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  • COMPNDIO DE PEDAGOGIA DA

    PERFORMANCE MUSICAL

  • COMPNDIO DE PEDAGOGIA DA PERFORMANCE MUSICAL

  • DANIEL LEMOS CERQUEIRA

    COMPNDIO DE PEDAGOGIA DA PERFORMANCE MUSICAL

    1 Edio

    So Lus Edio do Autor

    2011

  • Ficha Catalogrfica

    CERQUEIRA, D. L. Compndio de Pedagogia da Performance Musical. So Lus: Edio do Autor, 2011.

    ISBN 978-85-912882-0-5, 70 p.

    Disponvel em http://musica.ufma.br. CDD 780.7

    1. Msica Instruo e Estudo. 2. Performance Musical. 3. Educao Musical.

    2011

    Data da publicao em meio digital: 08 de Novembro de 2011

    Sugesto de impresso: frente e verso em papel A4, com encadernao em espiral esquerda.

  • Agradecimentos

    Primeiramente, expresso mxima gratido s pessoas que

    fizeram parte de minha vida, companheiras de trajetria musical:

    famlia, amigos pessoais e profissionais.

    Sou grato por estar vivendo no Estado do Maranho, um local

    de mpar riqueza cultural no Brasil, alm de possuir um povo

    carinhoso e acolhedor. A necessidade de desenvolver a rea

    acadmica de Msica neste Estado tem permitido estabelecer um

    meio baseado em novas idias, sem a resistncia encontrada em

    locais cuja tradio musical h muito se instalou.

    Agradeo aos colegas de Departamento da Universidade

    Federal do Maranho, em especial aos professores Guilherme

    Augusto de vila e Ricieri Carlini Zorzal, companheiros tanto nos

    tempos de estudante quanto na atualidade. Agradeo tambm ao

    Curso de Msica da Universidade Estadual do Maranho e Escola

    de Msica do Estado do Maranho (EMEM), cujos professores

    sempre me recebem com respeito e cordialidade.

    Menciono ainda minha gratido aos msicos de outras partes

    do pas que tem seguido nosso trabalho, oferecendo novas idias e

    contribuindo ao desenvolvimento da rea de Performance Musical.

    Por ltimo, agradeo a Deus. Muitos artistas acreditam que Ele

    est onipresente, sendo personificado na tarefa artstica de

    responder s necessidades da alma humana jamais explicadas

    cientificamente com a esperana de que algum dia o homem

  • perceba que os valores humanos e no os materiais so o que

    realmente importa.

    Daniel Lemos Cerqueira

  • Lista de Figuras

    Fig. 1 Referncias no ensino de Instrumentos de Teclado .......................... 6 Fig. 2 Modelo de Ensino e Aprendizagem da Performance Musical...... 12 Fig. 3 Fluxo de informaes processadas em atividades simultneas .... 15

    Lista de Tabelas

    Tab. 1 Quadro comparativo entre as principais correntes ideolgicas da Psicologia ........................................................................................................ 25

    Tab. 2 Processo de ensino na Aprendizagem por Descoberta ................. 28 Tab. 3 Processo de ensino na estratgia de Problematizao ................... 29

  • 1

    SUMRIO

    Prefcio ................................................................................................................. 3 1. Histria do Ensino da Performance Musical ............................................. 4

    1.1 Linha histrica.............................................................................................. 6 1.2 Fundamentos pedaggicos do material didtico ................................... 7

    Instruo musical abrangente ........................................................................ 7 Instruo tecnicista .......................................................................................... 7 Relatos de experincia .................................................................................... 8 Abordagem cientfica ...................................................................................... 9 Abordagem mista .......................................................................................... 10 Utilizao de recursos tecnolgicos ............................................................ 10

    2. Modelo de Ensino e Aprendizagem da Performance Musical ............ 12 2.1 Dimenses fundamentais ......................................................................... 13 2.2 Conceitos provindos da interrelao entre as Dimenses................... 13 2.3 Crculo no sentido antihorrio ................................................................ 13 2.4 Crculo no sentido horrio ....................................................................... 14 2.5 Etapas de preparao ................................................................................ 14 2.6 Elementos importantes da prtica .......................................................... 14

    Concentrao .................................................................................................. 14 Intuio ........................................................................................................... 15 Tcnica ............................................................................................................ 16 Vcios motores ................................................................................................ 17 Ansiedade na Performance .......................................................................... 17

    2.7 Ferramentas de preparao ...................................................................... 19 Ferramentas gerais ........................................................................................ 19 Ferramentas idiomticas .............................................................................. 21 2.8 Hbitos de estudo .................................................................................... 21

    3. Fundamentos de Pedagogia da Performance Musical........................... 24 3.1 Correntes ideolgicas da Psicologia ....................................................... 24 3.2 Estratgias para transmitir conhecimentos e habilidades ................... 26

    Aprendizagem por Regras ........................................................................... 26 Aprendizagem por Princpios ..................................................................... 27 Aprendizagem por Descoberta ................................................................... 27 Problematizao ............................................................................................ 28

  • 2

    Ilustrao e Experimentao ........................................................................ 29 Utilizao de recursos tecnolgicos ............................................................ 30

    3.3 Elementos que influenciam a aprendizagem ........................................ 30 Talento ............................................................................................................ 31 Motivao ....................................................................................................... 33 Disciplina ........................................................................................................ 33 Faixa etria ..................................................................................................... 34 Definio do repertrio ................................................................................ 35 Autoestima ..................................................................................................... 36 Diferenciao do nvel de desenvolvimento ............................................. 37 Tipos de personalidade ................................................................................ 39 Cotidiano musical ......................................................................................... 40 Audio Crtica .............................................................................................. 42

    4. Ensino Formal da Performance Musical .................................................. 44 4.1 Contextos de ensino .................................................................................. 44

    Ensino individual .......................................................................................... 44 Ensino coletivo ............................................................................................... 45

    4.2 Perfil profissional ...................................................................................... 47 4.3 Possibilidades de atuao......................................................................... 48

    Performance Musical .................................................................................... 49 Ensino da Performance Musical .................................................................. 50 Tecnologia Musical ....................................................................................... 50 Organizao de eventos ............................................................................... 51 Pesquisa em Msica ...................................................................................... 51

    4.4 Projeto Poltico-Pedaggico ..................................................................... 52 Legislao sobre o ensino de Msica .......................................................... 53

    5. Final ................................................................................................................. 55 Referncias Bibliogrficas .............................................................................. 57

    Bibliografia consultada ................................................................................... 58

  • 3

    Prefcio

    Desde a implementao da pesquisa nas Universidades

    Brasileiras, a partir da dcada de 1970, diversos estudos sobre

    ensino e aprendizagem da Performance Musical foram realizados,

    principalmente aps a fundao do primeiro curso de Mestrado em

    Msica do Brasil, na Escola de Msica da Universidade Federal do

    Rio de Janeiro (UFRJ). Porm, nota-se um carter pontual nos

    trabalhos, como se estes fossem resultado de iniciativas particulares.

    Com o retorno da Msica na Educao Bsica, primeiramente

    atravs da Lei de Diretrizes e Bases da Educao n 9.394/1996, a

    Educao Musical subrea da pesquisa musical voltada ao ensino

    e aprendizagem da Msica passara ento a concentrar seus

    estudos no desenvolvimento de metodologias didticas voltadas a

    este contexto. Assim, observa-se no Brasil um desenvolvimento

    mpar, sendo atualmente referncia no cenrio internacional quando

    se trata desta especialidade.

    Todavia, a Educao Profissional voltada para a Performance

    Musical que enquadra o ensino de Instrumentos, Canto, Regncia

    e Composioa manteve o mesmo padro de desenvolvimento,

    sendo um dos possveis fatores a falta de articulao entre as linhas

    de Educao Musical e Performance. Como resultado, temos ainda

    no pas cursos de formao em Performance Musical cujas propostas

    formativas no mais esto em consonncia com o atual contexto

    histrico-cultural. Assim, novos saberes e habilidades passam a ser

    necessrios para prover uma formao mais diversificada, completa

  • 4

    e em consonncia com a atual conjuntura histrico-cultural,

    possibilitando atuar em diversos campos profissionais da Msica

    com dignidade, competncia, colaborao e capacidade de crtica,

    reflexo e adaptao s demandas exigidas. Para tal, necessrio

    abandonar preconceitos e ideologias ultrapassadas, herdadas de

    ambientes musicais mais conservadores.

    Dentre os maiores problemas encontrados por quem deseja

    aprimoramento e reflexo sobre o ensino da Performance Musical, o

    mais aparente a falta de referncias slidas. Conforme dito

    anteriormente, no h uma linearidade entre os trabalhos que

    tratam deste assunto, fazendo com que a literatura j existente

    carea de articulao e unidade. No exterior, j existem linhas de

    pesquisa como a Pedagogia do Piano, voltadas especificamente ao

    ensino da Performance Musical para determinados instrumentos. O

    desenvolvimento desta rea no exterior levou produo de

    valiosas referncias, ainda de difcil acesso aos brasileiros

    interessados.

    Assim sendo, a principal meta do presente trabalho oferecer

    subsdios iniciais elementares que possam servir como ponto de

    partida a interessados no Ensino e Aprendizagem da Performance

    Musical, em forma de um breve livro didtico. Esperamos que esta

    iniciativa possa motivar e auxiliar a elaborao de trabalhos futuros,

    com o desenvolvimento de literatura especfica para tratar deste

    assunto.

    Daniel Lemos Cerqueira

  • 5

    1. Histria do Ensino da Performance Musical

    A Performance e a Educao Musical so reas que remetem ao

    prprio surgimento da Msica na Histria do Homem. Os primeiros

    indcios de manifestao musical que se tem notcia foram

    encontrados na caverna Les Trois Frres na Frana, sendo estes

    rudimentos de flautas e tambores construdos h cerca de 40.000

    anos (CHAILLEY, 1970). Nos primrdios assim como em diversas

    culturas indgenas da atualidade a Msica no era entendida como

    uma manifestao em particular, estando presente em rituais que

    agregavam outros tipos de Arte, como a Dana e as Artes Cnicas,

    entre outros. Assim, juntamente com o nascimento da Performance

    Musical, h tambm a necessidade de transmitir tais conhecimentos

    s geraes futuras, realizada ento atravs de observao, audio

    e oralidade, tratando de habilidades para interpretao musical e

    construo de instrumentos, entre outros. Assim sendo, nasce ento

    a Educao Musical.

    Muitos sculos mais tarde, aps a inveno da escrita, fora

    possvel documentar a Msica, sendo criada ento uma notao

    especfica para tal. Esta inveno favoreceu o acesso a informaes

    sobre a prtica musical, permitindo o estabelecimento do repertrio.

    O primeiro registro de notao musical foi encontrado na Prsia

    (atual Ir), datando de 2.000 A.C (KILMER; CIVIL, 1986).

    Na Cultura Ocidental, temos os neumas, tipo de notao

    musical utilizado para registrar o repertrio de Canto Gregoriano no

    Sculo IX. A partir de ento, h um crescente aumento no nvel de

  • 6

    complexidade da linguagem musical, fato refletido na construo de

    instrumentos musicais, no repertrio e nas habilidades necessrias a

    sua execuo. Sendo assim, a escrita se consolida como um recurso

    essencial para a transmisso de conhecimentos musicais, juntamente

    com a oralidade.

    A partir do Sculo XVI, h o surgimento de tratados sobre a

    prtica musical, referenciais mais enriquecidos voltados formao

    de instrumentistas e cantores. As diversas correntes ideolgicas que

    fundamentam os tratados e mtodos ao longo da Histria da

    Performance Musical sero vistos a seguir.

    1.1 Linha Histrica Abaixo, h uma figura ilustrando referncias importantes na

    Histria do Ensino de Instrumentos de Teclado, baseado

    principalmente na anlise de Gordon em Uszler et al (2000):

    Fig.1 Referncias no Ensino de Instrumentos de Teclado

    Em seguida, haver a caracterizao das correntes ideolgicas

    que aliceram os mtodos acima mencionados. Dessa forma, ser

    possvel estabelecer relaes entre as concepes pedaggicas deste

    material e os mtodos voltados aos demais instrumentos e canto.

  • 7

    1.2 Fundamentos Pedaggicos do Material Didtico 1.2.1 Instruo musical abrangente

    Este tipo de mtodo possui peas com nveis progressivos de

    dificuldade, alm de orientaes mais completas sobre postura ao

    instrumento, integrando teoria e percepo musical com a prtica da

    Performance. Caracterizam-se principalmente por trabalhar a

    tcnica no repertrio, atravs de pequenas peas. comum tratarem

    sobre habilidades variadas, como composio, transposio e

    improvisao. Em mtodos elaborados nos perodos Barroco e

    Clssico, comum haver instrues sobre ornamentao. Alguns

    exemplos so: Il Transilvano (1593) de Girolamo Diruta, LArt de

    toucher Le Clavecin (1716) de Franois Couperin, Code de Musique

    (1760) de Jean Philippe Rameau, Versuch ber die wahre Art das

    Clavier zu spielen (1753) de Carl Philipp Emanuel Bach, Klavierschule

    oder Anweisung zum Klavierspielen (1789) de Daniel Gottlob Trk e

    Complete Theoretical and Practical Piano Forte School Opus 500 (1839)

    de Carl Czerny.

    1.2.2 Instruo tecnicista

    Tais mtodos so baseados no estudo isolado de problemas

    tcnicos presentes no repertrio, principalmente atravs de estudos

    e exerccios. Em geral, foram elaborados sob a idia de que para

    adquirir tcnica, necessrio exercitar os msculos para a aquisio

    de fora e destreza corporal. Esta idia notada em ttulos de obras,

    como Escola de Velocidade e Arte da Destreza Digital. Ainda,

    defendem ainda a prtica deliberada, onde a quantidade de horas

  • 8

    estudadas proporcional ao desenvolvimento tcnico. Pode haver

    instrues sobre postura e tipos de toque, porm, mais comum no

    haver orientaes escritas, havendo apenas peas a serem estudadas.

    Ainda, o ensino de percepo e teoria musical, que at ento fora

    realizado de forma integrada com o aprendizado da Performance,

    passa a ser realizado em paralelo, devido fragmentao do

    conhecimento musical em disciplinas, resultante do ensino formal

    que se iniciara nos conservatrios. Alguns trabalhos sob este

    enfoque so Art of Piano Playing (1783) e Gradus ad Parnassum (1817)

    de Muzio Clementi, Complete Theoretical and Practical Course of

    Instructions on the Art of Playing the Piano Forte (1828) de Johann

    Nepomuk Hummel, Klavierschle (1865) de Sigmund Lebert e

    Ludwig Stark, O Pianista Virtuoso (1873) de Charles-Louis Hanon e

    os diversos estudos e exerccios de Johann Baptist Cramer, Carl

    Czerny e Alfred Cortot, entre outros.

    1.2.3 Relatos de experincia

    Consistem na descrio das estratgias didticas e idias

    defendidas por msicos renomados ou experientes, em grande parte

    baseados em experincias empricas. Tais referncias oferecem

    importantes informaes sobre as prticas de ensino e estudo de

    msicos dotados de grande experincia profissional. Exemplos desta

    abordagem so Johann Sebastian Bach (1802) de Johann Nicolaus

    Forkel, Liszt Pdagogue (1832) de Auguste Boissier, Letters to a Young

    Lady on the Art of Playing the Pianoforte de Carl Czerny (1840), Artistic

    Piano-Playing as taught by Ludwig Deppe (1903) de Frulein Elisabeth

  • 9

    Caland, Music-Study in Germany (1880) de Amy Fay, Great Pianists on

    Piano Playing (1913) de James Francis Cooke, Leschetizky as I knew him

    (1921) de Ethel Newcomb, Pianists Speak with Adele Marcus (1979) de

    Adele Marcus e Suzuki: his speeches and essays de Shinichi Suzuki

    (1999).

    1.2.4 Abordagem cientfica

    Este tipo de mtodo consiste na aplicao de idias embasadas

    cientificamente no ensino da Performance. Tais trabalhos foram

    importantes para acelerar o processo de ensino e comprovar a

    validade de conceitos construdos de forma emprica e transmitidos

    oralmente ao longo do tempo, como a necessidade de adquirir de

    fora fsica e destreza corporal para a tcnica, entre outros. Porm, a

    partir de certo ponto, as abordagens cientficas tendem a no ser

    adequadas, caso no haja espao para intuio, imaginao e

    subjetivismo, elementos prprios da prtica artstica. Alguns

    trabalhos nesta linha so Die physiologischen Fehler und Umgestaltung

    der Klaviertechnik (1905) de Friedrich Adolf Steinhausen, The Science

    of Pianoforte Technique (1927) de Thomas Fielden, The Physical Basis of

    Piano Touch and Tone (1925) e The Physiological Mechanics of Piano

    Technique (1929) de Otto Ortmann, The Riddle of the Pianists Finger

    (1936) de Arnold Schultz e The Art of Piano Playing (1967) de Geroge

    Kochevitsky.

    Sob esta mesma linha, h diversos trabalhos acadmicos

    recentes sobre instruo, relatos de experincia e aspectos variados

    da Performance Musical, baseados em abordagens prioritariamente

  • 10

    cientficas. Alguns destes so Teoria da Aprendizagem Pianstica (1987

    2 ed) de Jos Alberto Kaplan, The Practice of Performance (1995) de

    John Rink (org.), A Tcnica Pianstica (1996) de Cludio Richerme

    Azevedo, The Historical Performance of Music (1999) de Colin Lawson

    e Robin Stowell, The Well-Tempered Keyboard Teacher (2000 2 ed) de

    Marienne Uszler, Stewart Gordon e John McBride Smith, Musical

    Excellence (2004) de Aaron Williamon (org.), Music, Motor Control and

    the Brain (2006) de Eckart Altenmller, Mario Wiesendanger e Jrg

    Kesselring, Fundamentals of Piano Practice (2006) de Chuan Chang,

    The Biology of Musical Performance (2009) de Alan Watson e Teaching

    Piano in Groups (2010) de Cristopher Fisher.

    1.2.5 Abordagem mista

    Este tipo de mtodo procura abordar a prtica da Performance

    de forma mais detalhada, podendo dialogar com referncias de base

    cientfica. Entretanto, sua abordagem principalmente emprica,

    geralmente baseada em experincias prticas, buscando clareza nos

    fundamentos apresentados. Exemplos de obras nesta linha so Die

    Natrlische Klaviertechnik (1905) de Rudolf Maria Breithaupt, The Act

    of Touch (1903) e Musical Interpretation (1913) de Tobias Matthay,

    Piano Technique (1972) de Karl Leimer e Walter Gieseking, Etudes for

    Piano Teachers (1995) de Stewart Gordon e Tocar un Instrumento

    (2001) de Jose Antonio Coso.

    1.2.6 Utilizao de recursos multimdia

    Com o desenvolvimento da mdia e sua facilidade de acesso,

    surgiram trabalhos para ensino da Performance com registros

  • 11

    sonoros (gravaes), audiovisuais e utilizando o meio digital

    (internet) para disponibilizar material. Alm de vdeos didticos, h

    gravaes de master-classes e recitais de msicos reconhecidos,

    baseados nas concepes pedaggicas dos mtodos citados

    anteriormente. Sob este enfoque se encontram Mastering Piano

    Technique (1993) de Seymour Fink, About Memorization in Piano

    Performance (2004) de Stewart Gordon e Virtuosity in a Box de

    Dorothy Taubman e Elena Golandsky.

    Mesmo com todo o material didtico elaborado ao longo de

    sculos, o professor continua a ser fundamental no aprendizado da

    Performance Musical. Fisher (2010) cita os tipos de informao

    sensorial necessrios ao ensino de habilidades musicais: visuais,

    auditivas e cinestsicas/tteis. Mesmo com a tecnologia atual, ainda

    no possvel registrar informaes tteis, sendo fundamental a

    presena do professor para o aprendizado deste tipo de informao.

    Ainda, refora-se que a complexidade do ensino da Msica e

    das Artes em geral requer constantes reflexes de professores e

    alunos sobre o objeto de estudo, dialogando com a bagagem

    histrica, a Cincia e a experincia musical de cada um, exigindo

    que ambos reajam de acordo com as possibilidades do momento e o

    contexto musical apresentado. Logo, a melhor palavra que define o

    ensino da Performance Musical equilbrio.

  • 12

    2. Modelo de Ensino e Aprendizagem da Performance Musical

    Este modelo provm de pesquisas realizadas no ENSAIO

    Grupo de Pesquisa em Ensino e Aprendizagem da Performance

    Musical, vinculado Universidade Federal do Maranho (UFMA).

    Seu objetivo principal guiar de forma fundamentada o ensino da

    Performance, contemplando conceitos e habilidades essenciais ao

    desenvolvimento de instrumentistas e cantores (CERQUEIRA,

    2009). A seguir, temos uma ilustrao deste modelo (fig. 2):

    Fig. 2 Modelo de Ensino e Aprendizagem da Performance Musical

    importante notar que os conceitos se relacionam, sendo sua

    separao ocorrendo apenas sob fins tericos. Agora, haver a

    explanao dos conceitos presentes no modelo.

  • 13

    2.1 Dimenses Fundamentais Movimento: o corpo e seu deslocamento, representando ento a

    fisiologia da Performance Musical.

    Memria: armazenamento de informaes, provenientes do

    sistema sensorial (externo) e do raciocnio (interno).

    Conscincia: intervenes voluntrias do indivduo no processo,

    alterando as informaes armazenadas.

    2.2 Conceitos provindos da interrelao entre as Dimenses Controle Motor: desenvolvimento da coordenao motora,

    representando o controle consciente do indivduo sobre seu

    corpo.

    Memria Cinestsica e Visual: armazenamento de informaes

    tteis, de movimento e visuais, presentes no ambiente (externo).

    Memria Lgica e Auditiva: armazenamento das informaes

    conceituais, como o planejamento interpretativo da obra, suas

    relaes harmnicas e imagem sonora.

    2.3 Crculo no sentido antihorrio Os crculos representam processos iniciados em uma Dimenso

    Fundamental e finalizados em outra.

    Dissociao: aprimoramento do controle motor, buscando

    domnio mais consciente e eficaz dos movimentos.

    Compreenso: entendimento da obra musical: forma, fraseologia,

    relaes harmnicas e planejamento interpretativo, entre outros.

  • 14

    Ato Reflexo: exposio de movimentos previamente registrados,

    atravs de estmulos internos ou externos.

    2.4 Crculo no sentido horrio Ato Voluntrio: realizao de movimentos controlados de forma

    consciente, segundo o nvel de aprimoramento do Controle

    Motor.

    Automatizao: armazenamento das informaes de movimentos,

    atravs da repetio consciente ou no.

    Evocao: utilizao de conhecimentos adquiridos anteriormente

    para o aprendizado e interpretao da obra, sendo a experincia

    musical.

    2.5 Etapas da Preparao A definio destas fases servir como guia para aplicao de

    ferramentas adequadas ao objetivo do estudo.

    Estudo: etapa primria da preparao, cujo objetivo conhecer a

    obra, consolidar os movimentos e desenvolver a memria.

    Execuo: etapa secundria, cuja finalidade a manuteno da

    memria e preparao para a apresentao pblica.

    2.6 Elementos importantes da prtica Aqui, sero tratados processos e questes importantes para o

    aprendizado da Performance Musical, no abordados no modelo.

    2.6.1 Concentrao

    Fluxo de informaes que o crebro pode processar em um

    dado momento. O ser humano capaz de realizar somente duas

  • 15

    atividades simultneas, sendo uma delas primria com maior

    captao de informaes e a outra secundria (fig. 3):

    Fig. 3 Fluxo de informaes processadas em atividades simultneas

    A concentrao um elemento fundamental na Performance

    Musical, devendo o msico planejar seu uso eficiente nas etapas de

    preparao. Por parte do professor, necessrio cuidar para que no

    sejam transmitidas muitas informaes ao mesmo tempo, em

    especial nos casos em que o aprendiz necessite de uma realizao

    imediata.

    2.6.2 Intuio

    Capacidade de tomar decises de forma no planejada, baseada

    na experincia musical adquirida. A Intuio trata da Evocao,

    consistindo em um campo de possibilidades no qual ser feita a

    deciso, dialogando com a criatividade, imaginao, vivncia,

    conhecimentos e habilidades adquiridos ao longo da carreira. A

    incluso deste tipo de conhecimento no presente Modelo permite

    reconhecer a subjetividade no trabalho, elemento fundamental da

    prtica artstica que por muitas vezes visto com indiferena na

    academia.

  • 16

    2.6.3 Tcnica

    Ao longo do tempo, houve a definio de diversos conceitos de

    tcnica, nos quais se basearam os mtodos vistos no Captulo 1.

    Considerando as referncias mais atuais em especial Kaplan (1987)

    podemos definir tcnica como:

    Aprimoramento do controle motor, buscando menor esforo fsico

    e maior resultado musical, com o armazenamento destas

    informaes de movimento;

    Um agregado de diversas habilidades, adquiridas na prtica ao

    longo da carreira;

    Tendo em vista que a tcnica provm de necessidades musicais,

    possvel considerar que Conscincia e Memria constituem

    elementos fundamentais desta, no se restringindo somente ao

    Movimento.

    perceptvel o forte carter psicolgico presente no conceito de

    tcnica, contribuindo para entender o porqu de questes histricas

    como a ansiedade na Performance Musical, tratada a seguir. Ainda,

    lembramos que ter em mente um conceito claro e adequado de

    tcnica contribui para o desenvolvimento musical, pois esta sempre

    uma referncia para o estudo da Performance Musical. Conceitos

    de tcnica que focam somente na questo fisiolgica e motora, como

    a aquisio de fora e destreza muscular, trouxeram consequncias

    negativas para o ensino da Performance segundo Bomberger (In:

    PARAKILAS, 2001), sendo aplicada e perpetuada em diversas

    instituies de ensino musical ainda nos dias de hoje.

  • 17

    2.6.4 Vcios Motores

    Armazenamento de informaes inadequadas de movimento,

    sendo este um dos principais problemas da Performance Musical. A

    aquisio de vcios motores ocorre quando no h uma prtica

    consciente da importncia de se estudar observando o corpo,

    havendo a automatizao por repetio de movimentos que

    produzem maior esforo fsico e tenso muscular. Neste caso,

    necessrio uma reeducao motora atravs do estudo concentrado

    na anlise dos movimentos, buscando menor esforo fsico e maior

    resultado musical tcnica. Em casos extremos, o msico poder ter

    problemas de sade ocupacional, como tendinite e leso por esforo

    repetitivo, entre outros.

    2.6.5 Ansiedade na Performance

    Questo conhecida pelos msicos, diz respeito ao desconforto e

    tenso nervosa em momentos de exposio pblica. Em paralelo

    com a rea de Educao Fsica, comprovou-se que atletas possuem

    capacidades de concentrao e controle motor reduzidas em

    momentos de presso (SCHMIDT; WRISBERG, 2008). Ainda, se

    forem observados os conceitos de tcnica tratados anteriormente,

    possvel deduzir que h um forte elemento psicolgico tanto na

    Performance Motora quanto na Musical. Sendo assim, podemos

    sugerir estratgias psicolgicas que possam atenuar este problema.

    Algumas delas so:

    Tenha cincia das estratgias de preparao para a apresentao

    pblica, adotando-as em sua rotina de estudos;

  • 18

    Apresentar-se em ambientes gradativos de tenso, iniciando com

    grupos menores de pessoas ou locais restritos, aumentando

    gradualmente o nvel de tenso do ambiente;

    Gravar o repertrio, pois a presso psicolgica pela qualidade da

    performance semelhante presente em apresentaes pblicas;

    Cultivar expectativas realistas sobre o que se espera da

    apresentao pblica considerando o nvel de preparao

    realizado, evitando otimismo ou pessimismo em demasia;

    Ir anteriormente ao local da apresentao, a fim de se familiarizar

    com o ambiente;

    No dia da apresentao, evitar esforos fsicos e mentais,

    preservando as energias para o momento da performance;

    Ao fazer um breve aquecimento antes da apresentao, no

    execute peas do repertrio planejado, pois eventuais erros

    podem se tornar pontos de fragilidade durante a performance;

    No momento da apresentao, procure executar as peas em um

    andamento confortvel, cultivando uma sensao interna de

    calma e focando na sonoridade pretendida.

    Note que nem todas as estratgias funcionam para todos os

    msicos, pois existem fortes elementos individuais em questes

    psicolgicas. Sendo assim, sugerimos experimentar as estratgias

    mencionadas, buscando aquelas que se mostrarem mais adequadas

    a partir de sua experimentao. Ainda, procure analisar suas

    sensaes durante as apresentaes, desenvolvendo assim suas

    prprias estratgias psicolgicas.

  • 19

    2.7 Ferramentas de Preparao So as diversas estratgias utilizadas durante as etapas de

    Estudo e Execuo, direcionadas resoluo de problemas e

    manuteno dos objetivos pretendidos em cada etapa. Podem ser

    divididas em duas categorias: gerais, aplicadas na aprendizagem de

    todos os instrumentos e do canto, e idiomticas, utilizadas no ensino

    de instrumentos especficos. Seguem abaixo exemplos de algumas

    ferramentas classificadas de acordo com supracitadas categorias:

    2.7.1 Ferramentas gerais

    Anlise do Movimento: observao e definio dos movimentos

    atravs de dedilhado, digitao, golpe de arco, impostao vocal e

    embocadura, entre outros. fundamental para o desenvolvimento

    da tcnica, buscando a definio de movimentos apropriados e

    aprimor-los, sendo este um trabalho constante.

    Estudo da Forma: estratgia baseada na forma da pea estudada,

    exigindo Compreenso e anlise musical. Permite fragmentar a

    pea, reforando a memria e reduzindo a quantidade de

    informaes processadas atravs da concentrao, facilitando a

    aprendizagem na etapa Estudo. Ainda, pode ser utilizada para

    entender sees da pea, permitindo a execuo a partir de

    determinados trechos (estudo a partir de sees), recurso

    importante na etapa Execuo, voltada s apresentaes pblicas.

    Repetio: estratgia para armazenamento das informaes,

    utilizada para consolidao dos vrios tipos de Memria na etapa

    Estudo e reforo destas informaes na etapa Execuo. Pode ser

  • 20

    utilizada em conjunto com o estudo da forma, atravs de trechos

    ou idias musicais pequenas para facilitar a memorizao. Ainda,

    h a repetio da pea toda na etapa Execuo, exigindo um

    comportamento diferenciado: tentar continuar a execuo em caso

    de erro, recurso til para o momento da apresentao.

    Variao: modificao das estruturas musicais para aquisio de

    novas habilidades tcnicas. Seu uso no interessante para a

    Memria Lgica, mas Memria Cinestsica, em especial

    dificultando trechos para aquisio de novas habilidades. Alguns

    exemplos de variaes so a rtmica, meldica, de andamento, de

    dinmica (intensidade) e tipo de toque.

    Gravao: estratgia utilizada para desenvolver a autocrtica na

    interpretao musical e atenuar a ansiedade na Performance.

    geralmente utilizada na etapa Execuo, onde j h significativa

    memorizao.

    Apresentao Pblica: mesmo sendo o produto final do trabalho,

    pode ser utilizada sob finalidades didticas, permitindo observar

    pontos que necessitam de mais estudo, amadurecer o repertrio

    em pblico e desenvolver a autocrtica, visando ao crescimento

    musical e melhoria nas apresentaes futuras.

    Ensaio Mental: estratgia onde no h realizao prtica externa,

    baseada na imaginao da sonoridade e as habilidades necessrias

    para sua realizao. Diversos msicos usufruem desta estratgia,

    entretanto, exige uma bagagem considervel de conhecimentos e

    habilidades internalizadas, no sendo adequada a iniciantes.

  • 21

    2.7.2 Ferramentas idiomticas

    Piano Estudo de mos separadas: permite diminuir o fluxo de

    informaes processadas, facilitando a memorizao na fase de

    Estudo e permitindo reconduzir a concentrao para os aspectos

    musicais que se deseja trabalhar.

    Piano Estudo sem pedal: contribui para a independncia do

    pianista em relao ao pedal na realizao de passagens musicais,

    especialmente em legato, requerendo outros meios de obter a

    sonoridade pretendida. Na etapa Execuo, permite reagir s

    condies acsticas do ambiente, sendo uma ferramenta essencial

    a este instrumento.

    Piano Estudo lento: reduz de forma branda o fluxo de

    informaes processadas, permitindo melhor utilizao da

    concentrao. fundamental reforar que o estudo lento deve ser

    feito em andamento pouco inferior ao pretendido. Diversos

    autores reforam a ineficincia do estudo demasiadamente lento,

    por dois motivos: a demanda muscular diferente, armazenando

    assim movimentos que no sero teis execuo da pea; e o

    prejuzo compreenso musical, pois andamentos muito lentos

    no permitem o entendimento e interrompem o fluxo musical.

    2.8 Hbitos de Estudo Trata do planejamento dirio e/ou semanal das sees de

    estudo, sendo esta uma questo essencial para o desenvolvimento

    de cantores e instrumentistas. A conscientizao acerca dos diversos

    aspectos envolvidos na preparao da Performance Musical, a

  • 22

    utilizao de ferramentas adequadas e o respeito ao funcionamento

    e limites do corpo constituem princpios fundamentais para planejar

    hbitos saudveis de estudo, alm de acelerar o desenvolvimento

    musical.

    Tomando-se por base as informaes tratadas at aqui no

    presente trabalho, sugerimos atentar s seguintes questes ao

    estabelecer sua rotina de preparao:

    Defina horrios em momentos do dia onde se esteja descansado,

    reservando energias para um melhor rendimento da seo de

    estudos;

    Evite ser interrompido durante a seo de estudos, mantendo de

    forma eficiente sua concentrao;

    Caso voc perceba que no est suficientemente concentrado, faa

    uma pausa na seo de estudos, procurando descansar. A

    concentrao diretamente proporcional ao rendimento do

    estudo, constituindo a prtica desconcentrada um uso ineficiente

    de tempo;

    Segundo Gordon (1995), caso o interesse do estudo estiver

    diminuindo, busque modificar os aspectos musicais em foco, ou

    at mesmo a pea. A motivao elemento essencial no

    aprendizado, pois suscita a concentrao;

    A prtica deliberada onde se avalia o desenvolvimento musical

    pela quantidade de tempo dedicado uma idia inadequada,

    arraigada no ensino da Performance. Ao longo do dia, o desgaste

    das atividades reduz a capacidade de concentrao. Logo, sees

  • 23

    com muitas horas de estudo so ineficientes, sendo mais

    adequado retomar a seo no dia seguinte.

    Segundo Chang (2009), fundamental haver descanso entre

    sees de estudo, pois para que haja a aquisio de habilidades

    tcnicas, so criadas ramificaes nervosas entre os neurnios.

    Um exemplo prtico disso a impresso que temos da melhora de

    uma pea, ao retom-la depois de alguns dias sem estudo. Outra

    evidncia so as recentes pesquisas no campo da Neurocincia,

    reforando a plasticidade do crebro de msicos.

    Ao estudar, procure focar na superao das dificuldades que se

    apresentarem. Investir muito tempo em habilidades j superadas

    constitui utilizao ineficiente da seo de estudos;

    Por ltimo, reforamos que ter organizao e disciplina para

    cumprimento do planejamento proposto essencial ao aprendizado

    musical. Os conhecimentos abordados neste trabalho podem ser

    utilizados por msicos em quaisquer nveis de aprimoramento,

    oferecendo desenvolvimento completo e artstico na Performance

    Musical.

  • 24

    3. Fundamentos de Pedagogia da Performance Musical

    Mesmo com a necessidade de transmitir idias no ensino da

    Performance Musical desde tempos remotos, so poucas as

    referncias que tratam acerca do msico como professor, fornecendo

    instrues que permitam refletir e aprimorar sua maneira de

    transmitir conhecimentos e habilidades. Ainda, fundamental notar

    que o papel do professor vai alm de cumprir o contedo proposto,

    sendo essencial formar, alm de intrpretes capazes de realizar

    atividades musicais com competncia, cidados capazes de refletir

    sobre sua prtica, criar espaos de atuao e valorizar seu papel na

    sociedade.

    Este ser o tema abordado no presente captulo, iniciando-se

    com uma breve explanao sobre as principais vertentes da

    Psicologia.

    3.1 Correntes Ideolgicas da Psicologia Segundo Uszler (In: USZLER et al, 2000), as principais linhas de

    pensamento da Psicologia so:

    Behaviorismo: enfoque do ensino no ambiente. O aprendiz deve

    ser condicionado para atuar no ambiente.

    Cognio: enfoque do ensino no aprendiz. Considera que

    mudanas no ambiente podem facilitar o aprendizado.

    Em seguida, temos um quadro com as principais idias de cada

    corrente (tab. 1):

  • 25

    Behaviorismo Cognio Aplica mtodos de Cincias naturais e fsicas para estudo do comportamento

    Considera o aprendizado como um processo particular do indivduo, sujeito a influncias do ambiente

    Defende que apenas o comportamento observvel pode ser analisado

    Defende que atividades mentais internas devem ser consideradas, pois alteram o comportamento observvel

    Refere-se relao entre estmulo e resposta como forma de comportamento observvel

    Considera o aprendizado como um rearranjo de padres mentais, associados a experincias anteriores

    Pesquisa baseada em experimentos de laboratrio

    Pesquisa realizada em ambientes com situaes mais naturais

    Defende que o aprendizado precisa de controle para ser eficiente

    Defende que o aprendizado pode ser facilitado, mas no controlado

    Tab. 1 Quadro comparativo entre as principais correntes ideolgicas da Psicologia

    fundamental observar que todo contexto de ensino e

    aprendizagem adota idias presentes nestas correntes, seja de forma

    planejada ou no. Sendo assim, possvel analisar caractersticas do

    ensino de Msica ao longo do tempo, associando-as com estas

    correntes ideolgicas.

    Contextos de ensino da Performance com nfase em contedo

    como no cumprimento de repertrio fechado, como dois estudos,

    dois movimentos vivos de Sonata e um concerto solo, por exemplo

    so caractersticos da corrente Behaviorista. Diversas instituies de

    ensino musical adotam esta metodologia, inspiradas no modelo do

    Conservatrio de Paris, fundado na Frana em 1794. A adoo de

    uma concepo Cognitivista neste contexto sugere a escolha de

    repertrio de acordo com as necessidades do aluno, tanto para

    trabalhar habilidades especficas quanto a motiv-lo, permitindo a

    escolha de peas mais prximas de sua realidade musical. Neste

    caso, sugere-se adotar princpios abrangentes para escolha do

  • 26

    repertrio, como execuo de peas que contemplem no mnimo trs

    estilos musicais distintos, por exemplo.

    Todavia, adotar somente estratgias Cognitivistas faz com que

    o processo de aprendizagem fique muito livre. Portanto, sugere-se

    ao professor que equilibre sua estratgia utilizando idias das duas

    correntes. Um exemplo de estratgia behaviorista que pode ser

    adotada definir um calendrio com metas, auxiliando o aluno a

    estabelecer sua agenda de estudos e ter disciplina.

    Em seguida, trataremos de estratgias para a transmisso de

    conhecimentos e habilidades para a Performance Musical,

    oferecendo idias que podem ser adotadas no cotidiano de msicos

    professores.

    3.2 Estratgias para transmitir conhecimentos e habilidades

    So as diversas possibilidades didticas que o professor pode

    utilizar para facilitar a aprendizagem. Algumas delas so:

    3.2.1 Aprendizagem por Regras

    Defende a utilizao de idias rgidas como forma de controle

    da aprendizagem. tpica da concepo Behaviorista, sendo que a

    prprio conceito de regra assim como o dogma recusa reflexes

    sobre a idia em questo. Ainda, a aplicao de regras acaba restrita

    a contextos musicais especficos, sendo por vezes universalizadas de

    forma errnea. Alguns resultados de sua adoo so: incapacidade

    do aprendiz em refletir sobre sua prtica, dependncia para com o

    professor e repetio desta estratgia com futuros alunos, mantendo

  • 27

    este modelo pedaggico. Diversas idias errneas sobre o ensino da

    Performance foram transmitidas ao longo do tempo em forma de

    regras, entre elas a prtica deliberada e a tcnica como destreza

    muscular. Outro exemplo evidente o clich quinta paralela no

    pode, adotado no ensino de Harmonia Tradicional.

    3.2.2 Aprendizagem por Princpios

    Defende a adoo de idias abrangentes no ensino, permitindo

    sua adoo em diversos contextos musicais. Requer aes reflexivas

    por parte do aprendiz, a fim de relacionar o princpio ao contexto

    musical desejado. Uszler (In: USZLER et al, 2000) ilustra esta idia

    citando duas formas de ensinar escalas. A primeira consiste em

    seguir dedilhados pr-definidos em um mtodo, e a segunda utiliza

    como princpio a repetio do dedilhado em cada oitava, para dar

    continuidade escala. Note que a segunda idia pode ser aplicada a

    todas as escalas, requerendo do aprendiz a capacidade de pesquisar

    seu prprio dedilhado.

    3.2.3 Aprendizagem por Descoberta

    Permite ao aprendiz chegar a suas prprias concluses, sendo o

    papel do professor gui-lo para tal atravs de questionamentos.

    Assim, importante que o professor no traga o conhecimento

    pronto no incio, guiando o aprendiz para que chegue resposta.

    Aps a descoberta, poder haver a confirmao do conhecimento

    adquirido. Assim, esta estratgia permite o desenvolvimento de

    reflexo crtica, autoconfiana e autonomia. Segue um quadro com

    este processo (tab. 2), segundo Uszler (In: USZLER et al, 2000):

  • 28

    Aprendizagem por Descoberta Estgio da

    Aprendizagem Papel do Professor Papel do Aprendiz

    Experimentao Estimular a experimentao ou

    causar uma situao que possibilite sua aprendizagem

    Experimentar o elemento musical que se apresenta

    Definio Apresentar o conceito associado situao experimentada Associar o conceito situao

    experimentada

    Internalizao Relacionar o conceito

    apresentado com conhecimentos j estabelecidos

    Internalizar e memorizar a nova experincia a partir da

    associao

    Definio Outra possibilidade de insero deste estgio no processo de aprendizagem

    Reforo Apresentar outras situaes onde a nova habilidade exigida Aplicao prtica da habilidade

    adquirida

    Aquisio - Utilizao autnoma da nova habilidade na prtica musical Tab. 2 Processo de ensino na Aprendizagem por Descoberta

    3.2.4 Problematizao

    Aprendizado atravs da conscientizao sobre um problema

    vivenciado, exigindo a aplicao de conceitos adquiridos

    previamente como forma de solucionar o problema em questo. A

    utilizao desta estratgia requer que o aprendiz j possua uma

    bagagem satisfatria de conhecimentos e habilidades, cabendo ao

    professor avaliar o momento adequado para que esta possa ser

    adotada. Dessa forma, o papel do professor criar uma situao de

    problematizao, guiando o aprendiz para a percepo do problema

    e a busca por provveis solues. Temos adiante um quadro que

    ilustra as etapas desta estratgia na pgina seguinte (tab. 3):

  • 29

    Problematizao Estgio da

    Aprendizagem Papel do Professor Papel do Aprendiz

    Identificao Indicar o problema (iniciantes) ou aguardar sua indicao pelo

    aprendiz (experientes) Perceber e/ou compreender o

    problema

    Definio Guiar o aprendiz at o diagnstico do problema Definir qual o problema

    Planejamento Fornecer subsdios para soluo do problema de forma indireta Decidir percursos para soluo

    do problema

    Experimentao Sugerir formas de experimentar solues Experimentar as solues

    decididas

    Verificao Acompanhar a deciso do aprendiz Optar por uma soluo

    preferencial Confirmao

    Positiva - Aprimorar e internalizar a

    soluo preferencial Confirmao

    Negativa Levar o aluno a perceber que o

    problema no foi resolvido Perceber que a soluo no funcionou, voltando etapas

    Tab. 3 Processo de ensino na estratgia de Problematizao

    3.2.5 Ilustrao e Experimentao

    Aprendizagem atravs de demonstraes prticas do professor,

    ou execuo do aluno a fim de experimentar uma nova habilidade.

    Esta estratgia caracterstica da Performance Musical, permitindo

    tratar do Controle Motor, com aprendizado e aprimoramento de

    habilidades. Ao professor, possvel observar se o aprendiz est

    utilizando movimentos excessivos ou inadequados, orientando-o

    para que o mesmo possa descobrir novas formas de reproduzir a

    mesma idia musical, direcionando sua concentrao para a

    sensao ttil e a anlise dos movimentos. Para o aprendiz,

    importante observar outros executantes, servindo como referncia e

    elemento de motivao. Ainda, o professor pode tocar junto com o

    aluno para reforar questes musicais. Ao tratar de fraseado, por

    exemplo, o professor pode dobrar a melodia, realizando o toque e a

    dinmica de forma mais enftica.

  • 30

    3.2.6 Utilizao de Recursos Tecnolgicos

    Refere-se utilizao de registros sonoros e audiovisuais,

    videoconferncia e programas de computador no ensino da

    Performance Musical. O acesso a gravaes, facilitado pela Internet,

    permite ao aprendiz apreciar recitais de msicos renomados,

    podendo desenvolver a Audio Crtica habilidade fundamental

    para os msicos, no contemplada na abordagem tradicional da

    Percepo Musical atravs da anlise de diversas interpretaes,

    procurando avaliar tcnicas utilizadas e decises interpretativas

    para obteno da sonoridade resultante. Ainda, a gravao da

    execuo do aprendiz permite avaliar sua prpria interpretao,

    desenvolvendo a autocrtica. Por ltimo, reforam-se as tendncias

    atuais do Ensino Distncia (EAD), permitindo o ensino da

    Performance atravs de videoconferncia em locais de acesso

    restrito.

    Diante das estratgias apresentadas, cabe ao professor tomar

    conhecimento das diversas possibilidades de aplicao, avaliando

    seus pontos positivos e negativos.

    3.3 Elementos que influenciam a aprendizagem Aqui, trataremos de questes importantes que podem

    influenciar nas relaes de ensino e aprendizagem da Performance

    Musical, devendo haver a devida considerao por parte do msico

    professor.

  • 31

    3.3.1 Talento

    um fator de influncia histrica no ensino da Performance

    Musical, havendo diversos pontos de vista sobre o assunto. De

    forma mais geral, podemos definir o talento como a rapidez

    demonstrada por um indivduo no processo de ensino e

    aprendizagem. Partindo deste princpio, podemos tecer as seguintes

    observaes:

    Durante muito tempo, o talento foi relacionado a capacidades

    inatas ou dons de um indivduo, talvez por ainda no ser

    possvel explicar de forma lgica o processo de aprendizagem

    ocorrido nestes casos. Infelizmente, esta idia se faz presente at

    os dias de hoje;

    H casos em que pode ocorrer o desenvolvimento de habilidades

    musicais de forma autnoma. Estratgias de aprendizagem tpicas

    do ensino informal como tocar de ouvido e aprender por

    observao tambm permitem assimilar habilidades musicais.

    Sendo assim, a facilidade de aprendizagem se originaria a partir

    de habilidades j internalizadas, como no caso do msico

    prtico. Ainda, o ensino formal raramente reconhece a

    legitimidade destas estratgias de aprendizado, portanto, no

    capaz de explicar esta facilidade;

    Segundo Kaplan (1987), alguns indivduos podem possuir um

    sistema sensorial mais apurado que outros, fator que aceleraria a

    aprendizagem. Todavia, o autor refora que isto nunca fora

    comprovado cientificamente;

  • 32

    Segundo o modelo de Ensino e Aprendizagem da Performance

    Musical, a experincia musical um elemento fundamental no

    processo de ensino. Assim, alguns indivduos podem demonstrar

    maior interesse em aprender estilos musicais especficos de

    acordo com sua bagagem anterior, variando a motivao e,

    portanto, a velocidade do aprendizado, de acordo com os estilos

    musicais contemplados pelo professor;

    H casos em que o talento musical utilizado pelo professor

    como pretexto para distinguir a capacidade de determinados

    indivduos, privilegiando-os no processo de aprendizagem. Trata-

    se de uma medida que, alm de no possuir fundamentos

    cientficos, autoritria, pois no prov oferta de oportunidades

    iguais no ensino para todos. Ainda, demonstra a incapacidade do

    professor em diagnosticar e contribuir para o desenvolvimento

    musical de indivduos que apresentam maiores dificuldades. Por

    ltimo, esta diferenciao pode incitar rivalidades, fato que no

    contribui para estabelecer um ambiente saudvel de convivncia;

    Ainda, h situaes onde a padronizao do nvel de um grupo

    pode dificultar o trabalho com indivduos que possuam maiores

    facilidades de aprendizagem, tendendo a deix-los estagnados e

    desmotivados.

    Diante destas consideraes, sugerimos ao professor avaliar as

    situaes que podem emergir no cotidiano da sala de aula, buscando

    formas de aproveitar ao mximo o potencial de cada indivduo.

  • 33

    3.3.2 Motivao

    Representa o envolvimento do aprendiz com o objeto estudado.

    Com o desenvolvimento da Psicologia Cognitiva, foi comprovado

    que a motivao um elemento fundamental para a aprendizagem,

    pois mantm a concentrao e acelera o processo atravs do

    interesse, sendo um indicador da aprendizagem, considerando que

    a Cognio no confirma este processo (vide Tab. 1). Sendo assim,

    sugerimos em seguida algumas estratgias que podem servir como

    elementos motivacionais:

    Segundo Kaplan (1987), uma estratgia permitir que o aprendiz

    participe da escolha do repertrio, em acordo com o professor.

    Este, por sua vez, deve analisar se a pea condiz com o nvel de

    desenvolvimento musical do aluno, observando ainda que tipos

    de habilidade podem ser trabalhadas.

    Outro elemento motivacional utilizar estratgias de ensino que

    desenvolvam a participao ativa do aprendiz, requerendo sua

    reflexo crtica e tomada de decises.

    O ambiente de vivncia do aprendiz, no somente nas aulas, mas

    com a famlia e os amigos, tambm podem trazer motivao, caso

    haja maior contato com a msica fora do contexto de ensino. Esta

    idia ser discutida posteriormente em Cotidiano Musical.

    3.3.3 Disciplina

    Diz respeito ao cumprimento fiel do planejamento proposto,

    sendo um comportamento essencial para o desenvolvimento do

    msico. Esta caracterstica est presente no ensino tradicional de

  • 34

    Msica, baseado na corrente Behaviorista. Todavia, importante

    compreender que para haver disciplina, no necessrio ser

    rigoroso ou adestrado. Basta conceber disciplina como dedicao

    e interesse, aplicando-se as devidas estratgias de motivao.

    3.3.4 Faixa Etria

    J do senso comum saber que a linguagem utilizada por cada

    faixa etria diferente. Sendo assim, este um aspecto que o

    professor deve ter em mente, buscando formas mais claras de

    transmitir o conhecimento para as diferentes faixas etrias. Adiante,

    ilustramos algumas caractersticas de cada faixa etria segundo

    Uszler (In: USZLER et al, 2000), propondo estratgias de ensino:

    At seis anos (pr-escolar): como o sistema cognitivo ainda no se

    encontra em pleno desenvolvimento, recomendado utilizar uma

    metodologia de iniciao musical no instrumento. Brincadeiras,

    jogos musicais e notao musical abstrata so estratgias

    pertinentes, sem haver exigncia pela disciplina. Segundo Piaget,

    este o estgio pr-operacional, onde o ser humano ainda no

    possui a capacidade de estabelecer procedimentos de estudo e

    reverter processos mentais por conta prpria. Assim, a vivncia

    musical deve ser espontnea, divertida e ldica, desenvolvendo as

    habilidades em carter informal.

    Seis a oito anos (idade elementar): nesta fase, j h a possibilidade

    de interao em grupo, bem como a capacidade de ler, escrever e

    contar. Logo, a introduo partitura deve ser feita nesta etapa.

    Ainda, o controle motor j entra em estgio mais aprimorado,

  • 35

    permitindo trabalhar movimentos mais apurados, podendo ser

    iniciada o aprendizado tradicional da Performance Musical.

    Todavia, ainda no h nesta etapa uma grande capacidade de

    concentrao, no sendo recomendado estender as atividades e a

    prtica por muito tempo.

    A partir de nove anos (idade jovem e adulta): a partir desta faixa

    etria, as capacidades cognitivas passam a funcionar plenamente.

    Porm, h uma tendncia em resistir a novas idias e experincias,

    sendo recomendado que o professor utilize exemplos musicais

    prticos. Outra questo que se torna aparente so os objetivos

    profissionais, sendo que muitos indivduos no desejam estudar

    Msica para se tornarem msicos. Sendo assim, cabe ao professor

    diagnosticar os objetivos de cada um, adotando estratgias de

    disciplina pertinentes, sem exigir nem criar expectativas sobre

    aqueles que no desejam seguir uma carreira musical.

    3.3.5 Definio do Repertrio

    Na Performance Musical, o contedo didtico justamente o

    repertrio. Assim, fundamental que o professor, na definio do

    repertrio para o aprendiz, atente s seguintes questes:

    Permitir ao aprendiz opinar sobre a escolha do repertrio como

    forma de motivao, mostrando opes de peas ou permitindo

    que o mesmo traga uma pea que deseja tocar;

    Diagnosticar se as peas escolhidas so compatveis com as

    possibilidades musicais do aprendiz;

  • 36

    Escolher uma pea de menor dificuldade que permita ao aprendiz

    obter resultados rpidos, servindo como elemento motivacional;

    Em caso de peas que no esto demonstrando desenvolvimento,

    avaliar as relaes do aprendiz com as mesmas, compreendendo a

    razo pela qual o mesmo no est motivado a estud-las;

    A utilizao de estudos e exerccios como parte do repertrio

    necessita de considerao especial. Tais peas surgiram baseadas

    na metodologia de ensino tecnicista, que defende a destreza

    muscular para desenvolver a tcnica. Porm, caso o professor opte

    pelo uso deste material, deve sempre enfatizar o trabalho musical,

    suscitando no aluno ateno sonoridade, assim como fazia F.

    Liszt ao utilizar estes tipos de peas (BOISSIER, 1976).

    3.3.6 Autoestima

    Trata-se da avaliao do indivduo por ele mesmo, sendo um

    fator de grande interferncia no processo de aprendizagem musical.

    A baixa autoestima leva insatisfao com o prprio trabalho,

    diminuindo assim a motivao no estudo. A elevada autoestima,

    por sua vez, faz com que o aprendiz caia em uma situao de

    conformismo, pois no mais se interessa em aprimorar seu trabalho.

    Logo, cabe ao professor buscar estratgias para que os alunos

    equilibrem seu senso de autoestima, atravs do desenvolvimento da

    autocrtica. Esta pode ser trabalhada atravs da reflexo sobre a

    prtica musical, baseando-a no trabalho de outros msicos. Assim,

    possvel estabelecer um parmetro de referncia.

  • 37

    Outra estratgia didtica adotar formas de comunicao em

    determinadas situaes. Para tratar de um aprendiz com baixa

    autoestima, necessrio reforar os aspectos positivos de seu

    trabalho, ofuscados na autocrtica do aprendiz devido ao sentimento

    de incapacidade. Os indivduos com elevada autoestima, por sua

    vez, precisam ter cincia de seu real nvel musical, devendo o

    professor enfatizar neste caso as questes negativas, evitando que o

    aprendiz possa vir a se frustrar em situaes futuras, tendendo

    ento baixa autoestima. Dessa forma, possvel notar a

    importncia em zelar pelo equilbrio da autoestima dos alunos.

    3.3.7 Diferenciao do Nvel de Desenvolvimento

    comum na Performance Musical estabelecer uma distino

    entre os msicos baseando-se em seu nvel de desenvolvimento, em

    especial sob o conceito da tcnica como destreza muscular. Isto

    resultado da concepo Behaviorista de avaliar o produto a parte

    observvel e no o processo. Quando o professor adota esta idia

    em sua prtica pedaggica mesmo que de forma no intencional

    haver uma tendncia em suscitar a rivalidade entre os alunos,

    criando um ambiente de presso psicolgica que por si s j

    nocivo prpria aprendizagem da Performance Musical. Dessa

    forma, propomos ao professor considerar as seguintes questes:

    Cada aprendiz possui sua prpria vivncia, e muitos no esto em

    maior nvel de desenvolvimento no por falta de empenho, mas

    por questes variadas, dentre elas a falta de apoio, recursos

  • 38

    financeiros ou tempo, entre outros. Logo, a dedicao um valor

    mais importante que o patamar de desenvolvimento;

    A sociedade, obviamente, analisa o trabalho do msico pelo

    produto final, ou seja: a apresentao pblica. Logo, o papel do

    professor responsvel pelo processo deve ser mais amplo do

    que simplesmente direcionar o aprendiz para este momento,

    pressionando-o psicologicamente. Trabalhar com Msica significa

    uma vida de dedicao, honra e satisfao acima de tudo, sendo

    este o principal valor a ser cultivado na formao musical. Assim,

    o professor deve transmitir segurana ao aprendiz, deixando-o

    ciente de que todos os msicos passam por situaes de sucesso e

    infelicidades ao longo da carreira, e nem por isso deixam de se

    dedicar Msica.

    possvel fazer msica em qualquer nvel de desenvolvimento

    tcnico. Um pianista iniciante pode tocar uma pea do lbum

    para a Juventude de R. Schumann com a mesma profundidade

    musical de um pianista renomado ao executar o Carnaval Opus 9;

    Zelar por um ambiente saudvel de trabalho, com interao em

    grupo e gosto pelo fazer musical, de inteira responsabilidade do

    professor. Ambientes onde se enfatiza o produto final (a

    perfeio) suscitam rivalidade e presso psicolgica, sendo esta

    ltima um fator que reduz a prpria qualidade da performance,

    devido ao fator psicolgico presente na tcnica musical, discutido

    anteriormente.

  • 39

    3.3.8 Tipos de Personalidade

    Diante da proximidade do contato entre professor e aluno em

    contexto de ensino individual, Uszler (In: USZLER et al, 2000)

    prope considerar padres de personalidade como forma de lidar

    melhor com os alunos. Para tal, possvel se inspirar na idia

    medieval dos quatro humores de forma mais generalizada,

    provendo algumas idias de como se comunicar mediante

    determinadas situaes. Adiante, descreveremos as quatro

    personalidades descritas por Uszler, imaginando uma situao em

    que o professor prope novos tipos de toque em um trecho musical:

    Sanguneo: intuitivo, rpido, realstico e curioso. O indivduo

    experimenta os novos tipos de toque rapidamente, sem se

    importar muito se eles foram dominados. Brevemente, ele logo

    decide pelo tipo de toque que ir usar, sem falar muito. Aqui,

    percebemos que o aprendiz impaciente e ansioso, tomando

    decises rpidas sem se importar em ter segurana;

    Pragmtico: fatual, consistente, dependente e acurado. O aprendiz

    pergunta que tipo de toque mais adequado, e ao experimentar,

    pergunta ao professor se est sendo executado corretamente. Ao

    estabelecer a escolha do toque com o professor, pergunta quanto

    tempo de prtica precisar para domin-lo. Nesta situao,

    observamos que a pessoa tende a seguir um caminho seguro e

    planejado, demonstrando dependncia em relao ao professor;

    Melanclico: lgico, deliberado, analtico e pensivo. Ao iniciar a

    experimentao, o aprendiz logo comenta sobre a sonoridade de

    cada tipo de toque. A seguir, experimenta novas possibilidades

  • 40

    para o toque, combinando habilidades j internalizadas. Pergunta

    se h outras formas de toque alm das mencionadas. Aqui,

    percebemos um aprendiz que deseja ser independente, buscando

    uma forma prpria de toque que seja pessoal, depois da

    experimentao;

    Colrico: sensitivo, idealista, perceptivo e espontneo. O aprendiz

    logo se empolga com a experimentao dos novos tipos de toque,

    associando-os a emoes e imaginando algum que gostaria desta

    sonoridade. Em seguida, pergunta se o tipo de toque utilizado

    anteriormente estava errado. Aqui, observamos um indivduo que

    dificilmente aceita crticas, e no se sente vontade com a

    presena de pessoas no conhecidas. Possuem a tendncia de dar

    respostas que iro agradar a quem perguntou;

    Logo, em determinadas situaes, o professor pode adequar seu

    discurso para obter melhores resultados didticos, tendo em mente

    traos da personalidade do aprendiz.

    3.3.9 Cotidiano Musical

    O ambiente fora do contexto de ensino de suma importncia

    para o desenvolvimento musical. Ir a shows e concertos, assistir a

    vdeos de grandes msicos, interagir com pessoas que dialogam

    sobre Msica e incentivam a prtica musical so algumas das

    atividades fora do contexto de ensino que funcionam como

    elementos motivacionais e catalisadores do aprendizado musical.

    Logo, possvel compreender por que muitos msicos tiveram pais

    que os incentivavam para a prtica musical. Todavia, h casos em

  • 41

    que no h nenhum apoio, sendo que o desenvolvimento musical

    destes msicos se deu com determinao e bravura.

    O estabelecimento de um cotidiano musical interativo um dos

    principais motivos pelo qual o Mtodo Suzuki a estratgia de

    ensino da Performance Musical mais importante do Sculo XX

    obteve tanto sucesso. A Msica Erudita constitui atualmente um

    espao cada vez mais restrito em nossa sociedade. Sendo assim, um

    dos objetivos centrais deste mtodo aproximar os pais da prtica

    musical do aluno, permitindo que o ncleo familiar construsse um

    ambiente musical propcio ao desenvolvimento musical. Logo, o

    aluno podia realizar a apreciao musical junto com sua famlia,

    imergindo em um mundo musical motivador. O estudo da Msica

    Erudita , em diversos ambientes formais de aprendizagem, muito

    solitrio, e ao deixar o contexto de ensino, o aprendiz por muitas

    vezes se v culturalmente isolado.

    A Msica Popular, por sua vez, j no compartilha da mesma

    problemtica. A dificuldade neste ambiente cultural passa a ser o

    estabelecimento de maior disciplina nos estudos, uma vez que a

    demanda profissional abrangente e os trabalhos surgem em curto

    espao de tempo, interrompendo os procedimentos de estudo

    definidos nas aulas. Esta provavelmente uma das principais razes

    que levam msicos neste contexto a desenvolver vcios motores,

    pois a movimentao cultural um atrativo que impede maior

    imerso individual no estudo e aquisio de habilidades saudveis.

    Logo, fundamental que o professor esteja ciente de que o

    cotidiano do aprendiz tambm constitui um fator de influncia no

  • 42

    processo de ensino e aprendizagem. Assim, o professor pode adotar

    estratgias que estejam ao seu alcance, como oferecer aulas coletivas

    que permitam a interao e socializao em grupo, realizar

    apresentaes musicais regulares em carter mais informal com

    lanche aps o recital, por exemplo e incentivar a presena em

    apresentaes musicais, solicitando que o aprendiz convide a

    famlia e os colegas. Ainda, refora-se que estas estratgias podero

    ser benficas tambm ao professor, que criar um movimento

    cultural em sua localidade, formando pblico e reforando a

    abrangncia de seu trabalho na sociedade como agente cultural.

    3.3.10 Audio Crtica

    Esta uma habilidade essencial para a formao de cantores e

    instrumentistas, pouco trabalhada na abordagem tradicional da

    disciplina Percepo Musical. Esta ltima baseia-se especialmente

    em Solfejo e Treinamento Auditivo, desenvolvendo somente o

    reconhecimento de estruturas musicais.

    A Audio Crtica consiste na crtica de interpretaes musicais,

    podendo ser desenvolvida atravs da anlise de gravaes e

    apresentaes ao vivo, onde se observam tomadas de decises dos

    intrpretes. Um exemplo de atividade que permite desenvolver a

    Audio Crtica ouvir duas performances de uma mesma pea,

    acompanhando-as com a partitura. Assim, possvel analisar

    decises interpretativas de trechos especficos, observando o tipo de

    ataque que resultou no timbre percebido, a maneira como cada

    intrprete realizou um crescendo ou um rallentando especfico, entre

  • 43

    outros. Assim, no ensino da Performance tradicional, o professor de

    instrumento acaba sendo o principal responsvel em trabalhar esta

    habilidade, importante para o desenvolvimento da autocrtica.

  • 44

    4. Ensino Formal da Performance Musical

    O objetivo deste captulo tecer breves consideraes para a

    definio de propostas ou reformas curriculares que contemplem a

    Performance Musical, diante das amplas possibilidades de atuao

    musical nos dias de hoje. Novos saberes e habilidades passam a ser

    necessrios, sendo fundamental contempl-los nos currculos das

    instituies de ensino musical.

    4.1 Contextos de ensino Historicamente, so utilizados dois tipos de contexto didtico

    da Performance Musical: ensino individual e coletivo. Em seguida,

    h uma anlise destes contextos, reforando a funcionalidade de

    cada um deles e suas possibilidades de aplicao:

    4.1.1 Ensino Individual

    O contexto mais caracterstico de ensino da Performance

    Musical. Ocorre como em uma relao entre mestre e aprendiz, com

    a transmisso tanto de conhecimentos quanto de habilidades

    inerentes profisso. Permite maior dedicao de ambas as partes,

    sendo adequado para trabalhar a Performance Musical em nveis

    mais complexos, considerando a demanda de informaes

    necessrias neste contexto. Em termos econmicos, o ensino

    individual dispendioso para a instituio, podendo trazer

    problemas de implantao, em especial no atual contexto poltico

    brasileiro, com o intenso aumento do nmero de alunos em Escolas

    e Universidades pblicas. Todavia, o professor deve sempre reforar

  • 45

    o objetivo qualitativo de sua proposta didtica, em contraponto s

    polticas educacionais de nmeros.

    4.1.2 Ensino Coletivo

    Ambiente de aprendizagem com mais de um indivduo,

    permitindo adotar uma ampla variedade de metodologias. Em

    termos econmicos, o ensino coletivo mais vivel, sendo adotado

    principalmente em escolas regulares e projetos sociais, onde no se

    dispe dos mesmos recursos de uma instituio de ensino musical.

    A primeira das possibilidades metodolgicas a Oficina de

    Performance, utilizada como recurso complementar ao ensino

    individual. Nesta, possvel trabalhar a nveis complexos de

    Performance, abordando interpretao musical, autocrtica,

    interao em grupo e ansiedade na Performance.

    A segunda opo a master-class, baseada em aula individual

    com conceitos apresentados para o grupo. Esta consiste em uma

    exposio de questes tcnicas e interpretativas, de forma

    dogmtica. Logo, no representa uma atividade em grupo, pois esta

    caracterizada pela participao ativa de todos no fazer musical.

    Outra possvel abordagem a Msica de Cmara (caracterstica

    da Msica Erudita) ou Prtica de Conjunto (termo para a Msica

    Popular), baseada em especial na formao de grupos instrumentais.

    Assim como na Oficina de Performance, um ambiente rico para

    tratar de questes interpretativas, com interao em grupo.

    Contudo, o tratamento de questes tcnicas restrito, pois pode

    haver diversos tipos de instrumentos, requerendo abordagens

  • 46

    idiomticas prprias. Logo, um contexto bastante apropriado para

    trabalhar questes interpretativas.

    H ainda a formao de grandes grupos instrumentais, como

    orquestras, bandas de sopros e corais, entre outros. Neste contexto,

    torna-se comum a figura do regente, responsvel pelo equilbrio da

    interpretao musical em grupo. Porm, devido ao grande nmero

    de msicos, acaba no havendo tempo para dialogar sobre questes

    de interpretao musical, caracterizando ento uma abordagem

    dogmtica, assim como em master-classes.

    Por ltimo, h a iniciao musical a partir da Performance,

    sendo o nico dos contextos que no exige pr-requisitos musicais.

    Assim, a metodologia se caracteriza pela abrangncia de questes

    musicais envolvidas, podendo trabalhar composio, improvisao,

    percepo, anlise, audio crtica, leitura de partituras e tcnica

    instrumental, entre outros, utilizando Msica Popular, Folclrica,

    Erudita ou Contempornea, por exemplo. Neste contexto, refora-se

    a elaborao de arranjos como metodologia, permitindo utilizar

    improvisao como parte do processo composicional, abordar

    repertrio de interesse do grupo, trabalhar teoria e percepo

    musical de forma prtica, adotar estratgias do ensino informal

    como tocar de ouvido, tratar de questes interpretativas e

    tcnicas, e adequar a composio ao nvel de cada indivduo, sem

    haver a necessidade de separ-los por estgio de desenvolvimento.

    Esta estratgia muito motivadora, pois todos so importantes para

    o fazer musical, independente de seu nvel. Ainda, refora-se a

    aprendizagem colaborativa mencionada por Fisher (2010), onde o

  • 47

    grupo aprende atravs da interao com os colegas, por observao

    e parceria.

    Diante das diversas possibilidades oferecidas pelos contextos

    de ensino e aprendizagem da Performance Musical, necessrio

    definir aqueles que sero pertinentes a sua proposta de formao,

    contemplando os conhecimentos e habilidades fundamentais ao

    perfil profissional almejado

    4.2 Perfil Profissional Ao definir o carter de atuao pretendido, devemos ter em

    mente as duas correntes gerais de formao: o especialista, que

    possui grande conhecimento especfico de uma rea, e o generalista,

    que transita em diversas reas. Assim, necessrio estar ciente dos

    pontos positivos e negativos de cada vertente profissional:

    Especialista: seu domnio em uma rea especfica permite grande

    competncia no exerccio da profisso. Porm, pode no estar

    preparado para atuar em uma sociedade em constante mutao,

    que necessita de reflexo constante sobre sua prxis e dilogo com

    outras reas do conhecimento;

    Generalista: sua formao o prepara para transitar em diversas

    reas. Todavia, h o risco de que o domnio de vrias reas seja

    superficial, reduzindo sua capacidade operacional como um todo.

    Um exemplo conhecido do generalista o professor polivalente

    de Educao Artstica, cuja formao contemplava vrias reas

    das Artes. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB n

  • 48

    9.394/1996) acabou por extinguir esta formao, pois se mostrava

    superficial.

    Uma soluo vivel equilibrar as duas vertentes, formando

    um profissional com amplo conhecimento especfico e capaz de

    dialogar com outras reas. No currculo, esta idia possvel atravs

    da flexibilizao curricular, com a presena de disciplinas optativas.

    Cada aluno, alm de cursar disciplinas obrigatrias especficas da

    rea de formao pretendida poder optar pelos saberes que mais

    lhe interessam, permitindo uma formao slida e variada.

    Levando esta idia Msica, vamos supor que um Bacharelado

    em Piano possua este tipo de matriz curricular. Todos os alunos

    faro as disciplinas obrigatrias de Piano, Percepo, Harmonia e

    Histria da Msica, podendo optar por Orquestrao ou Arranjo

    caso se inclinem para Composio, Psicologia da Educao ou

    Pedagogia do Piano caso desejem lecionar, Prtica de Gravao ou

    Edio de Partituras se quiserem atuar com tecnologias aplicadas

    Msica, e Gesto Cultural ou Elaborao de Projetos se desejarem

    trabalhar com organizao de eventos musicais. Logo, a instituio

    formar pianistas com habilidades diferenciadas, assegurando-lhes

    espaos mais amplos de atuao na sociedade. Ainda, importante

    notar que esta medida evita a concorrncia, pois cada um ir

    usufruir de sua formao em campos de atuao distintos.

    4.3 Possibilidades de Atuao Historicamente, a rea de Performance Musical visa prtica de

    instrumentos e canto, sendo esta sua natureza fundamental. Em

  • 49

    complemento a esta formao, devemos analisar os possveis

    campos de atuao dos profissionais j inseridos na sociedade,

    pesquisando as competncias necessrias no trabalho e dialogando

    com a atual matriz curricular e seus objetivos formativos.

    A seguir, haver sugestes de campos para atuao afins

    Performance Musical, indicando saberes e habilidades necessrios

    em cada contexto:

    4.3.1 Performance Musical

    Campo de atuao tradicionalmente contemplado pelas

    instituies de ensino musical, baseado na interpretao de obras do

    repertrio solo. Concentra-se na memorizao a partir da leitura de

    partituras, ensino individual e conhecimentos tericos tradicionais

    (Percepo, Harmonia, Contraponto e Histria da Msica Erudita,

    entre outros). Por muito tempo se acreditou que esta a formao

    ideal, onde o msico egresso poderia adaptar as competncias

    adquiridas s demandas profissionais. Porm, esta formao se volta

    somente s habilidades necessrias para a atuao solo, sendo que o

    trabalho realizado em grupos musicais tambm comum rea de

    Performance exige competncias diferenciadas, como audio

    crtica, leitura primeira vista, tranposio e interao em grupo,

    entre outros. Ainda, h um movimento recente de integrar a

    Performance da Msica Popular, requerendo competncias afins

    como Improvisao, Arranjo e Leitura de cifragem popular. Logo,

    possvel perceber a diversidade de habilidades necessrias ao

    msico da atualidade, definindo uma linha de formao principal

  • 50

    (solista, camerista ou acompanhador) e disciplinas que permitam

    desenvolver habilidades complementares.

    4.3.2 Ensino da Performance Musical

    Campo significativo de atuao, cujas competncias so

    negligenciadas na formao tradicional do msico. Dessa forma,

    grande parte dos msicos formados acabam por desenvolver

    estratgias de ensino da Performance de forma emprica, pois h

    poucas referncias voltadas a este campo de atuao em lngua

    portuguesa. Por constituir um ambiente de ensino diferenciado em

    especial atravs de aulas individuais a aplicao prtica de

    referncias da rea de Pedagogia possuem aplicao restrita no

    ensino da Performance. Ainda, os cursos de formao para

    professores de Msica no contemplam as habilidades necessrias

    para ensino de instrumentos, sendo que legalmente segundo a

    LDB n 9.394/1996 a prtica de ensino restrita aos portadores de

    Licenciatura Plena, no havendo uma formao profissional

    qualificada para o ensino da Performance. Este um dos problemas

    mais evidentes do ensino de Msica no Brasil atualmente, fato que

    exige ampla reviso das propostas curriculares das instituies de

    ensino musical.

    4.3.3 Tecnologia Musical

    Um tipo de atuao com crescente demanda a produo

    musical em estdio, principalmente na Msica Popular, dada a

    proximidade desta com os meios eletroacsticos. Neste contexto, so

    utilizados programas para manipulao de udio e edio de

  • 51

    partituras, bem como conhecimento sobre Acstica e tcnicas para

    captao de som. O estdio tambm pode ser utilizado como

    ambiente para o ensino musical, especialmente em carter

    particular. possvel utilizar programas para fins pedaggicos,

    tanto para edio de udio quanto para treinamento auditivo e

    instruo musical. Ainda, h a possibilidade de adotar

    videoconferncia para o ensino da Performance Musical.

    4.3.4 Organizao de Eventos

    Caractersticas da indstria cultural na atualidade fizeram

    emergir uma novo perfil: o msico independente, que organiza

    eventos, capta recursos, providencia espaos e divulga o evento. No

    Brasil, as Leis de Fomento Cultura so uma possibilidade de

    captar de recursos, apesar de ainda no possurem mecanismos bem

    definidos para distribuio de renda. Outra possibilidade a

    atuao em projetos sociais, sob fins educativos, promovendo maior

    acesso Msica, formao de pblico e realizao de eventos

    musicais. Sendo assim, alguns tipos de conhecimento necessrios

    so Administrao, Legislao e Publicidade, levando o msico a se

    aproximar da poltica para o exerccio de sua profisso. Logo,

    refora-se a necessidade de organizao da classe em sindicatos que

    possam defender os interesses dos msicos e promover aes

    pblicas para exerccio digno da profisso.

    4.3.5 Pesquisa em Msica

    Uma possibilidade de atuao para msicos que passaram pelo

    ensino formal trabalhar com pesquisa. Dentre os diversos campos

  • 52

    de atuao, como a Performance, Educao Musical, Musicologia e

    Etnomusicologia, destaca-se a elaborao de material didtico bem

    fundamentado, referncias de suma para o ensino musical, porm,

    escassas no Brasil. Conhecimentos afins a este campo so

    Metodologia do Trabalho Cientfico e da Pesquisa adaptada

    Msica, tendo em mente as caractersticas particulares do saber

    artstico.

    Por ltimo, a construo da matriz curricular deve espelhar os

    objetivos da formao, diante da diversidade do campo profissional

    da Msica e das competncias necessrias para cada tipo de atuao.

    Na Performance Musical, o objetivo principal prover uma base

    para a prtica de instrumentos e canto, sendo este o ncleo principal

    de disciplinas. A flexibilizao curricular ir permitir ao aluno optar

    pelos conhecimentos afins aos demais campos de atuao, atravs

    das disciplinas optativas. Este conjunto de saberes ir constituir

    parte do Projeto Poltico-Pedaggico, que alicera todo o contexto de

    ensino de uma determinada habilitao, sendo tratado a seguir.

    4.4 Projeto Poltico-Pedaggico Constitui todo o planejamento para a oferta de uma habilitao,

    contemplando de forma mais geral os seguintes pontos:

    Contexto histrico-cultural da regio;

    Importncia da habilitao oferecida para o desenvolvimento

    regional;

    Dilogo entre a instituio e a sociedade;

    Perfil profissional pretendido atravs da habilitao;

  • 53

    Requisitos de ingresso por parte dos pretendentes habilitao;

    Matriz curricular, com suas respectivas disciplinas e ementas;

    Infraestrutura necessria, contemplando espao fsico, materiais,

    livros, professores, funcionrios, servios temporrios e

    permanentes;

    Observncia da legislao vigente.

    A forma de exposio destes pontos, bem como sua exigncia,

    podem ser regidos por Lei, em especial por Conselhos Estaduais de

    Educao ou pelo Ministrio da Educao.

    4.4.1 Legislao sobre o ensino de Msica

    Abaixo, segue a legislao vigente do ensino de Msica no

    Brasil, referente ao ano de 2011:

    Educao Bsica (Ensino Regular)

    LDB n 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educao Resoluo CEB n 01, de 17 de Dezembro de 2009 - Diretrizes Curriculares

    Nacionais (DCN) para a Educao Infantil Resoluo CNE/CEB n 02, de 07 de Abril de 1998 - Diretrizes Curriculares

    Nacionais (DCN) para o Ensino Fundamental Resoluo CNE/CEB n 02, de 07 de Abril de 1998 - Diretrizes Curriculares

    Nacionais (DCN) para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos Lei n 11.769/2008 - Obrigatoriedade da Msica na Escola Regular

    Educao Profissional (Nvel Tcnico)

    LDB n 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educao Resoluo CNE/CEB n 04, de 08 de Dezembro de 1999 - Diretrizes

    Curriculares Nacionais (DCN) para a Educao Profissional de Nvel Tcnico Resoluo CNE/CEB n 01, de 03 de Fevereiro de 2005 - Atualiza as

    Diretrizes Curriculares Nacionais da Educao Profissional de Nvel Tcnico, com base no Decreto n 5.154/2004

    Parecer CNE/CEB n 04, de 27 de Outubro de 2005 - Educao de Jovens e Adultos no Nvel Tcnico, com base no Decreto n 5.478/2005

  • 54

    Resoluo CNE/CEB n 03, de 09 de Julho de 2008 - Implementa o Catlogo Nacional de Cursos Tcnicos de Nvel Mdio

    Resoluo CNE/CEB n 03, de 30 de Setembro de 2009 - Sistema Nacional de Informaes da Educao Profissional e Tecnolgica (SISTEC)

    Lei n 11.788, de 25 de Setembro de 2008 - Regulamentao do Estgio Parecer CNE/CP n 15, de 04 de Agosto de 2009 - Categoria profissional dos

    professores de Cursos Livres e Educao Profissional Tcnica de Nvel Mdio

    Educao Superior

    LDB n 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educao Resoluo CNE/CES n 02, de 08 de Maro de 2004 - Diretrizes Curriculares

    Nacionais (DCN) para a Graduao em Msica Resoluo CNE/CP n 01, de 18 de Fevereiro de 2002 - Diretrizes

    Curriculares Nacionais (DCN) para a Licenciatura Plena Resoluo CNE/CP n 02, de 18 de Fevereiro de 2002 - Carga Horria e

    Durao dos Cursos de Licenciatura Plena Lei n 11.788, de 25 de Setembro de 2008 - Regulamentao do Estgio

  • 55

    5. Final

    O presente trabalho procurou oferecer subsdios que sirvam

    como ponto de partida para a Pedagogia da Performance Musical

    em nvel elementar, oferecendo idias para que instrumentistas e

    cantores possam refletir sobre sua prtica sob olhares mais amplos.

    Mesmo com a escassez de referncias sobre este assunto na

    atualidade, possvel observar movimentos recentes em direo ao

    desenvolvimento desta rea no pas, a fim de gerar discusses mais

    aprofundadas e prover ferramentas que possam adequar a formao

    tradicional s recentes demandas sociais, com melhor exerccio da

    profisso pelo msico da atualidade.

    Ressalta-se ainda que o atual contexto favorvel, com a

    elaborao de trabalhos que tratam deste tema em diversos

    Programas de Ps-Graduao do pas. Daqui a alguns anos,

    provvel que a insero na sociedade de msicos com este novo

    perfil ir contribuir de forma efetiva para o desenvolvimento da

    rea como um todo, disseminando novos saberes, habilidades e

    idias.

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    Referncias Bibliogrficas

    BOISSIER, A. Liszt Pdagogue. Gnova: Slatkine Reprints, 1976. CERQUEIRA, D. L. Proposta para um Modelo de Ensino e Aprendizagem da Performance Musical. Revista Opus, vol. 15 n 2. Goinia: ANPPOM, dez-2009, p.105-124. CHAILLEY, J. 40.000 aos de Msica. Luis de Caralt Editor, Barcelona, 1970. CHANG, C. C. Fundamentals of Piano Practice. Disponvel em http://www.pianofundamentals.com, 2009. F