pensaras pollticas sociais e os direitos tenciona-se verificarqual a posicao social ocupada por grupos e individuosquando estes acessam direitos.

A apropríacáo da categoria status para odebate académlco sobre direitos sociais e politicassociais supre lacuna no campo do Servico Social e asua utilizacáo nestes estudos permite identificar asimplicacóes do acesso a direitos sociais na posicáosocial de grupos e individuos.

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Notas

Título da obra do autor citada neste artiqo

A desaproprtacao de terras Improdutívas para oassentamento de familiasde sem terra é um exemploda conquista de direitos sociais. Aa passo que adesocupacao toreada de familiasde um bairro, situadoem uma proprledade privada, como aconteceu emPinheirinhos, Sao Paulo, é um exemplo de garantíado direito á propriedade privada.

Thiago Bazi BrandaoAssIstente SocialDoutorando do curso de Polffica Social da Universídadede Brasilia (UnB)E-mail: [email protected]

Universidade de Brasilia (UnB)Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasilia, DFCEP 70910-900