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O ESQUEMA BÁSICO DA DISSERTAÇÃO Introdução A dissertação possui três partes fundamentais: Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. Alguns autores apresentam outras diferentes divisões, todavia o sentido dessas diferentes partes é o mesmo. Para a Introdução, por exemplo, existe uma outra expressão, denominada Posição ideológica. Tanto uma quanto outra irá introduzir a idéia a ser defendida, o que muda é apenas o nome dado a cada uma dessas partes. Para a Introdução, ao dissertar sobre um determinado assunto ou tema, sua primeira providência é elaborar perguntas que estejam relacionadas a esse tema. Você deve refletir, procurando respostas para as questões formuladas. Dificilmente terá problemas nesse momento de reflexão. Certamente você já leu ou pelo menos sabe algo a respeito do tema a ser abordado. Essas respostas colaboram na argumentação, já que, para defender uma idéia, você precisa argumentar sobre ela com o leitor, na tentativa de convencê-lo. O ideal é que você, a partir do tema, reflita e consiga as respostas (argumentos) para elaborar a primeira parte da dissertação -- a introdução. Exemplificando, suponhamos que o assunto seja "desemprego", do qual extraímos o seguinte tema (delimitação do assunto): "As principais conseqüências do desemprego no Brasil se agravam a cada dia, principalmente nos grandes centros urbanos.".

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Page 1: Redaçao dicas

O ESQUEMA BÁSICO DA DISSERTAÇÃO

 

Introdução

A dissertação possui três partes fundamentais: Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. Alguns autores apresentam outras diferentes divisões, todavia o sentido dessas diferentes partes é o mesmo. Para a Introdução, por exemplo, existe uma outra expressão, denominada Posição ideológica. Tanto uma quanto outra irá introduzir a idéia a ser defendida, o que muda é apenas o nome dado a cada uma dessas partes.

Para a Introdução, ao dissertar sobre um determinado assunto ou tema, sua primeira providência é elaborar perguntas que estejam relacionadas a esse tema. Você deve refletir, procurando respostas para as questões formuladas. Dificilmente terá problemas nesse momento de reflexão. Certamente você já leu ou pelo menos sabe algo a respeito do tema a ser abordado.

Essas respostas colaboram na argumentação, já que, para defender uma idéia, você precisa argumentar sobre ela com o leitor, na tentativa de convencê-lo. O ideal é que você, a partir do tema, reflita e consiga as respostas (argumentos) para elaborar a primeira parte da dissertação -- a introdução.

 

Exemplificando, suponhamos que o assunto seja "desemprego", do qual extraímos o seguinte tema (delimitação do assunto): "As principais conseqüências do desemprego no Brasil se agravam a cada dia, principalmente nos grandes centros urbanos.".

 

Elaborando a pergunta, teríamos: "Quais seriam as principais conseqüências do desemprego e por que se agravam a cada dia?".

Como respostas, poderíamos apresentar os seguintes argumentos:

1. o número excessivo de pessoas que vive na mais completa miséria; 2. a expansão de favelas nesses grandes centros; 3. o aumento da criminalidade.

 

Outros argumentos podem ser apontados. O importante é que cada argumento encontrado esteja relacionado com o assunto em questão.

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Basicamente, após a reflexão e levantamento dos argumentos, poderíamos compor:

As principais conseqüências do desemprego no Brasil se agravam a cada dia, principalmente nos grandes centros urbanos, onde se pode observar o número excessivo de pessoas que vive na mais completa miséria, a expansão de favelas nesses grandes centros e o aumento da criminalidade.

Observe que, nessa primeira parte, os argumentos são apenas citados. Foi estabelecido o assunto, já delimitado, ou seja, o tema a ser tratado, e os argumentos, os quais serão desenvolvidos nos parágrafos seguintes. Observe ainda nas palavras empregadas, "onde se pode observar", e as vírgulas colocadas neste texto para ligar o tema e os argumentos. Terminada essa etapa, passamos para uma outra, o Desenvolvimento, parte em cada um dos argumentos já mencionados serão desenvolvidos.

Desse modo, para cada um dos três argumentos apresentados, teríamos um parágrafo, num total de três:

Movidas pela idéia de que, nos grandes centros, o ser humano conta com melhores condições para a sua subsistência, populações inteiras imigram do interior. O sonho termina logo que essas pessoas chegam e começam a procurar emprego. São inúmeros os problemas com os quais se deparam e a resposta é sempre a mesma: "Não há vaga", ou ainda "A vaga já foi preenchida".

Sem terem para onde ir, essas pessoas acabam se alojando em favelas, aumentando-as em sua extensão territorial, ou formam outras que crescem do mesmo modo, vivendo de maneira degradante. A luta agora é outra -- com a fome, a total miséria. O pouco que conseguem mal dá para a sua sobrevivência e a de suas crianças. Isso tudo explica a existência de tantos meninos que tentam vender balas, chocolates e outras pequenas mercadorias aos motoristas que param a espera do sinal abrir. Junto com a miséria e a fome, surgem doenças, muitas vezes sem a possibilidade da cura, pois se conseguem atendimento médico gratuito, não têm como comprar os remédios.

Diante de todos esses problemas, pode-se acrescentar mais um: o da criminalidade. Bastaria citar a grave situação desencadeada nas favelas entre os denominados traficantes que lá se instalam e os policiais. Todavia, esse é apenas um dos mais graves exemplos. Além da conotação que se tem com relação a quem mora em uma favela -- a de bandido --, há ainda o forte impulso da miséria que, com o desemprego, faz com que muitos acabem roubando aqui e acolá, de pequenos a grandes roubos, de um simples furto a assaltos a mão armada, provocando a morte de inocentes.

 

Assim como na Introdução, no Desenvolvimento ocorre o emprego de palavras (Todavia..., Além da..., Diante de todos esses problemas...) que estabelecem ligação, não só com o parágrafo anterior, mas também com os períodos e orações de um mesmo parágrafo. O texto deve manter essa conexão, compondo um todo significativo entre os argumentos desenvolvidos.

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A última etapa é a Conclusão. Nesse parágrafo é importante ressaltar, em uma expressão inicial, os fatos já mencionados, não se esquecendo, porém, de reafirmar o tema proposto no início. Veja:

Portanto, ante os fatos já mencionados, pode-se confirmar a gravidade das conseqüências geradas pelo desemprego; conseqüências essas que tendem a aumentar diariamente, pois não há muito comprometimento por parte dos governantes e da sociedade. Enquanto cada cidadão estiver preocupado apenas com seus direitos, a taxa de desemprego continuará crescendo, e também a miséria, as favelas e a criminalidade.

 

OBSERVAÇÃO:

Uma outra forma de se redigir a Conclusão, seria apenas fazer um comentário final, sem a reafirmação do tema. Outro elemento importante e que não pode ser esquecido jamais é o Título da dissertação. Nesse caso, uma expressão adequada seria: As principais conseqüências do desemprego.

Reunindo todos os parágrafos escritos, temos a dissertação completa, acrescida do título:

 

Obs.: Por limitações do Editor utilizado na criação desta página, o título e os parágrafos da dissertação abaixo não seguem as normas apresentadas nesses capítulos.

As conseqüências do desemprego

As principais conseqüências do desemprego no Brasil se agravam a cada dia, principalmente nos grandes centros urbanos, onde se pode observar o número excessivo de pessoas que vive na mais completa miséria, a expansão de favelas nesses grandes centros e o aumento da criminalidade.

Movidas pela idéia de que, nos grandes centros, o ser humano conta com melhores condições para a sua subsistência, populações inteiras imigram do interior. O sonho termina logo que essas pessoas chegam e começam a procurar emprego. São inúmeros os problemas com os quais se deparam e a resposta é sempre a mesma: "Não há vaga", ou ainda "A vaga já foi preenchida".

Sem terem para onde ir, essas pessoas acabam se alojando em favelas, aumentando-as em sua extensão territorial, ou formam outras que crescem do mesmo modo, vivendo de maneira degradante. A luta agora

Page 4: Redaçao dicas

é outra -- com a fome, a total miséria. O pouco que conseguem mal dá para a sua sobrevivência e a de suas crianças. Isso tudo explica a existência de tantos meninos que tentam vender balas, chocolates e outras pequenas mercadorias aos motoristas que param a espera do sinal abrir. Junto com a miséria e a fome, surgem doenças, muitas vezes sem a possibilidade da cura, pois se conseguem atendimento médico gratuito, não têm como comprar os remédios.

Diante de todos esses problemas, pode-se acrescentar mais um: o da criminalidade. Bastaria citar a grave situação desencadeada nas favelas entre os denominados traficantes que lá se instalam e os policiais. Todavia, esse é apenas um dos mais graves exemplos. Além da conotação que se tem com relação a quem mora em uma favela -- a de bandido --, há ainda o forte impulso da miséria que, com o desemprego, faz com que muitos acabem roubando aqui e acolá, de pequenos a grandes roubos, de um simples furto a assaltos a mão armada, provocando a morte de inocentes.

Portanto, ante os fatos já mencionados, pode-se confirmar a gravidade das conseqüências geradas pelo desemprego; conseqüências essas que tendem a aumentar diariamente, pois não há muito comprometimento por parte dos governantes e da sociedade. Enquanto cada cidadão estiver preocupado apenas com seus direitos, a taxa de desemprego continuará crescendo, e também a miséria, as favelas e a criminalidade.

 

 

 

Esquema de dissertação nº 1

 

1º Parágrafo

TEMA + argumento 1 + argumento 2 + argumento 3

INTRODUÇÃO

2º Parágrafo

Desenvolvimento do argumento 1  

3º Parágrafo

Desenvolvimento do argumento 2 DESENVOLVIMENTO

4º Parágrafo

Desenvolvimento do argumento 3  

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5º Parágrafo

Expressão inicial + reafirmação do TEMA + observação final

CONCLUSÃO

 

O esquema acima pode ser utilizado para redigir qualquer dissertação. Ele lhe será .útil para que você possa estruturar satisfatoriamente os argumentos; garantirá ainda organização e coerência à sua composição. Observando essas orientações, você usará o número de parágrafos adequado, certificando-se de que cada um deles corresponda a uma nova idéia e de que, sobretudo, os diferentes parágrafos evidenciem as partes componentes de sua dissertação.

Não se esqueça do seguinte: este é apenas um dos modelos de dissertação que iremos apresentar ao longo do livro. É, no entanto, o mais geral e pode ser usado para desenvolver qualquer tema dissertativo.

Proposta de redação – Fome Zero(Ufsm – 2001 - adaptado) É raro encontrar alguém que não tenha dado uma esmola numa determinada esquina ou semáforo. No entanto, esse gesto provoca polêmica, o que se comprova por opiniões como as que seguem.- "A esmola é tola e ociosa diante do tamanho da tragédia social do Brasil."- "A esmola reproduz a cultura do favor, que está na raiz do paternalismo brasileiro, mas, numa sociedade injusta como a nossa, é preciso ter uma certa dose de generosidade."- "A esmola é um sinal de que as pessoas ainda não endureceram inteiramente diante da miséria."- "A esmola pode servir para que as crianças continuem na rua e aprofundem sua marginalização social".Todas as pessoas, em sã consciência, ficam indignadas com a fome que assola o mundo e também o Brasil. Estatísticas dão conta de que um terço da população brasileira é mal nutrida, 9% das crianças morrem antes de completar um ano de vida. Herbert de Souza, o Betinho, afirmou que "Quando uma pessoa chega a não ter o que comer é porque tudo o mais já lhe foi negado ." É a morte em vida. Instaura-se, dessa forma, uma grande contradição, pois sendo o Brasil o quinto país em extensão territorial com 8,5 milhões

 O BRASIL QUE COME AJUDANDO O BRASIL QUE TEM FOME. (Slogan do Fome Zero). Considerando as opiniões expostas e o programa Fome Zero, redija um texto dissertativo-argumentativo de 30 linhas, em português padrão, defendendo o SEU ponto de vista a respeito do tema. Acrescente dados, exemplos, testemunhos ou outras informações que você julgar relevantes para defender SUA posição. Dê um título ao texto. 

A relação entre infância, educação e pobreza.

Miséria ainda é ameaça a crianças DA SUCURSAL DO RIO 

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O Brasil tem 4 milhões de famílias com crianças de até 6 anos de idade vivendo com menos de meio salário mínimo "per capita". Isso representa cerca de um terço do universo das famílias com crianças nessa idade no país. No Maranhão, o percentual é de 63,9%, o dobro do registrado na média nacional.A Síntese dos Indicadores Sociais 2000 revela que houve uma melhora entre os anos de 1992 e 1999. No início da década, a taxa de famílias com crianças de até 6 anos de idade vivendo com menos de meio salário mínimo "per capita" era de 40,1%.No entanto, segundo Luiz Antônio Pinto de Oliveira, diretor do departamento de População e Indicadores Sociais do IBGE, a situação ainda é grave. "São crianças que vivem em situação extremamente vulnerável", afirma.O presidente do IBGE, Sérgio Besserman, também revela preocupação com esses indicadores. "O dado de renda é muito dramático e afeta profundamente as crianças", diz ele, que considera distribuição de renda indispensável, mas um processo lento."Oferecer pré-escolar é muito mais rápido e ajuda brutalmente a distribuição de renda posterior, porque impede que essas crianças tenham um "handicap" (deficiência) definitivo pelo resto de suas vidas", avalia Besserman.Ele se baseia em um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que mostra que crianças que têm acesso ao pré-escolar têm menor defasagem, maior escolaridade e conseguem melhores empregos.Mas há ainda muito a fazer. Segundo ele, entre o grupo dos 20% mais rico, nove em cada dez crianças entre 4 anos e 6 anos está na escola. No grupo dos 20% mais pobre, apenas cinco em cada dez.A pesquisa mostra que a escolaridade influi sobre outros fatores e pode ser potencializada por outros elementos de desigualdade. A chance de uma criança no Nordeste morrer antes dos 5 anos se tiver uma mãe com até quatro anos de estudo é de 124,7 por mil.É um índice seis vezes maior do que a chance de uma criança no Sul morrer antes dos 5 anos se tiver uma mãe com mais de oito anos de estudo.A coordenadora nacional da Pastoral da Criança, Zilda Arns, acha que os indicadores sociais da década refletem uma melhora real, mas insuficiente. E reclama da desigualdade. "A gente fica assustada como as pessoas podem conviver com tanta desigualdade", lamenta ela, que considera as favelas brasileiras os piores exemplos dessa situação no país.Zilda diz que faltam política públicas eficientes para reter a população no campo _o que, segundo ela, seria o principal desafio a ser enfrentado para resolver o problema da desigualdade."Quando eu vou nas favelas, fico muito mais deprimida do que quando vou nas zonas rurais. Que futuro pode ter uma criança que vive ali?", questiona ela, que afirma que os políticos deveriam se colocar no lugar dos moradores de favela para começar a resolver o problema.São em bolsões de miséria e pobreza, como as favelas dos grandes centros urbanos, que a Pastoral realiza suas ações.Em mortalidade infantil, o trabalho da Pastoral alcançou a taxa de 11,7 mortes por mil. A média nacional é duas vezes maior (34,5 por mil). Em Alagoas, a campeã nacional em mortalidade, o índice é duas vezes maior do que a média (66,1 por mil).De acordo com Zilda, se os governos fizessem investimentos maciços em saneamento básico, essa média nacional poderia cair pela metade.

As técnicas de clonagem usadas até agora em plantas e animais podem ser, a qualquer momento, aplicadas aos seres humanos. Produzir gente em série esbarra numa das leis mais fascinantes da reprodução humana, que é o seu caráter aleatório e imprevisível. Só por isso os seres humanos são tão variados nas suas virtudes e defeitos. (MACKENZIE)  

(Revista Veja – Editora Abril)

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Textos de apoio oferecidos por este site:

Projeto Genoma Humano (HUGO)

É um consórcio internacional, composto pelos EEUU, Europa e Japão, que tem por objetivo mapear todos os genes da espécie humana até o ano de 2025. Em 1990, o Projeto Genoma Humano tinha o envolvimento de mais de 5000 cientistas, de 250 diferentes laboratórios, que contavam com um orçamento, que segundo diferentes fontes, varia de US$ 3 bilhões a US$ 53 bilhões.

Os seus objetivos na área da saúde são: a melhoria e simplificação dos métodos de diagnóstico de doenças genéticas; a otimização das terapêuticas de doenças genéticas, e a prevenção de doenças multifatoriais.

Equipe nos EUA planeja clonar até 200 seres humanos

Boletim da CNN – 7/8/2001

6 de agosto, 2001Às 6:14 PM hora de Brasília (2114 GMT)

LEXINGTON, EUA (CNN) -- Uma equipe de especialistas em reprodução deve anunciar na terça-feira que vai clonar até 200 seres humanos.

O comunicado será feito em uma conferência sobre clonagem promovida pela Academia Nacional de Ciências em Washington, informou nesta segunda-feira à CNN o Dr. Panos Zavos.

Zavos é um professor aposentado que dirige uma corporação com base em Lexington que vende produtos e tratamento para infertilidade.

Segundo ele, sua equipe está trabalhando com 200 casais inférteis, e o objetivo é ajudá-los a ter um bebê.

"Vamos revelar na terça-feira exatamente como será nosso procedimento", disse.

Zavos afirmou que o Dr. Severino Antinori, o médico italiano que ajudou uma mulher de 62 anos a engravidar em 1994, também estaria envolvido no projeto. Antinori é diretor do Instituto Internacional de Pesquisa Associada, em Roma.

Até hoje, nenhum ser humano foi clonado, e as mais bem-sucedidas tentativas de clonagem foram feitas com ovelhas, vacas e ratos.

Clonagem envolve riscos

Mas clonar ovelhas até agora se mostrou uma ciência inexata, e especialistas em fertilidade alertam que a clonagem humana envolve um grande risco de aborto, ou mesmo de bebês natimortos ou com deficiências físicas."Este procedimento não é seguro", afirma o biotécnico da Universidade da Pennsylvania Art Caplan. Dos animais clonados até agora, alguns mostraram uma taxa de crescimento anormal, outros desenvolveram anormalidades e outros ainda morreram de repente, afirma ele."O Dr. Zavos e sua equipe querem aparecer às custas da clonagem. Eles ficam afirmando que vão fazer isso e aquilo, mas eu tenho que dizer que, se você olhar para os trabalhos que foram feitos

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com animais até agora e para as pessoas que realmente conhecem esse procedimento de clonagem -- ou seja, os veterinários, que o testaram em animais -- verá que o procedimento não é seguro", afirma."Eu estou realmente preocupado que façam um bebê morto ou deformado, e não saudável."Zavos e Antinori não revelaram os métodos que serão usados, mas se acredita que será uma técnica semelhante à usada para fazer a ovelha Dolly, a primeira ovelha clonada do mundo.

Cópia-carbono

A técnica envolveria a retirada de DNA (material genético) de uma célula e sua implantação em um óvulo que em seguida seria colocado no útero da mãe.A criança resultante do experimento seria uma cópia-carbono da pessoa que teve o DNA extraído.O Dr. Ian Wilmut, que criou Dolly, afirma que até o nascimento da ovelha foram feitas 277 tentativas. Ele não apóia a clonagem humana.Zavos afirmou que sua equipe e ele acreditam que têm os conhecimentos necessários para o sucesso ao clonar um embrião e implantá-lo nas participantes do projeto.Embora a clonagem de seres humanos ainda não seja contra a lei nos Estados Unidos, Zavos afirmou que sua equipe não pretende trabalhar no país, embora não tenha esclarecido onde o experimento aconteceria.

Revista Época 

Cientistas podem proibir clonagem humana

Um documento da Royal Society, em Londres, divulgado nesta quarta e redigido por estudiosos ingleses, pede a proibição internacional da clonagem humana, alegando que esta é a única forma de impedir que os cientistas façam experiências com a polêmica tecnologia. O objetivo é proibir a reprodução em série de embriões humanos.

A Grã-Bretanha foi o primeiro país a proibir a clonagem reprodutiva no início deste ano, mas deu sinal verde para pesquisas com células-tronco e com fins terapêuticos. A Royal Society formou um grupo de trabalho para examinar as mudanças legais. Seu documento apoiou a posição do governo, mas pediu ações semelhantes da comunidade internacional. 

"Na nossa opinião, uma proibição da clonagem reprodutiva teria apoio público e é justificada por bases científicas. Também ajudaria a aumentar a confiança da opinião pública na ciência''. O professor Richard Gardner, coordenador do grupo de trabalho, declarou que medidas de proibição da clonagem de embriões humanos eram justificáveis. 

"Nossa experiência com animais sugere que haveria um perigo bastante real de criar pessoas com sérios prejuízos físicos e mentais se alguém tentasse implantar embriões humanos clonados no útero'', explicou o especialista. A Royal Society está organizando um encontro sobre pesquisa com células-tronco nos dias 21 e 22 de junho. As informações são da Reuters.Revista Época – edição on line – 21/6/2001

Artigo

CLONAR OU NÃO CLONAR? EIS A QUESTÃO.

Profa. Dra. Lygia da Veiga Pereira

Page 9: Redaçao dicas

No início do ano passado, fomos confrontados com a grande revolução Dolly - nos tornamos capazes de copiar, clonar, indivíduos adultos - no caso, uma ovelha! Imediatamente começamos a discutir esta tecnologia aplicada à clonagem de seres humanos, gerando tanta euforia quando pânico. Ato contínuo, o presidente dos EUA proíbe a clonagem humana. Logo em seguida, um físico também americano declara que realizará estas experiências à revelia da lei de seu país - ele há de encontrar alguma "República das Bananas" aonde poderá realizar a clonagem de um ser humano.

Entre a proibição reminescente dos tempos de Galileu Galilei e a atitude leviana criadora de Frankensteins, a Inglaterra cria um comitê para refletir: clonar ou não clonar, eis a questão. Clonar o quê, como, quando, para quê? O documento redigido levanta uma série de questões científicas e filosóficas sobre as novas tecnologias, e frisa a importância da educação da população em geral.

O público assiste a todos estes fatos através da mídia, e esta tem que assumir a responsabilidade inerente ao seu poder. A manipulação da opinião pública só é possível por causa da falta de informação. Como se fosse posto em debate se um menino diabético pode ou não comer brigadeiros numa festinha de criança. Antes de levarmos em conta os traumas psicológicos desta privação, existe um fato científico fundamental para esta discussão: a ingestão descontrolada de açúcar poderá levar à sua morte! Assim, se a sociedade quer, e deve, participar do debate da clonagem humana, tem que estar a par de alguns fatos científicos.

Para começar, o processo de clonagem ainda é extremamente ineficiente. Devemos nos lembrar que dos 276 embriões manipulados, somente 29 sobreviveram para serem implantados em ovelhas, e destes, somente UM vingou, dando origem à Dolly. E os subprodutos que não vingaram? Nós estamos preparados para lidar com os subprodutos da clonagem em humanos?

Além disto, ainda é cedo para dizermos que a clonagem da Dolly deu certo - o que é "dar certo"? Ela tem uma duração de vida normal? Ela apresenta alguma predisposição para câncer? Ela se reproduz normalmente? Seus filhos são normais? E os filhos de seus filhos? Quantas gerações de seus descendentes teremos que observar até estarmos convencidos de que a experiência "deu certo"?

O argumento para mim definitivo contra a clonagem é o da preservação da integridade do genoma humano. Vamos a um pouco de ciência: as células do nosso organismo podem ser divididas em dois tipos: as células germinativas, os óvulos e os espermatozóides, células designadas à reprodução, à transmissão dos nossos genes à próxima geração; e as células somáticas, todas as outra células do nosso corpo, células que servem as mais diversas funções, menos a de reprodução. Como passarão a receita de se fazer um ser humano para o próxima geração, as células germinativas têm que manter a integridade desta receita, dos seus genes, com o maior cuidado. Já as células somáticas, como não transmitirão seus genes para a próxima geração, não têm um controle tão rígido desta integridade, e de fato, sofrem ao longo do tempo uma série de agressões ao seu material genético, de alguma forma danificando-o.

Assim, clonar como está sendo proposto, gerar um indivíduo a partir de uma célula somática, é uma temeridade, pois não podemos garantir a integridade dos genes desta célula, e assim, dos genes do clone. E a partir daí poderemos gerar "monstros", ou pior, clones aparentemente normais, porém carregando em seus genes alguma alteração que só se manifestará a mais longo prazo - uma espécie de "bomba relógio". Ao procriarem com outros indivíduos da população, os clones estarão disseminando alterações genéticas pela população humana que podem vir a se manifestar somente depois de várias gerações, quando já estarão presentes em um número significativo de pessoas. E então será tarde demais, e o patrimônio genético humano já terá sido alterado de forma irreversível. Este é um preço altíssimo a se pagar - e principalmente, não justificado por qualquer benefício imediato que a clonagem possa gerar.

Page 10: Redaçao dicas

E então, devemos parar com qualquer experiência de clonagem? Não! Temos que separar o joio do trigo - o documento inglês faz uma distinção importante entre a "clonagem reprodutiva", aonde um indivíduo inteiro é produzido a partir de uma célula por reprodução assexuada (o proposto pelo físico americano), e a "clonagem terapêutica", ou seja, as aplicações científicas e terapêuticas desta mesma tecnologia.

Vamos a um pouco mais de ciência. Por que é que não só os donos de clínicas de fertilidade ficaram animadíssimos com a Dolly, mas sim toda a comunidade científica? O experimento da Dolly ultrapassou uma barreira de décadas na ciência: a formação de um animal inteiro a partir de uma célula diferenciada. O que é isto? Todos nós começamos a partir de uma única célula, formada pela união de um óvulo com um espermatozóide. Então, esta célula inicial se divide em duas, quatro, oito, e assim por diante.. Através de milhões de divisões sucessivas, esta única célula da origem a um ser adulto, extremamente complexo. A cada divisão destas, a célula copia todo o seu material genético para as células filhas, ou seja, cada uma de nossas bilhões de células contém a receita completa para fazer uma pessoa. Porém, chega uma hora durante o nosso desenvolvimento embrionário em que estas células, inicialmente idênticas (ou indiferenciadas), começam a assumir características diferentes umas das outras, começam a se diferenciar. Algumas ligam só os genes de célula muscular, outras só os de células de sangue, outras ainda só os genes de células de pele, e assim por diante. E uma vez tomada esta decisão de identidade celular, as células perdem o acesso a todo o resto de informação genética contido em seu núcleo - ou seja, a receita inteira está lá, mas ela só consegue realizar a sub-receita específica do seu tipo celular. Isto até o ano passado, quando Wilmut conseguiu que uma célula diferenciada, já destinada a ser célula de glândula mamaria de uma ovelha, revertesse este processo de diferenciação, sendo assim capaz de reacessar toda a informação contida em seus genes, dando origem a outra ovelha completa!

Isto é fantástico!!! Pensem no quanto podemos aprender com esta experiência!! Se pudermos entender e controlar este mecanismo, poderemos um dia regenerar órgãos e tecidos danificados. Afinal de contas, as células de um rim danificado ainda têm a receita de fazer outro rim – por que não a utilizam, como a lagartixa que regenera a ponta de seu rabo cortado? O inverso também pode ser estudado: porque é que algumas células de repente passam a não obedecer a programação original e começam a se proliferar de forma desorganizada, dando origem a cânceres? Ou ainda, porque é que gradativamente nossas células param de se renovar e funcionar, e envelhecemos? O conhecimento da energia nuclear nos permitiu tanto a construção da bomba atômica, quanto o desenvolvimento da tomografía computadorizada, da ressonância magnética, enfim, de uma série de tecnologias benéficas à humanidade. De forma semelhante, os mesmos conhecimentos que nos permitirão clonar um ser humano, podem ser aplicados em estudos que trarão reais benefícios à humanidade. Continuemos sim as pesquisas em clonagem, porém, em modelos animais e voltadas a aplicações científicas e terapêuticas!

Cientificamente, está claro que a clonagem humana reprodutiva é perigosa para a nossa espécie. No entanto, ainda corremos o risco de ela ser feita mesmo assim. Infelizmente, a vaidade do ser humano é ainda mais perigosa do que a clonagem: não resistimos à tentação de fazer algo que podemos, só porque podemos. Observando meu sobrinho de 1 ano, percebi que ele, ao desenvolver coordenação motora suficiente para pegar uma colher de feijão e jogar na parede branca, simplesmente o fez. Por nenhum outro motivo a não ser por ser capaz de fazer - mas ele tem só um ano. Amadurecer ou não amadurecer? Heis a questão. Já sujamos algumas paredes pelo curso da história - as bombas atômicas, a floresta tropical, a camada de ozônio, etc. Vamos resistir à tentação de macular o nosso patrimônio genético, e utilizar de forma inteligente e benéfica estes novos e admiráveis conhecimentos da genética.

O texto da comissão inglesa pode ser acessado no seguinte endereço:

http://www.dti.gov.uk/hgca

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 Profa. Dra. Lygia da Veiga Pereira tel.: (011)818-7563

Instituto de Biociências - Depto. Biologia fax: (011)818-7553

Universidade de São Paulo RG: 07044689-3

Artigo

O freio da ética

Oswaldo Frota-Pessoa

 O comportamento difere entre as pessoas, já que variam os fatores genéticos e ambientais que interagem para produzi-lo. Em cada população embatem-se tendências que vão da severidade extrema à licenciosidade. Os costumes e as leis fazem dois cortes nessa variabilidade, separando o que é moralmente correto do errado. A ética é o código, convencional ou sacramentado, que, a cada momento, disciplina o comportamento.

Ao longo do tempo, os conhecimentos se expandem e a cultura evolui, deslocando os cortes dos costumes e das leis para um ou outro lado. Mesmo nas sociedades democráticas, a conduta da maioria decorre dos costumes, mais do que das leis, porque estas tardam a ratificá-los (Gollop, 1994).

Nossa vida social estruturou-se, desde os tempos das cavernas, sob o jogo de duas forças complementares, a cooperação e a agressão. Para sobreviver, a humanidade teve de apoiar-se em um tenaz instinto de proteção à prole, essencialmente genética, que se estendia, por contigüidade, à família e à tribo. Por outro lado, essa proteção impunha agressividade contra outros grupos, para defesa da família, ou rapina, em seu benefício. Assim, o homem sempre foi geneticamente compassivo ou agressor, conforme os outros estivessem dentro ou fora de seu círculo de proteção, embora, ao longo da evolução dos povos, a modulação exercida pela cultura sobre essas tendências genéticas tenha sido considerável.

As predisposições genéticas, embora muito variáveis dentro de cada população, não devem diferir entre elas perceptivelmente, em média, porque a evolução genética de traços multifatoriais é muito lenta. Podemos supor, portanto, que a distribuição da predisposição genética referente à variável cooperação-agressividade, seja semelhante nas tribos de índios, nos primeiros seguidores de Cristo e nas hordas de Gêngis Khan, decorrendo as flagrantes diferenças de agressividade manifesta, entre esses povos, de suas culturas tão diversas.

A evolução cultural do ocidente nos dois últimos milênios, conseguiu polir o comportamento humano, sem alterar seu componente genético, dando supremacia crescente à tolerância e cooperação, sobre a agressividade. Ultrapassamos as guerras de conquista e escravização, a monarquia absoluta e a nobreza privilegiada, e a inquisição. Com a revolução francesa e suas repercussões, conseguiu-se a abolição da escravatura e dos privilégios aristocráticos; e o predomínio das democracias, perturbado por totalitarismos transitórios, acabou derrotando o racismo e resgatando os direitos das minorias.

Esta evolução monumental da cultura, controlando o instinto genético, sem destruí-lo, criou a ética atualmente dominante nos países civilizados, aquela que exige liberdade, autodeterminação e democracia, sem discriminações. A humanidade humanizou-se, por força de sua evolução cultural e a ética se transformou, tanto em sua doutrina como em seus métodos. Antes, ela era imposta pelos detentores do poder; hoje resulta, cada vez mais, da discussão entre todos. É esta a ética emanada da opinião pública que irá enquadrar a genética moderna.

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De fato, não há soluções apriorísticas para os problemas éticos criados pela nova ciência. Elas surgirão do debate e irão consolidar-se aos poucos. O cientista que descobre algo - digamos, como separar as células de um embrião de mamífero sem matá-las - é o primeiro juiz. O método foi descoberto em camundongo: devo repeti-lo no homem? Conversando com seus companheiros de laboratório - um colegiado informal de ética - pode ficar decidido que sim, para verificar se as células separadas se dividem algumas vezes e interromper aí o experimento. Mas será lícito implantar uma das células em divisão no útero de uma mulher (fecundação assistida)? Interfere, nesta etapa, um colegiado maior, digamos, a Comissão de Ética da Universidade, e ela concorda, visto já ser aceito retirar uma célula de um embrião antes de implantá-lo, para verificar se ele não contém um gene patogênico. Mais tarde, ocorre aos pesquisadores a possibilidade de fecundar uma mulher com várias células em divisão, tiradas do mesmo embrião, para satisfazer o desejo de ela de ter gêmeos idênticos, pois já é habitual implantar vários embriões na mesma mulher. Para isso, o grupo consulta o Ministério da Saúde e este institui uma comissão mais ampla, com especialistas de várias áreas, e alguns leigos, que negam a possibilidade. Sente-se, por fim, que o assunto já está maduro para tornar-se lei e um deputado apresenta um projeto, que, aprovado, vai à sanção do presidente.

Este exemplo fictício mostra como a ética se constrói aos poucos, a propósito de cada descoberta, e como é importante investigar as opiniões dos interessados ao longo desta evolução, como fizeram Salzano e Pena (1989), consultando os médicos geneticistas brasileiros sobre problemas éticos específicos.

Uma comissão do National Institute of Health, do governo dos Estados Unidos, preparou, para discussão mais ampla, os seguintes critérios para financiar ou não pesquisas sobre embriões humanos (Science 265: 1024-1026, 1994):

Podem ser financiados

a) investigações em embriões de até 14 dias de idade, excedentes dos produzidos para fecundação assistida;

b) produção limitada de embriões in vitro para pesquisas básicas de grande prioridade;

c) extração de células de embriões, antes da implantação;

d) preparação de culturas de células a partir de embriões não usados nas fecundações assistidas;

e) pesquisas em partenotos (óvulos induzidos a entrar em divisão, sem fecundação por espermatozóides);

Casos não decididos

f) fecundação in vitro de ovócitos (gameta feminino) retirado do ovário de fetos abortados, para produzir embriões exclusivamente para pesquisa;

g) pesquisa em embriões excedentes das clínicas de gestação assistida, entre os 14 dias de idade e o fechamento do tubo neural;

h) clonagem por separação de células de embrião, só para pesquisa;

Casos inaceitáveis

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i) implantação de embriões humanos em animais, para gestação;

j) implantação, em mulheres, de embriões usados em pesquisa ou de partenotos;

k) pesquisa em embriões usados depois do fechamento do tubo neural (18 dias de idade);

l) implantação de células separadas de embriões, para gestação assistida de gêmeos idênticos (clonagem);

m) clonagem por transplante de núcleos celulares idênticos;

n) formação de quimera homem-homem ou homem-animal (indivíduo formado pela justaposição das partes de dois embriões);

o) formação de embriões estritamente para pesquisa, por exemplo, criar linhagens celulares em cultura;

p) fecundação entre espécies, usando gametas humanos, exceto no ensaio clínico para testar, em óvulos de hamster, a capacidade de fecundação de espermatozóides humanos;

q) implantação de embriões em outras cavidades que não o útero;

r) dar preferência a embriões de um dos sexos na gestação assistida, a não ser para evitar doenças ligadas ao cromossomo X;

s) uso em pesquisa de espermatozóides, óvulos ou embriões de doadores, sem o seu consentimento explícito;

t) uso em pesquisa de espermatozóides, óvulos ou embriões de doadores que recebem recompensa excessiva.

O ministro da Saúde do Brasil homologou, em 1996, a resolução que regulamenta as pesquisas feitas com seres humanos e cria a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde. Foram dez meses de trabalho, consultas a 2.300 instituições e especialistas e 119 sugestões de grupos de pesquisa. 

Leia a reportagem toda (abaixo) e redija um texto dissertativo em prosa, de 30 linhas, sobre a diversidade cultural e a tolerância no Brasil.

(Reportagem de O Estado de São Paulo, 7/10/2001.)

Falem, senhores imigrantes

Uma tese de doutorado na USP dá vez, voz e rosto a dez comunidades de imigrantes até então pouco estudadas em São Paulo

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MOACIR ASSUNÇÃO

Qual a verdadeira face dos estrangeiros que ajudaram a construir a cidade? Para responder a isso, a historiadora Sonia Maria de Freitas pesquisou a trajetória de dez comunidades que vieram para o País a partir do fim do século 19 e depois das duas guerras mundiais. Menos expressivos numericamente que italianos e japoneses, povos mais estudados por historiadores e sociólogos, eles abandonaram seus países, em muitos casos ocupados militarmente, e fugiram da guerra e da fome, instalando-se em São Paulo.

Com suas tradições, hábitos e costumes, colaboraram para tornar a cidade um multifacetado mosaico cultural.

Dados do Memorial do Imigrante, onde trabalha a professora, informam que 70 povos imigraram para o Brasil. Em sua tese de doutorado, defendida recentemente na Universidade de São Paulo (USP), Sonia dissecou a trajetória de armênios, que fugiam do primeiro genocídio do século 20, em 1915, no qual o número de mortos chegou a 1,5 milhão; russos contrários ao comunismo, que tentavam escapar da Revolução de 1917; poloneses, lituanos, húngaros e ucranianos, que fugiam da dominação soviética. Também foram pesquisados chineses; japoneses de Okinawa, que vivem no arquipélago ao sul do país e diferem da população da ilha principal; italianos do Monte San Giácomo e Sanza, também diferentes dos demais patrícios, e espanhóis.

O trabalho inédito, intitulado Falam os Imigrantes... Memória e Diversidade Cultural em São Paulo, permitiu que essas comunidades ganhassem voz e rosto.

A face dos imigrantes, então, se revela ou loira de olhos azuis ou com traços orientais. A contribuição desses povos à cultura nacional variou de aspectos arquitetônicos, artísticos e culturais em igrejas de todas as crenças à culinária.

 No Brasil, os estrangeiros descobriram o valor da tolerância, escassa na Europa e na Ásia da época, em que o fantasma da guerra rondava os países, num turbilhão de violência e fome. Depois de 1945, a maior parte deles sobrevivia, a duras penas, nos campos de displaced person (pessoa deslocada). Rivais na Europa, lituanos e ucranianos - oprimidos pelos russos - passaram a conviver pacificamente no mesmo bairro, a Vila Zelina, zona leste. No Tremembé, zona norte, poloneses e alemães, também inimigos, se tornaram vizinhos e amigos. Durante a 2.ª Guerra, a Alemanha de Hitler invadira e ocupara a Polônia.

 "O que nos separava na Europa nos unia no Brasil", afirma o arquiteto polonês e professor da Universidade de São Paulo (USP) Witold Snitrowic. Em outro país, diz ele, um encontro entre um compatriota de Gdansk, cidade que viu nascer o sindicato Solidariedade de Lech Walesa, e um alemão de Danzig, que vinham a ser o mesmo local, anteriormente ocupado pelos germânicos, acabaria em briga. "Aqui, eles se cumprimentariam como conterrâneos."

 Adaptação - A vida dos imigrantes teve lances curiosos de adaptação. O arenque, peixe típico de regiões frias, foi substituído pela sardinha. Nativo de regiões tropicais e subtropicais, o palmito virou o sucessor natural do cogumelo no pastel pierogi, de origem polonesa. O mesmo ocorreu, de acordo com o jornalista Saul Galvão, crítico gastronômico do Jornal da Tarde, com o quibe. Feito de carne de carneiro nos países árabes, passou a ser produzido com carne de vaca no Brasil.

 Para aprender a nova língua, o filho de okinawanos Kioshi Teruya, de 70 anos, escrevia palavras em português no dorso da mão. Enquanto trabalhava no arado em Promissão, interior de São Paulo, gravava as palavras, retiradas de jornais que comprava aos montes. "Não me conformava quando não aprendia pelo menos cinco palavras novas por dia", diz.

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 A lituana Elena Vidmontas, de 89 anos, inventou outro método peculiar: lia dois livros, emprestados por vizinhos italianos, ao mesmo tempo. Com isso, a imigrante, que sabia apenas rudimentos da língua falada no Brasil, foi 'alfabetizada' por Machado de Assis, Monteiro Lobato e Olavo Bilac.

 "Desenvolvi um vocabulário muito culto para uma imigrante."

 O polonês Szot Kazimierz, cujo nome foi mudado para Casimiro, viveu, pouco antes de vir para o Brasil, uma situação curiosa: dias depois do fim da 2.ª Guerra, reencontrou em uma estação de trem na Alemanha um ex-soldado que o havia agredido pelo simples fato de ele não entender a ordem de tirar as mãos do bolso, forma de se proteger do frio.

Assustado, o oficial se ajoelhou, pedindo perdão. "Falei que não era tão animal como eles haviam sido conosco durante o conflito e ele podia seguir tranqüilo", conta, ainda com forte sotaque.

 Arquitetura - As comunidades também deixaram legados na arquitetura, embora só e a Liberdade conserve as características de bairro de imigrantes, com as luminárias típicas, as torii, construções em forma de pagode e praças com tanques de carpas. Na Vila Zelina, a Praça República Lituana conserva a Igreja São José, com vitrais do santo nacional, São Casimiro, onde há missas na língua natal aos domingos e uma réplica do monumento à independência da Lituânia, que ficou 51 anos sob domínio soviético. Em frente do templo de arquitetura lituana, projetado e construído pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo, uma cruz com símbolos pagãos como sóis e flores relembra as religiões antigas do povo, antes da introdução do cristianismo.

No caso da Vila Zelina, a aglomeração de lituanos, depois seguidos por russos e ucranianos, não foi acidental. O dono dos terrenos, Cláudio Monteiro Soares, doou à comunidade a área em que foi erguida a igreja, em 1935. Católicos, os lituanos, que tinham começado a chegar nove anos antes, compraram os lotes para ficar próximos de seu templo. Hoje, de acordo com o padre Petras Ruksys, o Pedrinho, a maioria da comunidade é composta por brasileiros. "Anteriormente, faziam-se três missas em lituano e uma em português. Agora é o contrário."

Escondida em meio aos prédios da Liberdade, a Catedral Ortodoxa de São Nicolau, nome do mais importante ícone (equivalente a santo) russo, é um tesouro da comunidade. Com cúpula dourada, paredes brancas e estilo arquitetônico dos Montes Urais, o templo dirigido pelo padre Konstatin Bussyguin tem ícones medievais, trazidos pelos imigrantes. Vítimas de perseguição religiosa por parte do regime soviético, os refugiados da Rússia encontraram no Brasil um porto seguro.

O curioso é que o refúgio russo, onde também há missas na língua natal aos domingos, fica na Rua Tamandaré, em pleno coração da Liberdade. Em outro país, talvez isso fosse encarado como provocação. Os russos, rivais históricos da China, potência socialista contrária a Moscou, combateram os japoneses na guerra da Coréia, em 1904. No Brasil, porém, as diferenças são amainadas.

 Ninguém ouse, entretanto, ter idéias xenófobas a respeito dos estrangeiros radicados no País. Embora mantenham sua língua, tradições e cultura, eles se consideram tão brasileiros quanto os nativos. "O amor pelo Brasil não abafa o amor pela terra natal. Os dois coexistem tranqüilamente", defende a húngara Eva Tirczka Piller, de 68 anos. O apreço pelo País que a acolheu é tão forte que a lituana Elena recorda como o momento de maior emoção de sua vida o dia em que se naturalizou brasileira. "Quando pisei na Avenida Paulista, senti que aquele solo também era meu. Nunca me senti tão feliz."

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Globalização e desemprego

Redija um texto dissertativo em prosa, com 30 linhas aproximadamente, cujo tema seja Os efeitos da globalização no emprego.

Na argumentação, leve em conta a coletânea abaixo:

 Texto 1:

“Num país semi-industrializado como o Brasil, o número de trabalhadores assalariados com contrato regular de trabalho é apenas uma minoria dos ativos economicamente. A maioria trabalha sob condições extremamente precárias. As pessoas são vendedoras ambulantes, pequenos comerciantes, prestadores de serviço de toda espécie ou ‘nômades do trabalho’, que se viram de todas as maneiras nas mais variadas formas de atividades ou negócios.” (Ulrich Beck, do livro O Admirável Mundo Novo do Trabalho)

 Texto 2:

Veja o caso da Alemanha:

Anos 60: de cada 10 trabalhadores empregados, 1 era subempregado.

Anos 70: de cada 5 trabalhadores empregados, 1 era subempregado.

Anos 80: de cada 4 trabalhadores empregados, 1 era subempregado.

Anos 90: de cada 3 trabalhadores empregados, 1 é subempregado.

Perspectiva para 2000: de cada 2 trabalhadores empregados, 1 será subempregado.

O subemprego na Europa já tem um nome: trabalhar em condições brasileiras.

(Ulrich Beck, do livro O Admirável Mundo Novo do Trabalho)

 Texto 3:

Não existirá nada mais antigo do que ter carteira de trabalho assinada. (Frase de um economista)

 

Devemos reprimir o uso de palavras estrangeiras?

O deputado federal Aldo Rebelo (PC do B-SP) criou um projeto de lei que limita o uso de palavras estrangeiras. A proposta foi aprovada na Câmara e aguarda votação no Senado. Se virar lei, passaremos a ter um glossário oficial de aportuguesamento e todo vocábulo estrangeiro, quando publicado na imprensa ou em anúncios publicitários, terá de vir acompanhado de um correspondente em português. Os estrangeirismos devem mesmo ser coibidos?

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Leia mais sobre o assunto AQUI

Sim. A História nos ensina que a imposição da língua é uma firma de dominação de um povo

sobre outro. O estrangeirismo abusivo é lesivo ao patrimônio cultural e está promovendo uma verdadeira descaracterização da língua portuguesa. Nosso idioma oficial passa por uma transformação que não se ajusta aos processos aceitos de evolução das línguas Que obrigação tem um brasileiro de entender que uma mercadoria on sale está em liquidação? Aldo Rabelo, deputado federal (PC do B -SP) e autor do projeto de 1ei que restringe o uso de estrangeirismos.

Não. As pessoas que pensam que a língua brasileira está ameaçada com a entrada de

palavras estrangeiras — como ocorre com o vocabulário da informática, das finanças e dos esportes - não observam a aplicação dos estrangeirismos. Quase sempre o importado aparece em co-ocorrência com um equivalente nacional, sinal de que os falantes estão experimentando para ver se ficam com a palavra de fora ou se vão simplesmente descartá-la  Carlos Faraco, da Univ. Federal do Paraná, organizou o livro Estrangeirismos: Guerras em Torno da Língua

Não. O estrangeirismo é essencial. Negar a influência de um idioma sobre outro é negar a

natureza de todas as línguas. Cerca de 70% das palavras do português vêm do latim e o restante, de outros idiomas. Apesar da luta dos puristas de todas as épocas, as línguas vivem em constante aprimoramento. Ainda assim, acredito que uma eventual estratégia de defesa do idioma não deveria ser feita por decreto, mas pela melhoria do sistema educacional. Francisco Marto de Moura, autor de livros didáticos de Língua Portuguesa

Revista NOVA ESCOLA, março de 2003. 

Samba do ApproachComposição: Zeca BaleiroInterpretação: Zeca Baleiro e Zeca PagodinhoVenha provar meu brunchSaiba que eu tenho approachNa hora do lunchEu ando de ferryboat

Eu tenho savoir-faireMeu temperamento é lightMinha casa é hi-techToda hora rola um insightJá fui fã do Jethro TullHoje me amarro no SlashMinha vida agora é coolMeu passado é que foi trashFica ligada no linkQue eu vou confessar my loveDepois do décimo drinkSó um bom e velho engovEu tirei o meu green cardE fui pra Miami BeachPosso não ser pop starMas já sou um nouveau riche

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Eu tenho sex-appealSaca só meu backgroundVeloz como Damon HillTenaz como FittipaldiNão dispenso um happy endQuero jogar no dream teamDe dia um macho manE de noite drag queen

O que é cultura?

A primeira coisa é definir cultura. A definição melhor é que cultura é tudo o que o homem faz. Para poder sobreviver e se relacionar com o mundo exterior, o homem cria uma espécie de muro ao seu redor, que lhe facilita o seu relacionamento com o mundo. Assim, cultura é a maneira de falar (língua), a maneira de vestir, de morar, de comer, de trabalhar, de rezar, de comunicar. Essa cultura fica sendo a sua garantia, sua defesa. Quando essa cultura é destruída, o povo fica desprotegido e facilmente pode ser dominado e até destruído. Todo o povo se afirma como povo na medida em que consegue produzir essa fortificação, que fica sendo a razão mesma de seu existir. Por isso se diz que a cultura é a alma dum povo. Povo sem cultura é povo sem alma, sem identidade.

Examinado a história, vemos que os povos conquistadores sabiam disso muito bem. Os romanos, para poder dominar totalmente os povos e não deixá-los mais levantar a cabeça, destruíam sua cultura: destruíam os monumentos, não deixavam mais falar sua língua (exigiam que falassem o latim, língua dos dominadores), roubavam os seus deuses... Se a cultura é a alma de um povo, a religião é o centro, a alma da cultura. Quando um povo não tem mais onde se agarrar, ele se agarra na religião, que fica sendo o grito desesperado de sobrevivência de um povo. Os movimentos messiânicos provam isso muito bem. Os romanos, porque eram supersticiosos, não destruíam os deuses dos povos dominados, mas roubavam os deuses e os levavam para Roma, onde os colocavam num templo especial. Se por acaso algum deus funcionasse... ele não ficaria de mal com os conquistadores.

Outro exemplo da destruição dum povo através da cultura é caso da conquista da América Central pelos espanhóis. Dizem os historiadores que na cidade do México as fogueiras arderam durante semanas, queimando tudo o que os conquistadores encontravam. Coisas preciosíssimas. Em alguns pontos a cultura mexicana ou a incaica eram até mais adiantadas que a cultura européia. O calendário asteca, por exemplo, era corrigido num décimo de segundo de 52 em 52 anos! Coisa que nós só fazemos agora na era eletrônica. Pois esses povos foram totalmente subjugados, e até hoje não conseguiram recuperar sua identidade e liberdade. Perderam sua cultura, sua alma... (Pedrinho Guareschi, Jornal Mundo Jovem) 

Proposta de Redação

Depois de ter lidos os textos, ouvido a música, faça uma dissertação sobre o tema: ESTRANGEIRISMOS: PROIBIR RESOLVE? Defenda o seu ponto de vista. 

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Proposta de Redação Leia trecho de entrevista reproduzido abaixo e desenvolva um texto dissertativo, em prosa, de 30 linhas, sobre o papel da Internet na sociedade moderna. 

1) Pergunta: – O e-mail aproxima as pessoas? Resposta: – Isso é ilusão. Marcel Proust escreveu 21 volumes de cartas. Você as lê e percebe que ele as escrevia para manter as pessoas à distância. Ele não queria se aproximar. Com o e-mail acontece a mesma coisa. Acho até que ele potencializa esse aspecto. Essa história de comunidade global, com todo mundo falando com todo mundo, é lixo ideológico. Em vez de o sujeito estar num bar, conversando com seus amigos, ele passa horas no computador, mandando mensagens eletrônicas para pessoas que, em muitos casos, nem conhece. Essa é uma forma de solidão. Não houve aproximação. (Walnice Nogueira Galvão, entrevista a Elio Gaspari, Folha de S. Paulo, 27/08/2000, p. A 15.)

2) Depoimento de um professor O e-mail, o chat e o ICQ recuperaram a vontade de escrever nos jovens, embora a linguagem usada seja toda cifrada, com erros de português. Volta o tempo em que namoros se concretizavam por cartas. Inicialmente, as pessoas se isolam na sala diante de um computador, mas há uma busca do outro. 

Maioridade

Tema 2 – UEM – Maringá – 1999 (julho)

Com base nas discussões a seguir, produza um texto DISSERTATIVO, em que fique evidenciada a sua posição a favor ou contra o tema. Não se esqueça de eleger uma tese e defendê-la com argumentos convincentes.

Redução da maioridade penal

Os constantes crimes cometidos por crianças e adolescentes suscitam a discussão sobre a maioridade penal, que atualmente é estabelecida após os 18 anos.

A partir dos debates realizados pelas autoridades pertinentes, é possível se observar que há duas correntes: uma favorável à redução da idade penal e, por conseguinte, à aplicação de penalidade, e outra contrária à redução, por entender que o adolescente infrator deve ser objeto de medidas socioeducativas.

 Contrária à redução

(Maria Ignês Bierrenbach – assistente social)

 O Código Penal não diz respeito à questão do adolescente infrator. Nós só podemos usá-lo como um referencial. As discussões devem ser feitas com base no Estatuto da Criança e do Adolescente.

   

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“O jovem tem um potencial imenso e não devemos apostar nesse potencial para que ele seja reinserido na sociedade.”

“A repressão só possibilita uma maior violência. Não é com a repressão que vamos conseguir a paz e a tranqüilidade social tão almejadas por todos.”

“Existe toda uma legislação internacional com a qual o Estatuto da Criança e do Adolescente está totalmente afinado.”

 Favorável à redução

Ebenezer Salgado Soares – promotor da Infância e da Juventude de

São Paulo

 

“O Código Penal diz respeito, sim, ao adolescente infrator. Ato infracional é igual a crime. São sinônimos.”

“Temos certeza de que um adolescente de 16 ou 17 anos é plenamente capaz de entender a conseqüência de um crime.”

“A pobreza e a falta de políticas públicas não podem dar carta de alforria para o adolescente cometer crimes e ser tratado de forma tão benevolente.”

“O Estatuto da Criança e do Adolescente proporcionou o aumento da criminalidade.”

 

Proposta de redação

O livro desaparecerá com a informática ou  sobreviverá apenas a leitura?

Redija um texto dissertativo de 30 linhas, em prosa, defendendo uma tese.

Leia o texto abaixo, publicado no jornal O Estado de São Paulo, 17/6/2001. 

Adeus aos livros

CARLOS ALBERTO MONTANER

Nasci, cresci e envelheci entre livros. Poucos meses atrás, ao mudar de escritório, vi-me obrigado

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a doar uns 8 mil títulos a diversas bibliotecas. Não foi um ato de generosidade, mas de desespero: não tinha onde colocá-los. Mas não foi fácil. Gosto do cheiro dos livros, do contato com o papel e da estranha vida que eles dão aos cômodos e corredores. Sabia que jamais voltaria a abrir 95% desses livros, mas estavam ali, nas prateleiras, dispostos a servir-me a qualquer momento, e isso sempre conforta. Aliás, há mais de 30 anos, quando cheguei à Espanha, exilado, para ganhar a vida escolhi a profissão de editor. Era uma forma de misturar prazer e trabalho.

A declaração anterior tem um propósito muito claro. O que se segue foi escrito com bastante melancolia: os livros, como os conhecemos, estão acabando. Sei que no ano passado, só na Espanha foram editorados ou reeditados 62 mil títulos, mas isso não muda as coisas. É o canto do cisne.

Os livros de cartão, papel e tinta estão em sua etapa final. Serão substituídos pelos e-books. O que é isso? É uma tela leve, do tamanho e espessura de um livro convencional, que se alimenta de cartões eletrônicos capazes de conter uma assombrosa quantidade de informação. Em vez de empilhar - por exemplo - os 128 tomos da obra de Balzac numa estante empenada pelo tempo, todo esse material, "digitalizado" num CD-ROM do tamanho de um cartão de crédito, é inserido numa ranhura do e-book.

Aperta-se um botão e na tela surge um índice. Seleciona-se La Piel de Zapa ou Eugenia Grandet e aparece a primeira página. Quando se termina de lê-la, aperta-se um botão e se passa para a segunda ou para a 20.ª. Ou se volta à primeira. Com outro botão se podem fazer anotações, como em qualquer agenda eletrônica.

E até se pode ler à noite, deitado, sem acender a luz: basta a iluminação da tela. Uma biblioteca de 20 mil volumes pode ser arrumada numa prateleira de um metro de comprimento por 20 centímetros de largura. Contra essa imensa facilidade tecnológica, expressa em preço e espaço, não há amor ao livro capaz de resistir à investida.

Não é a primeira vez que o hábito de ler é sacudido por mudanças bruscas.

Durante séculos, os seres humanos escreveram em rolos, sobre folhas maceradas de papiro. Quando os egípcios - grandes produtores de papiro - proibiram a exportação desse material "estratégi-co" para certas cidades gregas, uma delas, Pérgamo, começou a curtir a pele dos carneiros para destiná-la a esse mister. Surgiu o pergaminho. Várias centúrias mais tarde, no século 4.º d. C., começou a popularizar-se outra forma de leitura: os códices, quase sempre escritos sobre pergaminho e encadernados como nossos livros. Houve então nostálgicos amantes dos rolos que quiseram resistir à inovação dos códices, mas as vantagens para a cópia, o transporte e o armazenamento dos novos livros eram imbatíveis. Para isso contribuiu também um inesperado fator psicológico: como os códices coincidiram com a expansão do catolicismo, os rolos foram associados aos costumes pagãos. Isso contribuiu para liquidá-los.

A revolução seguinte ocorreu no século 8.º. As tropas árabes entraram em Samarcanda, então território chinês, e passaram pelo fio da faca quase todos os varões, mas deixaram vivos dois, que haviam despertado a curiosidade dos chefes. Eram os capatazes de uma estranha fábrica que transformava lã numa substância sobre a qual se podia escrever: era o papel, o nosso papel.

Desmontaram a maquinaria e a levaram com eles. Foi um alívio. Para copiar o Alcorão sobre pergaminho era necessária a pele de cem carneiros.

Quando Gutemberg aperfeiçoou a imprensa de tipos móveis - conhecida pelos coreanos 500 anos antes -, a indústria do papel já era importante na Europa.

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Houve muita resistência à invenção do alemão por parte dos copistas, e principalmente da Igreja, que viu reduzir-se sua renda, pois uma das formas de obter indulgências para os defuntos era encomendar aos conventos - e pagar-lhes por isso boas quantias - cópias de belos livros religiosos, mas as vantagens que trazia o artefato eram impossíveis de derrotar. Em uma geração, todas as cidades européias de porte médio já tinham imprensa. Os velhos leitores, amantes dos textos manuscritos, queixaram-se com amargura da produção industrial, plebeiamente uniforme, mas o preço e a rapidez acabaram se impondo: os livros ficaram 20 vezes mais baratos.

Estamos numa nova era. A expressão cunhada "galáxia de Gutemberg" - o mundo surgido da revolução da imprensa - dará lugar à "galáxia dos e-books". A substituição da velha forma de ler durará várias décadas, mas paulatinamente se irá impondo. A venerável Enciclopédia Britânica - 30 volumes de informação precisa -, que me deu de comer quando eu era estudante e a vendia de porta em porta, já não é impressa. É consultada por meio da Internet. É virtual. Como quase tudo neste milênio que começa.

Carlos Alberto Montaner, jornalista e escritor cubano, é co-autor do livro Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano

Proposta de Redação  Basta!  Não dá para manter a imparcialidade em relação ao conflito no Oriente Médio! É natural que todo mundo fique contra os dois lados! Tutty Vasques Colunista da Revista Época 

Redija um texto dissertativo, em prosa, de 30 linhas, sobre o conflito do Oriente Médio. Por que as pessoas ficam contra os dois lados? Será que a guerra só é insana quando não se participa dela, fica-se observando de longe?

Proposta de redação Escreva um texto dissertativo de 30 linhas, em prosa, sobre a forma de como nossa sociedade reeduca aqueles que não cumprem com as leis. O sistema prisional devolve à sociedade um homem novo, regenerado?  Antigamente, os loucos eram internados; hoje, chegou-se à conclusão de que eles ficam mais loucos se forem retirados do seio familiar, do convívio social. Você já ouviu alguma história de colégio interno? Quem leu O Ateneu, de Raul Pompéia, sabe como era o clima dentro da escola. Qual é a sua tese?

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A pena de prisão é um remédio opressivo e brutal, de consequências devastadoras sobre a personalidade do ser humano. É um enjaulamento cruel, a que Roberto Lyra, nosso grande criminólogo e mestre reconhecido de ciência penitenciária, em autocrítica feita num pequeno livro que hoje corre mundo e cujo título já diz tudo -"Penitência de um Penitenciarista"-, dá duro combate: "A pedagogia, a medicina, a psicologia, a economia, a política, até a própria moral já não admitem discussão sobre a monstruosidade antinatural, antiindividual e anti-social de prender, isolar, segregar. É pior do que eliminar e transportar".  (Folha de São Paulo, 11/3/2001)

Sobre a paz

Redija um texto dissertativo em prosa, com aproximadamente 20 linhas, três parágrafos, cujo tema seja:

A paz se constrói todos os dias

Texto de apoio

Características básicas das pessoas que procuram resolver os conflitos de modo não violento:

a) Tenta resolver os conflitos sem criar outros.

b) Encara os problemas de “cabeça fria” em vez de agir impulsivamente, de “cabeça quente”.

c) Tenta buscar uma solução em que ambas as partes obtenham vantagens em vez de definir um ganhador e um perdedor.

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d) Usa o senso de humor para neutralizar ou diluir a tensão e a hostilidade.

e) Defende seus direitos com dignidade, em vez de provocar, atacar ou ficar submissa.

f) Tem a capacidade de perdoar. Não guarda ódio no congelador.

 O aluno poderá recorrer a outros argumentos que não estejam no texto de apoio.

Pró & Contra 

Plantas transgênicas devem ser liberadas no Brasil? 

A multinacional Monsanto pretende plantar e vender no país soja geneticamente modificada - o grão alterado recebe um gene de bactéria e torna-se imune aos herbicidas. Liberado em países como Estados Unidos e Argentina, esse novo tipo de alimento ainda não foi aprovado na Europa. Ambientalistas e cientistas discutem medidas para evitar danos à saúde e ao ambiente

SIM  ALBERTO DUQUE PORTUGAL  Alberto Duque Portugal é diretor-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) 

Sim, porém, como se trata de plantas produzidas por engenharia genética, várias precauções devem ser tomadas. Para tanto, foi promulgada a Lei de Biossegurança, aprovada pelo Congresso Nacional em 1995, que criou a ComissãoTécnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), responsável pelo controle e pela liberação de produtos transgênicos. Essa lei define que esses produtos só podem ser importados, pesquisados, testados e comercializados se atenderem às exigências determinadas pela comissão. E, nesse contexto, a segurança à saúde e ao meio ambiente e a correta informação aos consumidores - que têm o direito de saber, pelo rótulo, que tipo de produto estão consumindo - são pré-requisitos para a existência  desses alimentos no mercado. 

Os avanços da biotecnologia para produção de plantas transgênicas abrem perspectivas quase infinitas para a melhoria da qualidade alimentar e do meio ambiente, além de resultados econômicos. As vantagens que essa nova tecnologia pode trazer passam pela produção de plantas menos suscetíveis a pragas e doenças, que requerem menor uso de defensivos, e pela criação de plantas com melhor valor nutricional do que as disponíveis na natureza. Também podem significar a simplificação dos processos produtivos, como o caso da soja resistente ao glifosato, ora em discussão. 

Estimular o progresso da biotecnologia no país certamente evitará atrasos e ajudará a reduzir a dependência brasileira da tecnologia estrangeira na agricultura, em que possuímos vantagens competitivas em relação aos nossos principais concorrentes. Por isso, é importante viabilizar as plantas transgênicas, ampliando o debate e o conhecimento, monitorando os impactos e, principalmente, apoiando a CTNBio para que ela cumpra bem seu papel. (Revista Época, 8/6/98)

NÃO  SÉRGIO HENRIQUE FERREIRA 

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Sérgio Henrique Ferreira é presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) 

Hoje, somos contra a liberação no Brasil da soja transgênica - objeto de solicitação da multinacional Monsanto. Estamos certos de que os testes ainda são insuficientes para garantir a utilização segura do produto. Os alimentos e todos os organismos geneticamente modificados, no entanto, devem ser liberados no Brasil (e em qualquer lugar) desde que contribuam para melhorar a qualidade de vida das pessoas e do meio ambiente. Uma entidade de defesa e fomento da atividade científica como a SBPC não pode se postar contra o avanço tecnológico. 

As técnicas de engenharia genética devem ser estimuladas para se chegar a plantas resistentes a pragas e a moléstias, ou que carreguem alteração em suas propriedades bioquímicas para aumentar o valor nutricional. A realidade é que mudar a estrutura genética de um ser é um assunto grave, merecendo uma reflexão profunda por parte da sociedade brasileira. É preciso elevar os debates para além dos foros acadêmicos e de comissões técnicas. 

Exigimos rigor para o caso da soja antes de sua liberação comercial, até porque esse será um caso que criará jurisprudência sobre o assunto. Existem questões no processo que ainda não estão suficientemente esclarecidas. Qual é o grau de toxicidade do produto para a espécie humana? Essa é uma exigência prevista pelas Instruções Normativas da CTNBio - a comissão responsável pela análise e pela liberação dos produtos modificados geneticamente no Brasil. 

Somos a favor de que os produtos liberados tenham no rótulo o aviso de que são resultado de modificação genética. E essa liberação não deve ocorrer antes que haja um grande debate público e se aprofundem os testes necessários para garantir a saúde humana e a qualidade ambiental.  (Revista Época, de 14/9/98)

Desenvolva uma dissertação com cerca de 30 linhas, manuscritas e legíveis, sem rasuras, a tinta sobre o tema abaixo..

 

TEMA

"Nossa cultura perdeu muito de seus valores tradicionais. O dinheiro é a única coisa que sobrou para estimular os desejos e as aspirações da maioria das pessoas. O dinheiro tomou o lugar ou entrou profundamente no mundo da religião, do patriotismo, da arte, do amor e da ciência....Os ricos e os pobres lutam por dinheiro por razões muito diferentes. Mas quem é pobre entende algo sobre o dinheiro que os ricos não entendem. E o contrário também é verdadeiro. Os pobres sentem o poder do dinheiro na própria pele. Uma pessoa rica freqüentemente sente isso nas suas emoções, não no seu corpo. Quem é rico sabe que com dinheiro, muitas vezes, você pode manipular, blefar, e fazer o que você quiser. Mas até um certo ponto. Sabe interiormente que há algo essencial na condição humana que o dinheiro não compra."

(JACOB NEEDLEMAN, entrevista à EXAME, edição 645, p.76).

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Leia com atenção Qual é a sua ética? (   ) Vivo e não deixo o outro viver. (   ) Vivo e deixo o outro viver.

Transcrevemos aqui trechos da entrevista do psicólogo Yves de La Taille à reista FAMÍLIA CRISTÃ, junho 2000, mestre e doutor pela Faculdade de Psicologia de São Paulo, onde leciona desde 1986 nos cursos de graduação e pós-graduação, e um dos poucos especialistas em Desenvolvimento Moral do País. Francês, mas radicado no Brasil desde de criança.

“As pessoas têm medo de ser enganadas. Essa é a verdadeira crise moral.” “A verdadeira crise moral que eu enxergo hoje é a da desconfiança mútua que paira nos relacionamentos humanos, um certo deixar de confiar entre as pessoas. Quer um exemplo? À noite, alguém pega um táxi mas tem medo de ser assaltado pelo taxista, este, por sua vez, tem medo, de que seu passageiro o assalte. Se você compra algo, tem receio de estar pagando mais caro pelo produto ou que ele seja falsificado. Já o vendedor desconfia de você e quer ter certeza de que o seu cheque tem fundo, quer ver o seu documento ou acha que o seu cartão é clonado. Entende? As pessoas temem que os outros lhes passem a perna. Um sintoma claro disso, e até bem- humorado, é aquele adesivo colado nos carros, escrito: “Consulte sempre um advogado”. 

“Mas tudo isso parece um reflexo do individualismo dos dias atuais, não? Mas do mau individualismo, do individualismo competitivo. Existe uma fórmula moral razoável que é o viver e deixar viver. Ela traduz bem a idéia de que a liberdade de um termina quando começa a do outro; eu vivo, sem reparar na vida dos outros, mas também deixo o outro viver do jeito dele. Então podemos ser individualistas sem prejudicar um ao outro. Acontece que hoje isso não parece ser mais possível. Eu vejo no outro alguém que ameaça minha liberdade e pode me prejudicar. Aí sai de cena o individualismo relativamente sadio e entra o egoísmo. Vivo e não deixo o outro viver. Muita gente pensa assim hoje.”

“As pessoas verdadeiramente competitivas são as mais equilibradas e apaixonadas. Só vai longe na vida quem tem uma paixão, um ideal, e ética. Não existe nenhuma correlação entre ser ético e ser bem-sucedido. Isso é um mito que as pessoas ainda não entenderam.”

“Eu entendo por gente bem-sucedida não necessariamente pessoas milionárias. Pessoas bem sucedidas são as bem resolvidas na vida, de bem consigo mesmas. Pode ter certeza de que estas são as mais solidárias, generosas e felizes.”

Proposta de redação Após a leitura do texto acima, faça um texto dissertativo de 30 linhas sobre a ética da solidariedade e respeito à vida.  Escolha o esquema que for apropriado ao tema, explicite-o no espaço reservado à proposta na folha.  Por que essa ética tem mais a ver com o ser humano? Quais são os fatores positivos advindos dela? Por que ela vem ao encontro da preservação da espécie humana no planeta? Pense nisso e redija seu texto. Não se esqueça do título e de anexar o rascunho à folha de redação.

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Proposta de Redação

 O assunto é Alca (Aliança do Livre Comércio das Américas) está em pauta. Houve até um plebiscito (de 1º a 7 de setembro de 2002) sobre a inclusão ou não do Brasil nessa associação. Leia os textos abaixo e dê a sua opinião num texto dissertativo de 30 linhas. 

A Alca é para modernizar

(Jornal da Tarde de 31/8/2002)

Gilberto Paim

Varia de analfabetos a pessoas cultas a escala dos brasileiros que fazem oposição à Associação de Livre Comércio das Américas (Alca). O elegante embaixador Pinheiro Guimarães, homem culto, considera a Alca como o caminho do patíbulo. Não menos veemente é a condenação dessa iniciativa por outros diplomatas que formam a numerosa ala esquerda do Itamaraty. Não parece fácil ao ministro Celso Lafer atravessar incólume as trincheiras ocupadas por tamanho contingente de "inimigos íntimos".

Os princípios da Alca são idênticos aos do Acordo Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta), em vigor entre Canadá, Estados Unidos e México. Um desses princípios reza que as nações aderentes (Canadá e México) têm 15 anos, a partir de 1994, para ajustarem suas economias de modo que seu comércio exterior possa operar com base na tarifa zero. Outra observação que se pode fazer nega por completo a suposição propagada pelos inimigos da Alca sobre o "aprisionamento" dos parceiros no "curral dos americanos". Pois o México, depois de janeiro de 1994, concluiu acordos de livre comércio com 31 nações da América Latina, Europa e Ásia.

A expressiva esquerda ilustrada deixa um flanco exposto à crítica que Norberto Bobbio faz à aceitação de argumentos falsos e a cumplicidade de certos intelectuais com a propaganda viciada, que tanto oculta como distorce fatos e não admite que suas inverdades sejam postas em dúvida. Quem condena o Nafta condena por antecipação a Alca, mas esconde o fato essencial de que o Nafta colocou o México na trilha do progresso econômico acelerado. No segundo ano de sua adesão a esse acordo, o México ainda vivia restos da turbulência da crise política e cambial do ano de 94. Em 96, o México exportava pouco mais de US$ 46 bilhões, soma pouco inferior à da exportação brasileira do mesmo ano. Compare-se esse montante "irrisório" com a exportação mexicana atual, da ordem de US$ 160 bilhões. Enquanto patina sobre uma exportação de cerca de US$ 50 bilhões, o Brasil demonstra a sua não-integração no mercado mundial, enquanto acalenta o sonho de dobrar esse valor. Mas a condição para realizá-lo é estar dentro do Nafta ou da Alca.

A sonegação de fatos aqui comentados, no debate sobre a proposição de livre comércio no hemisfério, revela o apego a um tipo de relações econômicas internacionais superado pela evolução histórica. Na busca das razões da oposição de uma corrente de brasileiros à Alca não se encontra como móvel principal o medo do desconhecido, mas o ódio irracional aos Estados Unidos.

Não é provável que a Alca traga ao Brasil benefícios comparáveis aos que o México vem colhendo do Nafta, mas certamente colocará nosso país no caminho da modernização de seu parque industrial e de seu comércio exterior. Se amplamente divulgados os resultados extraordinários obtidos pelo México com esse acordo de livre comércio, ficariam sem argumentos os corifeus da oposição à Alca. Tão perto de nós, em São José dos Campos, a Embraer retrata a nova economia mexicana. Operando num setor de alta tecnologia, a empresa brasileira cria a família de jatos

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comerciais para 70, 78, 98 e 108 passageiros, contendo componentes importados que representam metade do valor de mercado de cada unidade. E tem pedidos firmes no valor de US$ 10 bilhões e opções de compra da ordem de US$ 12 bilhões, sendo por isso a maior exportadora brasileira.

Na exportação mexicana de US$ 160 bilhões, mais de três vezes superior à exportação brasileira, há dois terços de manufaturados que incluem maquinaria e equipamento elétrico, veículos automotores, reatores, caldeiras e outros equipamentos nucleares e enorme quantidade de outras manufaturas que se destinam principalmente ao mercado dos Estados Unidos. Componentes importados fazem parte de todos os produtos exportados.

Temos aí o modelo Embraer, que representa a participação no mercado mundial com produtos finais que contêm grande parcela de bens intermediários importados do exterior. Esse modelo implica a abertura da economia, o que significa a livre associação de empresas brasileiras com investidores estrangeiros, como meio de acelerar a modernização e de assegurar plena integração da economia nacional no mercado globalizado. Não parece parte desse quadro a proposta de substituição de importações como programa básico de desenvolvimento econômico do Brasil. A proposição transmite a idéia de produção 100% nacional e tem como pano de fundo o isolamento e a perda de competitividade. Apontando para a modernidade, a Alca parece ser o caminho oferecido ao Brasil para superar o seu atraso econômico e institucional. 

Gilberto Paim

Gilberto Paim é jornalista e foi professor da Escola Interamericana de Administração Pública, da Fundação Getúlio Vargas/Rio

 

A ironia da ALCA

Paulo R. Feldmann

     Muitas pessoas estão iludidas achando que assim como a Comunidade Européia tem sido algo positivo para os países mais pobres da Europa, a ALCA também o será para os menos desenvolvidos da América, como nós. Pura ilusão. A ALCA é bem diferente, pois ela não visa a integração dos países do continente mas simplesmente a unificação dos seus mercados. A Comunidade Européia permitiu sim a melhora das condições de vida em alguns países como Grécia, Portugal e Espanha. A ALCA visa somente propiciar às empresas da região a possibilidade de atuarem em todo o continente sem barreiras e com alíquotas aduaneiras especiais ou inexistentes. Além de não visar o desenvolvimento econômico ou social dos países latino-americanos a ALCA proíbe a participação de Cuba.

     Mas existem várias outras ilusões à respeito da ALCA, como, por exemplo, imaginar que nossos produtos passarão a invadir o mercado norte-americano. Ora, isso só acontecerá com nossas "commodities" e com um ou outro bem industrializado, como sapatos e talvez o aço. Acontece que está evidente neste início de século XXI, que as nações efetivamente avançadas são aquelas cujas exportações são constituídas por produtos com alto conteúdo tecnológico que é o que caracteriza por exemplo, Estados Unidos, Japão ou Alemanha. Enquanto nações pobres são aquelas que quando conseguem exportar, o fazem através de seus produtos agrícolas ou minerais, ou seja, "commodities". É este o destino que queremos consagrar para as nossas exportações com a ALCA? Vamos definitivamente abrir mão de exportarmos produtos de alta tecnologia?

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     Além das ilusões, a ALCA nos levará a algumas armadilhas. Uma delas em relação ao capital externo. O número de empresas estrangeiras com intenção de se instalar no Brasil, e que evidentemente aqui geram empregos, tenderá a diminuir drasticamente pois nosso mercado passará a ser servido por produtos importados. Ironicamente a ALCA afastará o capital estrangeiro de nosso país. Se achamos que agradar o capital estrangeiro, é justamente o contrario que estaremos fazendo. Que vantagens ele terá em vir para cá gerar novas fabricas e empresas se os respectivos produtos aqui chegarão de qualquer forma, via importação? Se não vamos conseguir atrair o capital externo, por que vamos abrir mão de um dos mais importantes patrimônios que possuímos que é o nosso mercado interno?

     Em relação às empresas brasileiras como alguém pode imaginar que pagando a maior taxa de juros do mundo e sofrendo com uma das mais altas cargas tributarias elas estejam prontas para competir no cenário da ALCA? Se assim o fosse, o Brasil não estaria participando do mercado internacional com menos de 1% das exportações. Aliás porcentagem que só cai, ano após ano.

     Se o Brasil decidir não participar da ALCA ela deixa de existir, pois o outro mercado importante da América Latina é o do México com quem os Estados Unidos já possuem um acordo de livre comércio que é o Nafta e, portanto, não faria sentido uma ALCA somente com o restante da América do Sul. Apesar de tudo, estamos com a faca e o queijo na mão para negociar bem se for para entrarmos. Mas a pressão é muito grande.

     As propostas de liberalização dos mercados nos vários países da América devem estar colocadas pelos mesmos até o início de 2003, para então, imediatamente, se iniciar o processo de eliminação paulatina das tarifas de importação. Isto significa que o futuro Presidente da República nem bem sentará na sua cadeira e já deverá tomar decisões muito importantes a respeito da nossa entrada na ALCA. No entanto este tema ainda não está sendo discutido seriamente em nosso país, nem mesmo na campanha eleitoral. 

Paulo R. Feldmann, é professor da Faculdade de Economia da U.S.P, membro da

coordenação da CIVES - Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania.

 

ALCA: SER OU NÃO SER?

 Mair Pena Neto

  Entre os inúmeros debates de primeira hora que aguardam o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva está a participação brasileira na Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Estar ou não estar na Alca provoca discussões acaloradas e radicalismos. Os de esquerda repudiam a inserção por simples antiamericanismo, e os de direita batem na tecla na abertura econômica sem limites.

Agora no poder, Lula terá que tomar a decisão pesando muito bem os prós e os contras. O mundo vem se organizando em áreas de livre comércio, mas, se a proximidade geográfica ainda é importante, não é mais determinante para relações comerciais. Um bom exemplo são as negociações entre os países da América Latina e do Caribe com a União Européia, que continuam progredindo sem o envolvimento norte-americano.

Os defensores incondicionais da presença do Brasil na Alca costumam citar o exemplo do México, país de economia similar à nossa, cujas exportações saltaram com o ingresso no Nafta (Acordo Norte-Americano de Livre Comércio). Para eles, recomendo a leitura de matéria da Business

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Week, reproduzida na última segunda-feira, no jornal Valor Econômico. Nela, mostra-se como a extinção de tarifas sobre produtos agrícolas, por parte do México, a partir de 1º de janeiro de 2003, poderá causar a perda de 750 mil empregos no setor, só no próximo ano, com o colapso de dezenas de milhares de produtores. A matéria deixa bem claro o impacto do fim das tarifas, previsto pelo Nafta, assinalando que 10 milhões de pessoas, cerca de um quarto da força de trabalho mexicana, ainda vivem da terra.

Os apressados diriam que a agricultura mexicana estaria pagando pela sua ineficiência, mas nesta questão são fundamentais os subsídios concedidos em cada país. Arautos da liberdade comercial e da livre concorrência, os Estados Unidos concedem pesados subsídios agrícolas, que tornam seus produtos mais competitivos do que os de países que não podem fazer o mesmo. Enquanto o produtor mexicano médio recebe 722 dólares em subsídios anuais, os fazendeiros americanos podem obter 20.800 dólares por ano. Apesar do aumento nas exportações para os vizinhos do Norte, o México acumulou em 2001 déficit de 4,1 bilhões de dólares no comércio de produtos agrícolas com os EUA.

Imaginem o Brasil entrando para a Alca e expondo sua produção agrícola aos subsidiados produtos americanos. Quem ganharia nesta relação? Para um país que precisa gerar milhões de empregos e fixar o homem no campo para evitar a tragédia das grandes cidades, o Brasil não pode correr o risco de se submeter a uma competição tão desigual.

Outra importante questão que se coloca é o custo do capital. Os americanos têm acesso a créditos muito mais fartos e baratos. Mesmo que Lula venha a reduzir a taxa de juros, isto terá que ser feito de forma gradual, não assegurando ao agricultor brasileiro as mesmas condições que seus colegas norte-americanos.

Este alerta não significa oposição radical à inserção brasileira à area de livre comércio, mas chama atenção para as assimetrias que pautam as relações entre Brasil e Estados Unidos. Com um novo governo, o Brasil terá mais condições de rediscutir os fundamentos da Alca para torná-la mais equilibrada. E uma Alca sem o Brasil não teria tanta graça para os EUA.

 Mair Pena Neto trabalhou no Globo, JB e Agência Estado. Foi correspondente da F-1 em Londres, durante 3 anos. Foi editor de política do JB e repórter especial de economia. É gerente de comunicação social da Souza Cruz, no Rio.