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No ano de 1824, o jovem Jean Louis Rodolphe Agassiz deixava a cidade onde nasceu, junto ao lago Morat na Suiça. A partida do jovem era, no entanto, motivo de alegria para os seus pais, um pastor protestante e Rose Mayor. O jovem tinha por destino a cidade de Zurich, para iniciar a faculdade de medicina, profissão de seu avô e tio materno. Nos dois anos que permaneceu na Faculdade de Medicina em Zurich, entretanto, Agassiz veio a ter contato com a cadeira de História Natural e Fisiologia que lhe despertou grande interesse. Sua dedicação foi tanta que o professor responsável pela disciplina confiou ao aluno a chave de sua biblioteca pessoal e de sua coleção de aves. Agassiz passava muitas horas copiando obras daquela biblioteca, o que desgostava seus pais,já que o interesse do rapaz pela história natural e fazia com que ele negligenciasse o estudo da medicina. Por desejar aprofundar seus estudos na cadeira que mais lhe interessava, Agassiz deixou Zurich e transferiu-se para a universidade de Heidelberg e finalmente para Munich. Nesta última universidade, tornou-se aluno do botânico von Martius 1 , com o qual desenvolve uma relação de amizade. Provavelmente, foi por meio de von Martius que Agassiz veio a ter contato com a flora e a fauna brasileiras pela primeira vez, visto que, segundo a sua correspondência, os momentos que mais lhe davam prazer em Munich eram as visitas a Martius, nas quais este contava detalhes de suas viagem pelo Brasil e mostrava-lhe as magníficas coleções coletadas naquela terra tão distante (AGASSIZ, E., 1887:43). Para cumprir a promessa feita ao pai Agassiz chegou a concluir a faculdade de medicina, sem, no entanto, apartar-se dos estudos de história natural. Ao conquistar a confiança de Martius, este o confio-lhe a tarefa de concluir o trabalho de seu companheiro de viagens ao Brasil, von Spix. A especialidade deste último era a ictiologia, ou seja, o estudo de peixes e, após recolher várias espécimes em suas viagens ao Brasil, veio a falecer de uma doença tropical, deixando inconcluso seu esforço para publicar uma obra sobre o tema. 1 Carl Friedrich Philippe von Martius (1794 – 1868), médico, antropólogo e botânico, estivera no Brasil em 1817 com Johan Batist von Spix em expedição científica que acompanhava a grã-duquesa austríaca Leopoldina que vinha consumar seu casamento com o príncipe D. Pedro, filho do Rei de Portugal. 25 Carta de M. Agassiz ao filho em 25 de outubro de 1828. In: Agassiz, E., 1887

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Page 1: Recherches sur les Ossements Fossiles de …...confiança de Martius, este o confio-lhe a tarefa de concluir o trabalho de seu companheiro de viagens ao Brasil, von Spix. A especialidade

No ano de 1824, o jovem Jean Louis Rodolphe Agassiz deixava a cidade onde

nasceu, junto ao lago Morat na Suiça. A partida do jovem era, no entanto, motivo de

alegria para os seus pais, um pastor protestante e Rose Mayor. O jovem tinha por

destino a cidade de Zurich, para iniciar a faculdade de medicina, profissão de seu avô e

tio materno.

Nos dois anos que permaneceu na Faculdade de Medicina em Zurich, entretanto,

Agassiz veio a ter contato com a cadeira de História Natural e Fisiologia que lhe

despertou grande interesse. Sua dedicação foi tanta que o professor responsável pela

disciplina confiou ao aluno a chave de sua biblioteca pessoal e de sua coleção de aves.

Agassiz passava muitas horas copiando obras daquela biblioteca, o que desgostava seus

pais,já que o interesse do rapaz pela história natural e fazia com que ele negligenciasse o

estudo da medicina.

Por desejar aprofundar seus estudos na cadeira que mais lhe interessava, Agassiz

deixou Zurich e transferiu-se para a universidade de Heidelberg e finalmente para

Munich. Nesta última universidade, tornou-se aluno do botânico von Martius1, com o

qual desenvolve uma relação de amizade. Provavelmente, foi por meio de von Martius

que Agassiz veio a ter contato com a flora e a fauna brasileiras pela primeira vez, visto

que, segundo a sua correspondência, os momentos que mais lhe davam prazer em

Munich eram as visitas a Martius, nas quais este contava detalhes de suas viagem pelo

Brasil e mostrava-lhe as magníficas coleções coletadas naquela terra tão distante

(AGASSIZ, E., 1887:43).

Para cumprir a promessa feita ao pai Agassiz chegou a concluir a faculdade de

medicina, sem, no entanto, apartar-se dos estudos de história natural. Ao conquistar a

confiança de Martius, este o confio-lhe a tarefa de concluir o trabalho de seu

companheiro de viagens ao Brasil, von Spix. A especialidade deste último era a

ictiologia, ou seja, o estudo de peixes e, após recolher várias espécimes em suas viagens

ao Brasil, veio a falecer de uma doença tropical, deixando inconcluso seu esforço para

publicar uma obra sobre o tema.

1 Carl Friedrich Philippe von Martius (1794 – 1868), médico, antropólogo e botânico, estivera no Brasil em 1817 com Johan Batist von Spix em expedição científica que acompanhava a grã-duquesa austríaca Leopoldina que vinha consumar seu casamento com o príncipe D. Pedro, filho do Rei de Portugal. 25 Carta de M. Agassiz ao filho em 25 de outubro de 1828. In: Agassiz, E., 1887

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Agassiz concluiu o trabalho no ano de 1929 e dedicou-o a o naturalista de maior

destaque de sua época Georges Cuvier. O jovem naturalista tinha profunda admiração

pelo naturalista francês desde os tempos de Heidelberg quando teve contato com os

quatro volumes do Recherches sur les Ossements Fossiles de Quadrupède, où l'on

Rétablit le Caractères de Plusieurs Espèces d'Animaux que le Révolutions du Globe

Paroissent avoir Détuites (1812). A admiração de Agassiz chega a tomar proporções de

uma verdadeira obcessão. Após sua formatura o suíço decidiu morar na França, onde

encontrou trabalho como médico e procurou entrar em contato com o naturalista

francês.

Cuvier era um naturalista de gabinete, jamais viajara o mundo recolhendo

espécimes como fizera Martius, Humboldt e o próprio Darwin. Em 1798, Cuvier fora

convidado por Napoleão Bonaparte para acompanhá-lo em expedição ao Egito, o

naturalista, porém, declinou do honroso convite. Preferia ficar no conforto de seu

gabinete estudando as espécimes que lhes chegavam às trazidas de diversas partes do

globo por coletores. Tal atitude frente às viagens era comum e não tornava o naturalista

de gabinete menor do que o viajante (KURY, 2001).

Charles Lyell, reconhecidamente um dos mais eminentes geólogos do século

XIX, atestava o valor de Cuvier como naturalista e tratava o gabinete daquele homem

de ciências como um verdadeiro templo sagrado.

"Entrei ontem no sanctum sanctorum de Cuvier e é verdadeiramente

característico do homem. Por toda parte exibe a extraordinária capacidade de

metodização, que é o grande segredo dos feitos prodigiosos que ele realiza anualmente,

sem aparentar qualquer dificuldade" (LYELL, apud, GOULD, 1992:14).

Por fim, Agassiz também conseguiu o desejado acesso ao sanctum sanctorum e

foi na convivência com Georges Cuvier e com Alexander Humboldt, outro naturalista

respeitado que gozava da amizade de Cuvier, que o jovem suíço solidificou suas

posições acerca da evolução das espécies.

Segundo Ernest Mayr ninguém produziu tanto conhecimentos novos quanto

Georges Cuvier em seu tempo. Seus estudos sobre os invertebrados com base em sua

anatomia interna ou ainda seus estudos fundadores da paleontologia e anatomia

comparada tinham muita repercussão e respeitabilidade nos meios científicos. Cuvier,

contudo, não tinha qualquer inclinação às ideias evolucionistas. Mesmo tendo Jean

Baptiste de Lamarck (1744 - 1829) proposto com todas as letras a possibilidade de

evolução de espécies, sua fala foi eclipsada pela argumentação convincente e ancorada

numa tradição científica já estabelecida de Cuvier (MAYR,1998: 407).

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Na verdade, os estudos paleontológicos do próprio Cuvier davam pistas de um

processo evolutivo, visto ter esse percebido em escavações em estratos terciários de

Paris, que cada um dos estratos correspondentes a eras anteriores exibia sua fauna

particular de mamíferos. Mais do que isso, demonstrou que quanto mais baixo o extrato,

tanto mais os vestígios da fauna encontrados diferiam da atual (Ibidem, 406).

Acontece que Cuvier vinculava-se ao essencialismo, o qual em última instância

remete-se ao conceito platônico de eidos e que posteriormente foi incorporado pelo

cristianismo e a perspectiva criacionista (Ibidem,238).

Contudo, tanto o essencialismo que pressupunha a fixidez das espécies, bem

como o criacionismo eram colocados em cheque frente às descobertas de fósseis como o

de mamutes congelados na Sibéria ou o de répteis jurássicos de Caen, no norte da

França em 1820. Teriam tais animais sido extintos, teriam sofrido transformações

devido à ação de um meio ambiente extremamente poderoso, conforme postulavam

Lamarck e Geoffroy Saint- Hilaire? (Ibidem, 405).

Opondo-se à percepção de que pudesse haver um processo evolutivo, o

naturalista chamava a atenção para o fato de que a múmia de animais encontrados nas

tumbas egípcias, velhos de milhares de anos, eram perfeitamente indistinguíveis dos

representantes atuais da mesma espécie. Embora admitisse que a ação do meio pudesse

causar modificações periféricas, tais como tamanho e cor, em essência tais animais

permaneciam vinculados à mesma espécie (ibidem, 408).

Contudo, se animais fossilizados como preguiças gigantes ou mamutes não

teriam passado por um processo evolutivo que os vinculasse aos animais

contemporâneos, o que teria se dado com aquela fauna desconhecida. Estariam tais

animais habitando alguma região do planeta que não fora explorada, ou, talvez,

tivessem simplesmente sido extintas? a primeira opção mencionada, diante do

conhecimento de navegação que se dispunha no século XIX, seria muito pouco provável

que tais animais estivessem ocultos ao europeu que circulava então pelos sete mares,

por outro lado, a segunda opção colocava em cheque a própria figura de Deus. Visto

que, como ser perfeito teria, conforme o relato bíblico classificado como bom cada

etapa da criação. Se, na sua perfeição o próprio Deus classificou as espécies criadas com

o adjetivo, "bom", tais espécies não estariam sujeitas a evolução, já que não é possível

melhorar a perfeição e nem tampouco alguma espécie poderia desaparecer, pois caso

isso ocorresse, tornaria imperfeita a criação divina.

O catastrofismo elaborado por Cuvier dava uma resposta aceitável nos padrões

científicos da época para o dilema criado. Supondo que cada extrato geológico marcava

eventos catastróficos e traumáticos como o avanço do mar por sobre terrenos ora secos.

O que destruía um número significativo de espécies. Contudo, ainda ficava a questão:

teriam novas espécies sido criadas para substituir as anteriores, mantendo assim de

forma divina a harmonia do criador? Tal opção não era aceita por Cuvier, deixando

assim a questão em aberto. Mas o fato é que novas espécies encontradas em extratos

superiores, muitas vezes guardavam semelhanças com as de extratos inferiores, o que

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levava muitos criacionistas a efetivamente acreditarem que após cada evento

catastrófico a providência substituiria as espécies extintas por outras novas e assim a

harmonia universal permaneceria. Alguns deístas, adeptos da geração espontânea,

achavam que da própria matéria orgânica tais novas espécies surgiam a medida em que

uma anterior desaparecia.

Agassiz dedicou seu trabalho acerca dos peixes brasileiros a Cuvier e este

escreveu uma carta ao então estudante de Munich agradecendo-o a deferência.

"Vós haveis me honrado muito, e da mesma forma o fez M. Martius, ao colocar

meu nome diante de uma obra de reconhecido valor a qual publicam; a importância e a

raridade das espécies que são descritas e a beleza das figuras tornam esta obra de suma

importância para a ictiologia. Nada poderá ser-lhe adicionada quanto à exatidão das

descrições que haveis feito"2

Com seu trabalho acerca dos peixes do Brasil como cartão de visita, Agassiz

acabou por ter acesso ao gabinete de Cuvier, onde desfrutava da convivência do mestre

naturalista e ainda da de Alexander von Humboldt. Em pouco tempo Cuvier permitiu ao

jovem, acesso à sua coleção de peixes fósseis para que o naturalista desenvolvesse o

trabalho Recerches sur les poissons fossiles. Além disso, pouco antes de sua morte,

Cuvier confiou a Agassiz suas anotações, tesouro certamente ambicionado por muitos

naturalistas da época.

Alexander von Humboldt, por sua vez tornou-se amigo próximo a Agassiz. Foi

por meio do naturalista alemão que Agassiz veio a tornar-se professor da Universidade

de Neuchatel.

Embora a ictiologia, especialmente o estudo dos peixes fósseis demandassem

bastante atenção de Agassiz, como um homem de ciências típico da sua época, o

naturalista se aventurava por outras áreas de conhecimento sem que isso se constituísse

grande problema. Embora Humboldt aconselhasse Agassiz a não dispersar seu

conhecimento por um número demasiado de áreas.

Ao empreender algumas excursões aos Alpes, Agassiz desenvolve a teoria da

glaciação, algo que estaria em consonância com o catastrofismo de Cuvier. Isurgindo-se

por estudos geológicos Agassiz afirmava que a aparição daquela cadeia montanhosa era

resultado do maior cataclisma que o planeta conheceu, o qual mudou drasticamente a

superfície do planeta. Tal foi o impacto que o próprio clima planetário foi drasticamente

alterado promovendo uma idade glacial que durou por bastante tempo, fazendo com que

a calota polar do norte se estendesse até as bordas do Mediterrâneo.

Assim, o fenômeno da glaciação e um novo aquecimento marcariam fechamento

de um ciclo ou época geológica que ao seu fim provocava o desaparecimento de um

grande número de seres vivos e, a época nascente seria marcada pela criação de novas

espécies em substituição às antigas (AGASSIZ, E., 1887:200).

2 Carta de Georges Cuvier a Agassiz. Paris, 3 de agosto de 1829 (AGASSiZ, Elizabeth, 1887, p. 86).

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Um dos indícios de que a hipótese de Agassiz poderia ser verdadeira eram as

"morenas", grandes sulcos cavados na terra por pedras imensas que, segundo Agassiz

teriam sido arrastadas pela enorme massa de água desprendida das geleiras nos

momentos em que a temperatura voltava a subir. Várias dessas marcas foram

encontradas por Agassiz, e sua explicação era bastante plausível.

Em 1834 a reputação de Agassiz como cientista já era grande e naquele ano

recebeu uma carta de Charles Lyell informando-o que a Sociedade Geológica de

Londres o havia escolhido para receber um prêmio de mil libras esterlinas como forma

de encorajá-lo nos estudos geológicos que empreendia.

Paralelamente aos estudos geológicos, Agassiz continuava a fazer sua pesquisa

sobre os peixes fossilizados, Recherches sur le poissons fossiles, o trabalho terminou

em 1843. No seu modelo classificatório dos peixes, o naturalista suíço deixava claro sua

vinculação ao separacionismo. Enquanto taxonomistas "aglutinadores" tendiam a

agrupar seres que apresentam pequenas diferenças como sendo de uma mesma espécie,

os separacionistas, como Agassiz, consideravam a mínima diferença como o suficiente

para classificar uma nova espécie. Segundo Stephan J. Gould (2003) Agassiz chegou a

distiguir três diferentes espécies de peixes fósseis a partir simplesmente de variações na

dentição, o que posteriormente um paleontólogo reconheceria como dentição variável

de um mesmo indivíduo.

Novamente veio do amigo Humboldt a notícia de uma oportunidade que mudou

radicalmente a vida de Agassiz: Sua Majestade Frederico IV da Prússia financiaria a

viagem do naturalista suíço para os Estados Unidos da América, local onde poderia

ampliar seus estudos acerca das glaciações e, enfim comprovar que sua tese sobre

períodos glaciais cíclicos tinha deixado indícios, as "morenas", também em solo

americano.

No ano de 1845, Agassiz partiu para a América e, embora, supostamente

pretendesse voltar para Neuchatel, jamais retornou. A essa altura já era casado, mas a

esposa, de saúde delicada, e as três crianças permaneceram na Europa. Algum tempo

depois, sua esposa faleceu e Agassiz mandou buscar os filhos, contraindo novo

matrimônio com a estadunidense Elizabeth Cary.

No Novo Mundo, Agassiz passou a ocupar a cadeira de História Natural na

Universidade de Cambridge em Massachusetts. Assim, sua vida se estabelece nos

Estados Unidos, local onde era muito respeitado como naturalista. Sua visão

separacionista quanto à classificação das espécies acabou por transbordar para a

classificação das raças humanas, o que deu bastante lenha para os senhores

escravocratas nos Estados Unidos argumentarem haver uma separação intrínseca entre

brancos, negros e ameríndios.

A primeira vez que Agassiz teve contato mais aproximado com um ser humano

negro foi na Filadélfia e a carta em que descreve as suas impressões é no mínimo

chocante. Ao ser servido no café da manhã por pessoas de cor preta, Agassiz foi tomado

por sentimento de repugnância.

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"Não obstante sentir compaixão por seu destino ao pensar que se tratava

realmente de homens. Contudo, é-me impossível reprimir a impressão de que eles não

são feitos do mesmo sangue que nós. Ao ver suas faces negra com lábios grossos e

dentes disformes, a carapinha de suas cabeças, seus joelhos torcidos, suas mãos

alongadas, suas grandes unhas curvas, e principalmente a cor lívida da palma de suas

mãos, não pude deixar de cravar meus lhos em seus rostos para mandá-los se

conservarem à distância. E, quando estendiam aquelas mãos horrendas em direção ao

meu prato a fim de me servir, desejei ter a coragem de me levantar e sair à procura de

um pedaço de pão em qualquer lugar, em vez de ser servido por gente como essa. Que

desgraça para a raça branca ter ligado sua existência tão intimamente à dos negros em

certos países! Que Deus nos livre desse contato! (AGASSIZ. L., apud, GOULD,

2003:31).

Agassiz se tornou nos Estados Unidos um grande propagador do poligenismo,

ou seja, defensor da hipótese de que o homem não seria oriundo de uma ascendência

comum, mas teria surgido em diferentes lugares no globo. Dessa forma, a mistura de

raças produzia seres degenerados, pouco férteis e física e moralmente débeis.

Quanto à classificação das espécies de animais, Agassiz tomou de empréstimo o

conceito de "províncias geológicas" de seu amigo e benfeitor Alexander von Humboldt

e o adaptou para "províncias zoológicas".

Para Humboldt era necessário que o viajante ao descrever alguma espécime de

planta, o faça inserindo tal exemplar numa paisagem local. Para o estudo das plantas era

necessário uma descrição detalhada da sua localização, da altitude do clima, inclusive a

representação iconográfica do lugar de coleta (KNIGHT, 1981: 16-17;

KURY,2001:879).

Tal procedimento foi de grande importância, pois evitou alguns equívocos

comuns, como tomar uma amostra advinda da planície e classificá-la como de uma

região montanhosa ou vice-versa. Nas "províncias zoológicas" de Agassiz, supunha-se

que tal como as plantas, os animais tivessem sido criados para ocupar um determinado

nicho, com clima, incidência de chuvas, altitude, etc. e que tal espécie dificilmente se

adaptaria a um ambiente diverso daquele para o qual foi criado. A diferença, no entanto,

no que se refere aos animais, é que Agassiz não levava em conta o quanto a mobilidade

poderia mudar radicalmente esse quadro.

Percebe-se por parte do naturalista suíço uma característica da modernidade,

qual seja a necessidade de classificar para dar ao mundo uma estrutura, controlar o fluxo

da vida, impor uma ordem de maneira a recuperar o controle e eliminar a casualidade.

Nas palavras de Bauman,

"Classificar significa separa, segregar. Significa primeiro postular que o mundo

consiste em entidades discretas e distintas; depois, que cada entidade tem um grupo de

entidades similares ou próximas ao qual pertence e com as quais conjuntamente se opõe

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a algumas outras entidades; [...] Classificar, em outras palavras, é dar ao mundo uma

estrutura: manipular suas probabilidades, tornar alguns eventos mais prováveis que

outros, comportar-se com se os eventos não fossem casuais ou eliminar sua

casualidade"(BAUMAN, 1999: 9).

Agassiz chegou a tal nível na sua necessidade de ordenar o mundo relegando a

cada espécie o seu lugar determinado, que sua proposta para resolver o problema racial

nos Estados Unidos era que se relegasse aos negros as regiões de clima mais quente e

que a raça branca se fixasse nos Estados do Norte. Quanto aos mulatos, estes tinham

uma existência transitória, portanto, poderia-se, de forma humanitária, acolhe-los onde

bem quisessem até que naturalmente viessem a desaparecer (AGASSIZ, E. 1887: 463-

467).

Diante de tudo o que foi dito, não é de se espantar a reação do naturalista,

quando no ano de 1859, já conhecido e respeitado nos Estados Unidos e no mundo,

recebeu em sua correspondência o livo Origem das Espécies de Charles Darwin,

acompanhado de um envelope com uma carta do autor da obra.

"Eu tenho a ventura de enviar-lhe a cópia de meu livro.. . sobre a origem das

espécies. Quanto às conclusões que cheguei em muitos pontos são bastante divergentes

das suas, então pensei ( você em algum tempo deve ler o meu volume) que possa

imaginar que o tenha enviado... Movido por um espírito totalmente diferente. Espero

que, pelo menos, dê-me crédito pelo fato de ter cuidadosamente me esforçado ao

máximo para chegar à verdade, ainda que possa considerar minhas conclusões

equivocadas (DARWIN, apud, LURIE, 1960: 253) .

Charles Darwin, não parecia convencido de que conseguiria por meio de seu

livro demover Agassiz de suas crenças científicas mais arraigadas. E realmente não o

fez. As impressões de Agassiz foram as piores possíveis acerca da obra de o inglês

titubeou tanto em lançar. "Isso é realmente monstruoso" é a expressão anotada na

margem do pequeno livro verde.

Várias são as razões para que Agassiz tomasse por monstruoso o trabalho do

naturalista inglês. Tudo naquela obra ia de encontro à formação científica de Agassiz e

sua filiação com Georges Cuvier. Basta atermo-nos ao cerne da teoria Darwinista, a

seleção natural para entender que seria necessária uma mudança paradigmática profunda

no naturalista suíço para que pudesse cogitar a possibilidade daquela proposição ser

verdadeira. Era, em verdade, algo que aniquilaria toda a obra de uma vida.

Charles Darwin nasceu em 1809 em Shrewsbury, Shropshire na Inglaterrra, filho

de Robert Darwin, um médico eminente e muito bem sucedido. Seu avô paterno era

Erasmus Darwin, autor de Zoonomia. Sua mãe morreu quando o pequeno Charles tinha

apenas oito anos de idade.

Todos os biógrafos concordam que a viagem do Beagle de 1831 a 1836 foi o

evento que marcou definitivamente a vida de Darwin e o rumo que tomou desde então

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as suas pesquisas como naturalista. Um dos comentários que anotou em seu diário na

ilha de Galápagos dava conta de que os pássaros daquele ponto isolado do continente

diferiam apenas ligeiramente na sua estrutura, fato que o levava a "suspeitar que sejam

variedades" (MAYR, 1998:457).

Outra observação que o intrigava era a descoberta de grandes animais fósseis e

como tais animais pareciam estreitamente aparentados com animais atuais como o caso

dos tatus (id).

Naquele momento, contudo, Charles Darwin não tinha uma resposta clara para

as suas questões. Na verdade, durante os vinte anos seguintes, Darwin não toucou do

assunto da evolução da espécie, embora em carta a amigos mencionasse estar

preparando o livro das espécies. Poderiam elas alterar-se a ponto de transformarem-se

em outra? Embora desenvolvesse trabalhos como naturalista e fizesse parte do círculo

mais erudito de cientistas como Charles Lyell, somente quando recebeu em 1858 uma

carta de um colega naturalista Wallace em que enviava um artigo pedindo que Darwin o

encaminhasse a Lyell. Qual não foi a surpresa ao perceber que suas conclusões

convergiam. Assim, no ano seguinte fora publicado conjuntamente os trabalhos de

Darwin e Wallace.

Bastava a proposição de que as espécies evoluem para que Agassiz tomasse por

"monstruoso" o livro de Darwin. Já que tal afirmativa ia de encontro à sua crença na

fixidez das espécies. Não bastasse isso, a seleção natural postulada por Darwin partia do

princípio que todo indivíduo busca naturalmente crescer e reproduzir-se de tal forma a

perpetuar-se como espécie. Porém, se todos forem bem sucedidos os recursos limitados

do meio ambiente não serão suficientes para sustentar toda a população de indivíduos.

Logo é preciso que haja uma seleção.

Tal seleção se dá na medida que um indivíduo da mesma espécie se mostra mais

apto do que o outro para crescer e reproduzir-se. Fato que levaria o indivíduo menos

apto diminuir sua possibilidade de multiplicar-se em indivíduos semelhantes a si e, por

fim à prevalência do melhor adaptado ao meio.

Tudo isso aconteceria numa longuíssima duração e, a especiação seria facilitada

por barreiras geológicas naturais que se colocassem entre indivíduos da mesma espécie

inserido-os em meios diversos. Como toda espécie sofre casualmente pequenas

mudanças, quando tais transformações facilitam a capacidade de um indivíduo de

alimentar-se e reproduzir-se, este tenderá a deixar um número maior de descendentes.

O mundo de Agassiz não poderia suportar uma teoria que bania a providência e

deixava ao acaso a decisão de quem deveria morrer ou viver.

A princípio tudo aquilo deve ter soado como algo nada ameaçador. No entanto, a

posição hegemônica de Agassiz na América já começava a ser minada. Já no ano de

1858 um dos mais importantes botânicos do século XIX, Asa Gray, professor em

Harvard começara a discordar publicamente das posições de Agassiz sobre a flora do

Nordeste Americano e do Japão. O Professor Gray que se correspondia frequentemente

com Darwin e com Hooker, passara a cogitar a hipótese de haver alguma conexão entre

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espécies de plantas separadas pelo Oceano Pacífico. Não somente isso, mas tanto Gray

quanto outros homens de ciência pareciam dispostos a minar a autoridade de Agassiz

com base nas proposições darwinistas (LURIE, E., 1960: 292).

A disputa entre Agassiz e Gray tendeu a acirrar-se nos anos subsequentes e,

embora Agassiz contasse com alguns bastiões, não era raro que pouco a pouco estes

fossem mudando de lado e passassem a professar o darwinismo.

No ano de 1865 surgiu uma possibilidade que poderia trazer de volta o prestígio

que Agassiz via escapar-lhe das mãos. Um filantropo americano, mecenas das ciências

ofereceu voluntariamente a Agassiz os meios para que esse empreendesse uma viagem

científica.

Como desde a sua formação, Agassiz tinha entrado em contato com espécimes

da fauna brasileira com a coleção de von Spix e, além disso mantinha correspondência

frequente com o imperador do Brasil, inclusive recebendo deste novas espécies.

Aproveitou a oportunidade para empreender a expedição Thayer, cujo nome

homenageava o benfeitor Nathaniel Thayer.

Rapidamente o naturalista formou com sua esposa, Elizabeth Cary Agassiz uma

tripulação formada por geólogos, um ornitologista, um preparadores, além de

voluntários e seu próprio cunhado e um casal de amigos que aproveitava o paquete para

descansar na capital do império dos Trópicos, Rio de Janeiro.

Durante a viagem Agassiz ministrava palestras à sua tripulação, nas quais tratava

das questões essenciais para a empreitada,

"A origem da vida é o grande problema do dia. Como o mundo orgânico chegou

a ser o que é? Eus uma questão sobre a qual devemos desejar que nossa viagem traga

algum esclarecimento. Como o Brasil se tornou habitado pelos animais e as plantas que

nele vivem atualmente? Quais os seres que o povoaram nas eras passadas? Que razões

temos nós para acreditar que o atual estado de coisas nesse país derive por uma forma

qualquer de um estado de coisas anterior?..." (AGASSIZ, E. & L., 2000:29).

Com tal propósito, Agassiz e sua tripulação partiram para o Brasil. Estava

decretada luta aberta contra o darwinismo e para tal o naturalista suíço não economizava

esforços. Chegando ao Brasil ficou algum tempo no Rio de Janeiro, partindo,

posteriormente a comissão partiu para a região amazônica, local pelo qual circulou

recolhendo espécimes da flora e da fauna, em tamanha quantidade que após a sua volta

aos Estados Unidos o trabalho de organização e catalogação de todas as amostras

tornou-se impraticável.

Uma questão de suma importância para o naturalista em sua jornada anti-Darwin

era comprovar a hipótese de que catástrofes periódicas tendiam a extinguir espécies de

animais e plantas encontrados em extratos geológicos antigos, o que seria indício do

catastrofismo como forma explicativa das diferenças entre os seres de outras eras e os

atuais, sem recorrer a qualquer hipótese evolucionista.

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Agassiz estava convencido de que a bacia amazônica abaixo da Cordilheira dos

Andes teria sofrido um processo de glaciação em tempos remotos e para isso procurava

vestígios de marcas nos solos, as "morenas". Na verdade o suíço retornou aos Estados

Unidos convencido de que tinha encontrado tais indícios, embora, geólogos de nome

como Lyell não lhe tenham poupado críticas acerca de suas conclusões (LURIE,

1960:354).

Dentre os de sua própria equipe, Agassiz acabou por ser contestado. O geógrafo

que posteriormente veio viver e trabalhar no Brasil, Charles Hartt discordou das

conclusões do lider da expedição no que se refere aos indícios de que a Amazônia

brasileira teria passado por um período glacial. Da mesma forma o engenheiro brasileiro

Guilherme Capanema, tomava por precipitadas as conclusões de Agassiz (SOUSA,

2008: 89).

Quanto à classificação das espécies, Agassiz procedia da mesma forma. Sua

ideia fixa em combater o Darwinismo o conduzia por caminhos que corroboravam suas

crenças apriorísticas.

O fato é que, embora tivesse um fôlego de trabalho imenso e uma disposição

invejável de defender suas ideias. Agassiz tornou-se cada vez mais isolado. Muitos de

seus companheiros próximos acabaram por abandonar a ciência com base na fixidez das

espécies, do criacionismo e no catastrofismo e abraçaram o evolucionismo nos moldes

darwinistas.

Posteriormente,em 1872, Agassiz empreendia nova viagem, na qual visitava

vários sítios em que Darwin na sua viagem do Beagle, tantos anos antes escreveu seus

diários. Como se pode supor, Agassiz não pretendia com tal empreitada render-se

finalmente ao darwinismo. Mas, curiosamente, enquanto se encontrava na expedição,

seu filho Alexander Agassiz escrevia a Darwin uma carta na qual se professava o mais

novo convertido ao evolucionismo (LURIE, 1960: 373).

Embora tenha morrido em 1873 no ostracismo, não se pode pensar em Agassiz

como um representante de algum tipo de pseudo ciência. O naturalista representa o

pensar científico de um período que muito legou aos que o sucederam. O próprio

Darwin, a quem poderia atribuir-se as mazelas dos últimos dias de Agassiz, tratou-o

com reverência e respeito até os seus últimos momentos.

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