queijo artesanal

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Flora catarinense

32 Unidade ambiental da Epagri de Itajaí – paradigma de pesquisa e educação ambiental

Informativo técnico

38 Principais grupos de forrageiras de clima temperado

44O Programa Nacional de Controle Higiênico- -Sanitário de Moluscos Bivalves e os caminhos para a regularização

48 Plantas polinizadoras para o cultivar de macieira Daiane

Germoplasma

52 SCS254 Sambaqui: cultivar de mandioca de raiz branca

Nota científica

57Indução de brotações e assepsia de explantes de mamoeiro cv. Tainung 01 visando à micropropagação

Artigo científico

61 Impactos das mudanças climáticas sobre a viticultura no Estado de Santa Catarina

67 Avaliação de genótipos de amendoim em sistema de cultivo orgânico

74 Infecção artificial de adultos da bicheira-da-raiz com Beauveria bassiana em armadilha luminosa

78Avaliação da concentração e da relação de nutrientes na compostagem de diferentes matérias-primas

83Estimativa da produção de pasto através de dois métodos indiretos: régua (altura), e disco medidor (densidade)

87 Produtividade de tomate em função de doses de nitrogênio

92 Produtividade de tomate em função da adubação potássica

97 Processamento de conservas de Sarcocornia perennis

103 Normas para publicação

2 Editorial

3 Lançamentos editoriais

Registro

5 Epagri lança cultivares de aipim e batata-doce

6 SC é o segundo estado mais competitivo para o agronegócio

6 Portal disponibiliza informações de solos de todo o Brasil

7 Resíduo de maçã melhora qualidade nutritiva da silagem

8 Pesquisa desenvolve método inédito para produzir vinho licoroso

8 Lagarta-da-maçã é erradicada do Brasil

9 Bagaço de uva se transforma em alimentos funcionais

10 Programas Microbacias e SC Rural somam 30 anos

10 Seca pode estar ligada ao declínio de antigas civilizações

11 Agricultores e consumidores têm visões diferentes sobre sustentabilidade

11 Supermercados monitoram agrotóxicos em alimentos

12 América Latina poderia erradicar a fome com alimentos desperdiçados

12 Ferramenta permite fazer gestão da lavoura pelo celular

Opinião

13 Pagamento por serviços ambientais

Conjuntura

14 Segurança alimentar: desafio 2050

Vida rural

17 Um foguete na sala de ordenha

Reportagem

19 Queijo com história e identidade

25 Sem vírus, mais vigor

29 Sal verde e mais saudável

Sumário

Page 4: Queijo artesanal

ISSN 0103-0779

INDEXAÇÃO: Agrobase e CAB International.

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicação da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Rodovia Admar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502, 88034-901 Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, fone: (48) 3665-5000, fax: (48) 3665-5010, internet: www.epagri.sc.gov.br, e-mail: [email protected].

A RAC tem por missão divulgar trabalhos de pesquisa e extensão rural de interesse do setor agropecuário nacional.

EdItoR-chEfE: Gabriel Berenhauser Leite

EdItoR técNIco: Paulo Sergio Tagliari

JoRNALIStAS: Cinthia Andruchak Freitas (MTb SC 02337) Gisele Dias (MTb SC 00571)

cAPA: Vilton Jorge de Souza

dIAGRAMAÇÃo E ARtE-fINAL: Victor Berretta

foto dA cAPA: Propriedade produtora de queijo serrano no município de Lages. Foto de Aires Mariga

REVISÃo dE PoRtUGUÊS: João Batista Leonel Ghizoni

REVISÃo fINAL: Laertes Rebelo

docUMENtAÇÃo: Ivete Teresinha Veit

EXPEdIÇÃo: Ivete Ana de Oliveira – GMC/Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3665-5353, fax: (48) 3665-5010, e-mail: [email protected]

fIchA cAtALoGRáfIcAAgropecuária Catarinense – v.1 (1988) – Florianópolis: Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária 1988 - 1991) Editada pela Epagri (1991 – ) Trimestral A partir de março/2000 a periodicidade passou a ser quadrimestral. 1. Agropecuária – Brasil – SC – Periódicos. I. Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária, Florianópolis, SC. II. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, Florianópolis, SC.CDD 630.5

Tiragem: 1.800 exemplaresImpressão: Dioesc

Errata: A tiragem da edição Vol. 27, nº 3 é 1.800 exemplares.

Editorial

Esta edição da RAC traz o sabor e o clima das serras catarinense e gaúcha. A reportagem de capa faz um passeio pela história do queijo artesanal serrano, um alimento com mais de 200 anos cuja receita é preservada até hoje como herança de família. Esse queijo tem características únicas que estão intimamente ligadas à região produtora, à cultura e ao modo de viver do povo serrano. Hoje, gera renda para mais de 2 mil famílias catarinenses. A RAC mostra o trabalho da Epagri e da Associação Rio-Grandense de Assistência Técnica e Extensão Rural em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para legalizar, caracterizar e certificar a produção do queijo serrano. O objetivo é obter a Indicação Geográfica (IG) e o registro do produto no Livro dos Saberes do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio cultural de natureza imaterial do Brasil. Dessa forma, ele alcançará um novo patamar em termos de reconhecimento, legalização e mercado.

Outra matéria relata o trabalho da Epagri para produzir sementes de alho livres de vírus, que ampliam a colheita em 30% a 40% e estão ajudando os agricultores a recuperar a competitividade no mercado. A revista também traz uma reportagem sobre o sal verde. Extraído da planta Sarcocornia perennis por pesquisadores da Estação Experimental de Itajaí, ele tem propriedades terapêuticas e três vezes menos cloreto de sódio que o sal de cozinha.

A Sarcocornia perennis também é assunto de um artigo na seção técnico-científica, que trata da produção de conservas à base da planta. Pesquisadores descobriram que a espécie tem atividade antioxidante, antineoplásica, anti-inflamatória, antitrombótica e antimicrobiana.

Outra descoberta científica apresentada em artigo é a constatação de que armadilhas luminosas contendo o fungo Beauveria bassiana controlam de forma eficaz uma das principais pragas do arroz irrigado no Brasil, a bicheira-da-raiz. Com o uso do inóculo do fungo em armadilhas ao redor da lavoura, a taxa de mortalidade da bicheira variou de 86% a 98%.

Em um estudo pioneiro sobre plantas polinizadoras do cultivar de maçã Daiane, pesquisadores testaram a eficiência de sete seleções e dois cultivares-controle até chegar à planta mais adaptada. Os resultados dessa pesquisa podem ser conferidos nos informativos técnicos. Outro trabalho dessa seção traz possibilidades para a adequação da cadeia produtiva ao Programa Nacional de Controle Higiênico-Sanitário de Moluscos Bivalves, instituído pelo Governo Federal em 2012.

Na seção Germoplasma, a RAC traz detalhes sobre o cultivar de mandioca SCS254 Sambaqui, lançado pela Epagri. Ele tem características bastante procuradas pelos agricultores, como alta produtividade e teores elevados de amido. Além disso, tem raízes de película branca, que interessam especialmente aos produtores de farinha.

Confira essas e outras novidades e tenha uma boa leitura!

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REGISTRO

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LANÇAMENTOS EDITORIAIS

Bracatinga (Mimosa scabrella Bentham) – cultivo, manejo e usos da espécie. 2014, 364p. Livro, R$45,00.O livro foi produzido pela Rede Sul Florestal, que reúne instituições de pesquisa, ensino e desenvolvimento rural, além de órgãos ambientais. O documento trata da cadeia produtiva da bracatinga, descrevendo aspectos da espécie, produção de sementes e mudas, melhoramento genético, manejo de bracatingais, usos da madeira, aspectos econômicos, situação atual, legislação e política pública. A obra mostra que o uso econômico de espécies florestais nativas de rápido crescimento, como a bracatinga, traz uma série de vantagens para os pequenos agricultores da Região Sul, melhorando a renda de centenas de famílias.

Contato: [email protected]

Síntese Anual da Agricultura de Santa catarina 2013-2014. 2014, 200p. Periódico anual.

Em sua 35ª edição, a publicação apresenta informações que contextualizam a situação socioeconômica da agricultura catarinense e ajudam a compreender os rumos do setor. O documento analisa o desempenho de 13 itens da produção vegetal, quatro da produção animal, além da aquicultura, do setor florestal e de políticas públicas dirigidas ao meio rural catarinense. A Síntese traz, ainda, uma análise climática do Estado, dados sobre divisão territorial e população, informações econômicas da agropecuária e preços agrícolas. A obra está disponível para download no site cepa.epagri.sc.gov.br.

Plantas bioativas nativas da floresta ombrófila densa catarinense. 2014, 82p. Bt nº 163, R$20,00.Cipó-mil-homens, pata-de-vaca, bacupari, quina, carqueja, cancorosa, sassafrás, sabugueiro e sangue-de-drago. Essas foram as plantas bioativas mais citadas pelos catarinenses que vivem no entorno da Floresta Ombrófila Densa quando a Epagri realizou o Levantamento Socioambiental, trabalho inserido no projeto Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC). O Boletim Técnico apresenta características botânicas e fitoquímicas, destacando as propriedades medicinais comprovadas cientificamente, além de aspectos sobre a distribuição e a conservação dessas nove espécies na flora catarinense.

Contato: [email protected]

Moluscos bivalves – Metodologia utilizada no Inquérito Sanitário das baías da Grande florianópolis. 2014, 42p. Bt nº 165.

O boletim apresenta a metodologia adotada pelos técnicos da Epagri no primeiro inquérito sanitário de áreas de cultivo de moluscos realizado no Brasil. Trata-se de um levantamento detalhado de informações como localização de fontes de poluição, hidrografia e circulação de água, a exemplo do que se faz em alguns países para definir planos de monitoramento microbiológico que garantem a qualidade dos moluscos. O trabalho foi realizado como parte do projeto “Estudo ambiental para o ordenamento de parques aquícolas destinados ao cultivo de moluscos bivalves de acordo com padrões internacionais”.

Contato: [email protected]

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LANÇAMENTOS EDITORIAIS

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Receitas culinárias de Rio das Antas – Receitas de mãe para filha. 2014, 44p. Bd nº 110. R$10,00.A publicação é resultado de um levantamento realizado no município de Rio das Antas, onde a diversidade cultural se revela na alimentação das famílias rurais de origem alemã, italiana, polonesa e cabocla. A obra traz 36 receitas com relatos de como os pratos eram preparados antigamente. Macarronada com salame, galinha recheada, polenta de alemão, trouxinhas de couve amarela, cuca de requeijão, pudim caseiro, roscas assadas, bolo de milho verde, bolacha caseira e enrolado de requeijão são algumas das receitas passadas de mãe para filha que continuam sendo preparadas pelas famílias da região.

Contato: [email protected]

Moluscos bivalves – diretrizes para ocupação de áreas aquícolas em Santa catarina. 2014, 31p. Bd nº 111.

Na última década, diferentes instituições, lideradas pela Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca, hoje Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), têm trabalhado para regularizar os cultivos marinhos de Santa Catarina. Como resultado desse esforço, em 2011 foram emitidos os primeiros licenciamentos ambientais de parques aquícolas. Para regularizar a atividade é necessário que os maricultores respeitem as regras de ocupação de áreas aquícolas marinhas. Com esse objetivo, o boletim apresenta diretrizes e recomendações técnicas para orientar o cultivo de moluscos bivalves em Santa Catarina.

Contato: [email protected]

Receitas de família – Mandioca e derivados. 2014, 132p. Bd nº 112, R$20,00.

Com objetivo de resgatar, valorizar e divulgar a gastronomia à base de mandioca e derivados e incentivar o cultivo da raiz para consumo nas propriedades rurais, a Epagri do município de Treze de Maio promoveu quatro concursos de culinária entre 2007 e 2010. A publicação resgata 84 receitas reveladas nesses concursos, entre pratos típicos quase esquecidos ao longo do tempo e outros criados mais recentemente pelas agricultoras. São receitas doces e salgadas à base de mandioca e dos derivados da raiz, como pudim, cocada, quindim, sorvete, broa, bolo, pão, lasanha, cuscuz, pizza, musse, pirulito.

Contato: [email protected]

A pesca artesanal marinha em Santa catarina. 2014, 56p. Bd nº 113, R$20,00.

O boletim descreve a pesca artesanal no Estado e informa sobre as modalidades de pesca e as espécies-alvo capturadas, além dos utensílios usados na captura de moluscos, crustáceos e peixes. Também apresenta dados sobre os ambientes costeiros catarinenses, a organização do trabalho e a cadeia produtiva, expondo aspectos culturais observados nas comunidades tradicionais do litoral catarinense. O material serve tanto de instrumento técnico para as famílias pesqueiras quanto para informar o público em geral sobre a atividade.

Contato: [email protected]

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REGISTRO

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Quatro novos cultivares de aipim e três de batata-doce estão dis-poníveis aos produtores rurais

catarinenses. Eles são resultado de vá-rios anos de pesquisas desenvolvidas na Epagri/Estação Experimental de Ita-jaí e em propriedades rurais do Estado. Todos os lançamentos são adequados para cultivo em sistema orgânico de produção.

O trabalho de seleção de aipim con-tou com acessos originários do Brasil, principalmente de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e do exterior – Argentina, Paraguai, Co-lômbia, Cuba e China. No ano 2000, a Estação Experimental de Itajaí, em par-ceria com a Estação Experimental de Urussanga, iniciou a seleção e a avalia-ção dos melhores materiais. “Os parâ-metros de avaliação eram produtivida-de comercial, suscetibilidade a doenças, facilidade de colheita, qualidade das ra-ízes quanto ao aspecto comercial, facili-dade de descascamento, tempo de cozi-mento, sabor e cor da polpa”, enumera o pesquisador Euclides Schallenberger.

Dos 40 acessos selecionados, foram escolhidos os 11 melhores para serem avaliados em seis municípios do Lito-ral Norte Catarinense. O processo de pesquisa participativa, que iniciou em 2007, envolveu os extensionistas muni-cipais da Epagri, lideranças locais e pro-dutores tradicionais de aipim.

Dessa seleção resultaram quatro materiais que foram registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Dois deles –

Epagri lança cultivares de aipim e batata-doceSCS256 Seleto e SCS257 Estação EEI – têm a polpa branca. Os ou-tros, registrados como SCS258 Pe-ticinho e SCS259 Diamante, apre-sentam a polpa amarela. Todos são indicados para a elabora-ção de pratos e chips, são fáceis de descascar e cozinham rapi-damente. Na la-voura, resistem às principais do-enças da cultura e revelam boa produtividade: o Seleto, com maior rendimento, alcança 33,6t/ha. As ramas (mudas) desses cul-tivares podem ser obtidas na Estação Experimental de Urussanga.

Batata-doce

Os lançamentos de batata-doce fo-ram selecionados a partir de materiais coletados em propriedades rurais de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul e na Estação Experimental de Ituporanga. Em 2007, os melhores exemplares fo-ram avaliados na Estação Experimental de Itajaí e também por produtores ru-rais em pesquisas participativas. “Essas avaliações constaram de análises agro-

nômicas, comerciais e sensoriais das plantas e raízes”, detalha o pesquisador José Angelo Rebelo.

O cultivar SCS370 Luiza possui raiz elíptica, casca e polpa roxas e é rico em compostos fenólicos e antociani-nas. Produz 14,7t/ha e é indicado para a elaboração de pratos diversos. Com pro-dutividade média de 23,2t/ha, o cultivar SCS371 Katiy possui raiz alongada, cas-ca roxa e polpa branca. A batata-doce SCS372 Marina é rica em carotenoides e tem raiz de formato elíptico, casca roxa e polpa amarela. Na colheita, rende até 22,9t/ha. Na Estação Experimental de Ituporanga é possível obter mudas dos três lançamentos de batata-doce.

Aipim ‘Peticinho’ resiste às principais doenças da cultura e produz 27,1t/ha

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Cultivares Luiza, Marina e Katiy foram avaliados por pesquisadores e produtores tradicionais de batata-doce

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REGISTRO

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O agronegócio catarinense é o se-gundo mais competitivo do Bra-sil, atrás apenas de São Paulo. É

o que revela o Índice de Competitivida-de do Agronegócio divulgado pela Con-federação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O ranking estadual criado pela entidade leva em conta seis que-sitos: infraestrutura, educação, saúde, ambiente macroeconômico, inovação e mercado de trabalho. O índice alcança-do por Santa Catarina foi de 0,611.

O primeiro colocado, São Paulo, leva vantagem sobre os outros estados nos quesitos infraestrutura e ambiente macroeconômico. Santa Catarina tem o melhor desempenho em educação, com 0,976. O estado tem a maior taxa de aprovação rural nos ensinos funda-mental e médio do País e as segundas menores taxas de abandono rural e analfabetismo rural.

O agronegócio catarinense se des-

Dados sobre 9 mil perfis de solos coletados em todas as regiões do Brasil estão disponíveis na

internet para acesso público e gratuito. Eles fazem parte do sistema de infor-mação de solos brasileiros, criado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope-cuária (Embrapa), que reúne todo o re-sultado de pesquisa sobre o tema que a

SC é o segundo estado mais competitivo para o agronegóciotaca também como terceiro em infraes-trutura e quinto em inovação. O Estado alcançou nota máxima no quesito nú-mero de registros de patentes. Outros fatores que definem o índice de inova-ção são investimentos em bolsas de es-tudos e em pesquisa.

A CNA divulgou, ainda, um índice da qualidade das moradias rurais em todo o País. Santa Catarina ficou em terceiro lugar (0,771), atrás de São Paulo (0,814) e do Distrito Federal (0,804). Para che-gar a esse índice, foram analisados o material usado na construção do domicílio; o acesso a serviços públicos, como água encanada, coleta de lixo, energia elétrica e esgoto; e a presença de

bens essenciais, como telefone, fogão, geladeira e filtro de água.

O Índice de Competitividade do Agronegócio levou em conta dados ofi-ciais de 2011 e deve ser atualizado to-dos os anos. A nota final baseia-se na média aritmética dos seis indicadores analisados.

Portal disponibiliza informações de solos de todo o Brasilempresa produziu nos últimos 40 anos. O sistema apresenta uma descrição detalhada das características morfoló-gicas, físicas, químicas e mineralógicas dos perfis de solos com sua localização geográfica, além de dados de análises de fertilidade.

De acordo com a chefe-geral da Em-brapa Solos, Lourdes Mendonça, esse

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conhecimento contribui para a tomada de decisões relativas ao agronegócio, como zoneamento agrícola e estimati-va da produtividade de culturas, além de representar uma importante fonte de dados para o ensino e a pesquisa. "É o maior banco de solos do Brasil, que permite conhecer melhor os solos bra-sileiros e sua distribuição no território. É possível até prospectar o estoque de carbono presente no solo", ressalta.

A base de dados é atualizada diaria-mente de forma automática. Além dis-so, especialistas distribuídos pelo País podem inserir trabalhos no sistema, que serão agregados a essa base e fica-rão disponíveis ao público. "Sem esse repositório, seria impossível consultar todas essas informações que estavam distribuídas em livros, teses, relatórios, boletins, artigos e planilhas, com di-ferentes formatos", diz o pesquisador Stanley Oliveira, chefe de Administra-ção da Embrapa Informática Agrope-cuária. O Sistema de Solos Brasileiros está disponível em www.sisolos.cnptia.embrapa.br.

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Os catarinenses tiveram o melhor desempenho no índice de educação

O sistema reúne dados de 40 anos de pesquisas na área

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Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) apontou

uma opção nutritiva para melhorar a alimentação dos ruminantes. O trabalho, desenvolvido pelo professor Diego Peres Netto, do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias, avaliou o uso de bagaço de maçã misturado à silagem de milho.

A pesquisa foi idealizada a partir de uma visita a produtores rurais de Lages, na região serrana de Santa Catarina. “Na ocasião, nos deparamos com agricultores trabalhando com silagem de milho e misturando a ela, empiricamente, bagaço de maçã. Então tivemos a ideia de avaliar isso de forma científica, saber o que acontece com a composição química e a qualidade desse material”, conta o professor.

A maçã também foi escolhida por ser um alimento regional – a serra catarinense é responsável por 50% da produção nacional da fruta. O bagaço é um resíduo das indústrias que processam maçã para produzir sucos e outros alimentos.

Foram realizados quatro experimen-tos com teores diferentes de bagaço – 0%, 15%, 30% e 45%. Cada teste foi repetido cinco vezes. A silagem ficou armazenada por 90 dias em minissilos experimentais, confeccionados em bal-des com capacidade para 600 quilos de silagem por metro cúbico.

As amostras foram divididas em três partes: a primeira foi utilizada para determinar a composição química; a segunda, para analisar o nitrogênio amoniacal (também conhecido como amônia) e a última parte foi prensada para extrair o suco e determinar o pH.

Material valioso

Os resultados do experimento foram positivos: houve melhora na qualidade e na composição química da silagem; os teores de proteína aumentaram e os de fibra – ruins para o consumo quando em

Resíduo de maçã melhora qualidade nutritiva da silagem

excesso – diminuíram. Também cresceu o número de carboidratos não fibrosos, melhorando a fermentação. O pH, que para silagens deve se manter abaixo de 5, teve média de 3,52. Além disso, a quantidade de nitrogênio amoniacal permaneceu baixa. Isso indica que houve pouca degradação de proteínas, o que é benéfico para a alimentação animal.

Ainda não foram avaliados os custos para introduzir o bagaço de maçã nas silagens. “Queremos, na próxima etapa, testar o alimento com os animais e também a viabilidade econômica”, afirma Netto.

O pesquisador coordena dois outros projetos sobre o uso de subprodutos agroindustriais em silagens: um deles utiliza o resíduo úmido de cervejaria (RUC), e outro, o teosinto, uma espécie

Bactérias em ação

Silagem é um método de con-servação de forragem para alimen-tação animal baseado na fermen-tação láctica da matéria vegetal – que pode ser milho, sorgo ou ca-pim, por exemplo. O valor nutritivo da silagem vem do processo anae-róbico feito pelas bactérias. A qua-lidade desse processo depende de uma boa compactação, para evitar a entrada de oxigênio.

de milho crioulo. As pesquisas ainda estão no início. “Nossa expectativa é de que o RUC melhore ainda mais o perfil fermentativo, porque ele apresenta menos umidade do que a maçã”, explica.

O bagaço aumentou os teores de proteína e carboidratos não fibrosos na silagem de milho

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REGISTRO

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Uma nova forma de produzir vi-nho licoroso foi desenvolvida pela Vinícola Panceri, com sede

em Tangará, SC, em parceria com a Epa-gri. O projeto, iniciado em 2010, resul-tou em uma tecnologia para desidrata-ção de uvas a frio, em ambiente contro-lado, criando condições semelhantes ao processo natural que ocorre em regiões de nevasca.

A Cydia pomonella, mais conheci-da como lagarta-da-maçã, está oficialmente erradicada do Bra-

sil. Depois da criação de várias medidas para exterminar o inseto, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimen-to (Mapa) anunciou a ausência da praga nos cultivos brasileiros em publicação no Diário Oficial da União (DOU). O in-seto-praga foi excluído da lista de pragas quarentenárias presentes no País e pas-sou a constar da lista de ausentes.

Desde a primeira aparição da la-garta-da-maçã, em 1991, o Mapa vem criando medidas para combater o pro-blema. O Programa Nacional de Erradi-cação da Cydia pomonella foi uma delas, que instalou e monitorou mais de 10 mil armadilhas, além de capturar cerca de 20 mil exemplares da praga. As ações desenvolvidas por meio do programa erradicaram cerca de 100 mil plantas hospedeiras da praga em regiões do

Pesquisa desenvolve método inédito para produzir vinho licoroso

Lagarta-da-maçã é erradicada do Brasil

Existem outros métodos de produ-ção de vinhos licorosos, e esse proces-so, que promove a desidratação a bai-xas temperaturas e baixa umidade, foi patenteado pela equipe. A Epagri parti-cipou do projeto nas etapas científicas, com análises físico-químicas e avaliação da qualidade dos produtos no desenvol-vimento do relatório final.

A diferença entre o vinho licoroso e um vinho fino tradicional é o teor alcoólico. O vinho fino possui entre 8% e 14% de álcool, e o licoroso tem níveis superio-res. “Para que o vinho licoro-so alcance teor alcoólico supe-rior a 14% do volume, as uvas passam por um processo de desidratação, o que causa per-

da de água e concentração dos açúcares da uva, havendo, assim, maiores teores alcoólicos durante a fermentação”, ex-plica Carolina Pretto Panceri, tecnóloga em viticultura e enologia. O vinho lico-roso pode ser consumido como aperiti-vo ou sobremesa, em pequenas doses.

O produto, que é fabricado com va-riedades Cabernet Sauvignon e Merlot, está passando por testes de adequa-ção antes de ser lançado no mercado. Segundo Vinicius Caliari, pesquisador e gerente da Epagri/Estação Experimental de Videira, o projeto é importante para o desenvolvimento do setor vinícola do Estado. “Ele trará divisas econômicas, fortalecerá o enoturismo e divulgará Santa Catarina como local de inova-ção tecnológica.” O trabalho recebeu apoio do Laboratório de Bioquímica de Alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina (USFC) e financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e do Conselho Nacional de De-senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

sul do Brasil, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, estados responsáveis por 95% da produção nacional de maçã.

Com a praga movida para a lista de quarentenárias ausentes, estima-se que o setor de produção de maçãs – princi-pal fruta atingida pela Cydia pomonella

– incremente ainda mais as exporta-ções. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Minis-tério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 83 mil toneladas de maçã foram exportadas em 2013, 24% a mais que no ano anterior.

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A novidade deverá impulsionar o setor em Santa Catarina

Agora, as exportações têm potencial para crescer ainda mais

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Geralmente descartado pela in-dústria, o bagaço de uva ganhou novas aplicações graças a uma

pesquisa desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com a Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O estudo gerou um insumo com alto teor de compostos funcionais que poderá ser utilizado pelas indústrias alimentí-cia, farmacêutica e cosmética. “Os ex-tratos concentrados obtidos a partir dos bagaços de uva apresentaram atividade antioxidante 50% maior que a polpa do açaí”, conta a pesquisadora Ana Paula Gil Cruz, que integrou a equipe do pro-jeto.

A pesquisa resultou em produtos de alto valor nutricional e funcional, como barras de cereais e bebidas probióticas. Além de trazer vantagens econômicas, o aproveitamento do bagaço reduz o passivo ambiental e colabora para a sus-tentabilidade das cadeias produtivas do agronegócio. O projeto teve como foco as indústrias de vinho e suco de uva do Rio de Grande do Sul e contou com par-ceria da Embrapa Uva e Vinho.

Em 2013, a safra brasileira de uva foi de aproximadamente 1,3 milhão de toneladas, das quais 836 mil foram destinadas ao processamento segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Estima-se que o bagaço corresponda a 16% da uva pro-cessada, o que equivale a 210 mil tone-ladas por ano. O descarte desses resídu-os gera um grande passivo ambiental.

Bebidas saudáveis

“Avaliamos a capacidade antioxidan-te e a concentração de polifenóis das cascas de diferentes variedades de uvas para geração de um extrato rico em compostos bioativos de grande interes-se comercial. Desenvolvemos também produtos probióticos de leite fermen-tado e suco de uva a partir dos resídu-os gerados pela produção de vinhos e sucos,” conta a pesquisadora Lourdes Cabral, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, que é líder do projeto.

Bagaço de uva se transforma em alimentos funcionais

Os pesquisadores avaliaram princi-palmente o potencial de aplicação do extrato e do resíduo sólido da prensa-gem do bagaço de uva como ingrediente para fabricação de bebidas funcionais. Associar bactérias probióticas ao suco de uva ou ao leite fermentado de cabra gerou produtos com características dife-renciadas voltadas à nutrição e à saúde. “Aliamos os benefícios do leite de cabra, como baixo teor de gordura, elevada ca-pacidade de digestão e menor potencial alergênico, à adição de compostos bio-ativos derivados dos resíduos da uva. A bebida probiótica de leite de cabra adi-

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cionada ao extrato de uva possui cor e sabor aprovados em testes sensoriais, sendo altamente indicada para crianças e idosos”, explica a pesquisadora Karina Olbrich dos Santos, da Embrapa Agroin-dústria de Alimentos.

O bagaço de uva também pode ser transformado em barrinhas de cereais, como apontou o trabalho da pesquisa-dora Renata Tonon, ou gerar um extrato rico em fibras solúveis para a indústria alimentícia, segundo pesquisa em anda-mento, sob coordenação da pesquisa-dora Caroline Mellinger, ambas da Em-brapa Agroindústria de Alimentos.

Extratos apresentaram atividade antioxidante 50% maior que a polpa do açaí

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REGISTRO

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A parceria entre o Governo do Estado de Santa Catarina e o Banco Mundial que resultou nos programas Microbacias 1, Microbacias 2 e SC Rural completou três décadas em 2014. As iniciativas públicas

executadas ao longo desse período resultaram em ações de inovação, preservação e organização social dos produtores, além de projetos de incentivo à competitividade das famílias rurais.

O SC Rural é a terceira etapa de um esforço iniciado em 1984, com o Programa Microbacias 1. A primeira etapa do Programa foi voltada para a conservação do solo e da água, e o Microbacias 2 incentivou a organização de comunidades e agricultores com a criação das Associações de Desenvolvimento das Microbacias. Iniciado em 2010 e com previsão de conclusão em 2016, o SC Rural busca aumentar a competitividade das organizações da agricultura familiar.

Para atingir essa meta, o programa, coordenado pela Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca, conta com recursos de US$189 milhões, dos quais US$90 milhões do Banco Mundial e US$99 milhões de contrapartida do Governo do Estado. Durante sua execução, o SC Rural atuará em diversas frentes e apoiará a melhoria ou implantação de 500 projetos com planos de negócios da agricultura familiar catarinense.

O Programa é coordenado pela Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca e tem como executoras diversas instituições: Epagri, Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, Fundação do Meio Ambiente (Fatma), Batalhão de Polícia Militar Ambiental, Secretaria de Infraestrutura e Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte.

Amostras de pólen encontradas no Lago Kinneret, no Mar da Ga-lileia (Israel), sugerem que gran-

des secas podem ter sido responsáveis pelo colapso de civilizações prósperas

Seca pode estar ligada ao declínio de antigas civilizações

Programas Microbacias e SC Rural somam 30 anos

da Antiguidade, como a egípcia, a hitita e a micênica, mais de 3 mil anos atrás. O estudo, feito por Dafna Langgut e Israel Finkelstein, da Universidade de Tel Aviv, e por Mordechai Stein, da Universidade

Hebraica de Jerusalém, tenta explicar as cataclísmicas mudanças climáticas na região nesse período.

Observando o pólen, os cientistas descobriram mudanças na vegetação que correspondem a uma seca entre os anos 1250a.C. e 1100a.C. que pode-ria ter provocado um efeito de bola de neve no comércio, na agricultura e na-quelas sociedades como um todo.

O que intriga os pesquisadores é a rapidez com que essas civilizações sofis-ticadas desapareceram do mapa. “Num curto período de tempo, toda a Idade do Bronze sucumbiu”, diz Finkelstein. “O Império hitita, o Egito dos faraós, a cultura micênica da Grécia, o reino produtor de cobre na Ilha de Chipre e outras civilizações desapareceram, substituídas pelos reinos da Idade do Ferro, como Israel e Judá”, completa o professor.

Foco atual do programa é dar competitividade às organizações da agricultura familiar

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Estudo sugere que houve uma grande seca entre 1250a.C. e 1100a.C.

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Ao redor do mundo, consumido-res (81%) e agricultores (78%) afirmam que se importam com

a sustentabilidade na agricultura, mas diferem no entendimento do signifi-cado desse conceito. Enquanto para os agricultores sustentabilidade é um tema detalhado e multidimensional, os consumidores definem o termo princi-palmente no contexto de aspectos am-bientais. Essa é uma das constatações do Farm Perspective Study. Realizado pela segunda vez desde 2011, o estudo analisou as respostas de 2.100 agricul-tores e 7 mil consumidores em sete pa-íses – entre eles 300 agricultores e mil consumidores brasileiros.

Os consumidores definem a susten-tabilidade na agricultura com uma visão relativamente limitada, descrevendo o tema como “ambientalmente corre-to” (22%) ou a “condição de produzir alimentos suficientes para alimentar a população” (18%). Mundialmente, lista-ram um ou dois pontos quando pergun-tados sobre o significado de agricultura

Agricultores e consumidores têm visões diferentes sobre sustentabilidadesustentável.

Os agricultores revelaram um en-tendimento mais específico e comple-xo do tema. Eles destacaram aspectos ambientais como “proteção do solo” (40%), “utilização da terra” (27%), “uti-lização da água” (27%) ou “proteção da biodiversidade” (25%), além de men-cionarem aspectos econômicos, como “remunerações justas para a agricul-tura” (25%), como parte da agricultura sustentável. “Agricultores e consumido-res não entendem a sustentabilidade da mesma forma e isso faz com que os produtores rurais enfrentem mais de-safios para satisfazer as necessidades da sociedade”, disse Kristina Winzen, vice-presidente Global de Comunicação e Relações Institucionais da Divisão de Proteção de Cultivos da Basf, que enco-mendou a pesquisa ao instituto Market Probe, sediado na Bélgica. O estudo foi realizado no Brasil, na China, na França, na Alemanha, na Índia, na Espanha e nos Estados Unidos.

Um programa idealizado pela Associação Brasileira de Super-mercados (Abras) monitora e

rastreia uso de agrotóxicos em frutas, verduras e legumes nos estabelecimen-tos. O Programa de Rastreamento e Monitoramento de Agrotóxicos (Rama) permite ao supermercadista acompa-nhar a qualidade do alimento por meio da análise de resíduos de agrotóxicos realizada com amostras recolhidas nas próprias gôndolas. Também permite rastrear os produtos para identificar a origem de problemas, como uso exces-sivo ou incorreto de agrotóxicos, já que os fornecedores também aderem ao Rama.

O programa consiste em acompa-nhar os alimentos em todas as etapas de produção e identificá-los com uma etiqueta única. Essa etiqueta traz um código de rastreamento que pode ser consultado na internet pelo consumi-dor e que aponta o caminho percorrido

Supermercados monitoram agrotóxicos em alimentospelo produto desde a origem e os testes pelos quais ele passou para verificar os índices de agrotóxicos.

Santa Catarina foi o primeiro Estado onde se implantou o Rama, por meio da Associação Catarinense de Supermerca-dos (Acats). Hoje o programa conta com 26 redes supermercadistas participan-tes, distribuídas por Santa Catarina, Ser-gipe, Rio Grande do Norte, Ceará e Pará. Mais 17 empresas estão com o sistema em fase de implantação.

O Rama monitora 19 produtos lis-tados pelo Programa de Análise de Re-síduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para) da Anvisa. São eles: abacaxi, al-face, banana, batata, beterraba, cebola, cenoura, couve, goiaba, laranja, maçã, mamão, manga, morango, pepino, pi-mentão, repolho, tomate e uva.

A Abras tem como meta implantar o Rama em todos os Estados do Brasil. Mais informações no site www.abras.com.br.

Análise de resíduos de agrotóxicos usa amostras coletadas nas gôndolas

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Produtores rurais têm entendimento mais complexo sobre o tema

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REGISTRO

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De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), os alimentos

perdidos e desperdiçados na América Latina e no Caribe superam o volume necessário para nutrir os 47 milhões de pessoas que sofrem de fome na região. A entidade calcula perdas da ordem de 15%.

Segundo a FAO, as perdas dizem respeito à diminuição da massa de ali-mentos disponível para consumo huma-no nas fases de produção, pós-colheita, armazenamento e transporte. Já os des-perdícios são as perdas derivadas da de-cisão de descartar alimentos que ainda têm valor nutricional e estão associados principalmente ao comportamento dos vendedores atacadistas e varejistas, ser-viços de venda de comida e consumido-res.

Esses problemas ocorrem ao lon-go da cadeia alimentar: na região, 28% se dão no âmbito do consumidor; 28% no da produção; 17% no mercado e na

América Latina poderia erradicar a fome com alimentos desperdiçadosdistribuição; 22% durante o manuseio e o armazenamento e 6% na etapa de processamento. Com os alimentos que se perdem somente nas vendas no va-rejo se poderia alimentar mais de 30 milhões de pessoas, ou seja, 64% da po-pulação que sofre de fome nessa área. “Erradicar a fome na região requer que todos os setores da sociedade façam esforços para reduzir perdas e desperdí-cios”, destacou o representante regional da FAO, Raul Benítez.

No âmbito mundial, entre um quar-to e um terço dos alimentos produzidos anualmente para o consumo humano são perdidos ou desperdiçados. Isso equivale a cerca de 1,3 bilhão de tonela-das, o que inclui 30% dos cereais, entre 40% e 50% das raízes, frutas, hortaliças e sementes oleaginosas, 20% da carne e de produtos lácteos e 35% dos pesca-dos. A FAO calcula que esses alimentos seriam suficientes para alimentar 2 bi-lhões de pessoas.

Equipamentos como computador, smartphone e tablet são cada vez mais comuns nas mãos de agricul-

tores e, acompanhando a tendência, o

Ferramenta permite fazer gestão da lavoura pelo celularmercado começa a criar ferramentas específicas para esse público. Um exem-plo é o aplicativo Caderno de Campo, desenvolvido para apoiar a gestão pro-

dutiva das fazendas. Ele auxilia agri-cultores e técnicos agrícolas no acom-panhamento de tarefas como plantio, adubação, tratamentos fitossanitários e colheita, além de permitir a gestão de todo o processo produtivo.

O sistema trabalha sem internet, via dispositivos móveis (smartphones ou tablets), para a coleta de informações no campo e permite o sincronismo de dados na internet para gestão dos relatórios e controles. Lá o usuário tem acesso a um painel de controle com gráficos e informações para melhorar a gestão de seu negócio. Além disso, o sistema é integrado, ou seja, vários usuários podem utilizar a ferramenta separadamente, e os dados serão apresentados em um painel de controle comum.

No site www.cadernodecampo.net, é possível baixar o programa para testá-lo gratuitamente por 30 dias.

As perdas alcançam 15% dos alimentos produzidos na região

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O sistema funciona sem internet, via dispositivos móveis

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OPINIÃO

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A agricultura não é uma atividade incompatível com o meio am-biente. Ao contrário, o exercício

de uma agricultura tecnologicamente sustentável assegura a proteção dos recursos naturais – solo, água, flora e fauna – para as atuais e as futuras gerações. É importante não descurar das questões ambientais, mas é preciso abandonar o radicalismo ridículo e de-sinformado dos “ecochatos” para que o Congresso possa – como sempre o fez – aperfeiçoar as políticas públicas que contribuem para a expansão da agrope-cuária e que serão fundamentais para o crescimento desse setor. A agricultura emprega 15,3 milhões de pessoas, que representam 21% do total da mão de obra ocupada no País.

A Carta Magna de 1988 consagra o direito ao meio ambiente ecologi-camente equilibrado como essencial à qualidade de vida, impondo a todos o dever de defendê-lo e preservá-lo. Para promover a propriedade ecologi-camente equilibrada e sua viabilidade econômica, serão necessárias formas alternativas de compensação ao produ-tor, por prestar um serviço de proteção ambiental em benefício da sociedade. A agricultura não pode suportar sozinha os custos da recomposição florestal. É necessário que a implementação de medidas conservacionistas e de recupe-ração ambiental considerem o risco da desestruturação social e econômica do segmento agropecuário.

Existe uma série de postulados que os parlamentares comprometidos com o setor primário defendem e conside-ram essenciais, como implantar um programa de compensações financeiras das áreas conservadas pelo produtor rural, estender a figura jurídica da compensação da reserva legal para aplicação em todo o território nacional, independentemente da localização do imóvel rural, objetivando a conservação florestal da Amazônia.

Acredito que o Parlamento e o governo brasileiro estão, finalmente, compreendendo a importância do pa-gamento, aos produtores rurais, pelos

¹ Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) e do conselho de administração do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC). Rua Delminda Silveira, 200, Agronômica, 88025-500 Florianópolis, SC.

Pagamento por serviços ambientaisJosé Zeferino Pedrozo¹

serviços ambientais prestados em be-nefício da sociedade. A implementação de uma política nacional de pagamento por serviços ambientais é ponto de consenso no embate entre ruralistas e ambientalistas em relação à proprieda-de no campo. Há entendimento que o Brasil deve recompensar as iniciativas de proprietários na preservação ou re-cuperação do meio ambiente porque, a exemplo de outros países, os problemas ambientais no Brasil só acabarão no dia em que houver esse tipo de retribuição.

Como agente econômico, o produtor rural sabe da necessidade de preservar os recursos naturais para sua própria sobrevivência e a de seu negócio. O caminho, a alternativa legal e a solução foram traçados pela própria Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável: residem na criação do Programa Federal de Pagamento por Serviços Ambientais (ProPSA), utilizan-do recursos de um fundo federal a ser criado pelo governo para remunerar ini-ciativas de preservação ou recuperação do meio ambiente.

Essa iniciativa eliminará o pseudo-atrito entre ruralistas e ambientalistas. Aliás, a proposta que determina com-pensação financeira por preservação e recuperação do meio ambiente não é nova: foi aprovada em 1o de dezembro de 2010 pela Comissão de Meio Am-biente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados.

O Congresso Nacional precisa discu-tir e aprovar com urgência projeto de lei que institui o pagamento por serviços ambientais no Brasil, pois agora há con-senso entre ambientalistas, ruralistas, comunidade científica e órgãos gestores de meio ambiente e da agricultura. In-felizmente, está demorando muito para ser aprovado no Congresso Nacional.

O Governo pagaria ações que priorizem, entre outros objetivos, a conservação e o melhoramento da quantidade e da qualidade dos recursos hídricos; a conservação e a preservação da vegetação nativa, da vida silvestre e do ambiente natural em áreas de eleva-da diversidade biológica; a conservação,

a recuperação ou a preservação do ambiente natural nas áreas de unidades de conservação e nas terras indígenas; a recuperação e a conservação dos solos e a recomposição da cobertura vegetal de áreas degradadas; e a coleta de lixo reciclável.

Há consenso de que, investindo em tecnologia, ciência, planejamento inte-grado, respeito à legislação e políticas públicas positivas de incentivo às práti-cas sustentáveis, o Brasil pode avançar muito com o crescimento das safras associadas à proteção da biodiversida-de. Com o desenvolvimento de novos processos e tecnologia é possível incor-porar a sustentabilidade ao ambiente do agronegócio de forma estratégica, abrindo caminho para que se estabele-çam novos padrões de produção rural.

Tudo isso cria oportunidades e pode gerar renda para os proprietários rurais em razão do importante papel que cum-prem em prol da sociedade na preser-vação da água e da biodiversidade, com a conservação das áreas de preservação permanente, das zonas de recarga de aquíferos e das reservas particulares do patrimônio natural. Assim, a manu-tenção de áreas preservadas, muitas vezes encarada como prejuízo, torna-se também uma atividade rentável.

Essa já é uma bem-sucedida experi-ência em outros países. No Brasil temos pequenos exemplos de iniciativas re-gionais e de leis estaduais e municipais, mas ainda é pequena a quantidade de programas que pagam ao produtor rural pela prestação de serviços ambientais. É preciso avançar na legislação que estabelece mecanismos positivos e valorização para quem preserva.

O Estado tem papel preponderante na implementação de instrumentos de gestão, proteção e regulação do acesso de setores produtivos aos recursos natu-rais essenciais, como a água e a biodiver-sidade. Entretanto, só o conhecimento profundo dos biomas garantirá a tomada de decisões cientificamente corretas e socialmente justas sobre a forma de usar nosso vasto patrimônio natural.

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CONJUNTURA

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considerações gerais

Nos últimos duzentos anos, a popu-lação mundial multiplicou sete vezes. Hoje já somos 7 bilhões de habitantes, e a idade média de uma pessoa é estima-da em 75 anos, ao passo que no tempo de Aristóteles, o filósofo grego, o tempo médio de vida oscilava em torno de 27 anos. Ao mesmo tempo que aumenta a população, decresce a quantidade de água doce e limpa, e aumenta a área de terras degradadas em decorrência de fatores climáticos, acidentes meteoroló-gicos e métodos impróprios de cultivo.

A ONU adverte que há falta de água para 700 milhões de habitantes e que, no ano de 2050, 3 bilhões de pessoas sentirão falta de água doce. Já a Agên-cia Nacional de Águas (ANA) alertou, em 2013, que 55% dos municípios brasilei-ros teriam falta de água se não fossem aplicados 25 bilhões até 2015. O resul-tado da imprevidência pode ser avalia-do na atual falta de água para o abaste-cimento da capital paulista.

Anualmente, perdem-se dez mi-lhões de hectares de solo fértil por mo-tivos naturais e mau uso do homem. É a desertificação! Os pequenos agriculto-res dos países pobres têm dificuldades de sobreviver com a baixa renda obtida no comércio de alimentos básicos.

As cidades continuam crescendo de tal forma que, nos últimos 60 anos, a urbanização dobrou. Hoje, 85% da po-pulação do Brasil é urbana, e o ritmo do crescimento das cidades tende a per-manecer, exponenciando os problemas da mobilidade, do lixo, do abastecimen-to de água potável, do esgoto, das inun-dações e do mínimo que cada individuo precisa para viver em termos de área física necessária para as residências, fá-bricas, estradas, e para a produção de comida. Há um mínimo de quantidade de água doce, matéria-prima e energia

¹ Engenheiro-agrônomo, titular da Academia Brasileira de Ciência Agronômica, membro honorário da Academia Brasileira de Extensão Rural, ex-secretário da Agricultura e da Educação de Santa Catarina, ex-presidente da Embrater e da Cidasc, ex- diretor e fundador do Centro de Ciências Agrárias da UFSC e do ETA-Projeto 17-Acaresc. E-mail: [email protected].

Segurança alimentar: desafio 2050Glauco Olinger¹

necessárias para que cada um possa vi-ver.

Está praticamente esgotado o tem-po em que se ignorou a importância da ”pegada ecológica”, o indicador e condi-cionador da sobrevivência do ser huma-no no planeta Terra. E, entre todos os condicionantes, sobressai a segurança alimentar.

o que é insegurança alimentar

A Cúpula Mundial de Alimentação define segurança alimentar e nutricio-nal como “a garantia, a todos, de con-dições de acesso a alimentos básicos de qualidade em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essen-ciais, com base em práticas alimentares saudáveis, contribuindo, assim, para uma existência digna em um contexto de desenvolvimento integral da pessoa humana”. Essa definição vem sendo aceita pelo governo brasileiro, tornan-do-se base para a legislação específica relativa às praticas de comercialização de produtos alimentícios.

A segurança alimentar mundial tem especial atenção da Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO), da Organização das Nações Unidas (ONU). Atitudes práticas vêm sendo tomadas na procura de respostas para a inquie-tante pergunta: Como alimentar um mundo com mais de 9 bilhões de pesso-as no ano de 2050?

fórum desafio 2050

Estimativas dos demógrafos da FAO indicam que a população mundial no ano de 2050 chegará a 9,3 bilhões de pessoas, e que no ano de 2100 cerca de 12 bilhões de bocas estarão aber-tas pedindo comida. Sob certo aspecto,

Thomas Malthus está vivo nos bolsões de pobreza do mundo, onde as famílias têm prole numerosa, geralmente mais de três filhos, e os recursos naturais locais existem (solo fértil, água, flores-tas, etc.), mas são insuficientes ou im-próprios para a produção dos alimentos necessários em quantidade e qualidade requeridas a uma correta nutrição.

Há países populosos, com cresci-mento demográfico acima do reco-mendado, que estão a vender recursos naturais não renováveis, a exemplo do petróleo, que provavelmente terão grandes dificuldades, ainda neste sécu-lo, para obter alimentação, porquanto são, atualmente, grandes importadores de alimentos. Além da necessidade de produzir mais alimento, o mundo pre-cisa reduzir as perdas e os desperdícios que chegam a mais de 30% das colhei-tas. É necessário, também, que seja pro-piciada maior abertura para o comércio internacional e que se invista mais no ensino, na pesquisa e na extensão das ciências agrárias e da nutrição. É impor-tante que se reveja a relação das pesso-as com a comida e se garanta que tam-bém os agricultores familiares tenham renda de forma sustentável.

Esses temas foram debatidos no Fórum Desafio 2050, realizado dia 14/8/2014 na cidade de São Paulo , sob os auspícios da Organização das Nações Unidas e para a Agricultura e a Alimen-tação (ONU/FAO); a Associação Brasilei-ra do Agronegócio (ABAG); a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). Foram partici-pantes do encontro cientistas agropecu-ários atuantes no setor da alimentação (produção e nutrição, principalmente) e seus efeitos em escala mundial. O even-to teve o nome de “Unidos para Alimen-tar o Planeta”. Fizeram pronunciamen-tos os representantes das entidades promotoras das instituições cientificas

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(universidade, laboratórios, centros de pesquisa) e dez homenageados do Agronegócio Nacional, entre os quais o engenheiro-agrônomo catarinense au-tor deste texto.

Na conceituação de agronegócio, es-tava implícita a participação de todos os produtores agrossilvipastoris, indepen-dentemente do tamanho dos empreen-dimentos. Mas, como fonte prioritária na produção de alimentos, foi conside-rada a agricultura familiar.

Produção e produtividade

A ONU/FAO estima que, para aten-der a demanda mundial de alimentos por volta do ano 2050, será necessário um aumento de 60% a 70% sobre a pro-dução atual de grãos, carnes, frutas e hortaliças. Ademais, alerta que as pos-sibilidades de aumento da produção por meio de cultivos em novas áreas são reduzidas a pouco mais ou menos de 10% do total a ser utilizado, visto que as terras férteis ou agricultáveis do pla-neta estão quase totalmente ocupadas com produções agrícolas, ou em áreas de preservação.

Outro dado importante é que, nas últimas décadas, os aumentos de pro-dução resultaram de maiores colhei-tas sem aumento das áreas cultivadas. Sementes, mudas, animais com maior aptidão para produzir; novos métodos de fertilização, manejo dos solos e das águas e mecanização e automação do trabalho propiciaram o aumento da produtividade, ou seja, mais produção por unidade de área de planta, de ani-mal e, sobretudo, do trabalho humano. E o avanço da produtividade tem sido e continuará sendo fruto do progresso da ciência, da tecnologia e das técnicas aplicadas com inteligência.

Aspectos do potencial do Brasil na produção de alimentos

Sugere a ONU/FAO, no Desafio 2050, que a produção de alimentos aumenta-rá em 90% das áreas já cultivadas e 10% em novas áreas. Assim, o crescimen-to da produção nos próximos 36 anos dar-se-ia praticamente pelo aumento

da produtividade, fato marcante em re-lação à produção de grãos e carnes no Brasil, onde se salienta o desempenho da Embrapa, de universidades, das em-presas estaduais de pesquisa e exten-são rural e de outras entidades e coo-perativas agropecuárias, que também se dedicam às atividades de pesquisa e extensão rural.

No encontro de São Paulo , foi calcu-lado pela ONU/FAO que a participação do Brasil na data limite de 2050 seria de 40% da demanda total de alimentos. Entretanto, o potencial brasileiro para a produção de alimentos e, acrescenta-se, de energia da biomassa de óleos co-mestíveis e energéticos, fibras e outros produtos provenientes do cultivo dos solos e das águas, parece maior do que tem sido considerado. Assim, além da revitalização de 50 a 60 milhões de hec-tares degradados, existentes no Brasil, que precisam ser revitalizados, princi-palmente pela incorporação de matéria orgânica para facilitar a sustentação da fertilidade com custos menores e obedi-ência ao equilíbrio ambiental, poderão ser incorporados à produção agrossilvi-pastoril as seguintes áreas:

floresta Amazônica: Sabe-se que a Floresta Amazônica exerce grande influ-ência no clima do planeta. Muito do re-gime de chuvas do Brasil depende dela. Só esse fato já é suficiente para que seja determinada a preservação permanen-te daquela área verde. Entretanto, não é inteligente negligenciar a possibilida-de de enriquecer a floresta com plantas produtoras de alimentos, sem prejuízo de sua biodiversidade e das funções re-guladoras do clima.

A maioria das plantas arbóreas e produtoras de alimentos são nativas, a exemplo da castanha-do-pará, do cupu-açu, do açaí, da pupunha (estes dois últi-mos produzem fruto e palmito), do caju, da banana e muitas outras, além de fru-tíferas exóticas tropicais arbóreas que podem ser introduzidas. Naturalmente que, além da produção de alimentos, a Floresta Amazônica poderá ser também enriquecida com plantas produtoras de óleos energéticos, a exemplo do baba-çu, produtoras de látex para a produção de borracha, árvores produtoras de ma-deira nobre para a indústria, mediante manejo sustentado que assegure as

funções ambientais da floresta natural.O mesmo raciocínio vale para a Mata

Atlântica, sem que se esqueça da possi-bilidade e da conveniência de ser incen-tivada a apicultura e o turismo ecológico em todas as florestas do Brasil. O poten-cial da Floresta Amazônica com vistas à produção de alimentos e outros itens como fonte de abastecimentos e renda para os “povos da floresta”, inclusive os indígenas, é assunto que deve estar en-tre os projetos prioritários da Embrapa.

A Região Semiárida: São cerca de 80 milhões de hectares onde ocorre a média de 300mm de chuva por ano, mal distri-buída, e onde se encontram os maiores bolsões de miséria no Brasil. Todavia, o potencial da região para a produção de carne de ruminantes (bovinos, caprinos e ovinos deslanados) é um dos maiores do mundo. Na Austrália, com 100mm de chuva, se encontra avançada pecuária. Portanto, parece que há, no nordeste brasileiro, condições semelhantes às da Austrália – talvez até melhores – para a produção de carne. Em primeiro lugar, é possível uma convivência com a seca no nordeste brasileiro mediante o uso de cisternas, barreiros, açudes, plantas de dry farming e sistemas de irrigação com baixo consumo de água, a exemplo de gotejamento, xique-xique e vasos po-rosos. Mas o grande potencial está no florestamento com plantas resistentes à seca e produtoras de alimentos para ruminantes.

Um exemplo comprovadamente eficaz é a leguminosa algaroba. Produz vagem rica em proteína, e suas folhas, também nutritivas, são avidamente procuradas pelos ruminantes. Quando se raleia a floresta de algaroba, o solo está propício para receber a semeadura de gramíneas e leguminosas que vice-jam com sucesso, a exemplo de leuce-na, panasco, pasto-bufel e sabiá, todas excelentes forrageiras. Tentativas de expandir o plantio da algaroba esbar-ram num problema: é preciso cercar o bode, o jegue e o boi, ou a plantação. Do contrário, a criação não deixa a árvo-re crescer, devorando-a mal surgem as primeiras folhas.

Quanto ao uso da água, eis mais um desafio para a Embrapa: descobrir um método tecnicamente possível e eco-nomicamente viável para a infiltração

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e a evaporação da água das chuvas nos barreiros, pequenos e médios açudes, para reter o líquido necessário ao abas-tecimento das propriedades rurais para o consumo humano, das criações e irri-gação das lavouras, principalmente de frutas e hortaliças.

Região do cerrado: São 200 milhões de hectares, uma das maiores áreas po-tenciais do mundo para a produção de grãos e atividades florestais mediante a silvicultura. É também no Cerrado que o Brasil pode prover a demanda interna de trigo e até vir a exportar o cereal. A região apresenta dois períodos de clima bem diferenciados e na época seca tor-na-se ideal para a lavoura de trigo irri-gado. O trigo é uma planta muito sensí-vel ao ataque de doenças causadas por agentes etiológicos que multiplicam as infestações nos climas onde é grande a frequência de chuvas e a umidade do ar.

A Embrapa já tem cultivares que apresentam produtividade muito aci-ma da obtida com as plantadas no sul do Brasil, onde a ocorrência de doenças obriga o uso de doses de agrotóxicos muitas vezes superiores às exigidas nas lavouras do Cerrado durante a época seca, quando é baixa a umidade do ar. A silvicultura no Cerrado deverá exercer papel importante na produção de bio-massa para fins energéticos.

Região do Pantanal: Trata-se de um ecossistema de grande sensibilidade que exerce importante função na quali-dade do clima e da biodiversidade regio-nal, especialmente na piscicultura, que pode e deve ser praticada nas reservas de água doce existentes. A exemplo da Floresta Amazônica, o Pantanal brasilei-ro também pode e deve ser explorado com o mínimo de intervenção e altera-ção de suas características ambientais.

Como região produtora de proteína animal, a expansão da bubalinocultura seria indicada nas áreas mais alagadiças, onde o búfalo encontra melhores con-dições de vida do que os bovinos. São pouco mais de 15 milhões de hectares com expressiva possibilidade de expan-são do setor agropecuário e pesqueiro com um mínimo de dano ambiental. O Pantanal soma-se às áreas descritas anteriormente para aumentar a possibi-lidade do Brasil de ultrapassar o incre-mento de 10% na ocupação de novas

áreas para a produção de alimentos. áreas restantes no oeste, centro-

Sul e Litoral: A área ocupada com cul-tivos e criações no Brasil coresponde a mais ou menos 9% do total da terra brasileira. As estatísticas informam ficar entre 70 e 80 milhões de hectares, de um total aproximado de 851,5 milhões de hectares. É também nesse espaço que se concentram mais de 95% da pro-dução agropecuária do País, demons-trando claramente ser possível a incor-poração de expressiva quantidade de novas áreas para a produção de alimen-tos sem causar desequilíbrio ambiental, desde que a ocupação seja efetuada com métodos ecologicamente corretos. Entretanto, é precisamente nessa área, na qual se concentra a produção agro-pecuária brasileira, que se encontram mais de 50 milhões de hectares degra-dados que precisam ser revitalizados, principalmente quanto aos teores de matéria orgânica.

Santa Catarina e a segurança alimentar mundial

Uma visão prospectiva sobre a segu-rança alimentar mundial relativa ao ano de 2050 indica haver boas oportunida-des para o crescimento do agronegócio catarinense. A estrutura fundiária, a to-pografia, os solos, as águas, o clima e o predomínio da produção familiar suge-rem que sejam destinados cerca de 60% do território estadual para as atividades florestais, 30% para a agropecuária e o restante para a manutenção do ambien-te natural, das encostas de morros, dos mangues, das dunas, etc. Acrescente-se o potencial para o aumento da produ-ção de frutos do mar e da água doce de rios, represas e açudes.

Importa que a produção se concen-tre em itens de grande densidade eco-nômica, a exemplo da avicultura, da suinocultura, da ovinocultura, do gado leiteiro, da fruticultura e da horticultu-ra. Sobretudo, que os excedentes expor-tados contenham o máximo possível de valor agregado mediante industrializa-ção e comercialização esperadas.

Não se devem exportar ossos para que o cálcio e o fósforo neles existen-

tes voltem às rações balanceadas e aos solos. A produção de cereais deverá ser concentrada no milho e na soja visando à autossuficiência dos principais com-ponentes da alimentação animal, bem como a do arroz irrigado para o consu-mo humano. Reafirma-se que as insti-tuições de ensino, pesquisa e extensão, públicas e particulares, e especialmente as cooperativas agropecuárias e as de defesa sanitária, deverão exercer papel preponderante e indispensável no futu-ro, como está acontecendo no presen-te, porém com o necessário aperfeiço-amento.

Uma prospectiva inquietante

É prevista, ainda para este século, a exaustão de grande parte das jazidas naturais atualmente exploradas para a obtenção de petróleo, fósforo, potássio e outros fatores de produção não reno-váveis, porém essenciais aos processos de obtenção de alimentos que vêm sen-do adotados por quase a totalidade dos produtores. É certo que virão, a prazo relativamente curto, expansões e inova-ções nos métodos e meios de produção de alimentos, a exemplo da hidroponia, da agricultura urbana, da orgânica, da maricultura, da agricultura em água doce.

Todavia, persistirá a necessidade de energia e da maioria de fatores indis-pensáveis que se tornarão escassos, ou de custos cada vez mais elevados para sua obtenção. A perspectiva de cresci-mento progressivo no custo dos alimen-tos com reflexos significativos na segu-rança alimentar permanece.

Mas a maioria de todas as inquieta-ções é, conforme pensam alguns demó-grafos da FAO, o crescimento demográ-fico mundial, principalmente nos países onde se encontram os maiores contin-gentes de pessoas em estado de pobre-za, miséria e baixo nível cultural. Se não houver uma mudança radical quanto ao crescimento populacional da espécie humana, a perspectiva de se chegar a um vida aprazível para todos, com sus-tentabilidade e de longo prazo, é nula.

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Ele não sai do lugar, mas faz a tem-peratura subir bastante. O fogão-foguete, um fogão a lenha com-

pacto e altamente eficiente, foi acopla-do a um trocador de calor para aquecer a água usada nas salas de ordenha e vi-rou a grande novidade entre produtores de leite do Planalto Norte Catarinense. A invenção é do eletricista aposentado José Alcino Alano, que, com algumas al-terações nesse modelo de fogão (rocket stove, uma tecnologia já existente), en-controu uma forma de reduzir o consu-mo de energia elétrica nas propriedades rurais, onde o gasto com aquecimento da água para higienizar os equipamen-tos é muito alto.

José Alcino já tinha criado um siste-ma que aquece a água usada no chuvei-ro e nas torneiras aproveitando parte

Um foguete na sala de ordenhado calor desperdiçado pela chaminé do fogão a lenha (esse sistema foi assun-to da Vida Rural da RAC de novembro de 2014). O uso do fogão-foguete, con-ta ele, foi um aperfeiçoamento dessa ideia. “Em razão da necessidade de se aquecer um volume em torno de 50 li-tros de água ou mais com temperatura próxima dos 80°C, acoplei um novo tipo de trocador de calor a um fogão-fogue-te, devidamente dimensionado para as regiões frias, para atender a demanda necessária”, explica.

Economia de lenha

A grande diferença desse tipo de fo-gão para um convencional é que a câ-mara de queima da lenha fica na ver-tical. Dessa forma, os gases liberados

pela madeira têm mais tempo para ser queimados, o que provoca uma econo-mia de até 40% de lenha em relação a um fogão comum, e praticamente não há emissão de fumaça. Outra vantagem é que o fogão usa apenas gravetos ou pedaços de lenha fina.

O fogão-foguete é fabricado em ferro fundido e, acima dele, é instalado o tro-cador de calor, que fica ligado a um boi-ler. Dentro do trocador, há uma serpen-tina em espiral por onde a água circula de maneira espontânea por convecção térmica quando entra em contato com o calor que sobe do fogão. Por diferença de densidade, a água fria desce para a serpentina, se aquece e sobe para o boi-ler. “Havendo fogo, a água circulará no sistema até todo o volume armazenado ser aquecido”, explica o eletricista.

O fogão-foguete acoplado a um trocador de calor é capaz de aquecer 1,5L de água por minuto

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Em uma demonstração feita aos produtores de leite do Planalto Norte Catarinense, apenas 15 segundos de-pois que o fogo foi aceso, a água já esta-va retornando ao boiler a uma tempera-tura entre 80°C e 90°C, com fluxo médio de 1,5 litro por minuto. O tempo que o equipamento leva para aquecer toda a água depende do tamanho dele. “A temperatura está dentro da exigida pela Vigilância Sanitária, sem gasto de ener-gia elétrica nem risco de acidentes com os ebulidores elétricos portáteis”, desta-ca José Alcino.

O sistema pode ser ainda mais sus-tentável, pois também foi projetado para funcionar com biogás. Basta que se acople ao trocador de calor o quei-mador apropriado para esse tipo de gás. Dessa forma, o produtor pode aquecer a água usando o metano produzido a partir dos dejetos dos animais em um biodigestor instalado na propriedade.

Sem eletricidade

Inicialmente, dois protótipos foram instalados em propriedades rurais dos municípios de Três Barras e Bela Vis-ta do Toldo. Nessa região fria, o gasto de energia elétrica para lavar os equi-

pamentos de ordenha e tanques de resfriamento de leite é bastante ele-vado nas propriedades. Os produtores geralmente usam ebulidores elétricos portáteis, também conhecidos como rabo-quente, que representam consu-mo médio de 200kW por mês, ou apro-ximadamente R$100 a mais na conta de luz. “Como na região temos em torno de 2 mil propriedades, é possível calcu-lar a economia que as famílias podem alcançar”, ressalta o extensionista Wal-demiro Sudoski, engenheiro-agrônomo responsável pelo programa de pecuária da Epagri na região.

O extensionista destaca, ainda, que as comunidades rurais do Planalto Nor-te têm sofrido com constantes quedas e interrupções no fornecimento da ener-gia elétrica, principalmente nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, quan-do é realizada a secagem do tabaco. “Outro fator é a coincidência do horário de pico de maior consumo, entre as 18 e as 20 horas, com a ordenha da tarde e o aquecimento da água. O sistema do fogão-foguete colabora com a retirada do uso da energia elétrica nesse horá-rio”, diz Waldemiro. Além da economia, a sala de ordenha fica aquecida para trabalhar com mais conforto.

Economia

As famílias que instalaram o siste-ma, incluindo trocador de calor, boiler, fogão-foguete, estrutura metálica para fixação do boiler, tubulações e tornei-ras investiram cerca de R$3 mil. Consi-derando uma economia média de R$1,2 mil por ano na conta de luz, o equipa-mento logo se paga. Outra vantagem é o fato de ter água na temperatura exigida pela legislação para limpar os equipa-mentos. “Para economizar energia elé-trica, alguns produtores não aquecem na temperatura recomendada”, diz Wal-demiro.

O sistema foi patenteado pelo in-ventor José Alcino Alano. Em breve, o fogão-foguete para salas de ordenha começará a ser fabricado no município de Tubarão e comercializado para famí-lias de todas as regiões, com prioridade para Santa Catarina. No Planalto Norte, onde a ideia se concretizou, já há uma lista de interessados. Mais informações sobre o equipamento podem ser obti-das pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (48) 3622-2116.

A câmara de queima da lenha na vertical permite economizar até 40% de lenha em relação a um fogão comum

A invenção é uma alternativa para higienizar os equipamentos de ordenha sem usar energia elétrica

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Queijo com história e identidade

Na trajetória secular do queijo artesanal serrano, um novo capítulo está em construção. O produto está no caminho para obter a

Indicação Geográfica e o registro como patrimônio cultural do Brasil, que o elevarão a um novo patamar

Cinthia Andruchak Freitas – [email protected]

REPORTAGEM

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Ele já viajou no lombo de mulas, alimentou tropeiros, foi moeda de troca e faz parte da tradição,

da alimentação e da renda das famílias da Serra Catarinense e dos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul há mais de dois séculos. O queijo artesanal serrano revela na textura, no aroma e no sabor que é muito mais do que um produto – é um pedaço da história que reúne características únicas, como o “saber-fazer” que cruzou o Atlântico com os portugueses, o clima frio dos campos de araucárias e o leite das vacas de corte alimentadas com pastagem nativa. Graças a um projeto iniciado há cinco anos, em um futuro próximo ele passará por um upgrade em termos de reconhecimento, legalização e mercado, mas sem perder sua essência.

Essa história começou a ser escrita por volta de 1730, quando foi aberto o Caminho dos Conventos. O trajeto que ligava o Cone Sul da América à Província de São Paulo ficou conhecido, mais tarde, como Caminho das Tropas. É nesse período que se inicia o ciclo do tropeirismo, e a Serra Catarinense e os Campos de Cima da Serra tornam-se local de pouso. Ao mesmo tempo, famílias de açorianos chegam para se instalar na região.

Ulisses Córdova, pesquisador da Epagri/Estação Experimental de Lages, conta que a fabricação do queijo artesanal serrano provavelmente iniciou nessa época, junto com o surgimento das primeiras propriedades rurais na área. Açorianos e tropeiros paulistas de origem portuguesa aproveitaram a presença de rebanhos bovinos chucros e grandes áreas de pastagens naturais para se tornar fazendeiros. “Tanto os tropeiros quanto os açorianos já tinham conhecimento da fabricação de queijo, pois há relatos de que desde a Idade Média já se produzia o queijo da Serra da Estrela em Portugal. Além disso, em algumas ilhas do Arquipélago dos Açores ainda são produzidos queijos muito semelhantes”, conta.

O alimento era consumido pelas famílias serranas e também dava energia para os tropeiros suportarem as longas viagens. Nas bruacas carregadas por mulas, descia a serra para ser trocado por mercadorias, como açúcar,

farinha, café, sal e cachaça no litoral.Os anos passaram, mas o queijo

não perdeu a identidade. “O saber é repassado de geração a geração, e a receita segue praticamente inalterada e influenciada sempre pelo ambiente, a alimentação do gado e o trabalho do manipulador”, diz Andréia Meira, extensionista social da Epagri. Preservado como uma herança de família, o alimento é produzido até hoje nas propriedades rurais da região.

Receita secular

Os segredos da fabricação começam bem antes de o leite chegar à queijaria. Fugindo da regra de usar raças leiteiras, o queijo serrano é produzido com leite de vacas de corte ou mestiças. Elas se alimentam basicamente de pastagens, incluindo as naturais, as melhoradas e as cultivadas – estas últimas principalmente no inverno. A ordenha, manual ou mecânica, é feita só de manhã. E os terneiros, que mamam até completar sete a dez meses, ficam com as vacas durante o dia e são apartados no fim da tarde.

O queijo é feito apenas com leite cru integral, coalho e sal. Uma das poucas alterações que a receita sofreu em todos esses anos foi a substituição do coalho animal pelo coalho industrial para coagular a massa. “Outras modificações estão relacionadas à adequação de utensílios à legislação sanitária, visto que, no Brasil, a legislação não permitia

o uso de utensílios de madeira”, explica Arlete Aguiar Pucci, extensionista social da Epagri. O período de maturação, que durava até seis meses para que o queijo se conservasse por mais tempo, agora é de aproximadamente 15 dias.

O trabalho artesanal e a produção em pequena escala dão um toque particular a cada etapa da fabricação. “O mesmo queijo que meu avô e meu pai faziam em formas de madeira, hoje eu faço em formas de inox. Fora isso, o modo de fazer é igual: o mesmo jeito de coagular, colocar sal, curar, etc.”, conta Francisco Fernando Furtado, que vive na comunidade de Pedras Brancas, em Lages, SC.

A rotina de Francisco começa às 5h da manhã na ordenha das vacas. Em seguida, ele chega à queijaria construída na propriedade e fabrica cerca de 5 quilos de queijo por dia. Esse costume, que já se transformou em paixão, se repete inclusive nos fins de semana e feriados. “Eu gosto do que faço. Posso ganhar milhões na loteria, mas nunca vou deixar de fazer o meu queijo”, revela.

Terroir

Mas não basta seguir a receita. Para ser queijo artesanal serrano, ele precisa ser produzido na região à qual pertence. Isso porque, além dos fatores culturais, humanos e históricos envolvidos, o clima, o solo, a altitude e a vegetação também contribuem para formar a

Resquícios do Caminho das Tropas ainda podem ser encontrados na região

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identidade do produto. A região produtora abrange 18

municípios de Santa Catarina e 11 do Rio Grande do Sul. A altitude média nessa porção dos dois estados fica entre 900 e 1.200m e a paisagem típica mescla campos naturais e mata de araucária. O povo serrano vive no frio – a temperatura média anual varia de 11,3°C a 15,8°C – e se habituou às geadas e até à neve forte. “Essas características tornam a região serrana de Santa Catarina e os Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul ambientes singulares para a fabricação do queijo. Ele é um produto típico de terroir, ou seja, suas características particulares são determinadas por influências do ambiente e também do ser humano”, aponta Ulisses.

Dinheiro amarelo

Vendido nas propriedades rurais e no comércio da região, o queijo serrano movimenta a economia local e é a principal fonte de renda para muitas famílias. A Epagri estima que existam, na Serra Catarinense, aproximadamente 2 mil produtores que comercializam 1,6 mil toneladas por ano, somando um faturamento bruto de cerca de R$21 milhões. “A renda média familiar gerada pelo queijo é superior a R$10

mil por ano”, revela Ulisses Córdova. No Rio Grande do Sul, são mais 1,5 mil produtores e 800 toneladas anuais, com faturamento de R$10 milhões.

Na propriedade de José Lourenço e Salete Aparecida Machado, em Capão Alto, SC, o queijo serrano coloca dinheiro em casa desde que eles se casaram, há mais de 40 anos. “Desde criança a gente via nossos pais e avós fazerem o queijo. Minha esposa, quando tinha seis anos, ganhou um minichincho para prensar o queijinho dela”, conta José, de 67 anos.

O casal, que tem ascendência açoriana e italiana, vive em uma propriedade de 100ha onde cria 30 cabeças de gado para produzir leite e 35 destinadas para corte. Diariamente, José e Salete tiram 280 litros de leite e produzem 35kg de queijo, que são vendidos em uma barraca na BR-116 e em estabelecimentos comerciais de Lages. Cada quilo rende R$16 no varejo e R$13 no atacado.

Nem lei, nem reconhecimento

Apesar de representar uma fatia importante do que entra no bolso das famílias, o queijo é produzido e comercializado na informalidade na maioria dos casos. “Por ser um produto feito a partir do leite cru e

com maturação de menos de 60 dias, ele estava à margem da legislação, existindo de fato, mas não de direito. A produção artesanal estava submetida às mesmas exigências da fabricação industrial de grande porte, o que tornava difícil a adequação de pequenos estabelecimentos”, defende a extensionista Andréia Meira.

Nos últimos anos, porém, um novo capítulo começou a ser escrito nessa história. A Epagri e a Associação Rio-Grandense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), firmaram um convênio em 2009 para legalizar, caracterizar, diferenciar e certificar a produção do queijo artesanal serrano. O projeto é formado por uma rede de parcerias com entidades, poder público, sociedade civil e produtores.

O objetivo é obter a Indicação Geográfica (IG) e o registro do produto no Livro dos Saberes do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio cultural de natureza imaterial do Brasil. “Esse reconhecimento contribuirá para que se tenha uma legislação própria para o produto, permitindo que as famílias venham a legitimar a comercialização e possam contribuir ainda mais para o desenvolvimento regional”, ressalta

O queijo serrano é produzido com leite de vacas de corte ou mestiças alimentadas com pasto

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o pesquisador Ulisses, que também é coordenador do projeto.

Os participantes do convênio já cumpriram uma série de etapas. Uma pesquisa de campo com centenas de produtores resgatou a história do queijo, que foi publicada em livro. Também foram concluídas a delimitação da região produtora e a descrição do sistema e do processo de fabricação. Técnicos municipais e produtores foram qualificados, e a equipe organizou eventos na área e participou de vários outros.

Análises laboratoriais realizadas em parceria com a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) em vários períodos de maturação (14 a 63

dias) permitiram fazer a caracterização química, física e microbiológica do queijo. Esses estudos serviram de base para os cursos de Boas Práticas de Fabricação e Boas Práticas Agropecuárias, que são oferecidos aos produtores.

União e legalização

Outro braço importante do trabalho é a organização da cadeia produtiva. Em Santa Catarina, 960 produtores já foram cadastrados no projeto, e esse processo continua. Em abril de 2013, foi fundada a Associação de Produtores de Queijo Artesanal Serrano da Serra Catarinense (Aproserra), que já conta

com 80 famílias associadas. “Nosso objetivo é unir forças. Queremos tirar os produtores da informalidade e agregar valor ao produto. No futuro, vamos criar uma cooperativa”, diz Luís Carlos Córdova, presidente da associação.

O líder local dos produtores, que mora na comunidade de Santa Catarina, no interior de Lages, é neto de tropeiro. Tomando chimarrão à beira do fogão a lenha, ele conta que o avô paterno, Cecílio Antunes Macedo, construiu um grande patrimônio conduzindo tropas de bois para o abate e de mulas que transportavam mantimentos entre Lages, na serra, e São José, no litoral catarinense. “Ele morava ali embaixo”, diz, apontando para outra casa, através da janela.

Luís mantém a tradição familiar há 22 anos. Hoje fabrica 15kg de queijo por dia e vende tudo para os supermercados de Lages uma vez por semana. Ele é um dos poucos produtores do município que têm o selo do Serviço de Inspeção Municipal (SIM).

O SIM é obrigatório para comercializar o produto no muni-cípio. Por isso, o projeto agora se concentra na legalização sanitária das propriedades. Com esse objetivo, já estão em andamento dois projetos estruturantes pelo Programa SC Rural, da Epagri, no valor de R$1,2 milhão, para apoiar a construção e a adequação de 34 queijarias e melhorar o sistema produtivo de diversas famílias em 14 municípios catarinenses.

Outro avanço importante para a legalização dos produtores ocorreu no ano passado, quando o Consórcio Intermunicipal de Saneamento Básico, Meio Ambiente, Atenção à Sanidade dos Produtos de Origem Agropecuária e Segurança Alimentar (Cisama) publicou o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Queijo Artesanal Serrano. “É o primeiro documento que identifica esse produto, descreve seu modo de produção, caracteriza o ambiente e regulamenta as estruturas necessárias, desde a sanidade do rebanho e o processamento até a comercialização”, resume Andréia Meira. Ele serve de guia para os produtores se adequarem ao SIM. O passo seguinte é trabalhar para obter o selo do Sistema Brasileiro de

Francisco Fernando Furtado, de Lages, preserva a tradição que veio dos avós

O clima, o solo, a altitude e a vegetação são determinantes nas características do produto

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Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI-POA), que permitirá vender o queijo em todo o País.

No caminho do registro

O dossiê solicitando o registro do queijo no Iphan já foi entregue e agora depende de pesquisa de campo e outros levantamentos realizados pelo instituto, que podem levar até cinco anos. No caso da Indicação Geográfica, a meta é depositar o processo completo no Instituto Nacional da Propriedade

Industrial (INPI) até agosto. Ulisses explica que o selo da IG

assegura a qualidade e as características regionais do produto e dá ao consumidor a certeza de adquirir uma mercadoria com identidade regional, livre de fraudes. “A IG na modalidade Denominação de Origem traz o nome geográfico registrado junto ao INPI, que se torna o elemento distintivo, de poder legal, do queijo artesanal serrano”, destaca.

As consequências dessa conquista, no futuro, poderão impulsionar o

Sabor que vem da serra

Textura amanteigada e aroma e sabor que se acentuam com a ma-turação são algumas características que diferenciam o queijo artesanal serrano dos demais queijos arte-sanais brasileiros. “Ele possui um sabor característico, podendo ser ligeiramente ácido, picante, salga-do, de acordo com o conteúdo de cloreto de sódio e a umidade, e realçado pelo grau de maturação”, detalha a extensionista Andréia Meira, da Epagri. Ela acrescenta que, embora possa ser identificado pelo sabor particular, o queijo ser-rano não é um alimento padroniza-do por conta das interferências do ambiente e dos fatores humanos.

Conheça as principais etapas do modo de fazer que vem sendo transmitido através de gerações por mais de 200 anos:

- Filtragem: passagem do leite por um filtro para reter as impure-zas;

- Coagulação: solidificação do leite para formar a coalhada, com a adição de coalho;

- Corte da coalhada: divisão da coalhada com auxílio de um instru-mento cortante;

- Adição de água quente: serve para aquecer a massa (especifica-mente no inverno) e deixar o quei-jo mais suave;

- Salga: adição de sal, realizada junto com a filtragem do leite ou diretamente na massa, com as fun-ções de dar sabor e conservar;

- Dessoragem: retirada do soro (líquido) com pressão manual so-bre a massa;

- Enformagem: moldagem da massa com auxílio de forma forra-da com tecido sintético;

- Prensagem: é a primeira reti-rada do excesso de soro, depois se prensa mais com duas a três vira-gens ao dia;

- Cura: é feita em temperatura ambiente sobre prateleiras de ma-deira de araucária aplainada sem pintura, fórmica, PVC ou inox. O período de maturação dura de 10 a 15 dias.

Em Capão Alto, José Lourenço Machado produz 35kg de queijo por dia

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desenvolvimento da região, com reflexos no comércio e até no turismo. As famílias rurais, vendo seu trabalho e sua cultura ser reconhecidos, terão bons motivos para permanecer na propriedade e melhorar a renda com uma atividade que faz parte de sua história. No mercado, os produtos devem se valorizar e abrir novas portas. “A exemplo de outras regiões que já alcançaram esse reconhecimento, a expectativa é que o valor de venda do queijo artesanal serrano, que hoje está entre R$15 e R$18, pelo menos

duplique”, prevê a extensionista Arlete Pucci.

Gosto de infância

Para a produtora rural Hilda de Oliveira Correia, o sabor do queijo serrano a faz lembrar dos tempos de criança, da avó e da mãe. Aos 48 anos, é ela quem mantém viva a tradição da família. “Quando eu era mocinha, morria de dó da mãe porque ela vivia em cima das panelas de queijo. Eu dizia que não queria fazer isso quando crescesse,

mas hoje, entre cinco irmãos, só eu faço o queijo. Eu tenho a mão abençoada da minha mãe, que já faleceu. Foi uma herança que ela me deixou”, conta.

Quando Hilda era criança, o queijo era fabricado para consumo da família. “A gente comia com polenta ou fazia fortaia com ovo e salame”, lembra. Aos 16 anos ela aprendeu a receita que a avó ensinou à mãe; e anos depois, já casada, começou a produzir o queijo artesanal serrano com frequência.

Hoje ela mora com o marido e um dos filhos na comunidade de Santo Antônio dos Pinhos, em São José do Cerrito, na Serra Catarinense. O queijo é a principal fonte de renda na propriedade de 27ha. Em pastagens de campo nativo, 18 vacas crioulas são criadas e oito delas estão em lactação. A família tira cerca de 80 litros de leite e produz 8 quilos de queijo por dia. Toda a produção é vendida na propriedade.

A família está trabalhando para legalizar a atividade e poder vender o produto no comércio da região. Já fez cursos de Boas Práticas de Fabricação e Boas Práticas Agropecuárias, submeteu o leite e o queijo a análises laboratoriais e está iniciando a construção de uma pequena queijaria dentro da propriedade com apoio do Projeto Estruturante do Programa SC Rural.

Enquanto isso, o queijo serrano de Hilda vai acumulando prêmios em concursos. Em um evento em São Paulo, ficou na categoria bronze. E em Muitos Capões, no Rio Grande do Sul, conquistou o segundo lugar entre 47 concorrentes. Esse reconhecimento certamente deixaria a mãe dela orgulhosa. “No prêmio que ganhei no Rio Grande do Sul, senti que ela estava comigo. Manter essa tradição significa bastante para mim. E ver esse “saber-fazer” ser reconhecido é mais gratificante ainda.”

No que depender de Sofia, a neta de 4 anos que está sempre acompanhando a fabricação do queijo, a tradição não vai acabar com Hilda. “Esses dias eu perguntei: quem será minha sucessora pra fazer o queijo? E ela respondeu: eu!”, diz a avó, orgulhosa. Com o reconhecimento nacional do produto, certamente Sofia terá o futuro garantido.

Neto de tropeiro, Luís Carlos Córdova preside a Associação de Produtores de Queijo Artesanal Serrano da Serra Catarinense

O queijo de Hilda de Oliveira Correia (à esquerda) ganhou o segundo lugar em um concurso em Muitos Capões, RS

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Desde o início da década de 1990, quando o alho chinês desem-barcou no Brasil, os produtores

catarinenses vêm perdendo espaço no mercado nacional. A área plantada no País, na época, somava 18 mil hectares e Santa Catarina era o principal produ-tor, com 4,4 mil hectares cultivados. No último ano agrícola (2014/15), os cata-rinenses plantaram menos da metade disso: 2.150 hectares, de acordo com dados preliminares do IBGE.

Hoje os brasileiros dão sabor a seus pratos, principalmente, com alho da China e da Argentina, que responde por 67% do abastecimento nacional. Com alto custo de produção e colheitas menores, muitos agricultores abando-naram a atividade por não conseguir competir com o produto importado. O principal vilão dessa história é um com-

Sem vírus, mais vigorTecnologia que livrou o alho de um complexo de vírus

é o tempero que faltava para ampliar a produçãoe devolver competitividade aos agricultores

Cinthia Andruchak Freitas – [email protected]

plexo de vírus que contamina a semen-te e derruba o rendimento das lavouras. Pesquisadores afirmam que pratica-mente toda a semente do alho produzi-do no Brasil foi infectada por esse com-plexo viral, em menor ou maior grau, ainda nos primeiros cultivos realizados por aqui.

A contaminação é provocada pela ação de insetos vetores, como pulgões, ácaros e trips, durante o desenvolvi-mento das plantas na lavoura. “O alho é uma espécie de propagação vegeta-tiva, ou seja, a semente utilizada para plantio das lavouras é o próprio bulbi-lho – dente do alho – que é colhido e armazenado para uso no ciclo seguinte. Uma única vez que a planta é infectada no campo, esses vírus se perpetuam nas sementes ao longo dos ciclos, impedin-do que a planta expresse seu verdadei-

ro potencial produtivo”, explica Renato Vieira, pesquisador da Epagri/Estação Experimental de Caçador.

As três principais espécies desse complexo são onion yellow dwarf virus (OYDV-G), leek yellow stripe virus (LYSV) e garlic common latent virus (GCLV). O pesquisador explica que, por se tratar de viroses latentes, as plantas quase não apresentam sintomas de doenças. “Quando são visíveis, aparecem em forma de mosaicos e estrias amarela-das nas folhas que, por consequência, causam diminuição na produtividade de bulbos.” O tamanho da perda varia de acordo com o cultivar e também com a quantidade de vírus presente na semen-te.

Em 2004, a Epagri iniciou uma pes-quisa para livrar o alho brasileiro des-sas doenças e devolver à cultura seu

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real potencial de produção. A ação foi coordenada pela Estação Experimental de Caçador e envolveu também as esta-ções experimentais de Lages e Itajaí e a Gerência Regional de Curitibanos.

Desinfecção

O processo de limpeza inicia com a seleção dos melhores bulbos em cam-po. No laboratório, os bulbilhos são separados e tratados pelo processo de termoterapia. Eles ficam em uma estufa à temperatura de 38°C durante 30 dias para paralisar a multiplicação de vírus. A etapa seguinte é a cultura de meris-temas. Nela, os pesquisadores retiram porções de células isentas de vírus localizadas no meristema, um tecido embrionário localizado na base do bul-bilho, próximo à região onde são emiti-das as raízes. “O tecido meristemático é formado por células não diferenciadas. Nesses tecidos ainda não existem vasos por onde se movimentam os vírus na planta”, explica Renato Vieira.

Depois de isoladas, as células do me-ristema são cultivadas in vitro por cerca de 90 dias até formar pequenos bulbos. Esse cultivo tem duas fases: a primeira, para a formação da parte aérea da plan-ta, dura cerca de 30 dias. A segunda, para a formação do bulbo, leva mais 60

dias. “Em cada fase são utilizados dife-rentes hormônios de crescimento”, diz o pesquisador. O bulbos são, então, plan-tados em ambientes telados, protegidos de insetos vetores de vírus, para que se multipliquem e formem bulbos maio-res. A última etapa é a multiplicação em grande escala, já em campo. O processo completo para obter sementes livres de vírus leva três anos: um em laboratório, um em ambiente telado e um no cam-po. As variedades que foram limpas de vírus são Ito, Caçador e Quitéria.

Para testar a superioridade das se-mentes sadias em relação às usadas pelos agricultores, em 2009 os pesqui-sadores da Epagri montaram uma série de unidades de observação nos muni-cípios de Curitibanos e Frei Rogério, no Planalto Catarinense. No ano seguinte, foram instaladas seis lavouras demons-trativas para apresentar as vantagens da tecnologia.

A Epagri também firmou parceria com o produtor Wolni Maciel, de Frai-burgo, para multiplicar os bulbos bási-cos produzidos em laboratório e forne-cer as sementes livres de vírus para os agricultores. Os primeiros lotes foram vendidos em 2011. Desde aquela épo-ca, todos os anos, a Empresa realiza dias de campo na propriedade do agricultor parceiro para divulgar a tecnologia.

Bulbos grandes

Com sementes saudáveis, a dife-rença é facilmente visível ao longo do desenvolvimento da planta, que tem mais vigor, e principalmente na hora de colher. A produtividade do alho livre de vírus é 30% a 40% maior que a das se-mentes contaminadas, dependendo do cultivar. “Passamos de uma média de 12t/ha para 15t/ha nas melhores lavou-ras. Em alguns lotes, conseguem-se até 18t/ha”, destaca Marco Lucini, extensio-

Uma das fases da limpeza de vírus é o cultivo de bulbos em laboratório

Em ambientes protegidos, os bulbos são multiplicados

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nista da Epagri na Gerência Regional de Curitibanos.

A produção não aumentou apenas em quantidade. Os agricultores estão colhendo bulbos mais graúdos e unifor-mes, que podem ser vendidos por um preço mais alto. “O custo de produção aumenta cerca de 20% apenas no pri-meiro ano, já que as sementes são um pouco mais caras que as convencionais. Entretanto, esse custo é diluído em função dos ganhos com o aumento da produção de bulbos na lavoura”, explica Renato Vieira.

Os tratamentos fitossanitários são iguais aos de uma lavoura convencional, mas é preciso tomar cuidado para evitar a contaminação das plantas. As princi-pais medidas são fazer o controle de in-setos vetores das viroses e multiplicar o material livre de vírus longe de lavouras infectadas.

Enquanto a produtividade se man-tém alta, o agricultor pode produzir as próprias sementes para a safra seguin-te. Mas quando o resultado da colheita começa a cair, significa que o complexo viral atingiu níveis que comprometem o rendimento da lavoura e é preciso com-prar novas sementes. De acordo com os especialistas, se as plantações forem

conduzidas conforme essas recomenda-ções, as sementes podem ser substituí-das a cada quatro safras.

Resultados na prática

Graças a esse trabalho, os agriculto-res têm nas mãos a chave para reabrir portas no mercado e adicionar o sabor do alho nacional à alimentação de mais

brasileiros. Em cinco anos de produção de sementes descontaminadas, já fo-ram fornecidas cerca de 250 toneladas para produtores de todo o Brasil. Em Santa Catarina, são aproximadamente mil hectares de lavouras de alho com sementes livres de vírus. “Praticamen-te todas as famílias produtoras de San-ta Catarina já têm uma área com alho livre de vírus produzido pela Epagri ou por outras empresas. Estimamos que o alho da Epagri esteja presente em 50% dessas propriedades”, destaca o exten-sionista Marco Lucini.

Há 30 anos plantando alho em Frai-burgo, Wolni Maciel, o agricultor par-ceiro da Epagri na multiplicação das sementes, viveu os tempos áureos da cultura no Estado e também sentiu na pele as dificuldades das últimas déca-das. Ele aprendeu os segredos da cul-tura com o pai, Nelson Maciel, um dos pioneiros desse cultivo na região, que, aos 83 anos, faz questão de continuar à atividade.

O pior período para eles chegou com o alho importado, que ganhou o merca-do quando a produtividade na lavoura estava em declínio. “Estávamos redu-zindo a área de plantio e começamos a investir em outras culturas, como soja e feijão”, lembra Wolni.

Mas com a chegada do alho livre de

Colheita 30% a 40% maior dá competitividade dos agricultores

Em Santa Catarina, há mil hectares de lavouras com sementes livres de vírus

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vírus, a fazenda do agricultor, na loca-lidade de Butiá Verde, passou por uma transformação. O rendimento da lavou-ra agora mantém uma média de 15t/ha – 30% maior do que antes. Os bul-bos graúdos e saudáveis são valorizados no mercado e o agricultor ganha 30% a mais por eles na hora da venda. “É um pouco mais caro para produzir, mas os ganhos fazem valer todo o investimen-to”, conta.

Em 2014, Wolni plantou 50 hec-tares de alho onde espera colher 750 toneladas. Em outros 10ha ele colhe, anualmente, cerca de 130 toneladas de sementes livres de vírus, que são ven-didas para outros produtores. “O alho é uma cultura de alto valor agregado. O faturamento é dez vezes maior que o do milho, por exemplo”, analisa o agricul-tor, que agora trabalha para recuperar espaço no mercado. “O alho livre de ví-rus está produzindo mais e a gente está conseguindo competir com o alho chi-nês. Além disso, a qualidade e o sabor do nosso produto são melhores.”

Renda para pequenas e médias propriedades

O alho é colhido em quase todas as regiões brasileiras, especialmente no Centro-Oeste, no Sul e no Sudeste. A área média cultivada nos últimos cinco anos foi de 10,5 mil hectares, enquanto as produtividades médias passaram de 9,91t/ha em 2010 para 10,77t/ha em 2014, de acordo com a Síntese Agro-pecuária Catarinense/2014.

No Sul do País se planta alho nos campos de Curitibanos, em Santa Ca-tarina, e na Serra Gaúcha. “Com uso intensivo de mão de obra, tecnologia e capital, a cultura tem viabilizado a pequena e a média propriedade nessas regiões produtoras, sendo, portanto, de grande importância socioeconômi-ca”, ressalta o pesquisador Renato Vieira.

Nas previsões da safra 2014/15, Santa Catarina aparece no segundo lugar em área plantada, depois do Rio Grande do Sul, e no terceiro em produção, atrás de Goiás e Minas Gerais. O Estado apresentou incremento no plantio, passando de 2.055 hectares em 2013 para 2.155 hectares em 2014. A produ-ção média anual é de 19 mil toneladas.

Nos municípios de Curitibanos, Frei Rogério, Fraiburgo, Lebon Régis, Bru-nópolis, Campos Novos e Caçador, o alho é uma das principais culturas agrí-colas. Com a aquisição das sementes, os agricultores estão melhorando a qualidade de seus produtos. “O alho é uma cultura de inverno/primavera já consolidada na região e viabiliza 750 propriedades”, informa o extensionista Marco Lucini.

O principal centro consumidor e distribuidor da hortaliça no Brasil é São Paulo e é para lá que vai grande parte da produção catarinense. O Estado também vende para estados como Minas Gerais, Rio Janeiro, Bahia e Per-nambuco.

Os agricultores interessados em adquirir sementes livres de vírus devem entrar em contato com a Epagri/Estação Experimental de Caçador pelo tele-fone (49) 3561-2000.

A produção média no Estado é de 19 mil toneladas

Wolni Maciel colhe cerca de 15t/ha: “Estamos conseguindo competir com o alho chinês”

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O sal é um condimento indispen-sável na alimentação e faz par-te da história da humanidade.

Os soldados do império romano eram pagos com sal. Muito cara na época, a iguaria era usada como moeda de tro-ca na compra de outros produtos. Foi daí que surgiu a palavra salário, do la-tim salariu, que significa ração de sal ou soldo. Os romanos o consideravam um alimento divino, pois além de conservar a comida e dar sabor a ela, ele tem pro-priedades cicatrizantes.

Na história recente, o sal vem pas-sando de herói a vilão, graças principal-mente ao cloreto de sódio, que, quan-do ingerido em excesso, pode causar pressão alta, que, por sua vez, acarreta doenças renais, cardíacas e vasculares. Mas mesmo hipertensos devem con-sumir cloreto de sódio, pois ele é um mineral indispensável para o funciona-mento das células.

A ciência vem trabalhando para re-solver essa complicada equação. O sal diet poderia ser uma opção, mas seu menor poder de salgar alimentos leva

Sal verde e mais saudável

Pesquisa da Epagri identificou em Santa Catarina a planta Sarcocornia perennis. Com risco de extinção no Estado, ela produz sal vegetal, que tem

propriedades terapêuticas e contém três vezes menos cloreto de sódio que o sal comum de cozinha

Gisele Dias – [email protected]

pacientes a utilizá-lo em maior quanti-dade em seus pratos, aumentando as-sim o consumo de cloreto de sódio. A Estação Experimental da Epagri em Ita-jaí encontrou uma solução que aponta para um fim nesse dilema: um sal extra-ído de um vegetal. A planta Sarcocor-nia perennis, também conhecida como sal-verde, erva-de-sal ou erva-de-vidro, é a matéria-prima para produção do pri-meiro sal de origem vegetal do Brasil.

Em 2001, durante uma expedição, a planta foi identificada pela primeira vez no litoral catarinense pela bióloga Cecília Cipriano Osaida. Ela e Antônio Amaury Silva Júnior, pesquisador da Es-tação Experimental da Epagri em Itajaí, costumam fazer expedições a campo para levantamento de novas espécies vegetais. Os dois estavam numa dessas missões em uma área de mangue povo-ada por pequenas plantas no município de Palhoça, na região da Grande Floria-nópolis. Naquele ambiente encharcado, uma espécie atraiu a atenção de Cecília por lembrar um cacto. Mas eles sabiam que cacto não tolera umidade. Então, o

que poderia ser aquele curioso vegetal?Foi com essa curiosidade que

Amaury retornou ao laboratório e ini-ciou os testes que identificaram a Sarco-cornia perennis. A espécie revelou uma série de surpresas. Amaury constatou que, graças à evolução biológica, ela é capaz de armazenar cloreto de sódio e outros sais marinhos em seu interior. Ele descobriu também que outras espé-cies de Sarcocornia estudadas na Ásia e na Europa têm sido usadas como fonte de sal em dietas com restrição de sódio.

Foi aí que veio a principal descober-ta: a Sarcocornia perennis produz sal cristalizado com três vezes menos clo-reto de sódio que o sal de cozinha. Ela ainda tem menos sódio que as similares estudadas na Ásia e na Europa. Outra grande vantagem é que, além do sódio, ela tem em sua composição outros sais que também dão sabor ao alimento e não causam mal à saúde. Assim, o con-sumidor não corre o risco de precisar colocar uma quantidade maior de sal vegetal para salgar sua refeição, como ocorre com o sal diet.

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REPORTAGEM

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Propriedades terapêuticas

Segundo Amaury, os estudos já de-senvolvidos com a espécie Sarcocornia encontrada em Santa Catarina demons-tram que a planta tem propriedades antioxidantes e antimicrobianas, além de combater o colesterol elevado. Pode ajudar também no controle de ateros-clerose, doenças renais, distúrbios in-testinais, tuberculose e hepatites. Conta ainda com o ácido tungtungmádico, que previne a formação de tumores.

A Sarcocornnia perennis permite produzir 77% de sal puro cristalizado a partir do seu processamento, na maté-ria seca. Esse sal tem apenas 30% de cloreto de sódio, contra 99% presente no sal comum. Se o processamento da planta for encerrado antes de se obter o sal cristalizado, chega-se a um pó ver-de que também pode ser usado para salgar alimentos. Nesse caso, ele agre-ga vantagens fitoterápicas à refeição, pois contém fitosteróis, que ajudam na produção hormonal e no controle do colesterol; flavonoides, que aumentam o colágeno do corpo, e fenóis, que com-batem os radicais livres. Essa formula-ção da Sarcocornia, apesar de verde, não altera a aparência nem o sabor dos alimentos, garante Amaury.

Agora a pesquisa entra numa nova e importante fase. A equipe de pesquisa-dores do Projeto Sal-Verde irá a campo descobrir os locais de ocorrência da Sar-cocornia no Estado, bem como em que situação se encontram as populações remanescentes. Há uma preocupação com a extinção do vegetal no litoral ca-tarinense. Depois, será desenvolvido, com base em pesquisas agrológicas, um protocolo para o cultivo. Por fim, será escrita uma cartilha didática com todas as informações necessárias para os que desejarem produzir a planta. Amaury calcula que essa etapa do projeto estará concluída até 2017.

Os testes de produção de mudas ini-ciam na Estação Experimental de Itajaí, enquanto os testes no campo ocorrerão no município de Araquari. Em seguida, podem se estender para Tijucas e Ima-ruí, onde há várzeas de camarão aban-donadas. O cultivo em consórcio com o crustáceo é uma boa perspectiva para produtores catarinenses, que há anos vêm enfrentando prejuízos causados pela mancha branca, doença que ataca

camarões. Também será testada a pos-sibilidade de produção hidropônica da Sarcocornia, que permitiria seu cultivo em áreas distantes do litoral.

No Brasil não se produz sal vegetal, e os estudos desenvolvidos com a plan-ta são ainda incipientes. Em nível mun-dial, há registros de cultivos comerciais em Portugal, no México, no Kuwait, na Eritreia e na Arábia Saudita. De acordo com Amaury, na Península Ibérica ela é consumida in natura, como salada, sendo conhecida nesses países como aspargo-do-mar. Numa parceria com a Epagri, a Universidade de Blumenau (FURB) já fez testes para apresentação da planta em conserva, também para acompanhamento de pratos principais. “Caberá ao mercado encontrar novas formas de aproveitar o potencial da Sarcocornia”, pondera o pesquisador da Epagri. Ele cita como algumas possibili-dades o uso em fitocosméticos e suple-mentos alimentares, ou na biorreme-diação, que significa ajudar no combate à contaminação ambiental.

Mundialmente, são encontrados dois modelos tradicionais de cultivo da planta. Um é mais artesanal, apenas com irrigação de água do mar. O outro é feito em maior escala e, além da água do mar, utiliza fertilizantes químicos e mecanização. Experiência interessante acontece na Eritréia, país localizado no nordeste do continente africano, onde o efluente do cultivo de camarões ma-rinhos serve de fertirrigação para o cul-tivo de Sarcocornia e outras plantas de mangue.

Interesse da indústria

Um convênio, firmado em junho de 2014 entre a Epagri e a empresa paulis-ta Dynabras Biossistemas, vai custear a pesquisa para desenvolvimento do pro-tocolo de produção da planta. A empre-sa espera investir R$1 milhão no estudo e pelo menos outros R$2 milhões na qualificação de produtores e na cons-trução de uma unidade fabril de sal ve-getal em Santa Catarina.

A Sarcocornia perennis armazena cloreto de sódio e outros sais marinhos em seu interior

O pó verde obtido com a trituração da planta e o sal cristalizado ao final do processamento

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A Dynabras trabalha com importação e exportação de produtos naturais, sem adição de açúcar ou sal. Desde que souberam das primeiras notícias a respeito da pesquisa desenvolvida pela Epagri, os sócios Abramino Schinazi e Cléo Evangelista perceberam o potencial da planta no mercado nacional. A empresa já realizou pesquisa de mercado e constatou que há espaço para a introdução do sal vegetal no Brasil. Os sócios pretendem produzir, em escala industrial, os dois tipos de sal extraídos da Sarcocornia: o verde e o cristalizado. A intenção é vender os produtos no varejo e também para a indústria alimentícia, alcançando os

mercados nacional e internacional. Na Europa, o sal cristalizado da

Sarcocornia chega a ser comercializado ao preço de oito euros por grama. Mas os sócios da Dynabras já se comprometeram com Amaury a tentar baratear o produto no mercado nacional, de modo que o custo não seja um empecilho para quem precisar usá-lo por recomendação médica. Assim, a Epagri garante o cumprimento do seu papel social, apesar do convênio com o setor privado. De toda forma, a tecnologia será de acesso público e qualquer um poderá fazer uso dela, seja para produzir a Sarcocornia, seja para extrair o sal vegetal.

Identificar novas espécies é como

um prêmio para a pesquisadora

Cecília Cipriano Osaida usou seu olhar treinado para se tornar a primeira cientista catarinense a avistar a Sarcocornia perennis. A bióloga está acostumada a fazer expedições em busca de novos exemplares de vegetais, muitas delas na companhia de Amaury. Mas a descoberta da planta que produz o sal vegetal foi uma emoção especial.

“Quando foi constatada a descoberta, ficamos muito felizes, pois se trata de um material nativo, extremamente ameaçado de extinção e com um potencial medicinal e científico fantástico”, resume a bióloga. Ela espera em breve ver o produto finalizado e disponível para comercialização, de modo que os brasileiros possam desfrutar de seus benefícios.

Proprietária do sítio Harmonia Natural, no município catarinense de Canelinha, Cecília cultiva e dissemina o uso de mais de mil espécies de plantas medicinais. A bióloga diz que, pelo fascínio que o mundo vegetal exerce sobre ela, descobrir novas plantas é como um prêmio para seu trabalho. “Existe essa preocupação mundial, do ponto de vista ambiental, com inúmeras espécies de plantas, de fundamental importância para a humanidade, com sérios riscos de desaparecerem sem sequer terem sido catalogadas”, resume a cientista.

O fato de a Sarcocornia ter-se tornado uma das principais pesquisas da Epagri a deixa muito satisfeita. Ela se realiza ao fortalecer a sensação de que está no caminho certo em relação à busca de novas espécies promissoras para a ciência.

Sarcocornia em conserva foi desenvolvida em parceria com a Universidade de Blumenau

Empresa vai instalar unidade fabril para processar a planta em Santa Catarina

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Breve histórico e objetivos

A implantação da Unidade Ambien-tal (UA) na Estação Experimental de Itajaí foi iniciada em abril de 2013, em uma área de 26,09ha. Inicialmente foi utilizada com plantios de cana-de-açú-car e posteriormente com arroz irriga-do. Atualmente essa área tem uma co-leção de bananeiras, em cerca de 2ha, e também contempla um remanescen-te de Mata Atlântica com 36.000m². O restante da área, por ocasião do início do trabalho, estava totalmente coberto com gramíneas (Brachiaria decumbens) e com ocorrência de alguns exemplares de silva (Mimosa bimucronata).

A UA tem quatro objetivos:● Adequar a Estação Experimental

de Itajaí à legislação ambiental;● Realizar pesquisa e difusão;● Servir para parcerias e realização

de eventos; e● Ser um instrumento de educação

ambiental.A UA está localizada na Epagri/Es-

tação Experimental de Itajaí (EEI), na Rodovia Antônio Heil, no 6800, bairro Itaipava, Itajaí, SC. Localiza-se ao sul da rodovia, numa área de 260.935m²

¹ Engenheiros-agrônomos, Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5212, e-mail: [email protected] (responsável pelo artigo).

Unidade ambiental da Epagri de Itajaí: paradigma de pesquisa e educação ambiental

Juarez José Vanni Müller¹, Alexandre Visconti¹, Antônio Amaury Silva Júnior¹,

Fábio Martinho Zambonim¹, Neri Samuel Dalenogare¹ e Teresinha Catarina Heck¹

(26,09ha) (Figura 1). O tipo de solo pre-dominante é o Cambissolo, e na parte sul predomina o Gleissolo. Na área pas-sam dois ribeirões. O Ribeirão da Paci-ência, na divisa da área no lado oeste, com extensão de 510m e largura média de 2m. O Ribeirão dos Doze passa no meio da UA e tem a extensão de 540m e a largura média de 2m.

Andamento dos trabalhos de acordo com os objetivos do projeto

● Adequar a Estação Experimental de Itajaí (EEI) à legislação ambiental: Nas margens dos Ribeirões dos Doze e Paciência, áreas de preservação per-manente (APPs), foram implantadas as matas ciliares, com 30m de largura, e a área de reserva legal já está com 17,1ha implantados.

● Realizar pesquisa e difusão: A área de pesquisa tem por finalidade a geração de conhecimentos e a difusão dos modelos de recuperação de matas ciliares, principalmente para produto-res, técnicos e estudantes. Estão em andamento três experimentos dentro

do Projeto “Implantação de Modelos de Mata Ciliar em Córregos na Estação Ex-perimental de Itajaí”, que são:

Experimento 1 – Estudo de diferen-tes métodos de recuperação de mata ciliar na EEI: plantio adensado (Figuras 2 e 3), plantio em quincôncio, plantio em ilhas vegetativas, nucleação, sistema agroflorestal e regeneração natural. No sistema agroflorestal foram utilizadas duas espécies ornamentais, três frutífe-ras, uma medicinal e a palmeira-real-da-austrália, que, após início do corte, aos dois anos e meio, será substituída pela palmeira-juçara. Isso deverá proporcio-nar informações aos produtores que, além dos benefícios dos serviços am-bientais e a recuperação das áreas de matas ciliares, podem obter rendimen-to financeiro (venda de flores, geleias, licores, açaí, folhas e palmito).

Experimento 2 – Definir modelo ecológico de controle de gramíneas em áreas de APP (feijão-de-porco, kudzu tropical, calopogônio, soja-perene, fle-míngea e feijão-guandu);

Experimento 3 – Avaliação dos atri-butos físicos, químicos e biológicos do solo.

● Servir para parcerias e realização

Figura 1. Mapa da Unidade Ambiental da Epagri

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de eventos: No âmbito das parcerias, foram implantados dois projetos de Neutralização de Carbono (“Portona-ve” e “Juntos pelo Rio”) e dois projetos de Recuperação de Áreas Degradadas/PRADs (Empresa Hoffmann Metalúrgi-ca Ltda./Famai e Indústria de Farinha de Peixe Kenya Ltda./Fatma). Foram realizadas atividades no dia mundial do meio ambiente e no início da primavera nos anos de 2013 e 2014. A unidade foi utilizada nas oficinas do 2o Encontro In-terinstitucional de Educação Ambiental, realizado em novembro de 2014.

● Ser um instrumento de educação ambiental: No dia 5 de junho de 2014,

foi entregue à comunidade a trilha eco-lógica. Ela tem extensão de 1.322m, sendo 395m dentro da mata, com o ob-jetivo de promover a educação ambien-tal (Figura 4).

Ao longo da trilha se situam as es-tações com métodos de recuperação de áreas degradadas, como: abrigos para fauna, transplante de serapilheira, po-leiros artificiais, plantio de mudas, trans-posição de chuva de sementes e ilha de bromélias. A trilha também contempla as seguintes estações temáticas: água, biodiversidade e interdependência; compostagem; plantas colonizadoras; galo do vento; pontos cardeais; sítio das

plantas-símbolos; jardim das bromélias; lixódromo; mandala; supermercado natural; jardim sensorial; biodecompo-sitor; fogão solar; solarizador de água; aquecedor solar de água; captação da água da chuva; pintura com as cores da terra; tratamento de dejetos pela zona de raízes; e tratamento de efluentes do-mésticos pelo círculo de bananeiras. A mascote da trilha é o gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris), que infor-ma a distância percorrida a cada 100m (Figura 5). A pintura da mascote foi re-alizada pela artista plástica Lindinalva Deólla, de Itajaí.

Estações de recuperação de áreas degradadas

● Abrigo para a fauna: geralmente árvores e galhos que caem são quei-mados, com a consequente emissão de gases estufa e a poluição do ar. Os abrigos para a fauna (ratos, lagartos, co-bras, corós e insetos) são amontoados de galhos e troncos de árvores que ser-vem de abrigo contra os predadores. Os abrigos também podem ser construídos por amontoados de pedras e também servem de poleiro para as aves.

● transplante de serapilheira: esta técnica consiste no arranjo de pequenas porções de solo provenientes de frag-mentos de vegetação nativa, próximos da área degradada, com o objetivo de introduzir na área núcleos com bancos de sementes, matéria orgânica e micro- e mesoflora e fauna. A coleta é feita em áreas de 1m² com cerca de 10cm de profundidade.

Figuras 2 e 3. Plantio adensado na instalação do experimento (8/2013) e 1 ano após (8/2014)

Figura 4. Visita à trilha no interior da mata

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● Poleiro artificial: são estruturas de bambu ou galhos introduzidas nas áreas degradadas para proporcionar o pouso de aves e morcegos, criando ambientes propícios para o descanso e uso como latrinas quando sobrevoam a área. A parte do solo sob o poleiro vira um ”restaurante” para a fauna terrestre, proporcionando condições de dispersão de sementes pela área. Podem ser utili-zados vários modelos de poleiros artifi-ciais, como tipo reto, em V, em círculo, poste de luz.

● Plantio de mudas: é o plantio concentrado de mudas, utilizando, por exemplo, cinco mudas por metro qua-drado de espécies com funções nucle-adoras (bagueiras, forrageiras, abrigos e fixação de nitrogênio). O plantio é realizado aleatoriamente, conforme a disponibilidade de mudas. Ao longo do tempo restarão os indivíduos mais adaptados às condições ambientais do local.

● transposição de chuva de se-mentes: é a transferência para áreas degradadas de material com sementes e demais restos vegetais e animais co-letados no interior de ambientes flores-tais remanescentes, por telas plásticas presas em suportes acima do solo. Na área a ser recuperada são colocados pe-quenos amontoados desse material de espaço em espaço. A distância entre os amontoados vai depender da disponibi-lidade do material coletado.

● Ilha de bromélias: o plantio de

bromélias de porte grande, como a Bromelia antiacantha, serve de abrigo para a fauna (ratos, lagartos, cobras, co-rós e insetos) contra seus predadores e também para formar seu ambiente de procriação. Também vai servir como dis-persor de sementes, que auxiliarão na recuperação de áreas degradadas.

● Estações temáticas: a maioria das estações foi planejada visando a seu aproveitamento posterior para discus-são e realização de trabalhos em salas de aulas pelos professores e estudantes que visitam a trilha ecológica.

● água: a estação está localizada na margem do Ribeirão dos Doze e fo-caliza a importância da água como ele-mento indispensável para a vida e a im-portância de mantermos as condições indispensáveis para sua produção em quantidade e qualidade, através da re-cuperação das matas ciliares, proteção das nascentes, manutenção e recupera-ção das matas nativas, e uso e manejo adequado do solo.

● Biodiversidade e interdepen-dência: nesta estação é focalizada a biodiversidade e sua importância fun-damental na preservação do sistema vida e a interdependência de todos os seres, lembrando que o ser humano é apenas mais um elo na cadeia da vida e depende dos outros seres para sua so-brevivência.

● compostagem: é um processo realizado gratuitamente pela natureza, através da energia solar, água da chuva

e a ação, principalmente de bactérias. Através deste procedimento estamos devolvendo para a natureza um condi-cionador do solo das matérias orgânicas consideradas ”lixo”, mantendo o ciclo da vida.

● Plantas colonizadoras: as áreas degradadas começam a ter uma co-bertura vegetal, principalmente pelas gramíneas, sendo chamadas de coloni-zadoras. Essa cobertura começa a de-positar resíduos vegetais sobre o solo, criando condições ao longo do tempo para o início de regeneração vegetal, através das plantas pioneiras.

● Galo do vento: indica a orientação da corrente de vento principal.

● Pontos cardeais: o marco dos pon-tos cardeais tem por finalidade demons-trar como orientar-se, sem bússola, uti-lizando o ponto onde o sol nasce.

● Sítio das plantas símbolos (Brasil, Santa catarina e Itajaí): o sítio das plan-tas símbolos contempla a árvore sím-bolo do Brasil (pau-brasil – Caesalpinia echinata), a planta símbolo de Santa Ca-tarina (imbuia – Ocotea porosa), a plan-ta medicinal símbolo de Santa Catarina (espinheira-santa – Maytenus ilicifolia), a flor símbolo de Santa Catarina (orquí-dea – Hadrolaelia purpurata) (Figura 6) e a planta símbolo de Itajaí (buganvília – Bougainvillea spectabilis).

● Jardim das Bromélias: o jardim das bromélias é um espetáculo, princi-palmente para os olhos. São apresenta-das cerca de 50 espécies dessa família, que tem ocorrência extraordinária em Santa Catarina, principalmente na Flo-resta Ombrófila Densa.

● Lixódromo: embora a Unidade Ambiental esteja situada na zona rural do município de Itajaí, a ocorrência de lixo, principalmente após as chuvas, tra-zido pelos dois ribeirões é alarmante. Todo lixo coletado na área é depositado no ”lixódromo” para servir para a cons-cientização de colocarmos o lixo nos locais adequados e preservar os manan-ciais de água.

● Mandala: significa círculo em sânscrito, mas evoca outros temas, como círculo mágico ou concentração de energia, e universalmente a mandala é o símbolo da integração e da harmo-nia. A mandala fitoterapêutica constitui-se em um microjardim de arquitetura circular e é dividida em gomos como se

Figura 5. A mascote da trilha indicando a distância percorrida

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fossem pequenos canteiros. Cada gomo representa uma hora do dia e abriga uma ou mais espécies medicinais (Tabe-la 1) que apresentam ação farmacoló-gica específica para determinada órgão do corpo. No caso da trilha ecológica, a mandala é conhecida como “relógio do corpo”. Tabela

● “Supermercado natural”: com o distanciamento cada vez maior dos seres humanos do meio ambiente, es-tamos esquecendo que os alimentos e outros itens são produzidos pela natu-reza e não pelos supermercados e ou-tras lojas. No supermercado natural são apresentadas espécies de plantas que produzem, entre outros, o café, o açú-car, o sal verde, o chocolate, o palmito, a borracha e o protetor solar.

● Jardim sensorial: o papel do jar-dim sensorial transcende o espaço te-rapêutico e se ancora na inclusão social da pessoa com deficiência. Também é útil para as pessoas sem deficiência vi-sual para exercitar os sentidos do cor-po (tato, olfato, paladar e ausência de visão – através do uso de uma venda). O jardim tem 24 espécies (Tabela 2) que os deficientes visuais podem conhecer como auxílio de uma apostila escrita em braile.

● Biodecompositor: a maior parte dos resíduos sólidos domésticos é de origem orgânica. O biodecompositor é utilizado para a realização da composta-

Tabela 1. Relação das plantas utilizadas na mandala fitoterapêutica

hora Órgão humano Nome popular Nome científico

1h às 3h FígadoAçafrão Curcuma longa

Alcachofra Cynara scolymus

3h às 5h PulmãoGuaco Mikania glomerataPoejo Cunila microcephala

5h às 7h Intestino grossoTupinambor Helianthus tuberosus

Tanchá Plantago major

7h às 9h EstômagoZedoaria Curcuma zedoaria

Espinheira-santa Maytenus ilicifolia

9h às 11h Baço e Pâncreas

Fel-de-índio Vernonanthura phosphorica

Pariparoba Piper umbellatum11h às

13h CoraçãoAlecrim Rosmarinus officinalisGalangal Alpinia hainanensis

13h às 15h Intestino delgado

Funcho Foeniculum vulgareAlfavaca-anisada Ocimum carnosum

15h às 17h Bexiga

Cavalinha Equisetum arvensisCamomila Chamomilla recutita

17h às 19h Rins

Quebra-pedras Phyllanthus niruriBiurá Coix lachryma-jobi

19h às 21h Circulação

Centelha Centella asiaticaSete-sangrias Cuphea carthagenensis

21h às 23h

Sistemas respiratório,

digestivo e excretor

Sálvia-de-botica Salvia officinalis

Orégano Origanum vulgare

23h à 1hVesícula biliar

Bardana Arctium lappaDente-de-leão Taraxacum officinalis

PeleBabosa Aloe barbadensis

Calêndula Calendula officinalis

gem desses materiais de forma prática e econômica, utilizando pequeno espaço. Após a realização do processo teremos a produção de composto e chorume, que poderão ser utilizados para a nutri-ção de plantas. Através desse processo, diminuiremos significativamente o volu-me de lixo que vai para os aterros sani-tários e reporemos nutrientes no solo.

● fogão solar: o fogão solar é uma forma prática, barata e ecológica de uti-lização da energia solar. Com materiais reciclados, podem-se construir de várias formas os fogões ou fornos solares. No modelo apresentado na trilha ecológica foi utilizada uma antena parabólica que concentra os raios solares em um único ponto, aquecendo o ‘fogão’.

● Solarização de água: o processo de solarização de água é simples, barato e eficiente. É realizado pela colocação da água contaminada em garrafas PET Figura 6. Flor símbolo de Santa Catarina.

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Tabela 2. Relação das plantas utilizadas no jardim sensorial

NomeFamília Substância

odoríferaComum científicoTomilho Thymus vulgaris Lamiaceae TimolSalva-vida Jungia floribunda Asteraceae JungianolSishô Perilla frutescens Lamiaceae PerilonaCanfrinho Artemisia camphorata Asteraceae CânforaCarqueja Baccharis crispa Asteraceae CarquejolAlfavaca-anisada Ocimum carnosum Lamiaceae AnetolManjericão- -americano Ocimum americanum Lamiaceae Linalol

Calêndula Calendula officinalis Asteraceae MuurololLosna Artemisia absinthium Asteraceae BorneolSálvia-gaúcha Lippia alba Lamiaceae CarvonaErva-de-santa- -maria

Chenopodium ambrosioides Amaranthaceae Ascaridol

Mil-folhas Achillea millefolium Asteraceae CamazulenoAipo Apium graveolens Apiaceae ApiolChinchilo Tagetes minuta Asteraceae TagetonaGerânio-cheiroso Pelargonium graveolens Geraniaceae GeraniolYerba-dulce Phylla dulcis Asteraceae HernandulcinaCapim-limão-miúdo Elionurus latiflorus Poaceae Citral

Catinga-de- -mulata Tanacetum vulgaris Asteraceae Tujona

Poejo-miúdo Cunilla microcephala Lamiaceae MentofuranoCoentro- -selvagem Eryngium foetidum Apiaceae Dodecenal

Hortelã-japonesa Mentha arvensis Lamiaceae MentolOrégano Origanum vulgare Lamiaceae TerpineolCambará Lantana camara Verbenaceae Cariofileno

Citronela Cymbopogon winterianus Poaceae Citronelal

incolores, sobre um fundo escuro ou metal brilhante, expostas ao sol duran-te dois dias. Esse processo evita várias doenças veiculadas por águas conta-minadas uma vez que a energia solar promove a foto-oxidação, que mata as bactérias – inclusive a Escherichia coli – e torna a água própria para o consumo humano.

● Aquecedor solar: o projeto Ener-gia do Futuro, da Celesc, desenvolveu um aquecedor solar com produtos des-cartáveis. O objeto é de fácil construção, ecológico e proporciona economia para as residências que o adotam. O aquece-dor solar é feito com garrafas PET e cai-xas de leite tipo Tetra Pak. Os banheiros da trilha ecológica são abastecidos com

água quente fornecida pela radiação so-lar, de forma gratuita, a maior fonte de energia disponível em nosso planeta.

● captação de água da chuva: os banheiros da trilha ecológica são abas-tecidos pela captação de água da chuva, demonstrando a importância de utili-zarmos esse serviço ambiental indis-pensável à vida de forma inteligente, parcimoniosa e correta.

● tratamento de dejetos pela Zona de Raízes: os dejetos dos banheiros da trilha são tratados, pós-tanque sép-tico, pelo sistema de zona de raízes, utilizando-se o junquinho (Eleocharis interstincta) de forma ecológica, práti-ca e barata. As raízes do junquinho re-tiram os nutrientes para o crescimento

da planta, fixando nitrogênio, fenóis e metais pesados, criando um ambiente biológico e químico favorável ao con-sumo das bactérias coliformes fecais e favorecendo a aeração do solo.

● tratamento de efluentes domésti-cos pelo círculo de Bananeiras: o siste-ma chamado de Círculo de bananeiras, criado por Jan Bucley, é muito simples, barato e prático para produzir frutas e hortaliças. Ao mesmo tempo, trata o es-goto doméstico, utilizando o excesso de água e os rejeitos orgânicos.

● Pintura cores da terra: foi utiliza-da a pintura de cores da terra na edifi-cação dos banheiros da trilha. O projeto Cores da Terra resgata e aperfeiçoa o uso tradicional do barro para produzir tintas para pintura. No preparo da tinta são utilizadas duas partes de terra seca peneirada, duas partes de água e uma parte de cola branca.

considerações finais

A unidade ambiental da Epagri de Itajaí procura conscientizar os visitan-tes e dar sua pequena contribuição ao nosso planeta Terra neste momento em que o efeito estufa, o desmatamento, a poluição e a extinção da biodiversi-dade são alarmantes. Lembramos que os serviços ambientais – ar puro, água potável, solo fértil e clima ameno – são indispensáveis à sobrevivência e à evo-lução da espécie humana.

Referências

CELESC. Manual do aquecedor solar. 2009. 41p.

EPAGRI. Biodecompositor doméstico. Floria-nópolis: Epagri, 2014. (fôlder).

EPAGRI. Círculo de bananeiras – uma ma-neira natural e ecológica de tratamento de águas usadas. Projeto Microbacias 2, Educa-ção Ambiental, [s.l.], s/d. (fôlder).

REIS, A.; BOURSCHEID, K.; SIMINSKI, A. et al. Recuperando a natureza com o pequeno agricultor. Florianópolis: MPSC, 2011. 36p. (Coordenado por Luis Eduardo Couto de Oli-veira).

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Informativo técnico

38Principais grupos de forrageiras de clima temperadoMain groups of temperate grasslandsUlisses de Arruda Córdova e Jefferson Araújo Flaresso

44o Programa Nacional de controle higiênico-Sanitário de Moluscos Bivalves e os caminhos para a regularizaçãoThe National Shellfish Sanitation Program and the pathways for trade regularizationRobson Ventura de Souza, Henrry Fernando Diniz Petcov e André Luis Tortato Novaes

48Plantas polinizadoras para o cultivar de macieira daianePollinators for Daiane apple cultivarMarcus Vinícius Kvitschal, Frederico Denardi, Filipe Schmidt Schuh e Danielle Caroline Manenti

Germoplasma

52ScS254 Sambaqui: cultivar de mandioca de raiz brancaSCS254 Sambaqui: cassava cultivar of white root Augusto Carlos Pola, Alexsander Luís Moreto, Enilto de Oliveira Neubert, Luiz Augusto Martins Peruch e Mário Miranda

Nota científica

57Indução de brotações e assepsia de explantes de mamoeiro cv. tainung 01 visando à micropropagaçãoShoot induction and asepsis of explants from adults plants of papaya aiming micropropagationFrancisco Ronaldo Vidal, Josefa Diva Nogueira Diniz e Fanuel Pereira da Silva

Artigo científico

61Impactos das mudanças climáticas sobre a viticultura no estado de Santa catarinaClimate change impact on Vitis vinifera L. in Santa Catarina State based on chilling hoursCristina Pandolfo, Angelo Mendes Massignam, Aparecido Lima da Silva, Ludmila Nascimento Machado e Emanuela Salum Pereira Pinto

67Avaliação de genótipos de amendoim em sistema de cultivo orgânicoPerformance of peanut genotypes in organic cultivation systemSilmar Hemp, Gilcimar Adriano Vogt, Waldir Nicknich e Cristiano Nunes Nesi

74Infecção artificial de adultos da bicheira-da-raiz com Beauveria bassiana em armadilha luminosaArtificial infection of South American rice water weevil with Beauveria bassiana in light trapEduardo Rodrigues Hickel, José Maria Milanez e Robert Harri Hinz

78Avaliação da concentração e da relação de nutrientes na compostagem de diferentes matérias-primasEvaluation of concentration and ratio of nutrientes in organic compost of different raw materials Euclides Schallenberger, José Angelo Rebelo e Rafael Ricardo Cantú

83Estimativa da produção de pasto através de dois métodos indiretos: Régua (altura), e disco Medidor (densidade)Forrage production estimate by two methods: the ruler (height) and the density meter discJorge Homero Dufloth, Álvaro José Back e Roberto dos Passos

87Produtividade de tomate em função de doses de nitrogênioYield of tomato according to nitrogen fertilizationSiegfried Mueller, Anderson Fernando Wamser e Atsuo Suzuki

92Produtividade de tomate em função da adubação potássicaTomato productivity due to potassium fertilizationSiegfried Mueller, Anderson Fernando Wamser e Atsuo Suzuki

97Processamento de conservas de Sarcocornia perennisProcessing of canned Sarcocornia perennisThaynã Gonçalves Timm, Antônio Amaury Silva Júnior, Renata Labronici Bertin e Lorena Benathar Ballod Tavares

103 Normas para publicação

SEÇÃo técNIco-cIENtÍfIcA

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INFORMATIVO TÉCNICO

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caracterização das forrageiras de clima temperado

As principais características de forrageiras de clima temperado são as seguintes: são adaptadas a climas mais frios (inverno, geadas, neves e ventos de altitude), têm variável resistência a calor e seca conforme espécies ou cultivares, têm alta qualidade de forragem, demandam fertilidade em geral, apresentam grande progresso genético e desenvolvimento de sementes, usam de tecnologias definidas, são menos exigentes em horas luz e admitem o plantio no outono/inverno.

As forrageiras de clima temperado podem ser divididas em dois

Principais grupos de forrageiras de clima temperadoUlisses de Arruda Córdova¹ e Jefferson Araújo Flaresso²

Resumo – Os três estados do Sul do Brasil possuem extensas áreas que podem ser utilizadas com forrageiras de clima temperado sem restrições importantes. Essas áreas são aquelas que possuem clima Cfb (verão ameno sem estiagem). Boa parte delas já é utilizada com essas forrageiras, principalmente com espécies anuais (azevéns e aveias) ou mesmo algumas perenes. Nesses ecossistemas, é possível implantar pastagens de alta qualidade e produtividade com as espécies e cultivares existentes hoje no mercado. Nos últimos anos, dezenas de cultivares foram registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e disponibilizadas no mercado, no entanto, a grande maioria permanece desconhecida dos produtores. A Epagri vem avaliando muitas forrageiras, incluindo espécies anuais, perenes e bienais. Foi comprovado que tais genótipos necessitam de tecnologia para expressarem o potencial genético e devem receber o tratamento semelhante às culturas que usam alta tecnologia, como grãos. Pastagem de qualidade e rentável somente é possível de obter caso as práticas de manejo e implantação recomendadas sejam efetivamente aplicadas.

termos para indexação: Gramíneas; leguminosas; pastagens; cultivares; inoculação.

Main groups of temperate grasslands

Abstract - The three southern states of Brazil have large areas that can be used with temperate forage species without major restrictions. These areas are those that have Cfb climate (mild summer without drought). Much of them are already used with temperate forages, mainly annual species (ryegrasses and oats) or even some perennials. In these ecosystems, one can deploy high quality and productive pastures with species and cultivars commonly sold on market today. In recent years dozens of cultivars were registered at the Ministry of Agriculture, however much of these remains unknown to the vast majority of producers. Epagri have been evaluating many forage species, including annuals, perennials and biannuals. It has been proven that these genotypes require technology to express their genetic potential and should receive the same treatment as crops that use high technology, such as grains, for example. Quality and profitable pastures are only possible to achieve if management practices and recommended deployment are effectively applied.

Index terms: grasses; legumes; pastures; cultivars; inoculation.

grupos bem distintos: gramíneas e leguminosas. Mas em sistemas de produção, devem ser consorciados, tornando-se complementares, com as seguintes vantagens adicionais: melhor aproveitamento dos nutrientes do solo, intensificação da captação da energia solar, melhor distribuição da produção ao longo do ano, dieta mais completa e equilibrada, dispensa ou redução da necessidade de aplicação de nitrogênio e diminuição do risco de timpanismo.

Essas forrageiras, tanto leguminosas como gramíneas, apresentam com-portamento quanto ao ciclo em anuais, bienais e perenes. Todas são importantes, dependendo do objetivo da área de pastagem a ser implantada. O cuidado que se deve ter é não consorciar espécies anuais com perenes

na formação de pastagens cultivadas. Quando se trata de melhoramento de campo nativo ou naturalizado, é possível e mesmo recomendável essa consorciação. As principais características quanto ao ciclo estão expressas na Tabela 1.

Condições ambientais

Um dos fatores mais importantes no momento de implantar uma pastagem é observar as condições ambientais da propriedade ou da região. Entre os fatores a ser considerados estão: temperatura (ocorrência de geadas, neves, ventos de altitude, etc.), regime hídrico (estiagens, excesso de chuvas), solo (fertilidade, declividade,

Recebido em 21/1/2014. Aceito para publicação em 28/11/2014.¹ Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone/fax: (49) 3289-6413, e-mail: [email protected]. ² Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, fone/fax: (49) 3289-6409, e-mail: [email protected].

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Tabela 1. Principais características de forrageiras anuais e perenes

Anuais Perenes

Multiplicam-se por sementes, muitas por ressemeadura natural Multiplicam-se por sementes, no começo da estação de crescimento

Reestabelecimento ou implantação anual gera vazios forrageiros(1) Menor custo por quilo de pasto produzido

Alto potencial de produção em pouco tempo (40 a 60 dias) Estabelecimento da pastagem a médio prazo (90 a 120 dias)

Grande variação de ciclo e produção entre e interespécies Picos de baixa produção (inverno) e excessos de pasto (primavera)

Uso de sementes comuns nas principais gramíneas Maior produção no segundo ano(1) Esses vazios ocorrem na implantação das gramíneas anuais de verão (milheto, capim-sudão, etc.) e de clima temperado (aveias, azevéns, etc.).Fonte: Córdova (2010). (Adaptado.)

afloramento de rochas, etc.). Todos esses fatores têm influência na época de implantação bem como no método de plantio. Na Tabela 2 são apresentadas as temperaturas para crescimento de forrageiras tropicais e de clima temperado. Registra-se que algumas espécies, como azevéns3 em geral, capim-lanudo e festucas, suportam temperaturas muito baixas (Figura 1).

Para as forrageiras de clima temperado, as estações do ano têm grande influência na produção, na digestibilidade e no teor de proteína bruta. Segundo Carvalho (2010), “a qualidade nutritiva das forrageiras temperadas é incomparável com as tropicais. É possível tê-las no Sudeste ou no Centro-Oeste em regiões de altitude e com pouco deficit hídrico”. A Tabela 3 apresenta as estações do ano mais propícias de acordo com as características citadas.

Razões de insucessos na implantação de pastagens

Pastagens perenes de clima temperado com problemas de implantação são frequentes. Os principais motivos pelos quais ocorrem essas adversidades são diversos. Entre eles, pode-se citar: uso de cultivares sem critérios ou não adaptados ao ambiente; utilização de material genético comum, como semente sem o conhecimento das características agronômicas; densidade de semeadura abaixo ou acima da recomendação; fertilização e correção do solo insuficientes; manejo inadequado;

3 Ocorrem casos em que azevéns comuns oriundos de regiões mais quentes são crestados por temperaturas muito baixas.

Figura 1. Algumas forrageiras de clima temperado suportam temperaturas muito baixas (neve em São Joaquim, SC, agosto de 2011)

Tabela 2. Temperatura mínima, ótima e máxima para forrageiras tropicais e temperadas

Grupo de forrageirastemperatura (°c)

Mínima Ótima Máxima

Gramíneas e leguminosas tropicais 15 30 a 35 50

Gramíneas e leguminosas temperadas 5 a 10 20 a 25 35Fonte: Rodrigues et al. (1993), adaptado por Córdova (2010).

Tabela 3. Caracterização geral de gramíneas perenes de clima temperado quanto à produção, digestibilidade e proteína bruta de acordo com as estações do ano.

Descrição Outono Inverno Primavera Verão

Produção Média Baixa Máxima Baixa

Digestibilidade Muito alta Muito alta Média Média/baixa

Proteína Máxima Muito alta Alta Média

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utilização antes do estabelecimento completo das pastagens; plantio fora da época recomendada e ausência de inoculação/peletização, ou essa prática realizada de forma ineficiente nas leguminosas; desconhecimento do tamanho da área a ser plantada.

Todos os fatores citados têm forte influência na produtividade da lavoura de pasto, porém um dos mais importantes é a qualidade da semente que se usa. Se ela não for de qualidade, não apresentar alto valor cultural ou não estiver adaptada às condições locais, certamente a produtividade estará comprometida. E dentro desse princípio, um dos aspectos em que o produtor mais erra é quando utiliza semente comum4 ou mesmo grãos para estabelecer suas lavouras. O grande problema é que semente comum não tem suas características agronômicas conhecidas, pois não passou por processo de avaliação. Assim, o produtor não sabe que material está plantando.

Aveias e centeio

No grupo das aveias, alguns cultivares têm apresentado elevada resistência a geadas, como aquelas pertencentes ao grupo das brancas (Avena sativa). Entre essas estão os cultivares Fapa 2, Fundacep Fapa 43 e IPR 126, para citar aqueles com sementes disponíveis no mercado. Nas condições da Serra Catarinense, mesmo geadas com temperaturas na faixa de -7°C no ambiente5 não provocam danos a elas (Rosa et al., 2008). Essas forrageiras produzem mesmo nos meses mais frios do ano na região citada, embora concentrem a produção no final do inverno e início de primavera.

Entre as aveias-pretas (Avena strigosa), o cultivar Iapar 61 apresenta tolerância média a geadas, é de produção tardia, concentrando-a na primavera e estende o ciclo até dezembro, dependendo do manejo e das condições ambientais. Outros

cultivares de aveia-preta disponíveis no mercado que estão sendo utilizados por produtores são a Embrapa 139 (Neblina) e a Embrapa 29 (Garoa). A primeira, além de produção elevada, tem demonstrando boa tolerância a geadas. Já o cv. Embrapa 29 tem sido menos utilizado; apresenta boa produtividade e é moderadamente resistente à ocorrência de geadas, sendo mais indicado para altitudes medianas, devendo-se evitar regiões de ocorrência de geadas muito fortes.

Outra espécie que pode ser utilizada para pastejo é o centeio cultivar BRS Serrano, principalmente para regiões acima de 1.100m de altitude. Tem como vantagens a rusticidade; a precocidade, pois permite pastejo entre 40 e 50 dias após o plantio; e a produção de pasto mesmo sob baixas temperaturas.

A persistência das aveias bem como do centeio em pastagens vai depender muito do manejo. O principal erro cometido pelos produtores é o pastejo muito baixo, que compromete o ponto de crescimento e, consequentemente, a persistência de materiais importantes na pastagem. Nunca devem ser pastejados a menos de 10cm de altura. Outra questão a que o produtor deve estar atento é que a grande maioria dos cultivares de aveia-branca e centeio são para produção de grãos para a alimentação humana ou animal, e poucos têm aptidão à produção de forragem. Portanto, no momento de adquirir semente, deve-se certificar que são materiais forrageiros.

Azevém anual

O azevém-anual é uma forrageira utilizada amplamente em todo o mundo, reconhecido pela excelente palatabilidade para todas as categorias animais, pelos elevados teores de proteína e pela digestibilidade. Uma de suas principais características é a capacidade de competir com outras

plantas. Suporta bem o pastejo e o pisoteio. Existe uma grande diferença agronômica entre os cultivares, ou seja, dentro da própria espécie. Produz em diversos tipos de solo, porém para alcançar alta produtividade de forragem, exige solos férteis e com bom teor de umidade, mas bem drenados.

Atualmente os azevéns podem ser divididos em dois grupos: tradicionais6 e italianos7. O primeiro não possui exigência em frio, floresce e encerra o ciclo na primavera ou no início de verão. São anuais por excelência, enquanto os azevéns italianos necessitam passar por uma estação fria, e os perfilhos formados no final do inverno e na primavera raramente florescem e têm condições de permanecer em estado vegetativo mesmo no verão, podendo tornar-se bienal ou mesmo perenizar em regiões mais frias. Esse alongamento do ciclo vai depender de fertilidade, condições ambientais favoráveis (chuva regular e temperaturas mais amenas), além da característica do cultivar.

Todos os azevéns, incluindo perenes e híbridos, ainda podem ser classificados em diploides e tetraploides. Portanto, o nível de ploidia não tem relação com o ciclo. É errônea a ideia de que todo azevém tetraploide é de ciclo longo ou mesmo perene.

De maneira geral, os azevéns tradicionais são mais indicados para cultivos em que não há exigência de alongamento de ciclo, como melhoramento de pastagens naturais, integração lavoura-pecuária ou mesmo rotação com forrageiras tropicais ou subtropicais. Já os azevéns italianos são recomendados para produção de forragem por um período bem mais longo (Figura 2). Os principais cultivares do grupo tradicional avaliados pela Epagri nos últimos anos foram: LE 284, INIA Camaro, INIA Bakarat, Winter Star e Empasc 304 Serrana. Desses, o que possui o ciclo mais curto é LE 284.

Os principais cultivares de azevém italiano8 avaliados foram KLm 138 (Magno italiano), INIA Escórpio e

4 Diferenciar semente comum de semente crioula que tem origem e características conhecidas, mesmo que selecionadas pelos produtores de certa locali-dade. Por exemplo: alfafa crioula. 5 A temperatura de relva normalmente é mais baixa. 6 Lolium multiflorum variedade westerwoldicum. 7 Lolium multiflorum variedade italicum.8 Em ensaio conduzido na Epagri/Estação Experimental de São Joaquim, foi avaliado, entre outros materiais, o cultivar Barjumbo, que é do mesmo grupo

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INIA Titan. A ordem de produção de matéria seca e a persistência são as mesmas citadas acima, com destaque para o primeiro, que é o cultivar de azevém de ciclo mais longo avaliada pela Epagri. Contudo, qualquer um desses três cultivares pode tornar-se bianual em regiões acima de 1.100m de altitude, desde que recebam fertilização adequada e não passem por deficit hídrico.

Azevéns-híbridos e perenes

Os azevéns-híbridos e perenes apresentam as mesmas exigências em fertilidade e disponibilidade de água que os anuais. São recomendados para altitudes superiores a 1.100m que possuem bom regime hídrico. Podem ser utilizados para regiões com altitudes um pouco menores desde que a pastagem receba irrigação. Entre os cultivares testados pela Epagri, o único com semente disponível no mercado é Banquet II, que tem persistido alguns anos em pastejo. No entanto, os cultivares Horizon e PG 150, avaliados na Estação Experimental de Canoinhas, apresentam potencial elevado de produção de forragem.

Festucas

A festuca é uma forrageira altamente promissora para as regiões de clima Cfb do Sul do Brasil. Apresenta como características: a) tolerância a geadas, estiagens, solos compactados e úmidos e sombreamento; b) suporta melhor o ataque de insetos e doenças; c) adapta-se bem ao consórcio com trevo-branco e cornichão; d) produz bem no outono, quando ocorrem os maiores vazios forrageiros.

Entre os cultivares avaliados pela Epagri, os mais produtivos em todos os locais9 foram Aurora e Epagri 312 Lages. O cultivar Quantum II também apresentou boa produtividade. Rizomat apresentou produção intermediária, mas sem deixar de ser um material promissor por sua rusticidade e capacidade de competição devido ao forte sistema radicular, tendo até mesmo bom desempenho no melhoramento de campo nativo.

Nos ensaios experimentais, todas os cultivares persistiram durante os 4 anos. No entanto, em acompanhamento de lavouras sob pastejo se percebem algumas diferenças importantes. Rizomat e Epagri 312 Lages competem

melhor com outras plantas, até mesmo com determinado nível de infestação por azevém-comum. Esses cultivares também não exigem muita fertilidade e suportam pastejos intensos. São de implantação rápida e mais fácil quando comparados com os demais cultivares de festuca.

O cultivar Aurora, apesar de ser mais palatável, tem maior exigência em fertilidade e não compete tão bem quanto os demais. Mesmo em consórcio com trevo-branco em solos com altos teores de fósforo e a densidade de plantio dessa leguminosa for um pouco maior (3kg/ha), perde espaço na composição da pastagem. O cultivar Quantum II apresenta como vantagens o rápido estabelecimento, o fato de não ser tão exigente em solos, ter bom poder de competição e ter boa palatabilidade (Figura 3).

Algumas recomendações funda-mentais na implantação de festucas: a) não consorciar com trevo-vermelho nem com gramíneas anuais: b) não im-plantar em áreas que tenham resseme-adura de azevém-anual; c) implantar em março-abril, evitando plantios tardios, pois com temperatura muito baixa de solo, demora muito a germinar; d) evi-tar plantio profundo – o recomendado é em torno de 0,5 a 1cm.

Leguminosas

As leguminosas para pastejo são uti-lizadas em consórcio com gramíneas e necessitam ser inoculadas e peletizadas com inoculante específico. Trabalhos recentes demonstram que elas fixam para o sistema de pastagem em torno de 26 a 34kg de nitrogênio por tonelada de matéria seca de leguminosa produ-zida (Goh & Bruce, 2005). As espécies e os cultivares mais utilizados são: trevo-branco cultivar Zapican; trevo-vermelho cultivares Quiniquelli e EL 116 e corni-chão cultivar São Gabriel. Geadas mui-to fortes ou ventos de altitude gelados podem crestar a parte aérea de trevo-branco e vermelho, embora ocorra, após a passagem da frente fria, recu-peração rápida. Por essa razão, essas leguminosas produzem pouco no inver-

Figura 2. Azevém-anual de ciclo longo cultivar KLm 138 (Magno Italiano) no segundo ano de produção (implantado em abril de 2011, foto de 18/1/2012)

9 São Joaquim, Lages, Campos Novos, Canoinhas e Tubarão.

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Figura 3. Festuca cultivar Quantum II em uso por vacas de cria e novilhas (Bom Retiro, SC)

no em regiões acima de 1.100m e não devem constituir-se na base forrageira.

Algumas recomendações para utili-zação dessas leguminosas: a) trevo-ver-melho é mais indicado para melhora-mento de pastagem natural ou natura-lizada ou em consórcio com gramíneas subtropicais e tropicais; b) não utilizar na formação de pastagem perenes de clima temperado, principalmente quan-do o teor de fósforo no solo for eleva-do; c) cornichão é mais indicado para solos leves e bem drenados, pois tem alta tolerância a estiagens; d) quando os trevos participam com mais de 50% na composição da pastagem, apresentam risco de ocorrência de timpanismo. Cor-nichão não provoca timpanismo devido ao tanino condensado em sua composi-ção. Ao contrário, contribui para a não ocorrência desse distúrbio (Figura 4).

densidade de plantio

A densidade de plantio considerando 100% de valor cultural para as espécies citadas está expressa na Tabela 4. Há necessidade de ajustar o valor cultural, que é resultado do poder de germinação e da pureza, pois dificilmente esses dois parâmetros são máximos ou próximos a esse patamar.

considerações finais

As forrageiras de clima temperado possuem potencial de uso bem maior que o atual estádio de utilização no Sul do Brasil. A insuficiência da utilização de tecnologias recomendadas compromete o desempenho desse grupo de espécies, que não recebe o tratamento de “cultura agronômica”. O uso de grãos como semente, com potencial genético e características desconhecidos, é um dos motivos de resultados negativos. A tecnologia chega lentamente aos produtores, que não consideram as práticas fundamentais, como o uso de cultivares recomendados, a fertilização e o manejo adequado, entre outras. Apesar da evolução dos últimos anos, a forragicultura é uma das áreas que mais

Tabela 4. Densidade de plantio das principais espécies e cultivares de forrageiras de clima temperado

Espécie e cultivardensidade de plantio (kg/ha)

Consórcio ExtremeAzevém anual tradicional e italiano 20 25Azevém perene 22 25Festucas 15 20Capim-lanudo 6 8Trevo-branco 2 a 3 -Trevo-vermelho 6 -Cornichão 6 -

Figura 4. Cornichão consorciado com festuca e trevo-branco (Tijucas do Sul, PR)

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têm tecnologias geradas para difusão a técnicos e produtores. Devem-se recomendar forrageiras pertencentes a diferentes grupos funcionais para satisfazer as restrições ambientais e os objetivos de produção. O uso de cultivares modernos, acompanhado de práticas tecnológicas, pode elevar a produção pecuária do Sul do Brasil a patamares semelhantes ao de países mais competitivos.

Contribuição dos autores no trabalho

Ulisses de Arruda córdova: responsável pela revisão de literatura, discussão dos resultados e elaboração do texto. Jefferson Araújo flaresso: revisão de literatura, discussão dos resultados e pela revisão científica final do texto.

Referências

CARVALHO, P.C.F. Planejamento garante a oferta de alimentos. Revista Leite dPA, Goiânia, v.10, n.111, p.13-16, set. 2010.

CÓRDOVA, U.A. forrageiras de clima temperado e suas formas de utilização para produção de leite a pasto no Sul do Brasil. In:SIMPÓSIO SOBRE PRODUÇÃO COMPETITIVA DE LEITE - REGIÃO SUL, 2., 2010, Chapecó, SC. Anais.... São Paulo: MilkPoint, 2010.

GOH, K.M.; BRUCE, C.E. Comparion of biomass production fixation of multi-especies pastures (mixed herb leys) with perennial ryegrass-white clover pasture with and irrigation in Canterburry, New Zeland. Agriculture Ecosystemas & Environment, canterburry, New Zeland, v.110, p. 230-240, 2005.

ROSA, J.L.; CÓRDOVA, U. de A.; PRESTES, N.E. forrageiras de clima temperado para o Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Epagri, 2008. 64p. (Epagri. Boletim Técnico, 141).

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INFORMATIVO TÉCNICO

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O Governo Federal criou, em 2012, o Programa Nacional de Controle Higi-ênico-Sanitário de Moluscos Bivalves4. Trata-se de uma legislação que define regras para o controle sanitário na pro-dução e na comercialização de ostras, mexilhões, vieiras e berbigões. Entre outras exigências, essa legislação de-termina que os moluscos passem pelos procedimentos de inspeção em estabe-lecimentos processadores registrados junto ao órgão de inspeção antes de serem destinados ao consumo humano. O órgão de inspeção pode ser federal (vinculado ao Ministério da Agricultu-

O Programa Nacional de Controle Higiênico-Sanitário de Moluscos Bivalves e os caminhos para a regularização

Robson Ventura de Souza¹, Henrry Fernando Diniz Petcov² e André Luis Tortato Novaes³

Resumo – O Governo Federal instituiu, em 2012, o Programa Nacional de Controle Higiênico-Sanitário de Moluscos Bivalves, que definiu as regras para o controle sanitário na produção e na comercialização de ostras, mexilhões, vieiras e berbigões. Este informativo aponta algumas possibilidades para a adequação da cadeia produtiva às regras estabelecidas nessa legislação e discute as vantagens e desvantagens dessas alternativas. As possibilidades apresentadas são: venda da produção dos maricultores para estabelecimentos processadores; estabelecimentos processadores prestando serviço de processamento para maricultores; implantação de novos estabelecimentos processadores de moluscos; criação de cooperativas; registro de peixarias junto ao órgão de inspeção.

termos para indexação: Ostras; mexilhões; vieiras; berbigões; processamento; inspeção.

the National Shellfish Sanitation Program and the pathways for trade regularization

Abstract – The Federal Government created in 2012 the National Shellfish Sanitation Program which states the rules for the sanitary control in the production and trade of oysters, mussels, scallops and cockles. This report points out some possibilities to set up the trade chain according to the stated requirements and discusses the advantages and disadvantages of these alternatives. The presented possibilities are: Shellfishermen selling their production to Processing Plants; Shellfisherman hiring Processing Plants to process their production; Implementation of new Processing Plants; Implementation of cooperatives; Registration of fish markets within the Inspection Authority.

Index terms: oysters; mussels; scallops; cockles; processing; inspection.

Recebido em 23/7/2014. Aceito para publicação em 8/12/2014.1 Médico-veterinário, M.Sc, Epagri/Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca (Cedap), C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3665-5060, e-mail: [email protected] Engenheiro de alimentos, Epagri/Gerência Regional de Florianópolis, Rod. Admar Gonzaga, 1188, 88010-970 Florianópolis, SC, fone: (48) 3665-2000, e-mail: [email protected] Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri/Cedap, fone: (48) 3665-5052, e-mail: [email protected] Instituído por meio da Instrução Normativa Interministerial do Ministério da Pesca e Aquicultura e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento No 7, de 8 de maio de 2012.5 Podem vender seus produtos também a outros países, uma vez que sejam habilitados à exportação, atendendo às exigência técnico-sanitárias fixadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e, quando for o caso, aquelas estabelecidas pelas autoridades sanitárias dos países importadores.

ra, Pecuária e Abastecimento – Mapa), estadual (vinculado à Cidasc, em Santa Catarina), ou municipal (vinculado nor-malmente à Secretaria da Agricultura da Prefeitura Municipal). Estabelecimen-tos processadores registrados junto ao Mapa podem vender sua produção em todo o Brasil5, aqueles registrados junto à Cidasc podem vender a produção den-tro dos limites de Santa Catarina, e os registrados junto à prefeitura municipal podem vender os moluscos nos limites do município. Isso não é novidade, con-siderando que produtos de origem ani-mal em geral, como carnes, leite, ovos,

mel, etc., também estão sujeitos a tal exigência.

A necessidade de passar pelos pro-cedimentos de inspeção em um esta-belecimento processador vale para mo-luscos bivalves destinados ao consumo humano, sejam eles vendidos vivos ou não. Essa exigência objetiva aumentar a segurança desses produtos para os consumidores. Isso porque sempre que os moluscos são provenientes de áre-as onde a qualidade de água não está ótima, os estabelecimentos processa-dores devem realizar tratamentos para reduzir a carga de microrganismos cau-

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sadores de doenças nos produtos. Os tratamentos previstos na legislação são: o térmico (Ex.: cozimento), a remoção de vísceras e gônadas e a depuração. De uma forma simples, pode-se dizer que este último trata da manutenção dos moluscos em tanques com água limpa por um período suficiente para que eles esvaziem seus tratos digestórios, redu-zindo a carga de microrganismos poten-cialmente causadores de doenças.

Apesar de ser positiva do ponto de vista da saúde pública, essa exigência tem sido motivo de apreensão para mui-tos maricultores. Eles, historicamente, vendem ostras e mexilhões diretamen-te para peixarias, restaurantes ou para o consumidor final. Como restaurantes e peixarias são estabelecimentos de co-mércio, por via de regra registrados jun-to à Vigilância Sanitária e não ao Órgão de Inspeção, existe o impedimento legal para a venda direta de moluscos bival-ves para esses empreendimentos.

Algumas perguntas que surgem são: o que os maricultores farão para vender seus produtos? O que as peixarias farão para comprar os produtos dos maricul-tores? Esse informativo tem por objeti-vo apresentar algumas alternativas para que maricultores, processadores e co-merciantes possam trabalhar de forma a atender aos requisitos da nova legis-lação. Procuramos também discutir as vantagens e desvantagens de cada uma delas.

Maricultores podem vender sua produção para estabelecimentos processadores

Maricultores podem vender sua pro-dução para estabelecimentos processa-dores registrados junto ao órgão de ins-peção, passando a ser fornecedores de matéria-prima. As etapas de processa-mento e comercialização envolvem cus-tos elevados e, em muitos casos, vender a produção para as indústrias pode ser um bom negócio para os maricultores, especialmente os que possuem peque-na produção.

Vantagens: • Já existem várias indústrias de

processamento de pescado em opera-ção no estado de Santa Catarina, e al-gumas que trabalham especificamente com moluscos bivalves;

• Maricultores podem focar suas energias na melhoria da produção de suas fazendas marinhas sem ter que se preocupar com o processamento e a co-mercialização do produto final;

• Maricultores podem fazer con-tratos futuros e garantir a compra de toda a sua produção pela indústria.

desvantagens:• Os lucros dos maricultores se li-

mitarão á etapa de produção da maté-ria-prima.

Estabelecimentos processadores podem prestar serviço para maricultores

Nesse caso, o maricultor não vende os moluscos produzidos para estabe-lecimentos processadores. Esses esta-belecimentos prestam o serviço para o maricultor, processando os moluscos por um valor preestabelecido. O mari-cultor leva os moluscos até a indústria e, ao fim do processamento, recebe seu produto devidamente inspecionado e embalado. Para essa prática, é necessá-rio que o estabelecimento processador registre junto ao órgão de inspeção o produto do maricultor. Na embalagem desse produto deverá constar a marca e as informações do maricultor (Distri-buído por:) e as informações sobre o es-tabelecimento processador (Produzido por:) (Figura 1).

Vantagens:• Maricultores que tenham canais

de comercialização diretos com restau-rantes e peixarias podem regularizar e vender seu produto sem ter que investir na construção e operação de um esta-belecimento processador;

• O investimento é baixo quando comparado à construção e operação de um estabelecimento processador;

• Maricultores podem ampliar as

Figura 1. Exemplo de rótulo de produto cujo processamento foi terceirizado: nesse caso, consta a marca (seta vermelha, à esquerda) e informações do maricultor (seta vermelha, à direita) e informações sobre o estabelecimento processador (seta branca).

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possibilidades de comercialização, por exemplo, se buscarem a prestação de serviço de processamento com um es-tabelecimento processador registrado junto ao órgão de inspeção federal. Nes-se caso, um maricultor que vendia seus produtos para peixarias ou restaurantes do seu município pode comercializar seus produtos em todo o Brasil.

desvantagens:• O maricultor terá que estar pre-

parado para trabalhar na etapa de co-mercialização de produto final, tendo que pensar na logística de retirada do produto na indústria (Ex.: possuir veícu-lo registrado junto à vigilância sanitária para transporte de alimentos – Figura 2), negociação com os compradores e logística de entrega dos produtos.

O maricultor pode abrir um novo negócio: um estabelecimento processador de moluscos

A instalação de um estabelecimento processador envolve abertura de empresa, construção da estrutura física de acordo com as recomendações do órgão de inspeção, contratação de funcionários, implementação de programas de controle de qualidade de processos e produtos, entre outras exigências. Além disso, é preciso ter em mente que dificilmente o empreendimento se viabilizará exclusivamente com a produção de uma pequena fazenda marinha. Portanto, operar o estabelecimento processador requererá habilidade comercial tanto para a obtenção de matéria-prima junto a outros maricultores quanto para a venda do produto final. Assim sendo, interessados na instalação desse tipo de empreendimento devem fazer um plano de negócios, considerar os riscos e avaliar cuidadosamente sua viabilidade econômica antes de investir na implantação.

Vantagens:• O maricultor pode processar

a própria produção e vendê-la para comércios, peixarias e restaurantes;

• O maricultor passa a ter um novo negócio que pode gerar renda.

Além de vender moluscos bivalves processados, ele poderá prestar o serviço de processamento para outros maricultores.

desvantagens:• São necessários investimentos

financeiros significativos;• Deve-se dispor de tempo e

recursos para passar pelo processo burocrático necessário para construção e registro do estabelecimento junto ao órgão de inspeção;

• É necessário que um volume significativo de produto seja processado para viabilizar o negócio;

• A implantação do novo negócio envolve riscos.

Os maricultores podem trabalhar de forma cooperativada

Trabalhar em cooperativas é uma alternativa que proporciona vantagens competitivas para produtores rurais em geral. Maricultores podem trabalhar de forma cooperativada, por exemplo, para a construção e operação de um estabe-lecimento processador que será utiliza-do de forma coletiva. Outro caminho, que não envolve a instalação de um es-tabelecimento processador, é a criação de cooperativas para operar a logística de transporte e a venda da produção. Nesse exemplo, a ação da cooperativa poderia envolver o transporte da ma-téria-prima das fazendas marinhas dos cooperados até um estabelecimento processador contratado, a negociação e o transporte do produto final até co-mércios e restaurantes. Para a formação de uma cooperativa são necessárias ao menos 20 pessoas físicas com necessi-dades e interesses similares.

Vantagens:• É possível fazer investimentos

maiores do que de forma individual, em estruturas e bens que beneficiarão to-dos os cooperados;

• Existem diferentes tipos de coo-perativas que estão sujeitas a diferentes regimes tributários, podendo ser isen-tas de tributos como Imposto de Ren-da, Programa de Integração Social (PIS), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e Contribui-

ção Social sobre Lucro Líquido (CSLL);• Algumas políticas públicas que

objetivam a compra de alimentos deter-minam que parte do investimento deva ser feito em produtos da agricultura fa-miliar. O Programa de Aquisição de Ali-mentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) são exem-plos de programas que podem benefi-ciar as cooperativas.

desvantagens:• A necessidade de promover o

convencimento e a organização dos ma-ricultores para formar uma cooperativa;

• O funcionamento da cooperativa depende do relacionamento colaborati-vo dos cooperados;

• Cooperativas não se enquadram no Estatuto Nacional da Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, não po-dendo adotar os regimes tributários Simples Nacional e Super Simples.

Peixarias podem adequar sua estrutura e buscar seu registro junto ao órgão de inspeção transformando--se em estabelecimentos processadores

Peixarias, que são estabelecimento de comércio, por padrão, não são cadas-tradas junto ao órgão de inspeção. Isso faz com que os moluscos comercializa-dos por esses empreendimentos devam ser provenientes de estabelecimentos processadores que o sejam. Contudo, as peixarias podem buscar seu registro junto ao órgão oficial de inspeção. Para isso é preciso que adequem sua estru-tura física e os processos praticados de forma a atender os requisitos legais para estabelecimentos processadores. Nesse caso, as peixarias deixam de ser exclusivamente estabelecimentos de comércio e passam a ser também es-tabelecimentos processadores, poden-do comprar moluscos diretamente dos maricultores, processá-los e vendê-los ao consumidor final. Essa alternativa é especialmente interessante em municí-pios que possuem Serviço de Inspeção Municipal.

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Vantagem:• Os estabelecimentos passam a

poder comprar moluscos bivalves das fazendas marinhas e vendê-los ao con-sumidor final.

desvantagem:• As exigências legais para esta-

belecimentos processadores são mais complexas do que aquelas para estabe-lecimentos de comércio, tanto em ter-mos de estrutura física requerida como em relação ao controle de todas as eta-pas de processamento.

considerações finais

As regras estabelecidas pelo Pro-grama Nacional de Controle Higiênico-Sanitário de Moluscos Bivalves podem, a princípio, parecer complicar a vida dos maricultores. Porém, é importante que se tenha em mente que elas visam aumentar a segurança dos produtos da maricultura, e isso gera benefícios dire-tos aos produtores. Sabe-se que um epi-sódio de doença alimentar relacionada ao consumo de moluscos pode afetar a confiabilidade de toda a produção catarinense e causar sérios prejuízos fi-

nanceiros a toda a cadeia produtiva. Por isso, ações de controle sanitário são tão importantes. Aqui procuramos apresen-tar apenas alguns dos caminhos que podem ser seguidos para a comerciali-zação formal de moluscos. Cadeias pro-dutivas de outros produtos de origem animal, como a produção de ovos, mel, carnes, já tiveram que se adequar a exi-gências similares e não só sobreviveram a elas como muitas ficaram fortalecidas. É preciso que os envolvidos na cadeia produtiva de moluscos se inspirem nes-ses exemplos e quebrem a resistência às novas regras, encarando-as como um desafio possível de ser superado que pode trazer vantagens competitivas.

Agradecimentos

Agradecemos a Nara Fassina Costa, Iara Rodrigues da Silveira e Letícia Cândida Teixeira pela revisão científica do texto e pelas contribuições.

À FAPESC pelo apoio financeiro para realização de uma missão técnica, que possibilitou o contato com formas alternativas de processamento e comercialização de moluscos bivalves.

Contribuição dos autores no trabalho

Robson Ventura de Souza: planejamento, estruturação, redação e revisão técnica do texto. henrry diniz Petcov: redação e revisão técnica do texto. André Luís tortato Novaes: redação e revisão técnica do texto.

Referências

BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Secretaria Especial de Aqui-cultura e Pesca. Manual de procedimentos para implantação de estabelecimento in-dustrial de pescado: produtos frescos e con-gelados. Brasília, 2007. 116p.

BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa Inter-ministerial nº7 de 8 de maio de 2012.

SOUZA, R.V. de; PETCOV, H.F.D. comércio legal de moluscos bivalves. Florianópolis; Epagri, 2013. 58p. (Epagri. Boletim Didático, 95).

Figura 2. Veículo registrado junto à vigilância sanitária para transporte de alimentos.

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INFORMATIVO TÉCNICO

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Introdução

As espécies do gênero Malus fre-quentemente são autoincompatíveis e seu controle é de caráter genético. Quando os dois alelos que determinam a incompatibilidade são coincidentes entre os cultivares de um mesmo po-mar, mesmo que haja polinização não há fecundação das flores e, por sua vez, não há formação de sementes e de frutos. Assim, a macieira é uma cultu-ra dependente de polinização cruzada, requerendo a presença de plantas poli-nizadoras compatíveis para assegurar a

Plantas polinizadoras para o cultivar de macieira DaianeMarcus Vinícius Kvitschal1, Frederico Denardi2, Filipe Schmidt Schuh3 e Danielle Caroline Manenti4

RESUMO – A macieira é uma fruteira dependente da utilização de plantas polinizadoras para garantir a produção, visto que a partenocarpia (produção de frutos sem sementes) não é comum em suas espécies. O presente estudo teve como objetivo avaliar a eficiência de diferentes plantas polinizadoras para o cv. de macieira Daiane no Meio-Oeste catarinense. As polinizadoras avaliadas foram: seleções de macieira desenvolvidas pela Epagri 140/37, 140/76, 140/215, 140/216, 140/228, 140/279 e 140/513, e dois cultivares-controle, Sansa e Granny Smith. Todos os genótipos apresentaram coincidência de período de floração com o cv. Daiane, mas a seleção 140/279 apresentou comportamento fenológico muito variável nos diferentes anos, o que a desclassifica para o uso como polinizadora do cv. Daiane. Todas as polinizadoras indicaram boa compatibilidade pólen-estigma com o cv. Daiane. A polinizadora mais indicada é a seleção 140/76 por apresentar coincidência de período florífero, boa adaptação climática, alta taxa de germinação de pólen, resistência à mancha foliar de Glomerella, além de ter induzido elevada frutificação efetiva e grande número de sementes por fruto no cv. Daiane.

termos para indexação: Malus domestica; incompatibilidade; polinização; maçã.

Pollinators for daiane apple cultivar

RESUMO – Apple is a fruit crop dependent of pollinator plants in an orchard to ensure fruit production, because parthenocarpy (fruits with no seeds) is not a common event in apples species. This study was to evaluate the efficiency of different apple selections and control-cultivars as pollinators for Daiane apple cultivar in Middle-west of Santa Catarina State. The pollinators evaluated were: selections developed for Epagri 140/37, 140/76, 140/215, 140/216, 140/228, 140/279 and 140/513, and two control-cultivars, ‘Sansa’ and ‘Granny Smith’. All genotypes presented coincidence of the flowering period for cv. ‘Daiane’, but the selection 140/279 was too much instable on flowering period along the years, being discarded as pollinator for ‘Daiane’. All pollinators indicated good compatibility of pollen-stigma with ‘Daiane’. The best pollinator was 140/76, because this selection presented good flowering period, good adaptation to local climate, high rate of pollen germination, resistance to Glomerella leaf spot, and it has induced high fruit set and high number of seeds per fruit in ‘Daiane’ cultivar.

Index terms: Malus domestica, incompatibility, pollination, apple.

produção de frutos. Na implantação de pomares de ma-

cieira, além da compatibilidade gené-tica entre pólen e estigma, devem-se considerar alguns outros fatores na es-colha do cultivar polinizador, tais como a coincidência de floração entre cultivar produtor e polinizador, a quantidade de pólen produzida pelo polinizador, e a taxa de germinação desse pólen (Petri, 2006).

O cv. Daiane, lançado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) em 1998, apresenta como virtudes a ma-

turação e a colheita entre os períodos de colheita da ‘Gala’ e da ‘Fuji’, a resis-tência à mancha foliar de Glomerella (MFG) e a produção de frutos de alta qualidade gustativa (Denardi & Camilo, 1998) (Figuras 1 e 2). No entanto, não há estudos sobre polinizadores para esse cultivar. Atualmente, apenas os cultivares Granny Smith e Sansa têm sido indicados e utilizados pelos fruti-cultores como polinizadores de ‘Daiane’ baseando-se apenas na boa coincidên-cia de floração com esta.

O objetivo deste estudo foi avaliar a eficiência de cultivares e de seleções

Recebido em 30/5/2014. Aceito para publicação em 29/10/2014.1 Engenheiro-agrônomo, Dr., Pesquisador em Melhoramento Genético de Macieira, Epagri, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, e-mail: [email protected]. 2 Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Pesquisador em Melhoramento Genético de Macieira, Epagri, e-mail: [email protected]. 3 Estudante de mestrado, Universidade Estadual de Maringá, pós-graduação em Genética e Melhoramento, bolsista Capes, Av. Colombo, 5790, Jardim Universitário, 87020-900 Maringá, PR, e-mail: [email protected]. 4 Estudante de mestrado, Universidade Estadual de Maringá, pós-graduação em Genética e Melhoramento, bolsista CNPq, e-mail: [email protected].

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de macieira na polinização da ‘Daiane’ no Meio-Oeste catarinense a fim de am-pliar o número de cultivares polinizado-res disponíveis para esse cultivar.

desenvolvimento da pesquisa

O estudo foi desenvolvido na Epagri/Estação Experimental de Caçador, em

um pomar de ‘Daiane’ com 5 anos de idade enxertado sobre o porta-enxerto M-7. As polinizadoras avaliadas cons-tituíram-se das seleções de macieira oriundas do programa de melhoramen-to genético da Epagri 140/37, 140/76, 140/215, 140/216, 140/228, 140/279 e 140/513, incluindo-se dois cultivares-controle, ‘Sansa’ e ‘Granny Smith’. As seleções de macieira utilizadas neste es-tudo estão provisoriamente identifica-

das com código experimental por ainda não terem sido lançadas efetivamente como novos cultivares.

O pólen utilizado nos cruzamentos foi coletado a partir de flores de estádio de balão, sendo previamente secado, armazenado e testado quanto ao poten-cial de germinação, conforme metodo-logia descrita por Kvitschal et al. (2013). Aproximadamente 150 a 170 flores por planta de ‘Daiane’, em estádio de balão, foram polinizadas no campo, de forma controlada, com subsequente proteção dos cachos florais com sacos de papel Kraft marrom por 72 horas. Como con-trole, utilizaram-se flores emasculadas, não polinizadas e imediatamente ensa-cadas.

Avaliaram-se as seguintes caracte-rísticas, conforme descrito por Kvitschal et al. (2013): a) fenologia da floração; b) adaptação climática; c) porcentagem de germinação dos grãos de pólen; d) fru-tificação efetiva; e) número médio de sementes por fruto; f) reação à macha foliar de Glomerella. O experimento foi conduzido sob delineamento de blocos ao acaso com quatro repetições, sendo cada planta considerada como repeti-ção.

Resultados da pesquisa

Todas as seleções bem como os cultivares-controle avaliados apresenta-ram coincidência de período de floração com o cv. ‘Daiane’ (Tabela 1). No que se refere ao período de floração, as sele-ções 140/76 e 140/513 bem como os cultivares-controle Sansa e Granny Smi-th foram os que apresentaram melhor coincidência com ‘Daiane’. A seleção 140/228, embora tenha apresentado relativa coincidência de período de flo-ração com ‘Daiane’, mostrou tendência em iniciar a brotação cerca de 10 dias antes desse cultivar, o que pode exigir maiores cuidados com o início dos trata-mentos de sarna da macieira (Venturia inaequalis) no pomar, visto que é uma doença típica de primavera.

A seleção 140/279 apresentou com-portamento fenológico muito variável nos diferentes anos em que foi avaliada, o que a exclui do uso como polinizadora

Figura 2. Pomar de ‘Daiane’ em plena produção

Figura 1. Fruto do cultivar Daiane

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do cv. Daiane. Essa inconstância de pe-ríodo florífero confere a ela um aspecto negativo, pois é muito importante que a polinizadora apresente estabilidade na coincidência de floração com o cul-tivar produtor ao longo dos anos (Petri et al., 2008) e garanta sempre disponi-bilidade de pólen em todo o período de florescimento do cultivar produtor. Já as seleções 140/37 e 140/215, embora tenham apresentado período florífero coincidente com ‘Daiane’, mostraram período de floração muito res-trito, característica que não é interessante para uma boa polinizadora, pois restringe o período de disponibilidade de pólen ao cv. produtor, o que, consequentemente, pode re-sultar em polinização defici-tária.

Quanto à adaptação cli-mática (Tabela 2), embora al-gumas polinizadoras (Granny Smith, Sansa e 140/228) te-nham sido caracterizadas como mal adaptadas às con-dições climáticas do Meio-Oeste catarinense (índices de brotação de gemas inferior a 50% = nota ≤ 3,5), vale ressal-tar que todas apresentaram índices de adaptação pelo me-nos iguais aos de ‘Daiane’, que vem mostrando boa resposta

à indução química de superação da dor-mência nas principais regiões de cultivo da macieira no Sul do Brasil (Fioravanço et al., 2011) e produzindo com êxito na região de Fraiburgo, SC. Assim, a adap-tação climática não pode ser considera-da como uma característica excludente ou limitante na indicação de polinizado-ras para ‘Daiane’ entre os cultivares e as seleções avaliados no presente estudo.

A capacidade de germinação do pólen mostrou variação considerável

(Tabela 2), desde 4,7% até 79%. As me-lhores taxas de germinação do pólen fo-ram observadas nas seleções 140/228, 140/37, 140/216 e 140/76, todas com taxas superiores a 70%. As seleções 140/279, 140/513 e 140/215 produzi-ram pólen de menor qualidade, cujas taxas de germinação nos testes in vitro foram de 4,7%, 13% e 26,7% respecti-vamente. Conforme Keulemans et al. (1994), taxas de germinação de pólen acima de 30% são suficientes para asse-gurar boa fertilização e boa frutificação efetiva. Assim, para as condições experi-mentais ocorridas neste estudo, as sele-ções 140/279, 140/513 e 140/215 apre-sentaram limitações quanto à qualidade do pólen produzido. No entanto, todos os genótipos testados propiciaram índi-ces de frutificação efetiva satisfatórios para o cv. Daiane, com destaque para as seleções 140/76 e 140/228, ambas tendo propiciado médias de frutificação efetiva acima de 40% (Tabela 2).

Kozma et al. (2003) salientam que níveis de frutificação efetiva de pelo menos 15% a 20%, dependendo da in-tensidade da floração do cultivar pro-dutor, podem assegurar bons níveis de produtividade de maçãs em pomares cultivados sob alta densidade. Até mes-mo as polinizadoras que apresentaram baixas taxas de germinação de pólen

Tabela 1. Período de floração de seleções e cultivares de macieira em três anos de observação (2006-2009) na Epagri/Estação Experimental de Caçador

(1) A fenologia dos cvs. Sansa e Granny Smith é apresentada por períodos médios por serem cultivares tradicionalmente utilizados como polinizadores nos pomares de macieira do Sul do Brasil e com épocas de floração bem conhecidas.

Tabela 2. Caracterização de cultivares e seleções de macieira na Epagri/Estação Experimental de Caçador, Caçador, SC, 2006/07

Polinizadora Adaptação climática(1)

% Germinação de pólen(2)

Frutificação efetiva(3)

No sementes por fruto(4)

Reação à MFG(5)

140/76 4,0 71,6 44,5 a 6,4 ab R140/228 3,0 79,0 41,0 b 7,1 a R140/279 4,0 4,7 36,5 c 5,6 b R140/215 4,0 26,7 35,8 c 6,4 ab -140/216 4,5 72,7 30,4 d 6,4 ab R140/37 4,0 76,4 26,5 e 6,6 ab -140/513 4,0 13,0 26,3 e 6,1 ab -Sansa 3,0 33,5 24,6 e 6,8 ab RGranny Smith 3,5 32,8 13,8 f 6,9 a SDaiane 3,0 --- 0,0 0,0 R

(1) Escala de adaptação climática: 1 a 1,5 = < 20%; 2 a 2,5 = 20% a 50%; 3 a 3,5 = 50% a 70%; 4 a 4,5 = 70% a 90%; 5 = > 90% de gemas brotadas.(2) Sob condição de cultivo in vitro.(3) Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente (p > 0,05) pelo teste de Scott-Knott.(4) Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente (p > 0,05) pelo teste de Tukey.

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in vitro (140/279, 140/513 e 140/215) propiciaram frutificação efetiva acima de 15%.

Quanto ao número de sementes por fruto de ‘Daiane’, todas as polinizadoras propiciaram formação de mais de cin-co sementes por fruto. De acordo com Galleta (1983), isso indica boa compati-bilidade pólen-estigma entre as plantas polinizadoras testadas e o cv. Daiane. Frutos com pequeno número de semen-tes podem ficar deformados (Denardi & Stuker, 2008), de menor tamanho e mais susceptíveis à formação de russe-ting (Galletta, 1983).

Não foi observada ocorrência de partenocarpia no cv. Daiane nem de autofecundação, visto que não houve produção de frutos nos cachos florais não polinizados e protegidos (Tabela 2). Isso confirma que a frutificação efetiva e o número de sementes por fruto ob-tidos resultaram da efetiva polinização das flores do cv. Daiane pelas plantas polinizadoras testadas, e não de even-tual ocorrência de autofecundação ou de partenocarpia. Assegura-se, portan-to, que é inviável o cultivo de ‘Daiane’ sem o uso de plantas polinizadoras no pomar.

Na escolha das plantas polinizadoras em pomares de macieira deve-se tam-bém considerar o aspecto fitossanitário relativo ao conjunto do cultivar produ-tor e dos respectivos polinizadores ante as principais doenças. Visto que ‘Daiane’ é resistente à MFG, uma das doenças mais graves presentes nos pomares de macieira no Sul do Brasil, é importante que o cultivar polinizador também pos-sua tal atributo. Entre os polinizadores avaliados neste estudo, todas as sele-ções testadas se mostraram resistentes à MFG (Tabela 2), e entre os cultivares-controle, ‘Sansa’ mostrou-se resistente, enquanto ‘Granny Smith’ foi caracteri-zado como susceptível à MFG.

considerações finais

Considerando todas as característi-cas avaliadas (Tabelas 1 e 2), o polini-zador mais indicado é a seleção 140/76 por apresentar coincidência de perío-do florífero, boa adaptação climática

(mais de 70% de gemas brotadas), alta porcentagem de germinação de pólen, resistência à MFG, além de indução a elevada frutificação efetiva e grande nú-mero de sementes por fruto em ‘Daia-ne’. A maior frutificação efetiva e o ele-vado número de sementes por fruto de ‘Daiane’ polinizado pela 140/76 indicam a existência de alta compatibilidade ga-metofítica entre ambas. A 140/228 tam-bém se mostrou bastante eficiente na polinização de ‘Daiane’, embora o perí-odo florífero dessa seleção tenha coinci-dido melhor com o começo da floração de ‘Daiane’. Por outro lado, ressalta-se que a amplitude de floração dessa se-leção é bastante elevada, iniciando 20 dias antes e estendendo-se até quase o final da floração de ‘Daiane’. No en-tanto, recomenda-se que o fruticultor esteja atento ao início dos tratamentos profiláticos contra a sarna da maciei-ra (Venturia inaequalis) no pomar pelo fato de a 140/228 iniciar a brotação antecipadamente ao cv. Daiane e de a sarna da macieira ser uma doença típica da primavera.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Embrapa, à Fapesc e ao CNPq pelo apoio financeiro, e ao pesquisador Dr. Walter Ferreira Be-cker e à bolsista Alana Karine Baldicera pelo auxílio prestado nas avaliações de reação à mancha foliar de Glomerella.

Contribuição dos autores no trabalho

Marcus Vinícius Kvitschal: auxílio na realização das polinizações em campo, auxílio nas avaliações em campo, auxílio nas inoculações de Colletotrichum sp., tabulação e análise dos dados, interpre-tação dos resultados, redação e revisão científica do texto. frederico denardi: idealizador do projeto de pesquisa, re-alização das polinizações em campo, avaliações em campo, auxílio nas inocu-lações de Colletotrichum sp., interpre-tação dos resultados, revisão científica do texto. filipe Schmidt Schuh: auxílio nas inoculações de Colletotrichum sp., auxílio na tabulação dos dados, revisão

de literatura, revisão científica do texto.danielle caroline Manenti: auxílio nas inoculações de Colletotrichum sp., auxí-lio na tabulação dos dados, revisão de literatura, revisão científica do texto.

Referências

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DENARDI, F.; STUKER, H. Eficiência de dife-rentes cultivares de macieira como polini-zadoras da ‘Castel Gala’ e da ‘Condessa’. Agropecuária catarinense, v.21, n.1, p.79-83, 2008.

FIORAVANÇO, J.C.; DENARDI, F.; CZER-MAINSKI, A.B.C. et al. Avaliação da cultivar de macieira daiane em Vacaria, RS. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2011. 8p. (Comunicado Técnico 109).

GALLETTA, G.J. Pollen and seed manage-ment. In: MOORE, J.N.; JANICK, J. Methods in fruit breeding. West Lafayette: Purdue University Press, 1983. p.23-47.

KEULEMANS, J.; EYSSEN, R.; COLDA, G. Im-provement of seed act and seed germina-tion in apple. In: SCHMIDT, H.; KELLERHALS, M. Progress in temperate fruit breeding. Dordrecht: Netherlands Kluwer Academic, 1994. p.225-228.

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GERMOPLASMA

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Introdução

A raiz da mandioca é um dos ali-mentos básicos da população brasileira. Dada sua importância, associada à ex-celente adaptação de cultivo e ao fato de que a indústria de beneficiamento da raiz vem apresentando desenvolvi-mento significativo, ampliando merca-dos e garantindo a presença dos seus subprodutos como matéria-prima em uma série de indústrias (tanto alimentí-cias quanto não alimentícias) (Cepea, 2002), abre-se uma gama de perspec-tivas positivas para o setor. No Brasil, a cultura guarda a importante carac-terística de ser produzida em todas as unidades da Federação, de norte a sul, de leste a oeste. Poucas culturas de relevância econômica apresentam essa

SCS254 Sambaqui: cultivar de mandioca de raiz brancaAugusto Carlos Pola1, Alexsander Luís Moreto2, Enilto de Oliveira Neubert3,

Luiz Augusto Martins Peruch4 e Mário Miranda5

Resumo – O presente trabalho tem por objetivo apresentar o novo cultivar de mandioca de raiz branca obtido pelo Programa de Melhoramento Genético da Epagri/Estação Experimental de Urussanga, denominado SCS254 Sambaqui. Esse cultivar apresenta elevada produtividade e altos teores de amido nas raízes. Apresenta raízes com película branca (característica desejável para a produção de farinha), rama ereta sem bifurcação, fácil arranquio do solo, fácil despenca das raízes colhidas com um ciclo produtivo e resistente à bacteriose. Seu cultivo é indicado para as regiões: Carbonífera, Extremo Sul e Colonial Serrana; Alto Vale do Rio Itajaí e Vale do Rio Uruguai.

termos para indexação: Manihot esculenta Crantz; melhoramento genético; seleção clonal

ScS254 Sambaqui: cassava cultivar of white root

Abstract: This paper aims to present the new cultivar of cassava produced by the Epagri Breeding Program/Experimental Station Urussanga called SCS254 Sambaqui. This cultivar has high yield and high levels of starch in the roots. The roots have a white membrane (characteristic desirable for the production of flour feature), upright stem without bifurcation, easy harvest, easy detach of the harvested roots and is resistant to bacterial blight . Its cultivation is indicated for the state regions: Carbonífera, Extremo Sul e Colonial Serrana; Alto Vale do Rio Itajaí e Vale do Rio Uruguai.

Index terms: Manihot esculenta Crantz; breeding; clonal selection

vantagem. Possui também ampla diver-sidade genética, com suficiente grau de variabilidade para fornecer e possibili-tar avanços aos programas de melhora-mento para a maioria dos caracteres de interesse econômico.

A partir desse panorama, aferindo-se demandas dos produtores de mandioca do estado de Santa Catarina, tornou-se patente a necessidade de realização de trabalhos de pesquisa no âmbito do melhoramento genético que permitam maior incremento da cadeia produtiva da mandioca. Esse incremento se daria por meio da obtenção de clones supe-riores, que apresentem características desejáveis para o cultivo comercial e o processamento industrial, e da elevação dos teores de amido por hectare, tudo isso associado a características como a

película branca, que maximiza o proces-so da fabricação da farinha.

origem e método de melhoramento do cultivar ScS254 Sambaqui

Para espécies em que as técnicas de propagação assexuada, como a estaquia e a enxertia, estão bem definidas, a sele-ção de clones tem sido o principal méto-do empregado. Constitui-se na maneira mais rápida e fácil para suprir a deman-da imediata por clones comerciais. Isso porque a propagação vegetativa assegu-ra que toda a variação genética, aditiva ou não aditiva, seja capitalizada imedia-tamente (Fehr, 1987). Assim, uma vez identificado um genótipo superior, ele

Recebido em 14/4/14. Aceito para publicação em 20/5/2014.1 Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri / Estação Experimental de Urussanga, C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC, fone: (48) 3465-1209, e-mail: [email protected] Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected] Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri / Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected] Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected] .5 Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 2039-7510, e-mail: [email protected].

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será completamente fixado, constituin-do-se num potencial clone comercial. Além disso, pelo fato de esse método explorar a variabilidade genética numa única geração, torna-se necessário que a população-base seja bastante nume-rosa para aumentar a chance de conter o genótipo superior (Pinto, 2000).

Em mandioca, esse método é ampla-mente utilizado pelas várias instituições que trabalham com o melhoramento da cultura. Não diferente, o método foi empregado para dar origem ao cultivar SCS254 Sambaqui. A seguir, são descri-tas as fases ou etapas para a obtenção desse novo cultivar, que tem como pro-genitor feminino o cultivar Prata:

1. Campo de policruzamento: foi ins-talado em 2003. A semente foi coletada do cultivar Prata (progenitor feminino). Esse cultivar é mantido como acesso no Banco de Germoplasma de Mandioca da Epagri.

2. Sementeira: as plantas foram ino-culadas com Xanthomonas campestris por aspersão visando a uma seleção ini-cial. O Clone, denominado experimen-talmente como STS-2/03-10, foi trans-plantado da sementeira diretamente para o campo (F1) quando as plantas atingiram aproximadamente 20cm de altura, sendo esse campo irrigado regu-larmente.

3. Avaliação fenotípica e seleção de plantas F1: em mandioca, a segregação ocorre na primeira geração, após a hi-bridação, época em que são seleciona-dos os genótipos superiores. Apresenta ainda a peculiaridade de ser propagada vegetativamente, o que facilita a fixação dos genótipos e possibilita a seleção já na fase F1. As avaliações feitas nessa fase são subjetivas, considerando a ar-quitetura da parte aérea; o número de hastes; a produção de manivas-semen-tes; o aspecto do sistema radicular; o ta-manho das raízes; e o número, a forma e as constrições das raízes.

4. Campo de observação: nesta fase, cada clone é representado por cinco plantas, provenientes do ensaio ante-rior, numa única parcela. São incluídas três testemunhas que se repetem ao

longo do ensaio. No início e fim de cada parcela é incluído um cultivar suscetível à bacteriose para aumentar a pressão de inóculo sobre as plantas. Iniciaram--se nesta fase as avaliações de rendi-mento, de porcentagem de matéria seca, de facilidade de colheita, de cor da película, do córtex e do formato da raiz, de constrições, etc.

5. Ensaios preliminares: aqui são in-cluídos os clones selecionados no cam-po de observação. Nestes ensaios são utilizadas duas repetições, com parcelas de cinco plantas. É incluída uma planta de um cultivar susceptível à bacteriose no início de cada parcela.

6. Ensaios intermediários: os clones selecionados no ensaio anterior são posteriormente aqui avaliados. Nestes ensaios são utilizadas parcelas conten-do 20 plantas por clone, sem repetição.

7. Ensaios avançados: utiliza-se o delineamento experimental de blo-cos completos casualizados com três repetições em parcelas contendo 20 plantas.

8. Ensaios de competição de cultiva-res: foram instalados durante as safras 2008/09 e 2009/10 em solos argilo-sos e arenosos (Argissolos e Neossolos Quartzarênicos). Nestes ensaios de competição de cultivares são avaliados: vigor inicial, produtividade, número de raízes, ocorrência de bacteriose, antrac-nose, viroses, facilidade de colheita das raízes, facilidade de destaque, peso das ramas, altura das ramas, aspecto das raízes, teor de amido nas raízes, aspecto das ramas, entre outros.

9. Pesquisa participativa: é um mé-todo de avaliação e adaptação de novas tecnologias que são testadas na pro-priedade do agricultor, com a par-ticipação de extensionistas, pesquisa-dores e produtores rurais. O clone STS 2/03-10 foi comparado com cinco clones promissores e mais o cultivar plantado pelo produtor em seis municípios do estado de Santa Catarina durante as safras 2010/11 e 2011/12. Na pesquisa participativa foi avaliada produtividade, doenças, número de raízes, facilidade de destaque e colheita das raízes, altura

da planta, teor de amido nas raízes e a qualidade de ramas e raízes segundo a opinião dos produtores. De posse de to-das as informações e opiniões de produ-tores, destaca-se o referido clone, agora denominado SCS254 Sambaqui.

descrição morfológica e de desempenho agronômico

A descrição morfológica detalhada quanto a características da planta, fol-has, caule e raiz, que tornam possível a identificação do cultivar SCS254 Sam-baqui, é apresentada na Tabela 1.

Foram conduzidos experimentos du-rante duas safras consecutivas (2010/11 e 2011/12) em seis municípios produto-res de mandioca de três regiões do esta-do de Santa Catarina para determinar o potencial produtivo do cultivar SCS254 Sambaqui. As parcelas eram compostas de 30 plantas dispostas em seis linhas de cinco plantas, com área útil equiva-lente às 12 plantas centrais. Os dados de produtividade (amido (%), produção de raízes (t/ha), produção de amido (t/ha)) obtidos da área útil de cada parce-la foram analisados com a utilização do programa Genes (Cruz, 2006).

Na Tabela 2 são apresentados os resultados médios de produtividade do cultivar SCS254 Samabaqui durante duas safras consecutivas (2010/2011 e 2011/2012) em seis municípios produ-tores de mandioca do estado de Santa Catarina (Araranguá, Treze de Maio, Jaguaruna, Chapecó, Trombudo Central e Sangão). Constam também os ganhos (%) em toneladas de amido por hectare do cv. SCS254 Sambaqui em relação às testemunhas em cada local.

O novo cultivar desenvolvido pela Epagri destacou-se em todos os locais de avaliação para todos os caracteres avaliados, apresentando resultados espressivos com relação aos ganhos em toneladas de amido por hectare, varian-do de 13,8% a 48,2%, nos municípios de Araranguá e Sangão respectivamente (Tabela 2).

Na Figura 1 se pode observar o as-pecto geral da planta nas fases inicial e

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intermediária e na colheita do cultivar SCS254 Sambaqui.

Os resultados de produtividade mé-dia em todos os locais e safras foram plotados em um gráfico de isoquanta para melhor comparação e visualiza-ção do desempenho do novo cultivar SCS254 Sambaqui. A isoquanta (ou Cur-va de Igual Produto) é uma curva que representa todas as combinações pos-síveis de fatores que permitem obter a mesma quantidade de produção. No presente trabalho, as curvas represen-tam todas as combinações possíveis, dentro do intervalo estipulado, para se obter a mesma produtividade de amido por hectare de raiz colhida. O desempe-nho do cultivar Epagri SCS254 Sambaqui superou e muito os demais genótipos com ele comparados.

Além da vantagem produtiva do cul-tivar SCS254 Sambaqui, destaca-se sua raiz de coloração branca, demanda an-tiga dos produtores de farinha de Santa Catarina.

Recomendações técnicas

Seu cultivo é recomendado para as seguintes regiões (Figura 3):

- Região 2B: Região Carbonífera, Ex-tremo Sul e Colonial Serrana;

- Região 2A: Alto Vale do Rio Itajaí;- Região 2C: Vale do Rio Uruguai.

Perspectivas e problemas do cultivar

O cultivar SCS254 Sambaqui é pro-dutivo e apresenta elevados teores de amido nas raízes. Apresenta raízes com película branca (característica de-sejável para a produção de farinha) e ramas eretas sem bifurcação. É de fácil arranque, apresenta facilidade de des-penca das raízes colhidas com um ciclo produtivo e é resistente à bacteriose e à antracnose. No arranque de raízes com dois ciclos produtivos a despenca torna-se mais trabalhosa, necessitando de maior esforço para o cumprimento da atividade.

Figura 1. Aspecto visual do cultivar SCS254 Sambaqui em diferentes fases do seu desenvolvimento: a) brotação inicial; b) planta desenvolvida; c) raízes; d) ramas maduras.

Tabela 1. Principais caracteristicas do cultivar SCS254 Sambaquicaracterística morfológica Especificação Pubescência das folhas jovens do ápice PresenteAltura da planta MédiaHábito de crescimento do caule RetoPedúnculo nas raízes AusenteCor externa da película da raiz BrancaCor do córtex da raiz BrancaForma da raiz Cônico-cilíndricaComprimento da raiz MédioDiâmetro da raiz GrandeTextura da epiderme da raiz LisaNúmero predominante de ramificações primárias no caule UmColoração da epiderme externa do caule Verde-amareladaColoração da epiderme interna do caule CremeColoração do córtex do caule Verde-claraComprimento da filotaxia do caule MédioColoração da folha apical Verde-claraColoração da folha desenvolvida Verde-escuraColoração da nervura central Verde-

avermelhadaNúmero predominante de lóbulos nas folhas SeteForma do lóbulo central LanceoladaSinuosidade do lóbulo foliar AusenteProeminência das gemas foliares MédiaColoração do pecíolo VermelhaPosição do pecíolo HorizontalEstípulas no pecíolo PresentesFloração Eventual

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(A) (B)

(c) (d)

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Tabela 2. Média do teor de amido nas raízes, produtividade de raízes e produtividade de amido das safras 2010/11 e 2011/12 do novo cultivar SCS254 Sambaqui em seis municípios produtores de mandioca do estado de Santa Catarina.

Tratamento Araranguá treze de Maio Jaguaruna Chapecó Trombudo Central Sangão

....................................................... Amido (%) .......................................................Clone 70 29,3 31,0 28,2 28,7 26,9 30,4Clone 110 31,2 32,4 30,7 29,7 29,3 32,1Clone 118 31,4 33,8 31,6 31,0 31,0 33,8ScS254 Sambaqui 31,6 33,4 31,8 30,9 31,0 33,7Clone 422 30,4 31,5 30,7 30,1 29,1 31,5Clone 530 28,7 33,4 29,1 30,9 29,0 32,2Testemunha 28,7 29,4 27,4 31,5 30,4 29,8

..................................................... Raízes (t ha-1) .....................................................Clone 70 20,9 27,5 23,9 20,4 13,4 24,0Clone 110 17,6 23,4 21,3 17,8 16,0 21,1Clone 118 18,7 17,6 17,8 14,3 14,8 20,2ScS254 Sambaqui 25,3 28,4 22,7 25,5 22,1 26,3Clone 422 20,8 21,4 16,2 27,6 19,4 19,8Clone 530 19,9 19,3 20,0 21,3 16,8 22,1Testemunha 24,5 24,1 21,5 21,0 16,6 20,0

..................................................... Amido (t ha-1) .....................................................Clone 70 6,12 8,58 6,72 5,85 3,62 7,30Clone 110 5,48 7,72 6,53 5,22 4,70 6,78Clone 118 5,85 5,95 5,72 4,47 4,57 6,83ScS254 Sambaqui 7,97 9,52 7,28 7,87 6,83 8,87Clone 422 6,30 6,88 5,05 8,28 5,65 6,22Clone 530 5,80 6,45 5,82 6,57 4,88 7,13Testemunha 7,00 7,03 5,95 6,57 5,03 5,98Ganhos de amido por hectare

(%) do cultivar SCS254 Sambaqui em relação à testemunha

13,8% 35,4% 22,4% 19,1% 35,8% 48,2%

Figura 2. Isoquanta do desempenho médio (em todos os locais e safras) do cultivar SCS254 Sambaqui: dados de produtividade de raízes (t ha-1), amido e TAH – produtividade de amido (t ha-1)

Figura 3. Zoneamento agroecológico para a cultura da mandioca no estado de Santa Catarina

Fonte: Epagri/Ciram.

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Disponibilidade de material propagativo

O cv. SCS254 Sambaqui consta no Registro Nacional de Cultivares do Mi-nistério da Agricultura (RNC) sob núme-ro 32439. Aos interessados, o material de propagação (ramas) está disponí-vel na Epagri/Estação Experimental de Urussanga.

Contribuição dos autores no trabalho

Augusto carlos Pola: Instalação, acompanhamento e avaliação dos ensaios no campo. Alexsander Luís Moreto: Instalação, acompanhamento e avaliação dos ensaios, análise esta-tística e elaboração das tabelas. Enilto de oliveira Neubert: Instalação, acom-panhamento e avaliação dos ensaios no campo. Luiz Augusto Martins Peruch: Acompanhamento e avaliação fitopato-lógica dos ensaios. Mário Miranda: Ins-talação, acompanhamento e avaliação dos ensaios no campo.

Referências

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PINTO, C.A.B.P. Métodos de melhoramento aplicados às plantas propagadas vegeta-tivamente e por sementes. In: SIMPÓSIO DE ATUALIZAÇÃO EM GENÉTICA E MELHO-RAMENTO DE PLANTAS, 4., 2000, Lavras. Anais... Lavras: UFLA, 2000. 100p.

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NotA cIENtÍfIcA

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A propagação vegetativa ainda não é utilizada em escala comercial em ma-moeiro (Carica papaya L.) devido à pou-cas brotações laterais emitidas no caule. Contudo, com o auxílio da poda apical é possível suprimir a produção de auxi-na, responsável pela dominância apical, e liberar gemas laterais da dormência (Barros et al., 2009). O sucesso da poda pode significar uma alternativa na mi-cropropagação diante dos entraves apresentados com a propagação semi-nífera da espécie, como os gastos com sementes e o aumento de mão de obra e insumos ao plantar muitas mudas por cova para garantir as plantas hermafro-ditas.

Os trabalhos desenvolvidos com ma-

Indução de brotações e assepsia de explantes de mamoeiro cv. Tainung 01 visando à micropropagação

Francisco Ronaldo Vidal1, Josefa Diva Nogueira Diniz2 e Fanuel Pereira da Silva3

Resumo – A utilização de um método de propagação vegetativa de mamoeiro a partir de plantas identificadas facilitará a produção, haja vista a preferência por frutos de plantas hermafroditas. Dois experimentos foram conduzidos: (I) Objetivou-se a indução de brotações em condições de campo, com uso da poda em diferentes alturas (ápice, 20, 40 e 60cm do ápice). Constatou-se que a poda mais drástica aumentou o número de novas brotações emitidas. (II) As novas brotações obtidas após a poda foram desinfestadas usando os produtos Rifampicina, Agrimicina e Kasumin, adicionados ao meio de cultura e em imersão dos explantes sob agitação. Os melhores resultados foram observados quando os explantes foram mantidos em solução com desinfestantes por 24 horas, com Agrimicina e Rifampicina.

termos para indexação: Multiplicação in vitro; Poda; Carica papaya.

Shoot induction and asepsis of explants from adults plants of papaya aiming micropropagation

Abstract: The utilization of an efficient method of vegetative propagation of papaya fruit from identified plants will facilitate the production, because the preference to big fruits originated from hermaphrodite plants. Two experiments were conducted: (I) Aimed at inducing shoot in plants under field condition though pruning the plants at different heights (top, 20, 40 and 60 cm from the top). The results showed that the most drastic pruning induced the plant to produce a greater number of new shoots. (II) The new obtained shoots were used in the asepsis experiments, which were disinfected by the use of the Rifampicina, Agrimicina and Kasumin, added to the medium culture or used by immersion in the explants that were shaken by 24 hours. The explants that were kept in solution with disinfectants for 24 hours showed better results, mainly with Agrimicina and Rifampicina.

Index terms: in vitro multiplication; pruning; carica papaya.

terial retirado de plantas de campo são escassos na micropropagação porque as plantas apresentam maior contami-nação fúngica e bacteriana e presença de ácaros do que em explantes obtidos de plantas em condições controladas. Os antibióticos vêm sendo usados com frequência cada vez maior na cultura de tecidos, principalmente em plantas que apresentam dificuldade na fase de descontaminação, sendo tais substân-cias incorporadas ao meio de cultura ou usadas diretamente sobre os explantes.

A Rifampicina, um antibiótico do grupo das rifamidas, indicada para con-trolar bactérias, tem mostrado elevado potencial no controle de infecções en-dógenas em várias espécies de plan-

tas (Pollock et al., 1983; Bobroff et al., 2009). A Agrimicina é um antibiotico em pó extremamente tóxico que possui como ingredientes ativos a oxitetracicli-na e a estreptomicina, enquanto o fun-gicida-bactericida Kasumin vem sendo testado, usualmente, na desinfestação de explantes.

Objetivou-se com esse trabalho de-senvolver um protocolo de indução de brotações e de desinfestação de brota-ções de mamoeiro do grupo Formosa, C. papaya L. cv. Tainung 01, originadas de plantas no campo. Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Cultura de Tecidos, no telado e no cam-po experimental do Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Agrá-

Recebido em 6/5/2013. Aceito para publicação em 15/1/2014.¹ Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Universidade Federal do Ceará / Departamento de Fitotecnia, Campus do Pici, Blocos 805 e 806, Fortaleza, CE, fone: (85) 3366-9668, e-mail: [email protected].² Engenheira-agrônoma, Dra., Universidade Federal do Ceará / Departamento de Fitotecnia, e-mail: [email protected].³ Engenheiro-agrônomo, Dr., Universidade Federal do Ceará / Departamento de Fitotecnia, e-mail: [email protected].

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rias da Universidade Federal do Ceará de fevereiro a maio de 2009.

As mudas foram produzidas a partir de sementes germinadas em condições de telado, utilizando-se bandejas. Ao atingirem 10 a 15cm de tamanho, foram transferidas para sacolas de polietileno. Após 2 meses, foram transplantadas para o campo experimental, conduzidas sob irrigação por microaspersão.

Experimento 1: Indução de brota-ções em plantas adultas de mamoeiro cv. Tainung 01 por meio da poda em di-ferentes alturas.

Para a indução de brotações, foram realizadas podas em diferentes alturas após 150 dias do transplantio das mu-das para o campo. Os tratamentos se constituíram do corte do ápice (T1); cor-te a 20cm do ápice (T2); a 40cm do ápi-ce (T3) e a 60cm do ápice (T4). O deline-amento experimental foi o inteiramente casualizado, com quatro tratamentos, quatro repetições e três plantas por re-petição, totalizando 12 plantas por tra-tamento. Aos 30 dias após a poda foram avaliadas as seguintes características: a) número de brotações emitidas por plan-ta; b) desenvolvimento do broto termi-nal e do broto maior, avaliados a partir de: i) altura – as brotações foram medi-das da base ao ápice (cm); ii) diâmetro (mm); e iii) número de folhas.

Experimento 2: Desinfestação de explantes de mamoeiro provenientes de plantas cultivadas no campo.

As plantas foram pulverizadas com o bactericida Agrimicina 48 horas antes da coleta das brotações. A seguir veio a coleta dos ápices dos ramos, aos 30 dias após a poda, e transportados para o laboratório, onde foram retiradas as gemas apicais e laterais, seguindo-se da lavagem em água corrente e a divisão em dois grupos. No primeiro grupo, em câmara de fluxo laminar, os explantes foram desinfestados com hipoclorito de sódio comercial (NaOCl) a 2% por 10 minutos, em seguida lavados três vezes em água destilada, esterilizada e inoculados em meio de cultivo sem bactericida (testemunha) e em meio contendo os produtos usados na de-

sinfestação: Rifampicina, Agrimicina e Kasumin, nas concentrações de 300mg L-1, 3g L-1 e 1ml L-1 respectivamente. A concentração do Kasumin foi usada conforme as recomendações do produ-to, e os demais produtos foram basea-dos em dados observados na literatura. No segundo grupo, os explantes foram imersos por 24 horas sob agitação em Agrimicina, Rifampicina e Kasumin nas mesmas concentrações anteriores por 24 horas, depois imersos em solução de NaOCl a 2% durante 10 minutos. Depois disso, foram lavados três vezes em água destilada e esterilizada e inoculados em tubos de ensaio com aproximadamente 10ml de meio de cultura, sendo 1 ex-plante por tubo.

O modelo experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, para 8 tratamentos resultantes do esquema fatorial (4 x 2), com 50 explantes por tratamento (1 explante por tubo). Aos 33 dias após a inoculação, realizou-se a avaliação da porcentagem de explantes contaminados e de explantes vivos.

O meio de cultivo usado nos dois experimentos foi o MS (Murashige & Skoog, 1962), com 1mg L-1 de 2iP, 1mg L-1 de GA3 e 0,1mg L-1 de ANA, cujas con-centrações dos reguladores foram utili-zadas de acordo com resultados de ex-perimentos preliminares. O pH do meio foi ajustado para 5,7 e autoclavado por

20 minutos a 121ºC e 1 atm. Após a ino-culação no meio de cultura, os explan-tes foram transferidos para a sala de crescimento com temperatura média de 26oC, fotoperíodo de 16 horas e intensi-dade luminosa em torno de 2.000 lux.

No experimento 1, verificou-se que quanto maior a poda (60cm), maior o número de brotações emitidas pelos mamoeiros (Figura 1), todavia não foi verificada diferença significativa entre as plantas podadas aos 20, 40 e 60cm do ápice. Resultados semelhantes foram encontrados por Barros et al. (2009) em mamoeiro cv. Golden, que constataram que o reduzido número de brotações com a poda alta (menos drástica) se deve à formação de grandes quantida-des de brotações reprodutivas abaixo da região do ápice podado, no qual as gemas já estavam predeterminadas.

Observou-se que a altura média das brotações terminais foi maior nas plan-tas podadas entre 20 e 60cm (Tabela 1). Giampan et al. (2005) verificaram dife-rença significativa da poda realizada na altura média da planta 30 dias após a eliminação da gema apical em mamoei-ro ‘Sunrise Solo’. O número de folhas do broto terminal foi maior nas plantas po-dadas a 20, 40 e 60cm. Comportamen-to similar, tanto para diâmetro e altura como para número de folhas do broto terminal, foi encontrado por Lopes et

Nota: Letras distintas no topo das colunas indicam que as médias diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p ≤ 0,05).

Figura 1. Número médio de brotações de mamoeiros cv. Tainung 01 aos 30 dias após a poda em diferentes alturas (ápice, 20, 40 e 60cm do ápice)

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al. (2008) em mamoeiro cv. Tainung 01, submetido a diferentes alturas de corte do caule.

Em relação às brotações das plantas após a poda, pôde-se constatar que o diâmetro do broto maior se comportou de maneira igual ao broto terminal, e não foram verificadas diferenças entre as diferentes alturas de poda. A altura das brotações maiores retiradas das plantas podadas a 20, 40 e 60cm do ápi-ce foi estatisticamente igual, diferindo apenas daquelas em que foi eliminado o ápice (Tabela 1). Resultados semelhan-tes foram obtidos por Carvalho et al. (2008) em ameixeiras, Prunus sp., ‘Poli-rosa’ com plantas podadas a diferentes alturas. Quanto ao número de folhas, observou-se que quanto maior a altu-ra do corte do caule, maior o número médio de folhas emitidas por brotação, com maior número de folhas no trata-mento a 60cm do ápice.

No experimento 2, verificou-se que na desinfestação com os produtos incor-porados ao meio de cultivo (Rifampicina e Agrimicina), os explantes apresenta-ram menores índices de contaminação – 24% e 28% respectivamente – em re-lação ao Kasumin (66%) e à testemunha

Tabela 1. Efeito da altura de poda sobre o diâmetro, altura e número de folhas do broto terminal em brotações de mamoeiro cv. Tainung 01, aos 30 dias em resposta a diferentes alturas de poda (ápice, 20, 40 e 60 cm do ápice)

TratamentoBroto terminal Broto maior

Diâmetro Altura Folhas Diâmetro Altura Folhas(cm) (cm) (no) (cm) (cm) (no)

Ápice 2,07 a 4,29 b 7,09 b 2,62 a 4,37 b 7,33 c20 2,31 a 7,99 a 9,50 a 2,87 a 8,29 a 9,41 b40 1,87 a 6,03 a 8,83 a 2,52 a 7,11 a 9,33 b60 1,98 a 8,26 a 9,67 a 2,67 a 9,58 a 10,67 a

Nota: Letras distintas nas colunas indicam que as médias diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p ≤ 0,05).

Tabela 2. Porcentagem média dos explantes de plantas de mamoeiro cv. Tainung 01 contaminados e vivos aos 33 dias de cultivo in vitro em resposta aos bactericidas Rifampicina (300mg L-1), Agrimicina (3g L-1) e Kasumin (1ml L-1), incorporados ao meio de cultivo ou por imersão por 24 horas sob agitação

Forma Testemunha Rifampicina Agrimicina Kasumin TotalNo meio 82Aa/36Ab 24Ab/58Ab 28Ab/66Aa 66Aa/64Aa 50,0A/56AAgitação 70Aa/0Bb 6Bb/28Ba 4Bb/16Ba 62Aa/2Bb 35,5B/11,5BTotal 76a/18b 15c/43a 16c/41a 64b/33a -

Nota: Letras maiúsculas iguais nas colunas não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5 % de probabilidade. Letras minúsculas iguais nas linhas não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5 % de probabilidade.

(82%) (Tabela 2). Tais resultados estão de acordo com os obtidos por Handa et al. (2005) em pau-rosa, A. rosaeodora Ducke, no qual a menor porcentagem de contaminação foi obtida mediante a imersão por 1 hora dos explantes em solução contendo Agrimicina a 300mg L-1. Vianna et al. (1997), em mamoeiro cv. Formosa, verificaram a eficiência da Rifampicina, obtendo 70% de explantes de plantas de campo livres de contami-nações. Embora a utilização dos produ-tos no meio de cultivo tenha apresen-tado bons resultados, seu uso faz com que o meio de cultura fique opaco, di-ficultando a visualização de eventuais contaminações.

Quando os explantes foram agitados por 24 horas na presença de antibióti-cos, a contaminação foi menor em re-lação a quando incorporados ao meio de cultivo. A Rifampicina e a Agrimici-na apresentaram os melhores resulta-dos para a descontaminação, com 6% e 4% respectivamente. Possivelmente, esse fato elevou de forma significativa o número de explantes viáveis. Para a cultura da bananeira ‘IAC 2001’, Bobroff et al. (2009), utilizando Agrimicina em diferentes concentrações, verificaram

melhores resultados com imersão dos explantes em 6g L-1 por 20 minutos. Já Naue et al. (2007), testando a Agrimici-na (320mg L-1) em Nicotiana tabacum L., observaram melhor controle da conta-minação bacteriana quando usada no meio em relação à imersão dos explan-tes.

A maior porcentagem de explantes vivos de mamoeiro foi observada quan-do os produtos usados na desinfestação foram adicionados ao meio de cultivo com 58%, 66% e 64% dos explantes vi-vos nos tratamentos com Rifampicina, Agrimicina e Kasumin respectivamente (Tabela 2). Verificou-se diferença signifi-cativa do tratamento testemunha, com porcentagem de sobrevivência de 36%.

A porcentagem média dos explantes vivos que foram submetidos por 24 ho-ras sob agitação foi bem inferior à dos explantes inoculados imediatamente após sua coleta. Possivelmente, o tem-po de imersão tenha sido muito longo, contribuindo para que os explantes per-dessem parte da sua capacidade reati-va, ficando mais frágeis e suscetíveis à toxidez pelo hipoclorito de sódio usado na desinfestação.

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Agradecimentos

Ao BNB, pelo apoio financeiro no desenvolvimento da pesquisa.

Contribuição dos autores no trabalho

francisco Ronaldo Vidal: Edição e desenvolvimento do texto, estatística, testes laboratoriais. Josefa diva No-gueira diniz: Orientação técnica, testes laboratoriais. fanuel Pereira da Silva: Conselho técnico.

Referências

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BOBROFF, R.L.; LENZA, J.B.; PEREIRA, G.A. Avaliação de diferentes concentrações de Agrimicina para micropropagação de bana-

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ARtIGo cIENtÍfIco

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Introdução

Santa Catarina tradicionalmente produz vinhos de consumo corrente, elaborados com uvas americanas e híbridas. Entretanto, nos últimos anos, tem investido em tecnologia de ponta nos vinhedos e vinícolas, importando mudas de variedades de Vitis vinifera L., visando à melhoria da qualidade dos vinhos. Devido às características climáti-

Impactos das mudanças climáticas sobre a viticultura no estado de Santa Catarina

Cristina Pandolfo1, Angelo Mendes Massignam2, Aparecido Lima da Silva3,

Ludmila Nascimento Machado4 e Emanuela Salum Pereira Pinto5

Resumo – No estado de Santa Catarina as áreas de produção de Vitis vinifera L. concentram-se nas regiões mais altas dos municípios de Bom Retiro, São Joaquim, Campos Novos, Tangará, Videira, Iomerê, Caçador e Água Doce. A viticultura é importante atividade econômica para o desenvolvimento dessas regiões, e o Estado é um dos principais produtores de uva e vinho do país. O objetivo deste trabalho foi estimar o impacto das mudanças climáticas sobre a área potencial de cultivo de variedades de Vitis vinifera L. em Santa Catarina. Foram elaborados três cenários de zoneamento agrícola (o cenário atual, cenário 2050 e cenário 2070) utilizando-se as saídas do modelo climático regional Precis. Para elaboração do zoneamento agrícola foram utilizados os critérios: total anual de horas de frio ≤ 7,2oC e data de ocorrência de última geada. As projeções de aumento de temperatura para os cenários 2050 e 2070 indicam drástica redução da área potencial de cultivo da Vitis vinifera L. para o estado de Santa Catarina. Alem disso, há uma mudança na distribuição espacial da área potencial de cultivo para regiões mais frias do Estado.

termos para indexação: Zoneamento; viticultura; temperatura; horas de frio; Precis.

climate change impact on Vitis vinifera l. In Santa catarina state based on chilling hours

Abstract - In Santa Catarina State, southern Brazil, the production areas of Vitis vinifera L., a species of grape that requires more chilling hours, concentrates in the higher regions of Água Doce, Bom Retiro, Campos Novos, Iomerê, Tangará, Videira, Caçador e São Joaquim. Viticulture is an important economic activity for the development of these regions and the state is one of the major producers of grape and vine in Brazil. The objective of this study was to estimate the impact of climate changes in the potential area of varieties of Vitis vinifera L. in Santa Catarina. Three scenarios of the agriculture climatical zoning were elaborated (the current scenario, the scenario for 2050 and the scenario for 2070) using the output of regional climate modeling PRECIS. The following criteria were used to elaborate the agriculture climatical zoning: total annual chilling hours ≤ 7.2°C and date of occurrence of the last frost. The projected temperature increase for the scenarios in 2050 and 2070 indicate reduction in the potenctial area of cultivation of Vitis vinifera L. for the state of Santa Catarina. Furthermore, there are a spatial change on the potential area for cultivation of varieties of Vitis vinifera L. and the potential area tend to move for cooler regions in Santa Catarina.

Index terms: agro-climatical zoning; viticulture, air temperature, chilling hours, PRECIS.

Recebido em 7/8/2013. Aprovado para publicação em 1/4/2014.1 Engenheira-agrônoma, Dra., Epagri / Ciram, Rod. Amar Gonzaga, 1347, Itacorubi, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, e-mail: [email protected] Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Ciram, e-mail: [email protected] Engenheiro-agrônomo, Dr., UFSC, e-mail: [email protected] Engenheira-agrônoma, Bolsista Finep, Epagri / Ciram, e-mail: [email protected] Analista de Sistemas, Epagri / Ciram, e-mail: [email protected].

cas peculiares das regiões mais altas do Estado e à adoção das tecnologias pre-conizadas pela pesquisa, a expectativa é de que Santa Catarina possa ser produ-tor de vinhos de alta qualidade, entre os melhores do Brasil, nivelando-se aos melhores vinhos chilenos e argentinos (Tagliari, 2003). No estado de Santa Ca-tarina as áreas de produção de varie-dades de Vitis vinifera L., espécie de uva mais exigente em frio, concentram-se

nas regiões mais altas, nos municípios de Bom Retiro, São Joaquim, Campos Novos, Tangará, Videira, Iomerê, Caça-dor e Água Doce. Segundo IBGE (2012), a produção catarinense com a cultura da videira (incluindo variedades de Vi-tis vinifera e Vitis labrusca) em 2012 foi de 70.909t ano-1, cultivados em 5.200 hectares aproximadamente. A Figura 1 apresenta a distribuição da área plan-tada com a cultura da videira no Estado.

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Estudar as mudanças climáticas tem sido um grande desafio, pois seus im-pactos são complexos e podem tornar--se um grande problema, não só em âmbito global mas também em níveis regional e local. O uso de cenários agrí-colas simulando mudanças climáticas permite estimar os impactos dessas mudanças na agricultura e propor estra-tégias de atuação por parte dos envolvi-dos no setor agrícola, desde o Governo até o setor privado, para desenvolver pesquisa em melhoramento genético, manejo agrícola e escolha de espé-cies promissoras adaptadas aos novos panoramas climáticos (Pandolfo et al., 2007).

Jones (2000), utilizando modelos de escala global, mostrou que as melhores regiões produtoras de uva terão aqueci-mento médio de 1,3oC nos próximos 50 anos. Entretanto, esse aquecimento

não será uniforme; os maiores aumen-tos de temperatura serão no oeste dos Estados Unidos e na Europa, e os meno-res aquecimentos no Chile, na África do Sul e na Austrália. O maior aquecimento previsto deverá ocorrer na Península Ibérica, no sul da França e em partes de Washington e Califórnia, chegando a va-lores maiores que 2,5oC.

Camargo et al. (2006) mostraram forte aquecimento da temperatura do ar ao longo dos anos em Santa Catari-ana, com destaque para a década de 90. Em média, em Santa Catarina o aumen-to foi de 2 a 5oC nos últimos 100 anos. O impacto desse aquecimento tem sido estudado em algumas culturas para o Estado.

Estimativas dos impactos do aumen-to linear de 2oC nas temperaturas médi-as, máximas e mínimas do ar, mantendo o total de precipitação nos valores ob-

servados na atualidade para as culturas da maçã e da banana no estado de San-ta Catarina, mostraram redução da área potencial de indicação para plantio de maçã de todos os grupos (diferentes exigências em frio) e ampliação da área potencial de plantio para banana (Pan-dolfo et al., 2007).

Muitos estudos têm sido realizados através de simulações, e a geração de cenários meteorológicos futuros está baseada em modelos regionalizados, considerados como a opção mais ade-quada de simuladores. As simulações regionais reproduzem razoavelmente os padrões espaciais e temporais da pre-cipitação e temperatura e as principais características de circulação de grande escala (Alves & Marengo, 2010).

A avaliação global da produção de vinho e os impactos das mudanças cli-máticas apresentadas por Jones & Alves

Fonte: IBGE (2012).

Figura 1. Distribuição das áreas plantadas (ha) com a cultura da videira (Vitis vinifera e Vitis labrusca) por município no estado de Santa Catarina

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(2012) mostraram a grande vulnerabili-dade da vinicultura ao clima e às faixas estreitas de variabilidade climática nas quais são cultivadas as videiras atual-mente. Portanto, pequenas alterações no clima têm grande potencial para provocar significativos impactos no ma-nejo dos vinhedos existentes e estimu-lar a troca das cultivares plantados em regiões produtoras de vinho em todo o mundo. Além disso, pequenas altera-ções no clima podem provocar mudan-ças na distribuição espacial das áreas potenciais de cultivo da espécie.

O objetivo deste trabalho foi estimar o impacto das mudanças climáticas na distribuição espacial da área potencial de cultivo de variedades de Vitis vinifera L. no estado de Santa Catarina.

Material e métodos

Foram gerados três cenários de da-dos climáticos para o zoneamento agrí-cola para variedades de Vitis vinifera L. no estado de Santa Catarina: o cenário atual, cenário 2050 e cenário 2070. O cenário atual foi gerado com base na cli-matologia do Atlas Digital do Estado de Santa Catarina (Pandolfo et al., 2007), o qual forneceu dados de temperaturas mínima, máxima e média estimadas, e nas equações de estimativa do total anual de horas frio – HF ≤ 7,2oC (Mas-signam et al., 2006).

Para a geração dos cenários 2050 e 2070 foram utilizadas as saídas dos da-dos diários de temperatura do mode-lo Precis (Providing Regional Climates for Impacts Studies), desenvolvido no Hadley Centre, Inglaterra, com as con-dições de contorno do modelo climáti-co regional HadRM3P. Esse modelo foi implementado no Brasil pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesqui-sas Espaciais (Inpe) (Johns et al., 2003). Foram adotadas projeções climáticas regionais pelo modelo Precis para o cenário B2 (otimista) utilizando a tem-peratura do ar (média, máxima e míni-ma) de acordo com a classificação de Nakicenovic et al. (2013). Esse modelo

tem resolução horizontal de 50km com 19 níveis na vertical (da superfície até 30km na estratosfera) e 4 níveis no solo. Nakicenovic et al. (2000) descrevem o cenário A2 com alto crescimento popu-lacional, médio crescimento do PIB, ele-vado consumo de energia, média a alta mudança no uso da terra, baixa disponi-bilidade de recursos, lento desenvolvi-mento tecnológico, energia regional. O cenário B2 apresenta médio crescimen-to populacional, médio crescimento do PIB, médio consumo de energia, média mudança no uso da terra, média dispo-nibilidade de recursos, médio desenvol-vimento tecnológico, dinâmica energé-tica como a usual.

O zoneamento agrícola para os três cenários foi elaborado utilizando o Zo-nExpert 1.0 (Pandolfo et al., 1999) como ferramenta auxiliar para cálculo e esti-mativa das variáveis climatológicas e cruzamento com os critérios da cultura. O ZonExpert 1.0 tem como princípio simular o crescimento e o desenvolvi-mento de determinada cultura em de-cêndios, que são períodos de dez dias, de acordo com as condições climáticas observadas ou estimadas de uma de-terminada região e as necessidades climáticas da cultura a ser zoneada. Foi gerada uma grade de pontos para todo o estado de Santa Catarina, sendo cada faixa altimétrica (100 em 100m) de cada município representada por um ponto georreferenciado. Essa grade de pontos foi cruzada com o modelo numérico do terreno obtido a partir do mapa hip-sométrico do Estado, obtendo-se uma grade de pontos georreferenciada com

suas altitudes correspondentes. Para cada ponto da grade foram estimados os valores das variáveis, probabilidade de geada e horas de frio para a condi-ção atual e para as projeções futuras. Os resultados finais do zoneamento foram organizados em tabelas para melhor entendimento das informações. Foi uti-lizando o software Ilwis 3.2 Academic para a interpolação de variáveis, a es-pacialização dos resultados e a geração dos mapas finais.

O total anual de horas de frio ≤ 7,2oC acumuladas para o período de abril a setembro foi estimado para os cenários 2050 e 2070 em função das tempera-turas mínimas provenientes do Precis, através da equação publicada por Mas-signam et al. (2006). A probabilidade de ocorrência da última geada foi calculada por equações de estimativa em função de coordenadas geográficas.

O zoneamento agrícola para os três cenários foi elaborado com base nas se-guintes classes: cultivo recomendado, cultivo tolerado e cultivo não recomen-dado (CNR). O cultivo recomendado e o cultivo tolerado foram considerados em função do enquadramento nos cri-térios das variáveis climáticas que pos-suem grandezas diferentes e também da altimetria do local em questão. O cultivo não recomendado foi considera-do quando pelo menos um dos critérios das variáveis climáticas não foi satisfeito (Tabela 1). Os critérios utilizados foram baseados na metodologia proposta pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para a videira europeia (Brasil, 2011).

Tabela 1. Classes de aptidões climáticas para o zoneamento da videira em função do total anual de horas de frio ≤ 7,2°C (abril a setembro), data-limite de ocorrência de última geada (a 0,8 de probabilidade) e porcentagem de área do município com indicação para plantio

Classe

Total anual de horas de frio ≤

7,2oc (abril a setembro)

data-limite de ocorrência

da última geada (a 0,8 de probabilidade)

Porcentagem mínima de área

do município com indicação para plantio

Cultivo recomendado > 600 < 26/10 > 30%Cultivo tolerado 500 a 600 ≤ 26/10 > 30%Cultivo não recomendado < 500 > 26/10 < 30%

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Resultados e discussão

O zoneamento agrícola para varie-dades de Vitis vinifera L. em Santa Ca-tarina para o cenário atual (Figura 2) mostrou que existem 32 municípios na classe ‘recomendado’ e 48 municípios na classe ‘tolerada de cultivo’. No zone-amento agrícola para o cenário 2050, observa-se que um grande número de municípios, que eram classificados como cultivo recomendado e tolerado no cenário atual (Figura 2), passaram a ser classificados como cultivo não reco-mendado (Figura 3). Houve redução da área potencial de cultivo recomendado e tolerado de 75% e 97% respectiva-mente (Tabela 2). Essa redução de área foi devida, principalmente, à redução do número do total anual de horas de frio ≤ 7,2oC, causada pelo aumento das temperaturas mínimas. Por outro lado, o aumento das temperaturas mínimas diminuiu a probabilidade de ocorrência de geada, e alguns municípios que apre-sentavam restrição ao cultivo no cená-rio atual devido à geada passaram a ser recomendados. Os municípios de Bom Jardim da Serra e Urubici, que no zonea-mento agrícola do cenário atual são en-quadrados como ‘cultivo não recomen-dado’, no cenário de 2050, passaram a ter menor risco de geada na brotação e foram enquadrados na classe ‘cultivo tolerado’.

No zoneamento agrícola para o ce-nário 2070 houve uma redução maior de municípios classificados como ‘cul-tivo preferencial’ ou ‘cultivo tolerado’ (Figura 4) (95% e 99% respectivamen-te). Entretanto, essa redução foi maior na classe de cultivo tolerado em relação ao zoneamento agrícola do cenário de 2050 (Figura 2). Somente os municípios de Urubici, Urupema, São Joaquim e Bom Jardim da Serra foram classificados como ‘cultivo não preferencial’, enquan-to Painel e Rio Rufino foram classifica-dos como ‘cultivo tolerado’.

Com o aumento das temperaturas mínimas (cenários 2050 e 2070), o pe-ríodo vegetativo tenderá a diminuir, pois o total das somas térmicas tende

Figura 3. Zoneamento agrícola para variedades de Vitis vinifera L. em Santa Catarina para o cenário 2050

Tabela 2. Área total (km2) dos municípios classificados como ‘cultivo recomendado’ e como ‘cultivo tolerado’ nos cenários atual, 2050 e 2070 em Santa Catarina

cenárioRecomendado

(km2)

Tolerado

(km2)

Total

(km2)Atual 20.695,7 188.002,7 208.698,42050 5.224,3 5.170,6 10.394,92070 1.098,1 2.237,1 3.335,2

Figura 2. Zoneamento agrícola para variedades de Vitis vinifera L. em Santa Catarina para o cenário atual.

Nota: CNR = Cultivo não recomendado.

a ser alcançado em menor período. O conceito de soma térmica ou graus-dia baseia-se no fato de que a taxa de de-senvolvimento de uma espécie vegetal está relacionada à temperatura do meio

(Pereira et al., 2007). Como consequên-cia dessa redução, ocorrerá uma anteci-pação do subperíodo entre a maturação e a colheita em decréscimo do total de radiação solar absorvida. Essa antecipa-

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Figura 4. Zoneamento agrícola para variedades de Vitis vinifera L. em Santa Catarina para o cenário 2070

ção da data de colheita já foi observa-da em Bordeaux, França. Jones (2000) mostrou um efeito na antecipação da data de colheita, no período de 1952 a 1997, de registros de fenologia da cultura da videira, variedades Cabernet Sauvignon e Merlot.

O acúmulo de soma térmica tem efeito sobre o metabolismo fenólico. Os compostos fenólicos de uvas e vinhos têm relação direta com as caracterís-ticas intrínsecas dos vinhos e afetam, entre outros aspectos, o amargor, a ads-tringência e a cor, especialmente no vi-nho tinto. Além disso, os compostos fe-nólicos são os conservantes do vinho ao longo do envelhecimento (Waterhouse, 2002). Portanto, sendo os compostos fenólicos importantes para os vinhos tintos e de guarda, supõe-se que algum efeito das mudanças climáticas, referin-do-se especificamente ao aquecimen-to global, seria observado com mais propriedade nos vinhos tintos do que nos vinhos brancos, os quais possuem valores menores (Komes et al., 2007)

e poderiam ser beneficiados com uma maturação tecnológica mais rápida.

Para regiões produtoras que estejam nos limites superiores do clima ideal, as mudanças climáticas podem provocar a extrapolação desses limites, provocan-do maturação dos frutos de forma ina-dequada à produção de uva e vinhos de alta qualidade. As mudanças climáticas poderiam determinar o avanço do plan-tio de variedades provenientes de ou-tras regiões desde que apresentassem regimes climáticos mais eficientes que os atuais (Jones et al., 2005). Os auto-res ressaltam, ainda, que as pesquisas sugerem que os impactos futuros das mudanças climáticas serão altamente heterogêneas para variedades e regi-ões. Essas mudanças podem modificar o padrão atual dos vinhos de forma que diminuam as diferenças de tipicidade entre os vinhos produzidos em regiões de altitude mais elevada e aqueles culti-vados em regiões de baixa altitude.

Quantos às áreas potenciais para as variedades que necessitam de mais

horas de frio para brotação, houve uma drástica redução, em torno de 70% e 89% para o cenário de 2050 e 2070 em relação ao cenário atual respectivamen-te. Os municípios da região produtora no cenário atual (Figura 1) passaram a ser classificados como ‘cultivo não recomendado’ em ambos os cenários futuros (2050 e 2070). Em função da redução da área potencial projetada pelo zoneamento agrícola dos cená-rios 2050 (Figura 3) e 2070 (Figura 4), sugere-se que medidas preventivas e propostas estratégicas sejam constru-ídas para garantir a produção de uvas de variedades de Vitis vinifera L. em Santa Catarina, prevendo a adequação dos materiais genéticos existentes às diferentes regiões do Estado. Portanto, o planejamento dessa cultura no Esta-do deve ponderar o estabelecimento de novos pomares em função da previsão de aumento das temperaturas em San-ta Catarina, combinando os locais com os materiais genéticos existentes e as diferentes características do fruto e do

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vinho que se deseja obter.

Conclusões

Os impactos das mudanças climáti-cas projetadas para 2050 e 2070 para o estado de Santa Catarina mostraram redução da área potencial de cultivo de variedades de Vitis vinifera L. de maior exigência em frio e mudança na distri-buição espacial da área potencial de cultivo para regiões mais frias do cená-rio atual. Sendo o zoneamento uma me-todologia que modela a potencialidade climática em função de demandas de espécie, ressalta-se que se pode culti-var a videira mesmo em áreas de culti-vo tolerado, ajustando-se o manejo da cultura e aceitando-se como possível a alteração do padrão do vinho a ser pro-duzido.

Agradecimentos

Agradecemos ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/CCST), em especial ao Dr. José Antônio Marengo, pelo fornecimento dos dados do Mode-lo Climático Regional.

Contribuição dos autores no trabalho

cristina Pandolfo: revisão bibliográ-fica, estruturação dos dados climatoló-gicos, análise dos resultados e elabora-ção de gráficos e tabelas. Angelo Men-des Massignam: análise de resultados e revisão científica do texto. Aparecido Lima da Silva: análise de resultados. Ludmila Nascimento Machado: orga-nização de dados das saídas dos cená-rios meteorológicos. Emanuela Salum Pereira Pinto: manuseio do sistema ZonExpert.

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ARtIGo cIENtÍfIco

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Introdução

O amendoim cultivado (Arachis hy-pogaea L.) tem grande variabilidade ge-nética quanto a cor do tegumento, for-mato das vagens, hábito de crescimen-to e ciclo. Conforme Conagin (1955), os genótipos podem ser classificados em três grupos: Virgínia, Spanish e Va-lência. As plantas dos grupos Spanish e Valência são morfologicamente se-melhantes; ambos apresentam plantas eretas e flores na haste principal (Figura 1). O grupo Virgínia, que inclui os ge-nótipos rasteiros, em algumas regiões conhecido como “amendoim-cavalo” ou “amendoim-paraguaio”, apresenta plantas muito ramificadas (Figura 2). As flores ocorrem nos ramos laterais. Os frutos botânicos (vagens) geralmente têm duas sementes e são maiores que as dos grupos Spanish e Valência (Figura 3).

O Brasil foi importante produtor de amendoim até o início da década 1970,

Avaliação de genótipos de amendoim em sistema de cultivo orgânicoSilmar Hemp1, Gilcimar Adriano Vogt2, Waldir Nicknich3 e Cristiano Nunes Nesi4

Resumo – O objetivo deste trabalho foi avaliar a produtividade de genótipos de amendoim (Arachis hypogaea L.) em sistema de cultivo orgânico. Dez genótipos de porte rasteiro e treze de porte ereto foram cultivados durante quatro safras no município de Chapecó, SC. O peso de vagens, massa de 100 grãos e rendimento de grãos após descascamento foram as variáveis avaliadas. O amendoim ereto mostrou interação significativa entre genótipos e safras para a variável produtividade de vagens. As produtividades de vagens obtidas foram satisfatórias, pois vários genótipos superaram ou produziram próximo a 4.000kg ha-1.

termos para indexação: Arachis hypogaea L., produtividade, germoplasma.

Performance of peanut genotypes in organic cultivation system

Abstract – The objective of this study was to evaluate the production of peanut genotypes (Arachis hypogaea L.) in organic system. Ten runner growing habit and thirteen upright peanut genotypes were cultivated during four harvests in Chapecó/SC (Santa Catarina State, Southern Brazil). The weight of pods, weight of 100 grains and grain yield after peeling were the variables evaluated. The upright peanut showed significant interaction between genotypes and harvests for the pods yield variable. The yield of pods obtained were satisfactory, since several genotypes exceeded or produced close to 4.000kg ha-1.

Index terms: Arachis hypogaea L, yield, germoplasm.

Recebido em 25/10/2013. Aceito para publicação em 15/4/2014.1 Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri / Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 2049-7525, e-mail: [email protected] Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri / Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (47) 3627-4199, e-mail: [email protected] Engenheiro-agrônomo, Epagri / Cepaf, fone: (49) 2049-7535, e-mail: [email protected] Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Cepaf, fone: (49) 2049-7537, e-mail: [email protected].

Figura 1. Planta do grupo Valência. Note-se o hábito ereto

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produzindo 970 mil toneladas em 1972. Porém, a partir de meados daquela dé-cada, devido a problemas de contami-nação com aflatoxina e à maior dispo-nibilidade de óleo de soja, a produção reduziu (Suassuna, 2006). Na safra 2011 foram produzidas 256 mil toneladas de amendoim em casca, sendo São Paulo o maior produtor nacional, responsável por 82% da produção (IBGE, 2012).

Em Santa Catarina, embora não se disponha de informações sobre o

Figura 3. Sementes de amendoim do grupo Virgínia

Figura 2. Planta do grupo Virgínia, que apresenta hábito rasteiro

número de agricultores que cultivam amendoim, estima-se, pelas observa-ções e pelos contatos informais com extensionistas da Epagri, que ele seja expressivo, principalmente para alimen-tação familiar e comercialização even-tual em feiras. No município de Anchie-ta, SC, por levantamento diagnóstico, verificou-se que 78% dos agricultores familiares cultivavam alguma área com amendoim, usando semente própria ou obtida junto a parentes ou vizinhos. O

mais cultivado era o tipo denominado “paraguaio” (Fávero & Valls, 2004), que se refere a genótipos rasteiros do grupo Virgínia.

O amendoim é cultivado em peque-nas áreas sem expressivos investimen-tos e utilizado quase que exclusivamen-te para a alimentação da família. Mes-mo assim, demanda muita mão de obra, o que é um dos fatores que dificultam a sua expansão.

Há poucos trabalhos sobre cultivo de amendoim em sistema orgânico, e há dificuldade de obter informações so-bre locais de cultivo. No levantamento sobre produção orgânica em Santa Ca-tarina, Zoldan & Mior (2012) verificaram que em três regiões, Extremo-Oeste, Meio-Oeste e Litoral Sul, há algum cul-tivo de amendoim em sistema orgânico para comercialização. Na sua grande maioria – 95,5% --, a produção é comer-cializada no próprio município onde é produzida.

O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento produtivo de genóti-pos de amendoim de porte ereto e de porte rasteiro em cultivo orgânico, du-rante quatro safras agrícolas, no municí-pio de Chapecó, SC.

Material e métodos

Os ensaios foram conduzidos nos anos agrícolas 2006/07, 2007/08, 2008/09 e 2009/10 na área experimen-tal da Epagri/Cepaf em Chapecó, SC, em rotação com outras culturas. O solo da região foi classificado como Latossolo Vermelho Distroférrico, e a altitude é cerca de 670m. Na média das quatro safras, as análises de solo apresentaram os seguintes resultados: índice SMP = 6,1, P = 11,6mg.dm-3, K = 175,5mg.dm-3, M.O. = 3%. A cultura de inverno que an-tecedeu ao amendoim foi aveia-preta. As datas de semeadura durante os qua-tro anos foram: 4/10/2006, 10/10/2007, 7/10/2008 e 28/10/2009.

No inverno foram aplicados, sobre a cobertura verde com aveia na fase ve-getativa, 3.000kg ha-1 cama de aviário, peneirado e não compostado. A área dos experimentos foi lavrada e a se-meadura foi em covas com distribuição manual das sementes de amendoim. Foram feitas duas aplicações de adubo

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orgânico granulado comercial com 1,5% de N total e 30% de umidade, 700kg ha-1 na ocasião da semeadura do amendoim e 400kg ha-1 na realização da primeira capina. A quantidade aplicada foi con-forme recomendação do fabricante e experiência com a cultura do feijão, que tem indicação semelhante. Não houve ocorrência de pragas e doenças que re-queressem medidas de controle. Ao fi-nal do ciclo da cultura, observou-se inci-dência de cercosporiose, porém não foi efetuado controle. Foram conduzidos ensaios com os grupos de amendoim rasteiro e ereto.

1- Amendoim rasteiroForam avaliados dez genótipos de

amendoim de hábito rasteiro com ciclo de cerca de 140 a 150 dias, dos quais Caiapó e Runner são cultivares comer-ciais, cultivados principalmente no esta-do de São Paulo, e os demais são oriun-dos da coleção de germoplasma da Epagri/Cepaf. As parcelas constaram de quatro fileiras com 5m de comprimento e espaçamento de 0,8m entre elas, sen-do a área útil para as avaliações forma-da pelas duas fileiras centrais (8m2).

2- Amendoim eretoForam avaliados 13 genótipos com

porte ereto e ciclo com cerca de 120 a 130 dias. Quatro são cultivares lançados pelo Instituto Agronômico de Campinas, dois genótipos foram recebidos da Epa-ce/CE, e os demais, acessos oriundos da coleção de germoplasma da Epagri/Cepaf. As parcelas constaram de quatro fileiras com 5m de comprimento e es-paçamento de 0,6m entre elas, sendo a área útil para as avaliações formada pe-las duas fileiras centrais (6m2).

Em ambos os grupos de amendoim a semeadura foi em covas a cada 0,2m nas fileiras, com duas a três sementes por cova. O delineamento experimental foi em blocos casualizados com quatro repetições.

As plantas daninhas foram controla-das por duas capinas manuais com en-xada durante o ciclo da cultura. Na oca-sião da colheita, as plantas foram arran-cadas manualmente, e as vagens, após despencadas das plantas, foram lavadas e colocadas para secar ao sol.

Foram avaliadas as variáveis produ-tividade de vagens, massa de 100 grãos e rendimento dos grãos, após descas-

camento. Para determinar a produti-vidade foram pesadas as vagens com os grãos, ajustando-se a umidade para 8%. Subamostras de vagens foram de-bulhadas para determinar a umidade dos grãos. Para determinar o percentual de rendimento de grãos em relação ao peso total das vagens (casca + grãos), foram pesadas 100 vagens, as quais fo-ram debulhadas, e os grãos, pesados. A partir desse procedimento, calculou-se também a massa de 100 grãos e deter-minou-se o número de grãos por vagem.

Inicialmente, foi realizada a análise de variância individual de cada ensaio, verificada a homogeneidade das vari-âncias residuais entre eles e realizada análise conjunta. As médias foram agru-padas pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5% de significância.

Resultados e discussão

1- Amendoim rasteiroHouve homogeneidade das variân-

cias residuais dos ensaios, pois a rela-

ção entre o maior e o menor quadrado médio do resíduo foi 2,46 (Tabela 1), possibilitando a realização da análise conjunta das safras, conforme recomen-dação de Pimentel-Gomes (2000). Para a variável produtividade em vagens (kg ha-1), a análise de variância conjunta das quatro safras indicou a existência de efeitos significativos (p < 0,05) de genó-tipos e de safras, e não significativo (p > 0,05) para a interação entre ambos, de-monstrando o comportamento similar dos genótipos ao longo das diferentes safras (Tabela 1).

O coeficiente de variação experi-mental foi no máximo 21,97%, e a mé-dia da produtividade dos genótipos foi 3.368kg ha-1 (Tabela 1). Rodrigues Filho et al. (1996), conduzindo experimentos com amendoim durante oito anos, de 1986/87 a 1993/94, no estado de São Paulo, obtiveram produtividade média de 2.497kg ha-1 com a aplicação de es-terco de galinha como fertilizante. Zullo et al. (1993), avaliando linhagens de amendoim de porte rasteiro em sistema

Tabela 1. Produtividade de vagens de genótipos de amendoim rasteiro em quatro anos de cultivo. Epagri/Cepaf, Chapecó, SC

GenótipoProdutividade de vagens (kg ha-1)

SafraMédia

2006/07 2007/08 2008/09 2009/10

Runner 3.099 4.508 4.420 3.821 3.962 a(1)

Caiapó 3.140 4.439 3.935 3.684 3.799 aAmra-03 3.164 4.013 3.962 3.343 3.621 bAmra-07 3.141 3.768 3.822 3.279 3.502 bAmra-01 3.264 2.846 3.745 3.771 3.407 bAmra-02 3.262 3.530 3.678 2.761 3.308 cAmra-08 2.494 3.084 3.933 3.483 3.248 cAmra-06 2.754 2.712 3.606 3.064 3.034 cAmra-05 2.290 2.977 3.666 3.173 3.027 cAmra-04 2.212 3.039 2.938 2.894 2.771 cMédia 2.882 C(2) 3.492 B 3.771 A 3.327 B 3.368 C.V. (%) 21,97 18,77 11,08 14,70 16,56 F Genótipos 7,05*F Safra 7,99*F Interação genótipos x safra 1,44ns

Relação (maior (QMR)/menor (QMR)) 2,46

(1) Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna não diferem pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade do erro quando comparadas às média dos genótipos.(2) Médias seguidas de mesma letra maiúsculas na linha não diferem pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade do erro.ns = não significativo a 5% de probabilidade* = significativo a 5% de probabilidade.

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convencional no estado de São Paulo, obtiveram produtividade em casca su-perior a 4.000kg ha-1. No Estado do Ce-ará, Santos et al. (2012) obtiveram pro-dutividades entre 1.850 e 3.130kg/ha.

Os cultivares Runner e Caiapó foram os mais produtivos na média de qua-tro anos de cultivo, produzindo 3.962 e 3.799kg ha-1 respectivamente (Tabe-la 1). Oliveira et al. (2006), em ensaios conduzidos no estado de São Paulo, obtiveram produtividades de vagens de 5.884 e 5.068kg ha-1 para os cultivares Caiapó e Runner respectivamente. Go-doy et al. (1999), avaliando o cultivar Caiapó, obtiveram desempenho produ-tivo de 3.510 e 4.169kg ha-1 de vagens na ausência de controle de doenças e no controle intermediário das doenças respectivamente.

Em relação à massa de 100 grãos de amendoim, houve interação significati-va entre genótipos e safras (Tabela 2). A massa de 100 grãos remete ao tamanho deles, e os cultivares Caiapó e Runner apresentaram os menores valores, en-tre 48 e 65 gramas. O genótipo Amra-03 apresentou a maior massa para 100 grãos, entre 74 e 112 gramas (Tabela 2). Oliveira et al. (2006) obtiveram valo-res de massa de 100 grãos de 69 e 64g para Runner e Caiapó respectivamen-te, pouco superiores aos encontrados no presente trabalho. Outro aspecto notável dos cultivares Runner e Caiapó refere-se ao rendimento de grãos pós-descascamento (Tabela 3), pois atingi-ram valores entre 74% e 79%, enquanto os genótipos Amra-04 e Amra-05 ren-deram apenas entre 61% e 69%. Santos et al. (2012), avaliando genótipos de amendoim rasteiro no Ceará, obtiveram rendimento médio em grãos, após o descascamento, entre 67% e 72%.

Quanto ao número de grãos por vagem (Tabela 4), alguns genótipos do grupo Virgínia apresentaram vagens com apenas uma semente, abaixo do valor considerado típico desse grupo, que são duas sementes. Por outro lado, três genótipos apresentaram algumas vagens com três grãos, resultando uma média superior a dois.

Considerando produtividades de vagens obtidas por autores em outros estados (Godoy et al., 1999), os resul-tados em Santa Catarina podem ser

Tabela 2. Massa de 100 grãos de genótipos de amendoim rasteiro em quatro anos de cultivo. Epagri/Cepaf, Chapecó, SC

GenótipoMassa de 100 grãos (g)Safra

Média 2006/07 2007/08 2008/09 2009/10

Amra-01 106 a(1) 83 a(1) 85 b(1) 77 a(1) 88

Amra-02 91 b 77 b 81 b 70 b 80

Amra-03 103 a 89 a 112 a 74 b 95

Amra-04 86 b 71 c 84 b 70 b 78

Amra-05 89 b 73 c 81 b 79 a 81

Amra-06 96 b 76 b 85 b 85 a 86

Amra-07 104 a 82 a 84 b 80 a 88

Amra-08 95 b 78 b 84 b 84 a 85

Caiapó 64 c 64 c 58 c 59 c 61

Runner 60 c 65 c 60 c 48 d 58

Média 89 76 81 73 80C.V. (%) 8,43 8,26 9,21 5,12 8,08F Genótipos 52,08*F Safra 60,82*F Interação genótipos x safra 4,18*Relação (maior (QMR)/menor (QMR)) 4,10

(1) Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade de erro quando comparadas às médias dos genótipos.* = significativo a 5% de probabilidade.

Tabela 3. Rendimento de grãos após descascamento de genótipos de amendoim rasteiro em quatro anos de cultivo. Epagri/Cepaf, Chapecó, SC

GenótipoRendimento de grãos após descascamento (%)

Safra Média

2006/07 2007/08 2008/09 2009/10Amra-01 77 b(1) 70 b(1) 74 b(1) 69 b(1) 73Amra-02 70 c 70 b 72 c 68 b 70Amra-03 74 b 75 a 84 a 69 b 76Amra-04 69 c 62 c 64 d 62 c 64Amra-05 64 d 61 c 65 d 61 c 63Amra-06 70 c 63 c 70 c 69 b 68Amra-07 75 b 74 a 76 b 71 b 74Amra-08 74 b 72 b 77 b 73 a 74Caiapó 79 a 79 a 79 b 76 a 78Runner 79 a 76 a 78 b 74 a 77Média 73 70 74 69 72C.V. (%) 3,74 2,99 4,52 3,07 3,67F Genótipos 63,09*F Safra 13,85*F Interação genótipos x safra 2,78*Relação (maior (QMR)/menor (QMR)) 2,53

(1) Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade de erro quando comparadas às médias dos genótipos.* = significativo a 5% de probabilidade.

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considerados satisfatórios, pois os culti-vares Runner e Caiapó alcançaram pro-dutividade média próxima a 4.000kg/ha. Vários genótipos do banco de ger-moplasma, apesar de apresentarem produtividades inferiores aos cultivares comerciais, também foram satisfatórios, aptos para nichos de mercados diferen-ciados ou por constituírem importantes fontes para programas de melhoramen-to genético.

2- Amendoim eretoHouve homogeneidade das variân-

cias residuais obtidas nas análises in-dividuais, pois a relação entre o maior e o menor quadrado médio do resíduo foi 1,72 (Tabela 5), possibilitando a re-alização da análise conjunta das safras. Para a variável produtividade de vagens (kg ha-1), a análise de variância conjunta das quatro safras indicou a existência de efeitos significativos (p < 0,05) de genótipos e de safras e para a interação entre genótipos e safras, demonstrando o comportamento diferencial dos ge-nótipos ao longo das diferentes safras (Tabela 5).

O coeficiente de variação foi no má-ximo 17,83%, e a produtividade média de vagens foi de 3.617kg ha-1 (Tabela 5). Na safra 2006/07, evidencia-se o rendimento de vagens do cultivar IAC-Oirã, que atingiu 4.822kg ha-1. Na safra 2007/08, destaque para os genótipos Amer-104 e Amer-106, que produziram 5.200 e 5.267kg ha-1, sendo os genóti-pos mais produtivos, superando os cul-tivares comerciais. Nas safras 2008/09 e 2009/10 não houve diferenças significa-tivas entre os genótipos, com produção média de 4.442 e 2.926kg ha-1 respecti-vamente. O cultivar Tatu, que foi um dos mais cultivados no País, atingiu 3.039kg ha-1 na safra 2006/07 e 2.913 na safra 2007/08; fez parte do grupo de me-nor produtividade em ambas as safras, sendo superado por IAC-Oirã em 59% e 47% nas safras 2006/07 e 2007/08 res-pectivamente.

Pompeu (1987), ao descrever três novos cultivares lançados pelo Institu-to Agronômico de Campinas, entre os quais o IAC-Oirã, também constatou a superioridade deles em produtivida-de comparativamente ao cultivar Tatu. Godoy et al. (1999), avaliando o efeito do controle de doenças foliares. obtive-

Tabela 4. Número de grãos por vagem de genótipos de amendoim rasteiro em quatro anos de cultivo. Epagri/Cepaf, Chapecó, SC

GenótipoNúmero de grãos por vagem

Safra Média 2006/07 2007/08 2008/09 2009/10

Amra-01 1,80 c(1) 1,75 b(1) 1,78 b(1) 1,75 c(1) 1,77Amra-02 1,75 c 1,69 b 1,75 b 1,66 c 1,71Amra-03 1,81 c 1,74 b 1,51 c 1,70 c 1,69Amra-04 2,32 a 2,06 a 2,05 a 2,08 b 2,13Amra-05 2,33 a 2,09 a 2,15 a 2,30 a 2,22Amra-06 2,15 b 1,84 b 2,10 a 2,26 a 2,09Amra-07 1,79 c 1,77 b 1,76 b 1,75 c 1,77Amra-08 1,86 c 1,75 b 1,81 b 1,76 c 1,80Caiapó 1,78 c 1,72 b 1,80 b 1,68 c 1,75Runner 1,73 c 1,64 b 1,79 b 1,69 c 1,71Média 1,93 1,80 1,84 1,86 1,86C.V. (%) 3,78 6,49 8,44 4,93 6,11F Genótipos 48,56*F Safra 9,05*F Interação genótipos x safra 2,14*Relação (maior (QMR)/menor (QMR)) 4,56

(1) Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade de erro quando comparadas às médias dos genótipos.* = significativo a 5% de probabilidade.

Tabela 5. Produtividade de vagens de genótipos de amendoim ereto em quatro anos de cultivo. Epagri/Cepaf, Chapecó, SC

GenótipoProdutividade de vagens (kg ha-1)

SafraMédia

2006/07 2007/08 2008/09 2009/10IAC Oirã 4.822 a(1) 4.290 b(1) 4.887 a(1) 3.970 a(1) 4.492Amer-104 3.136 c 5.200 a 4.726 a 2.854 a 3.979Amer-106 2.923 c 5.267 a 4.647 a 2.963 a 3.950Dwarf 4.018 b 3.764 c 4.416 a 3.135 a 3.833IAC 22 3.664 b 3.158 c 4.973 a 3.332 a 3.782Amer-101 3.287 c 4.321 b 4.565 a 2.683 a 3.714IAC Poitara 3.678 b 3.371 c 4.491 a 3.093 a 3.658IAC 82-12 2.772 c 4.380 b 4.476 a 2.832 a 3.615Amer-102 2.660 c 3.708 c 4.223 a 2.512 a 3.276HP1 3mM 2.797 c 2.859 c 4.244 a 3.091 a 3.248Tatu 3.039 c 2.913 c 4.445 a 2.547 a 3.236Amer-103 2.636 c 3.657 c 3.765 a 2.545 a 3.151Amer-105 2.932 c 3.060 c 3.887 a 2.480 a 3.090Média 3.259 3.842 4.442 2.926 3.617C.V. (%) 17,83 16,79 13,31 16,82 16,03F Genótipos 7,87 *F Safra 16,15 *F Interação genótipo x safra 2,72 *Relação Maior (QMR)/Menor (QMR) 1,72

(1) Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade de erro quando comparadas às médias dos genótipos.* = significativo a 5% de probabilidade.

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ram produtividades de vagens de 3.271, 3.475 e 3.932kg ha-1 com o cultivar Tatu sem controle das doenças, com controle parcial e com controle completo respec-tivamente. Ainda Godoy et al. (2001), com o mesmo cultivar, obtiveram pro-dutividade de 2.880kg ha-1 com controle químico das doenças e 2.045kg ha-1 sem controle químico. Gomes et al. (2007), avaliando genótipos de porte ereto no sertão de Pernambuco, obtiveram pro-dutividade média de 2.959kg ha-1, tendo o cultivar Tatu produzido 2.734kg ha-1.

Os genótipos apresentaram varia-bilidade quanto à massa média de 100 grãos, com amplitude de 44 a 71 gra-mas. Os grãos maiores foram do cultivar IAC-Poitara, enquanto o tradicional cul-tivar Tatu ficou entre os menores, com média de 45 gramas, embora haja efeito significativo de safra (Tabela 6). Godoy et al. (2001) obtiveram massa média de 40 gramas para 100 grãos do cultivar Tatu.

O rendimento de grãos (Tabela 7) não mostrou variação expressiva; o maior percentual foi obtido com Os cultivares IAC 82-12, IAC 22 e Tatu, com média de 72%, enquanto o menor foi dos genótipos Amer-101 e Amer 106, com média de 68%, embora haja efei-to significativo de safra. Godoy et al. (2001) obtiveram rendimento médio de grãos descascados de 66,5%, e Gomes et al. (2007) obtiveram rendimento mé-dio de 63% a 69%, e para o cultivar Tatu, 67%, portanto, próximos aos alcançados no presente trabalho.

Todos os genótipos, exceto os quatro cultivares do IAC, apresentaram mais de dois grãos por vagem. Ocorreram va-gens com quatro grãos e eventualmen-te com cinco em poucos genótipos, mas na média todos ficaram abaixo de três grãos por vagem, pois também houve vagens com apenas um grão (Tabela 8).

Comparando os resultados obti-dos nos ensaios em Santa Catarina aos obtidos por outros autores em outros estados (Pompeu, 1987; Godoy et al., 1999; Gomes et al., 2007), estes po-dem ser considerados satisfatórios, com destaque do cultivar IAC-Oirã. Na sa-fra 2007/08 os genótipos do banco de germoplasma (Amer-104 e Amer-106) apresentaram produtividades superio-res aos cultivares comerciais, sendo in-dicativo de seu potencial.

Tabela 6. Massa de 100 grãos de genótipos de amendoim ereto em quatro anos de cultivo. Epagri/Cepaf, Chapecó, SC

GenótipoMassa de 100 grãos (g)

SafraMédia

2006/07 2007/08 2008/09 2009/10Amer-101 63 b(1) 67 b(1) 65 a(1) 54 b(1) 62Amer-102 62 b 74 b 68 a 59 a 66Amer-103 64 b 72 b 69 a 64 a 67Amer-104 63 b 81 a 68 a 62 a 69Amer-105 60 b 61 c 57 b 54 b 58Amer-106 67 b 77 a 66 a 60 a 68Dwarf 47 c 53 d 56 b 51 b 52HP1 3mM 43 c 48 d 42 c 44 c 44IAC 22 64 b 69 b 69 a 60 a 66IAC 82-12 41 c 56 c 53 b 53 b 51IAC Oirã 72 a 79 a 62 a 64 a 69IAC Poitara 71 a 77 a 71 a 63 a 71Tatu 44 c 50 d 45 c 42 c 45Média 58 66 61 56 60C.V. (%) 4,99 4,74 8,24 8,80 6,82F Genótipos 83,07 *F Safra 26,31 *F Interação genótipo x safra 3,33 *Relação Maior (QMR)/Menor (QMR) 2,95

(1) Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade de erro quando comparadas às médias dos genótipos.* = significativo a 5% de probabilidade.

Tabela 7. Rendimento de grãos após descascamento de genótipos de amendoim ereto em quatro anos de cultivo. Epagri/Cepaf, Chapecó, SC

GenótipoRendimento de grãos após o descascamento (%)

SafraMédia

2006/07 2007/08 2008/09 2009/10Amer-101 70 a(1) 66 b(1) 70 b(1) 64 b(1) 68Amer-102 71 a 70 a 73 b 68 b 71Amer-103 71 a 67 b 72 b 68 b 70Amer-104 72 a 71 a 72 b 67 b 71Amer-105 72 a 68 a 72 b 68 b 70Amer-106 70 a 67 b 73 b 63 b 68Dwarf 72 a 65 b 76 a 71 a 71HP1 3mM 72 a 68 a 72 b 70 a 71IAC 22 73 a 68 a 76 a 71 a 72IAC 82-12 70 a 70 a 76 a 73 a 72IAC Oirã 71 a 65 b 70 b 68 b 69IAC Poitara 72 a 64 b 75 a 67 b 70Tatu 74 a 67 b 77 a 69 b 72Média 72 67 73 68 70C.V. (%) 2,37 5,05 3,30 3,89 3,73F Genótipos 5,33 *F Safra 84,83 *F Interação genótipo x safra 2,04 *

Relação Maior (QMR)/Menor (QMR) 4,03 (1) Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade de erro quando comparadas às médias dos genótipos.* = significativo a 5% de probabilidade.

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Tabela 8. Número de grãos por vagem de genótipos de amendoim ereto em quatro anos de cultivo. Epagri/Cepaf, Chapecó, SC

GenótipoNúmero de grãos por vagem

SafraMédia

2006/07 2007/08 2008/09 2009/10Amer-101 2,4 b(1) 2,1 b(1) 2,3 a(1) 2,3 a(1) 2,3Amer-102 2,6 a 2,4 a 2,3 a 2,1 a 2,4Amer-103 2,5 a 2,4 a 2,3 a 2,2 a 2,4Amer-104 2,3 b 2,2 a 2,2 a 2,0 a 2,2Amer-105 2,6 a 2,3 a 2,4 a 2,2 a 2,4Amer-106 2,3 b 2,2 a 2,3 a 1,9 b 2,2Dwarf 2,5 a 2,1 b 2,2 a 2,2 a 2,3HP1 3mM 2,2 b 1,8 c 2,2 a 2,3 a 2,1IAC 22 1,9 c 1,6 d 1,7 b 1,7 b 1,7IAC 82-12 1,9 c 1,5 d 1,8 b 1,8 b 1,8IAC Oirã 1,8 c 1,3 e 1,6 b 1,6 c 1,6IAC Poitara 1,7 c 1,3 e 1,7 b 1,5 c 1,6Tatu 2,7 a 2,1 b 2,5 a 2,3 a 2,4Média 2,3 1,9 2,1 2,0 2,1C.V. (%) 5,36 10,46 7,67 8,88 8,12F Genótipos 57,91 *F Safra 40,49 *F Interação genótipo x safra 2,10 *Relação Maior (QMR)/Menor (QMR) 2,84

(1) Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade de erro quando comparadas às médias dos genótipos.* = significativo a 5% de probabilidade.

Conclusão

Os cultivares de amendoim de hábi-to rasteiro Runner e Caiapó e o de há-bito ereto IAC-Oirã obtiveram desempe-nho produtivo satisfatório na avaliação por quatro safras agrícolas em sistema de cultivo orgânico em Chapecó, SC.

Contribuição dos autores no trabalho

Silmar hemp: Acompanhamento e avaliação dos ensaios e revisão bilbio-gráfica. Gilcimar A. Vogt: Acompanha-mento e avaliação dos ensaios, análise estatística e elaboração das tabelas. Waldir Nicknich: Instalação e acompa-nhamento dos ensaios em campo. Cris-tiano N. Nesi: Análise estatística e revi-são científica do texto.

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Introdução

A bicheira-da-raiz é um dos princi-pais problemas fitossanitários da cultu-ra do arroz irrigado no Brasil (Martins & Prando, 2004). Essa denominação co-mum refere-se às larvas de gorgulhos aquáticos que danificam o sistema radi-cular das plantas, sendo a espécie pre-dominante Oryzophagus oryzae (Costa Lima) (Coleoptera: Curculionidae), que tem ampla distribuição nas regiões de cultivo.

Um evento peculiar no ciclo de vida de O. oryzae é a diapausa hibernal de adultos (Mielitz, 1993), que possibilita a sobrevivência a condições ambientais adversas e à escassez sazonal de plantas

Infecção artificial de adultos da bicheira-da-raiz com Beauveria bassiana em armadilha luminosa

Eduardo Rodrigues Hickel¹, José Maria Milanez² e Robert Harri Hinz³

Resumo – A bicheira-da-raiz, Oryzophagus oryzae (Costa Lima) (Coleoptera: Curculionidae), é um dos principais problemas fitossanitários da cultura do arroz irrigado no Brasil. A aplicação de Beauveria bassiana (Bals.) Vuill. nas lavouras não tem resultado no controle biológico da praga, apesar da suscetibilidade a esse entomopatógeno. Assim, foi objetivo desta pesquisa avaliar a infecção artificial de adultos de O. oryzae com B. bassiana em armadilha luminosa. Duas armadilhas luminosas foram instaladas em lavoura de arroz irrigado em Itajaí, SC, sendo uma delas com um aparato de contaminação fúngica. Os insetos capturados, em cinco datas, foram mantidos em laboratório para avaliar a mortalidade por infecção desse entomopatógeno. As taxas de mortalidade por infecção fúngica dos insetos oriundos da armadilha com B. bassiana variaram de 85,8% a 97,9%, expressando curvas de mortalidade exponenciais. Esse resultado evidencia que armadilhas luminosas equipadas com inóculo de B. bassiana são eficientes para infectar artificialmente adultos de O. oryzae.

termos para indexação: Oryzophagus oryzae; Curculionidae; manejo de pragas; controle biológico; arroz irrigado.

Artificial infection of South American rice water weevil with Beauveria bassiana in light trap

Abstract – The South American rice water weevil, Oryzophagus oryzae (Costa Lima) (Coleoptera: Curculionidae), is one of the most important insect pest of irrigated rice in Brasil. The Beauveria bassiana (Bals.) Vuill. application in rice fields did not result in biological control of the pest, despite its susceptibility to the entomopathogenic fungus. So, the aim of this research was to evaluate the artificial infection of O. oryzae adults with B. bassiana in light trap. Two light traps were set in an irrigated rice field and one received an apparatus of fungal contamination. The captured insects, in five dates, were kept in laboratory to check the mortality by B. bassiana infection. Fungal mortality rates of individuals that went through the apparatus varied from 85.8 to 97.9%, expressing exponential mortality curves. This result shows that light traps, equipped with B. bassiana inoculum, are efficient to infect artificially adults of O. oryzae.

Index terms: Oryzophagus oryzae, Curculionidae, integrated pest management, biological control, irrigated rice.

Recebido em 6/12/2013. Aceito para publicação em 9/4/2014.¹ Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88318-112 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5224, e-mail: [email protected]. ² Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected].³ Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri / Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected].

hospedeiras. Nos locais de hibernação, pode ocorrer alta mortalidade de indiví-duos pela infecção por fungos entomo-patogênicos, principalmente Beauveria bassiana (Bals.) Vuill. No Rio Grande do Sul, em folhedo de bambu, foram cons-tatados até 42% de mortalidade desse inseto durante o período de hibernação (Mielitz & Silva, 1992).

O fungo B. bassiana habita os solos, onde sobrevive em saprogênese, mas também infecta diversas espécies de insetos, causando doença letal. Devido a sua virulência e a seu amplo espectro de hospedeiros, esse fungo tem sido um dos principais entomopatógenos pesquisados e utilizados em programas de controle biológico de pragas (Alves,

1998).O emprego de B. bassiana para o

controle biológico de adultos da bi-cheira-da-raiz pode ser uma alterna-tiva viável. Os resultados de testes em laboratório foram muito promissores (Martins et al., 1986; Prando & Ferreira, 1994), porém não se confirmaram nos testes de campo (Irwin, 1996; Costa et al. 2003). Leite et al. (1992) obtiveram resultados variáveis de controle des-sa praga pela aplicação de B. bassiana em lavouras de arroz irrigado. No trata-mento com melhor resultado, utilizando óleo de soja como veículo qsp, a mor-talidade do inseto por infecção fúngica não atingiu 50%. Assim, é preciso apri-morar o método de aplicação desse fun-

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go no campo para que tenha eficiência no controle da bicheira-da-raiz.

Uma das dificuldades para controlar as pragas no campo utilizando entomo-patógenos está em promover o con-tato do organismo alvo (inseto) com o agente de controle biológico (esporos ou massa fúngica) (Alves, 1998). Nesse aspecto, as armadilhas atrativas podem servir de local para a contaminação de indivíduos com agentes de controle, como a B. bassiana (Vega et al., 2007). Os gorgulhos aquáticos do arroz têm elevado fototropismo positivo e são atraídos por armadilhas luminosas, nor-malmente empregadas em estudos de flutuação populacional (Camargo et al., 1990; Hickel, 2013).

Assim, tendo por hipótese que a mortalidade de gorgulhos O. oryzae por infecção fúngica no período de repouso hibernal possa ser incrementada pela chegada de insetos artificialmente in-fectados aos refúgios, desenvolveu-se este estudo, com o objetivo de avaliar a infecção artificial de adultos de O. oryzae com massa de esporos de B. bas-siana disposta em armadilha luminosa.

Material e métodos

O estudo foi conduzido na Estação Experimental da Epagri em Itajaí, SC, por dois anos consecutivos, em uma quadra de arroz irrigado de 0,15ha (26°56’44”S e 48°45’42”O), limitada a norte, sul e leste com outras quadras de arroz e a oeste com o leito seco original do Rio Itajaí Mirim. O sistema de cultivo adotado foi o pré-germinado, execu-tado conforme preconizam Eberhardt & Schiocchet (2012), excetuando-se a ausência de controle de pragas com in-seticidas. As semeaduras foram realiza-das em 1/9/2011 e em 20/8/2012. Na safra 2011/12 foi semeada a linhagem SC 446, e na 2012/13 o cultivar Epagri 106, ambos de ciclo precoce.

Duas armadilhas luminosas, mode-lo Luiz de Queiroz, equipadas com luz negra (T8 15W BL LE), foram instaladas em tripés de madeira ao lado da tai-pa, sendo uma posicionada na metade do maior comprimento da quadra, e a outra no canto nordeste. Para limitar a entrada de insetos maiores, uma tela de náilon (5 x 5mm de malha) foi colocada

circundando as aletas das armadilhas.A armadilha do canto nordeste foi

sorteada para receber o aparato de contaminação fúngica, que consistiu de uma garrafa PET de 5L, cortada em círculo no gargalo para encaixar no fu-nil coletor da armadilha. Na garrafa também foram feitas duas aberturas retangulares (5 x 10cm) a 2cm do fun-do para permitir a evasão dos insetos capturados. O fundo da garrafa serviu de prato para reter a massa fúngica de B. bassiana, cepa Epagri01, preparada em arroz autoclavado, conforme meto-dologia adotada no Laboratório de Be-auveria da Epagri/Estação Experimental de Itajaí (Prando, 2006). A incidência de luz solar na massa fúngica foi evitada cobrindo-se os dois terços superiores da garrafa PET com plástico preto. A ou-tra armadilha, no meio da taipa, serviu para a obtenção de insetos, a priori, não contaminados por B. bassiana (teste-munha).

As armadilhas foram ligadas uma vez por semana, das 16h às 9h. Os in-setos atraídos foram aprisionados em sacos plásticos de 20L, fixados no funil coletor da armadilha, de onde poste-riormente foram coletados os adultos de O. oryzae. Na armadilha com fungo, o saco plástico envolveu o aparato de contaminação, de modo que os insetos capturados entraram em contato com o inóculo. Os adultos de O. oryzae retidos na massa fúngica dentro do aparato, no dia seguinte ao de acionamento da ar-madilha, também foram coletados para avaliação.

A infecção fúngica foi avaliada nos indivíduos coletados em três oportuni-dades no decorrer do mês de janeiro de 2012, em 18 de dezembro de 2012 e em 11 de janeiro de 2013, quando ocorreu intensa captura de O. oryzae. Dependendo da ocasião, grupos de in-setos foram acondicionados em placas de petri (9cm de diâmetro), em caixas plásticas (10 x 6 x 3,5cm), ou em caixas gerbox (11,5 x 11,5 x 3,5cm) previamen-te desinfetadas com álcool 96° e forra-das com papel-filtro umedecido com água destilada. Esses recipientes foram usados em função da disponibilidade e porque permitiam manter o papel de forração úmido entre os intervalos de inspeção, o que era fundamental para o desenvolvimento do fungo.

Os recipientes foram mantidos em sala de criação de insetos, em tempe-ratura ambiente, sendo inspecionados a cada três ou cinco dias para a conta-gem de insetos mortos e infectados, caracterizados pelo crescimento mice-lial branco emanado das articulações. A cada inspeção, os insetos mortos eram retirados dos recipientes e o papel-filtro reumedecido. Em toda manipulação laboratorial, os insetos-testemunha (aqueles coletados na armadilha sem aparato de contaminação) foram pro-cessados primeiramente, tomando-se cuidados extremos para evitar qualquer contaminação.

O número final de insetos mortos por infecção foi transformado em (x + 0,5)0,5 e comparado com teste t ao nível de 5% de significância, executando-se a rotina “Teste t – amostras independen-tes” do suplemento “Action” em plani-lha eletrônica Excel.

Resultados e discussão

A infecção fúngica por B. bassiana nos adultos de O. oryzae (Figura 1) que passaram pelo aparato de contamina-ção foi significativa. As taxas de morta-lidade finais variaram de 85,8% a 97,9% (Tabela 1), sendo superiores àquelas ob-tidas por Martins et al. (1986) e Prando & Ferreira (1994) em testes de labora-tório.

A infecção dos insetos coletados da armadilha-testemunha foi nula na sa-fra 2011/12 e baixa da safra 2012/13, demonstrando que, em condições na-turais, os adultos de O. oryzae não se contaminam com esporos de B. bas-siana. A viabilidade dos esporos desse fungo é baixa, principalmente quando eles estão expostos à incidência direta de luz solar no campo (Irwin, 1996; Al-ves, 1998). Dessa forma, não há fonte de inóculo em quantidade nas lavouras para que haja contaminação e posterior infecção dos indivíduos.

As curvas de evolução da mortalida-de de adultos de O. oryzae foram expo-nenciais (Figuras 2 e 3), evidenciando que a maioria dos indivíduos morre poucos dias após a contaminação. Isso demonstra que a contaminação inicial, no aparato instalado na armadilha lumi-nosa, foi a maior responsável pela infec-

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ção dos indivíduos, pois a retirada dos mortos por infecção a cada inspeção não limitou a epizootia (alastramento da doença) nos ambientes de acondi-cionamento. Isso permite supor que, no ambiente natural de hibernação de O. oryzae, a epizootia possa ser ainda mais severa, pois os indivíduos infectados permanecerão como fonte de inóculo para os demais indivíduos presentes no sítio.

A possibilidade de infecção de inse-tos com entomopatógenos em aparatos

Tabela 1. Mortalidade absoluta de O. oryzae infectados por B. bassiana mantidos em diferentes recipientes de acondicionamento em laboratório, de acordo com a data de coleta e a origem dos indivíduos. Estação Experimental de Itajaí, 2012 a 2013

Acondicio-namento(1)

Data decoleta

Número de recipientes Mortalidade(2) (%)Armadilha

com aparatoArmadilha

testemunhaArmadilha

com aparatoArmadilha

testemunha

Placa

4/1/2012 6 2 85,8 a 0,0 b11/1/2012 5 2 94,9 a 0,0 b18/1/2012 5 2 97,9 a 0,0 b

18/12/2012 10 8 97,0 a 3,6 b11/1/2013 5 5 87,6 a 7,0 b

Caixa plástica 11/1/2013 5 5 95,8 a 6,0 b

Gerbox(3)

4/1/2012 1 (n = 225) 1 (n = 200) 89,3 0,018/12/2012 1 (n = 196) 1 (n = 100) 88,1 5,0

11/1/2013 1 (n = 53) 1 (n = 100) 94,3 2,0(1) Nos acondicionamentos em placas de petri e caixas plásticas foram colocados 20 indivíduos por recipiente. Nos acondicionamentos em caixas gerbox, o “n” equivale ao número de indivíduos por caixa.(2) Médias seguidas de letras diferentes na linha diferem entre si pelo teste t (95% de confiança).(3) Valores não submetidos ao teste t por falta de repetição.

atrativos foi explorada por Vega et al. (2007). Segundo esses autores, essa é uma forma eficaz e de baixo custo para implementar o controle biológico de pragas agrícolas. A contaminação do curculionídeo Cylas formicarius (F.) com esporos de B. bassiana foi obtida com sucesso, modificando-se armadilhas de feromônio (Korada et al., 2010). O con-trole biológico do moleque-da-bananei-ra (Cosmopolites sordidus Germar) tem sido eficaz com a contaminação dos insetos em armadilhas atrativas, con-

feccionadas com o pseudocaule da ba-naneira (Prando, 2006). Sucesso no uso de armadilhas luminosas, como local de infecção fúngica, também foi obtido na Colômbia objetivando o controle bioló-gico de corós adultos (Coleoptera: Sca-rabaeidae) no cultivo da batata-baroa (Vasquez & Lozano, 1999).

A infecção artificial de adultos de O. oryzae com B. bassiana em armadilha luminosa abre novas perspectivas para a implementação do controle biológico da bicheira-da-raiz nas lavouras de arroz irrigado. A perspectiva é empregar es-sas armadilhas para infectar os adultos, principalmente antes que se dirijam aos locais de hibernação, onde B. bassiana poderá encontrar condições propícias de desenvolvimento e causar epizootia. Nesse aspecto, estudos complementa-res de modelos e suprimento de energia

para armadilhas luminosas e de quantidade de armadilhas a serem instaladas por área de lavoura ainda são necessários e deverão ser foco de novas pesquisas.

Conclusão

Armadilhas luminosas equipadas com reservatório de inóculo fúngico de B. bas-siana são eficientes para in-fectar artificialmente adultos de O. oryzae.

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e ao Conselho Nacional de De-

senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Edital Repensa, pelo suporte financeiro ao desenvolvimento da pes-quisa.

Contribuição dos autores no trabalho

Eduardo Rodrigues hickel realizou os trabalhos de campo e laboratoriais e escreveu o artigo. José Maria Milanez produziu a Beauveria bassiana, auxiliou nos trabalhos laboratoriais e contribuiu

Figura 1. Adultos de O. oryzae infectados por Beauveria bassiana apresentando o característico micélio branco emanado dos cadáveres

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na redação do artigo. Robert harri hinz auxiliou nos trabalhos laboratoriais e contribuiu na redação do artigo.

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Figura 3. Progressão da mortalidade de O. oryzae infectados artificialmente por B. bassiana obtida nos ensaios executados na safra 2012/13

Figura 2. Progressão da mortalidade de O. oryzae infectados artificialmente por B. bassiana obtida nos ensaios executados na safra 2011/12

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Introdução

O sucesso da atividade agrícola depende, entre outros fatores de pro-dução, da nutrição das plantas. O for-necimento adequado de nutrientes às plantas contribui significativamente para o aumento do rendimento das culturas e para a sanidade das plantas. Assim sendo, a otimização da eficiência nutricional é fundamental para melho-ria do rendimento, redução do custo de produção, proteção dos cultivos contra insetos-praga e doenças e manutenção da fertilidade do solo (Epagri, 2004;

Avaliação da concentração e da relação de nutrientes na compostagem de diferentes matérias-primas

Euclides Schallenberger¹, José Angelo Rebelo² e Rafael Ricardo Cantú³

Resumo – Neste trabalho foram avaliadas a concentração e a relação de nutrientes em compostos orgânicos elaborados com palha de arroz mais cama de frangos; capim-elefante mais cama de frangos; feijão-de-porco; e Crotalaria juncea. Maiores concentrações de nitrogênio foram obtidas nos compostos de plantas de crotalária, com 2,05%, e de feijão-de-porco, com 2,01%; e as menores nos compostos de capim-elefante mais cama de frangos e palha de arroz mais cama de frangos, que não diferiram entre si quanto ao teor desse nutriente, que foi de 1,78% e 1,76% respectivamente. A maior concentração de fósforo foi obtida nos compostos da mistura de cama de frangos com plantas de capim-elefante (2,83%) ou com palha de arroz (2,72%). A concentração de potássio foi semelhante entre os compostos oriundos das diferentes matérias-primas utilizadas. O cálcio, o magnésio, o ferro, o manganês e o zinco apresentaram-se em concentração mais elevada nos compostos que receberam cama de frangos. O valor nutricional e a relação entre os minerais nos compostos orgânicos foram dependentes da matéria-prima empregada na compostagem; logo, por meio de combinações adequadas, podem-se obter compostos que atendam a demanda nutricional específica de espécies vegetais.

termos para indexação: Composto orgânico; adubos orgânicos; nutrição orgânica de plantas.

Evaluation of concentration and and ratio of nutrientes in organic compost of different raw materials

Abstract- This research evaluated the concentration and ratio of nutrients in organic compost prepared with rice straw plus poultry house litter; elephant grass plus poultry house litter, jack bean and sunn hemp. Higher nitrogen concentrations were obtained in plant compost of sunn hemp , with 2.05% and jack bean with 2.01 %. The lowest were obtained in the compost of elephant grass more poultry house litter and rice straw plus poultry house litter which did not differ regarding the content of this nutrient and it was 1.78 % and 1.76 % respectively. The highest concentration of phosphorus was obtained in the mixture of poultry house litter with elephant grass (2.83 %) and rice straw plus poultry house litter (2.72 %). The potassium concentration was similar between the composts coming from the different materials used. Calcium, magnesium, iron , manganese and zinc were presented in higher concentration in the composts of poultry house litter. The relationship between nutritional and mineral in organics is dependent on the raw material used in the composting.

Index terms: organic compost; organic fertilizers; organic plant nutrition.

Recebido em 13/12/2013. Aceito para publicação em 8/5/2014.¹ Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, e-mail: [email protected].² Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected].³ Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri / Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected].

Spectrum Analytic, 2014). Nem sempre um mesmo adubo é ca-

paz de nutrir satisfatoriamente diversas espécies de plantas. Entre as hortaliças isso é bastante evidente. Como exem-plo, segundo a CQRF/RS-SC, (2004) em solo com teor médio de matéria orgâ-nica, fósforo e potássio, ao cultivo de couve-flor são necessários, por hectare, 200kg de N, 260kg de P2O5 e 280kg de K2O, numa relação N:P:K de 1:1, 3:1, 4, o que é muito diferente para a alfa-ce, cuja necessidade é de 100kg de N, 100kg de P2O5 e 160kg de K2O, cuja relação N:P:K é de 1:1:1,60. Assim, para

nutrir adequadamente espécies oleríco-las, precisa-se, obviamente, de diferen-tes quantidades de cada um daqueles nutrientes e, o mais importante, rela-cionados diferentemente entre si.

No sistema convencional de cultivo, a nutrição das plantas é uma tarefa mais fácil de realizar que em sistema orgâni-co, uma vez que há no mercado adubos minerais com as mais variadas concen-trações e relações de nutrientes, tanto na forma de adubos simples como as-sociados a outros nutrientes num mes-mo fertilizante. Em sistema orgânico de cultivo, é uma atividade complexa, pois

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os adubos orgânicos disponíveis para a adubação das lavouras apresentam, na maioria das vezes, nutrientes em con-centrações e relações que não atendem diretamente a demanda de todas as culturas. Isso, muitas vezes, resulta na aplicação de determinados nutrientes em dose superior ou inferior à deman-da, o que pode ocasionar problemas de ordem econômica, ambiental, fisio-lógica e química (planta e solo), o que, segundo Fancelli (2014) quando aliado ao estádio fenológico do hospedeiro, à herança genética e às condições climá-ticas reinantes no período, pode pre-dispor as plantas, por estresse, à ação de agentes de doenças, bióticos ou não, entre outros prejuízos. Tais riscos costu-mam ocorrer com o emprego costumei-ro de adubos orgânicos, como cama de frangos de aviários da região de Itajaí, SC, cuja análise química revelou possuir 2,63% de N, 4,16% de P2O5 e 2,24% de K2O; a cama de poedeira com 1,6% de N, 4,9% de P2O5 e 1,9% de K2O; a cama sobreposta de suínos com 1,5% de N, 2,6% de P2O5 e 1,8% de K2O; e o ester-co sólido de bovinos, sendo este o que apresenta relação menos discrepante de nutrientes (1,5% de N, 1,4% de P2O5 e 1,5% de K2O), segundo a CQRF/RS-SC (2004).

No sistema orgânico de produção, os adubos empregados devem resultar de transformações biológicas para que adquiram as características e proprieda-des do que se convencionou chamar de “adubo orgânico”, que, na sua essência, são os compostos orgânicos, capazes de induzir mudanças benéficas no solo do ponto de vista agrícola (Glória, 1992). As transformações biológicas mais eficazes ocorrem no processo chamado de com-postagem, que é o resultado da ação de inúmeros organismos, principalmente fungos e bactérias, além de aracnídeos, himenópteros, anelídeos, coleópteros, quilópodes, leveduras e algas, em con-dição aeróbia.

O emprego de compostos orgâni-cos na produção agrícola é uma prática adotada no mundo inteiro. Seu grau de eficiência depende do sistema e da for-ma como se executa o processo de pre-paro e das matérias-primas utilizadas. A riqueza nutricional e biológica dos compostos orgânicos auxilia sobrema-neira as plantas por meio da melhoria

das qualidades químicas, físicas e bioló-gicas do solo (Souza & Prezotti, 2007). No entanto, segundo Caporal & Costa-beber (2004), a realização da adubação orgânica sem considerar a demanda nu-tricional das plantas e a disponibilidade dos nutrientes no decorrer do cultivo ocasiona excessos ou deficiências de minerais disponibilizados.

Tem-se por hipótese que se podem obter compostos orgânicos com dife-renciadas concentrações e relações de nutrientes por meio da compostagem de diferentes materiais. Assim, reali-zou-se este trabalho com o objetivo de avaliar a concentração e a relação de nutrientes em compostos orgânicos re-sultantes da compostagem de matérias-primas, combinadas ou não.

Material e métodos

O trabalho foi conduzido em Itajaí, SC, na Estação Experimental da Epagri, situada a 27o 34’ de latitude sul, 48o 30’ de longitude oeste e altitude de 5m. De acordo com Köeppen (1948), o clima do lugar é subtropical, com chuvas bem distribuídas e verão quente e úmido, do tipo Cfa.

O trabalho constou da compostagem de materiais orgânicos isoladamente ou em misturas de diferentes proporções e medição da porcentagem de nutrientes em cada tratamento. Os materiais ava-liados foram biomassa de palha de ar-roz (Oryza sativa), biomassa de capim-elefante (Pennisetum purpureum) 90 dias após a rebrotação, biomassa das fabáceas feijão-de-porco (Canavalia en-siformis), com 100 dias após o plantio; crotalária (Crotalaria juncea), com 100 dias após plantio; e de cama de frangos (seis lotes), distribuídos nos seguintes tratamentos: T1 – crotalária 100%, T2 – feijão-de-porco 100%, T3 – capim-ele-fante mais cama de frangos, T4 – palha de arroz mais cama de frangos.

Nos tratamentos T3 e T4 a propor-ção dos materiais foi colocada buscan-do a relação C/N 30:1, que está entre 25:1 e 35:1, tidas por Fong et al. (1999) e Kiel (2004) como ideais para iniciar o processo de compostagem, com vista a um bom produto final a partir dos ma-teriais e do manejo aqui empregados no processo. Não se levou em conta o pH

da matéria-prima utilizada em face da recomendação de Valente et al. (2009), que afirmam ser um fator a desconside-rar, já que durante o processo ocorrem diversas reações químicas do tipo ácido-base e de oxirredução que regularão a acidez e gerarão um produto final com pH entre 7 e 8,5.

A crotalária, o feijão-de-porco e o capim-elefante foram picados em peda-ços de cerca de 5 a 8cm. A composição química de cada material utilizado na compostagem está listada na Tabela 1, e a concentração de carbono (%) e as relações entre os minerais estão na Ta-bela 2.

A compostagem foi elaborada colo-cando-se em composteira os materiais em leiras com 3m de comprimento, largura de 1,6m e altura de 1,8m (Figu-ra 1) de acordo com Valente (2008), e umedecidos a 55% de umidade por re-comendação de Margesin et al. (2006). A composteira tem piso de alvenaria e é coberta com polietileno transparen-te, com pé direito de 3m, cumeeira de 4,3m, largura 10m e 18m de compri-mento (Figura 1). Quando se adicionou cama de frangos, os materiais foram colocados em camadas superpostas. As leiras foram revolvidas segundo Silva et al. (2001) – parte interna para fora, e vice-versa, em períodos preestabeleci-dos de 20, 50 e 80 dias após a monta-gem do material (Valente et al., 2014) e irrigadas, sem que se permitisse a for-mação de chorume sempre que a umi-dade, determinada por meio de avalia-ção em estufa a 65ºC, atingisse 55%. A temperatura foi monitorada por meio de termômetros instalados no interior da leira, e o resfriamento do material foi feito com aplicação de água coletada de chuvas sempre que a temperatura su-bisse a cerca de 65°C (Barrington et al., 2003; Kiehl, 1985 e 2004). Aos 120 dias da montagem das leiras, considerou-se maduro o composto (Negro et al., 2000). Após isso, realizaram-se as análi-ses químicas e físicas do produto obtido, tais como a porcentagem de matéria or-gânica, a relação C/N e a porcentagem de macro e de micronutrientes.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com três re-petições. Cada parcela experimental foi composta de uma leira. Os dados foram submetidos à análise de variância, e as

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médias comparadas pelo teste de Tukey a 1% de probabilidade.

Resultados e discussão

Após os 120 dias de compostagem, a relação C/N dos compostos obtidos era muito semelhante entre si (Tabela 3). Considerando que a matéria-prima utilizada apresentava uma relação C/N muito distinta entre si (6,40 a 52,90),

Tabela 1. Concentração de minerais (%) em cama de frangos, Crotalaria juncea, Canavalia ensiformis, Pennisetum purpureum e Oryza sativa. Itajaí, SC, 2013

Material N(%)

P2O5 (%)

K2O (%)

Ca (%)

Mg(%)

Ferro(%)

Cobre (%)

Manganês (%)

Zinco (%)

Cama de frangos 2,63 a(1) 4,16 a 2,24 b 3,27 a 0,62 a 0,1100 a 0,0211 a 0,0432 a 0,0399 a

Crotalaria juncea 2,73 a 0,68 c 2,78 a 0,72 c 0,35 b 0,0336 b 0,0012 b 0,0084 d 0,0046 bcCanavalia ensiformis 2,65 a 0,77 b 2,67 a 1,34 b 0,23 c 0,0132 d 0,0009 c 0,0137 c 0,0032 c

Pennisetum purpureum 1,27 b 0,68 c 2,18 b 0,35 d 0,16 d 0,0189 c 0,0013 b 0,0189 b 0,0043 bc

Oryza sativa 0,81 c 0,43 d 2,18 b 0,37 d 0,24 c 0,0124 d 0,0013 b 0,0121 c 0,0063 b

(1) Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 1% de probabilidade.

Tabela 2. Concentração de carbono (%) e a relações entre minerais de Crotalaria juncea, Canavalia ensiformis, Pennisetum purpureum e Oryza sativa. Itajaí, SC, 2013

Material Carbono (%)

Relação C/N

Relação P2O5/N

Relação K2O/N

Relação P2O5/K2O

Relação N: P2O5: K2O

Cama de frangos 16,80 c(1) 6,40 d 1,59 a 0,87 d 1,82 a 1,00 1,59 0,85

Crotalaria juncea 57,40 a 21,00 c 0,24 c 1,02 c 0,23 c 1,00 0,29 1,01

Canavalia ensiformis 55,80 a 22,00 c 0,28 c 0,95 cd 0,29 b 1,00 0,25 1,02

Pennisetum purpureum 54,60 a 43,00 b 0,54 b 1,72 b 0,31 b 1,00 0,54 1,71

Oryza sativa 42,40 b 52,90 a 0,52 b 2,69 a 0,19 c 1,00 0,53 2,69

(1) Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 1% de probabilidade.

a semelhança dessa relação no produ-to final (9,78 a 12,7) indicava o mesmo grau de maturação de todos os compos-tos, o que permitiria a análise de todos na mesma ocasião, embora Goyal et al. (2005) tenham concluído, ao estudar as mudanças químicas e biológicas na compostagem de diversos resíduos, que não se pode utilizar apenas um único parâmetro para determinar o grau de maturação de um composto. No entan-to, afirmam que a relação C/N pode ser

utilizada como índice confiável, princi-palmente se combinada com o CO2 evo-luído e o teor de substâncias húmicas. Tais métodos estão baseados na hipó-tese de que a maturidade do compos-to pode ser estimada pela estabilidade biológica do produto.

Os compostos de crotalária (2,05% N) e de feijão-de-porco (2,01% N) apre-sentaram maior concentração de nitro-gênio que os obtidos de capim-elefante + cama de frangos (1,78% N), ou com palha de arroz + cama de frangos (1,76% N) (Tabela 4). Os compostos que rece-beram cama de frangos no processo de compostagem foram mais ricos em fósforo que os elaborados sem esse resíduo orgânico, como os obtidos de crotalária e feijão-de-porco, que podem dispensar a cama de frangos em face de sua apropriada relação C/N para o início do processo de decomposição (Tabela 4). Silva et al. (2011), utilizando mistura de capim-elefante e casca de café cur-tida, obtiveram composto com 1,5% de N, 0,3% de P2O5 e 1,73% de K2O. Quan-do compostaram a mistura de capim-elefante com cama de frango e casca de café verde, obtiveram um produto com 3% de N, 3,5% de P2O5 e 3% de K2O. Leal et al. (2007), ao utilizarem Crotala-

Figura 1. Leiras de matéria-prima em processo de compostagem em abrigos cobertos por polietileno e com piso de cimento

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K2O/N foi encontrada no composto de palha de arroz + cama de frangos (1,67) e a menor no composto de feijão-de-porco (1,23). A relação P2O5/K2O foi maior no composto de capim-elefante + cama de frangos (1,15) (Tabela 3).

Em adubação exclusivamente orgâ-nica, deve-se ajustar a dose de nitrogê-nio à exata demanda da planta. O fósfo-ro e o potássio podem ficar dentro de determinados limites, que, segundo a CQRF/RS-SC (2004), são de 10kg/ha aci-ma ou abaixo da dose demandada. Tal adubação será facilitada no que diz res-peito aos permitidos excessos de fósfo-ro e potássio e ajuste de N se se contar com compostos que tenham diferentes relações de NPK. Estes, isoladamente ou misturados, fornecerão as quantidades de minerais que mais bem atendam a recomendação de adubação demanda-da pelas plantas em face da sua neces-sidade relacionada com a fertilidade do solo onde serão cultivadas.

O uso exclusivo de cama de frangos ou esterco de aves sem cama, ou de ou-tros animais, na adubação de plantas

não permite tais ajustes. Por isso, pode levar a desequilíbrio químico no solo e nutricional nas plantas ante o fato de, em acertando a quantidade de nitro-gênio, acrescentar-se, pelo menos, ex-cessiva quantidade de fósforo e sais no solo. Segundo Vilar et al. (2014), o ex-cesso de fósforo aplicado no solo pode levá-lo à saturação por esse elemento e será mais iminente em solos arenosos, por apresentarem menor capacidade máxima de adsorção de fósforo. Maior saturação do solo por fosfato causa maior dispersão de seus constituintes, pois as cargas negativas criadas pela adsorção desse ânion tendem a se re-pulsar. O problema da dispersão é que o solo fica mais exposto ao risco de erosão e, com isso, carregar junto a ele uma maior quantidade de fósforo, que poluirá as águas superficiais subsuper-ficiais (eutrofização). Por outro lado, solos mais saturados têm menor capa-cidade de adsorção em relação aos me-nos saturados. Com isso, em solos mais saturados, o fósforo pode permanecer em maiores concentrações em solução

ria juncea pura para compostar, obtive-ram um composto com 4% de N, 0,95% de P2O5 e 0,45% de K2O, e quando em-pregaram capim-elefante puro no pro-cesso, obtiveram composto com 0,96% de N, 0,95% de P2O5 e 0,23% de K2O.

A matéria-prima empregada neste estudo apresentou semelhante teor de potássio (Tabela 1), o que também foi notado nos compostos obtidos (Tabela 4). O cálcio, o magnésio, o ferro, o man-ganês e o zinco estiveram em maior con-centração nos compostos resultantes da adição de cama de frangos (Tabela 3), e o composto de capim-elefante + cama de frangos apresentou o menor teor de carbono (17,18%) (Tabela 3).

A relação P2O5/N nos compostos em que se utilizou capim-elefante + cama de frangos (1,59) e palha de arroz + cama de frangos (1,55) foi mais alta que nos compostos elaborados com crotalária (0,74) e com feijão-de-porco (0,87) (Tabela 3). Essa maior relação do P2O5 em relação ao N se deve ao fato de a cama de frangos possuir alto teor de fósforo (Tabela 1). A maior relação

Tabela 3. Concentração de carbono (%) e relações entre os nutrientes em compostos de Crotalaria juncea, Canavalia ensiformis, Pennisetum purpureum + cama de frangos seis lotes e Oryza sativa + cama de frangos seis lotes. Itajaí, SC, 2013

Composto Carbono (%)

Relação C/N

Relação P2O5/N

Relação K2O/N

Relação P2O5/ K2O

Relação N: P2O5: K2O

Crotalaria juncea 22,59 a(1) 11,61 ab 0,74 c 1,43 b 0,51 d 1,00 0,74 1,43Canavalia ensiformis 22,48 a 12,87 a 0,87 b 1,23 d 0,71 c 1,00 0,87 1,23Pennisetum purpureum + cama de frangos seis lotes 17,18 b 9,78 b 1,59 a 1,36 c 1,15 a 1,00 1,59 1,36

Oryza sativa + cama de frangos seis lotes 22,60 a 12,57 a 1,55 a 1,67 a 0,92 b 1,00 1,55 1,67

(1) Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 1% de probabilidade.

Tabela 4. Concentração de nutrientes (%) em compostos de Crotalaria juncea, Canavalia ensiformis, Pennisetum purpureum + cama de frangos seis lotes e Oryza sativa + cama de frangos seis lotes. Itajaí, SC, 2013

Composto N%

P2O5 %

K2O%

Ca%

Mg%

Ferro%

Cobre%

Manganês%

Zinco%

Crotalaria juncea (C:N 21) 2,05 a(1) 1,52 c 2,93 a 1,30 d 0,49 c 0,1400 d 0,0020 ab 0,0212 c 0,012 cCanavalia ensiformis (C:N 22) 2,01 a 1,74 b 2,48 b 1,88 c 0,53 b 0,1720 c 0,0020 ab 0,0300 bc 0,013 c

P. purpureum + cama de frangos seis lotes (C:N 30) 1,78 b 2,83 a 2,42 b 3,02 b 0,56 b 0,2040 b 0,0014 b 0,0472 ab 0,027 a

Oryza sativa + cama de frangos seis lotes (C:N 30) 1,76 b 2,72 a 2,94 a 4,01 a 0,66 a 0,2540 a 0,0050 a 0,0720 a 0,021 b

(1) Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 1% de probabilidade.

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ou solúvel em água, o que favorece sua lixiviação. O excesso de P no solo pode promover deficiência de Zn e Cu nas plantas, entre outras consequências in-desejáveis (Fagundes et al., 2014).

O excesso de sais, além de trazer prejuízos às propriedades físicas e quí-micas do solo, provoca a redução ge-neralizada do crescimento das plantas cultivadas e leva a sérios prejuízos a ati-vidade agrícola (Cavalcante et al., 2010). Contudo, o grau ou a concentração de sais que determinam essa redução va-ria com a espécie, podendo esse fato estar relacionado com a tolerância de cada espécie à salinidade (Ferreira et al., 2001).

Conclusões

A diferença da concentração e da relação de nutrientes entre compostos depende da existente na matéria-prima utilizada na compostagem.

A adição de cama de frangos na compostagem de resíduos orgânicos in-crementa o teor de cálcio e de micronu-trientes, além do de P2O5, que é mais alto que o de nitrogênio, no composto obtido.

Compostagem pura de plantas da família das fabáceas resulta em com-postos mais ricos em nitrogênio do que em P2O5;

Compostagem de matéria-prima, cujos teores de nutrientes são conheci-dos, possibilita a obtenção de compos-tos orgânicos mais eficazes na adubação de hortaliças que quando somente se emprega cama de frangos nessa ação.

Contribuição dos autores no trabalho

Euclides Schallenberger: revisão de literatura, metodologia e elaboração dos compostos, coleta de dados e dis-cussão dos resultados. José Angelo Re-belo: metodologia, análise dos dados e discussão dos resultados. Rafael Ricar-do cantú: revisão de literatura, análise dos dados e discussão dos resultados.

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ARtIGo cIENtÍfIco

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Introdução

A produção de matéria seca da pas-tagem é uma informação fundamental na avaliação de pastagens para esta-belecer as relações entre a ingestão de pasto e o desempenho animal, bem como para o planejamento forrageiro em sistema de pastejo. Tradicional-mente, as estimativas de produção da massa de forragem têm sido realizadas com amostragem direta de forragem, realizando-se o corte, de forma manual ou mecânica, de uma determinada área (normalmente entre 0,25 e 1m²) (Méto-do do Quadrado) seguido de pesagem. Essa técnica é reconhecida como mais precisa, no entanto é mais trabalhosa, demorada, requerendo maior número

Estimativa da produção de pasto através de dois métodos indiretos:Régua (altura) e Disco Medidor (densidade)

Jorge Homero Dufloth¹, Álvaro José Back² e Roberto dos Passos³

Resumo – A avaliação precisa da disponibilidade de pasto é uma das informações mais importantes para o planejamento forrageiro em sistemas de pastejo. Tradicionalmente, as estimativas de produção da massa de forragem têm sido realizadas com amostragem direta da produção de forragem, realizando-se o corte, de forma manual ou mecânica, de uma determinada área seguido de pesagem. No entanto, a produção de forragem pode ser estimada, utilizando uma das várias técnicas indiretas disponíveis de amostragem. O objetivo deste trabalho foi avaliar dois métodos indiretos para estimar a produção da forragem: pela altura, com o uso da régua; e pelo disco medidor, pela densidade. Entre os dois métodos testados, a técnica utilizando o disco medidor apresentou maior coeficiente de determinação, sendo mais preciso para aquelas condições em que o trabalho foi realizado.

termos para indexação: Avaliação de forragem; amostragem; pastagem.

forrage production estimate by two methods: the ruler (height) and the density meter disc

Abstract – Accurate assessment of pasture availability is one of the most important information for planning forage in grazing systems. Traditionally, production estimates of herbage mass have been performed with direct sampling of forage production, carrying out cutting, manually or mechanically, in a given area followed by weighing. However, the production of fodder can be estimated using one of several techniques available of indirect sampling. The aim of this study was to evaluate two indirect methods for estimating the production of forage by using the ruler (height) and the density meter disc. Between the two methods tested, the technique using the disc meter had a higher coefficient of determination, was more accurate for those conditions in which the work was performed.

Index terms: forage assesment, sampling, pasture.

Recebido em 6/9/2013. Aceito para publicação em 31/3/2014.1 Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri / Estação Experimental de Urussanga, C.P 49, 88840-000 Urussanga, SC, fone: (48) 3465-1209, e-mail: [email protected] Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected] Médico-veterinário, Clivesul Campeira Agropecuária Ltda., C.P. 222, 85601-610 Francisco Beltrão, PR, fone: (46) 9975-1503, e-mail: [email protected].

de amostras para obter estimativas con-fiáveis do pasto (Brummer et al., 1994). Além disso, o tempo e trabalho neces-sários restringem o número de amos-tras que podem ser recolhidas de forma realista.

Várias técnicas foram propostas para a estimativa da produção de forragem baseadas em um ou mais métodos de medidas da pastagem, obtendo-se me-didas indiretas da produção de forra-gem. Arruda et al. (2009) afirmam que os métodos indiretos têm como vanta-gens redução do trabalho, utilização de equipamentos mais simples, maior ra-pidez e redução de custos do processo de amostragem. A precisão da estima-tiva da produção da forragem depende de uma série de fatores, como a técni-

ca usada, a espécie, a idade, a altura, a época do ano, se cultivo extreme ou consórcio. Por isso, é necessário avaliar e calibrar o método para as condições da pastagem em que o método será aplicado.

Trabalhos têm mostrado que as es-timativas de biomassa não destrutivos em pastagens são estatisticamente acei-táveis quando estão presentes tanto a escolha de um método preciso quanto o desenvolvimento de um modelo cor-reto. A escolha depende da escala de trabalho, dos recursos disponíveis e da precisão necessária (Lopez Diaz & Gon-zalez, 2003).

Para Hansson (2011), todos os mé-todos que utilizam medições de parâ-metros para estimar a produtividade do

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pasto são dependentes de uma calibração. A cali-bração refere-se ao parâmetro preditor – altura da forragem – e às amostras da variável dependente – massa de forragem. Essa relação é descrita por uma equação de regressão. É necessário que o operador aplique uma adequada equação de calibração, uma vez que ela descreverá a relação, sob determinadas condições, para uma estimativa precisa da variável (produção) a ser medida.

O objetivo deste trabalho foi avaliar dois méto-dos indiretos para estimar a produção da pastagem e a altura pelo uso da régua e da densidade em me-didor de disco (rising plate meter).

Material e métodos

A determinação da produção de matéria seca (MS) da pastagem foi realizada em uma área de 1,5ha de missioneira-gigante (Axonopus catharinen-sis, Valls). Por meio de caminhamento na área foram selecionados aleatoriamente 50 pontos de amos-tragem. A produção da matéria seca, para efeito de comparação com os dois métodos indiretos, foi re-alizada mediante o corte do pasto em cada ponto, em área igual à do disco medidor (0,1m²), rente ao chão e pesado com balança digital com precisão de 10g. Esse método direto de medição do pasto é de-nominado de Método do Quadrado (Figuras 1 e 2).

Em cada local foram realizadas a identificação e as medições dos dois métodos indiretos, conforme descrição abaixo:

Método da Régua: medição da altura do pasto com régua graduada em centímetros, procurando a altura média das folhas do pasto conforme descrito por Frame (1981) (Figura 03).

Método da densidade com o Disco Medidor: o princípio baseia-se na correlação entre as leituras de altura com a produção de forragem. A técnica consiste na introdução da ponta da haste do medi-dor no pasto de forma perpendicular, do topo para a base, até o solo. Durante esse percurso o prato é deslocado para cima e quando a haste atinge o solo, faz-se a leitura da altura da posição do prato na escala da haste, que é diretamente proporcional à densidade da forragem. Essa leitura é posterior-mente transformada em produção de forragem pela equação de calibração (Arruda, 2009). Registraram-se as alturas encontradas em unidades de 0,5cm de acordo com as instruções do manual do fabricante (Jenquip, 2004) (Figura 04).

Cinco amostras para determinação do conteúdo de MS foram coletadas de uma amostra composta formada pela mistura do material cortado nos cin-quenta locais, em seguida secada em estufa de ar ventilado a 65°C, até peso constante (Salman, et al. 2006). Os dados coletados foram analisados estatis-ticamente, mediante análise de regressão, definin-

Figura 1. Corte do pasto pelo Método do Quadrado

Figura 2. Pesagem do pasto após o corte

Figura 3. Leitura da altura do pasto na Régua

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do-se os coeficientes de determinação (R²), desvio padrão (s²) e coeficiente de variação (CV). Para descrever a relação entre a leitura obtida em cada método com a produção do pasto, foi utilizada a equação de calibração (Hansson, 2011).

Resultados e discussão

No Método da Régua, a produção de pasto (MS) é estimada pela altura das plantas. A análise de regressão (Figura 5) mostrou que o modelo é significativo ( p < 0,001), com coeficiente de deter-minação (R²) de 0,57, variância (s²) de 490,6 (kg de MS/ha)² e coeficiente de variação (CV) de 18,3% (Tabela 1). O modelo ajustado é:

P = 108,5X + 735,4(1)Em que: P = produção de pasto (kg

MS/ha);X = altura do pasto, medida com a

régua (cm). A produção de MS é positivamente

relacionada com a altura, e vários es-tudos têm encontrado uma forte rela-ção entre os dois (Hansson, 2011). Por exemplo, Gallegos et al. (2009), estu-dando Paspalum spp. e Axonopus spp. no México, encontraram R² entre 0,83 e 0,96 superiores ao valor obtido neste estudo com a pastagem missioneira-gigante (R² = 0,57).

Lopez Diaz & Gonzalez (2003), revi-

sando 11 autores que trabalharam com a régua e suas variações, encontraram valores de R² entre 0,10 e 0,91. Valores próximos foram encontrados com aze-vém anual em trabalho realizado no Rio Grande do Sul, onde o R² foi de 0,65, considerado baixo e não atendendo os níveis de confiabilidade segundo Thon-son (1986), citado por Cauduro et al. (2006).

As medições na altura do pasto podem apresentar maior precisão em áreas menores e composição botânica com baixa variabilidade. No entanto, é maior a probabilidade de ocorrer supe-restimativa de massa de forragem nas maiores alturas do pasto em razão de que alta proporção de forragem se con-centra nas camadas inferiores do relva-do (Arruda, 2009).

A régua é um instrumento ampla-mente utilizado na Europa e mede sim-plesmente a altura das plantas, em vez de comprimir a altura do pasto. Entre-tanto, a altura do dossel pode ser difícil de medir devido à subjetividade asso-ciada ao se formar uma medida de altu-ra média (Lopez Diaz & Gonzalez, 2003). Por causa dessa dificuldade, e princi-palmente quando se usa mais de um observador, muitas vezes a estimativa de produção fica comprometida, em es-pecial quando as pastagens apresentam mistura de espécies, de estruturas feno-lógicas variadas, como uma mistura de leguminosas e gramíneas e em diferen-tes estádios de crescimento, como tam-bém irregularidades do solo, presença ou não de animais, que são fatores de alto grau de variabilidade.

O método do Disco Medidor parte do princípio de que a produção de forra-gem está intimamente relacionada com a densidade e a altura de seus compo-nentes. Logo, a relação entre produção de matéria seca com a altura e a densi-dade das plantas é a base do método do disco para estimar a disponibilidade de forragem (Salman et al. 2006).

Nas Figuras 5 e 6 está representada a relação entre a produção de pasto e as leituras do Disco Medidor. A análise de regressão mostrou que o modelo é significativo (p < 0,001), com coeficiente de determinação (R²) de 0,73 e variân-cia (s²) de 388,2. O coeficiente de varia-ção (CV) foi de 14,5% (Tabela 1).

O modelo ajustado é:P = 86,9X + 231em que: P = produção de pasto (kg MS ha-1);X = unidade de leitura do equipa-

mento, equivalente a 0,5cm.Lopez Diaz & Gonzalez (2003), em

uma revisão de 37 trabalhos, encon-traram valores de R² variando de 0,00 a 0,97 quando comparados com outros tipos de técnicas de medição indireta. Hansson (2011), discutindo os resulta-dos obtidos por quatro autores no uso do Disco Medidor em diversas culturas, tais como azevém-perene e trevo-bran-co, trevo-subterrâneo e azevém anual, quicuio, setária e outras espécies, en-controu variações de R² entre 0,52 e 0,95; s² entre 61 e 967 e CV entre 13,7% e 32,0%. Esses valores concordam com os resultados obtidos neste trabalho no uso da técnica do disco medidor.

Ao comparar as duas técnicas avalia-das nesse ensaio, observa-se um maior R² para o método do Disco Medidor, ou seja, 0,73 para 0,57, com menor s² e também menor CV, o que nos indica que o método do Disco Medidor é mais preciso para a estimativa da produção de pasto. Os resultados da literatura ci-tada corroboram o trabalho, indicando que o método do Disco Medidor apre-senta maior sensibilidade ao estimar a disponibilidade do pasto.

Lopez-Guerreiro (2005), em seus estudos cita que alguns autores encon-traram consistentemente elevados coe-ficientes de correlação (r ≥ 0,80) entre a produção de MS e leituras no disco medidor, e alguns outros não atingiram essa meta; explicou que as diferenças

Tabela 1. Resultados do estudo de calibração da Régua e do Disco Medidor

Método R² s² cV%coeficiente

Equaçãoa b

Régua 0,57 490,6 18,3 108,5 735,4 P = 108,5x +735,4

Disco Medidor 0,73 388,2 14,5 86,9 231,0 P = 86,9x + 231,0

Nota: R² = coeficiente de determinação; s² = variância; CV %= coeficiente de variação; a = inclinação da reta; b = interceptor da reta; P = produção de pasto (kg Ms ha-1).

Figura 4. Disco medidor Rising Plate Meter

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entre esses estudos podem ser atribu-ídas a diversos fatores, como o tipo de pastagem, o estádio de maturidade, a altura do dossel, a massa da forragem, o número de amostras utilizadas para a equação de calibração e o efeito do ope-rador.

Em relação ao uso do disco medidor, McGowan (1978) esclarece que, como o medidor é tão rápido e fácil de usar, grande número de medições pode ser feito nas pastagens para assegurar que ocorra uma estimativa representativa da produção do pasto. A experiência de mais de três anos demonstrou ser um meio barato e conveniente para avaliar o pasto, requer um mínimo de habilidade e é suficientemente preciso.

Lopez Diaz & Gonzalez (2003) veri-ficaram em sua pesquisa que todos os métodos estão associados a erros de grau, variando de moderado a elevado. No entanto, alguns métodos indiretos de estimativa de rendimento são apro-priados em determinadas condições. Em termos gerais, nenhum método pode ser apontado como o mais apropriado porque muitos fatores, como variações climáticas, características do solo, feno-logia da planta e composição florística, podem apresentar influências variadas. Os melhores resultados foram obtidos adaptando os métodos gerais às condi-ções locais por meio de calibrações.

Conclusão

Entre os dois métodos testados, a técnica utilizando o Disco Medidor apresentou a estimativa que melhor representa a produção de matéria seca de pastagem, considerado mais precisa

para aquelas condições em que o traba-lho foi realizado.

Contribuição dos autores no trabalho

Jorge homero dufloth: revisão de literatura, metodologia e coleta dos dados, bem como discussão dos resul-tados. álvaro José Back: análise dos da-dos e discussão dos resultados. Roberto dos Passos: metodologia de coleta de dados.

Referências

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Figura 5. Gráfico da equação de regressão da Régua Figura 6. Gráfico da equação de regressão do Disco Medidor

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ARtIGo cIENtÍfIco

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Introdução

O Brasil é o maior produtor de toma-te da América do Sul, com o cultivo de cerca de 70 mil hectares e produtivida-de de aproximadamente 62t ha-1 (Sínte-se..., 2013). O estado de Santa Catarina é o sexto produtor nacional de tomate, com 165.000t na safra 2012/13, e nes-te estado a microrregião de Joaçaba é a maior produtora, com 1.381 hectares plantados na safra 2010/2011, com pro-dutividade de 77,6 toneladas por hecta-re.

Embora o tomate seja considerado uma das hortaliças mais exigentes em adubação, a quantidade de nutrien-

Produtividade de tomate em função de doses de nitrogênioSiegfried Mueller¹, Anderson Fernando Wamser² e Atsuo Suzuki³

Resumo – Objetivou-se avaliar a influência de doses N na produtividade e na qualidade do tomate cultivado no sistema de plantio direto. Dois experimentos foram realizados em campo na Epagri/Estação Experimental de Caçador durante as safras 2006/07 e 2007/08. Utilizou-se o delineamento blocos ao acaso com quatro repetições. Os tratamentos foram seis doses de N, como nitrato de amônio, sendo aplicados 0, 125, 250, 375, 500 e 625kg ha-1 para a safra 2006/07 e 0, 150, 300, 450, 600 e 750kg ha-1 na safra 2007/08. Na safra 2006/07, houve ajuste quadrático em resposta às doses de N para as produtividades de frutos de tomate total, comercial, extra AA e extra A. Entretanto, na safra 2007/08 houve efeito linear. Na safra 2006/07, as máximas eficiências técnica (MET) e econômica (MEE) para produtividade comercial de frutos foram obtidas com doses de N de 555 e 546kg ha-1. Para massa média dos frutos extra AA, produção de frutos comerciais em relação à total e produção de frutos extra AA em relação à produção comercial, safra 2006/07, houve ajuste quadrático com o aumento dos níveis de N aplicados, sendo seus pontos de máxima com 478, 486 e 557kg ha-1 de N respectivamente, isto é, próximos às doses de MET e MEE para a produtividade comercial de frutos.

Palavras-chave: Solanum lycopersicum L., adubação de tomateiro, nutrição de plantas.

Yield of tomato according to nitrogen fertilization

Abstract - The objective of this study was to evaluate the influence of N doses on yield and quality of tomato fruits in a no-till system. The research was carried out at field conditions in Epagri - Experimental Station of Caçador, SC, Brazil, during the growing seasons 2006/07 and 2007/08. The treatments were set in a CRB design, with four replications. Treatments were six doses of N, as ammonium nitrate, being 0, 125, 250, 375, 500 and 625 kg ha-1 in 2006/07 and for 2007/08 to 0, 150, 300, 450, 600 e 750 kg ha-1 in 2007/08. The total, commercial, extra AA and extra A, tomato yields followed a quadratic model in response to N rates in the 2006/07 crop. However in 2007/08 there was a linear effect. The maximum technical efficiency (MTE) and maximum economic efficiency (MEE) for commercial fruit yield in 2006/07 crop were obtained with N rates of 555 and 546 kg ha-1. For the average mass of extra AA fruits; commercial fruit production in relation to total production and; production of extra AA fruits in relation to commercial production in 2006/07 crop, there was a quadratic fit with increased levels of N applied, and their maximum points with 478, 486 and 557 kg ha-1 N, respectively, that is, next to the doses of MTE and MEE for commercial fruit yield.

Keywords: Solanum lycopersicum L., fertilization of tomato, plant nutrition.

tes extraída é relativamente pequena, porque a eficiência de absorção dos nutrientes pela planta é baixa (Silva et al., 2006). A ordem decrescente na ab-sorção dos macronutrientes é: K, N, Ca, S, P e Mg (Fayad et al., 2002), ou K, N, Ca, Mg, P (Lucena, 2011). Sendo, con-forme este autor, os nutrientes N, P e K encontrados em maiores quantidades nos frutos, os nutrientes Ca e Mg estão mais presentes mais nas folhas. Logo, o nitrogênio (N) é o segundo nutriente absorvido em quantidade pelo tomate. Como a cultura de tomate se destaca com alta produtividade de frutos, isso leva a considerar que altas quantidades de nitrogênio acumuladas nos frutos

colhidos são exportadas e, por sua vez, deverão ser restituídas à área onde foi cultivada. Todavia, o N da parte vegeta-tiva fica no solo, depois de transforma-do em húmus.

Conforme Silva et al. (2006), em geral, em cada tonelada de frutos de tomate colhidos são encontrados: 3kg de nitrogênio, 0,5kg de fósforo, 5kg de potássio, 0,8kg de cálcio, 0,2kg de mag-nésio e 0,7kg de enxofre. Lucena (2011), estudando a partição de assimilados e o acúmulo de macronutrientes pelo to-mateiro ‘SM-16’, verificou que, do total dos nutrientes acumulados pelo toma-teiro, os frutos perfizeram com cerca de 50% de N, 59% de P, 56% de K, 2% de Ca

Recebido em 18/3/2014. Aceito para publicação em 8/7/2014. ¹ Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (49) 3561-2000, e-mail: [email protected]. ² Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri / Estação Experimental de Caçador, e-mail: [email protected].³ Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri / Estação Experimental de Caçador, e-mail: [email protected].

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e 20% de Mg.A matéria orgânica é a reserva de N

do solo (Craswell & Lefroy, 2001), sendo ela responsável por mais de 90% des-se nutriente no solo (Cantarella et al., 2008). Conforme Moreira & Siqueira (2002), 2% a 5% da reserva de N orgâ-nico no solo é mineralizado durante um ano. Assim, pode-se afirmar que parte significativa do N às plantas provém da mineralização da matéria orgânica do solo. Possivelmente devido a esses fato-res, a Sociedade... (2004) usa o teor de matéria orgânica do solo como indica-dor da disponibilidade de N às plantas. Para isso, classifica o solo em três faixas: com baixo teor, igual ou abaixo de 2,5%; com médio teor, de 2,6% a 5,0%; e com alto teor, acima de 5% de M.O.

O N, em muitos casos, é o nutrien-te mais limitante do tomate, exercendo papel fundamental tanto na formação da área foliar quanto para a produção de frutos (Araújo et al., 2010). O aumen-to das doses de adubação nitrogenada no tomateiro proporciona incrementos na produtividade do tomate (Francis & Cooper, 1998) e da massa média dos frutos de tomate (Ferreira et al., 2010).

A aplicação deficiente de adubos nitrogenados às plantas de tomate acarreta redução na produtividade. Por outro lado, a aplicação excessiva de N causa aumento nos custos (Ferreira et al., 2006); induz a alterações fisiológicas deletérias nas plantas; causa impactos ambientais indesejáveis devido às per-das desse nutriente no meio (Fontes & Araújo, 2007); provoca excessivo cres-cimento vegetativo (Guimarães, 1998); amplia o estádio vegetativo que propi-cia condições favoráveis à incidência de alguns patógenos (Hoffland et al., 2000; Zambolin, 2001); ocasiona o atraso na maturação de frutos (Coltman, 1988; Huett & Dettmann, 1988; Zambolin, 2001).

O lançamento de cultivares de to-mate com potencial genético para al-tas produtividades e tolerância a várias doenças pelas empresas produtoras e distribuidoras de sementes, mais a ado-ção de melhores práticas culturais pelos agricultores, tem aumentado a produ-tividade que, consequentemente, tem proporcionado avanços na resposta à adubação, principalmente nitrogenada. Este trabalho objetivou avaliar níveis de

adubação nitrogenada sobre a produti-vidade e a qualidade de frutos de toma-te na região de Caçador, SC.

Material e métodos

Os experimentos foram realizados em condições de campo durante as sa-fras 2006/07 e 2007/08 na Epagri/Esta-ção Experimental de Caçador, em Ca-çador, SC, na região fisiográfica do Alto Vale do Rio do Peixe. O local tem como coordenadas geográficas 26°46’32’’ de latitude sul e 51°00’50’’ de longitude oeste. A altitude média nos locais dos experimentos foi de 950m. O clima é do tipo Cfb, ou seja, temperado, constan-temente úmido (Pandolfo et al., 2002). O solo nos locais dos experimentos foi classificado como Latossolo Bruno Dis-trófico típico (Embrapa, 2006) e apre-sentou os seguintes atributos para as sa-fras 2006/07 e 2007/08 respectivamen-te: pH (água) = 5,8 e 6,0, P = 2,9 e 3,3mg dm-3, K = 108,0 e 72mg dm-3, MO = 51 e 37g kg-1, Ca = 11,9 e 9,4cmolc L-1, Mg = 3,5 e 3,5 cmolc L-1; CTC = 20,04 e 16,97 cmolc L-1 e teor de argila de 70% a 80 %.Utilizou-se o delineamento de blocos ao acaso com quatro repetições, sendo os tratamentos seis doses de N (para a safra 2006/07: 0, 125, 250, 375, 500 e 625kg ha-1, e para a safra 2007/08: 0, 150, 300, 450, 600 e 750kg ha-1). Como fonte de N se usou o nitrato de amônio. As fontes de adubos utilizados para P e K foram superfosfato triplo e cloreto de potássio respectivamente.

A recomendação de adubação, de acordo com as análises de solo das áreas experimentais, seria 250 e 350kg ha-1 de N, 600 e 600kg ha-1 de P2O5, 450 e 525kg ha-1 de K2O para as safras 2006/07 e 2007/08 respectivamente (Sociedade..., 2004). No entanto, foram usadas como base as adubações 800 e 600kg ha-1 de P2O5, 600 e 600kg ha-1 de K2O para as safras 2006/07 e 2007/08 respectivamente, além de N conforme as doses aqui em estudo. Isso porque trabalhos experimentais de calibração de P e K para tomate mostraram respos-tas em doses mais elevadas (Mueller et al., 2008b). Todo o P2O5 recomendado e 3,3kg ha-1 de B, além das frações de N e K para adubação de base, foi aplicado em pré-plantio nos sulcos de pré-plan-

tio do tomate. Com relação à adubação nitroge-

nada e à potássica, o N foi aplicado na proporção de um terço na base e dois terços em cobertura, e de 1/10 na base e 9/10 em cobertura nas safras 2006/07 e 2007/08 respectivamente. Por outro lado, o K foi aplicado na proporção de um quarto na base e três quartos em cobertura, e um quinto na base e qua-tro quintos em cobertura nas safras 2006/07 e 2007/08 respectivamente. Salienta-se que a aplicação de N e K na base foi feita no sulco em pré-plantio, e a aplicação de cobertura foi aplicada manualmente na superfície, seguida de irrigação por gotejo. As adubações N e K de cobertura foram realizadas em quin-ze aplicações semanais, a partir de 21 dias após o plantio (DAP), conforme a curva de absorção das plantas de toma-te adaptada de Alvarenga (2004).

O cultivar utilizado na safra 2006/07 foi Styllus, da Horticeres, e para a safra 2007/08 o cv. Alambra, da Clause/Tesier. Utilizou-se o sistema de plantio direto sob a massa das plantas da aveia-preta, sem aplicação de dessecante. As mudas foram transplantadas em 10 e 19 de no-vembro de 2006 e 2007 respectivamen-te, e as plantas foram conduzidas com duas hastes no método de tutoramento vertical com fitilhos. Cada parcela era constituída de uma fileira de 12 plantas, sendo 10 úteis, espaçadas de 1,5m en-tre fileiras e 0,6m entre plantas. As de-mais práticas culturais foram realizadas de acordo com as indicações técnicas para o tomateiro tutorado na região do Alto Vale do Rio do Peixe (Mueller et al., 2008a).

Avaliou-se a produtividade total, comercial, extra AA e extra A e a mas-sa média de frutos comerciais, extra AA e extra A. Foram considerados frutos extra AA com massa média maior que 150g, e extra A com massa média entre 100 e 150g.

As variáveis estudadas foram sub-metidas à análise de variância (teste F). Havendo significância estatística (p ≤ 0,05), as médias foram comparadas pela análise de regressão polinomial por meio do pacote estatístico Sisvar (Fer-reira, 2011). Os modelos de regressão testados foram o linear e o quadrático. Escolheu-se o modelo com base no sig-nificado biológico, na significância dos

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coeficientes de regressão, pelo teste t, e no maior coeficiente de determinação.

A dose de N que proporcionou a MET foi obtida igualando-se a zero a primeira derivada da equação de res-posta das variáveis nas quais houve ajuste quadrático às doses de N. A dose de N que proporcionou a MEE foi ob-tida igualando-se a primeira derivada da equação de resposta da produção comercial de frutos à relação entre o preço médio do N contido no nitrato de amônio, R$58,00 por saco, e o preço do tomate, R$25,00 por caixa, obtidos em pesquisa de mercado. A relação média de preços foi igual a 0,00348, referen-te ao preço do tomate de R$531,25 t-1 e ao preço do N na forma de superfosfato triplo de R$2,533 kg-1. A partir desses dados foi determinada a produtividade de MEE conforme Alvarez (1994) para a situação de capital ilimitado e taxa de retorno mínimo de 100%.

Resultados e discussão

Na Figura 1-A se observa que, para as variáveis produtividades total, co-mercial, Extra AA e Extra A de frutos de tomate, safra 2006/07, houve efeito quadrático em função das doses de N. Logo, para essas variáveis houve pontos de MET alcançados com a aplicação de 563, 555, 491 e 637kg ha-1 de N para as produtividades total, comercial, Extra AA e Extra A respectivamente. Salien-ta-se que a MET para a produtividade comercial, dose de 555kg ha-1, propor-cionou a produtividade de 85,8t ha-1 de frutos comerciais. A partir da equação de ajuste da produtividade comercial, safra 2006/07, obteve-se o ponto de MEE com a aplicação de 546kg ha-1 de N, dose que corresponde à produtivi-dade de 85,8t ha-1 de frutos comerciais. Isso mostra que as doses de N relativas à MET e à MEE proporcionaram a mes-ma produtividade comercial de frutos de tomate na safra 2006/07.

Na Figura 1-B se observa que, para as variáveis produtividades total, co-mercial e Extra AA de frutos de tomate, safra 2007/08, houve ajustes lineares crescentes em função das doses de N aplicadas no solo. Assim, observa-se que, mesmo com a aplicação de 750kg ha-1, não foi alcançado o ponto de MET.

Para discutir os resultados produ-tivos alcançados nas safras 2006/07 e 2007/08, parte-se com a questão do teor de M.O. nas duas áreas trabalha-das. Esse teor foi de 5,1% na área da safra 2006/07 e 3,7% na área da safra 2007/08, ou seja, com alto teor na pri-meira e com médio teor na segunda sa-fra conforme Sociedade... (2004). Dessa maneira, seriam recomendados 250 e 350kg ha-1 de N para a 1ª e 2ª safras respectivamente. Assim, os resultados produtivos obtidos pelo tomateiro nas duas safras, em resposta às doses de N,

foram coerentes em termos de propor-cionais com Sociedade... (2004). Logo, as doses de aplicação de N estão atrela-das às faixas de MO do solo, sendo elas inversamente proporcionais às faixas de teores de MO dos solos, ou seja, as respostas às doses de N aumentam de acordo com a diminuição da faixa de teor de MO no solo

Entretanto, nesses experimentos foram verificadas respostas produtivas com doses de N bem maiores que as recomendadas pela Sociedade... (2004). Isso já foi observado por Mueller et al.

Figura 1. Produtividade de frutos de tomate em função de doses de N nas safras (A) 2006/07 e (B) 2007/08

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Quanto às respostas de doses de N sobre as variáveis massas médias de fru-tos comerciais (comerciais – extras AA e A), produção de frutos comerciais em relação ao total e produção de frutos extra AA em relação aos comerciais (%) (Tabela 1), verificou-se que, para a safra 2006/07, houve diferenças significativas para todas elas. Há ajustes quadráticos significativos para: massa média de fru-tos da classe extra AA (R2 = 0,95**); pro-dução de frutos comerciais em relação ao total (R2 = 0,97**) e produção de fru-tos extra AA em relação aos comerciais (R2 = 0,97**), na safra 2006/07.

Assim, foi possível calcular os pontos de MET e os resultados para as variáveis massa média de frutos da classe extra AA com a MET de 478kg ha-1 de N, que proporcionou frutos com 196g; produ-ção de frutos comerciais em relação ao total com a MET de 486kg ha-1 de N, que proporcionou índice de 88,7 %; e produção de frutos extra AA em relação aos comerciais com a MET de 557kg ha-1 de N, que resultou no índice de 47,2%. Salienta-se que esses pontos de MET dessas variáveis foram alcançados com doses de N próximas, ou mesmo abaixo, das MET e MEE da produtividade co-mercial, 555 e 546kg ha-1 de N respec-tivamente. Isso é importante porque aquelas variáveis são determinantes para a rentabilidade de frutos de toma-te colhidos e comercializados.

Para as variáveis: massa média de frutos comercial e Extra A, safra 2006/07; massa média de frutos Extra A e produção de frutos extra AA em relação à produção comercial, safra 2007/08, houve efeito linear significati-vo em resposta às doses crescentes de N aplicadas no tomate (Tabela 1). Assim, no geral, pode-se afirmar que a aduba-ção nitrogenada incrementou a massa média de frutos de tomate e isso é con-cordante com Ferreira et al (2010).

Conclusões

1. As METs e MEEs para produtivida-de comercial de frutos de tomate, safra 2006/07, foram obtidas com doses de 555 e 546kg ha-1 de N respectivamente, todavia as produtividades comerciais obtidas nesses dois pontos de MET fo-ram iguais a 85,8t ha-1 de frutos;

2. A produtividade de frutos de to-mate e de seus componentes, safra

Tabela 1. Massa média de frutos comerciais, produção de frutos comerciais em relação ao total e produção de frutos extra AA em relação ao comercial em função de doses de N no tomate. Epagri, Caçador, 2006-2008

Dose de N

(kg/ha)

Massa média de frutos (g) Produção de frutos comercial/

total (%)(4)

Produção de frutos extra AA/comercial (%)(5)Comercial Extra AA(2) Extra A(3)

Safra 2006/20070 132,76(1) 161,08 124,08 63,69 28,31

125 144,68 182,06 128,67 78,11 37,81250 151,92 189,33 132,27 82,90 42,70375 152,65 190,43 131,68 85,53 44,43500 159,57 194,42 138,42 86,40 45,90625 162,8 193,29 142,14 85,51 48,01

Média 150,73 185,10 132,88 80,35 41,19C.V. (%) 3,64 2,81 4,3 4,60 11,68

Safra 2007/20080 171,1ns 202,7ns 133,8(6) 91,3ns 60,5(7)

150 168,8 189,5 136,5 93,0 68,1300 169,8 190,4 137,8 93,1 68,4450 169,5 191,8 134,3 93,4 68,8600 172,4 191,3 139,0 94,2 70,6750 177,1 197,7 137,8 93,0 73,2

Média 171,0 193,9 136,5 93,0 68,3C.V. (%) 3,15 12,76 1,71 2,06 5,20

(1) y = 136,76 + 0,0447x (R2 = 0,93**).(2) y = 163,51 + 0,1339x - 0,00014x2 (R2 = 0,95**).(3)y = 124,38 + 0,0272x (R2 = 0,80**).(4)y = 65,11 + 0,0971x - 0,0001x2 (R2 = 0,97**).(5)y = 29,283 + 0,0646x - 0,000058x2 (R2 = 0,97**).(6)y = 1 34,78 + 0,004662x (R2 = 0,38*).(7)y = 63,19 + 0,013548x (R2 = 0,81**).Nota: ns = efeito de tratamentos não significativo pelo teste F (p > 0,05); * e ** = Ajustes das equações significativos a 5% e a 1% de significância respectivamente.

(2008b). Todavia, o constante e inten-so trabalho de melhoramento genético com tomate feito no âmbito mundial e o consequente lançamento de cultiva-res mais resistentes a pragas e doenças e altamente produtivos podem ser fa-tores para explicar essa maior resposta à adubação nitrogenada do tomateiro. Isso é concordante com Oliveira et al. (2009) que registraram que a variabili-dade genética dos cultivares de tomate é um dos fatores que normalmente pro-porcionam diferenças na capacidade de absorção de nutrientes, entre eles o N (Oliveira et al, 2009).

Os acréscimos produtivos no toma-te proporcionados pela aplicação de N neste trabalho são concordantes com Francis & Cooper (1998) e Ferreira et al. (2010), os quais registram acréscimos de produtividade, principalmente quan-do o N mineral é aplicado junto com

material orgânico. Embora a adição de material orgânico ao solo para aduba-ção do tomateiro seja benéfica à cultura de tomate, é necessária a suplementa-ção mineral porque, principalmente os nutrientes N, P e K contidos no material orgânico não estão na mesma propor-ção das exigidas pela cultura do tomate (Mueller et al., 2013). Por outro lado, deve-se atentar para a questão ambien-tal do nitrogênio usado na agricultura. É sabido que ele pode ser extraviado nos sistemas de cultivo agrícola, resultando em poluição ambiental, uma vez que os principais mecanismos de perdas de N são a lixiviação e a volatilização (Canta-rella, 2007). Esse extravio também pode acontecer por exportação na colheita, pela erosão do solo e por desnitrificação (Malavolta, 2006). Por isso, o N deve ser utilizado com critérios para a sustenta-bilidade produtiva da agricultura.

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2007/08, foi diretamente proporcional às doses de N aplicadas;

3. As METs para as massas médias de frutos Extra AA, produção de frutos comerciais em relação ao total e produ-ção de frutos extra AA em relação aos comerciais, na safra 2006/07, foram al-cançadas com a aplicação de 478, 486 e 557kg ha-1 de N respectivamente.

4. A atual recomendação de aduba-ção nitrogenada de tomate (Socieda-de..., 2004) está abaixo do necessário para se atingir o potencial genético e produtivo de tomate na região de Caça-dor, SC.

Contribuição dos autores no trabalho

Siegfried Mueller: revisão de litera-tura, metodologia e coleta dos dados, bem como na discussão dos resultados. Anderson fernando Wamser: coleta e análise dos dados e discussão dos resul-tados. Atsuo Suzuki: coleta e discussão dos dados.

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Introdução

O Brasil, maior produtor de tomate da América do Sul com cerca de 60 mil hectares, é o nono produtor mundial com 2,8% da produção (Síntese Anual, 2012). O estado de Santa Catarina é o sexto produtor brasileiro de tomate com 186.802 t. A região de Caçador, lo-calizada no Alto Vale do Rio do Peixe, é a maior produtora, com 1.000 hectares plantados na safra 2009/2010 e pro-dutividade de 85 t ha-1, o equivalente a 45,5% da safra estadual (Síntese ..., 2012).

O K é um fator limitante na produ-ção de tomate. É o macronutriente es-sencial mais absorvido pelas plantas de tomate (Silva et al., 2006) e é conside-

Produtividade de tomate em função da adubação potássicaSiefried Mueller¹, Anderson Fernando Wamser², Atsuo Suzuki³

Resumo - Objetivou-se avaliar a influência de doses de potássio (K) na produtividade de tomate. Realizaram-se dois experimentos a campo, na Epagri – Estação Experimental de Caçador, durante as safras 2006/07 e 2007/08, em sistema de plantio direto sobre aveia. O delineamento foi blocos ao acaso. Os tratamentos foram cinco doses de K2O, como cloreto de potássio, sendo 0, 150, 300, 450 e 600 kg ha-1 na safra 2006/07 e 0, 200, 400, 600 e 800 kg ha-1 na safra 2007/08. Para a produtividade comercial de tomate na safra 2006/07, a MEE foi obtida com a aplicação de 464 kg ha-1de K2O. As METs para produtividades total, comercial e extra AA foram obtidas com 428, 475 e 550 kg ha-1 e com 625, 484 e 593 kg ha-1 de K2O, para as safras 2006/07 e 2007/08, respectivamente. Na safra 2007/08, as respostas positivas iniciaram com a aplicação de cerca de 50 kg ha-1 de K2O. Na safra 2007/08, a produtividade de frutos extra AA cresceu significativamente com o aumento do K aplicado.

Palavras-chave: Solanum lycopersicum L., potássio, nutrição de plantas.

tomato productivity due to potassium fertilization

Abstract - The research was carried out under field conditions at Epagri - Experimental Station of Caçador, SC, Brazil, during the growing seasons 2006/07 and 2007/08, to evaluate the effect of potassium (K) fertilization on tomato yield under no-till system. The experimental design was CRB, with five replications. The treatments of K2O, as KCl, were 0, 150, 300, 450 and 600 kg ha-1 in 2006/07 and 0, 200, 400, 600 and 800 kg ha-1 in 2007/08. The MEE of the marketable tomatoes in the growing season 2006/07 was with the application of 464 kg ha-1 of K2O. The MTE for total, marketable, and extra AA yields was achieved with the K2O doses of 428, 475 and 550 kg ha-1 in 2006/07, and 625, 484 and 593 kg ha-1 in 2007/08. In 2007/08, the positive response began with the application of about 50 kg ha-1 K2O. In the growing season 2007/08, the yield of extra AA tomatoes increased substantially by increasing potassium application.

Keywords: Solanum lycopersicum L., potassium, plant nutrition.

rado nutriente chave para produção de frutos de alta qualidade (Mengel & Ki-rkby, 1987; Marschner, 1995).

O K age no sistema osmótico, na sín-tese de proteínas e na sua estabilidade, na abertura e fechamento de estôma-tos, na permeabilidade das membranas e no controle do pH das células. Pro-move ainda frutos com altos teores de açúcares, e frutos menos propensos a rachaduras na casca (Dias et al., 2010). Taiz & Zeiger (2004) destacam que, de-vido o K atuar na regulação da abertura dos estômatos se relaciona diretamen-te com a fotossíntese e, assim, com a síntese de fotoassimilados, ademais de atuar como um ativador enzimático.

A deficiência de K restringe a fotos-síntese foliar e o transporte de fotoassi-

milados para os frutos, acarretando re-dução no número e tamanho dos toma-tes pela redução na atividade do dreno (Kanai et al., 2007).

O suprimento adequado de K, jun-tamente com Ca e P, contribui substan-cialmente no aumento da firmeza dos frutos (Silva et al., 2006), aumentan-do sua capacidade de armazenamento (Genuncio, 2009) e, ainda, aumentando a produtividade e a qualidade comercial (Fontes et al., 2000).

A disponibilidade do K nos solos de-pende do K trocável, do K em solução e da relação entre essas formas que in-dicam o poder tampão desse nutriente (Silva et al., 2000). O K trocável é fra-camente retido na CTC do solo (Curi, 2004). O menor poder tampão do po-

Recebido em 15/4/2014. Aceito para publicação em 9/7/2014.¹ Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (49) 3561-2000, e-mail: [email protected]. ² Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri / Estação Experimental de Caçador, e-mail: [email protected].³ Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri / Estação Experimental de Caçador, e-mail: [email protected].

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tássio de um solo é demonstrado pelos teores mais baixos de K trocável e de K em solução, que se apresentam em equilíbrio dinâmico (Villa et al., 2004). O aumento do poder tampão do potás-sio reduz a difusão efetiva do K no solo, consequentemente diminui as perdas por percolação (Meurer & Anghinoni, 1994). Quanto maior o teor de argilomi-nerais do tipo 2:1 e quanto maior o teor de matéria orgânica de um solo, maior será sua CTC e maior o poder tampão de K (Curi, 2004).

As demandas de K são elevadas, especialmente em cultivos protegidos para que hajam adequados crescimen-to vegetativo, produtividade e qualida-des dos frutos de tomate (Kanai et al., 2007).

Com o lançamento de cultivares de tomate com grande potencial genético e tolerância a várias doenças, a adoção de melhores práticas culturais têm au-mentado a produtividade e, consequen-temente, tem proporcionado avanços na resposta à adubação, principalmente em relação aos macronutrientes essen-ciais. A Sociedade...(2004) registra que, pela crescente evolução tecnológica, as recomendações de adubação das cul-turas, apresentadas no Manual de adu-bação e de calagem para RS e SC, são consideradas como sendo sempre em processo de aperfeiçoamento. Assim, estudos para atualização das recomen-dações de nutrientes para a cultura do tomate são necessários. Objetivou-se avaliar a influência da adubação potás-sica sobre a produção de tomate.

Material e métodos

Os experimentos foram realizados a campo durante as safras 2006/07 e 2007/08, na Epagri - Estação Experi-mental de Caçador, em Caçador, SC, na região fisiográfica do Alto Vale do Rio do Peixe. O local, com coordenadas ge-ográficas 26°46’32’’ de Latitude Sul e 51°00’50’’ de Longitude Oeste, tem al-titude média de 950 m e clima Cfb, ou seja, temperado e constantemente úmi-do (Pandolfo’ et al., 2002). Os solos, nos

locais dos experimentos, foram classifi-cados como Latossolo Bruno distrófico típico (Embrapa, 2006) e apresentaram os seguintes atributos: pH (água) = 5,8 e 6,0; P = 2,9 e 3,3 mg dm-3; K = 108,0 e 72,0 mg dm-3; MO = 5,1 e 3,7 mg g-1; Al = 0,0 e 0,0 cmolc L-1; Ca = 11,9 e 9,4 cmolc L-1; Mg = 3,5 e 3,5 cmolc L-1; CTC = 20,04 e 16,97 cmolc L-1, e teor de argila 70 e 80 %, para as safras 2006/07 e 2007/08, respectivamente.

Utilizou-se o delineamento blocos ao acaso, com cinco repetições na safra 2006/07 e quatro repetições na safra 2007/08. Os tratamentos, tendo como fonte cloreto de potássio, foram cinco doses de K2O, sendo 0, 150, 300, 450 e 600 kg ha-1 em 2006/07 e zero, 200, 400, 600 e 800 kg ha-1 em 2007/08. As fon-tes de adubo utilizadas para suprir N e P foram nitrato de amônio e superfosfato triplo, respectivamente.

A recomendação de adubação, pela interpretação das análises de solo, seria de 250 e 350 kg ha-1 de N, de 600 e 600 kg ha-1 de P2O5 e de 450 e 525 kg ha-1 de K2O, para as safras 2006/07 e 2007/08, respectivamente (Sociedade..., 2004). Baseado em resultados anteriores de experimentos de adubação (Mueller et al., 2008a; Mueller et al., 2008b), aplicou-se 450 e 500 kg ha-1 de N e 800 e 600 kg ha-1 de P2O5 para as safras 2006/07 e 2007/08, respectivamente, além das doses de K2O estudadas.

O N foi aplicado na proporção de 1/3 na base e 2/3 em cobertura, e de 1/10 na base e 9/10 em cobertura, nas safras 2006/07 e 2007/08, respectivamente. O K foi aplicado na proporção de 1/4 na base e 3/4 em cobertura, e 1/5 na base e 4/5 em cobertura, nas safras 2006/07 e 2007/08, respectivamente. As aplica-ções em cobertura foram feitas manu-almente na superfície, seguida de irriga-ção por gotejo. Em ambas as safras, as adubações de N e K em cobertura foram realizadas em quinze aplicações sema-nais, a partir de 21 dias após o plantio (DAP), conforme as curvas de absorção do tomateiro, adaptada de Alvarenga (2004). Todo o P2O5 recomendado e mais 3,3 kg ha-1 de B, além do N e K da

adubação de base, foram aplicados em pré-plantio nos sulcos de plantio das li-nhas de tomate.

As cultivares de tomate longa vida Styllus (Horticeres) e Alambra (Clause/Tesier) foram as plantas teste utilizadas nas safras 2006/07 e 2007/08, respecti-vamente. Utilizou-se o sistema de plan-tio direto sobre aveia preta, sem apli-cação de herbicida. Transplantaram-se as mudas em 10 e 19 de novembro de 2006 e 2007, respectivamente. Condu-ziram-se as plantas com duas hastes por tutoramento vertical com fitilhos. Cada parcela era constituída de uma fileira de 12 plantas, sendo 10 úteis, espaça-das de 1,5 m entre fileiras e 0,6 m entre plantas. As demais práticas culturais fo-ram realizadas de acordo com as indica-ções técnicas para o tomateiro tutorado na região do Alto Vale do Rio do Peixe (Mueller et al., 2008).

Avaliou-se a produtividade total, co-mercial, extra AA e extra A (t ha-1) e a massa média de frutos comerciais, extra AA e extra A (g fruto-1). Foram conside-rados da classe extra AA os frutos com massa média maior que 150 g e extra A os com massa média entre 100 e 150 g. As variáveis estudadas foram submeti-das à análise de variância (Teste F). Ha-vendo significância estatística (p<0,05), as médias foram comparadas pela aná-lise de regressão polinomial. As análises estatísticas foram realizadas através do pacote estatístico SISVAR versão 5.0 (Ferreira, 2011).

Para a safra 2006/07 - a partir da de-rivada de primeira ordem da equação quadrática de resposta de produtivida-de comercial de frutos frente às doses de K2O, modelo estrutural y=a±bx±cx2, estimou-se a máxima eficiência técni-ca (pela derivada de primeira MET => ±b±2cx=0, e a máxima eficiência eco-nômica MEE pelo modelo matemático ±b±2cx=t/w, onde t é o valor do insumo (R$ kg de K2O) e w o valor do tomate.Considerou-se o potássio a R$ 58,00 por saco de cloreto de potássio e o tomate comercial a R$ 25,00 por caixa.

Para a safra 2007/08, a partir da de-rivada de primeira ordem da equação cúbica, de resposta de produtividades

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total, comercial e extra AA de frutos frente às doses de K2O, modelo estrutu-ral y=a±bx±cx2±dx3, foram estimadas a máxima eficiência técnica (MET), a mí-nima eficiência técnica (MinET) e a efi-ciência na dose zero de K2O. Os pontos de MET e MinET foram calculados pela fórmula de Bhaskara a partir da deriva-da das equações de resposta das três variáveis em questão.

Resultados e discussão

Nas Figuras 1A (safra 2006/07) e 1B (safra 2007/08) estão apresentados os resultados das variáveis de produtivida-de de tomate em função dos níveis de adubação potássica estudados. Para as variáveis de produtividade total, comer-cial e extra AA houve ajustes quadráti-cos na safra 2006/07 e cúbicos na safra 2007/08, mas não houve ajuste signifi-cativo para a produtividade de frutos da classe extra A.

O ajuste quadrático das equações de resposta na safra 2006/07 permitiu calcular as doses de máxima eficiên-cia técnica (MET), as quais, calculadas pela derivada da primeira ordem das suas respectivas equações de respos-ta, foram obtidas com a aplicação de 428, 475, e 550 kg ha-1 de K2O, para produtividade total, comercial e extra AA, respectivamente. Estas doses pro-porcionaram 80,1, 79,9 e 46,4 t ha-1 de produtividades total, comercial e extra AA de frutos, respectivamente. Houve resposta positiva com o aumento do K aplicado, em concordância com Fontes et al. (2000) e Kanai et al. (2007).

Igualando-se a razão preço de adubo potássico pelo preço médio obtido pelo tomate comercial, também a partir da derivada de 1ª ordem da equação de produtividade comercial em resposta às doses de K2O (Figura 1 A), calculou-se a dose de máxima eficiência econô-mica (MEE) para a produção comercial da safra 2006/07, obtida com 464 kg ha-1 de K2O para produção de 71,2 t ha-1. Conforme Grimm (1970), esse método de análise é adequado para cálculos de

econometria em experimentos de adu-bação.

A análise dos resultados das variá-veis produtivas: produtividade total, co-mercial e extra AA na safra 2007/08 (Fi-gura 1B), nota-se que houve ajustes cú-bicos. Isso mostra que há pontos de má-xima e de mínima resposta às doses de K2O aplicadas às plantas. Os pontos de máxima eficiência técnica (MET) foram alcançados com as doses de 625, 484 e

593 kg ha-1 de K2O e com os valores de mínima eficiência técnica (MinET) com 42, 50 e 47 kg ha-1 de K2O, respectiva-mente para as variáveis produtividade total, comercial e extra AA. Substituin-do o “x” correspondente aos valores de K2O nos pontos de MET, de MinET e sem aplicação de K2O, nas três equações de resposta às doses de K2O das variáveis produtividades total, comercial e extra AA, se obteve as produtividades nesses

Figura 1. Produtividade de frutos de tomate em função de doses de K2O nas safras 2006/07 (A) e 2007/08 (B).

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utiv

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a-1)

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três pontos. Assim, para produtivida-de total, os pontos de MET de MinET e sem aplicação de K corresponderam de 127,2, 104,4 e 104,8 t ha-1, respec-tivamente. Estes mesmos pontos, para produtividade comercial e de frutos ex-tra AA, corresponderam a produções de 106,7, 96,3 e 96,7 t ha-1, e de 82,4, 62,1 e 62,6 t ha-1, respectivamente. Constata-se a ausência de resposta à aplicação de baixas doses de K2O, o que originou o suposto efeito cúbico na curva de res-posta. Considerando que o teor de K disponível no solo na safra 2007/08, e que foi responsável pelo suprimento de K nas parcelas testemunha, foi menor que o da safra anterior, e que os ganhos de produtividade com o aumento do K aplicado também foi menor na última safra, assume-se que outros fatores te-nham influenciado a resposta e o efeito cúbico observado. Isto é corroborado observando-se na Figura 1B que a pro-dução física da dose máxima de K apli-cado assemelha-se à da testemunha e à da menor dose.

Pelos critérios de interpretação da análise do solo (Sociedade..., 2004), os teores de K disponível de 108,0 mg dm-3 na safra 2006/07 e de 72,0 mg dm-3 na safra 2007/08, sendo as duas áreas com CTC > 15 cmolc L-1, foram classificados como alto e médio, respectivamente. Isto resultaria em recomendação de 150 e 225 kg ha-1 de K2O aplicado na adu-bação de base mais 300 kg ha-1 de K2O em cobertura, totalizando 450 e 525 kg ha-1 de K2O para as safras 2006/07 e 2007/08, respectivamente. Os resulta-dos dos experimentos mostraram que as doses de MET para produção total, comercial e extra AA foram de 428, 475 e 550 kg ha-1 de K2O e de 625, 484 e 593 kg ha-1 de K2O, nas safras 2006/07 e 2007/08, respectivamente. Confron-tando-se as doses para MET com as recomendadas pela análise de solo em vigor no Sul do Brasil, observa-se que as atuais recomendações estão ligeira-mente abaixo do ideal quando se obje-tiva ganhos de produção de tomate de maior tamanho e valor comercial (extra AA). Para esta classe de frutos, as doses

de MET foram 100 kg ha-1 de K2O em 2006/07 e 68 kg ha-1 de K2O em 2007/08 superiores às indicadas pela interpre-tação da análise do solo (Sociedade..., 2004). Por outro lado, a dose de MEE na safra 2006/07 foi de 464 kg ha-1 de K2O, somente 14 kg superior ao calculado pe-las atuais recomendações para o Sul do Brasil. A dose de MEE é a que realmen-te interessa para fins de recomendação de adubação para uma cultura. Este ra-ciocínio aplicado à produção comercial, que inclui todas as classes de frutos que geram renda, as doses para MET em re-lação às indicadas pela interpretação da análise do solo, foram 25 kg ha-1 de K2O superior em 2006/07 e 41 kg ha-1 de K2O inferior em 2007/08. Esta análise não se aplica à produção total visto que esta inclui a parcela de frutos de descarte,

não comercializáveis. No entanto, ana-lisando a Figura 1, especialmente a 1A, e a Tabela 1, observa-se que houve alta porcentagem de produção de frutos descartados, o que reduz sensivelmente a renda do empreendimento. O produ-tor precisa atacar primordialmente as causas destas perdas para que os efei-tos benéficos de uma adubação possam ser mais compensadores. Ainda, consi-derando que há grandes variações de condições de cultivo de uma região para outra e de um ano para outro, os atuais resultados indicam que ajustes nas atu-ais recomendações, se necessários, são pequenos. O que se deve fazer é ajustar as atuais recomendações para utilização de doses conforme a realidade de cada produtor e ao uso de tecnologias de ponta, como utilização da curva de ab-

Tabela 1. Massa média de frutos comerciais, produção de frutos comerciais em relação ao total e produção de frutos extra AA em relação ao comercial em função de doses de K2O de tomate no tomate nas safras 2006/07 e 2007/08. Caçador, 2014.

Dose de K2O (kg

ha-1)

Massa média de frutos (g)Produção de frutos

comercial/total (%)

Produção de frutos extra AA/

comercial (%)Comercial Extra AA Extra A

Safra 2006/2007

0 148,3(1) 176,6(ns) 128,9(ns) 83,9(ns) 50,1(ns)

150 154,9 187,5 131,1 85,4 51,6

300 159,7 186,0 133,4 86,8 53,2

450 162,8 193,2 135,6 88,2 54,8

600 164,1 194,1 137,9 89,1 56,4

Média 157,9 187,5 133,4 86,8 53,2

C.V. (%) 5,18 5,06 3,58 5,32 12,82

Safra 2007/2008

0 165,2(2) 190,4(3) 132,9(ns) 92,3(ns) 64,6(ns)

200 166,2 192,0 133,6 93,1 64,2

400 169,4 193,7 134,3 93,4 68,9

600 175,7 197,2 134,8 93,7 71,4

800 169,3 193,3 135,6 94,0 67,7

Média 169,1 193,4 134,3 93,4 67,3

C.V. (%) 2,31 1,17 2,09 1,11 5,38ns efeito de tratamentos não significativo pelo teste F (p>0,05); (1)y=150 + 0,02635x (R2=84,01**) (2)y= 163,961 + 0,02544x – 0,000021x2 (R2=60,89**); (3)y= 189,75 +0,0194x – 0,000017x2 (R2=67,29**); * e ** Ajustes das equações significativos a 5 e a 1% de significância, respectivamente.

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sorção de nutrientes para melhor supri-los via fertirrigação ao longo do ciclo.

Na Tabela 1 estão os resultados das variáveis massas médias de frutos comerciais, extra AA e A, produção de frutos comerciais em relação ao total, e produção de frutos extra AA em rela-ção aos comerciais (%), em função das doses de K2O. Para frutos comerciais houve ajuste linear (R2 = 0,84**) na safra 2006/07 e ajuste quadrático (R2 = 0,61**) na safra 2007/08. Na safra 2007/08 houve ajuste quadrático para massa média de frutos extra AA (R2 = 0,67**). Em função dos ajustes quadráticos na safra 2007/08, calculou-se as doses de MET para essas variáveis pela derivada da primeira das equações de respos-ta ao K2O, que foram de 606 e 571 kg ha-1 de K2O para massa média de frutos comerciais e massa média de frutos da classe extra AA, respectivamente.

Conclusões

1) As massas médias dos frutos de tomate comerciais e Extra AA, na sa-fra de 2007/08, aumentaram quadrati-camente com os acréscimos das doses de K2O aplicadas às plantas de tomate, sendo suas METs alcançadas com 606 e 571 kg ha-1 de K2O;

2) As METs para produtividades total, comercial e extra AA foram obti-das com 428, 475 e 550 kg ha-1 e com 625, 484 e 593 kg ha-1 de K2O, para as safras 2006/07 e 2007/08, respectiva-mente;

3) A MEE para a produtividade comercial de frutos, safra 2006/07, foi obtida com a aplicação de 464 kg ha-1 de K2O.

Contribuição dos autores no trabalho

Siegfried Mueller: responsável pela revisão de literatura, metodologia e co-leta dos dados, bem como na discussão dos resultados. Anderson Fernando Wamser: participou na coleta, análise

dos dados e discussão dos resultados. Atsuo Suzuki: contribuiu na coleta e dis-cussão dos dados.

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ARtIGo cIENtÍfIco

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Introdução

A preservação de alimentos pela acidificação é um procedimento antigo e usual, principalmente na conservação de vegetais. Os ácidos podem ser utiliza-dos como agentes “saborizantes”, tam-pões no controle do pH, conservantes na prevenção do crescimento de micror-ganismos e da germinação de esporos, como sinergistas aos antioxidantes, na prevenção da rancidez e do escureci-mento enzimático, modificadores da

Processamento de conservas de Sarcocornia perennis Thaynã Gonçalves Timm¹, Antônio Amaury Silva Júnior², Renata Labronici Bertin³ e Lorena Benathar Ballod Tavares¹

Resumo – O objetivo deste trabalho foi produzir e avaliar a aceitação de conservas de Sarcocornia perennis e, devido à pouca disponibilidade de amostras dela no Banco de Germoplasma da Epagri/EEI, foi realizado um estudo inicial com P. vulgaris (vagem) usando um modelo fatorial 2³. Foram realizadas análises de pH, °Brix e acidez total titulável, além de testes de preferência, em que foram selecionadas quatro formulações com concentrações equilibradas ou com teor de açúcar mais elevado, resultando em tratamentos usados posteriormente para a produção das conservas de S. perennis. Outro teste de preferência foi realizado para a conserva de S. perennis, sendo selecionada a amostra da formulação do ponto central do planejamento fatorial, cujas concentrações de vinagre, sal e açúcar foram intermediárias. Os dados indicaram que a conserva de S. perennis pode ser um produto com potencial para estímulo à agricultura familiar catarinense devido ao grau de aceitação obtido e ao rendimento de 59%. O cultivo dessa espécie também deve ser recomendado para a produção ao mercado, tendo em vista a ocorrência de cultivos comerciais em alguns países, com alto valor agregado para os produtos comercializados.

termos para indexação: Conserva ácida; Phaseolus vulgaris; aceitação.

Processing of canned Sarcocornia perennis

Abstract - The aim of this work was to produce and to evaluate the acceptance of Sarcocornia perennis conserves. Due to little availability of samples of Sarcocornia perennis in the Germplasm Bank of Epagri/EEI, an initial study was carried with Phaseolus vulgaris (string bean) using a factorial 2³. Analysis of pH, °Brix, titratabel total acidity and preference tests had been carried out, where four formulations with balanced concentrations on higher sugar content had been selected. Another preference test was carried out for the conserve of S. perennis, where the formulation sample of the factorial planning central point was selected, whose concentrations of vinegar, salt and sugar were intermediate. The data indicated that the conserve of S. perennis can be a potential product to encourage production by family farmers, due to the degree of acceptance and to the 59% yield. In view of commercial growing occurrence in some countries, with high value added for the commercialized canned products, this crop may be recommended as a market product.

Index terms: acidic canned product, Phaseolus vulgaris, acceptance.

Recebido em 10/2/2014. Aceito para publicação em 11/12/2014.¹ Engenheiros químicos, Drs., Universidade Regional de Blumenau / Laboratório de Processamento de Alimentos / Departamento de Engenharia Química, Rua São Paulo, 3250, 89030-000 Blumenau, SC, e-mails: [email protected] e [email protected].² Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri / Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88318-112 Itajaí, SC, e-mail: [email protected].³ Professora, Dra., Universidade Federal do Paraná / Departamento de Nutrição / Centro de Ciências da Saúde, Campus Botânico, Av. Lothário Meissner, 632, 80210-170 Jardim Botânico, Curitiba, PR, e-mail: [email protected].

viscosidade, entre outros (Benevides & Fortunato, 1998).

Por apresentar operações de fácil controle, a industrialização e o mer-cado de hortaliças em conserva ácida têm crescido no Brasil. Segundo Viñas (2012), uma nova tendência do merca-do de alimentos em conserva é a ino-vação. Nessa perspectiva, a Sarcocornia perennis var. perennis surge como ma-téria-prima inovadora e exótica, que po-derá ser processada como alimento na forma de conserva ácida, já que é uma

planta suculenta e com caraterísticas alimentares promissoras em termos de antioxidantes (Bertin et al.,2014).

A espécie Sarcocornia perennis faz parte da família Amaranthaceae (Alon-so & Crespo, 2008) e compreende es-pécies vegetais que se adaptaram em ambientes halofíticos, cujo habitat são os marismas dos litorais do planeta, realizando, portanto, seu ciclo de vida em ambientes com elevada concentra-ção salina (100 a 500mmol L-1 de NaCl) (Flowers & Colmer, 2008). Essa espécie

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apresenta grande concentração em mi-nerais, os quais conferem sabor salgado, que poderá trazer benefícios em termos de redução da adição de sal ao líquido de cobertura (salmoura acidificada), já que o consumo de cloreto de sódio (NaCl) fora dos padrões recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é um dos principais responsáveis pela elevação da incidência de proble-mas cardiovasculares decorrentes da hiperpressão arterial.

Nesse contexto, os estudos com os gêneros Salicornia e Sarcocornia (Ama-ranthaceae) tornaram-se relevantes pela diversidade estrutural dos consti-tuintes químicos (vitaminas, minerais e compostos bioativos), pela complexida-de taxonômica e pela importância ali-mentícia e medicinal. Seus efeitos bioló-gicos e fisiológicos comprovados sobre a saúde incluem atividade antioxidante, antineoplásica, anti-inflamatória, anti-trombótica e antimicrobiana (Lee et al., 2007; Park et al., 2006; Lee et al., 2005).

Entre os compostos bioativos com propriedades terapêuticas encontradas nessas espécies, merecem destaque os compostos fenólicos, em especial os flavonoides, que neutralizam agentes oxidantes, reduzindo o risco de várias doenças crônicas não transmissíveis (Bertin et al., 2014). Assim, reconhecen-do que o Brasil e, em particular, Santa Catarina possuem uma região costeira privilegiada e com potencial para pros-pectar o cultivo comercial da planta, o objetivo deste estudo foi a produção de conservas ácidas da S. perennis e sua aceitação popular.

Material e métodos

O presente estudo foi realizado no Laboratório de Processamento de Ali-mentos (Lapra) da Universidade Regio-nal de Blumenau (Furb), em Blumenau, SC. Durante a pesquisa houve uma res-trição ao uso da S. perennis pela escas-sez de material para a elaboração de testes preliminares e a definição das formulações do líquido de cobertura das conservas ácidas a ser produzidas.

Estabeleceu-se, então, a utilização da leguminosa Phaseolus vulgaris (vagem) para obter as concentrações ideais dos componentes dessa salmoura acidifica-da, dadas as semelhanças nas caracte-rísticas sensoriais quanto aos atributos textura e cor entre a planta e a legumi-nosa observada, preliminarmente, em testes no Lapra/Furb.

As conservas de vagem de S. pe-rennis (Figura 1) foram produzidas de acordo com a Resolução no 13 da Co-missão Nacional de Normas e Padrões de Alimentos (Brasil, 1977) e as normas de Boas Práticas de Fabricação (Krolow, 2006). No produto, o pH final deve ser igual a ou menor que 4,5. Nesse valor estão os alimentos classificados como muito ácidos, o que impede a multipli-cação de bactérias esporuladas (Belle-gard et al., 2005).

Produção e análise das conservas de Phaseolus vulgaris

Foi empregado um planejamento fa-torial 2³ com repetição do ponto central para a produção das conservas de va-gem (Tabela 1) e, após 15 dias de arma-zenamento em temperatura ambiente, foi determinado o pH, sólidos solúveis totais (°Brix), acidez total titulável delas e comparados com uma marca de con-serva comercial com o intuito de padro-nizar esses parâmetros. Uma equipe de degustadores (13 julgadores) foi capaci-tada quanto aos teores forte e fraco em vinagre (v/v) (30,5%, 21,5%, 12,5 %), sal (m/v) (2,5%, 2%, 1,5%) e açúcar (m/v) ( 2,4%, 3%, 3,6%) respectivamente para posteriores testes sensoriais.

Figura 1. Diagrama do processo de produção das conservas de vagem e de S. perennis em aproximadamente 100°C por 30 minutos

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As conservas foram submetidas à análise de determinação de intensidade dos atributos gosto salgado, gosto doce = doçura, gosto ácido = acidez, e apre-sentadas de forma aleatória aos julga-dores. Para a avaliação, foi empregada uma escala estruturada de sete pontos, em que 7 foi igual a “forte” e 1 igual a “nenhum”. Paralelamente a essa análi-se, foi aplicado um teste de aceitação em que os julgadores utilizaram uma escala hedônica estruturada de nove pontos (9 – gostei extremamente; 1 – desgostei extremamente) para avaliar a aceitação das conservas visando à defi-nição das formulações para a posterior produção das conservas ácidas de S. pe-rennis. Os dados da avaliação sensorial foram submetidos à análise de variância (Anova) ao nível de 5% de significância, e as médias das análises físico-químicas foram comparadas pelo teste de Tukey (α = 0,05), usando o software Statistica 7.0.

Os dados de avaliação da aceitação foram analisados por meio de análise estatística descritiva para determinação do percentual de frequência de respos-tas dos valores. Para o cálculo do Índice de Aceitabilidade (IA) da conserva de vagem foi adotada a expressão: IA (%) = A x 100/B, em que A é a nota média obtida para o produto e B é a nota má-xima dada ao produto. O IA com boa re-percussão tem sido considerado aquele superior a 70%. Após a determinação das formulações mais aceitas pelos

julgadores, levando em conta o teste de aceita-ção com as conservas de vagem, foram iniciadas as produções das conservas ácidas de S. perennis.

Produção e análise das conservas de S. perennis

A planta foi coletada no município de Palho-ça, SC, na Barra do Aririú

(27°40’54.76” S, 48°38’19.63” O), no dia 10 de maio de 2013 às 10h e enviada ao Laboratório de Processamento de Ali-mentos da Furb. Lá foi recebido 1,5kg de planta, selecionada e submetida à lavagem com solução de hipoclorito de sódio a 10% (v/v) e água corrente. Após a limpeza, resultou em 885g. Na planta in natura foi determinada a atividade de água (aw), o °Brix, a acidez total titulá-vel e o pH, empregando-se os métodos do Instituto Adolfo Lutz (IAL, 2007).

Foram produzidas quatro salmouras cujas formulações foram as mais aceitas pelos testes anteriores com as conser-vas de vagem. O pH, o °Brix e a acidez total titulável também foram analisa-dos, após o período estabelecido para o repouso (15 dias), sendo todos os testes efetuados em triplicata.

Com essas conservas de S. peren-nis foi realizado o Teste de Ordenação de Preferência com 40 provadores não treinados nas quatro amostras. Essas amostras foram classificadas em ordem crescente de preferência, cuja amostra menos preferida equivale a 1 e a mais preferida equivale a 4 (Faria & Yotsuya-nagi, 2008). A diferença crítica entre os totais de ordenação foi realizada ao nível de significância de 5%, seguindo-se o modelo da tabela de Newell e Mac Farlane (IAL, 2007). Além disso, foi so-licitado aos provadores que respondes-sem sobre a frequência de consumo de conservas ácidas e a intenção de com-pra das conservas de S. perennis se ela

estivesse disponível no mercado.

Resultados e discussão

Os gráficos sensoriais de superfície de resposta para diferentes concentra-ções de sal, açúcar e vinagre quanto à intensidade da acidez e o gosto salgado da conserva de vagem do planejamento fatorial são apresentados nas Figuras 2 e 3. A influência das variáveis na aci-dez da conserva demonstrou aumento quando existe menor concentração em açúcar e maior em vinagre, indepen-dentemente do teor de sal. Em relação ao gosto salgado, constatou-se que seu aumento ocorre quando há elevação da concentração de vinagre e de sal.

As médias dos dados obtidos nas análises de acidez total titulável, °Brix e pH comparadas pelo teste de Tukey (α = 0,05) são apresentadas na Tabela 2, onde pode-se observar que a acidez foi influenciada somente pela concen-tração de vinagre. Segundo Marques et al. (2010) a utilização do vinagre na alimentação ocorre na forma de condi-mento, conferindo sabor ácido.

Em relação ao °Brix, existe influência do vinagre, do sal e do açúcar. Ele é mais elevado quando existe maior teor de vi-nagre e açúcar e menor de sal.

Analisando os resultados obtidos pela análise estatística descritiva do teste de aceitação das conservas de va-gem, verifica-se que as amostras com maior índice de aceitabilidade foram as formulações dos tratamentos 1, 5, 8 e 9 (Tabela 1), podendo-se observar que o equilíbrio dos teores de sal, vinagre e açúcar nas salmouras levam à aceitação. Nenhum dos tratamentos selecionados apresentou nota média abaixo de 5,0 (limite inferior de aceitação), o mesmo obtido por Camargo et al. (2007), em estudo com tomates em conserva. As médias das análises físico-químicas rea-lizadas nas conservas de S. perennis pro-duzidas com as formulações com maior índice de aceitabilidade das conservas de vagem estão apresentas na Tabela 3.

No teste de ordenação de preferên-cia das conservas de S. perennis (ren-

Tabela 1. Modelo fatorial da produção das conservas de vagem com níveis e concentrações das variáveis testadas nas formulações para o líquido de cobertura

Ensaio Vinagre (x1)(1) Sal (x2)

(1) Açúcar (x3) (1)

1 12,5 (-1) 1,5 (-1) 2,4 (-1)2 30,5 (+1) 1,5 (-1) 2,4 (-1)3 12,5 (-1) 2,5 (+1) 2,4 (-1)4 30,5 (+1) 2,5 (+1) 2,4 (-1)5 12,5 (-1) 1,5 (-1) 3,6 (+1)6 30,5 (+1) 1,5 (-1) 3,6 (+1)7 12,5 (-1) 2,5 (+1) 3,6 (+1)8 30,5 (+1) 2,5 (+1) 3,6 (+1)

9(2) 21,5 (0) 2,0 (0) 3,0 (0) (1) Concentrações em porcentagem. (2) Repetição do ponto central.

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Tabela 2. Resultados da diferença entre as médias das análises de Acidez total titulável, grau Brix e pH pelo Teste de Tukey

ConcentraçãoVinagre Sal Açúcar

12,5% 21,5% 30,5% 1,5% 2,0% 2,5% 2,4% 3,0% 3,6%Acidez total titulável (%) 0,038 c 0,054 b 0,068 a 0,055 a 0,054 a 0,052 a 0,055 a 0,054 a 0,051 aGrau Brix 4,29 b 5,00 b 4,04 a 3,92 a 5,00 b 4,42 b 3,77 c 5,00 b 4,56 apH 4,39 a 4,29 b 4,06 b 4,19 a 4,29 a 4,26 a 4,22 a 4,29 a 4,23 a

Nota: Letras iguais na linha não diferem entre si (α = 0,05) .

dimento médio de 59%) (Figura 4), o ponto central (amostra 9) obteve maior somatório dos valores dados a cada amostra, equivalendo então à amostra de maior preferência (Tabela 4). A prefe-rência das demais amostras apresentou ordenação a partir da amostra 1 seguida da amostra 5 e da 8. Isso indica que há tendência de preferência das conservas cujo teor de sal, vinagre e açúcar são de teores intermediários, como também constatado nas conservas de vagem. Os fatores ordenados pelos provado-res que mais influenciaram na escolha da amostra preferida foram, a acidez, o gosto salgado, a doçura e a textura, res-pectivamente.

A partir do modelo da tabela de Newell e Mac Farlane, percebe-se que as amostras de conserva de S. perennis são estatisticamente iguais, já que o va-lor das diferenças entre cada amostra é menor que do que o valor crítico, refor-çando a afirmação de que o equilíbrio leva à aceitação do produto. O perfil do consumidor pesquisado está descrito no gráfico da Figura 5. Por meio do questio-nário feito aos provadores, constatou-se frequência elevada de consumo de conservas ácidas, reafirmando assim o grande número de consumidores des-ses produtos na região. Além disso, as conservas de S. perennis obtiveram ele-vado grau de intenção de compra, pois 85% dos provadores afirmaram que comprariam ou talvez comprassem es-sas conservas se estivessem disponíveis no mercado brasileiro.

Conclusões

A S. perennis em conserva acidifica-da foi desenvolvida para ser um produto com garantia de qualidade dentro dos princípios da segurança alimentar, con-Figura 3. Gráfico de superfície de resposta para diferentes concentrações de sal, açúcar e

vinagre na intensidade do gosto salgado da conserva de vagem

Figura 2. Gráfico de superfície de resposta para diferentes concentrações de sal, açúcar e vinagre na intensidade da acidez da conserva de vagem

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Tabela 3. Resultados das análises físico-químicas da conserva de S. perennis

característica In naturaAmostra

1 5 8 9Atividade de água (aw) 0,965 - - - -pH 6,46 3,52 3,56 3,24 3,46°Brix 0,75 8,66 9,5 8,66 8,00Acidez total titulável (%) 0,0024 0,067 0,064 0,133 0,096

Tabela 4. Diferença crítica entre as amostras da conserva de S. perennis pelo modelo de Newell e Mac Farlane

Amostra 1 5 8 9Somatória total 105 104 88 106Diferenças versus 121 - 1 17 1Diferenças versus 573 - - 16 2Diferenças versus 816 - - - 18

siderando o pH final obtido e a capaci-dade de tornar-se um alimento comer-cial no estado de Santa Catarina.

As análises físico-químicas do pro-duto apresentaram resultados ade-quados quanto à classe das hortaliças acidificadas, enquadrando o produto nos padrões estabelecidos pelas nor-mas oficiais (Resolução 13/77 do MS). Quanto às variáveis testadas, observou-se a influência significativa na acidez e no pH do líquido de cobertura somente com a presença dos diferentes teores de vinagre. Para o °Brix foi observada influência pelo aumento do teor de vi-nagre e açúcar, sendo o sal uma variável

que não influenciou nas características físico-químicas do produto nos teores utilizados.

O rendimento de S. perennis na pro-dução das conservas foi superior a 50%, e o produto apresentou boa aceitação como vegetal em conserva ácida, veri-ficada em teste sensorial, o que leva à possibilidade de surgir como novo pro-duto no mercado nacional, com desta-que para a produção em Santa Catarina.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao CNPq pe-las bolsas de Pesquisa Pibiti/CNPq (Pro-jeto 911/2012) e de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico (DT) e ao

Figura 4. Conserva ácida de (A) S. perennis e (B) S. perennis in natura

Foto

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Figura 5. Perfil do consumidor do teste sensorial para conserva ácida de S. perennis

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apoio técnico oferecido pela Epagri/EEI, cujas pesquisas de prospecção foram fi-nanciadas pela Fapesc.

Contribuição dos autores no trabalho

thaynã Gonçalves timm: revisão de literatura, metodologia e coleta dos dados, bem como discussão dos resul-tados. Lorena Benathar Ballod tava-res: análise dos dados e discussão dos resultados. Antônio Amaury Silva Jú-nior: fornecimento de matéria-prima e dados referentes a ela, bem como revisão científica do texto. Renata La-bronici Bertin: revisão bibliográfica com estudos anteriores e dados referentes à matéria-prima.

Referências

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GERMOPLASMA

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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

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A revista Agropecuária Catarinense aceita para publicação matérias ligadas à agropecuária e à pesca, desde que se enquadrem nas seguintes normas:

1. As matérias para as seções Artigo científico, Germoplasma, Nota científica e Revisão bibliográfica devem ser originais e vir acompan-hadas de uma carta ou e-mail afir-mando que a matéria é exclusiva à RAC. Ao mesmo tempo, o autor deve concordar em ceder para a Revista os direitos autorais do tex-to que será publicado.

2. O Informativo técnico refere-se à descrição de uma técnica já consagrada, doenças, insetos-

-praga, e outras recomendações técnicas de cunho prático, tendo como principal público extensioni-stas e técnicos em geral. O assunto deve fazer parte das pesquisas ou da prática profissional do autor. Máximo de 8 páginas, incluindo fig-uras e tabelas (ver item 11). Deve ter Resumo (máximo de 10 linhas, incluindo Termos para indexação), título em inglês, Abstract e Index terms, Introdução e subtítulos, conforme o conteúdo do texto. Para finalizar a matéria, utiliza-se o subtítulo Considerações finais ou Recomendações. Agradecimentos é opcional e as referências não de-vem ultrapassar o número de dez.

3. O Artigo científico deve ser conclu-sivo, oriundo de uma pesquisa já encerrada. Deve estar organizado em título, nome completo dos au-tores (sem abreviação), Resumo (máximo de 15 linhas, incluindo Termos para indexação), título em inglês, Abstract e Index terms, In-trodução, Material e métodos, Re-sultados e discussão, Conclusão, Agradeci-mentos (opcional), Refer-ências, tabelas e figuras. Os termos para indexação não devem conter palavras já existentes no título e devem ter no mínimo três e no máximo cinco palavras. Nomes científicos no título não devem

Normas para publicação na revista Agropecuária Catarinense – RACconter o nome do identificador da espécie. Há um limite de 15 pági-nas (ver item 11) para Artigo cientí-fico, incluindo tabelas e figuras.

4. A Nota científica refere-se a pes-quisa científica inédita e recente com resultados importantes e de interesse para uma rápida divulga-ção, porém com volume de infor-mações insuficiente para consti-tuir um artigo científico completo. Pode ser também a descrição de nova doença ou inseto-praga. Deve ter no máximo oito páginas (incluí-das as tabelas e figuras) (ver item 11). Deve estar organizada em tí-tulo, nome completo dos autores (sem abreviação), Resumo (máxi-mo de 12 linhas, incluindo Termos para indexação), título em inglês, Abstract e Index terms, texto cor-rido, Agradecimentos (opcional), Referências, tabelas e figuras. Não deve ultrapassar dez referências.

5. A seção Germoplasma deve conter título, nome completo dos autores, Resumo (máximo de 15 linhas, in-cluindo Termos para indexação), título em inglês, Abstract e Index terms, Introdução, origem (inclu-indo pedigree), descrição (planta, brotação, floração, fruto, folha, sistema radicular, tabela com da-dos comparativos), perspectivas e problemas do novo cultivar ou ger-moplasma, disponibilidade de ma-terial e Referências. Há um limite de 12 páginas para cada matéria, incluindo tabelas e figuras (ver item 11).

6. A Revisão bibliográfica apresen-ta o estado da arte de tecnologia ou processo tecnológico das Ciên-cias Agrárias, sobre os quais o(s) autor(es) deve(m) ter reconhecida qualificação e experiência. O texto deve apresentar não só uma análi-se descritiva, mas também crítica, e referências bibliográficas atua-lizadas. Deve conter título, nome completo dos autores (sem abre-viação), Resumo (máximo de 15

linhas, incluindo Termos para in-dexação, título em inglês, Abstract e Index terms, Desenvolvimento, Discussão, Conclusões ou Consi-derações finais, Agradecimentos (opcional), Referências, tabelas e figuras. Não deve ultrapassar 16 páginas, incluindo tabelas e figu-ras.

7. Devem constar no rodapé da primeira página: formação profis-sional do autor e do(s) coautor(es), título de graduação e pós-gradu-ação (especialização, mestrado, doutorado), nome e endereço da instituição em que trabalha, tele-fone para contato, endereço ele-trônico e entidade financiadora do trabalho, se houver.

8. As citações de autores no texto devem ser feitas por sobrenome e ano, com apenas a primeira letra maiúscula. Quando houver dois autores, separar por “&”; se hou-ver mais de dois, citar o primeiro seguido por “et al.” (sem itálico). O(s) autor(es) devem registrar no texto, após Conclusões e Agradeci-mentos, as Contribuições de cada autor no trabalho, indicando o que cada um realizou no estudo, bem resumido.

9. Tabelas e figuras geradas no Word não devem estar inseridas no texto e devem vir numeradas, ao final da matéria, em ordem de apresen-tação, com as devidas legendas. Gráficos gerados no Excel devem ser enviados, com as respectivas planilhas, em arquivos separados do texto. As tabelas e as figuras (fotos e gráficos) devem ter título claro e objetivo e ser autoexplica-tivas. O título da tabela deve estar acima dela, e o título da figura, abaixo. As tabelas devem ser ab-ertas à esquerda e à direita, sem linhas verticais e horizontais, com

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exceção daquelas para separação do cabeçalho e do fechamento, evitando-se o uso de linhas duplas. As abreviaturas devem ser explicadas ao aparecerem pela primeira vez. As chamadas devem ser feitas em algarismos arábicos sobrescritos, entre parênteses e em ordem crescente (ver modelo).

10. As fotografias (figuras) devem es-tar digitalizadas, em formato JPG ou TIFF, em arquivo separado do texto, com resolução mínima de 300dpi, 15cm de base.

11. As matérias apresentadas para as seções Registro, Opinião e Conjuntura devem se orientar pelas normas do item 11.

11.1 Opinião – deve discorrer sobre assuntos que expressam a opinião do autor e não necessariamente da Revista sobre o fato em foco. O texto deve ter até cinco páginas.

11.2 Conjuntura – matérias que enfocam fatos atuais com base em análise econômica, social ou política, cuja divulgação é oportuna. Não devem ter mais que oito páginas.

12. Os trabalhos devem ser encaminhados preferencialmente em meio digital (e-mail ou CD), no programa Word for Windows, letra arial, tamanho 12, espaço duplo. Devem possuir margem superior, inferior e laterais de 2,5cm, estar paginados e com as linhas numeradas.

13. As referências devem estar restritas à literatura citada no texto, de acordo com a ABNT e em ordem alfabética. Não são aceitas citações de dados não publicados e de publicações no prelo. Quando houver mais de três autores, citam-se apenas os três primeiros, seguidos de “et al.”

14. Conflito de interesses – Como o processo de revisão dos artigos pelos consultores ad hoc e do Comitê é sigiloso, procura-se evitar interesses pessoais e outros que possam influenciar na elaboração ou avaliação de manuscritos.

Exemplos de citação:

Eventos:DANERS, G. Flora de importância melífera no Uruguai. In: CONGRESSO IBERO-LATINO-AMERICANO DE APICUL-TURA, 5., 1996, Mercedes. Anais... Mercedes, 1996. p.20. Periódicos no todo: ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL-1999. Rio de Janeiro, IBGE, v.59, 2000. 275p.

Artigo de periódico:STUKER, H.; BOFF, P. Tamanho da amostra na avaliação da queima acinzentada em canteiros de cebola. horticultura Brasileira, Brasília, v.16, n.1, p.10-13, maio 1998.

Artigo de periódico em meio eletrônico:SILVA, S.J. O melhor caminho para atualização. Pc world, São Paulo, n.75, set. 1998. Disponível em: <www.idg.com.br/abre.htm>. Acesso em: 10 set. 1998.

Livro no todo: SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO. Recomendação de adubação e de calagem para os estados do Rio

Grande do Sul e de Santa Catarina. 3.ed. Passo Fundo, RS: SBCS/Núcleo Regional Sul; Comissão de Fertilidade do Solo – RS/SC, 1994. 224p. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO. Manual de adubação e calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 10.ed. Porto Alegre, RS: SBCS/Núcleo Regional Sul; Comissão de Química e Fertilidade do Solo – RS/SC, 2004. 400p.

capítulo de livro:SCHNATHORST, W.C. Verticillium wilt. In: WATKINS, G.M. (Ed.). Compendium of cotton diseases. St. Paul: The American Phytopathological Society, 1981. p.41-44.

teses e dissertações:CAVICHIOLLI, J.C. Efeitos da iluminação artificial sobre o cultivo do maracujazeiro amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa deg.). 1998. 134f. Dissertação (Mestrado em Produção Vegetal), Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, SP, 1998.

TratamentoPeso médio dos frutos Produção

média1993 1994 1995 Média

............................... g ................................. kg/ha

Testemunha 113 d 95 d 80 d 96,0 68.724

Raleio manual 122 cd 110 bc 100 ab 110,7 47.387

16L/ha 131 abc 121 a 91 bc 114,3 45.037

300L/ha 134 ab 109 bc 94 bc 112,3 67.936

430L/ha 122 cd 100 dc 88 cd 103,3 48.313

950L/ha 128 abc 107 bc 92 bc 109,0 59.505

1.300L/ha 138 a 115 ab 104 a 119,0 93.037

1.900L/ha com pulverizador manual 125 bc 106 bc 94 abc 108,4 64.316

1.900L/ha com turboatomizador 133 ab 109 bc 95 abc 112,3 64.129

cV (%) 4,8 6,4 6,1 6,4 -

Probabilidade (teste f) 0,0002(**) 0,011(**)

Tabela 1. Peso médio dos frutos no período de 1993 a 1995 e produção média desses três anos, em plantas de macieira, cultivar Gala, tratadas com diferentes volumes de calda de raleantes químicos(1)

(1)Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade.(**) Teste F significativo a 1% de probabilidade.CV = coeficiente de variação.Fonte: Camilo & Palladini. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.35, n.11, nov. 2000.

Agropecu. catarin., florianópolis, v. 28, n.1, mar. 2015/jul. 2015

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