mooca em movimento

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Futebol da solidariedade Jogo beneficente reúne antigos craques da rua Javari Esporte | pág 10 Grupo quer conservar passado da Mooca Projeto desenvolvido na internet luta pela manutenção do patrimônio e raízes do bairro Nosso Bairro | pág 04 Cresce o número de homicídios, lesões e furtos no distrito Segurança | pág 07 Conheça a história de pessoas que dão vida ao bairro Especial | pág 08 Pesquisa de preço é a melhor opção para economizar Economia | pág 06 Saiba quem são seus representantes na Câmara Municipal nos próximos 4 anos Política | pág 16 Em 2013 Memorial do Imigrante reabre com novidades Está na Mooca Pastel Kyoto é o melhor de São Paulo Cultura | pág 14 Nosso Bairro | pág 03 Da TV Raul Gil revela seu carinho pela região Cultura | pág 15 Novembro de 2012 Mooca, São Paulo | Edição nº 1 | Distribuição Gratuita MOOCA em movimento

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Page 1: Mooca em Movimento

Futebol da solidariedadeJogo beneficente reúne antigos craques da rua Javari

Esporte | pág 10

Grupo quer conservarpassado da MoocaProjeto desenvolvido na internet luta pela manutenção do patrimônio e raízes do bairro Nosso Bairro | pág 04

Cresce o número de homicídios, lesões e furtos no distrito

Segurança | pág 07

Conheça a história de pessoas que dão vida ao bairro

Especial | pág 08

Pesquisa de preço é a melhor opção para economizar

Economia | pág 06

Saiba quem são seusrepresentantes naCâmara Municipalnos próximos 4 anos

Política | pág 16

Em 2013Memorial do Imigrante reabre com novidades

Está na MoocaPastel Kyoto é o melhor de São Paulo

Cultura | pág 14Nosso Bairro | pág 03

Da TVRaul Gil revela seu carinho pela região

Cultura | pág 15

Novembro de 2012Mooca, São Paulo | Edição nº 1 | Distribuição Gratuita

MOOCAem movimento

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2 SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2012 - EDITORIAL

EDITORIAL

PARA FICAR NA MEMÓRIAMARIANA ALVES

Parece que ontem foi dia 14 de agosto de 2012, uma terça-feira ensolarada pela manhã, quando tivemos a primeira aula da matéria de Planejamento Gráfico e Edito-rial Jornalístico, com os mestres Roberto Ferreira e Cleofe de Sequeira. Eles nos apresentaram a proposta: um jornal para o bairro da Mooca. A partir daí era conosco. Vou contar para você, nosso leitor, que iniciar um novo projeto não é nada fácil. Ainda mais quando se está em uma turma muito grande e cheia de desejos e ideias.Desde a escolha do nome, colocamos mesmo a “mão na massa”. Cada detalhe desta primeira edição foi pensado com muito carinho. Queríamos que não apenas o projeto gráfico fosse apreciado, como a qualidade das matérias e dos assuntos tratados. Tudo prezando pela excelência!Fomos a campo para conversar com os entrevistados e ou-vimos muitas histórias, e cada uma delas mexeu conosco a sua maneira. Tiramos fotos – muitas fotos – até achar a que ilustraria da melhor forma o tema abordado. Também descobrimos a singular vida do bairro da Mooca, um dos mais antigos da cidade de São Paulo, que acolheu imigrantes de diversos lugares do mundo, principalmente

durante a Segunda Guerra Mundial. Cada um dos mora-dores do lugar tornaram-no único e especial para a cidade. E resolvemos destacar todos esses aspectos positivos, mas não deixamos de lado a segurança, a política e, claro, o esporte. Depois veio o desafio de transformar tudo isso em ma-térias estruturadas, com delicadeza em cada palavra em-pregada e também de ser diferente do que já temos no mercado. Afinal, a nossa geração deve aprimorar o que já existe e inovar, não é mesmo?Durante todo o processo, as aulas teóricas estiveram pre-sentes. Aprendíamos como diagramar o jornal, fazer a composição de cores e fontes, dar aquela maquiada para deixar as fotos mais bonitas quando impressas. Além de entrar no meio das grandes empresas jornalísticas im-pressas e conhecer como funcionam as produções diárias, mensais, semestrais, e para todos os tipos de público. Que em cada página desta primeira edição do “Mooca em Movimento”, você, nosso leitor, possa sentir aquilo que queremos passar: a informação em seu modo mais puro e verdadeiro. Quem sabe não nos encontramos em outras edições?

Dia 28 de outubro é dia de São Judas Tadeu, santo do qual minha mãe é devota e todos os anos vai até a igreja no Jabaquara para agradecer às graças alcançadas, enfim até aí tudo normal. Fui buscá-la no metrô e conversando sobre como estavam as comemorações, ela me falou que tinha um senhor que chamou sua atenção. Ele vestia uma cami-sa bordô, cor do Juventus, com a seguinte frase ‘‘Orra meu, eu sou da Mooca’’, e ela ficou com uma vontade imensa de falar com ele. Que mesmo dentro da igreja, que por sinal fica do outro lado da cidade, estava falando alto e com uma felicidade típica do moquense.Sou frequentadora do bairro desde que nasci, e confesso que esse amor excessivo dos moquenses por muito tempo me irritou, mas hoje já vejo de outra forma. Em que outro bairro de São Paulo, uma pessoa sai com esse amor todo estampado no peito, como o senhorzinho que minha mãe encontrou? É um amor saudosista que chega a se confundir com as lembranças da história da cidade e com as das pessoas. E não existe discussão para os amantes do bairro, eles deixam qualquer um sem argumentos de que realmente é o melhor bairro de São Paulo. A palavra ‘’Mooca’’ tem origem do tupi e quer dizer ‘’nossa casa, nosso abrigo’’. Foi exatamente isso que os imigrantes europeus encontraram quando chegaram aqui. Em sua maioria italianos, se instalaram na Mooca para trabalhar-em nas fábricas, carro-chefe do bairro no início do século XX, deixaram sua cultura espalhada por cada cantinho dele.Seja em uma cantina, nas festas que viram tradição e talvez no mais importante legado, o sotaque, que se tor-nou parte da identidade do Estado.Quando vão se referir, ou fazem alguma imitação de pau-listas, soltam logo expressões como um ‘’meu’’, ou ‘’belo’’, cheios de entonação, ou com o falar cantado e até mesmo com uma leve falta de ‘’s’’ nas palavras no plural. O sotaque moquense virou até discussão para o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cul-tural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), que teve um pedido do vereador Juscelino Gadelha, para tornar o sotaque patrimônio da cidade, mas não há previsão para que o pedido seja incluído na pauta do Conpresp.Por tudo isso e mais um pouco, mesmo tendo problemas – sendo esses difíceis de serem assumidos pelos moradores apaixonados – como qualquer outro bairro, a Mooca é ir-resistível. Como uma macarronada na casa da nonna, você pode até pensar em algo para evitar, mas é impossível não se deliciar, nem que seja um pouquinho. Mooca è sempre Mooca Per tutta la vita!

CRÔNICAMARCELLA ADYR

COMO NÃO AMARA MOOCA?

“MOOCA EM MOVIMENTO”Jornal laboratório produzido pelos alunos da disciplina Planejamento Gráfico e Editorial Jornalístico, do curso de Jornalismo, da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi

Professores responsáveis:Profª. Drª. Cleofe Monteiro de Sequeira (MTB 8987) Prof°. Ms. Roberto Ferreira da Silva

CULTURAAlexandre Garcia, Caio Pelegrine, Carolina Rodriguez, Fe-lipe Affonso, Jéssica Cidrao, José Santana, Michelle Muniz, Noely Souza, Rebeca Torres, Regina Dourado, Rodolfo de Macedo, Vanessa Cavalcante, Wellington Monteiro.

ECONOMIA Ana Claudia Coelho, Marcelo Venceslau, Paula Vieira, Raquel Aderne, Yasmin Bazaan.

ESPORTEBeatriz Bertho Lasci, Bruna Kondo, Caio César, Cesar Catelani, Christian Bender, Kaique Andere, Leon Bokany, Lucas de Aveiro Fernandes, Marilia Mello, Melissa Mili-navicius, Paula Rodrigues Trindade, Tuany Bras.

ESPECIALBianca Amparo, Edson Caldas, Luísa Monteiro, Mariana Alves.

NOSSO BAIRROAnderson Leonardo, Hermínio Bernardo, Janaina Neves, Joice Delgado, Marcella Adyr, Marina Guerini.

POLÍTICAJuliana Turini, Mariana Paiva, Natália Chibotti, Pamela Rodrigues.

SEGURANÇABruna Brasil, Elisa Queiroz, Karen Cabral, Luís Adorno.

EXPEDIENTE

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SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2012 - NOSSO BAIRRO 3

dobrou, chegando a vender quase mil pastéis por feira. “O atendimento aqui é muito bom, além da qualidade do pastel. A massa é sequinha”, diz a dona de casa Cleide

Varela que comia o pastel pela segunda vez apenas. “Eu vim provar, pelo sucesso que está fazendo.”

O gerente comercial Cláudio Bueno frequenta a bar-raca Kyoto há dois anos. “Pastel é tradição. Venho aqui quase toda semana porque é muito bom, e pela higiene também.” A Kyoto já está presente em 16 feiras espalhadas pela cidade por várias regiões. “Nós só não temos barraca na Zona Norte, mas queremos expandir ainda mais”, afir-ma Ayumi.Além do prêmio em dinheiro, os mais bem vota-

dos de cada região terão o direito de vender seus produtos na próxima Virada Cultural.

Quando? Toda quarta-feira, das 7h às 14h. Onde? Rua Madre de Deus, na altura do número 600. Quanto

custa? Pastel Kyoto: R$ 3,00. Pastel Umetsu: R$ 3,50.

Passados os portões do parque, o som potente do rock clássico avisa que a tranquilidade de interior, caracterís-tica predominante dos finais de semana no local, não es-tará presente. O motivo de toda agitação é o encontro mensal dos mem-bros da Associação dos Proprietários de Veículos Antigos do Estado de São Paulo (APAVAESP). Além dos apaixona-dos por carros, as máquinas raras e totalmente originais conseguem agradar desde as crianças, até os mais expe-rientes.A exposição ao ar livre conta com mais de 220 automóveis, entre fuscas, opalas, continentais e motonetas com mais

A feira livre da rua Madre de Deus na Mooca tem os dois melhores pastéis da cidade. O concurso “O Melhor Pas-tel da Cidade de São Paulo” premiou os pastéis Kyoto e Umetsu como primeiro e segundo colocados.Os profissionais de gastronomia que compunham a banca avaliadora levaram em conta o sabor, a qual-idade e a textura do recheio e da massa, além da qualidade da fritura dos pastéis de carne de cada participante. Buscando um resultado mais justo, os jurados não sabiam de que barraca era o pas-tel que estava sendo julgado, pois a degustação foi feita às cegas.“A qualidade está sempre em primeiro lugar, essa é uma das nossas diretrizes para trabalhar”, afirma Cecília Umetsu, responsável pelo pastel Umetsu, segundo colocado na avaliação.Em 2011, a Kyoto ficou na quinta colocação do con-curso. A gerente Ayumi Ito conta o segredo da vitória: “ano passado utilizávamos o mesmo tempero de sempre no pastel de carne, que era sal e cebolinha. Este ano nós colocamos manjericão”.Após o concurso o movimento da barraca praticamente

OS MELHORES PASTÉIS DE SP ESTÃO AQUIHERMÍNIO BERNARDO

Foto: Barraca do pastel Kyoto na r. Madre de Deus |Anderson Leonardo/Mooca em Movimento

Exposição de carros é ótima opção de lazer para moradores da Mooca | Joice Delgado/Mooca em Movimento

MOOCA SERVE DE PALCO PARA DESFILE DE CARROS ANTIGOSJOICE DELGADO

Complexo Taquari recebe antigomobilismode 30 anos de fabricação. Sua grande maioria conta com a Placa Preta, certificado de originalidade emitido pelo COTRAN (Conselho Nacional de Trânsito), garantia da dis-pensa da inspeção veicular e do porte de equipamentos obrigatórios exigidos após a sua fabricação. Para isto, é necessário passar por uma avaliação onde são levadas em consideração a originalidade e estado de conservação do automóvel.Assim como a legalização, as histórias acompanham os veículos onde quer que eles estejam. Cada um deles rep-resenta uma geração inteira, cheias de vivacidade, energia e valores emocionais ou, até mesmo, novas oportunidades.

Willians Ferlin exibia seu Chevrolet 1953 e conta que o hobby tornou-se uma grande fonte de renda. “Comecei como colecionador, mas logo veio o primeiro pedido para fazer o casamento de um casal de amigos. Depois disso, a demanda foi tanta que abri uma agência de locação de automóveis antigos. Hoje além do Chevrolet 1953, tenho um 1951 e um Ford 1929”.Segundo Carlos Guimarães, presidente da Associação e re-sponsável pela organização do encontro, a exposição não serve apenas para promover o desfile de carros deslum-brantes, o significado para os colecionadores é muito maior.“O objetivo inicial é promover a reunião de pessoas que partilhassem de um gosto, a paixão por carros antigos. Mas as afinidades e os encontros nos fazem conhecer um ao outro e no final ela torna-se um encontro de amigos que amam carros”, diz o organizador do evento, dono de um fusquinha preto extremamente brilhante.Todos os encontros acontecem no terceiro domingo de cada mês, e o próximo será no dia 16 de dezembro, no complexo da rua Taquari. Para mais informações, acesse www.negociosantigos.com.br ou ligue para 98207-6544.

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Existe um sobrado do início do século 20, no cruzamento das ruas da Mooca e Barão de Jaguara, cercado por um muro de tijolos, hoje em sua maior parte pichado. O imóvel de dois andares foi erguido em meados de 1910, quando a Fábrica de Tecidos Labor se instalou na região. Do terreno da propriedade que a indústria se apropriou até o fim de suas operações, ainda fazem parte cinco gal-pões, uma vila operária e um edifício anexo.Mas, além de traços do passado fabril da Mooca, o con-junto arquitetônico das antigas indústrias Labor carrega marcas que refletem o abandono das construções e a cru-eldade do tempo.As “rugas” estão por toda parte. Janelas quebradas, vidros estilhaçados, reboco faltando. À noite ou em dias nubla-dos, o número 815/825 da rua da Mooca pode parecer casa mal assombrada. Perfeito para um cenário de filme de terror. Péssimo para um bairro de origens tão ricas, que tem nesse edifício de mais de cem anos uma parte de sua essência.O caso, infelizmente, repete-se ao longo de toda a região, principalmente na Mooca Velha. Muitas das construções antigas se encontram deterioradas, em situação similar ou até mesmo pior.A boa notícia é que grande parte do desgaste é reversível, desde que políticas de preservação e revitalização mais sérias sejam colocadas em prática. Os idealizadores do projeto Piccola Europa sabem disso.

ORIGEM E FORMAÇÃOVocê pode não se lembrar ou nunca ter ouvido falar dele. Tudo bem, a Piccola Europa é “relativamente nova”, con-forme explica seu idealizador, o médico psiquiatra Dr. Alfredo Toscano Jr., 51. “Foi no final de 2003. Reuni um pequeno grupo numa pizzaria da Mooca começamos a

pensar o projeto ali.”Alfredo não é da Mooca, nem de São Paulo. Nasceu em Belém e veio para a capital em 1986, para fazer Residên-cia Médica em Psiquiatria. Morou em Higienópolis, Zona Sul, até que se mudou para cá, há 14 anos, e se sensibi-lizou com que acontecia à Mooca Velha. Hoje, com a ajuda de outras pessoas e instituições, luta pelo bairro como se fosse seu berço.Os quase 2.500 quilômetros que o separavam da Mooca há meio século, traduzidos na vontade de construir um bairro melhor, refletem-se também, em proporções difer-entes, nos membros da Piccola Europa. Tem gente da Mooca, de outros lugares de São Paulo, de outras cidades, Estados e até mesmo países. Qualquer interessado pode participar, graças às redes sociais.Foi na internet que o projeto começou a tomar forma. Hoje, é numa página do Facebook (bitly.com/piccolaeuropa) que o grupo primeiramente se reúne, para discutir os problemas da região e depois levá-los à Subprefeitura. Nas pautas, figura toda e qualquer tipo de ação que vise à manutenção dos patrimônios históricos materiais e ima-teriais do bairro.

PRINCIPAIS OBJETIVOSA preservação das raízes europeias é um dos objetivos do projeto. “Com uma história de componente cultural tão forte, a Mooca é múltipla e peculiar”, afirma Toscano. Ele se refere às consequências da intensa onda imigratória de europeus ao Brasil, a partir do final do século 19.Incentivada pelo império brasileiro após a abolição da es-cravidão, em 1888, foi importantíssima não só para o país, como para o bairro. Italianos, portugueses, espanhois, alemães, croatas, russos e muitas outras comunidades ajudaram a construir a Mooca que conhecemos hoje.

Prédio na rua da Mooca com a Barão de Jaguara sofre com o abandono e o tempo | Anderson Leonardo/Mooca em Movimento

A diversidade, aliás, está estampada no nome do projeto (“Pequena Europa”, em tradução livre, do italiano) e nas origens do próprio Alfredo. “Tenho ascendência italiana e portuguesa. E sou judeu”, conta.Outra preocupação é com a especulação imobiliária, que vem mudando todo o cenário da região. Poderosas, as construtoras adquirem os edifícios antigos, que fazem parte da história do bairro, e erguem, no lugar, prédios cada vez mais altos. Para Toscano, não há uma mentali-dade de preservação. “As pessoas inclusive acham que verticalização significa progresso.”Na Europa, as coisas são diferentes

SEDE E FUTUROUm dos maiores receios de Alfredo é ver o sobrado das an-tigas indústrias Labor, na rua da Mooca, transformado em “espigão”. É nele que o grupo pretende sediar o projeto, o que vai possibilitar a transferência das discussões virtuais para reuniões presenciais frequentes, um dos maiores de-safios atuais da Piccola.O caso, porém, é delicado. Por um lado, o casarão pertence hoje à família Mahfuz – embora raramente esteja ocupa-do por algum membro, segundo Alfredo. Isso significa que pode ser vendido quando bem entenderem.No entanto, o conjunto arquitetônico do qual faz parte está em processo de tombamento pelo Condephaat (Con-selho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico). Qualquer intervenção que venha a descaracterizá-lo fica vedada até decisão final da autori-dade competente.Haveria destino melhor para o edifício do que a sede de uma futura organização não governamental voltada para a preservação do bairro? Se depender dos integrantes da Piccola, a história da Mooca não vai se perder tão fácil.

PEQUENA EUROPA

Projeto quer preservar as raízes europeias e o patrimônio do bairro

ANDERSON LEONARDO

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SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2012 - NOSSO BAIRRO 5

Existem mais de 100 cortiços espalhados pela região da Mooca

CORTIÇO, A SOLUÇÃO PARA QUEM NÃO PODE TER UM LUGAR SÓ SEUMARCELLA ADYR

Quarto, cozinha, sala e banheiro pintados, telhado refor-mado, fachada restaurada. Por trás desta fachada de casa de classe média, esconde-se um dos problemas da Mooca: a existência de mais de 100 cortiços espalhados pela região. Considerados pelos movimentos sociais como o maior problema do bairro, os cortiços ficam escondidos em ruas e avenidas. Dentro de cada um destes conglom-erados urbanos existem famílias numerosas, que dividem um único cômodo, na maioria das vezes sem ventilação al-guma. No entanto, quem passa pela rua não percebe que, por trás de uma fachada pintada, pode estar escondido um cortiço.A proximidade dos cortiços da região central é caracterís-tica desde o século 19, quando os imóveis foram construí-dos próximos às fábricas para abrigar imigrantes. Atual-mente, são imóveis alugados principalmente por famílias de baixa renda que preferem morar perto do trabalho. Os migrantes compõem grande parte da população dos cor-tiços. O maior atrativo da localização é justamente ser um bairro de classe média e com a vantagem de seus mora-dores poderem ir a pé ao trabalho.Para todos viverem bem, existem algumas regras de con-vivência a serem seguidas: as contas de água e luz são rateadas entre os moradores, e quem recebe visita paga a mais pelo período da estadia. É necessário também ter noção de barulho, já que os cômodos são bem próximos.Entre as ruas Visconde de Inhomerim e Guaimbé, na altura do número 600 da rua Madre de Deus, existe uma dessas moradias coletivas. São cômodos com quarto, cozinha e banheiro. Tudo muito bem conservado, pintura recente, com esgoto e água encanada. Neste vivem nove famlias. É o caso de Kátia da Silva Oliveira, mãe de Davi, de 3 anos. Ela trabalha em uma gráfica; e a única moradia que pode

pagar é essa. “Acho que estou bem aqui. Tenho água e luz incluídos no aluguel, não tenho telefone, mas o espaço é bom para mim e meu filho. Sem contar que confio nos vizinhos.”Sobre a possibilidade de dar certo um projeto da Subpre-feitura de revitalizar os cortiços existentes na região, em processo desde 2007, e realizado em conjunto com a Sec-retaria Municipal de Habitação e com a Companhia de De-senvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), Kátia acha que seria ótimo, mas tem seus medos. ‘’Se for para sair daqui com a promessa de uma moradia melhor, é lógico que eu vou! Mas só se for um lugar melhor mesmo. Para sair daqui com o meu filho e ir para um albergue e esperar tudo acontecer lá, prefiro ficar aqui e pagar por um lugar certo’’.Quem cuida do local em que Kátia vive é dona Geralda Alves, responsável pela administração. Embora ela não seja a proprietária, gerencia o pagamento das contas.

Dona Geralda observa tudo o que é seu | Marcella Adyr/Mooca em Movimento

“Cuido disso tudo como se fosse meu. A Prefeitura nunca aparece aqui, e o dono é tão rico que nem lembra disso tudo. Eu cuido, eu trato, porque é minha casa e minha fonte de renda. Já gastei mais ou menos uns 15 mil aqui.”O desenvolvimento do bairro anda junto com as moradias coletivas. A Mooca cresceu em vários sentidos, princi-palmente na vertical; inúmeros prédios foram tirados do papel. Desde a construção do primeiro, os cortiços repre-sentam uma saída para quem não tem condições de pagar para viver em um local só seu.E com o aumento dos preços das moradias em bairros da Zona Leste por causa da Copa do Mundo de 2014 e os investimentos nessa região da cidade, os cortiços continu-arão a ser uma saída.Por isso, Dona Geralda acredita que sempre existirão cor-tiços. “Você acha que isso aqui acaba? Acaba nada. É im-possível! O povo precisa morar. Está muito caro morar em São Paulo e o jeito é morar em lugares como este’’.

Problemas são fatos comuns em um bairro, cidade ou país. Lixo, trânsito, violência, sinalização, iluminação e pavi-mentação são alguns dos mais citados pelos moradores do bairro da Mooca em São Paulo. “Durante os horários de pico, a avenida Paes de Barros fica

MORADORES CITAMPROBLEMAS E SUGEREM MELHORIASMARINA GUERINI E JANAÍNA NEVES

intransitável, fazendo com que as ruas ao redor também fiquem. Normalmente das 17h30 às 19h é praticamente impossível de andar, e isso tudo piora muito quando cho-ve. Principalmente próximo ao viaduto Brésser, que retém água, e os veículos têm que diminuir mais a velocidade para passar”, afirma Marco Teixeira, condutor escolar na região.Outro toque para a Subprefeitura é a necessidade de um local para a prática de esportes e lazer com estrutura e acesso para todos. “Como melhoria, sugeri que limpas-sem e cuidassem melhor das praças do bairro e colocas-sem brinquedos nessas praças para que pudéssemos levar nossos filhos para brincar nos fins de semana”, diz Aline França, professora, 29 anos.

Apesar de algumas reclamações, grande parte dos hab-itantes diz não encontrar problemas no bairro, o que faz com que muitas pessoas acabem se mudando pra cá, como no caso da empresária Gláucia Regina, de 32 anos. Ela veio para a Mooca em 2008, devido à maior segurança e ao nível de criminalidade baixo. Mas Gláucia afirma que com mais iluminação, câmeras de vigilância e vigilantes, esse índice cairia ainda mais.O que seriam, então, as dificuldades perto de toda a alegria e familiaridade que o bairro transmite? Quem nas-ceu, cresceu ou presenciou as mudanças feitas no bairro ao longo de sua história enxerga uma Mooca diferente. Famílias, clubes, empresas e tradições chamam a atenção e orgulham os moradores.

Page 6: Mooca em Movimento

6 SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2012 - ECONOMIA

Grande diferença no preço entre supermercados chama atenção das donas de casa

Bairro da Mooca surpreende na compra de final de mêsAna Claudia Coelho, Paula Vieira, Yasmin Bazaan, Raquel Aderne, Marcelo Venceslau

Economizar na compra de final de mês é hoje uma das maiores dificuldades da dona de casa. O bairro da Mooca surpreende os consumidores com a diversidade de super-mercados, que possibilita uma economia no orçamento doméstico.Equilibrar a qualidade, ao preço e à comodidade não é uma tarefa muito fácil, mas no bairro da Mooca essa tarefa se torna um pouco menos complicada, quando o consumi-dor se depara com a variedade de produtos e mercados.O bairro localizado na Zona Leste de São Paulo apresenta desde mercados de pequeno e médio portes até super e hipermercados, desde mercados varejistas até mercados atacadistas, o que traz uma diversidade enorme para quem faz compras na região.De acordo com uma pesquisa realizada no mês de outubro de 2012, foi possível constatar a diferença de preço, tanto de um mercado para o outro dentro do mesmo bairro, quanto de uma mesma rede de supermercados em dife- rentes regiões.Segundo o economista Robson Saraiva, “o principal motivo é a localização. Como existem bairros, com pessoas com diferente poder aquisitivo, existem supermercados com diferentes preços também”. Buscando ainda facilitar essa tarefa das donas de casa, o economista Robson Saraiva separou algumas dicas de como economizar nas compras. “A principal dica é pes-quisar, sempre ler os folhetos onde constam promoções e ofertas de diversos produtos da cesta básica”. A busca por promoções e descontos é sempre vantajosa. É realmente importante atentar-se a essas promoções. Vários varejis-tas fazem propaganda enganosa, dizendo que um produto está em promoção, mas isto não é verdade. Vale pesquisar, sempre”. O economista conclui dizendo que quem faz a pesquisa de preço, pode verificar que a economia na com-pra é bastante significativa.Com a variedade de supermercados encontrada na região, os consumidores podem optar em realizar a compra em um mercado varejista ou em um mercado atacadista: o importante é balancear. Por exemplo, se a família for pequena e o consumo da mesma forma, optar pelo varejista pode ser uma boa opção; já se a família é grande e o consumo for da mesma forma, ou se a compra é feita de forma a garantir manutenção de outro estabelecimento, optar pelo mercado atacadista pode ser a melhor opção.De acordo com uma pesquisa realizada na região, tomando como base os alimentos e produtos que compõem a cesta básica, no valor final da compra, a diferença de preço pode chegar de 6,02% a 26,76% em comparação a um mer-cado varejista e um mercado atacadista respectivamente, analisando dois mercados varejistas essa diferença pode chegar de 6,02% a 7.64%.Diante de tais pesquisas fica evidente a importância da

pesquisa de preço antes de realizar a compra, no entanto de 12 pessoas entrevistadas apenas quatro fazem pes-quisa de preço, sendo que uma leva em conta somente o preço, duas levam em conta a qualidade, uma leva em conta a localização do mercado em relação à comodidade.E num total de 12 pessoas, quatro tentam equilibrar os três pontos para finalizar a compra do mês.Em meio a tantos critérios para escolher e definir onde comprar e como economizar nas compras, o valor final desse gasto no mês tende a variar de família para família, no entanto, a diferença é significativa para aqueles que

pesquisam antes de comprar.Se realmente existe essa diferença de preço, como expli-car essa variação de valores dentro de uma mesma rede de mercados? “De uma região para a outra varia, mas é muito pouco, a margem de diferença é pouca, depende muito do “cluster” da região”, explica Maria Aparecida Almeida, ge-rente de uma rede de mercado atacadista do bairro. A ge-rente ainda conclui, explicando que a expressão “cluster” está ligada à classe social que envolve a zona primária do mercado.O bairro da Mooca de fato traz ao consumidor um leque extenso de lugares e possibilidades de realizar a compra de forma econômica, tanto, que não são só os moradores do bairro que desfrutam dessa oportunidade afirma o gerente de um mercado de pequeno porte da região da Mooca, Adnailton Santana do Nascimento. Ele conclui, “tenho bastante cliente aqui do bairro, muito mesmo, mas também tenho clientes que vêm de fora.” A “compra do mês” é algo inevitável na vida das famílias brasileiras, mesmo comprando aos poucos, ou finalizando a compra em uma simples ida ao mercado, todos de fato, frequentam mercados e o custo não é tão baixo. Vale a pena se atentar à dica do economista Robson Saraiva, ficar de olho em panfletos e até mesmo em anúncios da mídia, como rádio e jornais, realmente funciona. A pesquisa ainda é a melhor saída para quem procura economizar.

25%

37%

38%

Critérios utilizados para a escolha do mercado

Localidade

Preço

Qualidade

Supermercados da Mooca contam com produtos que vão desde alimentação até utilidades domésticas | Foto: Raquel Aderne

Page 7: Mooca em Movimento

SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2012 - SEGURANÇA 7

REFORMAS VISAM MODERNIZAR 18º DP

Governo do Estado investe mais de R$ 750 mil no sistema elétrico, hidráulico e tecnológico da delegacia

LUÍS ADORNO

O 18º Distrito Policial, localizado na Rua Juventus, passa por reformas desde o dia 31 de julho deste ano. São mais de R$ 750 mil investidos na modernização completa do local, que inclui toda a parte elétrica, hidráulica, além da implantação de tecnologia para agilizar o trabalho dos policias no atendimento. De acordo com a delegada da 5º seccional de Polícia Civil, Elisabete Sato Lei, “esta reforma era necessária há muito tempo”. Segundo ela, o bairro ganhará, ao término das obras, uma delegacia mais preparada para atender a todas as ocorrências necessárias.

“A cadeia estava interditada, com infiltração interna, que poderia causar uma pane por sobrecarga de energia”, diz. Além de corrigir o que era necessário, a delegacia será modernizada. “Ampliaremos o local e deixaremos mais moderno para melhor atender a população. Também im-plantaremos internet. Onde já se viu uma delegacia sem um ponto de internet?”, ressalta.O término de toda a obra estava previsto para o final de novembro, entretanto este prazo deve se prolongar. “Tive-mos percalços no decorrer da obra. Um dos banheiros, por exemplo, nós tivemos de aterrar, já que estava oco”, co-menta.A verba destinada à reforma da delegacia está inclusa em recursos destinados à Policia Civil e foi liberada por uma Consultoria Jurídica.

As principais propostas apresentadas no Plano de Gov-erno do prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), para a segurança da cidade envolvem uma trans-formação da GCM (Guarda Civil Metropolitana) em uma guarda comunitária, a ampliação de videomonitoramento, a implantação do programa ‘Crack é possível vencer’ e re-formulação do projeto Operação Delegada. Para o fortalecimento da GCM, Haddad propõe que os poli-ciais da corporação atuem em ambiente de trabalho que já conheçam, a fim de reconhecerem as lideranças locais. Enquanto candidato, o petista anunciou que visa uma in-tegração maior de videomonitoramento junto à CET (Com-panhia de Engenharia de Tráfego), Corpo de Bombeiros e polícias.Já o programa “Crack é possível vencer” prevê ações inter-setoriais, envolvendo profissionais e projetos nas áreas de saúde, assistência social, emprego, educação, ambiente ur-bano, cultura, lazer, e esportes, que será desenvolvido em parceria com o Governo Estadual e Federal, para combater o uso da droga na cidade. Haddad propõe ainda que a Operação Delegada, imposta no governo de José Serra (PSDB) quando era governador de São Paulo, não tenha mais como prioridade a fiscalização de camelôs, e sim a inibição de determinadas condutas em bairros de maiores índices de violências e crimes.

HADDAD PROMETE GUARDA COMUNITÁRIAKAREN CABRAL

CRIMINALIDADE NA MOOCA CRESCE 11,3% EM 2012BRUNA BRASIL E ELISA QUEIROZ

Considerado um dos bairros mais tranquilos da cidade de São Paulo, durante anos, a Mooca apresenta, entre 2011 e 2012, crescimento nos índices de criminalidade. De acordo com os dados divulgados pela Secretaria de Segu-rança Pública do Estado de São Paulo, reunidos por intermédio da Coordenadoria de Ánalise e Plane-jamento, até o último mês de setembro a região teve um aumento geral que ultrapassou os 11%, com números elevados pelas ocorrências de furto, lesão corporal, homicídios e estupro. A região da Mooca é coberta por dois Distritos Policiais, no Alto da Mooca (18º DP) e no Parque da Mooca (57º DP), que até o mês de setembro de 2012 registraram um total de 3.377 ocorrências, comparado com 2.984, registrados até o mesmo período de 2011. Os dois tipos de lesões corporais – dolosa e culposa – foram os delitos que mais apresen-

taram aumento entre os registros do ano, com elevação de 15,6% e 13,3%, respectivamente. O crescimento destes índices teve influência direta dos casos ocorridos em decorrência de acidentes de trânsito, que representaram

cerca de 40% dos casos de lesão. Os furtos também ocorreram em maior quantidade na região, com crescimento de 11,69%. Outro número preocu-pante foi o de estupro, que teve os casos triplicados neste

ano, com três ocorrências, registradas em 2011, que saltaram para dez em 2012.Em 2009, a Polícia Militar divulgou que a Mooca estava há dois anos sem registrar assassinatos, mas em 2012 os índices fugiram desta avaliação, com um aumento influenciado pelos acidentes de trânsito. O número de homicídios culposos subiu de sete para 11. Já os dolosos, que em 2011 havia sido registrado apenas uma ocorrência, somaram quatro até setembro deste ano. Apesar do aumento da criminalidade, alguns ti-pos de delitos apresentaram pequena redução no número de ocorrências, como os roubos de veícu-los que tiveram queda de 9,25%.

Secretaria de Segurança Pública mostra alta em ocorrências de furto, lesão corporal, estupro e homicídios

Fachada do Distrito Policial em reforma, na rua Juventus | Foto: Luís Adorno/Mooca em Movimento

MOOCAem movimentoUm novo conceito de jornal de bairro

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8 SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2012 - ESPECIAL

ANÔNIMOS “FAMOSOS” DA MOOCA BIANCA AMPARO, EDSON CALDAS, LUÍSA MONTEIRO E MARIANA ALVES

Era uma segunda-feira de outubro quando entramos pela primeira vez na Di Cunto. Logo na entrada nos depara-mos com fotos antigas da família. É evidente o valor que dão a sua história. Três homens em frente a um carro, uma família reunida, uma construção antiga. Foram as imagens que mais nos chamaram atenção, mas elas não foram as únicas a nos atrair: vitrines cheias de doces não passaram despercebidas.Apesar de ser hora do almoço, o ambiente estava calmo, apenas alguns clientes se reuniam na área de alimen-tação. Fomos bem recebidos desde o início. Contamos à recepcionista o propósito de nossa visita – escrever sobre moradores da Mooca – e ela prontamente nos auxiliou. Enquanto aguardávamos a chegada dos representantes da empresa, vimos um livro aberto sob o balcão, que contava histórias de muitas famílias tradicionais da Mooca, entre elas a da própria família Di Cunto.Fernanda Di Cunto veio ao nosso encontro para saber o que realmente precisávamos e nos encaminhou a seu primo. Lá, toda a família trabalha em conjunto, sendo cada um responsável por um setor. Marco nos recepcionou e sentamos para conversar. Durante quase uma hora, ele nos contou em detalhes toda a trajetória de seus antepas-sados, que teve início na Itália, com seu bisavô paterno.Em 1878, Donato Di Cunto chega ao Brasil. Incentivado pela mãe, ele parte da Itália ao encontro de seu tio em Montevidéu, no Uruguai, à procura de melhores oportu-nidades. Como era analfabeto, foi orientado a descer no terceiro porto, porém um surto de doença contagiosa du-rante a viagem fez com que o navio fosse obrigado a parar

para quarentena. “A gente estima que esta parada tenha sido em Recife”, comenta Marco. O itinerário original seria Rio de Janeiro, Santos e Montevidéu. “Este imprevisto o confundiu: considerou o porto de Santos como a terceira parada, e desembarcou”, complementa.Sem dinheiro para voltar, Donato chegou numa época em que o país ainda não tinha muitos imigrantes, por isso, era difícil se comunicar. No entanto, o italiano se esforçou para conseguir um emprego e começou a trabalhar como carpinteiro no Banco União. Com o tempo, conquistou seu espaço na empresa e teve oportunidade de estudar.

Anos depois, em 1895, juntamente com seu irmão José – recém-chegado da Itália – fundou uma das primeiras padarias de São Paulo, na rua Visconde de Parnaíba. Após uma viagem à sua terra natal para visitar a mãe, voltou casado e inaugurou a segunda padaria, com o intuito de trazer toda a família para o Brasil. O terreno, onde construiu não somente a panificadora, como também uma casa, foi comprado de um grande empresário da época, Borges de Figueiredo, que hoje dá nome à rua sede

Mesmo com a grandeconcorrência, a Di Cunto, aos poucos, conseguiu ampliar os negócios

da família

da empresa Di Cunto.Quando foi buscar a família, Donato encontrou resistên-cias que o fizeram desistir de voltar ao Brasil. Seu irmão José tomou a frente dos negócios por um tempo, depois alugou o imóvel e também regressou à Itália. Mesmo longe, Donato cultivou grande carinho pelo país que lhe acolheu, passando isso a seus dez filhos.Após sua morte, em 1933, os herdeiros se juntaram para retomar os negócios do pai no Brasil. Com a Segunda Guerra Mundial prestes a eclodir, Lorenzo e Miquelina são os primeiros a chegar, com objetivo de reformar o casarão. “Quando a casa está ok, eles dão o sinal verde para o restante da família”, conta Marco.No dia 14 de março de 1935, Vicente, Lorenzo, Roberto e Alfredo reacendem o forno que o pai havia deixado, tor-nando-se uma data simbólica para a Irmãos Di Cunto Ltda. A partir desse momento é considerada a fundação oficial da empresa, hoje com 77 anos. “Eles recomeçam pratica-mente do zero. Só tinham essa casa, não tinham know-how, pois na Itália haviam trabalhado na carpintaria com o pai. Tiveram que aprender o ofício de padeiro”, explica.Mesmo com a grande concorrência, a Di Cunto aos pou-cos conseguiu ampliar os negócios, com muito suor de toda a família. Atualmente, possuem outras três lojas, sendo a da rua Borges de Figueiredo, sua sede e fábrica. Consolidaram assim uma história, que “não é apenas ex-clusividade da família Di Cunto”, complementa Marco. Muitos foram aqueles que chegaram às terras brasileiras por acaso, constituíram famílias e patrimônios. E o mais importante: construíram a história da Mooca.

DI CUNTO: 77 ANOS DE HISTÓRIA

Fernanda e Marco Di Cunto trabalham no escritório localizado na sede da empresa | Foto: Luísa Monteiro

A família italiana trouxe para a Mooca um novo conceito de panificação

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SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2012 - ESPECIAL 9OUTRAS HISTÓRIAS

Há mais de setenta anos na rua do Hipódromo, a padaria Haway, comandada por Rosângela Peezzo, é referência para moradores do local. Italiana, natural da Sicília, a atual dona do estabelecimento casou-se com o filho do funda-dor e depois de comprar parte da panificadora, tornou-se

SABOR DA MOOCAsócia majoritária. Há trinta anos no comércio da Mooca, Rosângela aponta a violência, em função das drogas, como a maior transformação negativa do bairro. Apesar disso, a fidelidade dos clientes, que considera como parte de sua família, faz da Mooca um lugar especial.

GLAMOUR ENTRETESOURAS E TINTURASVenâncio Miguel, mais conhecido como Miguel Batata, veio morar na Mooca aos dois anos de idade, onde cresceu e se tornou o primeiro visagista do Brasil. Já na infância, ao ir com sua mãe ao salão de beleza, descobriu seu tal-ento: ser cabeleireiro. Lutou contra o preconceito, estudou muito, fez cursos no exterior e ganhou muitos prêmios na-cionais e internacionais. Batata se tornou o HairStylist de muitos famosos, dentre eles Zezé di Camargo e Luciano. Mesmo com o sucesso, mantém o salão no bairro. “Já tive salão em bairros nobres, mas preferi ficar aqui na Mooca e as celebridades vieram comigo”. Para ele, “A Mooca um é Luxo, não troco esse bairro”.

PARCERIA DE LONGA DATANa esquina da rua Javari com a Iolanda, Nelson de Oli-veira conversa com Lino Turcato, seu cliente há muito tempo. Com 63 anos de Mooca, o barbeiro mais antigo do bairro, coleciona histórias e fregueses assíduos, como Tur-cato, que mesmo não morando mais em São Paulo, sempre

volta para visitar o amigo e cortar o cabelo. Os dois con-tam que o bairro passou de região industrial para residen-cial. “Na rua da Mooca, mal dava para andar por causa do movimento”, comenta Lino. (Na foto acima, Nelson aparece com seus antigos colegas, 50 anos atrás.)

Valdir Vieira trabalha na região há vinte anos. Conhecido por seu serviço de guincho, o Vovô, como é carinhosamente chamado, até deixou a Mooca por um tempo, mas não se adaptou no Litoral e voltou. O mecânico, que viaja e anda de moto nas horas livres, acredita que é em São Paulo, que o dinheiro circula. Ao comparar a Mooca de hoje com a de antigamente, fala com tristeza: “´Perdemos nossa paz de espírito. Antes, eu ia almoçar e deixava a oficina aberta sem preocupação”.Mas, ele admite que um fato não mudou: quando seus cli-entes o encontram na rua, soltam o bordão que vovó Valdir criou: “Bom dia, bom dia”.

VOVÔ:BOM DIA, BOM DIA!

“MOOCA PARA MIM É TRADIÇÃO”Nascido e criado no bairro, Gustavo Demovis conta que a história de sua família começou em 1920. Morou por 31 anos na mesma casa e coleciona muitas memórias. Relem-bra das brincadeiras da infância. “Meninos e meninas se

juntavam para brincar na rua, uma experiência que as cri-anças de hoje não podem ter”. Gustavo comenta que mui-tos lugares ainda continuam iguais. “É um lugar do qual me orgulho de fazer parte. Mooca para mim é tradição.”

Morador de Itaquera, mas taxista da Mooca, Ednaldo Alves Silva, já faz parte do bairro, onde trabalha com seu taxi, há 22 anos, sempre no mesmo ponto: na esquina da Rua da Mooca com a João Antônio de Oliveira. Sobre as trans-formações da região, afirma que as “mudanças são para melhor”. Ednaldo conta que as transformações favorecem monetariamente o bairro.

DESTINO: RUA DA MOOCA

FOTOS: LUÍSA MONTEIRO

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10 SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2012 - ESPORTES

JUVENTUS E PREVENT SENIOR DÃO UM SHOW DE BOLA E SOLIDARIEDADE

Tradicional clube da Mooca realiza partida beneficente, que reuniu grandes craques do passado

CESAR CATELANI, KAIQUE ANDERE E lEON BOKANY

No último dia 27, a famosa rua Javari foi palco de um jogo beneficente, que chamou a atenção dos moradores da região. Ex-jogadores do futebol paulista, como Ademir da Guia, Dudu, Serginho Chulapa e Biro Biro enfrentaram os veteranos sócios do Clube Atlético Juventus.O evento foi promovido pelo plano de saúde “Prevent Senior”, patrocinador oficial do Juventus, e tinha como objetivo principal a arrecadação de alimentos para cinco paróquias da Mooca. Para quem quisesse assistir a par-tida, bastava trocar um quilo de alimento não perecível por um ingresso. Segundo Fernando Parrillo, representante da Prevent Senior, “a intenção é iniciar uma parceria com o América do Rio, para promover as duas entidades e fazer mais eventos de cunho social como este”.O dia foi marcado por uma grande confraternização. Ex-atletas profissionais se encontraram antes do jogo para reviver os velhos tempos. Ídolos do passado se mistura-vam entre os torcedores para acompanhar o jogo prelimi-nar entre Juventus e Portuguesa, pela categoria sub-12. O ex-atacante do Santos Pepe marcou presença e recordou dos tempos de jogador, quando atuou no charmoso está-dio. “A minha primeira partida como profissional foi aqui na Rua Javari. O Santos fez um jogo amistoso e eu estreei aqui contra o Juventus, que ganhou por 4 a 3”, lembrou o segundo maior artilheiro do Santos, atrás apenas de Pelé.”

“Dá gosto de ver jogos assim e lembrar do futebol de antigamente.”

Maestro Antonio Carlos Martins

Outra figura ilustre que chamou a atenção dos torcedores assim que chegou ao estádio foi João Carlos Martins, fã de futebol, e torcedor da Portuguesa. “Dá gosto de ver jogos assim e lembrar do futebol de antigamente, quando ainda não era tomado por empresários”, afirmou o maestro.Dentre os atletas que entraram em campo, um dos mais visados pelos torcedores foi Ademir da Guia, jogador que mais vezes vestiu a camisa do Palmeiras. Com pressa para ir ao vestiário, o “divino” falou rapidamente. “É sempre especial poder rever os amigos e jogar futebol, especial-mente para uma causa tão bonita, como essa da Prevent Senior.”Pontualmente às 11 da manhã, a partida principal começou e os craques do passado mostravam que a téc-nica continua apurada. Mas o time do Juventus também tinha sua estrela. José Maria Marin, atual presidente da CBF e sócio do clube, atuou na equipe dos atletas de fim de semana.A partida foi bastante equilibrada, com lances bonitos e engraçados para ambos os lados. Porém, as redes não balançaram e o placar final foi 0 a 0. Mesmo assim, quem compareceu ao estádio saiu satisfeito por refres-car a memória com grandes ídolos e, o mais importante, ajudar a quem precisa.

Maestro Antonio Carlos Martins ao lado do Presidente do Juventus

Antes do jogo, José Maria Marin (ao centro) posa ao lado de sócios do Juventus no vestiário

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SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2012 - ESPORTES 11CLUBE DE BOCHA OFERECE ATIVIDADES RECREATIVAS PARA MORADORESBEATRIZ BERTHO LASCI, MARILIA DE MELLO E PAULA RODRIGUES

Localizado em uma área residencial, a Associação de Bocha dos Aposentados da Mooca (ABAM) oferece ativi-dades recreativas para moradores de diversas regiões de São Paulo. O clube que tem a bocha como esporte prin-cipal, também é frequentado por pessoas que se reúnem para jogar cartas, dominó e bilhar, além de promover a interação dos associados com festas.Devido ao forte fluxo de imigrantes vindos da Itália para o bairro, a vontade de jogar bocha - um esporte tipica-mente italiano - nasceu antes da ideia de criar a ABAM. João Domingues, atual secretário do clube, conta que an-tes de possuir sede própria, os moradores iam até a praça Alexandre Fleming para praticar o esporte.“Na época, não tinha muito o que fazer no bairro da Mooca, era apenas um campo de bocha e ao lado tinha um de futebol” lembra João, sendo este um dos motivos para que em 1965, os senhores Daniel Bellot, Orlando Biazoli e Paulo Pinheiro fundassem a ABAM, com a ideia principal de criar um local com ambiente familiar onde moradores pudessem passar o tempo e se divertir. Quarenta e sete anos depois, a bocha continua sendo

KUNG FU, UMA ARTE MILENAR PRESENTE NO BAIRRO DA MOOCACAIO CAPPATO, LUCAS DE AVEIRO FERNANDES E CHRISTIAN BENDER

O Brasil é conhecido como o país do futebol, um esporte que faz parte da cultura brasileira e está presente no nosso cotidiano. Atualmente, outras modalidades de es-portes vêm ganhando destaque entre os brasileiros, é o caso das artes marciais, que com a popularização do MMA tem quase a mesma audiência que o futebol.O bairro da Mooca, conhecido justamente pelo futebol, através do Clube Atlético Juventus, hoje tem como grande representante na modalidade das artes marciais a As-sociação Mooca de Kung Fu Garra de Águia. A academia foi fundada há vinte anos pelo Shifu (professor) Jurandir Lima, campeão nacional e internacional de Kung Fu. Hoje, o Shifu Anselmo Vieira é o responsável por ensinar o Kung

o esporte mais praticado no clube, que conta com vinte e duas pessoas no time oficial, todos inscritos na Federação Paulista de Bocha e Bolão (FPBB). O time de bocha do ABAM participa todo ano de, pelo menos, um campeonato e já acumula incontáveis troféus de tor-neios disputados na região. “Inclusive, ano passado nós fomos campeões de bocha da Zona Leste” completa João Domingues.Além de oferecer um ambiente agradável e familiar, quem frequenta a ABAM encontra mesas de carteado, bilhar e dominó para total interação entre os membros. Todos os finais de semana, também são realizadas festas e almoços para arrecadar renda. Para os associados, é um local para repor as energias e reencontrar os amigos. Além disso, a diretoria comunica que não é necessário ser do bairro da Mooca para frequentar o local. Hoje, o clube já possui cerca de 200 associados com idades vari-adas. O grupo, que teve sua primeira sede na Rua Itaqueri, ag-ora funciona na Rua Benjamin Reis, número 105, de terça a sábado, das 14h30 às 21h e de domingo até às 15h. Time da ABAM disputa jogo oficial de bocha

Shifu Anselmo Vieira

Fu na academia, que já formou diversos alunos. Anselmo afirma que a maioria dos alunos procura o kung fu para melhorar o seu condicionamento físico e como uma forma de aprender uma defesa pessoal. “Os alunos nos procuram porque se identificam com o estilo da luta e querem mel-horar a auto defesa com os atributos que a modalidade oferece”.O aluno Victor Wo pratica o Kung Fu há cerca de dois anos e foi medalha de ouro no campeonato internacional de Kung Fu do ano passado. Hoje tornou-se instrutor na aca-demia onde treina e ensina a turma das crianças, conhe-cida como “os tigrinhos”. Neste ano o agora instrutor Victor, realizou a primeira cerimônia de troca de faixas dos seus alunos tigrinhos que fizeram uma apresentação impecável.

“O Kung Fu é uma arte que me conquistou. Eu treino para evoluir sempre e procuro passar todos os meus conhecimentos para os meus alunos”, explica Victor.

Aluno executa técnica de Kung Fu

Esporte típico da Itália é a principal atividade em clube da Mooca

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12 SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2012 - ESPORTES

Torcida juventina vibra durante o jogo

Fundado em 20 de abril de 1924, o Clube Atlético Ju-ventus tem uma história no futebol de 88 anos. Locali-zado na região da Mooca, mais precisamente na rua Ja-vari sua história no futebol começou um ano depois de sua fundação, em 1925, quando Rodolfo Crespi ofertou à agremiação um amplo terreno, que antes era utilizado como cocheira de cavalos, para ser o campo, onde hoje é situado o estádio. Em 1929, ainda jogando com o seu primeiro nome, o Co-tonifício Rodolfo Crespi F.C., teve seu acesso à elite do futebol paulista. Um ano depois, em 1930, teve seu nome mudado para Clube Atlético Juventus e seu uniforme que era vermelho, preto e branco, passou a ser grená e branco.O time estreou no dia 16 de março de 1930, jogando con-tra o Santos F.C na Vila Belmiro e foi derrotado por 6 x 1. Já em setembro do mesmo ano, o Garoto, como era con-hecido, surpreendeu a todos ganhando do Corinthians em pleno Parque São Jorge por 2 x 1, e assim surgiu apelido “Moleque Travesso”. Na inauguração do estádio Conde Rodolfo Crespi, Juventus jogou contra o Corinthians que venceu a partida. Segundo Pelé, seu gol mais bonito aconteceu no estádio juventino, em 1959. Um busto do craque foi inaugurado¬ em 2006, em homenagem ao seu gol. Na década de 60, inagurou o clube, empreendimento com grande espaço poliesportivo e social, com o passar dos anos, o Clube se transformou num dos maiores da América

Latina, até hoje situado na Rua Comendador Roberto Ugo-lini, na Mooca.O time conquistou grandes vitórias, nos anos de 70 a 80 como o Torneio do Japão, conquistando assim seu primeiro título internacional contra a seleção japonesa. Nos anos 90, depois de uma campanha fraca, o Juventus depois de quase quarenta anos na elite do futebol, foi rebaixado em 1994, depois disso teve uma série de rebaixamentos o que levou o time a Série C, que no mesmo ano conseguiu o acesso a Serie B.

Em 2007, foi campeão da Copa Federação Paulista de Futebol, o que garantiu um marco na história do clube, uma vaga na Copa do Brasil, a segunda competição mais importante do país. Infelizmente um ano depois o time so-freu novamente com o rebaixamento para a Serie A2. Com o time já em crise pelo rebaixamento, em 2009 o time foi rebaixado a Série A3, onde permaneceu por três anos, mas esse ano conquistou o acesso para a Série A2.

“O primeiro de muitos. O segundo de todos”. A expressão juventina, mostra o espírito para o ano que vem. Torcedor desde que nasceu Carlos Alberto, 57, diz: “espero que ano que vem, tenhamos jogadores com mais experiência, a Sé-ria A2 é mais difícil, vai precisar de novas contratações”. Muito mais que uma reunião de pessoas, os jogos do Ju-ventus são uma verdadeira confraternização entre amigos.Muito mais que uma reunião de pessoas, os jogos do Ju-ventus são uma verdadeira confraternização entre amigos. E esse é espírito para o ano que vem.

Busto do Pelé no Estádio Conde Rodolfo Crespi

JUVENTUS, O MOLEQUE TRAVESSO MARCA HISTÓRIA NA MOOCABRUNA KONDO, MELISSA MILINAVICIUS E TUANY BRAS

“Espero que ano que vem, tenhamos jogadores com mais experiência, a Séria A2 é mais difícil, vai precisar de novas contratações”

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SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2012 - CULTURA 13

Atualmente, a cidade de São Paulo conta com 280 sa-las de teatro (600 espetáculos teatrais são apresen-tados, em média, por ano na cidade) e neste conjunto está inserido o Teatro Anhembi Morumbi, inaugurado em 2009. Considerado um dos melhores teatros da Zona Leste, conta com uma excelente infraestrutura: 758 lu-gares, distribuídos em plateia e dois mezaninos, e, com aproximadamente 2.000 m² de área. Segundo o diretor do teatro, Edelson Costato, a missão desta casa de cultura é buscar peças que tenham boa repercussão na mídia, como a que está em cartaz, “Mulheres Alteradas”, que tem no elenco Mel Lisboa e Flávia Monteiro. Edelson acrescenta que o teatro não é voltado para apenas um tipo de público, busca-se atingir vários segmentos, com apresentação de

dramas, comédias, musicais, stand up e peças infantis.Em 2009, o espetáculo “INÊS - Gil Vicente por ele mes-mo” teve uma única exibição como experiência no Teatro Anhembi Morumbi, mas não parou por aí. A peça voltou em 2010 e permanece na casa até hoje, com sucesso de bilhete-ria. O diretor da peça, Achileu Nogueira Neto diz que o público, por apresentação, chega a 600 pessoas e relaciona o sucesso de público à boa infraestrutura do teatro, que é moderno, con-fortável, grande e bonito. Ele resume isso a uma única frase: “É como uma espécie de oásis dentro de uma selva de pedra, e é isso que atrai o público”.O coordenador do Curso de Teatro da Universidade An-hembi Morumbi, Acácio Ribeiro Valmir Junior, não tem vinculo profissional com o Teatro Anhembi Morumbi, mas como professor e espectador, classifica o teatro como de primeira linha: tem um palco ótimo e um sistema de ilu-minação e som profissional. Para o coordenador Acácio, o teatro pode influenciar na vida cultural da sociedade. “O teatro é arte. Cada pessoa tem uma preferência e enxerga a arte de uma forma: a arte que serve para conscientizar o publico sobre os problemas da sociedade, a arte que di-verte, a arte que faz pensar, a arte que tira a pessoa da realidade e a joga no mundo da fantasia”. Teatro Anhembi Morumbi - Rua Dr. Almeida Lima, 1.176 - Mooca.

DRAMAS, COMÉDIAS E MUSICAIS PASSAM PELO TEATRO ANHEMBIMICHELLE MUNIZ E NOELY SOUZA

Em 2 mil metros quadrados, a casa possui infraestrutura invejável, com 758 lugares

CULTURA E ESPORTE EM UM SÓ LUGARVANESSA LUCKASCHEK E CAROLINA RODRIGUEZ

Há 53 anos, os moradores da Mooca contam com um centro esportivo de qualidade, para se exercitar fisicamente sem colocar a mão no bolso, o Clube Escola Mooca. Além de um centro esportivo completo, o espaço oferece aos frequen-tadores diversas atividades que aprimoram mais do que o lado esportivo de cada individuo, contribui para que aque-les que o frequentam conheçam uma cultura diferente, através do Judô. Mas o privilégio não para por aí: por este clube já passaram medalhistas olímpicos famosos, como Jaime Roberto Bragança, que hoje é professor e técnico da equipe de judô, e Rafael Silva. “O Clube Escola Mooca é mantido pela Prefeitura e oferece várias atividades espor-tivas à população, gratuitamente”, afirma o coordenador do Departamento Esportivo da unidade, Marcos de Moraes. Fundado em 1º de setembro de 1959, em pouco tempo o Clube Escola Mooca conquistou seu objetivo: tornar-se

um lugar público para a prática esportiva, com qualidade. “Nosso clube não é perfeito, precisa melhorar, precisa de in-vestimentos, mas é um dos poucos que existem na região”, complementa Moraes. O aposentado Xavier Leão Bezerra, frequentador assíduo do local, concorda com o coordenador: “aqui é excelente para se fazer uma caminhada, jogar xadrez, passear com o netos”. Bezerra frequenta as quadras do Clube Escola todas as tarde na companhia do neto. O clube atrai moradores de diversas regiões da Zona Leste pela diversidade de modalidades esportivas ofere-cidas. Entretanto, o diretor esportivo reconhece que está na hora de se fazer novos investimentos. “Estou buscan-do parceiros, que queiram investir no nosso clube, pois a Mooca está crescendo, se desenvolvendo, e precisamos acompanhar”, completa Moraes. O clube oferece, há 40 anos, as seguintes modalidades

esportivas: natação, futsal, ginástica olímpica, dança e judô, com aulas ministradas por professores vinculados à Secretaria de Esportes, alguns medalhistas olímpicos. “Em 1980, já era o local com mais atletas federados do Brasil” conta o professor e técnico da equipe de Judô, Jaime Roberto Bragança. Durante as Olimpíadas de Lon-dres, em 2012, o mundo conheceu um jovem talento, que teve uma curta passagem pelo Clube Escola Mooca, Rafael Silva, lembrado com carinho pelos professores. ”Quando ele veio para São Paulo, participou dos nossos treinos, por um período, depois foi para outros clubes até chegar no Pinheiros e se tornar medalhista em Londres”.O professor da equipe, que também é medalhista olímpi-co, orgulha-se do trabalho que desenvolve com de-ficientes visuais e que acredita que a equipe seja uma das maiores do país com atletas deficientes. “Esse grupo já foi campeão brasileiro. Na paraolimpíada de Londres, uma das integrantes da equipe, Lúcia Teixeira, ganhou a medalha de prata. Bragança conta que ainda é coordena-dor da seleção paraolímpica. As aulas são diárias, separadas por faixa etária. Para frequentar os cursos, não é preciso ter conhecimento prévio do esporte, basta ter a carteirinha do Clube Escola Mooca, que é feita na própria secretária, gratuitamente, com a apresentação do RG. É preciso, também, fazer um exame médico, na própria unidade, na rua Taquari, 635. Informações pelo telefone: 2694-7668.

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14 SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2012 - CULTURA

MEMORIAL DO IMIGRANTE REABRE EM 2013 COM MUITAS NOVIDADESREBECA TORRES

O novo espaço cultural terá mostras, oficinas e Centro de Preservação, Pesquisa e ReferênciaAté o final do ano, o Memorial do Imigrante estará fechado para visitação, mas quando reabrir o paulistano encontrará o local muito diferente: além da reforma, que teve início em agosto de 2010, para melhorar a acessibilidade do público, está na agenda uma exposição de longa duração e atividades culturais, como oficinas e discussões, que serão realizadas em um novo espaço educativo diferenciado. Thamara Malfatti, responsável pela área de comunicação, afirma que entre as novidades do novo plano museológico, está a construção do Centro de Preservação, Pesquisa e Referência (CPRP). Enquanto o Memorial estiver fechado, o Arquivo Público do Estado de São Paulo é responsável pelo acervo. Segun-do Giovane Souza, chefe do setor que emite certidões de imigração, “O material está disponível para estudantes, pes-quisadores, público, enfim, para todos que quiserem conhecer um pouco mais sobre o assunto”. Do acervo, constam a relação de passageiros que desembarcaram no Porto de Santos e dos que passavam pela Hospedaria dos Imigrantes, além de fi-chas da antiga Delegacia de Controle dos Imigrantes, lista e imagens dos navios que chegaram ao porto, entre os anos de 1888 e 1965, entre outras coisas.

Ainda segundo Giovane Souza, a escolha do Acervo Público como local de preservação do material do Memorial do Imi-grante, deve-se a dois fatores: “o nosso espaço é amplo e foi reformado recentemente. Vamos continuar preservando essa documentação para que ela volte ao seu local de origem em bom estado”.Instituição do Governo de São Paulo e membro funda-dor da Rede Internacional de Museus de Imigração da

UNESCO, o Memorial do Imigrante foi criado em 1998 como o local responsável pela preservação, estudo e divulgação do importante acervo histórico referente à imigração no Es-tado de São Paulo, nos últimos 120 anos. Está sediado no bairro da Mooca, no local onde funcionou a extinta Hosped-aria dos Imigrantes, que recebeu, entre os séculos XIX e XX, mais de 2,5 milhões de imigrantes de 70 nacionalidades diferentes.

Memorial do Imigrante em reforma

BANDA FAZ MúSICAS INSPIRADAS NA MOOCA

Mooca All Star retrata história do bairro por meio de suas cançõesRODOLFO DE MACEDO, FELIPE AFFONSO E WELLINGTON MONTEIRO

Duas paixões em comum unem os integrantes da Banda Mooca All Star, a música e a Mooca. Para Guto, Arnaldo (Amaral) e Marcelo (Tetê), o bairro está presente em todas as composições do grupo, que canta um pouco da história do local. Remanescentes da banda Monokini, os três decidiram recomeçar no mundo da música, homenageando o bairro da Mooca. “Com o fim da banda, ensaiamos algumas vezes outras músicas, com outros músicos e resolvemos fazer uma homenagem ao que a gente ama”, explica o vocalista Guto.A banda de rock’n’roll Mooca All Star busca suas in-spirações nas histórias do bairro.

As letras, sempre escritas por Guto, exaltam as influências que o bairro teve sobre sua formação. Guto fala de seu pro-cesso criativo: “Costumo imaginar situações, como se fosse um filme com começo, meio e fim para poder compor”.Em uma das músicas, remetendo à história do bairro, a banda critica as transformações ocorridas nos últimos anos, como a substituição das antigas casas por condomínios. “Na música “Mooca Operária”, denunciamos a verticalização ab-surda que o bairro está sofrendo. Essa é uma música que fala sobre o tempo dos imigrantes e de como era bom viver no bairro”, diz o guitarrista da banda Amaral.Pensando no futuro, a banda Mooca All Star pretende lan-

çar o seu primeiro CD e continuar mostrando sua paixão e admiração pela Mooca, por meio de suas canções. “Que-remos lançar esse CD e seguir tocando por aí, mostrando todo o nosso amor pela Mooca”.

“Eu nasci aqui na MoocaE não arredo o péO problema é que está tendo mais prédio que o TatuapéCade o romantismo, meus amigos?Não existe maisIgual a Mooca operáriaNão vai existir jamais

Uma revoluçãoEu queria fazerRepública da Mooca um país pra mim ou pra vocêPra quem gosta de praiaNão vai se decepcionarPorque as piscinas do JuventusSão melhores que o mar”

Música: Mooca Operária

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SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2012 - CULTURA 15CULTURA ITALIANA INVADE O BAIRRO NA FESTA DE SAN GENNAROALEXANDRE GARCIA E CAIO PELEGRINE

A tradicional festa de San Gennaro, comemorada anual-mente entre os finais de semana de setembro e outubro no bairro da Mooca, chegou à sua 39ª edição neste ano de 2012. Com barracas montadas pelas ruas do bairro, a festa anima os visitantes, que querem provar a culinária e a música italianas. Segundo Mariá Carlotti, que faz parte da comissão or-ganizadora da festa, o evento realizado pela paróquia tem cunho religioso. “Realizamos uma festa embasada na fé em San Gennaro e o dinheiro arrecadado é totalmente revertido em obras da igreja”. Toda organização da festa dá muito trabalho e o evento começa a ser or-ganizado pelos quinze membros da comissão no mês de janeiro. “É este trabalho de planejamento que faz a festa acontecer”. A igreja organizadora da festa atende hoje a 40 crianças da creche Menino Jesus e distribui cestas básicas a 100 famílias carentes do bairro. “Precisamos da festividade para atender a todos. A nossa expectativa é acolher 400 famílias até 2014, quando a paróquia completará 100 anos”, ressaltou Mariá. Além da tradicional festa nas ruas San Gennaro e Lins, o evento ocorre também na cantina, restrito aos que desem-bolsam R$ 30,00 (domingo) e R$ 45,00 (sábado), onde, além dos pratos típicos, os visitantes podem se divertir ao som de shows de música italiana com a banda “Felice Itália”. Este evento restrito aos pagantes atrai autoridades

e visitantes de todo o país. Dentre os pratos servidos dest-acam-se o macarrão com calabresa, os antepastos, a pizza, a polenta e a fogazza. Para Luiz Casado, organizador de excursões vindas do Rio de Janeiro, os pacotes oferecidos pelas companhias turísticas trazem as pessoas até a festa. “Organizo esse roteiro turístico há 3 anos. Somente em 2012 trouxe 127 pessoas”.

Devanir Bueno veio de Barretos para prestigiar o evento pela primeira vez e mostrou-se entusiasmado: “Espero que as massas sejam excelentes, como me falaram”. A San Gennaro, visando atender a todos com qualidade, contou em 2012 com o patrocínio de oito empresas e a partir deste ano as ruas que abrigam a festa passaram a ser cobertas e contaram com banheiros químicos cedidos pela prefeitura da cidade.

Visitantes de todo país ajudam a paróquia a manter obras assistenciais

Colaboradores preparam a tradicional macarronada durante festa de San Gennaro

A HISTÓRIA DE RAUL GIL NA MOOCAREGINA DOURADO, JÉSSICA CIDRÃO E JOSÉ SANTANA

O tradicional bairro da Mooca, hoje tão pacato, nem de longe lembra a vida cultural agitada de anos atrás. A região foi berço para o começo de carreira de muitos nomes, hoje bastante conhecidos. Entre eles Raul Gil. Em entrevista ao nosso jornal, o apresentador contou um pouco mais sobre a sua relação com o bairro “Eu comecei minha carreira como cantor no bairro da Mooca, eu canta-va no clube chamado Ponte Preta na Rua Padre Raposo, no clube Castelo na Rua Curiço e no clube Sociedade Amigos do Alto da Mooca”, disse Raul que apesar de atualmente

morar em Moema, ainda frequenta o seu antigo bairro “Sempre que posso vou visitar amigos, vou a restaurantes e gosto de relembrar as velhas histórias. Lá, tive a honra de conhecer e cantar com os Demônios da Garoa, que também iniciaram a carreira na Mooca se apresentando nesses clubes e bares do bairro”. Além da relação profissional com o bairro, Raul também iniciou a sua família “Conheci minha esposa, Carmem, lá. Ela morava na Rua do Oratório, além de tudo é um bairro lindo que merece ser bem valorizado”.

Conheça outros locais de destaque da Mooca

Biblioteca Affonso Taunay Rua Taquari, 549

Teatro Arthur Azevedo Avenida Paes de Barros, 955

Feira de Artesanato Praça do Bom Conselho, na Rua da Mooca

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16 SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2012 - POLÍTICA

“EDUCAR, ANTES DE MULTAR”, O LEMA DE AMADEU JULIANA TURINI

via da região. “Parte das casas já foram desapropriadas, porém nada foi feito e estas moradias foram abandonadas e invadidas.”Seu lema é “Educar, antes de multar”, pois acredita que o excessivo investimento em radares não melhora a flui-dez do tráfego, “somente viram caça-níqueis para as pre-feituras que batem recordes em arrecadação com multas sem que vejamos as melhorias desejadas”, Segundo ele, primeiro devem-se educar os motoristas, ciclistas, motociclistas e pedestres, fazendo com que todos se conscientizem que tem parcela de responsabilidade na prevenção de acidentes. Adilson acredita que a maturidade política que adquiriu nos dois últimos mandatos irá ajuda-lo a exercer seu tra-balho de maneira correta, consciente e sempre visando o melhor para a cidade de São Paulo.Adilson Amadeu é empresário e um dos líderes do setor de despachantes, o que o levou à presidência do Sindicato e do Conselho Federal dos Despachantes Documentalistas, em 2002. Esses foram seus primeiros passos na política. Na primeira eleição disputou uma vaga na Assembleia legislativa e ficou com a segunda suplência.

Reeleito vereador, Ton-inho Paiva afirma que sua experiência na Câmara Municipal proporcionou o conhecimento dos reais problemas da Zona Leste.Sobre a segurança do bairro, Toninho Paiva pre-tende encaminhar proje-tos à Prefeitura sobre a instalação de bases comu-

TONINHO PROMETE VERTICALIZAR A MOOCA

PAMELA RODRIGUES

Com 40.100 votos e o título de o segundo candidato mais votado na Mooca, o vereador Adilson Amadeu (PTB) irá as-sumir o seu terceiro mandato na Câmara dos Vereadores. Nascido e criado no Brás conhece bem os problemas da Zona Leste e tem muitos planos para minorá-los. Entre eles estão o alargamento da Rua dos Trilhos, importante

nitárias e reforço na iluminação. Para Toninho Paiva, alguns dos desafios a enfrentar na região são a locomoção e habitação: “O bairro está se verticalizando, assim como aconteceu no bairro do Tatu-apé. Existem casas muito antigas, podemos derrubar essas casas e construir prédios, e no terreno onde morava uma família de quatro pessoas pode se tornar um terreno onde mora dezesseis famílias de quatro pessoas”.Toninho Paiva encerra a entrevista dizendo que pre-tende legislar com leis, não com gastos desnecessários, acrescenta “Quero deixar saudade de muitas coisas que conquistei”.

Líder estudantil aos 16 anos, aos 20 passou a integrar o diretório municipal do Partido dos Trabalhadores

A MAIS JOVEM ELEITA SERÁ PORTA-VOZ DA PERIFERIA NATÁLIA CHIBOTTI

Juliana Cardoso nasceu no dia 22 de outubro de 1979, 33 anos, em Sapopemba. É educadora social e técnica em informática, foi eleita com 30.607 votos pela coligação PC do B/ PRB/PT/PSB. É considerada a vereadora mais jovem a tomar posse na Câmara Municipal, no dia 1º de janeiro

para exercer o cargo newsta 15º legislatura. Descendente indígena e do movimento popular, aos 16 anos já dava início em sua militância como líder estudantil e aos 20, integrava o diretório do PT municipal nos últi-mos seis anos como assessora parlamentar.A vereadora pretende marcar sua atuação pela defesa permanente da saúde na cidade de São Paulo e ressaltou em entrevista recente que durante sua legislatura, batal-hará pela valorização profissional dos jovens, a favor dos indígenas, idosos, cultura e movimentos sociais. Atuando como porta voz da periferia e a implantação de um centro de convivência para idosos.

A educadora social e técnica em informática Juliana Cardoso será a

vereadora mais jovem a tomar posse na Câmara Municipal,

no dia 1º de janeiro

Vereadora mais votada

Nascido e criado no Brás, conhece os problemas da Mooca

Adilson Amadeu, o segundo candidato mais votado na Mooca, assumirá o cargo pela terceira vez

À VENDA NAS MELHORES LIVRARIAS