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RECURSOS NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

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RECURSOS NO NOVO CÓDIGO DE

PROCESSO CIVIL

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LUCAS NAIF CALURIProfessor e coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Salesiano de São Paulo

— UNISAL — unidade Campinas, professor da FACAMP — Faculdades de Campinas e professor convidado da Escola Superior de Advocacia do Estado de São Paulo.

RECURSOS NO NOVO CÓDIGO DE

PROCESSO CIVIL

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R

EDITORA LTDA.

Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-001São Paulo, SP — BrasilFone (11) 2167-1101www.ltr.com.brAgosto, 2015

Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: RLUXProjeto de capa: FÁBIO GIGLIO Impressão: GRAPHIUM

Versão impressa — LTr 5342.7 — ISBN 978-85-361-8550-7Versão digital — LTr 8774.3 — ISBN 978-85-361-8535-4

Todos os direitos reservados

Índices para catálogo sistemático:

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Caluri, Lucas Naif Recursos no novo código de processo civil / Lucas Naif Caluri. —

São Paulo : LTr, 2015.

1. Processo civil — Brasil 2. Processo civil — Leis e legislação — Brasil 3. Recursos (Direito) — Brasil I. Título.

15-06653 CDU-347.9(81)(094.4)

1. Brasil : Código de processo civil 347.9(81)(094.4)2. Código de processo civil : Brasil 347.9(81)(094.4)

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AGRADECIMENTOS

A DEUS, pelo dom da vida.

Aos meus pais, Sebastião e Elizabeth, fontes de inspiração e de amor ao magistério.

A minha amada esposa, Patrícia, digna e fiel parceira de meus propósitos familiares, profissionais e acadêmicos.

Aos meus filhos, Gabriel, Josué e Francisco, as razões do meu viver.

A minha inesquecível Avó Cidinha, ontem, hoje e sempre, exemplo de vida a ser seguido. Aos professores Jorge Luiz de Almeida e José Luiz Gavião de Almeida, pela sabedoria, pelo

talento e pela humildade ao transmitirem o pensamento jurídico.

Aos meus companheiros do Escritório Zanella, Naif e Lima, Edson, Afonso, Oracina e Iria, profissionais dedicados e talentosos que,

na convivência diária, ampliaram o meu contexto familiar.

Aos meus alunos, ex-alunos e professores, pelo respeito e pela cumplicidade na busca de nossos ideais comuns.

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Recursos no Novo Código de Processo Civil ► 7

SUMÁRIO

PREFÁCIO ................................................................................................................ 13

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 15

CAPÍTULO I ............................................................................................................. 19

1. Esboço histórico .................................................................................................... 19

1.1. O desenvolvimento dos recursos no Direito brasileiro .................................... 22

1.2. Dos recursos — com base nos dispositivos do novo Código de Processo Civil .... 23

1.3. Relevância recursal ........................................................................................ 26

1.4. Natureza jurídica dos recursos ....................................................................... 27

1.5. Fundamentos recursais .................................................................................. 28

CAPÍTULO II ............................................................................................................ 31

2. Juízo de admissibilidade no novo Código de Processo Civil — Lei n. 13.105/15 ..... 31

2.1. Requisitos de admissibilidade ........................................................................ 32

2.1.1. Cabimento .......................................................................................... 33

2.1.2. Tempestividade ................................................................................... 33

2.1.3. Preparo ............................................................................................... 34

2.1.4. Inexistência de fato impeditivo ou extintivo. ........................................ 36

2.1.5. Legitimidade ....................................................................................... 36

2.1.6. Interesse que decorre da sucumbência ................................................ 37

CAPÍTULO III ........................................................................................................... 39

3. Recursos em espécies no novo Código de Processo Civil ....................................... 39

3.1. Apelação ....................................................................................................... 39

3.1.2. Efeitos ................................................................................................. 40

3.1.3. Processamento .................................................................................... 41

3.1.4. Prazo .................................................................................................. 42

3.1.5. Poderes do relator ............................................................................... 42

3.1.6. Resultado de apelação não unânime ................................................... 44

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8 ◄ Lucas Naif Caluri

3.1.7. Súmulas do Superior Tribunal de Justiça .............................................. 45

3.1.8. Súmulas do Supremo Tribunal Federal ................................................ 45

3.2. Agravo de instrumento ................................................................................. 46

3.2.1. Processamento .................................................................................... 47

3.2.2. Poderes do relator ............................................................................... 48

3.2.3. Súmulas do Superior Tribunal de Justiça .............................................. 48

3.2.4. Súmulas do Supremo Tribunal Federal ................................................ 48

3.3. Agravo interno .............................................................................................. 48

3.3.1. Processamento .................................................................................... 49

3.3.2. Súmulas do Superior Tribunal de Justiça .............................................. 50

3.4. Embargos de declaração ............................................................................... 50

3.4.1. Processamento .................................................................................... 51

3.4.2. Efeitos ................................................................................................. 53

3.4.3. Súmulas do Superior Tribunal de Justiça .............................................. 54

3.4.4. Súmula do Supremo Tribunal Federal .................................................. 54

3.5. Recurso ordinário .......................................................................................... 54

3.5.1. Súmulas do Supremo Tribunal Federal ................................................ 55

3.6. Recurso especial ............................................................................................ 55

3.6.1. Processamento .................................................................................... 56

3.6.2. Multiplicidade de recursos ................................................................... 57

3.6.3. Poderes do relator ............................................................................... 58

3.6.4. Origem dos poderes do relator ........................................................... 58

3.6.5. A nova ordem processual dos poderes do relator ................................ 60

3.6.6. Dos recursos apresentados em manifesto confronto com súmula ou jurisprudência dominante .................................................................... 61

3.6.7. Súmula impeditiva de recursos ............................................................ 62

3.6.8. O Código de Processo Civil modelo para os países ibero-americanos ... 65

3.6.9. Da jurisprudência dominante............................................................... 66

3.6.10. Demandas repetitivas no novo Código de Processo Civil .................... 66

3.6.11. Súmulas do Superior Tribunal de Justiça ............................................ 67

3.7. Recurso extraordinário .................................................................................. 68

3.7.1. Repercussão geral ............................................................................... 69

3.7.2. Súmulas do Supremo Tribunal Federal ................................................ 70

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Recursos no Novo Código de Processo Civil ► 9

3.8. Embargos de divergência .............................................................................. 72

3.8.1. Súmulas do Superior Tribunal de Justiça .............................................. 73

3.8.2. Súmula do Supremo Tribunal Federal .................................................. 73

3.9. Recurso adesivo ............................................................................................ 73

CAPÍTULO IV ........................................................................................................... 75

4. A busca para a efetividade e razoável duração do processo .................................. 75

4.1. A ética processual ......................................................................................... 78

4.2. Recursos protelatórios ................................................................................... 80

4.3. Da lealdade processual .................................................................................. 81

CAPÍTULO V ............................................................................................................ 82

5. Princípios fundamentais dos recursos cíveis ........................................................... 82

5.1. Princípio do duplo grau de jurisdição ............................................................. 84

5.1.1. Vantagens e desvantagens do duplo grau de jurisdição ...................... 85

5.2. Princípio da taxatividade ................................................................................ 85

5.2.2. Recursos existentes fora do sistema do Código de Processo Civil ......... 86

5.2.3. Supremo Tribunal Federal: recursos na ação direta de inconstitucionalidade (ADIN) e na ação declaratória de constitucionalidade (ADC) ................................................................... 87

5.2.4. Recurso de terceiro prejudicado .......................................................... 87

5.2.5. Decisões interlocutórias ....................................................................... 89

5.2.6. Decisão final ....................................................................................... 90

5.2.7. Os sucedâneos dos recursos ................................................................ 91

5.2.8. Remessa obrigatória ............................................................................ 92

5.2.9. Correição parcial ................................................................................ 93

5.3. Princípio da singularidade .............................................................................. 93

5.4. Princípio da fungibilidade .............................................................................. 95

5.5. Princípio da dialeticidade ............................................................................... 97

5.6. Princípio da voluntariedade ........................................................................... 98

5.7. Princípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias ........................ 99

5.8. Princípio da complementariedade .................................................................. 99

5.9. Princípio da proibição da reformatio in pejus ................................................. 101

5.10. Princípio da consumação ............................................................................. 102

5.11. Princípio da devolutividade dos recursos ...................................................... 104

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10 ◄ Lucas Naif Caluri

5.12. Princípio da lesividade da resolução ............................................................. 104

5.13. Princípio da pessoalidade dos meios de recurso ........................................... 105

CAPÍTULO VI ........................................................................................................... 106

6. Efeitos dos recursos .............................................................................................. 106

6.1. Efeito devolutivo ........................................................................................... 106

6.1.1. Efeito devolutivo e a reforma do Código de Processo Civil ................... 108

6.2. Efeito suspensivo ........................................................................................... 109

6.2.1. Recursos que têm efeito suspensivo .................................................... 111

6.2.2. Impugnação parcial e efeito suspensivo .............................................. 112

6.2.3. Do suprimento do efeito suspensivo .................................................. 113

6.3. Efeito obstativo ............................................................................................. 115

6.4. Efeito expansivo ............................................................................................ 115

6.5. Efeito translativo ........................................................................................... 116

6.6. Efeito substitutivo ........................................................................................ 117

6.7. Efeito regressivo ............................................................................................ 118

6.8. Efeito diferido ............................................................................................... 119

CAPÍTULO VII .......................................................................................................... 120

Quadro comparativo entre o novo CPC/2015 e o CPC/1973 em matéria recursal ..... 120

CAPÍTULO VIII ........................................................................................................ 147

Quadro comparativo entre o novo CPC de 2015 e o CPC de 1973 ............................ 147

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 163

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“Noites inteiras de calmaria, noites de ardentia, dedos no leme e olhos no horizonte.

Descobri a alegria de transformar distâncias em tempo.

Um tempo em que aprendi a entender as coisas do mar, a conversar com as grandes ondas e não discutir com o mau tempo.

A transformar medo em respeito, o respeito em confiança.

Descobri como é bom chegar quando se tem paciência.

E para se chegar onde quer que seja,aprendi que não é preciso dominar a força, mas a razão. É preciso, antes de mais nada, querer.”

Amyr Klink

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Recursos no Novo Código de Processo Civil ► 13

PREFÁCIO

O Professor Lucas Naif Caluri escreve sobre o novo Código de Processo Civil, Lei n. 13.105,de 16 de março de 2015, que entrará em vigência após um ano de sua publicação.

Suas lições abordam a “Parte Especial” do novo Código, o “Livro II”, que dispõe sobre “Recursos” (arts. 994/1.044).

Com clareza, conhecimento e profissionalismo, o trabalho expõe sobre o instituto do “inconformismo” e a “vinculação de ordem processual às normas e valores constitucionais”, ante a expressa determinação do art. 1º do novo Código de Processo Civil.

Sobre o instituto do “recurso”, narra, com propriedade, sobre suas finalidades: de “reformar”, de “invalidar”, de “esclarecer” e de “integrar” o ato malsinado. Não deixa, também, de abordar sobre as “medidas” que substituem os recursos e servem para reformar ou neutralizar pronunciamentos judiciais.

A par da exposição sobre a natureza e função do recurso, Naif expõe sobre a nova ordem processual, sua vinculação às disposições constitucionais, por determinação expressa do citado artigo, e, com boa didática, dá lições de direito processual civilsobre normas, institutos e valores constitucionais da nova ordem processual, que o novo dispositivo do código manda observar.

Ele expõe cada espécie de recurso, a natureza deles e suas finalidades, quer para invalidar o ato, quer para esclarecer ou integrar o pronunciamento judicial.

O trabalho do Professor, além de abordar, de forma específica, as espécies de recursos, ensina como a nova sistemática se apresenta no novo Código de Processo Civil, inclusive quanto à topografia das matérias.

O novo Código mostra diferente distribuição dos institutos. Foi organizado em duas “partes”, a Geral e a Especial, desdobradas em Livros e Capítulos.

Os recursos estão previstos no “Livro II”, “Título II”, do art. 994 ao 1.044. Não se pode afastar do controle difuso ou concreto da classe de recursos os atos do poder normal do Juiz, de não aplicar soluções jurídicas anulando atos que, in casu, forem contrários à Constituição Federal (art. 1º do Código de Processo Civil). A inconstitucionalidade pode ser incidental, na hipótese de prática de um ato coarctado por lei, contrário à Constituição. O efeito dessa decisão é só incidental, porque o Juiz não revoga a lei.

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14 ◄ Lucas Naif Caluri

O titular de direitos não deve ser confundido como portador de privilégios. Ao Juiz cabe distinguir essas situações para preservar a ordem pública.

A abordagem feita neste livro coteja, inclusive, com quadros comparativos trazidos ao final, os novos dispositivos com os existentes no código de 1973, trabalho de inestimável valia. É texto de excelência, que serve tanto ao profissional quanto ao estudante, ao acadêmico e ao pesquisador.

O trabalho jurídico do Professor Naif, além da exposição específica sobre “recursos” e sua “vinculação às normas constitucionais”, empresta, em suas lições, o sentido do processo servir ao homem.

Sem dúvida, esse livro garantirá uma boa leitura e um grande proveito para o exercício da nobre missão dos operadores do Direito.

Jorge Luiz de AlmeidaMestre e Doutor em Direito Processual Civil pela Universidade

de São Paulo. Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Professor de Direito Processual Civil.

José Luiz Gavião de AlmeidaProfessor titular do curso de Pós-graduação da UNIMEP.

Professor titular do Departamento de Direito Civil da USP. Professor de Direito Civil da UNASP.Desembargador do

Tribunal de Justiça de São Paulo.

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Recursos no Novo Código de Processo Civil ► 15

INTRODUÇÃO

Diante da nova legislação processual, advinda da Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015, surge uma nova era na sistemática recursal do processo civil, cuja aplicação e vigência ocorrerão a partir de 16 de março de 2016, em razão do período de um ano de vacatio legis.

A temática recursal mostra-se relevante na nova regra processual que introduz modificações estudadas na presente obra, tais como:

— O juízo de admissibilidade perante os Tribunais Superiores;

— O agravo retido e a sua extinção. Agora, as eventuais questões definidas em decisões interlocutórias na fase de conhecimento deverão ser apresentadas e suscitadas como preliminares do recurso de apelação, uma vez que, pelo novo CPC, não se opera a preclusão das interlocutórias;

— O agravo de instrumento com um rol taxativo das possibilidades de cabimento;

— O extinção dos embargos infringentes;

— O cabimento dos embargos de declaração contra qualquer decisão;

— O unificação dos prazos recursais, ou seja, quinze dias para todos os recursos, com exceção para os embargos de declaração (cinco dias);

— As demandas repetitivas com a possibilidade de reduzir os recursos, pois o julgador que identificar as demandas idênticas, provocará junto aos tribunais superiores a semelhança do resultado perante as demandas pendentes de julgamento, entre outras questões que serão abordadas.

O sistema processual civil é reiteradamente criticado por ser um dos fatores determinantes da morosidade e ineficácia da prestação jurisdicional. À medida que as sociedades evoluem, as necessidades multiplicam-se e as modificações processuais - sobretudo com a nova legislação — são contributivas para a celeridade e eficácia da prestação jurisdicional.

A proposta do presente estudo é apresentar reflexões sobre o sistema recursal. No campo das ciências jurídicas, as modificações processuais hodiernas são intensas e incessantes, obrigando os operadores do ramo a modificarem seus padrões tradicionais.

O Direito Processual luta para implementar no Judiciário processos que possam ser céleres, eficazes e aptos a propiciar a defesa e a realização do direito material.

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16 ◄ Lucas Naif Caluri

Em razão do excesso de armadilhas formais, o direito material das partes vai sendo lançado de lado, como se o acessório fosse mais importante que o principal. Os recursos são tratados pelas legislações de modo a refletir, na atividade jurisdicional, a política empreendida pelo legislador, a fim de se chegar à paz social, objetivo primeiro da jurisdição.

Dessa forma, pode o legislador ampliar ou limitar os meios de impugnação das decisões judiciais, conforme sugere este ou aquele momento do desenvolvimento do País, devendo, para tanto, servir-se da manifestação legítima dos anseios dos jurisdicionados.

Para os cientistas do Direito, denota-se a ideia de que os recursos excessivos, verdadeiros vilões, são os grandes culpados por boa parte da lentidão do Poder Judiciário e impedem a efetiva busca pela Justiça. Em matéria de recursos, a legislação processual e a farta jurisprudência funcionam como um “pântano”, sujeitando os cientistas do Direito a um verdadeiro “campo minado”. Na maioria das lides, os recursos aparecem como mecanismos que dificultam a tempestividade da prestação jurisdicional. Em algumas oportunidades, os recursos retiram a eficácia das decisões monocráticas dos juízes de primeiro grau e impõem ao litigante que já obteve o êxito em sua demanda que suporte o encargo do tempo do processo.

Ocorre que não apenas os excessos de recursos são responsáveis pela lentidão do Judiciário, mas, também, o reduzido número de juízes e funcionários, bem como a estrutura precária para atender à alta demanda de processos. Com a vivência em tempos e meios modernos, faz-se necessária a desburocratização dos procedimentos para o atendimento eficiente aos cidadãos.

O Poder Judiciário moroso, como atualmente se apresenta, acarreta efeitos drásticos para a econômica nacional, diminuindo os investimentos, restringindo o crédito, entre outras ocorrências. O documento do Ministério da Fazenda, denominado “Reformas microeconômicas e crescimento de longo prazo”, produzido pela Secretaria de Política Econômica, relata a importância da Reforma do Judiciário para o fortalecimento das relações econômicas, comercias e financeiras no País.

É inviável a continuidade de um Judiciário com mais de 100 milhões de processos, com quatro instâncias e mais de cinquenta oportunidades de reapreciação do mesmo tema, diante de um quadro recursal caótico. No estado de São Paulo, são mais de 25 milhões de ações em trâmite, e a operacionalidade dos serviços coloca a Justiça num dos últimos lugares no índice de confiabilidade aferido pela FGV.(1)

(1) NALINI, José Renato. Correio Popular, 8 de maio de 2015/Campinas/ano 88/n. 28031.

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Recursos no Novo Código de Processo Civil ► 17

O excesso de litígios e a morosidade em sua resolução exigem dispêndio de altos valores para a manutenção do Judiciário brasileiro. O Brasil gasta 3,66% de seu orçamento com a manutenção do sistema judicial, custo mais alto em comparação a outros 35 países analisados pelo Banco Mundial.

A alta taxa de congestionamento é responsável pelo tempo de duração dos processos, visualizados em um período de dez a vinte meses em primeira instância, de vinte a quarenta meses em segunda instância, e de vinte a quarenta meses em instâncias especiais (Fonte: STJ, A Justiça em Números).

A população do estado de São Paulo, pelos dados estatísticos divulgados, é de, aproximadamente, 40 milhões de pessoas. O número aproximado de juízes é de 1.600, e o de processos, em primeira instância, é de 14.142.469 (conforme comunicado CG – 651/2005 da Corregedoria Geral da Justiça de São Paulo).

Enquanto à relação juiz-cidadão, no Brasil, a população é de 1 por 25 mil, no Uruguai é 1 por 5 mil, e na Alemanha, 1 por 4 mil.(2)

Para Jorge Luiz de Almeida, o Tribunal de Justiça de São Paulo desenvolve programa de estímulo por solução pacificadora de conflitos. Por intermédio do Provimento 783/02, instituiu o “plano piloto de conciliação”. A última estatística conhecida, do setor de conciliação do Tribunal, acusou o resultado de 40,83% de conciliações, entre os 3.004 processos que aderiram ao programa.(3)

O Novo Código de Processo Civil culmina na grande reforma infraconstitucional, que certamente é a maneira mais segura de afirmar as ideias lançadas na Emenda Constitucional n. 45/2004.

Essa reforma tentará proporcionar maior segurança à população em geral, tão descrente da eficiência na prestação jurisdicional, bem como nas relações financeiras, comercias e econômicas. Porém, Mauro Cappelletti advertiu para a necessidade de se adaptarem os espíritos, sob pena de nada valerem as reformas.(4)

Sendo a promoção da justiça e da paz social um dos objetivos primordiais do Estado, insta-se salientar que a prestação jurisdicional morosa está em desacordo e descumprimento absolutos da sua função social.

O que se espera do novo CPC é uma segura contribuição para resolver as controvérsias da população de forma segura, dentro de um prazo razoável e sem ferir os preceitos constitucionais.

(2) ALMEIDA, Jorge Luiz de. A reforma do poder judiciário. Uma abordagem sobre a Emenda Constitucional n. 45/2004. Campinas: Millennium, 2006. p. 5.(3) Ibid., p. 6.(4) DINAMARCO, Cândido Rangel. DINAMARCO, Cândido Rangel. Nasce um novo processo civil. In: TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo (coord.). Reforma do código de processo civil. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 4.

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18 ◄ Lucas Naif Caluri

Parte da presente obra é fruto da dissertação apresentada pelo autor à banca examinadora do Programa de Pós-Graduação em Mestrado, como exigência parcial para a obtenção do título de mestre em Direito.(5)

Com as considerações expostas, iniciou-se o estudo apresentando o esboço histórico e o desenvolvimento dos recursos no Direito Brasileiro. Destacou-se capítulo próprio para o cerne das alterações introduzidas pela nova sistemática, ou seja, os recursos em espécies com base nos dispositivos do novo Código de Processo Civil e as principais súmulas vigentes perante o STJ e STF, referentes à temática em estudo, perpassando pelos princípios gerais recursais e efeitos.

No final da obra, constam dois quadros comparativos: o primeiro com uma comparação sequencial de todos os artigos do atual CPC, bem como a sua respectiva correspondência com o CPC revogado; já o segundo quadro é comparativo apenas no que tange à matéria recursal. Por oportuno, importante frisar que, para melhor aproveitamento da leitura, considerando o período de vacatio legis, procurou-se no decorrer da obra tratar o Código de Processo Civil de 1973 como “atual ou vigente e Código de 1973”, e a nova sistemática, introduzida pela Lei 13.105/2015, como “novo” Código de Processo Civil.

Boa leitura!

(5) Dissertação apresentada como exigência ao Programa de Pós-Graduação em Mestrado da Dissertação apresentada como exigência ao Programa de Pós-Graduação em Mestrado da Faculdade de Direito — UNIMEP, sob o tema “O novo sistema recursal no processo civil e sua contribuição para a celeridade processual”, defendida em 2006, tendo obtido a nota máxima perante a banca examinadora. <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=42418>

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Recursos no Novo Código de Processo Civil ► 19

CAPÍTULO I

1. ESBOÇO HISTÓRICO

A tendência natural do ser humano é reagir contra tudo que lhe desagrada. No que tange a julgamento, sempre se insurge contra uma decisão judicial única, vez que, envolvido nesse sentimento de inconformismo, culmina por acreditar na possibilidade de erro ou má-fé do julgador.

Como fruto desse inconformismo surgiram os recursos, cuja noção e extensão sofreram variações ao passar dos séculos.

Nos primórdios, as decisões eram imunes a qualquer ato impugnativo. Elas representavam a vontade infalível de um soberano ou a resolução inatacável do órgão prolator. Eram proferidas pelo próprio povo ou resultavam de uma jurisdição de fonte divina. Ninguém ousava atacá-las ou criticá-las.(6)

Na Antiguidade, os legisladores notaram a possibilidade de erro judiciário e criaram meios de debelá-lo. Os egípcios tinham tribunais superiores com poder de reexaminar os casos julgados por magistrados singulares. Tinham até uma Corte Suprema, integrada por trinta membros, com poder de apreciar recursos em geral, cuja escolha era levada a cabo por Tebas, Mênfis e Heliópolis.

Luiz Carlos de Azevedo enfatiza dizendo que mais caracteristicamente se denota o direito de recorrer na legislação oriunda de Moisés. Menciona a existência de uma jurisdição superior, cuja finalidade era afastar as influências da localidade nas decisões adotadas. Essa jurisdição denominava-se Sinédrio, órgão colegiado composto de setenta juízes escolhidos dentre os anciões de Israel e que, além de outras atribuições, conhecia das causas decididas por instâncias inferiores.(7)

Como se conhece na atualidade, o instituto recursal surgiu, no Direito Romano, na figura da appellatio, quando da cognitio extraordinaria. Naquela época, na fase do Império, o iudex era o funcionário do Estado, na qualidade de delegado responsável da soberania estatal. A appellatio constituía-se no recurso interposto contra suas decisões e era dirigida ao Imperador. A essa autoridade máxima cabia o reexame da matéria e a reforma da decisão.

Havia ação autônoma com o objetivo de neutralizar os efeitos da sentença do árbitro. Mas recurso, na feição atual de levar o caso julgado por juiz inferior ao reexame de órgão judicial superior, só surgiu com a appellatio do processo extraordinário, quando estava estruturado um sistema judiciário, com magistrados

(6) ORIONE, Luiz Neto. Recursos cíveis. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 227. (7) A origem e introdução da apelação no direito lusitano. 2. ed. São Paulo: FIEO Livros, 1976. p. 32.

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investidos do poder de julgar demandas cíveis e criminais. Primeiramente, a appellatio era dirigida ao Imperador e por ele julgada. Mais tarde, o julgamento desse recurso foi atribuído aos magistrados.

Com a derrocada do Império Romano e num determinado período da Idade Média, em razão da ausência de um ordenamento jurídico central, próprio do sistema feudal, prevaleceu a irrecorribilidade das decisões. Nesse contexto, as decisões dos senhores feudais — reconhecidamente autoridades máximas de seus territórios — não eram submetidas a nenhuma forma de reexame, porque acima do senhor feudal, que era o juiz, nenhuma autoridade existia, e mesmo que os recursos fossem recepcionados, eram tidos como praticamente inúteis e, até, perigosos para a parte recorrente, que estava flagrantemente enfrentando o prestígio e a forma dos prolatores das decisões.

Posteriormente, observa-se, então, o surgimento de diversos órgãos judiciais. Muitos dos antigos senhores feudais tornaram-se juízes locais, cujo cargo, comprado, transmitia-se aos herdeiros. Nesse momento, a atividade judicante labora sob o signo do mercantilismo, apresenta-se desorganizada, gerando forte descrédito junto à população. Em razão dessa falta de credibilidade, já vigia, àquela época, a recorribilidade de todas e quaisquer decisões judiciais em suas mais variadas modalidades recursais.

Quando da Revolução Francesa, ocorrida em 1789, toda situação na concepção do Poder Judiciário foi modificada, notadamente com a supressão dos cargos hereditários e com a criação de tribunais de diferentes jurisdições.

No cenário processual, no entanto, percebe-se como sendo uma das maiores conquistas da Revolução a defesa da existência de instâncias recursais, o que se concretizou com o surgimento do Princípio Constitucional do Duplo Grau de Jurisdição.

Liebman relatou que por longo tempo, no Direito romano e no Direito medieval, as duas categorias de vícios, de atividade e de julgamento, foram tidas como claramente distintas: os errores in procedendo provocavam a invalidade e, portanto, a ineficácia da sentença, como se esta nem sequer tivesse sido pronunciada, e nenhum remédio era necessário para fazer declarar a certeza da existência de uma sentença juridicamente inválida. Sententia nulla queria dizer nenhuma sentença (nec ulla sententia). Pelo contrário, os erros do julgamento não infirmavam a validade da sentença, mas para tornar possível a eliminação deles surgiu o apelo, com o qual se obtinha uma nova pronúncia sobre aquilo que já tinha sido objeto de julgamento.(8)

A recorribilidade das decisões foi restabelecida na Idade Moderna. Com o advento do Estado — e, por via de consequência, de uma ordem jurídica

(8) Manual de direito processual civil. V. III. Tocantins: Intelectos, 2003. p. 22.

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centralizada ou tendente à centralização — impôs-se a submissão do poder dos senhores feudais ao dos respectivos soberanos.

Em Atenas, a assembleia do patriciado constituía-se em órgão judicante, o Tribunal dos Heliastas, composto de 5 mil membros divididos em seções de quinhentos juízes, além de julgar originariamente os casos que lhe eram apresentados, tinha competência recursal.(9)

No processo germânico — de acentuada tonalidade religiosa, Eduardo Couture doutrina que “o fenômeno dos recursos nem se concebe, porque a sentença é uma expressão da divindade e participa do caráter infalível desta”.(10) Os julgamentos dependiam dos chamados juízos de Deus, as ordálias, que consistiam em provas arriscadas ou duelos. A assembleia velava pelo cumprimento das regras de procedimento e proclamava o resultado da prova ou do duelo.

No Direito Canônico, que evoluiu a partir do Direito romano e, paralelamente, do Direito germânico, perduraram os recursos do Direito romano. E, tanto por influência da Igreja como pelo fortalecimento do poder dos reis, generalizou-se em toda a Europa o emprego da apelação ao monarca contra os abusos dos senhores feudais ou dos magistrados locais. Multiplicaram-se pouco a pouco as vias impugnativas, a ponto de o processo civil se tornar tormentoso e quase infindável e as custas aumentarem, enriquecendo os juízes e tornando os cargos judiciários objeto de comércio.(11)

Miguel José Nader esclarece que múltiplos recursos admitiam as leis portuguesas, e essa tradição manteve-se no Brasil, com o advento do Código de Processo Civil de 1939, cujos redatores declararam o propósito de conformar as normas processuais brasileiras com a moderna doutrina. Nesse contexto, foi deixado um cipoal de recursos.(12)

Comentando o sistema recursal no Código de Processo Civil, Vicente Greco Filho relata que em Portugal, à época de Afonso III, admitia-se a apelação para as sentenças finais e para as decisões interlocutórias, na mesma linha do Direito Romano precedente à invasão bárbara. Já Afonso IV, em virtude do abuso da atividade recursal e também por influência do Direito Romano Justinianeu (de Roma do Oriente, a partir de 526 d.C.), restringiu a apelação para as sentenças definitivas, salvo algumas exceções.(13)

(9) GIORDANI, Mário Curtis. História da Grécia. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1984. p. 89. (10) COUTURE, Eduardo. Fundamentos do direito processual civil. Trad. Rubens Gomes de Sousa. São Paulo: Saraiva, 1946. p. 271.(11) SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 3º V. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 1964. p. 91.(12) NADER, Miguel José. Guia prático dos recursos no processo civil. 3. ed. São Paulo: Jurídica brasileira, 1998. p. 23.(13) Direito processual civil brasileiro. 2 V. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 267.

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O atual Código de Processo Civil, com as recentes alterações processuais, busca reduzir o número de recursos e simplificar o manejo. Várias legislações modificaram dispositivos do Código de Processo Civil com o propósito primordial de acelerar o andamento dos recursos e buscar a sempre almejada justiça.

O modelo bíblico de justiça humana foi de Salomão, que muito agradou a Deus, pois, ao invés de lhe pedir riquezas, poder, honra e glória, só lhe pediu sabedoria para governar e julgar o seu povo:

Naquela mesma noite Deus apareceu a Salomão, e lhe disse: Pede o que queres que eu te dê. E Salomão disse a Deus: Tu usaste de grande benevolência para com meu pai Davi, e a mim me fizeste rei em seu lugar. Agora, pois, ó Senhor Deus, confirme-se a tua promessa, dada a meu pai Davi; porque tu me fizeste rei sobre um povo numeroso como o pó da terra. Dá-me, pois, agora sabedoria e conhecimento, para que eu possa sair e entrar perante este povo; pois quem poderá julgar este teu povo, que é tão grande? Então Deus disse a Salomão: Porquanto houve isto no teu coração, e não pediste riquezas, bens ou honra, nem a morte dos que te odeiam, nem tampouco pediste muitos dias de vida, mas pediste para ti sabedoria e conhecimento para poderes julgar o meu povo, sobre o qual te fiz reinar, sabedoria e conhecimento te são dados; também te darei riquezas, bens e honra, quais não teve nenhum rei antes de ti, nem haverá depois de ti rei que tenha coisas semelhantes (II Crônicas 1, 7-12).

Oxalá o divino instante vivido por Salomão ante a benignidade do Senhor possa estar presente em nossos dias, na figura de nossos magistrados, assim visto por Piero Calamandrei: o juiz que se acostuma a administrar justiça é como o sacerdote que se acostuma a dizer missa. Feliz o velho pároco do interior que até o último dia experimenta, ao se aproximar do altar com o vacilante passo senil, aquela sagrada perturbação que o acompanhou, padre novato, em sua primeira missa; feliz o magistrado que, até o dia que precede a aposentadoria compulsória, experimenta, ao julgar, aquele sentimento quase religioso de consternação que o fez estremecer cinquenta anos antes, quando, nomeado pretor, teve de pronunciar sua primeira sentença.(14)

1.1. O desenvolvimento dos recursos no Direito brasileiro

Os recursos no Direito brasileiro são um dos temas que mais se distanciam do Direito Romano, originário basicamente do Direito lusitano clássico das Ordenações, o qual criou algumas figuras recursais exclusivas como os Agravos e os Embargos de Declaração.

(14) Eles, os juízes, vistos por um advogado. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 356.

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O antigo Código de Processo Civil (1973), elaborado em sua grande parte pelo prof. Alfredo Buzaid, indicava uma preocupação primordial na simplificação dos atos, formas, termos, no intuito de alcançar o ideal equilíbrio entre a Justiça e a agilidade dos julgamentos.

O Código de Processo Civil de 1973 suprimiu a possibilidade do Recurso de Revista e o Agravo de Petição, em virtude da modificação da Apelação e do Agravo de Instrumento. O Agravo nos autos do processo surgiu com as Ordenações Manuelinas, em 1521, com a finalidade de simplificar a discussão da admissibilidade da apelação.

O Código de Processo Civil de 1973, na tentativa de simplificação, regulamentou a possibilidade da interposição do Recurso de Apelação contra as decisões terminativas, com ou sem o julgamento do mérito. Já o recurso de Agravo, para as decisões proferidas no curso do processo, poderá ser processado desde logo, interposto diretamente no juízo ad quem, ou ficar retido nos autos.

O recurso de Agravo, por sua vez, foi criação do Direito Português, com denominação geral no Código Lusitano de “Agravo”, em termos de recurso, as verdadeiras fontes e fundamentos do nosso Código encontram-se consubstanciados nas Ordenações de Portugal.

A nova legislação processual, advinda da Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015, surge uma nova era na sistemática recursal no processo civil, prevê os seguintes recursos:

I — apelação;

II — agravo de instrumento;

III — agravo interno;

IV — embargos de declaração;

V — recurso ordinário;

VI — recurso especial;

VII — recurso extraordinário;

VIII — agravo em recurso especial ou extraordinário;

IX — embargos de divergência.

1.2. Dos recursos — com base nos dispositivos do Novo Código de Processo Civil

A palavra recurso é derivada do latim recursus, que contém a ideia de voltar, de retroagir, de retornar, recuar, retroceder.