ideologias mundiais - fgv direito...

48
ROTEIRO DE CURSO 2013.2 IDEOLOGIAS MUNDIAIS AUTORES: LEANDRO MOLHANO RIBEIRO E LUANDA BOTELHO COLABORADOR: JOÃO MARCELO DA COSTA E SILVA LIMA

Upload: duongkhanh

Post on 18-Jan-2019

223 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

ROTEIRO DE CURSO2013.2

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

AUTORES: LEANDRO MOLHANO RIBEIRO E LUANDA BOTELHO

COLABORADOR: JOÃO MARCELO DA COSTA E SILVA LIMA

Page 2: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

SumárioIdeologias Mundiais

1. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DO CURSO: ................................................................................................................ 3

2. MATERIAL DIDÁTICO: ........................................................................................................................................ 4

3. PROGRAMA .................................................................................................................................................... 5

ROTEIRO DE ESTUDOTh omas Hobbes — “Contraponto” ................................................................................................ 9John Locke — “Ponto de partida” ................................................................................................ 17Jean-Jaqcques Rousseau — “Crítica e autogoverno” ..................................................................... 24John Stuart Mill — “Novos argumentos” ..................................................................................... 28Alexis de Tocqueville — “Novos argumentos” .............................................................................. 31Karl Marx — “Socialismo científi co” ........................................................................................... 36

Page 3: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 3

1. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DO CURSO:

Em 1988 foi promulgada a nossa “Constituição Cidadã”. Segundo Aran-tes e Couto (2009, p.17)1, a Constituição é concebida como “o marco divisor de águas do nosso processo de redemocratização, conferindo-lhe o caráter de refundação do Estado, de nosso arcabouço institucional e do conjunto de direitos fundamentais de cidadania”. A Constituição foi, assim, responsável pela fundação do Estado Nação brasileiro, pelo estabelecimento das insti-tuições democráticas e suas regras do jogo e pela defi nição da cidadania em suas dimensões de direitos e deveres civis, políticos e sociais. Formalmente, a Constituição de 1988 inscreveu o Brasil na rota do Estado Democrático de Direito, afi nado com o “constitucionalismo democrático” vigente no mun-do Ocidental. Mais ainda, ao constitucionalizar direitos sociais, pretendeu promover a justiça social no país. Seguindo a proposta analítica de Arantes e Couto (2009, p.26), a Constituição de 1988 assegura uma polity democrática brasileira contemplada por “(1) Defi nições de Estado e Nação; (2) Direitos individuais de liberdade e de participação política; (3) Regras do Jogo e (4) Direitos materiais orientados para o bem-estar e a igualdade.”

Mas, como afi rma Lessa (2008, p.371)2, se a “prosódia” da Constitui-ção de 1988 “pertence ao campo do Direito Constitucional, sua semântica inscreve-se do da Filosofi a Política”. Ou seja, o que se “materializa” ou se institucionaliza através da Constituição são idéias e valores gerados no de-bate político-fi losófi co. Valores, por exemplo, sobre liberdade, igualdade e identidade. Uma sociedade livre e igual teve que ser concebida antes de ser implementada. Mas, qual liberdade e qual igualdade? Liberdade de fazer o que? Como instituir uma ordem social livre? Quais os limites da atuação do Estado sobre as escolhas dos indivíduos? Qual tipo de igualdade promover? Igualdade de todos em tudo? Igualdade de todos apenas perante lei? Como compatibilizar valores de liberdade e igualdade? Quem tem direito à cidada-nia? Como compatibilizar a diversidade entre indivíduo e grupos com a idéia de identidade nacional?

Essas são apenas algumas perguntas que orientaram e orientam o pen-samento político e que foram e são fundamentais para as confi gurações das instituições políticas existentes. Respostas a elas foram e são dadas por diver-sos pensadores fi liados a correntes ideológicas distintas. Liberais e Socialistas, por exemplo, são duas grandes correntes ideológicas que contemplam grande diversidade e uma grande divergência interna. As proposições elaboradas por essas ideologias políticas ganharam e ganham materialidade na disputa política entre atores políticos e sociais.

Nessa disputa algumas idéias “vencem” e se institucionalizam. Outras não. Foram necessários três séculos para que direitos civis, políticos e sociais se consolidassem, por exemplo (Marshall, 1967)3. Esse processo não foi line-

1 Rogério Bastos Arantes e Cláudio

Gonçalves Couto. “Uma Constituição In-

comum”. In Maria Alice Rezende de Car-

valho, Cícero Araujo e Júlio Assis Simões

(orgs.). A Constituição de 1988: passado e futuro. São Paulo: Ade-

raldo & Rothschild: Anpocs, 2009.

2 Renato Lessa. “A Constituição brasi-

leira de 1988 como experimento de

fi losofi a pública: um ensaio”. In Ruben

George Oliven, Marcelo Ridenti e Gildo

Marçal Brandão (orgs.). A Constitui-ção de 1988 na vida brasileira. São Paulo: Aderaldo & Rothschild: An-

pocs, 2008.

3 T.H. Marshall. Cidadania, Clas-se Social e Status. Rio de Janeiro:

Zahar Editores, 1967.

Page 4: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 4

ar, nem tampouco sem retrocessos (Dahl, 1997)4. Além disso, no plano das idéias, a cada movimento de conquista de um direito de cidadania (civil, política e social), um conjunto de proposições teóricas contrárias era formu-lado, procurando demonstrar a futilidade, perversidade ou ameaça de tais conquistas para a ordem social (Hirshman)5. A materialidade das idéias ven-cedoras pode ser observada, sobretudo, no Direito — particularmente, nas Constituições.

Tendo essa perspectiva em mente, a disciplina Ideologias Mundiais tem um duplo propósito:

1) Proporcionar um pensamento crítico-refl exivo das principais ver-tentes teóricas que têm orientado a relação entre indivíduo e socie-dade ao longo da história moderna. Particularmente, o Liberalis-mo, o Socialismo e o Nacionalismo6.

2) Familiarizar os alunos com formas de argumentação de autores rele-vantes das ideologias estudadas. Por isso, o conteúdo sobre liberda-de, igualdade e identidade das correntes ideológicas estudadas será construído ao longo do curso, a partir de proposições apresentadas por autores considerados clássicos.

Em relação a este último aspecto é importante enfatizar que a disciplina não é “autoral”. Ou seja, não se pretende discutir o “autor por ele mesmo”. Ao contrário, os autores escolhidos são aqueles que apresentaram propostas que, de alguma forma, se materializaram no mundo. São autores que foram importantes para mudar a confi guração das instituições políticas e, conse-quentemente, do direito. Por isso, vamos extrair, a partir da leitura desses autores clássicos, os principais valores, temas e propostas concretas do Libe-ralismo, do Socialismo e do Nacionalismo.

2. MATERIAL DIDÁTICO:

O presente material didático tem como principal objetivo preparar o aluno para a leitura dos textos e para a participação em sala de aula. O material não substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas. O propósito é que as proposições de tais ideologias, assim como as propos-tas institucionais para concretizá-las, sejam “descobertas” ao longo do curso, através das leituras e na interação em sala de aula.

Para orientar os estudos, são apresentados abaixo os valores e temas a se-rem discutidas em cada Ideologia. A cada novo autor a ser estudado, o mate-rial apresentará, também, de maneira breve, o contexto em que ele escreveu

4 Robert Dahl. Poliarquia. São Paulo:

Edusp, 1997.

5 Albert O. Hirshman. A Retórica da Intransigência. São Paula: Compa-

nhia das Letras, 1992.

6 Pensamentos autoritários e totalitá-

rios serão abordados em contraposi-

ção às idéias de liberdade e igualdade

discutidas no Liberalismo e Socialismo.

Page 5: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 5

a sua obra e um roteiro de leitura dos textos. Além disso, foram selecionados dispositivos constitucionais e legais, bem como entendimentos jurispruden-ciais, para estimular a refl exão e o debate acerca de temas sobre os quais os autores também se debruçaram. Espera-se, com isso, aproximar ainda mais os alunos dos textos do curso, demonstrando que mesmo as discussões dos temas mais atuais não prescindem de seus fundamentos.

3. PROGRAMA

Aula 1: Apresentação do curso: por que estudar Ideologias Mundiais?

Liberalismo

Temas de estudo na perspectiva Liberal:

A partir dos autores clássicos do liberalismo selecionados, iremos abor-dar o signifi cado dos seguintes temas:

• Individualismo• Direitos Naturais• Liberdade (Negativa e Positiva)• Propriedade• Igualdade• Justiça• Estado (Liberal e Constitucional)• Democracia (Liberal)

Aulas 2 a 16: (Estão previstas três aulas para cada tópico do programa. No entanto, o tempo previsto em cada tópico poderá ser revisto, de acordo com andamento das aulas).

“Contraponto”

THOMAS HOBBES

HOBBES, Th omas. Leviatã, ou, Matéria, forma e poder de um Estado eclesi-ástico e civil. Tradução João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. Ler Introdução e capítulos 13, 14, 16, 17, 18 e 21.

Page 6: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 6

“Ponto de partida”

JOHN LOCKE

LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo Civil. Trad. E. Jacy Monteiro. São Paulo: Ibrasa, 1963. Ler capítulos 1 a 5, 7 e 8 (até o parágrafo 104).

“Crítica e autogoverno”

JEAN-JACQUES ROUSSEAU

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, trechos selecionados em: Weff ort, Fran-cisco (Org.). Os Clássicos da Política. 14. ed. São Paulo: Ática, 2006. v. 2.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social, trechos selecionados em: Weff ort, Francisco (Org.). Os Clássicos da Política. 14. ed. São Paulo: Ática, 2006. v. 2.

“Novos argumentos”

JOHN STUART MILL

MILL, John Stuart Mill. Da Liberdade. Trad. E. Jacy Monteiro. São Paulo: Ibrasa, 1963. Ler Introdução e capítulos 1 e 2.

“Novos argumentos” (continuação)

ALEXIS DE TOCQUEVILLE

TOCQUEVILLE, Alexis de. A Democracia da América, trechos selecionados em: Weff ort, Francisco (Org.). Os Clássicos da Política. 11. ed. São Paulo: Ática, 2006. v. 2.

Page 7: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 7

Socialismo e Social-Democracia

Temas de estudo na perspectiva Socialista:

A partir dos autores selecionados, iremos abordar o signifi cado dos se-guintes temas:

• Igualdade• Liberdade• Propriedade• Estado• Comunismo• Social-Democracia• Justiça Social

Aulas 17 a 24 (Estão previstas duas aulas para cada tópico do programa. No entan-to, o tempo previsto em cada tópico poderá ser revisto, de acordo com andamento das aulas).

Ponto de partida: “socialismo científico”

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. Trad. Luis Claudio de Castro e Costa. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. Trad. Maria Hele-na Barreiro Alves. São Paulo: Martin Fontes, 2011. Ler o Prefácio.

Comunismo

MARX, Karl. Crítica do Programa de Gotha. Disponível no Arquivo Marxista na Internet em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1875/gotha/index.htm. Acesso em: 02 jan. 2012.

Social-democracia

PRZEWORSKI. Adam. “A social-democracia como um fenômeno histórico”. In: Capitalismo e social democracia

Page 8: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 8

Justiça Social

ELEY. Geoff rey. Forjando a Democracia: a história da esquerda na Europa, 1850 — 2000. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2005.

Nacionalismo

Temas de estudo na perspectiva Socialista:

• Identidade Nacional• Autodeterminação dos povos• Estado, Nação e Nacionalismo• Nacionalismo, Liberalismo e Socialismo• Fundamentalismos• Multiculturalismo

Aulas 25 a 30 (Estão previstas duas aulas para cada tópico do programa. No entanto, o tempo previsto em cada tópico poderá ser revisto, de acordo com andamento das aulas).

Identidade e Autodeterminação

BALAKRICHNAN, Gopal (Org.). Um mapa da questão nacional. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000.

Estado, Nação e Nacionalismo e Nacionalismo e outras ideologias

HEYWOOD, Andrew. Ideolgias Políticas: do liberalismo ao fascismo. São Paulo: Ática, 2010.

Nacionalismo, fundamentalismo e multiculturalismo

HEYWOOD, Andrew. Ideolgias Políticas: do feminismo ao multiculuralis-mo. São Paulo: Ática, 2010.

Page 9: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 9

ROTEIRO DE ESTUDOTHOMAS HOBBES — “CONTRAPONTO”

1) A TRAJETÓRIA DE THOMAS HOBBES

Na aldeia inglesa d e Westport, em 1588, nasceu Th omas Hobbes. Da in-fância pobre ao contato direto com aquele que viria a se tornar rei, Carlos II, Hobbes trilhou um caminho que favoreceu o seu desenvolvimento intelec-tual. Como pupilo de Robert Latimer, aproximou-se da cultura clássica, do latim e do grego. Como tutor do fi lho do Conde de Devonshire, viajou para França e Itália. Como secretário de Francês Bacon, consolidou sua formação fi losófi ca. Por fi m, encontrou-se com René Descartes e Galileu Galilei.

Seu primeiro tratado, “Elementos da Lei Natural e Política”, foi publi-cado em apoio à dinastia Stuart, em confl ito com o Parlamento inglês, re-presentante dos interesses burgueses. Com o fortalecimento do Parlamento e a iminência de uma revolução liberal, Hobbes refugiou-se em Paris, onde continuou escrevendo a favor de Carlos I.

Neste contexto, foi publicado “Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil”. Mais uma vez, os escritos de Hobbes serviam à defesa da monarquia absolutista, sustentando a imprescindibilidade de uma autoridade central com poderes amplos e fortes, capazes de afastar as desa-venças entre os homens. Com efeito, Hobbes tornou-se um dos mais proe-minentes fi lósofos contratualistas, os quais entendiam que o Estado advinha de um pacto celebrado entre os homens, determinando-se regras de subordi-nação política e convívio social.

Hobbes retornou à Inglaterra durante o governo de Oliver Cromwell e faleceu antes de ter o desgosto de ver triunfar os ideais liberais com a Revo-lução Gloriosa.

Referências

HOBBES, Th omas. Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesi-ástico e Civil. Trad. João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. (Os Pensadores).

RIBEIRO, Renato Janine. Hobbes: o medo e a esperança. In: WEFFORT, Francisco (Org.). Os Clássicos da Política. 14. ed. São Paulo: Ática, 2006. v. 1. p.51-78.

Page 10: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 10

2) ROTEIRO DE LEITURA

HOBBES, Th omas. Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesi-ástico e Civil. Trad. João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. Ler Introdução e capítulos 13, 14, 16, 17, 18 e 21.

1) De acordo com a concepção hobbesiana, qual a principal implicação da liberdade e da igualdade entre os homens no estado de natureza?

2) Em que se distinguem o direito e a lei de natureza?

• Como se relacionam o direito e as leis de natureza com a disposição dos homens para a guerra e para a paz?

3) Seria correto afi rmar, conforme as lições de Hobbes, que o homem deseja sair do estado de natureza? Por quê?

4) Considere a seguinte passagem escrita por Hobbes: “Uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum”.

• Sabemos que a “pessoa” da qual Hobbes está falando é o Estado. Como o fi lósofo entende que o Estado pode assegurar a paz?

• Quem são os celebrantes desses pactos? Quais são os seus termos?

5) A liberdade de súdito se reveste dos mesmos atributos que a liberdade natural?

6) Segundo Hobbes, quais são as características da soberania?

• Qual/quais das liberdades — a de súdito ou a natural — podem coe-xistir com o poder soberano?

7) Quais são as consequências da instituição da República?

8) Com base no que você leu de Hobbes, você diria que o fi lósofo é jus-naturalista ou positivista?

Page 11: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 11

3) THOMAS HOBBES NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Apresenta-se a seguir o voto do Ministro Ricardo Lewandowski a respeito da aplicação da Emenda Constitucional n.° 52, de 08 de março de 2006, que disciplinou as coligações partidárias eleitorais. Refl ita sobre as ponderações que o Ministro faz sobre segurança jurídica, à luz da leitura dos escritos de Th omas Hobbes.

ADI 3685 / DF — DISTRITO FEDERALAÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADERelator(a): Min. ELLEN GRACIEJulgamento: 22/03/2006 Órgão Julgador: Tribunal Pleno

Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 2º DA EC 52, DE 08.03.06. APLICAÇÃO IMEDIATA DA NOVA RE-GRA SOBRE COLIGAÇÕES PARTIDÁRIAS ELEITORAIS, INTRO-DUZIDA NO TEXTO DO ART. 17, § 1º, DA CF. ALEGAÇÃO DE VIO-LAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE DA LEI ELEITORAL (CF, ART. 16) E ÀS GARANTIAS INDIVIDUAIS DA SEGURANÇA JURÍDICA E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL (CF, ART. 5º, CA-PUT, E LIV). LIMITES MATERIAIS À ATIVIDADE DO LEGISLADOR CONSTITUINTE REFORMADOR. ARTS. 60, § 4º, IV, E 5º, § 2º, DA CF. (...) 7. Pedido que se julga procedente para dar interpretação conforme no sentido de que a inovação trazida no art. 1º da EC 52/06 somente seja aplicada após decorrido um ano da data de sua vigência.

Page 12: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 12

Page 13: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 13

Page 14: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 14

Page 15: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 15

Page 16: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 16

Page 17: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 17

JOHN LOCKE — “PONTO DE PARTIDA”

1) John Locke e as Revoluções Burguesas na Inglaterra

John Locke, nascido na Inglaterra em 1632, foi fi lho de um comerciante que na Revolução Puritana integrou o exército do Parlamento inglês no com-bate contra o absolutismo de Carlos I. Estudou medicina em Oxford, onde se aproximou de Robert Boyle e Th omas Sydenham, que, como ele, susten-tavam que o conhecimento derivava da experiência. Locke é considerado um dos fundadores da doutrina do empirismo.

A medicina experimental acabou por aproximá-lo também da política. Locke foi designado médico do Lorde de Shaftesbury, líder do partido liberal e oponente de Carlos II no Parlamento, e veio a se tornar seu assessor.

A vivência política e a obra de Locke refl etem bem essas infl uências. Com efeito, ele e Shaftesbury tiveram de se exilar na Holanda, sob a acusação de conspiração contra Carlos II, onde continuou sendo perseguido por agentes do Monarca. Apenas ao término da Revolução Gloriosa, com a derrocada de Jaime II, Locke retornou ao território inglês.

Foi nesse contexto de contraposição entre os abusos de poder perpetrados pelos monarcas da linhagem Stuart e a luta da burguesia pela afi rmação de seus interesses que Locke escreveu suas principais obras. Merecem destaque na seara do liberalismo “Carta sobre a Tolerância”, em que defende a liber-dade de culto e a não interferência do Estado em matéria de religião, e “Dois Tratados sobre o Governo Civil”.

No “Primeiro Tratado”, Locke desconstrói a teoria do direito divino dos reis, na qual se embasava a dinastia Stuart. Assim, abre-se caminho para, no “Segundo Tratado”, o autor fundamentar a legitimidade da deposição de Jai-me II no direito de resistência e sustentar suas teses políticas liberais.

Referências

LOCKE, John. Carta acerca da Tolerância; Segundo Tratado sobre o Governo; Ensaio acerca do Entendimento Humano. 2 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores).

MELLO, Leonel Itaussu Almeida. John Locke e o individualismo liberal. In: WEFFORT, Francisco (Org.). Os Clássicos da Política. 14. ed. São Paulo: Ática, 2006. v. 1. p.79-89.

Page 18: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 18

2) Roteiro de Leitura

LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo Civil. Trad. E. Jacy Monteiro. São Paulo: Ibrasa, 1963. Ler capítulos 1 a 5, 7 e 8 (até o parágrafo 104).

1) O que John Locke pensa da teoria do direito divino dos reis?

2) Locke, assim como Hobbes, fala do “estado de natureza”. No entanto, Locke não equipara o estado de natureza a um estado de guerra, destacando, ao contrário, “a clara diferença entre o estado de natureza e o estado de guer-ra, que, embora alguns homens confundam, são tão distintos um do outro quanto um estado de paz, boa-vontade, assistência mútua e preservação, de um estado de inimizade, maldade, violência e destruição mútua”. Afi nal, o que o autor entende por “estado de natureza” e “estado de guerra”?

3) Como Locke defi ne a liberdade natural e a liberdade do homem em sociedade?

4) Segundo o autor, qual o fato gerador do direito de propriedade?

5) Em que consiste a sociedade civil?

• Quais a principais mudanças que a vivência do homem nesta socieda-de implica com relação ao estado de natureza?

• Por que, no entender de Locke, a monarquia absoluta é incompatível com a sociedade civil?

6) De acordo com Locke, quais são a origem e os objetivos do poder po-lítico?

• Em que ele difere dos demais poderes, por exemplo, o poder paterno?• Como o poder político deve ser exercido e quais são os seus limites?

7) Que direitos e obrigações têm os homens que fazem parte de uma de-terminada sociedade política?

8) Por que não surpreende o autor que a monarquia tenha sido a forma de governo predominante nas primeiras sociedades políticas?

Page 19: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 19

3) Locke e a Limitação do Poder Governamental

O trecho do voto do Ministro Celso de Mello na medida cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade n.° 2213 refl ete a preocupação com possíveis abusos por parte da autoridade governamental. Veja como o Ministro utiliza o texto de John Locke para contribuir com seu argumento.

(Leia até o 1º parágrafo da página 4).

ADI 2213 MC / DF — DISTRITO FEDERALMEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIO-

NALIDADERelator(a): Min. CELSO DE MELLOJulgamento: 04/04/2002 Órgão Julgador: Tribunal Pleno

E M E N T A: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE — A QUESTÃO DO ABUSO PRESIDENCIAL NA EDIÇÃO DE MEDIDAS PROVISÓRIAS — POSSIBILIDADE DE CONTROLE JURISDICIO-NAL DOS PRESSUPOSTOS CONSTITUCIONAIS DA URGÊNCIA E DA RELEVÂNCIA (CF, ART. 62, CAPUT) — REFORMA AGRÁRIA — NECESSIDADE DE SUA IMPLEMENTAÇÃO — INVASÃO DE IMÓVEIS RURAIS PRIVADOS E DE PRÉDIOS PÚBLICOS — INAD-MISSIBILIDADE — ILICITUDE DO ESBULHO POSSESSÓRIO — LEGITIMIDADE DA REAÇÃO ESTATAL AOS ATOS DE VIOLAÇÃO POSSESSÓRIA — RECONHECIMENTO, EM JUÍZO DE DELIBA-ÇÃO, DA VALIDADE CONSTITUCIONAL DA MP Nº 2.027-38/2000, REEDITADA, PELA ÚLTIMA VEZ, COMO MP Nº 2.183-56/2001 — INOCORRÊNCIA DE NOVA HIPÓTESE DE INEXPROPRIABILIDA-DE DE IMÓVEIS RURAIS — MEDIDA PROVISÓRIA QUE SE DES-TINA, TÃO-SOMENTE, A INIBIR PRÁTICAS DE TRANSGRESSÃO À AUTORIDADE DAS LEIS E À INTEGRIDADE DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA — ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE INSUFICIENTEMENTE FUNDAMENTADA QUANTO A UMA DAS NORMAS EM EXAME — INVIABILIDADE DA IMPUGNAÇÃO GE-NÉRICA — CONSEQÜENTE INCOGNOSCIBILIDADE PARCIAL DA AÇÃO DIRETA — PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR CONHE-CIDO EM PARTE E, NESSA PARTE, INDEFERIDO. POSSIBILIDADE DE CONTROLE JURISDICIONAL DOS PRESSUPOSTOS CONSTI-TUCIONAIS (URGÊNCIA E RELEVÂNCIA) QUE CONDICIONAM A EDIÇÃO DE MEDIDAS PROVISÓRIAS.

Page 20: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 20

Page 21: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 21

Page 22: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 22

Page 23: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 23

Page 24: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 24

JEAN-JAQCQUES ROUSSEAU — “CRÍTICA E AUTOGOVERNO”

1) A Intensidade de Jean-Jaqcues Rousseau

Embora não tenha conhecido a mãe, falecida no parto (Genebra, 1712), Jean-Jaques Rousseau dela herdou uma grande coleção de romances. A lei-tura dos romances junto a seu pai marcou Rousseau com características que também são atribuídas à sua obra, em especial, uma visão dramática das re-lações humanas. Aos sete anos, Rousseau foi afastado do pai — que preferiu exilar-se a ser preso de maneira que não considerava justa — e a vida passou a empurrá-lo entre Suíça, França e Inglaterra.

Os parcos recursos materiais legados pela mãe não permitiram que Rous-seau seguisse sua primeira aspiração profi ssional, o ministério evangélico, levando-o a algumas tentativas mal-sucedidas, como os ofícios de moços de recados e o de gravador. O jovem Rousseau, maltratado pela sensação de in-ferioridade social, degenerou moralmente, chegando inclusive a furtar.

Por intermédio da Igreja — a quem Rousseau recorrera com o intuito de garantir sua subsistência — o fi lósofo, aos 16 anos, foi recebido na casa da Sra. De Warens, o que permitiu que estudasse latim, música e passasse a ler e escrever em profusão. A essa altura, Rousseau também atuou como tutor, experiência que posteriormente aproveitou em seus escritos.

Foi apenas em 1749 que Rousseau escreveu a primeira obra que lhe deu fama, “O Discurso sobre a Ciência e as Artes”, recebendo prêmio da Acade-mia de Dijon. Nos anos seguintes, Rousseau escreveu, dentre outros textos, “Carta sobre a Música Francesa”, “Discurso sobre a Origem e os Fundamen-tos da Desigualdade entre os Homens” e “Economia Política”, artigo publi-cado na “Enciclopédia” a pedido do amigo Denis Diderot. Em 1962, publica o “Emílio”, importante obra na área da pedagogia, em que o autor, na forma de romance, busca esboçar diretrizes para orientar a educação de crianças de modo a se tornarem bons adultos.

Contudo, é no campo da política que Rousseau escreve seu trabalho de maior destaque, “O Contrato Social”. A passagem do estado de natureza para o estado civil e suas implicações são o foco do fi lósofo no “Contrato”. Com efeito, por sua concepção dos princípios de liberdade e igualdade e pela defe-sa da soberania exercida pelo povo, Jean-Jacques Rousseau é apontado como fonte de inspiração dos mais radicais setores da Revolução Francesa.

Referências

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social; Ensaio sobre a Origem das Línguas. São Paulo: Abril Cultural, 1987. (Os Pensadores).

Page 25: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 25

NASCIMENTO, Milton Meira do. Rousseau: da servidão à liberdade. In: WEFFORT, Francisco (Org.). Os Clássicos da Política. 14. ed. São Paulo: Ática, 2006. v. 1. p.189-200.

2) Roteiro de Leitura

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da De-sigualdade entre os Homens, trechos selecionados em: WEFFORT, Fran-cisco (Org.). Os Clássicos da Política. 14. ed. São Paulo: Ática, 2006. v. 1.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social, trechos selecionados em: WEFFORT, Francisco (Org.). Os Clássicos da Política. 14. ed. São Pau-lo: Ática, 2006. v. 1.

1) Quais consequências Rousseau associa ao surgimento da propriedade privada e da convivência entre os homens em família e em sociedade?

2) Por que o fi lósofo afi rma que “a bondade que convinha ao puro estado de natureza não convinha mais à sociedade nascente”?

3) Como o estado de guerra atinge aos pobres e aos ricos?

• Qual a proposta dos ricos para a superação do estado de guerra?

4) Qual o objetivo do contrato social concebido por Rousseau?

5) Nos textos do autor, como se distinguem a liberdade natural e a liber-dade convencional ou civil e como o pensador descreve a passagem de uma para a outra?

• O que muda com a passagem do estado de natureza para o estado civil?

6) Em que consiste a substituição da igualdade natural pela igualdade moral explicada por Rousseau?

7) Para compreender o contrato social, alguns conceitos devem estar cla-ros para o leitor. Portanto, tendo em vista as concepções de Rousseau:

• Diferencie os termos “Estado”, “soberano” e “governo”.• Diferencie os termos “cidadãos” e “súditos”.

Page 26: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 26

8) Segundo o autor, está correto afi rmar que a vontade geral é o somatório das vontades particulares? Por quê?

• Que precauções devem ser tomadas para garantir a vontade geral?

9) Qual o teor da crítica de Rousseau ao governo representativo?

• O autor recrimina todo tipo de representação?

3) Rousseau e Plebiscito para Tornar o Voto Facultativo

No ano de 2011, foi desarquivado Projeto de Decreto Legislativo (PDC n.° 384/2007) apresentado na Câmara dos Deputados que dispõe sobre a rea-lização de plebiscito para decidir sobre a adoção do voto facultativo no Brasil. Com base nas leituras dos textos de Rousseau, refl ita sobre a obrigatoriedade de voto, bem como sobre a forma pela qual se pretendeu decidir sobre o as-sunto com a apresentação do referido Projeto.

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO N° de 2007(Do Senhor Deputado Geraldo Magela)

Dispõe sobre a realizaçãode plebiscito para decidir

sobre a adoção do votofacultativo no Brasil.

O Congresso Nacional decreta:

Art. —1º — È convocado, com fundamento no art. 49, inciso XV, com-binado com o Artigo 1°, Parágrafo Único e com o Artigo 14, Inciso I, da Constituição Federal, plebiscito de âmbito nacional, a ser realizado pelo Tri-bunal Superior Eleitoral, nos termos da Lei n° 9.709, de 18 de novembro de 1998, para consultar o eleitorado brasileiro sobre adoção do voto facultativo no Brasil.

Art. 2º — O plebiscito de que trata o artigo anterior realizar-se-á conco-mitantemente com a primeira eleição sub-sequente à aprovação deste Decre-to Legislativo.

Parágrafo único: O eleitorado de todo o País será chamado a responder “Sim” ou “Não”, á seguinte questão: Você é a favor da adoção do voto faculta-tivo no Brasil?.

Page 27: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 27

Art. 3º — Campanha institucional da Justiça Eleitoral, veiculada nos meios de comunicação de massa, esclarecerá a população a respeito da ques-tão formulada no Parágrafo Único do artigo anterior, com espaço idêntico para manifestações favoráveis e contrárias à questão.

Art. 4° — O plebiscito será considerado aprovado ou rejeitado por maio-ria simples, de acordo com o resultado homologado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Art. 5° — Convocado o plebiscito, Projeto Legislativo ou medida admi-nistrativa não efetivada, cujas matérias constituam objeto similar ao desta consulta popular, terá sustada sua tramitação, até que o resultado das urnas seja proclamado.

Art. 6°— Este Decreto Legislativo entra em vigor na data da sua publica-ção.

JUSTIFICATIVA

Para justifi car a adoção do voto obrigatório no Brasil, diversos motivos foram elencados. O ano era 1932. Dentre estes motivos, o mais forte era o reduzido número de eleitores existente na época, uma vez que o Brasil era um país eminentemente rural. Esta realidade contribuiu para que as autoridades receassem que uma diminuta participação pudesse deslegitimar o processo eleitoral.

Diferente de 1932, hoje, o Brasil é um País eminentemente urbano, já que 78% da sua população vive nas cidades e o número de eleitores, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, é de aproximadamente cento e vinte e cinco milhões de eleitores.

Com o advento da Constituição de 1988, diversas conquistas foram ad-quiridas por parte do eleitorado brasileiro, dentre estas, o direito ao voto facultativo para o eleitor analfabeto, para os maiores de setenta e para os que possuem entre dezesseis e dezoito anos.

Porém, e apesar destas conquistas e das alterações no perfi l da sociedade brasileira, o direito legitimo de decidir se deseja ou não participar do processo eleitoral, ainda não foi outorgado aos demais eleitores, pois, o voto continua sendo obrigatório no Brasil, o que não mais se justifi ca, uma vez que o voto é

Page 28: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 28

um direito direito (sic) do cidadão e não uma obrigação, passiva de punição, como continua a vigorar no nosso sistema eleitoral.

Nesse sentido, e diante das transformações da sociedade brasileira e con-solidação da nossa democracia, onde o eleitor voltou a escolher seus repre-sentantes e governantes de forma livre e soberana, através do sufrágio do voto direto e secreto, com igual valor para todos, é que acredito ser o momento oportuno para que esta Casa aprove esta proposta de realização de plebiscito, para que os eleitores brasileiros possam decidir se o voto facultativo deve ser adotado no Brasil.

Diante do exposto, conclamo aos meus pares para para aprovação deste Projeto de Decreto Legislativo, pois tenho a certeza que ao aprova-lo, estare-mos propiciando uma oportunidade para que a população e a classe politica venham debater exaustivamente este importante tema e decidir sobre o que é melhor para o Brasil.

Sala das Sessões, em 22 de outubro de 2007.

Geraldo MagelaPT/DF

JOHN STUART MILL — “NOVOS ARGUMENTOS”

1) Algumas Influências sobre o Pensamento de John Stuart Mill

Ressaltar que John Stuart Mill foi fi lho de James Mill, um dos fundadores, junto a James Bentham, do utilitarismo inglês7, é relevante não apenas para traçar o histórico familiar de Stuart Mill, como também para conhecer seu desenvolvimento intelectual e, consequentemente, compreender sua obra. Com efeito, o pai enxergava no fi lho um futuro representante da escola utili-tarista e investiu pesadamente em sua educação. Assim, Stuart Mill aprendeu grego e latim, estudou Filosofi a, História, Lógica e Psicologia e foi levado por James Mill para trabalhar na Companhia das Índias Orientais, o que lhe proporcionaria recursos materiais sufi cientes para dedicar-se aos seus escritos.

Porém, a infl uência do pai não é a única que merece destaque na tra-jetória de Stuart Mill. Nascido em 1806, o escritor não assistiu ao des-pontar da Revolução Industrial na Inglaterra, mas conviveu com impor-tantes transformações por ela provocadas. No campo político, Elizabeth Balbachevsky destaca a constituição de instituições públicas capazes de dar voz à oposição, criando um sistema legítimo de contestação pública,

7 “Bentham formula o princípio da

utilidade como alternativa às teorias

do contrato social pelas quais o poder

do Estado se exerce legitimamente

quando pautado pelo direito natural.

(...) Bentham sustenta que o objetivo

das políticas governamentais não é o

de proteger os direitos humanos e sim

o de buscar garantir ‘o máximo de felici-

dade para o maior número de pessoas’.

(...) Bentham sabe que as pessoas não

desejam propriamente ‘a maior felici-

dade para o maior número’; sustenta

que as pessoas buscam a justiça, isto

é, bons termos para a interação social

com vistas a maximizar sua própria

felicidade. Assim, a regra utilitária

comparece como a melhor regra de jus-

tiça: mesmo que não seja do interesse

de cada indivíduo que a soma geral da

felicidade seja máxima, é de seu inte-

resse ocupar uma posição na sociedade

onde as condições de realização de sua

felicidade sejam, no mínimo, similares

às dos demais” (OLIVEIRA, 2006).

Page 29: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 29

e a incorporação de setores mais amplos da sociedade ao sistema político, alargando as suas bases sociais.

Tendo em mente esses dois fatores marcantes na formação do autor, as leituras selecionadas ajudarão você a identifi car os novos contornos que Stu-art Mill atribui à ideia de utilidade, bem como a compreender a sociedade vislumbrada por ele, em que todos devem estar protegidos pela lei.

Referências

BALBACHEVSKY, Elizabeth. Stuart Mill: liberdade e representação. In: WEFFORT, Francisco (Org.). Os Clássicos da Política. 11. ed. São Paulo: Ática, 2006. v. 2. p.189-199.

OLIVEIRA, Isabel de Assis Ribeiro. Teoria Política Moderna: uma introdu-ção. Rio de janeiro: UFRJ, 2006.

2) Roteiro de Leitura

MILL, John Stuart Mill. Da Liberdade. Trad. E. Jacy Monteiro. São Paulo: Ibrasa, 1963. Ler Introdução e capítulos 1 e 2.

1) De acordo com a descrição feita por Stuart Mill, como se desenvolveu a luta entre liberdade e autoridade?

• Como se distinguem a tirania dos governantes e a tirania da maioria e quais proteções devem ser erigidas contra elas?

2) Qual princípio deve orientar a interferência da sociedade sobre a liber-dade de ação de seus indivíduos? Como o princípio se aplica?

3) No texto de Stuart Mill, qual o signifi cado de “utilidade”?

4) Segundo o autor, o que está compreendido na liberdade humana?

5) Quais fatores são apresentados como vantagens da diversidade de opi-niões?

6) Identifi que no texto passagens que dêem embasamento à seguinte afi r-mação de Elizabeth Balbachevsky sobre Stuart Mill: “Em sua obra encontra-mos ecos de todas as fases por que passou este movimento*, desde o utilitaris-

Page 30: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 30

mo radical dos primeiros anos do século até a sua fase democrática, defensora do sufrágio universal e de reformas sociais”.

* O movimento ao qual a autora se refere é o movimento liberal inglês do século XIX.

7) De quais características um governo deveria se revestir para afastar a possibilidade de tirania da maioria, garantir a diversidade de opiniões, pre-servando, fi nalmente, a liberdade humana?

3) Stuart Mill e a Presença do Estado na Vida dos Cidadãos

Os dispositivos a seguir foram extraídos da Lei nº. 9.503, de 23 de se-tembro de 2007 (Código de Trânsito Brasileiro), e do Projeto de Lei nº. 2.654/2003 (conhecido como Lei da Palmada). Com base nas leituras rea-lizadas, imagine qual seria a opinião de Stuart Mill sobre tais dispositivos e procure elaborar argumentos contrários à posição deste liberal inglês.

Lei nº. 9.503/2007:

Art. 65. É obrigatório o uso do cinto de segurança para condutor e passa-geiros em todas as vias do território nacional, salvo em situações regulamen-tadas pelo Contran.

(...)

Art. 167. Deixar o condutor ou passageiro de usar o cinto de segurança, conforme previsto no art. 65:

Infração — grave;Penalidade — multa;Medida administrativa — retenção do veículo até colocação do cinto pelo

infrator.

Projeto de Lei nº. 2.654/2003

Art. 1o — São acrescentados à Lei 8069, de 13/07/1990, os seguintes artigos:

Art. 18A — A criança e o adolescente têm direito a não serem submetidos a qualquer forma de punição corporal, mediante a adoção de castigos mode-rados ou imoderados, sob a alegação de quaisquer propósitos, no lar, na esco-la, em instituição de atendimento público ou privado ou em locais públicos.

Page 31: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 31

(...)

Art. 18B — Verifi cada a hipótese de punição corporal em face de criança ou adolescente,

sob a alegação de quaisquer propósitos, ainda que pedagógicos, os pais, professores ou

responsáveis fi carão sujeitos às medidas previstas no artigo 129, incisos I, III, IV e VI desta lei, sem prejuízo de outras sanções cabíveis.

ALEXIS DE TOCQUEVILLE — “NOVOS ARGUMENTOS”

1) Alexis de Tocqueville e o Tema da Democracia

Alexis de Tocqueville nasceu em 1805 em Paris, no seio de uma família nobre, marcada pela Revolução Francesa de 1789. Aos 25 anos, já havia al-cançado a licenciatura em Direito na Universidade de Paris, sido nomeado juiz-auditor em Versalhes e assistido a cursos sobre a história da civilização européia lecionados François Guizot na renomada Sorbonne.

Entre 1831 e 1832, Tocqueville viajou pelos Estados Unidos, com a mis-são de investigar o sistema penitenciário do país. No entanto, da viagem resultou também sua primeira grande obra, “A Democracia na América”, em que o autor, mais do que descrever as instituições americanas e os hábitos dos cidadãos, busca conceituar democracia e responder indagações sobre a com-patibilidade entre igualdade e liberdade. Segundo Célia Quirino, queria Toc-queville mostrar aos franceses o que seria democracia, uma vez que acreditava que a França estava justamente desenvolvendo o seu processo democrático.

Após o retorno ao seu país de origem, Tocqueville ocupou diversos cargos públicos, como o de Deputado do distrito de Valognes, membro da comis-são encarregada de elaborar a Constituição após a Revolução de Fevereiro de 1848 e Ministro dos Negócios Estrangeiros do governo republicano de Luís Napoleão Bonaparte. Ocorre que, com o advento do golpe de Estado de Luís Bonaparte, Tocqueville, manifestando-se contra a situação, foi preso e inter-rompeu sua carreira política.

A partir de então, Tocqueville concentrou-se em sua segunda grande obra, “O Antigo Regime e a Revolução”. Alertando para os perigos do surgimen-to de um Estado demasiadamente centralizado, o tema da democracia, da igualdade e da liberdade é mais uma vez a preocupação maior dos escritos do francês. “O Antigo Regime e a Revolução” foi publicada em 1856, cerca de três anos antes de Tocqueville falecer.

Page 32: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 32

Referências

FURET, François. Prefácio, Bibliografi a e Cronologia. In: TOCQUEVILLE, Alexis de. A Democracia na América. Trad. Eduardo Brandão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. v. 1. p. XI-LVI.

QUIRINO, Célia Galvão. Tocqueville: sobre a liberdade e a igualdade. In: WEFFORT, Francisco (Org.). Os Clássicos da Política. 11. ed. São Paulo: Ática, 2006. v. 2. p.149-160.

2) Roteiro de Leitura

TOCQUEVILLE, Alexis de. A Democracia da América, trechos seleciona-dos em: WEFFORT, Francisco (Org.). Os Clássicos da Política. 11. ed. São Paulo: Ática, 2006. v. 2.

1) Se Tocqueville tivesse de defi nir democracia em uma só palavra, qual você acha que ele escolheria? Por quê?

2) O que o autor quis dizer com: “o desenvolvimento gradual da igualdade é um fato providencial”?

3) Como a igualdade pode ameaçar a liberdade?

• O que pode frear tais ameaças? Como?• Por que, em contrapartida, a igualdade leva os homens a desejarem a

liberdade política?

4) Qual a diferença entre centralização governamental e centralização ad-ministrativa?

• Segundo Tocqueville, quais são os perigos da centralização adminis-trativa?

5) Por que Tocqueville afi rma que “não existe país onde as associações sejam mais necessárias para impedir o despotismo dos partidos ou a arbitra-riedade do príncipe do que aqueles onde a situação social é a democracia”?

6) Como a igualdade pode estimular o individualismo?

• O que pode conter o individualismo? Por quê?

Page 33: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 33

7) De acordo com as lições de Tocqueville, a centralização seria o governo natural. Como a igualdade se relaciona com essa previsão?

3) Tocqueville e a Constituição da República Federativa do Brasil

Tendo em vista a concepção de Tocqueville de centralização governamen-tal e centralização administrativa, qual você acha que seria o parecer do autor sobre a atribuição de competências materiais e legislativas à União feita pela Constituição de 1988?

Art. 21. Compete à União:

I — manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;

II — declarar a guerra e celebrar a paz;III — assegurar a defesa nacional;IV — permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças es-

trangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam tempora-riamente;

V — decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal;VI — autorizar e fi scalizar a produção e o comércio de material bélico;VII — emitir moeda;VIII — administrar as reservas cambiais do País e fi scalizar as operações de

natureza fi nanceira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada;

IX — elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social;

X — manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;XI — explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou per-

missão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá so-bre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95:)

XII — explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou per-missão:

a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95:)

b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento ener-gético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;

c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária;

Page 34: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 34

d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território;

e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;

f ) os portos marítimos, fl uviais e lacustres;XIII — organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público e a

Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios;XIV — organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de

bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência fi nan-ceira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

XV — organizar e manter os serviços ofi ciais de estatística, geografi a, ge-ologia e cartografi a de âmbito nacional;

XVI — exercer a classifi cação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão;

XVII — conceder anistia;XVIII — planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades

públicas, especialmente as secas e as inundações;XIX — instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e

defi nir critérios de outorga de direitos de seu uso;XX — instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habi-

tação, saneamento básico e transportes urbanos;XXI — estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação;XXII — executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fron-

teiras; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)XXIII — explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza

e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e re-processamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:

a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fi ns pacífi cos e mediante aprovação do Congresso Nacional;

b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utiliza-ção de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)

c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas; (Re-dação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)

d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)

XXIV — organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;XXV — estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de

garimpagem, em forma associativa.

Page 35: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 35

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

I — direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;

II — desapropriação;III — requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo

de guerra;IV — águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;V — serviço postal;VI — sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;VII — política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;VIII — comércio exterior e interestadual;IX — diretrizes da política nacional de transportes;X — regime dos portos, navegação lacustre, fl uvial, marítima, aérea e ae-

roespacial;XI — trânsito e transporte;XII — jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;XIII — nacionalidade, cidadania e naturalização;XIV — populações indígenas;XV — emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estran-

geiros;XVI — organização do sistema nacional de emprego e condições para o

exercício de profi ssões;XVII — organização judiciária, do Ministério Público e da Defensoria

Pública do Distrito Federal e dos Territórios, bem como organização admi-nistrativa destes;

XVIII — sistema estatístico, sistema cartográfi co e de geologia nacionais;XIX — sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular;XX — sistemas de consórcios e sorteios;XXI — normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias,

convocação e mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros militares;XXII — competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferro-

viária federais;XXIII — seguridade social;XXIV — diretrizes e bases da educação nacional;XXV — registros públicos;XXVI — atividades nucleares de qualquer natureza;XXVII — normas gerais de licitação e contratação, em todas as modali-

dades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos

Page 36: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 36

termos do art. 173, § 1°, III; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

XXVIII — defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional;

XXIX — propaganda comercial.

KARL MARX — “SOCIALISMO CIENTÍFICO”

1) Karl Marx: teórico e prático

Nascido em 1818 na província alemã do Reno, em uma Trier infl uenciada pelo liberalismo revolucionário francês, Karl Marx recebeu de Alemanha e França duas das três principais infl uências sobre sua obra. Conforme escreveu o revolu-cionário russo, Vladimir Lenin, as três fontes ou partes constitutivas do marxis-mo são a fi losofi a alemã, o socialismo francês e a economia política inglesa.

Ao lado de Friedrich Engels, Marx publicou algumas de suas principais obras, como “A Sagrada Família”, “A Ideologia Alemã” e o “Manifesto Comu-nista”. Engels, fi lho de uma família de industriais, também ajudou fi nancei-ramente o amigo em momentos de maior difi culdade e debilidade de saúde e foi o responsável por editar o segundo e o terceiro volume de “O Capital” após o falecimento de Marx.

Marx contribuiu com a causa operária tanto por meio de seus escritos, quanto por sua participação política prática. De fato, foi um dos fundadores da Associação Operária Alemã de Bruxelas, dirigiu a Associação Operária de Colônia e atuou intensamente na Associação Internacional dos Trabalhadores.

Tudo isso lhe custou uma vida tumultuada até a velhice. Marx teve prisão decretada por contribuir com o órgão de imprensa dos operários alemães na emigração, foi expulso da França por escrever artigo sobre greve na Silésia e foi processado pela participação em ataques a autoridades em Colônia. Perseguido pelas polícias da Europa continental, Marx faleceu em Londres em 1883.

Referências

LENIN, Vladimir. As Três Fontes e as Três Partes Constitutivas do Marxis-mo. In: LENIN, Vladimir. As Três Fontes. 3. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2006, p. 65-72.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã: crítica da mais recente fi losofi a alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845-1846). Trad. Rubens Enderle, et. al. São Paulo: Boitempo, 2007.

Page 37: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 37

2) Roteiro de Leitura

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. Trad. Luis Claudio de Castro e Costa. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. Trad. Maria Hele-na Barreiro Alves. São Paulo: Martin Fontes, 2011. Ler o Prefácio.

MARX, Karl. Crítica do Programa de Gotha. Disponível no Arquivo Marxista na Internet em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1875/gotha/index.htm. Acesso em: 02 jan. 2012.

1) Com base nas leituras dos textos de Karl Marx, como você explicaria o materialismo histórico?

• O que são forças produtivas?• O que são relações de produção?• Para compreender o liberalismo, Marx estudaria o pensamento de

John Locke ou a base material do Estado liberal?

2) Segundo Marx, qual é a contradição que instiga a revolução?

• Por que ocorre essa contradição?• Quem fará a revolução?

3) Qual é o signifi cado de “alienação”?

4) Por que, no entender de Marx, o capitalismo está afastado da essência do homem?

• Como o autor enxerga a liberdade e a igualdade conforme concebidas no capitalismo?

5) Por que Marx escreveu “A Crítica ao Programa de Gotha”?

6) Para o autor, como seria o direito em um Estado socialista?

7) Qual seria o sentido da igualdade no comunismo?

8) É muito comum depararmo-nos com certa confusão no que tange ao socialismo e ao comunismo, muitas vezes apresentados como equivalentes. Afi nal, em que se distinguem o socialismo e o comunismo?

Page 38: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 38

• Você também já deve ter ouvido alguém perguntar a uma pessoa que se autodeclara comunista se ela seria capaz de viver sem carro ou por que ela não doa todos os seus bens para a caridade. Como você ex-plicaria para a pessoa que fez as indagações que ela está equivocada a respeito do comunismo?

3) Marxismo e Conhecimento Científico

No voto do Ministro Ricardo Lewandowski na Ação Direta de Inconsti-tucionalidade n.° 3510, que trata da Lei n.° 11.105, de 24 de março de 2005, conhecida como Lei de Biossegurança, recorreu-se à crítica marxista — na tinta do próprio Marx e de outros autores infl uenciados por ele — para de-bater o conhecimento científi co. Leia o trecho selecionado do voto do Mi-nistro (tópico 3), refl etindo sobre o que você aprendeu sobre o materialismo histórico.

ADI 3510 / DF — DISTRITO FEDERALAÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADERelator(a): Min. AYRES BRITTOJulgamento: 29/05/2008 Órgão Julgador: Tribunal Pleno

Ementa: CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITU-CIONALIDADE. LEI DE BIOSSEGURANÇA. IMPUGNAÇÃO EM BLOCO DO ART. 5º DA LEI Nº 11.105, DE 24 DE MARÇO DE 2005 (LEI DE BIOSSEGURANÇA). PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO DIREITO À VIDA. CONSITUCIONALIDADE DO USO DE CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS EM PESQUISAS CIENTÍFICAS PARA FINS TE-RAPÊUTICOS. DESCARACTERIZAÇÃO DO ABORTO. NORMAS CONSTITUCIONAIS CONFORMADORAS DO DIREITO FUNDA-MENTAL A UMA VIDA DIGNA, QUE PASSA PELO DIREITO À SAÚ-DE E AO PLANEJAMENTO FAMILIAR. DESCABIMENTO DE UTI-LIZAÇÃO DA TÉCNICA DE INTERPRETAÇÃO CONFORME PARA ADITAR À LEI DE BIOSSEGURANÇA CONTROLES DESNECESSÁ-RIOS QUE IMPLICAM RESTRIÇÕES ÀS PESQUISAS E TERAPIAS POR ELA VISADAS. IMPROCEDÊNCIA TOTAL DA AÇÃO. (...).

Page 39: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 39

Page 40: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 40

Page 41: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 41

Page 42: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 42

Page 43: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 43

Page 44: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 44

Page 45: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 45

Page 46: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 46

Page 47: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 47

LEANDRO MOLHANO RIBEIROBacharel em Ciências Socais pela UFMG. Mestre e Doutor em Ciência Política pelo Iuperj/UCAM.Professor Assistente do curso de graduação em Sociais e do curso de mestrado em Direito na UCAMAutor de diversos artigos na área de e co-autor do livros Reforma do Es-tado e Agências Reguladoras: inovação e continuidade no sistema polí-tico-institucional brasileiro (Editora Garamond, 2007 – no prelo) e Teias de Relações Ambíguas: regulação e ensino superior (MEC/INEP 2002).Realiza pesquisas em Ciências Humanas e Sociais, com ênfase em Insti-tuições Políticas e Políticas Públicas.

Page 48: IDEOLOGIAS MUNDIAIS - FGV DIREITO RIOdireitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/ideologias... · substitui as leituras programadas e não faz um resumo das ideologias estudas

IDEOLOGIAS MUNDIAIS

FGV DIREITO RIO 48

FICHA TÉCNICA

Fundação Getulio Vargas

Carlos Ivan Simonsen LealPRESIDENTE

FGV DIREITO RIO

Joaquim FalcãoDIRETOR

Sérgio GuerraVICE-DIRETOR DE ENSINO, PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Rodrigo ViannaVICE-DIRETOR ADMINISTRATIVO

Thiago Bottino do AmaralCOORDENADOR DA GRADUAÇÃO

André Pacheco Teixeira MendesCOORDENADOR DO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA

Cristina Nacif AlvesCOORDENADORA DE ENSINO

Marília AraújoCOORDENADORA EXECUTIVA DA GRADUAÇÃO

Paula SpielerCOORDENADORA DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES E DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS