registo 255

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www.registo.com.pt SEMANÁRIO Director Nuno Pitti Ferreira | 20 de Outubro de 2014| ed. 255 | 0.50 O Melhor Petisco | Rua Catarina Eufémia , 14 Horta das Figueiras | 7005-320 Évora 266771284 03 Rotura e reconciliação marcam o primeiro ano de mandato de Pinto de Sá Rotura e reconciliação marcam o primeiro ano de mandato de Pinto de Sá 03 Orçamento de Estado 2015 PÁG.05 resumido em 7 passos… O Governo tentou levantar alguma da austeridade que caiu sobre os portugue- ses nos anos anteriores. Mas enquanto alguns vão ter mais dinheiro no bolso (os muitos pensionistas que deixarão de pagar a Contribuição Extraordinária de Solidariedade, por exemplo), outro vão sentir o peso de medidas como o aumento da taxa sobre o combustível rodoviário. Vinhos e Azeites Alentejanos no CCB PÁG.04 Mais de 400 vinhos e 40 azeites de um conjunto de 94 produtores estive- ram à prova no passado fim de semana, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. A organização foi da responsabilidade da CVRA – Comissão Vitivinícola Regional Alentejana e da Casa do Azeite, que pre- tendem fomentar o contacto direto entre produtores, consumidores e restantes agentes envolvidos no universo do Azei- te de qualidade e dos Vinhos do Alentejo. Estudo para saudade [Évora] PÁG.14 Desenvolvida em colaboração com Thom Laepple, cuja primeira versão foi realizada em 2007, Estudos para saudade [Évora], consiste num conjunto escultórico, cujo sistema reativo está ligado a um geó- fono e a um sismógrafo, que captam dados sísmicos do lugar. Estes dados são gravados em tempo real e convertem-se na fonte de informação que determina e produz os res- petivos movimentos simulados na obra, mantendo-a em constante transformação. Conferência CIMAC sobre o poder local PÁG.07 O quadro actual do poder local democrático, e respetiva evolução nos úl- timos 40 anos foi objeto de reflexão em conferência de âmbito nacional, numa ini- ciativa da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central, a 10 de Outubro, no Palá- cio D. Manuel, em Évora. “Não há país na Europa Ocidental que não tenha um nível intermédio, o chamado nível regional”, re- feriu António Cândido de Oliveira, profes- sor da Universidade do Minho. D.R. PUB

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Edição 255 do Semanário Registo

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www.registo.com.pt

SEMANÁRIO Director Nuno Pitti Ferreira | 20 de Outubro de 2014| ed. 255 | 0.50€

O Melhor Petisco | Rua Catarina Eufémia , 14Horta das Figueiras | 7005-320 Évora

266771284

03

Rotura e reconciliação marcam o primeiro ano de mandato de Pinto de SáRotura e reconciliação marcam o primeiro ano de mandato de Pinto de Sá 03

Orçamento de Estado 2015Pág.05 resumido em 7 passos…O Governo tentou levantar alguma da austeridade que caiu sobre os portugue-ses nos anos anteriores. Mas enquanto alguns vão ter mais dinheiro no bolso (os muitos pensionistas que deixarão de pagar a Contribuição Extraordinária de Solidariedade, por exemplo), outro vão sentir o peso de medidas como o aumento da taxa sobre o combustível rodoviário.

Vinhos e Azeites Alentejanos no CCBPág.04 Mais de 400 vinhos e 40 azeites de um conjunto de 94 produtores estive-ram à prova no passado fim de semana, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. A organização foi da responsabilidade da CVRA – Comissão Vitivinícola Regional Alentejana e da Casa do Azeite, que pre-tendem fomentar o contacto direto entre produtores, consumidores e restantes agentes envolvidos no universo do Azei-te de qualidade e dos Vinhos do Alentejo.

Estudo para saudade [Évora]Pág.14 Desenvolvida em colaboração com Thom Laepple, cuja primeira versão foi realizada em 2007, Estudos para saudade [Évora], consiste num conjunto escultórico, cujo sistema reativo está ligado a um geó-fono e a um sismógrafo, que captam dados sísmicos do lugar. Estes dados são gravados em tempo real e convertem-se na fonte de informação que determina e produz os res-petivos movimentos simulados na obra, mantendo-a em constante transformação.

Conferência CIMAC sobre o poder localPág.07 O quadro actual do poder local democrático, e respetiva evolução nos úl-timos 40 anos foi objeto de reflexão em conferência de âmbito nacional, numa ini-ciativa da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central, a 10 de Outubro, no Palá-cio D. Manuel, em Évora. “Não há país na Europa Ocidental que não tenha um nível intermédio, o chamado nível regional”, re-feriu António Cândido de Oliveira, profes-sor da Universidade do Minho.

D.R

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2 20 Outubro ‘14

Director Nuno Pitti Ferreira ([email protected])

Propriedade

PUBLICREATIVE - Associação para a Promoção e Desenvolvimento Cultural; Contribuinte 509759815 Sede Rua Werner Von Siemens, n.º16 -7000.639 Évora - Tel: 266 750 140 Direcção Silvino Alhinho; Joaquim Simões; Nuno Pitti Ferreira; Departamento

Comercial [email protected] Redacção Pedro Galego, Rute Marques Fotografia Luís Pardal (editor), Rute Bandeiras Paginação Arte&Design Luis Franjoso Cartoonista Pedro Henriques ([email protected]); Colaboradores

António Serrano; Miguel Sampaio; Luís Pedro Dargent: Carlos Sezões; António Costa da Silva; Marcelo Nuno Pereira; Eduardo Luciano; José Filipe Rodrigues; José Rodrigues dos Santos; José Russo; Figueira Cid Impressão Funchalense – Empresa

Gráfica S.A. | www.funchalense.pt | Rua da Capela da Nossa Senhora da Conceição, nº 50 - Morelena | 2715-029 Pêro Pinheiro – Portugal | Telfs. +351 219 677 450 | Fax +351 219 677 459 Tiragem 10.000 ex Distribuição Nacional Periodicidade Semanal/

Quinta-Feira Nº.Depósito Legal 291523/09 Distribuição PUBLICREATIVE

Ficha TécnicaSEMANÁRIO

A Abrir

Apresentada a proposta de Orçamento de Estado para 2015, acabaram-se as teses e teor ias , as expectat ivas e as contas de f ingi r, acrescidas de uma dose de cin ismo que os anal is t as sem-pre colocam quando se põem a pre -ver quem vai ganhar ou perder com o novo orçamento, como se não soubes-sem que ganham sempre os mesmos e sempre à custa dos mesmos.

A propost a de orçamento deve se r t ão cla ra que não houve for ma de g rande man ipu lação (a pequena é sempre possível) por pa r te dos ór-gãos de comu n icação socia l .

Temos not íc ia de que o rela tór io que acompan ha a propost a de orça-mento é u ma verdadei ra peça de acu-sação cont ra u m órgão de soberan ia , o Tr ibu nal Const i t ucional .

Temos not íc ia de que o ensino bá-sico e secu ndá r io e a jus t iça sof re rão a inda cor tes mais prof u ndos.

Temos not íc ia que a t ão badalada redução das t axas de I RS, com o CDS a f i ng i r propor coisa d i fe rente , a f i na l é a t i r ada pa ra 2016 e cond icionada a

fac tores que n ing uém cont rola como o combate à f r aude e evasão f i sca l .

Dizer aos que não podem f ug i r que l hes é devolv ido o d in hei ro do saque se os que podem f ug i r decid i rem dei-xa r de o fazer, só não é u m embuste porque a coisa é t ão mal confeciona-da que toda a gente percebe que não va i acontecer.

Sabemos que a cláusu la de sa lva-g ua rda rela t ivamente ao I MI te r mi-na no f i na l de 2014 e t emos not íc ia que não ex is te nen hu ma nova med ida i nclu ída no orçamento, pelo que i re -mos assis t i r ao d ispa ra r da fac t u ra do I MI pa ra maior ia das famí l ia s que adqu i r i r am casa própr ia .

Ouv imos a min is t r a das f i nanças na t elev isão e f icamos com a ce r teza (se dúv idas houvesse) que es te gover-no va i prosseg u i r a té ao ú lt imo d ia do seu mandato a mesma pol í t ica de empobrecimento do pa ís , de acent ua r das desig ualdades , de a t aque às f u n-ções socia is do es t ado re t i r ando -l he a inda mais meios e f i nanciamento.

Conf i r mam-se todas as r azões que

O orçamento, certezas e truquesEduardo Luciano

Como todos sabemos, as cidades, como pólos de atracção e inovação social, têm e continuarão a ter um papel importan-tíssimo no historial do desenvolvimento humano. Planear e organizar as cidades, de modo mais racional, sempre foi, ao longo dos séculos, um desejo de gover-nantes que enfrentavam o crescimento frequentemente caótico das malhas ur-banas, com a crescente complexidade de questões como a qualidade de vida dos seus habitantes, a gestão de recursos e a sempre importante mobilidade. Se a evolução no planeamento urbano foi frequentemente incremental, a grande novidade, mais disruptiva, desde há 15/ 20 anos atrás, chama-se tecnologia, em par ticular aplicada à gestão da informa-ção e comunicação.

Efect ivamente, na actualidade, a tecnologia oferece-nos possibil idades de inovar na gestão urbana, de forma nunca antes vista: no planeamento de espaços, na ut i l ização intensiva de tecnologias de informação/ comuni-cação para uma maior conect ividade ent re pessoas e inst ituições, na busca de soluções que maximizem a ef iciên-cia energét ica e a sustentabil idade am-biental e em novos modelos de mobil i-dade urbana.

Apesar do conceito ser recente e as exper iências serem ainda relat ivamente embrionár ias, um estudo recente men-ciona a existência de 143 projectos de “cidades inteligentes” a nível global, sendo 46 na América, 47 na Europa, 40 na Ásia e 10 na Áfr ica/ Médio-Oriente.

Muitas são iniciat ivas de “refunda-ção” intel igente de cidades com sé-culos de histór ia , como Santander e Barcelona, em Espanha, ou Amester-dão, na Holanda. Já out ras, são par te da ambição de const rução de cidades de raiz , de que são exemplos Masdar (Emirados Árabes Unidos) e Songdo (Coreia do Sul).

Neste momento, as chamadas “smar t cit ies” estão na agenda da União Europeia (com a “Smar t Cit ies and Communit ies European Innovat ion Par tnership”), com o object ivo de in-crementar a qualidade de vida urbana dos cidadãos – at ravés de projectos integrados de energia , mobil idade e comunicação. O talento, capacidade de inovação e competências tecnológi-cas de inst ituições por tuguesas, pode ser decisivo, com ideias a aplicar e, quem sabe, a expor tar. No início do ano, emergiu já em Por tugal a Rede Nacional de Cidades Intel igentes, na

“Cidades Inteligentes”: não é conversa, é boa gestão!

carLoS SEZÕESGestor

qual 25 cidades se comprometeram em potenciar, exper imentar e avaliar um “laboratór io” de soluções inovadoras para gestão urbana. Naturalmente, a aplicação intel igente da tecnologia não deve focar-se apenas na ef iciên-cia dos processos mencionados mas também nas Pessoas, capacitando-os com níveis super iores de conhecimen-to, comunicação e par t icipação cívica.

Como tal, d imensões mais “sociais” como a Governação, a Inclusão social e a Inovação devem ser também alvo destas in iciat ivas.

Em termos práticos, como poderemos criar condições para uma maior atrac-tividade e qualidade de vida das cida-des nossas cidades, em Portugal e, em concreto, na região Alentejo? E como aproveitar estas inovações tecnológi-cas e estes novos modelos de gestão? São desaf ios que devem ser assumidos por vários agentes da sociedade - au-tarquias, universidades, empresas. E, passando da estratégia à acção, que impactos directos podemos ver na vida dos cidadãos? Deste a monitorização do consumo de energia, iluminação públi-ca inteligente, sistemas de controlo de trânsito em tempo real, gestão inteli-gente do estacionamento, contentores de resíduos com sensores, serviços de interacção simplicados entre munícipes e a administração autárquica ou instru-mentos de suporte à par ticipação públi-ca (por exemplo, em decisões comunitá-rias, num nível de bair ro ou freguesia), muitas são as possibilidades.

Tudo isto não é i lusão nem conversa fácil….É uma aposta em planeamento e boa gestão!

têm levado a ex igência da queda do gover no e que a lg u ma oposição, por

mero cá lcu lo, deixou de reclamar, na esperança que o poder l he ven ha ca i r ao colo por força do seu apod reci-mento.

Uma cereja em cima do bolo é t e r-mos o pr imei ro -min is t ro a recusa r a ideia de fanat ismo orçament a l por-que teve a ousad ia de propor o desl i-ze do santo déf ice em duas décimas.

A out a ce reja é defender que o or-çamento é u ma der rot a pa ra o CDS, quando se t r a t a de fac to do cont rá-r io.

O CDS andou a defender a ideia de moderação f i sca l , coisa que não acontece no orçamento pa ra 2015, sa-bendo que jamais i sso i r ia acontecer.

Assim faz o papel do pa rcei ro sen-sível e bon z in ho, pre tende ga rant i r a s impat ia de u ma fa ixa do ele i torado que sempre t ent a sedu z i r em cada ele ição e não põe em causa a ve rda-dei ra i ntenção que é prosseg u i r com o pa rcei ro de col igação a pol í t ica que des t r u ição do pa ís .

É u ma out ra ve r são da r ábu la do “ i r revogável”.

“Efectivamente, na actualidade, a tecnologia oferece-nos possibilidades de inovar na gestão urbana, de forma nunca antes vista.”

“Temos notícia de que o ensino básico e secundário e a justiça sofrerão ainda cortes mais profundos.. ”

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Exclusivo

Entrevista a carlos Pinto de Sá, presidente da câmara Municipal de Évora.

Rotura e reconciliação: duas marcas do primeiro de 4 anos.Redação Registo | Texto

Decorrido um ano das eleições autárqui-cas de 2013 e na data em que se assinala um ano de posse, Carlos Pinto de Sá, o novo presidente da autarquia eborense, faz , em exclusivo ao Registo, um balanço de um ano de mandato.

Numa cidade e num concelho que quis claramente mudar de politicas, sair de um imobilismo e desilusão que foram os mandatos de José Ernesto de Oliveira, o edil de Évora, que a lei permitiu can-didatara-se, vindo do concelho vizinho de Montemor-o-Novo, depois do Cons-titucional clarificar a lei da limitação de mandatos, faz a leitura das dificuldades e desafios de presidir à maior autarquia do Alentejo Central.

Neste balanço, Pinto de Sá tem estado, nos últimos dias, junto das populações e bairros da cidade onde tem recolhido opi-niões e ouvido, para reflectir, a voz dos eborenses.

Escolha duas palavras para traduzir o trabalho deste ano.Rotura e Reconciliação. Rotura com o descalabro da gestão PS. Reconciliação com a população e com os diferentes sec-tores da cidade e do concelho.

Qual foi a sua primeira preocupação quando chegou à Câmara de Évora?Fazer um levantamento da situação fi-nanceira. A 31 de Outubro de 2013 iden-tificámos: uma dívida documentada de 83 milhões de euros, que foi aumentado depois; 867 dias de prazo médio de paga-mento; resultados operacionais negati-vos, a diferença entre custos e proveitos, em 11 milhões de euros/ano. Fomos con-frontados com o contrato de empréstimo, conhecido como PAEL, que tendo na base o princípio positivo de transformar a dívi-da de curto em longo prazo, impõe uma verdadeira hipoteca sobre a população do concelho porque nos obriga aos valo-res máximos de impostos, taxas , tarifas e preços. Resumindo, a Câmara de Évora es-tava falida e se fosse uma empresa tinha fechado as portas.

Perante isso o que fez ?Iniciámos o reequilíbrio económico da Câmara. Por exemplo, o negócio ruinoso da água feito pelo PS dá 5 milhões de eu-ros de prejuízo por ano. Estamos a nego-ciar alternativas para reequilibrar o siste-ma, garantindo a gestão pública da água, recusando a privatização.

Com a TREVO, a negociação foi con-cluída com êxito e permitiu reduzir para metade os custos dos transportes sem grandes alterações no serviço público. Aguardamos o visto do Tribunal de Con-tas.

Havia verbas perdidas por compromis-sos não cumpridos, um completo desca-labro. Conseguimos recuperar 5 milhões de euros de projetos como a requalifi-cação da Escola André de Resende ou a Incubadora de novas empresas, a Évora-Tech. Uma palavra de reconhecimento à CCDRA e ao seu Presidente sem os quais estes financiamentos não teriam sido re-cuperados.

A ÉvoraTech é uma das suas apostas para atrair a Évora novos investi-mentos ?Sim, corresponde ao que no compromis-so eleitoral chamámos Centro de Ideias e Negócios de Évora. A obra estava parada, o financiamento de 800 mil euros quase perdido, não havia programa de gestão. Redefinimos todo projeto, criámos o pro-grama de gestão, terminámos a obra. O ÉvoraTech vai abrir as portas no princípio de Novembro.

Este é a primeira infraestrutura do Par-que de Ciência e Tecnologia do Alentejo (PCTA) em que participamos com a Uni-versidade e outros parceiros. Contribuí-mos, por exemplo, para a instalação, ain-da este ano, da empresa Capgemini que deverá criar 150 postos de trabalho em 2 anos.

No verão passado, Évora voltou a ter animação cultural. É para continuar ?Sim. Esse é um resultado da reconciliação com o movimento associativo do conce-lho. Desde a primeira hora, chamámos os agentes culturais e outros a participar. As nossas opções tiveram em conta as suas opiniões, e nalguns casos foram eles os protagonistas. O programa Cenas ao Sul que animou o Centro Histórico mas tam-bém as freguesias rurais foi um exem-plo desta prática. A Câmara incentivou e apoiou. Envolveram-se parceiros tão importantes como a Entidade Regional de Turismo, mas foi a participação empe-nhada de dezenas de associações que evi-denciou talentos e projectos locais.

Para além disso, o Teatro Garcia de Re-sende voltou a ter programação regular e de qualidade. Foi ainda possível preparar uma

à necessidade de concertar com a Dire-ção Regional de Cultura algumas ques-tões como os materiais usados, interrom-pemos. Os trabalhos serão retomados a 20 de Outubro.

Identifique uma prioridade para 2015?Entre várias prioridades, queremos re-solver o problema do negócio ruinoso da água. A dificuldade maior é depen-dermos da decisão política do governo central a quem a anterior Câmara entre-gou as suas competências nesta matéria. Temos propostas e soluções já avançadas. Resolver este enorme problema e defen-der a propriedade e gestão públicas da água ao serviço das populações é priori-tário.

Qual foi o momento mais difícil des-te ano?Não tanto um momento. A constatação nos atendimentos públicos semanais, das dificuldades reais que muitas, cada vez mais, famílias do concelho atravessam, em resultado das políticas neoliberais de empobrecimento e do desemprego. Res-ponsabilidade do Governo mas é difícil saber da incapacidade material que a Câ-mara para dar maior ajuda. São situações muito duras.

E o momento mais feliz deste ano?Comemorar o 25 de Abril, 40 anos depois da revolução com o nível de participação e vitalidade que assistimos. Momento marcante! Ficou claro que o Povo de Évo-ra tem condições e vontade de enfrentar e ultrapassar as adversidades que nos fo-ram e continuam a ser impostas.

grande candidatura internacional, liderada por Évora, ao programa Europa Criativa.

As áreas da reabilitação urbana e da revalorização do estatuto de Évora como património mundial foram outros focos na campanha eleitoral. O que é que foi feito ?Retomámos a colaboração regular com a UNESCO e estamos já a responder a obri-gações incumpridas como os planos de salvaguarda e da zona de proteção espe-cial do Centro Histórico. São fundamen-tais para a gestão do património e para a valorização da imagem de Évora como referência nacional e internacional. Os programas de voluntariado para a con-servação e restauro são outro exemplo que permitiu caiar muros e pôr a cidade mais branca. Uma referência ainda para a colaboração com a Universidade e com alguns proprietários, num programa para identificar patologias em edifícios e pre-parar a sua reabilitação.

A limpeza da cidade foi também bandeira eleitoral, mas a interven-ção nas arcadas da Praça do giraldo está parada. Porquê?Foram lançados vários programas de limpeza e melhoria da imagem da ci-dade. Já são visíveis resultados, mas es-tamos ainda longe do que pretendemos. O programa que referiu, a que chama-mos “ Évora Merece - Recuperar, Manter, Limpar” partiu de um estudo do espaço público do Centro Histórico, feito inter-namente. Começámos pela Praça do Gi-raldo, local de referência, onde as arca-das não tinham intervenção há décadas. Entretanto, devido à Feira mas também

D.R.

4 20 Outubro ‘14

Actual

A organização foi da responsabilidade da CVRA – Comissão Vitivinícola Regional Alentejana e da Casa do Azeite.

Vinhos e Azeites Alentejanos no CCBMais de 400 vinhos e 40 azeites de um con-junto de 94 produtores estiveram à prova no passado fim de semana, no Centro Cul-tural de Belém, em Lisboa.

A organização foi da responsabilidade da CVRA – Comissão Vitivinícola Regional Alentejana e da Casa do Azeite, que preten-dem fomentar o contacto direto entre pro-dutores, consumidores e restantes agentes envolvidos no universo do Azeite de qua-lidade e dos Vinhos do Alentejo.

De acordo a Presidente da CVRA – Dora Simões, ‘pelo sexto ano consecutivo ti-vemos, durante dois dias, mais de quatro centenas de vinhos alentejanos à prova em Lisboa, um dos principais mercados do Vinhos do Alenteo, provas temáticas orien-tadas por especialistas de renome, um am-biente sofisticado, muita animação e músi-ca ao vivo que complementaram o evento.

Acrescenta ainda a dirigente que ‘este ano reforçamos o tema da “Dieta Mediter-rânica”, que está fortemente enraizada no estilo e vida e no recurso a produtos agrí-colas locais que compõem a gastronomia do Alentejo. Este plano alimentar integra o consumo moderado de vinho e o azei-te, como a principal fonte de gordura. Este ano, o nosso parceiro Casa do Azeite, apre-sentou um novo “Bar de Azeites”, no qual os nossos visitantes puderam provar mais de 40 azeites’, referiu Dora Simões.

O Alentejo é a região líder no mercado nacional – quer na quota de mercado em volume (44,9%) quer em valor (46,7%), se-gundo os dados ACNielsen, na categoria de vinhos engarrafados de qualidade com classificação DOC e IG. Os Vinhos do Alen-tejo juntam 263 produtores e 97 comer-ciantes numa área total de vinha de 21 970 hectares, sendo que a área total de vinha aprovada para DOC Alentejano é de 11 371 hectares.

CVRA – Comissão Vitivinícola Regional AlentejanaA Comissão Vitivinícola Regional Alenteja-na (CVRA) foi criada em 1989 e é um orga-nismo de direito privado e utilidade públi-ca que certifica os vinhos DOC Alentejo e os vinhos Regional Alentejano. É responsável pela promoção dos Vinhos do Alentejo, no mercado nacional e em mercados-alvo in-ternacionais. A sua atividade é financiada

D.R.

através da venda dos selos de certificação que integram os contra-rótulos dos Vinhos do Alentejo.

Dieta Mediterrânica reduz riscos cardio-vascularesA dieta mediterrânica reduz os riscos de doença cardiovascular e de cancro e pro-longa os anos de vida. Já muito se escreveu sobre os benefícios de uma alimentação rica em fruta e vegetais, azeite, cereais e fru-tos secos. Agora, a investigação Predimed, – Prevención con Dieta Mediterránea – que estuda os efeitos desta dieta na prevenção de doenças crónicas, diz ter descoberto mais um ponto positivo para juntar a essa lista. A dieta mediterrânica permite reverter em 28% a incidência da síndrome metabólica, uma combinação de fatores de risco (obe-sidade, hipertensão, colesterol, elevados níveis de açúcares e triglicéridos no sangue) que é responsável pelo desenvolvimento de doenças cardíacas, de acidentes vascula-res cerebrais e da diabetes.

O estudo, publicado na Canadian Medi-

cal Association Journal, seguiu durante quase cinco anos 5801 pessoas, das quais 3707 apresentavam a síndrome metabóli-ca. O grupo analisado foi dividido em três partes com diferentes dietas. Uma delas fez uma alimentação baixa em gorduras, ou-tra parte seguiu uma dieta mediterrânica enriquecida com azeite e a terceira seguiu a mesma dieta, dando algum destaque aos frutos secos. Nos dois últimos grupos, a pre-valência da síndrome metabólica foi redu-zida em 28%.

Outra conclusão do estudo, no entanto, aponta que seguir uma dieta mediterrâni-ca não impede o aparecimento de novos casos da síndrome metabólica.

5 Adegas portuguesas candidatas a me-lhores do mundoEm causa estão ótimas performances prestadas em prova, mas também uma qualidade consistente. Falamos das me-lhores adegas do mundo, segundo a ini-ciativa anual Top 100 Wineries of The Year promovida pela prestigiada revista

norte-americana Wine&Spirits. Este ano, na lista que contempla um total de 100 nomes, contam-se cinco casas portugue-sas: Herdade do Esporão, Quinta do No-val, Taylor Fladgate, Quinta da Romanei-ra e Álvaro Castro.

A Herdade do Esporão, na região do Alentejo, leva mais de 40 anos de existên-cia — o Esporão, enquanto empresa, foi fundado em 1973 por José Roquette e Joa-quim Bandeira. Responsável por vinhos como Esporão Reserva e Monte Velho, na continuidade do projeto está a Quinta dos Murças, propriedade situada no Douro e que dá origem a néctares de terroir. Já os vinhos de Álvaro Castro, da Quinta da Pe-llada, surgem a representar o Dão.

No norte do país está a Quinta do Noval (cujo nome apareceu pela primeira vez em registos datados de 1715), uma casa histórica com uma aposta forte no vi-nho do Porto. Também a Taylor Fladgate, fundada há cerca de três séculos, como a Quinta da Romaneira gozam de prestígio na região do Douro.

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Actual

Sem surpresas, o Governo inscreveu no Orçamento do Estado uma previsão do défice público de 2,7%.

Economista e professor da Universidade de Toulose, Jean Tirole de 61 anos é o terceiro francês a conquistar o Prémio Nobel de Eco-nomia e a ver o seu trabalho sobre regulação de mercados monopolistas ser premiado pela Real Academia Sueca de Ciências. O prémio de economia, oficialmente chamado de Pré-mio Sveriges Riksbank de Ciências Económi-cas em Memória de Alfred Nobel, foi criado em 1968 e não fazia parte do grupo original de honrarias definidas em testamento de 1895 pelo magnata que criou a dinamite.

Para o Departamento de Gestão é honra que o co-orientador de uma sua docente (a Professora Catedrática Cesaltina Pires) e um verdadeiro génio enquanto investigador, una-nimemente considerado um excelente profes-sor, acessível e simpático, com vários livros de texto que são autênticas bíblias («The Theory of Industrial Organization», «Game Theory», «A Theory of Incentives in Procurement and

Regulation» e «The Theory of Corporate Fi-nance»), tenha sido merecidamente agraciado com a distinção.

Doutorado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e professor da faculda-de de economia da Universidade de Toulouse, com contribuições teóricas importantes em várias áreas, Jean Tirole é um dos economistas mais influentes do nosso tempo. Na década de 1980 deu nova vida à pesquisa sobre “falhas de mercado” tendo as suas análises sobre em-presas com poder de mercado resultado numa teoria unificada com uma forte influência so-bre questões políticas centrais: como é que um governo deve lidar com fusões e como deveria regular o monopólio.

“Muitas indústrias são dominadas por um pequeno número de grandes empresas ou apenas por um simples monopólio. Deixados sem regulação, esses mercados frequentemen-te produzem resultados sociais indesejáveis

- preços mais altos do que o dos outros mo-tivados por custos, ou empresas improdutivas que sobrevivem por bloquear a entrada de no-vas empresas mais produtivas”, afirma a Real Academia Sueca de Ciências sobre o contexto em que os estudos de Tirole foram realizados.

Jean Tirole defende que a regulação tem que ser suave o suficiente para não matar o em-preendedorismo mas forte o suficiente para ser aplicada. Sustenta também que a regulação não é prevenir as empresas e os bancos de fun-cionar. Actualmente é o inverso. Regulação é sobre a aplicação independente das regras do jogo. Embora admita que a banca é difícil de regular, segundo o economista, no sector fi-nanceiro é necessário uma forte regulação que previna os bancos de jogar com o dinheiro dos contribuintes seja nos bancos a retalho, seja nos bancos de investimento.

Em relação a empresas como a Google que funcionam nos “dois lados do mercado” pro-

curando atrair anunciantes e consumidores e tendendo para a monopolização, Jean Tirole apenas considera não existir perigo se novos concorrentes conseguirem entrar no mercado.

Antes dos estudos de Jean Tirole havia a ideia de considerar o mercado como de con-corrência perfeita. Daí a relevância da criação a nível europeu de um projecto inovador, que aglutina conhecimento académico com co-nhecimento prático empresarial: o Instituto de Economia Industrial do qual é director cien-tifico. O elemento central do seu estudo é a informação, sem a qual a regulação não é pos-sível, sobretudo na indústria financeira.

É assim com grande alegria que nos junta-mos às manifestações generalizadas de satisfa-ção pelo prémio atribuído a alguém que ajuda a pensar como os agentes económicos agem e que, embora fazendo o que outros economistas académicos modernos fazem, consegue faze--lo melhor do que qualquer outro!

Jean Tirole - Prémio Nobel da Economia 2014Maria raquEL LucaSdocente do departamento de Gestão da universidade de Évora

Dinâmicas da Gestão

Orçamento de Estado 2015resumido em 7 passos…O Governo tentou levantar alguma da auste-ridade que caiu sobre os portugueses nos anos anteriores. Mas enquanto alguns vão ter mais dinheiro no bolso (os muitos pensionistas que deixarão de pagar a Contribuição Extraordiná-ria de Solidariedade, por exemplo), outro vão sentir o peso de medidas como o aumento da taxa sobre o combustível rodoviário. Algum do alívio, como uma eventual devolução da sobretaxa do IRS ou o fim da CES para as pen-sões mais elevadas, só se vai sentir depois de 2015.

Défice acima da meta de 2,5%Sem surpresas, o Governo inscreveu no Orça-mento do Estado uma previsão do défice pú-blico de 2,7%, acima dos 2,5% combinados com Bruxelas em 2013. A ministra das Finanças afirmou ser a primeira vez desde a adesão ao euro que Portugal terá um défice abaixo dos 3%. “Não é a primeira vez que se define um objectivo para o défice abaixo dos 3%, mas é a primeira vez que será cumprido”, disse Maria Luís Albuquerque. O Governo estima ainda que a taxa de desemprego baixe para 13,4% e que o crescimento da economia seja de 1,5%. O rácio da dívida pública foi estimado em 123,7.

Só as receitas do IVA e IRS contam para o reembolso da sobretaxaJá tinha sido divulgado na imprensa que o Es-tado poderá vir a reembolsar, em 2016, os con-tribuintes pela sobretaxa de 3,5% no IRS caso haja um excedente de receita fiscal em 2015. O orçamento veio especificar que apenas as re-ceitas de IRS e IVA serão usadas para calcular o montante a partir do qual o excedente reverte para os contribuintes. O reembolso acontecerá caso as receitas daqueles dois impostos fiquem acima da previsão de 27,7 mil milhões. Porém, e dependendo do valor do eventual exceden-te, o reembolso, a existir, poderá não ser inte-gral. Para uma devolução na íntegra, é preciso que a receita fiscal do próximo ano suba 6,4% face à deste ano. Saiba mais

Cortes nas pensões só a partir dos 4611 eurosA Contribuição Extraordinária de Solidarie-

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dade — CES, que incidia sobre todas as pensões a partir dos mil euros — passa a aplicar-se ape-nas aos pensionistas com pensões a partir de 4611,42 euros. O Governo apontou ainda para 2016 uma redução para metade da CES que é aplicada às pensões mais altas e para 2017 o fim desta contribuição. Saiba mais

IMI aumenta, mas com novos valores de isençõesO Imposto Municipal sobre Imóveis vai aumentar. A cláusula de salvaguarda, que foi criada em 2011 para evitar um aumento repentino do imposto, tinha já desaparecido no orçamento de 2014, o que significa que o imposto deste ano, a pagar em 2015, será aplicado na totali-dade. O OE 2015 não traz nenhuma me-dida que evite este aumento, mas alarga as condições de isenção. Passam a estar isentos de IMI as famílias com rendi-mentos anuais até 16.261 euros e os imó-veis cujo valor calculado pelas Finanças não seja superior a 66.500 euros. Saiba mais

Taxas moderadoras baixam nos hospi-tais, mas apenas cinco cêntimosAs taxas moderadoras vão baixar nos hospi-tais, para os valores de 2013. Isto significa que os utentes pagarão menos cinco cêntimos de taxa. No caso dos centros de saúde, os valores vão manter-se iguais aos que vigoram este ano. Saiba mais

IRC baixa para 21%O orçamento prevê uma redução do IRC, que é pago pelas empresas, de 23% para 21%. Ainda assim, o Governo antecipa um aumento das receitas conseguidas com este imposto, orça-mentando um encaixe de 4690 milhões de euros em 2015, acima da estimativa para este ano, que é de 4511,5 milhões de euros.

Aumenta a taxa sobre gasolina e gasó-leoO Governo pretende aumentar a contribuição de serviço rodoviário, uma taxa paga pelos consumidores e que incide sobre a gasolina, o gasóleo e gás de petróleo liquefeito (GPL). A

taxa sobe dois cêntimos em cada um dos três casos: passará a ser de 8,7 cêntimos por litro de gasolina, de 11,1 cêntimos por litro de gasóleo e de 12,3 cêntimos por litro de GPL. O orçamento antecipa um encaixe de 160 milhões com esta medida. Saiba mais

Melhor na saúde pior (muito) na educaçãoTal como prometeu o ministro Paulo Macedo, em 2015, o SNS vai contar com mais 154 mi-lhões de euros, ao mesmo tempo que os uten-tes vão pagar menos taxas moderadoras nos hospitais mas o mesmo nos centros de saúde.

A despesa total consolidada para a área da saúde em 2015 será de 9054,4 milhões de euros, o que corresponde a mais 0,6% (51,6 milhões de euros) do que o estimado para este ano, in-dica a proposta do Orçamento do Estado para 2015. O SNS, que se estima que neste ano rece-ba 7720 milhões de euros, irá contar com um acréscimo de 2% para os 7874 milhões.

Este reforço de despesa não impediu Paulo Macedo de conseguir concretizar mais uma promessa. Para o ano, sempre que os utentes do SNS precisarem de uma consulta com o mé-dico de família ou com o enfermeiro no centro de saúde vão pagar exactamente o mesmo que neste ano. O valor poderá baixar perante um cenário de deflação. Já no caso dos actos hospi-talares, o Governo decidiu regressar ao valor das taxas de 2013. Esta mudança implica que o utente passe a pagar 20,60 cêntimos por uma urgência hospitalar polivalente, quando em 2014 o valor ficou nos 20,65 cêntimos. Em to-dos os casos a descida será de cêntimos.

Ao mesmo tempo, cai deste orçamento a ideia que estava inscrita no de 2014 de taxar os produtos com açúcar e sal em excesso e que deveria contribuir para os 300 milhões de eu-ros de redução da despesa que o sector da saúde precisava de conseguir. O Governo optou por introduzir mais produtos no imposto sobre o tabaco (IT), como os cigarros electrónicos, o rapé, o tabaco de mascar e o tabaco aquecido. O alargamento da tributação é justificado pelo executivo “por razões de defesa da saúde públi-ca, bem como de equidade fiscal”. Com estas alterações, o Governo estima encaixar mais 105,9 milhões de euros de receitas fiscais.

6 20 Outubro ‘14

Destaque

rendeiros exigem que o deputado se comprometa com um documento “a anular o despacho”.

Educação - Despesa recua mais 700 milhões de eurosO Orçamento de Estado (OE) para 2015 continua a encontrar margem para re-duzir as despesas públicas com Educação. Depois dos cortes sucessivos dos últimos exercícios, no próximo ano o Governo vai destinar menos 700 milhões de euros ao sector. Só o pré-escolar, em consequência do alargamento da rede pública, contraria esta tendência, recebendo mais 5% de in-vestimento do que no ano passado.

A despesa total do Ensino Básico e Se-cundário e da Administração Escolar inscrita no OE atinge os 5.539,5 milhões de euros. Este valor corresponde a um de-créscimo de 11,3% face à estimativa de des-pesas deste ano, ou seja, são menos 704,4

milhões de euros destinados à Educação. Nos três anos de vigência do momento de entendimento, o sector tinha tido o triplo da dose de austeridade prevista, com um corte de 1100 milhões de euros nas trans-ferências do Estado.

Para o próximo ano, o Governo estima que as medidas sectoriais incluídas no Orçamento resultem numa poupança de 62 milhões de euros. A restante dimi-nuição da despesa advém do impacto da redução das contribuições para a ADSE e de outras medidas de consolidação orça-mental transversais a todos os sectores da administração pública que são também apresentadas no documento. O corte nos

gastos com a Educação atinge, em menor medida, as transferências do Estado para o ensino particular e cooperativo, que re-cuam 1,1%, para 237,3 milhões de euros no próximo ano.

A redução das despesas com o sector atinge praticamente todas as rubricas rela-cionadas com o Ensino Básico no novo OE. A principal excepção é a educação pré-es-colar, para a qual os gastos estimados são de 457,8 milhões de euros, mais 5,1% do que em 2014. Esta variação explica-se pelo investimento no alargamento da rede do pré-escolar e por uma maior cobertura da Componente de Apoio à Família e Ativida-des de Enriquecimento Curricular.

O OE não contempla surpresas para o Ensino Superior. Tal como tinha sido co-municado no Verão pelo Governo às insti-tuições públicas haverá um corte transver-sal de 1,5% (menos 26,3 milhões de euros) nas transferências para as universidades e institutos politécnicos. A despesa total com o programa de Ciência e Ensino Supe-rior inscrita no documento sofre, porém, um acréscimo ligeiro de 0,1% face ao ano passado – totalizando 2.245,5 milhões de euros. Este reforço deve-se ao aumento de despesa com o sistema científico, por via do início da aplicação dos fundos do novo quadro comunitário de apoio que são des-tinados à investigação.

Mário Simões reúne com rendeiros da Herdade dos MachadosO deputado do PSD, Mário Simões, deslocou-se na passada terça-feira à Herdade dos Machados para tentar in-terpretar em que medida a decisão de retirar a 17 rendeiros as terras que rece-beram em 1980, das mãos de Sá Carnei-ro, pode afectar a vida das suas famílias e dos outros que continuam a explorá--las, acabando por pedir ao Governo que aguarde mais um tempo.

Francisco Farinho, porta-voz dos ren-deiros, faz com os braços um largo gesto para apresentar as pessoas em círculo. “Estão aqui os rendeiros reformados que querem pôr fora e os filhos que tra-balham as terras porque os pais já não o podem fazer. Todos estão à espera de uma explicação”. Outro puxa de um pa-pel e lembra ao deputado o que ele ti-nha dito em dias anteriores: “O Estado deve honrar a sua palavra” e o compro-misso que assumiu “deve ser mantido”.

As vozes dos presentes eram revela-doras, até pelos apartes que se iam ou-vindo, do mal-estar que tem mantido, sempre “em constante sobressalto, qua-se 200 pessoas”, as que vivem e sobrevi-vem do que as courelas produzem. São neste momento 54 rendeiros que não escondem o sentimento de insegurança perante as constantes “arremetidas” da tutela para “os afastar das terras” expli-ca Farinho.

“Desta vez, não vamos ficar quietos”, observa outro rendeiro, exigindo que o deputado se comprometa com um do-cumento “a anular o despacho” que pre-tende colocar fora da Herdade dos Ma-chados 17 rendeiros por terem atingido a idade da reforma. Farinho tenta acal-mar os mais nervosos: “Tenham calma que daqui ninguém sai senão por deci-são de tribunal”.

”Garantiram-nos que ao fim de 20 anos a terra era nossa”, lembra uma mu-lher elevando a voz e recordando que, para além Sá Carneiro que lhes “deu um papelinho e um aperto a mão, até Pinto Balsemão esteve aqui a almoçar” com os rendeiros.

Mário Simões insiste: “A palavra de honra é sagrada”. Por isso, diz que não consegue aceitar que “alguém de Lisboa diga por carta que têm de abandonar a terra” até ao dia 31 de Outubro. “Faz-me muita confusão”, este tipo de procedi-mentos, acentua o deputado.

Mário Simões, no entanto, lembrou: “Não se esqueçam que não são proprie-

tários das terras” admitindo, contudo, que a posição expressa por Sá Carneiro “pressupõe o direito de transmissão do arrendamento”.

No entanto, é ao Estado que “compe-te” encontrar uma solução definitiva para este problema que se “arrasta há 34 anos” seja por via da compra, dando o direito de preferência, seja regulamen-

tando contratualmente à luz daquilo que é a legislação em vigor do arrenda-mento rural.

Referindo-se aos proprietários da Her-dade dos Machados, lamenta que estes “ainda não tenham sido indemnizados pelo Estado”, que continua a manter com os proprietários “uma situação por resol-ver”.

A história e a memória de Sá CarneiroA tutela justifica esta decisão com o decreto-lei 158/91, nos termos do qual “não podem ser beneficiários de entrega [de terrenos] para exploração quaisquer funcionários ou agentes do Ministério da Agricultura, Pescas e Alimentação, nem reformados, nem detentores de dí-vidas ao Estado”.

A lei refere que os reformados não podem ser beneficiários da entrega de terrenos na posse do Estado para explo-ração, mas o Governo, diz o deputado, pretende “aplicar este preceito a rendei-ros que se tornaram beneficiários quan-do ainda não eram reformados”.

A manter-se a decisão do secretário de Estado no que respeita ao fim dos contratos com os reformados, “o caso acaba no Tribunal”, diz um dos rendei-ros, acrescentando que, de acordo com a lei, “o Estado pode denunciar o contrato para o fim do período contratual, me-diante comunicação à empresa conces-sionária com a antecedência mínima de 18 meses”. Ora os rendeiros foram infor-mados em Junho passado.

No total estão entregues por arrenda-mento 2019 hectares, pelo que, tendo a herdade cerca de 6100 hectares, “são hoje explorados pelos antigos proprietá-rios mais de 4000 hectares” conclui João Ramos.

Em 1980, o então primeiro-ministro Sá Carneiro dividiu a Herdade dos Ma-chados em 200 parcelas para as distri-buir por cerca de uma centena de tra-balhadores que ali prestavam serviço desde que a herdade foi nacionalizada em 1975.

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Destaque

”Uma contínua ingerência na autonomia local, significa uma maior centralização do poder”

Poder local em análise Rute Marques | Texto

O quadro actual do poder local democrá-tico, e respetiva evolução nos últimos 40 anos foi objeto de reflexão em conferên-cia de âmbito nacional, numa iniciativa da Comunidade Intermunicipal do Alen-tejo Central, a 10 de Outubro, no Palácio D. Manuel, em Évora.

“Não há país na Europa Ocidental que não tenha um nível intermédio, o chamado nível regional”, referiu Antó-nio Cândido de Oliveira, professor da Universidade do Minho. Daqui resulta que “para cada nível de problemas há um poder de decisão democrático da população”. Em vez disso, os problemas locais em Portugal enfrentam a falta deste nível de decisão, como explicou: “a Constituição previu as regiões admi-nistrativas, cada uma com as suas com-petências, cada uma com os seus meios financeiros”. “O que se passou foi que as freguesias e os municípios consolida-ram-se e ficou um vazio que fez de Por-tugal continental um dos países mais centralizados na Europa”, notou.

Também sobre este tópico, Carlos Pin-to Sá, presidente da Câmara de Évora e mestre em Economia, observou que é preciso ter em conta que o poder regional contido na Constituição da República é “o único nível do sistema político que nun-ca foi concretizado”. Recordou ainda que após a Constituição de 1976, as câmaras municipais juntaram-se em associações municipais, de forma livre, para a gestão do território e identificação de problemas em comum. Às associações municipais sucederam-se as comunidades intermu-nicipais, por imposição central do Estado.

Segundo António Cândido de Oliveira, “a resposta da lei nº73/2013 é estranha”. Sobre a lei nº73/2013, que estabelece o re-gime financeiro das autarquias locais e das entidades intermunicipais, explica: se “os constituintes (em 1976) não aceita-ram os distritos, foi porque acharam que era preciso haver maior dimensão para resolver os problemas regionais: andá-mos para trás”.

De acordo com Hortênsia Menino, pre-sidente da CIMAC, o caminho de constru-ção da participação colectiva tem vindo a ser dificultado por “uma contínua in-gerência na autonomia local, significan-do uma maior centralização do poder”, bem como “a perda de importância das decisões e das comunidades locais”. E, continuou, tem encontrado dificulda-des porque “têm sido levadas a efeito um conjunto significativo de mudanças inti-tuladas de reforma, mas que configuram uma contra-reforma que a pretexto de novo equilíbrio orçamental de redução do défice, são intromissões ilegítimas das atribuições e competências municipais”. E que, conclui a presidente da CIMAC,

“encontram expressão no estrangula-mento financeiro com a redução de ver-bas transferidas do Orçamentos de Esta-do” .

Uma tendência para a recentralização do Estado tem vindo a decorrer. De acor-do com Carlos Pinto Sá, “este que é um processo essencialmente económico tem uma correspondência na recentralização política” e, “o que está a acontecer é que exatamente essas competências que no Portugal democrático eram originaria-

mente dos municípios, estão a ser concen-tradas no poder central para, num passo mais a frente, as entregar aos privados”. Os sistemas de saneamento, águas e re-síduos são exemplo disso, considerando que só não foi feito de forma imediata “porque no interior do país estes sistemas multimunicipais eram impagáveis e sig-nificariam custos e tarifas tão elevados para as populações que não têm condi-ções para as pagar”.

Por seu lado, Gil Nadais, presidente da Câmara de Águeda, defendeu haver lugar “para gestão pública e gestão privada nos serviços públicos”, desde que se verifique “eficiência” na procura de um modelo que sirva melhor a população, porque “senão vai refletir-se tudo em impostos”. O problema que se coloca é existir no país “ boa gestão privada e boa gestão pública e má gestão privada e má gestão pública”, considera Gil Nadais, sustentando que “não podemos ter naquilo que é público,

má gestão”. Jorge Pinto, economista e consultor

para a área das Finanças Públicas, refere que “na última década houve uma alte-ração estrutural de um serviço essencial que as autarquias geram para as pessoas, e, que tem a ver com os bens e serviços da água do saneamento e dos resíduos”. E salientou ainda que ao aplicarem-se “os sistemas supramunicipais nesta ma-téria no que se refere ao pagamento em alta destes valores - e ao monetarizar os investimentos à cabeça, os sistemas de água, saneamento e resíduos tornaram-se insustentáveis”. A propósito da atual lei das finanças locais, o consultor constata ser “uma lei insustentável “, face ao tipo de receitas e de competências que o poder local tem.

Para perceber a insustentabilidade fi-nanceira de alguns municípios, Jorge Pinto referiu diversos fatores, entre os quais: “em matéria de impostos directos,

Rute Bandeira | D.R.

os cálculos errados que foram efectuados relativamente à evolução do IMI para colmatar o fim do IMT”. Os números esti-mados, assinalou a propósito Carlos Pin-to Sá, “ apontavam para que as autarquias iriam ter um aumento de 700 a 750 mi-lhões de euros de IMI e que isto compen-saria a quebra dos outros financiamen-tos, nomeadamente do OE”. Algo que não se concretizou. “Na altura, a Associação Nacional de Municípios disse que só se atingiria talvez metade, e de facto, o que se verificou, no ano passado, é que não chegou a 200 milhões de euros”, lembrou o presidente da Câmara de Évora.

Ainda para entender esta insustenta-bilidade, Jorge Pinto chamou a atenção para uma “mudança de paradigma das competências que têm vindo a deslocar--se das infra-estruturas básicas dos equi-pamentos e dos financiamentos comu-nitários - que lhe deram alavancagem - para áreas como o social e a educação”, que correspondem às “menos financiadas relativamente ao modelo do poder local”.

A conferência “O 25 de abril e o poder local democrático” juntou quinze ora-dores distribuídos entre apresentações e espaços de debate. Dividiu-se por doze painéis: os “modelos de organização autárquica (associações, comunidades intermunicipais, empresas públicas e parcerias)”, a “lei das finanças locais e o novo quadro legal”, a “escola pública – uma prioridade dos municípios“, o “go-verno eletrónico local – democracia e participação dos cidadãos”, o “movimento associativo e a dinâmica social, cultural e desportiva local”, “do governo ao poder local”, “o poder local democrático e reor-ganização administrativa do Estado”, os “municípios e o planeamento“, os “muni-cípios e a promoção do desenvolvimen-to”, a “reorganização administrativa do território”, a “modernização administra-tiva - exemplo da Câmara Municipal de Águeda”, e concluíu com a mesa- redonda “poder local, que futuro?”.

Rute Bandeira | D.R.

8 20 Outubro ‘14

Destaque

A página dedicada à doença por vírus ébola no site da DGS vai ser reestruturada.

Portugal prepara “chegada “ do ÉbolaO Ministério da Saúde decidiu avançar com uma campanha de informação e sensibilização da população sobre os procedimentos a ter em caso de sus-peita de infecção por vírus de ébola e mandou reforçar a formação dos pro-fissionais de saúde e fazer simulacros de âmbito nacional. Nos voos vai ser distribuída informação em três línguas, mas, por enquanto, o material destina-do a viajantes será entregue “em mão apenas às pessoas provenientes de zo-nas com actividade epidémica”. Serão privilegiados os rastreios dos passagei-ros à saída dos países afectados em vez dos rastreios à chegada. Estas são algu-mas das medidas apresentadas na pas-sada quarta-feira na reunião do Con-selho Nacional de Saúde Pública, órgão consultivo do Governo criado em 2009 para a prevenção e controlo de doenças transmissíveis e que foi convocado de urgência no domingo.

Na reunião foi apresentada uma pro-posta do já anunciado plano de comuni-cação, o qual, à semelhança do que acon-teceu com a gripe A, prevê a constituição de uma lista de especialistas disponíveis para falar com a comunicação social e a convocação de conferências de imprensa sempre que se justifique. Será justamente numa conferência de imprensa que será divulgado de uma forma “célere” o pri-meiro caso que venha eventualmente a ser confirmado da doença em Portugal, com a presença do ministro da Saúde. Os casos seguintes serão comunicados pela Direcção-Geral da Saúde (DGS).

Além de anúncios nas televisões, rádios e jornais, o plano prevê ainda a disponi-bilização de cartazes e folhetos “com in-formação clara em várias línguas” numa multiplicidade de locais - não só em hos-pitais e centros de saúde, mas também em serviços públicos de atendimento, como lojas do cidadão e tribunais, em farmá-cias, câmaras e juntas de freguesia, aero-

portos e portos, estações de comboio, salas de espectáculo, escolas e igrejas.

A página dedicada à doença por vírus ébola no site da DGS vai também ser reestruturada e vai ser criado um en-dereço electrónico para esclarecimento de dúvidas, estando também a ser pon-derada a criação de uma aplicação para smartphones. Os profissionais de saúde terão acesso a informações actualizadas através do Portal do Profissional na Pla-

taforma de Dados em Saúde.Para coordenar a resposta, vai ser

também criada uma plataforma, que funcionará como “uma linha de coman-do e hierarquia claramente definida”. A plataforma inclui um dispositivo de coordenação, integrado pelo director--geral da Saúde e pelos presidentes do Instituto Nacional de Emergência Mé-dica, da Autoridade do Medicamento (Infarmed) e do Instituto Ricardo Jorge

(Insa), além de uma “estrutura executi-va” com quatro eixos (avaliação de ris-co, prevenção e controlo, comunicação e avaliação), e vários “núcleos transver-sais”.

Quanto à questão dos rastreios para despistar eventuais casos suspeitos, a orientação do Governo vai no sentido de serem privilegiados os rastreios an-tes do início da viagem dos passageiros que saem dos países afectados.

Parque de Cidadania Rodoviária inaugurado em ArraiolosO Parque de Cidadania Rodoviária (Road Park) foi inaugurado esta semana na zona industrial de Arraiolos, numa ce-rimónia que contou com a presença do Ministro da Administração Interna, João Almeida. Participou igualmente a Vice-Presidente da Câmara Municipal de Évora, Élia Mira, que subscreveu o proto-colo de colaboração que permitirá a Évora usufruir dos benefícios que traz a criação desta infraestrutura, destinada à promo-ção da educação e a formação de crianças e jovens.

Este projeto é promovido pela GARE – Associação para a Promoção de uma Cultura de Segurança Rodoviária, em parceria com a Câmara Municipal de Arraiolos, o Comando Territorial de Évora da Guarda Nacional Republicana e a Direção de Serviços da Região Alen-tejo da Direção Geral dos Estabeleci-mentos Escolares, sendo co-financiado pelo Fundo de Garantia Automóvel. De índole educativa, o projeto incide na

realização de iniciativas para alunos do ensino básico e secundário, professores, auxiliares de educação, pais e encarre-gados de educação visando a segurança rodoviária.

Às intervenções por parte da GARE (An-tónio Adérito Araújo); Câmara de Arraio-los (Sílvia Pinto); DGEstE (Maria Reina Martin); Comando Territorial de Évora da GNR (Coronel Costa Lima); e Secretário de Estado, seguiu-se a assinatura de protoco-los com as Câmaras, o descerrar de uma placa e a visita às instalações.

Além da Câmara de Évora assinaram também protocolos as Câmaras de Mou-rão, Redondo e Borba, e nos próximos dias Reguengos de Monsaraz e Viana do Alentejo. O protocolo estabelece que o Parque compromete-se a agendar e a desenvolver atividades no seu espaço para as escolas que o solicitem; por seu lado, as autarquias apoiam o projeto, nomeadamente ao nível da cedência de transporte.

D.R.

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10 20 Outubro ‘14

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Radar

Segundo o município, a exposição vai “mostrar alguns objectos de excelência”.

Arte Islâmica de Mértola do Louvre a RabatNove peças da colecção de a r te i s -lâm ica do Mu seu de Mér tola i nte -gra m u ma ex posição temporár ia que desde a passada sex ta-fei ra no Mu seu do Louv re, em Pa r i s .

A ex posição Le Ma roc Med ieva l - Un empi re de l ’A f r ique à l ’E spagne, que i ntegra peças de vár ios países , como Por t uga l , va i esta r patente ao públ ico no Ha l l Napoléon do Mu seu do Louv re até ao d ia 19 de Ja nei ro de 2015, i nd ica a Câma ra de Mér tola, nu m comu n icado en-v iado à agênc ia Lu sa.

A exposição, comissar iada por Yannick Lintz (directora do depar-tamento Ar tes do Islão, no Louv re) e por Bahija Simou (directora dos Arquivos Reais de Rabat), vai estar patente “num espaço pr iv ilegiado do prestigiado Museu do Louv re, um dos mais v isitados do mundo, o que constitui um impor tante meio de div ulgação do acer vo e do traba-lho que se tem v indo a desenvolver no Museu de Mér tola nas últ imas décadas”, f r isa a autarquia.

Segu ndo o mu n icípio, a ex posi-ção va i “most ra r a lgu ns objec tos de excelênc ia, que, em ter mos a r-t íst icos e téc n icos, i lu st ra m o apo -

geu do mu ndo i slâm ico oc identa l , ent re os séc u los XI e X V d.C . , em áreas como decoração apl icada à

a rqu itec t u ra, têx tei s , ma r f i ns, me -ta i s e cerâm ica”.

Desta for ma, a ex posição, orga n i-

z ada pelo Mu seu do Louv re e pela Fu ndação Nac iona l dos Mu seu s de Ma r rocos, pretende da r a con hecer “u ma c iv i l i z ação que se encont ra-va no cent ro das redes d iplomát i-cas e de comérc io da a lt u ra”.

Pa ra a ex posição, i nd ica a auta r-qu ia, o Mu seu de Mér tola d i spon i-bi l i z ou nove peças representat ivas do período i slâm ico, datadas do séc u lo XII e 1.ª metade do séc u lo XIII d .C . , as qua i s “ i lu st ra m a i m-por tânc ia do acer vo” do núc leo mu seológico.

Ent re as nove peças, prec i sa o mu n icípio, destaca-se u ma ta l ha de cerâm ica esta mpi l hada, vár ios objec tos decorados com a téc n i-ca da corda seca, com “pr i nc ipa l destaque” pa ra u m prato decora-do com u ma ga z ela, e u m prato de bron z e em que o mot ivo decorat i-vo cent ra l é u m meda l hão que c i r-c u nda duas ga z elas com pescoços ent relaçados.

A pa r t i r de 19 de Ja nei ro, a ex-posição do Louv re “at ravessa rá o Med iter râneo” e poderá ser apre -c iada no Mu seu Nac iona l de A r te Contemporânea de Rabat , em Ma r-rocos, até Ma rço de 2015.

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12 20 Outubro ‘14

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Radar

Em estreia mundial este espectáculo de rui Horta distancia-se de peças anteriores.

Rui Horta em digressão com Hierarquia das NuvensA construção dinâmica do espaço, pela localização e deslocação dos intérpretes em cena, é um atributo da dança reco-nhecido e teorizado. Rui Horta trabalhou esse atributo habilidosamente e conju-gou, com o comportamento formal dos corpos, elementos cénicos discretos – de luz ou materiais – que acentuam os tra-ços da arquitectura coreográfica, da sua nova peça – Hierarquia da Nuvens, que tem como matriz: o espaço.

Na dança dos bailarinos reside um vocabulário amplo como alongamentos cortantes de braços, gestos dissolvidos em acentos ritmados, passos extensos e rápi-dos rematados por enraizamentos longos. Às vezes irrompem convulsões e trejeitos expressivos do plano emocional e invi-sível (sobretudo em Bertoncelli, Marrafa e Sanger). Permanece uma ambiguidade entre a forma corporal exterior, virtuosa e definida, e os estados psicológicos mais profundos e sombrios. Na combinação de atmosferas interiores com iluminação e materiais aparecem esboços de lugares; eles são indefinidos mas reais, tal como o conceito de heterotopia de Foucault, ins-piração fundadora desta obra, pretende definir: um espaço onde diferentes valo-res se sobrepõem e alternam; lugares vá-rios onde o desvio, a diversidade e a mu-tação acontecem.

Uma das mais belas concretizações des-ta ideia é o momento em que uma mu-lher (da Silva) está num espaço interior, iluminado pelo candeeiro de rua. Duas sombras acompanham-na; a feminina (Peraltinha) espelha-a e dá-lhe confor-to, a masculina (Cabral) confronta-a e exalta-a. Eventualmente ela abandonará ambas.

A partitura coreográfica é complexa e individualizada, apesar dos contágios pontuais que geram cânones ou breves uníssonos. Esta distribuição permite que nos concentremos em cada corpo e faz igualmente um subtil retrato da socie-dade actual: vivemos no mesmo lugar e temos sentimentos semelhantes mas re-forçámos, sem dúvida com a informática portátil, a fronteira que separa o “tu” do “eu”. No palco a comunicação é sempre indirecta e, apesar de alguns confrontos ou afeições, nenhuma relação é assumi-da; eles co-habitam sempre sós, convi-vendo num paradoxo.

Em estreia mundial este espectáculo de

Rui Horta distancia-se de peças anterio-res onde a teatralidade, o drama, o movi-mento e o audiovisual se impunham pela via mais vistosa como forma fundamen-tal de interpelar o espectador; com ímpeto e mensagens fortes.Uma feliz inovação é a representação do género: aqui o mascu-lino é louco mas terno e o seu protagonis-mo não depende nem do poder nem do exibicionismo; e no feminino acentua-se a determinação e a revolta, rejeitando os estereótipos da submissão, da sexualida-de, ou da responsabilidade.

Hierarquia das Nuvens é uma peça só-lida em conteúdo que articula muito bem o conceito criado para idealizar uma so-

ciedade com pontos de fuga à autoridade e à repressão. A sua eficácia e diferença assentam muito na limpeza e na subti-leza; será melhor apreendida pelas qua-lidades formais e impressionistas pois a interpretação do significado tem menor importância. É para ficar em movimento e em suspensão, talvez reflectindo sobre a flutuação do poder e da norma; como deve ser nas nuvens!

Após esta estreia em Lisboa a peça segue em digressão nacional e interna-cional , passando por Guimarães, Torres Novas, Oliveira do Bairro e Madrid, entre outras apresentações.

Sobre a peçaEspaço habitado, negociado por sete cor-pos, visto não apenas como território, mas sobretudo como um lugar imaginá-rio, que os atrai, quebrando fronteiras e limites. Espaço que só faz sentido se for habitado por esses corpos e escarificado pelo seu movimento. Uma gestualidade que abre a porta de um espaço transfor-mado em lugar pela linguagem coreo-gráfica. Uma pergunta paira sobre a obra: porque queremos estar sempre em outro lugar? A que hierarquia obedecemos nos momentos de escolher? E no entanto a resposta, apesar de minuciosa como uma partitura, escapa à narrativa e é habitada por uma poética que transcende a com-preensão: o território mais puro da dan-ça. Chamei-lhe Hierarquia das Nuvens.

Rui HortaBailarino(s): Filipa Peraltinha, André Ca-bral, Teresa Alves da Silva, Luís Marrafa, Sylvia Rijmer, Phil Sanger, Silvia Berton-celli, Coreografia Rui Horta

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o conceito da saudade vincula-se à perceção humana da natureza e da paisagem como elementos estáveis e inalteráveis.

Radar

Estudo para saudade [Évora]Desenvolvida em colaboração com Thom Laepple, cuja primeira versão foi realiza-da em 2007, Estudos para saudade [Évora], consiste num conjunto escultórico, cujo sistema reativo está ligado a um geófono e a um sismógrafo, que captam dados sís-micos do lugar.

Estes dados são gravados em tempo real e convertem-se na fonte de informação que determina e produz os respetivos mo-vimentos simulados na obra, mantendo-a em constante transformação. Desta forma, dados reais dos sinais sísmicos e das vibra-ções do lugar tornam-se visíveis através dos movimentos simulados das peças es-cultóricas, cujas formas lembram monta-nhas. Os sensores que captam os micro--impulsos sísmicos do espaço expositivo e do espaço circundante, incluindo o ruído ambiente da Terra, enviam estes dados ao sistema informático, que os associa a mo-vimentos pré-programados. O sistema é sensível à mais ligeira alteração, inclusive à vibração do solo causada pelo peso e mo-vimento dos visitantes na área.

O conceito da saudade, ao qual a artista faz referência explícita no título da obra, vincula-se à perceção humana da natu-reza e da paisagem como elementos está-veis e inalteráveis. Essa ideia nostálgica

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da relação entre ser humano e natureza advém do anseio de estabilidade. Através dos movimentos e alterações contínuos na obra, Kerstin Ergenzinger aborda a questão da variabilidade, da mera apa-rência de estabilidade do mundo em que vivemos.

Estas esculturas cinéticas, cujos ele-mentos constituem o que a artista de-nomina máquinas-saudade, podem ser

consideradas simulações pseudocientífi-cas de uma paisagem. As formas e as pro-porções criadas a partir da mecânica do sistema são o resultado de uma extensa pesquisa gráfica em zonas montanhosas, realizada por Kerstin Ergenzinger duran-te caminhadas a pé, e da posterior análise das proporções naturais delineadas nos desenhos e da sua aplicação formal e es-tética na criação da instalação.

Kerstin ErgenzingerEstudou Belas Artes na Universidade de Artes de Berlim, no Chelsea College of Art and Design de Londres e Media Art na Academia de Media Arts de Co-lónia. A sua prática artística gira em torno de uma pesquisa sobre as con-dições humanas sensoriais em relação com o meio físico e conceptual. O seu trabalho é regularmente apresentado em exposições individuais e coletivas internacionalmente. Entre outras, ca-bem destacar suas exposições na Kuns-thalle Malmö; no Centro de Arte Con-temporânea Den Frie, em Copenhaga; Kunststation St. Peter, em Colónia e Kunsthalle, em Budapeste. Em 2014, participou na BIAN – Bienal de Arte Digital de Montreal com duas exposi-ções individuais e estão previstas para breve exposições individuais no Sche-ring Stiftung, em Berlim, e no Kunst-museum, em Bonn. Em 2013, recebeu em Madrid o prestigiado prémio VIDA 15,0 (2013), para Pesquisa Internacio-nal de Arte e Vida Artificial com o tra-balho Rotes Rauschen (Ruido Verme-lho). Esta obra foi também selecionada para o prémio do Governo da Baixa Sa-xónia para a Educação Superior.

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SEMANÁRIO

Sede Rua Werner Von Siemens, n.º16 -7000.639 ÉvoraTel. 266 750 140 Email [email protected]

O 34º. Festival Nacional de Gas-tronomia arrancou na passada sexta-feira na emblemática Casa do Campino de Santarém. Uma organização conjunta da Entidade Regional de Turismo do Alentejo (ERTA) e da Câmara de Santarém, que não tem pas-sado imune à crise e que, tam-bém por isso, adopta este ano um figurino diferente, com al-guma contenção nas despesas e uma aposta maior na promo-ção do património histórico--cultural da capital ribatejana.

“O 34º. Festival Nacional de Gastronomia não pode ser igual à primeira edição. É importante manter a vertente da tradição. No entanto, procurámos nesta edição evoluir, dando-lhe uma imagem renovada, tendo como pano de fundo o turismo”, ex-plica Ceia da Silva, presidente

da Entidade Regional de Tu-rismo do Alentejo (ERTA). Sob o lema “Descubra Santarém enquanto prova Portugal”, o maior evento de divulgação da gastronomia portuguesa pre-tende, assim, funcionar tam-bém como mote para que os visitantes descubram a riqueza histórica e cultural de Santa-rém.

Nesse contexto, a edição 2014 do FNG não terá os almoços te-máticos habituais, que serão substituídos pelo 1º. Salão Na-cional do Vinho e por um con-junto de conferências agenda-das para o salão nobre da Casa do Campino. Em foco vão estar temas como “Abril à Mesa” (dia 17), conversas (Im) prováveis (dia 24) e “Artes na Arte” (dia 31). Na primeira, por exemplo, falar-se-á do que se comia em

Portugal há 40 anos, por altu-ras da Revolução de Abril.

De 17 de Outubro a 2 de No-vembro, os visitantes poderão frequentar as 12 tasquinhas regionais, a exposição de pro-dutos agroalimentares, o arte-sanato, as sessões de demons-tração de confecção culinária, as apresentações e degustações de produtos regionais e as pro-vas de vinho.

Santarém vai ter novas rotas turísticasCeia da Silva revelou, na confe-rência de imprensa de apresen-tação deste 34º. Festival Nacio-nal de Gastronomia, que estão a ser preparadas novas rotas turísticas para o distrito de San-tarém (o Ribatejo foi integrado, há cerca de 1 ano na área da En-tidade de Turismo do Alentejo).

Évora

Recital de Órgão - EboraeNo mês de Outubro – mês da Música a Eborae Mvsica para além das XVII Jornadas Inter-nacionais “Escola de Música a Sé de Évora” (de 3 a 5 ) ,que foram um sucesso, promoveu um recital de Música Russa com Ricardo Mendes (Violino), Flora Camuzet (violoncelo) e Yan Mikir-tumov (piano), solistas da Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, ontem e um Recital de Órgão por Gian Vito Tannoia, na Igreja do Espírito Santo, no próximo dia 24 às 21h00. Programa de dia 24 às 21h00: Música , Teologia e Espiritualidade na Mú-sica para Órgão, de W.A. Mozart e O. Messien . De O. Messien: Le vent de l’Esprit (Sortie) et O. Mes-siaen e Le vent de l’Esprit (Sortie) (da: Messe de la Pentecote, V) e de W. A. Mozart : Ouverture K. 399 (K. 385i); Adagio and Allegro K. 594 e Fantasie In F Minor KV 608. Gian Vito Tannoia foi premia-do em primeiro lugar no Concurso Internacional de Praga (1989) e Dubli-na(1995).

Turismo

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A maioria dos 100 novos agen-tes da PSP que terminaram o curso na passada semana vão ser colocados no Comando Me-tropolitano da PSP de Lisboa, indicou fonte daquela força de segurança.Segundo a Polícia de Segurança Pública, 50 novos agentes vão para o Comando Metropolita-no de Lisboa, sendo os restantes colocados nos comandos da PSP de Aveiro (4), Braga (7), Bragan-ça (2), Castelo Branco (3), Coim-bra (5), Évora (2), Guarda (4), Lei-ria (6), Portalegre (2), Santarém (5), Viana do Castelo (3), Vila Real (3) e Viseu (4).A cerimónia de encerramen-to do 10º curso de formação de agentes realizou-se na sexta-fei-ra, na Escola Prática de Polícia, em Torres Novas, tendo estando presente o ministro da Adminis-tração Interna, Miguel Macedo.A este curso concorreram 10.686 candidatos para 100 vagas.Os 100 novos agentes, sete mu-lheres e 93 homens, frequenta-ram o curso durante nove me-ses e tiveram uma carga horária de 1.180 horas, das quais 476 fo-ram aulas práticas.

PSP do Alentejo recebe apenas… 4 novos agentes

Segurança

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Festival Gastronómico com história e cultura