reconhecimento da identidade gastronômica dos imigrantes

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Reconhecimento da Identidade Gastronômica dos Imigrantes Alemães no Município de Águas Mornas – Santa Catarina: Bases para o Fortalecimento do Turismo Local Emanoelle Nazareth Fogaça Marcos 1 ; Berenice Giehl Zanetti von Dentz 2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina – IF-SC. Resumo: Este estudo objetivou reconhecer a identidade gastronômica da cidade catarinense de Águas Mornas, haja vista o pouco conhecimento que se tem sobre o assunto, no intuito de contribuir para seu fortalecimento e manutenção. Foram realizadas oito entrevistas semi-estruturadas com antigos descendentes de imigrantes, sendo utilizado o método da História Oral. Após a transcrição de todas as entrevistas, foi feita a análise qualitativa dos discursos, em que apareciam histórias de vida e receitas de família. Os resultados apresentaram receitas típicas da gastronomia alemã, havendo raras alterações de ingredientes e modos de preparo, transmitidas aos entrevistados pelas mães ou avós. Por outro lado, essas receitas não vêm sendo repassadas às atuais gerações, o que pode comprometer a cultura gastronômica local. Nesse sentido, são necessárias medidas de intervenção local para evitar que essa herança cultural se perca. Palavras-chave: Turismo gastronômico; Identidade; Memória; História Oral. Introdução Em diversas localidades do Brasil - de modo especial na Região Sul - são evidentes as marcas dos imigrantes alemães. O estado de Santa Catarina é considerado “o mais alemão do Brasil”, com aproximadamente 35% da sua população constituída por descendentes de imigrantes alemães (SANTA CATARINA, 2009). No que tange a 1 Mestre em Nutrição pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC; professora de Nutrição do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IF-SC). [email protected] 2 Mestranda em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI; professora de Panificação e Confeitaria do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IF-SC). [email protected].

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Page 1: Reconhecimento da Identidade Gastronômica dos Imigrantes

Reconhecimento da Identidade Gastronômica dos Imigrantes Alemães no Município de Águas Mornas – Santa Catarina: Bases para o

Fortalecimento do Turismo Local

Emanoelle Nazareth Fogaça Marcos1; Berenice Giehl Zanetti von Dentz2

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina – IF-SC.

Resumo: Este estudo objetivou reconhecer a identidade gastronômica da cidade catarinense de Águas Mornas, haja vista o pouco conhecimento que se tem sobre o assunto, no intuito de contribuir para seu fortalecimento e manutenção. Foram realizadas oito entrevistas semi-estruturadas com antigos descendentes de imigrantes, sendo utilizado o método da História Oral. Após a transcrição de todas as entrevistas, foi feita a análise qualitativa dos discursos, em que apareciam histórias de vida e receitas de família. Os resultados apresentaram receitas típicas da gastronomia alemã, havendo raras alterações de ingredientes e modos de preparo, transmitidas aos entrevistados pelas mães ou avós. Por outro lado, essas receitas não vêm sendo repassadas às atuais gerações, o que pode comprometer a cultura gastronômica local. Nesse sentido, são necessárias medidas de intervenção local para evitar que essa herança cultural se perca. Palavras-chave: Turismo gastronômico; Identidade; Memória; História Oral. Introdução

Em diversas localidades do Brasil - de modo especial na Região Sul - são

evidentes as marcas dos imigrantes alemães. O estado de Santa Catarina é considerado

“o mais alemão do Brasil”, com aproximadamente 35% da sua população constituída

por descendentes de imigrantes alemães (SANTA CATARINA, 2009). No que tange a

1 Mestre em Nutrição pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC; professora de Nutrição do Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IF-SC). [email protected] 2 Mestranda em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI; professora de Panificação e

Confeitaria do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IF-SC).

[email protected].

Page 2: Reconhecimento da Identidade Gastronômica dos Imigrantes

Águas Mornas, é uma cidade composta por 93% de descendentes de alemães, segundo o

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2001). Sua colonização iniciou-se

em 1837, com a fundação da Colônia de Vargem Grande, composta por 44 colonos -

sendo 43 alemães e um dinamarquês - vindos da colônia de São Pedro de Alcântara,

fundada em 1829. Com a posterior fundação de outras duas colônias, surgiram

povoados como o de Caldas do Norte que, mais tarde, devido à existência de duas

fontes de águas quentes, recebeu o nome de Águas Mornas, o qual tornou-se município

no ano de 1961.

Os costumes e tradições mantidos pelos descendentes dos imigrantes alemães

fazem com que essa localidade seja conhecida em todo o Estado de Santa Catarina

(Prefeitura de Águas Mornas, 2007). No entanto, apesar de as autoridades locais e a

comunidade demonstrarem interesse em investir no turismo, a gastronomia local ainda

não representa um atrativo, faltando iniciativas que possam promover a inclusão deste

patrimônio cultural na busca pelos turistas.

A gastronomia é parte integrante da cultura de um povo, e as diferentes

sociedades, em cada época da história, manifestam sua maneira de ser, também, através

dela (FRANCO, 2004). De acordo com Barreto (2001), a gastronomia de um povo

traduz toda uma herança cultural que se prende a fatores como o clima, a situação

geográfica, as especificidades dos solos, a história, a situação político-social da região e

do mundo em diferentes épocas. Dessa forma, conforme análise dos relatos, percebeu-se

que todo o manancial de receitas tradicionais de Águas Mornas foi resultado dos

recursos disponíveis na época, os quais “ditaram” as possíveis combinações de

matérias-primas, sua confecção e métodos de conservação, o que também ocorreu em

Águas Mornas.

Durante as visitas realizadas em Águas Mornas, observamos, porém, que muitas

das descendentes que fabricam produtos de confeitaria já não o fazem como suas mães

ou avós faziam, pois modificam alguns ingredientes e técnicas de preparo originais.

Ademais, apesar de os produtos serem apreciados pela família, os filhos e netos dos

entrevistados parecem não conhecer integralmente a receita, o que nos leva a inferir que

o costume de transmitir a cultura gastronômica dos colonizadores alemães esteja se

extinguindo. Isso aponta para uma alteração da herança cultural e gastronômica dos

antepassados a qual, dessa forma, corre o risco de perder-se com o tempo.

Reconhecendo a importância da cultura gastronômica de um povo e os fatores

que podem prejudicar sua manutenção, tais como a falta de ingredientes originais, o

Page 3: Reconhecimento da Identidade Gastronômica dos Imigrantes

transcorrer do tempo, a transmissão de receitas de uma geração a outra, dentre outros,

este estudo objetivou reconhecer a identidade gastronômica do município de Águas

Mornas, com enfoque inicial em produtos de confeitaria, visando contribuir para o seu

fortalecimento e definição de suas bases iniciais, incentivando, dessa maneira, o turismo

gastronômico na região.

Procedimentos Metodológicos

Esta pesquisa qualitativa, de caráter teórico-empírico, baseada na experiência,

foi realizada no ano de 2008 e teve início com uma visita das pesquisadoras ao

município de Águas Mornas, acompanhadas pelo engenheiro agrônomo Cícero Luis

Brasil3, que trabalha e desenvolve projetos há algum tempo na região e, por essa razão,

conhece bem o local e as famílias que ali vivem. Ao entrar em contato com a

comunidade, foi iniciado o estabelecimento de um vínculo, consolidado através de

visitas e conversas. A apresentação da proposta do estudo foi, posteriormente, realizada

durante uma das reuniões do “Grupo de Idosas”, na qual havia um grupo de senhoras

que se mostraram bastante receptivas ao projeto, e muitas delas já se propuseram a

agendar datas para serem visitadas e entrevistadas.

A coleta de materiais foi realizada através de entrevistas gravadas em áudio,

como forma de identificar as formulações culinárias desenvolvidas pelos descendentes

de imigrantes alemães do município e suas histórias de vida. Foram também realizadas

observações diretas (RAUEN, 2006). Em cada visita, o entrevistado escolhia uma

receita para preparar enquanto falava de sua história de vida. Vale ressaltar que as

entrevistas seguiram um roteiro semi-estruturado de perguntas que ajudaram a dar um

direcionamento à conversa, mantendo a linha do tema gastronomia e histórias de vida.

Buscou-se levantar informações, principalmente, sobre as receitas de confeitaria

elaboradas por alguns dos descendentes que residem no município de Águas Mornas.

Para a condução das entrevistas, foi utilizado o método da História Oral,

introduzido no Brasil na década de 1970, que consiste na realização de entrevistas

gravadas com pessoas que possam testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas,

instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea. Nesse

método, as entrevistas são tomadas como fontes para a compreensão do passado,

3 Um especial agradecimento ao Sr. Cícero Luis Brasil e à toda comunidade de Águas Mornas pelo apoio e disponibilidade em participar deste estudo.

Page 4: Reconhecimento da Identidade Gastronômica dos Imigrantes

juntamente com documentos escritos, imagens e outros tipos de registro (MEIHY,

2005).

Com o objetivo de identificar possíveis aprimoramentos à metodologia proposta,

especialmente com relação ao roteiro de entrevistas, foi realizado um estudo piloto com

uma das moradoras da comunidade. Após ajustes no roteiro, teve início o trabalho de

campo, através dos agendamentos das visitas e a realização das entrevistas.

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética na Pesquisa em Seres

Humanos (CEPHU) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tendo sido

aprovado sob protocolo número 152/08. Foi definido como critério de aceitação, a

assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) - constante do

processo de submissão ao CEPHU. O TCLE foi explicitado a todos os entrevistados e

estes, após concordância, assinaram-no consentindo sua participação na pesquisa.

A população do estudo foi composta por descentes de imigrantes alemães

residentes no município de Águas Mornas. Através de contatos realizados com

representantes da comunidade e da Prefeitura, foi possível identificar os mais antigos

dentre os descendentes de imigrantes, que pudessem contribuir com informações

referentes à elaboração de produtos de confeitaria. O tamanho final da amostra foi

definido após a aplicação dos critérios de aceitação por parte dos oito moradores

inicialmente identificados.

Dessa forma, o trabalho foi realizado com um grupo de oito pessoas, sendo sete

mulheres e um homem, com idade média de 57 anos (DP = 22), casados e com filhos. A

ocupação mais relatada foi a de dona-de-casa, havendo também dois cozinheiros.

Todos os entrevistados eram bisnetos de imigrantes alemães, nascidos em Águas

Mornas na década de 1950. Seus bisavôs vieram de outras localidades a fim de

constituir família, e a maioria trabalhava com agricultura de subsistência, que era a

atividade mais comum na época. Seus pais e avós da mesma forma trabalharam na

“roça”, com o diferencial de também estarem envolvidos com a compra e venda dos

excedentes da produção agrícola (SEYFERTH, 1974).

Resultados do estudo - Os hábitos alimentares locais

Os descendentes de imigrantes alemães nascidos no Brasil mantiveram alguns

laços culturais com a Alemanha natal: a língua alemã, na maioria das vezes reproduzida

por dialetos locais e os hábitos alimentares representados por ingredientes e por

Page 5: Reconhecimento da Identidade Gastronômica dos Imigrantes

costumes germânicos são o ponto forte de muitos municípios de colonização alemã. No

entanto, nem todos os hábitos trazidos pelos primeiros imigrantes puderam ser

reproduzidos aqui, principalmente no que tange a gastronomia, muitos dos ingredientes

faltaram num primeiro momento, mas aos poucos, as colônias foram se abastecendo,

cultivando produtos e criando meios de reproduzir aqui suas receitas com maior

originalidade (GLOBO, 1993). Na ausência dos ingredientes originais da culinária

germânica, os imigrantes que aqui chegaram valeram-se das adaptações possíveis e do

manejo “germanizado” da culinária do país que os recebeu. (SILVA, 2007)

Durante a coleta de materiais realizada com os descendentes dos imigrantes

alemães, em Águas Mornas, cada participante escolhia um prato que seria preparado no

dia da visita das pesquisadoras. Previamente era solicitado que a escolha fosse feita

pensando-se em uma receita que tivesse sido repassada por alguém da família, e que

fizesse parte da história de vida dessa família. Por questão ética, os entrevistados

aparecem aqui representados por iniciais, que vêm logo após a receita. As receitas

elaboradas e apresentadas foram: Bolacha d’água (O), Wafla (Z), Santa Fé (R), Rosca

de Polvilho (T), Cuca de Farofa (cuca alemã) (N), Toucinho do Céu (“klétch”) (M),

Nego Deitado (L1) e Pão de Banana (L2).

Todos confirmam ter aprendido a receita com a mãe ou a avó e contam, ainda,

que estas também haviam aprendido com suas mães, como era o costume da época, com

exceção de R, que aprendeu a receita com a sogra. Mas, mesmo neste caso, a

entrevistada conta que a mãe também costumava preparar a receita, tendo-lhe ensinado-

a, porém, por preferir a textura do produto preparado pela sogra, a informante optou por

preparar a receita desta (01).

(01) “Essa aqui mesmo eu aprendi com a minha sogra. Que a minha mãe fazia diferente,

a da minha mãe ela fica muito escaldada. E essa aqui eu aprendi com a minha sogra,

mas... já faz muitos anos que ela morreu (...). A da minha mãe ela ficava muito

espinhenta (...) era os mesmo ingrediente, mas só que ela escaldava muito a massa.” (R)

Neste caso, o repasse da cultura gastronômica se deu por duas fontes diferentes,

mantendo-se o costume do repasse da receita pela mãe, comum na época.

Todas as receitas eram confeccionadas com muito zelo pelos entrevistados, que

se mostravam orgulhosos de seu produto. Após o repasse da receita, faziam questão de

arrumar a mesa para que o produto preparado pudesse ser degustado juntamente a uma

Page 6: Reconhecimento da Identidade Gastronômica dos Imigrantes

grande variedade de alimentos consumidos na região, tais como nata, manteiga, muss

(musse), leite, pão de mistura e pão trança. Deve-se fazer especial referência ao schmir

(chimia), espécie de geléia em que os pedaços das frutas são visíveis - diferente da

muss, onde a geléia é pastosa e não se identificam pedaços da fruta. O schmir pode ser

doce, preparado à base de fruta, ou salgado, tendo o ovo como ingrediente principal.

Nesse sentido, segundo Schreiber (2006), uma mesa farta com grande

quantidade e variedade de comidas representa uma conquista adquirida pelos imigrantes

no Novo Mundo, em virtude de os colonos terem passado fome na Europa. Também a

quantidade de itens na mesa era importante, pois representava seu maior “luxo”.

Pelo fato de o milho ser um ingrediente bastante acessível na época da

colonização, e de fácil cultivo, as receitas à base de milho faziam parte do dia-a-dia dos

imigrantes. Um exemplo é o Nego Deitado que, segundo L1 e L2, era muito comum no

café-da-manhã e da tarde, antes e depois do trabalho na “roça”. Já as receitas à base de

farinha de trigo eram reservadas para os finais de semana e datas festivas.

O trigo foi um produto que demorou a chegar à região e sua presença na mesa

dos colonos era reduzida. Em função de sua escassez, o imigrante substituía a farinha de

trigo pela de milho na elaboração dos pães, o que não resolvia o problema de um povo

tão acostumado a uma grande variedade de pães. Com essa necessidade de diversificar,

começaram a preparar pães de aipim, cará, abóbora e inhame - produtos acessíveis no

momento – os quais ficaram conhecidos como “pães dos imigrantes” (SCHREIBER,

2006).

A falta do trigo está relacionada com a história da panificação desde os tempos

pré-históricos, pois não se conseguia produzir o pão com cevada, sorgo ou aveia

(JACOB, 2003). Dessa forma, o pão teria surgido, realmente, quando os homens

dominaram o trigo e passaram a cultivá-lo, obtendo a farinha para a produção do

alimento que dominou material e espiritualmente o mundo antigo, desde os egípcios,

que o inventaram e usavam-no como moeda de pagamento, até os judeus, que o

transformaram em ponto de partida da sua legislação religiosa e social, passando pelos

gregos e romanos que fizeram do pão um importante instrumento da sua política.

Os hábitos alimentares ou culinários de uma nação não decorrem somente de

mero instinto de sobrevivência e da necessidade do homem de se alimentar. Fazem parte

da representação de sua história, geografia, clima, organização social e crenças

religiosas e têm raízes profundas na identidade social dos indivíduos. Dessa maneira,

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são os hábitos mais resistentes no processo de adaptação dos imigrantes (FRANCO,

2004).

Este estudo constatou que a maioria dos entrevistados procura manter as receitas

originais, como suas mães e avós costumavam preparar, não alterando ingredientes.

Uma exceção, porém, foi registrada na tradicional rosca de polvilho, que segundo T,

levava originalmente farinha de milho (conforme receita de sua mãe), e, hoje, é feita,

por ela, apenas com farinha de trigo. Além disso, T não mais adiciona suco de limão,

como sua mãe costumava fazer (02).

(02) “Mudou porque ela costumava colocar o limão ou a laranja azeda – laranja de

porco como a gente dizia – mas para mim não dá certo, eu não sei, por isso que eu digo,

talvez o polvilho é diferente hoje. O polvilho ele não tem aquele cheiro forte que nem o

outro tinha, né. Hoje em dia já é tudo mais rápido, eu penso. Porque se eu colocar aquilo

a rosca pra mim ela fica assim oca por dentro, né. Fica aqueles fio duro assim, seco.

(...) Eu acho que era pra aumentar, pra dar mais rosca, pra azedar mais o polvilho. Eu

não sei qual era o segredo do limão e da laranja pra te dizer, mas eu acho que é isso. A

não ser que era pra dá só o gosto... não sei. E essa assim que eu faço assim daí eu boto

trigo. E eles botavam o milho, o pirãozinho da farinha de milho ou só o polvilho puro

mesmo. Mas eu boto trigo pra ela ficar mais cheinha assim por dentro.” (T).

Com relação aos métodos de preparo, foram percebidas poucas alterações, como

por exemplo, o caso do Klétch, receita de M, que antigamente era batido à mão, com

auxílio de colher, e hoje é feito no liquidificador.

Outra alteração foi relatada na receita da Cuca alemã de N, pois sua mãe assava

em forno à lenha, mas, hoje em dia, ela prefere a praticidade do forno elétrico (03).

(03) “A diferença era só no assar né, que hoje a gente assa no forninho e na época era só

forno à lenha, né. Era o forno à lenha, a única coisa que era diferente era isso né. (...) O

forno à lenha ela... parece que ela não seca tão ligeiro. Isso é um pouco da diferença, o

assar voga muito né. Hoje em dia é só as coisa elétrica – eu tenho um forno à lenha

também e às vezes uma outra coisinha assim eu faço nele.” (N)

É preciso destacar, porém, que a cozinha não funciona apenas como

representação e identidade, ela também pode ser um espaço de desaparecimentos, de

Page 8: Reconhecimento da Identidade Gastronômica dos Imigrantes

perdas e de destruições (SANTOS, 2005), hipóteses que motivaram o início deste

estudo e que se confirmaram na fala dos entrevistados (04 e 05).

(04) “Ah, hoje em dia as moça não querem mais aprender essas coisas. Eu ensinei foi só

pra minha nora, porque o meu filho queria comer, mas as minha filha mesmo nenhuma

quis saber de aprender.” (L2)

(05) “Ah, elas querem mesmo é que a mãe faça. As filha vêm aqui domingo e pedem

pra eu fazer as coisa que elas gostam, mas aprender mesmo ninguém quis.” (O)

Um dos problemas levantados no projeto deste estudo foi o fato, inicialmente

observado, de que ocorriam alterações nas receitas originais e isso poderia comprometer

a identidade gastronômica local. Entretanto, as pequenas alterações relatadas e

observadas não parecem estar descaracterizando essas receitas. As mudanças efetuadas

são mínimas, permitindo que a receita mantenha sua essência. Por outro lado, uma das

hipóteses do estudo que se confirmou durante a realização das entrevistas, foi o fato de

que realmente não é freqüente o repasse dessas receitas a filhas, noras e netas. Isso

confirma a hipótese de que a herança cultural corre o risco de ser alterada e de perder-se

com o tempo, prejudicando e comprometendo a identidade gastronômica local.

Ao refletir sobre o tema, pode-se assinalar que o próprio gosto alimentar surge

da fusão entre o cultural e o biológico, e é determinado não apenas por questões

econômicas ou ambientais, mas principalmente pelos valores éticos e religiosos, pelos

rituais, pela mentalidade, pelo valor das mensagens que se trocam quando os alimentos

são consumidos em determinada companhia, pela transmissão inter-geração (de uma

geração à outra) e intra-geração (a transmissão vem de fora, passando pela cultura no

que diz respeito às tradições e reprodução de condutas) e pela psicologia individual e

coletiva que acaba por influir na determinação de todos estes fatores (SANTOS, 1997).

Por essas razões, os hábitos alimentares constituem um elemento extremamente

importante da identidade dos diversos grupos sociais. Se, no âmbito da alimentação

cotidiana, alimentos tradicionais convivem com inovações gastronômicas, a maneira

com que tais inovações são incorporadas merece destaque, bem como a existência de

determinadas permanências. As permanências de determinados hábitos alimentares e

práticas gastronômicas terminam por criar um panorama gastronômico com certa

coerência, desenhando as chamadas cozinhas regionais. Destas cozinhas, muitas vezes

emergem pratos que, por suas características de preparo e degustação, bem como por

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conta do significado que possuem para o grupo que os degustam, terminam por

constituir símbolos locais: os chamados pratos típicos (ROLIM,1997).

Nesse sentido, prato típico pode ser entendido como uma iguaria gastronômica

preparada e degustada em uma região, de maneira tradicional, possuindo ligação com a

história do grupo que o prepara e degusta. Por reforçar a identidade de uma localidade e

de seu povo, torna-se muitas vezes uma espécie de signo local, fato que ganha

importância dentro do contexto turístico (MINTZ, 2001).

Outra percepção importante do estudo foi que existe ainda um caminho a ser

percorrido para que seja possível a transformação dos produtos da gastronomia

tradicional de Águas Mornas em atrativos turísticos, conforme se apresenta o desejo do

município. São aspectos de higiene, apresentação, embalagem, conservação, dentre

outros relacionados ao marketing, que precisam ser aprimorados antes de esses produtos

serem ofertados aos turistas (MARCOS E DENTZ, 2008). Com base nessa constatação,

uma segunda etapa foi elaborada para dar continuidade ao presente trabalho, buscando

agora impulsionar o turismo em Águas Mornas através do aprimoramento da

gastronomia tradicional alemã praticada na localidade, sem perder de vista as tradições

coloniais.

Trabalhar a tradição como atrativo turístico ajuda a recuperar a memória e a

identidade de um local. A identidade gastronômica dos imigrantes de alemães residentes

no município de Águas Mornas pode ser considerada um atrativo turístico de grande

relevância, e o turismo, por sua vez, é um grande gerador de emprego e renda. A

atividade turística aparece atualmente como um fator importante para o

desenvolvimento sócio-cultural. Dessa forma, nada mais oportuno do que oferecer ao

turista a culinária local, o chamado turismo cultural-gastronômico.

História, identidade e memória

A identidade está intimamente ligada à memória. Entende-se por identidade, os

aspectos peculiares de um determinado povo, como suas crenças, ritos e experiências

comuns. Quanto à memória, esta pode ser entendida como a capacidade de relacionar

um evento atual com um evento passado do mesmo tipo; portanto, como uma

capacidade de evocar o passado através do presente (JAPIASSÚ, 1996).

A memória é um elemento constitutivo da identidade, elemento importante para

o reconhecimento e a valorização de indivíduos ou grupos, agindo para reforçar sua

auto-estima (POLLAK, 1989). A valorização da cultura de um povo, neste caso da

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cultura alimentar, é capaz de elevar o sentimento de reconhecimento e de pertencimento

a um grupo, o que é algo muito importante, pois, de acordo com Soares (2007),

inúmeras vezes o povo convive com um sentimento de alienação, como se sua própria

cultural não fosse relevante ou digna de reconhecimento e atenção.

A memória do grupo sendo a marca ou sinal de sua cultura, possui algumas

finalidades bastante concretas. A primeira e mais penetrante é a da afirmação da própria

identidade, que se baseia essencialmente na memória do grupo (WEHLING, 2003).

A história e a memória se apoderam do passado, aquela para analisá-lo,

descodificá-lo, desmistificá-lo, torná-lo inteligível ao presente; esta última, ao contrário,

para sacralizá-lo, dar-lhe uma coerência mítica em relação a esse mesmo presente, a fim

de ajudar o indivíduo ou o grupo a viver ou a sobreviver. Pelo seu caráter crítico, a

história tem por objetivo a pesquisa da verdade; já a função da memória, por sua vez, é

a construção ou a reconstrução de uma identidade (FRANK, 1992).

De acordo com Pollak (1992), a memória é seletiva, pois nem tudo fica gravado

e registrado. Esse fato foi percebido durante a realização das entrevistas, quando os

participantes sentiam dificuldade de lembrar acontecimentos do passado no que tange às

histórias de vida. No entanto, quando se tratava da história alimentar, demonstravam

grande facilidade em contar os momentos em que, com alegria, determinados pratos

eram elaborados.

Stuart Hall (1999) afirma que “as identidades nacionais são formadas e

transformadas no interior da representação”. Essa construção da identidade ou

identidades vai se moldando quando um determinado grupo se apropria de seus valores

e manifestações perpetuando-os na sua história, passando de geração a geração.

Ainda com relação a esse repasse entre gerações, destacamos a importância do

grupo familiar como referência fundamental para a reconstrução do passado, pelo fato

de a família ser, ao mesmo tempo, o objeto das recordações dos indivíduos e o espaço

em que essas recordações podem ser avivadas(BARROS, 1989). Reconstituindo a

mesma situação que alguns vivenciaram com seus avós, os imigrantes entrevistados

vivem um recomeço e também um momento de integraçã.

A figura dos mediadores ganha uma função fundamental nesse processo de

manutenção da identidade grupal. Apresentados como elo vivo entre gerações, os

mediadores transmitem a história de um passado vivido e experimentado. No meio

familiar, os avós representam a imagem da união entre seus antepassados e seus

descendentes (BENJAMIM, 1987).

Page 11: Reconhecimento da Identidade Gastronômica dos Imigrantes

Para Halbwachs (1968) transmitir uma história, sobretudo a história familiar, é

transmitir uma mensagem, referida, ao mesmo tempo, à individualidade da memória

afetiva de cada família e à memória da sociedade mais ampla, expressando a

importância e a permanência do valor da instituição familiar. Já para Pollak (1989), as

tradições culinárias estão entre os pontos de referência que estruturam nossa memória e

a inserem na memória da coletividade a qual pertencemos.

O ato de comer, em todas as culturas e civilizações, é mais do que simplesmente

garantir a sobrevivência diária. Comer é um ato simbólico e cultural, representa um

estilo de vida, aprofunda relações familiares e sociais, enriquece o processo de

construção do conhecimento, aviva as memórias e permite nos identificar com o nosso

grupo (BARRETO, 2000).

Nessa perspectiva, a memória é um elemento essencial do que se costuma

chamar de identidade. É inegável que a identidade própria dos povos contribui para a

consciência da cidadania. Segundo Santos (1999), o patrimônio cultural de uma

comunidade não está representado apenas pelos bens materiais. Tudo o que tem valor

significativo, que é susceptível de ser adquirido e transmitido, forma o conjunto de bens

culturais que devem ser preservados por representarem referenciais importantes para a

coletividade.

Enquanto os entrevistados relatavam a receita escolhida e contavam a história da

mesma - bem como a história de vida da própria família - era possível perceber a

felicidade que sentiam em falar dos momentos especiais, em que havia a reunião da

família no preparo do alimento. Através desses relatos, percebe-se a forte relação desse

povo com a cultura e os hábitos alimentares, sendo estes realmente parte integrante da

história de vida de cada um.

Nem mesmo as dificuldades vivenciadas no início da colonização, quando os

imigrantes aqui chegaram - como a falta dos ingredientes usuais, aos quais seus

antepassados estavam acostumados - conseguiam minimizar o grande entusiasmo que

os entrevistados sentiam ao falar de suas mães, avós e da receita que fazia parte da sua

história de vida.

O reconhecimento da identidade gastronômica dos imigrantes alemães no

município de Águas Mornas significa, de certa forma, entrar em contato com a cultura e

o perfil de um povo. Isso porque através dos hábitos alimentares ou dos costumes

culinários, cada povo demonstra não somente seus gostos e aversões, mas, também,

Page 12: Reconhecimento da Identidade Gastronômica dos Imigrantes

deixa transparecer suas características geográficas, climáticas e influências sofridas por

outros povos.

Através da memória e da construção da identidade de um povo, o turismo surge

com a perspectiva de preservar a cultura e fazer dela um produto turístico com uma

demanda específica, pois quem procura esse tipo de turismo busca conhecer o

patrimônio cultural de determinada localidade.

Neste contexto, a gastronomia assume-se como um importante veículo da cultura

popular, ao mesmo tempo em que possibilita uma percepção da forma como vivem os

habitantes de cada região, numa dada época. Ou seja, a gastronomia pode ser parte do

que denominamos de patrimônio cultural, uma arte que pode ser compreendida como

um conjunto de bens materiais e imateriais representativos da cultura de um grupo ou de

uma sociedade (MARTINS, 2003).

As motivações para a realização do turismo cultural são muitas, entre elas o

prazer e a busca de raízes culturais. E a dimensão social e cultural da gastronomia

possibilitou incorporá-la ao complexo emaranhado de políticas de patrimônio cultural

(AZAMBUJA, 2000).

O uso turístico do patrimônio faz com que a gastronomia adquira cada vez maior

importância para promover um destino e para atrair correntes turísticas. A gastronomia

como patrimônio cultural está sendo incorporada aos novos produtos turísticos

orientados a determinados nichos de mercado, permitindo incorporar os agentes da

própria comunidade na elaboração desses produtos, assistindo ao desenvolvimento

sustentável da atividade (SCHLÜTER, 2003).

Considerações Finais

Este estudo permitiu observar que a gastronomia tradicional alemã no município

de Águas Mornas vem sendo mantida através dos anos, passando de uma geração a

outra com pequenas alterações de ingredientes e modos de preparo. Essas alterações,

porém, não parecem comprometer a essência das receitas, que mantêm características

muito próximas das originais, sendo mais comuns nos modos de preparo, como a

substituição do forno à lenha pelo forno elétrico e o uso do liquidificador para facilitar a

mistura de massas, antes feitas manualmente.

Outra importante constatação foi a de que o costume de transmitir receitas

transgeracionalmente parece estar sendo abandonado pelas gerações mais jovens.

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Muitos dos entrevistados afirmaram que não há interesse dos filhos em aprender as

receitas da família. Considerando o potencial risco de perda da identidade gastronômica

dessa localidade, ressaltamos a já citada necessidade de intervenção no sentido de evitar

que o saber culinário desapareça com o tempo. Essa necessidade foi a que motivou a

continuidade desse estudo.

Durante a realização do estudo na região, houve grande receptividade da

população. Também se constatou que as visitas propiciaram às pesquisadoras a

ampliação do conhecimento da região: cultura, geografia, cultivo e produção de

alimentos e gastronomia, o que, ao lado de outros fatores já citados, também motivou a

continuidade do estudo com um novo projeto. Sentimos a necessidade de ampliar o

conhecimento da gastronomia local através de receitas salgadas, que não foram

estudadas nessa primeira etapa. Além disso, pretendemos registrar as receitas analisadas

e suas respectivas fotos para que sirvam de modelo e incentivo a um futuro trabalho de

divulgação do turismo local.

A gastronomia é uma área que vem crescendo ultimamente e sofrendo grandes

mudanças, despertando o interesse de acadêmicos, profissionais e, principalmente, da

mídia. Ela está intimamente relacionada ao turismo e à cultura. Mas sabemos que seu

desenvolvimento depende do seu reconhecimento como fator importante da cultura de

um povo e do empenho dos profissionais da área, que se dá, também, através da

realização de estudos nessa área.

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