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ORgaNIZadOReS durval Libânio Netto Mello e eduardo gross Guia de Manejo do Agroecossistema Cacau Cabruca Ecologia da Espécie, Gestão, Práticas e Técnicas Agroecológicas VOLUMe 1

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durval libânio netto mello e eduardo gross

Guia de Manejo do Agroecossistema Cacau Cabruca

Ecologia da Espécie, Gestão,Práticas e Técnicas Agroecológicas

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Guia de Manejo do AgroecossistemaCacau Cabruca - Ecologia da Espécie,Gestão, Práticas e Técnicas Agroecológicas- volume 1

1ª edição - Ilhéus - Bahia - 2013

RealizaçãoInstituto Cabruca (www.cabruca.org.br)Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC(www.uesc.br)

ParceriasInstituto Federal Baiano - Campus Uruçuca(www.ifbaiano.edu.br)

ApoioFAPESB - SECTI, CAR - SEDIR - Vida Melhor,COOPRASUL, UESC, CNPq,

OrganizadoresDurval Libânio Netto MelloEduardo Gross

AutoresAdriana Cristina Reis FerreiraAdson dos Santos OliveiraCristiano de Souza Sant’AnaDario AhnertEmerson Antônio Rocha Melo de LucenaNatalia Galati AraujoTarcisio Matos CostaThiago Guedes Viana

Coordenação Editorial Jornalista Milena del Rio do Valle MTB 27668

EdiçãoAndréia Vitório - MdRValle ComunicaçãoMilena Del Rio do Valle - MdRValle Comunicação

Design Gráfico Débora Nascimento - emCasa design

FotosAcervo Instituto Cabruca

C630

Mello, Durval Libânio Netto e Gross, Eduardo (organizadores) Guia de Manejo do Agroecossistema Cacau Cabruca - volume 1 Editora. Instituto Cabruca. Ilhéus, Bahia: 2013 92p.:il

ISBN 978-85-66124-02-6

1.Agroecossistema - Guia de Manejo - do Cacau Cabruca- volume 1 2.Ecologia da Espécie; 3.Gestão; Práticas; 4.Técnicas Agroecológicas l. Instituto Cabruca ll. Título

Ficha catalográfica

Ficha técnica

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organizadores

durval libânio netto mello e eduardo gross

Guia de Manejo do Agroecossistema Cacau Cabruca

Ecologia da Espécie, Gestão,Práticas e Técnicas Agroecológicas

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1Instituto Cabruca I Ilhéus, BA, 2013

Apoio

Realização

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Durval Libânio Netto MelloPossui graduação em Engenharia Agronômica pelaUniversidade Estadual de Santa Cruz (UESC) eMestrado em Produção Vegetal com ênfase emManejo de Solos Tropicais (UESC). Atualmente éProfessor do Instituto Federal Baiano CampusUruçuca e Presidente da Sociedade Brasileira deSistemas Agroflorestais (SBSAF). Atua principal-mente na área de manejo agroecológico de solos,desenho e manejo de sistemas integrados de pro-dução, gestão de territórios rurais e planejamentoestratégico. Em sua atuação profissional exerceudiversos cargos executivos em entidades do ter-ceiro setor e de órgãos governamentais, atual-mente faz parte do Instituto Cabruca onde atuaem projetos de pesquisa participativa e extensãoinovadora, relacionados ao agroecossistemaCacau Cabruca e a Mata Atlântica.

Eduardo GrossPossui graduação em Bacharelado e em Licencia-tura em Ciências Biológicas pela Universidade Es-tadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP),mestrado e doutorado em Ciências Biológicas(Biologia Vegetal) pela mesma Instituição. Atual-mente é Professor Pleno efetivo vinculado ao De-partamento de Ciências Agrárias e Ambientais(DCAA) da Universidade Estadual de Santa Cruz(UESC), Ilhéus (BA) e docente colaborador da Uni-versidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).Tem experiência na área de Botânica e Ciência doSolo, atuando principalmente nos seguintestemas: leguminosas, fixação biológica de nitro-gênio, micorrizas, anatomia, ultra-estrutura e fi-siologia dessas associações entre plantas e mi-crorganismos.

Sobre os organizadores

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Adriana Cristina Reis FerreiraPossui formação em Ciências Biologicas pela Uni-versidade Estadual de Santa Cruz - UESC commestrado em Genética e Biologia Molecular naárea de biotecnologia e prospecção do cacau, namesma Universidade. Atualmente é pesquisadoraconsultora do Instituto Cabruca.

Adson dos Santos OliveiraPossui graduação em Engenharia Agronômica pelaUniversidade Estadual de Santa Cruz (2007). Atual-mente é pesquisador consultor do Instituto Cabruca.

Cristiano de Souza Sant’AnaPossui graduação em Agronomia pela UniversidadeEstadual de Santa Cruz (2004) e mestrado em De-senvolvimento Regional e Meio Ambiente pela Uni-versidade Estadual de Santa Cruz (2009). Atual-mente é pesquisador consultor do Instituto Cabruca.

Dario AhnertPossui graduação em Agronomia pela UniversidadeFederal do Espírito Santo (1981), mestrado em Ge-nética e Melhoramento pela Universidade Federalde Viçosa (1984) e doutorado em Plant Breedingpela Iowa State University (1995). Atualmente éProfessor Titular da Universidade Estadual deSanta Cruz, Ilhéus, Bahia.

Emerson Antônio Rocha Melo de LucenaPossui graduação em Ciências Biológicas pela Uni-versidade Federal da Paraíba (1995), mestrado emBiologia Vegetal pela Universidade Federal de Per-nambuco (1998) e doutorado em Biologia Vegetalpela Universidade Federal de Pernambuco (2007).Atualmente é Professor Adjunto do Departamentode Ciências Biológicas da Universida de Estadualde Santa Cruz.

Natalia Galati AraujoPossui graduação em Engenharia Florestal pelaUniversidade Estadual Paulista Júlio de MesquitaFilho (2011). Atualmente Bolsista da UniversidadeEstadual de Santa Cruz e Pesquisadora Associadado Instituto Cabruca.

Tarcisio Matos CostaPossui graduação em Agronomia pela UniversidadeEstadual de Santa Cruz (2002). Atualmente é Bolsistada Universidade Estadual de Santa Cruz (CNPQ/UESC)e Pesquisador Associado do Instituto Cabruca.

Thiago Guedes VianaPossui graduação em Engenharia Agronômica pelaUniversidade Estadual de Santa Cruz, especializaçãoem Gestão e Manejo Ambiental em Sistemas Agro-florestais pela Universidade Federal de Lavras. Atual-mente é Secretário Executivo do Instituto Cabruca eMestrando programa de Conservação da Biodiversi-dade do Instituto de Pesquisas Ecológicas - IPÉ.

Sobre os autores

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Sumárioapresentação.................................................................................09

introdução .....................................................................................10

1.0 Clima e solos para a Cultura do Cacau.......................................14Eduardo Gross e Durval Libânio Netto Mello

2.0 ecofisiologia e ecologia da espécie .............................................15Eduardo Gross e Emerson Antônio Rocha Melo de Lucena

3.0 Botânica do Cacaueiro..................................................................20Emerson Antônio Rocha Melo de Lucena

4.0 melhoramento genético e variedades do sul da Bahia .............22Dario Ahnert e Adriana Cristina Reis Ferreira

5.0 gestão do lote ou imóvel “Cabruca dinâmica”..........................26Cristiano de Souza Sant’Ana e Thiago Guedes Viana

6.0 Tipos de muda e plantio do cacaueiro ........................................35Durval Libânio Netto Mello e Dario Ahnert

7.0 manejo do solo, calagem e adubação orgânica .........................40Durval Libânio Netto Mello, Natalia Galati Araujo, Tarcíso Matos, Adson Santos de Oliveira, Thiago Guedes Viana e Eduardo Gross

8.0 manejo de Fitoparasitas do Cacaueiro ........................................53Tarcisio Matos Costa, Natalia Galati Araujo e Adson dos Santos Oliveira

9.0 silvicultura de nativas e exóticas em áreas de Cacau Cabruca ....78Natalia Galati Araujo, Tarcisio Matos Costa, Durval Libânio Netto Mello e Eduardo Gross

10.0 referências Bibliográficas ............................................................87

11.0 anexos ...........................................................................................89

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ApresentaçãoO presente Guia é fruto de resultados de projetos do Instituto Cabruca em parceria comentidades como: Universidade Estadual de Santa Cruz, Instituto Federal Baiano – CampusUruçuca, Centro Estadual de Educação no Campo Milton Santos, Comissão Executiva doPlano da Lavoura Cacaueira – CEPLAC-BA, CARE Internacional do Brasil e, principalmente,Cooperativa de Produção Agropecuária Construindo o Sul Ltda - COOPRASUL, gestora doassentamento Terra Vista. Além de outros assentamentos, agricultores familiares, quilom-bolas e indígenas do Território Litoral Sul, Baixo Sul e Extremo Sul da Bahia. Estas últimasparcerias, resultantes da ação Cacau para Sempre do Programa Vida Melhor coordenadopela Casa Civil e executado pela Companhia de Ação Regional (CAR) ambos do governo doestado da Bahia.Temos aqui o objetivo de apresentar recomendações com base em resultados de pesquisas par-ticipativas, acerca do cultivo do cacaueiro na perspectiva de uma transição agroecológica emseu principal agroecossistema, conhecido como cacau-cabruca, além de outros sistemas agroflo-restais. As informações são fruto do trabalho incansável de técnicos e comunidades envolvidasnos projetos e de tecnologias existentes que podem ser utilizadas na perspectiva de promoveruma transição agroecológica e de sistemas de produção em conformidade orgânica.Este Guia portanto é uma publicação introdutória ao cultivo do cacaueiro sob a perspectivada agroecologia, entendida como uma ciência e um movimento social que busca integrarsaberes tradicionais a conhecimentos técnico-científicos aplicados ao manejo sustentávelde agroecossistemas com cacaueiros, visando a sustentabilidade e a independência tec-nológica de comunidades de agricultores familiares, assentamentos, quilombolas, indígenase de produtores orgânicos em geral. Entre as premissas, a orientação de que o imóvel rural deve ser entendido como umaunidade de manejo integrado, onde a cacauicultura se integra a outras atividades a partirdo uso múltiplo, tais como: criação de pequenos animais, hortas orgânicas, policultivos esilvicultura com espécies florestais.

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O cacaueiro é uma planta nativa da florestaamazônica e seu centro de origem está nas baciasdos rios Amazonas e Orinoco, tanto nas terras bai-xas, dentro dos bosques escuros e úmidos sob aproteção de grandes árvores, como em florestasmenos exuberantes e mais abertas.

Até os dias atuais, o cacaueiro é cultivado sob asombra de árvores, seja em estado natural, na Ama-zônia, ou no Sul da Bahia, em plena Mata atlântica,por meio do agroecossistema Cacau-Cabruca1, ondese planta o cacaueiro sob a sombra da mata atlân-tica após a mesma ter sido raleada ou “cabrocada”.

Os povos dos Andes, os Astecas, os Maias, osOlmecas e os Toltecas utilizavam as sementes docacau para fazer bebidas. Acredita-se que o cacau

tinha uma influência muito grande sobre a saúdedestes povos. Os índios preparavam bebidas a partirdas amêndoas torradas e posteriormente trituradasentre duas pedras. A seguir essa massa era fervidaem água aromatizada com baunilha, canela e pi-menta da Jamaica e utilizada como bebida (Bon-dar, 1938). Evidências apresentadas atualmentedemonstram que índios Kuna, da costa do Panamá,eram protegidos contra a elevação da pressão ar-terial por consumirem grandes quantidades decacau, até com sal, a mortalidade desta comuni-dade por eventos cardiovasculares comparado comindivíduos pan-americanos na atualidade: era de9 versus 83 por 100.000 – os emigrantes para áreasurbanas perderam essa proteção (Alves, 2012).

Figura 01 – Centro deorigem do Cacau, no detalhea bacia do rio orinoco.

1A palavracabruca é um

termo regionalderivado do verbobrocar, que surgea partir da frase“vem cá brocar” a mata paraplantar cacau. Daío termo derivoupara cabrocar,cabrocamento,cabroca e cabruca.

Introdução

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As amêndoas de cacau também eram utilizadacomo moeda pelos antigos habitantes da américa,segundo Bondar (1938) no século XVI, com umacentena de amêndoas de cacau era possível com-prar um bom escravo. Ainda sobre o uso do cacaucomo moeda, Peter Martyr da Algeria, África, es-crevia em 1530: "abençoado dinheiro, que forneceuma doce bebida e é benéfico para a humanidade,protegendo os seus possuidores contra a infernalpeste da cobiça, pois não pode ser acumuladomuito tempo nem escondido nos subterrâneos".

O cultivo do cacaueiro, em função do seu ha-bitat natural, está relacionado ao sub-bosque deflorestas amazônicas. Ele consegue se desenvolverde forma mais estável, sem a necessidade de maiorintensidade de manejo, sob a sombra de árvoresque permitam em torno de 50 % de luz no sub-bosque. Em geral, cacaueiros cultivados a pleno sol(sem sombra) necessitam de maior aporte de fer-tilizantes, agrotóxicos e, em muitos casos, irrigação.

Seja nos sistemas tradicionais da Amazônia,onde o cacaueiro é cultivado principalmente pró-ximos a várzeas, como em Cametá no estado doPará, ou na Bahia, onde ele cresce sob a sombradas árvores da Mata Atlântica num sistema conhe-cido como cacau-cabruca, os agroecosistemas deprodução de cacau são importantes para a conser-vação do solo, da água e para a biodiversidade.

A manutenção de árvores sombreadoras para ocacaueiro tem diversas funções que vão desde a ci-clagem de nutrientes, a diminuição da perda de

água do solo, a fixação de nitrogênio em virtude deespécies de plantas leguminosas presentes, pas-sando ainda pelo controle de populações de insetose, por fim, prover os agricultores de outros produtoscomo frutas, plantas medicinais, café, borracha, etc.

Por isso, pode se considerar que os agroecossis-temas tradicionais de produção de cacau são sis-temas agroflorestais em que o cacaueiro é cultivadoassociado com árvores, espécies bianuais e anuaisna sua formação. Na perspectiva agroecológica,estes sistemas foram concebidos e manejados his-toricamente a partir da observação de aspectos daecologia das plantas e da interação entre elas, demaneira a produzir o cacau de forma sustentável.

O agroecossistema Cacau Cabruca, talvez sejao melhor exemplo da atualidade de viabilidade daagroecologia e do manejo da paisagem na concep-ção de agroecossistemas sustentáveis (Altieri,2001). Desde a sua gênese, quando se definia aárea a ser plantado o cacau, a partir de plantas in-dicadoras da fertilidade natural do solo, passandopela recomendação histórica de não se plantar ocacau nos topos de morro conforme Bondar (1929)“Não se deve plantar o cacáo na cabeceira de mon-tes e collinas, devemos deixar ali as mattas, paragarantir aos cacaoeiras das encostas a necessáriahumidade” e ainda pela utilização de cultivosanuais pelos chamados “contratistas”2 do cacauno inicio do plantio, percebe-se o quanto a cacaui-cultura se estabeleceu a partir de conhecimentosdo ambiente e seu funcionamento. Fora isto, o sis-

2. Os contratistas eram trabalhadores que se embreavam na mata, realizavam ocabrocamento da mesma, plantavam culturas de ciclo curto como feijão, milho, mandioca

e banana para sua sobrevivência e plantavam o cacau em terras de terceiros – quando ocacaueiro estava produzindo, o proprietário “pagava o contrato”.

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tema possui uma série de leguminosas nativas pre-sentes como árvores sombreadoras do cacau ( vi-nhático, ingá, faveco, ingá-açu, putumuju, cabe-louro, etc), que garantem a resiliência do mesmo.

Os cacauicultores também utilizam a sucessãoecológica para manter o sombreamento, a partirde perturbações que ocorrem no sistema. Estudosdo Instituto Cabruca e da UESC comprovaram a

preferência dos cacauicultores por espécies secun-dárias tardias como o jequitibá, o cedro e o vinhá-tico. Além disso, os cacauicultores desenvolveramtoda uma tecnologia de produção e processamentodas amêndoas, que envolve ciclagem de nutrientes,controle do sombreamento para evitar fitoparasi-tas, plantas para segurança alimentar, utilizaçãode produtos não madeireiros (principalmente plan-

Figura 02 – sistema de produção CacauCabruca às margens da Br – 101, próximoà cidade de Camacan, sul da Bahia.

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tas medicinais como o jatobá e o buranhém), e ma-deiras para fins específicos de transporte, fermen-tação, secagem e armazenamento das amêndoas.

Ainda assim, o modelo de agricultura impostoa este agroecossistema negligenciou quase todosestes aspectos. Pesquisas, no sentido de aperfeiçoarmuito dos processos naturais utilizados pelos ca-cauicultores, não foram realizadas. Como exemplo

cita-se o fato de que nenhuma das leguminosaspresentes no sistema, inclusive aquelas de múltiplouso com imenso potencial para a produção florestalcomo o vinhático e o putumuju, nunca terem sidoestudadas quanto à fixação biológica de nitrogênio.

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1.0 Clima e Solos para a Cultura do Cacaueduardo gross e durval libânio netto mello

A maioria dos plantios de cacau no mundo estálocalizada entre as latitudes 20° ao norte e ao suldo equador. Nessas regiões, a temperatura médiagira em torno de 22° a 25° C e a precipitação plu-vial é elevada e bem distribuída ao longo do ano,algo em torno de 1200 a 2000 mm, com um mí-nimo mensal variando de 100 a 130 mm.

Os solos para o cultivo do cacaueiro, em geral,devem ser profundos, bem drenados, de textura ar-gilo-arenosa, que permitam um bom desenvolvi-mento radicular. Não devem ter impedimentos,como piçarra e cascalhos, e o lençol freático deveestar a mais de um metro de profundidade.

Deve se evitar também solos de baixadas ala-gadiças que precisam de drenagem. O ideal nestas

áreas é cultivar plantas adaptadas a estas condi-ções como o açaí, o guanandi e o jenipapo. Depen-dendo da situação, pode ser que um solo mais ar-giloso apresente mais vantagens, por se tratar, porexemplo, de uma região que tem chuvas menosabundantes. Já em regiões de maior abundânciade chuvas, um solo argiloso pode ser prejudicialpela dificuldade de infiltração de água.

De qualquer forma, o clima e o tipo de solo sãomuito importantes para se definir o manejo do ca-caueiro. Quando se trata do nível de sombreamentoda cultura, regiões com solos mais rasos e commenor quantidade de chuvas devem utilizar ummaior nível de sombreamento e devem, inclusive,dar maior ênfase à produção florestal.

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Em geral as plantas são classificadas em trêstipos ecológicos:

1. Tolerantes ao estresse: plantas que sobrevi-vem em ambientes desfavoráveis ao crescimento,floração e frutificação, lugares secos, florestas den-sas, etc. 2. Competidoras: utilizam muito bem os recursosdisponíveis em ambientes de floresta para o cres-cimento e frutificação, porém investem mais nocrescimento.3. Ruderais: são encontradas em ambientes aber-tos e alterados, porém, favoráveis ao crescimentoe à frutificação. Exibem características de rápidociclo de desenvolvimento e elevada alocação derecursos para a frutificação.

O cacaueiro é considerado uma espécie que utilizabem os recursos em ambiente de floresta e investemais no crescimento, por ser uma planta lenhosa. É,portanto, uma espécie mais exigente em água e nu-trientes e oferece uma baixa produção de amêndoasquando comparadas com outras culturas perenescomo o café e algumas fruteiras. Ele se adapta muitobem ao cultivo em sistemas agroflorestais.

2.1 Fatores que influenciam a produção do cacaueiro

2.1.1 PrecipitaçãoA precipitação juntamente com a temperatura

é um dos aspectos que tem maior influência sob ocultivo do cacaueiro. O ideal é que tenhamos nomínimo 1400 mm de chuvas bem distribuídas aolongo do ano e no máximo 1800 mm, para umaboa produção do cacaueiro. Na região Sul da Bahia,devido à boa distribuição de chuvas, o cacaueiroproduz cerca de nove meses por ano. Mais próximoda linha do equador, com estações secas de 4 a 5meses, a produção é concentrada em 5 a 6 meses.

Períodos que coincidem boa precipitação comtemperaturas acima de 22° C são épocas propíciaspara maior floração e lançamentos foliares. No Sulda Bahia ocorre nos meses de março, abril, setem-bro, outubro, novembro e dezembro, sendo mesesimportantes para a realização de práticas comoadubação orgânica, calagem, fosfatagem, aduba-ção verde, remoção de ramos infectados por vas-soura de bruxa, etc.

2.1.2 TemperaturaA faixa de cultivo em que o cacaueiro se adapta

bem é entre 18 e 28°C de temperaturas médias. Ocrescimento e a floração são seriamente limitadosem médias mensais abaixo de 15° C e absolutas de10 °C. Baixas temperaturas afetam principalmenteo crescimento vegetativo, o desenvolvimento dofruto e a floração.

2.0 Ecofisiologia e Ecologia da Espécieeduardo gross e emerson antônio rocha melo de lucena

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Figura 03 – lavoura de cacau semsombreamento apresenta sintomasde ataques de fito parasitaconhecido como “empoteiramento”.

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Figura 04 – Área desistema Cacau Cabruca combom índice de área foliar

No Sul da Bahia ocorre a paralisação do cres-cimento do diâmetro do tronco e a paralisação dafloração entre agosto e outubro. Nestes meses aplanta está com muitos frutos – o que tambémcontribui para a baixa floração, em virtude de aplanta ter que manter o crescimento dos frutos eser um período que realiza pouca fotossíntese.

2.1.3 ventosO vento causa prejuízo a plantações de cacau,

principalmente por que causam o rompimento dopulvinulo na base da folha, comprometendo apassagem de seiva. Com o rompimento do pulvi-nulo, ocorre a queima e a perda prematura das

folhas, encrestamento seguido de necrose departe das folhas, redução de tamanho, morte equeda com redução de 50% da área foliar. Nascondições do Sul da Bahia, isto praticamente nãoocorre em função da paisagem formada peloagroecossistema cacau-cabruca e por remanes-centes de Mata Atlântica que impedem que ovento atinja velocidades altas.

Em regiões como o recôncavo baiano, onde existemextensos plantios de cana de açucar e poucas florestas,é necessário que se proteja com quebra ventos os ca-caueiros jovens e adultos, mesmo sombreados.

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2.02.1.4 sombreamentoComo já dito, o cacaueiro é uma planta que se

adapta bem a condição de floresta, conseguindo nes-tas condições crescer e frutificar mais do que a maio-ria das espécies. Como uma planta competidora, ocacaueiro encontra melhores condições de disponi-bilidade hídrica no solo, menor suscetibilidade a fi-toparasitas, menor demanda de nutrientes e de rea-lizar fotossíntese suficiente para uma produtividademédia, porém com maior resiliência a intempéries .

Fora desta condição é necessário quebra ventospara proteção e irrigação; maior demanda por fer-tilizantes; utilização em maior nível de agrotóxicospara o controle de fitoparasitas e plantas espon-tâneas, demonstrando uma maior dependência deinsumos externos. Além disso, a planta se tornamenos longeva, sendo necessária a substituição deplantas em menor tempo.

2.1.5 Capacidade FotossintéticaA capacidade de realizar fotossíntese do ca-

caueiro está diretamente relacionada ao índice deárea foliar da lavoura, que deve ser no mínimo4m2 de área foliar para cada m2 de solo – para issoé necessário plantas que possuam boa densidadefoliar. Para que o cacaueiro tenha um bom índicede área foliar, é necessário que as plantas sejambem conduzidas, que as copas tenham formato de

taça, estejam individualizadas para evitar o auto-sombreamento e, ao mesmo tempo, formem umdossel quase que único.

No caso de sistemas agroflorestais biodiversosdeve-se escolher espécies que tenham um dosselmais alto ou mais baixo que o cacaueiro. A arqui-tetura da copa deve ser no sentido vertical paraque a competição e a sobreposição com o nichoecológico3 do cacau seja mínimo.

É muito importante também garantir a renova-ção foliar para que o cacaueiro tenha uma alta ca-pacidade de realizar fotossíntese. Por ser umaplanta perenifólia e ter períodos de lançamento defolhas novas no mínimo três vezes ao ano (alémde suas folhas atingirem o máximo de capacidadede realizar fotossíntese entre 40 a 60 dias apósserem lançadas) é necessário um cuidado muitogrande. Isso porque, neste momento, o fungo davassoura-de-bruxa estabelece seu parasitismo bemcomo a herbivoria por insetos também – principal-mente em áreas mais abertas.

Além disso, as folhas com maior capacidade defotossíntese são aquelas situadas no dossel supe-rior, tendo um período de vida de 250 dias. As demeia sombra ou intermediárias são as que estãoem maior densidade, tem capacidade intermediáriae período de 350 dias; as de sombra têm uma baixacapacidade e um período de vida de no máximo400 dias, localizadas na parte inferior do dossel.

3. Nicho ecológico é definido como o lugar de uma espécie no ambiente,definido pela sua utilização de recursos, dessa forma na hora de

implantar um sistema agroflorestal deve-se escolher plantas com diferentesnichos, como profundidade de Raízes, altura e formato de copa, etc.

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3.1 TaxonomiaDivisão: Angiosperma Classe: DicotiledôneaSub-classe: Dilenidae Ordem: MalvalesFamília: Malvaceae Tribo: BitinerieGênero: Theobroma Espécie: cacao

3.2 descrição BotânicaO Cacaueiro é uma planta perene, de porte arbó-

reo, perenifólia, típica de clima tropical e nativa daregião de floresta úmida da América, onde vegetano sub-bosque. Do centro de origem das bacias dosrios Orinoco e Amazonas se espalharam, em duas di-reções, o que resultou em dois principais grandesgrupos: o Criollo, cultivado na Venezuela, na Colôm-bia, no norte da América Central e no México; e oForastero, no norte do Brasil, nas Guianas e o cacaunacional do Equador. Um terceiro grupo, denominadoTrinitário, é apresentado como originário de um cru-zamento natural entre Criollo e Forastero e ocorrenaturalmente em Trinidad e Tobago. A maior parte(85%) da produção mundial de cacau provém dogrupo Forastero, sendo este predominante tambémnas plantações brasileiras e do Sul da Bahia.

O Grupo Forastero apresenta sementes intensa-mente pigmentadas, frutos verdes quando imaturose amarelo ouro quando maduros e de formato maisamelonados e com sulcos menos pronunciados.

O Grupo Criollo apresenta sementes grandes, ar-redondadas e de cotilédones brancos ou violeta cla-ros, frutos verdes ou vermelhos quando imaturos eroxos ou amarelo-alaranjado quando maduros; fru-tos mais compridos e de sulcos mais pronunciados.

Os Trinitários são híbridos naturais entre Foras-teros e Criollos com ampla variação de caracterís-ticas morfológicas dos dois tipos anteriores.

De forma geral, o grupo Criollo é conhecido pelopotencial de suas amêndoas de produzir cacau fino,enquanto o Forastero é reconhecido pelo maiorteor de flavonóides em suas amêndoas. Algumasvariedades de Forastero também tem potencialpara a produção de cacau fino.

O Cacau, Theobroma cacao L., e o Cupuaçu, Theo-broma grandiflorum (Willd. Ex Spreng) são as únicas,dentre as 22 espécies do gênero Theobroma, quesão exploradas comercialmente em larga escala.

O cacaueiro é uma espécie monóica e tipica-mente cauliflora, uma vez que as flores são forma-das no tronco, em minúsculas inflorescências, de-nominadas almofadas florais, de onde se desen-volvem e se formam os frutos. As almofadas floraisnão sendo danificadas por tratos culturais ou pordoenças podem produzir frutos por vários anos.

3.2.1 raizPossui uma raiz principal, pivotante, podendo

chegar a dois metros, dependendo da estrutura, pro-fundidade efetiva e fertilidade do solo. Da raiz par-tem ramificações laterais, com maior concentraçãonos primeiros 20 a 30 cm da superfície do solo, quese dividem e formam uma rede densa. São essasraízes as principais responsáveis pela absorção deágua e nutrientes pela planta, enquanto a pivotantetem como principal função a fixação do cacaueiro.

3.0 Botânica do cacaueiroemerson antônio rocha melo de lucena

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3.03.2.2 CauleO caule do cacaueiro é ereto, de casca lisa e verde

durante os dois primeiros anos, tornando-se cinza-escuro e de superfície irregular na planta adulta. Aaltura varia entre 1 m e 1,5 m. O caule emite ramoslaterais formando a coroa ou forquilha ou jorguetee, posteriormente, desses ramos, outros surgem paraformar a copa do cacaueiro. Esses ramos são de cres-cimento vertical (ortotrópicos) e de crescimento ho-rizontal (plagiotrópicos). O cacaueiro pode ser pro-pagado também por via assexuada, sendo a enxertiapor borbulhia e a estaquia as formas mais usuais.

3.2.3 FloresAs flores são hermafroditas e pentâmeras, apre-

sentando pétalas, sépalas, estames e estaminódios oufalsos estames. No pistilo, o ovário apresenta de 30 a70 óvulos. Os órgãos reprodutivos (estame e pistilo)encontram-se isolados na flor por duas barreiras fí-sicas: a coroa de estaminódios e as próprias pétalasque envolvem as anteras. A presença dessas barreirasfavorece a polinização cruzada, mesmo em cacaueirosauto compatíveis, embora nestes a taxa de autofe-cundação seja relativamente alta. Essa situação con-corre para que o manejo de agroecossistemas comcacaueiros no Sul da Bahia tenham uma preocupaçãocom a reprodução da micro-mosca Forcypomia, res-ponsável pela polinização.

3.2.4 FrutosO cacaueiro produz frutos indeiscentes, do tipo

bacóide drupissarcídio, pentalocular, com ampla va-riação de tamanho, formato, pigmentação, rugosi-dade, profundidade do sulco longitudinal na super-fície da casca, espessura da casca e cerosidade. O

período compreendido da fertilização da flor até amaturação do fruto varia de cinco a seis meses.

3.2.5 sementesAs sementes constituem a parte de maior interesse

econômico do cultivo, variando em cor, formato, pesoe tamanho, segundo o grupo genético e o cultivar. Ogrupo Criollo possui sementes grandes, arredondadase brancas; o Forastero sementes de menor tamanho,elípticas e de cor violeta e os trinitários uma amplavariação entre os dois primeiros. Algumas exceçõespodem ocorrer, como no caso do cacau Catongo doSul da Bahia e o Nacional do Equador. Forasteros, mascom as amêndoas brancas ou violeta claro.

Figura 05 – Frutos deTrinitários, Forastero eCriollo, em sentido horário

Figura 06 – sementes dos três grupos genéticos,Forastero, Trinitário e Criollo

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As variedades de cacaueiros existentes no Sulda Bahia são em sua grande maioria de cacaueirosForasteros, trazidos há mais de 260 anos e melho-rados pelo próprio produtor. Após a criação da Es-tação Experimental de Água Preta, Gregório Bondariniciou as primeiras seleções massais, que deramorigem as seleções ICB (Instituto de Cacau daBahia) e SIAL (Instituto Agronômico do Leste).

Inicialmente, a partir de 1746, foram introduzi-das sementes de cacaueiros da variedade conhecidacomo comum, e, no ano de 1876, as variedades Paráe Maranhão surgiram também a partir de mutaçãoe cruzamentos as variedades conhecidas como Ca-tongo e Almeida, que possuem as amêndoas bran-cas como as plantas do grande grupo Criollo.

Em 1907, o Suíço Leo Zahrner introduziu doentão Ceilão variedades de Cacau, do grupo Criouloda Venezuela e do Panamá, mas que não prospe-raram na Bahia.

4.0 Melhoramento Genético e Variedades do Sul da Bahiadario ahnert e adriana Cristina reis Ferreira

De forma geral, as variedades baianas origina-rias de Forasteros são:

Pará: Caracterizado pela forma arredondada, ta-manho pequeno, sementes pequenas, amêndoascor violeta. Subvariedades do cacau Pará: casca de ovo oupele-de-ovo (casca fina); e Laranja – com formatode laranja.Parasinho: semelhante ao Pará, porém os frutossão menores. Não tem valor comercial. A indústriachocolateira exige o peso mínimo de 1 g/semente.A semente do parasinho é inferior a 0,9 grama.Maranhão: fruto amelonado, comprido, sulcosbem evidenciados, apresenta estrangulamento pe-duncular bem pronunciado (gargalo de garrafa),casca grossa. Sementes: tamanho médio, interna-mente de coloração violeta.Comum: amelonado de tamanho médio e sulcado,

Figura 07 – Frutos das variedades Comum, Parasinho e Pará Figura 08 – Fruto da sub-variedade laranja

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4.0caracterizado pelo tamanho médio entre o Pará eo Maranhão. Catongo e Almeida: variedades mutantes des-cobertas por Gregório Bondar cujas sementes sãobrancas, apesar de Forasteros.

Todas essas variedades de cacaueiros comuns,fruto da seleção de agricultores do Sul da Bahia,resultaram em um conjunto de variedades alta-mente produtivas e bem homogêneas em termosde porte. Porém, com uma baixa resistência a al-gumas doenças, a principal delas, a podridão-parda.

As variedades de cacaueiros comuns ainda estãopresentes no Sul da Bahia e são as variedades commaior população de plantas. A partir da criação daCEPLAC (Comissão Executiva da Lavoura Cacaueira),em 1957, iniciou-se um trabalho de melhoramentogenético pela produção de híbridos com base em

Geração de 600 progênies, cruzando as seleções Co-muns x Trinitários; Comuns x Amazônicos; Comunsx Criollos; Trinitários x Trinitários; Crioulos x Trini-tários. Os Trinitários e Criollos foram trazidos de al-gumas coleções da Costa Rica, de Trinidad e Tobago.

Dos cruzamentos testados, foi verificada a su-perioridade de progenitores amazônicos cruzadoscom as variedades Comuns. Foram feitos camposde produção de sementes em larga escala a partirda década de 60. Em geral. O agricultor recebiauma mistura de sementes de 30 híbridos e, comisso, havia um aumento da heterogeneidade emenor vulnerabilidade genética.

Porém, a maior heterogeneidade e a forma comoeram distribuídas as sementes, a partir de frutos, acar-retaram problemas nas diferenças de crescimento evigor de plantas, e de polinização, principalmente poralguns híbridos auto e inter-incompatíveis que nãose auto fecundavam e nem fecundavam as outrasplantas. Tudo isso levou a um maior crescimento ve-getativo, promovendo uma competição por água eluz muito grande e uma menor produção.

Figura 09 – Fruto da variedade maranhãoFigura 10 – Fruto da variedade Catongo(no detalhe as amêndoas brancas)

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4.0A partir da década de 1980 passou-se a fazer

uma composição mais homogênea de sementes ea distribuí-las já misturadas no saco, pois um dosproblemas da distribuição, por fruto, é que muitosprodutores, contrariando as recomendações demisturar, escolhiam os maiores frutos e com issoplantas que não se fecundavam entre si pela pro-ximidade genética.

Após a introdução do fungo da vassoura-de-bruxa (Moniliophtora perniciosa), que estabeleceuma relação parasítica com o cacaueiro, muitos ma-teriais tolerantes a esta doença foram encontradosnas populações de híbridos que tinham descendênciade algumas variedades de cacaueiros com tolerânciaà doença. Essas plantas foram selecionadas e gera-ram várias variedades “clonais”, com boa produtivi-dade, tolerância à vassoura-de- bruxa, podridão-parda e, em alguns casos, mal-do-facão.

Outros aspectos como porte, compatibilidadesexual, tamanho de fruto, número de amêndoas

por fruto e peso da amêndoa foram variáveis tam-bém utilizadas, durante o processo de seleção.

Como forma de avaliar outros aspectos de im-portância para o agricultor, o Instituto Cabruca ea UESC desenvolveram indicadores junto com osagricultores, que hoje estão sendo avaliados. Al-guns indicadores levantados apontam para ques-tões relativas à saúde do trabalhador e à facilidadede manejo como tipo de casca e plantas que nãotombem e produzam o mais distribuído possível.Esses são alguns dos aspectos importantes para oagricultor, conforme quadro 01.

De 2007 a 2012 o Instituto Cabruca em conjuntocom a Universidade Estadual de Santa Cruz e o IFBaiano Campus Uruçuca testou algumas variedades“clonais” sob manejo orgânico. As variedades quemais se destacaram foram: PS 1319 (Figura 11), pH16, CCN 10 e o Ypiranga 01. Ainda não foi feitauma avaliação participativa com as comunidadesacerca dos indicadores levantados.

De forma geral, as varie-dades clonais que se desta-caram sob manejo orgânicoapresentam bons resultadossob manejo convencional.

Figura 11 – Clone Ps 1319sob manejo orgânico(assentamento Terra vista)

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Indicador

Tipo de casca do Fruto

Tamanho dosfrutos

Porte da Planta

Suporte naprodução defrutos sem danosmecânicos

Tolerância adoenças fúngicas

Época deprodução defrutos

Local de produçãona planta

Resistência aalagamento

Resistente a seca

Tipo de copa

Crescimento coma presença daplanta velha

Distribuição daProdução

Objetivo

Facilitar a quebra docacau

Facilitar a colheita

Facilitar a colheita eoutras práticas culturais

Evitar prática deescoramento

Evitar perdas de frutos

Evitar maioresporulação de fungos

Facilitar colheita

Identificar melhoresplantas para as baixadas

Identificar melhoresplantas no topo de morro

Maior interceptaçãoluminosa por área

Manter produçãodurante a substituiçãode copa

Manter a renda aolongo do ano

Característica Desejável

Casca Fina

Poucos frutos com muitasamêndoas

Porte médio

Galhos resistentes a grandequantidade de frutos

Resistente à vassoura-de-bruxa, mal-do-facão epodridão-parda em ordemde importância

Safra Temporã

Produção nos galhos

Plantas resistentes aalagamentos

Plantas resistente a seca

Fechada em “V”

Desenvolvimento do clone com a presença da planta antiga

Produção de frutosespaçadas

Forma de medir

- Percepção visual

- Contagem de frutos por planta;- Contagem de amêndoas porfruto e peso das amêndoas;

Percepção visual da altura e porte

Observação das plantas quenecessitam de escoras

- Número de frutos infectadospor vassoura de bruxa epodridão -parda;- Número de plantas atacadaspor mal-do -facão

- Número de frutos totais /número de frutos da safratemporã

- Número de frutos totais /número de frutos nas plantas

- Plantas com maior produçãona baixada

- Plantas com maior produçãoem áreas com solos rasos

- Percepção visual

- Produção total de cada clone

- Quantidade de frutosproduzidos por mês ao longo do ano

Frequência ( %)

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4.0Quadro 01 – Principais indicadores de avaliação de variedades de cacau na visão dos agricultores

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O agroecossistema Cacau-Cabruca é um sis-tema agroflorestal característico da Região Ca-caueira Sul da Bahia que possui algumas peculia-ridades em seu manejo e, principalmente, em suaabordagem com os agricultores familiares, assen-tados de reforma agrária, indígenas e quilombolas,devido às várias influências históricas e culturais.

Nesse contexto, é importante salientar a necessidadede uma metodologia que dialogue com a realidade decada grupo, a partir de uma prática extensionista par-ticipativa e construtivista. Dessa forma, o Instituto Ca-bruca visando qualificar a sua atuação com essas co-munidades, elaborou a metodologia Cabruca Dinâmica,a partir de discussões internas e com as comunidadesassistidas. O objetivo do método é propor um roteiro deintervenção que deve ser ajustado com a comunidadee em função da percepção do extensionista.

O método Cabruca Dinâmica se baseia nos se-guintes princípios:- Planejamento, Monitoramento e

Avaliação Participativa;- Aptidão do lote e da família;- Uso múltiplo do lote;- Foco no enriquecimento do sistema

Cacau-Cabruca e formação de sistemasagroflorestais;

- Manejo agroecológico do cacaueiro,sucessão e manejo da biodiversidade.

O texto a seguir procura descrever esta meto-dologia de forma simples e objetiva, para que possaser replicada e sirva de auxílio a técnicos e exten-sionistas no seu dia-a-dia.

5.0 Gestão do Lote ou imóvel – Cabruca DinâmicaCristiano de souza sant’ana e Thiago guedes viana

5.1 diagnóstico, Planejamentoe monitoramento:

5.1.1 diagnóstico e planejamentoÉ de grande valia para o bom desenvolvimento

de futuras atividades que as etapas de diagnósticoe planejamento estejam em comum acordo comas expectativas, os sonhos e a aptidão da comuni-dade. É nesse momento que deve se estabelecer avisão de futuro para a comunidade.

Sendo assim, para o diagnóstico se propõe:

realizar visitas iniciais e apresentaçãoda metodologia a ser utilizada nodiagnóstico;

Deve-se em primeiro lugar procurar saber pormeio de diálogos formais e informais a história ea realidade da comunidade, tentando identificaros possíveis conflitos existentes, as perspectivas ea visão presentes. Para isso, é muito importanteconhecer as lideranças, os grupos existentes, o quepensam as mulheres e os jovens.

Após a primeira fase, é importante planejar odiagnóstico utilizando as melhores ferramentasdisponíveis para realizar a linha de base do projeto.Se a comunidade já passou por diagnósticos ante-riores, será preciso levantar as informações e tentarutilizá-las o máximo possível, só levantando dadosnão obtidos considerados importantes.

Em seguida, deve-se discutir e aprimorar coma comunidade a metodologia de diagnóstico e oobjetivo dele como ferramenta para monitorar eavaliar o desenvolvimento da comunidade.

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5.0Após a apresentação do objetivo e da metodo-

logia deve-se discutir e esclarecer todos os ques-tionamentos. É importante sensibilizar a comuni-dade para uma maior adesão e perguntar aos agri-cultores que estão dispostos a participar das ati-vidades os dados pessoais para criação de um ca-dastro mínimo (nome completo, RG e CPF). A partirdaí é preciso agendar a realização de oficinas par-ticipativas, a confecção de mapas e croquis de cadalote e da comunidade como um todo, bem como arealização de entrevistas com questionários semi-estruturados e de indicadores de sustentabilidadeda comunidade e da família.

realização de oficinas participativas:Existem muitas metodologias que podem ser

utilizadas para o levantamento de informaçõessobre a comunidade, tais como mapa de uso e lo-calização dos recursos naturais, linha do tempo,diagrama de veen e outros que possam auxiliar no

levantamento dos diversos tipos de informaçõeshistóricas, agronômicas, culturais, relativas ao usoda terra e de recursos naturais, entre outros queauxiliem a comunidade na tomada de decisão e noplanejamento participativo das ações coletivas.

Caminhada em transecto e entrevistasemiestruturada:

Após a realização de oficinas participativasdeve-se conhecer a realidade de cada família. Aentrevista, portanto, deve ser realizada com todaa família e de preferência com uma caminhada emtransecto pelo lote. Com auxilio de instrumentoscomo câmera fotográfica, caneta e papel, será pos-sível levantar todos os aspectos que surgem pelaobservação do agricultor e do técnico, tais como:presença de encostas, rios ou nascentes, caracte-rísticas dos solos, presença de afloramentos rocho-sos ou solos hidromórficos, áreas em estágio inicial,médio ou avançado de regeneração, características

Figura 12 – visita ao lote comcaminhada em transecto

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5.0do relevo ou qualquer tipo de característica mar-cante da área. Deve ser observado também o usoatual da terra e elaborar, em conjunto com o agri-cultor e a família, um croqui do lote, contendo in-formações pertinentes como tamanho do lote (uti-lizar GPS de navegação), número de cacaueiros,número de indivíduos e espécies de árvores desombra, número de plantas de espécies frutíferas,uso de área para criação animal, área de mata, ca-poeira, rio, nascente, riacho e estrada, entre outraspor meio de amostragens.

Durante a caminhada e a estadia no lote doagricultor, de forma natural e informal, tentandonão constrangê-lo, deverão ser feitas as perguntasjá previamente estabelecidas para coleta de dados(sugestão: anexo 01).

Deverão ser coletados os seguintes dados paratipificação do perfil da família: - Quantidade de pessoas que residem na

casa do proprietário: homens adultos,mulheres adultas, jovens, crianças, idosos,força de trabalho, expectativas, sonhos;

- Grau de escolaridade dos residentes;- Origem dos residentes: urbana ou rural;- Preferência de atividade: agricultura,

pecuária, criações;- Expectativas;- Outras informações que o técnico achar

pertinente.

5.1.2 Planejamento da comunidade e do loteO resultado do diagnóstico deverá ser exposto

à comunidade para que, a partir dessas respostas,seja possível realizar um planejamento de ações eatribuir responsabilidades para comunidade, agri-cultores e técnicos extensionistas. Também deveráser feito um planejamento do lote do agricultor,elaborado em conjunto com a família e confeccio-nando, de preferência, um mapa de uso futuro dolote, projetando quais os recursos necessários paraa implantação da proposta de uso e a disponibili-

Figura 13 – exemplo de croqui da área feitodurante caminhada em transecto Figura 14 – imagem de satélite com o lote georreferenciado

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Figura 15 – linhade diversidadesendo implantada

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5.0dade do agricultor e da família.

Neste momento, deverá ser considerada a pers-pectiva de uso múltiplo do lote, buscando contem-plar as várias expectativas da família, de mulherese jovens. É também muito importante escolher umaárea de cacaueiros safreiros com bom índice deárea foliar e uma área de cacaueiros decadentesonde se pode propor ao agricultor e à sua famíliarealizar o enriquecimento com espécies frutíferase estabelecer cultivos de ciclo curto, bianuais eleguminosas. É possível, ainda, inserir leguminosasarbóreas e realizar o adensamento da área, commudas de sacola grande (mudão) e prever o auxilioa família na implementação de outros cultivos ecriações. Para isso, deverá ser elaborado o plane-jamento com a comunidade do calendário de prá-ticas e contrapartidas, entrega de insumos, calen-dário de dias de campo (práticas) e visitas aos lotes.

5.1.3 monitoramentoCom o planejamento elaborado e em execução

é importante realizar o monitoramento participa-tivo com os agricultores, verificando e debatendoos resultados. Para isso é importante monitorar osseguintes itens:1. Execução do calendário de dias de

campo, capacitação e visitas aos lotes;2. Definição de unidades para coleta de

dados agronômicos e ecológicos deacordo com o perfil do produtor, ouseja, observando o nível de compromissode cada agricultor com as açõesexecutadas, perfil físico do lote,localização, facilidade de acesso, entreoutras características que podem serjulgadas pertinentes pelo técnico

responsável pela área, pode-se concluirqual será a melhor área para seexecutar a pesquisa;

3. Apresentação dos resultadossemestralmente ao agricultor e àcomunidade como um todo;

4. Utilização de indicadores participativospara a avaliação do desenvolvimento douso da terra, do sistema Cacau Cabrucae dos agroecossistemas implantadospelo agricultor e sua família em seulote (Sugestão: Anexo II).

O uso de indicadores participativos na avaliaçãoda evolução do uso da terra no lote do agroecos-sistema Cacau Cabruca tem o objetivo de avaliara sua eficiência, principalmente, com relação à:gestão do lote, viabilidade econômica, aspectos so-ciais, questões fitotécnicas e serviços ambientaisde conservação do solo, água e biodiversidade.

Para isso, poderá ser utilizado o roteiro de en-trevista e de verificação “in loco”, de acordo commetodologia proposta por Viana et. al., (2011). Essametodologia baseia-se no estabelecimento deáreas temáticas. São levados em consideração 73indicadores gerais – observados e avaliados emcampo – tais como: erosão, cobertura do solo, su-porte a produção das plantas, cobertura florestalda cabruca, manejo das áreas legais, conservaçãoda fauna, uso da cabruca como corredor ecológico,produtividade do cacaueiro, nível de sombra naárea, uso da adubação verde, comercialização daprodução, renda média, etc.

A utilização destes indicadores deverá ser feitauma vez por ano, ou na metade de um projeto, apartir do início das atividades após o planejamento.

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5.0Passos para aplicação de indicadores:1. Explicar para o agricultor o objetivo

dos indicadores; 2. Fazer uma caminhada em transecto

para reconhecimento da área,utilizando o roteiro como um guia deapoio para as observações;

3. Ler atentamente cada pergunta quedefinirá a avaliação de cada parâmetro,completar a nota e os comentários;

4. Completar os questionários das áreassocial e econômica;

5. Executar esta tarefa ao longo da visita,buscando que cada parâmetro sejadiscutido. O objetivo amplo da proposta éproporcionar um diálogo e o intercâmbioentre o técnico, o agricultor e sua família;

6. Após completar os parâmetros de todasas áreas temáticas, fechar os valores ediscutir com o agricultor os resultados;

7. Estes resultados serão apresentados nofinal de cada ano e formarão aprimeira linha de base de dados do lotedo agricultor;

8. Deverá ser feita uma análise crítica, porparte do técnico e dos agricultores,acerca da aplicação desta ferramenta deavaliação, consolidando, excluindo oupropondo novos parâmetros eindicadores;

9. Os indicadores que forem confirmadoscomo relevantes e viáveis serãotrabalhados com técnicas analíticas equantitativas, com apoio do caderno domonitoramento;

O trabalho de indicadores, o monitoramento ea sistematização se cumprirá na medida em quecada técnico realizar: 1. Aplicação do roteiro de avaliação (e

sistematização dos resultados); 2. Consolidação dos parâmetros e

indicadores gerais; 3. Aplicação de técnicas de levantamento

de dados quali-quantitativos, criando a“linha de base” para os lotes, quepassarão a ser áreas demonstrativas;

4. Realização de oficinas semestrais para aapresentação dos dados e discussãocom as comunidades.

5.2 extensão e PesquisaParticipativa;

É importante estabelecer ações de Extensão ePesquisa Participativa com a comunidade, para queas ações tenham continuidade e adesão. Para isso,sugere-se que sejam implantadas áreas demons-trativas em cada comunidade, para que sirvam deparâmetro e modelo de aprendizado para técnicose agricultores. A comunidade deverá participar decada etapa da implementação da área, inclusive noplanejamento, e garantir a validação do método eda coleta de dados primários a ser feita pelos téc-nicos envolvidos (qualidade do solo, sanidade e pro-dução de cultivos, diversidade funcional do sistema,multifuncionalidade para a família, dentre outros).

Para tal, deverá ser realizada, em mutirão, pormeio da realização de dias de campo, a implantaçãode uma área de 01 ha, a ser previamente escolhidacom a comunidade, onde deverá ser efetuado o tra-

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balho de recuperação da área (Figura 16).Tendo como foco o enriquecimento do sistema

Cacau Cabruca e a formação de sistemas agroflo-restais sob manejo agroecológico do cacaueiro (tra-tos culturais, manejo do solo, calagem e adubaçãoorgânica), sucessão e manejo da biodiversidade comuso múltiplo do lote alguns princípios e algumasações devem ser levados em consideração:1. Implantação de viveiros e bancos de

sementes; 2. Produção de mudas e distribuição

de sementes que possam ser produzidas “in loco”;

3. Enriquecimento com anuais e bianuais(mandioca, abacaxi, milho, feijão, feijãode corda, leguminosas);

4. Enriquecimento com leguminosasarbóreas para a produção de biomassa(Tabela 01);

5. Enriquecimento com espécies florestaispara a geração de renda, produtosmadeireiros e não-madeireiros(Capitulo 09);

6. Pesquisas participativas (sugestões):produtividade do cacaueiro e dosistema como um todo (outros cultivos,crescimento de arbóreas), indicadoresde clones de cacau, crescimento deespécies arbóreas, carbono no sistema efenologia, produção de biomassa eciclagem de nutrientes e fixaçãobiológica de nitrogênio por leguminosase outras espécies.

Figura 16 – mutirão paraimplantação de área demonstrativano assentamento loanda – itajuípe

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Figura 17 – experiência de produçãocomunitária de mudas no assentamentoPedra Bonita – itamaraju

Figura 18 – enriquecimento do sistemacom a espécie leguminosa ingá demetro e açaí no assentamento Terravista - arataca

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5.05.3 avaliação e difusão;

Para a avaliação deverá ser feita, anualmente,a aplicação de indicadores de sustentabilidade (ci-tados acima) e a verificação da mudança de dinâ-mica do lote. É de suma importância para difusãodos resultados a promoção de intercâmbios entreos agricultores e os técnicos para que possam co-nhecer novas realidades, trocar experiências e com-partilhar expectativas com o objetivo de criaremuma auto motivação. Além disso, deverão ser ela-borados, de forma contínua, cartilhas, boletins téc-nicos e vídeos, visando à garantia da difusão dosconhecimentos para outras comunidades.

Figura 19 – enriquecimento com essências florestaisPutumuju (Centrolobium robustum) e Jequitibá rosa(Cariniana legalis) assentamento Terra vista – arataca

Figura 20 – intercâmbio de experiênciasentre técnicos e agricultores

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A região cacaueira do Sul da Bahia está locali-zada no corredor central do bioma Mata Atlântica.Este bioma ao longo do tempo foi muito explorado,hoje ela conta com apenas 7 % do original emgrandes blocos contínuos e 25 % de forma muitofragmentada. Sendo assim, não se concebe mais aabertura de novas áreas de floresta para o plantiode cacau, mesmo utilizando-se o método cabruca.

Diante disso, iremos tratar aqui principalmenteda substituição de plantações decadentes de cacaue do plantio em áreas de pastagens ou outros usosda terra. Plantações decadentes de cacau geral-mente têm as seguintes características: áreas commenos de 600 plantas por ha, plantas com mais de80 anos, plantios irregulares, com muitas falhas ebaixo índice de área foliar. Uma das questões maisimportantes atualmente na recuperação de áreasdecadentes do agroecossistema Cacau Cabruca éo tipo de muda e a estratégia de substituição deplantas velhas e decadentes por plantas novas eadequadas para o manejo agroecológico.

6.1 escolha e preparo de área:

É importante verificar em qualquer situação aviabilidade das áreas para o cultivo do cacaueirodo ponto de vista dos solos, que devem ser pro-fundos, bem drenados, de preferência de texturaargilo-arenosa, que permitam um bom desenvol-vimento radicular. Não devem existir impedimentosfísicos como piçarra e cascalhos. Além disso,

6.0 Tipos de mudas e plantio do cacaueirodurval libânio netto mello e dario ahnert

o lençol freático deve ter mais de 1 m de pro-fundidade. Um segundo passo é verificar a dispo-nibilidade de recursos financeiros, tecnológicos ede mão de obra da família.

No caso da metodologia “Cabruca Dinâmica”preconizada pelo Instituto Cabruca no âmbito doseu Programa Terra Verde, destinado à agriculturafamiliar e outras comunidades tradicionais, deve-se escolher a área mais decadente do imóvel oulote e iniciar um processo de sucessão de espéciesanuais, bianuais e perenes, onde o cacaueiro podeser plantado no primeiro ou segundo ano de acordocom a muda a ser escolhida.

Em áreas de cacaueiro com melhor índice deárea foliar e melhor potencial produtivo, deve-semanejar para aumentar a produtividade, fazendo-se aos poucos a substituição de plantas, adensandocom mudas seminais enxertadas com clones tole-rantes à vassoura-de-bruxa ou com variedades tra-dicionais de cacaueiros comuns dependendo da es-colha entre o técnico, o agricultor e a família.Deve-se promover também o enriquecimento comlinhas de diversidade (Capitulo 09), com espéciesleguminosas, fruteiras, palmáceas e espécies arbó-reas com fins madeireiros e não madeireiros.

6.2 Tipos de mudas disponíveis:

Existem atualmente diversos tipos de mudasque podem ser utilizadas para o plantio de cacauei-ros, a escolha vai depender da estratégia adotada

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6.0e da capacidade do agricultor em manejar seuagroecossistema. São elas: mudas clonais de esta-cas enraizadas, mudas seminais de variedades tra-dicionais em sacola, mudas seminais em tubetes,mudas seminais enxertadas em viveiros com en-xertos tolerantes a fitoparasitas e potencial pro-dutivo elevado. A seguir, um breve comentáriosobre cada tipo de muda.

6.3 mudas clonais, estacasenraizadas:

Este tipo de muda é produzido pelo InstitutoBiofábrica de Cacau e consiste em estacas deramos plagiotrópicos que são enraizadas utili-zando-se hormônios sintéticos e muitos agroquí-

micos. Não se recomenda o plantio dessas mudasdireto no campo sem fazer uma adaptação para omanejo orgânico, sendo necessário transplantá-laspara sacolas plásticas de dimensões variáveis e,depois três a seis meses, levar para campo.

Estas mudas demandam maiores cuidados e tra-tos culturais como a poda de formação e, em mui-tos casos, a amarração dos galhos, visto que elanão possui pivotante e nem o tronco principal or-totrópico que dá estabilidade ao cacaueiro. Muitosprodutores têm tido sucesso na utilização destamuda em plantios em áreas abertas.

Estas mudas também podem ser transportadaspara sacolas maiores com o objetivo de leva-laspara o campo quando já estiverem emitindo florese aptas a iniciar a produção. Isto é possível, poisa muda “clonal” está na fase adulta do ponto devista genético.

Figura 21 – mudas de cacauclonal no tubete e adaptadacom sacola grande sobmanejo orgânico (mudão)

Figura 22 – Plantio de cacaueiros commudas clonais, ver no detalhe o“amarrio” dos galhos e o uso de escora

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6.4 mudas seminais enxertadas em viveiro

Além das mudas clonais enraizadas, pode–seoptar por usar mudas seminais enxertadas comramos plagiotrópicos em viveiro. O procedimentodeve seguir a seguinte sequência: promover a ger-minação de sementes que podem ser de variedadecomum ou dos clones TSH 1188 e Cepec 2002 queapresentam maior tolerância à doença mal-do-facão; lembrar que após uma semana das sementesgerminadas é preciso transplantá-las para o sacode polietileno de 25 x 8 cm (pequeno) ou de 40 x10 cm (grande), dependendo do objetivo do pro-dutor. Mudas feitas com sacos pequenos enxerta-das aos cinco meses e levadas para o campo com08 meses, 15 % entraram em produção no primeiroano (Sódre e Marrocos, 2009).

Em sacolas grandes foi adaptado o manejo or-gânico com sucesso para mudas clonais e seminaisenxertadas, utilizando-se o substrato com com-posto orgânico, areia e pó de serra, enriquecidocom fosfato natural, pó de rocha de Ipirá comofonte de potássio, micronutrientes e aplicação fo-liar de extrato de pimenta de macaco (Piper adun-cum) em intervalos de 15 dias.

Foi utilizada a seguinte composição: 50% de póde serra bem decomposto (recomenda-se o do mu-nicípio de Una), 30 % de areia lavada e peneiradae 20% de composto de tegumento de amêndoa(Sódre e Marrocos, 2009).

Figura 23 – no sentido horário: muda clonal recém- transplantada, após três meses detransplante para sacola maior e muda seminal enxertada após três meses de transplante

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6.0Preparo com adubação orgânica (adaptado de sodré e marrocos, 2009).

1. Misturar para cada 70 litros de substrato (01 carro de mão em média): 350 g de calcário dolomitico, 550 g de fosfato natural de gafsa ou Yoorim e 700 g de rocha de Ipirá

2. Adubação foliar (a cada 15 dias): Aplicar biofertilizante de esterco a 5% ou extrato de Piper aduncum a 4 %; Aplicar 50 ml da solução por sacola. Observação: 10 L de solução podem ser aplicados em 50 plantas.

Figura 24 – Tipos de mudasde cacau seminal enxertada,clonal e seminal

Figura 25 – mudaem tubete nasacola grande

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6.5 Condução e Poda de formaçãode mudas clonais e seminaisenxertadas

Tanto mudas clonais como mudas seminais en-xertadas, quando conduzidas em viveiro em sacolagrande, devem ser podadas ao menos uma vezantes de ir a campo. No caso de mudas clonaisdeve-se realizar uma poda após quatro meses detransplantadas as mudas do tubete, eliminando-

se ramos laterais, deixando-se apenas um ramo,de preferência o mais ereto. Após o plantio nocampo, a partir de 20 cm do solo, deixa-se formartrês ou quatro ramos, formando uma taça abertapara frutificação.

No caso de mudas seminais enxertadas, deve-se fazer o enxerto a 20 cm de altura da muda, con-duzindo a muda com quatro ramos formando umataça aberta. Deve-se podar, após quatro meses deenxertado, o ramo principal do enxerto.

Figura 26 – muda seminalenxertada com um ano de viveirocom quatro galhos e flores

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O manejo de solos tropicais deve ter como prin-cípio otimizar a ciclagem dos nutrientes e a ma-nutenção da matéria orgânica do solo por meio doequilíbrio entre o solo e a vegetação, no sentidode garantir a capacidade produtiva do solo, a auto-regeneração ou a resiliência dos sistemas e os pro-cessos biológicos no sistema solo-planta.

É preciso desenhar e manejar os agroecossiste-mas com plantas que conciliem ciclagem de nu-trientes, produção de biomassa e manutenção deciclos e processos naturais. Dessa forma, utilizarplantas leguminosas e não leguminosas que reali-zam a fixação biológica de nitrogênio atmosfé-rico(do ar) – produtoras de biomassa, plantas quepromovem a solubilização e a ciclagem de fósforo,a atração de fungos micorrizícos, o aporte de ma-téria orgânica e que contribuam, principalmente,para diminuir a temperatura do solo, etc. Alémdisso, é essencial o manejo da biomassa vegetal eanimal do imóvel rural. Todas as plantas, restos ve-getais, capineiras subutilizadas, plantas exóticasinvasoras e estercos animais devem ser utilizados.

Admite-se que nas áreas decadentes de plantiosde cacau utilize-se, nos três primeiros anos, umaadubação de substituição de fertilizantes sintéticos,como forma de se fazer a transição agroecológica,sem comprometer a renda do agricultor.

A ideia é promover a transição agroecológica,por meio da substituição de insumos em curtoprazo, e em médio prazo o redesenho de áreas deCacau Cabruca buscando a sustentabilidade e ouso mínimo de insumos externos ao imóvel.

7.0 Manejo do Solo, calagem e adubação orgânicadurval libânio netto mello, natalia galati araujo, Tarcíso matos, adson santos de oliveira, Thiago guedes viana e eduardo gross

7.1 adubação de substituição ou de conversão

O conceito de adubação de substituição ou deconversão será aqui trabalhado numa perspectivatransitória até que se aperfeiçoem a ciclagem denutrientes e a fixação biológica de nitrogênio at-mosférico. Para isso, recomendaremos algumas fór-mulas de adubação e calagem a partir do resultadode amostras de solos, sem comprometer os pro-cessos biológicos no sistema solo-planta. As fór-mulas obedeceram à necessidade nutricional docultivo, sem comprometer a sanidade dos mesmos,a partir da Teoria da Trofobiose.

Serão recomendados resíduos vegetais e ani-mais, calcários, fosfatos naturais, rochas moídas,biofertilizantes e sais micronutrientes.

7.1.1 Calagem e gessagem:A calagem deve ser realizada a partir da fórmula

de saturação de bases, considerando-se atingir 20cm de profundidade de solo e 60 % da saturaçãode bases no solo. A quantidade final deve ser di-minuída em 20 % e dividida em duas parcelas aserem aplicadas em fevereiro e agosto. É muito im-portante que se use calcários com Poder Relativode Neutralização Total (PRNT) mais baixos, pois sãomenos solúveis e deixam mais resíduos que terãoum efeito a médio e longo prazo de liberação emenor impacto sobre a matéria orgânica do solo.Fórmula: NC (t.ha-1) (V2-V1) x T x f / 100NC= necessidade de calagem

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V2 = nível de saturação por bases que sedeseja alcançar, cacau = 60 %;V1 = nível de saturação por bases atual,verificar amostra de solo;T = capacidade de troca de cátions totalou a pH 7,0 (CTC Total);f = fator de conversão com base no PoderRelativo de Neutralização Total (PRNT) docalcário a ser utilizado, (100/PRNT).

Exemplo: Resultados médios AssentamentoRosa Luxemburgo, saturação de bases atual32,16 % e CTC Total de 9,59 cmolc.dm-3

NC = (60 – 32,16) x (9,59) x (1,16) /100= 3,09 t.ha-1, subtrai-se 20 % = 2,47t.ha-1/2 = 1,24 t.ha-1 (-20 %) = 0,992

t.ha-1 aproximadamente 1000 kg. ha-1 emduas vezes fevereiro e agosto.Fator de correção calcário PRNT= 86 %100/86 = 1,16

No caso do uso de gesso para solos com altoteor de alumínio, deve-se substituir 20% da dosedo calcário por gesso.

Forma de aplicação:Deve se aplicar o calcário a lanço sobre o solo,

dividindo-se a quantidade total pelo número deplantas por ha. Aplica-se entre as plantas se o es-paçamento for regular e no raio da copa se for ir-regular. Se tivermos 800 plantas, 1240 kg divididopor 800 = 1,55 kg por planta.

Figura 27 – Cacaueirosplantados em espaçamentoregular 3 x 3 m e irregular

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7.07.1.2 adubação de Plantio:A adubação de plantio é muito importante para

o desenvolvimento das mudas com vigor e sani-dade. No plantio é muito importante a adubaçãocom fertilizantes que contenham fósforo, por serum elemento de baixa mobilidade no solo e de ex-trema importância nas fases iniciais em que aplanta possui poucas raízes.

Além disso, é muito importante que se realizeadubação com micronutrientes, potássio, enxofree outros nutrientes importantes para corrigir o soloe estimular processos biológicos.

Sempre que possível é importante que se mis-ture a fonte de fósforo, potássio e micronutrientesa uma fonte de matéria orgânica na forma dehúmus ou em estágio avançado de decomposiçãopara evitar que ocorra fermentação na sub-super-fície do solo, aumento da condutividade elétrica ea emissão de gases tóxicos.

É necessário conhecer a disponibilidade de fós-foro no solo, considerando-se: baixa <9 mg. Dm-3,media de 9 a 15 mg.dm-3 e >15 mg.dm-3 alta. Atabela 01, adaptada de Chepote et al. (2005) trazrecomendações a serem feitas a partir de duas fon-tes de fósforo admitidas no manejo orgânico.

Para o plantio das mudas deve-se abrir um bu-raco de 40 x 40 x 40 cm (largura, comprimento eprofundidade), separando-se a parte superior de 0a 20 cm de profundidade e a de 20 a 40 cm deprofundidade. Não se deve inverter as camadascomo alguns livros e autores recomendam. O fos-fato deve ser misturado em pelo menos 01 litro dematéria orgânica bem decomposta e depois aosubstrato de 0 a 20 cm. Na parte do substrato de20 a 40 cm deve-se colocar calcário dolomítico narazão da necessidade de calagem (NC) x 0,032(corresponde a 32 dm3). Se a necessidade de cala-gem for de 2000 kg, por exemplo, colocaremos(2000 x 0,032) = 64 g (Chepote et al. 2005).

Pode-se colocar gesso agrícola junto com o cal-cário substituindo também 20 % da dose de cal-cário pelo gesso.

Mistura-se o calcário e gesso ao substrato de20 a 40 cm e coloca-se na parte inferior do berço.Em seguida, é preciso colocar a muda e completaro preparo com a mistura de fosfato, outras rochasmoídas (recomenda-se 100 g de MB-4 ou Rochade Ipirá), matéria orgânica e o substrato de 0 a 20cm misturados. Depois de colocar a muda no berçoe de preenchê-lo deve se colocar restos de palhada

FósforoFontes

Termofosfato Yoorin (Chepote et al., 2005)Fosfato Natural de Gafsaadaptado de Chepote et al. (2005)

Tabela 01 – Recomendação de adubação – fonte de fósforo – para um berço de 40 x 40 x 40 cm

Faixa de disponibilidadeBaixa Média Alta

mg.dm3

<9 9 a 16 17 a 30g / berço de P2O5

220 170 110250 200 130

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Figura 28: Passo a passo plantio de muda manejo orgânico

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7.0ou de troncos de bananeiras cortados ao meio,como forma de conservar a umidade do solo.

Na figura 28 temos um passo a passo do plantiode uma muda de cacau, em sentido horário:

Abra um berço de 40 cm de largura, compri-mento e profundidade; separe o solo de 0 a 20 cme o de 20 a 40 cm de profundidade; coloque umpouco do calcário recomendado no fundo do berçoe misture o resto com o solo de 20 a 40 cm; colo-que a muda, após retirar a sacola plástica, dentrodo berço e o solo misturado ao calcário até a pro-fundidade de 20 cm; misture o fosfato natural re-

comendado com a matéria orgânica e depois aosolo de 0 a 20 cm e complete até preencher todoo berço; cubra então o solo com matéria orgânicaao redor da muda fazendo uma cobertura mortapara manter a umidade (Centro da figura).

7.1.3 adubação organo-mineral:A adubação organo-mineral consiste em aplicar

fertilizantes orgânicos misturados com fosfatos na-turais e outras rochas moídas, visando aumentara fertilidade natural do solo e proporcionar uma

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7.0melhor nutrição às plantas. Num conceito maisatual e na perspectiva agroecológica, a fertilidadede um solo pode ser entendida como: “a capaci-dade do solo em interação com a planta, de arma-zenar e suprir água e nutrientes, mantendo umequilíbrio solo-vegetação, a manutenção de pro-cessos biológicos, a matéria orgânica e a qualidadedas propriedades físico-químicas do mesmo”.

Nesta perspectiva, a adubação organo-mineralcontribui com diversos aspectos que se relacionacom: atividade microbiana, manutenção da matériaorgânica, porosidade, densidade, neutralização doalumínio tóxico, além de não inibir processos im-portantes como a fixação biológica de nitrogênioe a manutenção de fungos micorrizícos no solo.

De forma geral, no Sul da Bahia temos algumasfontes de matéria orgânica disponíveis para serem uti-lizadas principalmente como fonte de nitrogênio, comoé o caso da película ou tegumento da casca do cacau,torta de mamona e outras fontes, conforme tabela 02.

Estes materiais devem ser compostados antesde serem utilizados (principalmente estercos de ga-linha e bovinos se vierem de fora do imóvel rural).Cada comunidade ou assentamento deve buscar a

otimização e a produção de compostos em seusimóveis, utilizando-se de capineiras subutilizadas,restos de podas, leguminosas existentes, etc.

As comunidades devem buscar autossuficiênciana produção de compostos orgânicos e na aduba-ção verde, manejando e enriquecendo a área deplantio de cacau adulto com leguminosas e outrasespécies arbóreas perenes e lavouras jovens comleguminosas anuais, inclusive como fonte de ali-mentação, tais como: feijão comum, feijão decorda, guandu, mangalo e fava. Outra perspectivaé a integração lavoura-pecuária. Neste caso, tra-balhar na perspectiva da criação de pequenos ani-mais no imóvel ou lote.

O quadro 02 também traz a recomendação deadubação por ha para lavouras de cacau adultas

Esta recomendação de adubação com materiaisorgânicos tem como função repor matéria orgânicaao solo, fornecer nutrientes e promover a atividademicrobiana do solo. Ela deve ser realizada junta-mente com fertilizantes minerais como o fosfatonatural e outras rochas moídas. Em função da dis-ponibilidade de fertilizantes, de acordo com aamostra de solo e com base em resultados de pes-

Tabela 02 – Algumas fontes de materiais orgânicos e sua recomendação por ha-1 ano-1

Materiais Orgânicos C/N C N P K Ca Recomendação t.ha-1

% 1° ano 2° anoPelícula de Cacau 20 3,0 2,5 3,5 3,5 2,7Torta de Mamona 10 45 5,0 0,7 1,1 2,4 1,8Esterco bovino curtido 21 32 1,5 1,2 2,1 2,0 5,0 3,8Esterco de galinha 10 14 1,4 0,8 0,7 2,3 5,0 3,8Composto de casca de fruto + esterco curtido 9,04 90,4 1,0 0,5 0,4 0,4 10,0 7,5Cinzas Película de Cacau - 6,4 18,3 -• no segundo ano deve-se reduzir em 25 % a recomendação, desde que o agricultor passe a plantar e manejar

leguminosas já existentes.• adaptado e modificado de Chepote et al. (2005)

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7.0quisas participativas do Instituto Cabruca, no qua-dro 02, recomenda-se as seguintes quantidades defosfato natural, rocha de Ipirá e cinzas para a cul-tura do cacaueiro. O princípio destas recomenda-ções está em usar as recomendações clássicas paraa cultura convencional, aumentando um pouco oteor de potássio e adicionar micronutrientes. Porexemplo, para uma recomendação de 60 – 90 – 60kg por ha, de N, P2O5 e K2O, respectivamente, usa-mos a seguinte metodologia:

Teor de N do material orgânico, porexemplo, torta de mamona. 100 kg detorta de mamona têm 5 kg de para umaquantidade de 60 kg de N temos que ter:

100 kg de torta de mamona__________________________5 kg de NX_______________________60 kg de N

X= 1.200 kg de torta de mamona

Como geralmente a quantidade de Nitrogênio li-berada no primeiro ano por materiais orgânicos é de50 %, multiplicamos por dois a quantidade total aser utilizada. No caso, (1200 X2 = 2.400 kg-1. ha-1.ano-1) de torta de mamona, e no segundo ano dimi-nuímos em 25 % a quantidade (Tabela 1) 1800 kg-1. ha-1.ano-1 de torta de mamona.

É importante também adicionar, sempre que ne-cessário, a adubação com micronutrientes. A re-comendação com micronutrientes deve ser feitatambém conforme resultados de análise do solo everificação de carências nutricionais por diagnosefoliar ou outros mecanismos.

Em geral, o cultivo intensivo de lavouras decacau com uso constante de fertilizantes solúveis

causa um aumento na demanda por micronutrien-tes, fazendo com que a maioria apresente deficiên-cias de boro, manganês, ferro, cobre e outros. Osnutrientes, apesar de serem demandados em poucaquantidade, são essenciais para muitos processosfisiológicos e biológicos nas plantas. Podem ser im-portantes também para processos como a fixaçãobiológica de N e o equilíbrio da microbiota do solo.

Estes nutrientes podem ser restituídos via adu-bação foliar com biofertilizantes enriquecidos comoo “super magro”, por meio de rochas moídas e porsais solúveis misturados a fontes orgânicas. De formageral, deve-se utilizar rochas moídas ricas em mi-cronutrientes como a rocha de Ipirá e o MB-4, quesão misturas de minerais como feldspatos, micaxistoe serpentinita. No caso de deficiências mais agudasvale optar por um biofertilizante ou por aplicar saissolúveis juntamente com a matéria orgânica.

As classes de micronutrientes encontradas viaanálise de solo utilizando-se extrator Mehlich -1e outros, em solos do estado de Minas Gerais econsiderados Muito Baixo, Baixo, Médio, Bom eAlto podem ser vistos na tabela 03.

Para os teores de nutrientes Muito Baixo e Baixorecomenda-se de 3 a 5 kg do elemento por ha, quedevem ser misturados à matéria orgânica.

No caso de plantas de cacaueiros em desenvol-vimento, deve-se realizar a adubação da seguinteforma: as quantidades previstas dos fertilizantesna tabela 01, 02 e 03 e no quadro 02 devem sermisturadas e aplicadas, dividindo-se o peso totalda soma dos fertilizantes pelo numero total deplantas por ha se a área não tiver falhas. Caso aárea tenha falha, deve-se escolher aleatoriamente10 áreas onde não haja falhas, de 10 x 10 m e con-tar o número de plantas e então dividir o total pelonúmero médio.

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7.0Quadro 02 – Quantidades de fosfato natural de gafsa, rocha de ipirá ou cinzaspara a cultura do cacau de acordo com o teor de P2O5 e K2O disponível no solo

<0,10

0,10 – 0,25

>0,25

0-9

adubo orgânico* + 450 kg Fosfatonatural + 330 kg

de cinzas depelícula de cacauou 1.200 kg derocha de ipirá

adubo orgânico* + 450 kg Fosfatonatural + 170 kg

de cinzas depelícula de cacau

ou 600 kg derocha de ipirá

adubo orgânico + 450 kg Fosfato

natural

9-16 adubo orgânico* + 300 kg Fosfatonatural + 330 kg

de cinzas depelícula de cacauou 1.200 kg derocha de ipirá

adubo orgânico* + 300 kg Fosfatonatural + 170 kg

de cinzas depelícula de cacau

ou 600 kg derocha de ipirá

adubo orgânico* + 300 kg Fosfato

natural

17-30adubo orgânico* + 150 kg Fosfatonatural + 330 kg

de cinzas depelícula de cacauou 1.200 kg derocha de ipirá

adubo orgânico* + 150 kg Fosfatonatural + 170 kg

de cinzas depelícula de cacau

ou 600 kg derocha de ipirá

adubo orgânico* + 150 kg Fosfato

natural

>30adubo orgânico*+ 330 kg de

cinzas depelícula decacau ou

1.200 kg derocha de ipirá

adubo orgânico*+ 170 kg de

cinzas depelícula decacau ou 600 kg de

rocha de ipiráadubo orgânico

Fósforo disponívelP2o5 mg.dm-3

Potássiodisponível

K2oCmolc.dm-3

• Quando o adubo orgânico utilizado for a película de cacau, deve-se reduzir pela metade a quantidade de cinzas e rocha de ipirá e reduzir 150 kg da quantidade de fosfato.

• Pode-se optar por utilizar metade da dose de cinzas e metade da dose de rocha de ipirá, sendo esta a melhor opção por combinar dois fertilizantes com características diferentes quanto à solubilidade.

Tabela 03 – Interpretação e recomendação em kg .ha-1 do elemento

mehlich -1

TeorClasse

muito BaixoBaixomédio Bomalto

Água quenteB

< 0,150,16 – 0,350,36 – 0,600,61 – 0,90> 0,90

adaptado de alvarez v. et al. (1999)

Cu

< 0,30,4 – 0,70,8 – 1,21,3 – 1,8> 1,8

zn

< 0,40,5 – 0,91,0 – 1,51,6 – 2,2 > 2,2

mn

< 23 - 56 - 89 - 12> 12

Fe

< 89 - 1819 - 3031 - 45> 45

recomendaçãoKg . ha-1 doelemento

5 kg3 kg---

mg dm -3

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7.0das raízes. Não é necessário realizar a pratica de“coroamento”, que tem como objetivo principal evi-tar perdas de nitrogênio quando se utiliza fertili-zantes sintéticos solúveis, que não é o caso.

Quando se usam mudas em sacolas menores, aadubação deve ser planejada da seguinte forma:0 a 01 ano de plantio muda seminal ou clonal – 25% da dose total para planta adulta.01 a 02 anos de plantio muda seminal ou clonal – 50% da dose total para planta adulta.02 a 03 anos de plantio muda seminal ou clonal – 75% da dose total para planta adulta.A partir dos 03 anos já se recomenda a dose total, seja para muda seminal ou clonal.

exemplo: Recomendação: 3500 t de película decacau, 450 kg de fosfato natural e 1200kg de rocha de Ipirá, 12 kg de ácidobórico, 05 kg de sulfato de zinco. Total = 5.167 kg por ha.Número de plantas por ha, 760 sem falhas= 6,8 kg por plantaNúmero de plantas por ha excluindo asfalhas, média de 850* = 6,0 kg por planta• Se levasse em consideração as falhas

essa quantidade seria menor.

Os adubos devem então ser misturados, comomostra a figura 29, de forma a homogeneizar o má-ximo possível. O ideal é que cada comunidade tenhaum misturador de fertilizantes. A mistura dos fer-tilizantes deve ser aplicada na metade do raio deprojeção da copa, onde se concentram a maioria

Figura 29 –adubos sendomisturados nacomunidadeassentamentonova vitória

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7.0Quando se utilizar mudas em sacos maiores

(mudão), clonais ou seminais enxertadas em viveiroé preciso adubar da seguinte forma:0 a 01 ano de plantio muda seminal ou clonal – 50% da dose total para planta adulta.01 a 02 anos de plantio muda seminal ou clonal – 75% da dose total para planta adulta.A partir dos 02 anos já se recomenda a dose total.

7.2 manejo da biomassa e do sombreamento:

É muito importante que os técnicos e os agri-cultores que estão orientando e aplicando o ma-nejo agroecológico tenham consciência de que aadubação de conversão e substituição é apenasuma fase transitória e todo o esforço deve se darno sentido de reduzir ao máximo o uso de insumosexternos, aperfeiçoando o manejo da biomassa doimóvel, a integração lavoura pecuária e a fixaçãobiológica de nitrogênio. Para alcançar esses obje-tivos, algumas práticas são recomendadas, taiscomo: o estimulo à criação de pequenos animaisno lote, o plantio e manejo de leguminosas, a com-postagem e a utilização das cascas de cacau paraadubação do cacaueiro.

Diversas árvores leguminosas são encontradascomo árvores sombreadoras do cacaueiro nas váriasregiões produtoras de cacau no mundo. Uma dasmais utilizadas, a Gliricidia sepium, também cha-mada “madre del cacao”, foi avaliada quanto ao po-tencial de produção de biomassa e de fornecimentode nitrogênio no Sul da Bahia. As plantas foram po-dadas duas vezes ao ano: em março e setembro. Natabela 04, podemos ver o potencial de produção debiomassa da leguminosa gliricídia em Sistema Agro-florestal do agricultor Gideone, no Rio do Engenho.

A gliricídia, além de produzir cerca de oito to-neladas por hectare de biomassa e de incorporarao solo aproximadamente cem quilos de nitrogênio,demonstrou grande capacidade em ciclar potássio,além de cálcio e magnésio. Há, também, diversasoutras leguminosas nativas e exóticas no Sul daBahia presentes no sistema Cacau Cabruca, con-forme quadro 03.

Além das arbóreas, na fase de implantação docacaueiro, pode-se plantar leguminosas anuais ebianuais. Por exemplo, espécies como Crotalaria jun-cea, guandu e feijão de corda têm sido utilizadasnos primeiros anos de implantação da lavoura. Agri-cultores que optam por utilizar mudas clonais ouseminais enxertadas em sacolas grandes (mudão)podem plantar cultivos anuais com leguminosasanuais e bianuais em áreas de cacaueiros decadentesno primeiro ano, plantando o cacau no segundo ano.

Muitas dessas leguminosas são árvores que apre-sentam madeira comercial e que não devem ser po-

Tabela 04 – Produção de biomassa e ciclagem de nutrientes em sistema agroflorestalcomunidade Rio do Engenho, considerando 277 plantas por hectare

Biomassa Total Nitrogênio Fósforo Potássio Cálcio Magnésio Enxofrekg-1.ha-1.ano -1 7811,4 93,74 17,5 124,2 46,4 39,68 14,69Fonte: mello et al (2012)

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7.0

Nome

Angelim

Angelim ou Olhode cabra

Arapati

Cabelouro

Eritrina de Baixa

Eritrina de Alta

Faveca

Faveca - preta

Fruto-de-urubú

Ingá-cipó

Ingá

Ingá-sabão

Ingá

Ingauçú

Jacarandá-branco

Jacarandá-da-bahia

Juerana-branca

Mucitaíba-branca

Monzê

Pau de Rato,Gliricidia

Putumuju

Sete-capotes

Sucupira

Vinhático

Espécie

Andira fraxinifolia Benth.Andira sp. 1

Ormosia arbórea

Arapatiella psilophylla

Lonchocarpusguillemineanus

Erytrina fusca

Erythrina poeppigiana

Moldenhawerablanchetiana

Chamaecrista duartei

Swartzia simplex (Sw.) Spreng.

Inga affinis DC.

Inga capitata Desv.

Inga nuda Salzm.

Inga thibaudiana DC.

Tachigalia paratiensis

Swartzia macrostachya

Dalbergia nigra

Ballizia pedicelaris

Poecilanthe ulei

Albizia polycephala

Glirícidia sepium

Centrolobium robustum

Machaerium aculeatum Raddi

Diplotropis incexis

Pathymenia foliolosa

Família

Fabaceae

Fabaceae

Fabaceae

Fabaceae

Fabaceae

Fabaceae

Caesalpiniaceae

Caesalpiniaceae

Papilionoideae

Mimosaceae

Mimosaceae

Mimosaceae

Mimosaceae

Caesalpiniaceae

Fabaceae

Fabaceae

Mimosaceae

Fabaceae

Mimosaceae

Fabaceae

Fabaceae

Fabaceae

Fabaceae

Fabaceae

% nitrogêniofolhas

-

-

-

-

-

3,57

-

-

-

2,4

-

-

-

-

-

-

-

-

-

2,71 (2,5*)

2,64

2,6

-

-

Estirpeinoculante

-

-

-

-

BR5609,BR3628

-

-

-

--

-

-

BR 6610, 5609

-

-

BR8401, 8409

BR 6815, 6816

-

-

BR8801,8803

-

-

-

-

Usos Múltiplos

Madeireira

Madeireira

Madeira para c.civil

Lenha, caixotaria

Biomassa, medicinal,sombra cacau

Mourão, cerca viva,biomassa

Sombreadora

Lenha, caixotaria

Melífera, madeireira,

Malífera, madeireira

Melífera, madeireira

Melífera

Cabo de ferramenta

Madeireira

Lenha, caixotaria

Lenha, caixotaria

Madeireira

Cerca viva, mourão, melífera, forrageira

Madeireira

Lenha, caixotaria

Madeireira

Madeireira

Quadro 03 - Espécies arbóreas leguminosas nativas e exóticas que fixam nitrogênio e estãopresentes no sistema Cabruca como árvores sombreadoras do cacaueiro

adaptado de sambuich (2007) e CnPaB - Faria (2007)

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7.0dadas para não comprometer o valor da madeira etambém por apresentar capacidade de rebrota baixa.Pode-se, no entanto, realizar podas ramiais.

De forma geral, o Instituto Cabruca tem reco-mendado o enriquecimento de áreas de Cacau Ca-bruca a partir de leguminosas com potencial para aprodução de biomassa e com leguminosas que te-nham potencial para fornecer Nitrogênio em menorescala, mas que tenham outras funções econômicas.Deve-se levar em consideração o múltiplo uso das

Figura 30 – ingá de metrosendo podada e a biomassadepositada sobre o solo

mesmas, como fornecimento de madeira para di-versos fins, potencial apícola e melípona da espécie,óleos e resinas, propriedades medicinais, possibili-dade de formação de cerca e moirões vivos, extraçãode tanino, sombreamento e ornamentação.

Outras plantas, apesar de não serem leguminosas,são importantes e cumprem outros papéis relevantescomo produção de biomassa, ciclagem de fósforo,atração de fungos micorrizos(fungos de raízes), atraçãode insetos benéficos, solubilização de fosfatos, etc.

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7.0Figura 31 – Composteira para frutosde cacau contribui com o manejo dabiomassa e controle de fitoparasitas

Atualmente, tem-se buscado manejar outras es-pécies como a Ingá de metro e outras que realizamfixação biológica de nitrogênio. De forma geral, arecomendação é que já no primeiro ano de manejoagroecológico do cacaueiro deva se plantar no mí-nimo 277 árvores leguminosas por ha, que devemser podadas ao menos duas vezes ao ano, no pe-ríodo que antecede os meses de adubação do ca-caueiro – março e setembro.

Outra prática que deve ser utilizada é a compos-tagem da casca de cacau. A casca do fruto do ca-caueiro é o resíduo gerado em maior quantidade.Para produzir uma tonelada de amêndoas secas de

cacau são geradas aproximadamente seis toneladasde casca fresca com 90% de umidade. Em geral, ocomposto da casca de cacau + esterco de gado se-gundo Chepote et al., (2005) possui em média 1,0% de N, 0,4 % de K e 0,5 % de P. Pesquisas estãosendo feitas pelo Instituto Cabruca para identificarqual a composição química de casca de cacau com-postadas, utilizando-se composteiras rústicas detronco de bananeiras em meio aos plantios de cacau.

Recomenda-se, ainda, que seja feita em médiaquatro composteiras por ha, distribuídas em funçãodo relevo, com cerca de 3 m de comprimento, 1 mde largura e 0,8 m de altura, totalizando 2,4 m3.

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7.0Todas as quebras de frutos de cacau devem ser fei-tas perto das composteiras e as cascas e os frutosdoentes devem ser colocados na mesma, espa-lhando-se e aplicando biofertilizante de estercopuro na medida de 10 L por quebra.

Deve-se fazer, a cada seis meses, quatro com-posteiras novas. As do semestre anterior devem serdesfeitas picotando e misturando os troncos de ba-naneiras ao composto de casca de cacau. Em se-guida, medir quantos metros cúbicos de resíduo foigerado e pesar. Para isso, pode-se fazer uso de umabalança de pescador e de um recipiente de volumeconhecido como saco de muda, como na figura 32.

Procedimento: Após medir a quantidade em metros cúbicos da

pilha de resíduo, enche-se o saco de volume co-nhecido, pesando - o com a balança de pescador(figura 32). Por regra de três se chega ao peso totaldos resíduos, mistura-se então aos outros fertili-zantes recomendados e divide-se o peso total pelonúmero de plantas da área.

Exemplo: cada composteira tem 2,4 m3, comum volume de um saco de muda de 15 cm x 8 cm= 753,6 cm3/1.000.000= 0,0007536 m3, enche-secom o composto e pesa-se com a balança de pes-cador. Tem-se então,

0,0007536 m3________________0,58 kg2,4 m3____________________________X

X= 1847,13 kg

1847,13 t / 450 plantas de cacau = 4 kgpor planta

- É preciso ter um controle aproximado dequantas plantas de cacau contribuirão

com aquela composteira e dividir o pesototal pelo número de plantas.

- Após medir a quantidade de compostopara um determinado número deplantas deve-se misturar a quantidadeproporcional dos outros fertilizantesrecomendados.

O uso de outros resíduos presentes nos imóveisdeve ser considerado no manejo da biomassa deum imóvel de agricultor familiar ou lote de re-forma agrária. Estudos precisam ser aprofundadossobre a ciclagem de nutrientes no agroecossistemacacau cabruca. No entanto, cada caso trará umasituação especifica que deve ser considerada apartir do uso de insumos locais e de práticas demanejo adaptadas.

Figura 32 – Pesagemdos resíduos combalança de pescador

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8.0

O manejo de fitoparasitas em agroecossistemasa partir de uma abordagem agroecológica develevar em consideração que a melhor forma de evitardesequilíbrios nas populações de insetos e micror -ga nismos patogênicos é um ambiente ou um habi-tat que reproduza as condições de onde o cacau éoriginário e o lugar que este ocupa na floresta.

Dessa forma, é muito importante a manutençãoda diversidade de plantas e animais e uma condiçãode sombreamento que reproduza a relação solo-planta-atmosfera ideal para o cacaueiro. Em geral,um nível de sombreamento que filtre 50% dos raiossolares e não permita a formação do chamado pontode orvalho, necessário para a reprodução de algunsfungos, é o ideal. É desejável também combinar plan-tas de porte mais baixos e copas mais abertas quepossam ser mais facilmente manejadas em funçãoda variação climática e principalmente pluviométricae de temperatura, com plantas de porte mais altoque permitam a entrada lateral de luz e forneçamproteção de topo nas horas de maior luminosidadee temperatura. É muito importante também estimu-lar os processos biológicos no sistema solo-plantapor meio do uso de fertiprotetores, extratos de plan-tas, fosfatagem, biofertilizantes e pó de rocha.

8.1 a Teoria da Trofobiose e o cacaueiro

O cacaueiro, como as demais plantas, respondeà chamada Teoria da Trofobiose, que comprovou

8.0 Manejo de fitoparasitas do cacaueiroTarcisio matos Costa, natalia galati araujo e adson dos santos oliveira

que todas as formas de parasitismos e herbivoriaacontecem em funções de desequilíbrios na plantapor diversos fatores. Esses desequilíbrios estão re-lacionados ao conceito de proteosíntese, quandoa planta prioritariamente está formando proteínasa partir de aminoácidos e ao de proteólise, que équando essas proteínas estão sendo “quebradas” eaumenta a quantidade de aminoácidos livres. Nosecossistemas naturais, essa condição de proteóliseocorre quando algum tecido está entrando em se-nescência e morte em função, geralmente, da idadedos tecidos (ex. uma folha de cacau de sol dura emmedia 280 dias, enquanto uma de sombra mais de340 dias) ou de algum fator ambiental que con-correu para isso.

Por outro lado, o papel dos insetos e dos micror -ganismos nos ecossistemas naturais são o de iden-tificar aquilo que já está em senescência e acelerara ciclagem de nutrientes ajudando a planta a des-cartar aquele tecido ou órgão. No caso do cacau,por ser uma espécie de meia sombra na florestanativa de onde é originário (a Amazônia), um dosaspectos que mais causam o ataque de insetos her-bívoros é a condição de pleno sol associado ao dé-ficit hídrico, por ser uma espécie competidora queprecisa de condições especiais para crescer e se re-produzir. Algumas literaturas apontam para a nu-trição com manganês e potássio no controle davassoura-de-bruxa. Recomenda-se, também, o usode substâncias que podem induzir a resistência na-tural da planta a doenças e insetos, caso da saca-rose e outros indutores de resistência que aindaestão sendo testados.

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8.0É importante notar três aspectos de extrema

importância no caso da trofobiose:- A vulnerabilidade da planta a fungos-

parasitas e a insetos-herbívoros serelaciona com a ocorrência deproteólise nos tecidos, por aumentar osteores de aminoácidos e açúcaresredutores, ligado a desequilíbriosnutricionais, eventos climáticosadversos e outros fatores de estresse;

- Estimular práticas de manejo, genética,cultural, nutricional, aplicação defertiprotetores, indutores, queaumentem a proteossíntese promovemo aumento das defesas naturais daplanta em relação aos fungos-parasitase insetos-herbívoros;

- Ao se estabelecer uma condição ótima deluz, nutrientes, água e fotossínteseadequada a planta alcança a condição deum equilíbrio biodinâmico próprio de seuhabitat de origem. Um dos problemas dese atingir esse equilíbrio nas condiçõesdo Sul da Bahia é o fato das condiçõesde temperatura e pluviosidade diferiremum pouco do habitat originário docacau na Amazônia, sendo o Sul daBahia o local no mundo mais ao sul dalinha do Equador onde se cultiva cacauem larga escala e portanto de menoresmédias de temperatura.

8.2 identificação dos principaisfitoparasitas

8.2.1 Fungos parasíticos:

vassoura-de-Bruxa (moniliophthora perniciosa)

A doença do cacaueiro causada por um fungobasidiomiceto, Moniliophtora perniciosa StahelAime & Phillips-Mora, é a de maior impacto eco-nômico na região produtora de cacau do Sul daBahia. M. perniciosa ataca as regiões meristemá-ticas do cacaueiro, principalmente frutos, brotos ealmofadas florais, ocasionando queda acentuadana produção e provocando o desenvolvimentoanormal, seguido de morte, das partes infectadas.- Ciclo

M. perniciosa é um fungo hemibiotrófico, comuma fase parasítica ou biotrófica, e outra saprofí-tica ou necrotrófica (ataca células vivas, porémpode se desenvolver e se reproduzir após a mortedos tecidos atacados). O ciclo de vida do fungo co-meça quando os basidiósporos germinam sobre acutícula da planta. A penetração pode ser pelo es-tômato, pelos tecidos lesados ou pela penetraçãodireta sem que haja a formação de apressórios.Após a penetração, começa a fase parasítica coma constituição de um micélio primário monocarió-tico, sem grampos de conexão, que invade os es-paços intercelulares do tecido com hifas relativa-mente grossas (5-20 µm). Já a fase saprofítica, porsua vez, surge entre 03 a 09 semanas após a in-fecção do hospedeiro. Nessa fase, o micélio é maisdelgado (1-3 µm) apresentando grampos de cone-xão, estruturas envolvidas na dicariotização da cé-lula, podendo crescer tanto inter quanto intrace-lularmente, causando apodrecimento e morte dos

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8.0tecidos afetados da planta, formando assim as vas-souras secas, unicamente nesta fase da vida dofungo, e após um período de seca aparecem os ba-sidiomas, que produzem numerosos esporos quedisseminam cada vez mais a doença.

As condições climáticas do Estado da Bahia, comperíodos intermitentes de seca e umidade, favore-cem a produção de esporos durante o ano todo.- Sintomas

A infecção pelo fungo provoca superbrotações,gerando perda de dominância apical devido à hi-pertrofia dos tecidos meristemáticos infectados,que formam ramos anormais conhecidos como vas-souras verdes, com a proliferação de gemas laterais.

As almofadas florais, quando infectadas, podemproduzir vassouras vegetativas, além de floresanormais, e os frutos produzidos em tais casos sãofrequentemente partenocárpicos, apresentandomorfologia diferente da sua forma normal (mo-rango ou cenoura).

Assim como as anomalias nos frutos, que podemapresentar amarelecimento precoce e deformaçõescom ou sem a presença de lesões necróticas ex-ternas, nos casos mais avançados, os frutos (inter-namente) apresentam, na maioria das vezes, danoscomo uma podridão dura, deixando as amêndoascompletamente “grudadas” e posteriormente ocrescimento micelial do fungo na sua superfície.

Figura 33 – sintomasde partes da plantaafetada pelo fungo

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8.0Podridão-Parda (Phytophthora spp.)

A doença é provocada por um fungo que atacaos frutos, almofadas florais, troncos e raízes, des-truindo os tecidos da planta causando seu apodre-cimento. O fungo é conhecido cientificamente comoPhytophtora spp, sendo que a espécie capsici, apesarde ser menos virulenta, é a que predomina na regiãocacaueira da Bahia, presente em 95% do ataque dosfrutos, existindo outras espécies como a palmivora,citrophtora e hevea que também provocam prejuízosem menores proporções. A podridão-parda é umadoença que provoca perdas que giram em torno de30% da produção, e ocorre em quase todas as re-giões produtoras de cacau do mundo.- Ciclo

O gênero Phytophthora, responsável pela podri-dão-parda, pode se manifestar com diferentes níveisde agressividade em frutos de cacau e isso dependemuito das condições de umidade da área, pois a chuvaé um dos principais agentes de disseminação dadoença, favorecendo igualmente o processo de in-

fecção do fungo. Os primeiros sinais da doença apa-recem logo após 30 horas da infecção, três a quatrodias após a penetração do fungo. Os frutos, externa-mente, passam a apresentar manchas escuras e entreo 5º e o 8º dia, observa-se um crescimento pulveru-lento de cor branca, que corresponde ao micélio hia-lino cenocítico, a partir do qual se produzem espo-rângios terminais. Eles podem germinar diretamenteemitindo um tubo germinativo ou indiretamente pro-duzindo zoósporos. Ambas as estruturas têm a capa-cidade de ser infectivas, podendo chegar a infectarnovos frutos. Os esporângios e zoósporos são disse-minados por insetos e água de chuva.- Sintomas

Os sintomas da doença em bilros (frutos jovens)assemelham-se ao do peco fisiológico. No entanto,em frutos formados, a infecção apresenta-se ex-ternamente com uma mancha escura, podendotomar toda a superfície do fruto, com um cheirocaracterístico de peixe, apresentando um cresci-mento de micélio de coloração branca. Quando o

fruto enfermo é deixadona planta, o fungo sedesenvolve por meio dopedúnculo, atingindo aalmofada floral, po-dendo posteriormenteproduzir um "cancro" nolocal da almofada. Ofruto quan do aberto temcaracterística de umapodridão mole.

Figura 34 –sintomas de frutoscontaminados e dotronco (centro)

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Figura 35 - Forma deTransmissão e planta infectada

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8.0mal-do-Facão (Ceratocystis cacaofunesta)

Causado pelo fungo Ceratocystis cacaofunesta,e também conhecido como mal-do-facão, foi de-tectado no Brasil em 1970, no estado de Rondônia,mais tarde, em 1998, na Bahia, e, mais recente-mente, no Espírito Santo, sendo confirmado em2002. Entre os seus hospedeiros está o cacau, noqual provoca cancro, seguido de murchamento. Ofungo penetra na planta por meio de aberturas pro-vocadas por insetos ou ferramentas que atuam comodisseminadores da doença. O seu estabelecimentoé facilitado com umidade alta e sombreamento ex-cessivo. A doença também se espalha pelo vento,respingos de chuva e contato das raízes com o solo.- Ciclo

O Ceratocystis cacaofunesta é da classe dos As-comycetos, produz ascósporos e elipsóides, pos-suindo uma espécie de bainha gelatinosa que lhe

dá uma aparência de chapéu. As paredes destes as-cósporos se dissolvem facilmente liberando-os pormeio do ostíolo em uma matriz gelatinosa que semultiplica de maneira intensa dentro dos tecidos evasos condutores, formando uma mancha bem pro-funda, causando obstrução na condução da seiva.- Sintomas

As lesões têm início a partir do ponto de penetraçãodo fungo. Observa-se a presença de lesões deprimidas,em forma de cancro, que resultam da penetração dofungo por meio de ferimento produzidos durante aspráticas de poda, limpeza do solo, desbrota, colheitade frutos, se estendendo, normalmente, da região pró-xima ao coleto até a bifurcação dos galhos. Inicial-mente, a planta fica amarela, depois se torna marrom,seguida de murchamento e morte, permanecendo asfolhas aderidas à planta, mesmo após sua morte. Nacasca, forma-se um cancro de cor roxa a púrpura.

4São

encontradas amplamente naliteratura, ocorrendoesporadicamente,porém, quandoocorrem, causamprejuízos significativos

→Outras doenças de importância4

(mal rosado, podridãode raízes, antracnose,morte súbita, etc.)

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8.08.2.2 insetos – HerbívorosOs insetos herbívoros geralmente ocorrem em

períodos de lançamento de folhas novas e cresci-mento de frutos, que coincidem com períodos detemperaturas elevadas e déficit hídrico em áreassem sombreamento. Por esse motivo, antes dequalquer coisa, o agricultor deve buscar ótima lu-minosidade em cada gleba ou lote de seu imóvel,evitando o stress causado por fatores abióticos.

Cigarrinha (Hoplophorion pertusum)Os adultos de cigarrinha do ramo medem 11

mm de comprimento e são de coloração castanha.O pronoto é expandido para trás, atingindo o terçoapical do abdômen e apresenta espinhos dorso-laterais, na altura do primeiro par de pernas. Asninfas são esbranquiçadas e vivem em colôniaspróximas aos locais das posturas. As fêmeas in-troduzem os ovos no tecido vegetal, logo abaixoda extremidade apical ou abaixo da inserção dospecíolos das folhas mais velhas do ramo.

Após a eclosão dos ovos, as ninfas de hábitosugador se alimentam da seiva do ramo, tor-nando as folhas amarelas. Elas posteriormentecaem e ocasionam o emponteiramento.Nível Critico para a aplicação de extratosve getais ou agentes de controle biológico: - Inspeções periódicas (semanais ou

quinzenais): detectar presença deadultos, ninfas e ramos lesionados.

- Quando houver alta infestação deninfas, ao contrário dos adultos,aplicar Beauveria bessiana. As ninfasvivem em colônias e não semovimentam, facilitando o controle.

Figura 36 – insetos adultos e ninfasem uma planta de cacaueiro

Figura 37 – danoscausados ao ramo

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8.0monalônio (monalonion spp.)

Os percevejos do gênero Monalonion, conheci-dos vulgarmente pelo nome de chupança, são umgrupo de insetos que provoca sérios danos ao ca-caueiro. Normalmente, sua coloração é castanha –podendo chegar a um tom mais escuro – com man-chas amareladas nas asas e partes do corpo comcoloração avermelhada. As ninfas são de coloraçãoalaranjada com faixas vermelhas de tamanho va-riável, a depender do estágio de desenvolvimento.

As ninfas e os adultos atacam os frutos e osbrotos do cacaueiro, sugando a seiva que lhes servede alimento. Quando se alimentam, injetam toxi-nas que necrosam os tecidos com formação depústulas. Os ataques nos frutos, com oito ou maiscentímetros de diâmetro, não afetam as sementes.No entanto, os frutos novos apodrecem.

As brotações atacadas apresentam, inicial-mente, uma mancha escura ao redor do local ondeo inseto se alimenta. Posteriormente, esta manchase transforma em lesão pelo afundamento e ne-crose do tecido. Os brotos e as folhas secam

quando o ataque é intenso, contribuindo, assim,para o sintoma popularmente conhecido comqueima. A perda de área foliar da planta oca-siona redução na produção.Nível crítico para a aplicação de extratosvegetais ou agentes de controle biológico: - Levantamento da população existente

(amostragens nos períodos delançamento e maior bilração efrutificação).

- Subdividir área: quadras de 5 ha,uniformes quanto ao sombreamento eidade das plantas e amostrar 20plantas/ quadra, 5 frutos/ planta;

- Pelo menos um fruto com ninfas e/ouadultos: caracterizar área-foco enecessidade de controle;

- Restringir a aplicação de óleo deneem, outro extrato vegetal ouagente de controle biológico emáreas-foco.

- Intervalo entre amostragens: 15 dias.

Figura 38 – Frutos atacados

Figura 39 – insetos adultos

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8.0Tripes (selenothrips rubrocinctus)

O inseto adulto tem coloração preta a castanho-escuro, mede 1,4 mm de comprimento. A ninfa, emgeral, é de cor amarelo-pálida, com uma cinta ver-melha nos dois primeiros segmentos abdominais. Oinseto vive em colônias na face abaxial das folhas,preferindo aquelas parcialmente maduras, locali-zando-se, geralmente, ao longo da nervura principale das secundárias ou na superfície dos frutos.

Em decorrência de seu hábito alimentar, raspa-dor-sugador, a folha atacada apresenta, inicial-mente, manchas cloróticas que com o decorrer dotempo necrosam. Quando o ataque é intenso,ocorre o sintoma conhecido vulgarmente como em-ponteiramento, caracterizado pela ausência de fo-lhas nas partes terminais dos ramos, devido à quedadas mesmas, o que, consequentemente, diminui aárea foliar e ocasiona redução de produção. Os tri-

pés, atacando o fruto, provocam a chamada ferru-gem, consequência da deposição na superfície dofruto do excremento líquido que as ninfas carregamentre os pelos terminais, bem como da oxidação doconteúdo celular exsudado durante a alimentaçãodo inseto. Com a ferrugem, a qualidade do cacau éprejudicada porque acoberta o estado de maturaçãodo fruto e induz a colheita de frutos verdoengos,resultando na presença de amêndoas violetas nocacau comercial. Além do mais, o tempo de quebraaumenta, já que as amêndoas dos frutos verdes sãomais difíceis de serem removidas.Nível crítico para a aplicação de extratosvegetais ou agentes de controle biológico:- Amostrar 20 plantas de cacau por quadra,

contar o número de insetos em cincofolhas parcialmente maduras por planta;

- Fazer no início da renovação e repetir acada 10-15 dias;- Examinarfrutos ao acasopara observaçãode colônias do inseto;- Deve-se aplicarinseticida naturalquando encontrarde dois a três tripes por folha, em média, e 10 % dos frutoscom colônias.

Figura 40 – em sentidoanti-horário: ninfas,inseto adulto e colônia

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8.0vaquinhas (Taimbezinhia theobromae,Percolaspis ornata e Colaspis spp.)

São diversas as espécies de vaquinhas que ocor-rem no cacaueiro. As mais comuns e abundantes são:1-Taimbezinhia theobromae: Besouro com 03a 05 mm de comprimento, élitros (asas) lisos decor preto-metálico a verde-escuro-metálico, an-tenas curtas, pernas e abdômen castanho-escuroa preto-brilhante. Este inseto destrói praticamentetodo o limbo foliar, chegando, às vezes, a alimen-tar-se da extremidade apical do ramo.2-Percolaspis ornata: Besouro com 06 a 07 mmde comprimento, élitro verde-metálico, cabeça eprotórax alaranjados, antenas longas, pernas e ab-dômen castanho-claros. Esses insetos alimentamnas folhas tenras do cacaueiro, provocando per-furações no limbo foliar que fica com aspecto ren-dilhado. Também há registro desse inseto roendocasca de bilros e frutos.3-Colaspis spp.: Esse gênero inclui diversas es-pécies de besouros com 04 a 11 mm de compri-

mento, élitros sulcados longitudinalmente, antenaslongas, pernas castanhas a pretas e de diversascores. Estes insetos também se alimentam nas fo-lhas tenras do cacaueiro, provocando perfuraçõesno limbo foliar.Nível crítico para a aplicação de extratosvegetais ou agentes de controle biológico:- Subdividir a área em quadras de no

máximo 05 ha, amostrar 20 plantasque tenham sintoma de ataque (folharendilhada);

- Estender sob a árvore um lençol decoleta de 4m x 4m x 4m, e aplicar óleode neem;

- Após quatro horas, contar o número devaquinhas e aplicar óleo de neem emtoda área se forem encontradas umamédia de 10 vaquinhas por planta;

- Repetir a monitoria em intervalos de 10dias no período de lançamento foliar.

Figura 41 – Folha rendilhada

Figura 42 – Fruto rendilhado

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8.0zebrinha (membracis sP.)

São insetos com 11mm de comprimento, as-pecto foliáceo, de coloração preta, com três faixasverticais brancas. A ovoposição é endofítica, efe-tuadas no caule, na região de inserção dos pecíolosdas folhas, onde também se localizam as colôniasde ninfas de coloração esbranquiçadas. É comumencontrar formigas grandes associadas às colônias.Esses insetos também se alimentam de sugar aseiva da planta, tornando as folhas amarelas. Pos-teriormente elas caem e podem também propor-cionar o emponteiramento.

Ácaros (Tetranychus mexicanus &eriophyes reyesi)

O ácaro mexicano (Tetranychus mexicanus)mede 0,6 mm de comprimento e apresenta colo-ração variável de verde a pardacento-avermelhada.Localiza-se, principalmente, na parte abaxial dafolha, ao longo das nervuras, e produz abundantequantidade de teia. Os sintomas do seu ataquepodem ser caracterizados pelo aparecimento depontuações amareladas e manchas descoloridas ecloróticas no limbo foliar. Essas manchas podemevoluir para uma tonalidade bronzeada. Final-mente, as áreas lesionadas racham e secam, sur-gindo perfurações. Frequentemente observado emviveiros, também há registros de ataques em ca-caueiros adultos sem sombreamento.

O ácaro da gema (Eriophyes reyesi) é microscó-pico, medindo 0,2mm de comprimento, vermiforme,de coloração amarelo-alaranjada, com apenas doispares de pernas. Os danos são sérios e o ataque secaracteriza por provocar, inicialmente, o apareci-mento de folhas cloróticas, retorcidas e alongadas.O ramo afetado emite inúmeras gemas laterais emvirtude da perda de dominância apical.

Cochonilha Farinhenta (Planococcus citri)São insetos com 05 mm de comprimento, de

forma elíptica, com o corpo recoberto de secreçãobranca e pulverulenta. Essa secreção branca tam-bém recobre os frutos e brotações novas nas áreaspróximas às colônias. A essas colônias associam-seformigas pixixica, que incomodam os trabalhadoresrurais na aplicação dos tratos culturais.

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8.0mosca Branca (Bemisia sP.)

São insetos pequenos, medindo aproximada-mente 02 mm de comprimento. Os adultos sãobrancos e alados. As ninfas são sedentárias, vi-vendo em colônias na superfície abaxial das folhas.O corpo desses insetos é recoberto por substânciapulverulenta branca. Sobre as suas dejeções de-senvolve-se um fungo escuro (fumagina), que re-cobre o limbo foliar, diminuindo a atividade fotos-sintética da planta.

Besouros (lasiopus cilipes, lordopsaurosa, naupactus bondari)

Esses besouros destroem o limbo foliar e perfu-ram as partes ainda tenras dos caules. Apresentamo hábito de se fingirem de mortos quando tocados.

lagartas Diversas espécies de lagarta atacam o cacaueiro.

Entre elas destacam-se:

1- Estenoma (Stenoma decora)2- Lagarta-de-Compasso (Peosina mexicana)3- Lagarta Enrola-Folha (Sylepta prorogata)4- Lagarta da Corindiba (Halisidota spp.)5- Lagarta da Eritrina (Terastia meticulosalis)

Na grande maioria das vezes essas lagartas,quando pequenas, raspam os bilros e alimentam-se de folhas tenras, e quando maiores, perfuramos bilros e frutos grandes, fazendo cavidades quepodem atingir as amêndoas, além de perfuraremos ramos, criando cavidades internas que, conse-quentemente, causam a murcha dos galhos, dimi-nuindo a produção de folhas, a capacidade fotos-sintética e a produção.

Figura 44 – lagartamede palmo e frutodanificado

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8.0outros insetos herbívoros:

1-armazenamento: Traça do Cacau (Ephesttia cautella)Besourinho do Fumo (Lasioderma serricorne)Besourinho Castanho (Tribolium castaneum)Besouro Estrangeiro (Ahasverus ádvena)Cartucho do Café (Araecerus fasciculatus)

Estes insetos são responsáveis pela contamina-ção das amêndoas armazenadas com excrementos,teias, odores indesejáveis, exúvias, cadáveres e frag-mentos, que podem ser incorporados ao chocolate.

2-roedores: Rato do Cacau (Rhipidomys mastacalis)Rato do Mato (Oligoryzomys eliurus)Rato Puba (Nectomys squamipes)

Estes roedores atacam frutos verdes e maduros,consumindo a polpa e as sementes.

3-Pássaros: Pica-PauO pica-pau faz um furo no fruto e alimenta-se do

néctar presente na mucilagem das amêndoas. Os fru-tos atacados ficam necrosados, as amêndoas secame tornam-se imprestáveis para comercialização.

8.3 manejo de populações defitoparasitas do cacaueiro

Para o manejo integrado de fitoparasitas do ca-caueiro é necessário entender os ciclos e o com-portamento dos fungos e insetos que em geral cau-sam danos e as condições ecológicas que podemcausar o desequilíbrio do agroecossistema emquestão. As épocas críticas são os períodos de lan-çamentos de folhas novas nos meses de março aabril e de setembro a dezembro, para o fungo cau-sador da vassoura-de-bruxa e insetos herbívorosque reduzem a área foliar da planta e, nos mesesmais frios e úmidos, maio a agosto, para a podri-dão-parda, que causa petrificação e apodrecimentodos frutos. Durante todo o ano, é preciso ter cui-dado com as formigas cortadeiras e com o mal-do-facão, que diminuem a área foliar e causam amorte da planta.

Dessa forma, pode-se lançar mão de várias fer-ramentas de controle das populações de fitopara-sitas sem prejudicar o ambiente, o homem e aomesmo tempo os processos biológicos e ecológicosdo sistema. A seguir são apresentadas, em ordemcronológica, considerando janeiro como primeiromês, algumas práticas: A colheita, que deve serfeita de 15 em 15 dias, o tratamento das compos-teiras e a retirada de vassoura em almofadas floraise gemas laterais de ramos que deve ser realizadatodos os meses.

8.3.1 Cronograma de práticas decontrole

Janeiro: mês de final de safra para algumas re-giões. No período, é aconselhável retirar todos osfrutos com sintomas de ataque de vassoura-de-

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8.0bruxa e podridão-parda5 , bem como todas as al-mofadas florais e folhas também atacadas. Os fru-tos com sintomas devem ser colocados em com-posteiras especialmente construídas com esse ob-jetivo, com vassouras verdes, secas e outras partesafetadas, além das cascas dos frutos sadios.

As composteiras devem ser tratadas com biofer-tilizantes, calcários, fungos e bactérias decomposi-toras (ex. Trichoderma stromaticum) que favoreçama decomposição e evitem a esporulação do fungoda vassoura-de -bruxa e o da podridão-parda.Fevereiro: Deve-se realizar o tratamento dascomposteiras aplicando algum agente que favo-reça a decomposição das cascas de cacau e nãocause a contaminação do solo ou comprometaprocessos biológicos importantes. Deve-se aindaremover as vassouras-de-bruxa dos ramos e almo-fadas florais, uma vez que a vassoura fecha seuciclo de reprodução anual entre fevereiro e abril,antes do período inicial de chuvas. Então a remo-ção de todas as vassouras entre fevereiro e abrilevitará a esporulação das vassouras e dissemina-ção da doença ao longo do ano.Março: realizar a retirada de vassouras secas e ver-des neste mês em função do lançamento de folhasnovas. É preciso também, com frequência de 15 dias,em áreas de 05 ha, realizar o monitoramento do

5Está praticadeve ser

realizada durantetodos os mesesde colheita.

nível populacional de insetos herbívoros. Em casode nível populacional crítico, pode-se aplicar extra-tos de plantas como o óleo de neem e/ou de Piperaduncum (pimenta de macaco; beto cheiroso) a4%(vide recomendação, item 8.3.2.5) que diminuema população de insetos e fungos da vassoura-de-bruxa, respectivamente. Se houver plantas legumi-nosas arbóreas como ingá e gliricidia, elas devemser podadas e os resíduos deixados sobre o solo, evi-tando a formação de microclimas que favorecem oaumento da população de fungos.Abril: realizar a retirada de vassouras secas e ver-des neste mês, em função do lançamento de folhasnovas. Deve-se, também, com frequência de 15dias, em áreas de 05 há, realizar o monitoramentodo nível populacional de insetos herbívoros. Emcaso de ataque intenso pode-se aplicar extratosde plantas como o óleo de neem e/ou de Piperaduncum (Pimenta de Macaco) que diminuem apopulação de insetos e de fungos da vassoura-de-bruxa, respectivamente.Maio: por ser mais frio, deve se dar atenção es-pecial às condições que favorecem o fungo da po-dridão-parda: temperaturas médias abaixo de 20°Ce umidade relativa do ar acima de 85%. Quandoa previsão climática apontar tais condições, deve-se, a partir de maio, procurar realizar drenagensde áreas de baixada, retirada de excesso de sombrae tratamento mais constante das composteiras.Em casos extremos é preciso aplicar mensalmente,nas áreas de baixadas, calda bordalesa com 1 a2% de sulfato de cobre.Junho, julho e agosto: dar continuidade à re-tirada de excesso de sombra e drenagem de bai-xadas. Se as condições de temperatura e umidaderelativa do ar estiverem colaborando com o au-mento das populações do fungo da podridão-parda

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8.0será preciso manter a aplicação de calda bordalesae a aplicação de agentes para acelerar a decom-posição nas composteiras.Setembro: com o aumento da temperatura, a par-tir da segunda quinzena, não faz mais sentido aaplicação de calda bordalesa. Indica-se novamentea retirada de vassouras secas antes do lançamentode folhas novas e a aplicação de extrato de Piperaduncum (pimenta de macaco/beto cheiroso) a 4%.Deve-se iniciar também o processo de monitora-mento do nível populacional de insetos herbívoros,repetindo a cada 15 dias até o mês de novembro.Outubro: continuar o monitoramento das popu-lações de insetos e, caso haja necessidade, realizara aplicação de extrato de neem e/ou biofertili-zante. São importantes a adubação de transiçãoe/ou poda de leguminosas e a aplicação do subs-trato dos casqueiros com fosfato natural e micro-nutrientes, caso necessário.Novembro e dezembro: dependendo da condi-ção climática, a adubação poderá ser realizada nes-tes meses. Realizar também a retirada de vassourasverdes e secas, almofadas florais, frutos atacadose o controle de insetos – herbívoros se necessário.

8.3.2 mecanismos de controle de herbívoros e fungos parasitas do cacaueiro

8.3.2.2 - Controle CulturalO controle cultural do cacaueiro é o advento

de algumas práticas que contribuem para reduzirou evitar a incidência de fitoparasitas e herbívoros.Essas práticas consistem em técnicas manuais debaixo custo e de eficiência comprovada.

As práticas culturais mais recomendadas são:• Roçagem seletiva e manejo de plantas

espontâneas;• Remoção dos frutos atacados ou

infectados;• Remoção de vassouras vegetativas

e secas;• Colheitas mais frequentes e retirada

dos frutos secos e mumificados;• Compostagem do casqueiro na área

para manejo da biomassa;• Retirada do limo do tronco e galhos;• Poda fitossanitária de partes

vegetativas afetadas por parasitismo;• Desbrota de ramos plagiotrópicos e

ortotrópicos (chupões);• Retirada de excesso de sombra nos locais

mais densos para diminuição da umidade.

A compostagem dos casqueiros e de outras par-tes das plantas é a melhor forma de manejo de re-síduos pois possibilita ao mesmo tempo controledas populações de fungos parasitas e ao mesmotempo promove a ciclagem de nutrientes. Em casoda impossibilidade de realizar tal prática deve-serealizar a remoção dos casqueiros ou a quebra dosfrutos fora da área da roça.

Tais práticas são as que mais contribuem paradiminuir o ataque de vassoura-de-bruxa e da po-dridão-parda, porque eliminam a fonte de inoculodos fungos parasíticos. A prática mais econômicaé o amontoamento dos casqueiros e rodeá-la compseudocaules de bananeiras ou de outros vegetaise aplicar calcário para tratamento do casqueiro. Aadoção de uma destas práticas vai depender dasconveniências de cada imóvel.

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Figura 45 – Poda e retirada devassouras secas e verdes em plantasde cacau utilizando-se tesoura depoda normal e estendida

Figura 46 –desbrota utilizando-se moto poda

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8.08.3.2.2 - Controle genéticoO controle genético consiste em introduzir plan-

tas melhoradas geneticamente que sejam resisten-tes ao principal fungo causador da doença do ca-caueiro que é a Moniliophthora perniciosa. Com oprograma de melhoramento de cultivares, foramdesenvolvidas algumas plantas que apresentaramresistência ao fungo e são conhecidas como “clones”.

Atualmente, há vários tipos de variedades clo-nais, resultado da seleção massal por cacauicul-tores orientados pela CEPLAC e UESC, como todaa série CEPEC do 2002 ao 2011, CCN 10 e 51, pH15 e 16, TSH 1188, PS 1319, Ypiranga 01, LP 06,CA 1.4, SJ 02 e outros ainda não registrados comoBN 34 e PS 1030. A correlação e os índices de pro-dutividade e resistência são variáveis entre eles edependem muito da localidade, da elevação, daprecipitação e do manejo cultural.

8.3.2.3 sacarose: resistência induzidaFunciona como um indutor sistêmico de resis-

tência, por meio da aplicação de sacarose via foliarou por injeção no tronco. Recomenda-se a aplica-ção somente em cacauais decadentes como formade estimular a proteossíntese em plantas subme-tidas a diferentes tipos de stress.

Materiais necessários:- Seringa de 20 ml; - Mangueira de 03 a 04 cm de

comprimento e 06 mm de diâmetro; - Furadeira/ parafusadeira a bateria com

broca de 06 mm de diâmetro;- Sacarose P.A. (puro para analise)

ou açúcar cristal / teor de sacaroseacima de 90%.

Modo de preparar: Pesar 154g de sacarose P.A.ou açúcar cristal e diluir em 0,5 litros de água des-tilada, ou água da chuva. Na sequência, completarcom água até atingir um litro de solução.Método de aplicação: Via pulverização foliar,utilizando 10 ml/planta da mesma solução em trêsaplicações em meses alternados. Direcionar o jatoda solução para a parte inferior da copa, visandosempre à parte inferior das folhas, os bilros e osfrutos jovens, sempre procurando fazer a aplicaçãoem dias estiados, sem ameaça de chuva. No casode ocorrência de chuva até 4 horas após a aplica-ção, reaplicar o produto no dia seguinte.

Utilizar pulverizador manual com capacidadepara um ou dois litros, tendo o cuidado de fazersempre o teste de vazão e calibração para pulve-rizar os 10 ml da solução/planta.

Via injeção, utilizar uma furadeira/parafusadeiraa bateria ou pua manual. Com uma broca de 06mm, fazer um furo com 06 ou 6,5 cm de profun-didade no tronco do cacaueiro a 80 cm de alturado solo, com uma inclinação de 45 graus. Em se-guida, por meio de uma seringa comum com umamangueira de 03 cm de comprimento e 03 a 04mm de diâmetro acoplada na ponta, aplicar 2,5 mlda solução no orifício e logo após vendar o furocom um tarugo de 03 cm retirado de um ramo dopróprio cacaueiro. Efetuar a aplicação preferen-cialmente entre 07 e 10 horas da manhã em diasensolarados e durante todo o dia quando nublado.

8.3.2.4 - Controle BiológicoEssa prática consiste em utilizar outros seres

vivos que são utilizados como inimigos naturais(predadores e parasitóides) que regulam natural-mente a população de fito parasitas no agroecos-

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8.0sistema. Os insetos utilizados como inimigos na-turais (na maioria percevejos) se alimentam de nin-fas ou larvas das pragas. Já algumas pragas adultasmorrem devido a fungos entomopatógenos.

Com relação às doenças parasíticas do ca-caueiro, existem alguns fungos que se destacamcomo inimigos naturais, como o Trichoderma stro-maticum, pois ele atua essencialmente como ummicroparasita do micélio da Moniliophthora per-niciosa, presente normalmente nos tecidos necro-sados (vassouras e frutos) de plantas infectadas.Deste fungo foi desenvolvido o produto conhecidocomo TRICOVAB, que deve ser utilizado nos mesesde maio, junho, julho e agosto, na dosagem de 02Kg misturados a 320 l de água por ha e pulverizadosobre as partes afetadas por vassoura de bruxa,após serem retiradas e deixadas sobre o solo.

8.3.2.5 – extratos naturais e CaldasFertiprotetorasDiversas espécies vegetais e caldas possuem subs-

tâncias com atividade fertiprotetoras que ajudam naproteossíntese e para um bom estado nutricional daplanta após algum estresse. Os extratos de algumasdessas plantas têm sido empregados, com sucesso,no controle de determinados fitoparasitas.

Alguns destes extratos e caldos são aqui reco-mendados como forma de atenuar as consequênciasde erros no manejo e/ou efeitos climáticos adversos.

Calda bordalesa (Fungos e bactérias de plantas)Materiais necessários:- 01 kg de sulfato de cobre em pedra

moída ou socada;

- 01 kg de cal virgem; 100 litros de água; - 01 vasilhame de plástico, cimento amianto

ou madeira (capacidade 20 litros) .Modo de preparo: Colocar o sulfato de cobre emum saco de pano poroso e deixar dissolver em 50litros de água por 24 horas. Em outro vasilhame,com 15 litros de água, misturar a cal virgem e, numoutro recipiente, misturar as duas soluções, me-xendo vigorosamente ou acrescentar o leite de calà solução de sulfato de cobre, aos poucos, agitandofortemente com uma peça de madeira.

Após a calda pronta medir o pH (peagâmetro oupapel tornassol ou faca de aço) – mergulhar a pontada faca de aço na calda por 3 minutos – escure-cendo a ponta, a calda está boa – caso contrário,acrescentar mais leite de cal. O pH deve estar emtorno de 11; armazenada em local escuro e fresco,por no máximo, 03 dias após a preparação.Método de aplicação: 0,3 % de concentraçãoem toda a área foliar, direcionado também para ostroncos, com uso de pulverizador costal manualcom bico para regular a pressão. Aplicar nos mesesde maio, junho, julho e agosto.

Calda de fumo (nicotiana tabacum)(pulgões e cochonilhas)Materiais de uso:- 100 g de fumo (10 cm de comprimento);- 01 litro de água;- 01 colher de sopa de cal hidratada;- 1/2 pedra de sabão de coco;- 05 litros de água para dissolver o sabão.Modo de preparo: Antes de fazer a calda defumo é necessário fazer a calda adesiva ou a caldade sabão.

Essa solução servirá para fixar a calda de fumo,

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8.0ou qualquer outra solução às plantas. Em algunscasos, o uso apenas dessa calda já é o suficientepara eliminar alguns tipos de infestações, como ascochonilhas, por exemplo.

Para o preparo da calda adesiva, coloque emfogo brando a barra de sabão de coco em 2 ½ litrosde água. Aqueça até o sabão dissolver completa-mente. Deixe esfriar e reserve.

Esse procedimento consiste em picar o sabão.Coloque 2½ litro de água para aquecer, depois co-loque o sabão na panela e aqueça até dissolver,para passar por uma peneira fina num balde commais 5 litros de água. Está pronta a mistura parareceber a calda.

Depois da calda adesiva pronta, inicia-se o pre-paro da calda de fumo, picando bem o fumo derolo e colocando-o em 01 litro de água ainda fria.Coloque-a no fogo para ferver. Levantando fervuradeixe por 20 minutos mexendo sempre para nãosubir e transbordar.

Depois de fervido, passe por uma peneira finajá misturando à calda adesiva de sabão. Depois defrio, adicione uma colher de cal hidratada.Método de aplicação: Depois de pronto, mis-tura-se o 01 litro de calda de fumo, com 05 litrosde calda adesiva e 04 litros de água para ter 10 li-tros da substância pronta para aplicação. A caldadeverá ser pulverizada diretamente sobre as plantasatacadas. Caso não seja suficiente para o controledas referidas pragas, aumente a quantidade defumo no extrato, mantendo a mesma quantidadede água. O efeito da calda só tem duração de 08horas e é importante respeitar o intervalo de 02dias entre as aplicações.

extrato de Óleo de nim (azadirachtaindica) (pulgões, lagartas e gafanhotos)Materiais de Uso:- 02 kg de folhas verdes de neem; - 10 litros de água; - 20 ml de detergente neutro.Modo de preparo: Para iniciar o preparo da caldaé necessário triturar as folhas de neem no liquidi-ficador comum, depois colocar as folhas já tritu-radas em um recipiente de 10 litros, mexendo bem.Espere 12 horas de 01 dia para o outro. Posterior-mente, acrescente o detergente líquido à calda,misture a calda novamente e coe com pano paraa retirada dos resíduos existentes.Método de aplicação: A calda de neem será apli-cada nesta dosagem, sem diluição, a cada 07 diasse necessário. Sempre aplicar no período da manhãou no final da tarde sobre e sob as folhas. Tambémestá disponível no mercado o óleo de sementes eextrato de folhas para pulverização de plantas.

Biofertilizante com inoculação demicroorganismos (Biocalda)

Os biofertilizantes são compostos preparadospor meio de fermentação e respiração aeróbica, apartir de uma mistura de água, matéria-prima ve-getal e animal, enriquecidas com minerais e ino-culadas com microorganismos. Possuem uma sériede substâncias orgânicas e inorgânicas e impor-tantes probióticos para os vegetais. Sua aplicaçãodeve se dar sempre visando reestabelecer o equi-líbrio nutricional das plantas após um estresse,aplicando diretamente nas plantas, promovendo ocontrole biológico de parasitas e herbívoros e res-taurar o equilíbrio no sistema solo-planta.

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8.0Materiais necessários:- 1 caixa d´água de 1.000 litros,- 150 kg de esterco fresco,- 20 kg de pó de rocha (15 kg de Rocha

de Ipirá e 05 kg de fosfato natural),- 30 kg de açúcar cristal ou rapadura,- 15 kg de microorganismos*,- 1 contentor de plantas verdes (guandu,

mamona, urtiga,etc.),- 2 kg de suplemento mineral animal ou

micronutrientes para agricultura.* Coleta de microorganismosMateriais necessários:- 1 kg de arroz cozido,- 3 kg de açúcar cristal.Modo de coleta: 1. Preparar o arroz cozido sem sal ou

temperos,2. Espalhar o arroz cozido numa bandeja

(folhas de banana), formando umaespessura de 1 cm,

3. Levar a bandeja até a floresta fechadae colocá-la na serapilheira (restos devegetação). Deixar por 5 a 7 dias. Após esse período, os fungos terãoformado suas colônias, com diferentescores, no arroz,

4. Em um balde, colocar o arroz preparadoanteriormente. Adicionar 15 litros deágua e 3 kg de açúcar cristal,

5. Mexer e deixar repousar por 24 horasantes de usar.

Modo de preparo: 1. Adicionar todos esses materiais dentro da caixad´água e completar com água não clorada;2. Mexer duas vezes por dia durante uns 10 minutos.

Fazer isso por 28 dias, que é o tempo necessário paraque ocorra a completa fermentação do composto;3. A calda pode ser enriquecida com micronutrien-tes (boro, zinco, cobre, cobalto, etc.), conforme ne-cessidade.Método de aplicação: Preparar solução a 5,0%para aplicação na planta. A calda deve ser aplicadaapós algum estresse causado por parasitismo, her-bivoria, seca ou excesso de chuva.

Aplicar em solos degradados o biofertilizantepuro sobre resíduos vegetais colocados em cober-tura sob o solo.

Pimenta de macaco (Piper aduncum)Planta da família das Cyperaceas que contém

óleo essencial com efeito fertiprotetor sobre pa-rasitas e herbívoros do cacaueiro, sendo usadopara o controle da doença vassoura-de-bruxa noestado do Pará.

O uso do extrato das folhas tem sido utilizadopara controle da vassoura de bruxa em cupuaçu-zeiro, não se sabendo os efeitos para o cacaueiro.Porém, o uso do óleo essencial e dos substratostem efeito comprovado sobre o controle da vas-soura-de-bruxa do cacaueiro no estado do Pará esobre o crescimento de mudas desta espécie. Modo de preparo: Deve-se coletar folhas eramos finos da planta, bater no liquidificador naproporção de 300 g de folhas verdes para 02 litrosde água, levar ao fogo numa panela de pressão,deixar ferver por 05 minutos filtrar e aplicar a 4%de concentração com água. Caso se faça a extraçãodo óleo, aplicar o mesmo também a 4%. Método de aplicação: O uso do extrato em mudasde cacaueiros a 4% de concentração em viveiro doIF Baiano Campus Uruçuca tem demonstrado bons

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resultados visuais, as mudas não apresentaram du-rante seu desenvolvimento sintomas de herbivoria ouparasitismo. A espécie Piper aduncum é encontradano estado da Bahia vegetando naturalmente, princi-palmente em áreas em estádio inicial de sucessão.

8.4 manejo de formigascortadeiras

As formigas cortadeiras são consideradas inse-tos eusociais devido ao seu alto grau de organiza-ção e ao fato de viverem em comunidade. Elasmesmas são consideradas como “agricultoras”, pois

Figura 47 - Pimenta de macaco,destaque para o pendão floraldecumbente (não ereto)

cultivam fungos específicos para sua alimentaçãoa partir da biomassa vegetal fresca. As formigas,além de praticarem herbivoria, são importantespara os ecossistemas naturais, pois promovem amelhoria de propriedades físicas e químicas dossolos, ciclagem de nutrientes, abertura de galeriase ninhos subterrâneos melhorando a penetraçãode raízes e a drenagem.

O acúmulo de “lixo” nas câmaras internas dosformigueiros também provoca a melhoria da ca-pacidade de troca de cátions do solo e o aumentoda matéria orgânica, liberando nutrientes para asplantas (Della Lucia e Souza, 2011). A herbivoriade formigas pode ser entendida também como umindicador biológico de desequilíbrio na planta li-

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8.0gada à proteólise, por isso uma das práticas reco-mendadas é a aplicação de micronutrientes, prin-cipalmente boro. São encontradas praticando her-bivoria ou outra interação maléfica ao cacaueiro,as seguintes formigas:1-Sauvas (Atta SP.): causam danos severos porcortarem as folhas das plantas, uma vez que as lâ-minas das folhas são carregadas para as panelas,espaços ocos onde elas têm plantações de fungo,lixeiras e berçários. Na panela elas cultivam umfungo do qual se alimentam.2-Quenquéns (Acromyrmex SP.): além de cor-tarem as lâminas das folhas e os brotos, elas re-movem também flores e até roem a casca de frutosdo cacaueiro.

3-Caçarema (Azteca chartifex): se alimentadas excreções açucaradas produzidas por insetossugadores que convivem com ela além de contri-buir para a disseminação de esporos dos fungosque causam a podridão-parda. 4-Pixixica: essas formigas protegem, criam etransportam cochinilhas farinhentas com as quaisconvivem. A picada delas constitui um flagelo paraos que labutam na lavoura, pois causa irritação esensação de queimadura, interferindo na execuçãodas tarefas de colheita e práticas culturais.Em relação ao controle de populações de formigascortadeiras, algumas práticas são recomendadaspara que os formigueiros não causem prejuízos aoagricultor. São elas:

Figura 48 – Folha de cacaueiroatacado por formigas cortadeiras,ninho de caçarema e pixixica noramo de um cacaueiro

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8.08.4.1 Práticas de controle deformigas cortadeiras:

1- Escavação Manual: a escavação manual deformigueiros deve ser realizada com o auxílio deenxada, enxadete ou pá e se torna mais eficientena fase inicial do formigueiro, quando ele ainda éjovem e possui pouca profundidade. Geralmenteisto deve ser feito poucos dias após o período derevoadas das tanajuras (içás). Para obter um bomresultado, é importante identificar a localização darainha e intensificar a profundidade da escavaçãono local. Eliminando a rainha, o formigueiro já es-tará controlado.2- Socagem dos formigueiros: a socagem éuma prática que atrapalha o desenvolvimento doformigueiro. Utilizando um enxadão ou um socadormanual, deve-se golpear a superfície do formigueirode modo a compactá-lo. Com isso, é esperado que

Figura 49 – retirada darainha (formigueiro)

Figura 50 – socandoo formigueiro

as formigas parem, inicialmente, de destruir a plan-tação para reconstruir o formigueiro, devendo ficaralguns dias ou semanas nessa atividade. Com a con-tinuidade da socagem, as formigas poderão aban-donar o formigueiro. Essa medida pode ser inte-grada com outras práticas, utilizando inicialmentea manipueira e resíduos de animais na superfíciedo formigueiro para em seguida socá-lo.3-Barreiras para proteger mudas e copa dasplantas: o uso de barreiras é um método que evitao ataque das formigas. Para isso a pedida é usarcones plásticos invertidos nos troncos das plantas.Outras opções eficientes contra formigas cortadei-ras são: tiras plásticas cobertas com graxa, tirasde papel de alumínio ou de plástico metalizado fi-xadas ao redor do tronco das plantas e gel adesivoao redor do tronco. Para o bom resultado é precisorealizar vistorias semanais e reparos constantes

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Figura 51 – uso de barreiras paraevitar o corte de formigas cortadeiras

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8.0com o objetivo de proteger as plantas.4- Cultura armadilha: plantas como hortelã,salsa, gergelim, braquiarão, mamona, plantadas nasbordas da cultura principal, servem como alimentoalternativo e/ou capazes de produzir efeito tóxicoou repelente para as formigas cortadeiras.5- Criação de inimigos naturais das formi-gas. Galinha, galinha de angola, pássaros e pre-servação de tatus e tamanduás podem controlar oataque das formigas. 6- Aplicar água quente diretamente no for-migueiro, em quantidade que possa encharcartoda a superfície e o olheiro do formigueiro. A açãoé recomendada para pequenos formigueiros e deveser realizada uma vez por dia, todos os dias, atéque o formigueiro esteja controlado.7- Utilizar a prática da inundação quandoexistir a possibilidade de desviar o curso de um cór-

rego de água próximo ao formigueiro ou fazer usode um balde ou de uma mangueira para este fim.Em áreas que ficam encharcadas, recomenda-sefazer as valetas em direção ao formigueiro. Duranteo período chuvoso, recomenda-se escavar o formi-gueiro de forma que sua superfície fique aberta,propiciando o encharcamento durante a chuva.8- Uso de fumaça de escapamento de mo-tores: inicialmente é necessário direcionar o es-capamento dos motores de trator, carro, moto eoutras máquinas, com o uso de uma mangueira re-sistente para o olheiro do formigueiro. Em seguida,recomenda-se tampar as saídas da fumaça, pro-vocando asfixia das formigas em virtude da açãodo gás carbônico. 9- O uso de faixas de vegetação nativaentre a cultura de interesse, por servir deabrigo aos inimigos naturais das formigas, princi-

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8.0palmente pássaros, reduz a instalação de novosformigueiros na área.10- Uso da manipueira: inicialmente é neces-sário localizar o olheiro central do formigueiro para,em seguida, colocar uma mangueira e empurrá-laaté onde couber. Na sequência, a orientação é des-pejar a manipueira dentro da mangueira. Reco-menda-se aplicar 1 Litro de manipueira (não di-luída) em cada olheiro do formigueiro. Caso nãotenha mangueira, a orientação é fazer diversos bu-racos na superfície, ao redor e no olho central doformigueiro aplicando diretamente a manipueirapara depois fechar os buracos com terra ou resí-duos. Quanto mais fresca estiver a manipueira, me-lhor será o resultado da prática de controle, devidoao alto teor de ácido cianídrico. Recomenda-se o

uso da manipueira até o terceiro dia após sua ex-tração. Esta prática deve ser repetida semanal-mente, até que o formigueiro esteja controlado, epoderá ser utilizada de forma intercalada comoutra estratégia de manejo.11- Uso de feijão de porco: plantar o feijão deporco ao redor ou na parte superior do formigueiro.Outra solução é plantar ao redor da cultura a serprotegida, pois as folhas do feijão de porco pos-suem a capacidade de matar os fungos usadoscomo alimentação para as formigas. É importantesalientar que não se deve repetir o plantio por mui-tos anos no mesmo local, pois isso pode ocasionaro aumento da população de nematóides do solo. 12- Colocar mandioca brava ralada ao redordos olheiros: o objetivo é intoxicar as formigas com

Figura 52 – usoda manipueira

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8.0o ácido cianídrico. Repetir esta operação semanal-mente até que o formigueiro esteja controlado.

13- Uso de urina de vaca: deve-se coletara urina em um recipiente plástico de 2 litros e dei-xar fermentar por 10 dias, tampado, para entãoaplica-la diretamente na superfície e no olheiro doformigueiro. A quantidade de urina a ser utilizada,dependerá do tamanho do formigueiro. Reco-menda-se realizar aplicações em toda a superfíciedo formigueiro até encharcá-lo ou aplicar 2 litrosem cada olheiro do formigueiro, repetindo estaoperação semanalmente, até que o formigueiro es-teja controlado.14- Pulverizar biofertilizante a 10% sobremandioca brava ralada: na sequência é precisodeixar secar na sombra por 4 horas. Em seguida

deve-se aplicar no carreiro das formigas, para queelas o levem para dentro do formigueiro. Aplicar obiofertlizante a 10% (1 litro em 10 litros de água)diretamente no olheiro do formigueiro.15- Colocar restos de resíduos animais evegetais no formigueiro: procurar o olho cen-tral do formigueiro e enterrar superficialmente pe-quenos animais mortos (aves, cobras, insetos, vís-ceras de peixe, cabeça de camarão, mariscos emgeral), restos de cultura, casca de cacau, adubosverdes, esterco, composto, húmus de minhoca,chorume, biofertilizante e outros resíduos. Caso oformigueiro seja grande, fazer outros buracos aoredor e enterrar os resíduos. Recomenda-se repetiresta operação semanalmente, até que o formi-gueiro esteja controlado.

PS:é importantesalientar que

todas essas práticas devemser repetidas, inicialmente,a cada oito dias nosprimeiros dois meses. Emseguida pode-se espaçar arealização do manejo acada 15 dias até perceberque o formigueiro foicontrolado. Outro pontoimportante é intercalar aspráticas de manejo, ouseja, realizar mais de umaprática de controlesimultaneamente paraobter um melhor resultado.

Figura 53 – Feijão deporco plantado ao

redor do formigueiro

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O Sul da Bahia tem dois principais usos da terra(a cabruca e os remanescentes de Mata Atlântica)que possibilitaram à conservação da biodiversidade,dos solos e da água. Esse mosaico de usos permiteque a região tenha uma paisagem agroflorestal.Neste cenário, apesar da atividade madeireira existirdesde o século XVI, permanecendo até os diasatuais de forma ilegal ou por meio de pequenas ex-periências de madeira morta e artesanato, a pai-sagem foi conservada pelas características de ma-nejo do agroecossistema cacau cabruca, onde oscacauicultores não realizam corte raso da vegeta-ção e mantém a cobertura florestal. É grande a bio-diversidade local e há ainda uma série de serviçosde provisão e de capital humano que se utiliza destadiversidade de forma sustentável.

De fato, a diversidade de espécies permite ativi-dades relativas à construção civil, produção de uten-sílios domésticos, provisão para a cultura do cacau(cestos, balaios, lastros, cochos, etc.), fins medicinaise religiosos, por exemplo, além de outros usos.

Em geral, quanto maior a diversidades de es-pécies envolvidas num agroecossistema, maior seráa gama de produtos e subprodutos que esse sis-tema pode gerar. A árvore, nesse sentido, apresentaum importante papel dentro dos agroecossistemas,contribuindo com aspectos econômicos, ecológi-cos, sociais e culturais. São várias as possibilidadesde aproveitamento das espécies arbóreas relacio-nadas com a criatividade e a “ousadia” dos agri-cultores em experimentar e colher bons resultadosem áreas de cacau cabruca, que possibilita a as-sociação da silvicultura de espécies exóticas e na-

9.0 Silvicultura de Nativas e Exóticas em áreas de Cacau Cabrucanatalia galati araujo, Tarcisio matos Costa, durval libânio netto mello e eduardo gross

tivas com o cultivo cacaueiro.Para atingir os interesses desejados na atividade

da silvicultura é essencial que se compreenda comofunciona a dinâmica da floresta e a sucessão eco-lógica, assim como o papel de cada espécie noagroecossistema.

Existem espécies que necessitam do sol diretopara germinar e crescer, conhecidas como pioneirasou plantas intolerantes à sombra, que normalmenteapresentam rápido crescimento e ciclo de vidacurto. Já as plantas secundárias germinam e de-senvolvem o estado de plântula na sombra en-quanto aguardam a abertura de uma clareira parase desenvolver. As plantas chamadas clímax nãonecessitam de luz e calor direto para germinar ouatingir a maturação reprodutiva. Normalmente, asclimácicas apresentam um ciclo de vida bastantelongo e crescimento lento.

O agroecossistema Cacau Cabruca, tão impor-tante na composição da paisagem e que recobreuma vasta área no Sul da Bahia, apresenta afinidadecom a atividade silvicultural que, por meio de or-denamento, planejamento, técnicas adequadas eextensão rural pode proporcionar a diminuição dapobreza rural, a inclusão social, a diversificação darenda e a própria conservação da biodiversidade.

Além da silvicultura de nativas e exóticas, o sis-tema Cacau Cabruca propicia a atividade não-ma-deireira, mantendo as árvores no sistema e propor-ciona a inclusão de mulheres e jovens no processoprodutivo. Alguns estudos mostram que as cabrucasnão estão mantendo sua composição e diversidadede árvores ao longo do tempo em virtude da retirada

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9.0de espécies de valor comercial, aumento de espéciesexóticas e pioneiras e da roçagem despercebida.Dessa forma, a imensa importância dos agricultoresem conhecer e se aprofundar no conhecimento dasespécies florestais para realizar o enriquecimentodas cabrucas por meio do plantio de árvores. Issoexplica porque as áreas de cacau -cabruca apresen-tam espécies pioneiras e secundárias em grandequantidade, ao contrário do que acontece com asespécies climácicas, encontradas em menor número.

9.1 resultados iniciais de pesquisa

Como forma de entender melhor essa realidade,foi realizado um estudo em 40 áreas de Cacau Ca-bruca que será apresentado com detalhes no se-gundo volume desta obra. Por enquanto, faremosaqui uma breve introdução ao tema para funda-

mentar algumas propostas para a silvicultura denativas e exóticas em áreas de Cacau Cabruca.

O estudo realizado em 40 áreas de quatro assen-tamentos rurais mostra os dados sobre a distribuiçãodas espécies florestais no agroecossistema Cacau Ca-bruca. Apresentamos, a seguir, os dados prévios doestudo com resultados de um dos assentamentos.

assentamento Terra vista- Número de espécies florestais

encontradas: 102 espécies- Média de densidade de árvores:

213,1 árvores/ha- Número de famílias botânicas

encontradas: 41 famílias botânicas- Distribuição de Diâmetros:

A distribuição de diâmetros mostra que agrande maioria das espécies se encontra na pri-meira classe de diâmetros, ou seja, são árvores finas

distribuição em Classes de diâmetros

Classes de diâmetros (cm)

190,4

14,9

1,6 I-49,6

49,6 I-97,6

97,6 I-145,6

145,6 I-193,6

193,6 I-141,6

241,6 I-289,6

289,6 I-337,6

337,6 I-385,6

385,6 I-433,6

433,6 I-481,6

481,6 I-529,6

200

150

100

50

05,9 1,2 0,2 0,3 0,1 0 0 0 0,1

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gráfico 01: distribuição emclasses de diâmetro das

espécies florestaisencontradas no assentamento

Terra vista, arataca-Ba.

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que apresentam DAP (diâmetro na altura do peito)entre 1,6 e 49,6 cm, sendo essa uma característicade floresta secundária, ou seja, que sofreu algumdistúrbio e deixou sua condição de floresta madura.Pelo gráfico acima, podemos observar que a partirde 1,936 m de DAP ainda encontram-se árvores,porém em baixíssima densidade, variando de zeroa três indivíduos a cada 10 hectares por classe dediâmetro, totalizando sete indivíduos com DAPacima de 1,936 m a cada 10 hectares.

Outro aspecto importante é a frequência de es-pécies presentes entre as 10 primeiras espécies (Ja-queira, Cajá, Lava Prato, Vinhático, Gameleira comoutra espécie, Eritrina, Gameleira, Cobi, Ingá e Em-baúba). Nota-se que existem espécies interessantes,seja para a silvicultura de nativas, como a Jaqueira eo Vinhático, ou para o uso não-madeireiro, no casodas frutíferas como a Jaqueira e o Cajá, que apresen-tam alta densidade por proporcionar frutos e incre-mento da renda familiar para a produção de polpas.

Encontramos também o Ingá, que é uma ótimaopção de árvore leguminosa fornecedora de nitro-gênio para o sistema. As demais espécies pioneirastambém são importantes no sistema, porém estãoem excesso e faltam árvores de estágio mais avan-çados da sucessão. Portanto, o manejo do som-breamento deve acontecer para retirar pelo menos40% de espécies pioneiras e exóticas e promovero enriquecimento com as florestais de maior im-portância agronômica, ecológica e econômica.

9.2 espécies promissoras eexistentes no sistema cabruca

Sapucaia, Vinhático, Jaqueira, Cajá, Embaúba,Cedro, Jacarandá da Bahia, Gameleira, Ingá, Pau-Sangue e Pau D’arco são nomes muito familiaresaos agricultores da região cacaueira. São espéciesdispersas naturalmente nas cabrucas. Sabendo de

distribuição de alturas:

Classes de altura (m)

19,5

2 I- 6 6 I- 9 9 I- 13 13- 17

17 I- 20

2 0- 24

20 I- 28

28 I- 31

31 I- 35

35 I- 39

39 I- 42

50454035302520151050

Núm

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gráfico 02: distribuiçãode alturas das espéciesflorestais encontradas

no assentamento Terravista, arataca-Ba.39,8

42,546,1

33,9

16,5

6,1 6,12 0,4 0,3

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nome Popular nome Científico Família PFm PFnm observaçãoAmargoso Vataireopsis araroba Fabaceae X X Casca medicinalAmescla Protium warmingiana Burseraceae X X Resina; atrativo de faunaAndiroba Carapa guianensis Meliaceae X X Semente medicinal; óleoAngelim Andira nítida Fabaceae X Atrativo de faunaAngelim Doce Andira fraxinifolia Fabaceae X Atrativo de faunaAngelim Pedra Andira anthelmia Fabaceae X Atrativo de faunaAraçá D‘água Terminalia brasiliensis Combretaceae XBraúna Melanoxylon braúna Caesalpinaceae XCastanha do Pará Bertholletia excelsa Lecythidaceae X X Semente: castanhaCedro Cedrela odorata Meliaceae XCopaíba Copaifera langsdorffii Caesalpinaceae X X Seiva medicinal; óleoCumaru Amburana cearensis Fabaceae X X Semente: perfumeGuanandi Calophyllum brasiliensis Guttiferae X X Semente medicinal; faunaInhaíba Lecythis lúrida Lecythidaceae X Atrativo de faunaJacarandá da Bahia Dalbergia nigra Fabaceae XJatobá Hymenae oblongifolia Caesalpinaceae X X Fruto: alimentação; faunaJenipapo Jenipa americana Rubiaceae X X Fruto: corante; faunaJequitibá Cariniana estrellensis Lecythidaceae X Atrativo de faunaJuerana Prego Parkia pendula Mimosaceae XJussara Euterpe edulis Arecaceae X Frutos e palmito; faunaLouro Nectandra membranaceae Lauraceae X Atrativo de faunaLouro Cravo Octea odorífera Lauraceae XMaçaranduba Manilkara salzmannii Sapotaceae X Fruto e látex comestíveisMatatúba Schefflera morototonii Araliaceae X Atrativo de faunaMogno Swietenia macrophylla Meliaceae XÓleo Comumbá Macrolobium latifolium Caesalpiniaceae X X Casca medicinalPaparaíba Simarouba amara Simaroubaceae X Atrativo de faunaPau Brasil Caesalpinia echinata Caesalpiniaceae XPau Darco Tabebuia serratifolia Bignoniaceae XPau Sangue Pterocarpus rohrii Fabaceae XPequi Preto Caryocar edule Caryocaraceae X Fruto: polpa comestívelPutumuju Centrolobium robustum Fabaceae X MadeiraRoxinho Peltogyne angustiflora Caesalpiniaceae XSapucaia Lecythis pisonis Lecythidaceae X Atrativo de faunaSucupira Bowdichia virgilioides Fabaceae XVinhático Plathymenia foliolosa Mimosaceae XVirola Virola olerifera Myristicaceae X Atrativo de fauna

Tabela 05: Espécies florestais promissoras e existentes no sistema Cacau Cabruca

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pécies arbóreas podem fornecer madeira, óleos, se-mentes, fibras, frutos, lenha, mel e fitoterápicos.

9.3 metodologia linhas deBiodiversidade Funcional para Áreasde Cacau Cabruca já estabelecidas

A partir da percepção de que o agroecossistemaCacau Cabruca possui áreas com desuniformidadede sombreamento e presença de espécies exóticas epioneiras em grande quantidade, se propõe um mé-todo que trabalhe a perspectiva de promover umaadequação no sombreamento que possa introduzirespécies com diversos objetivos, principalmente o deaumentar a diversidade funcional do sistema.

seu valor, alguns agricultores, ao realizar os tratosculturais, as deixam crescer.

Na tabela 05 segue uma lista das espécies maispromissoras e existentes no sistema cabruca, forne-cedoras de produtos madeireiros e não-madeireiros.

Todas as espécies do sistema são importantes ecumprem um papel. Cada vez mais precisamos ad-quirir um olhar minucioso em relação às árvoresda cabruca, pensando em sua disposição no espaçoe no tempo e assim projetar o sistema em curto,médio e longo prazo, sabendo que nesse sistemadinâmico existem plantas que entram, outras quesaem e ainda que as árvores interagem com ocacau, que é a cultura principal.

O ordenamento da produção e o planejamentodo sistema em longo prazo geram o aproveita-mento dos recursos naturais todos os anos. As es-

Figura 54 – exemplo de distribuição de árvoresem área do agroecossistema Cacau Cabruca

Figura 55 – Proposta deenriquecimento comleguminosas, fruteiras epalmáceas e árvores nativas

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9.0guminosas, fruteiras, palmáceas e árvores nativas

O enriquecimento deve ser feito utilizando-se oespaçamento de 06 m x 06 m para leguminosas e 12x 06 para as fruteiras e florestais, sempre no sentidooeste-leste ou em curva de nível quando o terrenofor muito declivoso e apresentar sinais de erosão.

Orienta-se sobrepor as linhas de florestais nalinha das leguminosas (conforme figura 56). As le-guminosas irão totalizar 278 plantas por ha quedeverão ser podadas duas vezes ao ano, no mínimo,para permitir a ciclagem de nutrientes e os níveisde luminosidade adequados ao cacaueiro.

As florestais e as fruteiras irão totalizar 138 plan-tas por ha, que deverão ser distribuídas de acordo adensidade de árvores de sombra já presentes. Quandoa densidade for maior, deve-se proceder antes doplantio das espécies um raleamento da sombra, secouber, de acordo a legislação ambiental.

Para uma área de cabruca que possua sombrea-

Conforme proposto na metodologia cabruca di-nâmica, deve-se fazer um inventário da área, verifi-cando-se a densidade de árvores, as espécies pre-sentes e a distribuição das árvores no espaço. Paramelhor exemplificar, podemos ver na figura 54, locaiscom poucas árvores, bem distribuídas e concentradas.

A partir disso, propõe-se o plantio de legumi-nosas em toda área, o abate de exóticas e podadas nativas – onde tem muita densidade (concen-tradas) – e o plantio de nativas com fins de con-servação da biodiversidade e de produção florestalmadeireira e não- madeireira nos locais com pou-cas árvores e, dependendo da área basal, tambémnos locais onde as árvores estão bem distribuídas.No caso de espécies exóticas na área onde hámaior concentração, substituí-las.

Na figura 55 podemos ver uma proposta de in-tenção e enriquecimento prevendo o abate e apoda de árvores exóticas e nativas, o plantio de le-

Figura 56 –desenho deenriquecimentocom linhas dediversidade

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mento ideal de 50 % de luminosidade, pode-se optarpor 50 % de palmáceas que permitam corte comoaçaí e pupunha, 10 % de cupuaçuzeiro ou outrasfruteiras como jenipapeiro e cajazeiras, 20 % de es-pécies madeireiras para corte futuro e 20% de es-pécies de alto valor para conservação, dependendodas espécies existentes na área, incluindo a juçaraque poderá ser utilizada para extração da polpa.

Dessa forma, seriam plantadas 278 plantas comfins de ciclagem de nutrientes e aporte de matériaorgânica, 14 plantas de cupuaçu, 34 plantas deaçaí, 34 plantas de pupunha, 28 plantas de espéciesmadeiráveis e 28 plantas com fins de conservaçãoambiental e fins não-madeireiros.

Dessa forma, de um total de 416 plantas em umha, apenas 56 plantas não deverão sofrer podasdrásticas, não limitando o manejo da sombra e aprodução de amêndoas de cacau.

9.4 legislação e registro junto ao órgão ambiental

A legislação ambiental de referência nacionalno meio rural ou urbano para qualquer que seja aatividade em questão é o Código Florestal Brasileiro,polemizado recentemente e que sofrerá alterações.Ele define áreas de Reserva Legal (porcentagem dapropriedade em que se deve destinar à vegetaçãonatural, porém se permite o manejo sustentável de-vidamente regulamentado) e Áreas de PreservaçãoPermanente (áreas suscetíveis e que devem sermantidas preservadas, cobertas com a vegetaçãonatural, como matas ciliares e topos de morro).

Diante desse cenário houve a criação de umaemenda, proposta pela senadora Lídice da Mata,

que descreve o sistema agroflorestal Cacau Ca-bruca como um sistema de conservação produtivade baixo impacto e de alta inclusão social, sendoresponsável por 16% dos empregos da agropecuá-ria baiana, enquanto o segmento da soja respondepor apenas 0,5%. Assim sendo, a emenda propõeque os sistemas de cabruca, com densidade mínimade 40 árvores nativas por hectare sejam conside-rados permitidos em áreas de preservação perma-nente, devido ao fato de proporcionar serviços am-bientais semelhantes a uma floresta secundária.

Mesmo em áreas agricultáveis, não é permitidoo corte indiscriminado de árvores nativas, em es-pecial da Mata Atlântica, devido à Lei 11.428 de2006, que dispõe sobre a utilização e a proteçãodo Bioma Mata Atlântica. Porém, como o sistemaCacau Cabruca não é um remanescente de vege-tação nativa no estágio primário, nem no estágiosecundário inicial, médio ou avançado de regene-ração e sim um sistema agroflorestal manejado amais de 200 anos, as cabrucas não têm o uso e aconservação regulamentados por essa lei.

Desta maneira, tem-se como referência a Ins-trução Normativa № 3 de 2009 que diz respeitoao plantio e ao corte de espécies florestais. No casode espécies nativas, há dois caminhos, segundo oart. 2 e art. 3 da mesma IN. O corte ou a exploraçãode espécies nativas comprovadamente plantadasdevem ser cadastrados junto ao órgão ambientalcompetente em até 60 dias após o plantio apre-sentando os dados a seguir:I - dados do proprietário ou possuidor;II - dados da propriedade ou posse, incluindo cópiada matrícula ou certidão atualizada do imóvel noRegistro Geral do Cartório de Registro de Imóveis,ou comprovante de posse;III - outorga para utilização do imóvel emitida pela

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9.0Secretaria do Patrimônio da União, em se tratandode terrenos de marinha e acrescidos de marinha,bem como nos demais bens de domínio da União,na forma estabelecida no Decreto-Lei no 9.760, de5 de setembro de 1946;IV - localização com a indicação das coordenadasgeográficas dos vértices do imóvel e dos vérticesda área plantada ou reflorestada;V - nome científico e popular das espécies plan-tadas e o sistema de plantio adotado;VI - data ou período do plantio;VII - número de espécimes de cada espécie plan-tada por intermédio de mudas; VIII - quantidade estimada de sementes de cadaespécie, no caso da utilização de sistema de plantiopor semeadura;

Nesse caso, quando realizar a colheita, comercia-lização ou transporte dos produtos oriundos dasespécies nativas plantadas e cadastradas deve-seatribuir ao órgão ambiental competente as seguin-tes informações:I - número do cadastro do respectivo plantio oureflorestamento;II - identificação e quantificação das espécies aserem cortadas e volume de produtos e subprodu-tos florestais a serem obtidos; III - localização da área a ser objeto de corte ousupressão com a indicação das coordenadas geo-gráficas de seus vértices.

Outro caminho, no caso de não realização docadastro descrito acima, segue o art. 4:

“Os detentores de espécies florestais nativasplantadas, que não cadastraram o plantio ou o re-florestamento junto ao órgão ambiental compe-tente, quando da colheita, comercialização ou

transporte dos produtos delas oriundos, deverão,preliminarmente, notificar o órgão ambiental com-petente, prestando, no mínimo, as seguintes infor-mações”:

I - dados do proprietário ou possuidor;II - dados da propriedade ou posse, incluindo cópiada matrícula do imóvel no Registro Geral do Cartóriode Registro de Imóveis, ou comprovante de posse;III - outorga para utilização do imóvel emitida pelaSecretaria do Patrimônio da União, em se tratandode terrenos de marinha e acrescidos de marinha, bemcomo nos demais bens de domínio da União, naforma estabelecida no Decreto-Lei no 9.760, de 1946;IV - quantidade total de árvores plantadas de cadaespécie, bem como o nome científico e popular dasespécies;V - data ou ano do plantio;VI - identificação e quantificação das espécies aserem cortadas e volume de produtos e subprodu-tos florestais a serem obtidos;VII - localização com a indicação das coordenadasgeográficas dos vértices da área plantada a ser ob-jeto de corte ou supressão;VIII - laudo técnico com a respectiva ART de pro-fissional habilitado atestando tratar-se de espéciesflorestais nativas plantadas, bem como a data ou anodo seu plantio, quando se tratar de espécies cons-tantes da Lista Oficial de Espécies da Flora BrasileiraAmeaçadas de Extinção ou de listas dos Estados.

§ 1º para subsidiar a comprovação de que se tratade espécies florestais nativas plantadas o órgãoambiental competente poderá solicitar, justifica-damente, outros documentos e fotografias da área.§ 2º As informações prestadas pelo proprietário,com fundamento nesta Instrução Normativa, são

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Figura 57 - arquivo com foto georreferenciada de uma mudade Copaíba no assentamento antonio Conselheiro iii

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de caráter declaratório e não ensejam nenhum pa-gamento de taxas.§ 3º Ficam isentos de prestar as informações pre-vistas nos arts. 3º e 4º os proprietários que realiza-rem a colheita ou o corte eventual de espécies flo-restais nativas plantadas até o máximo de 20(vinte)metros cúbicos, a cada três anos, para uso ou con-sumo na propriedade, sem propósito comercial di-reto ou indireto e, desde que os produtos florestaisnão necessitem de transporte em vias públicas.

Uma ação importante foi a validação da tecno-logia de fotos georreferenciadas (Figura 57) pararegistro do plantio de árvores nativas junto aoórgão ambiental. Foi visto que é perfeitamente pos-sível e que o erro de localização das coordenadasutilizando-se a máquina fotográfica Nikon CoolpixP 6000 foi entre 1 e 2 m. As fotos e o software queacompanha a máquina são capazes de gerar umbanco de dados eletrônico e em meio físico comopode ser visto na figura 57.

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88 i Guia de Manejo do Agroecossistema Cacau Cabruca

refe

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Bibl

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áfica

s10.0

Pereira, J.L. e Valle, R.R. 2007. Manejo Integradoda Vassoura-de-bruxa do cacaueiro. In Raul R.Valle ed. Ciencia Tecnologia e Manejo do Ca-caueiro, Grafica e Editora Vital Ltda. Itabuna, Bahia,p. 219-233.

Sambuichi, R.H.R. - Fitossociologia e diversidade deespécies arbóreas em cabruca (mata atlantica ra-leada sobre plantação de cacau) na Região Sul daBahia, Brasil. Acta 16(1)-10-Fitossociologia, 2001.

Sodré, G.A; Marrocos, P.C.L. Manual da produçãovegetativa de mudas de cacaueiro. Ilhéus, Editus,2009, 46 p.

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Guia ide Manejo do Agroecossistema Cacau Cabruca i 89

11.0

1. INFORMAÇÕES BÁSICAS1.1 Nome do Proprietário:

CPF:

1.1 Quantidade de pessoas que residem na casa do proprietário:

Homens (adultos): Mulheres (adultas): Jovens: Crianças: Idosos:

1.1 Nome da propriedade/associação:

1.1 Tamanho do imóvel:

1.1 Ponto de GPS georreferenciado em UTM:

1.1 Energia Elétrica? Sim Não: Informe a fase:

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA2.1 COBERTURA VEGETAL:

Discriminação: hectares tarefa

Cacau Cabruca sem Clonagem Clonado

Cacau a Pleno Sol

Cacau Irrigado

Cacau x Seringueira sem Clonagem Clonado

Capoeiras Mata Pastagens

Outras culturas:___________________________________________________________________

Total:___________________________________________________________________________

2.2 Manejo: Agroecológico Convencional

Roçagem/capina Sim Não

Adubação de Cobertura Sim Não

EPI Sim Não

Aplicação de defensivos Sim Não

Balizamento Sim Não

Adubação Foliar Sim Não

Origem das Mudas (viveiro certificado) Sim Não

Poda / Desbrota Sim Não

Análise de Solo Sim Não

Coroamento Sim Não

Anexos 1sugestão de questionário para diagnóstico

anex

os

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90 i Guia de Manejo do Agroecossistema Cacau Cabruca

11.0Calagem Sim Não

Recuperação do Stand (quantidade

Mudas para Replantio) Sim Não

Adubação de Fundação Sim Não

O Produtor sabe realizar a enxertia de cacaueiros Sim Não

Acredita na enxertia de cacaueiros Sim Não

Acredita nas mudas clonadas cacaueiros Sim Não

2.3- Recursos Naturais existentes: Nascentes Rio Riacho

2.4- Solos Predominantes:

Relevos: Plano Forte-Ondulado Suave-Ondulado

Montanhoso Ondulado Escarpado

2.5- Possui animais de Serviços? sim Não - Quais:

2.6- Pecuária Sim Não - Bovinos Caprinos Ovinos Suínos

2.7- Sistema de Manejo/Pecuária extensivo intensivo Capineira

Outros - Quais:

2.8- Benfeitorias:

Benfeitoria Barcaça Secador Depósito Cocho Curral

3. DADOS PRODUTIVOS

3.1- Quais a(s) base(s) produtiva(s)?

3.2- Comercialização: Armazém Atravessador PAA Outros/especificar:

3.3- Existe alguém da família de recebe apoio do governo?

Bolsa Família Aposentadoria Pensão

1.4-Qual a Receita Bruta Total (em R$) estimada para o ano produtivo familiar?

3.5- O imóvel está articulado com alguma ONG (Organização Não Governamental)? Sim Não

3.6- Existe algum Órgão Governamental dando apoio direto? Sim Não

3.7 O produtor já acessou o PRONAF ? Qual a linha do PRONAF ? Qual o número da DAP? Sim Não

Assessor Técnico

Agricultor (a)

anex

os

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Anexos 11modelo resumido de roteiro estruturado aplicado em campo para indicadores de sustentabilidade.

Guia ide Manejo do Agroecossistema Cacau Cabruca i 91

anex

os

11.0

1

3

27

40

Parâmetro

Cobertura do solo

PRÁTICA

Erosão

PRÁTICA

Cobertura Florestalda Cabruca

Uso da cabrucacomo corredorecológico

Ruim

Solo descoberto, com sinaisde erosão laminar.

Terra exposta comaparecimento de pequenasvaletas.

Observação visual de valetasno solo e a falta dacobertura morta do solo

formação de voçorocas edeposição de solo superficialnas baixadas;

Visualização de grandes eprofundas valetas na roça,com aparecimento dacamada mais profunda doterreno (barro ou cascalho),com as águas dos córregosbastante barrenta quandochove, e deposição dematerial no córrego

Menos que 50% da área dapropriedade coberta porvegetação arbórea (floresta,cabrucas, outros sistemasagroflorestais com osmesmos critérios dacabruca).

Não há visualização deanimais silvestre no dia a diade trabalho

Regular

solo semi-descoberto pormanta orgânica

Pequenas partes do terrenocomeçando aparecer aterra, principalmente nasruas do plantio.

Observação visual ouquando passar o pé sobreo solo logo aparecerá

perda de solo superficial eformação de pequenasvalas/canais; pequenasperdas de solo superficial

Visualização de pequenasvaletas com aparecimentode raízes expostas comuma pequena camada debarro ou cascalhodepositados na parte baixada roça e água do córregomeio barrenta quandochove

Apenas 50% da área dapropriedade coberta porvegetação arbórea(floresta, cabrucas, outrossistemas agroflorestaiscom os mesmos critériosda cabruca).

Visualização esporádicade animais silvestre no dia a dia

Ótimo

solo completamente coberto por

manta orgânica

A terra deverá estácompletamente coberta porfolhas e resto de mato.

Verificação de uma camadagrossa de folhas secas,presença de vários insetos aopassar o pé no chão (minhoca,baratas do mato, formigas,gongos, paquinhas, lacraias, eoutros), boa umidade, humosde minhoca e terra cheirosa.

Presença de cobertura vegetal

Terreno bem protegido comvegetação (árvores nativas efrutíferas) e com boacobertura morta, sem apresença de valetas dentro daroça, córregos com água limpamesmo depois da ocorrênciade chuvas

Acima de 50% da área dapropriedade deve ser cobertapor vegetação arbórea(floresta, cabrucas, outrossistemas agroflorestais com osmesmos critérios da cabruca).

avistar animais silvestre pelomenos uma vez na semana

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