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JULGAMENTO DE RECURSOS PROVA DE SELEÇÃO DE ESTÁGIO – JUSTIÇA FEDERAL SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SANTA MARIA I – DIREITO PROCESSUAL CIVIL 1) QUESTÃO N. 3 (Recurso 04/2012) Trata-se de recursos interpostos em face do gabarito divulgado, pertinente à questão n. 03, assim versada: “Na fase do julgamento conforme o estado do processo, cujo pedido é condenatória ao cumprimento de obrigação de pagar, verificando o Juiz que na contestação o Réu trouxe defesa contra o processo procedente, no sentido da ilegitimidade passiva, deverá: a). extinguir o processo sem resolução do mérito; b). determinar a denunciação da lide; c). prolatar sentença em favor do Autor; d). prolatar sentença com resolução do mérito.” Foi apontado como correta a resposta indicada na letra “A”. A alegação recursal funda-se no fato de que a assertiva posta no enunciado em nenhum momento indica sua própria veracidade, de modo que não haveria “como saber se a ilegitimidade passiva realmente ocorreu ou não”, de sorte que não se teria como única solução possível a extinção do processo. Não prospera o argumento, à evidência. Primeiramente, porque é lógico que, em questões destinadas à avaliação de conhecimentos, o enunciado presume-se verdadeiro, e é a partir dele que devem ser buscadas as respostas. Depois porque, diante do enunciado proposto, que indica a alegação, em defesa, de ilegitimidade passiva, que na dicção textual seria procedente, dentre as alternativas apresentadas, a única viável é, efetivamente, a alternativa “a”: invocada a tese defensiva em comento, não seria resultado natural do processo (ainda que, argumentandum tantum, pudesse o Juiz não a reconhecer) nem a denunciação da lide, nem a prolação de sentença com resolução de mérito (qualquer que fosse), tampouco em favor do autor. Vale gizar: na medida em que a questão afirma que “o Réu trouxe defesa contra o processo procedente, no sentido da ilegitimidade passiva”, ainda que se pudesse reconhecer que a compreensão seria facilitada e houvesse, após a palavra processo, uma

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JULGAMENTO DE RECURSOS

PROVA DE SELEÇÃO DE ESTÁGIO – JUSTIÇA FEDERAL

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SANTA MARIA

I – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1) QUESTÃO N. 3 (Recurso 04/2012)

Trata-se de recursos interpostos em face do gabarito divulgado, pertinente

à questão n. 03, assim versada:

“Na fase do julgamento conforme o estado do processo, cujo pedido é condenatória ao cumprimento de obrigação de pagar, verificando o Juiz que na contestação o Réu trouxe defesa contra o processo procedente, no sentido da ilegitimidade passiva, deverá:

a). extinguir o processo sem resolução do mérito;

b). determinar a denunciação da lide;

c). prolatar sentença em favor do Autor;

d). prolatar sentença com resolução do mérito.”

Foi apontado como correta a resposta indicada na letra “A”.

A alegação recursal funda-se no fato de que a assertiva posta no enunciado

em nenhum momento indica sua própria veracidade, de modo que não haveria “como saber se

a ilegitimidade passiva realmente ocorreu ou não”, de sorte que não se teria como única

solução possível a extinção do processo.

Não prospera o argumento, à evidência. Primeiramente, porque é lógico

que, em questões destinadas à avaliação de conhecimentos, o enunciado presume-se

verdadeiro, e é a partir dele que devem ser buscadas as respostas. Depois porque, diante do

enunciado proposto, que indica a alegação, em defesa, de ilegitimidade passiva, que na dicção

textual seria procedente, dentre as alternativas apresentadas, a única viável é, efetivamente, a

alternativa “a”: invocada a tese defensiva em comento, não seria resultado natural do

processo (ainda que, argumentandum tantum, pudesse o Juiz não a reconhecer) nem a

denunciação da lide, nem a prolação de sentença com resolução de mérito (qualquer que

fosse), tampouco em favor do autor.

Vale gizar: na medida em que a questão afirma que “o Réu trouxe defesa

contra o processo procedente, no sentido da ilegitimidade passiva”, ainda que se pudesse

reconhecer que a compreensão seria facilitada e houvesse, após a palavra processo, uma

vírgula, o sentido provável é o de que a palavra “procedente” refere-se à defesa trazida pelo

réu (já que este é o tema central).

Sendo assim, o recurso é IMPROCEDENTE.

II – DIREITO PROCESSUAL PENAL

1) QUESTÃO N. 16 (Recursos 01/2012, 02/2012, 04/2012, 05/2012 e 10/2012)

2) QUESTÃO N. 17. (Recursos 02/2012, 04/2012 e 12/2012)

3) QUESTÃO N. 19 (Recursos 02/2012 e 05/2012)

Trata-se de recursos interpostos em face, fundamentalmente, da matéria

ventilada nas questões em cotejo (Direito Penal), o que supostamente violaria a previsão

editalícia (que se limitava ao Direito Processual Penal).

As questões impugnadas têm a seguinte redação:

16) A teoria adotada pelo Código Penal brasileiro para determinar o tempo do crime é:

(A) teoria da ubiqüidade;

(B) teoria mista;

(C) teoria da atividade.

(D) teoria do resultado.

17) O estado de necessidade é considerado uma excludente:

(A) Da punibilidade;

(B) Da culpabilidade;

(C) Da ilicitude;

(D) Da tipicidade;

19) Silvio, contando dezessete anos, onze meses e vinte e cinco dias, participa de um seqüestro, mantendo a vítima in carcere durante dez dias, ao final dos quais, por ação da polícia, logra-se libertá-la, ocasião em que todos os seqüestradores são presos. Silvio, no caso, sujeita-se:

(A) às normas do Código de Menores;

(B) às normas do Estatuto da Criança e do Adolescente;

(C) ao Código Penal;

(D) n.d.a.

Assiste razão aos recorrentes. A temática abordada nas questões

supraindicadas envolve Direito Penal, quando deveriam estar restritas ao Direito Processual

Penal, área prevista dentre aquelas que seriam objeto de avaliação na seleção de estágio.

Portanto, as três questões devem ser ANULADAS, atribuindo-se a todos os

candidatos a pontuação correspondente.

III - DIREITO CONSTITUCIONAL

1) QUESTÃO N. 24 (Recursos 06/2012, 08/2012, 09/2012 e 12/2012)

Trata-se de recursos interpostos em face do gabarito divulgado, pertinente

à questão n. 24, assim versada:

“Assinale a alternativa correta:

a) São bens da União os terrenos de marinha, os lagos, os rios, as águas naturalmente em depósito, as ilhas fluviais, lacustres e oceânicas, excluídas destas as que sejam sede de município.

b) A exploração de atividades nucleares é de competência privativa da União e depende, se realizada em território nacional, de aprovação do Congresso Nacional.

c) Lei Complementar pode autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias de competência legislativa privativa da União, relacionadas na Constituição.

d) São bens dos Estados os terrenos de marinha, os lagos, os rios, as águas naturalmente em depósito, as ilhas fluviais, lacustres e oceânicas, excluídas destas as que sejam sede de município.”

Foi apontado como correta a resposta indicada na letra “B”.

Muito embora, na forma do art. 21, XXIII, da Constituição Federal,

efetivamente seja de competência privativa da União a exploração de atividades nucleares -

de modo que o gabarito fornecido efetivamente seja alternativa correta – vê-se que, como

pontuado em sede recursal, a letra “C” igualmente constitui assertiva correta, na forma

preconizada no art. 22, parágrafo único, do mesmo diploma.

Nessa linha, a questão deve ser ANULADA, atribuindo-se a todos os

candidatos a pontuação correspondente.

2) QUESTÃO N. 25 (Recurso 11/2012)

Trata-se de recurso(s) interposto(s) em face do gabarito divulgado,

pertinente à questão n. 25, assim versada:

“Assinale a alternativa INCORRETA:

a) Um dos modos de garantir a aplicabilidade imediata dos Direitos Fundamentais é o mandado de injunção, que admite, na atual jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a emissão de provimento mandamental apto a, desde logo, viabilizar, no caso concreto, o exercício do direito, afastando as conseqüências da inércia do legislador.

b) Segundo o princípio do acesso à Justiça, a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

c) O devido processo legal envolve a garantia, a todos, no âmbito judicial e administrativo, de razoável duração do processo e dos meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

d) Segundo a Constituição Federal, ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente, definida segundo regras previamente conhecida, salvo quando constituídos tribunais de exceção.”

Foi apontado como correta a resposta indicada na letra “D”.

O recurso esteia-se no argumento de que também a letra “C” seria resposta

adequada, por contar incorreção, na medida em que o devido processo legal seria garantia

que envolveria a paridade de condições entre as partes, o próprio contraditório e a ampla

defesa. Afirma que doutrina e jurisprudência não relacionariam tal princípio à duração

razoável do processo e meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

A argumentação não prospera, uma vez que a assertiva contida no item

“C” não aponta, de modo fechado e taxativo, o conteúdo do devido processo legal, mas refere,

sim, que o mesmo envolve (ou seja, que nele também se contém) a s garantias de duração

razoável do processo e dos meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

Não é demais recordar que, na forma do art. 5º, LXXVIII, incluído no texto

constitucional por força da EC 45/2004, “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são

assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua

tramitação”. Antes mesmo, já se encontrava previsto na Convenção Americana sobre Direitos

Humanos, de 1969.

Tal garantia é, obviamente, um desdobramento do maior princípio

constitucional no campo processual, justamente o do devido processo legal que, em sua

dimensão procedimental, contém todos os demais (inclusive os mencionados no recurso).

Veja-se, a título ilustrativo, a lição de Flávia Moreira Guimarães PEssoa e

Dilson Cavalcanti Batista Neto1:

“Podemos classificar o princípio em comento [direito à duração razoável do processo] como decorrência de outros direitos fundamentais processuais já citados anteriormente. Dentre estes, aquele que a doutrina considera a

1 O direito à razoável duração do processo enquanto direito fundamental processual. In: http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/31185-34527-1-PB.pdf

“norma-mãe” de todos os outros direitos fundamentais processuais: o devido processo legal.”

Na mesma linha, Ada Pelegrini Grinover, Cândido Dinamarco e Antônio

Araújo Cintra esclarecem que o devido processo legal constitui garantia de um processo apto a

produzir resultados efetivos, contemplando portanto a garantia de prestação jurisdicional sem

dilações e delongas indevidas (ou seja, a duração razoável do processo), afirmando que a

garantia da prestação jurisdicional sem dilações indevidas integra o conjunto de garantias

conhecidas como devido processo legal2.

Também José Rogério Cruz e Tucci traduz, de forma cristalina, tal

entendimento, na obra “Garantia de prestação jurisdicional sem dilações indevidas como

corolário do devido processo legal”3

Por fim, registra-se a leitura de Jander Dauricio Filho4, que esclarece que,

mesmo antes de positivada de forma individualizada pela EC 45, a garantia de duração

razoável do processo já se continha no princípio maior do devido processo legal:

“o espírito humano precisa de uma decisão justa e rápida para que se aquiete. Desta forma, a sociedade exige do Estado que, ao prestar o serviço da jurisdição, faça da maneira mais breve possível, para evitar litígios eternos. E, por assim ser, se fez necessário positivar um princípio capaz de garantir a satisfação desse anseio social, muito embora já compreendido no princípio fundamental do processo, qual seja o princípio do devido processo legal”.

De modo ainda mais claro, o autor indica alguns dos conteúdos do devido

processo legal:

“Nesse prisma, temos que o principio do devido processo legal é uma garantia constitucional, que se desdobra assegurando a publicidade dos atos processuais, a vedação de utilizar-se em juízo a prova ilícita, o pressuposto do juiz natural afastando a criação de “tribunais de exceção”, o contraditório e a ampla defesa 6, e até mesmo a celeridade processual , entre outras garantias que, graças ao legislador constituinte, foram explicitadas no texto da Constituição Federal de 1988. (...) Veja, a razoável duração do processo significa que os processos, judiciais ou administrativos, não devem durar muito tempo, posto que abalariam a segurança jurídica e a pacificação social. Isso nada mais é do que um desdobramento do princípio do devido processo legal, pois graças a ele os processos devem obediência não só a lei processual, mas a todo o ordenamento jurídico, e, como já dito, a mera hipótese de um processo eterno ou procrastinado no tempo atenta contra a dignidade da pessoa humana.”

2 Teoria Geral do Processo. São Paulo: Malheiros. 3 Garantia de Prestação Jurisdicional sem dilações indevidas como corolário do devido processo legal. São Paulo: Ed. RT. 4 A Lei dos Recursos Repetitivos (Lei n.º 11.672/08) como mecanismo eficaz de cumprimento do princípio da celeridade processual. In: http://www.lfg.com.br/artigos/Blog/principio_celeridade.pdf

Em suma, a assertiva em discussão encontra-se correta, razão pela qual

não pode ser utilizada para dar resposta à questão, que exige a marcação daquela que

contivesse incorreção.

Assim, segue o recurso julgado IMPROCEDENTE.

3) QUESTÃO N. 27 (Recursos 02/2012 e 05/2012)

Trata-se de recurso(s) interposto(s) em face do gabarito divulgado,

pertinente à questão n. 27, assim versada:

Assinale a alternativa correta. a) A vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de subsídio, consagradas na Constituição Federal, bem como o acesso por concurso público, garantem aos juízes tratamento diferenciado, exigindo sejam os juízes respeitados e privilegiados. b) Os regulamentos executivos ou de execução são os admitidos em nosso regime de direito positivo, sendo vedados os autônomos, os delegados e os de necessidade ou urgência. c) Segundo a Constituição Federal, a criação de juizados especiais pela União e Estados não é obrigatória, devendo ser instituídos apenas onde os órgãos judiciais não respondam suficientemente à demanda de prestações jurisdicionais. d) A Federação Brasileira é composta pela União, Estados e um Distrito Federal, tendo os Municípios autonomia em temas de seu particular interesse nos termos da respectiva Lei Orgânica.

Foi apontado como correta a resposta indicada na letra “B”.

a) A insurgência versada no recurso n. 02 esteia-se na afirmação de que a

assertiva “D”, também seria correta, pois da segunda parte da oração poder-se-ia inferir que

os municípios teriam sido omitidos da primeira parte por um erro de digitação, já que há

referência à sua autonomia em temas de particular interesse.

O argumento não prospera. A primeira parte da assertiva é clara ao indicar

como componentes da Federação, no Brasil, União, Estados e um Distrito Federal, o que está

obviamente incorreto, já que não estão aí incluídos os municípios. Da segunda parte da frase,

após a segunda vírgula, não se pode extrair a inferência pretendida, uma vez que se presta

justamente a reafirmar a proposital exclusão dos municípios, vale dizer: não fariam parte da

federação, ainda que tivessem, em alguns casos, autonomia legislativa.

Cabe mencionar que a ideia de federação reporta-se justamente à divisão

de competências sobre uma base territorial, ou seja, reporta a um Estado composto por

entidades autônomas dotadas de governo próprio, com competências ou prerrogativas

garantidas pela Constituição, que não podem ser abolidas ou alteradas. Essa divisão, ainda que

de forma atípica, no caso brasileiro inclui União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

Sendo assim, a assertiva não pode ser considerada correta, na medida em

que: (1) não arrola entre os entes que compõe a federação os municípios; (2) ao mencionar os

municípios, o faz tratando-o como situação particular, em face dos demais entes,

estabelecendo que teriam uma espécie de autonomia restrita e definida pelos temas de seu

particular interesse (quando em verdade suas competências estão estatuídas textualmente na

Constituição). Vale dizer, a assertiva indica, erroneamente, que os municípios não integram a

federação brasileira, ainda que em situações excepcionais possam ter autonomia.

Em suma, a assertiva em discussão encontra-se incorreta, razão pela qual

não pode ser utilizada para dar resposta à questão, que exige a marcação daquela que

contivesse correção.

Assim, segue o recurso julgado IMPROCEDENTE.

b) A insurgência versada no recurso n. 05 esteia-se na afirmação de que a

assertivas “A” também responderia a questão, sendo igualmente correta. Reporta-se ao art.

95, I a III, da Constituição Federal, que consagra as garantias de que gozam os juízes.

A assertiva, todavia, obviamente não pode ser considerada correta pois,

consoante consolidada leitura acerca das garantias inerentes ao exercício da magistratura, as

mesmas não podem ser consideradas como privilégio dos juízes (tratamento diferenciado e

pessoal), senão que prerrogativas inerentes e imprescindíveis ao cargo.

Dessa forma, assertiva em discussão encontra-se incorreta, razão pela qual

não pode ser utilizada para dar resposta à questão, que exige a marcação daquela que

contivesse correção.

Assim, segue o recurso julgado IMPROCEDENTE.

IV – DIREITO ADMINISTRATIVO

1) QUESTÃO N. 32 (Recursos 06/2012)

Trata-se de recurso(s) interposto(s) em face do gabarito divulgado,

pertinente à questão n. 27, assim versada:

“Considere as assertivas abaixo e, após, assinale a alternativa CORRETA:

I - É possível a ampliação da autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos da Administração Direta e Indireta mediante contrato firmado entre seus administradores e o poder público, com fixação de metas de desempenho.

II - É constitucionalmente vedado ao servidor público civil o direito de greve, bem como o de associação sindical.

III - A vedação de acumulação de cargos públicos não alcança empregos e funções exercidas em sociedades de economia mista controladas pelo Poder Público.

a) somente a assertiva I está correta;

b) somente a assertiva II está correta;

c) somente a assertiva III está correta;

d) todas as assertivas estão corretas.”

Foi apontado como correta a resposta indicada na letra “A”, que indica que,

dentre as 3 assertivas apresentadas, somente a I encontra-se correta.

A insurgência versada no recurso esteia-se na afirmação de que também a

assertiva III estaria correta, o que estaria previsto no art. 37, XVII, da Constituição.

A propósito, veja-se a redação do dispositivo invocado, que remete à

aplicação do inciso anterior, tocante à vedação de acumulação de cargos públicos:

“Art. 37. (...)XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e

funções e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades

de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público;”

Claramente, ao contrário do preconizado no recurso, a redação do

dispositivo constitucional confirma a incorreção da assertiva II, que indica que a acumulação

de cargos públicos “não alcança empregos e funções exercidas em sociedades de economia

mista controladas pelo Poder Público”. Gize-se: tal vedação estende-se a empregos e funções

e abrange sociedades de economia mista.

Assim sendo, dado que a assertiva III é, de fato, incorreta, resta como única

alternativa que responde a questão aquela já apontada no gabarito.

Assim, segue o recurso julgado IMPROCEDENTE.

2) QUESTÃO N. 36 (Recursos 03/2012 e 10/2012)

Trata-se de recurso(s) interposto(s) em face do gabarito divulgado,

pertinente à questão n. 36, assim versada:

“Não se subordinam às normas gerais sobre licitações, estabelecidas pela Lei 8.666/93:

a) Entes da administração pública dos Municípios; b) Autarquias federais; c) Empresas públicas; d) Sociedades de economia mista.”

Foi apontado como correta a resposta indicada na letra “D”.

A insurgência recursal aponta para a ausência de resposta para a questão,

na medida em que todos os entes indicados estariam subordinados à Lei 8.666/93.

Efetivamente, a questão encontra-se sem resposta, na medida do disposto

no art. 1º da Lei de Licitações, verbis:

Art. 1o Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei, além dos órgãos da administração direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

Nessa linha, a questão deve ser ANULADA, atribuindo-se a todos os

candidatos a pontuação correspondente.

3) QUESTÃO N. 38 (Recursos 08/2012, 09/2012 e 12/2012)

Trata-se de recurso(s) interposto(s) em face do gabarito divulgado,

pertinente à questão n. 38, assim versada:

“Assinale a alternativa CORRETA:

a) No âmbito do serviço público, o direito adquirido a proventos de aposentadoria dá-se conforme a lei regente ao tempo do requerimento do benefício, ainda quando o a reunião dos requisitos para a inatividade tenha ocorrido na vigência da lei anterior mais favorável, segundo a orientação do STF.

b) O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em dez anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

c) No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência, para a Administração anular os atos administrativos, contar-se-á da percepção do primeiro pagamento.

d) Considera-se exercício do direito de anular ato administrativo qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do mesmo.”

Foi apontado como correta a resposta indicada na letra “C”.

A insurgência constante nos recursos aponta para a circunstância de que,

segundo a lei do processo administrativo federal, também a assertiva “D” estaria correta, por

expressa referência do art. 54, § 2º.

O argumento é, à evidência, pertinente. O art. 54 da Lei 9.784/99 (que

dispõe sobre o processo administrativo em âmbito federal), ao dispor sobre a decadência do

direito da Administração de anular seus próprios, abriga em seus parágrafos tanto a assertiva

contida na letra “c” quanto aquela indicada na letra “d”, verbis:

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. § 1o No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. § 2o Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato.

Ambas as assertivas são, portanto, corretas, pelo que prosperam os

recursos.

Nessa linha, a questão deve ser ANULADA, atribuindo-se a todos os

candidatos a pontuação correspondente.

4) QUESTÃO N. 39 (Recursos 01/2012, 03/2012, 04/2012, 05/2012, 06/2012, 07/2012,

08/2012, 09/2012, 10/2012, 11/2012 e 13/2012)

Trata-se de recurso(s) interposto(s) em face do gabarito divulgado,

pertinente à questão n. 39, assim versada:

“Assinale a alternativa CORRETA;

a) a prática de atos pela Administração, dos quais resultam vantagens para a administra, gera presunção de estabilidade para o beneficiário, que não pode estar sujeito ad aeternum a ser surpreendido por sua eventual revisão, daí a previsão legal de decadência para sua anulação.

b) Segundo a jurisprudência, há direito adquirido a regime jurídico, de modo que uma vez garantida uma gratificação ou parcela remuneratória a servidor público por dada legislação, lei posterior não pode importar sua redução ou supressão, ainda que não haja redução do valor nominal da remuneração.

c) Tomada de preços é uma das modalidades de licitação;

d) São formas de provimento de cargo público, dentre outras, a nomeação, a promoção, a readaptação e a recondução.”

Foi apontado como correta a resposta indicada na letra “A”.

A insurgência versada nos recursos esteia-se na ocorrência de duplicidade

de gabarito que poderia responder a questão, na medida em que também a letra “C”

encontra-se correta. Foi invocado o art. 22, II, da Lei 8.666/93.

Assiste razão aos recursos interpostos. Há claro erro na questão, que

contém efetivamente duas possibilidades de resposta: tanto a letra “a” encontra-se correta

como, na forma da legislação de regência, a tomada de preços é uma das modalidades de

licitação, pelo que também a letra “c” encontra-se correta.

Nessa linha, a questão deve ser ANULADA, atribuindo-se a todos os

candidatos a pontuação correspondente.

V – DIREITO TRIBUTÁRIO

1) QUESTÃO N. 50 (Recurso 02/2012)

Trata-se de recurso(s) interposto(s) em face do gabarito divulgado,

pertinente à questão n. 50, assim versada:

“Numa execução fiscal, feita citação, o executado efetuou depósito em dinheiro em garantia da execução, pelo valor da dívida, juros e multa de mora e encargos indicados na Certidão de Dívida Ativa. Nesse caso, o prazo para oferecimentos de embargos será contado da data: (A) da juntada aos autos do mandado de citação devidamente cumprido. (B) da intimação da efetivação do depósito.

(C) da intimação da penhora.

(D) do depósito.

Foi apontado como correta a resposta indicada na letra “D”.

A insurgência versada no recurso esteia-se na afirmação de o gabarito

correto seria o de letra “B”, consoante entendimento jurisprudencial.

Efetivamente, decorre da dicção legal – teor do inciso I do art. 16 da Lei

6.830/80 – que o prazo para oferecimento de embargos seria, na execução fiscal, contado do

depósito. Todavia, a jurisprudência tem avançado para afirmar que o termo inicial seria

justamente a data da intimação do depósito. É o que resume, ilustrativamente, o seguinte

julgado:

PROCESSUAL CIVIL. GARANTIA DA EXECUÇÃO POR MEIO DE FIANÇA BANCÁRIA. TERMO INICIAL DO PRAZO PARA OPOSIÇÃO DE EMBARGOS. INTIMAÇÃO DO EXECUTADO. 1. Não obstante o art. 16, I, da Lei 6.830/80 disponha que o executado oferecerá embargos no prazo de 30 (trinta) dias, contados do depósito, a Corte Especial, ao julgar os EREsp 1.062.537/RJ (Rel. Min. Eliana Calmon, DJe de 4.5.2009), entendeu que, efetivado o depósito em garantia pelo devedor, é aconselhável seja ele formalizado, reduzindo-se a termo, para dele tomar conhecimento o juiz e o exequente, iniciando-se o prazo para oposição de embargos a contar da data da intimação do termo, quando passa o devedor a ter segurança quanto à aceitação do depósito e a sua formalização. 2. Semelhantemente, em se tratando de garantia da execução mediante oferecimento de fiança bancária, a Quarta Turma, ao julgar o REsp

621.855/PB, sob a relatoria do Ministro Fernando Gonçalves, deixou consignado que o oferecimento de fiança bancária no valor da execução não tem o condão de alterar o marco inicial do prazo para os embargos do devedor, (...) 4. É certo que a Lei n. 6.830/80 não se refere à necessidade de intimação da Fazenda Pública a propiciar a aceitação ou recusa da garantia da execução fiscal por meio de fiança bancária. Mas, consoante decidido pela Primeira Turma, no julgamento do REsp 461.354/PE (Rel. Min. Luiz Fux, DJ de 17.11.2003, p. 206), quando o juiz da execução intima o exequente para referida finalidade, instaura-se um incidente processual, motivo pelo qual, em face do princípio do devido processo legal, a parte executada deve ser intimada do ato ensejador de sua defesa. Trata-se de situação processual que não possui expressa previsão legal, implicando a integração legislativa mediante a aplicação da regra geral dos prazos processuais, segundo a qual o termo a quo se perfaz no primeiro dia útil seguinte após a intimação (art. 184, § 2º, do CPC). Instaurado um incidente processual para propiciar a aceitação ou recusa da fiança bancária oferecida como garantia da execução fiscal, somente a partir da intimação da parte executada inicia-se a contagem do prazo de 30 (trinta) dias para a oposição dos embargos, haja vista que referido incidente posterga a efetiva garantia do juízo à aceitação da exequente. 5. Recurso especial provido. (REsp 1254554/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/08/2011, DJe 25/08/2011)

Sendo assim, assiste razão à recorrente quando aponta a incorreção do

gabarito. Todavia, ao contrário de sua pretensão de modificação do gabarito, a questão deve

ser anulada. Isso porque, na medida em que a primeira resposta indicada como correta

corresponde ao texto legal, enquanto que aquela ora apontada corresponde à orientação

jurisprudencial, muitos candidatos podem ter sido confundidos e/ou induzidos em erro.

Portanto, a questão deve ser ANULADA, atribuindo-se a todos os

candidatos a pontuação correspondente.

DETERMINAÇÕES CONCLUSIVAS

Julgados os recursos interpostos contra o gabarito original da prova de

seleção de estágio para a Subseção Judiciária de Santa Maria (2012), considerando as

alterações ora promovidas, determino à Secretaria da Direção do Foro:

1) Divulgue o novo gabarito, levando em conta o presente julgamento, no site da

Subseção;

2) Recalcule a pontuação dos candidatos e promova a divulgação da mesma, no site da

Subseção;

3) Cientifique, via e-mail, os recorrentes (com envio, em anexo, da decisão);

4) Promova a publicidade do julgamento, mediante envio de e-mail a todos os

candidatos, informando sobre a disponibilização, no site, dos novos gabarito e

pontuação.

Cumpra-se.

Santa Maria, 28 de junho de 2012.

Simone Barbisan Fortes

Juíza Federal Diretora do Foro da Subseção Judiciária de Santa Maria