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GRADUAÇÃO 2014.2 RECURSOS NO PROCESSO CIVIL AUTOR: NELSON LUIZ PINTO COLABORAÇÃO: BEATRIZ CASTILHO COSTA

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GRADUAÇÃO 2014.2

RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

AUTOR: NELSON LUIZ PINTO

COLABORAÇÃO: BEATRIZ CASTILHO COSTA

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SumárioRECURSOS NO PROCESSO CIVIL

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 3

PLANO DE ENSINO ............................................................................................................................................... 6

UNIDADE I: APRESENTAÇÃO DO CURSO: OBJETIVOS, PROPOSTA, DELIMITAÇÃO CONTEÚDO. CALENDÁRIO DE AULAS E DE PROVAS. MOROSIDADE PROCESSUAL. ESTATÍSTICAS E REFORMAS PROCESSUAIS. ......................................................................... 10

Aula 1: Noções acerca da morosidade processual. Estatísticas e reformas processuais. ................... 10

UNIDADE II: PRINCÍPIOS RECURSAIS. TEORIA GERAL DOS RECURSOS E CLASSIFICAÇÕES. EFEITOS RECURSAIS. JUÍZO DE ADMISSIBI-LIDADE. .......................................................................................................................................................... 14

Aula 2: Princípios recursais. ......................................................................................................... 14Aula 3: Teoria geral dos recursos e classifi cações. .......................................................................... 21Aulas 4 e 5: Efeitos recursais. ....................................................................................................... 29Aula 6: Juízo de admissibilidade. .................................................................................................. 34

UNIDADE III: RECURSOS EM ESPÉCIE. APELAÇÃO. INCIDENTES RECURSAIS. AGRAVOS E SEUS PROCEDIMENTOS. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. EMBARGOS INFRINGENTES. .............................................................................................................. 42

Aulas 7 e 8: Recursos em espécie: apelação. .................................................................................. 42Aula 9: Incidentes recursais. ......................................................................................................... 49Aulas 10 e 11: Agravos e seus procedimentos. .............................................................................. 54Aulas 12 e 13: Embargos de declaração. ....................................................................................... 59Aulas 14 e 15: Embargos infringentes. ......................................................................................... 64

UNIDADE IV: RECURSOS PARA OS TRIBUNAIS SUPERIORES. FUNÇÃO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES. RECURSO ESPECIAL PARA O STJ. RECURSO EXTRAORDINÁRIO E EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. ....................................................................................... 70

Aulas 16, 17, 18, 19 e 20: Recursos para os Tribunais Superiores. Função dos Tribunais Superiores. Recurso Especial para o STJ. Recurso Extraordinário e Embargos de Divergência. 70

UNIDADE V: COISA JULGADA E SUA RELATIVIZAÇÃO. .................................................................................................. 82Aula 21: Coisa julgada e sua relativização. .................................................................................... 82

UNIDADE VI: AÇÕES AUTÔNOMAS DE IMPUGNAÇÃO E REEXAME NECESSÁRIO. .................................................................. 90Aula 22: Ações autônomas de impugnação e reexame necessário. ................................................. 90

UNIDADE VII: RECURSOS NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. ......................................................................................... 94Aulas 23 e 24: Recursos nos Juizados Especiais Cíveis. ................................................................. 94

ANEXO I: QUESTÕES DE PROVA. GABARITOS E FUNDAMENTAÇÃO. ................................................................................. 96

ANEXO II: INFORMATIVOS DO STF E DO STJ SOBRE RECURSOS NO PROCESSO CIVIL. ......................................................... 103

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RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

FGV DIREITO RIO 3

INTRODUÇÃO

A. OBJETO GERAL DA DISCIPLINA

O principal objetivo do curso é apresentar ao aluno os institutos funda-mentais dos recursos no processo civil, com o apoio constante de casos con-cretos julgados em nossos tribunais. No decorrer do curso serão abordadas, gradativamente, as novas tendências do direito processual brasileiro.

B. FINALIDADES DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZADO

No curso Recursos no Processo Civil, serão estudados os recursos cíveis, bem como os meios autônomos de impugnação das decisões judiciais, tal como previstos no Código de Processo Civil, na legislação extravagante e na Constituição da República, com suas respectivas interpretações doutrinárias e aplicação jurisprudencial.

A fi nalidade é familiarizar o aluno com questões discutidas no dia a dia forense e despertar o seu senso crítico com relação às posições adotadas pelos Tribunais. Além disso, haverá a necessidade de leitura doutrinária, a fi m de que as discussões sejam melhor embasadas.

C. MÉTODO PARTICIPATIVO

O material apresenta aos alunos o roteiro das aulas, casos geradores, in-dicação bibliográfi ca básica e complementar, jurisprudência e questões de concursos sobre os temas estudados em cada aula.

A utilização do presente material didático é obrigatória para que haja um aproveitamento satisfatório do curso. Assim, é imprescindível que seja feita a leitura do material antes de cada aula, bem como da bibliografi a básica. Em relação aos casos geradores, é importante observar que, sempre que possível, foram escolhidos problemas que comportam duas ou mais soluções. Portan-to, nos debates feitos em sala de aula, será possível perceber que, na maioria das vezes, o caso analisado poderia ter tido outra solução que não a dada por determinada corte.

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RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

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D. DESAFIOS E DIFICULDADES DO CURSO

O Curso exigirá do aluno uma visão refl exiva dos Recursos existentes no Processo Civil brasileiro e a capacidade de relacionar a teoria exposta na bi-bliografi a e na sala de aula com a prática forense e com direito material lato sensu. O principal desafi o consiste em construir uma visão contemporânea e pós-moderna dos recursos, buscando sempre cotejar o conteúdo da disciplina com a realidade dos Tribunais do País.

E. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

Os alunos serão avaliados com base em duas provas realizadas em sala de aula que abordarão conceitos doutrinários e problemas práticos, sendo facul-tada a consulta a textos legislativos não comentados ou anotados.

Além disso, haverá avaliação feita a partir da participação do aluno em sala de aula, leitura dos textos indicados, entrega de exercícios domiciliares, participação nos debates e realização das atividades em sala de aula

O aluno que não obtiver uma média igual ou superior a 7,0 (sete) nessas duas avaliações deverá realizar uma terceira prova.

Por fi m, fi ca a critério do professor a fi xação da pontuação e peso de cada avaliação.

F. ATIVIDADES PREVISTAS

Além das aulas, o curso contará com o estudo de casos concretos, a fi m de aplicar a teoria aprendida à prática forense.

G. CONTEÚDO DA DISCIPLINA

A disciplina “Recursos no Processo Civil” discutirá os recursos existentes no ordenamento jurídico brasileiro, os sucedâneos recursais, bem como ou-tros meios de impugnação de decisões judiciais. Isso será feito sempre com uma visão crítica a respeito do sistema brasileiro Analisar-se-ão, ainda, seus institutos básicos e os princípios relativos aos recursos. Em síntese, o curso será composto pelas seguintes unidades:

Unidade I: Apresentação do curso: objetivos, proposta, delimitação do conteúdo. Calendário de aulas e de provas. Morosidade processual. Estatísti-cas e reformas processuais.

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RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

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Unidade II: Princípios recursais. Teoria geral dos recursos e classifi cações. Efeitos recursais. Juízo de admissibilidade.

Unidade III: Recursos em espécie. Apelação. Incidentes recursais. Agravos e seus procedimentos. Embargos de declaração. Embargos infringentes.

Unidade IV: Recursos para os tribunais superiores. Função dos tribunais superiores. Recurso especial para o STJ. Recurso extraordinário. Embargos de divergência.

Unidade V: Coisa julgada e sua relativização.Unidade VI: Ações autônomas de impugnação e reexame necessário.Unidade VII: Recursos nos juizados especiais cíveis.Anexo I: Questões de prova. Gabaritos e fundamentação.Anexo II: Informativos do STF e do STJ sobre recursos no processo civil.

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PLANO DE ENSINO

Apresentamos abaixo quadro que sintetiza o plano de ensino da discipli-na, contendo a ementa do curso, sua divisão por unidades e os objetivos de aprendizado almejados com a matéria.

DISCIPLINARecursos no processo civil.

PROFESSORNelson Luiz Pinto

NATUREZA DA DISCIPLINAEletiva

CÓDIGO:GRDDIRELE004

CARGA HORÁRIA60 horas

EMENTAO curso aborda o sistema recursal brasileiro e outros meios de impugna-

ção das decisões judiciais, tanto a nível constitucional como infraconstitucio-nal, sob o viés da efetividade do processo, das garantias constitucionais e dos princípios processuais, sob a ótica legal, doutrinária e jurisprudencial.

OBJETIVOSConhecer o sistema recursal brasileiro e ações autônomas de impugnação

às decisões do poder judiciário, como previsto na Constituição da República e no Código de Processo Civil, bem como desenvolver competências e habili-dades para o manuseio do instrumental técnico-processual para operar estra-tegicamente o sistema recursal e as ações impugnativas em consonância com a jurisprudência de nossos tribunais, com vistas a dar efetividade ao processo no menor tempo e custo.

METODOLOGIA

A metodologia de ensino é participativa, com ênfase no estudo da legis-lação, da doutrina e da análise da jurisprudência. Haverá, ainda, exercícios

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RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

FGV DIREITO RIO 7

práticos a serem realizados pelos alunos. Para esse fi m, a leitura prévia obriga-tória mostra-se fundamental.

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

A avaliação será feita a partir da participação do aluno em sala de aula, leitura dos textos indicados, entrega de exercícios domiciliares, participação nos debates e realização das atividades em sala de aula. Haverá, ainda, duas avaliações escritas, ao fi nal de cada bimestre letivo. Fica a critério do professor a fi xação da pontuação e peso de cada avaliação.

BIBLIOGRAFIA OBRIGATÓRIA

BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V. 16ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2011.

DIDIER JR., Fredie e outros. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 3, Recur-sos. 11ª Edição. Salvador: JusPodium, 2013.

MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Recurso Extraordinário e Recurso Especial. São Paulo, Revista dos Tribunais.

NERY JUNIOR, Nelson. Princípios Fundamentais: teoria geral dos recursos. São Paulo: Revista dos Tribunais.

PINTO, Nelson Luiz. Manual dos Recursos Cíveis. 4ª ed., São Paulo: Malhei-ros, 2011.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

ASSIS, Araken de. Embargos infringentes. In: Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis (Coord. Nelson Nery Junior e Teresa Arruda Alvim Wambier). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, pp. 13-53.

BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Considerações sobre a chamada ‘relativi-zação’ da coisa julgada material. In: Temas de Direito Processual. 9ª série. São Paulo: Saraiva, 2007, pp. 235-265.

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RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

FGV DIREITO RIO 8

______. O futuro da justiça: alguns mitos. In Temas de Direito Processual, 8ª série. São Paulo: Saraiva, 2004, pp.1-13.

BUENO, Cássio Scarpinella. De volta ao prequestionamento — duas refl e-xões sobre o RE 298.695-SP. Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis (Coord. Nelson Nery Jr e Teresa Arruda Alvim Wambier). Vol.8, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, pp. 61-86. 7 FGV DIREITO RIO recursos e processos de execução.

CUNHA, Luciana Gross. Juizado especial: criação, instalação e funcionamento e a democratização do acesso à justiça. São Paulo: Saraiva, 2008 (série produção científi ca).

DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova era do processo civil. São Paulo: Malhei ros, 2007.

FERREIRA, William dos Santos. Tutela Antecipada no Âmbito Recursal. São Paulo, Revista dos Tribunais.

FUX, Luiz. Mandado de Segurança. Rio de Janeiro, Forense.

GRECO, Leonardo. A Falência do Sistema de Recursos. In: Estudos de Direi-to Processual. Campos dos Goytacazes: Ed. Faculdade de Direito de Campos, 2005, pp. 297-316.

GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro, vol II. São Pau-lo, Saraiva.

JAYME, Fernando Gonzaga; FARIA, Juliana Cordeiro de; LAUAR, Mairo Terra (coordenadores). Processo Civil: Novas Tendências: Estudos em Homena-gem ao Professor Humberto Th eodoro Júnior. 1ª ed., Belo Horizonte: Del Rey, 2008.

Justiça em números, 2005 e 2006, Conselho Nacional de Justiça. Disponível em <http://www.cnj.gov.br> Acesso em 10 abril. 2013.

LIEBMAN, Enrico Tullio. Efi cácia e autoridade da sentença e outros escritos sobre a coisa julgada. Trad. Alfredo Buzaid e Benvindo Aires e Notas rela tivas ao direito brasileiro de Ada Pellegrini. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Efi cácia das Decisões e Execução Provi-sória. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

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RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

FGV DIREITO RIO 9

______. Embargos à Execução. São Paulo: Saraiva, 1996.

MEDINA, José Miguel Garcia; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recursos e Ações Autônomas de Impugnação. São Paulo, Revista dos Tribunais.WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Medida Cautelar, Mandado de Segurança e Ato Judicial. São Paulo: Malheiros, 1992.

______. Nulidades do Processo e da Sentença. São Paulo, Revista dos Tribu-nais.

TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à Lei 9.099/1995. 5ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, pp. 286-296; 320-322.

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RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

FGV DIREITO RIO 10

1 Secretaria de Reforma do Judiciário,

Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas

Judiciais (CEBEPEJ) e Escola de Direito

da FGV-SP. Análise da gestão e funcio-

namento dos cartórios judiciais. SILVA,

Paulo Eduardo Alves da (Coord.). Bra-

sília, DF: Secretaria de Reforma do Ju-

diciário: CEBEPEJ, 2007. Disponível em

<http://www.cebepej.org.br> Acesso

em 3 jun. 2013.

UNIDADE I: APRESENTAÇÃO DO CURSO: OBJETIVOS, PROPOSTA, DE-LIMITAÇÃO CONTEÚDO. CALENDÁRIO DE AULAS E DE PROVAS. MO-ROSIDADE PROCESSUAL. ESTATÍSTICAS E REFORMAS PROCESSUAIS.

AULA 1: NOÇÕES ACERCA DA MOROSIDADE PROCESSUAL. ESTATÍSTICAS E REFORMAS PROCESSUAIS.

I. TEMA

Noções acerca da morosidade processual. Estatísticas e reformas proces-suais.

II. ASSUNTO

Análise das estatísticas e reformas processuais, a fi m de que seja analisada a morosidade processual no Poder Judiciário.

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

O objetivo desta primeira aula consiste em apresentar as noções iniciais dos Recursos no Processo Civil, com a análise da morosidade processual.

IV. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

1. A morosidade processual:

Tem-se afi rmado que o sistema recursal no Brasil seria o principal respon-sável pela morosidade do processo, comprometendo a sua efetividade. Já foi comprovado que, no Estado de São Paulo, 35% (trinta e cinco por cento) do tempo gasto na tramitação do processo ocorre após a prolação de sentença pelo juízo de primeiro grau, conforme gráfi co abaixo, extraído da pesquisa “Análise da gestão e funcionamento dos cartórios judiciais”, promovida pelo Ministério da Justiça, em parceria com o CEBEPEJ e a DIREITO FGV 1.

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RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

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Pode-se perceber, de acordo com o gráfi co acima, que a demora não ocorre apenas na fase recursal, e sim desde o início da demanda, com a propositura da petição inicial. Vários são os fatores que infl uenciam tal cenário, na fase recursal: demora na distribuição dos recursos e na inclusão destes nas pautas de julgamento, possível interesse de uma das partes em prolongar ao máximo o processo, número de servidores insufi cientes, etc.

Para que seja cumprido o princípio da razoável duração do processo, trazi-do pela Constituição da República de 1988, em seu art. 5º, inciso LXXVIII, desde 1994 várias foram as alterações processuais. Houve, ainda, a promul-gação da emenda constitucional 45/2004, que teve como objetivo principal a reforma do Poder Judiciário, para torná-lo para célere e efi caz.

O novo Código de Processo Civil, em trâmite no Congresso Nacional, busca combater dois grandes problemas do sistema processual brasileiro, quais sejam, morosidade e imprevisibilidade. Ou seja, objetiva acelerar o an-damento dos processos judiciais e promover uniformização dos entendimen-tos fi rmados.

Cabe lembrar, por fi m, que o Poder Público, em especial em demandas que tramitam na Justiça Federal, é um dos maiores litigantes, principalmente em decorrência de demandas repetitivas.

2. As mais recentes reformas processuais:

Antes da elaboração do Projeto do Novo Código de Processo Civil, al-gumas reformas processuais foram feitas, tais como: i) súmula impeditiva de recursos; ii) improcedência liminar de demandas repetitivas; iii) súmula

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RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

FGV DIREITO RIO 12

2 Disponível em http://www.cnj.jus.br/

images/metas_judiciario/metas_prio-

ritarias_2010.pdf. Acesso em 26 de

outubro de 2012.

vinculante; iv) repercussão geral no recurso extraordinário; v) Julgamento de recursos por amostragem.

Segundo o “Relatório Final: metas prioritárias do Poder Judiciário em 2010”, do CNJ, foi identifi cada melhora no desempenho dos Tribunais Su-periores, já que estes cumpriram a chamada “Meta 1”, que consiste em “jul-gar a mesma quantidade de processos de conhecimento distribuídos no ano de 2010” 2.

TRIBUNAIS SUPERIORES

Total de processos distribuídos em 2010

371.412

Total de processos julgados em 2010

418.590

Percentual de cumprimento da meta

112,68%

V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS

Leitura obrigatória:

BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O futuro da justiça: alguns mitos. In Temas de Direito Processual, oitava série. São Paulo: Saraiva, 2004, pp.1-13.

GRECO, Leonardo. A Falência do Sistema de Recursos. In Estudos de Direito Processual. Campos dos Goytacazes: Ed. Faculdade de Direito de Campos, 2005, pp. 297-316.

Pacto de Estado em favor de um judiciário mais rápido e republicano. Dispo-nível em <www.mj.gov.br> Acesso em 10 abril. 2013.

Projeto de Lei do Novo Código de Processo Civil

Justiça em números, 3ª ed., 2005, Conselho Nacional de Justiça. Disponível em <http://www.cnj.gov.br> Acesso em 10 abril. 2013.

Secretaria de Reforma do Judiciário, Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais (CEBEPEJ) e Escola de Direito da FGV-SP. Análise da gestão e fun-cionamento dos cartórios judiciais. SILVA, Paulo Eduardo Alves da (Coord.). Brasília, DF: Secretaria de Reforma do Judiciário: CEBEPEJ, 2007. Dispo-nível em <http://www.cebepej.org.br> Acesso em 10 abril. 2013.

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RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

FGV DIREITO RIO 13

VI. AVALIAÇÃO

Caso gerador:

Identifi que as principais mudanças constantes no projeto do Novo Códi-go de Processo Civil brasileiro relacionadas ao sistema recursal.

VII. CONCLUSÃO DA AULA

Um dos princípios basilares do processo é a preclusão. O processo anda para frente, tendo que chegar a um fi nal. O processo é considerado social-mente como remédio para uma doença social (o litígio é uma doença, uma desestabilização social). Neste sentido é o princípio da razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, CRFB).

Art. 5º.(...)LXXVIII. A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegu-

rados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeri-dade de sua tramitação.

Assim, não adianta que o volume de processos seja diminuído, por meio da redução de recursos ou se aumentando o valor das custas. Se o número de processos é grande, algo acontece ou no direito material (regras descumpridas porque não são adequadas à sociedade ou porque existe algum problema: econômico, social, etc.). Ou seja, deve-se verifi car o porquê dos litígios. Ou seja, o problema da morosidade processual não é resolvido apenas se alteran-do o direito processual. Deve-se observar o que ocorre no direito material e que causa a grande quantidade de demandas propostas.

Além disso, a morosidade processual deve levar em consideração não o tempo “vivo” do processo: aquele em que este está com o juiz para sentenciar ou com as partes para falarem nos autos, por exemplo, mas sim o tempo “morto”: aquele em que os autos fi cam parados no cartório, sem que nada seja realizado.

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UNIDADE II: PRINCÍPIOS RECURSAIS. TEORIA GERAL DOS RECURSOS E CLASSIFICAÇÕES. EFEITOS RECURSAIS. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE.

AULA 2: PRINCÍPIOS RECURSAIS.

I. TEMA

Princípios recursais.

II. ASSUNTO

Análise dos principais princípios recursais do sistema processual brasileiro.

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

O objetivo desta aula consiste em apresentar os princípios recursais do sistema processual brasileiro, assim como suas respectivas funções e impor-tâncias.

IV. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

1. Função e importância dos princípios:

Os princípios, genericamente falando, são regras não-escritas que decor-rem de outras regras escritas, de um conjunto de regras ou do sistema jurídico como um todo. Eles orientam não apenas a aplicação do direito positivo, mas, também, a própria elaboração de outras regras, que a eles devem guardar obediência e hierarquia. Os princípios gerais dos recursos são princípios fun-damentais aplicáveis ao sistema recursal como um todo, pois foram adotados pelo sistema jurídico por opção política e ideológica.

2. Princípios:

1) Duplo grau de jurisdição:

Não seria razoável entender-se que o juiz não comete falhas e que ele não possa sofrer questionamento a respeito de seu julgamento, de sua fundamen-

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RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

FGV DIREITO RIO 15

3 Art. 5º, LV, da CRFB: “aos litigantes, em

processo judicial ou administrativo, e

aos acusados em geral são assegurados

o contraditório e a ampla defesa, com

os meios e recursos a ela inerentes”.

4 Curso Sistemático de Direito Processual

Civil. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.

p. 35.

tação; daí a necessidade de que o sistema jurídico preveja meios para que a parte possa insurgir-se contra as decisões judiciais para outra instância, a qual revisará o julgamento proferido pela instância inferior.

O princípio do duplo grau consiste exatamente no direito concedido à parte de exigir a revisão do julgamento que lhe fora contrário por uma segun-da instância jurisdicional. Sem o duplo grau de jurisdição correr-se-ia o risco de o juiz julgar-se soberano e infalível, tornando-se despótico, na medida em que suas decisões jamais seriam reexaminadas.

Esse princípio decorre de regra contida expressamente no art. 5º, LV, da Constituição da República. 3

Cassio Scarpinella Bueno considera o duplo grau de jurisdição como um princípio implícito na CRFB. Decorreria do sistema recursal previsto no tex-to constitucional e da cláusula geral do devido processo legal. O devido pro-cesso legal é uma cláusula geral ou enunciado normativo aberto, isto é, seu conteúdo é defi nido pelo juiz de acordo com as circunstâncias histórico-cul-turais do momento judicial. Através dessa cláusula geral é possível a doutrina e jurisprudência enquadrar conquistas futuras, resultado do desenvolvimento teórico da disciplina processual 4.

2) Legalidade/taxatividade (tipificação):

Também chamado de princípio da legalidade, o princípio da taxatividade consiste na exigência constitucional (art. 22, I, da CRFB) de que a enume-ração dos recursos seja taxativamente prevista em lei, em lei federal. Não é deixada ao arbítrio das partes, nem para a competência dos Estados ou Muni-cípios, tampouco para os regimentos internos dos tribunais, a tarefa de criar recursos, modifi cá-los ou extingui-los.

3) Unicidade/singularidade:

Também conhecido como princípio da unirrecorribilidade, ele era previs-to expressamente no Código de Processo Civil de 1939, no art. 809, e não foi reproduzido no diploma de 1973. Entretanto, este princípio decorre do sistema recursal do Código de Processo Civil vigente e signifi ca que contra cada determinada decisão judicial deve existir um único recurso a ela correla-cionado, num mesmo momento processual.

Obs.: Este princípio comporta exceções, já que, por exemplo, o art. 543, CPC prevê a possibilidade de utilização do recurso extraordinário e especial con-tra o mesmo decisum. Da mesma maneira, sempre que uma decisão for obscura, contraditória ou omissa, caberão embargos de declaração e outro recurso.

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RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

FGV DIREITO RIO 16

5 “Art. 244. Quando a lei prescrever

determinada forma, sem cominação

de nulidade, o juiz considerará válido

o ato se, realizado de outro modo, lhe

alcançar a fi nalidade.”

4) Efetividade/fungibilidade:

O princípio da fungibilidade dos recursos consiste na possibilidade de que, existindo dúvida objetiva a respeito de qual o recurso cabível, permite-se ao juiz competente receber, processar e conhecer o recurso equivocadamente interposto pela parte, tal como se o recurso correto tivesse sido interposto.

Trata-se do recebimento de um recurso como outro, adaptando-se o no-men juris e o procedimento. Nesse sentido, registre-se que muito embora, o princípio da fungibilidade não decorra de qualquer regra expressa, ele en-contra-se em consonância com o princípio da instrumentalidade das formas, previsto no art. 244 do Código de Processo Civil. 5Mas se o erro da Parte se afi gurar grosseiro, o princípio da fungibilidade não é aplicável.

O princípio da fungibilidade decorre diretamente do princípio da instru-mentalidade das formas. Trata-se de princípio implícito no atual CPC, mas que constava expressamente no CPC/39, art. 810: “Salvo hipótese de má-fé ou erro grosseiro, a parte não será prejudicada pela interposição de um re-curso pelo outro, devendo os autos ser enviados à Câmara ou a turma, a que cumprir o julgamento”.

A existência de dúvida fundada ou objetiva sobre o recurso cabível con-duz a uma necessidade de fl exibilização do sistema recursal para que sejam admitidos todos os recursos abrangidos pela dúvida. Quanto à má-fé, deve o indivíduo interpor o recurso no menor prazo, entre aqueles prazos conferidos aos recursos abrangidos pela dúvida.

A aplicação mais comum desse princípio se dá nas hipóteses de dúvida sobre a interposição de apelação ou agravo, já que é tormentosa a defi nição de sentença, à luz do que dispõe o art. 162, §1º, CPC. É bastante comum na prática forense receber os embargos de declaração como agravo regimental, mormente nos casos em que apresentam efeitos modifi cativos.

5) Voluntariedade (renúncia/desistência):

Por força da aplicação desse princípio, que deriva do princípio dispositi-vo, não apenas se exige a iniciativa da parte interessada para a interposição do recurso, como, também, se deixa para a parte a liberdade de delimitar o âmbito do recurso, podendo impugnar total ou parcialmente a decisão que lhe fora desfavorável. É também manifestação desse princípio a regra contida no art. 501 do CPC, segundo a qual o recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso por ele interposto.

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6) Substitutividade:

Segundo o princípio da substitutividade, o julgamento de mérito proferi-do pelo juízo ad quem substitui o julgamento anteriormente proferido pelo juízo a quo no que lhe diz respeito. Este princípio encontra previsão no art. 512 do Código de Processo Civil, segundo o qual “O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que tiver sido objeto de recurso.”

7) Formalidade:

Para que o recurso seja conhecido é necessário que ele seja interposto na forma prescrita em lei. Assim, se a lei exige peças obrigatórias ou demons-tração de divergência jurisprudencial, para o seu conhecimento, estas devem ser juntadas ao recurso. Outro exemplo seria a demonstração de repercussão geral no caso de recurso extraordinário, conforme disposto pelo art. 543-A do CPC.

8) Proibição da reformatio in pejus:

A reformatio in pejus consiste na reforma da decisão judicial por força de um recurso interposto, capaz de resultar para o recorrente uma situação de agravamento, de piora, em relação àquela que lhe fora imposta pela deci-são recorrida. Ou seja, traduz-se num resultado exatamente contrário àquele pretendido pelo recorrente. Assim, o princípio da proibição da reformatio in pejus tem como objetivo impedir que essa situação de piora ocorra por força do julgamento do recurso da parte. Evidentemente, sendo a sucumbência recíproca e havendo recurso de ambas as partes, a situação de qualquer delas poderá ser piorada como resultado do recurso interposto pela parte contrária, mas não do seu próprio recurso.

3. Jurisprudência:

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE PRÉ--EXECUTIVIDADE. INTERPOSIÇÃO DE UM ÚNICO RECURSO PARA ATACAR DUAS DECISÕES DISTINTAS. POSSIBILIDADE.

1. A ausência de decisão sobre os dispositivos legais supostamente viola-dos, não obstante a interposição de embargos de declaração, impede o conhe-cimento do recurso especial. Incidência da Súmula 211/STJ.

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2. O princípio da singularidade, também denominado da unicidade do recurso, ou unirrecorribilidade consagra a premissa de que, para cada decisão a ser atacada, há um único recurso próprio e adequado

previsto no ordenamento jurídico.3. O recorrente utilizou-se do recurso correto (respeito à forma) para im-

pugnar as decisões interlocutórias, qual seja o agravo de instrumento.4. O princípio da unirrecorribilidade não veda a interposição de um único

recurso para impugnar mais de uma decisão. E não há, na legislação proces-sual, qualquer impedimento a essa prática, não obstante seja incomum.

5. Recurso especial provido.(STJ. REsp 1.112.599. Rel. Min. Nancy Andrighi. Terceira Turma. J.

28/8/2012. DJ 5/9/2012)

V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS

Leitura obrigatória:

PINTO, Nelson Luiz. Manual dos Recursos Cíveis. 4ª ed., São Paulo: Ma-lheiros, 2011 (no prelo — texto via email). Capítulo 3.

VI. AVALIAÇÃO

Casos geradores:

1) Disserte sobre o princípio da fungibilidade recursal (Procurador do Distrito Federal. Esaf. 2004).

2) “A” move ação de cobrança em face de “B”, seguradora, pleiteando o cumprimento do contrato através do recebimento do valor do seguro do veículo, cujo pagamento foi recusado, sob a alegação de fraude. Na audiência de instrução e julgamento, o magistrado julga procedente o pedido e con-dena a seguradora ao pagamento do valor estipulado em contrato. No mes-mo ato, concede tutela antecipada, determinando que a seguradora efetue o pagamento do valor sob incidência de multa diária e como condição para o recebimento do recurso de apelação. Diante disso pergunta-se:

a) Em face dos princípios que regem os recursos, está correta a decisão do magistrado?

b) Quais princípios recursais foram infringidos pela decisão?

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c) Qual o recurso cabível contra esta decisão? Leve em conta que o réu não deseja efetuar o pagamento da condenação, dado o autor não possuir bens e, portanto, não será possível o ressarcimento do valor se provido o recurso.

d) Realizado o depósito da quantia e deferido o seu levantamento sem que o autor ainda houvesse recorrido da decisão, como poderá reaver a quantia eis que o réu não possui bens que garantam a sua responsabilidade pelo levan-tamento da quantia? Seria diversa a resposta se o autor houvesse agravado da decisão? Poder-se-ia responsabilizar o Estado pelo levantamento da quantia?

e) A tutela antecipada foi concedida sem que o Autor a tivesse requerido. A sua concessão pelo magistrado, como base no poder geral de cautela, fere o princípio dispositivo?

3) “A” interpõe agravo de instrumento contra decisão do magistrado que indeferiu a produção de prova consistente em gravação de comunicação te-lefônica, determinando o desentranhamento de sua transcrição e o encami-nhamento ao MP para apreciação de ocorrência delitiva. Fundou-se a decisão agravada no princípio constitucional que resguarda o sigilo das comunicações telefônicas. Entendeu o seu prolator que, diante da nova redação do texto, tem-se por encerrada a discussão jurisprudencial, uma vez que prova oriun-da de comunicação telefônica somente será admitida se houver autorização judicial e, além disso, para fi ns de investigação criminal. Como não se con-fi guram tais pressupostos, a prova há de ser tida como inconstitucional. O Tribunal, por sua vez, entendeu, com base em entendimentos doutrinários, que a gravação tendo sido realizada sem interferência de terceiros, a prova é lícita, devendo o Juiz apreciar o valor do documento, dando assim provimen-to ao agravo, com admissão da prova oferecida pelo agravante. Está correta a interpretação conferida ao caso?

4) João ajuíza ação em face da fazenda da Fazenda Pública Estadual, por ter sido atropelado por viatura policial trafegando em alta velocidade e sem ter sirene ligada. Requer a condenação da Fazenda na reparação dos danos materiais e estéticos provocados pelo acidente. Julgada parcialmente pro-cedente a demanda, restou a Fazenda condenada apenas quanto aos danos materiais bem como nos honorários advocatícios, fi xados em 15%, apelou exclusivamente para diminuição da verba honorária a que foi condenada; o autor recorre para a ampliação da condenação abrangendo também os danos morais; o juízo, por sua vez e nos termos do Art. 475 do CPC, recorre ex offi cio. Pergunta-se:

a) Na hipótese do Tribunal não conhecer do recurso do autor,poderá, ain-da assim, ampliar a condenação da Fazenda com fulcro no recurso ex offi cio?

b) Qual a extensão do efeito devolutivo no recurso ex offi cio?c) A proibição da reformatio in pejus é efeito dos princípios recursais?

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d) No caso do Recurso da Fazenda, para diminuição da condenação dos honorários de 15% para 10% poderá o Tribunal, invocando o Art. 20, Par. 4o., reduzi-la para 5% sobre o valor da condenação?

VII. CONCLUSÃO DA AULA:

O sistema jurídico não se limita à lei. É formado pelo sistema legal e pelo sistema principiológico. Os princípios interferem em dois momentos. O pri-meiro é no momento da elaboração da norma (dirigidos ao legislador). O segundo momento é o da aplicação desta norma e quem a aplica é o Poder Judiciário. A lei é feita para situações abstratas, sendo que o juiz pega a norma abstrata e a aplica em um caso concreto. Tal processo de aplicação é deno-minado de subsunção. Para que seja realizada a subsunção, o juiz deve passar por um processo de interpretação da norma.

A mesma lei é interpretada de forma diversa dependendo do tempo de sua aplicação. A mudança ocorre de acordo com a realidade social. Para escolher o método de interpretação, o juiz busca os princípios. Assim, o princípio é tão importante que pode alterar o próprio sentido literal da norma.

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RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

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6 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Co-

mentários ao Código de Processo Civil,

vol. V. Rio de Janeiro: Editora Forense,

2005. p. 233.

AULA 3: TEORIA GERAL DOS RECURSOS E CLASSIFICAÇÕES.

I. TEMA

Teoria geral dos recursos e classifi cações.

II. ASSUNTO

Análise da teoria geral dos recursos e suas respectivas classifi cações.

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

O objetivo desta aula consiste em apresentar a teoria geral dos recursos e as classifi cações existentes.

IV. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

1. Conceito e Natureza Jurídica de Recurso:

Em conceituação clássica, José Carlos Barbosa Moreira defi ne os recursos como “o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna”. A característica da voluntariedade, por exemplo, diferen-cia os recursos da remessa necessária. E o traço diferenciador em relação aos meios impugnativos autônomos, como a ação rescisória e da querela nullita-tis, é o fato do recurso ser interposto no mesmo processo em que a sentença foi proferida. Busca-se por meio desse remédio voluntário a reforma (error in judicando) a invalidação (error in procedendo), o esclarecimento ou integração da decisão (fi nalidades específi cas dos embargos de declaração) 6.

2. Objetivos:

Conforme pode ser extraído do conceito acima exposto, os recursos po-dem ter como objetivos:

1) A reforma da decisão impugnada, consistente na substituição da decisão recorrida por outra, favorável à parte recorrente, a ser pro-ferida pelo órgão julgador do recurso (art. 512 do CPC);

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2) A invalidação (ou anulação) da decisão, a fi m de que o órgão que a prolatou, quando isto seja possível, profi ra nova decisão, sanando os vícios que geraram sua anulação; e

3) O esclarecimento ou a integração da decisão judicial impugnada, pelo mesmo órgão que a proferiu, para sanar-lhe omissão, contradi-ção ou obscuridade.

3. Legitimidade (art. 499 do CPC):

Legitimidade, em processo civil, é a aptidão para a prática de atos proces-suais, para atuar quer no pólo ativo, quer no pólo passivo de uma determi-nada relação processual, praticando atos naquele determinado processo. Não apenas para propor a ação e para responder a ela, mas também para insurgir--se contra uma decisão judicial é necessário ter legitimidade, conferida por lei. O art. 499 do Código de Processo Civil estabelece os sujeitos que tem legitimidade para recorrer: a parte, o terceiro prejudicado e o Ministério Pú-blico — esse dispositivo refere-se não apenas à legitimidade recursal, mas tam-bém ao interesse em recorrer, que constitui categoria distinta da legitimidade.

Parte: São os sujeitos que fi guram como partes no processo, em ambos os pólos da relação processual, desde que, além da legitimidade, tenham inte-resse em recorrer — interesse, este, determinado pela sucumbência, total ou parcial, que lhe tenha sido imposta pela decisão judicial;

Terceiro: São aqueles que, mesmo não fi gurando como partes no processo, demonstrem interesse jurídico no resultado almejado com o recurso — inte-resse jurídico, este, semelhante àquele exigido para intervenção de terceiro no processo como assistente (arts. 50 a 54 do CPC);

Ministério Público: O Ministério Público pode recorrer nos casos em que fi gura como parte (art. 81 do CPC), bem como nas hipóteses em que atua como custos legis (art. 82 do CPC). Quando o Ministério Público recorre na qualidade de fi scal da lei, não se questiona o seu interesse em recorrer, na medida em que não sucumbe nesta hipótese.

4. Interesse (art. 499 do CPC):

O interesse em recorrer resulta da conjugação do binômio utilidade-neces-sidade.

Art. 499. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público.

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§1o Cumpre ao terceiro demonstrar o nexo de interdependência en-tre o seu interesse de intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial.

§2o O Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no pro-cesso em que é parte, como naqueles em que ofi ciou como fi scal da lei.

5. Recursos previstos (rol taxativo):

Prevê o art. 496 do CPC o cabimento dos seguintes recursos: apelação, agravo, embargos infringentes, embargos de declaração, recurso ordinário, recurso especial, recurso extraordinário e embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário.

Trata-se de rol exaustivo, numerus clausus, na medida em que os recursos devem, necessariamente, ser previstos em lei, de acordo com o princípio da taxatividade. Nada impede, contudo, que outra lei federal crie outras espécies de recursos, como ocorre com a Lei nº 6.830/80, que trata da execução fi scal e prevê uma espécie distinta de embargos infringentes.

6. Objeto: decisões judiciais

Os recursos em geral têm como objeto as decisões judiciais, de qualquer natureza e de qualquer conteúdo, proferidas em qualquer espécie de processo e em qualquer tipo de procedimento, em qualquer fase processual e grau de jurisdição, salvo restrições legais que eventualmente limitem a recorribili-dade. Nesse sentido, estabelece o art. 504 do CPC que dos despachos não cabem recurso.

7. Correlação recursos/decisões:

Com relação aos recursos cabíveis contra as decisões de primeiro grau de jurisdição (sentenças e decisões interlocutórias), procurou o Código de Pro-cesso Civil de 1973 estabelecer uma exata correlação entre a natureza da decisão judicial e o recurso a ela correspondente. Por exemplo, contra a sen-tença cabe apelação (art. 513), assim como contra a decisão interlocutória interpõe-se o agravo (art. 522). Cada tipo de decisão desafi a o cabimento de um único recurso

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8. Classificações:

Sob diferentes critérios se podem classifi car os recursos previstos no Có-digo de Processo Civil. As classifi cações didáticas mais comuns são aquelas que levam em consideração o âmbito, o momento da interposição, o tipo de fundamentação, o objeto tutelado e os efeitos dos recursos.

1) Âmbito: Quanto ao âmbito, os recursos podem ser totais ou parciais, de-

pendendo da extensão da matéria impugnada.a) Total: É total o recurso que abrange todo o conteúdo impugná-

vel da decisão; eb) Parcial: o recurso que impugna a decisão apenas em parte do

conteúdo impugnável da decisão.

2) Momento: Dependendo do momento em que é interposto, o recurso pode-

rá ser independente (ou principal) e adesivo, desde que haja sucum-bência recíproca, comportando, pois, recurso de ambas as partes. Na hipótese de sucumbência recíproca, cada uma das partes poderá interpor seu recurso no prazo comum, ambos sendo recebidos e processados independentemente, ou, então, caso uma das partes não tenha ingressado com recurso independente ou principal, po-derá ainda recorrer adesivamente ao recurso da outra parte, no mes-mo prazo de que dispõe para responder a este último (art. 500, I, do CPC).

3) Fundamentação: O recurso poderá, ainda, ser de fundamentação livre ou vinculada.

a) Livre: Os recursos de fundamentação livre são aqueles nos quais a lei deixa a parte livre para, em seu recurso, deduzir qualquer tipo de crítica em relação à decisão, sem que isto tenha qual-quer infl uência na admissibilidade do mesmo. Como exemplo, tem-se a apelação;

b) Vinculada: Há casos, no entanto, em que a lei, ao estabelecer as hipóteses de cabimento do recurso, limita sua fundamenta-ção, ou seja, o tipo de crítica quese pode fazer à decisão através do recurso. À guisa de exemplo, tem-se os recursos especiais e extraordinário. No primeiro, a fundamentação do recurso deve circunscrever-se às hipóteses do Art. 105, III, da Constituição Federal; já no segundo, a fundamentação do recurso deve ater--se aos casos previstos no art. 102, III, da Constituição Federal.

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Esses recursos encontram na lei, em enumeração taxativa, os tipos de vícios que podem ser apontados na decisão recorrida.

4) Objeto tutelado: Dependendo do objeto a que visa o sistema jurídico tutelar atra-

vés dos recursos, podem eles, ainda, ser classifi cados em ordinários e extraordinários.a) Ordinários: Os recursos ordinários (previstos nos incisos I a

V do art. 496 do CPC) objetivam proteger, imediatamente, o direito subjetivo das partes litigantes contra eventual vício ou injustiça da decisão judicial, entendendo-se como injusta a decisão que não aplica adequadamente o Direito aos fatos retratados no processo;

b) Extraordinários: Os recursos extraordinários (incisos VI, VII e VIII do art. 496 do CPC) têm como objeto imediato a tutela do direito objetivo, ou seja, das leis e tratados federais, no caso do recurso especial; da Constituição Federal, no caso do recur-so extraordinário stricto sensu.

5) Efeitos: Quanto aos efeitos, podem os recursos ser classifi cados em sus-

pensivos e não suspensivos. Somente a existência ou não do efeito suspensivo é considerada para efeito de classifi cação, porque o ou-tro efeito recursal — o devolutivo — é comum a todos os recursos, não servindo, pois, de critério diferenciador. É a lei que determina se o recurso terá ou não efeito suspensivo.a) Suspensivo: São suspensivos aqueles recursos que impedem a

imediata produção de efeitos da decisão recorrida, fi cando o comando nela contido suspenso até seu julgamento (apelação, embargos infringentes, embargos de declaração e recurso ordi-nário);

b) Não suspensivos: Não-suspensivos são aqueles desprovidos, como regra geral, deste efeito e que, por isto, não obstam a que haja execução provisória da decisão impugnada, nos termos do art. 587 do CPC, segunda parte (agravo, recurso especial, recurso extraordinário e embargos de divergência) (V. art. 497 do CPC).

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V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS

Leitura obrigatória:

1. PINTO, Nelson Luiz. Manual dos Recursos Cíveis. 4ª ed., São Paulo: Ma-lheiros, 2011 (no prelo — texto via email). Capítulo 1.2. DIDIER JR., Fredie e outros. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 3, Recursos. 11ª Edição. Salvador: JusPodium, 2013. Capítulo I (Teoria dos Recursos). Itens 1 ao 7, pp. 19 a 41.

VI. AVALIAÇÃO

Casos geradores:

1) Disserte sobre a taxatividade dos recursos e sobre a relação existente entre as decisões e os respectivos recursos.

2) “A”, atriz renomada de determinada emissora de TV, move ação de reparação de danos materiais e morais contra “B”, empresa de propaganda e publicidade, que a contratou para a realização de propaganda a ser vei-culada em rede regional. Cumprido o contratado pela autora, verifi cou-se posteriormente que a propaganda foi veiculada em rede nacional, causando danos ao patrimônio e à imagem da atriz, sendo que o seu pedido a titulo de danos materiais foi compatível ao contratado, ou seja, 5% (cinco por cento) dos lucros auferidos pela empresa em âmbito nacional (e não mais em âm-bito regional). Relativamente aos danos morais, a autora pleiteou a quantia de R$5.000.000,00 (cinco milhões de reais). O magistrado acolheu inte-gralmente o pedido relativo aos danos materiais, e quanto aos danos morais julgou o pedido parcialmente procedente, condenando o réu ao pagamento de R$2.5000.000,00 (dois milhões e meio de reais). O réu recorre da deci-são pleiteando a reforma de ambas as decisões, e a autora contra-arrazoa a apelação e recorre adesivamente pleiteando a majoração da verba relativa aos danos morais.

O recurso foi protocolado em 5/5/2006. A parte contrária foi intimada, para contra-arrazoar o recurso em 23/5/2006. Em 7/6/2006 foi publicada a súmula 326 do STJ, que dispõe:

Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica em sucumbência recíproca.

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Diante disso, pergunta-se:a) Com base no §1º do art. 518 do CPC e a publicação da súmula 326 do

STJ, deve ser o recurso adesivo admitido pelo juiz de 1º. Grau? Trata-se de exame de admissibilidade ou de mérito?

b) A disposição do §1º do art. 518 é extensiva a todos os recursos, inclu-sive aos adesivos?

c) E se o prazo para a apresentação das contra-razões e eventual recurso adesivo expirasse em 8/6/2006 (ao invés de 7/6), o magistrado deveria pro-ferir juízo de admissibilidade positivo? E o Tribunal deveria se manifestar no mesmo sentido, tendo em conta que o juízo de admissibilidade pode ser considerado uno, ainda que bipartido em momentos distintos? Ou são jul-gamentos distintos?

d) Qual o momento processual deve ser levado em consideração para efei-tos de direito intertemporal? O da prática do ato (sentença), da sua intimação ou o momento do recebimento do recurso?

3) A move ação cautelar visando a compensação de crédito tributário con-tra o Estado de São Paulo. O juiz, ao receber a inicial, indefere-a de plano com base no art. 285-A. O autor apela da decisão, e o magistrado não recebe o seu recurso interposto com base no §1º do art. 518 (súmula 212 do STJ). Pergunta-se:

a) Qual é o recurso cabível contra esta decisão?b) Qual matéria deverá ser discutida no recurso contra a decisão que não

recebeu a apelação? Pode-se, por exemplo, alegar a inconstitucionalidade dos dois dispositivos infraconstitucionais (art. 285-A e §1º do art. 518), ainda que não se tenha aventado essa alegação nas razões da apelação? Vale dizer, a fundamentação do recurso é livre?

c) Nesta hipótese, poderá o relator, com base no art. 527, I, e art. 557, negar seguimento monocraticamente? Esta decisão se insere no juízo de ad-missibilidade ou de mérito?

d) O agravo não foi instruído devidamente (ausência da procuração ou-torgada ao advogado do autor). Esta nulidade é sanável nos termos do §4º do art. 515? Este é aplicável a todos os recursos ou somente à apelação?

4) “A” apela de uma sentença e necessita realizar o preparo do recurso. Considere as seguintes situações:

a) O preparo foi realizado em valor ínfi mo — 1% do valor real — em evidente má-fé. Deve ser possibilitado ao recorrente que complemente o de-pósito do valor ou deve ser aplicada a pena de deserção?

b) No dia em que o preparo deveria ser recolhido, os bancos entram em greve geral. O advogado não possui internet e nunca a utilizou para paga-mentos. Deve ser aplicada a pena de deserção?

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c) Na mesma hipótese de greve geral: O advogado está com dinheiro para o pagamento do preparo, mas não tem acesso físico aos bancos. Não possui numerário sufi ciente em sua conta bancária para realizar a transação pela Internet. Este fato constitui justo impedimento para a realização do preparo?

d) A ação tramitou na cidade de Borborema e no último dia para interpo-sição do recurso, a cidade sofre chuvas torrenciais que provocam enchentes, tornando impossível o deslocamento das pessoas. Esse fato local pode ser considerado justo impedimento para a realização do preparo?

e) Imagine que ambas as partes desejam recorrer da sentença. Uma delas realiza o preparo na parte da manhã, e a outra iria fazê-lo na parte da tarde quando o único banco da cidade é assaltado, encerrando o expediente. Esse fato deve ser considerado justo impedimento?

VII. CONCLUSÃO DA AULA:

Recurso é um ato de inconformismo, destinado a reformar, aclarar ou anu-lar uma decisão. Não é a única forma de atacar uma decisão, pois existem os meios autônomos de impugnação. Cada recurso possui uma destinação espe-cífi ca. O tipo de recurso dependerá do vício a ser atacado na decisão judicial.

O vício pode dizer respeito ao error in procedendo ou ao error in judicando. O primeiro signifi ca um erro de procedimento e o segundo é um erro de jul-gamento. Se há um erro de procedimento, por exemplo, o juiz que proferiu a decisão era absolutamente incompetente, ou proferiu decisão de mérito, mas faltava uma condição da ação ou um pressuposto processual. Não se quer que a decisão seja reformada, mas sim anulada. Já no erro de julgamento, o juiz julgou mal, apreciou mal as provas, por exemplo. Neste, pede-se a reforma da decisão judicial.

O recurso tem natureza jurídica de ato voluntário/ônus processual. A obri-gação, quando cumprida, geralmente traz benefício para a parte contrária. O cumprimento de um ônus apenas tem benefício para aquele que o exerce. É por isso que a desistência recursal pode ser manifestada a qualquer momento.

Por fi m, o recurso se diferencia dos demais meios de impugnação, pois é um ato de inconformismo exercido dentro da mesma relação processual. Ou seja, não se instala uma nova relação jurídica processual, como ocorre, por exemplo, no caso do mandado de segurança.

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AULAS 4 E 5: EFEITOS RECURSAIS.

I. TEMA

Efeitos recursais.

II. ASSUNTO

Análise dos efeitos recursais no sistema recursal do processo civil brasileiro.

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

O objetivo desta aula consiste em apresentar os efeitos recursais do sistema processual civil brasileiro.

IV. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

1. Efeitos dos Recursos:

1) Efeito devolutivo:

Consiste o efeito devolutivo na possibilidade que se abre à parte para que a decisão que lhe fora desfavorável — e, portanto, lhe causou gravame — seja reapreciada pelo Poder Judiciário, normalmente — mas não necessariamente — por um órgão superior àquele que prolatou a decisão impugnada. Daí por que afi rmamos que o efeito devolutivo é da essência do recurso, encontra--se em seu próprio conceito, re-curso = cursar de novo. O efeito devolutivo encontra previsão no art. 515 do CPC e apresenta-se como um consectário lógico do princípio do duplo grau de jurisdição.

2) Obstar a coisa julgada:

Na medida em que o recurso devolve ao Poder Judiciário, por força do efeito devolutivo, a apreciação da matéria impugnada, enquanto não julgado o recurso não se poderá falar em coisa julgada ou em preclusão. A própria defi nição de coisa julgada, dada pelo art. 467 do CPC, deixa isto bastante evidente.

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3) Suspensivo:

Quando dotado de efeito suspensivo, a interposição do recurso impede que a decisão recorrida produza efeitos concretos e seja passível de execução até a decisão do recurso ou, se for o caso, o último recurso ao qual se atribui efeito suspensivo. Neste particular, importante destacar que só se questiona a existência de efeito suspensivo no recurso quando se tratar de recurso in-terposto contra decisão de natureza positiva, ou seja, que tenha conteúdo decisório positivo e executável, na medida em que o efeito suspensivo do recurso signifi ca um obstáculo à produção dos efeitos executórios da decisão recorrida, que não existirão, evidentemente, quando a decisão for negativa, como ocorre, por exemplo, numa decisão interlocutória que rejeita liminar pleiteada pela parte.

4) Interruptivo:

A interposição de recurso dotado de efeito interruptivo, interrompe o pra-zo para a interposição dos demais recursos.Éo caso, por exemplo, dos embar-gos de declaração, conforme o art. 538 do CPC. Também goza desse efeito o recurso de embargos infringentes em relação ao recurso especial e extraordi-nário, consoante estabelece o art. 498 do CPC.

5) Substitutivo:

Sempre que houver julgamento de mérito do recurso, a decisão deste subs-titui a decisão recorrida, passando aquela a produzir efeitos e comportar exe-cução. A substitutividade encontra previsão no art. 512 do CPC e não ocor-rerá se o recurso não vier a ser julgado no mérito, por ser inadmitido ou não conhecido. Nestes casos, a decisão recorrida é que passará a produzir efeitos.

2. Jurisprudência:

AGRAVO REGIMENTAL NA MEDIDA CAUTELAR. JULGAMEN-TO DO RECURSO ESPECIAL AO QUAL SE PRETENDEU EMPRES-TAR EFEITO SUSPENSIVO. ACOLHIMENTO

PARCIAL DA INSURGÊNCIA DEDUZIDA NO APELO NOBRE. RESIGNAÇÃO DA AGRAVANTE. AGRAVO REGIMENTAL PREJU-DICADO.

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FGV DIREITO RIO 31

1. A atribuição de efeito suspensivo a recurso que normalmente não o possui, só subsiste até o julgamento do próprio recurso, seja qual for a decisão posteriormente prolatada.

2. O acolhimento parcial da pretensão recursal, com a qual resignou-se a insurgente, e considerando o efeito substitutivo do recurso especial na espécie, forçoso reconhecer-se a prejudicialidade do presente procedimento recursal.

3. Agravo regimental prejudicado.(STJ. AgRg na MC 17799. Rel. Min. Luis Felipe Salomão. Quarta Tur-

ma. J. 21/2/2013. DJ 26/ 2/2013)

PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. PARCELAMENTO. COISA JULGADA. EFEITO DEVOLUTIVO E SUBSTITUTIVO DA APELAÇÃO. QUESTÃO NÃO APRECIADA PELO TRIBUNAL A QUO. OMISSÃO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC.

1. Cuida-se, na origem, de Embargos à Execução Fiscal em que o agravan-te se insurge contra a cobrança de ISS sobre a prestação de serviços de reparos navais.

2. O juízo de primeiro grau acolheu o pedido, por entender que o Mu-nicípio não possuía competência tributária para instituir essa hipótese de incidência. O Tribunal a quo reformou a sentença de mérito e concluiu pela impossibilidade de discussão judicial da dívida, uma vez que fora celebrado parcelamento tributário, no qual está incluído o valor controvertido.

3. Está confi gurada a omissão, uma vez que o Tribunal a quo deixou de enfrentar a questão da existência de decisão acobertada pela coisa julgada, dispensando o pagamento do tributo, argumento trazido desde a inicial e reiterado nas contrarrazões de Apelação.

4. O afastamento da preliminar de coisa julgada pela sentença não dispen-sa o Tribunal a quo de reexaminá-la, por uma série de razões. O efeito subs-titutivo do acórdão faz com que a sentença não mais subsista como norma individual e concreta. O efeito devolutivo da Apelação transfere ao Tribunal o conhecimento de todas as questões suscitadas e discutidas no processo (art. 515, § 1°, do CPC). A coisa julgada é matéria de ordem pública e, ademais, foi argüida desde a inicial e reiterada em contrarrazões de Apelação.

5. Agravo Regimental não provido(STJ. AgRg no AREsp 158448. Rel. Min. Herman Benjamin. Segunda

Turma. J. 20/11/2012. DJ. 18/12/2012).

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FGV DIREITO RIO 32

V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS

Leitura obrigatória:

DIDIER JR., Fredie e outros. Curso de Direito Processu-al Civil, Vol. 3, Recursos. 11ª Edição. Salvador: JusPodium, 2013. Capítulo I (Teoria Geral dos Recursos). Itens 10 e 11,pp. 89 a 97

PINTO, Nelson Luiz. Manual dos Recursos Cíveis. 4ª ed., São Paulo: Malhei-ros, 2011 (no prelo — texto via email). Capítulo 1.

Leitura complementar:

BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Correlação entre o pedido e a sentença. RePro nº 83, ano 21, julho-set/1996, p. 207-215.

BEDAQUE, Apelação: questões sobre admissibilidade e efeitos. In: Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis (Coord. Nelson Nery Junior e Teresa Arruda Alvim Wambier), v. 7, São Paulo: RT, 2003, p. 464.

DINAMARCO, Cândido Rangel. Capítulos de Sentença. São Paulo: Malhei-ros editores, 2002, p. 113.

NERY JR., Nelson. Teoria Geral dos Recursos. 6ª ed. São Paulo: RT, 2004, p. 482-488.

VI. AVALIAÇÃO

Caso gerador:

1) Bernardo propôs ação redibitória em face de Eduardo, a fi m de rescin-dir um contrato e ter a devolução do preço então pago. O argumento utili-zado na inicial foi de que adquiriu um touro reprodutor, vindo a descobrir, posteriormente, que o animal era estéril.

O juiz, apesar de admitir a existência do vício redibitório, entendeu ter ocorrido decadência, extinguindo, por conseguinte, o processo com base no inciso IV do art. 269 do CPC.

O Tribunal de Justiça, no julgamento da apelação, afastou a preliminar de decadência e, sob fundamento de que a entrega de coisa diversa da contratada

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não confi gura vício redibitório, mas mero inadimplemento contratual, jul-gou questão não impugnada. A partir destas informações, responda:

a) Pode o Tribunal julgar todo o mérito da demanda ou deve determinar o retorno dos autos ao juízo de primeiro grau para que outra sentença seja proferida?

b) O que vem a ser o princípio tantum devolutum quantum appellatum?

VII. CONCLUSÃO DA AULA:

O recurso é um ato de impugnação a uma decisão judicial desfavorável. Possui natureza jurídica de ato voluntário. Pode ter como objetivo a reforma (error in judicando), a invalidação ou a anulação (error in procedendo), o es-clarecimento (obscuridade) ou integração (no caso de omissão) da decisão.

Se a decisão não causa dano, não é possível recorrer, pois não haverá legi-timidade. Apenas pode ser objeto de recurso, em princípio, as decisões judi-ciais, pois são elas que causam prejuízo. Contudo, há a exceção do art. 504 do CPC (despacho que causa dano é passível de recurso). Deve haver correlação entre o recurso e a decisão. Dependendo da natureza desta, haverá um recur-so correspondente.

Por fi m, importante lembrar que o rol de recursos previstos é exaustivo, pelo princípio da taxatividade, previsto no art. 496 do CPC, sendo cabíveis os seguintes recursos: i) apelação; ii) agravo; iii) embargos infringentes; iv) embargos de declaração; v) recurso ordinário; vi) recurso especial; vii) recur-so extraordinário; e viii) embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário.

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AULA 6: JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE.

I. TEMA

Juízo de admissibilidade.

II. ASSUNTO

Análise do Juízo de admissibilidade dos recursos.

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Na admissibilidade dos recursos, serão analisadas as condições recursais (requisitos intrínsecos) e os pressupostos recursais (requisitos extrínsecos). As condições estão ligadas ao direito de recorrer. Já os pressupostos estão ligados aos requisitos de regularidade recursal.

IV. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

1. Juízo de mérito e de admissibilidade:

Interposto determinado recurso, seu mérito não poderá ser apreciado sem que, antes, se analisem as condições e os pressupostos recursais, a existência das condições de admissibilidade e dos pressupostos de desenvolvimento da atividade jurisdicional recurso, assim como ocorre no exame das prelimina-res em relação ao mérito da ação. As questões de admissibilidade do recurso dizem respeito à possibilidade de conhecimento do recurso pelo órgão com-petente, em função das condições e dos pressupostos genéricos impostos pela lei — como a legitimidade e o interesse em recorrer, a tempestividade, a re-gularidade formal do recurso, o preparo etc. — e dos pressupostos específi cos (hipóteses de cabimento) de cada recurso em espécie. Assim, quando se fala em conhecimento ou não conhecimento do recurso está-se diante de juízo de admissibilidade, realizado pelo órgão julgador, isto é, não se está dizendo que o recorrente tem ou não razão, mas somente que o recurso pode ou não ter o mérito conhecido, isto é, ter seu mérito julgado pelo órgão competente.

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2. Competência: juízo a quo e ad quem:

Os recursos, em regra, são interpostos para um órgão hierarquicamente superior ao que proferiu a decisão recorrida. Mas geralmente eles são inter-postos perante o órgão prolator da decisão recorrida, isto é, o juízo a quo. Este, por sua vez, após o juízo de admissibilidade, encaminhará o recurso ao órgão competente para o julgamento do mérito do recurso, o juízo ad quem.

3. Efeitos do juízo de admissibilidade:

Órgão de interposição:

Os efeitos do juízo de admissibilidade no órgão de interposição limitam--se ao recebimento ou não recebimento do recurso. Se o juízo é positivo — e, portanto, se recebe o recurso —, o efeito dessa decisão é de, apenas, encami-nhar o recurso para o órgão ad quem, que se encarregará do julgamento do mérito. Por outro lado, pode o órgão de interposição não receber o recurso, emitindo juízo negativo de admissibilidade. Neste caso, estar-se-á trancan-do a possibilidade de que o recurso seja encaminhado ao órgão julgador e, portanto, impedindo-se, desde logo, que o mérito do recurso venha a ser julgado. Não obstante, o juízo de admissibilidade é dúplice, isto é, realiza-se também pelo juízo ad quem, de sorte que, a rigor, haverá um recurso inter-ponivel contra a decisão que proferira o juízo negativo de admissibilidade.

Órgão julgador:

No órgão julgador também se pode ter juízo positivo ou negativo de ad-missibilidade — pode-se conhecer ou não do recurso interposto. O juízo ne-gativo de admissibilidade impede o conhecimento do recurso, encerrando-se a fase recursal. Não se diz que o recorrente não tem razão ou que a decisão recorrida deve ser mantida. Somente não se conhece do recurso por faltarem--lhe condições de admissibilidade. Fazemos aqui as mesmas observações que foram feitas a respeito dos efeitos do juízo negativo de admissibilidade no ór-gão de interposição, relativos ao trânsito em julgado ou preclusão da decisão recorrida, no sentido de que a decisão somente transitará em julgado ou se tornará preclusa após o juízo negativo de admissibilidade do recurso contra ela interposto ou após o julgamento do outro recurso que seja interposto contra essa decisão de não recebimento — isto é, quando esgotados os recur-sos eventualmente cabíveis contra a inadmissibilidade do primeiro recurso interposto contra a decisão.

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4. Requisitos (genéricos):

Cumpre, aqui, examinar-se aquilo que deverá ser objeto de averiguação, por parte da autoridade competente, para que se admita ou não o recurso, isto é, para que se adentre ou não o juízo de mérito do recurso. Nesta toada, a maioria dos autores classifi ca os requisitos de admissibilidade em intrínsecos e extrínsecos, ou conjuntamente denominados requisitos genéricos em opo-sição aos requisitos específi cos de cada recurso.

Intrínsecos (condições recursais):

Os requisitos intrínsecos concernem à própria existência do poder de re-correr e são eles:

1) Legitimidade para recorrer:Têm legitimidade recursal aqueles que foram parte no processo, como

integrantes quer do pólo ativo, quer do pólo passivo da relação jurídica pro-cessual, não se confundindo essa noção com a de interesse. Para efeito de le-gitimidade recursal equiparam-se à parte os terceiros que tiverem ingressado no processo na qualidade de assistentes, quer se trate de assistência simples ou litisconsorcial. (ver art. 499 do CPC). Pode eventualmente ocorrer que o interesse jurídico do terceiro apareça apenas após a decisão, embora não exis-tisse desde o início da demanda. Trata-se de interesse jurídico superveniente, que também legitimará esse terceiro para o recurso de terceiro prejudicado.

2) Interesse em recorrer (prejuízo):O requisito de admissibilidade dos recursos, consistente no interesse em

recorrer, liga-se à idéia de sucumbência. Tem interesse em recorrer aquele que, legitimado para tanto, tenha sofrido um gravame, total ou parcial, com a decisão que pretende impugnar — gravame, este, que pode estar relacionado com o direito material deduzido na ação ou ser meramente processual.

3) Cabimento (possibilidade jurídica do recurso):Saber se determinado recurso é ou não cabível signifi ca indagar sobre a pre-

visão legal do meio recursal utilizado e sua adequação à decisão judicial que se quer impugnar. Trata-se da possibilidade jurídica recursal, uma das condições recursais. Não basta que haja previsão legal para o recurso ser utilizado; há também necessidade de adequação entre o recurso escolhido e a natureza da decisão que se pretende impugnar e, ainda, em alguns casos, quando se tratar de recurso de fundamentação vinculada, também ao conteúdo da decisão.

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FGV DIREITO RIO 37

Extrínsecos (pressupostos recursais):

Os requisitos extrínsecos dizem respeito ao modo de se exercer o recurso.

1) Tempestividade:Diz-se tempestivo o recurso quando interposto dentro do prazo estabele-

cido pela lei, quando respeitado foi o termo fi nal para sua interposição. O art. 184 do CPC regulamenta o termo inicial de contagem dos recursos ao passo que os artigos 177 e seguintes estabelecem as regras de contagem, suspensão e interrupção dos prazos processuais.

2) Preparo:O recorrente, ao interpor seu recurso, deverá comprovar o pagamento das

custas processuais respectivas, que são fi xadas no âmbito da Justiça Federal por lei federal, e no âmbito das Justiças estaduais por leis dos respectivos Esta-dos. Salvo nos casos expressamente previstos em lei, o preparo é obrigatório, excetuando-se os benefi ciários da justiça gratuita, a União, Estados, Municí-pios e suas autarquias, e os caso de embargos de declaração e de agravo retido. De acordo com o art. 511 do CPC, o recorrente, no ato da interposição do recurso deverá comprovar o seu preparo, sob pena de deserção.

3) Regularidade formal:Deve o recurso obedecer às regras formais de interposição exigidas pela lei

para seu tipo específi co. Dependendo da espécie de recurso utilizada, pode-rá a lei estabelecer requisitos específi cos de regularidade formal, como, por exemplo: a juntada de peças obrigatórias no caso de agravo de instrumento (art. 525, I, do CPC); a indicação e comprovação do acórdão-paradigma na forma prescrita em lei (art. 541, parágrafo único, do CPC), no caso do re-curso especial interposto com fundamento na alínea “c” do art. 105, III, da CRFB; etc. Também a irregularidade formal do recursal dará motivo à sua não-admissão, a um juízo negativo de admissibilidade.

5. Requisitos especiais (RE e REsp):

Além dos requisitos genéricos para a interposição dos recursos, os recursos extraordinários lato sensu demandam ainda o preenchimento de pressupostos específi cos, quais sejam:

1) Recurso Especial:a) A matéria recorrida deve versar exclusivamente sobre direito federal

infra-constitucional;

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FGV DIREITO RIO 38

b) A matéria recorrida deve se encontrar prequestionada no julgamento a quo;c) Exaurimento das instâncias ordinárias;

Súmula 5 do STJ: “A simples interpretação de cláusula contratual não enseja recurso especial”.

Súmula 7 do STJ: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”.

Súmula 207 do STJ: “É inadmissível recurso especial quando cabíveis em-bargos infringentes contra o acórdão proferido no tribunal de origem”.

Súmula 211 do STJ: “Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tri-bunal “a quo”.

Súmula 282 do STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada”.

Súmula 356 do STF: “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordiná-rio, por faltar o requisito do prequestionamento”.

2) Recurso Extraordinário:a) A matéria recorrida deve versar exclusivamente sobre direito constitu-

cional;b) A matéria recorrida deve se encontrar prequestionada no julgamento a quo;c) Exaurimento das instâncias ordinárias;d) Repercussão geral da matéria recorrida;

Súmula 279 do STF: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”.

Súmula 280 do STF: “Por ofensa a direito local não cabe recurso extraor-dinário”.

Súmula 281 do STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber na justiça de origem, recurso ordinário da decisão impugnada”.

Súmula 282 do STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada”.

Súmula 283 do STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento sufi ciente e o recurso não abrange todos eles”.

Súmula 284 do STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando a defi ciência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia”.

Súmula 286 do STF: “Não se conhece do recurso extraordinário fundado em divergência jurisprudencial, quando a orientação do plenário do supremo tribunal federal já se fi rmou no mesmo sentido da decisão recorrida”.

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Súmula 291 do STF: “No recurso extraordinário pela letra “d” do art. 101, III, da constituição, a prova do dissídio jurisprudencial far-se-á por certidão, ou mediante indicação do “diário da justiça” ou de repertório de jurisprudência autorizado, com a transcrição do trecho que confi gure a di-vergência, mencionadas as circunstâncias que identifi quem ou assemelhem os casos confrontados”.

Súmula 292 do STF: “Interposto o recurso extraordinário por mais de um dos fundamentos indicados no art. 101, III, da Constituição, a admissão apenas por um deles não prejudica o seu conhecimento por qualquer dos outros”.

Súmula 356 do STF: “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordiná-rio, por faltar o requisito do prequestionamento”.

Súmula 456 do STF: “O Supremo Tribunal Federal, conhecendo do re-curso extraordinário, julgará a causa, aplicando o direito à espécie”.

Súmula 733 do STF: “Não cabe recurso extraordinário contra decisão proferida no processamento de precatórios”.

Súmula 735 do STF: “Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere medida liminar”.

6. Jurisprudência:

PROCESSUAL CIVIL. MEDIDA CAUTELAR. APLICAÇÃO POR ANALOGIA DAS SÚMULAS N. 634 E 635 DO STF. HIPÓTESE EX-CEPCIONAL NÃO-CONFIGURADA. ACÓRDÃO EM PEDIDO DE SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. DECISÃO COM NATUREZA POLÍ-TICA. NÃO CABIMENTO DO APELO EXTREMO.

1. Não houve comprovação acerca da realização do juízo de admissibi-lidade do recurso especial na origem, uma vez que a decisão juntada às fl s. 425/426 tem como recorrente CONDOR Transportes Urbanos Ltda. e, não, a ora agravante (LOTAXI — Transportes Urbanos Ltda.). Assim, na hipótese examinada, não houve a realização do juízo de admissibilidade pelo Tribunal de origem, o que afastaria, em princípio, a competência desta Corte Superior para analisar a pretensão cautelar, nos termos das Súmulas 634 e 635 do STF. É certo que, em situações excepcionais, esta Corte Superior concede efeito suspensivo ao recurso especial ainda não admitido no Tribunal de origem, sendo exigida, nesses casos, a comprovação de uma situação de excepciona-lidade, em que haja, cumulativamente, os requisitos do periculum in mora e do fumus boni juris, aliados à teratologia ou manifesta ilegalidade da decisão, o que não é o caso dos autos.

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2. A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de não ser cabível o recurso especial de decisões proferidas no âmbito do pedido de suspensão, uma vez que o apelo extremo visa combater argumentos que digam respeito a exame de legalidade, ao passo que o pedido de suspensão ostenta juízo po-lítico.

3. “Ainda que o pleito, no recurso especial, recaia sobre questões formais no procedimento de suspensão de liminar, tal fato não possui o condão de alterar a natureza jurídica da decisão que concede ou nega a suspensão. Even-tuais irregularidades formais constituem ilegalidade a ser enfrentada na via mandamental, e não no recurso especial” (AgRg no REsp 1207495/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/04/2011, DJe 26/04/2011).

4. Agravo regimental não provido.(STJ. AgRg na MC 20508. Rel. Min. Mauro Campbell Marques. Segun-

da Turma. J. 19/3/2013. DJ. 10/4/2013).

V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS

Leitura obrigatória:

DIDIER JR., Fredie e outros. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 3, Re-cursos. 11ª Edição. Salvador: JusPodium, 2013. Capítulo I (Teoria Geral dos Recursos). Itens 8 e 9, pp. 42 a 88.

PINTO, Nelson Luiz. Manual dos Recursos Cíveis. 4ª ed., São Paulo: Malhei-ros, 2010 (no prelo), Capítulo 2.

VI. AVALIAÇÃO

Casos geradores:

1) Disserte acerca do juízo de admissibilidade dos recursos, tanto em pri-meiro, quanto em segundo grau.

2) Foi proferida sentença, pela 35ª Vara Cível da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, de improcedência do pedido formulado pelo autor em sua inicial. Este, por sua vez, interpôs recurso de apelação, comprovando o recolhimento das custas. Contudo, deixou o apelante de comprovar tal reco-lhimento no momento da interposição do recurso, fazendo-o posteriormente.

Pergunta-se: Admite-se a comprovação posterior do recolhimento? Justi-fi que.

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VII. CONCLUSÃO DA AULA:

Há diferença entre o que ocorre na proposição da demanda e na interpo-sição do recurso. Quando se propõe a inicial e o juiz verifi ca que falta um documento ou que há irregularidade formal, deve haver o prazo de dez dias para que a parte emende a inicial. Isso porque o próprio Estado tem interesse na prestação da tutela jurisdicional. No recurso, isso não existe, pois quando este é interposto, a prestação jurisdicional já foi prestada. É um direito da parte não se conformar com a decisão, mas se esta não cumprir as regulari-dades formais, o recurso não será conhecido, dentro do chamado juízo de admissibilidade do recurso.

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UNIDADE III: RECURSOS EM ESPÉCIE. APELAÇÃO. INCIDENTES RECURSAIS. AGRAVOS E SEUS PROCEDIMENTOS. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. EMBARGOS INFRINGENTES.

AULAS 7 E 8: RECURSOS EM ESPÉCIE: APELAÇÃO.

I. TEMA

Apelação.

II. ASSUNTO

Análise do recurso de apelação.

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Estudar o recurso de apelação, as hipóteses de cabimento, seus fundamen-tos, prazo, efeitos em que tal recurso é recebido, etc.

IV. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

1. Objeto:

De acordo com o art. 513 do CPC, das sentenças caberá apelação. Portan-to, o recurso de apelação tem como objeto sentenças, qualquer tipo de sen-tença. Por sua vez, o art. 162, §1º, do CPC defi ne sentença como sendo o ato do juiz que implica em alguma das situações dos artigos 267 e 269 do CPC.

1) Sentenças processuais: A sentença, se fundada no art. 267 do CPC, será considerada sentença processual, hipótese na qual não haverá a resolução do mérito do litígio;

2) Sentenças de mérito: Se fundada no art. 269 do CPC, será sentença de mérito e, pois, estará pondo fi m ao processo com resolução de mérito, decidindo defi nitivamente a lide.

Ademais, a apelação é o recurso cabível contra sentenças proferidas em qualquer tipo de processo (de conhecimento, de execução, cautelar), qual-quer tipo de jurisdição (contenciosa ou voluntária) e qualquer tipo de proce-dimento (comum ou especial), com exceção daquelas proferidas nos Juizados

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Especiais Cíveis (Lei 9.099/95), contra as quais apenas será cabível o recurso inominado previsto no art. 41 da referida lei, dirigido à Turma de Recursos, no próprio Juizado Especial. Ressalve-se, além disso, a hipótese prevista no art. 34 da Lei nº 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal), no qual se estabelece não ser cabível apelação contra sentenças proferidas a favor da Fazenda Pública em causas de valor inferior a 50 OTNs (hoje, 283,43 UFIRs), no momento da distribuição da petição inicial.

2. Fundamentos:

A apelação pode ter como fundamento um error in procedendo ou um error in judicandodo julgador.

O error in procedendoconstitui-senum vício de procedimento que justifi ca a invalidação da sentença pelo tribunal. Neste caso, a parte, em seu recurso, pleiteará não a reforma e a substituição da sentença, mas sua invalidação pelo tribunal, a fi m de que o processo retorne ao primeiro grau, onde o vício apontado deverá ser sanado e outra decisão proferida — quando se tratar de vício sanável — ou extinto o processo sem julgamento de mérito — quando se tratar de nulidade insanável. Neste casso, o pedido da apelação será sempre de invalidação da decisão.

Já o error in judicandorefere-se à injustiça da decisão, ao erro de ativida-de do julgador, quer aplicando mal a lei, quer deixando de aplicá-la, quer afrontando-a direta ou indiretamente ou, ainda, mal-interpretando as provas e os fatos da causa, resultando numa decisão ilegal ou injusta, no sentido de desacertada em face da realidade do direito material. Se o fundamento do recurso for a existência de um error in judicando,o pedido deverá ser reforma da decisão.

3. Interposição:

A apelação deve ser interposta dentro do prazo geral de 15 dias, previsto no art. 508 do CPC, em petição necessariamente escrita e dirigida ao juiz prolator da decisão (art. 514 do CPC), que lhe apreciará a admissibilidade. A comprovação do preparo dá-se no ato de interposição do recurso, conforme o art. 508 do CPC, sob pena de deserção. Registre-se, neste particular, que provando o apelante justo impedimento, o juiz relevará a pena de deserção fi xando-lhe prazo para efetuar reparo (cf. art. 519 do CPC).

Deverá a petição de interposição conter (art. 514, I a III): os nomes e qualifi cação das partes, bem como do recorrente, se se tratar de recurso de terceiro prejudicado (art. 499 do CPC); os fundamentos de fato e de direito

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que justifi cam o recurso; e o pedido de nova decisão (em caso de reforma — error in judicando) ou de invalidação da decisão (error in procedendo).

4. Despacho: recebimento (admissibilidade)

Protocolada a apelação e juntada aos autos principais da causa, sem nova autuação, seguem os autos para o juiz, para que seja despachada. O despa-cho da petição de interposição deverá conter o juízo de admissibilidade da apelação, quando, então, deverão ser verifi cados todos os requisitos de ad-missibilidade do recurso, resultando dessa apreciação uma decisão positiva ou negativa quanto à admissibilidade.

Se positiva a decisão (recebimento do recurso), deverá o juiz, de acordo com o disposto no art. 518 do CPC, declarar os efeitos em que a recebe (ambos os efeitos ou só o devolutivo, nas hipóteses do art. 520, I II, IV, V, VI e VII), abrindo vistas ao recorrido para, no mesmo prazo de interposição (15 dias — art. 508 do CPC), apresentar suas contra-razões de recurso, onde poderá impugnar, além do mérito, também a sua admissibilidade.

Ao receber a resposta do recorrido terá o juiz no prazo de cinco dias, nova oportunidade para reexaminar a admissibilidade da apelação, agora em face dos elementos e argumentos trazidos pelo apelado. É o que dispõe o pará-grafo segundo do referido art. 518 — disposição, esta, também incluída no Código de Processo Civil através da Lei 11.276/2005.

Isto feito e, mantida a admissibilidade da apelação, serão os autos re-metidos ao tribunal competente, devendo o juiz especifi car qual seja (RT 480/414), apesar de nem sempre ser fácil essa tarefa, em razão da complicada legislação local a respeito da divisão de competência entre os tribunais esta-duais (Tribunais de Justiça e de Alçada dos Estados, onde houver).

5. Efeitos da apelação:

Em regra, a apelação será recebida nos efeitos devolutivo e suspensivo (art. 520 do CPC), devendo o juiz expressamente mencionar com quais efeitos a recebe (art. 518 do CPC). Excepcionalmente, a apelação será recebida so-mente no efeito devolutivo, nas hipóteses dos incisos I a VII do art. 520 do CPC. Nestes últimos casos, a sentença já comportará execução provisória.

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FGV DIREITO RIO 45

7 Considera Bedaque que esta amplia-

ção se dá ex offi cio, sendo determinada

pelo legislador e contrapondo-se ao

princípio dispositivo que até então pre-

dominava na análise da matéria recur-

sal. BEDAQUE, José Roberto dos Santos.

Apelação: questões sobre admissibili-

dade e efeitos. IN Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis (Coord. Nelson Nery Junior e Teresa Arru-da Alvim Wambier). São Paulo: RT,

2003, pp. 447-455. Vide ainda sobre o

tema desta aula: DINAMARCO, Cândido

Rangel. A nova era do processo civil. 2ª ed. São Paulo: Malheiros, 2007, pp.

163-186.

6. Âmbito de devolutividade:

De acordo com o art. 515 do CPC, “a apelação devolverá ao tribunal toda a matéria impugnada.” A regra expressa o conhecido brocardo tantum devo-lutm quantum apellatum. No entanto, os §§1º e 2º do mencionado artigo trazem considerações sobre a extensão e a profundidade do efeito devolutivo da apelação:

1) Horizontal:Nesse sentido, o Art. 515, §1º, do CPC dispõe que serão objeto de apre-

ciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro.

2) Vertical:Já o parágrafo segundo, explicita que quando o pedido ou a defesa tiver

mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devol-verá ao tribunal o conhecimento dos demais. Aqui encara-se o problema sob a perspectiva vertical.

7. Extinção sem julgamento de mérito: (art. 515, §3º, CPC)

Na hipótese do processo ser extinto sem julgamento do mérito, permite-se que o apelante requeira em sua apelação, conforme o art. 515,§3º do CPC, que o Tribunal, reformando a sentença que extinguiu o processo sem julga-mento do mérito, possa avançar na análise do próprio mérito da demanda, desde que não haja mais necessidade de dilação probatória. Esse permissivo contido no art. 515,§ 3º do CPC, denominado o julgamento per saltum, confi gura o caso de ampliação do efeito devolutivo do recurso da apelação e exceção ao princípio do duplo grau de jurisdição, na medida em que o juízo de primeiro grau, por julgar extinto o processo sem julgamento do mérito, não avançou sobre o mérito da demanda.

Em reforma ocorrida em 2001, a Lei nº 10.352, de 26.12.2001 ampliou o âmbito de extensão efeito devolutivo do recurso 7, ao dispor que “nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito, julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento”, conforme o teor na norma inserta no §3º do art. 515.

Antes dessa modifi cação, a apelação interposta contra sentença termina-tiva. Se provida, se limitava a desconstituir o encerramento do processo, de-terminando o retorno dos autos para a prolação de nova sentença pelo juízo a quo.

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8 DINAMARCO, Cândido Rangel. A Re-forma da Reforma. 2ª ed. São Paulo:

Malheiros editores, 2002, p. 157.

Tem entendido a doutrina que os requisitos previstos em lei (“questão ex-clusivamente de direito” e causa “em condições de imediato julgamento”) de-vem ser interpretados de forma sistemática, isto é, ainda que existam questões fáticas em discussão, deve ser possível o julgamento do mérito em apelação, desde que a causa esteja sufi cientemente instruída, ou que não haja necessi-dade de se produzir prova em audiência.

Cândido Dinamarco, por exemplo, afi rma que a exigência de “questão ex-clusivamente de direito” deve ser lida pelo avesso, signifi cando a “inexistência de questões de fato ainda dependentes de prova” 8.

8. Questões de ordem pública: art. 516 do CPC

Por conta de seu efeito translativo, as questões de ordem pública, são cog-noscíveis de ofício pelo tribunal.

Art. 516. Ficam também submetidas ao tribunal as questões ante-riores à sentença, ainda não decididas.

9. Fatos novos:

O art. 517 do CPC é corolário da regra da proibição do iusnovorum: veda--se que a parte inove em suas razões recursais, salvo se tenha impedido de trazer à baila a “inédita” questão por motivo de força maior.

Art. 517. As questões de fato, não propostas no juízo inferior, po-derão ser suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.

10. Declaração de efeitos:

Por sua vez, o artigo 518 do CPC prescreve ao juiz declarar os efeitos em que a apelação será recebida, se no duplo efeito (devolutivo/suspensivo), ou apenas no efeito devolutivo.

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11. Jurisprudência:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL. APELAÇÃO. FUNDAMENTOS DA SENTENÇA NÃO IMPUGNA-DOS. INÉPCIA.

— Ação revisional que discute a abusividade de cláusulas inerentes a con-tratos bancários, cingindo as razões do recurso especial ao debate acerca da inépcia da apelação interposta pelo recorrente.

— A petição de apelo tece alegações demasiado genéricas, sem demonstrar qualquer equívoco na sentença, seguidas de mera afi rmação de que o apelante “se reporta” aos termos da petição inicial.

— É inepta a apelação quando o recorrente deixa de demonstrar os fun-damentos de fato e de direito que impunham a reforma pleiteada ou de im-pugnar, ainda que em tese, os argumentos da sentença.

— Recurso especial não provido.(STJ. REsp  1320527. Rel. Min. Nancy Andrighi. Terceira Turma. J.

23/10/2012. DJ. 29/10/2012).

V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS

Leitura obrigatória:

DIDIER JR., Fredie e outros. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 3, Recur-sos. 11ª Edição. Salvador: JusPodium, 2013. Capítulo II (Apelação). Itens 1 ao 7, pp. 107 a 151 e Capítulo XV (Incidente de uniformização). Itens 1 ao 4, pp. 609 a 622.

PINTO, Nelson Luiz. Manual dos Recursos Cíveis. 4ª ed., São Paulo: Malhei-ros, 2011 (no prelo — texto via email). Cap. Apelação.

VI. AVALIAÇÃO

Caso gerador:

1) Responda as questões abaixo:a) Pode o Tribunal, em julgamento de apelação interposta contra sentença

de extinção, julgar o mérito sem que este tenha sido julgado pelo juízo a quo? Isso poderia implicar em reformatio in pejus?

b) Se o juiz indeferir a inicial liminarmente, e o autor apelar dessa sen-tença que julgou extinto o processo, sem julgamento do mérito, o Tribunal

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pode, nesta apelação, julgar o mérito da causa, se esta versar questão exclusi-vamente de direito?

c) Qual a diferença entre error in iudicando e error in procedendo e a conse-qüência no caso de cada um deles serem reconhecidos pelo Tribunal?

VII. CONCLUSÃO DA AULA:

Muitas regras da apelação, como as questões relativas ao efeito devoluti-vo, são aplicáveis aos demais recursos. A apelação funciona como espécie de “parte geral” dos recursos.

O objeto são as sentenças processuais de mérito, em qualquer tipo de processo ou procedimento. As exceções são a execução fi scal (art. 34 da Lei 6830/80) e o recurso inominado do JEC (Lei 9099/95).

Como fundamento da apelação pode-se utilizar: i) o error in procedendo (anulação). Ex.: Ausência de citação. Ex.2: Sentença sem fundamentação; ii) Quanto o error in judicando (reforma).

O prazo geral dos recursos, segundo o art. 508 do CPC, é de quinze dias, seguindo a apelação tal regra. O preparo deve ser comprovado simultanea-mente à interposição da apelação. A apelação será sempre por petição escrita e dirigida ao juiz prolator da decisão, que faz o primeiro exame de admissi-bilidade do recurso. Trata-se do despacho de recebimento ou de não recebi-mento da apelação. Verifi cará os requisitos de admissibilidade já vistos. Tal despacho não gera preclusão para o juiz, podendo este se retratar. Recebendo a apelação, determina que a parte contrária apresente suas contrarrazões.

Por fi m, com relação ao conteúdo, previsto no art. 514 do CPC, a apela-ção deve trazer a qualifi cação das partes, os fundamentos de fato e de direito e o pedido recursal.

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AULA 9: INCIDENTES RECURSAIS.

I. TEMA

Incidentes recursais.

II. ASSUNTO

Análise do incidente de uniformização de jurisprudência e da declaração de inconstitucionalidade incidental pelos Tribunais.

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Nos incidentes recursais, serão analisados seus objetivos, requisitos, hipó-teses de incidência, com a leitura doutrinária, legal e jurisprudencial acerca do tema.

IV. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

1. Uniformização de jurisprudência: artigos 476 a 479 do CPC

Art. 476. Compete a qualquer juiz, ao dar o voto na turma, câmara, ou grupo de câmaras, solicitar o pronunciamento prévio do tribunal acerca da interpretação do direito quando:

I — verifi car que, a seu respeito, ocorre divergência;II — no julgamento recorrido a interpretação for diversa da que lhe

haja dado outra turma, câmara, grupo de câmaras ou câmaras cíveis reunidas.

Parágrafo único. A parte poderá, ao arrazoar o recurso ou em peti-ção avulsa, requerer, fundamentadamente, que o julgamento obedeça ao disposto neste artigo.

Art. 477. Reconhecida a divergência, será lavrado o acórdão, indo os autos ao presidente do tribunal para designar a sessão de julgamento. A secretaria distribuirá a todos os juízes cópia do acórdão.

Art. 478. O tribunal, reconhecendo a divergência, dará a interpreta-ção a ser observada, cabendo a cada juiz emitir o seu voto em exposição fundamentada.

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Parágrafo único. Em qualquer caso, será ouvido o chefe do Minis-tério Público que funciona perante o tribunal.

Art. 479. O julgamento, tomado pelo voto da maioria absoluta dos membros que integram o tribunal, será objeto de súmula e constituirá precedente na uniformização da jurisprudência.

Parágrafo único. Os regimentos internos disporão sobre a publica-ção no órgão ofi cial das súmulas de jurisprudência predominante.

Possui como objetivo uniformizar a jurisprudência no âmbito dos tribu-nais de segundo grau, podendo ocorrer tanto nos Tribunais de Justiça, quan-to nos Tribunais Regionais Federais. As regras não valem para os Tribunais Superiores.

Não se trata de novo recurso, mas sim de incidente dentro do recurso e apenas pode ser instaurado enquanto o recurso não foi julgado (na pendên-cia do julgamento do recurso). Antes que o recurso seja julgado, faz-se um requerimento para instauração do incidente de uniformização de jurispru-dência. O recurso é suspenso até a decisão na uniformização. Deve haver divergência quanto à questão de direito ou divergência quanto à questão de fato que tenha repercussão em uma questão de direito (não se trata de ques-tão meramente fática).

Assim, são requisitos: i) que esteja em curso julgamento de recurso ou pro-cesso cuja demanda originária seja do tribunal; e ii) que a questão de direito seja controvertida e fundamental para a resolução do caso concreto.

a) Questão de direito e questão de fato com repercussão na interpreta-ção do direito;

b) Âmbito de divergência (turma/câmara/grupos);c) Incidente recursal à requerido na pendência do julgamento do re-

curso;d) Legitimidade à qualquer juiz/partes;e) Suspensão do julgamento;f ) Vinculação no caso em julgamento;g) Maioria absoluta à súmula

Obs.: Com relação ao Órgão Especial e ao Tribunal Pleno, o Regimento Interno de cada Tribunal trará a competência de cada um.

Obs.2: Se a decisão for por maioria simples, apenas valerá a decisão para o julgamento do caso concreto. Contudo, se a decisão for por maioria absoluta, será editada súmula do Tribunal, valendo a decisão para todas as demandas do Tribunal que versem sobre a matéria.

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2. Declaração de inconstitucionalidade: artigos 480 a 482 do CPC

Além do controle direto ou concentrado de constitucionalidade, há o con-trole difuso, feito por qualquer juiz ou tribunal no caso concreto. Um juiz em primeira instância pode afastar a aplicação da lei por julgá-la inconstitu-cional. Já no Tribunal, os órgãos fracionários não possuem tal autonomia. Ao verifi car que o fundamento do recurso ou da defesa é a inconstitucionalidade da norma, deverá suspender o julgamento do recurso e remetê-lo ao Órgão Especial, que terá competência para declarar a inconstitucionalidade.

A exceção ocorre se a matéria já foi apreciada pelo Órgão Especial ou pelo STF. Neste caso, o órgão fracionário poderá julgar diretamente, fi cando vin-culado à decisão prolatada anteriormente.

Art. 480. Argüida a inconstitucionalidade de lei ou de ato normati-vo do poder público, o relator, ouvido o Ministério Público, submeterá a questão à turma ou câmara, a que tocar o conhecimento do processo.

Art. 481. Se a alegação for rejeitada, prosseguirá o julgamento; se for acolhida, será lavrado o acórdão, a fi m de ser submetida a questão ao tribunal pleno.

Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não subme-terão ao plenário, ou ao órgão especial, a argüição de inconstituciona-lidade, quando já houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.

Art. 482. Remetida a cópia do acórdão a todos os juízes, o presiden-te do tribunal designará a sessão de julgamento.

§1o O Ministério Público e as pessoas jurídicas de direito público responsáveis pela edição do ato questionado, se assim o requererem, poderão manifestar-se no incidente de inconstitucionalidade, observa-dos os prazos e condições fi xados no Regimento Interno do Tribunal.

§2o Os titulares do direito de propositura referidos no art. 103 da Constituição poderão manifestar-se, por escrito, sobre a questão cons-titucional objeto de apreciação pelo órgão especial ou pelo Pleno do Tribunal, no prazo fi xado em Regimento, sendo-lhes assegurado o di-reito de apresentar memoriais ou de pedir a juntada de documentos.

§3o O relator, considerando a relevância da matéria e a representa-tividade dos postulantes, poderá admitir, por despacho irrecorrível, a manifestação de outros órgãos ou entidades.

a) Controle de constitucionalidade à direto à STF;b) Controle de constitucionalidade à indireto à qualquer juízo ou tri-

bunal à caso concreto:I) Pelos tribunais à Órgão Especial;II) Admissibilidade à relator/turma ou câmara;

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FGV DIREITO RIO 52

III) Incidente recursal à há suspensão do julgamento;IV) Exceção à existência de decisão anterior do órgão especial ou do

STF;V) Vinculação do julgamento na causa.

3. Jurisprudência:

PROCESSO CIVIL. INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JU-RISPRUDÊNCIA. ART. 14, §4º, DA LEI N. 10.259/2001. PREVIDEN-CIÁRIO. CONCESSÃO DE PENSÃO POR MORTE. INEXISTÊNCIA DE ACÓRDÃO PROFERIDO PELA TNU.

1. Cuida-se de incidente de uniformização de interpretação de lei federal contra decisão do Presidente da Turma Nacional de Uniformização de Juris-prudência dos Juizados Especiais Federais que não admitiu o incidente, ao seguinte argumento: (a) dissídio jurisprudencial não demonstrado, porquan-to não fora realizado o necessário cotejo analítico; (b) inexistiu o prequestio-namento da matéria em debate; e (c) a questão demandaria rever o conjunto fático probatório dos autos.

2. Nos termos do art. 14, caput, e § 4º, da Lei n. 10.259/2001, o reque-rimento de uniformização dirigido ao Superior Tribunal de Justiça pressupõe o acolhimento da matéria de direito material em confronto com a jurispru-dência desta Corte.

3. É requisito para a admissão e processamento do incidente, sob pena de supressão de cognição, que a matéria objeto da divergência tenha sido submetida à apreciação do colegiado da TNU. Assim, inexistindo decisão da TNU nos autos, tal circunstância obsta a abertura da via recursal.

Incidente de uniformização não conhecido.(STJ. Pet 9169. Rel. Min. Humberto Martins. Primeira Seção. J.

13/3/2013. DJ. 25/3/2013).

V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS

Leitura obrigatória:

DIDIER JR., Fredie e outros. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 3, Re-cursos. 11ª Edição. Salvador: JusPodium, 2013. Capítulo XV (Incidente de uniformização). Itens 1 ao 4, pp. 609 a 622.

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FGV DIREITO RIO 53

9 DIDIER JR., Fredie e outros. Curso de

Direito Processual Civil, Vol. 3, Recursos.

11ª Edição. Salvador: JusPodium, 2013.

pp. 609 e 610.

VI. AVALIAÇÃO

Casos geradores:

1) Disserte acerca do incidente de uniformização de jurisprudência, tra-tando de seus pressupostos de admissibilidade.

2) É possível a declaração de inconstitucionalidade por órgãos fracioná-rios? Justifi que.

3) Maria realizou uma compra parcelada na loja ABC, sendo inadimplen-te nas últimas três prestações, o que gerou a negativação de seus dados nos órgãos competentes. Ao receber seu salário, quitou integralmente a dívida. Todavia, seus dados não foram excluídos dos citados órgãos de proteção ao crédito. Maria, então, propôs demanda de indenização por danos morais em face de ABC, não formulando, contudo, pedido genérico. O pedido foi jul-gado procedente, condenando ABC ao pagamento de trinta salários mínimos a autora. Ambas as partes recorrem da sentença: Maria para majorar o valor arbitrado e ABC, sob o argumento de que a negativação decorreu por não pagamento. O relator, diante da inúmera quantidade de demandas sobre tal tema, propõe deslocamento das apelações para o Órgão Especial do Tribunal de Justiça, a fi m de sanar divergências jurisprudenciais internas. Pergunta-se:

a) Tal deslocamento é possível? Justifi que.b) Diferencie composição de divergência e uniformização de jurisprudência.

VII. CONCLUSÃO DA AULA:

Tanto o incidente de declaração de inconstitucionalidade, como a unifor-mização de jurisprudência têm natureza jurídica de incidentes processuais e não de recursos. Segundo Fredie Didier Jr., “têm por função transferir, a um outro órgão do tribunal, a competência, funcional para a análise de deter-minadas questões de direito, examinadas incidenter tantum e havidas como relevantes para o deslinde da causa”. 9

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AULAS 10 E 11: AGRAVOS E SEUS PROCEDIMENTOS.

I. TEMA

Agravos e seus procedimentos.

II. ASSUNTO

Análise das espécies de agravos existentes no direito processual civil brasileiro.

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Serão estudadas as espécies de agravos, suas hipóteses de cabimento, pra-zos de interposição, e demais questões relativas aos recursos.

IV. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

1. Cabimento:

O agravo é recurso cabível contra decisões interlocutórias proferidas no processo (artigos 522 e 162, §2º), tanto no de conhecimento como no de execução e no cautelar, de jurisdição contenciosa ou voluntária, qualquer que seja o procedimento e qualquer que seja a fase em que o processo se encontre.

Há, contudo, decisões interlocutórias que não comportam a interposição do agravo. É o caso, por exemplo, das decisões proferidas nos Juizados Espe-ciais Cíveis; o art. 519,§ único do CPC; art. 527, parágrafo único do CPC; é o caso também das decisões que admitem e recebem o recurso para encaminhá--la ao tribunal superior — haverá o novo juízo de admissibilidade pelo juízo ad quem, motivo pelo qual não cabe a interposição de agravo de instrumento.Também caberá agravo contra as decisões terminativas de ações incidentais como, por exemplo, a decisão que rejeita liminarmente a oposição.

2. Espécies:

O agravo pode ser retido, por instrumento, inominado ou endereçado aos tribunais superiores quando inadmitidos os recursos extraordinários.

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Segundo o art. 522 do CPC, “Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão susce-tível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento”. Assim, como regra, interpor-se-á o agravo na forma retida; excepcionalmente, naqueles casos em que a decisão é suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, será cabível a interposição de agravo por instrumento.

Além dessas duas modalidades, prevê-se o recurso de agravo, inominado, contra as decisões monocráticas proferidas pelos tribunais, conforme precei-tua o art. 557, §1º do CPC.

Por último, o art. 544 estabelece, ainda, outra modalidade de agravo, nos próprios autos, dirigidas aos tribunais superiores, quando inadmitidos os re-curso especial ou extraordinário. Para cada recurso inadmitido caberá um agravo, o qual será endereçado ao STJ ou STF respectivamente.

3. Processamento:

1) Agravo retido:a) Dirigido ao juiz da causa;b) Prazo: 10 dias;c) Regra geral;d) Sem preparo;e) Petição escrita;f ) Em audiência: oral (art. 523, §3º)g) Julgamento com a apelação — preliminar (art. 523);h) Reiteração na apelação (art. 523, §1º);i) Juízo de retratação.

2) Agravo de Instrumento:a) Hipóteses (art. 522):

I) Lesão grave;II) Difícil reparação;III) Inadmissibilidade da apelação;IV) Declaração dos efeitos da apelação.

b) Prazo: 10 dias (art. 522);c) Petição escrita (art. 544 — conteúdo: incisos I, II e III);d) Dirigido ao Tribunal competente (artigos 524 e 525, §2º);e) Requisitos formais (art. 525, I e II);f ) Preparo (art. 525, §1º);

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g) Comprovação em 1º grau — 3 dias (art. 526 e parágrafo único);h) Possibilidade de juízo de retratação (art. 529);i) Despacho do relator (art. 527);j) Julgamento: 30 dias (art. 528);k) Art. 527 do CPC:

I) Negativa de seguimento (art. 557);II) Conversão em retido;III) Efeito suspensivo (art. 558);IV) Requisição de informações;V) Vista ao agravado (10 dias);VI) Vista ao MP (10 dias)

3. Jurisprudência:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. DEFICIÊNCIA NA INSTRUÇÃO. FALTA DE PEÇA OBRIGATÓRIA. ART. 5 44, § 1º, DO CPC, EM SUA REDAÇÃO AN-TERIOR. SÚMULA N. 288/STF. PRECEDENTES. DIREITO INTER-TEMPORAL. RECURSO INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI AN-TERIOR. NECESSIDADE DE FORMAÇÃO DO INSTRUMENTO.

1. Compete ao agravante zelar pela correta formação do instrumento, sen-do indispensável a efetiva apresentação de todas as peças obrigatórias e essen-ciais à compreensão da controvérsia.

2. No presente caso, o agravo deixou de ser instruído com cópia do inteiro teor da decisão que negou seguimento ao recurso especial, peça obrigatória exigida pelo § 1º do art. 544 do CPC.

3. A ausência de qualquer das peças obrigatórias elencadas no referido dispositivo revela má formação do instrumento interposto.

4. Ao recurso interposto sob a vigência da lei anterior não se aplica a al-teração legislativa que transformou o agravo de instrumento em agravo nos próprios autos. A Lei n. 12.322/2010 entrou em vigor em 9 de dezembro de 2010. Precedentes.

5. Agravo regimental a que se nega provimento.(STJ. AgRg no Ag 1.391.012. Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira. Quarta

Turma. J. 3/5/2012. DJ. 15/5/2012).

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V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS

Leitura obrigatória:

DIDIER JR., Fredie e outros. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 3, Re-cursos. 11ª Edição. Salvador: JusPodium, 2013. Capítulo III (Agravo). Itens 1 ao 4, pp. 153 a 198.

PINTO, Nelson Luiz. Manual dos Recursos Cíveis. 4ª ed., São Paulo: Malhei-ros, 2011 (no prelo — texto via email). Cap. Agravo.

VI. AVALIAÇÃO

Casos geradores:

1) TJRJ. XXXII CONCURSO PARA INGRESSO NA MAGISTRATU-RA. Em sede de Agravo de Instrumento, o relator pode atribuir ao recurso o chamado efeito suspensivo ativo? Justifi que.

2) A sociedade ABC interpôs agravo de instrumento contra decisão interlocutória proferida pelo juízo da 45ª Vara Cível, que indeferiu an-tecipação de tutela em demanda de reintegração de posse proposta con-tra a sociedade XYZ. O relator do recurso, contudo, converteu o agravo de instrumento em agravo retido. Houve pedido de reconsideração por ABC, que foi negado. A sociedade ABC, então, impetrou mandado de segurança, tempestivamente, com o objetivo de reverter a decisão de con-versão. Responda:

a) O pedido de reconsideração dirigido ao relator do agravo de instrumen-to possui natureza recursal? Fundamente.

b) É cabível a impetração de mandado de segurança no caso concreto? Jus-tifi que. Se não, como deve ser impugnada a decisão que converteu o agravo de instrumento em agravo retido? Justifi que.

VII. CONCLUSÃO DA AULA:

O agravo é cabível contra decisões interlocutórias (proferidas no curso do processo). São exceções o despacho que cause prejuízo e as decisões termina-tivas de ações incidentais, contra as quais também é cabível o agravo.

São espécies de agravo o agravo retido, sendo este a regra geral, o agravo de instrumento, o agravo interno (também chamado de regimen-tal), e o agravo nos tribunais superiores. Com relação a este último, é ele

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interposto contra decisões que não admitem RE ou REsp. Até dezembro de 2010, tratava-se de agravo de instrumento. Contudo, atualmente, o agravo é interposto nos próprios autos, conforme os artigos 544 e 545 do CPC.

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AULAS 12 E 13: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.

I. TEMA

Embargos de declaração.

II. ASSUNTO

Análise do cabimento dos embargos de declaração no direito processual civil brasileiro.

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Serão estudados embargos de declaração: hipóteses de cabimento, prazo para oposição, seu efeito suspensivo e potencial efeito infringente e demais questões relacionadas a tal recurso.

IV. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

1. Cabimento:

Os embargos de declaração são cabíveis em duas hipóteses, previstas nos in-cisos do art. 535 do CPC: i) quando houver obscuridade ou contradição; e ii) quando houver omissão do juiz em ponto sobre o qual deveria se manifestar.

Art. 535. Cabem embargos de declaração quando:I — houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradiçãoII — for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou

tribunal.

2. Objeto:

Os embargos de declaração são cabíveis contra qualquer tipo de decisão judicial, desde que guarde em si um conteúdo decisório: i) sentenças (art. 162, §1º, do CPC); ii) acórdãos; iii) decisões interlocutórias (art. 162,§2º, do CPC); e iv) decisões monocráticas nos tribunais (art. 557 do CPC).

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3. Objetivos:

Essencialmente, os embargos de declaração têm por fi nalidade sanar uma omissão, contradição ou obscuridade na decisão embargada, conforme dis-põe o art. 535, incisos I e II, do CPC. Nesse sentido, os embargos de decla-ração são espécies dos recursos de fundamentação vinculada e, portanto, a decisão que julgá-los passará a fazer parte integrante da decisão embargada, complementando-a.

4. Efeitos:

A oposição dos embargos de declaração acarreta os seguintes efeitos:1) Suspensivo: A corrente majoritária entende que os embargos de

declaração somente serão dotados de efeito suspensivo se o recur-so subsequente a ser interposto também o for. Assim, se o recurso cabível contra a decisão que julgou os embargos for uma apelação, haverá efeito suspensivo; por outro lado, se for um recurso extraor-dinário, os embargos de declaração também não terão efeitos sus-pensivos.

2) Interruptivo: Os embargos de declaração interrompem o prazo para outros recursos, conforme disposto no art. 538 do CPC.

5. Efeitos especiais:

1) Infringência: Por vezes, ao reformar uma decisão que contenha con-tradição ou omissão, a nova decisão altera a substância da anterior. Trata-se dos efeitos infringentes ou modifi cativos dos embargos de declaração. Quando se vislumbra tal possibilidade, o juiz deve abrir prazo para que a parte contrária se manifeste.

2) Prequestionamento para RE e REsp: No caso de omissão do órgão prolator da decisão, caso esta não seja suprida, não haverá preques-tionamento para futura interposição de RE e REsp. De acordo com a súmula 356 do STF, “o ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de re-curso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento”.

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6. Prazos:

Segundo o art. 536 do CPC, o prazo de oposição dos embargos de de-claração é de cinco dias e o de seu julgamento, de acordo com o art. 537 do mesmo diploma, também é de cinco dias.

Art. 536. Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida ao juiz ou relator, com indicação do ponto obscuro, contraditório ou omisso, não estando sujeitos a preparo.

(...)Art. 537. O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias; nos tribu-

nais, o relator apresentará os embargos em mesa na sessão subseqüente, proferindo voto.

7. Processamento:

Os embargos de declaração serão opostos perante o órgão prolator da de-cisão embargada, que o julgará em cinco dias, segundo o art. 536 do CPC, não sendo exigido o preparo. Não há contraditório, salvo se a parte embar-gante requerer efeitos modifi cativos aos embargos de declaração, hipótese na qual caberá contraditório da parte embargada.

Por fi m, cabe destacar que, quando manifestamente protelatórios, haverá condenação ao pagamento de multa não superior a um por cento do valor da causa. No caso de reiteração dos embargos protelatórios, a multa será majorada para dez por cento, sendo a interposição de qualquer outro recurso condicionada ao seu depósito (art. 538, parágrafo único, CPC).

Art. 538. Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de outros recursos, por qualquer das partes.

Parágrafo único. Quando manifestamente protelatórios os em-bargos, o juiz ou o tribunal, declarando que o são, condenará o em-bargante a pagar ao embargado multa não excedente de 1% (um por cento) sobre o valor da causa. Na reiteração de embargos protelatórios, a multa é elevada a até 10% (dez por cento), fi cando condicionada a interposição de qualquer outro recurso ao depósito do valor respectivo.

(grifo nosso)

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8. Jurisprudência:

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMEN-TAL NO AGRAVO EM

RECURSO ESPECIAL. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO ROTU-LADO COMO EMBARGOS DE

DECLARAÇÃO NÃO INTERROMPEM O PRAZO RECURSAL. AGRAVO NÃO PROVIDO.

1. “Os embargos de declaração, ainda que rejeitados, interrompem o pra-zo recursal. Todavia, se, na verdade, tratar-se de verdadeiro pedido de recon-sideração, mascarado sob o rótulo dos aclaratórios, não há que se cogitar da referida interrupção. Precedentes” (REsp 1.214.060/GO, Rel. Min. MAU-RO CAMPBELL, Segunda Turma, DJe de 28/9/10).

2. Agravo regimental não provido.(STJ. AgRg no AREsp 187.507. Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima. Primei-

ra Turma. J. 13/11/2012. DJ. 23/11/2012).

V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS

Leitura obrigatória:

DIDIER JR., Fredie e outros. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 3, Re-cursos. 11ª Edição. Salvador: JusPodium, 2013. Capítulo IV (Embargos de declaração).

PINTO, Nelson Luiz. Manual dos Recursos Cíveis. 4ª ed., São Paulo: Ma-lheiros, 2011 (no prelo — texto via email). Capítulo Sobre embargos de declaração.

VI. AVALIAÇÃO

Casos geradores:

1) Os Embargos de declaração são, muitas vezes, utilizados para o fi m de prequestionamento. O que é prequestionamento e como a parte deve pre-questionar a matéria? O STJ e o STF exigem prequestionamento implícito ou explícito?

2) Há juízo de admissibilidade nos embargos de declaração? A reiteração de tal recurso pode gerar a sua inadmissibilidade? Justifi que.

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3) Com relação ao prazo dos embargos de declaração, responda:a) Como se distingue o prazo interruptivo do suspensivo?b) Os embargos interrompem o prazo para a propositura de outros recur-

sos? O magistrado deve determinar esse efeito ao receber o recurso?c) Os embargos de declaração possuem efeito suspensivo?d) Pode o Tribunal não admitir os embargos de declaração em razão do

não preenchimento dos requisitos de admissibilidade e, com isso, não recebê--los nos efeitos interruptivo e suspensivo?

4) Quais são as hipóteses de cabimento dos embargos de declaração e o que é o efeito infringente dos embargos de declaração?

5) Relativamente à multa: Em quais situações ela deve ser aplicada e como se dá a sua reincidência? Aplicada a multa, a interposição de outro recurso fi ca condicionada ao seu pagamento. E se ela foi incorretamente imposta (porcentagem exorbitante ou errônea), como deve a parte agir nessa situação?

VII. CONCLUSÃO DA AULA:

Alguns autores questionam se os embargos possuem efeito devolutivo. Se for conceituado de forma mais restrita, não teria, pois não é julgado por instân-cia superior. Se for conceituado de forma mais ampla, sendo julgado pelo Judi-ciário, possui tal efeito. A doutrina majoritária opta pelo conceito mais amplo.

Importante observar que o art. 535 do CPC deve ser interpretado de for-ma ampla, incluindo as decisões interlocutórias e as decisões monocráticas. Há, ainda, os despachos que causam dano, sendo tratados como decisão in-terlocutória. Assim, são cabíveis embargos de declaração neste caso.

Os objetivos dos embargos de declaração são o esclarecimento (obscurida-de ou contradição) e a integração (omissão). Seus efeitos podem ser o efeito suspensivo (efi cácia da decisão) e efeito interruptivo (dos prazos para outros recursos). Há, ainda, efeitos especiais, tais como a infringência (reforma) do julgado (necessidade de contraditório) e o prequestionamento para a inter-posição de RE e REsp.

Por fi m, o prazo para a sua oposição é de cinco dias.

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AULAS 14 E 15: EMBARGOS INFRINGENTES.

I. TEMA

Embargos infringentes.

II. ASSUNTO

Análise do cabimento dos embargos infringentes no direito processual ci-vil brasileiro.

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Serão estudados os embargos infringentes: hipóteses de cabimento, prazo e requisitos para interposição, etc.

IV. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

1. Objetivos:

Em apertada síntese, os embargos infringentes visam compensar decisões contraditórias, a fi m de cancelar a certeza jurídica, na medida em que seu cabimento pressupõe a divergência entre os julgadores.

2. Objeto: (art. 530 do CPC)

Conforme estabelece o art. 530 do Código de Processo Civil, são cabíveis embargos infringentes quando o acórdão não unânime houver reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado procedente ação rescisória. Destaque-se que a divergência objeto dos embargos circunscreve-se pela conclusão do voto/julgamento e não pela fundamentação dos votos.

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10 DIDIER JR., Fredie e outros. Curso de

Direito Processual Civil, Vol. 3, Recursos.

11ª Edição. Salvador: JusPodium, 2013.

p. 242.

3. Requisitos: (art. 530 do CPC)

Os requisitos para a interposição dos embargos infringentes, de acordo com o disposto no art. 530 do CPC, são: i) não unanimidade no julgamento; ii) decisão de mérito; e iii) reforma na sentença ou procedência da rescisória

Com relação ao requisito de a sentença objeto do acórdão ser de mérito, importantes as lições de Fredie Didier:

Ao que tudo indica, o legislador reformista levou em conta a cir-cunstância de que, extinto o processo sem julgamento do mérito, a parte pode renovar a demanda (CPC, art. 268), não havendo prejuízo com a eliminação, nesse caso, dos embargos infringentes. A contrario sensu, se houver produção de coisa julgada material, restará vedada a re-novação da demanda, com maior prejuízo para parte. Nesse caso, deve--se permitir a interposição dos embargos infringentes. Ocorre, porém, que a coisa julgada material será produzida, não pela sentença, mas sim pelo acórdão que a reexaminar, em razão do efeito substitutivo (CPC, art. 512). 10

Contudo, a doutrina entende que, no caso de sentença terminativa reforma-da por acórdão de mérito, se este for julgado por maioria de votos, deve ser pos-sível a interposição dos embargos infringentes. Isso porque, apesar de a sentença ser terminativa, o acórdão que a reformou apreciou o mérito da demanda.

4. Âmbito de devolutividade:

Com a interposição dos embargos infringentes, visa-se obter do colegia-do que os vai julgar a revisão da matéria decidida sem unanimidade. Desse modo, muito embora a extensão do âmbito da devolutividade depender da matéria objeto dos embargos, esta jamais poderá ser mais ampla do que a divergência preconizado no acórdão embargado. Nesse sentido, preceitua a parte fi nal do art. 530: “Se o desacordo for parcial, os embargos serão restri-tos à matéria objeto da divergência.”

5. Efeitos:

Efeito devolutivo:

Só pode ser devolvida a matéria objeto de divergência. Importante a veri-fi cação do voto vencido para ter a exata dimensão da divergência.

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Efeito translativo:

Há divergência entre as turmas do STJ, mas prevalece o entendimento de que, em sede de julgamento dos embargos infringentes, é possível a aprecia-ção de matérias de ordem pública. Neste sentido é o REsp 284.523:

Processo civil. Recurso especial. Ação de conhecimento sob o rito ordiná-rio. Embargos infringentes. Matéria de ordem pública. Acórdão. Ausência de fundamentação. Nulidade.

— O Superior Tribunal de Justiça fi rmou entendimento de que, em sede de embargos infringentes, deve-se conhecer de ofício a matéria de ordem pública, ainda que esta não esteja inserida no âmbito devolutivo deste recur-so, isto é, ainda que a questão de ordem pública não se inclua nos limites da divergência. Precedentes.

— Em decisão colegiada tomada por dois votos a um, estando o voto con-dutor do acórdão ausente de fundamentação, deve ser declarada a nulidade do julgamento proferido, diante do manifesto prejuízo ocasionado à parte sucumbente.

— Recurso especial a que se dá provimento.(STJ. REsp 284.523. Rel. Min. Nancy Andrighi. Terceira Turma. J.

2/5/2001. DJ. 25/6/2001).

Efeito suspensivo:

Quanto ao efeito suspensivo, a interposição dos embargos infringentes suspende os efeitos do acórdão embargado. Com relação à decisão apelada, os embargos infringentes prolongarão os mesmos efeitos da apelação, ou seja, se a apelação que resultou no acórdão embargado tiver sido recebida no efeito suspensivo, esse efeito se prolongará durante o julgamento dos infringentes. Caso contrário, também os infringentes serão recebidos apenas no efeito de-volutivo, em relação à decisão apelada.

Cabe ressaltar que, tratando-se de embargos infringentes contra acórdão de ação rescisória, terão estes sempre efeito suspensivo do comando contido no acórdão.

Efeito interruptivo:

A interposição dos embargos infringentes interrompe o prazo para a inter-posição de outros recursos cabíveis contra a parte unânime da decisão, como por exemplo o Recurso Especial e o Recurso Extraordinário.

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6. Processamento:

O prazo para a interposição dos embargos infringentes é de quinze dias, segundo o art. 508 do CPC, sendo tal recurso dirigido ao relator do acór-dão. As contrarrazões devem ser apresentadas também em quinze dias. Caso ocorra rejeição liminar, é cabível o recurso de agravo, previsto no art. 532 do CPC. por fi m, importante lembrar que há de novo relator para o acórdão e que o julgamento é previsto no regimento interno de cada tribunal. No caso do TJRJ, a previsão está no art. 533 do RI TJRJ:

Regimento Interno — Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Ja-neiro

Resolução nº 14/2003 do E. Órgão Especial de 05/12/2003Atualizado em 01/02/2011Seção II — Dos Embargos Infringentes em Matéria Cível(...)Art.130 — Interpostos os embargos, abrir-se-á vista ao recorrido

para contra-razões, após o que apreciará o relator do acórdão embarga-do, a admissibilidade do recurso.

§1º — O relator indeferirá de plano o recurso em caso de inadmis-sibilidade ou deserção.

§2º — Do indeferimento caberá Agravo previsto no artigo 532 do Código de Processo Civil, ao órgão competente para o julgamento dos embargos.

§3º — Admitidos os embargos, o Secretário da Câmara remeterá os autos à 1ª Vice-Presidência para distribuição por sorteio a outro relator de outra Câmara, observada a vedação do § 3º do artigo 129.

§4º — Distribuídos os embargos, serão os autos conclusos ao relator e ao revisor, quando houver, pelo prazo de 15 (quinze) dias cada um, seguindo-se o julgamento.

7. Jurisprudência:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS INFRINGENTES. ACÓRDÃO QUE, POR MAIORIA, ACOLHE PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA. CABIMENTO.

1. Cabem embargos infringentes contra acórdão que, por maioria, acolhe preliminar de ilegitimidade passiva e reforma sentença para extinguir a ação com fulcro no art. 267, VI, do CPC.

2. Em respeito ao devido processo legal, o art. 530 deve ser interpretado harmoniosa e sistematicamente com o restante do CPC, admitindo-se em-

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bargos infringentes contra decisão que, a despeito de ser formalmente proces-sual, implicar análise de mérito.

3. De acordo com a teoria da asserção se, na análise das condições da ação, o Juiz realizar cognição profunda sobre as alegações contidas na petição, após esgotados os meios probatórios, terá, na verdade, proferido juízo sobre o mé-rito da controvérsia.

4. A natureza da sentença, se processual ou de mérito, é defi nida por seu conteúdo e não pela mera qualifi cação ou nomen juris atribuído ao julgado, seja na fundamentação ou na parte dispositiva.

Entendida como de mérito a decisão proferida, indiscutível o cabimento dos embargos infringentes.

5. Recurso especial a que se dá provimento.(STJ. REsp 1.157.383-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi. J. 14/8/2012. DJ.

17/8/2012)

V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS

Leitura obrigatória:

DIDIER JR., Fredie e outros. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 3, Recursos. 11ª Edição. Salvador: JusPodium, 2013. Capítulo V (Embargos infringentes).

PINTO, Nelson Luiz. Manual dos Recursos Cíveis. 4ª ed., São Paulo: Ma-lheiros, 2011 (no prelo — texto via email). Capítulo sobre embargos infrin-gentes.

VI. AVALIAÇÃO

Caso gerador:

1) Em julgamento de apelação interposta contra sentença que extinguiu o processo sem resolução do mérito, houve apreciação do mérito, de acordo com o art. 515, §3º, do CPC, tendo sido a referida apelação reformada em acórdão não unânime. Desta forma, pergunta-se: é cabível a interposição de embargos infringentes pelo recorrido? Justifi que.

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11 Art. 530 do CPC.

VII. CONCLUSÃO DA AULA:

De acordo com o art. 530 do CPC, os embargos infringentes são cabíveis quando “o acórdão não unânime houver reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado procedente ação rescisória. Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto da diver-gência”. 11 Após, será aberta vista ao embargado para contrarrazões no prazo de quinze dias.

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12 Súmula 7 do STJ: “A pretensão de

simples reexame de prova não enseja

recurso especial”.

13 Súmula 279 do STF: “Para simples

reexame de prova não cabe recurso

extraordinário”.

UNIDADE IV: RECURSOS PARA OS TRIBUNAIS SUPERIORES. FUNÇÃO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES. RECURSO ESPECIAL PARA O STJ. RECURSO EXTRAORDINÁRIO E EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA.

AULAS 16, 17, 18, 19 E 20: RECURSOS PARA OS TRIBUNAIS SUPERIORES. FUNÇÃO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES. RECURSO ESPECIAL PARA O STJ. RECURSO EXTRAORDINÁRIO E EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA.

I. TEMA

Recursos para os Tribunais Superiores. Função dos Tribunais Superiores. Recurso Especial para o STJ. Recurso Extraordinário e Embargos de Diver-gência.

II. ASSUNTO

Análise da função dos tribunais superiores e dos recursos interpostos para julgamento por tais tribunais, em especial, o recurso especial, o recurso extra-ordinário e os embargos de divergência.

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

O objetivo das aulas é analisar os recursos interpostos especifi camente para os tribunais superiores.

IV. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

1. Características gerais do recurso especial e do recurso extraordinário:

O recurso especial para o STJ e o recurso extraordinário para o STF são espécies do gênero recurso extraordinário (também chamado d recurso ex-cepcional ou recurso de superposição) possuem fundamentação vinculada, sendo suas hipóteses de cabimento previstas na Constituição da República, nos artigos 102, III (RE) e 105, III (REsp).

Não é possível que os recursos revejam matéria probatória, conforme as súmulas 7 do STJ 12 e 279 do STF 13. Contudo, há situações excepcionais em que isso é possível, dentre as quais, segundo Luiz Guilherme Marinoni,

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14 ARENHART, Sérgio Cruz; MARINONI,

Luiz Guilherme apud DIDIER JR., Fredie

e outros. Curso de Direito Processual

Civil. Vol. 2, 8ª Edição. Salvador: JusPo-

dium, 2013. p. 275.

15 STF. AI 375.011. Rel. Min. Ellen Gra-

cie. Segunda Turma. J. 4/10/2004. DJ.

28/10/2004.

“i) licitude da prova; ii) qualidade da prova necessária para a validade do ato jurídico; iii) para uso de certo procedimento; iv) do objeto da convicção; v) da convicção sufi ciente diante da lei processual e; vi) do direito material;vii) do ônus da prova; viii) da idoneidade das regras de experiência e das pre-sunções; ix) além de outras questões que antecedem a imediata relação entre o conjunto das provas e dos critérios que guiaram os raciocínios presuntivo, probatório e decisório”. 14

1) Prequestionamento:

O requisito do prequestionamento é preenchido quando a questão federal ou constitucional é examinada na decisão recorrida. Com relação ao preques-tionamento implícito, este ocorre e é admitido, no âmbito do STJ, quando o tribunal de origem se manifesta de maneira explicita sobre a questão federal, mas não cita a norma afrontada. No caso do STF, tal prequestionamento não é aceito. Contudo, é importante ressaltar o entendimento de que se deve relativizar a exigência quando o “tema de fundo foi defi nido pela composição planária”15 do STF.

Assim, tradicionalmente, a jurisprudência do STF e do STJ admite as seguintes espécies de prequestionamento:

Prequestionamento Expresso Implícito Ficto

STF. Sim Não Sim

STJ. Sim Sim Não

2) Prazo:

Segundo o art. 508, caput, do CPC, o prazo para interposição do recurso especial e do recurso extraordinário é de quinze dias.

3) Esgotamento das instâncias ordinárias:

O recurso especial e o recurso extraordinário exigem o esgotamento das ins-tâncias ordinárias, uma vez que julgam as causas julgadas em última ou única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais de Justiça.

Súmula 207 do STJ: “É inadmissível recurso especial quando cabíveis em-bargos infringentes contra o acórdão no tribunal de origem”.

Súmula 281 do STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber, na Justiça de origem, recurso ordinário da decisão impugnada”.

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4) Ordem de julgamento:

Quando interpostos simultaneamente recurso especial e recurso extraor-dinário contra o mesmo acórdão, será julgado primeiro o recurso especial e, após, os autos serão remetidos ao STF, para julgamento do recurso extraordi-nário, conforme disposto no art. 543, §1º, do CPC:

Art. 543. Admitidos ambos os recursos, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça.

§1o Concluído o julgamento do recurso especial, serão os autos remetidos ao Supremo Tribunal Federal, para apreciação do recur-so extraordinário, se este não estiver prejudicado.

2. Recurso especial:

1) Objetivos:

O STJ possui dois objetivos na análise do recurso especial, quais sejam: i) corrigir a decisão impugnada, se necessário; e ii) uniformizar a interpretação da norma impugnada. Possui, portanto, função paradigmática na interpreta-ção jurisprudencial e na manutenção da legislação federal infraconstitucional.

2) Objeto:

De acordo com o art. 105, III, alíneas “a”, “b” e “c”, da Constituição da República, cabe ao STJ:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:(...)III — julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou

última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recor-rida:

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído

outro tribunal.

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3) Julgamento de recursos repetitivos: art. 543-C do CPC e res. 8/2008, do STJ.

Quando existir multiplicidade de recursos especiais com fundamento em questão de direito idêntica, deve o Presidente do Tribunal de origem dos recursos admitir um ou mais, que sejam representativos da controvérsia, e suspender os demais até a decisão fi nal do STJ.

3. Recurso extraordinário:

1) Objetivos:

O STF tem função precípua de guardião da Constituição da República, interpretando e preservando suas normas. Na análise do recurso extraordiná-rio, o STF realiza a uniformização da jurisprudência nacional relativa à inter-pretação e aplicação das normas constitucionais. Realiza, ainda, o controle de constitucionalidade difuso.

2) Objeto:

De acordo com o art. 103, III, alíneas “a”, “b”, “c” e “d”, da Constituição da República, cabe ao STF:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

(...)II — julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas

em única ou última instância, quando a decisão recorrida:a) contrariar dispositivo desta Constituição;b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta

Constituição.d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

3) Repercussão geral:

Segundo o §3º do art. 102, da Constituição da República “no recurso ex-traordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fi m de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifesta-ção de dois terços de seus membros”.

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16 EAg nº 1404093. Decisão publicada

em 06/06/2012. Disponível na Inter-

net: <http://www.stj.jus.br>. Acesso

em 18 nov. 2012.

Quando existir multiplicidade de recursos extraordinários com funda-mento em controvérsia idêntica, deve o Presidente do Tribunal de origem dos recursos admitir um ou mais, que sejam representativos da controvérsia, e suspender os demais até a decisão fi nal do STF. O seu processamento está disposto no Regimento Interno do STF (RI STF).

4. Embargos de Divergência:

Os embargos de divergência (em RE e REsp) visam propiciar a uniformi-zação da jurisprudência do STJ e STF quanto à interpretação do direito. Ca-bem de decisão de Turma que, em recurso especial, extraordinário ou agravo de instrumento, divergir de outra turma ou do plenário, na interpretação do direito em tese. Estão previstos no art. 496, VIII do CPC e nos regimentos dos tribunais superiores.

Ou seja, servem, portanto, para uniformizar o dissenso jurisprudencial interna corporis ou intra muros, no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça.

1) Cabimento:

Os embargos de divergência são cabíveis quando há confl ito entre julga-dos da mesma corte, seja STF ou STJ, sendo que o julgado embargado deve ser proferido por uma turma.

Majoritariamente, entendia-se que o julgado paradigma poderia ser profe-rido no julgamento de qualquer recurso, desde que fosse fruto de uma deci-são proferida por um órgão colegiado. No entanto, no STJ, há entendimento recente da Corte Especial no sentido de que o julgado paradigma deve ser proferido no julgamento de recurso especial16.

2) Tempestividade:

O prazo para interposição é aquele previsto no art. 508 do CPC, ou seja, 15 dias. Não cabe recurso adesivo em embargos de divergência.

3) Regularidade formal:

O recurso deve ser dirigido ao Presidente do Tribunal, uma vez que será distribuído para outro relator. A petição deve estar acompanhada das razões

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recursais e deve, ainda, comprovar o dissenso jurisprudencial por meio de cotejo analítico entre o julgado embargado e o acórdão paradigma.

4) Preparo:

Deve haver o recolhimento de preparo nos termos do regimento interno de cada corte.

5) Efeitos:

Os embargos de divergência possuem os efeitos devolutivo e obstativo. Com relação ao efeito translativo, há divergência.

6) Julgamento:

Será defi nido pelo regimento interno de cada tribunal. No STF quem julga é o plenário, enquanto no STJ depende da abrangência do litígio. Se o julgamento dos embargos de divergência for proferido monocraticamente, caberá agravo interno. Caso contrário, se a decisão por proferida por órgão colegiado, caberá recurso extraordinário, assim como, por óbvio, será cabível o recurso de embargos de declaração.

Súmula 315 do STJ: “Não cabem embargos de divergência no âmbito do agravo de instrumento que não admite recurso especial”.

Súmula 316 do STJ: “Cabem embargos de divergência contra acórdão que, em agravo regimental, decide recurso especial”.

5. Jurisprudência:

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. INVENTÁRIO. PRECLUSÃO. MATÉRIA SUSCITADA EM CONTRARRAZÕES. PREQUESTIONA-MENTO A CARGO DO RECORRIDO. RECURSO ESPECIAL CO-NHECIDO. APLICAÇÃO DO DIREITO À ESPÉCIE. DIVERGÊNCIA CONFIGURADA.

1. O cabimento dos embargos de divergência pressupõe a existência de divergência de entendimentos entre Turmas do STJ a respeito da mesma questão de direito federal. Tratando-se de divergência a propósito de regra de direito processual não se exige que os fatos em causa nos acórdãos recorrido e paradigma sejam semelhantes, mas apenas que divirjam as Turmas a propósi-to da solução da questão de direito processual controvertida.

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2. Segundo pacífi ca jurisprudência do STJ, não são cabíveis embargos de divergência para discussão de regra técnica de admissibilidade de recurso especial. A razão de ser desta uníssona jurisprudência é intuitiva e óbvia: as chamadas “regras técnicas de admissibilidade” devem ser apreciadas e ponde-radas na análise de cada caso concreto, à vista dos fundamentos do acórdão recorrido e das razões das partes, bem ou mal conduzidas, vicissitudes que descaracterizam a possibilidade de reconhecimento da divergência.

3. Hipótese em que não se cuida de regra técnica de admissibilidade de recurso especial, mas de divergência acerca de questão de direito processual civil relativa aos limites da devolutividade do recurso especial após o seu co-nhecimento, quando o STJ passa a julgar o mérito da causa.

4. Alegados pela parte recorrida, perante a instância ordinária, dois funda-mentos autônomos e sufi cientes para embasar sua pretensão, e tendo-lhe sido o acórdão recorrido integralmente favorável mediante a análise de apenas um dele, não se há de cogitar da oposição de embargos de declaração pelo vitorioso apenas para prequestionar o fundamento não examinado, a fi m de preparar recurso especial do qual não necessita (falta de interesse de recorrer) ou como medida preventiva em face de eventual recurso especial da parte adversária.

5. Reagitado o fundamento nas contrarrazões ao recurso especial do ven-cido, caso seja este conhecido e afastado o fundamento ao qual se apegara o tribunal de origem, cabe ao STJ, no julgamento da causa (Regimento Inter-no, art. 257), enfrentar as demais teses de defesa suscitadas na origem.

6. Embargos de divergência providos.(STJ. EREsp 595.742. Rel. Min. Massami Uyeda. Segunda Seção. J.

15/12/2011. DJ. 13/4/2012.

QUESTÃO DE ORDEM. RECONHECIMENTO, PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, DA PRESENÇA DA REPERCUSSÃO GERAL EM DETERMINADO PROCESSO. PRELIMINAR FORMAL E FUN-DAMENTADA DE REPERCUSSÃO GERAL NOS OUTROS RECUR-SOS QUE TRATEM DO MESMO TEMA. EXIGIBILIDADE. 1. Ques-tão de ordem resolvida no sentido de que o reconhecimento, pelo Supremo Tribunal Federal, da presença da repercussão geral da questão constitucional em determinado processo não exime os demais recorrentes do dever consti-tucional e processual de apresentar a preliminar devidamente fundamentada sobre a presença da repercussão geral (§ 3º do art. 102 da Constituição Re-publicana e § 2º do art. 543-A do CPC). 2. Agravo regimental desprovido.

(STF. ARE 663.637 QO-AgR. Rel. Min. Presidente. J. 12/9/2012. DJ. 3/5/2013).

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V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS

Leitura obrigatória:

DIDIER JR., Fredie e outros. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 3, Recursos. 11ª Edição. Salvador: JusPodium, 2013. Capítulos VI (Recurso Or-dinário Constitucional), VII (Recurso Extraordinário e Recurso Especial) e VIII (Embargos de Divergência).

PINTO, Nelson Luiz. Comentários ao CPC.

VI. AVALIAÇÃO

Casos geradores:

1) “A” move ação anulatória de um determinado contrato, pleiteando, além de sua anulação, a devolução das quantias pagas e a indenização por danos morais. “B”, o réu, em sua defesa, alega decadência e, ad cautelam, impugna os demais pedidos. Na sentença, o juiz reconhece a decadência em relação ao pedido anulatório (art. 269, IV, do CPC) e julga improceden-te a ação. “A” apela demonstrando a inocorrência do prazo decadencial e pleiteia a aplicação do art. 515, par. 3º, do CPC, para o julgamento dos demais pedidos. O Tribunal, por maioria de votos, acolhe os argumentos do apelante para afastar a decadência; por unanimidade, julga procedente o pedido de anulação, e, por maioria de votos julga improcedentes os pedidos de devolução das quantias pagas e dos danos morais. “A” apresenta embargos infringentes pleiteando a procedência dos pedidos condenatórios. Segue-se, por parte de “B” a apresentação de contra-razões, em que argúi preliminar voltada ao não conhecimento do recurso, por não serem cabíveis os embargos infringentes no caso, e, concomitantemente, recorre adesivamente pleitean-do o reconhecimento da decadência. A Câmara, por maioria de votos, nega provimento a ambos os recursos, mantendo integralmente o resultado do julgamento da apelação.

Pergunta-se:a) Agiu corretamente a Câmara, ao conhecer de ambos os embargos in-

fringentes?b) Entendendo “B” que os embargos infringentes de “A” não seriam cabí-

veis, deveria aguardar o julgamento dos mesmos para interpor os REsp e RE?c) Não tendo havido prequestionamento quanto à matéria julgada por

unanimidade, deverá a parte interpor Embargos de Declaração para este fi m e depois recorrer para o STJ/STF ou deverá aguardar o julgamento dos Em-

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bargos Infringentes para então prequestionartoda a matéria objeto de um eventual REsp e/ou RExt?

d) Qual a extensão do efeito devolutivo nos Embargos Infringentes? A regra contida no art. 515, §3o é aplicável a este recurso ou unicamente à apelação?

e) Suponha que, diante da iniciativa de “B” apresentar embargos infrin-gentes adesivos, tenha “A” manifestado a desistência do seu recurso e o Tri-bunal, homologando-a, tenha julgado prejudicado o recurso adesivo. Vendo--se impossibilitado de apresentar recurso especial ou extraordinário, não por exaurimento da atividade recursal, mas em virtude de iniciativa unilateral da outra parte, poderia “B” apresentar recurso especial/extraordinário alegando cerceamento de defesa?

2) João de Tal pretende impugnar uma decisão proferida em sede de recur-so inominado por Turma Recursal do Juizado Especial Cível de São Paulo, eis que, no seu entender, houve contrariedade a certa Medida Provisória em vigor. Pergunta-se:

a) Qual seria o recurso cabível, neste caso, e qual o órgão competente para julgá-lo; qual o órgão de interposição e qual o órgão competente para a ad-missibilidade do recurso?

b) Se João, ao invés de alegar ilegalidade, pretendesse argüir a contrarieda-de da decisão colegiada do Juizado Especial Cível de São Paulo à Constitui-ção Federal, a resposta seria diferente? Por quê?

c) Como deve ser entendido o termo “em única ou última instância”, constante no art. 105, III, da Constituição da República?

3) João fi rmou com Firmino um contrato de comodato. João, confi ando na palavra de seu primo Firmino, apenas realizou contrato verbal. Dentre as condições, fi cou acertado que Firmino não poderia trazer ninguém para residir no imóvel em sua companhia, sob pena de rescisão contratual. Após dois meses, Firmino adquiriu um cachorro. João, ao tomar conhecimento do fato, ingressou no Judiciário com o fi m de rescindir o contrato de comodato. A única que prova escrita que João possuía era uma declaração de Firmino, dada em um pedaço de guardanapo, com os seguintes dizeres: “declaro que, se eu trouxer qualquer ser para residir comigo no imóvel de João, o contrato será rescindido imediatamente”. Em sede de apelação, o tribunal decidiu que o fato de Firmino ter adquirido um cachorro não justifi ca a rescisão contratu-al, visto que restou demonstrado nos autos, inclusive por testemunhas, que, na verdade, a cláusula contratual que proibia outro ser no imóvel se referia a pessoas e não a semoventes, mantendo-se o contrato de comodato. João, inconformado, ingressa com recurso extraordinário, argüindo que o tribunal não interpretou bem o contrato, pois a expressão “ser” abrange humanos ou

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semoventes. Além disso, alega que o indeferimento pelo tribunal do pedido de rescisão do contrato de comodato ofende o Código Civil, no seu art. 582, visto que o comodatário usou a coisa de forma diversa da acordada no contrato, bem como ofende, conseqüentemente, o seu direito fundamental à propriedade, assegurado pela Constituição Federal.

a) O recurso extraordinário interposto deve ou não ser admitido? Por que?b) Qual é o órgão competente para julgar o recurso extraordinário? A que

órgão deve ser dirigido?c) Poderia ter sido interposto e admitido, no caso, Recurso Especial?

4) “A” moveu ação contra “B” objetivando fosse determinada ao Réu a apresentação de contrato fi rmado entre as partes, para posterior declaração da correta interpretação de cláusula contratual (Súmula n. 181 do STJ). “B” contestou o feito alegando que não localizou o contrato, o que ensejou o julgamento de procedência do feito ante a presunção de veracidade a que se refere o artigo 359 do CPC, com a condenação dele (“B”), ao pagamento da verba honorária, fi xada em 5% sobre o valor da causa. Foi interposto Recurso de Apelação por ambas as partes; “A” buscou a majoração da verba honorária e “B” a reversão do julgamento de mérito, ante a inaplicabilidade ao caso do artigo 359 do CPC. Os recursos restaram desprovidos. “A”, então, opôs Embargos Declaratórios objetivando o prequestionamento do artigo 20, §§ 3º e 4º do Código de Processo Civil. Já “B” ingressou com Recurso Especial alegando contrariedade ao artigo 359 do CPC. Os Embargos de Declaração foram rejeitados e “A” também interpôs Recurso Especial, almejando a ma-joração da verba honorária ou, sucessivamente, a nulidade do acórdão dos Embargos de Declaração (contrariedade ao artigo 535, II, do CPC). Em análise de admissibilidade dos Recursos Especiais, o presidente do Tribunal de Justiça entendeu por não admitir os recursos. O de “A” pela ausência de prequestionamento dos artigos 20, §§ 3º e 4º e 535 do CPC e o de “B” pela ausência de ratifi cação do Recurso Especial após o julgamento dos Embargos de Declaração. Pergunta-se:

a) Quanto ao Recurso Especial de “A”: está correta a decisão de não ad-missão no que se refere ao artigo 535, II, do CPC? A violação nesse caso não teria surgido quando da própria prolação do aresto? Seria necessária a opo-sição de novos declaratórios (os segundos) para prequestionar o artigo 535, II, do CPC?

b) Ainda quanto ao Recurso Especial de “A”: a simples oposição de Em-bargos de Declaração não seria sufi ciente para dar-se como prequestionado o artigo 20, §§ 3º e 4º do CPC? Poderia o Superior Tribunal de Justiça decidir que não há obrigatoriedade de referência a todos os dispositivos legais invoca-dos e portanto, não há ofensa ao art. 535, II, do CPC, e, por outro lado, dei-xar de conhecer o Recurso Especial ante a ausência de prequestionamento?

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c) Quanto ao Recurso Especial de “B”: se os declaratórios foram rejeita-dos, ou seja: se não ocorreu qualquer modifi cação no acórdão pelo qual se apreciaram as apelações, está correta a decisão que entendeu pela necessidade da ratifi cação do Recurso Especial?

d) Quanto ao Recurso Especial de “B”: a questão suscitada no recurso (contrariedade ao artigo 359 do CPC) já fora submetida a julgamento na forma do artigo 543-C do CPC pelo STJ (REsp 1.094.846), em julgamento com a seguinte ementa:

AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. ART. 359 DO CPC. PRESUNÇÃO DE VERACIDADE. NÃO APLICABILIDADE. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. LEI N. 11.672/2008. RESOLU-ÇÃO/STJ N. 8, DE 07.08.2008. APLICAÇÃO.

1. A presunção de veracidade contida no art. 359 do Código de Processo Civil não se aplica às ações cautelares de exibição de documentos. Preceden-tes.

2. Na ação cautelar de exibição, não cabe aplicar a cominação prevista no art. 359 do CPC, respeitante à confi ssão fi cta quanto aos fatos afi rmados, uma vez que ainda não há ação principal em curso e não se revela admissível, nesta hipótese, vincular o respectivo órgão judiciário, a quem compete a ava-liação da prova, com o presumido teor do documento.

3. Julgamento afetado à 2a. Seção com base no Procedimento da Lei n. 11.672/2008 e Resolução/STJ n. 8/2008 (Lei de Recursos Repetitivos).

4. Recurso especial a que se dá provimento.Poderia o presidente do Tribunal de Justiça deixar de aplicar o entendi-

mento do STJ e inadmitir o Recurso Especial? Seria cabível a interposição de Agravo de Instrumento?

5) “A” interpôs Recurso de Apelação contra determinada sentença, que permitia a criação de um sindicato, alegando que tal decisão ofendia dispo-sitivos da CLT, e era, também, inconstitucional, pois violava o princípio da unidade sindical, previsto no art. 8º da CRFB. O Tribunal, entendendo que não eram procedentes ambos os fundamentos do recurso, manteve a decisão de primeiro grau. “A”, então, interpôs contra esse acórdão Recurso Extraordi-nário, por ofensa ao art. 8º da CRFB, deixando, porém, de interpor Recurso Especial a respeito da matéria infraconstitucional. Pergunta-se:

a) Neste caso, pode ser conhecido o Recurso Extraordinário? Aplica-se, no presente caso, a súmula 283 do STF?

b) Caso fossem interpostos ambos os recursos, especial e extraordinário, qual deles deveria ser julgado em primeiro lugar? Aplica-se, neste caso, a regra do art. 543, §2º do CPC?

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6) Tendo em vista a existência de múltiplos recursos com fundamento em idêntica controvérsia, o Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro escolheu dois recursos representativos da controvérsia, encami-nhando-os ao STF, sobrestando os demais. Pergunta-se:

a) O que deve ser entendido por recursos com fundamentação em idêntica controvérsia? Trata-se de processos ou demandas idênticos? A identidade de demandas deve ser analisada em relação à causa de pedir ou ao pedido?

b) O recorrente que teve o seu recurso sobrestado poderá se insurgir con-tra esta decisão? De que maneira poderá fazê-lo?

c) Antes da remessa dos recursos paradigmas ao STF, o Tribunal “a quo” deve realizar o exame da admissibilidade?

d) Não sendo providos os recursos paradigmas, o que acontecerá com os recursos sobrestados?

e) E no caso de provimento dos recursos extraordinários paradigmas, o que acontecerá com os recursos sobrestados?

f ) E se sobrevier pedido de desistência do recurso paradigma pelo respec-tivo recorrente?

VII. CONCLUSÃO DA AULA:

Em síntese, pode-se afi rmar que tanto o recurso especial como o recur-so extraordinário possuem como destinatários os Tribunais de Superposição (STJ e STF, respectivamente), possuindo como objetivos interpretar a legis-lação (REsp), a Constituição da República (RE) e uniformizar a jurisprudên-cia com relação às normas constitucionais e infraconstitucionais. Ou seja, a análise realizada é exclusivamente de direito, não sendo possível a revisão probatória, possuindo, ainda, sua fundamentação vinculada. Já os embargos de divergência objetivam uniformizar a jurisprudência interna dos citados tribunais, sendo cabíveis, portanto, apenas em sede de REsp, RE e agravo de instrumento.

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17 DINAMARCO, Cândido Rangel. Re-

lativizar a coisa julgada material. In

Nova era do Processo Civil, São Paulo:

Malheiros editores, 2004, p. 217.

18 LIEBMAN, Enrico Tullio. Efi cácia e au-

toridade da sentença e outros escritos so-

bre a coisa julgada. Trad. Alfredo Buzaid

e Benvindo Aires e Notas relativas ao di-

reito brasileiro de Ada Pellegrini. 4ª ed.

Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 113.

UNIDADE V: COISA JULGADA E SUA RELATIVIZAÇÃO.

AULA 21: COISA JULGADA E SUA RELATIVIZAÇÃO.

I. TEMA

Coisa julgada e sua relativização.

II. ASSUNTO

Análise da coisa julgada, suas espécies, e a possibilidade de relativização.

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

O objetivo desta aula consiste em apresentar as noções acerca da coisa julgada e as hipóteses em que ela pode sofrer relativização.

IV. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

1. Efeitos da sentença e autoridade da coisa julgada:

A coisa julgada é uma especial qualidade que imuniza os efeitos substan-ciais da sentença, a bem da estabilidade da tutela jurisdicional17. Embora Chiovenda tenha lançado originariamente esta base teórica sobre o assunto, ao considerar que a coisa julgada é obrigatória para os sujeitos da relação processual, enquanto a sentença existe e vale com respeito a todos, foi Lieb-man quem identifi cou com precisão a diferença entre a efi cácia da sentença e autoridade da coisa julgada 18.

Enquanto a coisa julgada corresponde à efi cácia que torna imutável e in-discutível a sentença, em relação às partes que integram a relação jurídico--processual, sem prejudicar nem benefi ciar terceiros, os efeitos da sentença (condenatórios, constitutivos ou meramente declaratórios) correspondem às alterações que esta decisão judicial produz na realidade jurídica, podendo ocorrer antes do trânsito em julgado, sem o manto da imutabilidade, e bene-fi ciar ou prejudicar terceiros (daí porque se admite a assistência litisconsor-cial, o recurso de terceiro e ação rescisória do terceiro prejudicado).

Assim, todos são afetados pelos efeitos da sentença, até porque as rela-ções jurídicas não existem isoladamente no plano da realidade, mas a própria

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FGV DIREITO RIO 83

19 DINAMARCO, Relativizar cit., p. 221-

222.

20 Para Fredie Didier Jr., Paula Sarno

Braga e Rafael Oliveira deverá estar

presente um quarto pressuposto: “a)

há de ser uma decisão jurisdicional (a

coisa julgada é característica exclusiva

dessa espécie de ato estatal; b) o pro-

vimento há que versar sobre o mérito

da causa (objeto litigioso); c) o mérito

deve ter sido analisado em cognição

exauriente; d) tenha havia a preclusão

máxima (coisa julgada formal)” (Curso

de Direito Processual Civil. Vol. 2. 4ª

edição. Editora JusPodivm: Salvador,

2009. p. 410). Todavia, o conceito de

jurisdição permite a relativização desse

pressuposto. A arbitragem, pelo con-

ceito clássico, não está abarcada pelo

conceito de jurisdição, visto que não é

um ato estatal, contudo, ainda assim,

poderia ser levantada a hipótese de

incidência da coisa julgada material na

sentença arbitral. Um bom fundamento

é que, pelo artigo 475-N, CPC, a senten-

ça arbitral é uma modalidade de título

executivo judicial.

21 DIDIER JR., Fredie e outros. Curso de

Direito Processual Civil, Vol. 3, Recursos.

11ª Edição. Salvador: JusPodium, 2013.

p. 410.

ordem constitucional rejeita que aqueles que não participaram do processo fi quem vinculados à imutabilidade da coisa julgada lá produzida (princípios do devido processo legal, ampla defesa e contraditório).

A coisa julgada pode ser material (quando se projeta para fora do proces-so) ou formal (imutabilidade da sentença em si mesmo — efeito endoproces-sual que põe fi m à relação processual) 19. Representa uma opção política do legislador, que visa a conciliar os princípios da celeridade e segurança, certeza e justiça das decisões, buscando um equilíbrio entre estes vetores muitas vezes contrapostos. Sua previsão constitucional está no art. 5º, XXXVI e infracons-titucional no art. 467 e seguintes do CPC.

Por derradeiro, convém informar que a incidência da coisa julgada mate-rial depende da ocorrência de três pressupostos: a) necessário que haja uma decisão de mérito; b) necessidade de que a decisão proferida seja fruto de cognição exauriente; c) ocorrência da coisa julgada formal 20.

Assim, apenas é formada a coisa julgada material em decisões de mérito em que tenha havido cognição exauriente. Nas decisões de mérito em que o conhecimento foi superfi cial, não há que se falar em coisa julgada material (ex.: antecipação de tutela). Segundo ensinamento de Fredie Didier:

Para que determinada decisão judicial fi que imune pela coisa julga-da material, deverão estar presentes quatro pressupostos: a) há de ser uma decisão jurisdicional (a coisa julgada é característica exclusiva dessa espécie de ato estatal); b) o provimento há que versar sobre o mérito da causa (objeto litigioso); c) o mérito deve ter sido analisado em cognição exauriente; d) tenha havido a preclusão máxima (coisa julgada formal).

Somente decisões de mérito estão aptas a fi car imunes com a coisa julgada. Reputam-se decisões de mérito aquelas em que o magistrado resolve o objeto litigioso (lide, mérito, pedido/causa de pedir), profe-ridas, com base em um dos incisos do art. 269 do CPC (decisões que certifi quem a existência ou inexistência de algum direito). 21

Convém lembrar que a coisa julgada não exerce seu poder sobre todos os aspectos da decisão, mas apenas em relação ao dispositivo. Já a questão preju-dicial apenas fará coisa julgada se houver pedido a esse respeito na inicial ou em ação declaratória incidental. Assim, observem-se os artigos 469 e 470 do CPC, elucidativos a respeito do tema:

Art. 469. Não fazem coisa julgada:I — os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance

da parte dispositiva da sentença;II — a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sen-

tença;

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FGV DIREITO RIO 84

22 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ju-

risdição Coletiva e Coisa Julgada: teoria

geral das ações coletivas. São Paulo: RT,

2006, pp. 29,236. Sobre a possibilidade

de emprego do collateralestoppelpor

terceiro, que não foi parte no processo,

mas detém relação jurídica conexa à

que foi decidida, vide TUCCI, José Rogé-

rio Cruz e. Limites subjetivos da efi cácia

da sentença e da coisa julgada civil. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, pp.

141-151.

23 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A

efi cácia preclusiva da coisa julgada

material no sistema do processo civil

brasileiro. Temas de Direito Processual.

1ª série, São Paulo: Saraiva, 1977, pp.

98-103.

III — a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no processo.

Art. 470. Faz, todavia, coisa julgada a resolução da questão preju-dicial, se a parte o requerer (arts. 5o e 325), o juiz for competente em razão da matéria e constituir pressuposto necessário para o julgamento da lide.

A coisa julgada produz, ainda, um efeito positivo e um efeito negativo. O efeito negativo impede que a questão principal decidida seja novamente deci-dida em outra demanda, como questão principal. Já o efeito positivo da coisa julgada signifi ca a vinculação do julgador à questão decidida anteriormente em outra demanda.

De acordo com o disposto no art. 474 do CPC “passada em julgado a sen-tença de mérito, reputar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e defe-sas, que a parte poderia opor assim ao acolhimento como à rejeição do pedido”.

2. Eficácia preclusiva da coisa julgada:

Ao prever os efeitos preclusivos da coisa julgada, o art. 474 do CPC de-termina que passada em julgado a sentença de mérito, reputar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e defesas, que a parte poderia opor assim ao acolhi-mento como à rejeição do pedido.

Para Rodolfo Mancuso, a técnica da efi cácia preclusiva acolhida por este dispositivo legal opera como uma válvula de segurança do sistema, de modo a imunizar as questões deduzidas e deduzíveis, mas desde que atinentes ao núcleo do themadecidendum, isto é, ao preciso objeto litigioso, técnica que lembra o collateralestoppel, das classactionsdo direito norte-americano, pelo qual consideram-se incluídos no julgado os necessarysteps, ou seja, as premis-sas necessárias à conclusão 22.

Barbosa Moreira entende que há uma relação de instrumentalidade entre os limites objetivos da coisa julgada e a sua efi cácia preclusiva, pois enquanto os limites objetivos geram a imutabilidade do julgado, no que tange à parte dispositiva, a efi cácia preclusiva consiste no impedimento que surge à dis-cussão e apreciação de questões suscetíveis de infl uir neste julgado, cobrindo o deduzido e dedutível. Assim, pode suceder que, de fato, não tenham sido exaustivamente consideradas, no processo, as questões que poderiam infl uir na decisão, sendo vedado que depois de fi ndo o processo se viesse a pôr em dúvida o resultado atingido, acenando-se com tal ou qual questão que haja fi cado na sombra e que, porventura trazida à luz, teria sido capaz de levar o órgão judicial à conclusão diferente da corporifi cada na sentença (ressalvados os casos restritos de rescindibilidade do julgado) 23.

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FGV DIREITO RIO 85

24 BARBOSA MOREIRA, 1977, A efi cácia

preclusiva cit., pp. 98-103.

25 Ibid. p. 422.

O expediente técnico a que se recorre é considerar implicitamente decidi-das pela sentença que transitou em julgado todas as questões, ainda que não apreciadas, cuja solução se devesse reputar idônea para infl uir no conteúdo do pronunciamento judicial. Trata-se de uma fi cção, que não pode estender às questões a autoridade da coisa julgada (não estão imunes à rediscussão em outro processo), já que assim não ocorre nem mesmo entre as questões efeti-vamente apreciadas (a motivação da decisão não faz coisa julgada). Portanto, nem às questões deduzidas nem às dedutíveis se estende a auctoritas rei iudi-catae, mas todas se submetem à efi cácia preclusiva da coisa julgada, para que não venham ser utilizadas como instrumento de ataque ao julgado 24.

Com relação aos limites subjetivos da coisa julgada, estes podem ser inter partes, ultra partes ou erga omnes. A coisa julgada inter partes apenas vincu-la as partes constantes na demanda. A coisa julgada ultra partes atinge não somente as partes do processo, mas terceiros específi cos, sendo exemplo a substituição processual. Por fi m, a coisa julgada erga omnes atinge a todos, indistintamente, mesmo os que não foram parte na demanda.

A coisa julgada pode ser pro et contra, secundum eventum litis e secundum eventum probationis. Assim, tem-se que:

Em primeiro lugar, temos a coisa julgada pro et contra, que é aquela que se forma independentemente do resultado do processo, a teor da decisão judicial proferida. Pouco importa se de procedência ou de im-procedência, a decisão defi nitiva ali proferida sempre será apta a pro-duzir coisa julgada.

(...)Em segundo lugar, temos a coisa julgada secundum eventum litis que

é aquela que somente é produzida quando a demanda for julgada pro-cedente.

(...)Em terceiro e último lugar, subsiste em nosso sistema a coisa julgada

secundum eventum probationis que é aquela que só se forma em caso de esgotamento das provas — ou seja, se a demanda for julgada proce-dente, que é sempre com esgotamento de prova, ou improcedente com sufi ciência de provas. A decisão judicial só produzirá coisa julgada se forem exauridos todos os meios de prova. 25

3. Relativização da coisa julgada, coisa julgada rebus sic stantibus e teoria da im-previsão:

Por fi m, uma questão interessante se coloca: a coisa julgada gera imutabi-lidade absoluta ou relativa? Há possibilidades excepcionais de reabertura da

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FGV DIREITO RIO 86

26 DINAMARCO, Relativizar a coisa julga-

da cit., p. 224.

27 BARBOSA MOREIRA, José Carlos.

Considerações sobre a chamada ‘rela-

tivização’ da coisa julgada material, IN

Temas de Direito Processual. 9ª série.

São Paulo: Saraiva, 2007, pp. 264-265.

discussão (relativização da coisa julgada), quando estão em jogo outros prin-cípios e garantias constitucionais, dentre elas a garantia de acesso à justiça (CRFB, art. 5º, XXXV). “Não é legítimo eternizar injustiças a pretexto de se evitar a eternização de incertezas”26.

Um dos casos mais comuns em que esta questão se coloca é o do advento de coisa julgada sobre reconhecimento de fi liação antes do surgimento do teste de DNA, sendo posteriormente realizado o exame e descoberta a au-sência de vínculo genético. Caso tenha transcorrido o prazo da rescisória, é possível se anular a relação de paternidade comprovadamente inexistente?

Há quem defenda a propositura de ação declaratória de inexistência de coisa julgada, imprescritível, para promover a coincidência entre a verdade formal e a verdade real. Barbosa Moreira, por sua vez, acredita que seria in-teressante uma alteração legislativa neste caso para estabelecer como termo inicial do prazo da rescisória o dia em que o interessado obtém o laudo de DNA, ao invés do trânsito em julgado da sentença rescidenda.27

Há, assim, duas formas de relativização da coisa julgada, quais sejam, a coisa julgada inconstitucional e a coisa julgada injusta inconstitucional. Na primeira hipótese, o fundamento da coisa julgada é uma norma posterior-mente declarada inconstitucional pelo STF. Já na segunda, a coisa julgada produz injustiça extrema, de modo a afrontar valores constitucionais.

4. Jurisprudência:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. INVESTIGA-ÇÃO DE PATERNIDADE. COISA JULGADA E NOVO EXAME DE DNA. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO STF E STJ.

1. Em sede de repercussão geral, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que “não devem ser impostos óbices de natureza processual ao exercício do direito fundamental à busca da identidade genética, como natural emanação do direito de personalidade de um ser, de forma a tornar-se igualmente efeti-vo o direito à igualdade entre os fi lhos, inclusive de qualifi cações, bem assim o princípio da paternidade responsável”. (RE 363889, Relator Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 02/06/2011, DJe-15-12-2011).

2. No caso, a improcedência do pedido na ação primeva de investigação de paternidade não decorreu da exclusão do vínculo genético por prova pe-ricial, mas sim por insufi ciência de elementos para o reconhecimento ou a exclusão da paternidade, motivo pelo qual a condição de pai não foi cabal-mente descartada naquele feito.

3. Para a admissibilidade do recurso especial, na hipótese da alínea “c” do permissivo constitucional, é imprescindível a indicação das circunstâncias que identifi quem ou assemelhem os casos confrontados, mediante o cotejo dos fun-

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FGV DIREITO RIO 87

damentos da decisão recorrida com o acórdão paradigma, a fi m de demonstrar a divergência jurisprudencial existente (arts. 541 do CPC e 255 do RISTJ).

4. A jurisprudência do STJ fi rmou-se no sentido de que, nas hipóteses de dissídio jurisprudencial notório, é possível haver mitigação de exigências de natureza formal para o conhecimento do recurso especial com esse funda-mento.

5. Agravo regimental não provido.(STJ. AgRg no REsp 1215172. Rel. Min. Luís Felipe Salomão. Quarta

Turma. J. 5/3/2013. DJ. 11/3/2013)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. AÇÃO E RECONVEN-ÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE CINDIR A COISA JULGADA. TRÂN-SITO EM JULGADO QUE

ACONTECE APENAS DEPOIS DA ÚLTIMA DECISÃO ACERCA DO ÚLTIMO RECURSO INTERPOSTO CONTRA O JULGADO RESCINDENDO. REQUISITO NÃO PREENCHIDO.

1. É de se destacar que os órgãos julgadores não estão obrigados a examinar todas as teses levantadas pelo jurisdicionado durante um processo judicial, bastando que as decisões proferidas estejam devida e coerentemente funda-mentadas, em obediência ao que determina o art. 93, inc. IX, da Constitui-ção da República vigente. Isto não caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC.

2. Não há como apreciar o mérito da controvérsia com base na dita malversação do artigo 267, inciso VI, do CPC e do art. 41, §4º, da Lei nº 8666/93, uma vez que não foram objeto de debate pela instância ordinária, o que inviabiliza o conhecimento do especial no ponto por ausência de pre-questionamento. Incide ao caso a súmula 282 do STF.

3. A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça fi rmou o entendimen-to de que o termo inicial para ajuizamento de ação rescisória se inicia com o trânsito em julgado material, o qual somente ocorre quando esgotada a possibilidade de interposição de qualquer recurso, sendo incabível o trânsito em julgado de capítulos da sentença ou do acórdão em momentos diversos (EREsp 404777/DF, Rel. Ministro FONTES DE ALENCAR, Rel. p/Acór-dão Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, CORTE ESPECIAL, julgado em 03/12/2003, DJ 11/04/2005).

4. No presente caso, a ora recorrente ajuizou ação ordinária, tendo havi-do reconvenção, em que se discutia a ocorrência de fraude em processo de licitação — cujo objeto era prestação de serviço de radiodifusão sonora e de imagens em Curitiba. Foi julgada parcialmente procedente a ação principal e declarada nula a habilitação da ré Radio e Televisão Canal 29 do Estado do Paraná Ltda. no processo licitatório, e procedente a reconvenção aforada naqueles autos pela empresa ré, tendo sido declarada desclassifi cada a autora da ação rescisória Porto de Cima Rádio e Televisão Ltda. Contra a referida

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FGV DIREITO RIO 88

sentença foram interpostas apelações, tendo o Tribunal mantido a sentença integralmente. Interpostos Recursos Especial e Extraordinário, foram eles ad-mitidos. O recurso especial apresentado da matéria tratada na reconvenção foi apreciado pelo STJ, já com trânsito em julgado. Todavia, conforme cons-tatado pelo acórdão recorrido, o recurso extraordinário, apresentado inter-posto pela Requerente Radio e Televisão Canal 29 do Paraná Ltda. em face do acórdão deste Tribunal no julgamento das apelações, encontra-se penden-te de apreciação pelo Supremo Tribunal Federal. Portanto, ausente o trânsito em julgado, inadmissível o ajuizamento da ação rescisória.

5. Embora sejam autônomas, a reconvenção e a ação principal são julgadas na mesma sentença, ou seja, as duas são resolvidas no mesmo ato judicial. Assim, como o prazo decadencial da ação rescisória deve ter como termo inicial o dia seguinte da data em que transitou em julgado o último recurso interposto contra sentença ou acórdão, seja ela parcial ou integral, em razão da impossibilidade de cindir a coisa julgada, o início da contagem do prazo para a apresentação da rescisória, no presente caso, só se dará com o trânsito em julgado do processo em que foi apresentada a reconvenção.

6. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.(STJ. REsp 1.353.473. Rel. Min. Mauro Campbell. Segunda Turma. J.

21/5/2013. DJ. 28/5/2013.

V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS

Leitura obrigatória:

DIDIER JR., Fredie e outros. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 3, Re-cursos. 11ª Edição. Salvador: JusPodium, 2013. Capítulo XII (Coisa Julgada).

VI. AVALIAÇÃO

Caso gerador:

1) XV Concurso para seleção de estagiários. Procuradoria da Repú-blica do Mato Grosso. Discorra sobre o instituto da coisa julgada, abor-dando os seguintes pontos: a) conceito, função e importância; b) natu-reza jurídica; c) espécies; d) alcance dos limites subjetivos e objetivos; e) incidência nas relações jurídicas de trato sucessivo (sentenças determinativas);f) coisa julgada inconstitucional e sua admissibilidade (espaço máximo: 30 linhas).

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FGV DIREITO RIO 89

VII. CONCLUSÃO DA AULA:

As decisões prolatadas em sede judicial são suscetíveis de impugnação por meio dos recursos. Contudo, essa possibilidade não pode ser eterna, deven-do-se garantir estabilidade e segurança das decisões judiciais a partir de de-terminado momento. Assim, quando esgotados ou não utilizados na forma e prazo corretos, a decisão fi nal torna-se imutável e indiscutível. Trata-se do instituto da coisa julgada.

A coisa julgada formal é a imutabilidade da decisão dentro do processo em que foi proferida, não produzindo efeitos externos. Trata-se de efeito en-doprocessual ou, ainda, uma espécie de preclusão. É etapa necessária para a formação da coisa julgada material, quando não mais se pode discutir a questão, em outra demanda. Contudo, há exceções, como a ação rescisória e a ação de querela nullitatis, possíveis em situações específi cas e estudadas posteriormente.

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FGV DIREITO RIO 90

28 MIRANDA, Pontes de. Comentários ao

Código de Processo Civil. Tomo VII, nota

3 ao capítulo I do título X. Forense: RJ-

-SP, 1975, p. 7.

29 Nelson Nery Junior considera como

sucedâneos recursais a remessa obri-

gatória, a correição parcial, o pedido

de reconsideração, a argüição de rele-

vância da questão federal no recurso

extraordinário, e ações autônomas de

impugnação – como a ação rescisória,

embargos de terceiros, mandados de

segurança contra ato judicial -(NERY

JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos re-

cursos. 6ª ed. São Paulo: RT, 2004, pp.

75-107).

30 Comentários ao Código de Processo

Civil, Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de

1973, vol. V: arts. 476 a 565. Rio de Ja-

neiro: Forense, 2005. p. 100.

UNIDADE VI: AÇÕES AUTÔNOMAS DE IMPUGNAÇÃO E REEXAME NECESSÁRIO.

AULA 22: AÇÕES AUTÔNOMAS DE IMPUGNAÇÃO E REEXAME NECESSÁRIO.

I. TEMA

Ações autônomas de impugnação e reexame necessário.

II. ASSUNTO

Análise das ações autônomas de impugnação e reexame necessário.

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

O objetivo da aula é o estudo das ações autônomas de impugnação e do reexame necessário: suas hipóteses de cabimento, forma, prazo, etc.

IV. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

“Há mais meios de impugnação do que recursos, posto que todo recurso seja meio de impugnação”. 28

1. Ações autônomas de impugnação:

Há vários meios de impugnação de decisões judiciais, alguns conhecidos pelo nome de sucedâneos recursais 29, que não se confundem com os recursos previstos em lei.

Um deles é a ação rescisória (CPC, artigos 485 a 495): ação autônoma de impugnação da coisa julgada material, cujas hipóteses legais de cabimento es-tão previstas no art. 485 do CPC. O prazo decadencial para a sua propositura é de 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da decisão.

Importante mencionar que “Chama-se ação rescisória à ação por meio da qual se pede a desconstituição de sentença trânsita em julgado, com eventual rejulgamento, a seguir, da matéria nela julgada” 30. Partindo desse conceito, percebe-se que o instituto pode ser qualifi cado como uma espécie de julga-mento do julgamento.

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FGV DIREITO RIO 91

31 DIDIER JR., Fredie e outros. Curso de

Direito Processual Civil, Vol. 3, Recursos.

11ª Edição. Salvador: JusPodium, 2013.

p. 531.

32 §2º do art. 475 do CPC.

33 §3º do art. 475 do CPC.

Outra é a ação de invalidação de sentença arbitral. As hipóteses de nulidade da sentença arbitral estão previstas nos incisos do art. 32 da Lei 9307/96, e o meio de impugnação junto ao Judiciário é a ação ordinária de declaração de nulidade, que deve ser proposta no prazo de até noventa dias após o recebimento da notifi cação da sentença arbitral.

Há, ainda, o mandado de segurança (CRFB, art. 5o, LXIX, LXX, da Lei 1.533/51), cabível contra atos judiciais quando: i) estes forem irrecorríveis; e ii) quando o recurso previsto em lei não for sufi ciente, por si só, para evitar lesão a direito.

Existe, também a possibilidade de propositura de ação anulatória, confor-me a previsão do art. 486 do CPC, bem como ação declaratória de inexis-tência, actio nulitatis, em situações especiais, como por exemplo quando o vício do processo consistir e falta de pressuposto de existência, como é o caso da falta de citação.

2. Reexame necessário:

O reexame necessário é sucedâneo recursal, cujas hipóteses de cabimento estão elencadas nos incisos do art. 475 do CPC. Reveste-se da “natureza de condição de efi cácia da sentença, não ostentando feição de recurso” 31.

Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produ-zindo efeito senão depois de confi rmada pelo tribunal, a sentença:

I — proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Muni-cípio, e as respectivas autarquias e fundações de direito público;

II — que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução de dívida ativa da Fazenda Pública (art. 585, VI).

Cabe destacar que não há prazo de interposição, já que não é recurso e decorre de imperativo legal, bem como não há necessidade de observância de regularidade formal. Cabe ao juiz, na prolação de sentença enquadrada em uma das hipóteses elencadas acima, determinar de ofício a remessa dos autos ao tribunal.

Por fi m, os §§ 2º e 3º do CPC trazem hipóteses em que o reexame ne-cessário pode ser dispensado: i) quando a condenação, ou o direito contro-vertido, for de valor certo não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, bem como no caso de procedência dos embargos do devedor na execução de dívida ativa do mesmo valor 32; e ii) quando a sentença estiver fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do tribunal superior competente 33.

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FGV DIREITO RIO 92

3. Jurisprudência:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ES-PECIAL. OBSERVÂNCIA DA CORREÇÃO MONETÁRIA EM SEDE DE REEXAME NECESSÁRIO. NÃO OCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO NON REFORMATIO IN PEJUS E DA INÉRCIA DA JURISDIÇÃO. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA QUE NÃO DE-PENDE DE RECURSO VOLUNTÁRIO PARA A CORTE ESTADUAL.

1. A correção monetária, assim como os juros de mora, incide sobre o objeto da condenação judicial e não se prende a pedido feito em primeira instância ou a recurso voluntário dirigido à Corte estadual. É matéria de or-dem pública, cognoscível de ofício em sede de reexame necessário, máxime quando a sentença afi rma a sua incidência, mas não disciplina expressamente o termo inicial dessa obrigação acessória.

2. A explicitação do momento em que a correção monetária deverá incidir no caso concreto feita em sede de reexame de ofício não caracteriza reformatio in pejus contra a Fazenda Pública estadual, tampouco ofende o princípio da inércia da jurisdição.

3. Agravo regimental não provido.(STJ. AgRg no REsp 1.291.244. Rel. Min. Benedito Gonçalves. Primeira

Turma. D. 26/2/2013. DJ. 5/3/2013).

V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS

Leitura obrigatória:

DIDIER JR., Fredie e outros. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 3, Recursos. 11ª Edição. Salvador: JusPodium, 2013. Capítulo IX (Ação resci-sória); Capítulo X (Ação de nulidade da sentença — querela nullitatis); Ca-pítulo XI (Reclamação constitucional); Capítulo XII (Reexame necessário); Capítulo XIII (Pedido de suspensão de segurança).

VI. AVALIAÇÃO

Caso gerador:

1) Em demanda que versa sobre dissolução de sociedade empresarial, foi o extinto o processo, com resolução do mérito, sendo o fundamento o art. 269, III, do CPC. Houve sentença homologatória de transação das partes. Após o

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trânsito em julgado, uma das partes propôs ação rescisória com base no inciso VIII do art. 485 do CPC. Pergunta-se:

a) É cabível a ação rescisória no caso apresentado? Justifi que.b) Quais são as hipóteses em que é cabível a ação rescisória?

VII. CONCLUSÃO DA AULA:

Além dos recursos previstos taxativamente no art. 496 do CPC, existem as ações autônomas de impugnação e os sucedâneos recursais, todos com o objetivo de atacar decisões judiciais.

O reexame necessário é espécie de sucedâneo recursal, pois, mesmo não sendo recurso taxativamente previsto, certas decisões apenas produzem efeito após confi rmação do Tribunal, mesmo sem a interposição de apelação pelas partes, de acordo com o art. 475, incisos I e II, do CPC.

Já as ações autônomas de impugnação são demandas autônomas que vi-sam desconstituir decisão judicial proferida em outro processo. Há instau-ração de nova relação jurídica e de novo processo, não sendo obstada, pois, pela coisa julgada, já que objetiva sua desconstituição, como ocorre no caso da ação rescisória.

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UNIDADE VII: RECURSOS NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS.

AULAS 23 E 24: RECURSOS NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS.

I. TEMA

Recursos nos Juizados Especiais Cíveis.

II. ASSUNTO

Análise dos recursos nos Juizados Especiais Cíveis.

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

O objetivo desta primeira aula consiste em apresentar as noções dos recur-sos existentes nos Juizados Especiais Cíveis.

IV. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

1. Juizados Especiais Cíveis: Lei n. 9.099/95.

Nos Juizados Especiais Cíveis Estaduais, são previstos expressamente pelaLei n. 9.099/95 dois recursos, quais sejam, o recurso inominado e os embar-gos de declaração.

1) Recurso inominado: artigos 41 a 46 da Lei n. 9.099/95.

O recurso inominado tem por objeto a sentença, tendo efeito meramente devolutivo (salvo quando visa evitar dano irreparável para a parte) e sendo julgado por turma composta por três Juízes togados, em exer cício no primei-ro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado. Neste recurso, as partes são obrigatoriamente representadas por advogado.

2) Embargos de declaração: artigos 48 a 50 da Lei n. 9.099/95.

Os embargos de declaração são opostos quando, na sentença ou no acór-dão, houver obscuridade, contradição, omissão ou dúvida.

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Além destes, há também a possibilidade de interposição de recurso extraordiná rio, nas hipóteses previstas no art. 102, III da CRFB.

Há uma polêmica sobre a adoção pelo JEC Estadual da regra da irrecor-ribilidade das decisões interlocutórias, não havendo nenhuma previsão do agravo de instru mento, muito embora algumas Turmas recursais venham o admitindo, principal mente no caso de tutelas de urgência.

2. Juizados Especiais Federais: Lei n. 10.259/2001.

Nos Juizados Especiais Federais (Lei n. 10.259/2001), ao qual se apli-ca subsidiariamente a Lei n. 9.099/95 (adotando-se os mesmos recursos ali previstos), por sua vez, admite-se expressamente o deferimento de medidas cautelares no curso do processo, para evitar dano de difícil reparação (art. 4º), sendo cabível recurso desta decisão (o agravo de instrumento, no caso).

V. RECURSOS/MATERIAIS UTILIZADOS

Leitura obrigatória:

TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à Lei 9.099/1995. 5ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, pp. 286-296 e pp. 320-322.

CUNHA, Luciana Gross. Juizado especial: criação, instalação e funcionamento e a democratização do acesso à justiça. São Paulo: Saraiva, 2008. (série produ-ção científi ca).

Secretaria de Reforma do Judiciário e Centro Brasileiro de Estudos e Pesqui-sas Judiciais Juizados especiais cíveis: estudo. Brasília, DF: Secretaria de Refor-ma do Judiciário: CEBEPEJ, 2006. Disponível em <http://www.cebepej.org.br/>. Acesso em 5 jun. 2013.

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ANEXO I: QUESTÕES DE PROVA. GABARITOS E FUNDAMENTAÇÃO.

1) No âmbito do Direito Processual Civil, os legitimados ativos que pro-ponham ação e interponham recursos poderão desistir deles, desde que res-peitados os seguintes termos (IV Exame de Ordem Unifi cado. FGV. Julho de 2011. Questão 42. Prova tipo 1. Branca):

a) O credor poderá desistir de toda execução ou apenas de algumas me-didas executivas, desde que suporte as custas e honorários advocatícios de-correntes da extinção dos embargos que versarem somente sobre questões processuais e, nos demais casos, quando houver anuência do embargante.

b) O recorrente poderá desistir do recurso interposto a qualquer tempo, desde que não se trate de litisconsórcio e que a parte contrária, uma vez inti-mada, manifeste expressamente sua anuência.

c) Na intervenção de terceiros, a assistência obsta a que a parte principal desista da ação, que somente poderá ocorrer com a anuência expressa do as-sistente. Nesse caso, a desistência independe de homologação por sentença.

d) A desistência da ação, que produz efeitos somente depois de homolo-gada por sentença, implica extinção do processo com resolução do mérito. Caso tenha transcorrido o prazo para resposta do réu, o pedido de desistência estará sujeito ao seu consentimento.

Gabarito: Letra AFundamento: Art. 569, caput e parágrafo único, “a” e “b”, do CPC

Art. 569. O credor tem a faculdade de desistir de toda a execução ou de apenas algumas medidas executivas.

Parágrafo único. Na desistência da execução, observar-se-á o se-guinte:

a) serão extintos os embargos que versarem apenas sobre ques-tões processuais, pagando o credor as custas e os honorários advo-catícios;

b) nos demais casos, a extinção dependerá da concordância do embargante.

2) A respeito dos recursos no processo civil, assinale a opção correta (Exa-me de Ordem Unifi cado 2008.1. Cespe. Maio de 2008. Questão 40. Cader-no Alfa):

a) Não cabe interposição de recurso ordinário para o STJ contra decisão proferida por juiz que atua em primeiro grau de jurisdição.

b) Caso haja sucumbência recíproca, admite-se, na apelação, no agravo de instrumento, nos embargos infringentes, nos recursos especial e extraor-dinário, o recurso adesivo, ao qual se aplicam as mesmas regras do recurso independente.

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c) Caso o recorrente alegue no recurso de apelação e seja reconhecida a nu-lidade da citação, o tribunal determinará o retorno dos autos ao juízo de pri-meiro grau, o qual, por sua vez, deve determinar a repetição do ato citatório.

d) Com a oposição dos embargos de declaração, ocorre a interrupção do prazo para a interposição de outros recursos, por qualquer das partes, salvo se for ele intempestivo.

Gabarito: Letra DFundamento: Art. 538, caput, do CPC

Art. 538. Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de outros recursos, por qualquer das partes.

Parágrafo único. Quando manifestamente protelatórios os em-bargos, o juiz ou o tribunal, declarando que o são, condenará o em-bargante a pagar ao embargado multa não excedente de 1% (um por cento) sobre o valor da causa. Na reiteração de embargos protelatórios, a multa é elevada a até 10% (dez por cento), fi cando condicionada a interposição de qualquer outro recurso ao depósito do valor respectivo.

3) A respeito dos recursos, assinale a opção correta (Exame de Ordem Unifi cado 2008.3. Cespe. Janeiro de 2009. Questão 44. Caderno Alfa):

a) O recebimento do recurso de apelação pelo juiz comporta a interposi-ção de recurso de agravo de instrumento.

b) Tratando-se de sentença ultra ou extra petita, o autor não detém inte-resse em recorrer.

c) Cabe ação direta de inconstitucionalidade contra súmula vinculante, nas mesmas hipóteses relacionadas à lei em sentido formal.

d) Ocorre o efeito expansivo subjetivo quando o julgamento do recurso atinge outras pessoas além do recorrente e do recorrido.

Gabarito: Letra DFundamento: DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da.

Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3. 7ª ed. Salvador: Juspodivm, 2009, p. 88.

Em regra, a interposição do recurso produz efeitos apenas para o recorrente (princípio da personalidade do recurso).

O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus interesses (art. 509, CPC). A regra só se aplica AP litisconsórcio unitário, pois nos outros casos a comu-nicação de efeitos dos recursos aos co-litigantes omissos não se impõe, pela desnecessidade da uniformidade da disciplina. Convém lembrar, porém, que, por opção legislativa, o recurso interposto por um devedor solidário estende os seus efeitos aos demais, mesmo não sendo unitá-rio o litisconsórcio — pois a solidariedade pode implicar litisconsórcio

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unitário ou simples, a depender da divisibilidade ou não do bem jurí-dico envolvido (CC — 2002, arts. 257 a 263). Como se vê, o que se chama de efeito expansivo subjetivo não é uma conseqüência natural do julgamento de um recurso, mas uma regra própria do litisconsórcio unitário, aplicável no âmbito recursal.

Os embargos de declaração interpostos por uma das partes inter-rompem o prazo para a interposição de outro recurso para ambas as partes, e não apenas para aquela que embargou (art. 538, caput, CPC). É, também aqui, um caso de expansão subjetiva do efeito do recurso.

4) Com relação aos recursos, assinale a opção correta (Exame de Ordem Unifi cado 2009.3. Cespe. Janeiro de 2010. Questão 39. Caderno Azul):

a) Se o relator deferir, em antecipação de tutela, a pretensão recursal, da decisão caberá agravo.

b) O recorrente pode desistir, parcial ou totalmente, do recurso interposto.c) Caberá apelação da decisão do juiz singular que excluir da lide uma das

partes, por ilegítima, prosseguindo o processo em relação à outra.d) Do acórdão que reformar sentença terminativa, por maioria de votos,

caberão embargos infringentes.Gabarito: Letra BFundamento: Art. 501 do CPC

Art. 501. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso.

5) Considerando o que dispõe o CPC a respeito de recursos, assinale a opção correta.

a) O MP tem legitimidade para recorrer somente no processo em que é parte.

b) A desistência do recurso interposto pelo recorrente depende da concor-dância do recorrido.

c) Havendo sucumbência recíproca e sendo proposta apelação por uma parte, será cabível a interposição de recurso adesivo pela outra parte.

d) A procuração geral para o foro, conferida por instrumento público, habilita o advogado a desistir do recurso.

Gabarito: Letra CFundamento: Art. 500, caput e inciso II, do CPC

Art. 500. Cada parte interporá o recurso, independentemente, no prazo e observadas as exigências legais. Sendo, porém, vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir a ou-

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tra parte. O recurso adesivo fi ca subordinado ao recurso principal e se rege pelas disposições seguintes:

I — será interposto perante a autoridade competente para admitir o recurso principal, no prazo de que a parte dispõe para responder;

II — será admissível na apelação, nos embargos infringentes, no recurso extraordinário e no recurso especial;

III — não será conhecido, se houver desistência do recurso princi-pal, ou se for ele declarado inadmissível ou deserto.

Parágrafo único. Ao recurso adesivo se aplicam as mesmas regras do recurso independente, quanto às condições de admissibilidade, preparo e julgamento no tribunal superior.

6) Ajuizada ação de indenização por danos morais, o autor foi devidamen-te intimado para apresentar emenda à inicial, haja vista não estarem presentes os requisitos exigidos nos arts. 282 e 283 do CPC. O autor, contudo, não apresentou a devida emenda, tendo sido indeferida a petição inicial. Nessa situação, caso entenda que sua petição inicial preenche os requisitos, o au-tor poderá interpor (Exame de Ordem Unifi cado 2010.1. Cespe. Junho de 2010. Questão 42. Caderno Afonso Arinos):

a) Agravo de instrumento, independentemente da citação do réu, sendo possível a retratação pelo juiz.

b) Apelação, processada com a determinação de citação do réu e sem pos-sibilidade de retratação pelo juiz.

c) Agravo retido, com a determinação de citação do réu, sendo possível a retratação pelo juiz.

d) Apelação, processada independentemente da citação do réu, sendo pos-sível a retratação da decisão pelo juiz.

Gabarito: Letra DFundamento: Art. 296, caput, do CPC

Art. 296. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, fa-cultado ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, reformar sua decisão.

Parágrafo único. Não sendo reformada a decisão, os autos serão imediatamente encaminhados ao tribunal competente.

7) No que se refere à apelação, assinale a opção correta (Exame de Ordem Unifi cado 2008.2. Cespe. Setembro de 2008. Questão 44. Caderno Terra):

a) Constatando a ocorrência de nulidade sanável, o tribunal sempre de-volverá os autos ao juiz prolator da sentença para que este tome medidas que possam saná-las.

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b) Se o pedido ou a defesa possuírem mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação não poderá devolver ao tribunal o conhe-cimento dos demais.

c) Quando o processo tiver sido extinto sem julgamento de mérito, é de-feso ao tribunal julgar desde logo a lide, devendo devolver o processo para julgamento pelo juiz de primeiro grau.

d) O tribunal apreciará e julgará todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença recorrida não as tenha julgado por inteiro.

Gabarito: Letra DFundamento: Art. 515, §1º, do CPC

Art. 515. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.

§1o Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribu-nal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro.

§2o Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhe-cimento dos demais.

§3o Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento.

§4o Constatando a ocorrência de nulidade sanável, o tribunal pode-rá determinar a realização ou renovação do ato processual, intimadas as partes; cumprida a diligência, sempre que possível prosseguirá o julga-mento da apelação.

8) A respeito do agravo, assinale a opção correta (Exame de Ordem Unifi -cado 2008.1. Cespe. Maio de 2009. Questão 45. Caderno Delta):

a) O novo regime jurídico de impugnação das decisões interlocutórias estabelece como regra que o recurso contra essas decisões é o agravo de ins-trumento.

b) O agravo será na forma retida quando interposto contra decisão que não tenha admitido a apelação.

c) Não se admite juízo de retratação no agravo retido.d) O recurso cujo objetivo seja o reexame da decisão do juiz sobre os efei-

tos em que foi recebida a apelação é o agravo de instrumento.Gabarito: Letra DFundamento: Art. 522, caput, do CPC

Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de deci-

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são suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento.

Parágrafo único. O agravo retido independe de preparo.

9) Em um processo que observa o rito comum ordinário, o juiz profere decisão interlocutória contrária aos interesses do réu. É certo que, se a de-cisão em questão não for rapidamente apreciada e revertida, sofrerá a parte dano grave, de difícil ou impossível reparação. Assim sendo, o advogado do réu prepara o recurso de agravo de instrumento, cuja petição de interposição contém a exposição dos fundamentos de fato e de direito, as razões do pedi-do de reforma da decisão agravada, além do nome e endereço dos advogados que atuam no processo. A petição está, ainda, instruída com todas as peças obrigatórias que irão formar o instrumento do agravo. Contudo, o agravante deixou de requerer a juntada, no prazo legal, aos autos do processo, de cópia da petição do agravo de instrumento e do comprovante de sua interposição, assim como a relação dos documentos que instruíram o recurso, fato que foi arguido e provado pelo agravado. Com base no relatado acima, assinale a alternativa correta a respeito da consequência processual decorrente.

a) Haverá prosseguimento normal do recurso, pois tal juntada caracteriza mera faculdade do agravante.

b) Não será admitido o agravo de instrumento.c) O agravo de instrumento será julgado pelo tribunal, inviabilizando-se,

apenas, o exercício do juízo de retratação pelo magistrado.d) Estará caracterizada a litigância de má-fé, por força de prática de ato

processual manifestamente protelatório, devendo a parte agravante ser san-cionada, e o feito, extinto sem resolução do mérito.

Gabarito: Letra BFundamento: Art. 526 do CPC

Art. 526. O agravante, no prazo de 3 (três) dias, requererá juntada, aos autos do processo de cópia da petição do agravo de instrumento e do comprovante de sua interposição, assim como a relação dos docu-mentos que instruíram o recurso.

Parágrafo único. O não cumprimento do disposto neste artigo, desde que argüido e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo.

10) O duplo grau de jurisdição obrigatório, também conhecido como reexame necessário ou recurso de ofício, é instituto contemplado no art. 475 do CPC e visa a proteger a Fazenda Pública, constituindo uma de suas prin-

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cipais prerrogativas. Com relação a esse instituto, é correto afi rmar que: (VII Exame de Ordem Unifi cado. FGV. Maio de 2012. Questão 40. Prova tipo 1. Branca)

a) se aplica o duplo grau de jurisdição obrigatório a toda decisão proferida contra Fazenda Pública.

b) é pressuposto de admissibilidade do reexame necessário a interposição de apelação pela Fazenda.

c) se aplica o duplo grau obrigatório à sentença que julga procedente, no todo ou em parte, embargos à execução de dívida ativa da Fazenda Pública, independentemente do valor do débito.

d) não se aplica o duplo grau obrigatório se a sentença estiver fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal.

Gabarito: Letra E.Fundamento: Art. 475, §3º, do CPC

Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produ-zindo efeito senão depois de confi rmada pelo tribunal, a sentença:

I — proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Muni-cípio, e as respectivas autarquias e fundações de direito público;

II — que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução de dívida ativa da Fazenda Pública (art. 585, VI).

§1o Nos casos previstos neste artigo, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, haja ou não apelação; não o fazendo, deverá o presi-dente do tribunal avocá-los.

§2o Não se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenação, ou o direito controvertido, for de valor certo não excedente a 60 (ses-senta) salários mínimos, bem como no caso de procedência dos embar-gos do devedor na execução de dívida ativa do mesmo valor.

§3o Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sen-tença estiver fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do tribunal su-perior competente.

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ANEXO II: INFORMATIVOS DO STF E DO STJ SOBRE RECURSOS NO PROCESSO CIVIL.

INFORMATIVOS 2012 DO STF

Informativo 659: 19 a 23 de março de 2012

Tempestividade de recurso e momento de comprovação

É admissível comprovação posterior de tempestividade de recurso extraor-dinário quando houver sido julgado extemporâneo por esta Corte em virtude de feriados locais ou de suspensão de expediente forense no tribunal a quo. Com base nessa orientação, o Plenário, por maioria, proveu agravo regimen-tal interposto de decisão do Min. Cezar Peluso, Presidente, que negara segui-mento a recurso extraordinário, do qual relator, a fi m de permitir o seu regu-lar trâmite. Ressaltou-se que, na verdade, o recurso seria tempestivo, mas não houvera prova a priori disto. Assim, reputou-se aceitável a juntada ulterior de documentação a indicar a interposição do extraordinário no seu prazo. O Min. Marco Aurélio frisou haver, na espécie, defi ciência cartorária, porque a serventia deveria ter consignado o fechamento do foro em razão de feriado local. O Min. Luiz Fux sublinhou aplicar-se a regra do art. 337 do CPC (“A parte, que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o determinar o juiz”). Vencido o Min. Celso de Mello, que negava provimento ao agravo. RE 626358 AgR/MG, rel. Min. Cezar Peluso, 22.3.2012. (RE-626358)

Informativo 668: 28 de maio a 1º de junho de 2012

Ação rescisória: termo inicial e legitimidade de parte

O termo inicial do prazo de decadência para a propositura da ação res-cisória coincide com a data do trânsito em julgado do título rescindendo. Ademais, recurso inadmissível não tem o efeito de empecer a preclusão. Com base no exposto, a 1ª Turma deu provimento a recurso extraordinário para assentar a decadência de ação rescisória ajuizada pela União, proposta 7 anos após proferida sentença rescindenda. Desta, a União interpusera su-cessivos recursos, considerados inadmissíveis ante a sua ilegitimidade para fi gurar como parte. Consignou-se que, uma vez verifi cada a coisa julgada, surgiria garantia constitucional — intangibilidade — mitigada pela própria Constituição por ação de impugnação autônoma, qual seja, a rescisória, cujo ajuizamento deveria ocorrer no prazo decadencial assinado em lei (2 anos).

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Asseverou-se que os referidos recursos não poderiam projetar no tempo o termo inicial para o ajuizamento de ação rescisória, especialmente, por terem sido interpostos por pessoa destituída de legitimidade ativa. Afi rmou-se que beiraria a extravagância entender que terceiro pudesse evitar a preclusão de ato judicial atinente a confl ito de interesses entre partes individualizadas. RE 444816/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 29.5.2012. (RE-444816)

Informativo 679: 10 a 14 de setembro de 2012

Repercussão geral: exigência de preliminar e tempestividade de recurso — 2

É indispensável capítulo específi co de repercussão geral da questão cons-titucional no recurso extraordinário, mesmo que a matéria já tenha sido reconhecida em processo diverso. Essa a conclusão do Plenário ao resolver questão de ordem suscitada em agravo regimental em recurso extraordinário com agravo em que se alegava que a matéria contida nos autos tivera sua repercussão geral reconhecida em outro julgamento e, portanto, implicita-mente presente o requisito. O Min. Cezar Peluso, na Presidência, não admi-tira o recurso extraordinário, ante a ausência de apresentação de preliminar formal e fundamentada de repercussão geral (CPC, art. 543-A, § 2º) — v. Informativo 668. Deliberou-se pela negativa de provimento a recursos desti-tuídos dessa preliminar. O Min. Gilmar Mendes acompanhou a conclusão, porém, por fundamento diverso. Pontuou a necessidade de se relativizar os pressupostos de admissibilidade dos recursos. Destacou que a fl exibilização dos requisitos de acolhimento do recurso extraordinário seria imperativo ló-gico da sistemática da repercussão geral, a partir da análise de relevância do tema. Enfatizou que repercussão geral presumida (CPC, art. 543-A, § 3º) seria diferente daquela já apreciada. No primeiro caso, a preliminar formal de repercussão seria exigência legal, conforme esta Corte já decidira no julga-mento do RE 569476 AgR/SC (DJe de 25.4.2008). Entendeu que a menor rigidez diria respeito à segunda hipótese, quando o STF efetivamente se ma-nifestara sobre a relevância do tema, reconhecendo ou rejeitando a repercus-são. Sustentou ser necessário racionalizar as decisões do Poder Judiciário para que fossem uniformes e tomadas em tempo razoável, de modo a atender ao princípio da celeridade processual. Na espécie, todavia, asseverou não assistir razão ao agravante, porquanto haveria questão processual a anteceder o méri-to da controvérsia: a intempestividade do recurso de apelação. ARE 663637 QO-AgR/MG, rel. Ministro Presidente, 12.9.2012. (ARE-663637)

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INFORMATIVOS 2012 DO STJ

Informativo 490: 1º a 10 de fevereiro de 2012

Art. 526 do CPC. Alegação de descumprimento. Comprovação por meios diver-sos da juntada de certidão.

A Turma, ao prosseguir o julgamento, deu provimento ao agravo regimen-tal ao entender que o parágrafo único do art. 526 do CPC não determina a forma pela qual será provado o descumprimento, sendo possível acompro-vação por outros meios, que não a certidão cartorária, como modo efi caz de atestar a negativa da exigência imposta à parte. Precedente citado: AgRg no Ag 1.276.253-GO, DJe de 21/9/2010. AgRg nos EDcl no AREsp 15.561-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 2/2/2012.

Divergência em matéria processual. Falta de prequestionamento pela parte ven-cedora.

A Seção, por maioria, entendeu ser possível o conhecimento dos embargos de divergência, quando caracterizada a divergência entre o acórdão embarga-do e o paradigma sobre questão de direito processual civil, mesmo que não haja similitude fática entre os pressupostos de fato do processo. Quanto ao grau de devolução do REsp, a Seção aduziu que o STJ pode apreciar os funda-mentos invocados pela parte vencedora na instância de origem, mas não exa-minados no acórdão recorrido, que deferiu o pedido por outro fundamento, sem necessidade de prequestioná-lo, haja vista não ter interesse processual na interposição de nenhum recurso. Em atenção ao princípio da eventualidade, a parte vencedora nas instâncias ordinárias pode suscitar a questão omitida pelo tribunal a quo nas contrarrazões do REsp interposto pela parte venci-da. EREsp 595.742-SC, Rel. originário Min. Massami Uyeda, Rel. para o acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgados em 14/12/2011.

Informativo 492: 27 de fevereiro a 9 de março de 2012

Liquidação de sentença. Inclusão. Capitalização de juros.

A Seção decidiu que a inclusão de juros remuneratórios e moratórios ca-pitalizados nos cálculos de liquidação, sem que tenha havido tal previsão no título executivo, implica violação da coisa julgada, e não mero erro de cálcu-lo. Precedente citado: REsp 685.170-DF, DJ 10/8/2006. EInf nos EDcl na AR 3.150-MG, Rel. Min. Massami Uyeda, julgados em 29/2/2012.

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FGV DIREITO RIO 106

Informativo 494: 26 de março a 3 de abril de 2012

Cabimento do recurso especial em antecipação de tutela. Decisão do cade sobre cláusula de raio.

A Turma, por maioria, entendeu ser cabível recurso especial contra deci-são não defi nitiva, desde que não se trate de reexame do seu contexto fático, mas da interpretação da abrangência de norma legal sobre a viabilidade da aplicação do instituto da tutela antecipada, ou o controle da legitimidade das decisões de medidas liminares. No mérito, o colegiado deferiu a suspen-são provisória — até julgamento defi nitivo nas instâncias ordinárias — da execução de decisão administrativa do CADE que, dentre outras medidas, obrigou shopping center a abster-se de incluir nas relações contratuais de loca-ção de espaços comerciais a cláusula de raio, pela qual os lojistas se obrigam a não instalar lojas a pelo menos 2 km de distância do centro de compras. Precedentes citados: AgRg no RESP 1.052.435-RS, DJe 5/11/2008, e REsp. 696.858-CE, DJe 1º/8/2006. REsp 1.125.661-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/3/2012.

Informativo 495: 9 a 20 de abril de 2012

Embargos de terceiro. Ausência do valor da causa.

A jurisprudência pacífi ca do STJ é que, em ação de embargos de terceiro, o valor da causa deve ser o do bem levado à constrição, não podendo exceder o valor da dívida. Na espécie, a sentença que fi xou os honorários advocatícios explicitou o percentual devido a título de tal verba. Porém, o valor da causa não foi indicado, uma vez que o autor da ação de embargos de terceiro não se desincumbiu de tal providência. Contudo, não há iliquidez no título executi-vo a autorizar a extinção da execução dos honorários como determinado pelo juízo sentenciante, tendo em vista que os valores são alcançados por simples cálculos aritméticos consistentes na aplicação do percentual arbitrado na sen-tença ao valor que legalmente deveria ter sido atribuído aos embargos de ter-ceiro. Precedentes citados: AgRg no Ag 1.379.627-SP, DJe 4/5/2011; EREsp 187.429-DF, DJ 29/11/1999, e REsp 161.754-SP, DJ 15/3/1999. REsp 957.760-MS, Rel. Min. Luiz Felipe Salomão, julgado em 12/4/2012.

Embargos de divergência. Similitude fática.

A Seção não conheceu dos embargos de divergência por não haver si-militude fática entre os acórdãos paradigma e o recorrido. O Min. Relator

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FGV DIREITO RIO 107

asseverou que a incidência ou não da excludente de responsabilidade civil foi analisada em cada julgado paradigma com base na natureza da ativida-de desempenhada pelas empresas, todas diferentes da hipótese apreciada no acórdão recorrido. EREsp 419.059-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, jul-gados em 11/4/2012.

Informativo 496: 23 de abril a 4 de maio de 2012

Repetitivo. Agravo de instrumento. Ausência de peças facultativas.

A Corte, ao rever seu posicionamento — sob o regime do art. 543-C do CPC e Res. n. 8/2008-STJ —, fi rmou o entendimento de que a ausência de peças facultativas no ato de interposição do agravo de instrumento, ou seja, aquelas consideradas necessárias à compreensão da controvérsia (art. 525, II, do CPC), não enseja a inadmissão liminar do recurso. Segundo se afi rmou, deve ser oportunizada ao agravante a complementação do instrumento. REsp 1.102.467-RJ, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 2/5/2012.

Agravo de instrumento. Multa do art. 557, § 2º, do cpc. Fazenda pública.

A Corte, por maioria, assentou o entendimento de que a exigência do prévio depósito da multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC não se aplica à Fazenda Pública. Nos termos do disposto no art. 1º-A da Lei n. 9.494/1997, as pessoas jurídicas de direito público federais, estaduais, distritais e muni-cipais “estão dispensadas de depósito prévio, para interposição de recurso”. Ademais, a multa em comento teria a mesma natureza da prevista no art. 488 do CPC, da qual está isento o Poder Público. EREsp 1.068.207-PR, Rel. originário Min. Castro Meira, Rel. para o acórdão Min. Arnaldo Esteves Lima, julgados em 2/5/2012.

Agravo de instrumento interposto na vigência de lei anterior. Peças obrigatórias.

A Lei n. 12.322/2010, que transformou o agravo de instrumento em agra-vo nos próprios autos, não se aplica aos recursos interpostos antes da sua vigência. Assim, aos agravos de instrumento anteriores a 9/12/2010, data na qual entrou em vigor a referida lei, devem-se aplicar as regras anteriores. No caso, verifi cou-se a má formação do agravo de instrumento, interposto em 10/9/2010, por não atender ao disposto na redação anterior do art. 544, § 1º, do CPC, já que deixou de juntar cópias de peças obrigatórias. Prece-dentes citados: AgRg no Ag 1.400.931-RS, DJe 16/3/2012, e AgRg no Ag

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FGV DIREITO RIO 108

1.407.812-PB, DJe 20/3/2012. AgRg no Ag 1.391.012-RJ, Rel. Min. An-tonio Carlos Ferreira, julgado em 3/5/2012.

Informativo 502: 13 a 24 de agosto de 2012

Tempestividade. Fim do expediente forense. Cabimento. Embargos infrigentes.

A Turma reforçou o entendimento de que é intempestivo o recurso inter-posto no último dia do prazo recursal, porém recebido após o término do expediente forense. A protocolização de petições e recursos deve ser efetuada dentro do horário de expediente nos termos da lei de organização judiciária local (art. 172, § 3º, do CPC). No caso, a protocolização do recurso foi indevidamente realizada, no último dia do prazo, às 16h40min, em plan-tão judiciário, após o encerramento do expediente do e. Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, que ocorre às 14h, de acordo com a resolução local n. 30/2009. Reafi rmou-se também que os embargos infringentes só são cabíveis quando a sentença for reformada por acórdão não unânime. Ou seja, não são cabíveis de decisão unânime que reforma a sentença, nem de decisão não unânime que apenas decide a respeito de novo tema. Precedentes citados: AgRg no AgRg no Ag 726.110-SC, DJe 30/4/2010; REsp 688.540-MA, DJe 21.02.2006, e AgRg no Ag 1.388.548-MG, DJe 6/3/2012. AgRg no AREsp 96.048-PI, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/8/2012.

Julgamento monocrático. Análise de provas.

O relator pode julgar monocraticamente, de acordo com o art. 557 do CPC, os recursos manifestamente inadmissíveis ou questões repetitivas a res-peito das quais já haja jurisprudência pacifi cada. Porém, no caso, o relator, ao apreciar a apelação, modifi cou a sentença baseado na reanálise das provas. Portanto, não houve julgamento de matéria exclusivamente de direito com aplicação de jurisprudência consolidada para autorizar o julgamento uni-pessoal do recurso. Assim, a Turma anulou o julgamento promovido; pois, quando é necessário reapreciar as provas, isso deve ser feito pelo colegiado. REsp 1.261.902-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/8/2012.

Embargos infringentes. Matéria formalmente processual. Teoria da asserção.

A Turma decidiu que cabem embargos infringentes contra acórdão que, por maioria, acolhe preliminar de ilegitimidade passiva e reforma sentença para extinguir a ação sem julgamento do mérito. Assim, em respeito ao devi-

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FGV DIREITO RIO 109

do processo legal, o art. 530 deve ser interpretado harmoniosa e sistematica-mente com o restante do CPC, admitindo-se embargos infringentes contra decisão que, a despeito de ser formalmente processual, implicar análise de mérito. Para a Min. Relatora, adotando a teoria da asserção, se, na análise das condições da ação, o juiz realizar cognição profunda sobre as alegações con-tidas na petição, depois de esgotados os meios probatórios, terá, na verdade, proferido juízo sobre o mérito da controvérsia. Na hipótese, o juiz de primei-ro grau se pronunciou acerca da legitimidade passiva por ocasião da prolação da sentença, portanto depois de toda a prova ter sido carreada aos autos. REsp 1.157.383-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/8/2012.

Informativo 503: 27 de agosto a 7 de setembro de 2012

Princípio da singularidade. Interposição de um único recurso para atacar duas decisões distintas.

A Turma, considerando as especifi cidades do caso, entendeu ser possível a interposição de um único recurso de agravo de instrumento para impug-nar duas decisões interlocutórias distintas proferidas no mesmo processo. In casu, cuidou-se, na origem, de ação de execução de título extrajudicial, sen-do que, após iniciado o cumprimento provisório da sentença, o recorrente opôs exceção de pré-executividade. O juiz singular proferiu duas decisões interlocutórias: a primeira (em 30/7/2007) extinguiu a exceção de pré-exe-cutividade por irregularidade da representação processual e autorizou a pe-nhora online de ativos fi nanceiros em nome do executado; já a segunda (em 29/10/2007) autorizou o levantamento do valor penhorado e depositado ju-dicialmente mediante a prestação de caução. Ocorre que o recorrente, em vez de impugná-las separadamente, por meio de dois agravos de instrumento, interpôs um único recurso. Nesse contexto, inicialmente, ressaltou-se que o princípio da singularidade, também denominado da unicidade do recurso, ou unirrecorribilidade consagra que, para cada decisão a ser atacada, há um único recurso próprio e adequado previsto no ordenamento jurídico. Sendo assim, salvo as exceções legais — embargos de declaração e recurso especial e extraordinário —, não é possível a utilização de mais de um recurso para impugnar a mesma decisão, sob pena de o segundo não ser conhecido por preclusão consumativa. Entretanto, destacou-se que o aludido princípio não veda a interposição de um único recurso para impugnar mais de uma deci-são. Tampouco subsiste, na legislação processual, qualquer impedimento a essa prática, embora seja incomum. Assim, consignou-se que, na hipótese, não se trata de aplicação do art. 244 do CPC, pois há previsão legal quanto ao recurso cabível contra decisão interlocutória (art. 522 do CPC), sendo

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FGV DIREITO RIO 110

também desnecessária a aplicação do princípio da instrumentalidade das for-mas, visto que o recorrente utilizou-se do recurso correto (respeito à forma) para impugnar as decisões interlocutórias, qual seja, o agravo de instrumento. Ademais, considerou-se que, na espécie, a interposição do agravo por meio de duas petições separadas e o julgamento separado dos recursos poderia gerar decisões confl itantes. Isso porque a segunda decisão (que autorizou o levan-tamento do valor penhorado) é dependente da primeira (que extinguiu a exceção de pré-executividade oposta pelo executado e autorizou a penhora daquele valor). Por fi m, asseverou-se que, embora a interposição de um único recurso para impugnar mais de uma decisão não seja uma prática recomen-dável, reconheceu-se que, de acordo com as particularidades do caso, o não conhecimento do agravo importa violação do art. 522 do CPC, porquanto a parte, além de ter o direito de recorrer das decisões interlocutórias, utilizou-se do recurso previsto na legislação para tanto, ou seja, o agravo de instrumento. Assim, a Turma deu provimento ao recurso, para anular o acórdão recorrido e determinar o retorno dos autos ao tribunal de origem, a fi m de que seja apre-ciado o mérito do agravo de instrumento. REsp 1.112.599-TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/8/2012.

Informativo 504: 10 a 19 de setembro de 2012

Tempestividade de recurso. Feriado local. Comprovação posterior em agravo re-gimental.

Adotando recente entendimento do STF, a Corte Especial decidiu que, nos casos de feriado local ou de suspensão do expediente forense no Tribunal de origem que resulte na prorrogação do termo fi nal para interposição do recurso, a comprovação da tempestividade do recurso especial pode ser reali-zada posteriormente, quando da interposição do agravo regimental contra a decisão monocrática do relator que não conheceu do recurso por considerá--lo intempestivo. Precedentes citados do STF: AgRg no RE 626.358-MG, DJe 23/8/2012; HC 108.638-SP, DJe 23/5/2012; do STJ: AgRg no REsp 1.080.119-RJ, DJe 29/6/2012. AgRg no AREsp 137.141-SE, Rel. Min. An-tonio Carlos Ferreira, julgado em 19/9/2012.

Embargos de divergência. Dissídio jurisprudencial. Decisão em recurso especial.

Nos embargos de divergência, apenas as decisões proferidas em recurso espe-cial são admitidas para comprovar os dissídios jurisprudenciais entre as Turmas deste Tribunal, entre estas e a Seção ou Corte Especial (art. 546, I, do CPC e

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FGV DIREITO RIO 111

art. 266 do RISTJ). Com base nesse entendimento, a Seção negou provimento ao regimental que utilizara habeas corpus como paradigma. AgRg nosEREsp 998.249-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgados em 12/9/2012.

Informativo 505: 20 de setembro a 3 de outubro

Direito processual civil. Recurso ordinário em mandado de segurança. Exigência de decisão colegiada.

Não é cabível a interposição de recurso ordinário em face de decisão mo-nocrática do relator no tribunal de origem que julgou extinto o mandado de segurança. A hipótese de interposição do recurso ordinário constitucional (art. 105, II, b, da CF) é clara, dirigindo-se contra os mandados de segurança decidi-dos em única instância pelos tribunais regionais federais ou pelos tribunais dos estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão. Decisão de “tribunal” não é a monocrática exarada por um dos desembargadores, mas acórdão de um de seus órgãos fracionários. Embora se admita a utilização do recurso ordinário se o mandado de segurança for extinto sem exame do mérito, em se tratando de decisão monocrática, faz-se necessária a prévia interposição de agravo regimental sob pena de ofensa ao princípio da colegialidade. Precedente citado do STF: RMS 30.870-BA, DJe 3/9/2012. AgRg na MC 19.774-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/10/2012.

Direito processual civil. Incidente de inconstitucionalidade. Recurso especial fun-damentado na inconstitucionalidade.

Não é possível conhecer de incidente de inconstitucionalidade susci-tado em recurso especial cujo fundamento seja o reconhecimento da in-constitucionalidade de dispositivo legal. Embora questões constitucionais possam ser invocadas pela parte recorrida, é indubitável que, em nosso sis-tema, não cabe ao recorrente invocar tais questões em recurso especial como fundamento para reforma do julgado, sendo o recurso próprio para essa fi na-lidade o extraordinário para o STF. Tem-se, portanto, hipótese de insuperá-vel óbice ao conhecimento do recurso especial, que também contamina, por derivação natural, o conhecimento deste incidente de inconstitucionalidade. No caso, o incidente referia-se aos incisos III e IV do art. 1.790 do CC, que trata da ordem de sucessão hereditária do companheiro ou da companheira relativamente aos bens adquiridos na vigência da união estável. AI no REsp 1.135.354-PB, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acór-dão Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 3/10/2012.

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FGV DIREITO RIO 112

Direito processual civil. EDCL contra decisão que nega seguimento a resp.

São manifestamente incabíveis os embargos de declaração (EDcl) opostos contra decisão de admissibilidade do recurso especial proferida pelo tribunal de origem. Com exceção feita às decisões que negam trânsito ao recurso especial com base no art. 543-C, §7º, consolidou-se a jurispru-dência do STF e do STJ no sentido de que a decisão de admissibilidade do recurso especial ou extraordinário é proferida por delegação do Tribunal ad quem, sendo impugnável mediante agravo de instrumento dirigido ao STJ ou STF (ou nos próprios autos a partir da edição da Lei n. 12.322/2010, que deu nova redação ao art. 544 do CPC). Proferida a decisão de admissi-bilidade, exaure-se a delegação, devendo os autos ser remetidos à instância superior, aguardar eventual decisão em agravo de instrumento, ou baixar à origem para execução ou arquivamento. Embargos de declaração não teriam razão de ser, pois o STJ não está vinculado aos fundamentos do juízo de ad-missibilidade feito na origem. Se porventura fossem admitidos os embargos de declaração, haveria postergação injustifi cável do trâmite processual, mor-mente porque, se cabíveis os primeiros embargos de declaração de uma das partes, nada impediria sucessivos embargos de declaração das demais partes, ao invés da pronta interposição do cabível recurso de agravo para o Tribunal ad quem. AgRg no Ag 1.341.818-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/9/2012.

Informativo 507: 18 a 31 de outubro de 2012

Direito processual civil. Inépcia da apelação. Fundamentos da sentença não im-pugnados.

É inepta a apelação quando o recorrente deixa de demonstrar os fun-damentos de fato e de direito para a reforma pleiteada ou deixa de im-pugnar, ainda que em tese, os argumentos da sentença. Entende a juris-prudência do STJ que a repetição dos argumentos da petição inicial não confi gura ofensa ao art. 514, II, do CPC, se apresentados os fundamentos de fato e de direito sufi cientes para demonstrar o interesse na reforma da sentença. A petição de apelação deve conter os fundamentos de fato e de direito, de modo que incumbe ao apelante indicar o direito que pretende exercitar contra o réu, apontando o fato proveniente desse direito. A narração dos fatos deve ser inteligível, a fi m de enquadrar os fundamentos jurídicos ao menos em tese, e não de forma insufi ciente, vaga e abstrata. De outro lado, é imperioso que o apelante impugne, argumentada e especifi camente, os fun-damentos que dirigiram o magistrado na prolação da sentença. Esse requisito também tem como escopo viabilizar a própria defesa da parte apelada, que

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FGV DIREITO RIO 113

necessita de argumentos pontuais para contra-arrazoar o recurso interposto. REsp 1.320.527-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/10/2012.

Informativo 509: 5 de dezembro de 2012

Direito processual civil. Pedido de reconsideração. Embargos de declaração. Não interrupção do prazo recursal.

Os embargos de declaração consistentes em mero pedido de reconsi-deração não interrompem o prazo recursal. Os embargos de declaração, ainda que rejeitados, interrompem o prazo recursal. Todavia, em se tratando de pedido de reconsideração, mascarado sob o rótulo dos aclaratórios, não há que se cogitar da referida interrupção. Precedente citado: REsp 964.235-PI, DJ 4/10/2007. AgRg no AREsp 187.507-MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 13/11/2012.

Direito processual civil. Ação rescisória. Sentença terminativa.

É cabível o ajuizamento de ação rescisória para desconstituir tanto o provimento judicial que resolve o mérito quanto aquele que apenas extingue o feito sem resolução de mérito.A redação do art. 485, caput, do CPC, ao mencionar “sentença de mérito” o fez com impropriedade técnica, referindo-se, na verdade, a “sentença defi nitiva”, não excluindo os casos onde se extingue o processo sem resolução de mérito. De toda sentença terminati-va, ainda que não seja de mérito, irradiam-se efeitos declaratórios, constituti-vos, condenatórios, mandamentais e executivos. Se o interesse do autor reside em atacar um desses efeitos, sendo impossível renovar a ação e não havendo mais recurso cabível em razão do trânsito em julgado (coisa julgada formal), o caso é de ação rescisória, havendo que ser verifi cado o enquadramento nas hipóteses descritas nos incisos do art. 485, do CPC. O equívoco cometido na redação do referido artigo, o foi na compreensão de que os processos extintos sem resolução do mérito (à exceção daqueles em que se acolheu a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada, art. 267, V) poderiam ser renovados, na forma do art. 268, do CPC, daí que não haveria interesse de agir em ação rescisória movida contra sentença ou acórdão que não fosse de mérito. No entanto, sabe-se que a renovação da ação não permite rediscutir todos os efeitos produzidos pela ação anteriormente extinta. Exemplo disso está no próprio art. 268, do CPC, que condiciona o despacho da nova inicial à prova do pagamento ou do depósito das custas e dos honorários de advoga-do. Para estes casos, onde não houve sentença ou acórdão de mérito, o úni-

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FGV DIREITO RIO 114

co remédio é a ação rescisória. REsp 1.217.321-SC, Rel. originário Min. Herman Benjamin, Rel. para acórdão Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/10/2012.

Direito processual civil. Reclamação. Decisão de turma recursal do juizado espe-cial da fazenda pública.

Não é cabível o ajuizamento da reclamação prevista na Res. n. 12/2009 do STJ contra decisão de Turma Recursal do Juizado Especial da Fazen-da Pública. A reclamação é cabível para preservar a competência do STJ ou para garantir a autoridade das suas decisões (art. 105, I,f, da CF c/c o art. 187 do RISTJ). Além dessas hipóteses, cabe reclamação para a adequação do entendimento adotado em acórdãos de Turmas Recursais Estaduais à súmula ou orientação adotada na sistemática dos recursos repetitivos, em razão do decidido pelo STF nos EDcl no RE 571.572-BA e das regras contidas na Res. n. 12/2009 do STJ. A Lei n. 12.153/2009, que dispõe sobre os Juiza-dos Especiais da Fazenda Pública, estabelece sistema próprio para solucionar divergência sobre questões de direito material, prevendo em seu art. 18 que “caberá pedido de uniformização de interpretação de lei quando houver di-vergência entre decisões proferidas por Turmas Recursais sobre questões de direito material”. Por sua vez, tratando-se de Turmas de diferentes Estados que deram interpretação divergente a preceitos de lei federal ou quando a decisão recorrida estiver em contrariedade com súmula do STJ, o pedido de uniformização será dirigido ao STJ. Assim, havendo procedimento específi co e meio próprio de impugnação, não é cabível o ajuizamento da reclamação perante o STJ. Precedentes citados do STF: RE — EDcl — 571.572-BA, DJe de 27/11/2009; e do STJ: RCDESP na Rcl 8.718-SP, DJe 29/8/2012, e Rcl 10.145-RS, DJe 8/10/2012. Rcl 7.117-RS, Rel. originário Min. Cesar Asfor Rocha, Rel. para acórdão Min. Mauro Campbell Marques, julgada em 24/10/2012.

Informativo 510: 18 de dezembro de 2012

Direito processual civil. Cabimento de ação rescisória. Violação de súmula.

Não cabe ação rescisória contra violação de súmula. Conforme o art. 485, V, do CPC a sentença pode ser rescindida quando violar literal disposi-ção de lei, hipótese que não abrange a contrariedade à súmula. Assim, não há previsão legislativa para o ajuizamento de ação rescisória sob o argumento de violação de súmula. Precedentes citados: REsp 154.924-DF, DJ 29/10/2001,

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FGV DIREITO RIO 115

AR 2.777-SP, DJe 3/2/2010. AR 4.112-SC, Min. Rel. Marco Aurélio Belli-zze, julgada em 28/11/2012.

INFORMATIVOS 2013 DO STJ

Informativo 511: 6 de fevereiro de 2013

Direito processual civil. Ação rescisória. Indeferimento da petição inicial por au-sência de recolhimento das custas e do depósito prévio. Possibilidade de extin-ção do processo sem prévia intimação pessoal da parte.

É possível a extinção de ação rescisória sem resolução do mérito na hipótese de indeferimento da petição inicial, em face da ausência do re-colhimento das custas e do depósito prévio, sem que tenha havido inti-mação prévia e pessoal da parte para regularizar essa situação. O art. 267, § 1º, do CPC traz as hipóteses em que o juiz, antes de declarar a extinção do processo sem resolução do mérito, deve intimar pessoalmente a parte para que ela possa suprir a falta ensejadora de eventual arquivamento dos autos. Assim, quando o processo fi car parado durante mais de um ano por negli-gência das partes, ou quando o autor abandonar a causa por mais de trinta dias por não promover os atos e diligências que lhe competirem (art. 267, II e III), deve a parte ser intimada pessoalmente para suprir a falta em 48 horas, sob pena de extinção do processo. Esse procedimento, entretanto, não é exigido no caso de extinção do processo por indeferimento da petição ini-cial, hipótese do inciso I do referido artigo. Precedente citado: AgRg na AR 3.223-SP, DJ 18/11/2010. REsp 1.286.262-ES, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/12/2012.

Direito processual civil. Cabimento de recurso especial em suspensão de liminar.

Não cabe recurso especial em face de decisões proferidas em pedido de suspensão de liminar. Esse recurso visa discutir argumentos referentes a exame de legalidade, e o pedido de suspensão ostenta juízo político. O recurso especial não se presta à revisão do juízo político realizado pelo tribunal a quo para a concessão da suspensão de liminar, notadamente porque decorrente de juízo de valor acerca das circunstâncias fáticas que ensejaram a medida, cujo reexame é vedado nos termos da Súm. n. 7/STJ. Precedentes citados: AgRg no AREsp 103.670-DF, DJe 16/10/2012; AgRg no REsp 1.301.766-MA, DJe 25/4/2012, e AgRg no REsp 1.207.495-RJ, DJe 26/4/2011. AgRg no AREsp 126.036-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 4/12/2012.

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RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

FGV DIREITO RIO 116

Informativo 512: 20 de fevereiro de 2013

Direito processual civil. Embargos de divergência. Cabimento. Acórdão paradig-ma. Recurso ordinário em ms.

São inadmissíveis embargos de divergência na hipótese em que o julga-do paradigma invocado tenha sido proferido em sede de recurso ordinário em mandado de segurança.Precedentes citados: AgRg nos EREsp 998.249-RS, DJe 21/9/2012; AgRg nos EAREsp 74.447-MG, DJe 8/8/2012, e AgRg nos EREsp 1.065.225-RJ, DJe 29/6/2012. AgRg nos EREsp 1.182.126-PE, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 17/12/2012.

Informativo 513: 6 de março de 2013

Direito processual civil. Reclamação. Descabimento da medida para a impugnação de decisão que aplica entendimento de recurso representativo de controvérsia.

Não cabe reclamação ao STJ contra decisão que, com fulcro no art. 543-C, §7º, I, do CPC, aplica entendimento fi rmado em recurso especial submetido ao procedimento dos recursos representativos de controvérsia. Não há previsão legal para o ajuizamento de reclamação em face de decisão que adota entendimento fi rmado em recurso especial submetido ao rito do art. 543-C do CPC. Além disso, o cabimento desse tipo de reclamação impe-diria a realização do fi m precípuo da reforma processual introduzida pela Lei n. 11.672/2008, qual seja, o de evitar a reiterada análise de questão idêntica, otimizando o julgamento dos incontáveis recursos que chegam ao STJ com o intuito de discutir a mesma matéria. AgRg na Rcl 10.805-RS,Rel. Min. Luiz Felipe Salomão, julgado em 4/2/2013.

Informativo 514: 20 de março de 2013

Direito processual civil. Prazo contínuo de cinco dias para a apresentação dos originais na hipótese em que se opta pela utilização de sistema de transmissão de dados e imagens do tipo fax.

Ainda que o recorrente detenha o privilégio do prazo em dobro, será de cinco dias o prazo, contínuo e inextensível, para a protocolização dos originais do recurso na hipótese em que se opte pela utilização de siste-ma de transmissão de dados e imagens do tipo fac-símile. O STJ entende que o art. 188 do CPC, que estabelece o privilégio de recorrer com prazo em dobro, não se aplica à contagem do prazo para a juntada da peça original.

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RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

FGV DIREITO RIO 117

Precedentes citados: EDcl nos EDcl no AgRg no REsp 1.175.952-PR, DJe 11/11/2010; AgRg no Ag 1.119.792-RJ, DJe 18/6/2010, e AgRg no REsp 1.059.613-SP, DJe 17/6/2010. AgRg no REsp 1.308.916-GO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 6/12/2012.

Direito processual civil. Termo a quo do prazo para a propositura, por particular, de ação rescisória em face de decisão proferida em demanda na qual se fez pre-sente a fazenda pública.

O termo inicial do prazo decadencial de dois anos para a propositura, por particular, de ação rescisória, disposto no art. 495 do CPC, é a data do trânsito em julgado da última decisão proferida na causa, o que, na hipótese em que a Fazenda Pública tenha participado da ação, somente ocorre após o esgotamento do prazo em dobro que esta tem para recorrer, ainda que o ente público tenha sido vencedor na última decisão proferi-da na demanda. Sendo a ação una e indivisível, não há como falar em fra-cionamento de qualquer das suas decisões, o que afasta a possibilidade do seu trânsito em julgado parcial. Por efeito, o prazo para propositura de ação resci-sória somente se inicia após o trânsito em julgado da última decisão proferida na causa. Quanto à data do referido trânsito em julgado, deve-se asseverar que, se uma das partes possui o privilégio de prazo em dobro para recorrer (art. 188 do CPC), tão-somente após o esgotamento deste é que se poderá falar em coisa julgada, ocasião em que começará a fl uir o prazo para ambas as partes pleitearem a rescisão do julgamento. Além disso, mesmo que se alegue a inexistência de interesse recursal da parte vitoriosa e, por consequência, a irrelevância do prazo dobrado para o trânsito em julgado da decisão, não é possível limitar o interesse em interpor recurso apenas à parte perdedora da demanda, já que até mesmo a parte vitoriosa pode ter, ainda que em tese, interesse recursal em impugnar a decisão judicial que lhe foi favorável. Nesse contexto, inclusive, não se vislumbra razoável impor à ajuizadora da ação rescisória o dever de investigar, ao tempo do ajuizamento da ação, os even-tuais motivos que levaram a parte vencedora a não interpor recurso contra a decisão rescindenda, com o intuito de demonstrar, dessa forma, a existência ou não de interesse recursal pela parte vencedora, concluindo-se, assim, pela relevância ou irrelevância do prazo em dobro no cômputo do trânsito de jul-gado da ação. Precedentes citados: AgRg no Ag 724.742-DF, DJ 16/5/2006, e REsp 551.812-RS, DJ 10/5/2004. AREsp 79.082-SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 5/2/2013.

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FGV DIREITO RIO 118

Direito processual civil. Impugnação de decisão que determine o sobrestamento de recurso especial com base no art. 543-c do cpc.

Não é cabível a interposição de agravo, ou de qualquer outro re-curso, dirigido ao STJ, com o objetivo de impugnar decisão, profe-rida no Tribunal de origem, que tenha determinado o sobrestamento de recurso especial com fundamento no art. 543-C do CPC, referente aos recursos representativos de controvérsias repetitivas. A existência de recursos se subordina à expressa previsão legal (taxatividade). No caso, inexiste previsão de recurso contra a decisão que se pretende impugnar. O art. 544 do CPC, que afi rma que, não admitido o recurso especial, caberá agravo para o STJ, não abarca o caso de sobrestamento do recurso espe-cial com fundamento no art. 543-C, pois, nessa hipótese, não se trata de genuíno juízo de admissibilidade, o qual somente ocorrerá em momento posterior, depois de resolvida a questão, em abstrato, no âmbito do STJ (art. 543-C, §§ 7º e 8º). Também não é possível a utilização do art. 542, § 3º, do CPC, que trata de retenção do recurso especial, hipótese em que, embora não haja previsão de recurso, o STJ tem admitido agravo, simples petição ou, ainda, medida cautelar. Ademais, não é cabível reclamação constitucional, pois não há, no caso, desobediência a decisão desta Corte, tampouco usurpação de sua competência. Por fi m, a permissão de inter-posição do agravo em face da decisão ora impugnada acabaria por gerar efeito contrário à fi nalidade da norma, multiplicando os recursos dirigidos a esta instância, pois haveria, além de um recurso especial pendente de julgamento na origem, um agravo no âmbito do STJ. AREsp 214.152-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/2/2013.

Informativo 515: 3 de abril de 2013

Direito processual civil. Irrecorribilidade do despacho de suspensão do recurso especial proferido com fundamento no art. 543-c, § 1º, do CPC.

É irrecorrível o ato do presidente do tribunal de origem que, com fundamento no art. 543-C, § 1º, do CPC, determina a suspensão de recursos especiais enquanto se aguarda o julgamento de outro recurso encaminhado ao STJ como representativo da controvérsia.Com efeito, este ato não ostenta conteúdo decisório, tendo em vista que não há efetivo juízo de admissibilidade neste momento processual. Em verdade, a refe-rida manifestação judicial é um despacho, de modo que tem incidência o regramento previsto no art. 504 do CPC, segundo o qual “dos despachos não cabe recurso”. Haverá possibilidade de interposição de recurso após o julgamento do recurso representativo da controvérsia no STJ, ocasião

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FGV DIREITO RIO 119

em que poderá ser manejado agravo regimental, no tribunal de origem, contra eventual equívoco no juízo de admissibilidade efetivado na forma do art. 543-C, § 7º, do CPC. AgRg na Rcl 6.537-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 27/2/2013.

Informativo 517: 2 de maio de 2013

Direito processual civil. Descabimento da reclamação prevista no art. 105, I, F, da CF para impugnar decisão que determine a remessa ao STJ de agravo interposto com fundamento no art. 544 do CPC.

Não é cabível o ajuizamento da reclamação prevista no art. 105, I, “f ”, da CF com o objetivo de impugnar procedimento adotado no Tribunal de origem que, por entender que a matéria abordada em re-curso especial ali interposto não seria idêntica a outra já decidida sob a sistemática dos recursos repetitivos, tenha determinado a remessa ao STJ dos autos de agravo interposto com base no art. 544 do CPC. A reclamação prevista no art. 105, I, “f ”, da CF somente é cabível para a preservação da competência do STJ e para a garantia da autoridade de suas decisões. Nesse contexto, não há como ajuizar tal reclamação em razão de suposta usurpação da competência do STJ, tendo em vista que compete, em primeiro lugar, ao Tribunal de origem a avaliação da perfeita adequa-ção de cada recurso especial às teses apreciadas nos recursos repetitivos. Além disso, também não é possível o ajuizamento de reclamação com fun-damento na garantia da autoridade de decisão do STJ em hipóteses como a descrita, na qual não exista nenhuma decisão deste Tribunal proferida nos autos dos quais ela se origina. EDcl na Rcl 10.869-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 27/2/2013.

Direito processual civil. Complementação do valor do porte de remessa e de re-torno em recurso especial.

Não ocorre a deserção do recurso especial no caso em que o recorrente, recolhidas as custas na forma devida, mas efetuado o pagamento do porte de remessa e de retorno em valor insufi ciente, realize, após intimado para tanto, a complementação do valor. O art. 511 do CPC, em seu caput, esta-belece que o recorrente deverá comprovar, no ato de interposição do recurso, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção. Todavia, segundo o § 2º do mesmo artigo, a insufi ciência no valor do preparo somente acarretará deserção se o recorrente, intimado, não vier a

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FGV DIREITO RIO 120

supri-lo no prazo de 5 dias. No caso do recurso especial, o preparo engloba o pagamento de custas e de porte de remessa e de retorno. Assim, recolhidas as custas na forma da legislação pertinente, admite-se a posterior regularização do pagamento do porte de remessa e de retorno a título de complementação do preparo. EDcl no REsp 1.221.314-SP, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 21/2/2013.

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NELSON LUIZ PINTOAdvogado. Doutor e mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, da Fun-dação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro (FGV Direito Rio) e da Universi-dade Cândido Mendes.

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FICHA TÉCNICA

Fundação Getulio Vargas

Carlos Ivan Simonsen LealPRESIDENTE

FGV DIREITO RIO

Joaquim FalcãoDIRETOR

Sérgio GuerraVICE-DIRETOR DE ENSINO, PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Rodrigo ViannaVICE-DIRETOR ADMINISTRATIVO

Thiago Bottino do AmaralCOORDENADOR DA GRADUAÇÃO

Andre Pacheco MendesCOORDENADOR DO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA – CLÍNICAS

Cristina Nacif AlvesCOORDENADORA DE ENSINO

Marília AraújoCOORDENADORA EXECUTIVA DA GRADUAÇÃO