pegadas musicais tfg marysol rivas brito fauusp 2012

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1 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo PEGADAS MUSICAIS TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO MARYSOL RIVAS BRITO Orientador: Prof. Dr. Fábio Mariz Gonçalves Novembro, 2012

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Trabalho Final de Graduação para a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (2012). Pesquisa teórica e projeto de parque de equipamentos relacionando arquitetura e música.

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  • 1 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

    Universidade de So Paulo

    PEGADAS MUSICAIS TRABALHO FINAL DE GRADUAO

    MARYSOL RIVAS BRITO

    Orientador: Prof. Dr. Fbio Mariz Gonalves

    Novembro, 2012

  • ESPAO DE VIVNCIA MUSICAL2

  • 3AGRADECIMENTOS

    Ao Professor Fbio Mariz Gonalves, por toda a orientao ao longo deste processo, pela pacincia e bons conselhos.

    Ao tantos outros orientadores que tive ao longo desses anos FAU por, percebendo os limites da minha viso, abrirem meus horizontes e me incentivarem a caminhar nesse sentido.

    Aos amigos que fiz na FAU, imprescindveis e importantssimos na minha formao. Obrigada por fazerem esses anos superarem minhas mais otimistas expectativas.

    Agradecimentos especiais a Thelma Cardoso, Ana Daniela Dalla Rosa, Mariana Pierobon Gomes, Alexandre Gaiser, Pablo Estefania, Ricardo Froes, Thomas Boerendonk, Camila Reis, Laura Affonso, Hugo Guedes, Kim de Paula, Gabriel Nilson, Julia Paccola, Bruno Zaitsu e Felipe Gomiero, por todo o apoio e grande ajuda na reta final.

    Aos meus Amigos de sempre, pelos anos de amizade, pelas conversas na madrugada, e por to pacientemente compreenderem meus desaparecimentos.

    minha famlia por toda pacincia, carinho, por me apoiarem e acompanharem. Mesmo nas mais inslitas empreitadas.

  • ESPAO DE VIVNCIA MUSICAL4

  • 54. Projeto 75

    4.1 Redesenho do Parque 76

    4.2 Passarela 88

    4.3 Edifcio Ensino-Aprendizagem 104

    4.4 Edifcio Degustao 138

    4.5 Edifcio Performance 162

    4.6 Materiais 187

    4.7 Maquete fsica 189

    5. Referncias Bibliogrficas e Iconogrficas 207

    SUMRIO

    1. Introduo 9

    2. Pesquisa terica 11

    2.1 Espao e Msica 13

    2.2 Estudos de caso 21

    2.3 Acstica arquitetnica 47

    3. Estudos Especficos 51

    3.1 Esferas de Aproximao 53

    3.3 Mapa da Msica 55

    3.4 Pegada Musical 57

    3.5 Escolha Do Terreno 59

    3.6 Estudos Aprofundados / Programa 63

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  • 7INTRODUO

    Tanto a arquitetura quanto a msica se destacam por serem artes imersivas, ou seja, preenchem o espao, envolvem o sujeito como um todo. Ao ouvir msica ou entrar em edifcio, o indivduo se v incontestavelmente interagindo com a obra. Essa interao pode se dar de maneira consciente ou no, mas sempre existir. Nesse sentido, a passagem do livro Eupalinos ou o Arquiteto, de Paul Valry (na qual dialogam hipotticos Scrates e Fedro), expressa bem o material subjetivo com o qual se pretende trabalhar:

    Ora, jamais o experimentaste, ao assistir a uma festa solene ou participar de um banquete, a orquestra inundando a sala de sons e fantasmas? No te parecia ser o espao primitivo substitudo por outro, inteligvel e varivel, ou melhor, que o prprio tempo te envolvia de todos os lados? No vivias em um edifcio mvel, incessantemente renovado e reconstruido em si mesmo, todo consagrado s transformaes de uma alma que seria a alma do prprio espao? Essa plenitude cambiante no era anloga a uma chama contnua, iluminando e aquecendo todo o seu ser, atravs de ininterrupta combusto de lembranas, pressentimentos, arrependimentos, pressgios e uma infinidade de emoes sem causa precisa? E aqueles monumentos, com seus ornamentos; e aquelas danas, sem danarinas; e aquelas esttuas, sem corpo nem fisionomia (mas to delicadamente delineadas), no pareciam envolver-te a ti, escravo da presena total da msica?

    Surge ento a proposio de projetar arquitetura com msica e para a msica, desenvolver pesquisa no sentido de repensar como os espaos se relacionam entre si e com seu propsito dentro desse contexto. Aspecto interessante o fato de que a expanso das demais artes rumo a domnios arquitetnicos e musicais grande tendncia atual, o que traz consigo novas oportunidades de interveno e levanta a questo da relao entre os espaos de apreciao e expresso artstica, seus usos e apropriaes.

    Teria de ser equipamento pblico e dentro de contexto urbanstico e paisagstico que justificasse a empreitada. Um edifcio que pudesse tirar partido da rede de infra-estruturas pblicas da cidade e as complementasse, alterando positivamente a dinmica existente. A discusso sobre o espao pblico tambm remete viso de cidade e apropriao dos espaos, levanta a questo da relao entre os diferentes, que se manifesta de forma explosiva na convivncia coletiva.

    A opo por So Paulo se deve a srie de fatores relativos tanto ao tempo de desenvolvimento do trabalho (quanto seria despedindo em etapas de anlise e diagnstico) quanto prpria identidade da cidade. Um ano no seria suficiente para desenvolver entendimento urbano cuidadoso o suficiente para que a implantao de infra-estrutura como a proposta faa algum sentido em outro lugar, visto que o objetivo deste trabalho chegar ao projeto arquitetnico de fato. Alm da contribuio que os anos de FAU trouxeram, a herana de discusses e entendimento urbanos que fazem com que algumas etapas analticas possam ser sublimadas, a vivncia

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  • 9de 24 anos morando em So Paulo tambm contribui para melhor entender e elaborar as propostas para o trabalho.

    Musicalmente falando, So Paulo cidade bastante fervilhante, com grande variedade de estilos e vasta oferta de espetculos. Em termos de tradio musical, bero de sambistas de renome como Adoniran Barbosa, e assistiu o surgimento inmeras bandas de rock nas dcadas de 60, 70 e 80, reflexo das grandes mudanas na sociedade e na cultura que aconteciam no pas todo. Bandas ps-punk e garagem tornaram-se fortes na dcada de 1980, associadas ao cenrio sombrio de desemprego da poca, e nos anos 90 drum & bass tornou-se outro movimento musical forte, juntamente com o heavy-metal. Por ser grande plo nacional e por seu aspecto cosmopolita, a cidade cada vez mais se renova musicalmente, aceitando as diversas vertentes musicais oriundas de toda parte. tambm importante local para a msica erudita: possui um dos maiores conjuntos sinfnicos da Amrica Latina (Orquestra Sinfnica do Estado de So Paulo OSESP) e grande nmero de espetculos por ano. A cidade tambm muito influente no movimento hip-hop, sendo que os maiores expoentes dessa vertente cultural se encontram em So Paulo arredores. Tambm forte a presena da msica eletrnica, com diversos clubes noturnos, raves e festivais.

    A primeira etapa do trabalho se foca ento na pesquisa terica e se desenvolve atravs de trs enfoques:

    1- Levantamento e estabelecimento de paralelos entre arquitetura e msica, atravs inclusive

    da anlise do desenvolvimento destas ao longo da histria

    2- Anlise da percepo e relao do usurio com o espao destinado vivncia musical, ligada acstica arquitetnica e critrios de desempenho dos ambientes

    3- Estudo de referncias arquitetnicas e de equipamentos ligados msica

    O produto final da pesquisa terica foi ento o programa do equipamento proposto e o projeto arquitetnico, mote da segunda etapa.

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    PESQUISA TERICA

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    ESPAO E MSICA

    A relao mais direta e instintiva entre as duas artes se faz atravs da matemtica, e isso j sabido desde a Grcia antiga. Dentro da escola pitagrica (sc. V a.C.), se considerava que a formao intelectual do homem deveria contemplar dois grandes ramos de conhecimento: trivium e quadrivium. O primeiro engloba gramtica, dialtica e retrica, e o segundo astronomia, geometria, aritmtica e msica. Para os gregos, astronomia seria a grandeza em movimento, a geometria seria grandeza em descanso, aritmtica seriam os nmeros absolutos, e msica os nmeros aplicados. Assim, segundo Elvan Silva (Arquiteto, mestre em arquitetura e doutor em sociologia brasileiro) a aproximao pitagrica era bem diferente da matemtica como conhecemos hoje: os nmeros tinham nela um sentido mais amplo, transcendendo transcrio de relaes quantitativas. Da mesma forma que a aritmtica era usada para compreender o universo fsico e universal, a msica era considerada o melhor exemplo da harmonia universal.

    Pitgoras (filsofo e matemtico grego 571 a.C. a 496 a.C.) tambm cria matematicamente (relaes fsicas entre tamanhos de cordas) os harmnicos, que viriam a ser a base da msica ocidental. Os harmnicos seriam 7 sons prazerosos ao ouvido. Anos depois, Hemholtz (mdico e fsico alemo - 1821 a 1894) diria que dois sons so mais consoantes de acordo com a maior quantidade de harmnicos compartilhados.

    Seguidores de Pitgoras dividiram a msica

    em trs grupos: msica instrumentalis (produzida por instrumentos e cordas vocais), msica humana (inaudvel, produzida pelo corpo e indicando a ressonncia com a alma e entre almas), e msica mundana (produzida pelo cosmos, a msica das esferas). A msica ento era entendida como a expresso mais significativa da harmonia, que se expressava tambm nas famosas propores utilizadas na confeco dos templos e demais construes oficiais.

    Vitrvio (arquiteto e engenheiro romano sc. I a.C.) era defensor da associao das duas artes, em especial na fase de formao do arquiteto. Em seu tratado (mais especificamente no primeiro captulo do primeiro livro, sobre a educao do arquiteto), afirma que o arquiteto deveria entender a msica, conhec-la e compreend-la, objetivando a harmonia na obra.

    8. O arquiteto tambm deve conhecer a msica, e compreend-la de modo a dominar a teoria matemtica e cannica e, alm disso, ser capaz de afinar as em ballistae, as catapultae e os scorpiones, como se fossem instrumentos musicais, na escala certa. Tambm direita e esquerda de suas vigas esto os furos em suas estruturas atravs dos quais as cordas entranadas so esticadas por meio de roldanas e barras, sendo que tais cordas no podem ser fixadas e apertadas at que produzam a correta nota sonora, somente audvel aos ouvidos do habilidoso profissional; (...).

    9. Tambm nos teatros so utilizados vasos de bronze, que so colocados em nichos sob as cadeiras,

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    de acordo com a modulao de intervalos musicais, a partir de princpios matemticos. (...) rgos hidrulicos e outros instrumentos assemelhados tambm no podem ser construdos por aqueles que no sejam familiarizados com os princpios da msica.

    As analogias de Vitrvio seriam retomadas por Leonardo Da Vinci (cientista, matemtico, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botnico, poeta e msico italiano - 1452 a 1519) no homem vitruviano, que por sua vez viria a influenciar tambm o modulor de Le Corbusier (arquiteto, urbanista e pintor francs 1887 a 1965). Inmeras outras tentativas foram feitas de subordinar o equilbrio e a beleza, na msica e na arquitetura, matemtica. Podemos encontrar referncias a isso no conceito de concinitas de Alberti (arquiteto, urbanista, pintor, msico e escultor italiano - 1404 a 1472), segundo o qual existiria relao correta entre os principais componentes da obra arquitetnica: nmero, proporo, posio. Mais tarde, Palladio (arquiteto italiano 1508 a 1580) se utilizaria das propores musicais de Alberti (inspiradas nas harmonias, razes e sequncias de espaos proporcionais pitagricos) para construir suas villas.

    Tempos mais tarde, Franois Blondel (diplomata, militar, matemtico, engenheiro civil e arquiteto francs - 1618 a 1686) defenderia que os arquitetos deveriam utilizar em suas obras as mesmas propores que agradam aos ouvidos, como se a harmonia fosse perceptvel aos olhos. Nesse sentido, se esforou em traduzir arquitetura em msica

    se utilizando da matemtica e geometria como denominadores comuns. Afirmava inclusive que, assim como na msica, os intervalos arquitetnicos no deveriam ser muito grandes, pois gerariam dissonncias.

    Crticas a esse tipo de associao entre arquitetura e msica surgem com pensadores como David Hume (filsofo, historiador e ensasta francs 1711 a 1776), Lord Kames (advogado, filsofo e escritor escocs 1896 a 1782), Edmund Burke (filsofo, poltico e escritor anglo-irlands 1729 a 1797). Hume discorre a respeito dos estandartes do gosto, criticando o processo de racionalizao da produo artstica, defendendo a sensibilidade subjetiva a partir de esttica objetiva. Burke defendia a desvinculao da beleza ao clculo e s sequncias como a de Fibonati e s aplicaes da seco urea (amplamente difundidos como sinnimo de harmonia e perfeio). Kames afirma que muitas consonncias musicais no seriam realmente agradveis aos olhos, e que o ponto de vista do observador alteraria a percepo espacial, impossibilitando a aplicao direta das propores musicais no espao construdo. Rudolf Wittkomer (historiador de arte alemo 1901 a 1971) tambm critica as leis de proporo afirmando que estas teriam adquirido um carter subjetivo, de sensibilidade individual, se desvinculando assim da rigidez matemtica.

    A discusso no sculo XIX muda de foco e a matemtica e a geometria so reduzidas a seu sentido instrumental, como espcie de ferramenta lgica para manipular expresses de uma realidade acima de tudo racional e tcnica. De acordo com a teoria de Gilbert Durand (socilogo e antroplogo francs -

    Homem Vitruviano - Leonardo da Vinci

    Sequncia de Fibonacci na natureza

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    1921), segundo Prez-Gomez:

    O nmero e a geometria finalmente perderam suas conotaes simblicas. Da em diante, os sistemas proporcionais teriam o carter de instrumentos tcnicos, e a geometria aplicada ao projeto iria atuar meramente como veculo para assegurar sua eficincia. As formas geomtricas perdem suas reverberaes cosmolgicas; elas so desenraizadas do Lebenswelt e de seu tradicional horizonte simblico, e tornam-se por sua vez signos de valores tecnolgicos.

    A arte no sculo XIX classificada segundo sua capacidade de estimular os sentidos e causar prazer. Walter Bauer (telogo alemo 1877 a 1960) afirma que a msica passa a ser considerada narctico, indutor de humores e sentimentos que levam o sujeito ao mundo irreal, fantasioso. Paralelamente, as tcnicas musicais ocidentais para simulao de sentimentos atravs de mtrica, dinmica e sincronizao de diferentes parmetros (melodia, harmonia, frases, etc.) atingem seu auge com Mozart, Haydn e Beethoven.

    Surge o desafio de produzir msica a partir de novos elementos. Atravs de compositores como Gustav Mahler (maestro e compositor tcheco 1860 a 1911) e Richard Wagner (maestro, compositor, diretor de teatro e ensasta alemo 1813 a 1883), ela adquire papel de denncia social, demonstrando as asperezas e negatividades da vida, como a misria, a solido, a morte, etc. Essa reformulao acontece tambm na

    arquitetura, mas no no sentido da associao direta, mas dentro do contexto de pesquisa entre reas artsticas.

    O conceito de Gesamtkunstwerk (obra de arte total que uniria msica, teatro, canto, dana e artes plsticas) colocado por Wagner como integrao de mltiplas expresses artsticas distintas, que na Grcia antiga trabalhariam unidas e em algum momento teriam se separado. A relao entre os diversos elementos proporcionaria ao pblico total imerso no espetculo.

    A busca por forma de expresso que fosse capaz de configurar a sntese de todas as artes recorrente em diversos contextos, estando presente tambm no imaginrio da Arte Moderna, o termo (Gesamtkunstwerk) adquire nova definio no mbito do Expressionismo Alemo. Esta nova leitura, que se estenderia tambm para a primeira fase da Bauhauss, via na arquitetura, construda de maneira coletiva, possibilidade para sua realizao: reunir em uma unidade todas as formas de criao artstica, reunificar na nova arquitetura, como partes indivisveis, todas as disciplinas da prtica artstica (escultura, pintura, artes aplicadas e artesanato). Para grande parte dos artistas do perodo, a arquitetura e a cidade seriam as instncias onde esta sntese ocorreria.

    J as idias expressas por Piet Mondrian (pintor holands 1872 a 1944), ligadas produo neoplasticista, viam na cidade a etapa final de todo processo de dissoluo (e no de soma) da arte na vida, onde habitaria o ser humano total: a arquitetura, a escultura, a pintura e o artesanato artstico se convertero em arquitetura, isto , no Estudos de Franois Blondel

    Planta de uma Villa - Palladio

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    nosso meio ambiente.

    Arquitetos como Frank Loyd Wright (arquiteto, escritor e educador estadunidense 1867 a 1959) e Le Corbusier direcionam suas pesquisas no sentido do alto refinamento geomtrico, retomando por vezes conceitos de harmonia e traados reguladores que remetem s teorias de Palladio e Alberti.

    O serialismo no ps-guerra se expressa na responsabilidade do sujeito criativo, na integrao dos aspectos de matria-prima, afastamento dos ornamentos sem funo e concentrao na expresso pura. Markus Brandur (em aesthetics of total serialism: contemporary resarch from music to architecture, princenton architectural press, 2001) define serialismo como a criao de formas artificiais baseadas em relao especial entre individualidade e similaridade, de modo que se evite a repetio e se busque a completude e inovao terica e pratica, enfocando a mediao entre diferentes quantidades, qualidades, tipos e classes de elementos, o que possibilita a qualquer artista trabalhar em movimento espiral infinito (e no a estandartizao de caractersticas em srie, como se costuma pensar). O modulor de Le Corbusier, que celebra as virtudes e analogias musicais do corpo humano como gerador de razes, nmeros e formas nobres arranjados em sries de sequncia, surge como aplicao da teoria serial.

    Na msica, surge tambm o conceito de msica serial, que tem como gnese as pesquisas dodecafnicas de Arnold Schoenberg (compositor austraco 1874 a 1951), que apesar de se libertar das tradicionais estruturas tonais se prende a nova estrutura reguladora. Herbert Eimert (compositor

    alemo 1897 a 1974) e Karlheinz Stockhausen (compositor alemo 1928 a 2007) vm na msica serial designao de novo modo de composio que expande o controle racional para todos os elementos musicais. Claro paralelo com o modulor fica evidente nas palavras do prprio de Le Corbusier a respeito dessa sua criao: uma ferramenta, uma escala para se compor uma srie de construes e tambm para se alcanar grandes edifcios-sinfonias com a ajuda da unidade.. Na msica serial, os nmeros serviriam para encontrar combinaes e evitar repeties e monotonia. Assim, os princpios do serialismo extrapolam o campo musical, atingindo todas as manifestaes artsticas e abrindo espao, segundo Bandur, para teoria unificadora de todas as artes.

    Com os avanos tecnolgicos na aparelhagem de reproduo musical e imagtica, a relao entre mdias distintas muda completamente. Edgar Varse (compositor francs 1883 a 1965) em 1939, ao entrar em contato com as novas tcnicas que surgiam quela poca, j havia previsto que uma nova dinmica, muito alm do alcance das nossas atuais orquestras, e um sentido de projeo sonora no espao graas emisso de sons a partir de qualquer ponto ou muitos pontos no recinto surgiria. Nesse sentido, Marcos Novak (artista multimdia 1957) defende que msica e arquitetura seriam artes irms, ocupando finais opostos do espectro entre o imaterial e o material, e que atualmente, a partir da sua inter-relao, arquitetura se desvincularia da construo da mesma forma que a msica se desvincularia do som.

    Entre 1948 e 1959, Innis Xenkis (engenheiro, arquiteto, terico musical e compositor grego 1922 a 2001) trabalha no escritrio de

    Modulor - Le Corbusier

    Pavilho Phillips - Iannis Xenakis e Le Cor-busier

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    Le Corbusier, e fica encarregado de desenvolver o projeto de pavilho para a Philips na ocasio da feira mundial de Bruxelas em 1958. Xenkis extrapola o conceito de sntese audiovisual vigente em um dos mais significativos exemplos da colaborao entre msica eletrnica e arquitetura. As obras tocadas no interior do edifcio, Concret PH (Iannis Xenkis, 1958) e Pome lectronique (Edgar Varse, 1958), nas palavras de Le Corbusier, foram criadas com a preocupao de destacar a dimenso espacial do som quando executadas dentro do pavilho.

    O uso de alto-falantes posicionados em volta da audincia e o uso intensivo de efeitos em estreo nas gravaes serviu para demonstrar que um som relativamente insignificante pode assumir grande proporo quando experienciado em espao projetado tridimensionalmente para a sua execuo (concepo j utilizada anteriormente por construtores de templos e catedrais, por exemplo).

    Nessa obra, Xenaquis baseia-se em uma composio sua feita j nos moldes estocsticos (ou seja, tem sua estrutura calculada para produzir resultado, mas a maneira de alcan-lo uma tendncia) para criar rotas de som a partir de cuidadosos clculos matemticos. Ento o edifcio, que deveria ser mero receptculo para projees, transformado em poema eletrnico, em espetculo audiovisual no qual o som constri o espao ao movimentar-se ao redor do espectador, evento arquitetnico projetado no espao.

    No campo musical, John Cage (compositor, terico musical, escritor e artista estadunidense 1912 a 1992) se destaca por romper barreiras entre domnios

    artsticos ao pesquisar novos mecanismos criativos dos quais se destacam a improvisao surrealista e a fenomenologia minimalista. O compositor explora o rudo e o silncio como formas musicais, afirma no escutar suas composies, mas construi-las matematicamente ou atravs de performances colaborativas e programaes do acaso. Assim, sua chamada msica aleatria seria a explorao da liberdade de improvisao sobre orientao bsica e pr-estabelecia (que pode se aproximar de um manual de instrues pouco especfico). Em sua composio Mix Cage, John Cage de utiliza de notao geomtrica e grfica, no musical, para garantir a aleatoriedade e o indeterminismo da composio.

    Procedimento semelhante foi utilizado por Bernard Tschumi (educador, escritor e arquiteto suo 1944) em 1982 para o projeto do Parc de La Villete, onde se utiliza de regras inusitadas e empresta elementos conceituais, de composio e representao de outros campos. O plano do parque se baseia na sobreposio de trs tipos de elementos que parecem pertencer a dimenses distintas: pontos (dispostos em grelha, de modo a proporcionar inteligibilidade ao parque), retas (sistema de fluxos que se intercepta por percurso curvilneo cuidadosamente projetado), e superfcies (destinadas a atividades que exigem espaos maiores). Atravs de esquemas semelhantes montagem cinematogrfica, a arquitetura tira partido das colagens para materializar o movimento. Assim, como a msica Mix Cage, na estratgia compositiva do Parc de La Villete pode-se perceber a negao da tradio compositiva e o refinamento representativo que se sobrepe ao conceito.

    Anos depois, em 1992, Steven Holl (arquiteto Parc de la Villete - Bernard Tschumi

    Pavilho Phillips - rotas de som

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    estadunidense 1947) partiria da msica para criar arquitetura, atravs de procedimento completamente distinto dos complexos clculos acsticos de Xenkis e das colagens de Tschumi. o caso da Stretto house, inspirada na msica de Bla Bartk (msico e compositor hngaro 1881 a 1945) Msica para cordas, percusso e celesta. A composio em questo no foi escolhida ao acaso: j possua estrutura marcante e bem ritmada (a proporo urea segmenta temporalmente a obra, que tambm possui a sequncia de Fibonacci em sua estruturao), fato que viria a facilitar a transio entre os distintos domnios.

    Assim como o stretto muda a dinmica da msica e provoca inverses que criam vrias camadas de elementos heterogneos, trazendo contrastes marcados ao longo da composio, existe na edificao forte diviso entre tecido pesado e tecido leve (alvenaria e ao), entre ortogonalidade e sinuosidade (aposentos ortogonais e cobertura curvilnea). A estrutura musical se faz presente na proporo entre os volumes constituintes da casa, e tambm nas marcantes inverses da lgica compositiva.

    Em 2001, Daniel Libeskind (arquiteto polons 1946) mostra ao mundo a poesia congelada em seu Museu Judaico. Apesar de no aparecer de forma bvia, a msica esteve presente desde o incio do processo criativo atravs da pera de Schoenberg Moses and Aaron. A utilizao de cdigo serial transforma a msica em lgica construtiva, cria cdigo que norteia a composio, aproximando-se da combinatria matemtica. Nas palavras de Josep Maria Montaner (arquiteto espanhol - 1954) [Libeskind imagina] espaos matemticos, recriando

    universos geomtricos que explodem e flutuam, feitos de abstraes, colises e colagem.

    Apesar das vinculaes geomtricas entre msica e arquitetura continuarem sendo amplamente exploradas no contexto atual, e que essa pesquisa traga resultados completamente novos a cada dia, mudanas significativas no modo de criao arquitetnica surgem devido tecnologia e ao uso disseminado do computador. Da mesma forma que a msica eletrnica passa a encarar a retro-alimentao com o pblico como varivel da qual se pode tirar partido, tambm a arquitetura passa a ser encarada como obra que se completa somente com a relao com o homem. Msica eletrnica e arte digital se fundem e especializam, e o espao mais um dos elementos de composio da performance. H engajamento corporal dos participantes, envolvimento sensorial pressuposto.

    Jos dos Santos Cabral filho (arquiteto e pesquisador brasileiro) pontua em seu doutorado alguns deslocamentos conceituais potencialmente revolucionrios na prtica arquitetnica atual: o deslocamento do processo criativo do desenho do objeto para a programao do processo (com o advento da parametria), a mudana nas estratgias de representao, a vinculao do objeto construdo com plasticidade e comunicao em detrimento de durao e resistncia, e a mudana na identidade do habitante, que passa de usurio (fruto da funo) a sujeito arquitetnico (consoante com o local).

    evidente como tanto a arquitetura como a msica estariam estendendo os limites do conhecimento rumo a territrios no-explorados.

    Croquis para o Museu Judaico - Daniel Libe-skind

    Stretto House - Steven Holl

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    O artista (arquiteto/msico) teria passado, segundo Novak, de arteso a editor e, finalmente, a decodificador de processos de transformao de dados. Essa nova produo, que advm de processos criativos anteriormente planejados, teria como pressuposto a remanescncia de alguma informao referente ao material inicial. O produto, portanto, seria inerentemente impuro, e tambm contaminado por propriedades emergentes que no poderiam ser previstas. O mapeamento dos processos permitiria que coerncias especficas sobrevivessem transio de um domnio a outro.

    Outro ponto de vista que aparece recentemente na discusso musico-arquitetnica o da produo musical como decorrncia do contexto arquitetnico. Segundo David Byrne (msico, compositor e produtor musical escocs 1952), a trajetria arquitetnica dos espaos de exposio musical (teatros, praas, salas de concertos, ipods, etc.) foi determinante para evoluo da msica, e continua o sendo.

    O lugar se escuta msica no s afeta a percepo e apreciao desta, mas influi tambm na reao a esta. Da mesa forma, as mudanas e evolues tecnolgicas no s afetam a apreciao, mas a evoluo musical como um todo: um sistema que se retro-alimenta.

    Cavern Club - Liverpool

    Walt Disney Convert Hall

    Msica percursiva

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    ESTUDOS DE CASO

    De acordo com Robert K. Yin, o estudo de caso representa a investigao emprica e compreende mtodo abrangente, com a lgica do planejamento, da coleta e da anlise de dados. O objetivo retratar a realidade de forma completa e abrangente, revelando fatos que envolvem e determinam os diversos momentos da realidade estudada.

    Assim, foram selecionados edifcios ligados vivncia musical, que pudessem contribuir para a melhor compreenso da dinmica ligada a esse tipo de equipamentos. O foco dos programas escolhidos abrange ensino-aprendizagem (pblicos e privados), espaos livres de conhecida apropriao musical espontnea, espaos para apresentaes, musicotecas e centros culturais.

    As solues existentes foram analisadas tanto no sentido espacial como funcional. Gestores e usurios foram entrevistados, e os edifcios foram visitados e registrados. Sobre os resultados tirados dessa anlise edificou-se base terica para a concreta formulao do programa e partido arquitetnicos para a estrutura prevista.

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    EMESP - Instituto Tom Jobim

    Localizao: Rua General Osrio, 147 - So Paulo, 01213-010

    Tipo: Curso oferecido pela Secretaria da Cultura. Seria o equivalente a curso tcnico, mas como no tem relao com o MEC no pode s-lo.

    Financiador: Estado de So Paulo

    Mote: Oferecer oportunidade de formao profissional e ampliar oportunidades de aprendizado musical para a comunidade.

    N de estudantes: 1800

    Linhas musicais: Msica antiga, pera estdio, composio e prtica avanada, difuso (grupos jovens e orquestra de cmara)

    Apresentaes: Sempre que possvel, mas ocorrem com mais frequncia nos finais de semestre.

    Admisso: Provas de ingresso a cada ciclo (so quatro)

    Aulas prticas: Bateria, percusso, coral, prtica de conjunto, msica de cmara, piano popular, piano erudito, msica antiga, infantil, cordas, violo, eltricos, metais, madeiras, voz, sax.

    Aulas tericas: Teoria, histria da msica, composio.

    Material: Os estudantes podem alugar instrumentos e ganham material didtico

    Acesso: Trem, metr, nibus, carro.

    1-Fachada / 2- Sala de aula de teclas e per-cusso / 3- Corredor das salas de aula

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    O numero de vagas por instrumento pensado de acordo com a configurao de big bands e cmaras, pois a instituio acredita que a cooperao entre profissionais tambm deve ser aprendida, que o foco no deve ser somente a formao individual. Os meninos ento so incentivados a trabalhar em grupo e o aluno vai guiando sua formao ao longo do curso. So oferecidas aulas individuais com acompanhamento especfico aluno-a-aluno, formao em sonorizao, produo e luthieria (s em salas muito especficas), e a instituio forma professores tambm.

    A procura pelos instrumentos nos testes influencia o oferecimento de vagas nos cursos, e a instituio no pretende entrar no esquema do MEC pois isso engessaria o currculo e haveria muita burocracia e pouca agilidade. Acontecem tambm cursos preparatrios para pessoas que queiram tentar entrar, e cursos especiais, de durao mais curta, para a comunidade (mais ldicos, visando formao de pblico). So oferecidas bolsas para grupos jovens e h relao com projetos de iniciao musical como o Projeto Guri e com CEUs.

    O prdio onde o instituto se encontra bem antigo, foi reformado em 2009, e costumava ser hotel. O som no suficientemente isolado entre os ambientes e no h ar condicionado porque a fiao no aguentaria. O ideal seria sistema hbrido de condicionamento de ar, devido umidade. Possui inmeras salas de ensaio de diversos tamanhos, e estdio de gravao associado a auditrio no trreo, onde so feitas apresentaes e palestras. A localizao tem seus prs e contras: a proximidade com a sala So Paulo facilita na formao, e a abundante oferta de

    transporte pblico facilita o acesso. J a violncia problema, pois a insegurana dificulta aulas noturnas, ou que os alunos saiam muito tarde. Nas palavras do administrador entrevistado: o comrcio fecha e ficam os muros.

    A instituio acredita na convivncia com a msica, que o aluno fique na escola mesmo quando no esteja tendo aula, e tanto alunos quanto funcionrios sentem falta de locais mais informais para encontros. Infelizmente, no tendo onde ficar, o aluno sai da aula e vai embora. Atividade que ocorre s vezes o Caf filosfico, no qual organizado palco para palestras e shows, a fim de configurar ambiente interessante, fecundo.

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    4-Biblioteca / 5- Sala de aula de msica antiga / 6- Sala de aula de grupos

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  • ESPAO DE VIVNCIA MUSICAL24

    Escola Municipal de Msica

    Localizao: Rua Vergueiro, 961 - Liberdade, So Paulo, 01504-001

    Tipo: Curso oferecido pela Secretaria da Cultura. Seria o equivalente a curso tcnico, mas como no tem relao com o MEC no pode s-lo.

    Financiador: Municpio e So Paulo

    Mote: Formar msicos profissionais, com destaque para os instrumentos de orquestra.

    N de estudantes: 700

    Linhas musicais: Orquestra, msica antiga, msica de cmara.

    Apresentaes: Duas por ano (ao fim de cada semestre) e eventuais parcerias com outros corpos do municipal ou homenagens pblicas.

    Admisso: Por seleo interna, de acordo com o nmero de vagas existentes. Em mdia entram 1 em cada 20 que tentam.

    Aulas prticas: Instrumentos orquestrais: clarineta, contrabaixo sinfnico, fagote, flauta transversal, harpa, obo, percusso, piano, regncia, trombone, tuba, viola sinfnica, violino, violoncelo.

    Instrumentos no-orquestrais: canto, saxofone, cravo, flauta doce e violo.

    Aulas tericas: Teoria e solfejo, harmonia, contraponto, histria da msica, orquestra, coral, msica antiga, msica de cmara.

    Material: Os estudantes devem possuir seu prprio instrumento, com exceo para os instrumentos grandes (piano, cravo, harpa, contrabaixo, algumas percusses) - disponveis na escola e devem comprar o material didtico.

    Acesso: nibus e metr.

    1-Entrada do edifcio / 2- Corredor das salas de aula / 3- Recital de violino na escola

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    A instituio aceita entrada de alunos atravs de testes de habilidades, majoritariamente com adolescentes de 12 anos, e raramente h desistncias. No so oferecidas aulas para membros da comunidade. Segundo funcionrios, a burocracia atrapalha bastante, principalmente na hora de reparar instrumentos danificados, os professores por vezes fazem vaquinhas para tanto.

    Atualmente, a EMESP se encontra em local muito privilegiado em termos de localizao: em frente estao Vergueiro e ao Centro Cultural So Paulo (onde se encontra uma das poucas bibliotecas musicais em so Paulo a outra est no Tatuap). Infelizmente, as condies do edifcio no esto nem um pouco adequadas. Nenhuma sala possui revestimento acstico ou portas adequadas, o edifcio no tem acessibilidade universal ou salas para os alunos ensaiarem fora das aulas, j que estas j ocupam toda a capacidade fsica do edifcio. No h estdio de gravao e h to pouco espao que at a sala dos professores usada para ensaios. Futuramente, a escola ser deslocada para o centro da cidade, junto ao teatro municipal. Os professores e funcionrios no foram consultados para o projeto, e estranham que este novo no possui auditrio e no prev o aumento de vagas para alunos.

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    4/5/6 - Nova sede em construo

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  • ESPAO DE VIVNCIA MUSICAL26

    Escola Superior de Msica de Catalunya

    Localizao: Carrer de Padilla, 155, Edifcio del Auditrio, 08013, Barcelona, Spain

    Tipo: Escola de ensino superior.

    Financiador: Generalitat de Catalunya (estado)

    Mote: Misturar especialidade com polivalncia. Cada msico obrigado a estudar segundo instrumento. O aluno monta sua formao.

    N de estudantes: 600 na graduao, 25 intercambistas, 200 ps-graduandos

    Linhas musicais: Jazz e msica moderna, msica europia antiga, msica clssica e contempornea, msica tradicional.

    Apresentaes: Fins de semestre

    Admisso: Teste prtico, vagas limitadas (150 ao ano)

    Aulas prticas: harpa, clarinete, contrabaixo, fagote, flauta transversa, obo, percusso, trombone, trompa, trompete, tuba, viola violino, violoncelo, acordeom, canto, violo, rgo, piano, flauta, trombone, piano, clarinete, contrabaixo-jazz, bateria. rtmico, arranjos, coro gospel, percusso, saxofone, conjunto, trompete, jazz, fliscorne, violo flamenco, dulalina, tambor, tible, contrabaixo, canto, cmara, obo, trompa, baixo, violoncelo, clarinete, corneta, viola, percusso, harpa, flauta transversal, violino, cravo, ctara, pianoforte, trombeta.

    Aulas tericas: Acstica arquitetnica, lutheria de microfones, desenvolvimento de programas, produo, histria da msica, esttica da msica, formao corporal, teoria, composio, direo, musicologia, pedagogia, sonologia, promoo e gesto, improvisao, anlise musical, repertrio, flamenco, fanfarra, bando de menestris.

    Material: Os estudantes podem alugar instrumentos no parque de instrumentos, mas devem comprar seu material didtico.

    Acesso: nibus, bicing, tram (VLT) e metr.1-Entrada do edifcio / 2- Armrios para os alunos na entrada / 3- Biblioteca

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    O interessante da ESMUC o equilbrio que a instituio busca entre especializao e polivalncia. O aluno entra na instituio de ensino superior juntamente com outros alunos das mais distintas especialidades, e precisa cursar segundo instrumento ao longo de sua formao, algum instrumento o mais diferente possvel do que ele toca (ex. Piano clssico x guitarra de rock) o vasto parque de instrumentos tambm auxilia, fazendo com que seja relativamente fcil aos estudantes experimentar outros instrumentos, e que eles no precisem possuir instrumento prprio. Valorizam-se muito as associaes entre alunos e a formao de cmaras, e convnios com outras instituies tambm so incentivados.

    Os usurios entrevistados reclamaram das variaes de umidade trazidas pelo ar-condicionado, que estragam os instrumentos, do fato do prdio parecer hospital (esteticamente), de que o prdio s vezes cheira a comida, e de que as tubulaes de gua e esgoto esto juntas (ento h problemas quando chove muito). No h sala de atos e o fato das paredes serem paralelas no contribui para a boa acstica das salas, faltam espaos auxiliares para guardar coisas, e o cabeamento das salas analgico (enquanto a tecnologia digital).

    A existncia de inmeras cabines de tamanhos distintos possibilita que os alunos possam praticar em ambiente apropriado, tanto isoladamente quanto em grupos. Ainda assim, os alunos sentem falta de locais de encontro menos oficiais, visto que a nica praa da escola no pde ser liberada por incompatibilidades com a regulao de incndio. As salas esto ligadas por circulao ao redor de vazio, o que conecta os espaos atravs de fluxo initerrupto.

    O isolamento acstico funciona bem e interessante como dentro da formao musical tambm aparece a formao em tratamento digital, gravao de mdias, acstica arquitetnica, e manipulao de programas especficos. A biblioteca polimdia e as salas possuem p direito especfico para suas necessidades.

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    4-Museu de msica - exposies rotativas / 5- Copa / 6- Sala de aula de Piano

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  • ESPAO DE VIVNCIA MUSICAL28

    Instituto Baccarelli

    Localizao: Estrada das Lgrimas, 2317 - So Joo Calmaco, So Paulo, 04232-000

    Tipo: Organizao no-governamental

    Financiador: patrocinadores (Eletrobrs, Volkswagen, Instituto Votorantim e Petrobras) atravs da lei Rouanet

    Mote: Oferecer formao musical e artstica de excelncia proporcionando desenvolvimento pessoal e criando a oportunidade de profissionalizao, com foco em crianas e jovens em situao de vulnerabilidade social, formar no apenas artistas, mas, tambm, jovens capazes de seguir seus sonhos e mudar a realidade de suas famlias

    Linhas musicais: Todos os tipos de msica que possa ser reproduzida orquestralmente

    N de alunos: 1050

    Apresentaes: dependem do nvel em que o aluno se encontra, podendo variar entre uma por semestre, e vrias por ms (o estudante vai se profissionalizando e sendo remunerado dentro da prpria instituio)

    Admisso: Inscries ou teste

    Aulas prticas: Todos os instrumentos que compem a orquestra, coral

    Aulas tericas: Ingls, educao sexual, postura corporal, teoria musical

    Material: Os alunos alugam instrumentos e partituras na escola, mas com o tempo ganham condio de comprar seus prprios materiais

    Acesso: nibus

    1-Entrada do edifcio / 2- Sala de aula terica / 3- Instrumentos para aluguel dos alunos

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    Todos os alunos comeam sua musicalizao pelo coral, a voz considerada o primeiro instrumento por natureza, capaz de prover aos alunos noes de afinao (mesmo para quem no afinado), teoria musical, postura, etc. Depois de musicalizadas e sensibilizadas no coral, o estudo do instrumento comea. As crianas escolhem o instrumento e vo para a orquestra do amanh, onde h um encaminhamento segundo o perfil de cada uma. O foco do trabalho do instituto so as crianas e adolescentes: a base da sociedade. Segundo funcionrios, nota-se um amadurecimento na comunidade ao musicalizar as crianas. Da o foco dessa orquestra ser o estudo. A inteno levar o coral para EMEIS, trabalhar em rede com outras instituies.

    A difuso tambm considerada importante para trazer as pessoas para a periferia, mudar a perspectiva de que esta tem que ir para o centro para acessar a cultura, mudar os paradigmas vigentes. O material humano faz a diferena, e por isso nesta instituio se faz questo dos melhores e eles so bem remunerados.

    Dentre as dependncias do instituto encontra-se a biblioteca de partituras e local para aluguel de instrumentos. Infelizmente no h espao para a convivncia, que acaba acontecendo na entrada da escola. A circulao acontece via escada de incndio. Para melhor desempenho acstico das salas, as paredes no so paralelas, o que se reflete na fachada. De acordo com funcionrios, a simplicidade do edifcio mrito, possibilita a insero na comunidade. Atividades como pintura dos andares so incentivadas para promover a aproximao com os pais.

    Conforme o aluno vai se aproximando das orquestras e ganhando dinheiro, ele melhora sua condio econmica e se torna capaz de comprar seu prprio instrumento. Os alunos tambm tm aulas de ingls e educao sexual. Se trabalha muito na questo da responsabilidade das crianas com o espao e os instrumentos, pois o objetivo , mais que msicos, formar cidados: trabalhar a auto-estima, ensinar a cuidar do espao, a trabalhar em grupo, em aluso orquestra e ao coral com a sociedade, onde cada um parte importante do todo, mesmo que exera funes diferentes. Objetivo oferecer caminho que s dependa da dedicao, e formar bons msicos que saibam trabalhar em grupo.

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    4-Sala de ensaio para coral / 5- Hall de en-trada / 6- Sala de ensaio para orquestra

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  • ESPAO DE VIVNCIA MUSICAL30

    Escola de Msica e Tecnologia (Unidade Jabaquara)

    Localizao: Avenida Engenheiro George Corbusier, 100 - So Paulo, 04345-000

    Tipo: Escola de msica.

    Financiador: Alunos e patrocinadores.

    Mote: Formar bons profissionais para atuarem em bandas ou ensinando msica.

    N de estudantes: 1200

    Linhas musicais: Pop-rock, MPB, experimentao.

    Apresentaes: Semestrais.

    Admisso: Qualquer pagante pode entrar, s h seleo para bolsistas.

    Aulas prticas: Bateria, guitarra, violo, baixo, canto, teclado, gaita, estdio, e hammond.

    Aulas tericas: Sonorizao, luthieria (afinao), linguagem estrutural musical, gravao.

    Material: Todas as salas so equipadas com muitos instrumentos e os corredores possuem outros ainda para estudo individual. Alm disso, cada andar tem um depsito e semestralmente a escola recebe doaes dos inmeros patrocinadores.

    Acesso: nibus e metr.

    1-Entrada do edifcio / 2- Espera / 3-Salas de manipulao digital de gravaes

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    O aluno pode ingressar na escola atravs de trs diferentes planos: pessoal (o aluno se adapta ao professor), particular (o professor se adapta ao aluno), e regular (o aluno se forma como professor). Cada aluno faz uma aula oficial por semana, mas pode ficar o dia todo no centro. Existem muitos postos de estudo ao longo dos corredores, geralmente com fones de ouvido. At cinquenta pessoas todo dia vem ao lugar para estudar fora do horrio de aula.

    As aulas de conjunto acontecem com trs tipos de perfil: MPB, instrumental e pop rock (no h aulas de msica erudita). A escola possui luthier prprio e oferece um curso de luthier, que se foca na manuteno, limpeza e regulao do instrumento. Cada sala tem um patrocinador, que inclusive doa instrumentos para a escola. Assim, h muitos instrumentos por sala, e na sala de aluguel de instrumentos tambm. Dentre os instrumentos, a bateria a mais difcil de isolar, mas mesmo assim os vizinhos no ouvem. Grande parte dos alunos so adolescentes e jovens, os adultos geralmente tentam aprender canto e bateria.

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    4-Sala de aula de bateria / 5- Postos de es-tudo individual / 6- Lanchonete

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  • ESPAO DE VIVNCIA MUSICAL32

    Escola e Faculdade de Msica Souza Lima

    Localizao: Rua Jos Maria Lisboa, 745 - Jardim Paulista, So Paulo, 01423-001

    Tipo: Escola e faculdade de msica.

    Financiador: Alunos

    Mote: Proporcionar servios na rea musical, superando as expectativas dos alunos, alicerados na competncia, tecnologia, humanizao e valorizao do ensino de msica.

    N de estudantes: Perguntar da escola, do curso tcnico e da faculdade

    Linhas musicais: conforme o interesse do aluno

    Apresentaes: Ao menos uma por semana, h muitos workshop e apresentaes de professores e artistas convidados

    Admisso: inscrio (dependendo da disponibilidade de vagas - por ordem de chegada)

    Aulas prticas: Bateria, canto, saxofone, gaita, percusso, guitarra, violo popular, violo erudito, violino, conta baixo, baixo acstico, baixo eltrico, teclado, rgo, piano popular, piano erudito, prtica de banda, udio (para tcnicos de som: gravaes, masterizaes, mixagens, etc.)

    Aulas tericas: Teoria, percepo, musicalizao

    Material: Os estudantes podem utilizar os instrumentos da escola ou alug-los para estudo (dentro do edifcio).

    Acesso: nibus (corredor 9 de julho) e carro

    1-Auditrio/ 2- Sala de aula polivalente/ 3-Es-pera das salas de aula

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    A escola muito bem equipada, possui inclusive um estdio de gravao e sala de edio de som. Assim, os alunos aprendem udio, masterizao, e demais tcnicas da gravao. Os alunos podem alugar salas para ensaios, e cada estdio equipado com vrios instrumentos. H armrios somente para funcionrios e professores. A escola possui tambm sala especfica para musicalizao de crianas. Devido grande procura de alunos e consequente falta de espao, o ncleo de percusso foi transladado para o outro lado da rua, fato que tambm auxilia no isolamento sonoro. Curiosamente, a maior parte das aulas acontece noite.

    Todos os instrumentos e equipamentos so carregados de cima para baixo via escada por somente dois funcionrios, e no h elevadores. Ao longo de todo o edifcio h vitrines com instrumentos folclricos e registros de festas populares, configurando uma espcie de museu. Todas as salas so equipadas com espelho e piano. H um auditrio no trreo e um pequeno ptio interno que funciona por vezes como foyer.

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    4-Sala de aula terica / 5- Postos de estudo individual / 6- Sala de musicalizao infantil

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  • ESPAO DE VIVNCIA MUSICAL34

    Auditrio do Ibirapuera

    Localizao: Avenida Pedro lvares Cabral, 0 - Parque do Ibirapuera - Porto 3 - Ibirapuera - So Paulo - SP - 04094-050

    Tipo: Auditrio e curso de iniciao musical e aperfeioamento

    Financiador: Ita cultural

    Mote: Formar msicos aptos a integrar uma orquestra sinfnica e promover espetculos a preos acessveis

    Linhas musicais: Msica popular brasileira e razes musicais diversas

    N de alunos: 150

    Apresentaes da escola: Trs por ms em ncleos separados diversos, duas por ano com a orquestra completa

    Apresentaes no auditrio: sextas sbados e domingos

    Admisso: Teste e inscrio (orquestras e iniciao musical, respectivamente)

    Seleo de grupos: Os grupos so selecionados por um grupo interno do auditrio

    Aulas prticas: master class (todos juntos), aulas individuais do instrumentos, ensaios dos ncleos da orquestra

    Aulas tericas: histria, tablatura, gneros (razes musicais)

    Material: O auditrio fornece todo o material necessrio e refeies ao alunos

    Caractersticas Espaciais: grande gramado em frente abertura do palco externo, foyer para 800 pessoas, platia coberta para 806 pessoas, aparelhagem reproduo sonora mvel para espetculos externos e projees na empena (cinema ao luar)

    Acesso - alunos): nibus de linha, van e nibus do auditrio

    Acesso - pblico: nibus1-Platia do auditrio/ 2- Sala de ensaio de grupos/ 3- Orquestra Brasileira do Auditrio

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    Alm da conhecida agenda de apresentaes (muito bem selecionadas por sinal), o auditrio possui uma escola de msica, a orquestra (OBA Orquestra Brasileira do Auditrio) e agora produz tambm uma publicao que distribuda em escolas da rede pblica. No possui muitas linhas musicais, as apresentaes so geralmente de msica erudita e/ou MPB. Misturar as duas vertentes inclusive uma tendncia nas apresentaes da orquestra. Para ingressar na escola, os alunos so avaliados pelos professores e precisam ter domnio de um instrumento. Os alunos geralmente so oriundos de outros projetos como a orquestra de Helipolis, o projeto guri, etc. O auditrio tambm possui uma programao de Cinema ao luar (assim como o Parc de La Villete). Nessas ocasies, auto-falantes so distribudos pelo gramado. Os instrumentos utilizados pelos alunos so fruto de doaes de fabricantes em troca de publicidade (nos folders).

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    4-Palco do auditrio / 5- Estar do setor de ensino/ 6- Fachada posterior

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  • ESPAO DE VIVNCIA MUSICAL36

    Parc de La Ciutadella

    Localizao: Passeig de Llus Companys, 2, Barcelona, 933 09 95 57

    Tipo: Parque pblico onde ocorre uma srie de concertos gratuitos ao ar livre

    Financiador: Ajuntament de Barcelona (equivalente ao municpio) e patrocinadores (Free DAMM , Aiges Veri, Conservatori del Liceu e curso de piano Mara Canals)

    Mote: Levar msica de qualidade para a populao durante o vero

    Linhas musicais: Msica Clssica, Jazz e Big Band

    Apresentaes: Uma vez por semana durante o vero (junho, julho e agosto). Os concertos de big band acontecem antes dos de msica clssica e jazz (20h 2 22h respectivamente)

    Seleo de grupos: Os grupos so selecionados por um jri integrado por representantes da secretaria do meio-ambiente, da escola de piano Mara Canals e do conservatrio do Liceu catalo que julgam nvel e qualidade musical.

    Caractersticas Espaciais: Larga alameda central com srie de morrotes, amplos gramados bem cuidados, coreto.

    Acesso: nibus, trem, VLT e metr

    1-Entrada do parque na ocasio do festival/ 2/3 - Gramados no eixo principal

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    O grande trunfo desse parque consiste na apropriao musical espontnea existente a. A qualquer hora do dia pode-se encontrar um grande nmero de grupos reunidos ao redor de instrumentos ou aparelhos musicais. Durante os meses de vero, o parque vira palco de inmeras atraes culturais, dentre elas a msica als parcs, um circuito de apresentaes musicais itinerantes que roda os parques e jardins da cidade

    Os concertos so organizados pela a Prefeitura de Barcelona e o programa mistura msica clssica e jazz. Juntando assim tanto o pblico que procura esse tipo de atraes quanto os frequentadores usuais do parque, que porventura possam se interessar.

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    4/5/6 - Gramados em setores mais internos do parque

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  • ESPAO DE VIVNCIA MUSICAL38

    Centre Cvic Convent de Sant Agust

    Localizao: Carrer del Comer, 36, Barcelona, 08003

    Tipo: Centro cvico

    Financiador: Ajuntament de Barcelona (equivalente ao municpio)

    Mote: Oferecer a possibilidade de apresentar-se a grupos sem nome. O foco msica eletrnica, Techno, hip-hop.

    Apresentaes: 8 por ms: todas as sextas e sbados

    Ingresso: Os grupos enviam seu material e uma pessoa responsvel pela seleo e agendamento.

    Aulas : Workshops com durao de um ms: produo musical, stop motion, after effects, paisagem sonora, masterizao, etc. Variam semestralmente segundo as necessidades da comunidade.

    Material: O centro oferece toda a aparelhagem de amplificao e mixagem, equipamentos para projeo, computadores com softwares instalados e salas, na ocasio dos workshops e apresentaes.

    Acesso: nibus e bicing.

    1-Ptio interno durante evento/ 2/3 - Salas de aula

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    A dinmica dos centros cvicos de Barcelona segue os interesses das associaes de moradores, visto que cada bairro possui um. Assim, so oferecidos cursos e organizadas apresentaes culturais de acordo com as necessidades da comunidade, embora muitas vezes os centros possam assumir alguma tendncia ou linha de ao. O centro cvico visitado tem uma inclinao musical (por isso a escolha como estudo de caso), ento tornou-se um local onde pequenas bandas ou msicos independentes podem ensaiar, expor seu trabalho e inclusive fazer cursos complementares que os propiciem gerir sua carreira e divulgar seu trabalho de maneira independente.

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    4/5- Ptio interno /6 - Estdio para gravaes e ensaios

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  • ESPAO DE VIVNCIA MUSICAL40

    Discoteca Oneyda Alvarenga

    Localizao: Rua Vergueiro, 1000 - Liberdade, So Paulo, 01504-000

    Tipo: Musicoteca

    Financiador: Prefeitura de So Paulo

    Mote: Organizar e disponibilizar acervo musical para consulta e audio.

    N de frequentadores: 80 pessoas por dia (em mdia)

    Tipo de acervo: livros, partituras, revistas, recortes, vdeos, vinis, CDs, CDCs, registros digitalizados.

    Acesso: nibus e metr.

    1-Entrada da musicoteca / 2- bancada de pedidos do acervo sonoro/ 3- Paradas sonoras

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    A discoteca foi idealizada em 1935, por Mrio de Andrade (quando estava frente do Depto de Cultura da cidade de So Paulo) e transferida para o Centro Cultural So Paulo em 1982. O acervo possui registros sonoros de folclore musical brasileiro, de msica erudita , alocues de homens ilustres e gravaes para estudos de fontica, museu etnogrfico folclrico, arquivo de documentos musicais folclricos registrados por meios no mecnicos, filmoteca, colees de discos, e biblioteca musical de partituras e livros tcnicos.

    Considerado um dos mais importantes acervos especializados em msica do mundo, possui, entre outras, colees de obras completas de Johann Sebastian Bach, obras de Cludio Monteverdi, e vrias marchinhas de carnaval. A coleo possui 75.000 discos, 2500 CDs, 62 mil partituras, 10 mil livros de msica, 400 ttulos de revistas, e hemeroteca musical (recortes de jornal) com 1700 assuntos.

    Entre as preciosidades do acervo encontra-se o arquivo da palavra, que um registro de vozes de personalidades e gravaes de pronncias regionais do Brasil (para estudos da fonticos). Encontra-se tambm nesse acervo os filmes produzidos pelo casal Dina e Claude Lvi-Strauss em suas expedies ao Mato Grosso, e registros trazidos da Misso de Pesquisas Folclricas de 1938, chefiada por Lus Saia, que percorreu o Norte e o Nordeste do Brasil para registrar suas manifestaes culturais e folclricas, em especial de dana e msica.

    A consulta de livros aberta, a fim de estimular o interesse por outros livros dispostos nas prateleiras. A consulta s partituras, discos e CDs

    fechada (somente funcionrios tm acesso), pois os exemplares so mais delicados. Apenas uma parte do acervo da Discoteca est digitalizada, e est disponvel para audio no site da Web Rdio CCSP.

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    4- Acervo impresso e postos de consulta/ 5- acervo restrito / 6- Administrao

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  • ESPAO DE VIVNCIA MUSICAL42

    Biblioteca Temtica de Msica Cassiano Ricardo

    Localizao: Avenida Celso Garcia, 4200 - Tatuap, So Paulo, 03064-000

    Tipo: Musicoteca

    Financiador: Prefeitura de So Paulo

    Mote: Organizar e disponibilizar acervo musical para consulta e audio.

    N de frequentadores: 20 pessoas por dia (em mdia)

    Tipo de acervo: livros, partituras, revistas, vdeos, vinis, CDs.

    Acesso: nibus

    1-Entrada do edifcio/ 2- Hall/ 3- Mesas de estudo e acervo impresso

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    Localizada no segundo andar de uma biblioteca pblica e sem muita divulgao a respeito da sua existncia, pouca gente frequenta essa biblioteca temtica. Apesar de promover saraus e cursos para a populao ( e do espao para essas atividades ser inclusive maior que o espao destinado a todo o acervo), a biblioteca temtica sofre com o esvaziamento de suas atividades e chega a ficar trancada ao longo de grande parte do dia.

    O ambiente chegou a ser reformado, mas aspectos bsicos como tempo de reverberao em ambientes destinados a apresentaes foram ignorados. curioso tambm que os pontos de consulta de acervo sonoro (a poucos metros das mesas de estudo) sejam equipados com grandes auto-falantes, que nunca sero utilizados pois obrigatrio o uso de fones de ouvido.

    Segundo funcionrios, a biblioteca temtica praticamente s visitada por estudantes de msica, que inclusive precisam pedir que o espao seja aberto para poder entrar.

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    4- Consulta de acervo audiovisual/ 5- Mesas de estudo e consulta de acervo sonoro/ 6-Hall

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  • ESPAO DE VIVNCIA MUSICAL44

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    Parecer final

    Cada centro educacional possui sua filosofia de trabalho. Alguns se focam na formao de crianas, outros na profissionalizao alunos previamente instrudos, e h ainda aqueles onde profissionais podem buscar especializao. interessante observar as estratgias associadas a cada filosofia, e como essa inteno se relaciona com o espao atravs das mais variadas solues arquitetnicas.

    Pde-se perceber que por vezes os edifcios de ensino-aprendizagem musical se fecham muito em si mesmos. Talvez seja uma decorrncia do isolamento necessrio para os locais de ensaio e aulas prticas (aplicado a todo o conjunto), mas perceptvel a existncia de um limite bem claro, mesmo nos edifcios pblicos. A observao dessa caracterstica comum se apresenta como quase antagnica ao poder emptico inerente msica.

    Analisando os espaos comuns, constatou-se que eles na maior parte das vezes no so suficientes ou adequados para que sejam possveis atividades como o cio criativo e a troca de experincias entre os estudantes. Em decorrncia disso, a dinmica da escola empobrecida, uma vez que os alunos chegam, estudam e vo embora. Sob o ponto de vista pedaggico, atravs de entrevistas, se pde constatar que atividades coletivas associadas a apresentaes proporcionam um tipo de interao que bastante produtiva para a evoluo musical dos alunos.

    As atividades complementares ao programa

    original dos locais tambm tm muita influncia no seu funcionamento, aparecem como um indicador da componente humana por trs deles: o real carisma desses lugares visitados est na interao entre a inteno projetada e a inteno dos usurios, que resulta em um terceiro carter, muito mais complexo e interessante. claro que alguns projetos so mais propcios a isso que outros, mas seria uma questo de apostar nas estratgias certas ou acaso?

    O que se pode saber de fato aps essa etapa que, em termos de escolha de terreno (prxima etapa no planejamento deste trabalho) alguns aspectos fsicos so condicionantes para certos tipos de interaes musico-arquitetnicas que puderam ser observadas. Assim, o desenvolvimento do presente projeto ter que se dar em um local no qual todas as atividades que se pretende colocar no programa fossem, a princpio, possveis.

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    ACSTICA ARQUITETNICA

    Dentro da proposta de projetar espaos arquitetnicos para diferentes tipos de apropriao musical, estudar o comportamento desta no espao e as estratgias de trabalho existentes algo imprescindvel. Por mais que o presente trabalho no pretenda se ater a clculos acsticos complexos, o estudo da acstica arquitetnica algo indispensvel quando se pretende projetar objetivando um bom desempenho acstico dos espaos.

    Segundo o CONAMA, em se tratando de gesto acstica de ambientes, trabalha-se com os conceitos de som e rudo. Para ambos, o zoneamento estabelece diferenas entre os nveis sonoros aceitveis. Rudo considerado poluio sonora, e pode ter duas naturezas: rudo intermitente (que no de impacto) ou rudo de impacto (apresenta picos de energia acstica). J o som pode ser definido de duas maneiras: vibrao / perturbao fsica (percorre um meio fsico elstico para propagar-se), e sensao sonora / pisico-fisiolgica (captada pelo ouvido), sendo que segunda acepo mais interessante para a arquitetura.

    O som constitudo de vrios tons, que por sua vez so vibraes em um meio elstico qualquer, considerado em funo do tempo. Segundo Prides Silva, trabalha-se com quatro tipos de sons: barulho (qualquer som indesejvel), rudo (mistura de tons cujas frequncias diferem entre si por um valor inferior discriminao do ouvido), msica (ordenao de sons harmnicos simples - em geral mais potentes que a voz humana), e palavra falada (sons ordenados e desordenados / sequncia de vogais -maior potncia-

    e consoantes -menor potncia- combinadas).

    A propagao sonora se d atravs de movimento oscilatrio que causa zonas de compresso (aumento de densidade e temperatura) e descompresso (diminuio de densidade e temperatura) e assim transmite sua influncia s molculas vizinhas. A amplitude sonora definida por quanto cada molcula se afasta do centro, e a frequncia pelo n de oscilaes em 1s (em Hertz ou cps). Os sons audveis variam entre 16 e 20000 cps (ciclos por segundo). Chamam-se popularmente graves as baixas frequncias, agudas as altas.

    A intensidade sonora medida em W/cm e classificada em nveis, e a medio do nvel de som feita em escala logartmica (representada somente pelos expoentes para simplificar), ou seja, um aumento de 10 vezes na presso sonora corresponde um aumento de 20 dB.

    Tempo de reverberao o tempo necessrio para que a densidade mdia da energia contida num volume dado caia 60 dB do seu valor inicial, a partir do instante que a fonte de excitao extinta, e proporcional rigidez e polidez das superfcies do ambiente. Para palavra falada quanto menor o tempo de reverberao melhor o desempenho acstico (para que no se perca a inteligibilidade), j a msica admite tempos de reverberao maiores. O tempo de reverberao timo varia de acordo com o volume do recinto e o tipo de performance musical que ocorrer ali.

    Em um espao aberto, a multidirecionabilidade do som proporcional

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    ao tamanho do comprimento de onda: altas frequncias propagam-se em poucas direes e baixas em vrias, da performances percursivas desempenharem-se melhor ao ar livre com audincia ao redor que performances de instrumentos que produzam majoritariamente altas frequncias .

    A propagao do som em recintos fechados se d principalmente atravs das paredes (que vibram como diafragmas reirradiando a energia incidente), seguida da reflexo do som (que se d de forma semelhante da luz). Via de regra, sons gerados no ar so transmitidos por meio elstico, enquanto sons de impacto tem sua transmisso por meio fsico.

    A Transmisso de som de um ambiente ao outro pode se dar por 3 formas:

    -por passagem direta, via parede, barreira ou painel

    -por passagem indireta, via flanqueamento e estruturas vizinhas: pilares, lajes e/ou paredes confluentes

    -por fenestraes: janelas, aberturas, portas, dutos de ar, tubos de gua, eletrodutos, entreforros, entrepisos, etc

    O tratamento acstico ento deve ser especfico para a situao com a qual se trabalha, e existem inmeros tipos de estratgias que podem ser empregadas.

    O isolamento atenuador (piso flutuante, para lugares onde haja sons emergentes de impacto,

    paredes/lajes duplas, etc) uma estratgia que faculta a diminuio do nvel de rudo no interior de um ambiente. A configurao de um zig-zag com os montantes diminui a continuidade estrutural transmissora de energia sonora, e o preenchimento dos vazios aumenta o grau de amortecimento do sistema (geralmente feito com l de vidro ou l de rocha).

    O tratamento absorvente se faz com base na lei da massa (quanto mais pesada for a parede, mais isolar, cada vez que dobrarmos seu peso, aumentaremos de 4 a 5 dB a sua capacidade atenuadora sonora) ou do efeito sanduche (painis afastados, que podem inclusive ser leves). Na ocasio do efeito sanduche, quanto maior for a distncia, melhor ser o isolamento para baixas frequncias, e painis de espessuras diferentes evitam o efeito de ressonncia e de coincidncia (pois estes dependem de propriedades fsicas e de flambagem).

    A aplicao de materiais acsticos absorventes visa a absoro de energia sonora: reduo de nvel de rudo e -controle de mltiplas reflexes. Todo material possui certo grau de reflexo e de absoro, e os chamados materiais acsticos so aqueles mais absorventes que refletores. O coeficiente de absoro varia de acordo com a frequncia, e medido em sabines (comparao com uma janela aberta de mesma rea). A aplicao dos materiais para fins acsticos deve levar em conta que se eles so leves e porosos haver mais absoro que isolamento, e se forem densos, compactos e rgidos haver mais isolamento que absoro.

    Algumas estratgias de controle sonoro

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    so usados h milnios. O ressoador de Helmholtz trabalha fazendo com que o ar em seu interior entre em vibrao para uma certa frequncia de ressonncia, podendo dissipar a energia sonora transformando-a em energia mecnica, sob a forma de atrito (funcionando assim como absorvedor de som). Os painis vibrantes dispersam a energia sonora, e so utilizados apenas para baixas frequncias (at 1000 cps), para atingir um n maior de frequncias, utiliza-se o painel inclinado, j que dessa maneira a espessura da camada de ar no interior varia.

    Sabe-se quando a distncia entre duas paredes for igual a meio comprimento de onda ou seus mltiplos, o ar intermedirio entrar em ressonncia. A ressonncia acontece quando um corpo entra em vibrao por influncia de outro corpo vibrante (por influncia apenas de meio elstico), e tal vibrao pode produzir rudo ou propagar este melhor. Esse efeito de ressonncia provoca picos de intensidade em certas frequncias. Portanto, deve-se evitar superfcies rgidas, polidas e paralelas, pois conduzem ao fenmeno da canalizao de reflexes mltiplas, chamadas efeito flauta ou ecos palpitantes.

    A determinao da estratgia acstica de uma sala varia de acordo com a finalidade da sala. Portanto, deve-se fixar, previamente, seu nvel mdio de rudo admissvel e tomar precaues para que os ecos e ressonncias indesejveis sejam eliminados, e o tempo de reverberao seja adequado. Qualquer anteparo rgido e liso a mais de 11m da fonte sonora reflete as ondas que nele incidem, reforando a frente de onda primria existente. A partir de 11m, comea o que chamamos de ECO (pois o ouvido comea a poder distinguir 2 sons separados), que atinge seu

    auge nos 17m e seus mltiplos. Superfcies cncavas concentram ou focalizam energia, causando ecos mltiplos, reas surdas e reas de amplificao sonora, efeitos prejudiciais para o bom desempenho de grande parte dos ambientes dedicados msica.

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    ESTUDOS ESPECFICOS

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    ESFERAS DE APROXIMAO

    Aps a anlise dos resultados tirados das etapas tericas, chegou-se concluso de que o ideal seria que o espao a ser projetado possa unir formao, performance e degustao musical: um espao para a vivncia musical em suas distintas formas e para distintos perfis de usurios possveis. Muitos dos lugares visitados nos estudos de caso manifestavam uma parte desse todo proposto.

    O primeiro esboo de programa formado atravs de uma tentativa de imaginar um sistema que possibilitasse ao indivduo se retro-alimentar do mundo da msica, criando assim uma espcie de ciclo virtuoso. O projeto seria esse ambiente (edifcio e arredores) onde as pessoas possam entrar em contrrio com a msica da forma que melhor se adequar a elas, ser atingidas pela msica de diversas formas, fazer essa ponte do subjetivo para o concreto, onde o usurio possa se aproximar do edifcio e ser envolvido pela atmosfera ali existente.

    Na busca por fundamentar pontos cruciais atravs dos quais essa dinmica seria possvel, surge a proposta de que o ponto central do complexo seja a formao do msico, com espaos no qual este possa expressar-se musicalmente, e onde seja possvel tambm encontrar respostas e aprofundar a sua formao, atravs da ensino-aprendizagem mas tambm de experimentaes em grupo. Tirar partido da atmosfera frutfera e borbulhante que envolve a ensino-aprendizagem musical e fazendo-a transpor as barreiras do edifcio.

    A exposio do usurio msica ocorreria tanto atravs da troca de experincias e convivncia entre os estudantes como nas improvisaes musicais e palestras que aconteceriam no complexo, abertas a usurios externos tambm. Nestas ocasies, o vnculo existente com o equipamento no precisaria ser to oficial, e estudantes e leigos poderiam estar em contato.

    A segunda esfera de aproximao musical seria a ocasio da performance, onde o pblico se encontra com o artista. O vnculo nessa ocasio se apresenta de maneira menos formal que na ensino-aprendizagem: acontece em ocasies pontuais, no necessariamente dentro de uma programao constante na rotina do usurio. A possibilidade de expresso musical de distintas formas seria um pr-requisito, essencial para a explorao do potencial que esse tipo de ambiente traz consigo.

    Por fim, surge a idia da esfera de degustao musical, de possibilitar um contato mais sutil do usurio com a msica. Seriam ocasies difceis de programar, porque dependem da apropriao espontnea: inteno que as pessoas possam ser envolvidas pela msica, que elas entrem nesse ambiente musical poderoso e se permitam parar para sentir. Que ao mesmo tempo tenham ali possibilidade de buscar mais disso que as tocou, seja no sentido de poder estudar, de poder aprender com outros, de poder escutar mais, etc.

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    Estaes da CPTMEstaes de metrLojas de instrumentos

    Escolas de msica

    Zonas bomias

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    MAPA DA MSICA

    Para que a infra-estrutura proposta pudesse fazer sentido em uma realidade concreta, a escolha de um local para implantao do projeto no poderia ser aleatria: era necessrio entender como a msica estava espacializada na cidade e formular uma estratgia de interveno coesa com a realidade desta. Foram ento escolhidas estruturas que poderiam funcionar como indicadores das condies de oferta e demanda, e espacializar questes importantes para a sobrevivncia e bom desempenho da estrutura proposta, caracterizando a situao com a qual se pretende trabalhar. Os escolhidos foram as escolas de msica (tanto pblicas quanto privadas), as zonas bomias, e s lojas de instrumentos. O levantamento foi feito com o auxlio do Google, j que os dados fornecidos pela prefeitura colocam todas as estruturas culturais juntas, impossibilitando a formulao uma anlise confivel baseada nesses dados somente.

    Percebeu-se que a oferta de estruturas pblicas destinadas msica imensamente menor que a demanda em So Paulo, constatada pela quantidade de lojas de instrumentos e escolas particulares na cidade, relacionada constante lotao dos cursos pblicos (visitados nos estudos de caso). As escolas pblicas esto operando no limite de sua capacidade e as privadas tentam crescer na mesma proporo da quantidade de alunos, operando por vezes com instalaes improvisadas. Os centros de formao pblicos, assim como as salas de apresentao esto quase todos concentrados no centro da cidade; e no caso das escolas privadas, especialmente nos bairros mais ricos, . As zonas bomias e as lojas de

    instrumentos existentes na cidade se distribuem de maneira menos centralizada, mas ainda assim pode-se notar uma concentrao nas reas centrais e que a distribuio tende a acompanhar os eixos de transporte (como era de se esperar devido relao com o comrcio).

    Relaes de oferta e afinidade no seriam suficientes para a escolha do local de interveno, j que o ideal seria que a cidade toda pudesse gozar de um equipamento de qualidade e que a facilidade de acesso aos espaos uma questo primordial em se tratando de um equipamento pblico na cidade de So Paulo. A priorizao da proximidade com trens e metrs aconteceu pelo fato desse tipo de estrutura se mostrar mais eficiente no caso do usurio-estudante, e do acesso aos msicos para as apresentaes, que provavelmente transitaro com instrumentos, partituras e demais aparatos relacionados msica.

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    Terrenos selecionados aps anlise da Pegada Musical

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    PEGADA MUSICAL

    Pegada musical seria a atmosfera que envolve as manifestaes musicais do bairro, que varia incrivelmente de uma regio para outra. Ela pode se expressar na pluralidade ou na mesmice, na monotonia ou na agitao, e determinante para o desempenho do que quer que se estabelea na regio.

    Atravs do cruzamento dos dados anteriormente citados, foram selecionadas algumas reas nas quais seria adequado, eficiente, necessrio e interessante implantar a estrutura proposta. Ainda assim, cada regio da cidade tem sua identidade, sua cor local, caractersticas especficas que fazem gritar o fato que ainda faltava um elemento na equao: a anlise da pegada musical.

    As regies selecionadas foram as seguintes: Tatuap, Mooca, Moema, Campo Belo, Bela Vista, Pinheiros, Lapa, Perdizes, Vila Guilherme, Vila Clementino e Interlagos, e dentre elas foi feita uma seleo final para escolha do terreno.

    Foram preteridas rea que j eram atendidas por infra-estrutura pblica desse tipo, e aquelas nas quais a pegada musical no seria muito propcia troca de experincias e diversidade de estilos, e tambm evitou-se reas residenciais. Deu-se preferncia quelas nas quais houvesse um n de transferncia intermodal e onde as infra-estruturas ao redor pudessem se relacionar com o equipamento previsto, potencializando seu poder de influncia.

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    ESCOLHA DO TERRENO

    Aps todo o processo de anlise urbana e cruzamento de dados, dois terrenos foram selecionados: um parque vizinho ao metr Carro e uma ampla faixa verde bordeando o Rio Jurubatuba (estao homnima da CPTM). Visando embasar melhor a escolha entre os lotes, optou-se por mudar de escala e desenvolver estudos preliminares para as duas reas. Essa opo, apesar de mais trabalhosa, possibilitou levar em considerao as circunstncias especficas de cada terreno, que influenciariam enormemente o desenvolvimento do projeto.

    A primeira a ser analisada foi a opo vizinha estao Jurubatuba do metr, que serve de principal meio de transporte pblico para os trabalhadores das redondezas e estudantes do campus do SENAC. possvel ainda acessar a regio atravs da Avenida das Naes Unidas mas, assim como no resto da cidade, o trnsito automobilstico um caos durante os horrios de pico (que cada vez mais se estendem). A estao Jurubatuba tambm no se conecta com a outra margem do rio, ou seja, todo o fluxo proveniente das redondezas da represa precisa dar a volta, afunilar-se em uma ponte sem capacidade para tanto, e finalmente conectar-se com a CPTM ou com o terminal Santo Amaro. Uma transposio na altura do rio Jurubatuba faria o bairro como um todo fluir melhor e transformaria a rea escolhida para implantao do projeto em um plo de atrao que uniria o shopping SP Market, o centro Universitrio SENAC e o Espao de Vivncia Musical proposto.

    Aspecto interessante desse terreno o fato de fazer parte de generosa faixa verde que bordeia

    o Rio Jurubatuba (que adiante se unir ao Pinheiros), fato que traz consigo muitas outras potencialidades alm do programa inicialmente proposto.

    Ento escolher este terreno significaria inflar a rea de interveno prevista a princpio mais de dez vezes, colocando o programa inicial em segundo plano e tornando muito difcil chegar ao nvel de detalhamento almejado para este trabalho. Ainda assim, alterar o curso planejado e propor algo muito maior no seria opo a ser descartada, pois a situao urbana e inclusive os entraves legais existentes (referentes ao plano diretor) trariam ao trabalho escala e profundidade de discusso urbana novos.

    O segundo terreno, vizinho ao metr Carro est localizado oficialmente dentro do bairro Tatuap, conhecido por sua variedade e multiplicidade de bares musicais. O bairro tambm possui uma das duas nicas musicotecas da cidade e inmeras escolas pblicas, especialmente de ensino fundamental. A estao Carro possui dois terminais de nibus que recebem todo o fluxo da Radial Leste e se conectam com grande parte da zona leste que no atendida pelo metr, trabalhando em conjunto com a estao Tatuap (de onde possvel acessar a CPTM) e movimentando grande nmero de pessoas diariamente.

    Atualmente, o terreno pertence prefeitura e serve a programa chamado Clube Escola, programa pblico gerido pela Secretaria de Esportes, Lazer e Recreao, que visa a extenso das atividades dirias dos alunos da rede pblica a partir de variada programao esportiva, recreativa, cultural e gratuita, oferecida nos equipamentos esportivos municipais. As quadras e a piscina existentes no local tambm

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    so amplamente utilizados pela populao, e existem inclusive grupos de ajuda para dependentes qumicos e seus familiares que se encontram no local.

    Apesar da ampla utilizao, no se pode dizer que o clube explora todo o seu potencial como equipamento pblico: as quadras existentes no esto bem orientadas, o relevo dificulta o acesso e a percepo da movimentao no local, os equipamentos no esto bem conectados uns com os outros, alguns acessos ficam permanentemente fechados, e os caminhos existentes (mesmo os pavimentados) no esto em bom estado. Consequentemente, existe a possibilidade de reorganizao do espao para implementao do equipamento proposto dentro do parque, melhorando as condies dos equipamentos pr-existentes neste.

    Neste contexto o Centro de Vivncia musical surgiria como complemento ao movimento que j existe no local, reforando o carter cultural do clube que tem uso majoritariamente esportivo. O prolongamento da passarela que une a estao de metr ao terminal de nibus possibilidade interessante e que potencializaria o alcance do equipamento proposto, influindo positivamente na dinmica do clube como um todo.

    Assim, dentro dos objetivos que o presente trabalho se disps a cumprir e das questes levantadas aps a pesquisa terica e dos estudos de caso, o terreno vizinho ao metr Carro (Clube Escola Tatuap) mostrou-se mais adequado como rea de interveno para o desenvolvimento do presente trabalho.

    Croquis de estudo para o terreno de Interlagos (metr Jurubatuba)

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    Croquis de estudo para o terreno do Tatuap (metr Carro)

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    ESTUDOS APROFUNDADOS E PROGRAMA

    Uma vez escolhido o terreno, iniciou-se uma etapa de pesquisa mais profunda, buscando compreender melhor o contexto que cerca o parque, e as caractersticas ali existentes com as quais se poderia trabalhar mais especificamente.

    Nessa etapa foi desenvolvido tambm o programa definitivo do projeto. Um primeiro programa havia sido desenvolvido anteriormente, fundamentado nas esferas de aproximao musical e nos dados colhidos durante os estudos de caso. No entanto, o terreno escolhido est inserido em um contexto fsico-urbanstico privilegiado, e possui potencialidades de conexo com a metrpole que fazem com que o equipamento (em especial o bloco da ensino-aprendisagem fosse) pensado para um maior nmero de pessoas do que o inicialmente previsto. A existncia de inmeras escolas nas redondezas , que inclusive j participam do programa clube-escola, tambm influiu na reviso do programa.

    No caso da ensino-aprendizagem, o programa foi muito inspirado no Instituto Tom Jobim, reconhecido por todas as outras escolas visitadas como uma referncia em termos de coordenao de curso e adaptao s demandas.

    O programa da degustao musical foi muito inspirado na musicoteca Oneyda Alvarenga e na biblioteca e museu da msica da ESMUC, partindo de uma postura crtica frente aos pontos positivos e negativos desses edifcios.

    1 a 9 - fotos do parque atualmente10 - Linhas de nibus que passam pelo ter-reno

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    Pontos de interesse

    Escolas

    Terminal de nibus

    Metr

    Metr/CPTM

    Universidades

    rea de interveno

    Situao sem escala

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    Uso do solo nos lotes vizinhos

    Comercial

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    Institucional

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    PROJETO

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    REDESENHO DO PARQUE

    Para que fosse possvel a implantao da estrutura proposta, fez-se necessrio modificar a relao com o entorno e relocar as estruturas j existentes nele. Foram abertas transposies peatonais alinhadas com o sistema virio existente, a fim de que o parque se integrasse mais com o bairro e que inclusive pudesse ser mais facilmente transponvel, o que aumentaria a visibilidade do equipamento.

    As quadras foram redesenhadas em propores oficiais e relocadas na orientao solar adequada, junto aos taludes existentes, para que estes eventualmente possam servir de arquibancada aos espectadores. Foi colocado tambm um vestirio junto s quadras, para que esse setor do parque possa funcionar independentemente do edifcio multiuso/administrativo, e os usurios no precisem atravessar todo o parque para utiliz-los (como acontecia antes). Para tanto, o parque infantil foi relocado e colocado ao lado da escola.

    No setor norte do parque, o engenho teatral foi ampliado, assim como o deck da piscina. O edifcio dos bombeiros foi mantido, e a administrao, a entrada do conjunto aqutico (e seus vestirios) e as sala multiuso para os cursos do programa clube-escola foram concentrados todos em um edifcio linear junto principal transposio peatonal/ entrada do parque no tero norte.

    No tero central do parque , entre as duas transposies transversais e a transposio longitudinal, estar o centro de vivncia musical. Utilizou-se como premissa inicial para a implantao dos edifcios a manuteno massa arbrea existente.

    Situao sem escala

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    Croqui comparativo - Situao atual

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    Croqui comparativo - Situao ps intervenao

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    Maquete de estudo

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    Implantao1:1500

    1 - Terminal Rodovirio Norte2 - Metr Carro3 - Terminal Rodovirio Norte4 - Passarela5 - Eixo transversal Norte (entrada criada)6 - Pista de caminhada7 - Engenho teatral8 - Edifcio multiuso / Administrao geral9 - Conjunto aqutico10 - Corpo de bombeiros11 - Edifcio Performance12 - Edifcio Degustao13 - Praa entre os edifcios 14 - Anfiteatro ao ar livre15 - Edifcio Ensino-Aprendizagem16- Eixo transversal Sul (entrada criada)17 - rea de aquecimento e alongamento18- Bosque19 - Vestirios20 - Quadras poli-esportivas21- Taludes/Arquibancadas22 - Quadras de futebol de campo23 - EMEI Quintino Bocaiuva24 - Parque infantil25 - Entrada mantida

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    Situao sem escala

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  • ESPAO DE VIVNCIA MUSICAL88CORTE 1 1:500

    Ed. Ensino-AprendizagemQuadra de futebol de campo

    Entrada Sul

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    PASSARELA

    Como j foi dito, a Estao Carro um importante n intermodal entre o metr e as 13 linhas de nibus municipais e 6 linhas intermunicipais que saem da seus terminais, alm de outras 83 linhas que passam por ali diariamente. Em horrio de pico, a EMTU (Empresa Metropolitana de transporte Urbano) estima que 20000 passageiros passam por hora pela estao. Alm de conexo entre os modais, essa passarela constitui a principal transposio peatonal da regio para a imensa barreira que a Radial Leste (Rua Melo Freire), sendo que as outras transposies mais prximas encontram-se a no mnimo 750 m de distncia e se do atravs de

    hostis e estreitas fixas peatonais em viadutos.

    A expanso da passarela parque adentro ento mais uma das estratgias de integrao do parque ao seu entorno e de evidenciao da estrutura que estar sendo colocada ali, a fim de que esta possa interagir melhor com o contexto no qual est inserida. A expanso atravessa, como uma linha de base, todo o complexo, unificando-o visualmente: ao percorrer a passarela, o usurio poder perceber toda a movimentao da praa central e cobertura da musicoteca. Assim, o planejamento dos pontos de descida consistiu em etapa crucial da costura entre a cidade e os

    distintos edifcios que constituem o equipamento proposto. Foram mantidas as escadarias e rampas existentes nos terminais e estao de metr, e mais dois acessos foram projetados dentro do parque.

    O primeiro acesso se faz atravs do edifcio da performance, rasgando-o perifericamente e evidenciando esse recorte atravs do contraste entre a fachada branca e o colorido da passagem criada (transformada em painel artstico a ser periodicamente renovado). Esse acesso conserva um p direito constante at atingir seu ltimo trecho (fachada sul do edifcio), atravs do qual desemboca na praa entre os equipamentos,

    Ed. Performance Edifcio multiuso / Administrao geral

    Eixo transversal Norte (entrada criada)

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    abrindo sua visual para esta conforme o p direito vai aumentando. A descida termina de frente para o plano inclinado da cobertura do edifcio degustao, como que instigando o usurio a explorar essa nova possibilidade de percurso.

    A descida da passarela por dentro do edifcio de ensino-aprendizagem rompe com a dinmica usual dos edifcios desse tipo, permitindo ao visitante que visual e acusticamente entre na escola sem que para isso precise registrar-se, que possa vislumbrar a movimentao e atmosfera desta e quis interessar-se pelo que ocorre ali.

    Ao longo do desenvolvimento deste projeto estrutural, foram levantadas algumas hipteses a fim de avaliar qual seria a melhor opo para a situao estudada. A idia inicial era

    de fazer da transposio mais que uma passagem agradvel, mas tambm um convite para o parque de equipamentos. Optou-se tambm por transpor o vo por dentro da viga, o que fixou a altura estrutural inicialmente suposta em 5m.

    Devido aos grandes vos, foram estudados e comparados para uma mesma altura estrutural (5m) os desempenhos dos seguintes sistemas :

    - trelia plana metlica - at 54m

    - malha metlica at 60m

    - viga vierendeel metlica - at 40m

    Foram feitos estudos para distintas solues em 13 trechos definidos atravs tambm

    da anlise de onde estariam melhor localizados os pontos de apoio.

    A princpio haveria ainda um dcimo-quarto trecho, que iria at a segunda entrada do parque, mas estudos com modelos fsicos demonstraram que a transposio perderia forada e poderia sofrer esvaziamento e desinteresse. A idia do convite poderia se perder frente perspectiva de um trajeto to longo, enquanto um percurso menor seria mais atraente aos pedestres de passagem. Analisando a estrutura resultante, chegou-se concluso de que, refazendo os clculos para os vos reais projetados (clculo inverso), as alturas estruturais necessrias estariam dentro dos 5m sugeridos a princpio.

    Os bacos tambm foram utilizados no

    CORTE 1 1:500

    Conjunto aqutico Terminal Sul Radial Leste (local)

    Radial Leste (expressa)

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    dimensionamento dos pilares, a partir da altura no travada. Assim, temos que, para Pilares metlicos (redondos) seria necessrio seces entre 20 e 50 cm. A fim de uniformizar o desenho e facilitar a execuo, optou-se por uniformizar todos os pilares em 50cm

    Estruturalmente, a trelia plana metlica parecia ser a melhor opo, at porque o fato de seu desempenho trao e compresso ser o mesmo permite que a disposio dos montantes inclinados possa ser modificada sem que com isso hajam bruscas mudanas de solicitao. A pesar de ter um desempenho estrutural inferior ao da trelia plana, a virendeel metlica era visualmente mais compatvel com o conceito global do projeto, e se adaptaria melhor aplicao dos materiais escolhidos.

    Como o piso da passarela ser de placas concretcias pr-moldadas de 10m de comprimento, que estaro apoiadas nos montantes e tramos da estrutura sero utilizados perf