reconstruindo a paz e... · agradecemos primeiramente a deus e aos nossos pais, pelo apoio...

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Francis Ribeiro Parladore Guilherme Leal Benedito Vitor Moretti Niwa RECONSTRUINDO A PAZ: REPORTAGEM MULTIMÍDIA SOBRE A NOVA VIDA DOS REFUGIADOS DA SÍRIA EM ARAÇATUBA (SP) E PENÁPOLIS (SP) Centro Universitário Toledo Araçatuba 2017

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Francis Ribeiro Parladore

Guilherme Leal Benedito

Vitor Moretti Niwa

RECONSTRUINDO A PAZ:

REPORTAGEM MULTIMÍDIA SOBRE A NOVA VIDA DOS REFUGIADOS DA

SÍRIA EM ARAÇATUBA (SP) E PENÁPOLIS (SP)

Centro Universitário Toledo

Araçatuba

2017

2

Francis Ribeiro Parladore

Guilherme Leal Benedito

Vitor Moretti Niwa

RECONSTRUINDO A PAZ:

REPORTAGEM MULTIMÍDIA SOBRE A NOVA VIDA DOS REFUGIADOS DA

SÍRIA EM ARAÇATUBA (SP) E PENÁPOLIS (SP)

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro

Universitário Toledo como parte dos requisitos para a

obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social,

com Habilitação em Jornalismo, sob a orientação da Profa.

Me. Ana Paula Saab de Brito.

Centro Universitário Toledo

Araçatuba

2017

3

Dedicamos este trabalho aos

nossos pais e aos refugiados sírios

que nos ajudaram a construí-lo.

4

AGRADECIMENTOS

Muitas pessoas foram fundamentais para a conclusão deste trabalho. Por isso, o grupo

decidiu não citar nominalmente cada um, mas a todos que, direta ou indiretamente, foram

importantes neste processo.

Agradecemos primeiramente a Deus e aos nossos pais, pelo apoio incondicional

durante toda a vida e especialmente neste ano.

Aos nossos amigos e familiares pelo suporte. Aos colegas de trabalho, que souberam

ser compreensivos nos momentos mais difíceis.

Às nossas fontes, pela pronta receptividade em ajudar.

A todos os professores do Unitoledo, que contribuíram com a nossa formação. E um

agradecimento especial à nossa orientadora, que em todos os momentos esteve ao lado do

grupo.

5

“Eu vim

Vim parar na beira do cais

Onde a estrada chegou ao fim

Onde o fim da tarde é lilás

Onde o mar arrebenta em mim

O lamento de tantos ais”

(GIL; DONATO, 1986)

6

RESUMO

O presente projeto de conclusão de curso visa a criação de uma reportagem multimídia sobre

o recomeço da vida de refugiados sírios em Araçatuba (SP) e Penápolis (SP). O produto é

veiculado em uma plataforma na internet (http://reconstruindoapaz.wixsite.com/inicial), com

o objetivo de sanar uma escassez desse tipo de gênero jornalístico na região. Intitulado

Reconstruindo a Paz, o site traz as histórias dessas pessoas, com matérias jornalísticas

pautadas com especialistas em Oriente Médio, colegas que ajudaram os sírios a reconstruírem

a vida no Brasil e com os próprios nacionais da Síria. Para a elaboração do mesmo, recorre-se

à bibliografia especializada na área de reportagem multimídia e histórica, bem como as

técnicas do jornalismo digital.

Palavras-chaves: Jornalismo digital; reportagem multimídia; refugiados sírios.

7

ABSTRACT

This graduation project aims to create a multimedia report on the resumption of the life of

Syrian refugees in Araçatuba (SP) and Penápolis (SP). The product is posted on an Internet

platform (http://reconstrucindoapaz.wixsite.com/inicial), with the aim of remedying a

shortage of this kind of journalistic genre in the region. Entitled Reconstructing Peace, the site

features the stories of these people, with journalistic articles based on Middle Eastern experts,

colleagues who helped the Syrians rebuild life in Brazil and with Syrian nationals themselves.

For the elaboration of the same, it is used the specialized bibliography in the area of

multimedia and historical reporting, as well as the techniques of digital journalism.

Keywords: Digital journalism; multimedia reporting; refugees.

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9

I – ORIENTE MÉDIO DEPOIS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ......................... 11

1.1 Diferenças religiosas na região .................................................................................................. 11

1.2 O fim dos Impérios nos países árabes ....................................................................................... 12

1.3 A questão da Palestina............................................................................................................... 14

1.4 O surgimento da unidade árabe e o papel de Nasser ................................................................... 16

1.5 A desunião árabe ......................................................................................................................... 17

1.6 O golpe militar de Hafez Al-Assad na Síria ............................................................................... 19

1.7 O surgimento do fundamentalismo islâmico ............................................................................... 20

1.8 A Guerra do Golfo e o Acordo de Oslo....................................................................................... 21

1.9 A ascensão de Bashar Al-Asad na Síria ...................................................................................... 22

1.10 A Al-Qaeda e os atentados terroristas de 2001 ........................................................................ 24

1.11 O surgimento do Estado Islâmico ............................................................................................ 26

1.12 A Guerra Civil na Síria e os refugiados ................................................................................... 29

1.13 Diferença entre Migrante e Refugiado ...................................................................................... 31

1.14 Sírios no Brasil ........................................................................................................................ 32

1.15 Sírios em Araçatuba e Penápolis .............................................................................................. 34

II – O MEIO DIGITAL E AS NOVAS NARRATIVAS ONLINE .................................... 36

2.1 Convergência midiática .............................................................................................................. 36

2.2 Interatividade: a aproximação com o público ............................................................................. 38

2.3 Narrativa onlinee webjornalismo ............................................................................................... 40

III – PRODUTO: A REPORTAGEM MULTIMÍDIA ....................................................... 54

3.1 A plataforma WIX.com ............................................................................................................... 54

3.2 Os elementos do site “Reconstruindo a Paz” .............................................................................. 57

3.3 A identidade visual do produto ................................................................................................... 62

3.4 A plataforma WIX.com para os leitores ...................................................................................... 63

3.5 Conhecendo as matérias .............................................................................................................. 64

3.6 Fontes e cores .............................................................................................................................. 79

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 80

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 82

ANEXOS ................................................................................................................................. 86

9

INTRODUÇÃO

A guerra civil na Síria, que teve início em 2011, trouxe à tona um cenário devastador

de violação dos direitos humanos e a maior crise de refugiados da história. Famílias inteiras

abandonaram o país ao longo de cinco anos de sangrentas batalhas entre o Exército Sírio,

força militar do presidente Bashar Al-Assad, e opositores ao regime.

Nesse cenário de muita instabilidade, o Estado Islâmico surgiu para aterrorizar ainda

mais essas pessoas. O grupo terrorista radical persegue os considerados “infiéis” e cometem

atrocidades com minorias curdas, xiitas e cristãos, que são grupos com orientações religiosas

diferentes. A rede ocupou vários territórios dentro da Síria e países vizinhos, e,

concomitantemente, acelerou a migração dos nativos.

Muitos desses refugiados embarcaram rumo ao Brasil e se instalaram em diversas

cidades brasileiras, incluindo o noroeste paulista, como Araçatuba e Penápolis.

A proposta da presente pesquisa é criar uma reportagem multimídia sobre a vinda

desses refugiados para a região interiorana, mostrando como eles reconstruíram suas vidas

depois de tanto sofrimento. Por meio da convergência digital, que possibilitou o agrupamento

de texto, vídeo, áudio e fotos em uma mesma plataforma, a reportagem multimídia sobre esse

assunto vem suprir uma escassez desse tipo de gênero jornalístico na região de Araçatuba.

O primeiro capítulo destina-se a explicar como a região do Oriente Médio se

transformou ao longo dos anos após a Segunda Guerra Mundial; como a Síria se desenvolveu

nesse período até aos dias atuais; o que causou a guerra civil; e o surgimento do grupo

terrorista Estado Islâmico.

No segundo capítulo, procurou-se discorrer sobre a tecnologia digital: como ela

impactou a forma de se comunicar, especialmente o fazer jornalístico, e as características do

jornalismo praticado nesta nova plataforma. A internet permitiu o acesso a um universo sem

limites de informações em múltiplos formatos, além de ser uma rede dinâmica.

O terceiro capítulo, por fim, é reservado às explicações de como foi construído o site

http://recontruindoapaz.com.wix/inicial, produto proposto neste trabalho de conclusão de

curso.

A plataforma WIX.com foi a escolhida devido às características disponibilizadas, que

remetem a grandes possibilidades multimidiáticas. A elaboração, edição, postagem e

10

hospedagem dos conteúdos do site “Reconstruindo a Paz” estão detalhadas neste terceiro

capítulo.

O website da plataforma escolhida, o WIX.com, é um construtor de sites gratuito, que

possui milhões de usuários cadastrados e é líder no desenvolvimento web baseada em nuvem,

ou seja, todo o seu sistema fica armazenado de modo online, sem a necessidade de instalações

de programas, já que os dados ficam guardados em rede.

11

I – ORIENTE MÉDIO DEPOIS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Retomar a forma como o Oriente Médio se desenhou geopoliticamente a partir da

Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e elaborar um resgate histórico desse período são

fundamentais para a compreensão dos conflitos atuais na região, principalmente na Síria, que

norteia o objeto de estudo desta pesquisa.

Magnoli (1997) ensina que a região é repleta de tensões geopolíticas regionais e

internacionais e possui uma multiplicidade de realidades nacionais, religiosas e estratégicas.

Além disso, o Oriente Médio está situado na passagem de três continentes (Europa, África e

Ásia) e detém as maiores reservas de petróleo do mundo. Por isso, povos árabes sempre

estiveram no foco de conflitos internos e externos desde a criação do Império Árabe.

1.1 Diferenças religiosas na região

A questão religiosa sempre acompanhou o mundo árabe, desde a sua criação no século

VII. O Islã, segundo o centro de pesquisa PewResearchForumonReligion1, é atualmente a

segunda maior religião em número de seguidores no mundo, ficando atrás somente do

Cristianismo. Ela originou-se espelhada na figura de Maomé, considerado o pai do Islamismo.

O profeta dos povos árabes criou uma ordem política de acordo com revelações dadas

a ele por Deus. Essas mensagens foram anexadas no livro sagrado do Islã, o Alcorão. Nas

palavras de Hourani (1991):

Um livro que descreve em linguagem de grande força e beleza a incursão de um

Deus transcendente, origem de todo poder e bondade, no mundo humano por Ele

criado; a revelação de Sua Vontade através de uma linhagem de profetas enviados

para advertir os homens e trazê-los de volta a seus verdadeiros eus como criaturas

agradecidas e obedientes; o julgamento de Deus no fim dos tempos, e as

recompensas e os castigos que a isso se seguiriam (HOURANI, 1991, p. 41).

1<http://www.pewforum.org>. Acesso em 10 mai. 2017.

12

Em contrapartida, Magnoli (1997) alerta que o mundo árabe se define pela língua, não

pela religião, pois existem outras doutrinas espalhadas pelo Oriente Médio. O Alcorão

possibilitou a unidade cultural dos árabes, pois difundiu a língua comum, já que as principais

orações do Islã devem ser pronunciadas em árabe. Tanto nas regiões dos rios Nilo, Tigre e

Eufrates, quanto na África do Norte, centenas de clãs e tribos antes separados por dialetos e

costumes diferentes foram fundidas pelo árabe corânico.

Por muitos anos, os seguidores de Maomé usaram tais características do Alcorão não

apenas religiosamente, mas também disciplinar e politicamente. Apesar da unidade do Islã, a

profunda ruptura em várias seitas ocorreu com a morte do profeta. A principal divisão é entre

sunitas e xiitas, que começou com conflitos a respeito de quem deveria ser o sucessor do líder

religioso.

Segundo Magnoli (1997), o quarto califa2, Ali ibn Abu Talib, genro de Maomé, foi

assassinado e o cargo passou para Moawiya, governante da Síria e que detinha o apoio da

maioria dos líderes islâmicos, considerados sunitas, pois acreditavam que a fonte essencial

para a lei islâmica era aSuna3. A minoria, intitulada de xiita, se revoltou com toda a situação,

pois acreditava que o governante deveria ser alguém ligado à família do profeta.

O autor ressalta que “os xiitas acreditam que só os membros do clã de Maomé

poderiam liderar os muçulmanos. Ao contrário dos sunitas, que não atribuem qualidades

divinas ao líder religioso”. Da divisão principal, surgiram outras inúmeras subdivisões dentro

do islamismo. Elas foram e ainda são motivos de revoltas, conflitos e derramamento de

sangue por toda a região.

1.2 O fim dos Impérios nos países árabes

As sociedades árabes enfrentaram dois longos períodos de dominação externa. A

primeira ocorreu com o Império Turco-Otomano a partir do século XVI. O domínio só foi

terminar com a queda e a fragmentação otomana ao fim da Primeira Guerra Mundial (1914-

1918). Foi nesse período que as potências imperialistas europeias encontraram uma brecha

para anexar os territórios. A Grã-Bretanha estabeleceu seu domínio pelo Egito, Iraque, 2 Guia ou líder temporal e espiritual da comunidade islâmica. 3 Orientação da vida e da ação em sociedade com base nas palavras de Maomé.

13

Jordânia e Palestina. A França controlou o Magreb, região noroeste da África, a Síria e o

Líbano. Já a Itália apoderou-se da Líbia.

As potências européias criaram fronteiras coloniais e de protetorados, dividindo os

territórios sob o seu domínio. Assim, surgiram os embriões dos Estados árabes

contemporâneos. O domínio europeu gerou, como reação, o aparecimento de

movimentos nacionalistas nas sociedades árabes. Esses movimentos, ainda que

influenciados pela cultura muçulmana, não se identificavam pela religião. Os novos

líderes e pensadores árabes desejavam a soberania política e a modernização

econômica. (MAGNOLI, 1997, p. 269)

Anos depois do aparente equilíbrio de poder na região, eclodiu a Segunda Guerra

Mundial. Nos primeiros anos do conflito, havia a sensação de segurança, por parte dos países

imperialistas, em relação às suas conquistas, até mesmo porque Estados Unidos e a antiga

União Soviética não tinham grandes interesses no Oriente Médio.

Mas com o decorrer do conflito e o crescimento da Alemanha de Adolf Hitler, a

preocupação entre Grã-Bretanha e França aumentou. Essa percepção ficou ainda mais forte

com uma aliada dos alemães na Líbia, a Itália. Havia o temor de que estes dois países que

compuseram o chamado Eixo (Alemanha, Itália e Japão) invadissem territórios britânicos e

franceses no Oriente Médio e no Magreb.

A França perdeu força política e militar após ser derrotada pela Alemanha na grande

guerra. Esse foi mais um motivo para o país temer a perda de seus protetorados na Síria e no

Líbano. A essa altura, os Estados Unidos já estavam imersos nos combates. Hourani (1991,

p.463) acredita que os anos de 1942-1943 foram o ponto de virada no Oriente Médio, pois

“exércitos anglo-americanos desembarcaram no Magreb e rapidamente ocuparam o Marrocos

e a Argélia. Os alemães recuaram para seu último bastião na Tunísia, mas finalmente

abandonaram-no sob ataque do leste e do oeste em maio de 1943”.

Em 1945, com o fim do conflito mundial, França e Grã-Bretanha continuaram

controlando os mesmos países árabes. Com a perda de força militar francesa, os britânicos

ajudaram-na em alguns países colonizados, como o caso da Síria e do Líbano. A Líbia, antes

governada pela Itália, foi anexada ao império britânico. Mas houve uma grande diferença

nesse período.Os dois impérios não eram mais vistos com os mesmos olhos. Os franceses

tinham o sentimento de humilhação após terem sido derrotados pela Alemanha. Já os ingleses

mergulharam em uma crise econômica sem precedentes. Além disso, Estados Unidos e União

Soviética surgiram como os grandes beneficiários da guerra e impuseram seus desejos. A

14

pergunta que restava aos britânicos e franceses era se realmente compensava manter

gigantescos impérios como aqueles.

Os sentimentos das sociedades árabes também tiveram rápidas mudanças. A

independência era algo desejado ainda durante a guerra. A Síria e o Líbano tentaram ficar

independentes da França e foram reprimidas com bombardeios em suas capitais. Diante desse

cenário de constantes revoltas, os países imperialistas chegaram a um acordo e se retiraram

dos dois locais após o término dos combates. Nesse caso específico, Hourani (1991)

exemplifica a linha política adotada pela Grã-Bretanha:

A linha geral da política britânica era de apoio à independência árabe e a um maior

grau de unidade, preservando ao mesmo tempo interesses estratégicos essenciais por

acordo amigável, e também pela ajuda no desenvolvimento econômico e na

aquisição de capacidade técnicas a um ponto em que os governos árabes pudessem

assumir a responsabilidade por sua própria defesa. (HOURANI, 1991, p. 467)

O processo de descolonização foi longo, com muitas revoltas, conflitos armados e

mortes. O principal deles foi a Guerra de Independência da Argélia, iniciada em 1954. De

acordo com Hourani (1991), o acordo de independência assinado em 1962 entre o país e a

França foi a um custo de 300 mil mortes de muçulmanos e 20 mil baixas do lado francês.

Segundo Smith (2006), foi em 1976 que as forças européias se retiraram

completamente do mundo árabe. A última foi a Espanha, que abandonou o Saara Ocidental e

o Marrocos aproveitou para ocupar a região.

1.3 A questão da Palestina

Além do conflito internacional, o Oriente Médio conviveu por longos anos e ainda

convive com os fantasmas regionais. O principal deles é a questão da Palestina, cuja história

teve início ainda no século XIX com a origem do movimento sionista e, concomitantemente, a

criação do Estado de Israel.

Os povos judeus foram ao longo de suas histórias discriminados por países europeus e

o sentimento do chamado “retorno à pátria” ganhou grandes proporções e importantes fluxos

migratórios ao longo dos anos em direção à Palestina.

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a região da Palestina passou para as

mãos dos ingleses. O secretário dos Negócios Estrangeiros de Londres, Lorde Balfour, criou

15

um projeto de lar nacional judaico na região. Por conta dos dois conflitos internacionais e de

combates internos entre judeus e árabes, a Declaração Balfour demorou a ser aplicada.

A Segunda Guerra Mundial foi o evento que trouxe o assunto à tona novamente, após

as atrocidades cometidas pelo regime nazista da Alemanha contra os judeus. Havia a sensação

de que aquele povo deveria ter o seu lar garantido, apesar dos árabes serem maioria na

Palestina (1 milhão) contra 700 mil judeus.

Em 29 de novembro de 1947, a ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou o

plano de partilha da Palestina, que previa a criação do Estado judeu e palestino. Os Estados

Unidos e a então União Soviética deram voto favorável ao projeto. Os judeus ficaram com 14

mil quilômetros de terras, enquanto os palestinos, com 11,5 mil quilômetros.

A votação gerou polêmica e a Liga Árabe não aceitou as condições da partilha. Poucos

meses depois, em julho de 1948, forças combinadas do Egito, do Iraque, da Jordânia, do

Líbano e da Síria atacaram Israel. Os combates perduraram até janeiro de 1949, quando o

Estado judeu venceu os países árabes e ampliou seu território em 50%.

A guerra de 1948-1949 abriu uma ferida profunda nas relações entre os países na

região. Centenas de milhares de palestinos transformaram-se em refugiados,

expulsos por Israel e recusados como cidadãos pelos países árabes vizinhos. A

ausência de um tratado de paz que pudesse materializar um consenso sobre as

fronteiras tornava a região um verdadeiro barril de pólvora, pronto a explodir.

(MAGNOLI, 1997, p.198)

Conforme Hourani (1991), a opinião pública árabe foi muito afetada com os

acontecimentos e isso levou a muitos levantes na região com o decorrer dos anos. Os árabes

viam as políticas britânica e americanainteiramente a favor dos sionistas. Do outro lado, Israel

negou receber os refugiados palestinos que até então viviam nos territórios recém-anexados

ao Estado judeu.

A primeira guerra árabe-israelense levou os países árabes a se unirem contra Israel.

Essa união gerou um forte sentimento nacionalista, principalmente a partir de 1953, quando

Abdal-Nasser subiu ao poder no Egito. De acordo com Magnoli (1997, p.198), “ele inaugurou

um período de cooperação militar entre o Cairo e Moscou. Reuniam-se os ingredientes para a

segunda guerra árabe-israelense”.

16

1.4 O surgimento da unidade árabe e o papel de Nasser

Em meio à criação do Estado de Israel e logo após a primeira guerra na Palestina,

surgiu no Egito a figura daquele considerado a esperança da sociedade árabe: Abd-al Nasser.

Ele deu um golpe militar no Egito e derrubou a monarquia egípcia em 1952. Nos primeiros

anos de governo nasserista, houve uma modernização da economia do país e uma política de

aproximação com a União Soviética.

Contudo, Nasser engendrou uma campanha nacionalista, não somente no Egito, mas

também em outros países árabes. O pan-arabismo, segundo Magnoli (2008, p.270), “consistia

na noção da existência de uma única nação árabe, fragmentada pelo imperialismo europeu. A

unidade política possibilitaria a reunião dos recursos dos diferentes países árabes e a

configuração de uma potência econômica”. Além disso, o petróleo em abundância no Golfo

Pérsico e a vasta mão-de-obra nas regiões possibilitariam,na visão nasserista, o ressurgimento

do brilho e poder dos árabes.

O episódio que consagrou Nasser como líder unitário foi a Crise do Canal de Suez, em

1956. O governante egípcio desagradava profundamente os países imperialistas com sua

política de unidade árabe, já que os interesses dos países europeus poderiam ser atingidos na

região. O ápice foi no dia 26 de julho de 1956, quando Nasser nacionalizou a Companhia

Universal do Canal de Suez, cuja maioria acionária era formada por ingleses e franceses.

Além disso, Nasser bloqueou o Estreito de Tiran, isolando o porto israelense de Eilath,

que liga o Mar Vermelho ao Golfo de Aqaba. Tal política foi vista como ameaçadora aos

interesses geopolíticos e uma ação militar anglo-francesa e israelense foi combinada

secretamente. Três dias após a nacionalização do Canal de Suez, Israel invadiu o Sinai

pegando o líder egípcio de surpresa. Ele ordenou a retirada de todas as suas tropas e em

quarenta e oito horas as forças militares israelenses ocuparam o canal, além de toda a

Península Desértica.

A partir dessa situação, Estados Unidos e União Soviética também se surpreenderam

com a invasão repentina dos três países e sentiram seus interesses ameaçados na zona

conflituosa. As duas superpotências fizeram pressão internacional, com direito a sanções

econômicas contra Grã-Bretanha, França e Israel. Diante da hostilidade mundial, os países

retiraram suas tropas do canal. Hourani (1991, p.482) acredita que foi nesse ponto-chave que

a estrutura de poder mundial se revelou, já que “a hostilidade de forças locais atraiu potências

17

mundiais de segundo escalão em defesa de interesses próprios, só para darem de cara com os

limites de sua força quando desafiaram os interesses das superpotências”.

O grande vencedor da ação beligerante foi Nasser, que sobressaiu como herói, o

político desafiador das grandes potências mundiais e considerado como a principal liderança

terceiro-mundista, mesmo não tendo vencido militarmente. As dúvidas que alguns países

árabes tinham em relação ao Egito ficaram mais claras depois do episódio. A figura do

presidente egípcio era a esperança daqueles que ainda não haviam conseguido a

independência, principalmente os palestinos. E foi novamente a questão Palestina que fez com

que Nasser emergisse como o fio condutor para a criação do Estado palestino e ao mesmo

tempo sepultasse a ideia de unidade e nacionalismo árabes com derrotas humilhantes e mais

guerras contra Israel.

1.5 A desunião árabe

Sentindo-se fortalecido e com sentimento de vingança, Nasser uniu-se à Síria,

formando a chamada República Árabe Unida. Tempos depois, a Jordânia também integrou a

coligação cujo único objetivo era proteger os árabes de Israel. Enquanto os Estados Unidos

armavam as forças israelenses, a União Soviética modernizava as tropas militares dos três

países árabes. Esses eram os ingredientes de mais uma nova guerra que estava por vir.Em

1967, o líder egípcio ordenou a retirada de tropas de paz da ONU, que desde a Crise do Canal

de Suez estavam no Estreito de Tiran. Com o caminho livre para ação, Nasser bloqueou o

local novamente e isolou os portos de Israel. A resposta dos judeus foi firme: um ataque aéreo

repentino, que destruiu as Forças Aéreas egípcia, síria e jordaniana. O conflito ficou

conhecido como a Guerra dos Seis Dias.

Em apenas três dias de batalhas, Israel demonstrou força, ocupando toda a região do

Sinai. No sexto dia, prestes a ocupar Damasco, a capital da Síria, o país já havia triplicado o

seu território, anexando terras do Sinai, Cisjordânia e Golan. O conflito terminou com saldo

humilhante para as nações árabes. Magnoli (1997) ressalta a briga do poder regional no

Oriente Médio, com Egito e Israel desempenhando o papel de protagonistas:

A Guerra dos Seis Dias foi produto da colisão de duas estratégias geopolíticas

opostas. O Egito procurava vingar-se da derrota militar de 1956 e acreditava que a

unidade árabe, forjada durante uma década, associada à colaboração militar da

18

União Soviética, garantiria a vitória numa nova guerra. Israel, inteiramente

enquadrado na estratégia ocidental para o Oriente Médio e armado pelos Estados

Unidos, procurava a oportunidade para o alargamento de suas fronteiras e a

consolidação de sua posição de maior potência regional. (MAGNOLI, 1997, p. 201).

Já Hourani (1991) destaca a conquista pelos judeus de Jerusalém, local onde as três

maiores religiões do mundo se convergem em lugares santos. Afirma também que, a partir do

conflito, ficou mais claro quem era a potência mais forte na região, não importando a

quantidade de combinações árabes.

O golpe fatal para o pan-arabismo foi a morte de AbdAl-Nasser em 1970. O seu vice,

Anuar Sadat, assumiu o poder. No começo, o novo líder do Egito demonstrou simpatia com a

causa árabe. Ele construiu novamente uma coligação com a Síria, mas não com a Jordânia. Os

dois países atacaram Israel de surpresa em 1973. Era o dia seis de outubro, feriado religioso

em que os judeus comemoravam o YomKippur (Dia do Perdão). A Guerra do YomKippur foi

lucrativa para os árabes no início, já que eles até conseguiram invadir territórios israelenses.

Mas a contraofensiva foi arrasadora. Damasco foi bombardeada e as tropas sírias, obrigadas a

recuar. Quando as forças egípcias e sírias seriam massacradas por Israel, os presidentes dos

Estados Unidos e União Soviética à época, Richard Nixon e Leonid Brejnev, impuseram

cessar-fogo.

A partir desse episódio, o sentimento de palestinos era de desorientação. Essa sensação

aumentou ainda mais quando Sadat afastou-se de Moscou e aproximou-se de Washington.

Com a ajuda norte-americana, Egito e Israel assinaram um acordo em separado, que ficou

conhecido como Acordo deCamp David, no qual o Sinai foi devolvido integralmente aos

egípcios. O tratado dividiu os países árabes. O Egito foi acusado de traição e manifestações de

ruas tomaram a região. A essa altura o nacionalismo palestino materializou-se na

consolidação da Organização de Libertação da Palestina (OLP), reconhecida pela ONU como

a representante legítima do povo palestino, e teve como principal líder Yasser Arafat.

19

1.6 O golpe militar de Hafez Al-Assad na Síria

Na Síria, o sentimento nacionalista era refletido pelo Partido Baath, que chegou ao

poder em 1963. Smith (2006) explica as divisões do grupo político que culminaram na

ascensão do general Hafez Al-Assad ao poder do país:

O próprio partido estava tomado por diferentes interpretações de unidade. Num

padrão que também caracterizava a política do Egito e do Iraque, ocorria disputa

entre os que ressaltavam a unidade pan-árabe acima das demais lealdades e os que

enfatizavam as necessidades e os interesses da Síria. Além das contendas sobre essa

questão, diferenças a respeito do desenvolvimento econômico-social levaram o

partido a dividir-se em facções com programas menos ou mais socialistas (SMITH,

2006, p.68).

Assad ocupou postos-chave no Exército Sírio desde o fim da Segunda Guerra Mundial

e durante as guerras árabe-israelenses. Em 1971, aproveitando a fragmentação do Baath, deu

um golpe militar no país sem derramamento de sangue. Logo após subir ao poder, o

presidente sírio instaurou um plebiscito e foi confirmado no cargo. Apesar da família Assad

seralauíta, um grupo religioso minoritário composto por apenas 12% da população síria, o

regime teve uma duradoura liderança que permanece até aos dias atuais.

De acordo com Magnoli (1997), a Síria de Assad retomou um velho projeto

geopolítico, o da “Grande Síria” histórica, no qual considerava o seu poder regional de

expansão, principalmente contra o Líbano, visto como um Estado artificial, criado pelo

colonialismo francês.

O Líbano era formado por grupos de diferentes orientações religiosas (cristãos

maronitas, ortodoxos gregos, armênios, católicos, protestantes, mulçumanos sunitas, xiitas e

drusos). E foi justamente a briga pelo poder libanês entre esses grupos, que em 1975 eclodiu

uma guerra civil no país. A Síria aproveitou o momento de instabilidade política para invadir

áreas do norte e do centro, enquanto forças israelenses ocuparam o sul, visando destruir bases

da guerrilha palestina instaladas na região, além de contrabalancear a influência síria

(MAGNOLI, 1997).

20

1.7 O surgimento do fundamentalismo islâmico

As sucessivas perdas humilhantes perante o Ocidente e regionalmente para Israel fez

surgir movimentos mais radicais no Oriente Médio. O fundamentalismo islâmico teve início

do vácuo de poder entre as nações e resgatou a figura do comando de um político e ao mesmo

tempo religioso, preceitos considerados fundamentais do Islã. A primeira grande revolução

fundamentalista não veio de um país árabe, mas estava integralmente ligada ao seu povo.

Em 1979, o Iraque de Saddam Hussein emergiu como ponto central na luta pelo

expansionismo da área, fustigando as pretensões sírias na região. O líder iraquiano fazia parte

de outra facção do partido Baath e, concomitantemente, tornou-se oposicionista em relação ao

outro grupo político governando na Síria de Assad.

Entretanto, as pretensões de Saddam para a região ficaram ameaçadas a partir de 1980,

quando o Irã sofreu uma revolução fundamentalista islâmica xiita. O então governante pró-

ocidental do país persa, xá Reza Pahlevi, foi deposto do cargo pelo aiatolá Ruhollah

Khomeini. E foi justamente o xiismo e a proximidade fronteiriça entre Irã e Iraque que

fizeram surgir a guerra entre os dois países.

Khomeini enxergou no Iraque uma boa oportunidade de expandir seu poder e instalar

a revolução islâmica, já que o país também é de maioria xiita. Os conflitos ganharam

dimensões internacionais. A União Soviética apoiou inteiramente o Iraque e os Estados

Unidos também, apesar, segundo Magnoli (1997), de armar os iranianos de forma encoberta.

Do outro lado, a Síria, preocupada com sua hegemonia na região do Golfo Pérsico, foi a maior

aliada do Irã, tentando, assim, frear o expansionismo iraquiano.

O combate terminou em 1988 com o esgotamento militar e econômico dos dois lados.

Não houve vencedores e nenhum território foi anexado durante os oito anos beligerantes. Era

apenas o início da tentativa do Iraque de provar o seu poderio na região. Magnoli explica os

motivos que levaram ao ressurgimento do fundamentalismo islâmico na região.

O renascimento fundamentalista não é um fenômeno inerente à religião islâmica ou

à cultura muçulmana. A dinâmica do fundamentalismo islâmico contemporâneo está

conectada ao fracasso do pan-arabismo, aos ressentimentos criados pela política

mundial de Washington e ao conflito nacional entre Israel e os palestinos. A

presença militar dos Estados Unidos no Oriente Médio não pode suprimir o

islamismo político. Ao contrário: tende a conferir audiência ainda maior, nas

21

sociedades árabes e muçulmanas, aos novos “guerreiros da fé” (MAGNOLI, 2008,

p. 276).

Hourani (1991) destaca que o fim da guerra abriu perspectivas de uma mudança nas

relações entre os estados árabes. De um lado, as relações entre o Egito e a Jordânia haviam

sido fortalecidas pela ajuda que lhes tinham dado. Do outro, as com a Síria estavam ruins e

essa ruptura proporcionou a intervenção mais ativa do Iraque perante os emaranhados

assuntos do Líbano.

O autor avalia também que o problema da Palestina passou para uma nova fase a partir

de 1988. Os palestinos criaram um movimento de resistência às vezes pacífico, às vezes

violento, conhecido como intifada, no qual revelou um povo unido cada vez mais na defesa de

sua causa e evidenciou a necessidade de um acordo político entre Israel e Palestina.

1.8 A Guerra do Golfo e o Acordo de Oslo

Mal recuperado da guerra contra o Irã, Saddam Hussein apostou grande e, em 1990,

testou a paciência das grandes potências ao invadir o Kuwait, um pequeno emirado petrolífero

entre o Iraque e a Arábia Saudita. Não satisfeito, o líder iraquiano ameaçou prosseguir e

ocupar o território saudita, principal aliado dos Estados Unidos na região. Magnoli (1997,

p.204) avalia que “o ditador de Bagdá pretendia enfraquecer os países árabes pró-ocidentais

(Arábia Saudita e Egito) e assumir a bandeira do pan-arabismo”.

Os Estados Unidos formaram uma coalizão com países europeus (Grã-Bretanha,

França e Itália), apoiada pelo Egito, Arábia Saudita e Síria. A já combalida União Soviética

também deu seu apoio à coalizão. O Irã, aproveitando-se da situação de neutralidade no

assunto, assinou um acordo de paz definitivo com o Iraque.

Em 1991, após a ONU aprovar uma escalada de ações políticas e militares, o Iraque

foi arrasado por ataques aéreos e terrestres no episódio em que ficou conhecido como Guerra

do Golfo. O Kuwait foi desocupado pelas forças iraquianas e o saldo humilhante fez surgir

consequências que mudaram todo o tabuleiro geopolítico da região. Nas palavras de Magnoli:

O Egito firmou-se como liderança árabe pró-ocidental, solidificando sua aliança

estratégica com os Estados Unidos e ganhando o perdão da sua dívida externa. A

Arábia Saudita viu sua posição de liderança petroleira do Golfo ser confirmada. A

Síria conquistou a liderança árabe anti-israelense [...] O desenlace da Guerra do

22

Golfo esteve diretamente ligado ao encerramento da guerra civil no Líbano. Os

acordos firmados entre os Estados Unidos e a Síria garantiram a Hafez Al- Assad o

controle geopolítico do Líbano. Em 1991, sem a tradicional sustentação militar

francesa e americana, os cristãos libaneses radicais depuseram as armas. Um

governo cristão ligado à Síria foi estabelecido no Líbano. Esgotadas pelos anos de

guerra, a maioria das facções muçulmanas acatou a autoridade do novo governo,

abandonando as ações militares. Começava a nascer a “Guerra Síria”. (MAGNOLI,

1997, p. 204).

Com o fim da União Soviética e a consolidação do poder hegemônico dos Estados

Unidos no Oriente Médio, os norte-americanos propuseram, como forma de agradecimento

pelo apoio árabe durante a guerra, uma conferência internacional de paz entre Israel e os

palestinos. Negociações públicas entre a OLP e o poder israelense foram divulgadas, mas

secretamente, em Oslo, na Noruega, um acordo de paz havia sido assinado entre Yasser

Arafat e Yithzhak Rabin, em 1993.

O Acordo de Oslo foi dividido por etapas e previa resolver assuntos tais como: a

questão dos refugiados palestinos, o destino dos assentamentos israelenses, a soberania de

Jerusalém Oriental e traçar um acordo de paz definitivo entre os dois atores nacionais. Mas a

negociação entrou em colapso após violentas represálias tanto dos expansionistas de Israel

quanto dos fundamentalistas islâmicos palestinos. Os governos foram incapazes de conter

ataques terroristas e suicidas dos dois lados. Em 2000, o acordo faliu e provocou uma segunda

intifada, muito mais violenta do que a primeira, na qual os atentados suicidas se

intensificaram. As desilusões trazidas pelo fracasso das negociações fizeram surgir

ressentimentos em todo o mundo árabe e muçulmano (MAGNOLI,2008).

1.9 A ascensão de Bashar Al-Asad na Síria

O fim da década de noventa e começo dos anos dois mil foi marcada pela morte de

três grandes veteranos da política árabe: o rei Hussein, da Jordânia, o rei Hasan, do Marrocos,

e o presidente Hafez Al-Asad, da Síria, em junho de 2000, acometido por um ataque cardíaco.

De acordo com Hourani (1991), Rifaatal-Asad, irmão mais novo de Hafez, vivia no

exílio depois de tentar derrubar o irmão durante uma doença anterior. Ele era o mais cotado a

assumir o poder na Síria, mas uma Assembleia Popular foi rapidamente convocada e votou,

23

por unanimidade, o rebaixamento da idade mínima do presidente de 40 para 34 anos, a exata

idade de Bashar Al-Asad, filho de Hafez.

O modo de governar de Hafez Al-Asad era com mãos de ferro. Ao longo de sua

estadia no poder, entregou cargos públicos e ministérios a membros dos povos alauítas, fato

este que gerou muita resistência da maioria sunita na Síria. Além disso, o presidente tornou

ilegal a criação de partidos de oposição. Diversas tentativas de tirá-lo do governo foram feitas,

mas o governante sempre reagiu de maneira violenta, extinguindo a democracia e liberdade de

expressão no país e passando a usar a força militar.

O auge desse embate ocorreu no dia 2 de fevereiro de 1982, no episódio que ficou

conhecido como o Massacre de Hama. Naquele dia, o Exército Sírio bombardeou a

cidade de Hama, que apresentava a maior resistência a Al-Asad. Até hoje, não se

sabe quantos homens, mulheres e crianças morreram nos ataques. A Anistia

Internacional, no entanto, estimou o número de vítimas fatais em torno de 20 mil

pessoas (CAVALCANTI, 2012, p. 69).

Após sua morte, a esperança da população era de que Bashar Al-Asad seguiria em

uma linha mais libertária de governar. No começo, o novo presidente demonstrou mudanças,

o que gerou esperanças em uma população combalida de tantas restrições. Ele estudara

oftalmologia em Londres, capital da Inglaterra, e logo quando assumiu o poder mostrou

querer governar por meio da democracia. No primeiro ano de mandato, Bashar, que não tinha

nenhuma experiência política e militar, libertou aproximadamente 600 presos políticos,

realizou pronunciamentos na direção da democracia, liberdade de imprensa e respeito aos

Direitos Humanos. Segundo Cavalcanti (2012, p. 69), essa “era uma forma de agradar aos

Estados Unidos e à maioria dos países da Europa, contrários ao regime imposto por seu pai”.

A lua-de-mel com o novo presidente terminou rápido. A repressão à oposição

continuou e os alauítas se mantiveram ascendendo econômica e socialmente na Síria.

Protestos foram reprimidos com mais violência ao longo dos anos, principalmente em 2007,

quando Bashar foi reeleito com 97% de aprovação, após um referendo em que ele concorreu

sozinho. Era apenas o começo do que viria a se tornar um dos conflitos mais sangrentos da

contemporaneidade.

24

1.10 A Al-Qaeda e os atentados terroristas de 2001

O século XXI começou repleto de conflitos e complexidades no tabuleiro geopolítico

do Oriente Médio. A região se redesenhou em poucos anos, em consequência do jogo de

interesses e o surgimento de uma nova ameaça: o terrorismo. O seu início remete ao século

XVIII, na Arábia Saudita. À época, a dinastia Casa de Saudfirmou um pacto com a seita

islâmica Wahabita, formada por fanáticos defensores do Islã puritano e inflexível, baseado

nas leis da Sharia, o livro de regras a serem seguidas pelos muçulmanos. Os wahabitas

ajudaram a dinastia monárquica de Saud a se consolidar na Arábia central após várias guerras

envolvendo clãs distintos.

Ao passar dos anos, houve um acordo entre os dois atores. Enquanto a Casa de Saud

governava, os wahabitas mantinham prerrogativas no âmbito religioso, sem a interferência do

Estado. Esse pacto começou a ruir quando a Arábia Saudita abriu espaço para militantes da

Irmandade Muçulmana, outra organização radical, que era perseguida em diversos países

árabes, como o Egito. O fato gerou um efeito reverso. Com a relação estremecida, os

wahabitas passaram a atuar também no campo político e, assim, formaram uma oposição

fundamentalista contra os sauditas e os norte-americanos, estes agora os principais aliados da

monarquia de Saud na região após a Segunda Guerra Mundial e parceiros na regulação do

mercado mundial de petróleo. Magnoli (2008) explica como essa ruptura fundamentalista

entre o governo saudita e a seita Wahabita proporcionou o surgimento do grupo terrorista Al-

Qaeda, com Osama Bin Laden à sua frente.

A ruptura entre a facção radical do wahabismo e a Casa de Saud derivou do apoio da

Arábia Saudita aos Estados Unidos na primeira Guerra do Golfo, em 1991, e da

instalação de bases americanas permanentes em território saudita. O impacto dessas

decisões repercutiu negativamente por todo o mundo islâmico e, especialmente, nos

países árabes. O saudita e wahabita Osama Bin Laden, em particular, acusou a Casa

de Saud de sujeitar-se à política mundial dos “infiéis”, declarou a jihad contra os

Estados Unidos e instalou-se no Afeganistão. A Al-Qaeda passou a receber

financiamento de famílias milionárias ligadas à seita religiosa saudita.

Paralelamente, avolumaram-se as manifestações subterrâneas, entre os wahabitas, de

oposição à dinastia saudita (MAGNOLI, 2008, p.275).

Em 11 de setembro de 2001, a Al-Qaeda perpetrou o maior atentado terrorista do

mundo ao atacar as torres gêmeas do World Trade Center e o Pentágono, nos Estados Unidos.

O fato gerou quase três mil mortes, o maior número de baixas em solo americano desde a

Segunda Guerra Mundial. Dos dezenove terroristas que participaram da ação, quinze eram

25

sauditas. Osama Bin Laden e o grupo Al-Qaeda assumiram a autoria da carnificina. O então

presidente dos Estados Unidos na época George W. Bush declarou guerra ao terror e a quem o

abrigasse.

A partir desse momento, o presidente norte-americano deu início à sua caçada contra

os terroristas a fim de prender Bin Laden. Ele ordenou a invasão do Afeganistão, país usado

como base pela Al-Qaeda e, em 2003, colocou em prática um desejo antigo dos

estadunidenses: derrubar o governo do não-confiável Saddam Hussein, no Iraque, sob o

argumento de eliminar governos radicais que sustentavam grupos terroristas e mantinham

armas de destruição em massa (SILVA, 2011, p. 86).

Muito se discute dos verdadeiros motivos que levaram Bush a invadir o Iraque. Na

opinião de Magnoli (2008, p. 275), logo após os atentados terroristas contra os Estados

Unidos, o presidente norte-americano exigiu que a Arábia Saudita desmantelasse a rede que

conectava os wahabitas a Bin Laden. A monarquia saudita foi incapaz de realizar o que havia

sido pedido e o fato levou Washington a desencadear a operação de derrubada do regime de

Saddam, “cuja, finalidade consistia, antes de tudo, em evitar a desestabilização da hegemonia

americana na região do golfo Pérsico”. O autor completa apresentando as consequências que a

invasão norte-americana ao Iraque trouxe ao longo dos anos.

A ocupação do Iraque complicou ainda mais o panorama estratégico do Oriente

Médio. A eliminação do regimenacionalista de Saddam Hussein detonou um

conflito civil entre a minoria sunita e a maioria xiita do país, que pode até mesmo

degenerar na implosão territorial do Iraque. Cresceu a influência iraniana sobre os

xiitas iraquianos e, de modo geral, o poder geopolítico do Irã em toda a região

(MAGNOLI, 2008, p. 275).

O cenário de instabilidades, conflitos e a tomada de decisões de política hegemônica

levaram mais caos à tão conturbada região do Oriente Médio. A invasão do Iraque é

considerada por muitos analistas um dos maiores erros estratégicos já cometidos. Tal fato

gerou ainda mais desestabilidade e fez surgir uma dissidência da Al-Qaeda no Iraque: o grupo

terrorista Estado Islâmico.

26

1.11 O surgimento do Estado Islâmico

O Estado Islâmico, também conhecido pela sigla EI, ficou notoriamente conhecido no

começo do século XXI, após a invasão dos norte-americanos no Afeganistão e Iraque. O

grupo terrorista continua a preocupar países do Oriente Médio e do Ocidente nos dias atuais,

por isso, tais governos formaram uma coalizão armada para tentar acabar com a ameaça dos

radicais. O EI é hoje a maior ameaça terrorista já existente e se difere da Al-Qaeda em vários

pontos, conforme elenca Cláudio Júnior Damin:

Hoje, o EI governa cidades, possui fontes geradoras de recursos financeiros

próprios, uma burocracia e forças irregulares numerosas, parte delas formada por

estrangeiros, além de contar com uma estratégia de divulgação universal de seus

atos, tais como a decapitação de jornalistas e reféns estrangeiros, além de punições

bárbaras àqueles que transgridam a lei islâmica (DAMIN, 2015, p.27).

O precursor do Estado Islâmico foi o jordaniano Abu Musab al-Zarqawi. Ele ficou

preso em seu país de origem durante cinco anos e mudou-se para o Afeganistão em 1999, ano

em que saiu da cadeia. No país afegão, Zarqawi contatou as principais lideranças da Al-Qaeda

e recebeu do grupo terrorista um campo de treinamento de jihadistas. O jornalista Michael

Weiss e o analista em Oriente Médio Hassan Hassan (2015, p.24) descrevem que a prisão foi

a universidade de Zarqawi. Lá, ele tornou-se “mais focado, brutal e decisivo”. O radical

islâmico conseguiu ganhar influência até mesmo entre os guardas do complexo prisional,

atraiu seguidores e assumiu o título de emir. O terrorista cumpriu apenas uma fração de sua

pena, devido a uma sucessão dinástica no governo jordaniano, quando o rei Hussein morreu e

foi sucedido pelo filho Abdullah II, que promoveu uma anistia geral para aproximadamente

três mil prisioneiros.

No Afeganistão, Zarqawi criou o seu próprio grupo terrorista com o consentimento da

Al-Qaeda, que ficou conhecido como JamaJama’atal-Tawhidwa al-Jihad (JTWJ). Os

integrantes conseguiram infiltra-ser no Iraque após a invasão norte-americana e foram

responsáveis pela insurgência local contra os soldados estadunidenses. Os radicais

perpetraram ataques com carros-bomba contra embaixadas, instalações da ONU e em

mesquitas xiitas. O JTWJ era sunita e o seu líder pregava a morte dos xiitas. Nesse ponto,

Zarqawi conseguiu trazer mais instabilidades à região, pois era um sunita lutando em um país

de maioria xiita, mas governada até então por Saddam Hussein, este também sunita. Com a

27

queda de Saddam, os sunitas perderam força no país iraquiano e Zarqawi aproveitou a invasão

norte-americana para fazer surgir um conflito religioso na região.

Segundo Damin (2015 apud LISTER, 2014) a estratégia política do terrorista era

“aproveitar o caos resultante da invasão e lançar-se como defensor da comunidade sunita para

dar início ao estabelecimento de um estado islâmico”. Em 2004,Zarqawi ganhou prestígio e se

aliou à rede de Osama Bin-Laden, passando a sua organização a ser chamada de Al-Qaeda no

Iraque (AQI). O objetivo dos dois líderes era instaurar um califado universal para os

muçulmanos, de acordo com as leis da sharia, conjunto de leis islâmicas baseadas no Alcorão.

Em 7 de junho de 2006 chegava ao fim a vida de Abu Musab al-Zarqawi, morto após

um ataque aéreo norte-americano. A AQI elegeu Abu Ayyubal-Masri como sucessor, mas em

novembro do mesmo ano, o grupo terrorista anunciou o estabelecimento de um Estado

Islâmico no Iraque, ISI na sigla em inglês. O líder dessa nova faceta radical seria Abu Omar

al-Baghdadi. A partir dessa liderança, a rede começou a ganhar contornos de como é

conhecida atualmente, pois nessa época transformou-se de um grupo rebelde em ator político-

militar responsável por governar territórios (DAMIN, 2015, p.28).

Ao longo de 2007, o Iraque entrou em guerra civil sectária, na qual forças anglo-

americanas perderam o controle da situação, já que estavam em meio a um conflito religioso

milenar, com sangrias tanto do lado xiita quanto sunita. Os norte-americanos mudaram a

estratégia de guerra com o foco a partir de então de proteger a população iraquiana contra os

insurgentes. A essa altura, o ISI já ocupava territórios iraquianos, mas tal poder não durou

muito, pois o modo radical de governo do grupo terrorista gerou o chamado Despertar Sunita,

revolta dos próprios sunitas contra os jihadistas e concomitantemente a união com as forças

dos Estados Unidos a fim de lutar contra o inimigo comum. Dessa forma, o ISI perdeu força e

a violência entre xiitas e sunitas diminuiu consideravelmente na região.

Em abril de 2010, al-Masri, antigo líder da AQI, e Baghdadi, líder do ISI, morreram

em um ataque conjunto entre forças norte-americanas e iraquianas. Abu Bakral-Baghdadi

assumiu o controle, sendo hoje considerado o grande califa. A partir dessa época, o Iraque

presenciou certa estabilidade política com o governo xiita do presidente NouriKamelal-

Maliki. Em 2011, as tropas dos EUA se retiraram do país. Não demorou muito para a

instabilidade na região surgir novamente. Maliki guinou para o autoritarismo, excluindo

sunitas e curdos do governo, perseguindo opositores e reagindo com violência a protestos no

país. Diante desse cenário, a violência sectária aumentou, o governo perdeu legitimidade e o

ISI ganhou força novamente.

28

O vácuo de poder no Oriente Médio era muito grande, já que em 2011 eclodiu em

vários países da região a Primavera Árabe, movimento estudantil que levou a uma série de

protestos contra os governos ditatoriais. O ISI aproveitou a situação e expandiu sua atuação à

Síria, lutando contra o regime de Bashar al-Asad, que além disso, começava a enfrentar a

mais longa e sangrenta guerra civil no país. O grupo terrorista foi rebatizado para Estado

Islâmico do Iraque e da Síria, ISIS na sigla em inglês, e mais tarde para Estado Islâmico do

Iraque e do Levante, com a sigla ISIL em inglês. Também em 2011, o grupo rompeu

definitivamente com a Al-Qaeda de Osama Bin-Laden. Este foi morto no mesmo ano após

uma operação militar norte-americana em Abbottabad, no Paquistão. Sobre a nova incursão

do ISIL na Síria, Damin explica como a rede de Baghdadi ganhou força econômica:

Sob a liderança de Baghdadi o ISIL começou a ganhar terreno tanto na Síria quanto

no Iraque, transformando-se no principal grupo insurgente do Oriente Médio da

atualidade. O califado estabeleceu como sua capital a cidade de Raqqa, na Síria, sob

domínio dos extremistas desde julho de 2014, local onde supostamente encontra-se o

califa. Em junho do mesmo ano o ISIL tomou o controle de Mosul (mas não de sua

represa estratégica), uma cidade com população estimada em mais de 1,5 milhão de

habitantes. É interessante notar que, a partir do controle de cidades inteiras na Síria e

no Iraque, o ISIL adquiriu uma capacidade de financiar toda sua burocracia e corpo

militar. Em Mosul, por exemplo, o dinheiro do banco da cidade foi confiscado, além

de haver a exploração de poços e refinarias de petróleo que são vendidos no

mercado negro. O ISIL, onde governa, também cobra impostos e taxas dos

moradores, muitos deles baseados na lei islâmica (DAMIN, 2015, p. 31).

As pretensões do novo califa não pararam. Em 2014, Baghdadi autoproclamou-se

chefe supremo dos muçulmanos de todo o lugar e o Estado Islâmico do Iraque e da Síria, ou

do Levante, passaria a partir daquele momento a ser chamado unicamente de Estado Islâmico,

com a intenção de expandir o poder além das fronteiras do Oriente Médio. A partir disso, o EI

tornou-se uma ameaça real ao Ocidente. Os Estados Unidos lideraram uma força de coalizão

militar e desde então realizam ataques aéreos coordenados em pontos estratégicos da rede

terrorista.

O Estado Islâmico começou uma campanha de recrutamento de estrangeiros pelas

redes sociais e instaurou o terrorismo 2.0, termo definido pela jornalista Anna Erelle, em seu

livro “Na pele de uma jihadista”. Além disso, a expansão do grupo levou-o a praticar atos

terroristas em vários países ocidentais. O mais conhecido foi em Paris, capital francesa, em

novembro de 2015, onde terroristas do EI mataram 129 pessoas em oito ataques coordenados

em diversos pontos da cidade.

29

1.12 A Guerra Civil na Síria e os refugiados

Em 2011, o mundo árabe viveu momentos de florescimento da democracia. Milhares

de pessoas saíram às ruas contra os governos ditatoriais de muitos países, como a Tunísia, o

Egito e a Líbia. As manifestações ficaram conhecidas como Primavera Árabe. Mas, na Síria,

esse período apenas marcou o início do conflito mais violento da história do país.

Centenas de estudantes participaram de protestos pacíficos contra o regime de Bashar

al-Asad. O governante reagiu com violência e enviou tropas do exército às cidades nas quais a

oposição era mais fervorosa. Segundo Cavalcanti (2012, p. 70), em apenas dois dias, estima-

se que mais de 500 pessoas foram mortas pelo regime.

Nesse contexto de truculência, a oposição ao ditador, formada por soldados e oficiais

desertores do Exército Sírio, além de civis, se uniram e criaram o Exército Livre da Síria, a

maior força armada contrária ao regime. A guerra civil já dura seis anos e de acordo com a

ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos, mais de 300 mil pessoas morreram nos

intensos combates. A não interferência direta das grandes potências pode ser explicada pelo

risco geopolítico na região. A Rússia é considerada aliada de Asad, inclusive como

fornecedora de materiais bélicos ao país. Já os Estados Unidos apóiam os rebeldes e são a

favor de um governo transitório.

Não obstante, o Estado Islâmicoganhou destaque em 2014, após romper as relações

com a Al-Qaeda, e levou ainda mais sofrimento ao território sírio, já tão devastado pela guerra

civil. O líder Abu Bakral-Baghdadi foi ungido como o Califa Ibraim e aboliu todas as formas

de cidadania.

Da maneira que ele via a questão, as nações do Crescente Fértil – e efetivamente o

mundo -, não existiam mais. Apenas o Estado Islâmico existia. Além disso, a

humanidade podia ser dividida precisamente em dois “campos”. O primeiro era “o

campo dos muçulmanos e dos mujahidin [guerreiros sagrados] por toda a parte”; o

segundo era “o campo dos judeus, dos Cruzados e seus aliados” (WEISS; HASSAN,

2015, p. 17).

Com o avanço territorial do EI e depois de várias ameaças e atentados terroristas ao

redor do mundo, as grandes potências se uniram para combater o avanço dos radicais. Até

mesmo Síria, Estados Unidos e Rússia sentaram à mesa de negociações para realizar

bombardeios em regiões de grande concentração da rede de terroristas e tentarem, assim, frear

a expansão do grupo.

30

Em 2017, o conflito ganhou novo capítulo após a vitória presidencial de Donald

Trump, nos Estados Unidos. O seu antecessor, Barack Obama, sempre recebeu muitas críticas

pela inércia em relação ao conflito, mesmo tendo conhecimento a respeito de graves violações

aos direitos humanos. Logo nos primeiros meses de mandato, Trump reverteu totalmente essa

política depois de um suposto ataque com armas químicas realizado pelo regime de Asad na

cidade de Khan Sheikhoun, matando aproximadamente 100 pessoas, incluindo crianças. Em

resposta ao ato, o presidente norte-americano autorizou o primeiro ataque direto contra o

regime do ditador sírio, lançando cerca de 60 mísseis contra a base militar em que

investigações apontaram tratar-se do local de origem do ataque químico.

O resultado de terrorismo aliado a um grande conflito interno gerou uma onda de

refugiados sírios ao redor do mundo. De acordo com o Acnur, o Alto Comissariado da ONU

para Refugiados, até abril de 2017, 5.031,576 nativos deixaram a Síria e pediram refúgio em

países como o Egito, Iraque, Jordânia, Líbano e Turquia. Além disso, entre abril de 2011 e

outubro de 2016, 884.461 pediram asilo em países da Europa.

Os sírios aparecem no topo da lista de refugiados que entram no Brasil. Um balanço

divulgado pelo Acnur mostra que 2.298 nacionais da Síria entraram em terras brasileiras até

abril de 2016.

Com o aumento do fluxo no Brasil, o governo decidiu tomar medidas que

facilitassem a entrada desses imigrantes no território e sua inserção na sociedade

brasileira. Em setembro de 2013, o CONARE, Comitê Nacional para Refugiados,

publicou a Resolução nº. 17 que autorizou as missões diplomáticas brasileiras a

emitir visto especial a pessoas afetadas pelo conflito na Síria, diante do quadro de

graves violações de direitos humanos. Em 21 de setembro de 2015, a Resolução teve

sua duração prorrogada por mais dois anos. Os critérios de concessão do visto

humanitário atendem à lógica de proteção por razões humanitárias, ao levar em

consideração as dificuldades específicas vividas em zonas de conflito, mantendo-se

os procedimentos de análise de situações vedadas para concessão de refúgio

(ACNUR, 2016).

Essas pessoas que agora estão no Brasil tentam reconstruir suas vidas longe dos

conflitos, das bombas, dos tiroteios e massacres. Muitas mudaram para São Paulo. Outras

preferiram o sossego e a tranquilidade do interior do estado. Cidades como Araçatuba e

Penápolis, no noroeste paulista, têm recebido algumas famílias sírias desde o início da guerra

civil. Com a ajuda de amigos, elas conseguiram moradias, trabalho e atualmente fazem parte

da história desses municípios.

31

1.13 Diferença entre Migrante e Refugiado

É fundamental a diferenciação entre “migrante” e “refugiado” para que se possa

entender o papel do Brasil nestes dois contextos. Também se faz importante distinguir a

primeira onda de migrantes que vieram para o país no século XIX e o atual fluxo de

refugiados vindos em razão da guerra civil na Síria.

Não existe uma definição legal uniforme para o termo “migrante” em nível

internacional (ACNUR, 2016). Migração é compreendida como um processo de partida

voluntária, como alguém que cruza uma fronteira a procura de melhores condições

econômicas de vida. Eles também podem voltar pra casa quando quiserem e gozam da

proteção do Estado fora de seu país, conforme explicação da Organização Internacional para

as Migrações (OIM):

Migrante: em nível internacional não há uma definição universalmente aceita do

termo “migrante”. Esse termo, geralmente, abrange todos os casos em que a decisão

de migrar é tomada livremente pela pessoa em decorrência (concernida) de “razões

de conveniência pessoal” e sem a intervenção de fatores externos que a obriguem.

Desta forma, esse termo se aplica às pessoas e a seus familiares que vão para outro

país ou região com vistas a melhorar suas condições sociais e materiais, suas

perspectivas e de seus familiares.

Como cita o Acnur (2016) vários fatores podem fazer com que uma pessoa resolva

migrar, como, melhores empregos, educação, saúde, vontade de ascender financeiramente. Os

migrantes são protegidos pela Lei Internacional dos Direitos Humanos.

Já no caso dos refugiados, o Acnur os define como pessoas que são especificamente

protegidas no Direito Internacional. Sãoaqueles que estão fora do seu país de origem por

temores fundamentados de perseguição, violência, conflito ou outras circunstâncias que

perturbam seriamente a ordem publica e que, como resultado, necessitam, de proteção

internacional, conforme a definição da Convenção de 1951:

Para os fins da presente Convenção, o termo "refugiado" se aplicará a qualquer

pessoa […] que, em consequência dos acontecimentos ocorridos antes de 1º de

janeiro de 1951 e temendo ser perseguida por motivos de raça, religião,

nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua

nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da

proteção desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no

qual tinha sua residência habitual em consequência de tais acontecimentos, não pode

ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele.

32

Como argumentamCalegari e Justino (2016), muito se modificou na forma de se

definir refugiados ao longo do tempo. Vários objetos legais foram usados para alterar essa

definição, como tratados e leis. Um deles foi a criação do Protocolo de 1967, que promoveu a

extensão do Direito de Asilo. Uma das definições consideradas mais amplas é a da Declaração

de Cartagena que considera refugiado a pessoa que teve “violação maciça dos direitos

humanos”.

1.14 Sírios no Brasil

A entrada de sírios e libaneses no Brasil data do final do século XIX, na década de

1870. Nesta primeira fase, eram dois os motivos pelos quais eles saíam de seus países de

origem: a ocupação de seu território original por outro povo conquistador e a fragmentação

financeira após a entrada da França e Inglaterra nos dois países depoisda Primeira Guerra

Mundial.

Como cita Cabreira (2001), a história do povo sírio no Brasil sempre esteve

intrinsecamente ligada aos libaneses. Isso aconteceu porque, após a Primeira Guerra Mundial,

o território hoje compreendido por Síria e Líbano foi dominado pelos turcos otomanos. Seus

passaportes eram emitidos pelo Império Turco, que dominou o Líbano e a Síria entre 1492 a

1919. Também vem daí o hábito de todo descendente de árabe ser chamado pejorativamente

de “turco”.

Ainda de acordo com Cabreira (2001), o Brasil era escolhido por ser considerado um

país relativamente neutro dentro do conflito e por não oferecer grandes barreiras à imigração.

Naquela época, os imigrantes se estabeleceram na região da Amazônia e, majoritariamente,

em São Paulo, tendo como ponto de partida a capital.

Os estudos encontrados tratam prioritariamente do estabelecimento da comunidade

síria na cidade de São Paulo. O trecho a seguir relata o começo desse processo:

Em São Paulo, fixaram-se inicialmente na área da Várzea do Carmo,

ocupandoprincipalmente a Rua 25 de Março e suas adjacências. Atéos anos 80, a rua

ainda era vista como a ‘rua dos turcos’, imagem que começou amodificar-se com a

chegada dos chineses e coreanos. Os terrenos mais baratos foramatraindo, pouco a

pouco, uma camada menos favorecida em busca de trabalho emoradia. Desse modo,

tanto as áreas de várzea quanto as áreas próximas das linhasférreas foram sendo

ocupadas por um grande número de imigrantes que vinhampara a cidade de São

Paulo e não seguiam para as fazendas de café (CABREIRA, 2001, p.95).

33

Cabreira (2001) acredita que, embora o café tenha atraído em massa a atenção da

maioria dos imigrantes, como japoneses e italianos que vieram para o Brasil atraídos pela

propaganda do governo feita no exterior, esse não foi o caso dos sírios. Segundo o historiador

Euclides Garcia Paes de Almeida (2008), o estado de São Paulo foi praticamente o único a

conseguir manter um esquema de imigração subvencionada pelo governo Central.

Como cita Almeida (2008), no começo, o sistema encontrado para organizar essa

imigração era a parceria. Nele, estavam envolvidos exclusivamente os imigrantes europeus.

Eles deveriam colher, secar e ensacar o café enquanto os donos da fazenda tratavam da

vendado produto. Os colonos, como passaram a ser chamados os imigrantes, começaram a

ficar descontentes, pois não viam vantagem no sistema.

Houve muitas deserções. Os imigrantes diziam que os patrões não davam nada em

contrapartida pelos trabalhos prestados e eles ainda eram vilipendiados. Eram comuns casos

de estupros, assassinatos e prisões. Com o tempo, muitos países europeus começaram a

proibir a vinda de seus moradores para o Brasil. Foi ai que passou a ser necessária a busca por

novas nacionalidades (ALMEIDA, 2008).

Os sírios que chegavam não iam para a lavoura, mas sim para o comércio. Eles

buscavam formas de aceitação entre a futura clientela. Por isso, a arquitetura de suas lojas

eramenos extravagante e não fazia tantas referências externas ao país de origem. Foi

exatamente o que aconteceu em São Paulo, como afirma Cabreira:

O primeiro passo para que um grupo seja aceito e inserido em um outro maior é

parecer-se ao máximo com ele. Desse modo, ele poderá mostrar, aos poucos, suas

diferenças. Pelo material analisado até o momento, esses imigrantes (como os de

outros grupos) optaram por essa forma de ‘aceitação’ – suas lojas não se

diferenciavam das demais lojas paulistanas; eram, sim, muito comuns.

(CABREIRA, 2001, p.96).

Mesmo fazendo o máximo para não afastar os brasileiros, os sírios e libaneses

encontravam muitas barreiras no idioma. Cabreira (2001) salienta que, no início, eram muitas

as questões discriminatórias em relação aos sírios. O fato de comerem carne crua em muitos

pratos típicos e a fala gutural muitas vezes se traduziam em forma de não aceitação.

Não obstante aos problemas de adaptação, os sírios continuaram no campo da

economia se destacando no comércio. Cabrera (2001)afirma que a atividade da “mascateação”

foi a responsável pela difusão deles pelo interior do país e do estado. Algo que ela diz se

assemelhar ao processo feito pelos bandeirantes muitos anos antes. O mascate era um

34

comerciante autônomo que ia se desfazendo das mercadorias conforme elas eram vendidas ao

longo do caminho. Eles também levavam notícias e recados de uma cidade à outra em um

tempo em que o acesso ao telefone praticamente não existia.

1.15 Sírios em Araçatuba e Penápolis

A atividade de mascateação fez com que os sírios que se concentravam na capital se

deslocassem pelo interior (CABRERA, 2001).

Segundo Almeida (2008), a história da colônia árabe em Araçatuba, em contraponto a

de outros grupos como japoneses e italianos, não teve coesão. A colônia se diluiu na cidade. O

primeiro representante da colônia árabe, Abrão Cury, chegou ao município em 1912 e

inaugurou uma casa comercial. O autor lembra que de 1950 a 1980 as melhores lojas de

tecidos na cidade eram árabes. Muitas famílias que hoje nomeiam ruas e avenidas se

estabeleceram no mesmo período, tais como: Cury, Rezek e Baracat.

Em 2008, último dado disponível, existiam em torno de 100 famílias descendentes das

famílias originais em Araçatuba. Almeida (2008) afirma que os costumes se mantêm os

mesmos basicamente até a terceira geração. Como semelhanças, o idioma é praticado em

casa, bem como os costumes culinários e o uso de ingredientes importados. No que se refere à

questão religiosa, o catolicismo romano foi adotado por boa parte deles.

Os sírios em Penápolis também acompanharam a primeira onda migratória e se

estabeleceram na cidade no início do século XX. A cidade recebeu imigrantes das regiões de

Machgara, Akrinxu, Rihna, Damasco, Hasbaia, MahjesHul, Biscous e Beirute. Na

cidadepenapolense, a colônia se concentrou principalmente no comércio, porém, alguns

expoentes de destacaram na agricultura. Também foi notório o trabalho dos sírios no

levantamento de fundos para a construção da Santa Casa de Misericórdia e da atual escola

estadual Dr. Carlos Sampaio Filho.

Um dos nomes mais respeitados no que se refere à imigração síria em Penápolis é o de

Salim David Humsi. Ele veio de Hornan, na Síria e em 1926 chegou ao Brasil e se estabeleceu

na cidade. Começou trabalhando como mascate, depois se tornou dono de bar. Em 1952, se

tornou proprietário da agência Ford, que tinha posto de gasolina, venda de peças e de veículos

e se tornou referência na região. Além disso, muitas terras no município pertenciam a ele.

35

Salim morreu em 15 de agosto de 2000 deixando uma descendência profícua na terra que o

acolheu.

O objetivo inicial deste trabalho era percorrer as cinco maiores cidades da região

administrativa de Araçatuba, em número de população, (Araçatuba, Penápolis, Birigui,

Guararapes e Andradina), a fim de mostrar as histórias dos refugiados sírios. Porém, em

contato com as respectivas prefeituras via e-mail, obteve-se a resposta de que nenhuma delas

realiza um controle sobre a existência dessas famílias. Não se tem o registro desta população

morando nesses municípios, que também não dispõem de programas sociais voltados aos

refugiados.

Contudo, após pesquisa documental em meios de comunicação regionais, localizou-se

famílias sírias vivendo em Araçatuba e Penápolis. Por esse motivo, essas duas cidades serão

usadas como norte do trabalho de apuração jornalística para o futuro site multimídia.

36

II – O MEIO DIGITAL E AS NOVAS NARRATIVAS ONLINE

2.1 Convergência midiática

É importante destacar a diferença entre meio de comunicação e a tecnologia que

permite a distribuição da comunicação. Conforme Jenkins (2006, p.46), a historiadora Lisa

Gitelman trabalha com um modelo de mídias de dois níveis: no primeiro, um meio é uma

tecnologia que permite a comunicação; no segundo, um meio é um conjunto de “protocolos”

associados ou práticas sociais e culturais que cresceram em torno dessa tecnologia. Ou seja,

meios de comunicação são sistemas culturais.

Para Lévy (1999, p. 65), a integração de todas as mídias rumo à interconexão e à

integração continua sendo algo para longo prazo. Já em relação ao termo “multimídia” o autor

conclui que, se existe o desejo de designar de modo claro a confluência de mídias separadas

sendo direcionadas para uma mesma rede digital com integração, o termo preferencial

segundo o mesmo é “unimídia”, adicionando também “multimodal” para, segundo ele, ofertar

o sentido de um “horizonte de multimídia multimodal” e, deste modo, nomear e constituir a

estruturação integrada, interativa e digitalizada da comunicação.

Levy (1999) afirma que o computador não é mais um centro, mas sim um terminal,

não sendo possível traçar seus contornos, fronteiras ou limites. As suas características se

espalharam por outros aparelhos, tais como notebooks,tabletse smartphones. A internet e seus

desdobramentos fizeram com que diversos segmentos do mundo tidos como “reais” se

adaptassem ao “virtual. ”

Como cita Levy (1999), o virtual existe, mas não necessariamente está presente. Esse

mundo virtual também é uma fonte indefinida de atualizações. A comunicação se apropria

desse mote no que se refere a um movimento de virtualização, iniciado com técnicas que hoje

são comuns, como a escrita, a gravação do som e imagem, rádio, a televisão e o telefone. Ou

seja, são meios que também foram apropriados pela mídia no momento oportuno.

Na obra A sociedade em rede, Castells (2003) afirma que essa revolução tecnológica

afeta fortemente a nossa sociedade e, consequentemente, a mídia. Schiavoni (2014, p. 01) diz

que “a internet é, sem dúvida, o mais revolucionário deles (meios tecnológicos). Sua

37

utilização nos permite, por exemplo, organizar, transformar e processar informações em

velocidade e capacidade cada vez maiores”. E não é de hoje que essa difusão chama atenção:

O índice de difusão da internet em 1999 era tão grande no mundo inteiro que estava

claro que o acesso generalizado seria a norma nos países avançados no século XXI.

Por exemplo, nos EUA, em 1997-8, a diferença racial no acesso à Internet cresceu,

mas o acesso à Internetaumentou 48% em um ano nos lares hispânicos, e 52% nos

lares de negros em comparação com 52,8% nos lares de brancos. De fato, entre

universitários, a diferença de raça e sexo no uso da internet estava desaparecendo em

fins do século. E em 200, 95% das escolas públicas dos EUA tinha acesso à Internet

(Castells, 2003, p.439).

Neste sentido, Jenkins (2009, p. 63) acredita que “a convergência envolve uma

transformação tanto na forma de produzir, quanto na forma de consumir os meios de

comunicação”. É uma mudança na forma como vemos a nossa relação com a mídia. A

convergência midiática acontece dentro do cérebro das pessoas, conforme afirma o autor.

O autor afirma que a convergência altera a lógica de produção da indústria midiática e

também a lógica pela qual os consumidores processam a notícia. Enquanto no passado uma

empresa se concentrava em apenas um segmento, exemplo, produção de filmes, hoje, uma

mesma empresa pode produzir filmes, séries para TV, streaming, brinquedos, parques de

diversão, livros, jornais, revistas e quadrinhos.

Ao mesmo tempo, o modo de consumo também mudou. Nesta celeuma Jenkins (2009,

p.50) afirma que um adolescente pode fazer um trabalho no computador com cinco abas

abertas: navegando na internet, ouvindo música, batendo papo com amigos, digitando o

trabalho e respondendo e-mails A convergência está ocorrendo dentro do mesmo aparelho, da

mesma empresa e, principalmente, no cérebro do consumidor.

Graças à proliferação de canais e à portabilidade das novas tecnologias de informática

e telecomunicações, as mídias estão em todos os lugares e, por isso, já se vive em uma cultura

da convergência.

A ideia antiga de convergência era de que todos os aparelhos iriam convergir em um

único dispositivo. No entanto, atualmente, o hardware diverge enquanto que o conteúdo

converge. O conteúdo de um vídeo, de uma agenda, de um jornal ou de um e-mail, por

exemplo, foi adaptado para ser localizado em qualquer lugar. Neste sentido:

Boa parte do discurso contemporâneo sobre convergência começa e termina com o que chamo

de Falácia da Caixa Preta. Mais cedo ou mais tarde, diz a falácia, todos os conteúdos de mídia

irão fluir por uma única caixa preta em nossa sala de estar (ou, no cenário dos celulares, em

caixas pretas que carregamos conosco por todos os lugares). [...] Parte do que faz o conceito

da caixa preta uma falácia é que ele reduz a transformação dos meios de comunicação a uma

transformação tecnológica, e deixa de lado os níveis culturais (JENKINS, 2009, p.42).

38

Jenkins (2009) diz ainda que os conglomerados de mídia estão adotando a cultura da

convergência por razões como a criação de múltiplas formas de se vender conteúdo e a

fidelização do consumidor em uma época em que fragmentação de mercado e a troca de

arquivos pode comprometer o futuro dos negócios.

2.2 Interatividade: a aproximação com o público

A tecnologia presente na plataforma digital implementou um impulso de novas

possibilidades para o público em relação ao conteúdo recebido. No fim do século XX, houve

o surgimento do chamado quarto jornalismo que, segundo Marcondes (2000), é o da era

tecnológica, que se inicia com a introdução de computadores nos processos editoriais.

Nascem, então, novas linguagens nas narrativas jornalísticas e tanto a produção do conteúdo

quanto a recepção do mesmo são afetadas pela tecnologia.

A rede digital provoca em seus usuários perspectivas diferenciadas e permite um

maior envolvimento do leitor que pode, de acordo com a sua própria vontade, compartilhar,

comentar e interagir na construção de um noticiário, por exemplo, como cita Barbeiro e Lima

(2013), fazendo com que barreiras sejam derrubadas e ocorra um aprofundamento e uma

desintermediação na comunicação, em uma conectividade de todos com todos, onde tanto o

receptor, quanto o emissor têm participação.

Todos esses avanços propiciaram mudanças na forma de comunicação, causando

impactos na mídia tradicional e no comportamento social da população, segundo Ferrari

(2014), já que proporcionou um acesso à informação de maneira única, e continua

modificando o processo de comunicação contemporâneo na obtenção de novos métodos para

que seja possível a ação da interatividade em modo pleno.

Graças às mais recentes tecnologias, jornalistas e o público em geral podem fazer

mais para e por eles mesmos, uma vez que todos são sujeitos do processo de

produção, divulgação e interação de notícias. Eles podem realizar mais ações juntos,

sem limitações ou hierarquia, pois todos têm a mesma importância, ainda que isso

possa deixar os jornalistas melindrados. Esse envolvimento permite a construção de

um jornalismo mais crítico, com o acompanhamento e a fiscalização do público; ou

seja, a redação passou a ter o mesmo tamanho da rede e de seus nós (BARBEIRO;

LIMA, 2013, p. 36).

39

A sociedade atual, que vem acompanhada e conectada com a mídia digital, tem se

diferenciado dos seus antepassados no processo comunicacional. O veículo digital continua

em seu processo de modificação do relacionamento do público com a informação e a

liberdade de ação, que não era possibilitada pelos meios tradicionais de comunicação, é

vigente na plataforma digital. Já, os meios tradicionais buscam readaptações e modificações

para atender à nova demanda que acessa os conteúdos informativos de modo como julga

conveniente.

A Rede de micros, informações e pessoas, como um meio de comunicação, reúne

em si a capacidade de suportar a veiculação, com sucesso, praticamente de todos os

tipos de conteúdo digital: texto, imagens (figuras, fotos, animações e até simulações

3D), som e vídeo. Dessa forma, a Rede funciona como uma mídia camaleônica,

assumindo momentaneamente o formato antes utilizado por jornais, revistas, pela

rádio e até pela televisão. E ainda vai mais longe, oferecendo novas possibilidades:

mistura as mídias entre si e adiciona uma pitada de interatividade, ou seja, um certo

nível de controle de conteúdo por parte do receptor (VILLELLA, 2002, p. 36).

O meio de comunicação digital tem entre as suas características o fato de ser

descentralizado. Como cita Villella (2002), não existe na mídia digital a definição exata de

emissor-receptor, pois os papéis possuem dinamismo e temporariedade, esvaziando em partes

o poder da palavra dos detentores do meio.

Neste novo contexto de comunicação multimídia, desponta o papel preponderante do

receptor, que pode escolher qual tipo de conteúdo quer consumir naquele momento - se um

vídeo ou podcast, por exemplo. Esse empoderamento da audiência encaixa-se na teoria do

Gatewatching4, de Axel Burns (2005).

Essa teoria trata da reconfiguração do processo produtivo e dos próprios ideais

jornalísticos. Nela, o receptor também escolhe o que é assunto. Esta teoria faz oposição à

anterior, do Gatekeeper, que afirma que as notícias são como são porque os jornalistas assim

determinam.

Com as novidades que a tecnologia da informação tem proporcionado na sociedade, os

formatos jornalísticos que vigoraram por décadas e décadas, junto com as teorias clássicas do

jornalismo, estão em processo de abandono, segundo Ferrari (2014), cedendo espaço para

novos estudos, debates, terminologias e formatações.

Esta mudança de paradigma inclui ir do analógico ao digital, do físico ao virtual, da

baixa a alta velocidade de transmissão, da comunicação por fio a sem fio, do unidirecional ao

processo de interatividade.

4 Em português, o termo equivale à ideia de a audiência ter o poder de escolher o que passa no portão da mídia.

40

A arquitetura da informação, o design, o modo de utilizar a plataforma digital, a

usabilidade e a navegação por essa rede informativa formam uma hibridização de tecnologia e

linguagens. Com o surgimento desse meio hibrido tecnológico também surge o conceito de

hipertexto:

Um bloco de diferentes informações digitais interconectadas é um hipertexto, que,

ao utilizar nós ou elos associativos (os chamados links) consegue moldar a rede

hipertextual, permitindo que o leitor decida e avance sua leitura do modo que quiser,

sem ser obrigado a seguir uma ordem linear. Na internet não nos comportamos como

se estivéssemos lendo um livro, com começo, meio e fim. Saltamos de um lugar

para outro – seja na mesma página, em páginas diferentes, línguas distintas, países

distantes etc. (FERRARI, 2014, p.44).

A tecnologia do hipertexto e algumas de suas características, como a não linearidade, a

fragmentação, o diálogo de convergência midiática onde um texto dialoga com um vídeo, um

áudio, ou até mesmo um infográfico, permitem uma fluidez textual e uma leiturabilidade com

liberdade e elasticidade. O internauta pode ter controle do conteúdo postado, reconfigurando a

informação segundo sua própria lógica, de acordo com suas preferências e hábitos de leitura,

conforme relata Ferrari (2014).

Com a descoberta e o advento da rede hipertextual e a popularização da terminologia

multimídia, criou-se também a chamada hipermídia, que são todos os métodos de transmitir

informações baseadas em computadores, incluindo sons, imagens, vídeos, animações e textos.

Uma vez que o ciberespaço permite a incorporação e a articulação de formatações

diversificadas, a comunicação também se torna híbrida, diferentemente dos meios

tradicionais.

2.3 Narrativa onlinee webjornalismo

Surge, no século XXI, uma nova maneira de trabalhar a notícia com os recursos

audiovisuais, com remixagens e recombinações. O jornalismo torna-se multitarefado e

multimidiático, em uma nova concepção de mídia:

A multimídia é elemento fundante da era do webjornalismo. Jamais poderíamos

imaginar que em um único espaço teríamos a possibilidade de ler, assistir e ouvir o

que se passa no mundo de forma tão convergente. [...] E já que tudo (áudio, vídeo,

imagens em movimento, gráficos animados etc.) é circundante e vem convergindo

na mesma linha do tempo da web, podemos chamar o que presenciamos de pós-

convergência. (PRADO, 2011, p.125)

41

A tecnologia muda constantemente e, com ela o jornalismo praticado na plataforma

digital também adentra nessa constante de evoluções e revoluções. A cada momento, o

internauta e os profissionais da comunicação entram em uma espécie de teia da WorldWide

Web, diz Ferrari (2014), que apresenta os labirintos que a arquitetura da informação propaga.

Para Villella (2002), a Internet permite acessar um universo sem limites de

informações em múltiplos formatos digitais, além de ser uma rede dinâmica, com movimento

contínuo, em mutação constante, sendo comparada, por isso, a um ser orgânico.

Não se deve fazer o usuário navegar em círculos, em um emaranhado de informações

sem que a informação seja trabalhada de modo bom, com o uso de todos os recursos desde o

hipertexto até o hipermídia. O conteúdo online pode ser adicionado das mais variadas formas,

uma vez que o texto e a sua respectiva leiturabilidade não seguem a lógica dos meios

tradicionais impressos. O internauta possui o poder de decidir de que modo fará a absorção

das informações postadas e de qual maneira fará a leitura do conteúdo:

Os elementos que compõem o conteúdo on-line vão muito além dos

tradicionalmente utilizados na cobertura impressa -textos, fotos é gráficos. Pode-se

adicionar sequencias de vídeo, áudio e ilustrações animadas. Até mesmo o texto

deixou de ser definitivo – um e-mail com comentários sobre determinada matéria

pode trazer novas informações ou um novo ponto de vista, tornando-se, assim, parte

da cobertura jornalísticas. E acessar um conteúdo não é necessariamente a leitura de

uma noticia (...) (FERRARI, 2014, p.39).

O material jornalístico produzido pelos meios tradicionais e por agências de notícias,

não pode simplesmente ser adicionado na plataforma digital sem antes passar por um processo

de codificação, com uma linguagem WEB aceita pelo público. É preciso criar um conteúdo

digital e produzir uma notícia para a internet, o que exige do profissional um grau elevado de

conhecimento das mídias (FERRARI, 2014). A técnica de escrita jornalística conhecida como

pirâmide invertida não ganha sentido se praticada no webjornalismo (CANAVILHAS, 2001),

mas, uma conjuntura de pequenos textos com interligações, em que o essencial da notícia é

informado e o restante das informações adicionadas em blocos por hiperligação, tem a sua

valia e aceitabilidade no jornalismo digital.

O público online tem que ser conquistado, pois é uma audiência diversificada e mais

receptiva ao que é inovador e ao que não segue estilos convencionais. Prado (2011) ressalta

que o internauta vai ler um texto completo e/ou apenas trechos de alguns. Vai saltar outros

conteúdos, ler na vertical, enfim, tem o poder de estabelecer o que e como vai ler. É a

42

chamada leitura rizomática citada por Prado (2011), que faz uma alusão ao caules que

possuem várias ramificações e podem levar a diferentes caminhos.

Segundo Ferrari (2010), apesar de ser aparentemente caótica, a narrativa digital é

extremamente organizada, e apesar de todas as mudanças de paradigmas e da multiplicidade

de novos formatos disponibilizados para a prática do jornalismo na esfera digital, o seu

conteúdo deve ser embasado na boa apuração e manter a credibilidade.

Até mesmo alguns conceitos como o lide, recorrendo à fórmula do: quem, o quê,

quando, onde e porque, não podem entrar em esquecimento, mas sim continuar mantendo a

sua força na opinião da autora.

O conteúdo, portanto, continua sendo primordial, não importando o formato e nem a

linguagem pelo qual o mesmo venha a ser transmitido e difundido:

Linguagem concisa também se estabelece na web, apesar de ter a capacidade de um

conteúdo sem limites de espaço; é notório que internautas não passam muito de um

segundo pagedown, tanto que um lide ou lidão é o suficiente para garantirmos uma

mínima absorção. Com a máxima de que ninguém mais tem tempo porque faz

muitas coisas concomitantemente, as tais multitarefas e a velocidade da informação

resumida ganham a força absoluta. É preciso, então, não somente preparar

reportagens com todos os meandros necessários (pauta, planejamento, produção,

pesquisa, apuração, checagem, identificação, redação,, revisão, publicação etc.)

(PRADO, 2011, p.214).

Barbeiro e Lima (2013, página 56) reforçam a ideia de que, mesmo com toda a

tecnologia digital que está disponibilizada, “o jornalismo depende da velha e boa reflexão,

bem como da investigação, da acurácia e da divulgação”.

Para eles, a essência do jornalismo não pode ser rompida em função do meio digital. A

sociedade conectada, com a informação rápida ao alcance de todos, faz parte do estágio atual

da humanidade.

Como cita Prado (2010), a internet não é mais uma novidade. Entretanto, não foi tão

simples o começo desse processo de implantação de uma rede mundial de computadores

interligada via satélite. Não obstante, a imprensa estabelecida, principalmente os jornais, não

sabiam como aderir à essa nova ferramenta.

Prado (2010) acredita que a internet é um espaço que permite não só a inclusão de

diversos formatos jornalísticos, mas também facilita a já discutida convergência das mídias,

ou seja, permite que o internauta navegue, ouça, assista e interaja com todas as formas de

jornalismo.

43

Podemos observar, com base nos estudos de Prado (2010) como foi a evolução e a

migração dos jornais impressos para a internet no Brasil e no mundo. Sobre o mesmo tema,

Prado (2010, apud Manuel Castells, 2005) afirma que a criação e o desenvolvimento da

internet nas três últimas décadas do século XX foram consequências de uma fusão singular de

estratégia militar, grande cooperação científica, iniciativa tecnologia e inovação

contracultural.

Desenvolvida pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, a internet surgiu

como um projeto que permitisse a comunicação entre os militares durante o período da Guerra

Fria. Em 1962, pesquisadores do exército criaram uma rede que fosse resistente a ataques de

bombas. Essa rede, a Arpanet, foi inaugurada em 1969 e passou a ser utilizada pela BBC.

O ano de 1971 marcou o início das produções digitais no Brasil. Prado (2010) salienta

que entre 1972 e 1973 foi criado o e-mail e também bancos de dados que passam a ser usados

no jornalismo, ainda pelos jornais impressos, como o Philadelphia Inquirer. As agências de

notícias United Press International e Associated Press adotam a produção digital. Em 1974, a

agência Reuters passa a trabalhar com videotexto.

Em 1983, a Revista Time coloca o PC como “Homem do Ano”. Em 1985, o Windows

se torna expoente e cerca de 50 jornais no mundo oferecem bancos de notícias online. No

Brasil, 1988 é a data da união da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e da

FAFESP (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo) com a Bitnet, trazendo a

internet para o Brasil.

Prado (2010) mostra ainda o lançamento do Broadcast da Agência Estado em 1990.

Dois anos depois, eles já eram líderes de mercado. Dentro do Broadcast foi lançado ainda o

Agrocast, um segmento voltado para o agronegócio. Ainda não era um jornal propriamente

dito, apenas informações voltadas para a economia e agronegócio. A Agência Estado foi a

primeira empresa de informação brasileira a ter um site.

Emjaneiro de 1991 é estabelecida a primeira conexão do Brasil à internet, segundo

Siqueira (2009, p.278).

O Jornal do Brasil faz história ao lançar uma cobertura jornalística completa em 28 de

maio de 1995 e se tornar o primeiro jornal eletrônico do país. A sua primeira edição na rede

entrou no ar em oito de fevereiro do mesmo ano, conforme Baldessar (2009). Nos seus

primórdios o JB apenas reproduzia na internet o que havia sido feito no jornal impresso, como

afirmou o jornalista Roberto Cassano em depoimento ao JB Online.

44

“O velho 386 onde montávamos o JB Online no bloco de notas do Windows ou num editor de

HTML chamado HTMLWriter não tinha acesso ao sistema editorial da redação, que é de onde

puxávamos as notícias obtidas por escuta, vindas de agências internacionais ou produzidas

por nossos colegas de Agência JB”. Em depoimento ao especial 10 anos do JB Online.

(Disponível em: http://jbonline.terra.com.br/destaques/2005/10anos/memoria3.html.

Acesso em 20 de maio de 2017.

Ainda segundo

Baldassar (2009), em

1996 os próprios

funcionários do Jornal do

Brasil fizeram uma

votação interna para

mudar o layout do site do

jornal. O vencedor foi

Carlos Benigno e muito

do que foi criado na época ainda está no ar e são resquícios da arquitetura de informação:

45

(Figura 1) Layout em 1996

Em 1997 o Jornal do Brasil entraria para a história mais uma vez como o primeiro site

a transmitir ao vivo o réveillon na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Como cita

Baldassar (2009), o êxito do jornal deve ser considerado ainda mais por não naquela época

ainda não haver estrutura técnica disponível como temos atualmente. No mesmo ano

transmitiu o carnaval carioca direto do sambódromo. Em 2002, o portal inaugurou a narração

em texto de partidas de futebol.

(Figura 2) Layout em 2002

O Grupo Folha5 chega à internet em 1996, segundo Baldassar (2009) e o próprio site

da Folha. Em abril é lançado o Universo Online (UOL) de forma experimental. Ele tinha

acesso aberto e gratuito à todos os usuários da rede e também reproduzia o conteúdo da Folha

de São Paulo.

5 Entra no ar o Universo Online. http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/historia_96.html Acesso em 30 de

abril de 2017

46

(Figura 3) Primeira web página da Folha de São Paulo

Em 1996 também entrou no ar o site do jornal O Globo, batizado à época de O Globo

On. Segundo informações do próprio site6, ele seguia o preceito dos anteriores de publicar o

conteúdo impresso no online sem nenhum tipo de adequação. A única adaptação era a não

postagem de fotos já que a internet no Brasil era extremamente lenta, algo em torno de 14

kbps, e não possibilitava a visualização de imagens em boa qualidade.

A primeira página trazia apenas a reprodução de matérias publicadas no jornal impresso e

nenhuma fotografia, já que a velocidade de conexão na época dificultava baixar fotos com um

mínimo de qualidade. Bem diferente da complexidade do site hoje, onde são exibidas dezenas

de fotos e até vídeos, que rodam direto na primeira página, algo que parecia coisa de filme de

ficção científica na estreia.

(Disponível em< http://oglobo.globo.com/sociedade/na-essencia-do-globo-inovacao-

cidadania-1-16991501#ixzz4flq0XA8D>. Acesso em 30/04/17)

Alinhado aos ideais de liderança do grupo Globo, o site estreou com uma mensagem

de o portal teria algumas possibilidades que o jornal impresso não tinha, como interatividade,

resposta imediata aos questionamentos do leitor e participação direta do internauta nas

discussões sobre temas jornalísticos.

6 Na essência do Globo Inovação e Cidadania. http://oglobo.globo.com/sociedade/na-essencia-do-globo-

inovacao-cidadania-1-16991501. Acesso em 30 de abril de 2017

47

(Figura4). Primeira página de O Globo em 1996

No início, os jornais não tinham sua versão integral transposta, como afirma Prado

(2010). Eles veiculavam pela internet apenas o que julgavam principal no conteúdo do dia e

esse conteúdo não era atualizado constantemente como atualmente. Muitos jornais ainda

reproduzem tal comportamento o que, segundo Prado, não é webjornalismo.

(Figura 5) Vista da capa de O Globo em 2006

De acordo com dados do acervo, o jornal do Estado de São Paulo teve seu primeiro

portal lançado oficialmente em 28 de maio de 2000. O estadão.com.br reunia inicialmente

48

todo o conteúdo produzido pelo Grupo Estado – os jornais O Estado de São Paulo e Jornal da

Tarde, Agência Estado, Rádio Eldorado e Listas Oesp Estadão.

(Figura 6) Propaganda no jornal impresso anuncia o lançamento da campanha de divulgação do site

Ribas (2004) afirma que não basta uma reportagem tem vídeo, texto e gravação sonora

para ser considerada multimídia. Esses elementos separadamente são apenas informações

desintegradas de mensagens informativas independentes. Jenkins (2009) reitera que

convergência é o suporte de múltiplas plataformas para cooperação do conteúdo:

Por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes

midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento

migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte

em busca das experiências de entretenimento que desejam. Convergência é uma

palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e

sociais (JENKINS, 2009, p.29).

Com o advento dos smartphones e das redes sociais, os jornais precisaram reinventar o

modo de contar histórias e buscar inspirações dentro e fora do Brasil. Segundo Ferrari (2003),

era necessário ressaltar os princípios da hipermídia de narrar de forma não linear, de modo

que a história lida do começo, meio ou fim fosse compreendida.

As reportagens multimídia são, segundo Cristiano e Silva, herdeiras das grandes

reportagens impressas. São classificadas como parte do jornalismo interpretativo e definidas

49

como uma reportagem com “interpretação, aprofundamento e detalhamento dos fatos, mas

dentro de outra plataforma”.

Para Longhi (2009, p.153) “a grande reportagem é constituída de formatos de

linguagem multimídia convergentes, integrando gêneros como a entrevista, o documentário, a

infografia, a opinião, a crítica, a pesquisa, dentro outros, num único pacote de informação,

interativo e multilinear”.

A reportagem SnowFall, produzida pelo jornal The New York Times em 2012 e

vencedora do prêmio Pulitzer de 2013, se tornou referência de uso correto das ferramentas

multimídias. A matéria conta a história de uma avalanche que vitimou três esquiadores nos

Estados Unidos. São utilizados fotos, vídeos, gráficos, mapas e textos tudo para dar ao leitor a

dimensão do que foi o acidente.

(Figura 7) Página inicial da reportagem multimídia SnowFall vencedora do prêmio Pulitzer de

Jornalismo de 2013

50

(Figura 8) Mapa animado se movimenta enquanto os nomes das rotas de esqui aparecem na tela

Os jornais brasileiros perceberam essa importância e já produzem material na mesma

seara. Em 2014, a Folha de São Paulo recebeu o Prêmio CNI de Jornalismo na categoria

internet pela reportagem multimídia “A Batalha de Belo Monte” que dava um panorama sobre

a dimensão da obra, suas contradições, além do impacto financeiro e ecológico para o Brasil.

A reportagem também mostra em animação 3D, a dimensão do empreendimento e

como ficaria o resultado final da obra. Há esmero com fotografias que tomam toda a tela e

também presença de vídeos explicativos, além de gráficos e do texto que costura os demais

elementos.

(Figura 9) Página inicial da reportagem “A Batalha de Belo Monte” da Folha de São Paulo

51

Acompanhando a tendência, os jornais o Estado de São Paulo e O Globo fizeram

incursões premiadas no mundo da reportagem multimídia. O primeiro ganhou o 1º Prêmio de

Jornalismo da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) na Categoria Online, pela

reportagem ‘Crack, a invasão da droga nos rincões do sossego’ segundo o site do Estadão7.

(Figura 10) Reportagem multimídia premiada feita pela equipe do jornal O Estado de São Paulo

A reportagem especial é dividida em vários capítulos e tem o uso de infográficos,

áudios e vídeos com depoimentos, além de ter um mapa interativo do Estado de São Paulo

7 Reportagem multimídia sobre a invasão do crack no interior de SP é premiada.

http://www.estadao.com.br/noticias/geral,reportagem-multimidia-sobre-a-invasao-do-crack-no-interior-de-sp-e-

premiada,1574831. Acesso em 30 de abril de 2017.

52

com informações vindas da Confederação Nacional dos municípios (CNM) com as cidades

que declararam ter problemas decorrentes do consumo de crack em suas respectivas

localidades.

Ao observarmos tantos exemplos nacionais e internacionais de jornalismo multimídia

que tratam de modos diferenciados as informações, em um caráter de grandes reportagens

especiais, perante temas que carecem de maiores explicações e entendimento ao público

leitor, percebemos em nossa pesquisa que existe uma carência de conteúdos jornalísticos

desse nível na região de Araçatuba. Os veículos de comunicação regionais têm mantido as

nuances tradicionais no modo de propagar as informações, não obtendo um uso com a

amplitude das plataformas digitais. Temas atuais, complexos, densos, e que exigem uma

profundidade jornalística, com características que justificariam uma abordagem especial, tal

qual a temática dos refugiados sírios nas cidades de Araçatuba e Penápolis, são apresentados

do mesmo modo que vigora desde outros tempos.

A título de exemplo, em 04 de maio de 2014, o site do Jornal Interior de Penápolis

postou uma matéria com o título: “Sírios: Refugiados de guerra chegam a Penápolis para

reconstruírem a vida”, e na data de 31 de agosto de 2014 fora adicionado no portal do

jornal Folha da Região uma reportagem intitulada: “Refugiados da guerra na Síria

reconstroem a vida em Araçatuba”, esta contendo trechos da matéria e uma foto, além de um

aviso relatando que o conteúdo é para assinantes e disponível na íntegra apenas para os

mesmos.

Ambas as reportagens foram adicionadas em pequenos trechos e não possuem

conteúdos extras como vídeos, galerias de imagens, e demais opções multimídias, que são

possibilidades do jornalismo na internet. Tratam-se de reproduções do conteúdo que saiu nos

respectivos jornais impressos que tais sites representam.

Pollyana Ferrari (2010) salienta que quando houve a chegada da redação digital, esta

parecia ter alterado a forma existente e consolidada de construção e veiculação da notícia

escrita, que era calcada em um modo produtivo industrial, ou seja, criou-se um cenário de

transformações no modo operante do jornalismo. Porém, mesmo com o advento da revolução

tecnológica na imprensa, muitas empresas jornalísticas não aderiram totalmente às diversas

oportunidades e especificidades que a internet é capaz de ofertar.

A resistência em lidar com certas características históricas presentes no rádio, TV,

jornais e revistas, e a opção de não ter a convergência, a união dessas identidades

53

comunicativas tradicionais com as linguagens modernas do tecnológico atual, vai contra os

anseios e prognósticos da comunicação da era digital. É necessária a adoção de novas visões

para a prática do jornalismo.

O advento da tecnologia informacional no jornalismo é o encontro de um novo

oceano que precisa ser explorado, compreendido, pesquisado e vencido. Como

lembra Peter Drucker, o que chamamos de revolução da informação é considerada a

quarta do mundo por ser posterior à escrita, ao livro e à impressão. [...] Hoje em dia,

não há mais como fazer jornalismo sem utilizar a web, pois o fluxo de informação é

imenso (BARBEIRO; LIMA, 2013, p. 49).

Uma temática igual à questão dos refugiados sírios que vivem em Araçatuba e

Penápolis necessita de uma abordagem em amplitude, que possa situar o público em uma

imersão histórica e de um modo atrativo. Para isso, é necessário usar ferramentas que um site

multimídia pode difundir. Trata-se de um tema contemporâneo, sociocultural, e que pode

ofertar muito conteúdo com linguagens atualizadas e abordagens diferenciadas, sendo isso

possível em um site para hospedar todo o conteúdo jornalístico apurado, de modo

multimidiático.

54

III – PRODUTO: A REPORTAGEM MULTIMÍDIA

3.1 A plataforma WIX.com

Para a elaboração, edição, postagem e hospedagem dos conteúdos do site

“Reconstruindo a Paz”, a plataforma WIX.com foi a escolhida pelo grupo devido as suas

características disponibilizadas, que remetem a grandes possibilidades multimidiáticas, além

da permissão de adaptações na visualização do site em diversos meios de acesso.

Segundo o website da plataforma (que possui versão completamente em língua

portuguesa), o WIX.com é um construtor de sites gratuito que possui milhões de usuários

cadastrados e é líder no desenvolvimento web baseada em nuvem, ou seja, todo o seu sistema

fica armazenado de modo online, sem a necessidade de instalações de programas, já que os

dados ficam salvos na rede, bastando ter uma conectividade com a internet para o acesso a

uma amplitude de funções, recursos e aplicativos.

As funções básicas disponibilizadas por WIX.com contam com um editor de site

intuitivo em HTML 5, do tipo arrastar-e-soltar, que permite uma personalização fácil do site,

sem precisar programar nem limitar os espaços para a adição dos conteúdos como vídeos,

áudios e imagens, que podem ser adicionados com plena facilidade e dinamismo.

Um dos diferenciais da plataforma reside no fato de o editor do site, além de promover

a visualização das páginas nos convencionais destktops e notebooks, possuir a otimização

55

necessária para que a página seja vista também em aparelhos móveis, tão utilizados pelos

usuários (smartphones, tablets), graças ao editor Mobile que é oferecido. A plataforma conta

com um suporte técnico 24 horas por dia, hospedagem do site de modo seguro,

templatessemiprontos, acervo de imagens e demais funcionalidades que diferenciam a

plataforma WIX de outras.

Com relação ao design, vários templates são ofertados para a escolha. A comunicação

com as redes sociais também é disponibilizada com a possibilidade de obter aplicativos e

ferramentas que fazem a ligação com as mesmas, promovendo interatividade e

compartilhamento. O layout pode ser modificado, com a troca de cores, adição de outras

imagens de fundo, criação de galerias com fotos e demais opções como as diversidades de

formatos de títulos e parágrafos para os textos. Possui uma variedade de estilos de fontes e

cores.

A plataforma possibilita a adição de conteúdos multimidiáticos com a inclusão de

vídeos hospedados em player próprio (Wix vídeo) ou de sites como Youtube, Vimeo, Daily

Motion e Facebook. Músicas e demais áudios também podem estar dentro do site criado no

WIX.com, por intermédio de player próprio (Wixmusic) ou de sites tais quais: SoundCloud,

Spotify e a opção de fazer download do conteúdo em áudio no ITunes.

56

(Figura 11) Reprodução da plataforma WIX.com na área de adição de conteúdos

O WIX.com dispõe também de um aplicativo (em inglês) para celular disponível na

loja de aplicativo do Google Play Store e na Apple AppStore, que faz apenas o gerenciamento

básico do site e não a edição do mesmo, já que o editor é suportado apenas para o uso em

conexão com o WIX.com em computadores (desktops).

57

3.2 Os elementos do site “Reconstruindo a Paz”

O site “Reconstruindo a paz”, idealizado, editado e hospedado dentro da

plataformaWIX.com, faz uso de todosrecursos multimídia e demais potencialidades que

caracterizam um ambiente virtual com multiplicidade e suporte necessários para publicar de

modos diferenciados um vasto conteúdo jornalístico.São eles:

a) Hipertextualidade:

O recurso da hipertextualidade, ou seja, a promoção de uma interconexão entre os

textos por meio de links, está presente no site deste trabalho, promovendo,além de uma

organização na narrativa, um processo de memorização dos conteúdos, que acabam

conversando entre si, interligando-se, e possibilitando uma leiturabilidade em amplitude.

Fica a critério de cada um que acessar os conteúdos do site o modo com que o mesmo

fará a sua leitura, aonde irá clicar, e assim expandir ou não seus acessos ao que está postado.

Ao clicar em um trecho que esteja sublinhado, presente no corpo textual de alguma matéria, o

usuário será levado a outra reportagem que tenha conectividade com o conteúdo que ele

estava lendo.

(Figura 12) Reprodução de trecho sublinhado de matéria do site onde existe a hipertextualidade.

b) Infografia:

Uma infografia ou infográfico é um recurso visual que possibilita o entendimento de

dados em formato de imagem, que promove uma leitura com mais compreensão e facilidade.

É bastante usual no jornalismo em diversas plataformas e passou um processo de

58

aprimoramento e maior difusão com o surgimento do software Adobe Illustrator, que

implementou a possibilidade de produção e edição mais elaborada dos aspectos visuais com o

advento dos desenhos vetoriais (formas geométricas diversas, baseadas em expressões

matemáticas, que possuem alta qualidade e podem ser ampliadas sem distorções).

No site “Reconstruindo a paz” foi utilizado o programa Adobe Illustrator CS6 para a

criação dos infos. Os vetores utilizados foram baixados diretamente do site “Freepik”

(www.freepik.com),que oferece gratuitamente diversos desenhos vetorais. Ao serem

baixados, são abertos e editados dentro do Illustrator no formato do programa (.ai).

No processo de customização desses vetores há possibilidade de mudança de cores,

aumento ou diminuição, adição de textos, entre outras opções. Para adicionar o infográfico

pronto no site, os documentos são salvos em Adobe PDF e depois convertidos para o formato

de imagem JPEG.

(Figura 13) Um dos infográficos usados no site

c) Aúdios:

A plataforma WIX.com possui players próprios para a reprodução de conteúdos em

áudio e vídeo e o design desses players pode ser alterado. Para os áudios, foi utilizado o

player “WIX music”, que permite a personalização do produto com a inclusão de títulos

exclusivos para cada áudio postado, possibilitando ao ouvinte saber o que ele irá ouvir em

cada conteúdo sonoro.O formato dos áudios está em MP3. Foram adicionados à plataforma e

59

depois vinculados em sua maioria ao player próprio do WIX. A edição das sonoras foi

realizada com a utilização dos programas Sony Vegas Movie Studio Platinum 13.0 e Adobe

Premiere Pro CC 2017.

(Figura 14) Player de áudio usado no site, com a possibilidade de personalização

Outra plataforma utilizada para a incorporação dos áudios ao site do trabalho foi o

Soundcite, formulado por desenvolvedores, designers, estudantes e educadores que trabalham

em experimentos projetados para promover inovações tecnológicas no jornalismo praticado

nas plataformas digitais.

O projeto é ancorado pela Universidade Northwesterne intitulado Knight Lab, que

reúne diversas ferramentas gratuitas que são testadas e utilizadas por tradicionais jornais, tais

como The Washington Post e The New York Times, que adicionam em suas versões digitais

esses projetos para inovar as narrativas informativas na web.

A função do Soundcite é a de sincronizar o áudio com o texto. Ao acessar o conteúdo

jornalístico em um blog ou site, por exemplo, é possível ler e escutar o mesmo texto, ou seja,

o áudio não fica deslocado, mas vira parte integrante no aspecto textual e está diretamente

ligado ao conteúdo da narrativa.

Este processo ocorre da seguinte maneira: primeiro, o áudio épublicado na WEB.

Neste caso, utilizou-se uma conta criada pelo grupo no Soundcloud, site este que hospeda

arquivos em áudio no formato MP3. Cada áudio publicado possui uma URL, ou seja, o

endereço de rede no qual se encontra tal conteúdo informático. Esta URL é colada no site do

Soundcite, que posteriormente gera um código para ser embutido no site ou blog onde o texto

será publicado. Este recurso foi utilizado no site “Reconstruindo a paz”na entrevista com o

jornalista Klester Cavalcanti. Ali, quem pressionar o cursor em cima do texto com a

transcrição de cada resposta do entrevistado irá ouvir a mesma em sua originalidade sonora. O

mesmo recurso está disponível em dispositivos móveis, bastando tocar a tela sobre as

respostas.

60

(Figura 15) Uso do recurso Soundcite, com o áudio incorporado ao texto

d) Vídeos:

Para a adição dos vídeos no site, foi escolhida a plataforma YouTube, que é a mais

usual em todo o planeta e tem a facilidade de ser integrada aos mais variados sites, além de

gerar compartilhamento nas redes sociais.Também existe apossibilidade de customização do

tamanho e posicionamento do player do YouTubedentro do ambiente do site no WIX.

A plataforma não possui limitação quanto a qualidade técnica, duração dos vídeos e

quantidade de megabytes postados, mantendo a qualidade original do vídeo. Um fator

interessante é o fato de que o vídeo fica hospedado nos servidores do YouTube, o que não

gera perda de velocidade ao site que o incorpora, já que o vídeo está armazenado em outra

localidade e não no WIX. Os vídeos foram editados usando os seguintes programas de edição:

Adobe Premiere Pro CC 2017, Sony Vegas Movie Studio Platinum 13.0 e UleadVideoStudio.

(Figura 15) A plataforma YouTube hospeda e exibe os vídeos do site

e) Mapas interativos:

61

Para melhor elucidar a temática da guerra civil na Síria, foram criados mapas

interativos a partir do site StoryMap JS (www.storymap.knightlab.com), ferramenta gratuita,

que, a exemplo do sistema Soundcite, também foicriada nos laboratórios Knight Lab de

tecnologia colaborativa e de desenvolvimento da Universidade Northwestern.

O StoryMap JS promove a apresentação de localizações em um mapa, em etapas que

se dividem como se fossem apresentação de slides. Ao clicar em pontos pré-determinados, o

usurário terá acesso a um conteúdo textual explicativo e interativo sobre aquela região,

podendo avançar e voltar nas informações. Ao criar o mapa, o site disponibiliza um link para

compartilhamento e também para que ocorra o adicionamento em sites, como o caso do

produto deste trabalho no WIX.

(Figura 16) A ferramenteStoryMapJS usada na criação de mapas interativos e explicativos

f) Galerias de imagens:

As galerias de imagens adicionadas no site demonstram a importância das fotografias

no contexto da apresentação da temática dentro de um ambiente digital. As imagens, em sua

maioria, possuem legenda, levando contextualização e tambémamplitude das informações.

62

(Figuras 17 e 18) As galerias do site, em diversos formatos, levam contextualização e informação

3.3 A identidade visual do produto

Para promover uma identificação com o tema narrado no trabalho foram escolhidos

elementos que fazem alusão ao país de origem dos refugiados: a Síria, e também ao país que

os acolheu: o Brasil. Levando em conta as cores oficiais desses dois países, e mantendo como

base a bandeira oficial das duas nações, foi desenvolvida a logomarca do site. Foram usados

vetores dentro do programa Adobe Illustrator.

Na intenção de situar quem acessa o produto com a nomenclatura do mesmo, foi

adicionada, também na logomarca, uma faixa na coloração branca (referência ao signo da paz)

com os dizeres “Reconstruindo a paz” dentro da mesma, deixando claro o nome do site.

63

(Figura 19) A identidade visual do site, a logomarca do trabalho com referências ao tema

3.4 A plataforma WIX.com para os leitores

Ao acessar o endereço do site Reconstruindo a Paz

(http://reconstruindoapaz.wixsite.com/inicial), o internauta será encaminhado para a home, a

página de abertura do trabalho. Nela, o leitor se depara com a logomarca do produto no alto e

no centro da página. A imagem das bandeiras da Síria e do Brasil se entrelaçando passam a

imagem de união. O nome do trabalho escrito em uma bandeira branca tem o objetivo de

transmitir a ideia de um pedido de paz.

Abaixo, em uma barra, estão os capítulos, as abas do site. São elas: “Abertura”, “|A

Guerra”, “Reconstrução”, “Solidariedade”, “Cultura”, “Expediente.” Para ter acesso a

qualquer uma delas basta posicionar o cursor do mouse sobre a palavra e dar um clique. Para

voltar à página inicial o leitor pode clicar em “Abertura” ou na logomarca do site.

No centro da página de abertura é possível assistir a um vídeo feito no formato de

crônica. O internauta é apresentado à essência do trabalho. A crônica foi concebida de modo a

apresentar, jornalisticamente, todos os personagens do trabalho. A edição entrecortada por

flashes das entrevistas tem o intuito de deixar esta experiência ainda mais dinâmica.

Um box preto é apresentado logo abaixo do vídeo. Nele, o internauta que optar por

não assistir à crônica terá uma descrição do trabalho. Constará informações básicas sobre o

site e seus objetivos. A intenção do grupo é que o TCC seja compreendido por diversos meios

sem que um necessariamente precise do outro, conforme preconizado no segundo capítulo

deste trabalho.

64

Na parte inferior da tela inicial, estão os botões que tem basicamente a mesma função

da aba: levar o leitor até o capítulo escolhido. É possível optar entre “A Guerra”,

“Reconstrução”, “Solidariedade”, “Cultura ” e “Expediente.”

3.5 Conhecendo as matérias

A primeira matéria a qual o público terá contato depois da abertura será na aba “A

Guerra”. Passando o cursor do mouse sobre o título, o leitor terá a oportunidade de clicar em

dois subtítulos. O primeiro, intitulado “A história por trás da guerra”, traz toda a explicação

sobre o que acontece na Síria desde 2011 até aos dias atuais. A fim de embasar o

conhecimento histórico sobre o fato, há a participação do professor livre-docente em

Segurança Internacional pela Unesp, Dr. Sérgio Luiz Cruz Aguilar. A reportagem traz dois

infográficos, três mapas, dois podcasts e dois vídeos.

Os infográficos estão presentes logo no início ao lado direito da tela do computador.

Para acessá-los não deve haver clique em nenhum local, já que aparecem no momento em que

a página é carregada. Eles mostram a divisão religiosa e demográfica da Síria, a fim de ajudar

o leitor a entender melhor a complexidade da região.

À esquerda, o internauta pode ouvir em formato de podcast uma explicação sobre o

nível de intolerância entre sunitas e xiitas. Para isso, basta posicionar o cursor do mouse no

player e ouvir o trecho de um minuto e trinta e cinco segundos. A mesma orientação se aplica

ao segundo podcast da matéria, localizado um pouco mais abaixo, dessa vez na parte direita,

ao lado do intertítulo “Solução do Conflito”, em que Aguilar diz acreditar em chances de um

acordo na região beligerante.

A página traz ainda três mapas interativos. Para poder acessá-los, o leitor deve clicar

no player do vídeo, que fica localizado no centro da imagem. A equipe decidiu publicar o

mapa em forma de vídeo, justamente para poder ajustá-lo à edição mobile. Apesar disso, nos

cantos esquerdos superiores de cada um, o usuário também tem a opção de clicar em um link

que o redirecionará ao mapa interativo original.

65

(Figura 20) O leitor poderá acessar infográfico, podcast, mapas e vídeos

O primeiro vídeo da matéria encontra-se na parte esquerda, abaixo do intertítulo “A

Guerra Civil na Síria”. Nele, há uma explicação de como o conflito se iniciou e desenvolveu-

se ao longo dos anos. O segundo vídeo traz a explicação sobre o grupo terrorista Estado

Islâmico e encontra-se no canto direito, ao lado do intetítulo “Estado Islâmico”.

Para o internauta ser redirecionado à outra página dentro do capítulo “A Guerra”, ele

encontrará no rodapé um botão retangular de cor vermelha com o subtítulo “A guerra visto de

perto”.

O subtítulo começa com uma galeria mostrando fotos do livro “Dias de inferno na

Síria”, do jornalista Klester Cavalcanti, personagem principal da citada matéria. Logo abaixo,

o leitor encontrará uma abertura que aborda em detalhes a vida do profissional e da obra. Na

sequência, o internauta se depara com uma entrevista, em formato ping-pong. A grande

novidade é que o usuário conseguirá ler e ouvir a entrevista ao mesmo tempo por meio da

plataformaSoundcite. Cavalcanti conta como foi ir para a Síria no começo da guerra civil e os

momentos de tensão que passou quando foi preso e torturado pelas autoridades sírias.

Ao fim da matéria, o leitor pode optar por voltar ao subtítulo anterior ou clicar em um

botão de forma quadrada e com uma seta em seu interior que o redirecionará ao próximo

capítulo da reportagem multimídia, intitulado: “Reconstrução”.

66

(Figura 21) Subtítulo conta com novidade, onde leitor pode ouvir e ler entrevista simultaneamente

O capítulo “Reconstrução” tende a mostrar as histórias de cinco famílias de refugiados

sírios, tanto em Araçatuba quanto em Penápolis. Para o leitor acessá-las, basta passar o cursor

do mouse na aba “Reconstrução” do menu principal. O primeiro subcapítulo“A esperança de

um final feliz” traz a história da família Homady, que mora em Araçatuba. Ela é formada por

um casal e dois filhos, o mais novo nascido no Brasil.

Logo em que a página é carregada o leitor se depara com a foto das personagens.

Abaixo, um vídeo em que o comércio da família pode ser assistido e conhecido. Basta clicar

no player no centro da imagem. A edição conta com diversos takes do preparo de lanches

árabes, da família reunida nas horas vagas e das crianças brincando. A música que compõe

toda a estrutura midiática chama-se “NassamAlaynaelHawa”, da cantora Fairuz, que faz parte

da vida dos Homady e foi escolhida como uma das mais queridas por eles. A canção traz o

sentimento de amor e medo, duas características condizentes com a história dos refugiados. O

amor, em alusão à terra natal e, o medo, pela guerra.

67

A reportagem segue com uma galeria composta por seis fotos. Para conseguir ler as

legendas, o usuário deve apenas passar o cursor do mouse em cima das imagens, sem realizar

nenhum clique. O texto irá aparecer automaticamente.

O segundo vídeo surge na sequência e traz o primeiro depoimento de Waseem, no qual

ele fala sobre a vida no Brasil depois de chegar da Síria. Em seguida, há um podcast, em que

a personagem trata da questão educacional dos filhos. O internauta deve clicar no botão de

player para ter acesso ao áudio. Ao lado do recurso, mais uma galeria composta por seis fotos

traz as imagens de todos os integrantes da família. As legendas podem ser lidas no momento

em que o cursor do mouse passar pelos quadrados. Também há a possibilidade de se ampliar

as imagens e ler as legendas completas. Para isso, basta clicar na foto desejada, que ela se

abrirá na íntegra.

O terceiro vídeo dá ao leitor a oportunidade de conhecer tudo o que a família de

Waseem passou durante os momentos em que estava na Síria. O depoimento é intercalado

com takes reais do conflito e uma trilha sonora instrumental triste, já que o assunto tratado

exige tal adequação musical. O último vídeo da matéria mostra a esperança do rapaz em

voltar um dia para a Síria. A trilha escolhida foi instrumental de esperança.

Além disso, o texto conta com cinco hiperlinks, estes podem ser percebidos durante a

leitura, já que aparecem sublinhados em destaque. No rodapé da página, o usuário tem a

opção de clicar no próximo subcapítulo: “A força da mulher síria”.

(Figura 22) Vista da matéria “A esperança de um final feliz)

68

Para ler a matéria “A força da mulher síria”, na versão web, basta o leitor passar o

cursor do mouse sobre a aba “Reconstrução” que fica no menu do site logo abaixo do

logotipo. No corpo do texto, o leitor encontrará algumas palavras sublinhadas. Elas são

“hiperlinks” que irão remeter a outra matéria dentro do site que trata do mesmo assunto. Deste

modo, ele terá sua visão sobre o tema ampliada.

Por exemplo, na matéria que conta a história de NsreenAlSafory, o leitor encontra

hiperlinks que o levam para a matéria que fala sobre a guerra na Síria, suas origens e causas.

Há ainda o caminho para o texto da vida do marido dela, WaseemHomady.

A matéria conta com uma galeria de fotos de Nsreen. Para movimentá-la basta

posicionar o cursor do mouse nas extremidades (esquerda ou direita) da galeria. O texto conta

com um vídeo hospedado no Youtube. Para acessá-lo é só clicar no botão que fica no centro

da imagem.

No vídeo desta matéria foi utilizada uma música instrumental síria executada pelo

grupo “SamaiBayati. ” No rodapé da matéria o leitor pode optar entre ler a matéria “A

esperança de um final feliz” ou “ Brasil: a morada definitiva. ”

(Figura 23) Vista da matéria “A força da mulher síria”

O leitor acessa o subcapítulo “Brasil: a morada definitiva” e se depara com uma

galeria de fotos ao lado direito da tela. Ela é composta por nove fotos circulares e mostra a

rotina de AwniAlWile, um refugiado sírio e que atualmente trabalha vendendo lanches árabes

em uma praça de Araçatuba. Para acessar as legendas, basta passar o cursor do mouse sobre

69

elas. O título da reportagem faz menção ao fato da personagem ter escolhido o país verde e

amarelo como morada definitiva, mesmo se a guerra na Síria um dia acabar.

A matéria conta também com um mapa interativo em formato de vídeo, que explica a

localização de Yarmouk, bairro nos arredores da capital Damasco e que abriga centenas de

milhares de refugiados palestinos. O local foi praticamente destruído com o avanço do

conflito. Para assisti-lo, o leitor deve clicar no player do Youtube, no centro da imagem. Há a

opção, logo abaixo, de acessar o mapa na íntegra.

O primeiro vídeo está localizado no canto esquerdo da tela e traz o depoimento de

Awni em relação às dificuldades enfrentadas para se conseguir chegar ao Brasil. A fala é

acompanhada de uma trilha instrumental árabe com notas calmas e de tranqüilidade.

Já o segundo vídeo está localizado no canto direito da tela e traz ao público um pouco

de como é a rotina de Awni com seus clientes. A música escolhida para esse tipo de edição foi

mais animada, já que o tema permitiu tal constatação. A equipe optou pelo cantor

WafikHabib, um dos artistas mais conhecidos da música pop no Oriente Médio atualmente e

bastante apreciado pelo refugiado.

O último recurso usado na matéria é um podcast, encontrado do lado direito da página.

Nele, é possível clicar no player e ouvir o depoimento de Awni sobre ficar no Brasil para o

resto de sua vida. O usuário também vai encontrar dois hiperlinks que remeterão às matérias

“A história por trás da guerra” e “Uma receita de paz”.

No rodapé da página, o leitor tem a opção de ser direcionado ao próximo subcapítulo “Uma

receita de paz” ou voltar à matéria “A força da mulher síria”.

(Figura 24) Elementos da página: Fotos, vídeos e áudio

70

“Uma receita de paz” começa com uma galeria contendo nove fotos das feições de

Rami Al Refai, personagem principal da matéria em questão. Ela ocupa todo o espaço de uma

margem à outra. O leitor tem duas opções para visualizar as fotos. A primeira é não clicar em

nenhum local, já que a transição das imagens ocorre automaticamente. Mas se o usuário optar

por voltar ou avançar para outra foto, basta clicar nas extremidades da galeria, da direita ou

esquerda.

A reportagem conta com três vídeos, todos podem ser acessados passando o cursor do

mouse sobre o centro da imagem, local em que o player está localizado. O primeiro deles

aborda a Síria antes da guerra no depoimento de Rami. Foi usada uma trilha de tensão na

edição, intercalada com imagens do país antes do início dos conflitos.

O segundo vídeo mostra a vivência da personagem durante a guerra, os momentos de

medo em Damasco, cidade em que morava. O depoimento é acompanhado de uma trilha

instrumental de suspense e recomeço.

O terceiro e último vídeo denota a emoção de Rami ao falar de Edson Correa, um

brasileiro que mais o ajudou ao chegar da Síria. Correa faleceu no início de 2017 e ficou

guardado para sempre na memória do refugiado. A equipe usou uma trilha instrumental de

emoção para compor o trecho da entrevista.

A matéria traz ainda dois podcasts. O primeiro aborda a interferência dos Estados

Unidos e Rússia na guerra civil e o sentimento da população síria em relação a isso. Já o

segundo traz um trecho da entrevista em que Rami diz como foi chegar a Araçatuba e o

começo de tudo. Para ouvir o recurso, basta posicionar o mouse e clicar no player da caixa

retangular de cor verde água.

(Figura 25) Podcasts podem ser acessados com um clique no player da caixa retangular

71

Quase no fim da reportagem, há outra galeria. Desta vez, ela traz doze fotos com

imagens de Rami no começo de tudo em Araçatuba, do atual comércio dele, da família e dos

pratos típicos do Oriente Médio. Para poder ler as legendas, basta o leitor passar o cursor do

mouse sobre as imagens. O texto abrirá automaticamente sem nenhum clique. Nas

extremidades do recurso, existe a opção do usuário voltar ou avançar para ver novamente

alguma foto.

No rodapé, o público tem a opção de ler a matéria “A história de Ahmad” ou voltar

para ler o subcapítulo “Brasil: A morada definitiva”. Também há a presença de dois hiperlinks

no corpo do texto.

Para ter acesso a reportagem “A história de Ahmad,” na versão web, basta o leitor

posicionar o cursor do mouse sobre a aba “Reconstrução” e dar um clique. O texto então

deverá ser carregado. A matéria possui texto, vídeo e áudio.

O leitor irá encontrar ainda um infográfico com algumas informações sobre o Líbano,

país no qual o personagem passou algumas semanas num campo de refugiados. A matéria de

Ahmad tem ainda três hiperlinks que irão levar o leitor a três novas matérias que irão fazer

com que seja ampliado o entendimento da história a ser contada.

Acima do intertítulo “Povo acolhedor?”, do lado direito, o internauta vai se deparar

com uma caixa de rádio retangular. O seu funcionamento é similar ao de um tocador de

música tradicional que acompanha o sistema operacional de qualquer computador. Para

reproduzir é só clicar no play. Também é possível pausar o áudio e ainda aumentar o volume.

Tudo no mesmo player.

A reportagem é composta por quatro vídeos. O primeiro foi produzido pela rede

americana de televisão BBC e mostra o antes e depois da guerra na cidade de Aleppo. O

segundo tem como trilha incidental a música “Qalaq.” O terceiro tem como tema a canção

“Mawal”, do grupo Sap’wal. Para encerrar, no quarto vídeo, a trilha incidental se chama

“Instapita.” O objetivo ao colocar músicas sírias como trilha de fundo nas entrevistas foi

humanizar a história.

72

(Figura 26) No lado direito da matéria há um vídeo

Uma calorosa foto da família Badr recebe o leitor na reportagem “Acolhidos de

verdade. ” Para lê-la, é só posicionar o cursor sobre a aba “Reconstrução” e depois clicar no

título desejado. Clicando para baixo na barra de rolagem o internauta irá se deparar com um

mapa que destaca a região natal da família e a distância entre Síria e Jordânia.

O primeiro vídeo apresenta a rotina de trabalho da família Badr no carrinho de comida

síria da família. Abaixo, há um player de áudio. Nele, Sami dá detalhes de sua chegada a

Penápolis. Na mesma matéria ainda há uma galeria de fotos em que o leitor pode trocar as

imagens na ordem em que quiser.

O segundo e último vídeo é uma entrevista de Sami em que ele relembra os momentos

vividos durante a fuga da guerra. Relata ainda as agruras nos primeiros dias do Brasil. No

rodapé desta matéria, o leitor tem apenas a opção de ler a matéria “A história de Ahmad.”

Para continuar a navegação pelo site, é necessário subir a tela até o menu principal e escolher

um novo capítulo.

No vídeo que mostra a rotina de trabalho da família foi pensado mostrar como é o

processo de preparo do estabelecimento. Desde o momento em que as personagens chegam

para o trabalho até o lanche pronto a ser consumido pelo cliente. A música tema deste vídeo é

de um dos ídolos pop da Síria: “MichAamTezbatMaii, do cantor Nassif Zeytoun.

73

(Figura 27) A foto da família Badr abre a reportagem “Acolhidos de verdade

Na aba “Solidariedade” a reportagem “Amigo da Família” é a primeira opção. Para ter

acesso basta posicionar o cursor sobre o nome e dar um clique. A matéria é composta por

texto (com hiperlinks), áudio e vídeo. No primeiro vídeo, Ricardo de Oliveira fala sobre as

memórias da guerra que os refugiados trouxeram para Araçatuba.

Logo abaixo, há um áudio no player sobre como o Brasil é um país propício para a

reconstrução da vida destas pessoas. A próxima galeria vem abaixo. Para vê-la, o internauta

precisa clicar na primeira foto.

Uma nova tela será sobreposta e assim ele poderá fazer a troca das fotos. Para voltar

ao texto é só clicar no “X” posicionado no canto superior direito. A mesma estrutura se repete

até o fim da matéria com mais uma caixa de áudio e um vídeo de encerramento.

A reportagem apresenta ainda dois vídeos em que Ricardo detalha sua experiência

como amigo dos sírios que chegaram à Araçatuba. No segundo vídeo, o grupo utilizou uma

trilha incidental, por se tratar de uma mensagem de carinho entre os amigos. A música foi

composta por Blake Neely.

74

(Figura 28) Página inicial da matéria “Amigo da família”

Para ler a matéria intitulada “O poder do diálogo” basta o internauta clicar em

“Solidariedade” e então clicar em confira. Ele pode também passar o cursor sobre a mesma

aba e clicar direto na matéria que deseja ter acesso.

O texto tem hiperlinks para contar a história de Sami e dar detalhes sobre a guerra.

Tem também dois vídeos de depoimentos do casal. No rodapé, o leitor pode seguir para a

matéria “A Linguagem da Solidariedade” ou ler “Amigo da família.

Nos dois vídeos desta reportagem o grupo optou por não colocar trilha de fundo por se

tratar do depoimento das pessoas que ajudaram os sírios a reconstruir a vida em Penápolis. No

segundo vídeo foi adicionado o trecho de um filme citado pelos depoentes.

(Figura 29) Dentro de “Solidariedade” está “O poder do Diálogo”

75

“A linguagem da solidariedade” é aberta com uma galeria de quatro fotos que mostra a

família Badr juntamente com o professor João da Silva Barbosa, personagem principal da

reportagem. Depois do texto de abertura, o leitor irá se deparar com um vídeo. Para assisti-lo,

basta clicar no player. O trecho da entrevista mostra como Barbosa foi importante na vida dos

refugiados sírios de Penápolis, principalmente na educação de Wally. A trilha usada foi de

recomeço, para justamente fazer jus ao tema tratado na edição.

A reportagem conta também com três hiperlinks. Ao fim do texto, o usuário pode

escolher para voltar a ler o subcapítulo “O poder do Diálogo” ou avançar e ler “A vida longe

da pátria”.

(Figura 30) A foto de Wally, ao centro, compõe a galeria no começo da reportagem

“A vida longe da pátria” traz o depoimento de dois penapolenses que ajudaram os

refugiados sírios e também foram imigrantes, já que viveram na Itália e Japão a trabalho. A

reportagem é composta por dois vídeos. Nenhuma trilha musical foi usada na edição, porque

trata-se de um depoimento pessoal. Além disso, dois hiperlinks podem ser encontrados ao

longo do texto. No rodapé, o leitor tem a opção de voltar a ler a matéria “A linguagem da

Solidariedade” ou clicar na caixa quadrada branca e com uma seta dentro para ser

redirecionado ao último capítulo da reportagem multimídia. chamado “Cultura”.

76

(Figura 31) Os hiperlinks aparecem sublinhados no texto da matéria

Na aba “Cultura”, o usuário tem a opção de navegar por três matérias diferentes. Para

acessá-las, basta clicar em “Confira”.

(Figura 32) Três subcapítulos compõem o capítulo “Cultura”

A primeira delas é intitulada de “Cultura: o primeiro obstáculo”. A reportagem traz no

canto direito a foto do doutor em História Social Carlos Eduardo MarottaPeters. Essa foi uma

forma escolhida de identificar o entrevistado logo no início da matéria.

O subcapítulo conta com dois vídeos, um localizado no centro e que mostra um trecho

da entrevista em que Peters avalia a receptividade dos brasileiros em relação aos refugiados, e

outro no canto direito da tela do computador em que ele trata sobre a questão da integração

cultural dos imigrantes em cidades pequenas e maiores. Em ambos os casos, o grupo optou

por não usar nenhuma trilha musical na edição, por tratar de uma entrevista com fonte de

77

informação. A reportagem traz ao longo do texto dois hiperlinks. O outro subcapítulo pode

ser acessado com um clique no rodapé da página, na parte retangular, com o título

“Refugiados: leis, direitos e deveres”.

(Figura 33) Vista da matéria “Refugiados: leis, direitos e deveres”

A reportagem segue o padrão da anterior. Ela traz do lado esquerdo da tela do

computador a foto do Mestre em Direito Luciano Meneguetti Pereira. A matéria conta com

um vídeo ao final do corpo do texto em que o especialista fala sobre o status de refugiado, os

direitos e a questão da nacionalidade. No rodapé, o usuário tem a opção de voltar para

“Cultura: o primeiro obstáculo” ou ir para “Culinária: os ingredientes do recomeço”.

Dentro da aba “Cultura” está a matéria “Culinária: o ingrediente do recomeço. ” Nela,

o internauta irá compreender porque muitos dos sírios escolheram trabalhar com alimentação

como instrumento para a reconstrução de suas vidas no Brasil. Para ter acesso é só clicar na

aba e depois selecionar a matéria com o cursor do mouse.

Ela apresenta um texto à esquerda, uma imagem com o a identificação do entrevistado.

Um vídeo explicativo ganha destaque para fazer com que o leitor relembre as personagens do

trabalho que lidam com a cozinha síria como forma de trabalho.

78

Logo abaixo, uma galeria com seis fotos de pratos árabes típicos. Para ver essas

imagens ampliadas é só clicar em cima delas. Para sair da galeria, é preciso clicar no “X”

localizado no canto superior direito da tela.

O vídeo dessa matéria apresenta uma trilha incidental como BG (background) para

marcar que a culinária foi uma opção alegre de recomeço para os sírios. A música se chama

Crimson Fly, foi disponibilizada para download no Youtube, pelo canal “Live YourDreams”.

(Figura 34) A culinária foi abordada na aba “Cultura”

A última parte do site é o “Expediente”. Nele, o público leitor conseguirá visualizar as

informações dos autores do projeto e conferir o nome da orientadora do trabalho de conclusão

de curso. Não obstante, há a opção do internauta conhecer as redes sociais dos alunos.

(Figura 35) Para conhecer as redes sociais dos alunos, o internauta deve clicar nos logotipos

79

3.6 Fontes e cores

As fontes usadas nos textos do trabalho foram escolhidas com intuito de reforçar o

trabalho jornalístico e tornar a leitura agradável aos olhos dos internautas. São elas: “Kelly

Slab” no título das matérias; “Rockwell” nas legendas dos vídeos; “Verdana” nos textos e nas

legendas; “Courier new” na assinatura dos repórteres.

A fonte “Kelly Slab” foi escolhida por lembrar uma máquina de escrever, aparelho

muito utilizado pelos correspondentes de guerra em coberturas no passado. “Verdana” é uma

das que apresenta melhor legibilidade, bem como, a fonte “Courier new.”

80

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No início deste trabalho, a ideia era conhecer a realidade dos refugiados sírios nas

principais cidades da região de Araçatuba. Em contato com as prefeituras destes municípios,

ficou constatado que nenhuma delas tinha qualquer tipo de controle de refugiados que

pudessem estar residindo em seus territórios.

Tal constatação denota falta de preparo dos governos municipais para ligar com o

fenômeno dos refugiados. Se por um lado, como ficou constatado por meio do depoimento de

vários personagens deste trabalho, o Brasil possui uma das leis de imigração mais flexíveis do

mundo, permitindo fácil acesso ao país, no âmbito municipal, o amparo social inexiste.

Todas as famílias deste trabalho só conseguiram reconstruir suas vidas após serem

ajudadas por brasileiros solidários. Na maioria das vezes foi necessária uma quebra de

barreira como idioma e religião. No fim das contas, esses dois fatores se tornaram elementos

de ligação entre eles.

Na justificativa do projeto de pesquisa, o grupo enfatizou que os jornais das cidades de

Araçatuba e Penápolis não haviam explorado todas as ferramentas da reportagem multimídia.

Tanto a Folha da Região quanto o Jornal Interiorfizeram reproduções na web de trechos do

texto impresso. No caso da Folha, o acesso era restrito a assinantes.

Com a plataforma Wix foi possível lançar mão de ferramentas de áudio, vídeo,

galerias, textos e mais: na entrevista com o jornalista Klester Cavalcanti, o leitor tem a opção

de ler e ouvir ao mesmo tempo. Conforme a entrevista se desenvolve, uma espécie de player é

avançado simultaneamente para marcar o tempo restante da entrevista. Essa ferramenta foi

desenvolvida pela NorthwesternUniversity e o Knight Lab Center, um centro internacional de

fomento ao jornalismo.

É importante destacar ainda o baixo custo para a realização deste trabalho. Como os

três integrantes do grupo não puderam se ausentar de seus respectivos empregos durante a

elaboração, tudo foi pensado de modo a preservar a qualidade sem interferir no andamento

das atividades trabalhistas.

Por exemplo, a entrevista com o professor Sérgio Aguilar foi marcada via e-mail e

realizada por Skype. Desse modo, como preconiza Jeankins (2011), o tempo foi utilizado e

não se verificou nenhuma perda de qualidade. Do mesmo modo, a entrevista com o jornalista

81

Klester Cavalcanti foi gravada através de um aplicativo de celular. A reportagem multimídia

possui um total de 31 vídeos e 10 barras para reprodução de áudio.

No início, o grupo sentiu certa dificuldade para um primeiro contato com as

personagens. Entretanto, após a primeira conversa, ficou evidenciado como eles estavam

dispostos a colaborar. Fomos recebidos nas casas de quatro famílias. E também em seus

respectivos estabelecimentos comerciais.

A única viagem feita pelo grupo foi para Penápolis. Foram quatro vezes. Na primeira,

para fazer imagens de apoio da cidade que serviriam como opção para cobrir os trechos de

fala das personagens e também da crônica de abertura. Nos outros deslocamentos, que

demandaram mais tempo, foi feito contato e entrevista com a família Badra. Foi nesse dia que

foram feitas as imagens da família.

O presente trabalho possibilitou ao grupo grande crescimento, não somente em termos

profissionais, mas também como seres humanos. Ficaram deste mais de um ano de estudo:

amizades com nossos irmãos sírios, o desejo de continuar essa pesquisa a partir de novos

pontos de vista, e acima de tudo,a certeza de que a esperança é combustível para qualquer

recomeço, seja ele qual for.

82

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86

ANEXOS

Pautas utilizadas ao longo do processo de realização do trabalho.

PAUTA – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 2017

Retranca: Entrevista/Historiador

Gancho: Vamos ouvir o professor doutor Sérgio Luiz Cruz Aguilar a respeito da parte

histórica da guerra civil da Síria. O foco da entrevista deverá ser o conflito em si e a onda de

refugiados que dele se gerou.

Entrevistado:

SÉRGIO LUIZ CRUZ AGUILAR – professor doutor

Biografia

Livre Docente em Segurança Internacional pela Universidade Estadual Paulista Júlio de

Mesquita Filho (UNESP). Pós-Doutorado na área de segurança internacional no

Departamento de Política e Relações Internacionais da Universidade de Oxford - Reino

Unido. Doutor em Historia pela UNESP (Assis/SP), mestre em Integração Latino Americana

pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), especialista em História das Relações

Internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e em Estratégias de

Relações Internacionais pela Universidade Cândido Mendes (UCAM), e graduado em

Ciências Militares (AMAN). Atualmente é Professor do Departamento de Sociologia e

Antropologia da UNESP - Campus de Marília/S, onde coordena o Grupo de Estudos e

Pesquisa sobre Conflitos Internacionais (GEPCI) e o Observatório de Conflitos Internacionais

(OCI). É professor do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago

Dantas (UNESP, UNICAMP e PUC-SP) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências

Sociais da UNESP - Campus de Marília/SP. Foi observador da ONU na United Nations Peace

Force (UNPF), na Bósnia Herzegovina, e da United NationsTransitionalAdministration for

EasternSlavonia (UNTAES), na Croácia, durante a guerra civil na antiga Iugoslávia. Foi

Diretor da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED) no biênio 2012-2014. Atua na

área das Relações Internacionais com ênfase em segurança internacional, conflitos e resolução

de conflitos internacionais, direito internacional dos conflitos armados e operações de paz. É

membro de várias associações acadêmicas como a Associação Brasileira de Estudos de

Defesa (ABED), a EuropeanInternationalStudiesAssociation (EISA) e a InternationalPolitical

Science Association (IPSA) onde é membro do ResearchCommittee 44 (2014-2018). Autor

dos livros A Guerra da Iugoslávia: uma década de crises nos Bálcãs (2003), Segurança e

Defesa no Cone Sul: da rivalidade da Guerra Fria a cooperação atual (2010) e Gerenciamento

de Crises: o terremoto no Haiti (2014). (Fonte: Currículo Lattes)

87

Sugestões de perguntas:

- Professora, explique como a família Asad chegou ao poder na Síria;

- Qual é a divisão demográfica e religiosa no país?

- Como a guerra começou?

- Quais são os atores envolvidos no conflito?

- Como a guerra ganhou dimensão internacional?

- Qual é o papel do Estado Islâmico nessa região?

- Como esse grupo terrorista surgiu, ganhou notoriedade e começou a preocupar o restante do

mundo?

- Explique o papel dos Estados Unidos e da Rússia nesse cenário;

- Pode haver uma guerra entre as superpotências por conta do conflito na Síria?

- Em sua opinião, o fim do conflito na Síria está próximo?

- Essa guerra gerou uma onda de refugiados pelo mundo. Explique esse processo.

- Muitos países, principalmente os da Europa, impuseram barreiras contra a chegada desses

refugiados. Qual é a sua visão em relação a isso?

- O Brasil acolheu até abril de 2016, 2.298 refugiados sírios segundo o Acnur. A senhora acha

que o nosso país se destaca no recebimento dessas pessoas ou ainda faltam muitas políticas

públicas em relação a essa questão?

PAUTA – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 2017

Retranca: Entrevista/Jornalista

Gancho: Vamos ouvir a vivência do jornalista Klester Cavalcanti, que realizou a cobertura

jornalística da guerra civil na Síria em seus anos iniciais. Tal fato proporcionou ao jornalista a

escrita de um livro premiado no Brasil e que serviu como base para o relatório científico deste

trabalho.

Entrevistado:

Klester Cavalcanti – jornalista

Biografia: Nascido em 1969 em Recife, o jornalista formou-se em Jornalismo pela Universidade

Católica de Pernambuco. Já trabalhou ao longo da carreira nos maiores veículos de comunicação no

Brasil, tais como: Veja, O Estado de São Paulo e IstoÉ. Já recebeu prêmios internacionais como o de

Melhor Reportagem Ambiental da América do Sul e de Jornalismo de Direitos Humanos. Também

88

venceu três vezes o prêmio Jabuti de Literatura com os livros “Viúvas da Terra”, “O Nome da

Morte” e “Dias de Inferno na Síria”. Cavalcanti tem ainda um quinto livro publicado, intitulado “A

Dama da Liberdade”. A sua quarta obra diz respeito a experiência de quando foi à Síria fazer

uma reportagem especial sobre a guerra naquele país. Mesmo viajando com o visto de

imprensa concedido pelo Governo Sírio, Klester foi preso pelas forças do governo de Bashar

al-Assad, assim que ele chegou à cidade de Homs, local mais afetado pelos conflitos. Detido

no centro da cidade e sem direito a dar um telefonema sequer, Klester Cavalcanti passou seis

dias na prisão. Ele foi trancafiado na Penitenciária Central de Homs, numa cela com mais de

20 presos comuns, todos árabes e moradores da região. Durante esses dias, o jornalista

brasileiro foi várias vezes ameaçado de morte, algemado e torturado. Ele teve de dormir e

comer no chão, e só foi solto quando o Governo Brasileiro soube da sua prisão e intercedeu

oficialmente junto ao Governo Sírio, solicitando sua libertação.

Sugestões de perguntas:

- Qual era sentimento enquanto você andava pelas ruas da Síria logo no começo do conflito?

- Como você avalia as dimensões que a guerra tomou desde a primeira vez que esteve na

Síria?

- Você percebeu que o povo sírio tinha um lado político definido? Contra ou pró governo?

- O que passava em sua cabeça quando a ficha caiu ao ser preso em Homs?

- Você imaginava que os prisioneiros sírios seriam tão receptivos com você sendo um

estrangeiro?

- Ainda tem contato com alguém que conheceu na prisão? Como eles estão?

- Pretende voltar à Síria algum dia ainda durante esse conflito?

- Foi publicado na imprensa que o livro “Dias de Inferno na Síria” seria adaptado ao cinema.

Essa informação e verdadeira?

- Qual é a sua esperança em relação ao conflito?

PAUTA – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 2017

Retranca: Sírios/Penápolis

Gancho: Vamos mostrar a vida de uma família síria que se refugiou em Penápolis após o

início da guerra civil no país. A intenção é extrair ao máximo das personagens suas histórias

de sofrimento, dor, reconstrução e liberdade.

Sugestões de perguntas aos sírios:

- Diga o seu nome completo, idade e o que faz aqui no Brasil;

89

- Diga os nomes completos dos integrantes da família;

- Onde moravam na Síria?

- O que vocês faziam na Síria?

- Primeiramente, conte-nos como era a vida na Síria antes de 2011, ano em que os conflitos

começaram.

- Como era viver no regime do presidente Bashar Al-Assad?

- Como foi o período de protestos na Síria que ficou conhecido como Primavera Árabe?

Vocês chegaram a participar das manifestações? Como o governo reagiu?

- A partir de março de 2011 os conflitos armados começaram e foram se intensificando. O que

vocês sentiam?

- O que se recordam desse período? O que viam lá?

- Quais foram os momentos mais tensos, de medos, perigos que passaram?

- Quando ainda estavam lá existia o medo de grupos terroristas como o Estado Islâmico?

- Perderam algum ente querido nos conflitos? Quem? Como?

- Quando decidiram abandonar o país?

- Depois de deixar a Síria onde vocês ficaram?

- Por que escolheram o Brasil?

- Como decidiram se refugiar no Brasil?

- Como conseguiram refúgio no Brasil? Como foi o processo de documentação?

- Você tinha algum dinheiro guardado para a viagem?

- Qual foi a primeira cidade brasileira que ficaram?

- Qual foi o sentimento ao pisar em solo brasileiro, livre dos conflitos?

- Por que vocês escolheram Penápolis?

- Deixaram familiares na Síria? Quais? Quantos? Tem notícias deles?

- Tem parentes em outras cidades no Brasil? Onde eles estão?

- Como reconstruíram a vida de vocês em Penápolis?

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- O que fazem aqui? Trabalham com alguma coisa?

- Foi difícil arrumar emprego?

- Como foi a dificuldade com a língua?

- Qual é a definição que vocês dão aos brasileiros logo no começo aqui no Brasil? Esperavam

isso do Basil? Como imaginava que seria?

- E hoje como vocês estão economicamente?

- Pretendem voltar à Síria algum dia?

- Do que sentem mais falta?

- Acompanhando o noticiário de longe, vendo mais sofrimento e dor para as pessoas que

ainda continuam no país, o que vem à cabeça de vocês?

- Resuma a Síria em poucas palavras.

- Resuma o Brasil em poucas palavras.

- A partir de agora, o que vocês esperam do futuro?

- Qual música árabe vocês costumam ouvir? Elas falam especificamente do que?

Sugestões de perguntas aos colegas que os ajudaram:

- Diga seu nome completo, idade e profissão.

- Como conheceram a história da família síria?

- Quando ficaram sabendo da guerra e desses refugiados qual foi o sentimento?

- Como decidiram ajudá-los?

- O que você fez especificamente por eles?

- E a dificuldade com o idioma? Como se comunicavam?

- Por que decidiu tomar essa atitude de ajudá-los?

- Quando vê alguma notícia da Síria relatando mais atrocidades, mortes e pensar que se essa

família poderia continuar lá sofrendo, o que você sente?

- E agora que essa família está começando a reconstruir suas vidas o que lhe vem a cabeça?

- É um sentimento de dever cumprido?

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Sugestões de imagens e fotos:

*Terminal Rodoviário

* Parque Maria Chica

* Paço Municipal

* Rua São Francisco, pegando o obelisco e estátua da Praça dos Fundadores até o término da

rua onde encontra-se a Matriz de São Francisco de Assis.

* Museu do Sol

* Praça Dr. Carlos Sampaio Filho

* Imagens da família síria reunida

* Eles conversando, rindo (focar muito na face deles, procurar alguma marca na pele)

* Dança ou música local

* Filmar os cômodos da casa

* Objetos pessoais que remetam ao costume árabe

* Orações do Islã

* Sírios trabalhando em seus respectivos comércios

PAUTA – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 2017

Retranca: Sírios/Araçatuba

Gancho: Vamos mostrar a vida dos refugiados sírios em Araçatuba após o início da guerra

civil na Síria. A intenção é extrair ao máximo das personagens suas histórias de sofrimento,

dor, reconstrução e liberdade.

Sugestões de perguntas aos sírios:

- Diga o seu nome completo, idade e o que faz aqui no Brasil;

- Diga os nomes completos dos integrantes da família;

- Onde moravam na Síria?

- O que vocês faziam na Síria?

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- Primeiramente, conte-nos como era a vida na Síria antes de 2011, ano em que os conflitos

começaram.

- Como era viver no regime do presidente Bashar Al-Assad?

- Como foi o período de protestos na Síria que ficou conhecido como Primavera Árabe?

Vocês chegaram a participar das manifestações? Como o governo reagiu?

- A partir de março de 2011 os conflitos armados começaram e foram se intensificando. O que

vocês sentiam?

- O que se recordam desse período? O que viam lá?

- Quais foram os momentos mais tensos, de medos, perigos que passaram?

- Quando ainda estavam lá existia o medo de grupos terroristas como o Estado Islâmico?

- Perderam algum ente querido nos conflitos? Quem? Como?

- Quando decidiram abandonar o país?

- Depois de deixar a Síria onde vocês ficaram?

- Por que escolheram o Brasil?

- Como decidiram se refugiar no Brasil?

- Como conseguiram refúgio no Brasil? Como foi o processo de documentação?

- Você tinha algum dinheiro guardado para a viagem?

- Qual foi a primeira cidade brasileira que ficaram?

- Qual foi o sentimento ao pisar em solo brasileiro, livre dos conflitos?

- Por que vocês escolheram Araçatuba?

- Deixaram familiares na Síria? Quais? Quantos? Tem notícias deles?

- Tem parentes em outras cidades no Brasil? Onde eles estão?

- Como reconstruíram a vida de vocês em Araçatuba?

- O que fazem aqui? Trabalham com alguma coisa?

- Foi difícil arrumar emprego?

- Como foi a dificuldade com a língua?

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- Qual é a definição que vocês dão aos brasileiros logo no começo aqui no Brasil? Esperavam

isso do Brasil? Como imaginava que seria?

- E hoje como vocês estão economicamente?

- Pretendem voltar à Síria algum dia?

- Do que sentem mais falta?

- Acompanhando o noticiário de longe, vendo mais sofrimento e dor para as pessoas que

ainda continuam no país, o que vem à cabeça de vocês?

- Resuma a Síria em poucas palavras.

- Resuma o Brasil em poucas palavras.

- A partir de agora, o que vocês esperam do futuro?

- Qual música árabe vocês costumam ouvir? Elas falam especificamente do que?

Sugestões de perguntas aos colegas que os ajudaram:

- Diga seu nome completo, idade e profissão.

- Como conheceram a história da família síria?

- Quando ficaram sabendo da guerra e desses refugiados qual foi o sentimento?

- Como decidiram ajudá-los?

- O que você fez especificamente por eles?

- E a dificuldade com o idioma? Como se comunicavam?

- Por que decidiu tomar essa atitude de ajudá-los?

- Quando vê alguma notícia da Síria relatando mais atrocidades, mortes e pensar que se essa

família poderia continuar lá sofrendo, o que você sente?

- E agora que essa família está começando a reconstruir suas vidas o que lhe vem a cabeça?

- É um sentimento de dever cumprido?

Sugestões de imagens e fotos:

*Entrada da cidade pela avenida Brasília ( monumento “Araçatuba Cidade Amiga) e

cruzamento com a avenida Joaquim Pompeu de Toledo

* Praças Rui Barbosa, João Pessoa e Getúlio Vargas

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* Paço Municipal

* Avenida dos Araçás com foco na estação de trem desativada

* Calçadão da Marechal Deodoro

* Avenida Abrão Buchala, no Claudionor Cinti (focar os prédios da cidade)

* Rua Do Fico

* Pontilhão da ruaAguapeí

* Imagens da família síria reunida

* Eles conversando, rindo (focar muito na face deles, procurar alguma marca na pele)

* Dança ou música local

* Filmar os cômodos da casa

* Objetos pessoais que remetam ao costume árabe

* Orações do Islã

* Sírios trabalhando em seus respectivos comércios

PAUTA – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 2017

Retranca: Entrevista/Sociólogo

Gancho: Vamos ouvir o professor doutor em História Social, Carlos Eduardo MarottaPeters ,

para tratarmos da questão sócio-antropológica da chegada de refugiados sírios em Araçatuba e

Penápolis. O foco da entrevista será na convivência/adaptação de culturas.

Entrevistada:

CARLOS EDURADO MAROTTA PETERS – doutor em História Social

Sugestões de perguntas:

- Qual é a relação entre Araçatuba e Penápolis com os povos árabes?

- Professor, como se dá o processo de adaptação a uma nova cultura?

- No caso dos refugiados, esse processo sofre alguma particularidade? É algo mais

dificultoso?

- Por que os brasileiros passam a imagem de um povo receptivo em relação à chegada de

estrangeiros ao país?

95

- Nós temos um caso específico de um personagem que cita uma visão contrária a tudo

isso. Ele não conseguiu muito contato e convivência com os brasileiros, sofreu preconceito

por ser muçulmano e teve dificuldades de permanecer nos empregos que conseguiu por conta

disso. Em sua opinião, qual é o motivo disso acontecer?

- Por outro lado, entrevistamos refugiados sírios que praticamente tornaram-se brasileiros. Por

que uns se adaptam mais facilmente e outros sofrem mais resistência?

- Até que ponto a diferença religiosa influencia nesse processo de aculturação?

- O Brasil é considerado um estado laico. O senhor acredita que o muçulmano tem espaço

para manifestar sua religião sem sofrer preconceito?

- A primeira barreira que um refugiado encontra ao chegar em outro país é o idioma. O quão

difícil isso pode ser na reconstrução da vida dessas famílias?

- E em relação à nossa região interiorana de São Paulo que carrega seus próprios vícios,

cacoetes e gírias, com uma cultura mais tradicional caipira?

- Em muitos lugares do mundo, o uso da burca foi questionado. O quanto essa vestimenta é

significativa para as mulheres muçulmanas?

- Essa vestimenta acaba tornando-se um fator impeditivo para a aceitação dentro da cultura

brasileira?

- O papel da mulher no Ocidente tem se modificado ao longo dos anos em busca da igualdade

de direitos. Entretanto, no Oriente Médio ainda há submissão feminina, inclusive nós

percebemos isso ao entrevistar os sírios. Como lidar com esse choque cultural e jurídico?

PAUTA – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 2017

Retranca: Entrevista/Professor

Gancho: Vamos ouvir o professor mestre Luciano Meneguetti Pereira a respeito dos direitos

referentes aos refugiados de guerra, no caso específico dos que possuem nacionalidade síria e

vieram para o Brasil

Entrevistado:

Luciano Meneguetti Pereira – professor mestre

Sugestões de perguntas:

- A partir de que momento uma pessoa pode ser considerada refugiada?

- Quais são os trâmites para que essa pessoa consiga refúgio em determinado país?

- O visto é diferenciado?

- A estadia em determinado país como refugiado tem prazo? O visto deve ser renovado?

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- Existe alguma diferença entre o cidadão refugiado vivendo em um país diferente? Ele goza

dos mesmos direitos que um cidadão comum?

- Ele consegue trabalhar com carteira assinada? Tirar carteira de motorista? Adquirir bens

materiais? Abrir empresas?

- O indivíduo que ganha o status de refugiado perde a sua nacionalidade e passa a ter a do

novo país?

PAUTA – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 2017

Retranca: Entrevista/Gastronomia

Gancho: Vamos ouvir o professor coordenador do curso de Gastronomia do Centro

Universitário Toledo, Helerson de Almeida Balderramas, a respeito da repercussão do fato de

alguns refugiados sírios terem negócios voltados à gastronomia árabe em Araçatuba e

Penápolis

Entrevistada:

HELERSON DE ALMEIRA BALDERRAMAS – especialista em Gastronomia

Sugestões de perguntas:

- Por que alguns dos refugiados sírios ao chegarem ao Brasil abrem comércios voltados à

culinária árabe, mesmo em algumas vezes sem terem tido sequer experiência na gastronomia

antes?

- A semelhança entre a culinária árabe e a brasileira pode ser uma explicação desse processo?

Quais são essas semelhanças?

- Muitos têm adaptado seus cardápios oferecendo também, além da comida tradicional árabe,

a comida brasileira, como por exemplo os lanches com hambúrgueres artesanais. Por que isso

ocorre?

- O senhor acredita que o brasileiro está aberto aos temperos da culinária internacional?

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E-mails enviados para as cinco maiores cidades da região administrativa de

Araçatuba. Apenas Birigui e Andradina não responderam às solicitações de

informações.

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